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Cabe salientar que este livro foi adaptado para uma telenovela da TV Bandeirantes
nos anos 1980, assim como várias outras obras literárias tornaram-se novelas de sucesso na
Rede Globo, como Éramos Seis, de Maria José Dopré, A moreninha, de José de Alencar e
Olhai os lírios do campo, de Érico Veríssimo. Isso não seria a consagração da literatura de
massa no país? Ao mesmo tempo, a adaptação de Os Maias, de Eça de Queiroz, um clássico
da literatura, foi um sucesso de crítica e fracasso em termos de público
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. Paes relata ainda
que num país como o Brasil, em que o público ledor ainda é reduzido
torna-se difícil a profissionalização do escritor e o surgimento daquele
artesão despretensioso de cuja competência nasce a boa literatura de
entretenimento. Assim, nossos literatos se consolam em ter o nome
registrado nas páginas da história literária e [...] todos sonham ser
Flaubert ou James Joyce, ninguém se contentaria em ser
Alexandre Dumas ou Agatha Christie. Trata-se obviamente de um
erro de perspectiva: da massa de leitores destes últimos autores é que
surge a elite dos leitores daqueles, e nenhuma cultura realmente
integrada pode se dispensar de ter, ao lado de uma vigorosa
literatura de proposta, uma não menos vigorosa literatura de
entretenimento. (1990, p. 37, negrito meu)
Nesse sentido, vale a pena transcrever partes de um artigo publicado no
Rascunho, O Jornal da Literatura do Brasil, editado em Curitiba desde 2000, por citar
diretamente Lya Luft neste contexto:
[...] A excelente escritora Lya Luft (quem já leu, por exemplo, um
romance como O quarto fechado sabe que isso é verdade, que ela é
excelente) hoje virou uma maldição no meio literário brasileiro
porque, de uma hora para outra, e talvez sem ter esse propósito,
passou a fazer literatura adotando a fórmula Paulo Coelho. Pelo que
percebi em algumas entrevistas, ela abomina ser chamada de escritora
de auto-ajuda. Sendo ou não sendo, é no momento confundida com tal
— e vende muito, está no topo das listas já faz algum tempo. [...]
Contudo, na relação literatura e mídia, a coisa não é tão
maniqueísta como alguns colocam. Na verdade, nem tudo que
está ou foi veiculado pela mídia é ruim: José de Alencar é mídia;
Machado de Assis é mídia; Graciliano Ramos, Guimarães Rosa,
Chico Buarque — todos são mídia”. [...] Um leitor de alta
literatura, se é justo, um dia já teve contato com a baixa
literatura — o que o fez, inclusive, comparando as duas, chegar à
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Mais recentemente, a adaptação de A Pedra do Reino, de Ariano Suassuna, numa micro-série da Rede Globo,
foi um verdadeiro fracasso de público. Uma hermética adaptação transformada num compêndio de citações e
alusões a personagens e obras da literatura. Até para um especialista em literatura a adaptação ficou pesada
demais.