1.2. A Concepção do Planejamento
A arquitetura e o urbanismo se apossaram do discurso político, por buscar e
propor soluções para o crescimento desordenado derivado da expansão do
capitalismo e, consequentemente, da crise metropolitana. O Congresso
Internacional de Arquitetura moderna (CIAM)
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assume as críticas do modelo
desordenado, passando a coordenar a maioria do movimento de vanguarda,
assimilando as estratégias dos partidos políticos, de implementar o planejamento
total
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. Relevantes contribuições apresentadas por Sitte (1992)
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, contrapondo ao
projeto modernista de Le Corbusier, são próprios também para pensar as cidades.
Seguindo a mesma linha de pensamento, Adshead, pondera que, de acordo
com os planejadores de cidades, o arquiteto deve considerar vários fatores na
determinação do plano urbano: “O perfil do terreno, as vias já existentes, os limites
da propriedade afetada, os marcos, os prédios antigos, as árvores afetadas, etc.”
(Adshead, 1992 : 196). Sitte percebia individualidade em cada conglomerado de
prédios da cidade, sua visão humanista permitia ver a cidade de uma forma
particular:
as pessoas que ocupam sua cidade devem ser aceitas tal
como as encontramos, desorganizadas – ricas, pobres e
decrépitas -, e para cada uma delas, de acordo com sua
força ou decrepitude, deve ser encontrado um lugar
conveniente. Sua atitude (de Sitte) diante da
comunidade era antes a de um bispo que a de um rei.
Sua cidade deve ter um crescimento orgânico; não pode
explodir até ficar como as coortes de um exército; seu
interesse reside na constante exibição das fraquezas e
triunfos do indivíduo. (Adshead, 1992: 197)
O planejamento de cidades torna-se para Sitte, uma proposição impossível,
algo artificial, contrário à arte de construir cidades. Ao defender a disposição das
cidades medievais em seus estudos, Sitte não fica preso ao espaço e tempo
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Os CIAM constituíram, de 1928 a meados de 1960, o mais importante fórum internacional de
debates sobre arquitetura moderna. Os encontros e as publicações dos CIAM firmaram um consenso
entre os profissionais de todo o mundo a respeito dos problemas essenciais da arquitetura, dando
especial atenção aos da cidade moderna.
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Ver capítulo II, item 2 Holston (1993).
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Sitte (1992). Seu livro publicado há mais de um século é um marco nas teorias urbanísticas da
segunda metade do século XIX. “Chamava atenção para a dimensão estética da cidade, ao
considerá-la como uma obra de arte e não apenas um grande artefato para atender necessidades
exclusivamente funcionais”.