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ou meramente empírico, mas sim a um “híbrido entre pensamento e matéria, entre abstração a
concretude” (GARCIA, 2003, p. 41). É sobre esse espaço que se propõe a flexão do
pensamento: um espaço complexo e multifacetado, integrado por processos físico, químicos,
biológicos e sociais. O autor destaca, nesse sentido, a importância de cada espaço habitado
formular o seu próprio pensamento. O desenvolvimento de uma práxis responsável sobre o
espaço, dessa forma, estaria relacionado não a uma ética geral – “ética conservadora do bem e
do mal do qual é indissociável” (GARCIA, 2003, p.46) -, sobre a qual repousam muitas das
ações educativas sobre o meio ambiente, mas sim a “éticas comprometidas com os processos
singulares, ou seja, éticas contemporâneas, onde o modificador (o contemporâneo) é
modificado, deixando de indicar o tempo para indicar o espaço” (GARCIA, 2003, p.47).
Desde um ponto de partida distinto, mas que permite aproximações, Enrique Leff
(2001) trabalha com a idéia de habitat. Para o autor,
O habitat é suporte e condição, ao mesmo tempo que é espaço
ressignificado e reconstruído pela cultura. Diante do espaço anônimo gerado
pela massificação de presenças, sem identidade e sem sentido, o habitat
habitado é o lugar significado por experiências subjetivas, lugar de
vivências construídas com a matéria da vida” (LEFF, 2001, p.286)
É associado a essa idéia que o autor desenvolve a noção de um habitar, entendido não
apenas como a forma de inscrição da cultura num espaço geográfico, mas como “um processo
de apropriação social das condições de habitabilidade do planeta, regido pelos princípios de
racionalidade ambiental
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, sustentabilidade ecológica
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, diversidade cultural e eqüidade
social” (LEFF, 2001, p.295). Habitar um habitat, dessa forma, pressupõe o reconhecimento e
produção de conhecimentos sobre o espaço; pressupõe também, em algum nível, cuidado e
planejamento. Pressupõe, enfim, reconhecimento e respeito às diferenças; às especificidades
ecológicas e culturais. Nesse sentido, não posso deixar de perceber a correspondência entre a
idéia de habitar um habitat, conforme é apresentada por Leff, com o que propõe Garcia
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A categoria de racionalidade ambiental é um dos pilares centrais do pensamento de Enrique Leff. Sua
adequada explicitação exigiria um capítulo a parte no presente trabalho. Dessa forma, objetivando apenas de
situar o leitor na discussão apresentada, destaco a seguir dois pequenos trechos do capítulo 9 do livro Saber
ambiental (LEFF, 2001. p.133-144), onde o autor discute essa categoria:
“(...) a racionalidade ambiental não é a expressão de uma lógica, mas o efeito de um conjunto de interesses e de
práticas sociais que articulam ordens materiais diversas que dão sentido e organizam processos sociais através de
regras, meios e fins socialmente construídos.” (LEFF, 2001, p.134)
“A categoria de racionalidade ambiental integra os princípios éticos, as bases materiais, os instrumentos
técnicos e jurídicos e as ações orientadas para a gestão democrática e sustentável do desenvolvimento.” (LEFF,
2001, p.135)
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“A sustentabilidade ecológica aparece assim como um critério normativo para a reconstrução da ordem
econômica, como condição para a sobrevivência humana e um suporte para chegar a um desenvolvimento
duradouro, questionando as próprias bases da produção.” (LEFF, 2001, p.15)