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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MINAS GERIAS
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM
ENGENHARIA MECÂNICA
DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM
PROCEDIMENTO NUMÉRICO PARA CÁLCULO DE
CONJUNTOS ASA-EMPENAGENS DE GEOMETRIA
COMPLEXA EM REGIME DE VÔO SUBSÔNICO,
ASSIMÉTRICO E NÃO LINEAR.
LUIZ AUGUSTO TAVARES DE VARGAS
Belo Horizonte 18 de Dezembro de 2006
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Luiz Augusto Tavares de Vargas
DESENVOLVIMENTO E IMPLEMENTAÇÃO DE UM
PROCEDIMENTO NUMÉRICO PARA CÁLCULO DE
CONJUNTOS ASA-EMPENAGENS DE GEOMETRIA
COMPLEXA EM REGIME DE VÔO SUBSÔNICO,
ASSIMÉTRICO E NÃO LINEAR.
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Engenharia Mecânica da Universidade Federal de Minas Gerais,
como requisito parcial à obtenção do título de Mestre em
Engenharia Mecânica.
Área de concentração: Projetos Mecânicos
Linha de Pesquisa: Aerodinâmica Aplicada
Orientador: Prof. Dr. Paulo Henriques Iscold Andrade de Oliveira
(Universidade Federal de Minas Gerais)
Belo Horizonte
Escola de Engenharia da UFMG
2006
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Agradecimentos
À Deus por cada passo dado ao longo da vida e pelas pessoas que encontro
na minha caminhada.
Ao Professor Paulo Henriques Iscold Andrade de Oliveira pelos
ensinamentos e confiança. Mais que um orientador, um grande amigo.
Ao Professor Cláudio Pinto de Barros, por ter plantado uma semente que
hoje se tornou uma árvore da qual tive a honra de experimentar um de seus frutos.
Aos demais professores e amigos do Centro de Estudos Aeronáuticos da
UFMG pelos conhecimentos adquiridos e experiências vividas.
Aos meus pais pelo carinho e amor incondicional.
Aos meus irmãos e padrinhos pelo apoio e conselhos.
À Marcela por sua companhia ao longo dos anos, pelo seu incentivo e por
ser minha fonte de força e inspiração.
"Nosso maior desejo na vida é encontrar
alguém que nos faça fazer o melhor que pudermos."
(Ralph Waldo Emerson)
I
INDICE
INDICE................................................................................................................................. I
LISTA DE FIGURAS....................................................................................................... IV
LISTA DE TABELAS .....................................................................................................VII
LISTA DE SIMBOLOS................................................................................................. VIII
RESUMO.............................................................................................................................X
ABSTRACT....................................................................................................................... XI
1
1
INTRODUÇÃO.........................................................................................................1
1.1 OBJETIVOS E JUSTIFICATIVAS .................................................................................2
1.2 ORGANIZAÇÃO DO TEXTO.......................................................................................3
2
2
REVISÃO BILIOGRÁFICA ...................................................................................4
2.1 INTRODUÇÃO ..........................................................................................................4
2.2 ESCOAMENTO BIDIMENSIONAL...............................................................................7
2.2.1 Região Potencial do Escoamento ....................................................................9
2.2.2 Região Viscosa do Escoamento .....................................................................10
2.3 ESCOAMENTO TRIDIMENSIONAL ...........................................................................13
2.3.1 Método da Linha Sustentadora......................................................................15
2.3.2 Método dos Painéis e Método de Vortex-Lattice...........................................16
2.3.3 Navier-Stokes.................................................................................................18
3
3
METODOLOGIA...................................................................................................20
3.1 INTRODUÇÃO ........................................................................................................20
3.2 ESCOAMENTO BIDIMENSIONAL.............................................................................20
3.2.1 Tratamento do escoamento potencial ............................................................21
3.2.1.1 Hess e Smith........................................................................................................ 21
3.2.1.2 Distribuição Linear de Vórtices........................................................................... 25
3.2.2 Tratamento da Região Viscosa......................................................................28
3.2.2.1 Caracterização da Camada Limite....................................................................... 28
3.2.2.1.1 Espessura da Camada Limite ...................................................................... 28
3.2.2.1.2 Espessura de Deslocamento ........................................................................ 29
3.2.2.1.3 Espessura de Quantidade de Movimento ou Espessura de Momentum....... 30
3.2.2.1.4 Espessura de Energia .................................................................................. 30
3.2.2.1.5 Fator de Forma da Espessura de Deslocamento .......................................... 30
3.2.2.1.6 Fator de Forma da Espessura de Energia .................................................... 30
3.2.2.1.7 Números de Reynolds ................................................................................. 31
II
3.2.2.2 Modelos de Camada Limite ................................................................................ 31
3.2.2.2.1 Inicio do Desenvolvimento da Camada Limite........................................... 31
3.2.2.2.2 Modelo Laminar: Thwaites......................................................................... 32
3.2.2.2.3 Modelo de Transição: Michel ..................................................................... 34
3.2.2.2.4 Modelo de Turbulência: Head..................................................................... 34
3.2.2.3 Estimativa do Arrasto.......................................................................................... 36
3.2.2.4 Correção no coeficiente de sustentação devido ao descolamento: Estol.............. 38
3.3 ESCOAMENTO TRIDIMENSIONAL ...........................................................................39
3.3.1 O método Vortex-Lattice Linear....................................................................40
3.3.1.1 Sistema de Coordenadas...................................................................................... 46
3.3.1.2 Tipos de Malha Possíveis.................................................................................... 48
3.3.2 O Método Não Linear....................................................................................48
3.3.3 O Arrasto Induzido ........................................................................................53
3.3.4 Esteira livre ...................................................................................................55
4
4
O SOFTWARE IMPLEMENTADO.....................................................................58
4.1 CEA- 2D...............................................................................................................58
4.2 CEA-VLM............................................................................................................58
4.3 AMBIENTES DE PRÉ E PÓS PROCESSAMENTO ........................................................59
5
5
RESULTADOS........................................................................................................62
5.1 ESCOAMENTO BIDIMENSIONAL.............................................................................62
5.1.1 Comparação entre as formulações de Método dos Painéis bidimensionais..62
5.1.2 Comparação com outros softwares e resultados experimentais....................64
5.2 ESCOAMENTO TRIDIMENSIONAL ...........................................................................75
5.2.1 Comparação com outros softwares disponíveis.............................................75
5.2.2 Comparação entre a teoria linear e a não linear ..........................................82
5.2.3 Comparação entre as Técnicas de Medição do Arrasto Induzido.................85
5.2.4 Comparação com resultados experimentais..................................................89
5.2.4.1 Asa retangular simples ........................................................................................ 89
5.2.4.2 Deflexão de comando.......................................................................................... 90
5.2.5 Geometria da esteira .....................................................................................93
5.2.6 Resultados ao longo da corda .......................................................................96
5.2.7 Aplicação em uma aeronave real e comparação com o método tradicional.98
5.2.8 Tempo de processamento.............................................................................100
6
6
CONCLUSÕES.....................................................................................................102
6.1 QUANTO AO SOFTWARE BIDIMENSIONAL ............................................................102
6.2 QUANTO AO SOFTWARE TRIDIMENSIONAL ..........................................................103
6.3 QUANTO À PLATAFORMA COMPUTACIONAL ESCOLHIDA .....................................103
6.4 CONCLUSÃO FINAL..............................................................................................104
III
7
7
SUGESTÕES PARA TRABALHOS FUTUROS...............................................105
REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS...........................................................................106
IV
LISTA DE FIGURAS
FIGURA 2-1 FORMULAÇÃO DE CAMADA LIMITE PROPOSTA POR PRANDTL.....................................................5
FIGURA 2-2 DESENVOLVIMENTO DO ESCOAMENTO SOBRE UM PERFIL AERODINÂMICO.................................7
FIGURA 2-3 CONDIÇÃO DE KUTTA ..............................................................................................................10
FIGURA 2-4 FLUXO DE AR PARALELO À DIREÇÃO DE VÔO. ..........................................................................13
FIGURA 2-5 FORMAÇÃO DE VÓRTICE DE PONTA DE ASA. .............................................................................13
FIGURA 2-6 VÓRTICE DE PONTA DE ASA EM UMA AERONAVE AGRÍCOLA NO MOMENTO DA LIBERAÇÃO DO
AGROTÓXICO
. ....................................................................................................................................14
FIGURA 2-7 CARACTERÍSTICAS AERODINÂMICAS TÍPICAS EM UMA ASA RETANGULAR................................14
FIGURA 2-8 DISTRIBUIÇÃO DO COEFICIENTE DE SUSTENTAÇÃO TÍPICA EM UMA ASA TRAPEZOIDAL. ..........15
FIGURA 2-9 RESULTADO DE DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO OBTIDA COM MÉTODO DOS PAINÉIS PARA A
AERONAVE
CEA 308 (OLIVEIRA, 2001).............................................................................................17
FIGURA 2-10 RESULTADO DE DIFERENCIAL DE PRESSÃO OBTIDA COM O MÉTODO DE VORTEX-LATTICE ....17
FIGURA 2-11 MODELO EM VOLUMES FINITOS DE UMA AERONAVE ..............................................................18
FIGURA 3-1 DISCRETIZAÇÃO DE UM PERFIL ATRAVÉS DE PAINÉIS ...............................................................22
FIGURA 3-2 SISTEMAS DE COORDENADAS ...................................................................................................22
FIGURA 3-3 DETERMINAÇÃO DO ÂNGULO
β
..............................................................................................24
FIGURA 3-4 CARACTERÍSTICAS DAS DISTRIBUIÇÕES DE SINGULARIDADES EM CADA MÉTODO. ...................25
FIGURA 3-5 NOMENCLATURA UTILIZADA NA FORMULAÇÃO DE DISTRIBUIÇÃO DE VÓRTICE LINEAR ...........26
FIGURA 3-6 DESENVOLVIMENTO DA CAMADA LIMITE .................................................................................28
FIGURA 3-7 ESPESSURA DE DESLOCAMENTO ..............................................................................................29
FIGURA 3-8 ESPESSURA DE DESLOCAMENTO...............................................................................................29
FIGURA 3-9 FORMULAÇÃO DE CAMADA LIMITE PROPOSTA POR HEAD ........................................................34
FIGURA 3-10 ARRASTO DE PRESSÃO ...........................................................................................................37
FIGURA 3-11 RELAÇÕES GEOMÉTRICAS PARA O MODELO DE DESCOLAMENTO............................................39
FIGURA 3-12 REPRESENTAÇÃO DO VÓRTICE FERRADURA ..........................................................................41
FIGURA 3-13 FILAMENTO DE VÓRTICE ........................................................................................................41
FIGURA 3-14 VELOCIDADE INDUZIDA POR UM FILAMENTO DE VÓRTICE......................................................42
FIGURA 3-15 DISTRIBUIÇÃO DE VÓRTICES FERRADURA UTILIZADO NO MÉTODO PROPOSTO........................43
FIGURA 3-16 SISTEMA DE VÓRTICE ADOTADO.............................................................................................44
FIGURA 3-17 FORMAS DE ALINHAMENTO DO VÓRTICE COM O ESCOAMENTO NA ESTEIRA FIXA ...................44
FIGURA 3-18 TEOREMA DE KUTTA-JOUKOWSKI .........................................................................................46
FIGURA 3-19 FORÇAS ATUANTES EM UMA AERONAVE DURANTE UMA MANOBRA .......................................46
FIGURA 3-20 SISTEMAS DE COORDENADAS UTILIZADOS .............................................................................47
FIGURA 3-21 TIPOS DE MALHA DISPONÍVEIS ...............................................................................................48
FIGURA 3-22 VARIAÇÃO DA CIRCULAÇÃO EM FUNÇÃO DO COEFICIENTE DE AMORTECIMENTO...................52
FIGURA 3-23 VARIAÇÃO DA CIRCULAÇÃO EM FUNÇÃO DO COEFICIENTE DE DISSIPAÇÃO ............................52
V
FIGURA 3-24 VOLUME DE CONTROLE UTILIZADO PARA MEDIR O ARRASTO INDUZIDO.................................53
FIGURA 3-25 CÁLCULO DO ARRASTO INDUZIDO NO CEA-VLM..................................................................55
FIGURA 3-26 COMPARAÇÃO ENTRE OS MODELOS DE ESTEIRA PLANA E ESTEIRA LIVRE...............................56
FIGURA 3-27 EVOLUÇÃO DAS LINHAS DE CORRENTE E DOS VÓRTICES FERRADURA ....................................56
FIGURA 4-1 AMBIENTE BIDIMENSIONAL DESENVOLVIDO ............................................................................60
FIGURA 4-2 AMBIENTE TRIDIMENSIONAL DESENVOLVIDO ..........................................................................61
FIGURA 5-1 COMPARAÇÃO ENTRE AS FORMULAÇÕES DE MÉTODO DOS PAINÉIS BIDIMENSIONAIS ...............63
FIGURA 5-2 DIFERENÇA ENTRE AS FORMULAÇÕES POTENCIAIS NO COEFICIENTE DE PRESSÃO. ...................63
FIGURA 5-3 RESULTADOS PARA O PERFIL NACA 0012...............................................................................66
FIGURA 5-4 RESULTADOS PARA O PERFIL NACA 4415...............................................................................66
FIGURA 5-5 RESULTADOS PARA O PERFIL NACA 23015.............................................................................67
FIGURA 5-6 RESULTADOS PARA O PERFIL NACA 632415...........................................................................67
FIGURA 5-7 RESULTADOS PARA O PERFIL NLF(1)-0215F ...........................................................................68
FIGURA 5-8 PONTUAÇÃO NORMALIZADA OBTIDA NA DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE SUSTENTAÇÃO.69
FIGURA 5-9 PONTUAÇÃO NORMALIZADA OBTIDA NA DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE MOMENTO
AERODINÂMICO
.................................................................................................................................70
FIGURA 5-10 PONTUAÇÃO NORMALIZADA OBTIDA NA DETERMINAÇÃO DO COEFICIENTE DE ARRASTO.......70
FIGURA 5-11 COMPARAÇÃO ENTRE A DISTRIBUIÇÃO DO COEFICIENTE DE PRESSÃO. ...................................72
FIGURA 5-12 COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS POTENCIAL E VISCOSO PARA O COEFICIENTE DE
PRESSÃO
. ...........................................................................................................................................73
FIGURA 5-13 COMPARAÇÃO ENTRE OS PARÂMETROS DE CAMADA LIMITE ..................................................74
FIGURA 5-14 MODELO CRIADO NOS TRÊS SOFTWARES EM QUESTÃO...........................................................77
FIGURA 5-15 RESULTADOS EQUIVOCADOS ENCONTRADOS COM O SOFTWARE TORNADO............................78
FIGURA 5-16 COMPARAÇÃO ENTRE O CEA-VLM E O AVL EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DE ATAQUE. .............79
FIGURA 5-17 COMPARAÇÃO ENTRE O CEA-VLM E O AVL EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DE DERRAPAGEM. ....80
FIGURA 5-18 COMPARAÇÃO ENTRE O CEA-VLM E O AVL EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DA VELOCIDADE DE
ROLAMENTO
. .....................................................................................................................................80
FIGURA 5-19 COMPARAÇÃO ENTRE O CEA-VLM E O AVL EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DA VELOCIDADE DE
ARFAGEM
...........................................................................................................................................81
FIGURA 5-20 COMPARAÇÃO ENTRE O CEA-VLM E O AVL EM FUNÇÃO DO ÂNGULO DA VELOCIDADE DE
GUINADA
. ..........................................................................................................................................81
FIGURA 5-21 CARACTERÍSTICAS AERODINÂMICAS DO PERFIL NACA 0012 ................................................82
FIGURA 5-22 DISTRIBUIÇÃO DE CL EM UMA ASA RETANGULAR TÍPICA.......................................................83
FIGURA 5-23 DISTRIBUIÇÃO DE CL EM UMA ASA TRAPEZOIDAL TÍPICA. .....................................................83
FIGURA 5-24 POLAR AERODINÂMICA DA ASA RETANGULAR EM QUESTÃO OBTIDA COM O SOFTWARE
IMPLEMENTADO
.................................................................................................................................84
FIGURA 5-25 POLAR AERODINÂMICA DA ASA TRAPEZOIDAL EM QUESTÃO OBTIDA COM O SOFTWARE
IMPLEMENTADO
.................................................................................................................................84
FIGURA 5-26 ARRASTOS INDUZIDOS OBTIDOS COM O MÉTODO LINEAR EM PERFIL SIMÉTRICO....................86
VI
FIGURA 5-27 ARRASTOS INDUZIDOS OBTIDOS O MÉTODO NÃO LINEAR EM PERFIL SIMÉTRICO ....................86
FIGURA 5-28 ARRASTOS INDUZIDOS OBTIDOS O MÉTODO NÃO LINEAR EM PERFIL ASSIMÉTRICO ................86
FIGURA 5-29 ESTUDO DO ARRASTO INDUZIDO NO TREFFTS-PLANE EM CONJUNTO COM O MODELO DE
ESTEIRA LIVRE NO SOFTWARE
CEA-VLM.........................................................................................88
FIGURA 5-30 CURVAS POLARES OBTIDAS NUMERICAMENTE E EXPERIMENTALMENTE PARA DIVERSAS ASAS
RETANGULARES
, UTILIZANDO O PERFIL NACA 4415.........................................................................89
FIGURA 5-31 ASA UTILIZADA PARA COMPARAÇÃO DOS RESULTADOS NUMÉRICO E EXPERIMENTAL. ..........90
FIGURA 5-32 RESULTADOS EXPERIMENTAIS OBTIDOS COM O PERFIL NACA 23012....................................91
FIGURA 5-33 ÂNGULOS DE ATAQUES EFETIVOS ATUANTES NA ASA. ...........................................................91
FIGURA 5-34 RESULTADOS PARA ASA RETANGULAR COM 10º DE ÂNGULO DE ATAQUE...............................92
FIGURA 5-35 COMPARAÇÃO ENTRE OS RESULTADOS NUMÉRICOS E EXPERIMENTAIS ..................................93
FIGURA 5-36 COMPARAÇÃO ENTRE AS ESTEIRAS GERADAS PELOS SOFTWARES ..........................................94
FIGURA 5-37 INFLUÊNCIA DA GEOMETRIA DA ESTEIRA NA CURVA DE SUSTENTAÇÃO. ................................94
FIGURA 5-38 SITUAÇÕES ONDE A GEOMETRIA DA ESTEIRA TORNA-SE FUNDAMENTAL................................95
FIGURA 5-39 ENROLAMENTO DOS VÓRTICES AO LONGO DA ENVERGADURA DEVIDO AO ESTOL, VISTA POR
DE TRÁS DA ASA
.................................................................................................................................96
FIGURA 5-40 RECUPERAÇÃO DAS INFORMAÇÕES AO LONGO DA CORDA E DO INTRADORSO E EXTRADORSO
ATRAVÉS DA UTILIZAÇÃO DOS RESULTADOS BIDIMENSIONAIS
...........................................................97
FIGURA 5-41 DISTRIBUIÇÃO DE PRESSÃO NO INTRADORSO E NO EXTRADORSO ATUANTE EM CADA SEÇÃO DA
ASA
....................................................................................................................................................98
FIGURA 5-42 UTILIZAÇÃO DO CEA-VLM NA AERONAVE TRIATHLON........................................................99
FIGURA 5-43 TEMPO DE PROCESSAMENTO E PRECISÃO NOS RESULTADOS EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE
PAINÉIS COM ESTEIRA FIXA..............................................................................................................101
FIGURA 5-44 TEMPO DE PROCESSAMENTO E PRECISÃO NOS RESULTADOS EM FUNÇÃO DO NÚMERO DE
PAINÉIS COM ESTEIRA LIVRE............................................................................................................101
VII
LISTA DE TABELAS
TABELA 3-1 INFLUÊNCIA DO COEFICIENTE DE AMORTECIMENTO ................................................................52
TABELA 3-2 INFLUÊNCIA DO COEFICIENTE DE DISSIPAÇÃO .........................................................................52
TABELA 5-1 COMPARAÇÃO ENTRE AS FORMULAÇÕES DE MÉTODO DOS PAINÉIS BIDIMENSIONAIS ..............62
TABELA 5-2 SOFTWARES DISPONÍVEIS PARA A COMPARAÇÃO BIDIMENSIONAL .........................................64
TABELA 5-3 INCLINAÇÕES DA CURVA DE SUSTENTAÇÃO (1/RADIANOS) .....................................................68
TABELA 5-4 ÂNGULO DE SUSTENTAÇÃO NULA (GRAUS).............................................................................68
TABELA 5-5 SOFTWARES DISPONÍVEIS PARA A COMPARAÇÃO TRIDIMENSIONAL .......................................76
VIII
LISTA DE SIMBOLOS
Letras Gregas
α
Ângulo de incidência do escoamento no plano ,
x
y no caso
bidimensional e no plano ,
x
z no caso tridimensional, conhecido como
ângulo de ataque.
0
α
Ângulo de sustentação nula do perfil.
β
Ângulo de incidência do escoamento no plano ,
x
y , só existindo no
caso tridimensional, conhecido como ângulo de derrapagem; ângulo
entre o centro do painel i e os nós do painel j.
Espessura da camada limite.
1
δ
Espessura de deslocamento.
2
δ
Espessura de momentum.
3
δ
Espessura de energia.
Γ
Circulação.
γ
Intensidade dos vórtices
,,,
SV
φ
φφφ
Função Potencial, os subscritos referem-se ao escoamento não
perturbado, fontes e vórtices respectivamente.
λ
Adimensional utilizado na solução da camada limite, afilamento.
µ
Viscosidade Dinâmica.
Π
Fator de dissipação.
ρ
Densidade do fluido.
θ
Ângulo formado por
r e a horizontal ou o sistema de coordenadas
local, dependendo da formulação de método dos painéis a que se refere.
,
w
τ
τ
Tensão de cisalhamento no fluido e na parede respectivamente.
,
ξ
η
Sistema de coordenadas local, sendo
ξ
tangente e
η
normal à
superfície.
Velocidade angular de manobra.
Letras Latinas
AR Alongamento.
i,j Índices de que identificam os painéis.
c
Corda do perfil aerodinâmico.
d
c
Coeficiente de dissipação.
D
C
Coeficiente de arrasto.
D
i
C
Coeficiente de arrasto induzido.
f
c
Coeficiente de atrito.
L
C
Coeficiente de sustentação.
p
C
Coeficiente de Pressão
D
Arrasto.
ind
D
Arrasto Induzido.
F
Força.
IX
,,,
xyz
gg g g
Aceleração gravitacional, campo gravitacional nas direções
,,
x
yz
respectivamente.
,
ij
Índice dos elementos de uma matriz ou vetor
12
H
Fator de forma da espessura de deslocamento.
32
H
Fator de forma da espessura de energia.
K
Fator de amortecimento.
L
Sustentação.
n
Normal do painel.
p
Pressão; velocidade angular de rolamento.
q
Velocidade angular de arfagem; intensidade das fontes.
Q
Vazão volumétrica dentro da camada limite.
Q

Velocidade induzida por cada segmento de vórtice.
r
Velocidade angular de guinada; vetor entre o ponto de controle e o
ponto onde está sendo calculada a velocidade induzida.
Re ,
2
Re
δ
, Re
ξ
Número de Reynolds, baseado nas dimensões características ,
c ,
2
δ
e
ξ
respectivamente.
s Distância percorrida sobre a superfície do perfil.
t
Tempo.
,,uvw
Campo de velocidade nas direções
,,
x
yz
respectivamente.
,,
x
yz
Sistema de coordenadas globais.
e
V
Velocidade na fronteira da camada limite.
V
Velocidade do escoamento não perturbado.
t
V
Velocidade tangente nos pontos de controle.
X
RESUMO
Este trabalho apresenta o desenvolvimento e a implementação
computacional de um procedimento numérico para a estimativa das características
aerodinâmicas de perfis e conjuntos asa-empenagens em regime subsônico. O
procedimento bidimensional é baseado no Método dos Painéis utilizando modelos
empíricos de camada limite. O procedimento tridimensional é baseado no Método de
Vortex-Lattice, porém, sua formulação permite a predição das características
aerodinâmicas de maneira não linear, abaixo e acima do estol, através da utilização das
características bidimensionais dos perfis da asa e da empenagem e em condições
assimétricas de vôo. Foi incluído ainda modelos de esteira livre e medição de arrasto
induzido através da variação de
Momemtum. Através da comparação com outros
softwares similares e com resultados experimentais são demonstradas suas vantagens,
confiabilidade e flexibilidade. Este procedimento se mostrou altamente recomendável
para a solução dos problemas típicos em projeto de aeronaves subsônicas, suprindo as
necessidades desde as fases iniciais até fases mais avançadas de projeto, podendo ser
utilizado inclusive para otimização e simulação de vôo, devido ao baixo custo
computacional necessário.
XI
ABSTRACT
This work presents the development and computer implementation of a
numeric procedure for estimation of aerodynamic characteristics of wing-tail groups in
subsonic environments. The bi-dimensional procedure is based on the Panel Method
using empirical models of boundary layers. The tri-dimensional procedure is based on
the Vortex-Lattice Method; however, its formulation permits the prediction of the
aerodynamic characteristics in a non-linear way, below and above the stall, through the
utilization of the bi-dimensional airfoil characteristics that composes the wing and tail
and in non-symmetrical flight conditions. It’s also included a free wake model and
induced drag measurement through the
Momentum variation. Through the comparison
with similar others softwares and experimental results is demonstrated its advantages,
trustworthiness and flexibility. This procedure was showed as highly recommendable
for the solution of the typical problems in project of subsonic aircrafts, supplying the
necessities since the initial phases until more advanced phases of project, being able
also to be used for optimization and flight simulation, due to the necessary low
computational cost.
1
1
1
INTRODUÇÃO
Sabe-se que o desempenho e as características de vôo de uma aeronave são
bastante afetados pelo seu projeto aerodinâmico, o qual pode ser feito, atualmente, com
o auxílio de diversas ferramentas. Dentre as principais, podem-se ser citados os ensaios
em túnel de vento e as simulações computacionais, mais conhecidas como CFD
(Computational Fluid Dynamics).
Os testes em túneis de vento podem apresentar maior confiabilidade nos
resultados em relação aos métodos numéricos, entretanto, ainda são procedimentos
demorados, com custos bastante elevados e também possuem uma série de erros e
incertezas associados ao experimento que devem ser estudados com cautela. Já os
métodos computacionais permitem análises mais rápidas e com custos inferiores,
sobretudo devido ao aumento da capacidade de processamento que se observou nas
ultimas décadas. Para efeito comparativo, um método de cálculo aerodinâmico
relativamente simples, levava cerca de um dia inteiro de processamento na década de
1950 (Ganer e Bryant, 1952), enquanto que nos dias atuais esse mesmo cálculo é feito
em milésimos de segundo, justificando assim a rápida expansão da utilização de
simulações computacionais.
No entanto, vale ressaltar que, devido à complexidade física envolvida no
escoamento, os métodos numéricos em dinâmica de fluidos se referem normalmente a
fenômenos específicos e, em geral, não apresentam resultados completamente fieis à
realidade, podendo existir uma discrepância que pode variar de sutil ao absurdo,
cabendo ao programador e ao usuário a validação do resultado baseado em
experimentos similares anteriores, no bom senso e na coerência física envolvida. Ainda
devido à complexidade física, o tempo gasto com o processamento do modelo numérico
regente pode variar de milésimos de segundos até dias ou semanas, dependendo do nível
de detalhamento do modelo e da precisão desejada.
Particularmente, para o projeto aerodinâmico de uma aeronave, é desejável
que se tenham, de acordo com a conveniência, diferentes níveis de detalhamento do
modelo para cada uma das etapas específicas do projeto.
Nas etapas iniciais de concepção e projeto onde diversas configurações de
asas e empenagens são avaliadas, é interessante a obtenção dos resultados de maneira
2
rápida, visando uma boa precisão no cálculo das forças aerodinâmicas resultantes
(sustentação e arrasto), sem necessidade de se conhecer em detalhes todo o campo do
escoamento.
Nas etapas finais de projeto, onde já foi estabelecida a configuração básica
da aeronave e se deseja fazer ajustes finos em sua configuração, pode ser necessária a
utilização de um modelo matemático mais complexo que, apesar de demandar um
grande tempo de processamento, fornece informações mais detalhadas de todo o campo
do escoamento.
Já nas etapas de simulação de vôo, onde também não é necessário um
grande detalhamento dos resultados, mas o volume de informações é elevado (tabelas
multidimensionais dos coeficientes aerodinâmicos em função dos ângulos de incidência
do escoamento e velocidades angulares da aeronave e atitude), o método de geração das
características aerodinâmicas de vôo deve ser o mais rápido possível, sendo desejável
até mesmo um procedimento de cálculo em tempo real.
1.1 Objetivos e Justificativas
Tendo em vista as necessidades das etapas de concepção, projeto e
simulação de vôo de aeronaves leves, o objetivo deste trabalho é o desenvolvimento de
um método de cálculo aerodinâmico rápido, robusto e flexível, que permita níveis de
detalhamento, velocidades de processamento, precisão de resultados e condições de
contorno, compatíveis com os requisitos de cada uma das etapas do desenvolvimento
aeronáutico.
Este trabalho se justifica pela necessidade da sociedade científica brasileira
ter uma ferramenta desenvolvida no país, portanto com código aberto aos pesquisadores
brasileiros, que possa ser utilizada nas fases de concepção, projeto e simulação de vôo
de aeronaves leves subsônicas.
Recentemente, tem-se observado ainda que, vários grupos de pesquisas
relacionados ao desenvolvimento de aeronaves não tripuladas autônomas (UAV) estão
utilizando softwares estrangeiros da década de 1970 ou, até mesmo códigos mais
recentes, porém com documentação falha e problemas de programação, para o
desenvolvimento dos modelos aerodinâmicos necessários para o projeto dos sistemas de
3
controle. Com este trabalho, espera-se oferecer a estes pesquisadores uma alternativa
mais eficaz e robusta.
1.2 Organização do Texto
Nos capítulos que se seguem neste trabalho serão apresentados os seguintes
assuntos:
No capítulo 2 serão apresentadas e discutidas as principais metodologias
utilizadas em aerodinâmica computacional que visam suprir as
necessidades de projeto de aeronaves, possibilitando assim a escolha das
metodologias mais adequadas para a realização deste trabalho.
No capítulo 3 as metodologias eleitas como sendo as mais adequadas ao
trabalho proposto serão discutidas detalhadamente, formando assim todo
o equacionamento necessário para a solução do problema.
No capitulo 4 serão discutidas brevemente as necessidades
computacionais para implementação do software e será determinada da
linguagem de programação a ser utilizada.
No capítulo 5 serão apresentados e discutidos os resultados obtidos com
o software implementado.
No Capitulo 6 serão apresentadas as conclusões e realizados os
comentários finais sobre o software implementado e a metodologia
utilizada.
No Capitulo 7 serão apresentados sugestões para trabalhos futuros.
4
2
2
REVISÃO BILIOGRÁFICA
2.1 Introdução
Segundo White (1999), as equações que regem o escoamento de um fluido
newtoniano, com densidade e viscosidade constantes, são conhecidas como Equações de
Navier-Stokes (equação 2.1), assim chamadas em homenagem a Claude-Louis Navier
1
e
Sir George G. Stokes
2
, aos quais se atribui o crédito por tê-las deduzido.
222
222
222
222
222
222
x
y
z
p uuu u u u u
guvw
xxyz txyz
pvvv vvvv
guvw
yxyz txyz
p
www w w w w
guvw
zxyz txyz
ρµ ρ
ρµ ρ
ρµ ρ
⎛⎞
⎛⎞
∂∂∂
−+ + + = + + +
⎜⎟
⎜⎟
∂∂
⎝⎠
⎝⎠
⎛⎞
⎛⎞
∂∂
−+ + + = + + +
⎜⎟
⎜⎟
∂∂
⎝⎠
⎝⎠
⎛⎞
⎛⎞
∂∂∂
−+ + + = + + +
⎜⎟
⎜⎟
∂∂
⎝⎠
⎝⎠
2.1
Nestas equações
ρ
denota a densidade do fluido, ,,
x
yz o sistema de
coordenadas,
,,
xyz
ggg, o campo gravitacional nas direções ,,
x
yz respectivamente,
p
a pressão,
µ
a viscosidade dinâmica do fluido, ,,uvw as velocidades do escoamento
nas direções
,,
x
yz respectivamente e t o tempo.
No entanto, as equações de Navier-Stokes são bastante complexas de serem
resolvidas, principalmente em geometrias arbitrárias e onde os efeitos viscosos são
intensos. Uma alternativa para esse problema foi proposta por Ludwig Prandtl
3
que
através da sua teoria conhecida como camada limite, sugere que o campo de escoamento
possa ser dividido em duas regiões distintas, conforme mostrado na Figura 2-1, que
podem ser resolvidas separadamente (White, 1999):
1
Claude-Louis Navier (1785 – 1836) nasceu em Paris, e formou-se em engenharia civil. Apesar de não
ser sua área de atuação, sua mais importante contribuição foi a dedução da equação que leva seu nome.
2
Sir. George Stokes (1819 - 1903) nasceu na Irlanda e formou-se em matemática. Proporcionou diversas
contribuições na área da física, óptica e da dinâmica de fluidos.
3
Ludwig Prandtl (1875-1953) nasceu na Alemanha em 1875, e é conhecido como o pai da aerodinâmica
moderna devido a suas importantes contribuições, que entre as diversas destacam-se a teoria da camada
limite e a teoria da linha sustentadora.
5
Região viscosa: Uma região próxima ao corpo, na qual as forças viscosas
governam o escoamento (
0
µ
).
Região potencial: Uma região afastada do corpo, na qual as forças
inerciais governam o escoamento ( 0
µ
).
Figura 2-1 Formulação de camada limite proposta por Prandtl
As equações que regem a região potencial do escoamento são conhecidas
como equações de Euler
4
, que podem ser obtidas através da equação de Navier-Stokes
desconsiderando-se o termo viscoso conforme mostrado na equação 2.2 (White, 1999).
x
y
z
p
uuu u
guvw
x
txyz
p
vvv v
guvw
ytxyz
p
www w
guvw
ztxyz
ρρ
ρρ
ρρ
⎛⎞
∂∂
−= + + +
⎜⎟
∂∂
⎝⎠
⎛⎞
∂∂
−= + + +
⎜⎟
∂∂∂
⎝⎠
⎛⎞
∂∂
−= + + +
⎜⎟
∂∂
⎝⎠
2.2
Ou em notação vetorial:
dV
gp
dt
ρρ
−∇ =
2.3¨
No entanto, em aerodinâmica computacional subsônica, uma forma mais
prática para a solução da região potencial do escoamento pode ser feita considerando o
4
Leonhard Euler (1707- 1783) nasceu na Suíça, e é considerado o maior matemático do século dezoito, e
entre suas contribuições destacam-se além da área de dinâmica de fluidos e mecânica, importantes
notações e soluções matemáticas.
6
fluido como sendo incompressível e irrotacional, levando à equação conhecida como
equação de Laplace
5
conforme mostrado na equação 2.4 (White, 1999).
222
2
222
0
xyz
φφφ
φ
∂∂∂
∇= + + =
∂∂
2.4
Onde
φ
é chamada função potencial, de tal forma que:
uvw
x
yz
φ
φφ
∂∂
=− =− =−
∂∂
2.5
Sendo
u , v e w a velocidade do escoamento nas direções
x
, y e z
respectivamente.
Já a região viscosa do escoamento é mais complexa de ser solucionada,
sendo que em geral, não é usado em aerodinâmica computacional um modelo teórico, e
sim um modelo empírico, ou semi-empírico, baseado em medições experimentais,
utilizando a solução do escoamento potencial como condição de contorno.
Além da separação do escoamento em potencial e viscoso, uma segunda
distinção bastante usual em aerodinâmica, sobretudo no calculo de superfícies
sustentadoras como asas e empenagens, consiste em distinguir o escoamento em função
da sua geometria:
Escoamento Bidimensional: É o escoamento que ocorre em torno do
perfil aerodinâmico da asa, desconsiderando o fluxo de massa na direção
da envergadura. Pode ser interpretado também como o escoamento que
ocorre em cada sessão de uma asa com envergadura infinita, não
possuindo efeitos tridimensionais associados às pontas de asa.
Escoamento Tridimensional: É o escoamento que ocorre em torno de
uma asa finita, onde surgem diversos efeitos associados com o término
das superfícies sustentadoras.
5
Pierre Simon Laplace (1749-1827), nasceu na Normandia atuando nas áreas matemática, astronomia e
física. Além da Equação de Laplace, apresentada nesse texto, outro famoso trabalho é sua transformada,
para solução de equações diferenciais.
7
Para o projeto de aeronaves se faz frequentemente uso destas distinções,
aproveitando informações obtidas através de condições ou modelos bidimensionais para
calcular ou estimar os fenômenos que ocorrem em condições tridimensionais.
2.2 Escoamento Bidimensional
Um resumo do desenvolvimento do escoamento sobre um perfil
aerodinâmico, do ponto de vista bidimensional, pode ser visto na Figura 2-2.
Figura 2-2 Desenvolvimento do escoamento sobre um perfil aerodinâmico
Segundo Drela e Giles (1987), e conforme já foi dito anteriormente, a
grande variedade de procedimentos para cálculo de perfis aerodinâmicos pode ser
dividida em:
Algoritmos que resolvem o escoamento completo (equações de Navier-
Stokes)
Algoritmos que resolvem separadamente as regiões viscosas e potenciais
(baseados na teoria de camada limite).
Em seu trabalho Drela e Giles (1987) afirmam também que os métodos
baseados nas equações de Navier-Stokes são muito mais lentos sem apresentar
vantagens na precisão dos resultados em relação aos métodos que resolvem
separadamente as regiões viscosas e potenciais. Por esta razão, tem sido consenso que
os métodos que resolvem separadamente as regiões viscosas e potenciais são mais
adequados para análise bidimensional de perfis aerodinâmicos.
8
Neste ponto é importante lembrar que o a possibilidade da utilização do
conceito e modelos de camada limite deve-se ao alto número de Reynolds associado ao
escoamento em torno dos perfis aerodinâmicos, pois caso ocorra descolamento do
escoamento, o conceito de camada limite não faz mais sentido.
Particularmente, também tem sido consenso que a utilização de métodos de
elementos de contorno (Método dos Painéis) para a solução da região potencial do
escoamento traz resultados precisos e confiáveis. No entanto, para a solução da região
viscosa e sua interação com a região potencial, ainda existem questionamentos a
respeito da melhor metodologia a ser utilizada.
Segundo Moran (1984), a solução da camada limite sobre um perfil
aerodinâmico pode ser feita através de duas formulações:
Formulação diferencial: as equações simplificadas de Navier-Stokes para
camada limite são resolvidas através de técnicas numéricas, como
diferenças finitas, resultando num perfil de velocidades detalhado dentro
da camada limite, tanto na direção tangente à superfície quanto na
direção normal.
Formulação integral: as equações simplificadas de Navier-Stokes são
resolvidas com o auxílio de perfis de camada limite pré-estabelecidos,
obtidos, em geral, a partir de informações experimentais, ou seja, a
camada limite é resolvida numericamente somente na direção tangente à
superfície, e na direção normal à superfície são usados perfis de
velocidades empíricos.
Moran afirma que os métodos integrais possuem solução mais simples, são
mais rápidos e com boa precisão, devendo ser a primeira escolha para análise de
escoamentos em perfis aerodinâmicos. Apenas nos casos de escoamentos
tridimensionais ou em casos onde os métodos integrais não se mostrem apropriados, a
forma diferencial de camada limite deve ser utilizada.
Segundo Dini, Coiro e Tangler (1992) as relações existentes entre as
soluções da região viscosa e potencial do escoamento podem ser divididas em:
Interação Fraca: também conhecida como método direto, onde primeiro
calcula-se a região potencial do escoamento e depois a região viscosa é
9
calculada separadamente, utilizando como condição de contorno os
resultados potenciais.
Interação Forte: onde as formulações para a região potencial e viscosa do
escoamento são resolvidas simultaneamente, permitindo que uma região
influencie nos resultados da outra, e essa interação ocorre até convergir
para um resultado que satisfaça ambas as formulações (viscosa e
potencial).
2.2.1 Região Potencial do Escoamento
Conforme dito anteriormente, a técnica mais comum em aerodinâmica
computacional para o cálculo da região potencial de perfis aerodinâmicos é o método
dos painéis.
Trata-se de um Método de Elementos de Contorno, que teve seu
desenvolvimento fortemente impulsionado com o trabalho de Hess e Smith (1966) e que
hoje possui diversas variações na busca de uma maior robustez e maior velocidade de
solução.
A formulação bidimensional do método dos painéis consiste em resolver a
equação de Laplace (equação 2.4) na sua forma bidimensional (equação 2.6) através da
superposição de escoamentos elementares (singularidades) distribuídos ao longo da
superfície do corpo. Essa característica que torna o método rápido, pois não é necessário
discretizar e resolver todo o domínio do escoamento.
22
22
0
xy
∂φ ∂φ
∂∂
+
=
2.6
Onde
φ
denota o potencial de velocidades.
Os escoamentos elementares utilizados na formulação do Método dos
Painéis podem ser fontes, vórtices ou dipolos, com intensidades únicas que, quando
combinadas, atendem às condições de contorno pré-estabelecidas de impermeabilidade
(velocidade normal à superfície do corpo nula) e Condição de Kutta
6
(velocidades no
6
Martin Wilhelm Kutta (1867-1944), nasceu na Alemanha, tendo realizado importantes contribuições na
área de aerodinâmica com suas teorias de perfis, e na área da matemática com seu método de solução de
equações diferencias.
10
bordo de fuga iguais e finitas tanto no extradorso quanto no intradorso, para que o
escoamento deixe o corpo suavemente, conforme mostrado na Figura 2-3).
Figura 2-3 Condição de Kutta
O problema final a ser resolvido é um sistema de equações lineares
conforme a equação 2.7.
[
]
{
}
{
}
Aq b×= 2.7
Onde
[]
A
denota a matriz dos coeficientes de influência geométricos;
{}
q as
intensidades dos escoamentos elementares e
{
}
b
as condições de contorno.
2.2.2 Região Viscosa do Escoamento
As equações de Navier-Stokes simplificadas que são utilizadas na solução
de camada limite na forma integral são conhecidas como Equações de Von Kármán
7
e
Equação da Energia (Equações 2.8 e 2.9 respectivamente).
()
22
12
2
2
f
e
e
c
dV
d
H
dV d
δδ
ξξ
++ = 2.8
33
32
e
d
e
ddV
c
dVd
δ
δ
ξξ
+= 2.9
Onde: ,
ξ
η
é o sistema de coordenadas local, sendo
ξ
tangente e
η
normal
à superfície,
e
V a velocidade na fronteira da camada limite,
2
δ
a Espessura de
Momentum,
3
δ
a Espessura de Energia,
12
H o fator de forma da Espessura de
7
Theodore Von Kármán (1881-1963), nasceu na Hungria e é considerado um dos oito maiores gênios da
humanidade, sendo conhecido como pai da aerodinâmica supersônica. Formado em engenharia mecânica
trabalhou com Ludwig Prandtl nas teorias de limite camada, aerofólios e asa.
11
Deslocamento definido como
1
12
2
H
δ
δ
= ,
f
c o coeficiente de atrito (equação 2.10),
d
c
o coeficiente de dissipação (equação 2.11).
2
1
2
w
f
e
c
V
τ
ρ
=
2.10
3
0
1
d
e
u
cd
V
δ
τ
η
ρη
=
2.11
Onde
τ
é a tensão de cisalhamento,
w
τ
é a tensão de cisalhamento na
parede, ou seja, quando
0
η
=
(equações 2.12).
0
;
w
uu
η
τµ τ µ
ηη
=
∂∂
==
∂∂
2.12
Diversos modelos matemáticos e relações experimentais foram
desenvolvidos nas últimas décadas visando à solução da equação de Von Kármán e da
Equação da Energia (Moran, 1984). Cada um destes modelos é aplicável a tipos
particulares de escoamento. Ainda hoje diversos trabalhos estão sendo realizados
objetivando novos modelos para situações específicas (Dini, Coiro e Bertolucci, 1995).
Lembrando-se que o escoamento sobre perfis aerodinâmicos geralmente se
desenvolve do bordo de ataque até o bordo de fuga em quatro regiões distintas, sendo:
i) região laminar
ii) região de transição
iii) região turbulenta.
iv) escoamento descolado.
Normalmente, em aerodinâmica de perfis têm-se para uma destas regiões
modelos matemáticos e ou experimentais de camada limite distintos. Particularmente, a
região de transição não é completamente modelada sendo considerada apenas com o
objetivo de alterar o modelo matemático de acordo com o regime de escoamento
(laminar ou turbulento).
Para o cálculo de perfis aerodinâmicos, os modelos matemáticos integrais
mais utilizados na literatura são:
12
i) o proposto por Eppler e Somers (1980)
ii) o proposto por Drela e Giles (1987)
iii) uma combinação proposta por Moran (1984) que utiliza as relações de
camada limite laminar propostas por Thwaites, as relações de camada limite turbulenta
propostas por Head e o critério de transição proposto por Michel.
Deve-se lembrar ainda que, ao longo do escoamento sobre o perfil
aerodinâmico, podem ocorrer outros fenômenos que afetam sensivelmente o
desenvolvimento da camada limite, como, por exemplo, o descolamento do escoamento
antes do bordo de fuga, ou mesmo, o descolamento do escoamento seguido pelo seu
recolamento, fenômeno conhecido como bolha laminar. A ocorrência de tais fenômenos
pode ser considerada a causa da não linearidade da curva de sustentação do perfil, sendo
importante a sua previsão, sobretudo quando se objetiva o projeto de uma aeronave.
Segundo Eppler e Somers (1980) e Moran (1984) seus modelos são válidos
somente para o escoamento colado, enquanto que, segundo Drela e Giles (1987), suas
relações são válidas mesmo para os casos nos quais ocorrem descolamentos ou
ocorrência de bolha laminar, tornando assim, seu código mais robusto.
Os códigos de interação fraca não sendo capazes de trabalhar com o
escoamento descolado, forçam a transição do escoamento de laminar para turbulento no
caso de descolamento laminar e, interrompem o cálculo da camada limite quando é
previsto o descolamento turbulento. Estas deficiências causam dois efeitos no cálculo
das características de perfis aerodinâmicos:
i) O cálculo do arrasto do perfil pode se tornar incompleto.
ii) A não-linearidade da curva de sustentação não é possível de ser prevista.
Com o objetivo de contornar essas deficiências, Eppler e Somers (1980)
sugerem modelos adicionais capazes de estimar o efeito do descolamento turbulento na
curva de arrasto e sustentação do perfil aerodinâmico.
Portanto, observa-se que, geralmente, os códigos computacionais para
cálculo de perfis aerodinâmicos utilizam modelos de camada limite integral utilizando
relações empíricas para os fatores de forma, coeficientes de atrito e de dissipação, que
são solucionadas através de interações fortes ou fracas (depende do código) com o
escoamento potencial, que geralmente é solucionado através do Método dos Painéis.
13
2.3 Escoamento Tridimensional
Em uma asa finita, ao contrário do que ocorre em uma asa infinita, existem
efeitos associados às extremidades das superfícies, ou seja, às pontas de asa.
Em uma asa infinita, ou na parte mais interna de uma asa finita, o fluxo de
ar ocorre geralmente do bordo de ataque para o bordo de fuga, paralelamente ao
escoamento, como visto na Figura 2-4.
Figura 2-4 Fluxo de ar paralelo à direção de vôo.
No entanto, nas pontas de asa, o ar flui diretamente do intradorso para o
extradorso, por fora da superfície, devido à diferença de pressão (Figura 2-5), causando
assim uma série de fenômenos específicos como, por exemplo, a formação de um
vórtice na ponta da asa, como pode ser visto na Figura 2-6.
Figura 2-5 Formação de vórtice de ponta de asa.
14
Figura 2-6 Vórtice de ponta de asa em uma aeronave agrícola no momento da
liberação do agrotóxico.
Esses vórtices que se formam nas pontas da asa, estão diretamente
associados aos ângulos de ataque induzidos, à forma da distribuição de sustentação ao
longo da asa e ao arrasto induzido, sendo todos esses efeitos correlacionados. A Figura
2-7 mostra como é a distribuição de sustentação e ângulo de ataque induzido típico em
uma asa retangular devido a esses efeitos tridimensionais.
Figura 2-7 Características aerodinâmicas típicas em uma asa retangular
Para o projeto de uma aeronave, no início do seu desenvolvimento, não é
relevante o conhecimento detalhado de todo o escoamento em torno da aeronave, sendo
de interesse para o projetista somente as forças aerodinâmicas resultantes (arrasto,
sustentação e momentos entre outros), enquanto que em estágios avançados de projeto,
pode ser de grande utilidade a obtenção de informações detalhadas sobre todo o campo
15
do escoamento. Por isso observa-se o surgimento de diversas técnicas numéricas para
atender necessidades específicas de cada etapa do desenvolvimento de uma aeronave.
As equações de Navier-Stokes (equação 2.1) são ainda mais complexas de
serem solucionadas no escoamento tridimensional. Por isso, assim como é feito no caso
bidimensional, o campo de escoamento pode ser dividido em escoamento potencial e
viscoso, surgindo assim uma infinidade de técnicas de solução.
Dentre os principais métodos de solução para uma asa finita, utilizados em
aerodinâmica computacional destacam-se:
i) Método da Linha Sustentadora
ii) Método dos Painéis e Vortex-Lattice
iii) Navier-Stokes
2.3.1 Método da Linha Sustentadora
Desenvolvido por Prandtl (1921), foi o primeiro método analítico capaz de
calcular com precisão a distribuição de sustentação (Figura 2-8) e o arrasto induzido em
uma asa finita, tendo um profundo impacto no desenvolvimento na aerodinâmica
moderna, sendo um método largamente utilizado até nos dias de hoje (Phillips, 2004 e
Phillips, Alley e Goodrich, 2004).
Figura 2-8 Distribuição do Coeficiente de sustentação típica em uma asa
trapezoidal.
16
O método soluciona o escoamento potencial através da distribuição de
singularidades do tipo vórtice ferradura ao longo da asa, sendo o mais rápido dos
métodos quando solucionado numericamente, devido ao volume reduzido de equações a
serem resolvidas.
Sua solução numérica é feita normalmente com expansões em série de
Fourier ou através do método desenvolvido por Multhopp (apud Thwaites, 1960). A
solução proposta por Multhopp, leva em consideração as características do perfil
aerodinâmico na região linear da curva de sustentação, como a variação do coeficiente
de sustentação em função do ângulo de ataque (
dCL
d
α
) e o ângulo de sustentação nula
do perfil (
0
α
).
Apesar de o método aceitar torção geométrica, torção aerodinâmica e
variações na corda, sua forma clássica possui sérias limitações como, por exemplo: i)
ser aplicável a somente uma única superfície sustentadora de geometria simples não
permitindo diedro ou enflechamento; ii) não permite velocidades angulares da aeronave;
iii) o escoamento precisa ser paralelo ao plano de simetria da asa, não permitindo o
ângulo de derrapagem (
β
). Tais limitações inviabilizam sua utilização no presente
trabalho.
2.3.2 Método dos Painéis e Método de Vortex-Lattice
Tanto o Método dos Painéis (Hess e Smith, 1966) quanto o Método de
Vortex-Lattice (Miranda, Elliott e Baker, 1977) mostrados na Figura 2-9 e na Figura
2-10 respectivamente, solucionam o escoamento potencial através da solução da
Equação de Laplace, distribuindo singularidades (escoamentos elementares) ao longo do
corpo que atendem a condição de impermeabilidade (o escoamento não pode atravessar
uma superfície sólida não porosa) e a Condição de Kutta.
17
Figura 2-9 Resultado de distribuição de pressão obtida com método dos painéis
para a aeronave CEA 308 (Oliveira, 2001).
Figura 2-10 Resultado de diferencial de pressão obtida com o método de Vortex-
Lattice
A diferença básica entre ambos os métodos é o tipo de singularidade
utilizada em cada formulação.
Devido a sua característica peculiar de resolver o campo de escoamento
somente sobre a superfície do corpo (métodos dos elementos de contorno), são métodos
rápidos e com boa robustez, permitindo múltiplas superfícies e calculando a
interferência entre elas. Permitem também geometrias bastante complexas, velocidades
angulares, e o escoamento não precisa estar paralelo ao plano de simetria da asa,
permitindo o ângulo de derrapagem.
18
Às suas formulações clássicas podem ainda ser incluídos diversos modelos
adicionais como camada limite, correções devido à compressibilidade e cálculo da
esteira.
Tais características fazem com que esses métodos sejam bastante utilizados
em aerodinâmica computacional. O método adotado neste trabalho para solução do
escoamento tridimensional é uma adaptação do método de Vortex-Lattice.
2.3.3 Navier-Stokes
As equações de Navier-Stokes podem ser solucionadas diretamente através
de métodos numéricos Direct Numerical Simulations (DNS) ou podem ser resolvidas
em diferentes escalas utilizando as mais diversas técnicas como Reynolds-Averaged
Navier-Stokes (RANS) ou Large Eddy Simulation (LES), em conjunto com diversas
técnicas de discretização espacial como Volumes Finitos, Elementos Finitos ou
Diferenças Finitas (Figura 2-11) associados a modelos de camada limite e turbulência.
Figura 2-11 Modelo em volumes finitos de uma aeronave
Suas principais vantagens são a robustez e o fornecimento de resultados
detalhados de todo o campo do escoamento, sendo possível sua utilização em qualquer
tipo de escoamento.
19
Segundo Silveira Neto (2006) o números de graus de liberdade necessário
para representar toda a multiplicidade de escalas de turbulência em um escoamento
pode ser calculado através da equação 2.13.
9
4
Re
gl
N = 2.13
Logo percebe-se a impraticabilidade da simulação numérica direta (DNS),
pois para escoamentos típicos em aeronáutica (
6
Re 5
) é necessário uma sistema de
com aproximadamente
15
1, 2 graus de liberdade para se resolver todas as escalas de
turbulência até a dissipação de Kolmogorov.
Apesar dos métodos alternativos como as Equações Médias de Reynolds
(RANS) ou Simulações de Grandes Escalas (LES) reduzirem bastante o número de
equações a serem resolvidas (por representaram os comportamentos médios das
menores escalas), ainda são técnicas impraticáveis para cumprir objetivo proposto no
tocante ao tempo de processamento necessário (o processamento pode demorar dias ou
semanas).
20
3
3
METODOLOGIA
3.1 Introdução
Tendo em vista que o objetivo proposto esta voltado para as atividades de
projeto de aeronaves e trabalhos correlatos, considera-se que um procedimento de
análise é eficiente quando, além de fornecer resultados coerentes com a realidade, é
também rápido e robusto, podendo ser aplicado a uma grande variedade de casos.
O método linear proposto é baseado em uma versão modificada do Método
de Vortex-Lattice (Miranda, Elliott, Baker, 1977), tornando-se similar ao método de
Weissinger (1947), também conhecido como linha Sustentadora Estendida (Schlichting,
Truchenbrodt e Ramm, 1979) ou Linha Sustentadora Moderna (Phillips e Snyder, 2000)
onde a distribuição de singularidades é feita apenas ao longo da envergadura.
No entanto serão adicionados ao método linear, diversos modelos
complementares visando uma maior robustez, flexibilidade e confiabilidade. Tais
modelos incluem correções da circulação em função das características bidimensionais
do perfil aerodinâmico, medição do arrasto induzido pela variação de Momentum no
infinito, cálculo da esteira livre e cálculo do momento aerodinâmico e arrasto parasita
causados pela perfilagem utilizada na asa, podendo ainda ser incluído o efeito da
deflexão de superfícies de comando.
3.2 Escoamento Bidimensional
Apesar do objetivo final ser a implementação de um método tridimensional,
o método proposto utiliza as informações bidimensionais para a correção das
características aerodinâmicas tridimensionais em função do perfil utilizado nas
superfícies sustentadoras.
As polares aerodinâmicas utilizadas como dados de entrada podem ser
curvas experimentais ou curvas calculadas numericamente através de algum software
disponível para esse fim.
Para tornar completo o pacote computacional implementado, dispensando
assim a necessidade do conhecimento das curvas experimentais do perfil e a utilização
21
de softwares de outros autores, além do método tridimensional foi implementado
também um método para avaliação das características bidimensionais do perfil.
Conforme citado anteriormente a abordagem bidimensional será feita pelo
tratamento distinto da região potencial e viscosa do escoamento em torno do perfil,
sendo que a região potencial será solucionada pelo método dos painéis enquanto que a
região viscosa será tratada com modelos semi-empíricos de camada limite integral,
ambos interagindo entre si através de um método de interação fraca.
3.2.1 Tratamento do escoamento potencial
Como existem muitas escolhas possíveis para a formulação do método dos
painéis no que se refere à distribuição dos escoamentos elementares (Katz e Plotkin,
1991), no algoritmo bidimensional desenvolvido estão disponíveis duas formulações:
i) Hess e Smith: Formulação clássica desenvolvida por Hess e Smith
(1966), seguindo a descrição feita por Moran (1984).
ii) Vórtice linear: Formulação mais moderna e largamente utilizada por
outros softwares bidimensionais, seguindo a formulação descrita por Katz e Plotkin
(1991).
3.2.1.1 Hess e Smith
A forma clássica desenvolvida por Hess e Smith (1966) é baseada na
distribuição de fontes e vórtices ao longo de toda a superfície do corpo. A intensidade
das fontes é constante ao longo de cada painel, mas pode variar de um painel para outro.
A intensidade dos vórtices é única para todo o perfil, ou seja, além de não variar ao
longo de cada painel, também não varia de um painel para outro.
A Figura 3-1 mostra como é feita a aproximação da geometria do perfil
através de painéis, e os pontos de controle que devem satisfazer às condições de
contorno estabelecidas, localizados no centro de cada painel.
22
Figura 3-1 Discretização de um perfil através de painéis
Com essas características, as intensidades das fontes são regidas pela
condição de tangência da velocidade em todo o corpo (ou impermeabilidade do corpo) e
a intensidade dos vórtices é regida pela Condição de Kutta.
A Figura 3-2 mostra como é o sistema de coordenadas que será adotado para
a implementação do método, onde ,
x
y é o sistema de coordenadas globais que
localizam um ponto no espaço,
s é a distância percorrida na superfície do corpo a partir
do bordo de ataque, r é a distância da superfície até o ponto ,
x
y , onde está sendo
calculada a velocidade induzida,
θ
é o ângulo formado por
r
e a horizontal, V
é a
velocidade do escoamento não perturbado e
α
é o ângulo entre o escoamento não
perturbado e a direção horizontal.
Figura 3-2 Sistemas de coordenadas
Hess e Smith (1966) decompõem o potencial de velocidades total como
sendo a soma das contribuições individuais do escoamento não perturbado e das
velocidades induzidas pelas fontes de intensidade q e pelos vórtices de intensidade
γ
(
φ
,
S
φ
e
V
φ
respectivamente):
SV
φ
φφφ
=
++ 3.1
23
Onde:
cos cos
ln r
2
2
S
V
Vx Vy
q
ds
ds
φ
αα
φ
π
γ
φθ
π
∞∞
=+
=
=−
3.2
Ou seja:
()
1
cos cos ln
22
N
j
panel
j
q
Vx y r ds
γ
φαα θ
ππ
=
=++
3.3
Através de manipulações matemáticas e geométricas, chega-se ao sistema de
equações 3.4 que irá fornecer as intensidades das fontes e do vórtice no centro de cada
painel (pontos de controle) que satisfazem à condição de tangência da velocidade
(impermeabilidade) e a Condição de Kutta.
1,1 1, 1, 1, 1
1
1
,1 , , , 1
,1 , , , 1
1,1 1, 1, 1, 1
1
iNN
iiiiNiN
i
i
NNiNNiN
N
n
NNiNNNN
N
AAAA
b
q
AAAA
b
q
AAAA
b
q
AAAA
b
γ
+
+
+
+++++
+
⎡⎤
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
×=
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
⎣⎦
……

…

…
…
3.4
Onde:
()
()
()
()
()
()
()
()
1
1
1
1
1
1,
1,
1
1, 1
1, 1
2sin lncos
2coslnsin
2sin cosln
2sinlncos
ij
ij i j ij
ij
N
ij
iN i j ij
j
ij
kj
Nj k j kj k
kN
kj
N
kj
NN k j k kj
kNj
kj
r
Aij
r
r
Aij
r
r
Aj
r
r
Aj
r
πθθ θθβ
πθθθθβ
πθθβθθ
π
θθ θθβ
+
+
+
=
+
+
=
+
++
==
=− +
=−
=−
=−+
∑∑
3.5
e
24
(
)
() ( )
11
sin
cos cos
ii
NN
bV
bV V
θα
θ
αθα
+∞
=−
=−
3.6
Sendo
β
o ângulo entre o centro do painel i (ponto de controle) e os nós do
painel j, conforme mostrado na Figura 3-3, onde
,
ξ
η
é o sistema de coordenadas local,
sendo
ξ
tangente à superfície e
η
normal à superfície.
Figura 3-3 Determinação do ângulo
β
Após a solução do sistema de equações lineares 3.4, com as intensidades das
fontes e vórtices, é possível calcular as velocidades tangenciais em cada ponto de
controle:
()
() ()
() ()
1
1
1
1
cos
sin cos ln
2
sin ln cos
2
ti i
N
jij
j
ij
N
ij
j
ij
VV
qr
ijij ij
r
r
ij ijij
r
θα
θθβ θθ
π
γ
θθ θθβ
π
+
=
+
=
=−+
−− +
⎡⎤
−+
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
3.7
A equação de Bernoulli
8
, que relaciona as pressões e velocidades locais com
a pressão e a velocidade do escoamento não perturbado para um fluido incompressível,
pode ser escrita como mostrado na equação 3.8:
22
11
22
iti
p
Vp V
ρ
ρ
+=+ 3.8
8
Daniel Bernoulli (1700 - 1782) nasceu na Holanda, brilhante filósofo, físico, fisiologista, médico,
botânico e matemático, é considerado o pai da hidrodinâmica por teoria que relaciona a energia cinética
com a pressão de um fluido.
25
Na forma adimensional:
2
2
2
1
1
2
iti
pi
p
pV
C
V
V
ρ
== 3.9
As velocidades e coeficientes de pressão calculadas através das equações
3.7 e 3.9 são referentes aos pontos de controle (centro de cada painel), e são
consideradas como constantes ao longo de cada painel.
Os coeficientes de pressão podem então ser integrados sobre a superfície do
corpo obtendo-se o coeficiente de sustentação.
3.2.1.2 Distribuição Linear de Vórtices
Uma distribuição de singularidades moderna bastante utilizada no Método
dos Painéis bidimensional é a Distribuição Linear de Vórtices (Katz e Plotkin, 1991).
Diferentemente da forma clássica proposta por Hess-Smith (1966), a
Distribuição Linear de Vórtices utiliza somente vórtices como singularidade, sendo que
sua intensidade varia linearmente ao longo de cada painel, e a intensidade final do
vórtice sobre o painel
i
será igual à intensidade inicial do vórtice no painel 1i + . Logo a
intensidade dos vórtices, e consequentemente a distribuição de velocidade e pressão
sobre o perfil, será contínua, ao invés de discreta, como mostrado na Figura 3-4.
Figura 3-4 Características das distribuições de singularidades em cada método.
A formulação da Distribuição Linear de Vórtices é bastante semelhante
àquela proposta por Hess e Smith (1966), mudando apenas a matriz de influência
geométrica das velocidades induzidas.
26
Na formulação desse método, será adotada a nomenclatura mostrada na
Figura 3-5 (Katz e Plotkin, 1991).
Figura 3-5 Nomenclatura utilizada na formulação de distribuição de vórtice linear
A velocidade induzida no ponto P pelo painel
j
será, portanto, dada pela
equação 3.10, sendo esta velocidade induzida no sistema de coordenada local de cada
painel.
11
,
1
11
1
11
,1
1
11
11
ln
2
()()()
2( )
()
()
2
()()()
ln
2( )
jjj
jj j
jj j j j j
jj
jj jj
jj
jj
jj j j j j j
jj j
r
y
u
xx r
xx xx
xx
xx
y
v
xx z
xx xx r
xx r
ξη
ξη
γγ
π
γγγ
π
γγ
θ
θ
π
γγγ
π
++
+
++
+
++
+
+
++
++
⎛⎞
=
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
−+
+
⎛⎞
−−
+
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
−+
3.10
Onde
,
u
ξη
e
,
v
ξη
denotam as velocidades induzidas, no sistema de
coordenadas locais, nas direções
ξ
e
η
respectivamente,
γ
a intensidade dos vórtices,
27
θ
o ângulo formado pelo ponto P (pontos de controle) e o painel e r a distância do
ponto P ao vértice do painel.
Para transformar a matriz de velocidades do sistema de coordenadas locais
para o sistema de coordenadas globais utiliza-se a transformação mostrada na equação
3.11.
,,
cos sin
sin cos
ii
ii
xy
uu
vv
ξ
η
αα
αα
⎛⎞
⎛⎞ ⎛⎞
=
⎜⎟
⎜⎟ ⎜⎟
⎝⎠ ⎝⎠
⎝⎠
3.11
A montagem do sistema de equações lineares a ser solucionado deve atender
à condição de impermeabilidade do corpo, ou seja, velocidades normais nulas nos
pontos de controle. Portanto, calcula-se as velocidades induzidas pelos vórtices e pelo
escoamento não perturbado em cada ponto de controle através da equação 3.12.
(
)
,
,.
.
ij i
ij
ii
Auvn
bVn
=
=
3.12
Onde ,uv denotam as velocidades induzidas no sistema de coordenadas
globais,
n um vetor unitário na direção da normal do painel e V
o escoamento não
perturbado.
É importante notar que existem
N
pontos de controle e
1N +
intensidades
para os vórtices, resultando assim em um sistema com
N equações e 1N + incógnitas.
A equação adicional que torna o sistema solucionável é a Condição de Kutta que deve
ser satisfeita no bordo de fuga, ou seja:
11
0
N
γ
γ
+
+
= 3.13
Logo se chega ao sistema de equações lineares mostrado na equação 3.14.
1
1,1 1, 1, 1, 1 1
,1 , , , 1
,1 , , , 1
1
10 01 0
iNN
i
iiiiNiN i
N
NNiNNiN N
N
AAAA b
AAAA b
AAAA b
γ
γ
γ
γ
+
+
+
+
⎡⎤
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
×=
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
⎣⎦
……

…

…
…
3.14
28
Após a solução do sistema linear, conhecendo-se a intensidade de cada
vórtice e conseqüentemente a velocidade tangente em cada ponto de controle, é possível
calcular o coeficiente de pressão através da equação 3.9 e o coeficiente se sustentação
pode ser determinado pela sua integração sobre a superfície do corpo.
3.2.2 Tratamento da Região Viscosa
Após uma análise do estudo feito por Vargas et al. (2005) dos modelos
disponíveis de camada limite na forma integral optou-se pela utilização da combinação
de modelos sugerida por Moran (1984). Como esse é um modelo de interação fraca, será
utilizado um modelo adicional para corrigir a curva de sustentação e arrasto na região
não linear (estol), proposta por Eppler e Somers (1980).
3.2.2.1 Caracterização da Camada Limite
Os modelos matemáticos que descrevem a camada limite são formulados em
função de suas características geométricas, definições teóricas e números
adimensionais. Esses conceitos são descritos nas seções seguintes.
3.2.2.1.1
Espessura da Camada Limite
Defini-se a Espessura da Camada Limite (
δ
) como sendo a distância
normal (
η
) da superfície do corpo até a região onde a velocidade do escoamento
viscoso é 99% da velocidade do escoamento potencial, conforme mostrado na Figura
3-6 e na equação 3.15.
Figura 3-6 Desenvolvimento da camada limite
0
0
0.99
eett
u
u V onde V V V
η
ηδ
=
=
=
==
3.15
29
Onde
u
denota a velocidade do escoamento dentro da camada limite,
e
V
denota a velocidade na fronteira da camada limite e
t
V denota a velocidade do
escoamento potencial.
3.2.2.1.2
Espessura de Deslocamento
A Espessura de Deslocamento
1
δ
é a distância da qual a fronteira sólida
(superfície do corpo) teria que ser deslocada num escoamento sem atrito para fornecer o
mesmo déficit de vazão em massa que existe devido a presença da camada limite,
conforme mostrado na Figura 3-7 e na equação 3.16.
1
00
11
ee
uu
dd
VV
δ
δ
ηη
⎛⎞ ⎛⎞
=− ≈−
⎜⎟ ⎜⎟
⎝⎠ ⎝⎠
∫∫
3.16
Figura 3-7 Espessura de Deslocamento
Uma outra maneira de interpretar o significado físico da espessura de
deslocamento é através do deslocamento que ela provoca nas linhas de corrente do
escoamento potencial, conforme mostrado na Figura 3-8.
Figura 3-8 Espessura de deslocamento
30
3.2.2.1.3 Espessura de Quantidade de Movimento ou Espessura de
Momentum
De forma análoga ao déficit de vazão em massa devido ao efeito viscoso da
camada limite, existe uma redução do fluxo de quantidade de movimento em
comparação a um escoamento não viscoso.
A Espessura de Quantidade de Movimento
2
δ
é definida como a espessura
da camada de fluido com velocidadeU
, para a qual o fluxo de quantidade de
movimento é igual ao déficit do fluxo de quantidade de movimento através da camada
limite.
2
00
(1 ) (1 )
ee ee
uu uu
dd
VV VV
δ
δ
ηη
=− ≈−
∫∫
3.17
3.2.2.1.4
Espessura de Energia
De forma semelhante à Espessura de Deslocamento e à Espessura de
Quantidade de Movimento, pode-se definir também a Espessura de Energia, como
sendo a distância na qual a fronteira do sistema deveria ser deslocada para compensar o
déficit de energia devido aos efeitos viscosos.
22
3
00
11
ee ee
uu uu
dd
VV VV
δ
δ
ηη
⎛⎞⎛⎞
⎛⎞ ⎛⎞
⎜⎟⎜⎟
=− ≈−
⎜⎟ ⎜⎟
⎜⎟⎜⎟
⎝⎠ ⎝⎠
⎝⎠⎝⎠
∫∫
3.18
3.2.2.1.5
Fator de Forma da Espessura de Deslocamento
Define-se o Fator de Forma da Espessura de Deslocamento como sendo a
razão entre a Espessura de Deslocamento e a Espessura de Momentum.
1
12
2
H
δ
δ
= 3.19
3.2.2.1.6
Fator de Forma da Espessura de Energia
Define-se o Fator de Forma da Espessura de Energia como sendo a razão
entre a Espessura de Energia e a Espessura de Momentum.
31
3
32
2
H
δ
δ
=
3.20
3.2.2.1.7
Números de Reynolds
Será definido aqui o conceito de número de Reynolds, que é a relação entre
a densidade do fluido
ρ
, sua viscosidade
µ
, a velocidade do escoamento V e uma
dimensão característica
d (equação 3.21).
Re
Vd
ρ
µ
= 3.21
Logo podem ser obtidos diversos números de Reynolds, referentes a
dimensões características diferentes. As principais escolhas para a dimensão
característica, para caracterizar a camada limite são:
A corda do perfil em questão (
c
)
A espessura de momentum (
2
δ
)
À distância percorrida sobre o perfil aerodinâmico (
ξ
)
Essas dimensões características formam os números de Reynolds mostrados
nas equações 3.22, 3.23 e 3.24 respectivamente.
Re
Vc
ρ
µ
= 3.22
2
2
Re
e
V
δ
ρ
δ
µ
= 3.23
Re
e
V
ξ
ρ
ξ
µ
= 3.24
3.2.2.2 Modelos de Camada Limite
3.2.2.2.1 Inicio do Desenvolvimento da Camada Limite
Conforme dito anteriormente, a solução das equações diferenciais que
regem a Camada Limite (equações 2.8 e 2.9) é feita através de uma integração numérica
em conjunto com relações empíricas ou semi-empíricas para os fatores de forma,
coeficientes de atrito e de dissipação.
32
Para se realizar a integração numérica dos modelos de camada limite na
forma integral, é necessária uma condição inicial que, em geral é tomada como a
condição do escoamento no ponto de estagnação próximo ao bordo de ataque do perfil.
Uma característica importante a ser notada é que no ponto de estagnação, as
velocidades locais são iguais a zero, mas a Espessura da Camada Limite, é diferente de
zero. Logo como condição inicial para o desenvolvimento da camada limite será
adotada a seguinte relação para a Espessura de Momentum no ponto de estagnação
(Moran, 1984):
2
0
0.075
(0)
Re
e
V
ξ
δ
ξ
=
=
×
3.25
3.2.2.2.2
Modelo Laminar: Thwaites
O modelo desenvolvido por Thwaites (apud Moran, 1984), se baseia na
equação conhecida como a equação integral de momentum de Von Kármán (equação
2.8).
Segundo Moran (1984), é um método preciso e largamente utilizado para o
cálculo de desempenho de perfis aerodinâmicos.
Multiplicando a equação integral de momentum de Von Kármán por
2
Re
,
obtem-se:
()
2
2
22
12
2
ee
VdV
d
Hl
dd
ρδ
δρδ
µξµ ξ
+
+=
3.26
Onde:
2
Re
2
f
c
l
δ
= 3.27
Thwaites (apud Moran, 1984), define então um parâmetro adimensional
baseado no gradiente de velocidade ao longo do perfil aerodinâmico (equação 3.28):
2
2
e
dV
d
ρδ
λ
µ
ξ
= 3.28
33
Logo, reescrevendo a equação 3.26:
()
2
2
12
2[ 2 ]
e
V
d
lH
d
ρ
δ
λ
µξ
=−+ 3.29
Thwaites (apud Moran, 1984), através de observações experimentais e
analíticas, faz a seguinte aproximação, que segundo ele é excelente, com pouca
dispersão em relação a resultados experimentais:
(
)
12
2[ 2 ] 0.45 6lH
λ
λ
−+ 3.30
Logo pode-se reescrever a equação 3.29 da seguinte forma:
22
22
6
0.45
ee
VdV
d
dd
ρ
δρδ
µ
ξµξ
=−
3.31
Trazendo o termo
e
dV
d
ξ
para o lado esquerdo da equação, e multiplicando-a
por
5
e
V
obtem-se:
()
2
625 265
2
22
60.45
e
ee ee
dV
dd
VV VV
ddd
δρρ
δδ
µξ ξµξ
⎛⎞
+= =
⎜⎟
⎝⎠
3.32
Logo para quaisquer valores ( )
e
V
ξ
, conhecido o valor inicial de
2
(0)
δ
, é
possível calcular
2
()
δ
ξ
, através de integração numérica.
Conhecidos os valores de
2
()
δ
ξ
,
λ
pode ser obtido através da equação 3.28
e
()l
λ
e
12
()H
λ
podem ser calculadas pelas fórmulas de correlação (equações 3.33 e
3.34), propostas por Cebeci e Brandshaw (apud Moran, 1984).
2
( ) 0.22 1.57 1.8 0 0.1
0.018
0.22 1.402 0.1 0
0.107
l para
para
λλλ λ
λ
λλ
λ
=+ <<
=+ + <<
+
3.33
34
2
12
( ) 2.61 3.75 5.24 0 0.1
0.0731
2.088 0.1 0
0.14
H para
para
λλλλ
λ
λ
=− + <<
=+ <<
+
3.34
É importante notar que
-0.0842
λ
é um indicativo de ocorrência de bolha
laminar, e neste caso deve-se forçar a transição do escoamento para turbulento devido à
validade do modelo somente com o escoamento colado.
3.2.2.2.3
Modelo de Transição: Michel
Para um escoamento incompressível sem transferência de calor, Michel
(apud Moran, 1984), através de observações experimentais, examinou uma série de
escoamentos e concluiu que, no caso de perfis aerodinâmicos, a transição do
escoamento laminar para turbulento ocorre quando:
2
0.46
22400
Re 1.174 1 Re
Re
δξ
ξ
⎛⎞
+ ×
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
3.35
3.2.2.2.4
Modelo de Turbulência: Head
O método de Head (apud Moran, 1984) é baseado no conceito de
incremento de velocidade (Figura 3-9).
Figura 3-9 Formulação de camada limite proposta por Head
Se ( )
δ
ξ
é a espessura da camada limite, a vazão volumétrica Q dentro da
camada limite é dada por:
()
0
()Qud
δξ
ξ
η
=
3.36
35
Logo o incremento de velocidade E pode ser definido como a taxa com a
qual o fluxo Q varia com
ξ
(equação 3.37).
dQ
E
d
ξ
= 3.37
Combinando a definição de espessura de deslocamento (equação 3.16) com
a equação 3.36, obtem-se:
1
e
Q
V
δδ
=
3.38
Logo:
*
2
()
e
d
EVH
d
δ
ξ
= 3.39
Onde
*
H é dado por
*
1
2
H
δ
δ
δ
= 3.40
Head (apud Moran, 1984) assumiu que o incremento de velocidade
adimensional /
e
EV depende apenas de
*
H , sendo este função de
12
H , pois
12 1 2
/H
δ
δ
= . Novamente Cebeci e Bradshaw (apud Moran, 1984) interpolaram os
resultados experimentais através das equações 3.41 e 3.42:
* * 0.6169
2
1
( ) 0.0306( 3)
e
e
d
VH H
Vd
δ
ξ
=− 3.41
*1.287
12 12
3.064
12 12
3.3 0.8234( 1.1) 1.6
3.3 1.5501( 0.6778) 1.6
H H para H
H para H
=+ <
=+ >
3.42
As equações 3.41 e 3.42 juntamente com a equação de momentum (equação
2.8) contêm 4 incógnitas
21
,, ,
f
HH c
δ
em apenas 3 equações. Logo é preciso mais uma
relação para tornar o sistema determinado. Head (apud Moran, 1984) escolheu a lei de
36
atrito de Ludwieg-Tillmann (apud Moran, 1984), que é uma relação empírica baseada
em dados experimentais, dada pela fórmula:
12
2
0.678
0.268
0.246 10 Re
H
f
c
δ
3.43
12
2.4H é um indicativo da ocorrência de descolamento turbulento e o
procedimento de cálculo da camada limite é interrompido devido à validade do modelo
somente com o escoamento colado.
3.2.2.3 Estimativa do Arrasto
O arrasto total que atua sobre um corpo bidimensional é a soma das
contribuições individuais do arrasto de cisalhamento e do arrasto de forma (sendo um
tipo de arrasto de pressão).
É importante notar que só é possível estimar o arrasto de um corpo
bidimensional em um escoamento sem separação forçada e em regime permanente com
uma formulação viscosa, pois em uma formulação puramente potencial, tanto o arrasto
de cisalhamento quanto o arrasto de forma são iguais à zero, pois ambos os tipo de
arrasto só existem devido à presença da camada limite.
O arrasto de cisalhamento é a força obtida pela integração do coeficiente de
atrito (equação 2.10) por toda a superfície do corpo na direção do escoamento não
perturbado. Em uma formulação puramente potencial, não é computado o coeficiente de
atrito.
O arrasto de forma se deve à incapacidade do coeficiente de pressão voltar
ao seu valor original no bordo de fuga devido à presença da camada limite ou ao seu
descolamento, conforme mostrado na Figura 3-10. A força resultante da integração do
coeficiente de pressão recalculado sobre a camada limite, na direção do escoamento é o
arrasto de forma. Em uma formulação puramente potencial a pressão no bordo de fuga é
restaurada igualando-se a pressão no bordo de ataque, resultando assim em arrasto nulo
(fenômeno conhecido como Paradoxo de d’Alambert).
37
Figura 3-10 Arrasto de pressão
Uma maneira alternativa para o cálculo do arrasto do perfil é a utilização da
fórmula desenvolvida por Squire e Young (1938), que se baseia no fato dos arrastos de
cisalhamento e de forma se manifestarem juntos como sendo a perda de
Momentum da
esteira no infinito, logo o arrasto computado utilizando a fórmula de Squire e Young
(equação 3.44) já é ao arrasto total incluindo as contribuições do arrasto cisalhamento e
pressão.
12
5
2
2
2
H
e
D
bordo de fuga
V
C
V
δ
+
⎛⎞
=
⎜⎟
⎝⎠
3.44
Entretanto, como dito anteriormente, o modelo de camada limite adotado,
não é válido para o escoamento descolado. Logo, caso seja detectado o descolamento
turbulento, o procedimento de cálculo é finalizado, obtendo-se os parâmetros da camada
limite somente até o ponto de descolamento.
A fórmula de Squire e Young (1938) refere-se às características da camada
limite no bordo de fuga. Para contornar esse problema, Eppler e Somers (1980),
relacionam o arrasto encontrado utilizando as características da camada limite no ponto
de descolamento com o arrasto que seria encontrado caso a camada limite fosse
calculada até o bordo de fuga (equação 3.45).
38
12
5
0.15
2
_
2
_
2
H
eseparação
e
D
e bordo de fuga
separação
V
V
C
VV
δ
+
⎛⎞
⎛⎞
⎜⎟
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
⎝⎠
3.45
3.2.2.4 Correção no coeficiente de sustentação devido ao
descolamento: Estol
Como as formulações de camada limite de interação fraca são válidas
somente quando o escoamento está colado e o escoamento potencial não é recalculado
sobre a camada limite, é necessária uma formulação adicional para corrigir o coeficiente
de sustentação devido ao descolamento.
Eppler e Somers (1980) consideram que o estol reduz o ângulo de ataque
efetivo do perfil. Se
0
α
é o ângulo de ataque com sustentação nula e
c
α
é o ângulo de
ataque em relação à linha de corda, o coeficiente de sustentação sem separação, será
dado pela equação 3.46.
,0
2( )
lsemsep c
c
π
αα
=
3.46
O termo
0
()
c
α
α
é o ângulo de ataque medido em relação ao ângulo de
sustentação nula.
Se ocorrer separação a uma distancia
s
ep
S
do bordo de fuga no extradorso, é
feita uma correção no ângulo de ataque (equação 3.47) e consequentemente no
coeficiente de sustentação (equação 3.48).
1
2
()
sep
us c
S
c
α
δα
∆≈ + 3.47
2()
sep
lusc
S
c
c
π
απ δα
∆= = + 3.48
Onde
us
δ
é o ângulo de inclinação da superfície do bordo de fuga em
relação a linha de corda do perfil conforme mostrado na Figura 3-11.
39
Figura 3-11 Relações geométricas para o modelo de descolamento
Entretanto, observações mostraram que a inclusão de uma constante
K
pode
levar a curva de sustentação numérica na região do estol bem mais próxima das curvas
experimentais, assim o modelo modificado que será utilizado torna-se:
()
sep
lusc
S
cK
c
π
δα
∆=−⋅ + 3.49
Sendo
K
uma constante arbitrária que depende das características
geométricas do perfil.
3.3 Escoamento Tridimensional
O escoamento bidimensional é uma idealização que ocorre numa asa
infinita, onde não existem fenômenos associados às pontas de asa, o escoamento está
sempre no plano do perfil (não existindo o ângulo de derrapagem conhecido como
β
) e
não existe interferência entre as diversas superfícies sustentadoras que compõem a
aeronave, como asas, empenagens e winglets.
No entanto, se tais considerações fossem utilizadas no projeto de uma
aeronave completa, o erro associado seria muito grande. Por isso torna-se necessária a
utilização de um método capaz de computar esses efeitos associados à
tridimensionalidade do escoamento.
40
A necessidade de ser aplicável a mais de uma superfície sustentadora de
geometria complexa, inviabiliza a utilização do método da Linha Sustentadora Clássica,
enquanto que a necessidade de possuir uma rápida velocidade de processamento
inviabiliza a utilização de métodos que solucionam as equações de Navier-Stokes,
tornando os métodos de elementos de contorno (Método dos Painéis e Vortex-Lattice)
as escolhas mais viáveis.
Optou-se pela utilização do método de Vortex-Lattice (Miranda, Elliott,
Baker, 1977) de maneira simplificada, onde a distribuição de singularidades é feita
somente ao longo da envergadura, com somente um vórtice do tipo ferradura ao longo
da corda (semelhante à distribuição proposta por Weissinger, 1947).
Para suprimir o lapso de informação das características aerodinâmicas da
asa ao longo da corda devido à distribuição de singularidades ser feita somente ao longo
da envergadura, o método proposto faz uso das características bidimensionais dos perfis
que compõem a asa (polares aerodinâmicas).
Com essa estratégia adotada, o método torna-se mais rápido, de maior
precisão, iterativo e não linear, sendo capaz de estimar, por exemplo, o comportamento
do conjunto além do estol, além da inclusão do arrasto parasita e do momento
aerodinâmico do perfil.
Desta forma, com o método proposto (distribuição de singularidades
somente ao longo da envergadura) têm-se na verdade, uma vantagem sobre o método de
Vortex-Lattice tradicional (distribuição de singularidades ao longo da envergadura e ao
longo da corda).
3.3.1 O método Vortex-Lattice Linear
No método de Vortex-Lattice a singularidade usada é chamada de Vórtice
Ferradura, e sua geometria parte do segundo Teorema de Helmholtz
9
, que determina que
um filamento de vórtice não possa simplesmente terminar no interior de um fluido, mas
deve se estender até a fronteira do sistema ou deve se fechar formando um anel. O
9
Hermann Ludwig Ferdinand Von Helmholtz (1821-1894), nasceu na Alemanha, além de ter sido o
primeiro pesquisador a usar filamentos de vórtices para analisar escoamentos não viscosos
incompressíveis, expressou a conservação de energia e a relação entre mecânica, calor, luz, eletricidade e
magnetismo como sendo todas, manifestações de uma única força.
41
Teorema de Helmholtz diz ainda que a intensidade do vórtice deva ser constante por
toda sua extensão.
A Figura 3-12 mostra um Vórtice Ferradura que possuiu três filamentos: um
segmento
A
B
(chamado de vórtice colado), e dois filamentos semi-infinitos,
A
−∞
e
B
−∞
(chamados de vórtices de fuga), satisfazendo assim o Teorema de Helmholtz.
Figura 3-12 Representação do Vórtice Ferradura
A velocidade induzida por um filamento de vórtice de intensidade
Γ
(Figura 3-13) em um ponto do escoamento é dada pela lei de Bio-Savart (equação 3.50).
Figura 3-13 Filamento de vórtice
3
4
dl r
dV
r
π
Γ
×
=
3.50
No entanto, segundo Phillips e Snyder (2000), uma maneira mais
conveniente de calcular a velocidade induzida por um segmento de vórtice que se inicia
no ponto
(,,)xyz
A e se estende até o ponto
(,,)xyz
B conforme mostrado na Figura 3-14 é a
utilização da equação de Bio-Savart trabalhada e apresentada na equação 3.51.
42
Figura 3-14 Velocidade induzida por um filamento de vórtice
12 1 2
0
2
12
12
.
4
rr r r
Vr
rr
rr
π
⎛⎞
×Γ
=−
⎜⎟
⎜⎟
×
⎝⎠



3.51
Portanto, a velocidade induzida por um vórtice ferradura de intensidade
Γ
será a soma das contribuições de cada segmento de vórtice (
A
B
,
A
e
B
−∞).
É importante lembrar que a formulação apresentada é válida para o
escoamento incompressível, não viscoso e irrotacional, que satisfazem à equação de
Laplace. Em um escoamento real, a intensidade do vórtice varia ao longo do filamento
devido à dissipação viscosa, tornando o teorema de Helmholtz (que considera a
vorticidade constante) impreciso quando comparado a um escoamento real (Mathias,
Ross e Cummings, 1995).
A distribuição de vórtice ao longo de cada superfície sustentadora ocorre
como mostrada na Figura 3-15, onde cada vórtice colado está a ¼ de corda e cada ponto
de controle está a ¾ de corda centrado com os vórtice de fuga. Esse posicionamento dos
vórtices e do ponto de controle é conhecido como regra de ¼ - ¾, e foi proposta
inicialmente por Enrico Pistolesi (apud Manson, 2004) e garante a condição de
tangência de velocidade na superfície. Esse posicionamento dos vórtices colados e dos
pontos de controle é exato para uma plana, sendo uma aproximação para perfis com
camber.
43
Figura 3-15 Distribuição de vórtices ferradura utilizado no método proposto
Assim como no método dos painéis, o escoamento deve atender a condição
de tangência de velocidade nos pontos de controle que neste caso estão localizados a ¾
de corda e obtemos um sistema de equações lineares como mostrado na equação 3.52.
11 12 1 1 1
21 22 2 2 2
12
n
n
mm mn n n
ww w B
ww w B
ww w B
Γ
⎡⎤
⎢⎥
Γ
⎪⎪
⎢⎥
×=
⎬⎨
⎢⎥
⎪⎪
⎢⎥
⎪⎪
Γ
⎣⎦

3.52
Onde
w
denota os coeficientes de influência geométricos das velocidades
induzidas a ¾ de corda, Γ denota a intensidade dos vórtices ferradura e
B
denota a
velocidade do escoamento não perturbado, incluindo as componentes de manobra
(rolamento, arfagem e guinada).
No entanto, segundo Miranda, Elliott e Baker (1977), uma opção mais
interessante para a distribuição dos vórtices ferraduras ocorre se ele for composto por
vários segmentos distintos (Figura 3-16) ao invés de apenas três como mostrado na
Figura 3-12. Tal configuração permite que o vórtice se mantenha colado sobre a
superfície, mas ao deixá-la no bordo de fuga, o vórtice pode se alinhar com o
escoamento sendo uma aproximação mais próxima do que ocorre na realidade, já que a
esteira como não pode oferecer resistência deve se tornar uma linha de corrente. Essa
formulação permite ainda a adoção de modelos adicionais de esteira livre.
44
Figura 3-16 Sistema de vórtice adotado
No entanto, na implementação do método, essa característica será opcional,
e o escoamento pode se alinhar em
α
e ou
β
ou não se alinhar com o escoamento,
cabendo ao usuário a escolha da configuração a ser adotada, conforme mostrado Figura
3-17.
Figura 3-17 Formas de alinhamento do vórtice com o escoamento na esteira fixa
45
Com essa configuração de vórtice ferradura adotada, w (equação 3.52), que
denota a influência geométrica de cada vórtice ferradura na velocidade induzida normal
à superfície a ¾ de corda, será a soma da contribuição de cada filamento que o compõe
(Figura 3-16), conforme a equação 3.53.
5
1
ij ijk i
k
wVn
=
=

3.53
Onde
V

é a velocidade induzida por cada segmento de vórtice dado pela
equação 3.51, e
n
é o vetor unitário na direção normal a cada painel.
Os termos independentes da equação 3.52 são as influências do escoamento
não perturbado sobre cada painel adicionando às componentes devido à manobra
(velocidades angulares de rolamento, arfagem e guinada), conforme mostrado na
equação 3.54.
(
)
m
B
VVn
=
+⋅

3.54
Onde:
V [cos( )cos( ) cos( )sin( ) sin( ) ]Vi jk
αβ αβ α
∞∞
=−+

3.55
3/4
m
Vr
=
×Ω

3.56
Onde
V

è a velocidade do escoamento não perturbado,
α
é o ângulo de
ataque,
β
o ângulo de derrapagem, [ ]
p
qrΩ=
a velocidade angular de manobra,
com suas componentes [ ]
p
qr chamadas de rolamento, arfagem e guinada
respectivamente e
3/4
r
é a distância do ponto de controle até o centro de rotação da
aeronave (normalmente o centro de gravidade).
Uma vez determinada as intensidades dos vórtices (solucionando-se o
sistema linear 3.52), é possível calcular as forças aerodinâmicas (
F
) que atuam sobre a
superfície através do teorema de Kutta-Joukowski em sua forma vetorial (Katz e
Plotkin, 1991), conforme mostrado na Figura 3-18 e na equação 3.57.
46
Figura 3-18 Teorema de Kutta-Joukowski
14
FV
ρ
=
×Γ
3.57
Onde
Γ
denota o vórtice colado,
14
V
é a velocidade total a ¼ de corda,
incluindo a velocidade induzida, o escoamento não perturbado e as velocidades
angulares devido à manobra e
ρ
a densidade do fluido.
É importante notar que a resultante da equação 3.57 será uma distribuição
de forças tridimensional como mostrado na Figura 3-19, ou seja, com as respectivas
componentes de arrasto, força lateral e sustentação.
Figura 3-19 Forças atuantes em uma aeronave durante uma manobra
3.3.1.1 Sistema de Coordenadas
É importante notar que as forças aerodinâmicas e os respectivos momentos
calculados com a equação 3.57 estão no sistema de coordenadas alinhado com o vento.
No entanto, em algumas situações é mais conveniente que as forças digam respeito a
47
outros sistemas de coordenadas, como o sistema de coordenada do corpo ou de
estabilidade, conforme pode ser visto na Figura 3-20.
Figura 3-20 Sistemas de coordenadas utilizados
As transformações de um sistema de coordenadas para outro é dado pelas
matrizes 3.58 e 3.59:
cos 0 sin
B2S= 0 1 0
-sin 0 cos
α
α
α
α
3.58
cos cos -sin sin cos
B2W= cos sin cos sin sin
-sin 0 cos
α
ββαβ
α
ββαβ
αα
⎡⎤
⎢⎥
⎢⎥
⎢⎥
⎣⎦
3.59
Onde
B2S e B2W são as matrizes de transformação do sistema de
coordenadas do corpo para o sistema de coordenadas de estabilidade e do vento
respectivamente, e
α
e
β
são os ângulos de ataque e derrapagem respectivamente,
lembrando que para fazer a transformação no sentido inverso, basta inverter as matrizes
3.58 e 3.59.
48
3.3.1.2 Tipos de Malha Possíveis
Outra característica interessante é que diferentemente do método proposto
por Multhoop, no qual os vórtices ferraduras devem ser distribuídos ao longo da
envergadura seguindo uma configuração específica, no método de Vortex-Lattice pode-
se utilizar qualquer distribuição de vórtices ao longo da envergadura, resultando assim
em malhas elaboradas com maior nível de refinamento somente nas regiões da aeronave
onde se deseja maior precisão dos resultados, melhorando assim o tempo de
processamento. As malhas implementadas que podem ser aplicadas individualmente em
cada superfície sustentadora são apresentadas na Figura 3-21.
Figura 3-21 Tipos de malha disponíveis
3.3.2 O Método Não Linear
Como a distribuição de vórtices ferraduras no método implementado ocorre
somente ao longo da envergadura, possuindo apenas um ponto de controle ao longo da
corda e é desconsiderada a linha de camber do perfil, os resultados obtidos com o
método proposto seriam referentes a uma asa que utiliza um perfil simétrico. Como o
foi desconsidera também a espessura relativa do perfil, os resultados obtidos com o
método linear seriam sempre referentes a um perfil do tipo placa plana, trabalhando na
região linear da curva de sustentação com variação do coeficiente de sustentação em
relação ao ângulo de ataque (
dCL
d
α
) constante igual à 2
π
e o ângulo de sustentação
nula do perfil (
0
α
) igual à zero.
No entanto, na grande maioria dos casos, as superfícies sustentadoras das
aeronaves utilizam perfis aerodinâmicos bastante elaborados, com as características do
escoamento sobre eles completamente diferentes daquelas encontradas na placa plana.
49
Para contornar esse problema e computar os resultados tridimensionais do
escoamento em função das características aerodinâmicas do perfil, é necessária a
distribuição de singularidades sobre a linha da camber do perfil ou fornecer como dado
de entrada o ângulo de ataque cuja sustentação do perfil é nula (
0
α
) e a inclinação da
curva de sustentação (
dCL
d
α
), como o proposto por Multhoop. No entanto, sabe-se
que o valor de
dCL
d
α
não é constante em toda a faixa de sustentação do perfil levando
a uma situação de não linearidade.
Diversos métodos surgiram desde então na tentativa de tornar os métodos
lineares capazes de tratar as regiões não lineares do comportamento aerodinâmico de
asas, aumentando a caracterização do escoamento tridimensional em função dos dados
bidimensionais, como por exemplo, o trabalho de James e Robert (1947) e Anderson Jr.,
Corda e Van Wie (1980), ambos referentes a métodos baseados na correção da Linha
Sustentadora Clássica.
No entanto, devido às características do método linear adotado neste
trabalho (similar ao Vortex-Lattice) será utilizado um processo iterativo baseado no
trabalho de Mukherjee, Gopalarathnam e Kim (2003).
Esse algoritmo iterativo capaz de computar a influência das características
do escoamento bidimensional sobre escoamento tridimensional pode ser descrito através
dos seguintes passos:
(1) São atribuídos valores iniciais para
e
L
C
para cada seção da asa.
Estas são variáveis auxiliares que serão explicadas ao longo da descrição deste
algoritmo.
(2) As características aerodinâmicas da asa são calculadas com o método
linear.
(3) O ângulo de ataque efetivo de cada seção (
_sece
α
) é calculado usando os
valores de sustentação local (
secL
C ) obtidas no passo (2) em conjunto com a equação
3.60.
sec
_sec
2
L
e
C
α
δ
π
=
3.60
50
(4) Os valores de
L
C para cada seção da asa são então calculados através
da equação 3.61
secLLviscL
CC C
=− 3.61
Onde
Lvisc
C é o valor de sustentação obtido com a curva de sustentação
experimental do perfil aerodinâmico, para cada seção da asa em ângulos de ataque
efetivos distintos (
_sece
α
).
(5) Os novos valores de
são então calculados através da equação 3.62 e os
novos ângulos de ataque para cada seção da asa podem se calculados através de 3.63,
onde são consideradas as diferenças entre o ângulo de ataque original e o incremento
necessário para que aquela seção da asa forneça a sustentação esperada com o perfil
aerodinâmico.
2
L
C
δδ
π
=+ 3.62
sec inicial
α
αδ
=
+ 3.63
(6) Retorna-se então para o passo (2), onde o novo valor de ângulo de
ataque a ser usado para cada seção será
sec
α
. Este processo é repetido até a
convergência de
secL
C .
Em seu trabalho, Mukherjee, Gopalarathnam e Kim, testaram seu algoritmo
somente em asas individuais em condições de vôo simples (sem velocidade de
rolamento, arfagem e guinada).
No entanto, para a utilização do algoritmo em uma aeronave completa, com
múltiplas asas e empenagens de geometria complexa e em condições de vôo com a
presença de movimentos de rolamento, arfagem e guinada, mostrou-se necessária a
utilização de coeficientes de amortecimento (equação 3.64) e dissipação (equação 3.65),
não incluídos no algoritmo original sugerido por Mukherjee, Gopalarathnam e Kim.
51
(, )
(, ) (, 1)
1
12
LiT
iT iT
C
K
δ
δδ
π
=+
+
3.64
(
)
( 1,) ( 1,)
(, )
(, )
2
1
iT iT
iT
iT
δδ
δ
δ
−+
⎛⎞
+
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
=
3.65
Onde
i denota a seção ao longo da envergadura, T o número da iteração K
é o fator de amortecimento e Π é o fator de dissipação. É interessante notar que o
coeficiente de amortecimento atua de maneira temporal enquanto que o coeficiente de
dissipação age de maneira espacial.
A utilização dos fatores de dissipação e amortecimento traz mais
estabilidade ao modelo numérico, característica que se mostrou fundamental devido à
natureza instável do escoamento em regime não linear (estol).
É importante notar que com o aumento do coeficiente de amortecimento
K o resultado final não é alterado, apenas aumenta-se o numero de iterações necessárias
para a convergência, enquanto que com o aumento do coeficiente de dissipação Π , o
resultado é alterado, conforme mostrado na Tabela 3-1, na Tabela 3-2, na Figura 3-22 e
na Figura 3-23. Esses resultados foram obtidos para uma asa retangular com
alongamento 5, utilizando um perfil NACA-0012, com 22 graus de ângulo de ataque, ou
seja, a queda da circulação no centro das curvas representa a região de estol.
52
Tabela 3-1 Influência do coeficiente de amortecimento
Coeficiente de
amortecimento
Resultado, coeficiente de
sustentação
Número de iterações
0.0 0.98185 58
0.5 0.98185 86
2.0 0.98185 162
Figura 3-22 Variação da circulação em função do coeficiente de amortecimento
Tabela 3-2 Influência do coeficiente de dissipação
Coeficiente de dissipação
Resultado, coeficiente de
sustentação
Número de iterações
0.00 0.98185 58
0.01 0.98474 55
0.10 1.0034 36
0.50 1.0311 26
Figura 3-23 Variação da circulação em função do coeficiente de dissipação
53
3.3.3 O Arrasto Induzido
Devido à dificuldade associada ao cálculo do arrasto induzido presente em
uma superfície sustentadora, surgiram muitos métodos tentando estimá-lo, como por
exemplo, a componente da força na direção contrária ao movimento da aeronave obtido
com o teorema de Kutta-Joukowski (equação 3.57), uma modificação do método da
Linha Sustentadora proposta por Eppler que calcula o downwash no bordo de fuga, a
medição do downwash a ¾ de corda e a integração da pressão sobre a superfície do
corpo no caso do método dos painéis tridimensional, (Mortara, Straussfogel, Maughmer,
1992 e Katz e Plotkin, 1991).
Segundo Giles e Cummings (1999) uma maneira bastante eficiente de se
estimar o arrasto induzido de uma aeronave é pela variação que ela provoca na direção
da quantidade de movimento (
Momentum). Esse princípio é válido para qualquer tipo de
geometria de asa com múltiplas superfícies sustentadoras, qualquer geometria de esteira
e mesmo para uma aeronave completa incluindo sua fuselagem (Jie Li, Fengwei Li e
Qin E, 2003).
A variação na direção do
Momentum no plano S
6
da Figura 3-24 é o arrasto
causado pela aeronave, e pode ser calculado através da integral mostrada na equação
3.66. Essa técnica é conhecida como Trefftz-Plane ou análise do plano distante (Katz e
Plotkin, 1991).
Figura 3-24 Volume de controle utilizado para medir o arrasto induzido.
54
()
6
22
1
2
ind
S
Dvwdydz
ρ
=+
∫∫
3.66
Onde
ind
D denota o arrasto induzido,
ρ
denota a densidade do fluido,
vewas componentes da velocidade do escoamento nas direções yezrespectivamente.
No entanto, existe uma forma mais conveniente de tratar a equação 3.66 ao
se utilizar um método baseado na distribuição de vórtice ferraduras. Utilizando o
teorema de Green que converte uma integral de área em uma integral de linha, a
equação 3.66 assume a forma apresentada na equação 3.67 (Katz e Plotkin, 1991).
2
2
1
2
b
ind n
b
DWds
ρφ
=∆
3.67
Onde
φ
denota a diferença de potencial de velocidades entre a face
superior e inferior da esteira, e
n
W é a velocidade do escoamento normal à esteira.
Como no método de distribuição de vórtices ferraduras, a diferença de
potencial na esteira é a circulação (
φ
), o arrasto induzido pode se
convenientemente calculado através da equação 3.68.
1
1
2
n
ind i ni i
i
DWs
ρ
=
3.68
Onde Γ denota a intensidade do vórtice ferradura,
n
W a velocidade induzida
normal à esteira e
s
a largura do vórtice ferradura. Todos esses valores medidos em
pontos distantes da aeronave sobre a esteira, como mostrado na Figura 3-25. Essa
formulação é válida para qualquer geometria de esteira, mesmo com enrolamentos
encontrados nos modelos de esteira livre (Schlichting, H. e Truchenbrodt, 1979). É
importante notar que na Figura 3-25, a distância dos pontos de controle na esteira em
relação ao vórtice colado não é relevante, pois o valor da velocidade induzida por um
vórtice ferradura será constante em qualquer ponto central dos vórtices de fuga
suficientemente distante do vórtice colado.
55
Figura 3-25 Cálculo do arrasto induzido no CEA-VLM.
3.3.4 Esteira livre
O alinhamento do vórtice ferradura com o escoamento não perturbado
utilizando uma esteira fixa conforme descrito anteriormente (Figura 3-16 e Figura 3-17),
é uma ótima aproximação para o cálculo de uma única superfície sustentadora, pois para
pequenos ângulos de ataque a geometria da esteira possui pouca influência nos
resultados aerodinâmicos de interesse (coeficientes de sustentação e arrasto) da
superfície geradora da esteira.
No entanto, ao se considerar uma segunda superfície próxima à esteira da
primeira (como as empenagens), sob condições de altos ângulos de ataque e derrapagem
ou com altas velocidades angulares de manobra, a geometria da esteira pode afetar
significativamente os resultados aerodinâmicos.
Para solucionar tal problema foi adicionado ao software implementado um
modelo de esteira livre (Katz e Maskew, 1987). Este é um processo iterativo não linear
e transitório que demanda um grande tempo de processamento, pois a esteira é
discretizada e a sua utilização será opcional, cabendo ao usuário a avaliação da
necessidade de uso.
A principal característica observada na esteira de uma aeronave real é o seu
enrolamento nas extremidades das superfícies, como pode ser visto na Figura 3-26,
levando assim à formação dos vórtices de ponta de asa descritos anteriormente.
56
Figura 3-26 Comparação entre os modelos de esteira plana e esteira livre
O processo iterativo para o cálculo da esteira consiste em calcular a
trajetória de cada partícula fluida após o escoamento deixar a superfície sólida. Essas
trajetórias irão se tornar a próxima configuração de vórtices ferradura para uma nova
iteração, tornando assim a esteira coincidente com a linha de corrente, conforme pode
ser visto na Figura 3-27 (Katz, J. e Maskew, 1987).
Figura 3-27 Evolução das linhas de corrente e dos vórtices ferradura
57
O algoritmo utilizado para calculo da esteira pode ser descrito da seguinte
forma:
(1) Entrada da geometria inicial dos vórtices ferradura, onde os vórtices de
fuga se estendem sobre a superfície do corpo desde ¼ de corda até o bordo de fuga
(instante t = 0 na Figura 3-27).
(2) Utilizando o método de Vortex-Lattice calcula-se a intensidade dos
vórtices e a velocidade nos pontos de controle da esteira.
(3) Com as velocidades nos pontos de controle, calcula-se a trajetória de
uma partícula fluida localizada nesses pontos (linhas de corrente), usando um integrador
numérico, como mostrado nas equações 3.69 e 3.70.
00
(,,) (,,) ( , , )
tt t
x
yz xyz x y z
+∆
=
+∆ 3.69
Onde:
()
,, (,,)
x
yz uvwt∆∆∆ = 3.70
(4) O vórtice de fuga é então estendido sobre a trajetória da partícula fluida
calculada.
(5) Volta-se então para (2), até que o critério de convergência adotado seja
obtido (
dCL
tolerância
dt
< , por exemplo), ou um número preestabelecido de iterações
seja atingido.
É importante notar que esse é um problema elíptico, ou seja, é preciso
recalcular toda a esteira em cada iteração, pois o segmento de vórtice mais distante da
asa modifica o início do desenvolvimento da esteira, mais próxima à asa.
Vale ressaltar ainda que no passo (2), as equações 3.69 e 3.70 dizem
respeito a um integrador de primeira ordem (Euler). É aconselhável a utilização de um
integrador numérico de ordem superior como o Runge-Kutta de segunda ou quarta
ordem, melhorando assim a precisão dos resultados.
58
4
4
O SOFTWARE IMPLEMENTADO
Como plataforma de desenvolvimento do software foi escolhida a
linguagem de programação MATLAB por apresentar as seguintes características:
Facilidade de programação.
Linguagem interpretada com ferramentas de depuração sofisticadas.
Grande quantidade de rotinas matemáticas disponíveis, como inversão de
matriz, interpolação de dados discretos e geração de gráficos,
dispensando assim a necessidade do desenvolvimento de tais rotinas.
Capacidade de gerar ambientes gráficos completos de pré-processamento
e pós-processamento em ambiente de janelas.
CEA-VLM 2,5 D será o nome do ambiente de projeto completo de
aeronaves, composto por dois aplicativos integrados, o CEA-2D (escoamento bi-
dimensional) e o CEA-VLM (escoamento tridimensional).
4.1 CEA- 2D
O CEA-2D é o software para cálculo dos perfis aerodinâmicos baseado no
método dos painéis em conjunto com um modelo semi-empírico de camada limite. Esta
implementação possui as seguintes características:
Método dos Painéis com duas formulações disponíveis: Hess-Smith e
Vortice Linear.
Cálculo da camada limite utilizando o modelo de Thwaites para a região
laminar, o critério de transição proposto por Michael e o modelo de
Head para a região Turbulenta.
Modelo adicional para correção da não linearidade da curva de
sustentação (estol) proposto por Eppler modificado.
4.2 CEA-VLM
O CEA-VLM é o software para cálculo da aeronave completa. É baseado no
método de Vortex-Lattice modificado, com somente uma singularidade ao longo da
59
linha de corda (assim como o método proposto por Weissinger), porém incorporando
uma série de modelos adicionais não disponíveis nos softwares similares, a saber:
Método de Vortex-Lattice modificado
Utilização das informações tabeladas bidimensionais do perfil
aerodinâmico, obtidas experimentalmente ou calculadas numericamente,
podendo assim calcular a região não linear da curva de sustentação
(estol) e incluir efeitos de arrasto parasita e momento aerodinâmico do
perfil.
Possibilidade de utilização de geometrias complexas com múltiplas
superfícies planas e não-planas, torção geométrica, diedro e
enflechamento (moderado).
Permite torção aerodinâmica.
Pode-se utilizar qualquer tipo de distribuição de malha, sendo que na
implementação desenvolvida estão disponíveis quatro tipos.
Cálculo das forças, momentos e seus respectivos coeficientes em três
sistemas de coordenadas diferentes (eixo do corpo, eixo de estabilidade
e eixo do vento).
Alinhamento da esteira fixa
Modelo adicional de esteira livre
Avaliação do campo de escoamento e Momentum no infinito para
cálculo do arrasto induzido (Trefftz-Plane).
Aceita diversas condições de vôo, com o escoamento alinhado em ângulo
de ataque ou derrapagem e velocidades angulares de rolamento, arfagem
e guinada.
4.3 Ambientes de Pré e Pós Processamento
Visando a facilidade de utilização do software por outros engenheiros, foi
desenvolvida uma interface gráfica amigável na qual através de janelas são fornecidas
todas as informações necessárias para o procedimento de cálculo e interpretação dos
resultados, tanto no ambiente bidimensional quanto tridimensional (Figura 4-1 e Figura
4-2 respectivamente).
60
Figura 4-1 Ambiente bidimensional desenvolvido
61
Figura 4-2 Ambiente tridimensional desenvolvido
62
5
5
RESULTADOS
5.1 Escoamento Bidimensional
5.1.1 Comparação entre as formulações de Método dos
Painéis bidimensionais
No software implementado estão disponíveis duas formulações potenciais
bidimensionais, Hess-Smith e Vórtice Linear (ou distribuição Linear de Vórtices),
cabendo ao usuário a escolha de qual formulação utilizar.
A formulação proposta por Hess e Smith (1966) necessita de um número
maior de painéis para obtenção da convergência, em relação ao método de Vórtice
Linear, conforme mostrado na Tabela 5-1 e na Figura 5-1. No entanto, devido a sua
formulação, acredita-se que a solução proposta por Hess e Smith (1966) seja menos
sensível em relação à qualidade dos pontos utilizados como dado de entrada para as
coordenadas que compõe o perfil aerodinâmico. Em algumas situações (como abertura
do bordo de fuga devido a existência de um gap entre o intradorso e o extradorso) pode
ser mais recomendada a sua utilização, por isso sua formulação é mantida no software
implementado, além de sua importância histórica.
Tabela 5-1 Comparação entre as formulações de método dos painéis
bidimensionais
Coeficiente de Sustentação Número
de Painéis Hess-Smith Vórtice Linear
6 0,18930 0,37345
8 0,28157 0,41645
10 0,33659 0,44330
16 0,41624 0,47641
20 0,44085 0,48654
50 0,49353 0,50837
100 0,50862 0,51507
150 0,51330 0,51731
200 0,51533 0,51827
63
Figura 5-1 Comparação entre as formulações de método dos painéis
bidimensionais
Como se pode notar pela Figura 5-2, ambas as formulações (Hess-Smith e
Vórtice Linear) convergem rigorosamente para a mesma distribuição de coeficiente de
pressão. Foi utilizado um perfil NACA 4415, com ângulo de ataque
α
= e número de
painéis = 50.
Figura 5-2 Diferença entre as formulações potenciais no coeficiente de pressão.
64
5.1.2 Comparação com outros softwares e resultados
experimentais
Os resultados obtidos com o software bidimensional implementado (CEA-
2D), foi comparado com resultados experimentais disponíveis na literatura (Abbott e
von Doenhoeff, 1959 e Somers, 1981) e com os principais softwares utilizados
atualmente para a análise de perfis aerodinâmicos.
Os critérios de escolha de quais os softwares seriam utilizados na
comparação foram:
Boa documentação do software descrevendo os modelos utilizados,
preferencialmente com código fonte aberto para análise.
Utilizar método dos painéis para o tratamento da região potencial
Representação fiel dos modelos de camada limite descritos
Disponibilidade gratuita
Possuir versão compatível com o padrão IBM-PC
Relevância histórica e vasta utilização em projetos de aeronaves
Os softwares escolhidos contemplam os modelos e métodos conforme
apresentado na Tabela 5-2.
Tabela 5-2 Softwares Disponíveis para a Comparação Bidimensional
Software
Método
dos
Painéis
Modelo
Laminar
Critério
de
Transição
Modelo de
Turbulência
Tipo de
Interação
Escoamento
Descolado
JavaFoil**
Vórtice
linear
Eppler e
Somers
Eppler e
Somers
Eppler e
Somers
Fraca Válido*
Pablo***
Vórtice
linear
Thwaites Michel Head Fraca Não válido
XFoil****
Vórtice
linear
Drela e
Giles
Drela e
Giles
Drela e Giles Forte Válido
CEA 2D
Vórtice
linear
ou
Hess-
Smith
Thwaites Michel Head Fraca Válido*
*Através de modelo adicional
**Hepperle (2006)
***Wauquiez (2000)
****Drela (2006)
65
Em todos os softwares, não foram utilizadas nenhuma correção disponível
para efeitos de compressibilidade e acabamento superficial.
Os softwares escolhidos foram então submetidos a uma bateria de
simulações, levantando-se as curva de coeficientes de sustentação, momento
aerodinâmico e arrasto de diferentes perfis aerodinâmicos.
Os perfis utilizados nos testes são subsônicos e com larga utilização no
projeto de aeronaves leves e de aviação geral, incluindo perfis simétricos, não
simétricos, turbulentos e laminares. Assim, os perfis analisados foram:
NACA 0012
NACA 4415
NACA 23015
NACA 632415
NLF(1)-0215F
Para todos os testes numéricos e para obtenção das informações
experimentais foi considerado um número de Reynolds igual a 3 milhões, deflexão de
flap nula e acabamento superficial polido. A geometria dos perfis em cada software foi
gerada a partir das mesmas coordenadas e utilizando o mesmo número de painéis (200
painéis). Os resultados são mostrados da Figura 5-3 a Figura 5-7.
Com base nas curvas polares apresentadas na Figura 5-3 à Figura 5-7, foram
determinadas ainda características aerodinâmicas secundárias, mas de fundamental
importância no projeto da aeronave, sendo: a inclinação da curva de sustentação
(
dCL
d
α
) e o ângulo de sustentação nula (
0
α
) sendo apresentados na Tabela 5-3 e na
Tabela 5-4.
66
Figura 5-3 Resultados para o perfil NACA 0012
Figura 5-4 Resultados para o perfil NACA 4415
67
Figura 5-5 Resultados para o perfil NACA 23015
Figura 5-6 Resultados para o perfil NACA 632415
68
Figura 5-7 Resultados para o perfil NLF(1)-0215F
Tabela 5-3 Inclinações da curva de sustentação (1/radianos)
Pablo Xfoil JavaFoil CEA 2D
Perfil
Túnel Valor E (%) Valor E (%) Valor E (%) Valor E (%)
NACA 0012 6.42 6.89 7.39 6.35 -1.01 6.86 6.96 6.88 7.20
NACA 4415 5.73 7.05 23.01 6.41 11.89 7.02 22.50 7.03 22.76
NACA 23015 6.07 7.05 16.08 6.36 4.72 7.04 15.85 6.97 14.83
NACA 63 2 415 6.88 6.94 0.95 6.67 -2.96 6.91 0.54 6.91 0.46
NLF(1)-0215F 6.45 6.93 7.45 6.73 4.29 6.80 5.42 6.86 6.36
Tabela 5-4 Ângulo de sustentação nula (Graus)
Pablo Xfoil JavaFoil CEA 2D
Perfil
Túnel Valor E (%) Valor E (%) Valor E (%) Valor E (%)
NACA 0012 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00 0.00
NACA 4415 -4.00 -4.30 7.55 -4.36 8.93 -4.50 12.53 -4.22 5.46
NACA 23015 -1.08 -1.18 9.81 -1.21 12.82 -1.67 55.37 -1.19 10.27
NACA 63 2 415 -2.83 -3.25 14.71 -2.99 5.70 -3.13 10.34 -3.13 10.33
NLF(1)-0215F -5.74 -6.35 10.64 -5.61 -2.29 -6.33 10.27 -6.33 10.25
69
Nota-se da Figura 5-3 a Figura 5-7 um volume muito grande de
informações, dificultando assim a análise dos resultados de forma objetiva. Com o
intuído de determinar o melhor modelo para cálculo de perfis aerodinâmicos à luz do
projeto de aeronaves, foi atribuída uma pontuação a cada software, representando a
acuracidade dos seus resultados com os resultados experimentais. Esta pontuação foi
definida como mostrado na equação 3.71.
1
2
1
()
n
ii
i
YY
S
n
=
⎛⎞
⎜⎟
⎜⎟
=
⎜⎟
⎜⎟
⎝⎠
3.71
Onde
S denota a pontuação, Y denota o valor experimental do coeficiente
em questão e
Y
denota o valor do coeficiente em questão calculado numericamente.
A pontuação normalizada de cada software, obtida como descrito
anteriormente, para a polares de sustentação, momento aerodinâmico e arrasto são
mostrada na Figura 5-8, Figura 5-9 e Figura 5-10 respectivamente.
Figura 5-8 Pontuação normalizada obtida na determinação do coeficiente de
sustentação.
70
Figura 5-9 Pontuação normalizada obtida na determinação do coeficiente de
momento aerodinâmico
Figura 5-10 Pontuação normalizada obtida na determinação do coeficiente de
arrasto.
71
Pelos resultados apresentados na Figura 5-3 à Figura 5-10 e na Tabela 5-3 e
na Tabela 5-4 e observa-se uma discrepância entre os softwares analisados, mas em
geral observa-se que:
Na região linear da curva do coeficiente de sustentação, todos os
softwares obtiveram resultados bastante semelhantes, com erros médios
de
L
dC
d
α
e
0
α
por volta 10%.
Na região não linear da curva de coeficiente de sustentação, nenhum
software conseguiu reproduzir o efeito do estol com fidelidade, enquanto
que o Pablo nem mesmo mudou a inclinação da curva de coeficiente de
sustentação, evidenciando assim a falta de um modelo de estol, nota-se
ainda no CEA-2D que o efeito da correção empírica utilizada foi
bastante satisfatória em alguns casos e insatisfatória em outros.
Na curva de coeficiente de arrasto, todos os softwares captaram o
comportamento da curva, mas a formulação utilizada pelo CEA-2D e
pelo Pablo foram as que mais se aproximaram da curva experimental.
Na curva de coeficiente de momento aerodinâmico observa-se, em todos
os softwares, que em alguns perfis os resultados são satisfatórios
(geralmente perfis com camber moderado), enquanto que em outros
existe um grande erro em relação aos resultados experimentais
(geralmente perfis com camber elevado).
De maneira geral observa-se um desempenho superior do software CEA-
2D em alguns dos perfis aerodinâmicos testados, na curva de coeficiente
de sustentação mas principalmente na curva de coeficiente de arrasto,
enquanto que na curva de momento aerodinâmico os resultados são mais
discrepantes.
Para compreender a diferença obtida entre os softwares, deve-se fazer uma
análise crítica e detalhada de suas soluções. A região linear da curva de sustentação é
regida principalmente pela solução potencial do método dos painéis. Pode-se ver na
Figura 5-11 (NACA 4415
α
= ) que todos os softwares convergem para o mesmo
resultado de distribuição de coeficiente de pressão potencial. A região não linear da
curva de coeficiente de sustentação e a curva de coeficiente de arrasto são regidas pela
72
solução de camada limite, que, como pode-se observar na Figura 5-13 (NACA 4415
α
= , Re=3x10
6
) , todos os softwares apresentam uma solução distinta.
Outro fator que deve ainda ser considerado como possível causador da
discrepância dos resultados é o tipo de iteração potencial-viscosa utilizada em cada
software, sendo que o Xfoil é o único software que calcula a distribuição de pressão
considerando a presença da camada limite, conforme mostrado na Figura 5-12 (NACA
4415
20º
α
= , Re=5x10
5
), o que justifica seu melhor desempenho nas curvas de
momento aerodinâmico em alguns perfis aerodinâmicos testados.
Figura 5-11 Comparação entre a distribuição do coeficiente de pressão.
73
Figura 5-12 Comparação entre os resultados potencial e viscoso para o coeficiente
de pressão.
74
Figura 5-13 Comparação entre os parâmetros de camada limite
75
5.2 Escoamento Tridimensional
Diferentemente do caso bidimensional no qual o software implementado
pôde ser confrontado com outros softwares disponíveis e com resultados experimentais
simultaneamente, no caso tridimensional, essa comparação simultânea não é coerente
devido a grandes diferenças entre as metodologias empregadas e limitações em cada
software, principalmente no tocante a distribuição de singularidades ao longo da corda e
a utilização das polares bidimensionais do perfil aerodinâmico, conforme mostrado na
Tabela 5-5. Por isso inicialmente serão comparados os resultados entre os softwares
fazendo os ajustes necessários para que todos representem o mesmo fenômeno físico
envolvido (mesmo tipo de perfil aerodinâmico e condição de vôo) e depois apenas o
CEA-VLM será comparado com resultados experimentais.
5.2.1 Comparação com outros softwares disponíveis
Os critérios de escolha de quais os softwares seriam utilizados na
comparação foram:
Boa documentação do software descrevendo os modelos utilizados,
preferencialmente com código fonte aberto para análise.
Utilizar método de Vortex-Lattice para o tratamento da região potencial
Disponibilidade gratuita
Possuir versão compatível com o padrão IBM-PC
Relevância histórica e vasta utilização em projetos de aeronaves
Permitir a inserção de ângulo de ataque (
α
), ângulo de derrapagem (
β
)
e velocidades angulares de rolamento, arfagem e guinada (
p
, q e r
respectivamente).
Os softwares escolhidos contemplam os modelos e métodos conforme
apresentado na Tabela 5-5.
76
Tabela 5-5 Softwares Disponíveis para a Comparação Tridimensional
Característica AVL* TORNADO** CEA-VLM
Múltiplas
Superfícies
sustentadoras
sim sim sim
Distribuição de
vórtices ao longo da
corda
sim sim não
Perfil Permitido Qualquer
Somente NACA 4
dígitos
Qualquer
Ângulo de
Derrapagem
sim sim sim
Velocidades de
rolamento, arfagem
e guinada.
sim sim sim
Tipos de malha
disponíveis
4 1 4
Numero sistemas de
coordenadas
3 3 3
Utilização de
polares
bidimensionais
não não sim
Tipo de esteira
disponível
Fixa desalinhada Fixa alinhada
Fixa desalinhada,
fixa alinhada,
esteira livre
Forma de calculo
do arrasto induzido
Vórtice Colado,
Treffts-Plane
Vórtice Colado
Vórtice Colado,
Treffts-Plane
*Drela (2006)
** Melin (2005)
O CEA-VLM é o único algoritmo utilizado nessa comparação que utiliza
polares bidimensionais dos perfis aerodinâmicos como dado de entrada, enquanto que
os outros softwares permitem a distribuição de singularidades ao longo da corda,
alinhando-as com a linha de camber do perfil.
Devido a essa diferença de metodologia, para que todos os softwares
reproduzam rigorosamente a mesma situação deve-se fornecer ao CEA-VLM uma curva
polar teórica as características mostradas no sistema de equações 3.72.
()
()
()
2
0
0
CL
CD
CM
π
π
α
πα
α
α
=
=
=
3.72
77
Nos demais softwares devem ser utilizados perfis simétricos (qualquer perfil
simétrico no método de Vortex-Lattice tradicional possui polar semelhante à
apresentada no sistema de equações 3.72) e deve-se ainda utilizar somente um vórtice
ferradura ao longo da linha de corda.
Para tal comparação foi criado o modelo de uma aeronave completa,
utilizando mesmo número de vórtices ferraduras ao longo da envergadura e somente um
vórtice ao longo da linha de corda, conforme mostrado na Figura 5-1, além de se utilizar
a mesma geometria de esteira fixa em todos os softwares.
Figura 5-14 Modelo criado nos três softwares em questão
Entretanto, no decorrer das comparações foi abandonado o software
Tornado, devido à problemas de implementação (código fonte analisado), que geram
resultados equivocados principalmente quando a aeronave possui velocidade de
manobra, como mostrado na Figura 5-15. Além de incoerências nos coeficientes de
sustentação e momento aerodinâmico observam-se valores negativos de arrasto
induzido.
78
Figura 5-15 Resultados equivocados encontrados com o software Tornado.
79
Portanto, o único software disponível capaz de produzir resultados
consistentes em todas as condições analisadas para servir de referência ao CEA-VLM
foi o software AVL.
Os resultados obtidos com ambos os softwares foram comparados nas
seguintes condições:
1) Ângulo de ataque (
α
) variando de -20º a 20º, ângulo de derrapagem
β
constante igual a zero, velocidade de rolamento (p) constante igual a zero, velocidade de
arfagem (q) constante igual a zero, velocidade de guinada (r) constante igual a zero
(Figura 5-16).
Figura 5-16 Comparação entre o CEA-VLM e o AVL em função do ângulo de
ataque.
2) Ângulo de ataque (
α
) constante igual a 5º, ângulo de derrapagem
β
variando de -20º a 20º, velocidade de rolamento (p) constante igual a zero, velocidade
de arfagem (q) constante igual a zero, velocidade de guinada (r) constante igual a zero
(Figura 5-17).
80
Figura 5-17 Comparação entre o CEA-VLM e o AVL em função do ângulo de
derrapagem.
3) Ângulo de ataque (
α
) constante igual a 5º, ângulo de derrapagem
β
constante igual a zero, velocidade de rolamento (p) variando de -100 º/s a 100 º/s,
velocidade de arfagem (q) constante igual a zero, velocidade de guinada (r) constante
igual a zero (Figura 5-18).
Figura 5-18 Comparação entre o CEA-VLM e o AVL em função do ângulo da
velocidade de rolamento.
4) Ângulo de ataque (
α
) constante igual a 5º, ângulo de derrapagem
β
constante igual a zero, velocidade de rolamento (p) constante igual a zero, velocidade de
arfagem (q) variando de -100 º/s a 100 º/s, velocidade de guinada (r) constante igual a
zero (Figura 5-19).
81
Figura 5-19 Comparação entre o CEA-VLM e o AVL em função do ângulo da
velocidade de arfagem.
5) Ângulo de ataque (
α
) constante igual a 5º, ângulo de derrapagem
β
constante igual a zero, velocidade de rolamento (p) constante igual a zero, velocidade de
arfagem (q) constante igual a zero, velocidade de guinada (r) variando de -100 º/s a 100
º/s (Figura 5-20).
Figura 5-20 Comparação entre o CEA-VLM e o AVL em função do ângulo da
velocidade de guinada.
Nota-se que ambos os softwares comparados obtiveram resultados quase
idênticos em todas as situações, com diferenças sutis apenas em altas velocidades
angulares de guinada. A diferença média entre os softwares foi inferior a 1%
considerando todas as condições de vôo analisadas.
82
5.2.2 Comparação entre a teoria linear e a não linear
O método de Vortex-Lattice tradicional é linear e em sua formulação não é
considerada a espessura relativa do perfil. Logo, qualquer perfil simétrico possuirá
exatamente o mesmo comportamento da placa plana, ou seja
2
L
C
α
π
α
π
π
α
=
=−
=
em toda
a curva de sustentação e
0
0
α
= , entretanto, como visto no caso bidimensional, e
confirmado pela Figura 5-21, a curva de sustentação de um perfil não possui inclinação
constante, sendo que, para altos ângulos de ataque observa-se os efeitos do
descolamento do escoamento, causando o efeito conhecido como estol.
Figura 5-21 Características aerodinâmicas do perfil NACA 0012
Neste ponto observa-se a primeira vantagem do software desenvolvido em
relação ao método de Vortex-Lattice tradicional, pois com a utilização da polar
bidimensional, além da influência da espessura relativa, é possível a detecção das não
linearidades da curva de sustentação, gerando o efeito conhecido como estol.
A Figura 5-22 e a Figura 5-23 comparam a distribuição do coeficiente de
sustentação obtido com o software CEA-VLM e suas respectivas curvas de coeficiente
de sustentação, arrasto e momento aerodinâmico em função do ângulo de ataque (Figura
5-24 e Figura 5-25) utilizando como dado de entrada a curva polar do perfil NACA
0012 apresentada na Figura 5-21, com a teoria de Vortex-Lattice linear clássica, em
83
configurações de asas típicas em aeronaves: uma asa retangular (AR=10) e uma asa
trapezoidal (AR=16.67,
λ
=0.2).
Figura 5-22 Distribuição de CL em uma asa retangular típica.
Figura 5-23 Distribuição de CL em uma asa trapezoidal típica.
84
Figura 5-24 Polar aerodinâmica da asa retangular em questão obtida com o
software implementado.
Figura 5-25 Polar aerodinâmica da asa trapezoidal em questão obtida com o
software implementado.
85
É importante notar que, conforme esperado, o estol inicia-se nas regiões
com maior circulação (maior sustentação), conforme pode ser visto na Figura 5-22 e na
Figura 5-23.
As curvas apresentam resultados coerentes, sendo que a teoria linear e a não
linear são idênticas para pequenos ângulos de ataque, entretanto nota-se que para altos
ângulos de ataque os efeitos associados ao estol, como a redução no coeficiente de
sustentação e no arrasto induzido (Figura 5-24e Figura 5-25) são importantes.
È importante notar ainda que com o software implementado, além do arrasto
induzido, é possível computar o efeitos do arrasto parasita do perfil aerodinâmico.
5.2.3 Comparação entre as Técnicas de Medição do Arrasto
Induzido
Conforme dito anteriormente, devido à dificuldade de se medir o arrasto
induzido provocado pelas superfícies sustentadoras, diversas técnicas surgiram com esse
objetivo. Foram comparados os resultados obtidos com três técnicas para cálculo do
arrasto induzido bastante utilizadas (Katz e Plotkin,1991):
Teorema de Kutta-Joukowski no vórtice colado (equação 3.57).
Medição do Downwash a ¾ de corda
Treffts-Plane
Essas três técnicas de medição do arrasto induzido serão comparados
utilizando uma asa retangular (AR=5) com diferentes perfis aerodinâmicos e diferentes
técnicas de solução do escoamento tridimensional.
Perfil simétrico utilizando o método Linear de solução
Perfil simétrico utilizando o método Não Linear de solução
Perfil assimétrico utilizando o método Não Linear de solução
86
Figura 5-26 Arrastos Induzidos obtidos com o método linear em perfil simétrico
Figura 5-27 Arrastos Induzidos obtidos o método não linear em perfil simétrico
Figura 5-28 Arrastos Induzidos obtidos o método não linear em perfil assimétrico
87
Ao ser considerado apenas o método linear de solução em perfis simétricos
(através da utilização da polar mostrada na equação 3.72) as três metodologias de
cálculo do arrasto induzido apresentam resultados semelhantes. Entretanto, ao ser
considerado o método não linear de solução, o arrasto induzido obtido pelo teorema de
Kutta-Joukowski não foi adequado, não computando a diminuição do arrasto induzido
em função da diminuição da sustentação (ou seja, da circulação). Ao ser considerado
um perfil assimétrico, o teorema de Kutta-Joukowski chegou a inclusive produzir
resultados negativos para o arrasto induzido, o que é um equívoco.
Com teorema de Kutta-Joukowski o que é feito é a medição do arrasto
induzido em função do downwash a ¼ de corda. Esses resultados equivocados de
arrasto induzido são provocados pela falta de distribuição de singularidades ao longo da
linha de camber do perfil e consequentemente pelo não alinhamento correto das normais
dos painéis que formariam o perfil aerodinâmico. É fundamental notar ainda que toda a
circulação está concentrada num único ponto ao longo da corda, o que é uma
aproximação satisfatória para determinação da sustentação, mas não representa o
fenômeno físico associado ao arrasto induzido, principalmente em asas não retangulares
(Mortara, Straussfogel e Maughmer, 1992). A partir de tal efeito, Eppler inclusive
propôs uma modificação na linha sustentadora na qual os vórtices colados estariam no
bordo de fuga ao invés de ¼ de corda, para uma melhor medição do arrasto induzido
(Mortara, Straussfogel, Maughmer, 1992). Essa grande variedade de técnicas
apresentam resultados bastante distintos entre si, com variações de mais de 30 % nos
resultados (Dam e Nikfetrat, 1991).
O método do Treffts-Plane (variação de Momentum no infinito) é um
método bastante sofisticado, muito utilizado em trabalhos anteriores (Giles e
Cummings, 1999 e Jie Li, Fengwei Li e Qin E, 1999) e em diversos softwares (AVL,
Pmarc e VSaero) que independe da distribuição de singularidades ao longo da corda
(Figura 5-29) .
No software implementado estão disponíveis duas técnicas para a medição
do arrasto induzido: Kutta-Joukowski e Treffts-Plane, cabendo ao usuário a escolha de
qual técnica a ser utilizada.
88
Figura 5-29 Estudo do arrasto induzido no Treffts-Plane em conjunto com o
modelo de esteira livre no software CEA-VLM
89
5.2.4 Comparação com resultados experimentais
5.2.4.1 Asa retangular simples
Mukherjee e Gopalarathnam (2006), em seu trabalho sobre métodos não
lineares de linha sustentadora, apresentam resultados experimentais de asas retangulares
com diversos alongamentos utilizando o perfil NACA 4415. Esses resultados obtidos
experimentalmente foram comparados com os resultados obtidos numericamente
através do software CEA-VLM. Os resultados podem ser vistos na Figura 5-30.
Figura 5-30 Curvas polares obtidas numericamente e experimentalmente para
diversas asas retangulares, utilizando o perfil NACA 4415.
Os resultados mostrados na Figura 5-30 mostram que o método
implementado se aproxima bem dos resultados experimentais, mesmo na região não
linear da curva de sustentação, com um erro médio de cerca de 10% em toda a faixa
analisada. Ao ser considerada somente a região linear o erro médio diminui para cerca
de 6%, enquanto que ao ser considerada o região de estol, o erro foi da ordem de 15%.
90
5.2.4.2 Deflexão de comando
House (1939) apresenta em seu trabalho diversos resultados experimentais
para asas utilizando o perfil NACA 23012 com flap.
Foi selecionada uma asa (Figura 5-31) e os resultados obtidos
numericamente com o software CEA-VLM foram confrontados com os resultados
experimentais.
Figura 5-31 Asa utilizada para comparação dos resultados numérico e
experimental.
É importante notar que no CEA-VLM, o efeito da deflexão do flap e demais
superfícies de comando ou de hiper-sustentação ocorre devido à utilização de uma polar
diferenciada do restante da asa, que leva em consideração esta deflexão.
Para esta comparação foram utilizadas as curvas polares obtidas
experimentalmente para o perfil NACA 23012 com flap recolhido e com flap defletido
40º, obtidas por Wenzinger e Harrris (1939), mostradas na Figura 5-32.
Neste ponto, o software mostra mais uma vantagem em relação aos métodos
tradicionais de Vortex-Lattice, pois como são utilizadas curvas experimentais de
sustentação, arrasto e momento aerodinâmico, os efeitos associados ao gap (espaço
entre o perfil e o flap) serão computados, pois tais efeitos já então inseridos na curva
experimental do perfil.
91
Figura 5-32 Resultados experimentais obtidos com o perfil NACA 23012.
A única dificuldade encontrada nesta metodologia é a necessidade de uma
polar bidimensional extensa, com uma faixa de ângulos de ataque abrangente, devido à
grande dispersão dos ângulos de ataque efetivos, conforme mostrado na Figura 5-33,
resultantes dos grandes ângulos de ataque induzidos causados pela deflexão do flap,
como pode ser visto na Figura 5-34.
Figura 5-33 Ângulos de ataques efetivos atuantes na asa.
92
Figura 5-34 Resultados para asa retangular com 10º de ângulo de ataque.
É interessante notar que, no modelo criado, apesar de ter sido utilizado uma
troca abrupta da curva de coeficiente de sustentação na região do flap, os resultados de
circulação e sustentação apresentam uma transição suave, o que é coerente com os
resultados esperados.
A Figura 5-35 compara as curvas de coeficientes de sustentação, arrasto e
momentos aerodinâmicos obtidas com o software CEA-VLM com os resultados obtidos
experimentalmente por House (1939).
93
Figura 5-35 Comparação entre os resultados numéricos e experimentais
Os resultados mostrados na Figura 5-35 mostram que o método
implementado se aproxima bem dos resultados experimentais inclusive em asas com
dispositivos hiper-sustentadores ativados, apresentando um erro médio em torno de
12%. Ao se considerar apenas a região linear da curva de sustentação o erro é em torno
de 7%.
5.2.5 Geometria da esteira
Diversos softwares utilizam modelos de esteira livre como, por exemplo, o
Pmarc (Ashby, Dudley e Iguchi, 1988). A Figura 5-36 mostra a esteira gerada com o
software Pmarc comparada com a esteira gerada pelo software CEA-VLM, apenas em
caráter ilustrativo.
94
Figura 5-36 Comparação entre as esteiras geradas pelos softwares
Para avaliar a influência da geometria da esteira na curva de sustentação de
uma aeronave, os resultados obtidos com os três modelos de esteira disponíveis no
software CEA-VLM (esteira fixa não alinhada com o escoamento, esteira fixa alinhada
com o escoamento e esteira livre) foram comparados entre si. Foi adotada uma
configuração do tipo Canard, na qual a esteira do Canard atravessa a asa principal
Figura 5-37.
Figura 5-37 Influência da geometria da esteira na curva de sustentação.
95
Observa-se que a geometria da esteira possui uma influência discreta sobre a
polar da aeronave em relação ao ângulo de ataque. Entretanto, sua influência torna-se
fundamental em situações mais severas, como altas velocidades angulares como, por
exemplo, uma aeronave em manobra ou uma hélice, como mostrado na Figura 5-38.
Figura 5-38 Situações onde a geometria da esteira torna-se fundamental
Outra situação na qual a utilização de um modelo de esteira livre é vantajosa
é no estudo do enrolamento dos vórtices de pontas de asa ou vórtices ao longo da
envergadura devido ao estol, onde o aumento da pressão (evidenciada pela perda de
sustentação local) ocasiona o enrolamento dos vórtices, conforme mostrado na Figura
5-39.
96
Figura 5-39 Enrolamento dos vórtices ao longo da envergadura devido ao estol,
vista por de trás da asa.
5.2.6 Resultados ao longo da corda
Apesar de não ter sido utilizada uma distribuição de singularidades ao longo
da corda, optando-se pela utilização da polar aerodinâmica do perfil calculada através
do software bidimensional CEA-2D, é possível recuperar os resultados bidimensionais
ao longo da corda. Isto se deve ao fato de que cada seção da asa nada mais é que o perfil
aerodinâmico em ângulos de ataque distintos ao longo da envergadura. Em outras
palavras, conhecendo os ângulos de ataque efetivos em cada seção da asa (resultados
tridimensionais), é possível fazer o caminho inverso e calcular os resultados
bidimensionais para cada seção ao longo da envergadura (Figura 5-40 e Figura 5-41).
97
Figura 5-40 Recuperação das informações ao longo da corda e do intradorso e extradorso
através da utilização dos resultados bidimensionais
98
Figura 5-41 Distribuição de pressão no intradorso e no extradorso atuante em cada
seção da asa.
5.2.7 Aplicação em uma aeronave real e comparação com o
método tradicional
Resende (2006) utilizou com sucesso o software CEA-VLM em seu
trabalho, no qual propôs uma metodologia detalhada para utilização deste software no
projeto de uma aeronave completa incluindo os efeitos devido à fuselagem, trem de
pouso e demais componentes que alteram os resultados aerodinâmicos de uma aeronave
real.
Foi calculada a polar aerodinâmica da aeronave Triathlon (Barros, 2001),
utilizando o software CEA-VLM e a esses resultados foram adicionadas, através da
técnica conhecida como Drag Build-Up (na qual o arrasto total é a soma dos arrastos de
cada componente), os efeitos devido à fuselagem, trem de pouso, coleta de ar para o
motor e interferências aerodinâmicas.
Os resultados obtidos com esta metodologia híbrida (CEA-VLM acrescido
de correções experimentais) foram então comparados com os resultados obtidos por
Barros (2001) que utiliza os métodos tradicionais disponíveis na literatura e
99
aperfeiçoados no Centro de Estudos Aeronáuticos da Universidade Federal de Minas
Gerais (CEA-UFMG). Os resultados são mostrados na Figura 5-42.
Figura 5-42 Utilização do CEA-VLM na aeronave Triathlon
Observa-se na Figura 5-42 que a curva polar C
L
XC
D
obtida com o software
CEA-VLM é mais otimista do que a esperada em uma aeronave real, devido à
incapacidade do software em computar os efeitos devido à fuselagem, trem de pouso,
coleta de ar para o motor e interferências aerodinâmicas na curva de arrasto da
aeronave. No entanto, nota-se que ao se adicionar as informações de arrasto desses
componentes obtidos de maneira empírica disponível na literatura (Etkin, 1959) obtém-
se uma curva polar muito próxima daquela obtida pelo método tradicional de projeto de
aeronaves. Entretanto, com a utilização do software CEA-VLM em conjunto com as
correções empíricas dos demais componentes é possível estudar de maneira muito mais
rápida e detalhada as características aerodinâmicas da aeronave, incluindo todas suas
derivadas de estabilidade (variações dos coeficientes de força e momento em função de
variações da condição do escoamento – ,
α
β
e de manobra ,
p
qer).
100
5.2.8 Tempo de processamento
Como o objetivo deste trabalho está voltado para as atividades de
concepção, projeto e otimização de aeronaves, onde diversas geometrias devem ser
avaliadas, e também para a simulação de vôo, onde o ideal é que o procedimento de
determinação das características aerodinâmicas ocorra em tempo real, o método
proposto deve ser o mais rápido possível, sem no entanto apresentar resultados
equivocados.
A Figura 5-43 e a Figura 5-44 mostram o tempo de processamento gasto
pelo software CEA-VLM para o cálculo de uma asa em função do número de painéis.
Em ambos os casos foi utilizada uma asa trapezoidal com 5º de ângulo de ataque e uma
polar aerodinâmica teórica conforme a equação 3.72, visando assim o menor número
possível de iterações (neste caso a convergência é obtida com duas iterações). No caso
da esteira livre foi utilizado um número de painéis na asa constante igual a 20 painéis e
um integrador de primeira ordem (Euler).
Observa-se pela Figura 5-43 que o método proposto é capaz de atender com
sucesso o objetivo proposto, possuindo uma rápida velocidade de processamento e
resultados próximos da convergência com um baixo número de painéis.
A relevância da utilização do modelo de esteira livre por parte do usuário é
fundamental, pois como se pode notar pela Figura 5-44 o uso do modelo de esteira livre
aumentou significativamente o tempo gasto no processamento sem trazer nenhum
benefício significativo para o resultado na configuração adotada.
101
Figura 5-43 – Tempo de processamento e precisão nos resultados em função do
número de Painéis com esteira fixa
Figura 5-44 – Tempo de processamento e precisão nos resultados em função do
número de Painéis com esteira livre
102
6
6
CONCLUSÕES
Através da análise de resultados decorrida no capítulo anterior, pode-se
apresentar as seguintes conclusões sobre este trabalho:
6.1 Quanto ao software bidimensional
O Método dos Painéis apresentou valores de
L
dC
d
α
e
0
α
ligeiramente
diferentes, na região linear da curva de coeficiente de sustentação, dos
resultados experimentais na maioria dos perfis aerodinâmicos testados.
Acredita-se que essa diferença deve-se aos erros associados com a
viscosidade, como o cálculo da camada limite e o tipo de interação entre
a região potencial e a viscosa.
Os algoritmos que utilizam interação do tipo fraca se mostraram
ligeiramente inferiores em relação ao algoritmo que utiliza uma
interação forte, apresentando erros maiores tanto em
L
dC
d
α
quanto em
0
α
.
A formulação de estol proposta por Eppler, apesar de sua simplicidade, é
capaz de corrigir a curva de sustentação na região de descolamento,
fornecendo resultados mais próximos dos valores obtidos
experimentalmente.
A formulação de camada limite proposta por Moran mostrou-se
ligeiramente mais eficiente do que as demais formulações de camada
limite analisadas apesar de sua simplicidade e alto nível de empirismo,
fornecendo curvas de coeficiente de arrasto mais próximas dos
resultados experimentais na maioria dos perfis aerodinâmicos
analisados.
103
6.2 Quanto ao software Tridimensional
A metodologia de cálculo utilizada se mostrou eficiente para as etapas de
projeto que se destina (projeto conceitual, otimização e simulação), pois
foram obtidos resultados coerentes com medições experimentais com
um tempo de processamento bastante baixo.
A utilização das informações da polar bidimensional proporciona ao
método resultados mais coerentes e precisos, tornando-o mais próximo
dos resultados experimentais, mesmo em condições não-lineares da
curva de sustentação, entretanto é preciso cuidado na avaliação da
validade da polar bidimensional utilizada, como por exemplo, em asas
com altos graus de enflechamento.
A utilização de um procedimento de esteira livre se mostrou adequada e
importante para a análise de geometrias com grande interferência e
durante manobras com grande velocidade angular.
O cálculo do arrasto induzido no Trefftz-Plane se mostrou bastante
robusto e confiável, fornecendo valores de arrasto induzido próximos
dos valores obtidos experimentalmente.
De maneira geral, os resultados das forças aerodinâmicas obtidas
numericamente com o software tridimensional são bem coerentes com
os resultados experimentais.
É possível calcular de uma aeronave completa (asas, empenagens e
demais superfícies sustentadoras) com aproximadamente 100 painéis em
menos de 2 segundos.
6.3 Quanto à plataforma computacional escolhida
A linguagem de programação MATLAB possuindo ferramentas
poderosas de depuração do código e grande biblioteca de rotinas
matemáticas disponíveis tornam a tarefa de implementação numérica
bem mais fácil.
104
O MATLAB por ser uma linguagem computacional interpretada de alto
nível, possui baixa eficiência de processamento sendo em geral mais
lenta do que linguagens compiladas como C e Fortran.
A impossibilidade de criar uma versão executável do código, obrigando o
usuário a possuir toda a plataforma de desenvolvimento para a sua
execução do software implementado pode ser uma barreira para a sua
distribuição.
6.4 Conclusão final
É importante se ter em mente que nenhuma formulação em aerodinâmica
computacional disponível até o momento, encontrada na literatura, é capaz de calcular
todas as situações possíveis de vôo, com baixo tempo de processamento e resultados
completamente fiéis aos resultados experimentais. Logo, é preciso aprender a conviver
com as incertezas e limitações associadas aos métodos numéricos.
105
7
7
SUGESTÕES PARA TRABALHOS
FUTUROS
São sugeridos como trabalhos futuros em continuidade a este trabalho:
A análise de viabilidade de utilização deste método em outras etapas do
projeto de aeronave, por exemplo, cálculo de cargas.
Inclusão de efeitos de interferência fluido-estrutura.
Inclusão dos efeitos da fuselagem.
Inclusão do efeito solo.
Implementação desta metodologia para solução das forças aerodinâmicas
quase em tempo real, objetivando a simulação de vôo.
106
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