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UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
Instituto de Psicologia
Rodrigo Fernando Pereira
A enurese noturna na infância e na adolescência: intervenção em
grupo e individual com uso de aparelho nacional de alarme
São Paulo
2006
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Rodrigo Fernando Pereira
A enurese noturna na infância e na adolescência: intervenção em
grupo e individual com uso de aparelho nacional de alarme
Dissertação apresentada ao programa
de pós-graduação do Instituto de
Psicologia da Universidade de São
Paulo para obtenção do título de
Mestre.
Área de concentração: Psicologia
Clínica
Orientadora: Edwiges Ferreira de
Mattos Silvares
São Paulo
2006
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Autorizo a reprodução e divulgação total ou parcial deste trabalho, por qualquer meio
convencional ou eletrônico, para fins de estudo e pesquisa, desde que citada a fonte.
Catalogação na publicação
Serviço de Biblioteca e Documentação
Instituto de Psicologia da Universidade de São Paulo
Pereira, Rodrigo Fernando.
A enurese noturna na infância e na adolescência: intervenção em
grupo e individual com uso de aparelho nacional de alarme / Rodrigo
Fernando Pereira; orientadora Edwiges Ferreira de Mattos Silvares. --
São Paulo, 2006.
170 p.
Dissertação (Mestrado Programa de Pós-Graduação em
Psicologia. Área de Concentração: Psicologia Clínica) Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo.
1. Enurese 2. Distúrbios do comportamento 3. Psicoterapia de
grupo I. Título.
RC569.5.E5
Rodrigo Fernando Pereira
A enurese noturna na infância e na adolescência: intervenção com uso de
aparelho nacional de alarme em grupo e individual
Dissertação apresentada ao programa de pós-
graduação do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo para obtenção do título
de Mestre.
Área de concentração: Psicologia Clínica
Orientadora: Edwiges Ferreira de Mattos Silvares
Data da aprovação: __________________
Banca examinadora:
_________________________________
Edwiges Ferreira de Mattos Silvares
Professora titular do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo
____________________________________________
Francisco Lotufo Neto
Professor livre-docente do Departamento de Psiquiatria da Faculdade de Medicina da
Universidade de São Paulo
____________________________________________
Sonia Beatriz Meyer
Professora doutora do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de Psicologia da
Universidade de São Paulo
Agradecimentos
À Profa. Edwiges Ferreira de Mattos Silvares, com quem aprendi muito, não apenas através
da transmissão de conhecimento, mas, sobretudo, pelo seu modelo de liderança, dedicação,
responsabilidade, respeito, bom-senso e sabedoria.
A Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de São Paulo, cujo apoio tornou a realização
desse trabalho possível.
A meus pais, a quem devo minha formação moral e de caráter, indispensáveis para minha
formação intelectual.
A Tatiane Schilaro Santa Rosa, pelo apoio, compreensão e carinho incondicionais durante a
realização do trabalho.
Às famílias que participaram do projeto, pela confiança e dedicação ao tratamento.
À equipe do Projeto Enurese, pela amizade e cooperação; em especial a Carolina Ribeiro
Bezerra de Sousa, pelo trabalho exemplar com os grupos recreativos.
Às professoras Maria Cristina Triguero Veloz Teixeira e Cibele Freire Santoro, da
Universidade Mackenzie, por terem me acompanhado nos primeiros passos da pesquisa
científica.
Resumo
A enurese noturna primária é um problema biocomportamental que afeta cerca de 10% das
crianças de sete anos de idade. Para ser considerada enurética, a criança deve, entre outros
critérios, apresentar escapadas de urina na cama duas vezes por semana por pelo menos três
meses. Embora não haja consenso sobre a etiologia da enurese, os fatores mais aceitos são a
instabilidade detrussora, a dificuldade da criança em despertar com os sinais da bexiga e a
baixa produção de vasopressina durante a noite. consenso, porém, de que o tratamento
mais eficaz para enurese é o comportamental com uso de aparelho de alarme de urina. O
presente trabalho teve como objetivo verificar a eficácia de uma intervenção com uso de
alarme fabricado no Brasil em uma amostra de 32 crianças e adolescentes. Pretendeu-se,
também, comparar a eficácia de protocolos de atendimento individual e grupal e a eficácia
quando se separou os participantes por faixa etária. Para isso, os participantes foram divididos
em quatro grupos: crianças atendidas em grupo (N=11), crianças atendidas individualmente
(N=7), adolescentes atendidos em grupo (N=8) e adolescentes atendidos individualmente
(N=6). Foram realizadas sessões semanais de acompanhamento do uso do alarme e orientação
de pais. Além da enurese, foram medidos os problemas de comportamento no início e no fim
do atendimento, a fim de verificar se houve variações. Os resultados dos atendimentos foram
categorizados de acordo com os seguintes critérios: sucesso inicial (14 noites secas
consecutivas), alta (finalização do procedimento de prevenção de recaída após o sucesso
inicial), insucesso (não obtenção do sucesso inicial) e desistência (abandono do tratamento).
O atendimento durou quarenta semanas ou menos, para aqueles que atingiram o critério de
alta em menos tempo. Dos 32 participantes iniciais, dois foram excluídos por abandonarem o
tratamento por motivo de força maior. Dos trinta restantes, vinte obtiveram ao menos o
sucesso inicial e dez desistiram ou foram caracterizados como insucessos, resultando numa
taxa de eficácia do tratamento para 66% dos casos, o que está em conformidade com a
literatura. Não foram observadas diferenças significativas nos resultados das modalidades de
atendimento em grupo e individuais. Também não foram observadas diferenças nos resultados
entre crianças e adolescentes. Contudo, foi observada redução significativa em alguns escores
de escalas de problemas de comportamento antes e após o atendimento.
Palavras-chave: enurese, distúrbios do comportamento, psicoterapia de grupo.
Abstract
Nocturnal enuresis is a biobehavioral problem affecting about 10% of seven years-old
children. The criteria to enuresis diagnosis are two wets on the bed per week during at least
three months, among others. The factors involved in enuresis etiology are the detrussor
instability, the child’s difficulty to be awakened by the bladder signs and low production of
vasopressin at night, although there is no agreement about these. The most effective treatment
form is the psychological treatment with urine alarm. The present work investigated the
efficacy of this kind of treatment in a 32 children and adolescents sample. The study also
verified if there were differences between individual and group treatment formats. To achieve
this objectives, the participants were divided in four groups: children treated with group
protocol (N=11), children treated individually (N=7), adolescents treated with group protocol
(N=8) and adolescents treated individually (N=6). The participants attended weekly sessions
to follow the use of the alarm and their parents attended weekly orientation sessions. The
treatment outcome criteria was divided in initial arrest of wetting (14 consecutive dry nights),
dismissal (completing overlearning process after success), no success (failed to obtain
success) and drop out (failure to complete the whole treatment program). The program lasted
40 weeks or less, when the child achieved success in less time. Two of the 32 initial
participants abandoned the treatment because they were leaving the state, so they were
excluded from the sample. From the 30 participants that remained in the sample, 20 obtained
at least initial arrest and the other ten dropped out or did not achieved initial arrest during the
40 weeks. The success rate was 66%, which is comparable to the rate described in the
literature. There were no significant differences between group and individual protocols. The
outcome of children and adolescents were also similar. There were significant reductions of
some behavioral problems scores at the ending of the treatment.
Keywords: enuresis, behavior disorders, group psychotherapy.
Lista de Tabelas
Tabela 1 - Quantidades iniciais e finais de líquidos administradas na superaprendizagem..... 20
Tabela 2 - Caracterização das crianças atendidas em grupo .................................................. 36
Tabela 3 - Caracterização das crianças atendidas individualmente....................................... 36
Tabela 4 - Caracterização dos adolescentes atendidos individualmente ................................ 37
Tabela 5 - Caracterização dos adolescentes atendidos em grupo........................................... 37
Tabela 6 - Diferença entre os formatos individual e grupal de atendimento .......................... 50
Tabela 7 - Diferenças nos procedimentos nos atendimentos para crianças e adolescentes ..... 51
Tabela 8 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas em
grupo............................................................................................................................ 75
Tabela 9 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas
individualmente............................................................................................................ 77
Tabela 10 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas em
grupo............................................................................................................................ 79
Tabela 11 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de adolescentes atendidos
individualmente............................................................................................................ 81
Tabela 12 - Resultados detalhados do tratamento por caso ................................................... 84
Tabela 13 - Testes de variáveis não relacionados ao resultado do tratamento de acordo com
tipo de atendimento...................................................................................................... 94
Tabela 14 - Variáveis relativas ao sucesso no tratamento para os agrupamentos por tipo de
atendimento.................................................................................................................. 97
Tabela 15 - Testes com variáveis não relacionadas ao resultado do tratamento por faixa etária
................................................................................................................................... 101
Tabela 16 - Variáveis relativas ao sucesso do tratamento por faixa etária ........................... 104
Tabela 17 – Taxa de incidência de sucesso inicial relacionada a outras variáveis................ 109
Tabela 18 - Média inicial nos escores do CBCL das mães de acordo com tipo de atendimento
................................................................................................................................... 110
Tabela 19 - Médias dos escores iniciais dos CBCLs das mães de acordo com a faixa etária 111
Tabela 20 - Relação entre escores iniciais médios no CBCL e resultado do tratamento....... 115
Lista de Figuras
Figura 1 - Freqüências de “molhadas” das crianças atendidas em grupo ............................... 58
Figura 2 - Média das freqüências de “molhadas” das crianças atendidas em grupo ............... 62
Figura 3 – Freqüências de “molhadas” das crianças atendidas individualmente .................... 63
Figura 4 - Média das freqüências de “molhadas” das crianças atendidas individualmente..... 66
Figura 5 – Freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos individualmente............. 67
Figura 6 - Média das freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos individualmente
..................................................................................................................................... 70
Figura 7 - Freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos em grupo........................ 71
Figura 8 - Média das freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos em grupo........ 74
Figura 9 - Número de faltas e relação com o resultado ......................................................... 87
Figura 10 - Distribuição percentual dos resultados do tratamento em todos os grupos * ....... 88
Figura 11 - Distribuição de sucesso e insucesso por grupo de atendimento........................... 89
Figura 12 - Distribuição de sucesso e insucesso por tipo de atendimento.............................. 90
Figura 13 - Distribuição de sucesso e insucesso de acordo com a faixa etária ....................... 91
Figura 14 - Média de noites “molhadas” por grupo de atendimento...................................... 92
Figura 15 - Risco de sucesso para participantes atendidos coletivamente.............................. 99
Figura 16 - Risco de sucesso inicial para participantes atendidos individualmente.............. 100
Figura 17 - Risco de sucesso inicial para crianças .............................................................. 106
Figura 18 - Tempo para obtenção do sucesso inicial para adolescentes............................... 106
Figura 19 - Média da semana de sucesso a partir do uso do alarme em função de variáveis
relativas ao tratamento................................................................................................ 107
Figura 20 - Média da semana de alta a partir do uso do alarme em função de variáveis
relativas ao tratamento................................................................................................ 108
Figura 21 - Médias dos escores dos CBCLs iniciais e finais das mães de acordo com tipo de
atendimento................................................................................................................ 112
Figura 22 - Médias iniciais e finais dos escores dos CBCLs respondidos pelas mães de acordo
com a faixa etária ....................................................................................................... 113
Sumário
1. Enurese noturna primária: caracterização biocomportamental e tratamentos..................... 12
1.1. Definição................................................................................................................... 12
1.2. Prevalência................................................................................................................ 13
1.3. Etiologia.................................................................................................................... 13
1.4. Tratamento: medicamentoso, com alarme e com treino.............................................. 15
1.5. Os três sistemas: uma nova abordagem à etiologia e tratamento................................. 17
1.6. Prevenção de recaída................................................................................................. 19
1.7. Aspectos psicológicos da enurese, terapia e orientação de pais .................................. 20
1.8. A orientação de pais .................................................................................................. 25
1.9. Pesquisas no Brasil.................................................................................................... 28
1.9.1. Histórico do Projeto Enurese .............................................................................. 30
1.10. Relevância do Projeto frente a outros estudos .......................................................... 33
2. Objetivos e hipóteses........................................................................................................ 34
2.1. Objetivo Geral.......................................................................................................... 34
2.2. Objetivos específicos................................................................................................ 34
2.3. Hipóteses................................................................................................................... 34
3. Método ............................................................................................................................ 35
3.1. Amostra .................................................................................................................... 35
3.1.1. Critérios de Inclusão........................................................................................... 35
3.1.2. Critérios de Exclusão.......................................................................................... 35
3.1.3. Atendimento de crianças em grupo: .................................................................... 35
3.1.4. Atendimento de crianças individualmente:.......................................................... 36
3.1.5 Atendimento de adolescentes individualmente:.................................................... 36
3.1.6 Atendimento de adolescentes em grupo: .............................................................. 37
3.2. Procedimento ............................................................................................................ 38
3.2.1. Instrumentos....................................................................................................... 38
3.2.2. Avaliação e triagem............................................................................................ 42
3.2.3. Forma de tratamento........................................................................................... 45
3.2.4. Obtenção e análise dos dados.............................................................................. 53
3.2.5. Pessoal responsável ............................................................................................ 54
3.2.6. Dias de atendimento ........................................................................................... 54
4. Resultados........................................................................................................................ 56
4.1. Análise das freqüências de “molhadas” ..................................................................... 56
4.1.1. Crianças atendidas em grupo .............................................................................. 57
4.1.2. Crianças atendidas individualmente.................................................................... 62
4.1.3. Adolescentes atendidos individualmente............................................................. 66
4.1.4. Adolescentes atendidos em grupo ....................................................................... 70
4.2. Análise dos problemas de comportamento................................................................. 74
4.2.1. Crianças atendidas em grupo .............................................................................. 75
4.2.2. Crianças atendidas individualmente.................................................................... 77
4.2.3. Adolescentes atendidos em grupo ....................................................................... 79
4.2.4. Adolescentes atendidos individualmente............................................................. 81
4.3. Resultados do tratamento, caso a caso ....................................................................... 84
4.4. Análise estatística...................................................................................................... 93
4.4.1. Resultado do tratamento ..................................................................................... 93
4.4.2. Problemas de comportamento........................................................................... 110
4.5. Considerações clínicas sobre os participantes .......................................................... 115
4.5.1. Crianças atendidas em grupo ............................................................................ 116
4.5.2. Crianças atendidas individualmente.................................................................. 120
4.5.3. Adolescentes atendidos individualmente........................................................... 124
4.5.4. Adolescentes atendidos em grupo ..................................................................... 128
5. Discussão....................................................................................................................... 133
6. Conclusões..................................................................................................................... 138
Referências ........................................................................................................................ 141
12
1. Enurese noturna primária: caracterização biocomportamental
e tratamentos
1.1. Definição
Todas as crianças nascem urinando durante a noite e durante o dia; não crianças com
controle vesical no nascimento. Elas usualmente adquirem o controle da urina durante o dia
entre dois e três anos de idade, e o controle durante a noite ocorre um ano depois disso.
Contudo, muitas crianças falham em adquirir o controle, especialmente o noturno. Quando
elas o têm problemas médicos, molham apenas à noite e nunca ficaram secas por um
período de pelo menos seis meses consecutivos, considera-se que elas apresentam um quadro
de enurese primária monossintomática (Houts, 2003).
O Manual de Diagnóstico e Estatística de Distúrbios Mentais (DSM-IV) estabelece
quatro critérios para diagnóstico desse quadro: a) micção repetida, diurna ou noturna, na cama
ou na roupa; b) a micção deve ocorrer no mínimo duas vezes por semana por pelo menos três
meses, ou então causar um sofrimento ou prejuízo significativo no funcionamento social,
acadêmico (ocupacional) ou outras áreas importantes na vida do indivíduo; c) idade
cronológica de no mínimo cinco anos, ou para crianças com atrasos de desenvolvimento,
idade mental de no mínimo cinco anos; d) a incontinência urinária não se deva
exclusivamente aos efeitos fisiológicos diretos de uma substância (por exemplo, diuréticos)
ou a uma condição geral (por exemplo, diabete, espinha bífida, transtorno convulsivo)
(American Psychiatric Association, 2002).
A enurese pode ser noturna ou diurna, embora essa nomenclatura não seja muito precisa.
A questão não é o período do dia em que a molhada ocorre, e sim se ela ocorre durante o sono
ou não. Além disso, ela pode ser classificada como primária ou secundária. Ela é primária
quando a criança nunca esteve seca por seis meses consecutivos, e secundária quando esse
período existiu. Embora as mesmas formas de tratamento possam ser empregadas para os dois
tipos, cada uma tem as suas especificidades. A enurese secundária pode estar ligada a um
momento traumático da vida da criança, como a chegada de um irmão ou a morte de um dos
pais. A enurese primária pode ter também componentes situacionais, mas geralmente ocorre
principalmente em função de aspectos fisiológicos (Butler, 1994). Neste trabalho será
focalizada a enurese noturna primária.
13
1.2. Prevalência
Butler (1994) afirma que os estudos indicam uma prevalência de 13% a 19% entre os
meninos e entre 9% e 16% entre as meninas de cinco anos de idade, sendo que essa taxa vai
diminuindo durante a infância e a adolescência, mas cerca de 2% a 3% dos adultos jovens
ainda continuam molhando a cama. A opinião geral é de que a taxa de remissão espontânea,
ou seja, as “molhadas” cessam sem nenhum tipo de tratamento específico, é de 15% ao ano,
como aponta o estudo de Jensen e Kristensen (2001). Contudo, um estudo de seguimento
realizado com uma população de 501 enuréticos de oito anos na Finlândia mostrou que apenas
16 deles continuavam com o problema aos 14 anos de idade. Em parte, essa redução se deve a
novas formas de tratamento, condicionamento e medicamentos (Moilanen, Tirkkonen,
Järvelin, Linna, Almqvist, Piha, Räsänen e Tamminen, 1998).
1.3. Etiologia
Muitas das crianças enuréticas têm algum dos pais ou alguém na família que também foi
enurético quando jovem. Um estudo realizado com gêmeos (Ooki, 1999) mostra que as taxas
de concordância são maiores em gêmeos monozigóticos do que em dizigóticos, sugerindo a
existência de determinantes genéticos. Essa taxa foi mais alta em meninos de três a quatro
anos e meninas com idade entre cinco e oito anos. Contudo, os estudos de genética molecular
não são conclusivos ao tentar estabelecer relações entre genótipo e fenótipos de enurese ou
incontinência (Loeys, Hoebeke, Raes, Messiaen, De Paepe e Walle, 2002). Na verdade,
observa-se uma heterogeneidade de relações entre marcadores genéticos e problemas clínicos,
ou seja, uma multiplicidade de combinações genéticas nos casos de enurese (Hollmann,
Von Gontard, Eiberg, Rittig e Lehmkuhl, 1998).
Durante os últimos vinte anos, tomou corpo a discussão sobre a etiologia da enurese
noturna. Ao mesmo tempo em que se verificava que este era um problema com causas
múltiplas, algumas hipóteses surgiram para compor o conjunto de explicações. Algumas
obtiveram mais sucesso em serem consideradas consensuais do que outras. Houts (1991) e
Butler (1994) descrevem algumas das principais hipóteses e os estudos que tentaram
confirmá-las.
Dificuldades no sono e despertar: como muitas crianças controlam a urina durante do
dia e não durante a noite, a hipótese de senso comum é que o problema está na instensidade
14
do sono dos enuréticos. Crianças enuréticas são vistas pelos pais como tendo sono profundo, e
Wille (1994) afirma que elas são mais difíceis de serem acordadas do que as não enuréticas.
Butler (1994) concorda que a enurese não é conseqüência de sono pesado, e afirma que ela é
um resultado da incapacidade de responder aos sinais da bexiga durante o sono. “Quando os
sinais da bexiga assumem importância, a criança desenvolverá o controle através do segurar
(contraindo os músculos pélvicos) ou acordando” (p. 28). Uma das chaves para o tratamento
da enurese, então, é tornar os sinais da bexiga importantes.
Poliúria noturna: por essa explicação, as crianças molhariam a cama porque seus rins
deixam de concentrar a urina à noite, como ocorre normalmente, por uma deficiência na
liberação de vasopressina. Estudos mostram que tratamentos com desmopressina, hormônio
sintético, diminuem a incidência de noites “molhadas”, e que elas estão relacionadas com a
quantidade de urina produzida durante a noite (Hansen & Jorgensen, 1997). O desafio,
segundo Houts (1991), é como resolver essa questão hormonal sem o uso de suplementos de
vasopressina artificial, uma vez que cessando a medicação recaída da enurese na maioria
dos casos.
Pequena capacidade funcional da bexiga:essa hipótese afirma que as crianças
enuréticas têm uma capacidade funcional da bexiga menor que a de outras crianças. A
capacidade funcional, diferentemente da capacidade física, é o volume de urina excretado
depois da criança segurar a eliminação de urina o ximo possível. Houts (1991) afirma que
a baixa capacidade funcional é um correlato, e não uma causa da enurese, uma vez que
estudos indicando que esse fator não é um discriminativo eficiente entre crianças que molham
a cama e as que não o fazem. Contudo, o mesmo autor, anos depois (2003), reconhece que
uma pequena proporção dos casos de enurese podem ser causados pela baixa capacidade
funcional.
Predisposição genética: Butler (1994) observa que os estudos de gêmeos indicam que
uma ligação genética maior em meninos enuréticos do que meninas. Cita ainda que o risco
de ser enurético aumenta quando um dos pais teve o problema quando criança, e é maior
ainda quando os dois pais o tiveram. Entretanto, os estudos citados pelo autor mostram que há
crianças que adquirem o controle normalmente mesmo com dois pais que foram enuréticos na
infância, o que indica a presença de fatores ambientais na determinação da enurese.
Atividade detrussora disfuncional: essa hipótese sustenta que o músculo detrussor da
bexiga é instável entre enuréticos durante o sono (Houts, 1991). Contrações espontâneas da
bexiga produziriam o “xixi” na cama. O que ocorre com crianças enuréticas é que, com o
enchimento da bexiga, um relaxamento da musculatura pélvica e contração do detrussor, o
15
que está associado à micção. Crianças não enuréticas respondem ao enchimento da bexiga
com contração do esfíncter e relaxamento do detrussor, que permite que elas continuem
dormindo sem urinar.
1.4. Tratamento: medicamentoso, com alarme e com treino
Houts (1991) aponta os três principais tipos de tratamento medicamentoso para enurese:
Imipramina (Tofranil), que age sobre a musculatura da bexiga, apresentando um bom
resultado a curto prazo, mas que não se mantém ao longo do tempo; Oxibutinina (Ditropan),
também age na musculatura detrussora, apresentando um resultado pior que o da Imipramina,
e também não se mantendo a longo prazo; Desmopressina (DDAVP), que age nos túbulos
distais do rim a fim de concentrar a urina e diminuir o volume produzido durante a noite,
apresentando resultados similares aos outros medicamentos. Ainda segundo Houts (1991),
não razão para acreditar que o resultado do tratamento com a desmopressina permaneça
depois do período de tratamento. Contudo, um estudo de Chiozza, Plebani, Scaccianoce,
Biraghi e Zacchello (1998) sustenta que os pacientes tiveram um aumento da produção de
vasopressina a longo prazo após o tratamento com hormônio artificial, confirmando a
importância do hormônio na patologia e sugerindo que o tratamento apenas com medicamento
pode reduzir as “molhadas”.
O uso do alarme de urina é recomendado como uma alternativa cuja efetividade alcança
77% dos casos tratados (Houts, 1991).
O alarme nacional consiste de uma unidade sensora, um “tapete” que é colocado sob o
lençol da criança, e o alarme propriamente dito, que é ligado ao tapete (foto do alarme: Anexo
8). O sensor possui material condutor de eletricidade em sua superfície, na forma de listras
que não se encontram. O “xixi”, quando cai sobre o tapete, fecha a corrente e dispara o
alarme, que geralmente fica na cabeceira da cama da criança. Há um botão liga-desliga e uma
luz que é acionada junto com o som para que a criança possa localizar o aparelho com pouca
luz. O sistema funciona com uma bateria comum de nove volts.
Como o alarme funciona? Butler (1994) sustenta que o alarme provoca uma série de
conseqüências aversivas para a criança, que vão desde as sensações de estar molhado, ouvir o
barulho do alarme até as atividades de ter que levantar, trocar de roupa etc. Com isso, acordar
para urinar ou relaxar o detrussor e contrair os músculos pélvicos para continuar dormindo
seco são respostas que evitariam essas conseqüências aversivas. Houts (2003) denomina esse
16
processo de esquiva ativa; as respostas são mantidas, segundo Houts (2003), por reforçamento
negativo. Butler (1994) afirma ainda que as contrações da musculatura pélvica produzidas
pela criança para evitar acordar ao som do alarme. O enchimento da bexiga decorrente desse
processo pode aumentar a capacidade funcional do órgão. E Houts (1991) especula que os
níveis de produção de vasopressina podem aumentar durante o tratamento com alarme devido
ao estresse causado por acordar com o aparelho. Ou seja, a partir dessas especulações, pode-se
concluir que o tratamento com alarme acaba se relacionando com três das causas principais da
enurese. Ainda assim, é possível cercar melhor cada um desses fatores com procedimentos
adicionais.
Houts (2003) propõe um tipo de tratamento chamado de Full Spectrum Home Training
(FSHT), no qual o uso do alarme é associado a outros procedimentos. Ele é tem quatro
componentes: (1) tratamento básico com alarme de urina; (2) treino de limpeza; (3) treino de
controle de retenção; e (4) superaprendizagem. Esse programa tem características próprias
relativas ao contexto cultural americano, como, por exemplo, o acordo de suporte familiar,
que é uma espécie de contrato assinado pelas crianças e adultos relativo aos procedimentos do
tratamento. Além disso, o autor (Houts, 2003) tem protocolos de visita única ou dupla para o
tratamento, fazendo o acompanhamento posterior por telefone.
O full-spectrum home training foi testado por outros autores, como Kampen, Bogaert,
Feys, Baert, de Rayemaeker, e de Weerdt (2002), que demonstraram que, de 60 pacientes
tratados dessa forma, 52 (87%) obtiveram sucesso dentro de 98 dias. Além disso, houve um
aumento significativo na capacidade funcional da bexiga após o tratamento. Não foram
detectadas relações entre o resultado do tratamento e fatores como idade, sexo, história
familiar e perfil psicopatológico.
Butler (1994) sugere uma série de práticas para facilitar o uso do alarme e aumentar a
probabilidade de sucesso. As práticas dividem-se em seis grupos: rotinas costumeiras, treino
de bexiga, técnicas de despertar e ingestão. Algumas dessas práticas correspondem às
apontadas por Houts (2003) no tratamento de espetro total e podem ser incorporadas ao
atendimento realizado com o alarme a fim de aumentar as chances de sucesso.
O alarme é contra-indicado em situações em que uma alta taxa de intolerância dos
pais (Butler, Holland, Devitt, Hiley, Roberts e Redfern, 1998), pelo fato dessa combinação ser
um preditor de desistência no tratamento.
Jensen e Kristensen (2001) apontam que a freqüência de “molhadas” da criança antes do
tratamento com alarme é um fator moderador do sucesso. Ao contrário do que o senso comum
pode indicar, os autores afirmam que participantes com uma freqüência maior de “molhadas
17
antes do tratamento se beneficiam mais do tratamento e terminam numa situação melhor do
que os que iniciam com uma freqüência baixa. O argumento utilizado pelos autores para
justificar essa descoberta, no entanto, é insatisfatório. Segundo eles, um grande número de
toques do alarme faz com que a criança “treine novos reflexos mais rapidamente”. Uma
explicação melhor seria a de que a punição ocorre com maior freqüência, fortalecendo o
comportamento de esquiva, que seria o controle vesical.
Houts (2003) afirma que não obteve diferenças nos tratamentos utilizando formato
individual e grupal. Contudo, como citado anteriormente, o autor tem apenas um ou dois
contatos terapêuticos com fins de avaliação e instrução sobre o protocolo de tratamento. Não é
feito um acompanhamento terapêutico.
Houts (2003) relata que não aceita casos em que problemas de comportamento ou
familiares para tratamento, pois eles devem ser resolvidos antes de se lidar com a enurese.
Para a realidade das nossas clínicas-escola, isso necessita ser adaptado, pois a população que
atendemos nem sempre está livre de outros problemas de comportamento ou tem o grau de
seguimento de regras necessário para o sucesso do trabalho. Procuramos, numa fase anterior
ao uso do alarme, ajudar a resolver esses problemas até o momento em que condições para
se lidar com a enurese. Se não o fizéssemos, limitaríamos grandemente a nossa amostra. Um
trabalho em andamento na equipe (Arantes, 2004) tenta mostrar as implicações do tratamento
de enurese em crianças com e sem outros problemas de comportamento. Pela experiência do
projeto na área, verifica-se que um maior acompanhamento nossos participantes pode trazer
melhores resultados, tanto em relação ao tratamento da enurese como dos outros problemas de
comportamento. Houts (2003) afirma que mais visitas e maior contato terapêutico realmente
podem aumentar os índices de sucesso.
Dois aspectos do programa de tratamento sugerido por Houts (2003) fazem parte do
nosso protocolo de atendimento: o primeiro é a noção de espectro total, ou seja, de abordar as
várias possibilidades etiológicas da enurese para cada caso. Assim, além do tratamento com
alarme, é feito o acompanhamento psicológico e adicionalmente são implantados treinos de
controle da bexiga, durante o período de uso do alarme.
1.5. Os três sistemas: uma nova abordagem à etiologia e tratamento
Butler (1998, 2004) propõe uma nova abordagem à etiologia e tratamento da enurese.
Segundo ele, haveria três grupos de crianças enuréticas, cada um com uma de três causas
específicas para as “molhadas”, embora possa haver combinações desses tipos. O autor
18
argumenta que se essa distinção fosse feita, os tratamentos para enurese poderiam ser mais
efetivos, que cada um dos sistemas etiológicos implicaria num tipo de tratamento diferente.
Mesmo um tratamentos tido como menos eficaz, o uso da oxibutinina, pode ser considerada
menos eficaz para a população geral de enuréticos, mas pode ser útil em casos específicos.
O primeiro sistema é a disfunção na secreção de vasopressina, que causaria a poliúria
noturna e consequentemente, as molhadas”. Segundo Butler (2004), crianças não-enuréticas,
quando induzidas a dormir com um volume excessivamente grande de líquido na bexiga
podem produzir episódios de “molhadas”. A baixa secreção de vasopressina geraria uma
quantidade muito grande de urina, maior que a capacidade da bexiga, o que causaria as
“molhadas”. Para esse grupo de crianças, os tratamentos mais indicados seriam o alarme e o
medicamento desmopressina, uma vez que ambos diminuem a produção de urina durante a
noite.
O segundo sistema é a disfunção no mecanismo de despertar, pelo qual a criança não é
capaz de discriminar os sinais de bexiga cheia e, consequentemente, não pode reagir
acordando ou contraindo os músculos pélvicos e inibindo a micção. Para esse grupo, o
tratamento mais efetivo é o alarme, que age diretamente sobre esse mecanismo,
condicionando a criança a acordar ou a contrair a musculatura necessária para passar a noite
toda sem urinar.
O terceiro sistema refere-se à instabilidade detrussora, ou seja, a contrações
involuntárias na bexiga durante à noite que provocam as “molhadas”. Segundo o autor, a
instabilidade detrussora está associada à baixa capacidade funcional: a bexiga se contrai
mesmo quando apenas uma pequena quantidade de urina no órgão. Nesses casos, que
representariam uma minoria das crianças com enurese, o tratamento com oxibutinina, um
anticolinérgico, seria efetivo, uma vez que ela age nesse sistema relaxando a musculatura. E,
pelo fato dos estudos não realizarem essa separação, a oxibutinina não apareceria como uma
alternativa para o tratamento, uma vez que a etiologia não era discutida dessa forma. Contudo,
o uso de alarme com treinamento de bexiga também é efetivo nesses casos, uma vez que o
alarme pode aumentar a capacidade funcional da bexiga, alterando a instabilidade detrussora.
(Butler, 2004).
Segundo essa abordagem, seria redundante combinar o alarme com a desmopressina,
uma vez que ambos agem na quantidade de produção de urina durante a noite. Para o autor,
deve-se optar por um tipo de tratamento ou outro de acordo com as necessidades da família
(Butler, 2004). Um estudo de Leebeek-Groenwegen, Blom, Sukhai e Hiejden (2001), aponta
que a combinação desses tratamentos obtém a mesma taxa de sucesso a longo prazo
19
comparada com o alarme utilizado sozinho, o que ocnfirmaria a hipótese do Butler (2004).
Contudo, eles afirmam que a desmopressina admisnistrada no início do atendimento provoca
uma redução das “molhadas” mais rápida do que o alarme. Isso pode, entre outros resultados,
favorecer a permanência no programa de tratamento.
Contudo, essa é uma teoria relativamente nova, que carece de mais estudos que
confirmem essa linha de pensamento. Caso ela esteja correta, pode vir a ser um divisor de
águas no tratamento da enurese, uma vez que explicaria o porquê de todos os tratamentos
contarem sempre com uma determinada porcentagem de insucesso. Além disso, a forma de
realizar o diagnóstico precisaria ser modificada.
Nesse trabalho, utilizou-se o alarme em todos os casos, uma vez que essa teoria ainda
não foi suficientemente discutida e pela dificuldade em fazer, dentro do laboratório em que a
pesquisa foi realizada, as avaliações necessárias para o diagnóstico diferencial.
1.6. Prevenção de recaída
Uma das maiores dificuldades nos tratamentos comportamentais é a generalização dos
seus ganhos (Silvares, 1989), e a enurese não é diferente, especialmente no que se refere à
generalização no tempo. Portanto, o programa de intervenção com uso de alarme também
deve adotar medidas para evitar as recaídas.
Houts (2003) aponta que com o uso da superaprendizagem, as chances de recaída após o
tratamento para enurese diminuem de 40% para 10%. A superaprendizagem consiste em
ingerir uma certa quantidade de líquido antes de dormir, quantidade esta que é gradualmente
aumentada, num processo análogo ao de modelagem, em que uma resposta é reforçada
seguidamente, cada vez com uma topografia que se aproxima do resultado desejado. Nesse
caso, a criança bebe cada vez mais água, o que é reforçado negativamente quando não
ocorrem “molhadas” e a criança acorda seca.
Os valores para ingestão são estabelecidos de acordo com a capacidade funcional da
bexiga esperada para a idade, como pode ser observado na Tabela 1. A variação entre a
quantidade inicial e final é cerca de meio copo americano (125 ml).
20
Tabela 1 - Quantidades iniciais e finais de líquidos administradas na superaprendizagem (Butler, 2004)
Idade (em anos) Quantidade inicial (em ml) Quantidade final (em ml)
6 113 (pouco menos de meio copo americano) 227
7 142 255 (um copo americano)
8 170 284
9 198 312
10 227 340
11 255 (um copo americano) 369 (um copo americano e meio)
12
284
397
13
312
426
14
340
454
15
369
(um copo americano e meio)
483
(pouco menos de doi
s copos americanos)
16 397 511 ( pouco mais de dois copos americanos)
17 426 539
18 454* 568*
Houts (2003) sugere que a superaprendizagem seja iniciada logo após a obtenção de 14
noites secas consecutivas. Inicia-se com o menor valor e aumenta-se gradualmente a o
maior valor, com o qual a criança deve permanecer 14 noites secas novamente.
A superaprendizagem aumentaria diretamente a capacidade funcional da bexiga e
atuaria no problema da instabilidade detrussora, quando ele estiver presente (Butler, 2004).
A partir daí, volta-se à ingestão normal de quidos e retira-se o aparelho. A partir disso,
podem ser estabelecidos dois critérios para avaliar o tratamento: o de sucesso, que são as
primeiras 14 noites consecutivas, e o de alta, que seriam as 14 noites ocorridas na
superaprendizagem. Houts (2003) coloca que ele interrompe a superaprendizagem quando a
criança não consegue completá-la em oito semanas, retirando o líquido e esperando novas 14
noites secas sem a superaprendizagem.
1.7. Aspectos psicológicos da enurese, terapia e orientação de pais
Os aspectos psicológicos relacionados à enurese permeiam sua abordagem e tratamento.
Esses fatores podem ser classificados como causas da enurese, na medida em que podem fazer
parte da sua etiologia; conseqüências da enurese, quando ocorrem em decorrência dessa
dificuldade da criança ou adolescente; ou moderadores do tratamento, quando agem
favorecendo ou dificultando a obtenção de sucesso com o atendimento.
O trabalho do psicólogo comportamental infantil, assim como o adulto, baseia-se no
processo de análise funcional, dividindo-se entre a fase de avaliação diagnóstica e a de
21
intervenção clínica (Silvares, 2000). Independentemente do tipo de problema da criança, a
fase diagnóstica tem como objetivo identificar os comportamentos com relevância clínica, e a
partir deles levantar seus possíveis mantenedores ambientais, através de análise funcional. A
análise funcional correta e extensa dos problemas da criança será a base para a formulação da
intervenção que se na fase de tratamento. Vale ressaltar que a divisão entre avaliação e
tratamento é didático, que muitas vezes elas se alternam ou ocorrem simultaneamente no
processo terapêutico.
No caso da enurese, em que as crianças e adolescentes já vêm com uma queixa
estabelecida e clara, o diagnóstico deve estar voltado principalmente para a descoberta de
possíveis variáveis ambientais que possam estar interferindo diretamente nesse problema. A
enurese pode estar sendo mantida, por exemplo, por reforçamento positivo, como no caso de
crianças que molham a cama por receberem, contingencialmente, a atenção dos pais. Embora
na literatura não se reporte esse fator como parte da etiologia da enurese, a experiência clínica
pode trazer casos, ainda que raros, em que isso aconteça. Pode-se especular que o alarme não
funcionaria para uma criança que tem medo de escuro ou de levantar à noite. Ela poderia
acordar com o som do aparelho, mas permanecer na cama em vez de ir ao banheiro para
urinar. Nesse caso, as respostas de contração da musculatura e conseqüente obtenção do
controle não poderiam ser reforçadas negativamente, uma vez que o permanecer na cama
seria reforçado negativamente por evitar o medo de levantar. Detectar essas formas de
funcionamento é essencial para uma boa administração do tratamento, pois no caso hipotético
descrito seria necessário verificar primeiro de que forma o medo do escuro poderia ser
contornado.
Embora os fatores supracitados na seção “etiologia” tenham maior probabilidade de ser
determinantes, o se pode deixar fazer uma avaliação que busque encaixar os episódios de
molhada numa contingência tríplice, em que a molhada é a resposta e a conseqüência seria um
reforçamento negativo ou positivo. É importante, também, olhar para os antecedentes a fim de
verificar se as molhadas” ocorrem em determinadas situações ou quando certos estímulos
estão presentes, enriquecendo a avaliação diagnóstica e oferecendo maiores possibilidades de
intervenção.
Segundo Butler e Gasson (2005), os estudos realizados sobre a efetividade de diversos
tipos de tratamento para enurese dividem-se entre os médicos e psicológicos. Enquanto os
primeiros investigam o efeito de diferentes tipos de medicamentos, os últimos visam verificar
a eficácia de diversos tipos de intervenções. Geralmente, essas intervenções estão centradas
no uso do alarme; o que varia são os exercícios e procedimentos auxiliares. Outros tipos de
22
intervenção psicológica, como psicanálise, aconselhamento ou hipnose, não trazem ganho
algum: não são melhores do que esperar que a criança espere a enurese melhorar sem ajuda
(Houts e Liebert, 1984). Uma vez que o tratamento com alarme é um dos que detém melhores
resultados dentro da ciência psicológica e outros tipos de intervenção não obtém resultados
satisfatórios, os estudos atuais concentram-se em como melhorar esse tratamento, e não na
busca de alternativas.
No Brasil, os primeiros trabalhos realizados pelo Projeto Enurese (Oliveira, 1999;
Silva, 2004 e Costa, 2005) sempre empregaram como auxiliar ao tratamento com alarme
sessões de acompanhamento psicológico, o que não é comum nos tratamentos americanos ou
ingleses, em que apenas se realiza uma ou duas sessões de orientação familiar (Houts, 2003).
Contudo, Houts (2003) sinaliza que se o contato terapêutico for maior, os ganhos podem ser
potencializados.
Um estudo apresentado por Meneghello, Pereira e Silvares (no prelo), realizou o
seguimento dos casos atendidos nesse modelo e constatou que, nos casos em que foi possível
contato, a taxa de recaída era de 9%, menor do que a apontada na literatura (Houts, 2003).
Uma das hipóteses para explicar esse dado seria justamente o fato do acompanhamento
terapêutico estar incluído. O estudo de seguimento é importante o para se verificar as
conduções da enurese após o tratamento, mas para verificar se houve ganhos em outras áreas,
como problemas de comportamento.
Embora em geral se reconheça que muitos problemas comportamentais e emocionais
aparecem associados à enurese, uma tendência a não considerá-los como causadores da
enurese e sim como conseqüência dela, inclusive com vários estudos que favorecem essa tese
(por exemplo, Santos e Silvares, no prelo e Arantes, no prelo). Contudo, ainda não há
consenso sobre essa relação.
Butler (2004) aponta que além de problemas psicossociais, experiências disruptivas na
infância aparentemente aumentam a vulnerabilidade à enurese. Além disso, o mesmo autor
(Butler, 1994) coloca que as crianças enuréticas passam por perplexidade, humilhação,
isolamento social, medo de serem descobertas e têm uma sensação de imaturidade. Contudo,
as crianças enuréticas parecem bem ajustadas socialmente quando consideradas em grupo
(Butler et al., 1998). A percepção de pais e professores sobre essas crianças revela que eles
têm uma tendência a ver em seus filhos e alunos enuréticos problemas de isolamento e maior
sensibilidade, mas não quer dizer que eles sofram de perturbações psicológicas.
Os pais de crianças enuréticas também sofrem impacto com o problema, geralmente
atribuindo a causa da enurese ao sono profundo (Butler, 1994). Uma minoria de pais pode se
23
tornar intolerante, punindo a criança e tendendo a se desligarem mais facilmente do
tratamento com o alarme (Morgan e Young, 1975). Na realidade brasileira, a porcentagem de
pais intolerantes e crianças impactadas pode ser maior, como sugerem os resultados obtidos
por Arantes (2004).
Um impasse se cria a partir dessa perspectiva: as crianças brasileiras podem ser mais
impactadas, com pais mais intolerantes, o que sugere um ambiente familiar mais conflitante.
Por outro lado, Houts (2003) afirma que famílias com alto grau de conflitos precisam sanar
esses problemas antes de iniciar um tratamento para enurese. Contudo, simplesmente o
atender essas crianças pode piorar essa situação, uma vez que os problemas comportamentais
decorrentes do isolamento social que a enurese provoca tendem a aumentar (Oliveira, 1999).
Como Silvares (2002) coloca, alguns fatores devem se fazer presentes na avaliação da
enurese: (a) o grau de tolerância da família com relação ao descontrole da criança; (b) o grau
de controle da família sobre a criança, especialmente no que diz respeito ao seguimento, pela
criança, das instruções a ela fornecidas; (c) expectativas da família quanto à forma mais
adequada de tratamento terapêutico para a criança; (d) concepções dos pais quanto ao papel
da família na definição e superação dos problemas das crianças; (e) capacidade de
compreensão da racional do tratamento, ponto essencial para participação da família no
processo terapêutico; e (f) grau de discórdia da díade conjugal com relação aos problemas da
criança e a outros aspetos.
A opção seria, conforme adotada por Oliveira (1999), Silva (2004) e Costa (2005),
conjugar o tratamento da enurese a um acompanhamento psicológico e orientação de pais que
abordasse esses problemas, retardando a entrega do alarme quando necessário. A função desse
acompanhamento é dar atenção aos fatores que interferem no sucesso da intervenção com o
alarme e procurar ao menos atenuá-los, viabilizando o prosseguimento do procedimento e
formando assim um “pacote” de atendimento que não seja exclusivo.
Com isso, o acompanhamento terapêutico, no caso da enurese, assumiria uma
característica focal e voltada a auxiliar a criança e a família a lidar com o impacto, a
intolerância e outros fatores relacionados ao molhar a cama e ao seu tratamento. Outras
dificuldades da criança e da família, entretanto, podem surgir nesse contexto, e têm sido
comum nos trabalhos anteriores a atenção também a esses problemas quando necessidade,
sempre priorizando a enurese.
Garfield (1995) descreveu alguns pontos comuns às psicoterapias de diferentes
abordagens. Ao formular uma forma de intervenção para os aspectos psicológicos
relacionados à enurese, pode-se basear nesses pontos e suas respectivas descrições: a)
24
informação: esclarecer aspectos da dificuldade do cliente e oferecer sugestões; b)
reforçamento: expressar aprovação ou oferecer alguma outra conseqüência reforçadora
contingente a uma melhora ou comportamento desejado na terapia; c) apoio e resseguro:
manifestação de empatia e tentativa de encorajamento a indivíduos que estejam passando por
problemas ou preocupados; d) expectativa: atenção por parte do terapeuta às expectativas do
cliente, tentativa de sua parte de que o cliente tenha expectativas realistas. No tratamento de
enurese noturna, isso poderia ser adaptado da seguinte forma: a) informação: oferecer à
criança e aos pais informação sobre prevalência, etiologia e tratamento da enurese; b)
reforçamento: apontar e elogiar melhoras familiares e da criança em relação ao procedimento
de tratamento e ao objetivo de obter camas secas; c) apoio e resseguro: entender as
dificuldades da criança e dos pais e encorajar promovendo mudanças em casa e motivação
para o tratamento; d) expectativa: informar claramente sobre as dificuldades do tratamento e
do tempo necessário, numa tentativa de adequar a expectativa da família.
Ao assumir a posição de terapeuta da família, o responsável pelo tratamento deve
atentar às características e comportamentos que o terapeuta deve adotar na relação com a
família. Meyer e Vermes (2001) listam uma série de comportamentos geralmente utilizados
pelos terapeutas em sessão, que também podem ser adaptados ao tratamento de enurese:
solicitação de informação; fornecimento de informações; empatia, calor humano,
compreensão, concordância; sinalização; aprovação e orientação. Outras características
também citadas pelas autoras, como confrontação e interpretação talvez não sejam adequadas
de imediato ao foco descrito aqui, mas podem ser empregadas quando se tratar de outros
problemas familiares em conjunto com a enurese.
Rangé e Silvares (2001) apontam que a formulação e o tratamento de casos clínicos
infantis diferem dos casos de adultos na medida em que requerem informantes, como pais e
professores para realizar a avaliação diagnóstica e, consequentemente, necessitam que esses
mesmo agentes estejam também presentes na fase de tratamento para que as mudanças
tenham maior probabilidade de serem generalizadas.
Em muitos casos, no entanto, a preocupação com outros problemas familiares ou de
comportamento se faz desnecessária: a família se encaixa nas condições para receber o
tratamento para enurese como descritas por Houts (2003), assimilam bem as informações
sobre o problema e o atendimento, seguem as regras e não tem nenhuma demanda além da
cura da enurese. Nesses casos, apenas informar e acompanhar o tratamento já é suficiente;
tanto que é método adotado na maioria dos casos fora do país, obtendo uma taxa de sucesso
entre 60% e 75% (Butler & Gasson, 2005).
25
Com isso, pode-se dizer que o tratamento da enurese envolve necessariamente a
família do enurético. Antes de tudo, é preciso verificar se a enurese não é causada pela forma
como a família lida com as “molhadas” da criança reforçando os episódios com atenção e
concessões, por exemplo. Apesar da responsabilidade sobre o tratamento e sua própria
melhora ser imputada à criança, cabe aos pais tolerar, apoiar e fiscalizar a adoção dos
procedimentos. Para tanto, uma das formas utilizadas para esse fim é o Modelo Triádico em
terapia comportamental com famílias, como descrito por Silvares (1995), a partir do
delineamento de Tharp e Wetzel (1969). Este modelo pressupõe que os pais sejam treinados
para compreender e modificar o comportamento de seus filhos usando técnicas
comportamentais, como o manejo de contingências, o contrato de contingências e o treino
familiar em resolução de problemas. Essas cnicas compartilham a idéia de que o terapeuta
ofereça instrumentos aos pais para que eles sejam agentes das mudanças no ambiente natural
da criança, o que pode ser mais efetivo para a modificação do comportamento do que apenas a
mudança direta propiciada pelas sessões de terapia.
1.8. A orientação de pais
A orientação de pais é geralmente utilizada quando se acredita que o comportamento
inadequado da criança é fruto das variáveis históricas a que ela foi submetida e é mantido
pelas contingências ambientais familiares (Silvares e Marinho, 1998). Segundo as autoras, a
utilização dos pais como mediadores ataca o problema da generalização dos ganhos
terapêuticos. Esse problema refere-se a no mínimo três questões fundamentais (Silvares,
1989, p. 40): “em que medida os efeitos do tratamento se generalizam para englobar outros
comportamentos além daqueles diretamente modificados, ou se transferem para outras
situações além daquela onde a intervenção se deu e em que extensão os comportamentos
modificados se mantém ao longo do tempo”. Como esse problema foi uma das dificuldades da
terapia comportamental infantil durante anos, uma solução proposta foi envolver no
tratamento as pessoas participantes do cotidiano da criança, instruindo-as sobre os princípios
da modificação do comportamento a fim de que elas pudessem agir como mediadoras.
A orientação de pais deve ser baseada em duas premissas básicas (Silvares, 1995, p.
235): “para a ocorrência de mudanças comportamentais positivas, os comportamentos
inadequados não devem ser reforçados enquanto os adequados, sim; (…) as manipulações
26
ambientais devem ser operadas por quem disponha dos reforçadores (os mediadores)”. No
caso das famílias, esses mediadores provavelmente serão os pais.
Com isso, as principais formas de intervenção dentro do modelo triádico se dão com
os pais. Uma delas é o treino de pais em manejo de contingências (Beck, 1985). Nessa forma
de atuação, o terapeuta ensina os pais a contingenciarem os comportamentos dos filhos a fim
de promover mudanças positivas. Por exemplo, os pais devem ignorar comportamentos como
birra e agressividade e dar atenção a comportamentos adequados. Outra forma é a utilização
do time-out, que consiste em deixar a criança sem reforçadores como conseqüência de um
comportamento inadequado.
Com crianças mais velhas, uma outra forma de atuação é o contrato de contingências
(Dowd e Oslon, 1985), que consiste num acordo entre as pessoas que desejam uma mudança
de comportamento mútua, como uma situação em que os pais trocam certos reforçadores por
comportamentos adequados da criança em uma situação. Para serem mais efetivos, esses
contratos devem ser claros, relacionados a comportamentos específicos e que estejam dentro
da capacidade da criança. Silvares (1995) coloca que dois pontos importantes dessa técnica
são a participação ativa da criança nas contingências determinantes em relação à mudança de
seu próprio comportamento e o fato de haver mudança comportamental em todas as pessoas
do grupo, não apenas da criança.
Silvares (1995) coloca, no entanto, que outras variáveis além dos pais e da criança se
fazem presentes num trabalho clínico, como os aspectos sociais, que podem ter interferência
no comportamento dois pais. Com isso, é necessário, muitas vezes, ajustas a percepção
familiar em relação ao que elas consideram um problema e dar ênfase nas relações familiares,
e não só apenas no comportamento supostamente inadequado da criança.
Como exemplo da validade da orientação de pais, há um estudo que analisou a eficácia
de um programa baseado nesse procedimento realizado por Marinho e Silvares (2000). Três
grupos de crianças com queixas comportamentais variadas foram comparados e verificou-se
que houve um aumento da emissão de estímulos reforçadores por parte dos pais em 60% dos
casos. Relatou-se, ainda, uma melhora comportamental em 62,5% dos casos, em análise
baseada no Child Behavior Checklist (Achenbach, 1991), instrumento de avaliação
comportamental que será abordado posteriormente no texto. O estudo aponta ainda, que para
possibilitar a independência dos pais em relação ao terapeuta, ensinou-lhes a fazer análise
funcional de seus próprios comportamentos e dos comportamentos da criança a fim de adotar
estratégias de solução de problemas.
27
Um outro trabalho, realizado por Baraldi (2002), mostra que a orientação de pais traz
bons resultados quando implementada no trabalho terapêutico com crianças agressivas. Além
de serem mediadoras atentando para a forma como reagiam aos comportamentos das crianças,
as mães também eram treinadas a dar instruções claras e efetivas. A intervenção provocou
mudanças em termos de freqüência das interações positivas e negativas na relação entre mãe e
crianças, embora não se tenha medido a qualidade dessas mudanças.
No caso específico da enurese, como foi visto anteriormente, a dificuldade geralmente
não está baseada somente nos fatores ambientais, sendo considerada, na verdade, um
problema biocomportamental, em que fatores fisiológicos assumem um papel importante.
Nesse caso, a orientação dos pais praticada pelos especialistas nesse tipo de tratamento
(Houts, 2003, Butler, 1987, e Costa, 2005) está relacionada à informação sobre o problema e
sua forma de tratamento. Com isso, a participação dos pais também ocorre baseada no modelo
triádico, com os pais agindo contingencialmente ao comportamento do filho, que deverá ser
estimulado a cumprir os procedimentos do programa de tratamento e motivado a atingir o
objetivo de ficar seco.
Tendo em vista esse objetivo, o terapeuta instrumentos para que os pais atuem
sobre o comportamento da criança em casa, através das técnicas tradicionais do modelo
triádico ou a partir de procedimentos mais focados para a enurese. Houts e Liebert (1984)
colocam os elementos que devem guiar os pais no tratamento: a) verificar se a criança está
fisicamente pronta para o procedimento; b) decidir se a criança precisa de ajuda profissional
para problemas emocionais ou familiares; c) aprender qual tipo de ambiente familiar é
necessário para que o treino doméstico tenha sucesso; d) sentir-se confiante de que se está se
tomando o caminho certo para seu filho; e e) assumir a responsabilidade pela situação e
trabalhar junto com seu filho e outros membros da família.
Butler (1994), aponta uma série de preditores de sucesso e insucesso do tratamento.
Entre os preditores de insucesso, a falta de cooperação dos pais e a falta de supervisão,
também apontados como preditores de desistência no tratamento.
Um vez que a enurese deve ser tratada como uma problema familiar, com uma solução
que envolve participação tanto dos pais como da criança (Houts & Liebert, 1984), a
orientação de pais nesse caso deve focar a informação no tratamento, as instruções para que
os pais sigam corretamente as etapas, a forma de acompanhar as crianças para que elas
cumpram a sua parte. Segundo o autor, é responsabilidade dos pais fazer um acordo com a
criança que envolve responsabilizá-la pelo seu tratamento, estabelecer uma hora para dormir,
28
realizar treinos de retenção e contenção, elogiar as melhores, não restringir quidos e realizar
o treino de limpeza.
Um dos pontos apontados por Houts e Liebert (1984) é que os pais não devem
pressionar os filhos para se esforçarem mais ou por resultados rápidos. Além disso, não
devem punir ou ridicularizar a criança por conta da enurese. Outro ponto destacado é o
acompanhamento das crianças pelos pais na hora de testar o alarme, fazer a cama e na
ativação do alarme durante a noite. Esses são exemplos de assuntos que podem ser discutido
nas sessões de orientação, uma vez que nem sempre os pais conseguem cumprir de imediato
esse tipo de orientação. Contudo, nesse caso, o sentido da orientação é de fazer com que os
pais modifiquem o seu comportamento para que ofereçam à criança maiores condições de
sucesso, e não para modificar diretamente o seu comportamento.
1.9. Pesquisas no Brasil
uma relativa escassez de estudos sobre o tratamento da enurese noturna no Brasil.
Uma pesquisa no Jornal de Pediatria Online, por exemplo, pelo termo “enurese” no resumo,
traz apenas três artigos sobre o tema. Dois deles são sobre diagnóstico e um é uma revisão da
literatura. Em seguida, são abordados estes artigos e outros relacionados à pesquisas sobre o
tema no país, levantados a partir de consulta online a periódicos da área de psicologia e
urologia nacionais através do portal da CAPES (http://periodicos.capes.gov.br).
Amaro, Goldberg, Trindade, Agostinho e Vercesi (2000) relatam os sintomas
apresentados por cinqüenta e sete crianças com distúrbio de eliminação devido ao atraso de
maturação do reflexo da micção. Oitenta e oito por cento dessas crianças apresentavam
enurese. Contudo, o estudo envolve crianças que apresentaram simultaneamente outros
quadros como incontinência diurna, constipação e urgência urinária, ou seja, com problemas
de base exclusivamente orgânica por trás da enurese, e diferenciando-se das amostras
encontradas em estudos exclusivamente sobre enurese.
Fonseca e Monteiro (2004) investigaram o valor preditivo de sintomas urinários
diurnos para o diagnóstico de disfunção miccional em crianças e adolescentes enuréticos. O
estudo encontrou uma alta relação entre sintomas urinários diurnos levantados via anamnese e
o diagnostico de disfunção miccional, revelado posteriormente por análise urodinâmica. A
enurese se diferencia da micção disfuncional pela ausência de alteração em um dos
componentes do processo de micção.
29
Mota, Victoria e Hallal (2005) realizaram diagnóstico clínico em busca da taxa de
micção disfuncional em 580 crianças de 3 a 9 anos. Cerca de 24% dessas crianças foram
classificadas como sendo portadoras desse quadro. Além disso, o estudo verificou que 20,1%
dos meninos dessa população e 15,1% eram enuréticos. Para o diagnóstico de enurese, foram
consideradas apenas as crianças com mais de cinco anos.
Menezes (2001) executou um levantamento da literatura sobre enurese e concluiu que
não consenso sobre critérios de conceituação, terminologia e classificação, como o que
havia sido relatado por Butler (1998 e 2004). A autora considera, no entanto, que há consenso
sobre o prejuízo da enurese para a auto-estima da criança. Ainda, faz uma análise sobre os
motivos do pouco uso do tratamento com alarme no Brasil: “falta de resultado imediato,
fatores culturais, falta de disponibilidade, modo de comercialização e falta de experiência”
(Menezes, 2001, p. 165).
Um dos poucos estudos sobre atendimento comportamental para a enurese no Brasil
foi realizado por Féra, Lelis, Glasham, Nogueira e Bruschini (2002). Dezenove crianças com
enurese noturna primária foram tratadas seguindo um programa com oito visitas clínicas que
incluía como intervenções comportamentais: modificação na dieta e ingestão de líquidos,
cronogramas de idas ao banheiro, micção dupla, ir ao banheiro antes de dormir, despertador
(acionado de 3 a 4 horas após o horário de dormir), exercícios pélvicos, modificações
ambientais, mudanças na atitude parental, melhora da auto-estima e cuidado próprio. Embora
todas as crianças tenham tido reduções nas “molhadas”, apenas 7 entre as 19 alcançaram 14
noites sem “molhadas”, um valor considerado baixo, talvez pelo fato do principal elemento do
programa, o despertador, não ser acionado diretamente no momento em que a bexiga está
cheia, como o alarme de urina. Os outros procedimentos são considerados auxiliares num
programa de tratamento psicológico baseado no alarme (Butler e Gasson, 2005).
Como pode ser observado, existe pouca literatura sobre o diagnóstico e tratamento
específico da enurese no Brasil. A partir do desenvolvimento de pesquisas no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo, pôde-se ter uma dimensão maior das nuances e
possibilidades do tratamento comportamental com uso de alarme na população brasileira. O
grupo responsável por essas pesquisas é referido como Projeto Enurese”, cujo histórico será
visto na próxima seção.
30
1.9.1. Histórico do Projeto Enurese
O Projeto Enurese teve início em 1992 por iniciativa da Profa. Edwiges Ferreira de
Mattos Silvares, atualmente Titular no Departamento de Psicologia Clínica no Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo. A idéia originou-se a partir da visão de um trabalho
diferenciado na clínica-escola, que adentrasse a comunidade e oferecesse na clínica também
trabalhos preventivos. Além disso, buscava-se introduzir no país uma alternativa eficaz para o
tratamento que já era tão difundida em outros locais, mas ainda não existia no Brasil.
O atendimento sempre seguiu o que se tinha como consensual na literatura
internacional, que era o favorecimento ao tratamento psicológico com uso de alarme. Os
primeiros alarmes foram importados da Inglaterra. Através de parceria com a Escola
Politécnica da USP, um projeto de desenvolvimento do alarme nacional foi iniciado. Passou-
se a fabricar unidades sensoras nacionais e em seguida unidades sonoras nacionais, criando
assim o sistema completo com projeto e fabricação brasileiros (Costa, 2005).
O primeiro trabalho acadêmico realizado pelo grupo de pesquisa foi de autoria de
Oliveira, que em 1999 tratou de duas crianças com um modelo de aparelho de alarme
importado, sendo bem-sucedida nos dois casos. Ambas as crianças tinham nove anos de
idade, sendo que uma era do sexo feminino e outra do sexo masculino. As duas apresentavam
uma taxa elevada de “molhadas” por semana no início do atendimento, taxa esta que caiu a
zero durante a intervenção com o alarme. O seguimento, feito dez semanas após o término do
tratamento, verificou que o houve recaídas. Esse estudo pioneiro mostrou que o tratamento
com o alarme era viável na realidade brasileira e abriu as portas para que outros estudos com
maior número de participantes se seguissem.
Em 2002, a FAPESP aprovou a concessão de Auxílio à Pesquisa desenvolvida pelo
grupo. O objetivo era implementar e validar essa forma de atendimento à enurese ainda pouco
difundida no Brasil. Com isso, pôde-se dar início à fabricação de alarmes nacionais,
juntamente com as unidades sensoras, o que possibilitou o atendimento de enuréticos em
maior escala.
Silva, em 2004, realizou outro trabalho no nível de mestrado, cujo objetivo principal
era verificar a eficácia do tratamento com atendimentos em grupo para enurese noturna,
aliando o uso do aparelho nacional de alarme a grupos de terapia infantil e sessões de
orientação de pais. Os objetivos específicos eram: a) verificar quantitativamente, através de
escalas comportamentais, diferenças obtidas na percepção dos pais sobre os filhos antes e
após o tratamento; b) verificar a evolução da enurese das crianças dos grupos de atendimento
31
e de controle através de registros semanais dos episódios de descontrole e controle noturno; e
c) relacionar os dados obtidos através das escalas aplicadas às famílias antes e após o
tratamento e a evolução das freqüências de episódios enuréticos das crianças que sofreram
intervenção. Quinze crianças, divididas entre quatro grupos, foram atendidas e seus resultados
comparados aos de onze crianças que formaram dois grupos controle. Somando-se os grupos
de atendimento, 67% das crianças obtiveram o critério de sucesso, enquanto um dos grupos
controle obteve 33% de sucesso e em outro não foi verificada nenhuma remissão espontânea.
Esse estudo teve uma taxa de melhora comparável à da literatura, mostrando que o
atendimento grupal aliado à orientação de pais e ao uso do alarme era viável, uma vez que
tinha resultados semelhantes aos esperados.
Costa, em 2005, concluiu um trabalho de pesquisa que teve como objetivo principal:
a) verificar se a intervenção comportamental em grupo com uso de aparelho de alarme para
adolescentes com enurese noturna é eficiente, e em que medida, se comparado com o
atendimento individual; e como objetivos específicos: b) testar o uso do aparelho nacional de
alarme de urina para atendimento de adolescentes; e c) verificar se a eficiência do modelo
triádico de atendimento psicológico individual no tratamento de EN em adolescentes, tendo
como adjunto auxiliar o aparelho de alarme nacional se amplia para o tratamento grupal. Para
tanto, foram atendidos 22 adolescentes divididos em dois grupos, sendo um caracterizado pelo
atendimento individual e os outros dois pelo formato grupal. O tratamento utilizado envolveu
sessões terapêuticas com os adolescentes, orientação de pais e utilização do alarme nacional
de urina. No total dos participantes, 81,81% atingiu o critério de sucesso no tratamento,
correspondentes a 78,57% dos adolescentes atendidos coletivamente e 87,50% dos atendidos
em grupo. Embora os dois índices sejam superiores à média encontrada na literatura (Butler,
2005), o tratamento individual mostrou-se ligeiramente mais efetivo, tanto na quantidade de
sucessos como no tempo despendido até o seu alcance. Essa conclusão confirma que o
atendimento em grupo, em situações em que a economia do tratamento é um fator primordial,
como as clínicas-escola, é altamente indicado.
O presente trabalho surge em seguida, na tentativa de responder se diferenças entre
atendimentos grupais e individuais e entre crianças e adolescentes sem o viés de terapeutas
diferentes. Houve, no seu momento de início algumas mudanças em relação à forma de
trabalho no grupo. O processo de triagem ganhou uma rotina que dava maiores garantias do
interesse dos participantes e o critério de alta foi modificado, principalmente a partir da leitura
de artigos recentes (Butler, 2002 e Houts, 2003). Embora o critério de sucesso não houvesse
32
mudado, o critério de alta passou a ser associado à superaprendizagem e não mais de oito
semanas corridas.
No momento de conclusão desse trabalho, desenvolvia-se também um outro projeto de
mestrado, por uma bolsista da FAPESP, com o intuito de averiguar a interferência que outros
problemas de comportamento podem ter sobre a enurese. Estava em implementação outra
mudança nos critérios, reduzindo de 40 para 26 semanas o tempo de atendimento com o
alarme, também para uniformização com a literatura especializada (Butler et al., 2004; Butler
& Gasson, 2005).
Além disso, Costa (2005) inicia um projeto de orientação a profissionais à distância,
visando a difusão do tratamento.
Ao mesmo tempo, houve um trabalho de seguimento das crianças atendidas para
verificar a eficácia a longo prazo do tratamento (Meneghello, Pereira e Silvares, no prelo).
Embora o contato com os clientes atendidos fosse difícil, observou-se entre os contatados
que a taxa de recaída situou-se em torno de 9%, abaixo do esperado pela literatura. A busca
pelos fatores moderadores do tratamento visa esclarecer esse dado. Uma hipótese é a de que o
atendimento psicológico, um diferencial do Projeto Enurese frente a outros programas
estrangeiros, pode ajudar na generalização no tempo dos ganhos adquiridos quando em
tratamento.
Discutia-se, no momento, um projeto para início em 2006 em que as famílias
pudessem ser acompanhadas à distância, e haveria como objetivo a comparação entre o
acompanhamento pessoalmente na clinica e à distância, através de contato telefônico.
A trajetória do projeto mostra que o mesmo se iniciou buscando uma alternativa
nacional que fosse eficaz para o tratamento da enurese. Em seguida a busca foi por modos de
atendimento mais econômicos, que pudessem atender uma demanda maior. No momento
deste trabalho, buscava-se encontrar as variáveis moderadoras que podem interferir no
tratamento, bem como formas ainda mais econômicas e eficazes para o combate à enurese,
que está entre os problemas mais comuns na infância.
33
1.10. Relevância do Projeto frente a outros estudos
O presente trabalho tem relação com outros dois projetos de pesquisa concluídos
pela equipe do Projeto Enurese, desenvolvidos por Noel Dias da Costa (2005) e Rosemar
Aparecida Prota da Silva (2004), respectivamente. O primeiro teve como objetivo comparar
os resultados dos atendimentos individual e grupal em adolescentes apenas, enquanto o
segundo buscou verificar a eficiência do tratamento grupal em crianças, baseado em
comparações com grupos controle, que não são atendidos.
O presente trabalho busca atender à necessidade de abordar questões ainda o
estudadas, e de importância vital para a compreensão do tratamento da enurese através do
aparelho de alarme. A primeira é comparar a eficiência do tratamento em crianças e
adolescentes, avaliando também as diferenças no tempo de duração do processo clínico.
Arantes (no prelo) sustenta que há uma tendência de que a enurese provoca um impacto maior
na vida de adolescentes do que na de crianças. Além disso, os adolescentes teriam condições
de entender melhor o tratamento a que são submetidos. Não se sabe se o maior impacto que os
adolescentes sofrem ajuda ou dificulta o tratamento da enurese. Para realizar essa comparação
sem a interferência da variável terapeuta, é preciso que um mesmo pesquisador atenda tanto
crianças quanto adolescentes.
Outro ponto relevante no tratamento de enurese e para o qual o presente trabalho se
volta é a comparação entre formas de tratamento: individual e grupal. Comparando os
resultados de adolescentes e crianças, realizados pelo mesmo terapeuta, é uma questão central,
pois tem influência direta sobre o método mais eficiente de atendimento em clínicas-escola
que melhor atenda a demanda da população carente de atendimento psicológico para enurese.
Caso o atendimento grupal seja eficaz, sem uma grande diferença em termos de duração em
relação ao atendimento individual, ele pode se consolidar como um modelo viável de
atendimento para a enurese, atendendo melhor a demanda. Contudo, para que isto seja
verificado, é necessário que se faça uma comparação o mais fidedigna possível, eliminando
variáveis que possam interferir no resultado.
34
2. Objetivos e hipóteses
2.1. Objetivo Geral
Comparar a eficácia da intervenção individual e intervenção em grupo para
crianças e adolescentes com queixa de enurese noturna primária, utilizando,
como auxiliar da intervenção, um aparelho de alarme urina de fabricação
nacional.
2.2. Objetivos específicos
Comparar a eficácia do atendimento entre crianças e adolescentes.
Comparar a eficácia do atendimento individual x grupal para crianças.
Comparar a eficácia do atendimento individual x grupal para adolescentes.
2.3. Hipóteses
O tratamento com uso de alarme seria efetivo tanto para atendimento grupal e
individual, dentro do que é esperado de acordo com a literatura (entre 60% e
75% de sucesso).
Ambos os tratamentos seriam igualmente efetivos, mas o individual poderia
trazer ganhos mais rápidos.
O tratamento de grupo poderia trazer melhoras maiores nos problemas de
comportamento quando comparados com o atendimento individual.
O tratamento em grupo poderia trazer maior ganho nas competências sociais
do que o individual.
Crianças, por serem menos impactadas e terem menos problemas associados à
enurese, poderiam ter uma melhora mais rápida quando comparadas aos
adolescentes.
Haveria uma relação entre o término da enurese e uma diminuição dos
problemas de comportamento.
35
3. Método
3.1. Amostra
3.1.1. Critérios de Inclusão
a) ter participado de entrevista para cadastramento;
b) ter como queixa principal a enurese noturna monossintomática e preencher
os critérios de diagnóstico do DSM-IV;
c) ter disponibilidade para comparecer semanalmente em sessão terapêutica.
d) ter permanecido no atendimento até o momento de entrega do alarme, para
se garantir uma quantidade mínima de dados
e) idade entre 6 e 10 anos para inserção no atendimento infantil
f) idade entre 11 e 18 anos para inserção no atendimento a adolescentes
3.1.2. Critérios de Exclusão
a) ter idade menor do que 6 anos ou maior do que 18 anos.
b) estar, no momento da procura por nosso atendimento, em outro
atendimento para a enurese noturna monossintomática.
c) ter enurese diurna.
d) ter distúrbios de ordem renal ou neurológica.
e) ter infecção crônica do trato urinário.
3.1.3. Atendimento de crianças em grupo: foram atendidas nesse formato 12 crianças,
em dois grupos distintos, sendo um com três crianças e outro com nove. Dentre essas 12, uma
delas, do último grupo, foi excluída da amostra por não ter uma linha da base consistente que
permitisse verificar alteração no padrão de “molhadas”, resultando em N=11.
36
Tabela 2 - Caracterização das crianças atendidas em grupo
Grupo Identificação Idade Sexo
1 MG 7 M
1 BN 6 M
1 MF 7 M
2 AC 9 F
2 BJ 7 F
2 CF 7 M
2 DR 6 M
2 GF 7 M
2 JC 8 F
2 MC 8 M
2 PN 7 M
Verifica-se, na Tabela 2, uma predominância de crianças do sexo masculino, como é
esperando de acordo com a literatura, que confirma a maior prevalência entre os meninos.
3.1.4. Atendimento de crianças individualmente: oito crianças foram atendidas
individualmente. Uma delas foi excluída da amostra por se descobrir, posteriormente, que era
portadora de espinha bífida, sendo imputado a ela um dos critérios de exclusão, resultando em
N=7.
Tabela 3 - Caracterização das crianças atendidas individualmente
Identificação Idade Sexo
HF 9 M
CA 6 M
RN 6 F
WB 8 M
GS 6 M
KL 7 M
FA 7 M
HF 9 M
Observa-se, na Tabela 3, que entre as crianças atendidas individualmente também houve
maior prevalência de participantes do sexo masculino.
3.1.5 Atendimento de adolescentes individualmente: foram atendidos sete adolescentes
nesse formato. Contudo, um deles obteve remissão espontânea antes da entrega do alarme.
Embora isso possa ter sido um efeito do atendimento, estabeleceu-se como critério que seriam
incluídos apenas aqueles que tivessem recebido o alarme para fins de padronização da
amostra. Nesse grupo, o N=6.
37
Tabela 4 - Caracterização dos adolescentes atendidos individualmente
Identificação Idade Sexo
JG 16 M
ED 12 M
LF 11 M
FS 14 M
CB 17 F
JA 11 M
A Tabela 4 mostra que, mesmo com a literatura apontando uma menor diferença no
número de meninos e meninas enuréticas durante a adolescência, a predominância de
participantes do sexo masculino se manteve nesse grupo.
3.1.6 Atendimento de adolescentes em grupo: foi realizado um grupo de atendimento
com oito participantes, sendo que nenhum deles foi excluído da amostra, resultando em N=8.
Tabela 5 - Caracterização dos adolescentes atendidos em grupo
Identificação Idade Sexo
AS 14 M
AB 13 M
BM 12 F
BR 12 M
FF 13 M
MV 14 M
RC 14 M
GH 11 M
Entre os adolescentes atendidos em grupo, como pode ser observado na Tabela 5,
também houve grande predominância dos participantes do sexo masculino. Além disso,
observa-se que todos os adolescentes do grupo tinham entre 11 e 14 anos de idade.
38
3.2. Procedimento
3.2.1. Instrumentos
3.2.1.1. Registro semanal de “molhadas” (anexo 1)
Consiste numa folha com os dias da semana em linhas e colunas nas quais a família
assinala se a criança acordou seca e molhada, além de espaço para observações como tamanho
da mancha, hora das “molhadas” e outros. Deve ser entregue semanalmente, sempre que
sessão de atendimento.
3.2.1.2. Registro mensal de “molhadas” (anexo 2)
Similar ao registro semanal, porém com cerca de 30 linhas correspondente aos dias. É
utilizado na triagem para que a família preencha enquanto aguarda atendimento e forneça
dados para a linha de base ou entregue à família antes dos períodos de recesso.
3.2.1.3.Child Behavior Checklist
Uma vez que o CBCL é um dos instrumentos de avaliação mais importantes utilizados
neste trabalho, norteando tanto encaminhamentos e condutas terapêuticas iniciais, como
mostrando as evoluções que ocorreram durante o tratamento. Faz-se necessário um
detalhamento tanto das características do instrumento quanto de suas aplicações.
O Child Behavior Checklist (CBCL) é um instrumento de avaliação, com rios eixos,
desenvolvido por Achembach (1991). Ele consiste num formulário respondido pelos pais da
criança sobre o comportamento dela. Geralmente, os responsáveis pela criança são os maiores
conhecedores dos comportamentos da criança independentemente do tempo de convívio com
eles. Outros instrumentos complementares desenvolvidos pelo autor podem indicar a
percepção de outros adultos que tem contato com a criança, como os professores, por
exemplo. A descrição do instrumento apresentada aqui se baseou no Manual for the Child
Behavior Checklist/4-18 and 1991 Profile (Achembach, 1991).
A comparação básica feita para construção do instrumento e é aqui que se pautam os
resultados obtidos com ele é entre crianças encaminhadas ou o encaminhadas para a
clínica. Ou seja, o CBCL é um instrumento baseado em dados estatísticos sobre os
comportamentos dessas crianças, e não em critérios diagnósticos.
39
3.2.1.3.1. Aplicação do CBCL
O CBCL pode ser preenchido pela maioria dos pais que conseguem ler. Alguns deles
conseguem completá-lo em 10 minutos, embora seja mais típico que se leve de 15 a 17
minutos. Caso haja algum problema para a leitura do pai, um entrevistador pode ler uma cópia
do instrumento e anotar as respostas para as questões.
3.2.1.3.2. Competências
As respostas ao questionário são divididas em rios eixos. O primeiro deles é formado
pelas escalas de competência. Essas escalas podem servir para diagnóstico e prognóstico de
crianças encaminhadas para tratamento. As habilidades envolvidas aqui, ao contrário de
muitos testes que avaliam as competências cognitivas e acadêmicas, são chamadas de
competências. O questionário pede que os pais relatem a quantidade de esportes e atividades
nas quais a criança se insere, além de determinarem a freqüência e o grau de envolvimento
com cada uma delas. O escore é baseado no número de atividades e na média da qualidade
das participações. Com isso, se uma criança gosta de apenas um esporte, mas o pratica com
freqüência e se sai bem nele, pode ter uma pontuação alta. O questionário avalia da mesma
forma a participação da criança em organizações e nos trabalhos que ela executa, pagos ou
não (como fazer a cama, cuidar de outra criança, trabalhar numa loja). O eixo de competência
social também inclui questões relativas às amizades da criança, em como ela se relaciona com
irmãos, colegas e pais e em como ela trabalha ou brinca sozinha. ainda um item que pede
que os pais avaliem o desempenho acadêmico do filho ou filha, anotando também se a criança
passou por classes especiais ou pro problemas na escola. Finalizando o primeiro eixo,
existem duas questões abertas que não contam para a pontuação do teste, mas fornecem
informações adicionais sobre os problemas e os aspectos positivos da criança, no que diz
respeito à sua competência social.
Uma vez que crianças de quatro ou cinco anos não costumam freqüentar escolas onde o
desempenho acadêmico é avaliado de forma regular, esse aspecto é desconsiderado para
crianças nessa faixa etária. Além disso, como não discriminação nos resultados de crianças
dessa faixa etária, o eixo de competência não foi normatizado para esses casos.
A normatização das escalas de competência foi feita a partir de uma amostra de crianças
encaminhadas que não tinham passado por atendimento de saúde mental nos últimos doze
meses. Crianças cujos escores foram superiores aos dessas crianças a partir do percentil 98
foram consideradas pertencentes à faixa clínica. Parte dessas crianças foram consideradas
40
sujeitos “saudáveis” e foram tomados como referência na amostra normativa. Obviamente,
esse critério pode falhar pelo fato de crianças com problemas não serem encaminhadas por
diversas razões, como, por exemplo, a falta de preocupação dos pais. Por outro lado, crianças
sem problemas também podem ser encaminhadas para a clínica por preocupação excessiva
dos cuidadores.
Além do encaminhamento para a clínica, foi considerado também critério para definição
entre “saudável” e “problemática” (healthy e disturbed no original) a presença em classes
especiais, por conta de uma lei norte-americana que obriga que as escolas forneçam
acompanhamento especial para crianças com problemas comportamentais ou emocionais
graves.
O escore total de competência é a soma dos escores brutos das escalas Atividades,
Escola e Social. Se alguma delas estiver faltando, a competência total não pode ser calculada.
Considera-se uma criança como estando na faixa clínica quando o escore resultante na
escala de competências é inferior a 37; escores entre 37 e 40 situam a criança na faixa
borderline.
3.2.1.3.3. Problemas de Comportamento
A segunda parte do instrumento é focada em problemas de comportamento. Vários tipos
de problemas emocionais ou comportamentais são apresentados, e os pais devem, para cada
um deles, selecionar se para a sua criança aquela afirmação é freqüentemente verdadeira,
algumas vezes verdadeira ou falsa. Os itens foram elaborados a partir de estudos anteriores do
mesmo autor, da literatura clínica e entrevistas com profissionais da área de saúde. O
instrumento foi aprimorado na sua fase de testes através de esboços sucessivos que contaram
com a colaboração desses profissionais, além de sugestões dos pais. A partir desse esforço
foram computados os 118 itens de problemas de comportamento que fazem parte do
instrumento. Além disso, espaço para que os pais adicionem outros problemas que não
estejam entre os itens. Tentou-se evitar a redundância entre os itens, para evitar correlações
que ocorrem quando dois ou mais itens refletem o mesmo problema. Em alguns casos, é
pedido que o pai descreva o comportamento, para se verificar melhor se realmente
correspondência, como no item 9 (não consegue tirar pensamentos da cabeça, obsessões).
Alguns pais colocam descrições como: “só pensa em brincar”, e isso claramente o
caracteriza uma obsessão. Neste caso, a pontuação do item deve ser desconsiderada. Por outro
lado, as descrições também podem ajudar a clarificar aquilo que os pais têm em mente.
41
A escala de três itens (não verdadeira, algumas vezes verdadeira, freqüentemente
verdadeira) foi escolhida por ser mais fácil do que a escolha entre presente ou ausente.
3.2.1.3.4. Escalas de Síndrome, Agrupamentos e Problemas Totais
Além de descrever as crianças em termos de muitos itens específicos, o CBCL é
desenhado para identificar síndromes de problemas que podem ocorrer juntos. A palavra
síndrome refere-se a problemas que tendem a ocorrer juntos, sem implicar num modelo
particular para a natureza de causas ou transtornos. Em vez de assumir que as síndromes
existam a priori, as síndromes foram derivadas quantitativamente a partir de problemas
presentes nos perfis de crianças encaminhadas para a clínica pelos seus pais. As síndromes
foram estabelecidas a partir de análises de correlação feitas entre os itens do instrumento.
O CBCL avalia síndromes específicas, que formam dois grupamentos principais:
Síndromes internalizantes: isolamento, queixas somáticas e ansiedade e depressão.
Síndromes externalizantes: comportamento delinqüente e comportamento agressivo.
Síndromes que não se encaixam nos grupamentos acima: problemas sociais, problemas
de pensamento, problemas de atenção e problemas sexuais.
Os escores, nas escalas de síndromes, se distribuem entre as seguintes faixas: (1)
normal: abaixo de 67; (2) borderline: entre 67 e 70; e (3) clínico: acima de 70. Para o escore
de problemas totais, a faixa borderline se situa entre 60 e 63 pontos, sendo normal abaixo de
60 e clínico acima de 63. Basicamente os escores de corte se basearam no percentil 98, ou
seja, a faixa clínica corresponde a 2% das crianças não encaminhadas para a clínica.
Os grupamentos internalizantes e externalizantes refletem associações empíricas sobre
grupos de escalas que envolvem tipos de problemas contrastantes. Contudo, eles não são
exclusivos. Na verdade, a correlação média entre os dois grupos é de .52, o que significa que
crianças que tenham pontuação alta em um dos grupos tendem a ter pelo menos uma
pontuação média na outra área. Embora haja essa associação, muitas crianças têm problemas
primariamente internalizantes ou externalizantes.
3.2.1.4. Entrevista semi-estruturada com a criança (Butler, 1987, anexo 3) e escala de
impacto (anexo 4)
Estas duas entrevistas são realizadas com o objetivo de verificar a percepção da
criança sobre a enurese, assim como o impacto que ela causa em sua vida. A entrevista semi-
estruturada pode ser avaliada qualitativamente, para fins de avaliação diagnóstica, ou
42
quantitativamente para fins de pesquisa. Para maiores informações, vide Arantes (2006, no
prelo).
A escala de impacto contém uma série de frases correspondentes a acontecimentos
relativos à enurese sobre as quais a criança deve assinalar a freqüência, também para fins de
avaliação diagnóstica ou pesquisa (Butler, 1987).
3.2.1.5. Formulário de avaliação de enurese (Blackwell, 1989, anexo 6)
Tem a função de verificar a procedência da queixa de enurese, bem como sua natureza
(primária, secundária, monossintomática, diurna ou noturna); verificar comorbidades, como
encoprese e verificar históricos de saúde e outras informações médicas relevantes. A principal
função desse instrumento é verificar se o participante se encaixa ou não nos critérios de
inclusão da pesquisa.
3.2.1.6. Escala de intolerância (Morgan & Young, 1975, anexo 7)
Verifica a percepção dos pais em relação ao problema, mas especificamente o quão
tolerante cada um deles é em relação à enurese. Por isso, pede-se que cada um dos pais
preencha o instrumento separadamente.
3.2.1.7. Instruções gerais (adaptado de Johnson, 1983) (anexo 8)
Consiste numa lista de instruções para a criança e a família sobre como utilizar o
alarme, o que fazer em caso de sua ativação e outras informações como restrição de líquidos e
preenchimento do registro.
3.2.2. Avaliação e triagem
Quando se pretende realizar qualquer tipo de tratamento, é preciso antes realizar uma
avaliação diagnóstica, que, quando se trata de psicologia comportamental, consiste na
identificação do problema e análise funcional, para que a partir daí se possa selecionar a
melhor forma de tratamento (Silvares, 2000). O molhar a cama é um problema
biocomportamental (Houts, 1991) e, portanto, precisa de uma avaliação que contemple essas
duas esferas de fatores determinantes. Não se pode deixar de ressaltar que, como descrito no
DSM-IV (American Psychiatric Association, 2002), o problema não se deve a uma condição
43
clínica geral, como espinha bífida ou bexiga neurogênica, por exemplo. O termo
biocomportamental se refere à etiologia da enurese, que envolve fatores orgânicos e de
aprendizagem. Os instrumentos utilizados na triagem e a avaliação realizada nas primeiras
sessões têm como objetivo dar conta das nuances biológicas e comportamentais em cada caso
de enurese.
Além disso, é preciso verificar se existem alguns problemas de comportamento que
segundo Houts (2003) devem ser resolvidos antes de se dar início ao tratamento da enurese:
índice alto de comportamentos externalizantes (acima de 70 no Child Behavior Ckecklist),
distúrbio de conduta, desajustamento marital e estrutura familiar caótica. Nós poderíamos
simplesmente encaminhar os casos para tratamento psicológico, mas quando situamos essas
condições dentro da realidade dos nossos clientes, notadamente os de classe econômica mais
baixa, percebemos que seria melhor se nós mesmos tentássemos abordar esse problema ao
longo do tratamento da enurese, o que, na maioria das vezes, vem dando bons resultados. Por
isso, ao contrário do que Houts (2003) recomenda, não consideramos o escore acima de 70
com um critério de exclusão e sim um fator de atenção no início do atendimento.
A partir do conhecimento desses fatores, foi estabelecido o seguinte modo de inscrição
e triagem dos participantes no programa:
a) O atendimento é divulgado através de meios de comunicação como rádio,
panfletos, jornais de bairro, fornecendo telefone do departamento de psicologia
clínica para contato.
b) No contato telefônico, são obtidos os seguintes dados: nome da criança, idade,
sexo, nome dos pais, endereço, telefone, possibilidade de comparecer a sessões
semanais e é solicitada a realização de exames médicos, preferencialmente com um
urologista, quando resposta negativa sobre ter realizado consulta com esse
especialista.
c) Em seguida são enviadas pelo correio duas cópias do Child Behavior Checklist
(CBCL, Achembach, 1991). O envio dos CBCLs preenchidos pelos pais de volta à
equipe, em envelope selado enviado juntamente com os questionários, é a condição
para que a família seja chamada para uma entrevista de triagem.
d) Quando os CBCLs são recebidos pela equipe, o processamento dos dados é feito e
uma entrevista de triagem é marcada. Caso haja duas tentativas de entrevista em que
a família não comparece sem justificativa, ela é considerada desistente. O trabalho é
feito nas salas do Laboratório de Terapia Comportamental do IPUSP. Todas as
sessões, a partir da triagem, são gravadas e arquivadas para estudo. Por isso, já no
44
início da triagem, solicita-se que os pais assinem um termo de anuência às gravações
(Anexo 9).
e) A triagem é uma sessão única conduzida por dois membros da equipe com uma
família de cada vez. O tempo de duração situa-se em torno de um hora, necessário
para aplicação de todos os instrumentos. A família comparece juntamente com a
criança e o adolescente. Um dos responsáveis realiza uma entrevista com a criança,
enquanto outro membro da equipe, numa sala separada, entrevista os pais ou
responsáveis.
f) No contato com a criança, são aplicados os seguintes instrumentos:
a. Entrevista semi-estruturada com a criança (Butler, 1987)
b. Escala de impacto
g) Na entrevista com os pais, utiliza-se:
a. O formulário de avaliação de enurese (Blackwell, 1989)
b. Escala de intolerância (Morgan & Young, 1975)
h) Os dados obtidos pela triagem são processados pela equipe e organizados em
prontuários individuais para cada criança. A equipe discute os casos sob supervisão
e encaminha os que se encaixam nos critérios de inclusão para a seleção aleatória,
enquanto os que não se encaixam são dispensados ou encaminhados para
atendimentos individuais pelos membros da equipe, excluindo-se da amostra da
pesquisa.
i) O encaminhamento dos participantes para atendimento individual ou grupal é
aleatório. Para garantir que todos os participantes de atendimentos grupais pudessem
comparecer durante a semana, os atendimentos grupais foram realizados nos sábados
(exceto o grupo infantil 1), já que haveria menor possibilidade de que alguma
família o pudesse comparecer. os atendimentos individuais foram realizados de
acordo com a disponibilidade de horário da família e do pesquisador.
Com a divulgação do Projeto, muitas crianças que a princípio não se encaixariam no
diagnóstico de inclusão, ou que apresentam comorbidades, acabam procurando o serviço.
Como colocado por Silvares e Pereira (no prelo), um esforço da supervisora e da
equipe para atender esses casos, que eles podem ser muito importantes para a formação dos
alunos, além de oferecer assistência a essas pessoas.
Alguns participantes, enquando esperam o atendimento, participam do grupo de espera
recreativo (Guerrelhas, 2000), que consiste em reuniões semanais em que as crianças vão até
a clínica para brincar com outras crianças com o mesmo tipo de problema, supervisionadas
45
por uma estagiária do curso de graduação em psicologia. Os benefícios do grupo recreativo
são: familiarização com a clínica-escola, redução na evasão durante o período de espera e
possibilidade de observação de comportamentos relevantes para posterior diagnóstico.
3.2.3. Forma de tratamento
Embora tenhamos duas modalidades de tratamento, a individual e de grupo, os
objetivos para ambos são os mesmos. O principal, obviamente, é promover com sucesso um
tratamento que livre a criança das “molhadas” na cama. Por isso, adotamos como critério para
sucesso da intervenção o tempo de 14 noites secas consecutivas. Existe uma certa
discrepância entre os critérios utilizados nos estudos farmacológicos e psicológicos (Butler,
2004). Enquanto os estudos com medicamentos focalizam a redução de “molhadas” em
comparação com a linha de base, os psicológicos costumam adotar a eliminação das
“molhadas”. Adotamos esse critério por, além de mantermos a concordância com outros
trabalhos do tipo, entendermos que uma criança que tenha redução de “molhadas”, mas
continue sendo enurética, mantém as dificuldades e constrangimentos provenientes dessa
condição. podemos assumir que os ganhos para a sua vida serão completos se houver
sucesso prolongado, que é a manutenção do sucesso inicial após seis meses de tratamento.
Assim sendo, os critérios por nós utilizados são (adaptado de Butler, 1994 e 2004):
Sucesso inicial: 14 noites consecutivas sem “molhadas”.
Sucesso continuado: sem recaída por um período de seis meses após o sucesso inicial.
Alta: dispensa do tratamento após obtenção do sucesso inicial e realização da
superaprendizagem.
Sem sucesso: falha em obter o sucesso inicial, excluindo-se as desistências.
Recaída: mais de duas noites com “molhadas” em duas semanas.
Desistências: faltas em dois encontros consecutivos ou abandono do tratamento.
Saída inevitável: abandono do tratamento por motivos de força maior (e.g. mudança
de cidade, morte de parente próximo).
3.2.3.1. Procedimento clínico
Baseamos os procedimentos adotados nos tratamentos principalmente em dois autores:
Houts (2003) e Butler (1994). O primeiro propõe o Full-Spectrum Home Training, do qual
46
seguimos a recomendação do uso de alarme, a questão do envolvimento familiar, o treino de
retenção, o treino de limpeza e a superaprendizagem. Da obra do segundo autor, Nocturnal
Enuresis: The Child Experience, além dos itens citados, soma-se também o suporte às
famílias, o conceito de responsabilidade ativa, o treino de controle de esfíncter, as técnicas de
despertar e a restrição a alguns líquidos. Passemos a descrição de cada um desses
procedimentos.
a. Aparelho de alarme: o modelo utilizado nos nossos trabalhos é o “campainha e
tapete” (bed and pad alarm), que é formado por um dispositivo sonoro com uma
pequena luz vermelha e um botão liga-desliga; esse dispositivo é ligado por um
cabo a uma esteira de plástico coberta com uma camada de alumínio. Quando em
contato com a urina, a corrente passa pelas tiras de alumínio fechando o circuito
elétrico e fazendo soar o alarme. O sistema é alimentado por uma bateria de nove
volts. O alarme deve ser colocado na cama da criança todas as noites durante o
tratamento. Contudo, o alarme é indicado nos casos em que a família tem uma
relação de tolerância com o enurético, ou seja, age sem culpar a criança e com
cada um de seus membros assumindo a responsabilidade de ajudar a criança
enurética. Enquanto esse estágio não é atingido, esses aspectos devem ser
trabalhados durante o atendimento, para viabilizar o alarme.
b. Envolvimento familiar: este fator é essencial para o sucesso do tratamento.
Primeiro, porque a criança não daconta de arcar sozinha com os procedimentos.
Segundo, porque parte dos ganhos vêm da aceitação da família que a dificuldade
não é culpa da criança, e que ela precisa de ajuda para superar o problema. O
trabalho pode ser penoso, principalmente para os enuréticos que molham mais de
uma vez por noite. Por isso, consideramos que o acompanhamento semanal pelo
psicólogo é fundamental para aumentar as chances de sucesso. À família cabe
auxiliar no uso do alarme e nos treinos. Adicionalmente, a família pode estabelecer
contratos de contingência com a criança a fim de alcançar determinadas metas.
c. Suporte às famílias: esta é uma preocupação constante dos
terapeutas/pesquisadores do Projeto Enurese, e essa é a função principal dos
atendimentos semanais. O objetivo é tratar da ansiedade tanto das crianças como
dos pais em relação ao problema, informar sobre o tratamento e garantir a adesão
ao mesmo. A forma específica como esse processo acontece depende do formato
do atendimento, que será discutido adiante.
47
d. Responsabilidade ativa: consiste em fazer a criança sentir que tem o controle
sobre seu próprio comportamento e transformá-la em participante atuante do
tratamento. Para isso, coloca-se que ela é responsável por ligar e desligar o alarme,
preencher o registro de “molhadas” e realizar os treinos; essas são as maneiras que
ela tem de controlar aquilo que até o momento ela não imaginava ter condições de
controlar.
e. Treino de retenção: neste exercício, oferece-se à criança cerca de dois copos de
algum líquido que ela goste, de uma vez. É solicitado que ela avise quando sentir
vontade de urinar. A partir do momento em que sente a vontade, deve-se marcar
no relógio três minutos, e só então a criança pode ir ao banheiro esvaziar a bexiga.
O treino deve ser repetido diariamente, aumentando-se o tempo entre a vontade e a
micção de três em três minutos, até chegar a quarenta minutos. A função deste
procedimento é aumentar a capacidade funcional da bexiga.
f. Treino de limpeza: consiste em, ao acordar molhado, levantar-se da cama, trocar o
pijama sujo por outro deixado pelos pais, pronto, antes da hora de dormir, e
trocar também o lençol da cama por um limpo. A roupa usada deve ser colocada
num cesto ou outro local estabelecido pela família. Geralmente esse procedimento
é realizado em conjunto com o uso de alarme, assim que este é acionado pela
urina, acordando a criança.
g. Treino de controle do esfíncter (stop-start): orienta-se a criança a, após começar a
urinar, contar até três e segurar a urina. Em seguida, conta-se até três e volta a
soltar. Essa seqüência é repetida por seis vezes. A prática da seqüência é feita
apenas uma vez por dia. O objetivo é fortalecer o controle do esfíncter uretral e os
músculos da pelve responsáveis pela contração de “segurar” a urina.
h. Técnicas de despertar: é muito importante que a criança consiga acordar com o
alarme o mais rápido possível. Para isso, pode-se empregar algumas estratégias,
como criar uma “competição” entre a criança e os pais para ver quem chega antes
ao alarme. Outra estratégia é fazer com que a criança, durante o dia, ao urinar,
ouça o som do alarme e pare imediatamente em resposta. Além disso, para ter
certeza de que a criança acordou, durante a noite, os pais podem estabelecer uma
palavra-chave. Só após dizê-la em voz alta a criança pode desligar o alarme.
i. Restrição de líquidos: embora nem todos os autores concordem com a restrição,
alguns recomendam que, durante o tratamento, a criança não tome líquidos
48
diuréticos nas duas horas que antecedem a hora de dormir. Estão incluídos:
laticínios, chocolate, sucos de frutas cítricas, café, chá e refrigerantes.
j. Superaprendizagem: quando a criança alcança o critério de sucesso (duas semanas
consecutivas seca), inicia-se a superaprendizagem, que consiste em oferecer
líquido para que ela beba antes de dormir. As quantidades variam de acordo com a
idade e o sendo aumentadas a cada duas noites secas. Estabelece-se um máximo
de líquido também de acordo com a idade. Quando a criança chega nesse nível, ela
deve ficar duas semanas consecutivas sem “molhadas” novamente para entrar no
critério de alta. Caso ela não consiga, novas tentativas são feitas, mas um
momento em que ela recebe alta mesmo assim, uma vez que esse processo é
voltado para prevenir a recaída. Nesse caso, suspendem-se os líquidos e espera-se
que ela tenha duas semanas secas novamente.
3.2.3.2. Atividades nas sessões de tratamento
Em todas as sessões de atendimento, independentemente da modalidade ou faixa
etária, é realizado o acompanhamento do uso do aparelho, que se baseia principalmente na
análise do registro de “molhadas”. A partir dele, seguem-se os seguintes procedimentos
(adaptado de Arantes, 2006):
a. observação do registro escrito, questionamento de anotações confusas,
questionamento de anotações extras;
b. verificação do seguimento das instruções gerais;
c. interrogação dos motivos de não-seguimento das instruções, tais como acordar a
criança no meio da noite para levá-la ao banheiro, não usar o alarme, não ajudar a criança a
levantar quando o alarme é disparado;
d. identificação e assinalamento dos sinais de progressos, tais como acordar mais
rápido com o alarme, manchas menores, acionamento do alarme mais próximo da hora de
acordar, diminuição do número de “molhadas” por noite, noites sem “molhadas”, número de
noites seguidas sem “molhadas”;
e. busca de soluções para as dificuldades e acompanhamento das estratégias propostas
nas sessões subseqüentes. Exemplos: Se a criança desliga o alarme e volta a dormir, uma
solução seria colocar o alarme em uma posição que dificultasse esse tipo de estratégia. Se a
49
criança não consegue acordar com o alarme porque vai dormir muito tarde vendo filmes, uma
possível solução seria disponibilizar uma forma de gravá-los;
f. discussão buscando a identificação de fatores que, em cada caso individual,
poderiam facilitar o seguimento dos procedimentos do alarme: presença de luz acesa, dormir
cedo, dormir tranqüilo sem outras preocupações;
g. Acompanhamento de procedimentos adicionais, como o treino de retenção, treino
de limpeza, técnicas de despertar, treino de controle de esfíncter e restrição de líquidos;
h. Discussão de dúvidas;
i. Avaliação da motivação e as expectativas tanto da criança quanto dos responsáveis e
intervir, quando necessário;
j. Discussão de resistências ao uso do alarme apresentadas pelas crianças e
manifestadas pelos pais;
l. Realização de trocas no alarme.
3.2.3.3. Comparação dos formatos individual e grupal
Todos os procedimentos são efetuados ao longo do tratamento, adaptando-se às
necessidades de cada família, bem como ao formato de atendimento adotado. Contudo, os
procedimentos são sempre utilizados, independentemente da modalidade do tratamento. As
diferenças entre os tratamentos individuais e grupais têm maior relação com as sessões e a
forma como elas são conduzidas, conforma explica a Tabela 6.
50
Tabela 6 - Diferença entre os formatos individual e grupal de atendimento
Procedimento Atendimento Individual Atendimento Grupal
Participantes 1 família De 3 a 9 famílias
Divisão entre acompanhamento
com a criança e pais
Variável dentro dos 50 minutos de
sessão
Fixa: 20 a 25 minutos para cada
momento
Entrega do alarme De acordo com as condições da
família; geralmente entre a e
semana
Uma mesma data para todos os
participantes.
Acompanhamento terapêutico Aborda necessidades da criança ou
adolescente; maior atenção a
outros problemas de
comportamento
Aborda necessidades do grupo;
maior foco na enurese
Momento de inserção do alarme Mais flexível, de acordo com a
colaboração da família
Pré-determinado, com tempo
suficiente para que todas as
famílias se adaptassem
Orientação de pais De acordo com as dificuldades da
família
De acordo com as necessidades do
grupo
Horários de atendimento De segunda a sábado Sábados (com exceção do grupo
infantil 1)
3.2.3.3.1. Atendimento individual
No atendimento individual, é realizada uma analise funcional mais aprofundada.
Verifica-se se há algum fator ambiental que pode manter o comportamento de molhar a cama,
assim como a forma das relações familiares. A sessão de atendimento individual é composta
de dois momentos: o de acompanhamento do tratamento e uso do alarme, com a presença da
criança e do responsável; o de terapia individual, com a presença apenas da criança ou
adolescente, quando necessário. O tempo gasto em cada um dos momentos depende das
necessidades da família, segundo julgamento do psicólogo, e da idade da criança. O momento
de terapia tende a ser maior com adolescentes, por exemplo.
No momento de acompanhamento do tratamento, a família apresenta o registro de
“molhadas”, que é discutido com o terapeuta. Ele questiona as condições de cada noite em
que houve ou não molhada, elogia qualquer progresso apresentado, verifica se o
preenchimento foi correto e entrega outro registro em branco para ser utilizado durante aquela
semana. Além disso, acompanha os procedimentos adicionais que foram sugeridos, como o
treino de retenção e a restrição de líquidos diuréticos. Nesse momento, a família também
esclarece suas dúvidas e realiza eventuais trocas das peças do alarme.
No momento de terapia individual, o terapeuta passa algum tempo com a criança ou
adolescente em atividades lúdicas ou conversa. Na fase de avaliação, o tema central é a
enurese, já que o levantamento tanto de elementos associados ao problema como o dos
51
sentimentos da criança em relação ao problema e ao tratamento. Após a avaliação inicial, as
sessões são mais livres e qualquer conteúdo trazido pelo participante pode ser abordado. Em
geral, os temas trazidos são as dificuldades familiares, de relacionamento com pares e
problemas na escola. Para cada caso, então, desenvolve-se uma estratégia terapêutica para
ajudar a criança ou adolescente a lidar com a situação que está enfrentando.
3.2.3.3.2. Atendimento em grupo
O atendimento grupal implica em encontros terapêuticos com um grupo formado de
cinco a oito participantes, além do terapeuta. Embora nessa modalidade a avaliação e
acompanhamento possam não ser tão aprofundados, espera-se que os participantes obtenham
benefícios de passar por um tratamento com outros enuréticos da mesma idade e, geralmente,
com as mesmas dificuldades que as suas. Nos tratamentos de grupo, a diferença nos
atendimentos de crianças e adolescentes é mais acentuada. Também composta por dois
momentos, a sessão se divide no atendimento aos enuréticos seguida pela orientação de pais,
sendo que cada um deles dura mais ou menos a mesma quantidade de tempo. Tanto as
crianças quanto adolescentes participam de recreação com uma estagiária de psicologia
enquanto ocorre a orientação de pais. A Tabela 7 mostra as principais diferenças entre os
atendimentos grupais para crianças e adolescentes.
Tabela 7 - Diferenças nos procedimentos nos atendimentos para crianças e adolescentes
Procedimento Crianças Adolescentes
Entrega do registro Para os pais Para os filhos
Acompanhamento da freqüência e
procedimentos
Maior ênfase com os pais Maior ênfase com os adolescentes
Momento de inserção do alarme Flexível; de acordo com
desempenho da família
Fixo; prazo suficiente para que a
família de adapte às condições
Sessão com os enuréticos Basicamente lúdica Basicamente verbal
Orientação de pais Estratégias de intervenção direta
no comportamento dos filhos
Empatia e estratégias de solução
de conflitos
No caso das crianças, a sessão começa com perguntas relacionadas à semana e aos
procedimentos do tratamento. Muitas vezes a criança comenta sobre algum deslize que os pais
omitem. Reforça-se com a própria criança o procedimento correto e a responsabilidade ativa é
52
estimulada, fazendo com que ela mesma cumpra as recomendações e lembre os pais de fazer
o mesmo. A fala do terapeuta nunca ocorre em tom de cobrança, e sim de estabelecimento de
metas em direção a um objetivo, metas essas que estão sob o controle da criança, como não
esquecer de ligar o alarme, evitar líquidos diuréticos etc. Algumas vezes as crianças gostam
de passar o tempo contando para o terapeuta e para os colegas o que fizeram durante a
semana; em outros, uma atividade lúdica conjunta é proposta, na qual se pode observar as
crianças interagindo e intervir sobre comportamentos que não favorecem um convívio social
adequado.
Embora a responsabilidade ativa seja estimulada nas crianças, grande parte do
seguimento ao tratamento está na mão dos pais. São eles que determinam o horário de dormir,
os líquidos a serem tomados, ajudam a criança a trocar a cama e fazer os treinos. Por isso, são
os pais que trazem o registro e comentam com o terapeuta. O acompanhamento de cada dia é
realizado em relação às recomendações feitas anteriormente. Algumas vezes, os pais trazem
questões como a dificuldade em fazer as crianças seguirem as regras ou conflitos familiares.
O debate no grupo é estimulado, pois muitas vezes os pais podem achar soluções entre eles
mesmos. O terapeuta fecha os temas resumindo o que foi discutindo e ressaltando as soluções
encontradas. Por vezes, livros sobre como lidar com as crianças são emprestados para que os
pais leiam durante a semana, sendo emprestados a uma família diferente a cada sessão. Os
pais trazem as suas impressões e discutem com o resto do grupo.
o grupo de adolescentes tem uma responsabilidade maior em relação ao próprio
tratamento. Eles fazem e trazem seus registros e os procedimentos são cobrados diretamente
deles. Além disso, é feito um trabalho para estimular a interação entre eles, a fim de que
expressem suas dificuldades e frustrações em relação à enurese ou qualquer outro problema.
No caso dos adolescentes, também é importante focar a motivação em relação ao tratamento.
Isso pode ser feito levando, para cada um, gráficos com a sua freqüência de “molhadas” desde
o início do tratamento. Para que eles não desanimem, é importante que eles nunca percam de
vista como estavam antes de começar. Se a comparação foi feita apenas com a semana
anterior, eles com certeza ficarão frustrados. É importante também trabalhar a auto-estima dos
adolescentes. Por vezes, é útil deixar um pouco a enurese de lado e fazer que eles falem sobre
outras coisas que os caracterizem, notadamente suas qualidades.
Como os pais de adolescentes têm menos influência sobre os filhos que os de crianças,
o tom da sessão de orientação de pais também é diferente. Eles são estimulados a acompanhar
os filhos no tratamento e intervir quando o adolescente não está conseguindo fazer algo
53
sozinho. Com esses pais, o trabalho é muito mais focado na tolerância, pois a maioria deles
está cansada com o problema e precisa entender que seus filhos não m controle sobre a
enurese e precisam da compreensão e do apoio da família. Quando trazem questões do
convívio familiar, elas geralmente estão ligadas ao fato de o saber como lidar com certas
atitudes dos filhos, como o distanciamento dos pais ou as brigas. Da mesma forma como é
feito com o grupo de crianças, estimula-se o debate entre os pais e se fecham os pontos de
consenso, acrescidos de comentários do terapeuta.
O trabalho em grupo é voltado para crianças sem necessidade de um acompanhamento
especial e que não tenham um escore alto de problemas de comportamento especialmente
os externalizantes. Neste trabalho, no entanto, a seleção não seguiu esse critério, sendo
aleatória.
3.2.4. Obtenção e análise dos dados
Os dados relevantes para este trabalho são os das freqüências de molhadas” e de
problemas de comportamento no início e no término do tratamento.
Para verificar a evolução da enurese, cada registro semanal ou mensal é transformado
numa freqüência de “molhadas” relativa a uma semana que vai de 0 a 7, durante 40 semanas
ou até o momento em que há desistência ou se chega ao critério de alta. Os dados são
lançados numa planilha eletrônica a fim de se criar as Figuras que ilustram a evolução de cada
caso e também para fazerem parte da análise estatística.
A fim de estabelecer a linha da base, solicitava-se à família que preenchesse um
registro entregue no momento da triagem nas semanas que antecediam ao tratamento. Quando
a família não cumpria com esse pedido, os dados de linha da base eram obtidos através das
informações do formulário de avaliação de enurese completados durante o primeiro contato.
os CBCLs são aplicados na triagem e no final do tratamento para as crianças que o
completaram, a fim de verificar se houve evolução em outros aspectos comportamentais além
da enurese. Depois de aplicados, os formulários são lançados num software específico para
computação dos escores, que são também lançados em uma planilha para comparação entre os
resultados iniciais e finais de cada caso e também para análise estatística.
Os outros formulários aplicados na triagem têm a função de verificar se o sujeito se
encaixa nos critérios de inclusão do projeto e avaliar as condições da família para que se
possa ter subsídio para as intervenções futuras.
54
3.2.5. Pessoal responsável
Todos os grupos de atendimento ficaram sob responsabilidade do autor da pesquisa,
Rodrigo Fernando Pereira. O pesquisador foi responsável pela conduções de sessões de
acompanhamento individuais e grupais, além das sessões de orientação de pais.
As triagens foram realizadas por toda a equipe do projeto enurese, uma vez que os
participantes triados eram encaminhados para mais de uma pesquisa e tipos de atendimento.
Como citado, as sessões de grupo eram divididas entre acompanhamento com as
crianças e adolescentes seguidas de sessões de orientação de pais, ambas conduzidas pelo
autor. As sessões de recreação com as crianças e adolescentes no momento em que se
realizava a orientação de pais foram conduzidas por estagiárias de psicologia participantes da
equipe do Projeto Enurese, desta forma:
a) Grupo 1 infantil: Paula Ferreira Braga e Marina Monzani da Rocha.
b) Grupo 2 infantil e grupo de adolescentes: Carolina Ribeiro Bezerra de Sousa.
3.2.6. Dias de atendimento
Os atendimentos foram realizados de acordo com os melhores horários para os
clientes, desde que não houvesse conflito com atividades acadêmicas do pesquisador, tais
como disciplinas e reuniões de pesquisa. Cada cliente foi atendido nos seguintes horários
(alguns horários se sobrepõem por serem momentos diferentes do trabalho, onde um dos
atendimentos já havia sido encerrado):
a) Crianças atendidas individualmente:
H.F.: sexta-feiras, às 15 horas
F.A.: quintas-feiras, às 10 horas
K.L.: quintas-feiras, às 15 horas
C.A.: quartas-feiras, às 9 horas
R.N.: quintas-feiras, às 19 horas
W.B.: sextas-feiras, às 10 horas
G.H.: sábados, às 8 horas
55
b) Adolescentes atendidos individualmente:
C.B.: quintas-feiras, às 15 horas
E.D.: sábados, às 9 horas
F.S.: quintas-feiras, às 16 horas
J.G.: sábados, às 8 horas
J.M.: quartas-feiras, às 14 horas
J.A.: quartas-feiras, às 10 horas
L.F.: sextas-feiras, às 9 horas
c) Grupos:
Grupo infantil 1: quintas-feiras, às 19 horas
Grupo infantil 2: sábados, às 10 horas
Grupo infantil 3: sábados, às 11 horas
56
4. Resultados
Os dados finais do projeto dividir-se-ão em três grupos: a evolução das “molhadas”
durante o tratamento, dados de avaliação de problemas de comportamento no momento da
triagem e dados de avaliação de problemas de comportamento no encerramento do
atendimento.
Os dados de molhada dividem-se em: linha de base, tratamento sem alarme, tratamento
com o alarme e prevenção de recaída. Os valores de cada fase foram obtidos através dos
registros preenchidos pelas famílias e entregues a cada nova sessão de acompanhamento.
Estes valores são relativos a noites “molhadas” em uma semana, podendo, então, variar de 0 a
7. A linha da base refere-se a dados de duas semanas que antecederam o início do tratamento.
A fase de tratamento sem alarme refere-se às primeiras semanas de atendimento em que
uma preparação para a inserção do alarme no tratamento e varia de criança para criança. A
fase de tratamento com o alarme é relativa ao período em que a criança está utilizando o
alarme em casa. A fase de prevenção de recaída contém os dados de “molhadas” após a
obtenção do critério de sucesso (14 noites secas consecutivas) e a criança está procedendo
com a superaprendizagem.
Os dados de avaliação de avaliação de comportamento são obtidos através da aplicação
do CBCL antes da triagem e ao término do tratamento. O CBCL o foi aplicado nos casos
em que houve desistência ou saída inevitável. E ainda, algumas famílias não foram
localizadas para aplicação do referido instrumento ao término do tratamento.
4.1. Análise das freqüências de “molhadas”
A freqüência de molhadas” é a real medida da efetividade do tratamento para enurese.
Como Butler (2004) afirma que o critério de alta deve ser a obtenção de catorze noites secas
consecutivas dentro do período de tratamento, optou-se por acompanhar a freqüência de cada
criança semanalmente. O objetivo foi não de verificar a obtenção ou não dos critérios de
sucesso, mas também a variação na freqüência do comportamento durante as quarenta
semanas.
As figuras apresentadas nessa seção ilustram a “curva de “molhadas”, relativas ao
progresso da enurese durante o tratamento. As duas primeiras semanas são dados de linha da
57
base; as semanas seguintes são relativas a tratamento sem o alarme; em seguida, o
apresentadas as semanas de tratamento com o alarme e na superaprendizagem, quando o
critério de sucesso é atingido.
4.1.1. Crianças atendidas em grupo
A Figura 1 mostra as freqüências de “molhadas” de cada criança atendida em grupo.
1. M. G. (saída inevitável)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19
Semana
Noites Molhadas
2. B. N. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21
Semana
Noites Molhadas
3. A. C. (insucesso)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
4. B. J. (sucesso inicial)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
5. C. F. (desistência)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Semana
Noites Molhadas
6. D. R. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23
Semana
Noites Molhadas
7. G. F. (sucesso inicial)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
8. J. C. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Semana
Noites molhadas
9. M. C. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Semana
Noites Molhadas
10. P. N. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17
Semana
Noites Molhadas
11. M. F. (desistência)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11
Semana
Noites Molhadas
Figura 1 - Freqüências de “molhadasdas crianças atendidas em grupo (as definições de alta, sucesso
inicial, desistência, insucesso e saída inevitável encontram-se no texto, na pág. 35)
Início do atendimento
Início do uso do alarme
Início da superaprendizagem
Recesso
Através da análise da Figura 1, é possível fazer as seguintes observações acerca das
curvas de “molhadas” de cada criança:
1. M. G. (sete anos, sexo masculino) não pôde completar o tratamento pelo fato da
família mudar-se para o interior, caracterizando uma situação de saída inevitável. Durante as
semanas de atendimento sem alarme, o houve diferença no padrão de “molhadas” quando
comparadas à linha de base. Contudo, a inserção do alarme provocou uma diminuição na
freqüência, especialmente a partir da décima-quarta semana.
2. B. N. (seis anos, sexo masculino): antes do atendimento, B. nunca havia tido uma
noite seca, como revela a linha da base do participante na Figura 1. O alarme foi inserido com
sucesso, provocando diminuição imediata da freqüência de “molhadas” de B. N. que, contudo,
voltou a molhar com mais intensidade após a 10ª semana. Essa tendência de alta na freqüência
de molhadas” manteve-se até a 14ª semana, após a qual as “molhadas” subitamente
cessaram, não ocorrendo novamente nem com a implementação da superaprendizagem. A
mãe da criança afirmou que B. dissera que não molharia mais a cama e de fato nunca mais o
fez após afirmar isso.
3. A. C. (nove anos, sexo feminino): começou o atendimento com uma freqüência
bastante alta, além de alguns episódios de enurese diurna que após o início do trabalho
foram relatados pela mãe. Após algumas semanas de uso do alarme, a freqüência baixou
drasticamente. Depois disso, a freqüência teve algumas oscilações e aumentou em três
semanas consecutivas em que a família teve problemas com o alarme, voltando a baixar em
seguida. Apesar da freqüência ter diminuído a níveis bastante baixos quando comparados com
o início do tratamento, A. não atingiu o critério de sucesso durante o período de tratamento,
obtendo no máximo uma semana seca.
4. B. J. (oito anos, sexo feminino): como a sua freqüência de “molhadas” não era tão alta
no início, o tratamento tende a ser mais demorado. A utilização do alarme era realizada
corretamente, e a freqüência atingiu patamares bastante satisfatórios até a vigésima quinta
semana. Contudo, nesse momento, a família passou por um momento de turbulência ao mudar
de casa e abandonou o seguimento correto às instruções do tratamento e com maior número
de faltas às sessões. Os próprios pais relatavam que era necessário retomar o tratamento com
mais seriedade. Quando isso ocorreu, por volta da 30ª semana os resultados voltaram a
melhorar, com a criança atingindo o critério de sucesso. Entretanto, mais uma vez a família
deixou de cumprir com as recomendações, ocasionando uma recaída que persistiu até o
período de finalização do tratamento.
60
5. C. F. (sete anos, sexo masculino): durante as semanas de atendimento sem alarme, C.
F. não mostrou alterações significativas na sua freqüência de “molhadas”, exceto pela semana
oito, em que obteve o menor índice desde que entrara em tratamento.
6. D. R. (seis anos, sexo masculino): a criança, como pode ser observado na Figura 1,
não costumava ter noites secas antes do tratamento. Logo após o início do atendimento,
mesmo sem a inserção do alarme, a freqüência baixou drasticamente. Uma hipótese para isso
é o ganho trazido pelas sessões grupais com outras crianças com o mesmo problema. Após a
inserção do alarme, D. teve duas “molhadas” até atingir o sucesso inicial. A
superaprendizagem provocou um pequeno aumento na freqüência, o que é esperado. Após
oito semanas, D. conseguiu finalizar o procedimento, obtendo alta.
7. G. F. (sete anos, sexo masculino): G. obteve certa diminuição na freqüência de
“molhadas” com o início do grupo ao se comparar com o período de linha de base. O início do
uso do alarme fez com que G. tivesse suas “molhadas” reduzidas consideravelmente, embora
de forma lenta e gradual, culminando no sucesso inicial na 32ª semana. Esse foi o momento
em que os pais se separaram, o que pode ter tido reflexo nos resultados do tratamento, uma
vez que G. não conseguiu completar a superaprendizagem.
8. J. C. (oito anos, sexo feminino). Primeira das meninas a deixar o grupo após a alta, J.
também mostrou ganhos com o tratamento mesmo antes do uso do alarme, quando sua
freqüência de “molhadas”, quer era de cinco ou seis na linha de base, caiu para zero em três
semanas no recesso. Após a inserção do alarme, houve um pequeno aumento na freqüência,
que voltou a cair e J. conseguiu 14 noites secas consecutivas na 20ª semana. Com apenas uma
molhada durante a superaprendizagem, a alta foi obtida cinco semanas depois.
9. M. C. (sete anos, sexo masculino). Apesar de ter uma freqüência baixa no início do
tratamento, essa criança conseguiu atingir o sucesso inicial mesmo antes da inserção do
alarme, durante o recesso. Como M. teve um episódio na semana anterior à retomada dos
atendimentos e à inserção do alarme, optou-se por aguardar que ele obtivesse mais 14 noites
secas para iniciar a superaprendizagem, o que ocorreu na 13ª semana. Durante a
superaprendizagem, M. molhou mais cinco vezes e obteve alta na 23ª semana.
10. P. N. (sete anos, sexo masculino): esse caso é um exemplo claro da efetividade do
uso do alarme. Embora P. não tenha tido mudança na freqüência de “molhadas” durante a
primeira fase do tratamento, assim que o aparelho foi introduzido, as “molhadas” baixaram
drasticamente. Na 12ª semana, P. obteve 14 noites secas consecutivas e, apesar de ter tido
uma molhada posteriormente nessa semana, iniciou a superaprendizagem, que completou sem
episódios de enurese e recebeu alta na 17ª semana.
61
Um fator interessante é que na primeira semana com o alarme, P. só teve uma molhada,
após ficar quatro dias seco. Ou seja, o alarme parece ter funcionado mais como um estímulo
discriminativo, que mesmo sem tocar fez com que a criança ficasse seca mais do que ela
jamais havia conseguido. A família, outro exemplo de alta adesão e apenas uma falta
justificada, também pode ser considerada responsável pelo sucesso.
11. M. F. (sete anos, sexo masculino): pode-se observar que o início do atendimento
teve um impacto, ainda que pequeno, nas “molhadas” da criança. A inserção do alarme, por
outro lado, não modificou a freqüência de episódios enuréticos. Contudo, a família não seguia
corretamente as instruções e três semanas é um tempo pequeno para se obter uma mudança
mais clara, especialmente quando a enurese é múltipla.
Excetuando-se as crianças 1, 2 e 11, que formaram o primeiro grupo, as curvas são
relativas as crianças que formaram os segundo grupo de atendimento infantil. Nesse grupo, as
famílias receberam o aparelho na nona semana de atendimento. O grupo teria condições de
iniciar essa fase do atendimento antes, mas como tivemos um recesso de fim de ano que durou
três semanas, julgou-se ser melhor iniciá-la após o retorno, assim poderia ser feito um
acompanhamento melhor do uso do alarme.
Como pode ser observado, algumas crianças tiveram uma diminuição na freqüência de
“molhadas” antes mesmo da introdução do alarme, como J. C. e D. R. Várias hipóteses podem
ser formuladas para explicar esse fato. Uma delas é que o contato com outras crianças
enuréticas e o “estar em tratamento” pode já ter um efeito benéfico, o efeito placebo, devido à
atenção recebida. Outra é que pelo atendimento ter sido iniciado em novembro, a redução
pode ser explicada pelo aumento de temperatura e, conseqüentemente, menor produção de
urina. Além disso, o recesso coincidiu com período de férias escolares, em que as crianças
podem estar numa rotina mais relaxada sem tarefas acadêmicas.
Pode-se observar que, excetuando-se M.F. e C. F., que abandonaram o tratamento
precocemente, todos os outros apresentaram uma tendência de redução na quantidade de
“molhadas”, embora nem todos tenham atingido os critérios de sucesso e alta.
O que se observa aqui é que os casos em que sucesso, a obtenção das 14 noites secas
ocorre rapidamente. Aqueles que não conseguem ter uma redução rápida e consistente com a
intervenção parecem não conseguir mesmo permanecendo em tratamento.
62
A Figura 2 foi elaborada calculando a média das freqüências de “molhadas”, excluindo-
se os casos de saída inevitável e desistências no momento de abandono do tratamento. A linha
vertical azul sinaliza o momento de inserção do alarme para sete dos onze casos.
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas (média)
Figura 2 - Média das freqüências de “molhadas” das crianças atendidas em grupo
Observa-se, na Figura, que a linha da base do grupo situa-se um pouco acima das cinco
“molhadas” semanais. Verifica-se, ainda, que uma tendência de queda logo nas primeiras
semanas de tratamento, quando o alarme ainda não foi inserido. Entretanto, é possível
visualizar que a queda ocorre até a 27ª semana de atendimento; a partir desse ponto, uma
estabilização e uma ligeira ascendência na curva nas últimas semanas. A variação da média
situou-se entre 5,2 na linha de base a 0,2 na 27ª semana.
4.1.2. Crianças atendidas individualmente
A Figura 3 mostra as curvas de “molhadas” de cada uma das crianças atendidas na
modalidade individual.
63
1. H. F. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
2. K. L. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
3. F. A. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 2 5 8 11 14 17 20 23 26 29 32 35
Semana
Noites Molhadas
4. C. A. (desistência)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Semana
Noites Molhadas
5. R. N. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
L
B
1
1
3
5
7
9
1
1
1
3
1
5
1
7
1
9
2
1
2
3
2
5
2
7
2
9
3
1
3
3
3
5
3
7
Semana
Noites Molhadas
6. W. B. (desistência)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25
Semana
Noites Molhadas
7. G. S. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Semana
Noites Molhadas
Figura 3 Freqüências de “molhadas” das crianças atendidas individualmente (as definições de alta,
sucesso inicial, desistência, insucesso e saída inevitável encontram-se no texto, na pág. 35)
1. H.F. (9 anos, sexo masculino): como pode ser observado na Figura 3, a criança
molhava a cama todas as noites, mesmo com a mãe o acordando. Houve um período
relativamente grande até a entrega do alarme pelo fato família não realizar algumas mudanças
domésticas necessárias para o tratamento. Observa-se, na Figura 3, porém, que logo após a
inserção do alarme, H. teve uma resposta rápida, chegando a uma semana seco. Essa
Início do atendimento
Início do uso do alarme
Início da superaprendizagem
Recesso
64
diminuição se reverteu, com H. voltando a molhar todos os dias nas semanas 22 e 23. Em
seguida, houve nova tendência de redução, que levou a criança a obter o sucesso inicial na 31ª
semana. Como este foi um atendimento piloto, a inserção da superaprendizagem ainda o
estava condicionada ao sucesso inicial, tendo sido retardada em duas semanas. Ainda assim,
H. completou o procedimento sem “molhadas”.
2. K.L. (7 anos, sexo masculino): a criança não tinha uam grande freqüência de
“molhadas” antes do tratamento, o que pode ser um fator complicador do condicionamento
com o alarme. o foram registradas mudanças na freqüência durante a fase de atendimento
sem o alarme. K. obteve o critério de sucesso na 12ª semana de atendimento. Contudo, como
houve algumas faltas da família nesse período e a criança tinha voltado a molhar, esperou-
se que ela voltasse a ter 14 noites secas com a presença da família na sessão para instruir
sobre a superaprendizagem. Apesar da sua curva na Figura 3 mostrar apenas uma semana de
superaprendizagem, a criança não teve “molhadas” após esse período, mesmo com a ingestão
de líquidos, levando a considerar o caso como alta.
3. F.A. (sete anos, sexo masculino): tendo uma freqüência dia de “molhadas” antes
do início do atendimento, a criança apresentou uma redução dos episódios apenas com o
tratamento sem o alarme. Essa redução foi pontual, com a freqüência de “molhadas” voltando
ao nível da linha de base no momento de inserção do alarme. A partir daí, houve diminuição
de “molhadas”, embora num ritmo lento e com pontos de estagnação. O controle parece ter
sido adquirido de forma gradual, mas definitiva, uma vez que a partir da 22ª semana de
atendimento ocorreram mais duas “molhadas”, sendo que duas foram durante a
superaprendizagem.
4. C.A. (seis anos, sexo masculino): esta criança também tinha uma freqüência elevada
de “molhadas” antes do tratamento, molhando todos os dias. Assim como em outros casos,
houve uma redução de freqüência durante o tratamento sem o alarme. Entretanto, após duas
semanas utilizando o alarme em casa, a freqüência da criança voltou ao patamar da linha de
base e permaneceu próximo dele ao longo das semanas seguintes. Esse quadro fez com que a
família não tivesse mais disposição para comparecer às sessões desistindo do tratamento.
5. R.N. (seis anos, sexo feminino): única menina deste grupo de atendimento, R. tinha
uma freqüência média de “molhadas” (4 ou 3 episódios por semana) antes de iniciar o
tratamento. A freqüência teve um ligeiro aumento durante o atendimento sem o alarme e
passou a cair quando o aparelho foi introduzido. Apesar de ter atingido o critério de sucesso
na 10ª semana de atendimento, a superaprendizagem iniciada em seguida não foi bem
sucedida, com um aumento muito grande na taxa de episódios. A prevenção de recaída foi
65
suspensa e retomada quando a criança obteve mais 14 noites secas, na 34ª semana de
atendimento, dessa vez com sucesso.
6. W.B. (8 anos, sexo masculino): a linha da base da criança mostra uma freqüência alta
de “molhadas”, embora elas não ocorressem todos os dias. O início do tratamento, sem o uso
do alarme, não provocou mudanças na freqüência que se manteve entre 5 e 7 “molhadas”
semanais, assim como na linha de base. Após a inserção do alarme, W. apresentou uma
redução consistente, chegando, na 14ª semana do atendimento, à marca de zero molhada
semanal. Depois desse momento, houve uma oscilação, mas nenhuma tendência se confirmou.
Na 26ª semana, a família optou por desistir do tratamento.
7. G.S. (seis anos, sexo masculino) tinha uma freqüência de 3 a 4 “molhadas” por
semana antes do tratamento. na fase de tratamento sem o alarme, houve uma redução e
ocorreram apenas duas “molhadas”. A criança, com a inserção do aparelho, oscilou entre
semanas secas e semanas com apenas uma ou duas molhadas”. A primeira vez que G.S.
atingiu o critério de sucesso foi durante um recesso no tratamento e, como houve uma
molhada na semana seguinte, esperou-se que ele obtivesse mais 14 noites secas, o que
aconteceu na 16 ª semana. A superaprendizagem foi iniciada e a criança a completou sem a
ocorrência de mais episódios.
Neste grupo houve dois insucessos (C.A. e W.B.), sendo que em um deles houve baixa
resposta ao alarme (C.A.) e no outro a freqüência havia baixado visivelmente (W.B.) e pode-
se especular que ele conseguiria o sucesso antes das 40 semanas.
Os outros casos foram bem sucedidos, inclusive com a utilização da prevenção de
recaída. O que pose ser observado quando se considera a Figura 3 como um todo é que nos
casos bem-sucedidos, há sempre uma resposta rápida ao alarme. Embora a taxa de diminuição
possa ser menor ou maior, a tendência de queda se mostra evidente nas cinco primeiras
semanas de utilização do alarme em casa. Pode-se observar também que nem sempre a
trajetória na direção do sucesso é estável o foi no caso de F.A. Nestes casos, após a
resposta inicial de queda da freqüência dos episódios, houve um período de oscilação que
chega a durar 20 semanas, como nos casos de H.F. e R.N. Contudo, ainda assim as crianças
obtém o sucesso.
Essa constatação evidencia que o processo de condicionamento pelo qual o alarme
funciona o é isento da interferência de outras variáveis. Aspectos psicológicos, familiares
ou até uma acomodação com os procedimentos após a melhora inicial podem ser considerados
66
na tentativa de se esclarecer o motivo da variabilidade. Porém, a relação mais importante é a
entre a resposta inicial e o sucesso no tratamento, que esteve presente claramente neste grupo.
A Figura 4 foi elaborada estabelecendo a média das freqüências de “molhadas” das
crianças do grupo, desconsiderando as desistências e saídas inevitáveis no momento em que
havia o abandono ao tratamento.
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Semana
Noites Molhadas (média)
Figura 4 - Média das freqüências de “molhadas” das crianças atendidas individualmente
Observa-se que a tendência de queda se distribui pelas 40 semanas de atendimento,
notadamente após a 13ª semana e após a 30ª. Verifica-se que, neste grupo, todas as crianças
que completaram o tratamento permaneceram secas. A média oscilou entre 5,1 na linha de
base a 0 na última semana.
4.1.3. Adolescentes atendidos individualmente
A Figura 5 contém as curvas de “molhadas” relativas aos adolescentes atendidos
individualmente.
67
1. C. B. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13
Semana
Noites Molhadas
2. E. D. (insucesso)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
3. F. S. (sucesso inicial)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
4. J. G. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
Semana
Noites Molhadas
5. J. A. (insucesso)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
6. L. F. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21
Semana
Noites Molhadas
Figura 5 Freqüências de molhadas” dos adolescentes atendidos individualmente (as definições de alta,
sucesso inicial, desistência, insucesso e saída inevitável encontram-se no texto, na pág. 35)
1. C.B. (sexo feminino, 17 anos) tinha uma baixa freqüência de molhadas” antes do
início do tratamento. Não obstante, o impacto dos episódios era grande, como pode se supor
para uma adolescente de dezessete anos. Foram iniciadas sessões de atendimento individual,
que seriam interrompidas por conta do recesso do meio do ano. Como C.B. tinha obtido
continência durante a noite nas três semanas anteriores, optou-se, então, por entregar o alarme
e iniciar a superaprendizagem simultaneamente. C. não teve mais nenhuma molhada após esse
período. Não é possível afirmar qual foi a influência que o tratamento teve no caso, pois
Início do atendimento
Início do uso do alarme
Início da superaprendizagem
Recesso
68
poderia se tratar de um caso de remissão espontânea. Contudo, a inserção do alarme com a
superaprendizagem pode ser válida nesses casos para reforçar o controle e fazer que o ex-
enurético adquira confiança sobre sua condição, conforme detalhado por Pereira e Silvares
(no prelo).
2. E.D. (12 anos, sexo masculino) era um enurético múltiplo, chegando a molhar até
quatro vezes por noite no início do tratamento. Contudo, em duas semanas de atendimento
essa freqüência havia baixado para uma molhada por noite e, a partir da segunda semana
após a inserção do alarme, o adolescente obteve noites secas. Contudo, o quadro não se
manteve, com a taxa de molhadas” voltando a crescer depois do recesso e permanecendo
instável até o fim das quarenta semanas de atendimento. A alta freqüência inicial é um
preditor de insucesso no tratamento, como o que ocorreu aqui. Contudo, pode-se dizer que o
adolescente teve uma grande redução nos episódios, ao considerar que da freqüência inicial de
três ou quatro “molhadas” por noite, ele passou a ter duas “molhadas” por semana.
3. F.S. (14 anos, sexo masculino) foi o participante que passou mais tempo em
tratamento sem utilizar o alarme (24 semanas). Através das informações obtidas na triagem,
formulou-se a hipótese de que a enurese podia estar associada aos problemas de
comportamento apresentados pelo adolescente, que, entre outros, apresentava sintomas de
hiperatividade e transtorno de conduta. A hipótese foi parcialmente confirmada na medida em
que apenas o atendimento sem o alarme provocou redução na freqüência. Contudo, as
“molhadas” variavam muito, o que também se supõe ter relação com as dificuldades que o
adolescente atravessava como conseqüência de suas próprias dificuldades. Na 2semana o
alarme foi inserido, pois apenas nesse momento verificou-se que havia condições do
participante seguir as instruções. A freqüência continuou relativamente baixa nas semanas
seguintes, chegando até a encaixar-se no critério de sucesso na semana 31 (o adolescente
havia chegado às 14 noites secas na semana 21). Contudo a superaprendizagem não foi
completada com sucesso pelo adolescente até o fim do período de análise do tratamento.
4. J. G. (16 anos, sexo masculino): o adolescente tinha uma freqüência que variava de 2
a 3 episódios por semana. Logo na primeira semana utilizando o alarme, a freqüência chegou
a um patamar de 1 episódio por semana, no qual sem manteve nas duas semanas seguintes.
Houve, durante o recesso, uma elevação na freqüência seguida de nova redução no retorno.
Ao adolescente passou então por um período caracterizado pela instabilidade da freqüência
dos episódios enuréticos, que alternava semanas totalmente secas com outras com freqüência
de até 4 ou 5 episódios. Contudo, após a semana de freqüência igual a 5, os episódios
cessaram por completo, mesmo após a superaprendizagem. Como hipótese sobre essa
69
instabilidade, há a suposição de que o adolescente por vezes não cumpria a instrução de evitar
os refrigerantes durante a noite.
5. J.A. (11 anos, sexo masculino) era outro adolescente que além de molhar todas as
noites antes do tratamento, molhava várias vezes a cama durante o sono, caracterizando a
enurese múltipla. As semanas em que não havia freqüência igual a sete referiam-se
principalmente a situações em que o adolescente dormia fora de casa. O tratamento sem e
com o alarme não provocou mudanças visíveis na freqüência, já que a variação que houve
entre a 18ª e 22ª semanas não se manteve. Um dos ganhos não visíveis na Figura 3, no
entanto, foi o fato do adolescente ter deixado de molhar várias vezes por noite, passando a
molhar a penas uma, geralmente após oito ou nove horas de sono. Contudo, esse quadro o
progrediu o suficiente para resultar em mais noites secas durante as 40 semanas.
6. L.F. (11 anos, sexo masculino): observa-se na Figura 3 que as molhadas”, que
ocorriam 5 ou 6 vezes por semana no período de linha de base, tiveram uma pequena
diminuição com o tratamento sem o alarme. Ao introduzir o alarme, houve um período de
oscilação seguido de uma diminuição, caracterizado por a obtenção de duas semanas sem
“molhadas” durante o recesso. Em seguida, houve mais um período de oscilação, seguido de
outro período de semanas secas, que foi seguido pela superaprendizagem, completada com
sucesso sem a ocorrência de episódios.
Este grupo teve dois casos de insucesso, ambos com uma característica comum: o fato
de serem enuréticos múltiplos, o que é de fato um preditor de insucesso. O tratamento
mostrou-se efetivo na redução da quantidade de “molhadas”, mas não o suficiente para que
fosse atingido o critério de sucesso durante o período de tratamento.
Houve também outros casos atípicos, como o de C.B., com uma freqüência bastante
baixa e o de F.S., com muitos problemas de comportamento e uma abordagem diferente, em
que se trabalhou mais intensamente outros aspectos por um tempo considerável antes da
inserção do alarme. Os casos de J.G. e L.F., que receberam alta, foram marcados pela
instabilidade na freqüência até atingir os critérios para interrupção do tratamento.
O grupo de atendimento a adolescentes individualmente caracterizou-se pela
variabilidade entre os casos e ilustra a necessidade de adaptação do tratamento às condições
de cada família, ainda que se mantenha o procedimento padrão. Na Figura 6, pode-se observar
a média das freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos individualmente.
70
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Semana
Noites Molhadas (média)
Figura 6 - Média das freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos individualmente
Analisando visualmente a Figura 6, pode se perceber que a média da linha de base dos
adolescentes situou-se abaixo de cinco “molhadas” semanais. Observa-se também uma
tendência de queda que se mantém da à 12ª semana de atendimento, seguida de uma
oscilação ascendente. novamente um mesmo tipo de variação, numa faixa menor, da 19ª à
27ª semana. Após esse ponto, a curva estabiliza-se até a 40ª semana. A média variou de 4,8 na
linha de base e semana 3 a 1,5 nas semanas 22 e 33.
4.1.4. Adolescentes atendidos em grupo
A Figura 7 ilustra as freqüências de “molhadas” dos integrantes do grupo de
atendimento de adolescentes.
71
1. A. S. (saída inevitável)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4
Semana
Noites Molhadas
2. A. B. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33
Semana
Noites Molhadas
3. B. M. (desistência)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27
Semana
Noites Molhadas
4. B. R. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15
Semana
Noites Molhadas
5. F. F. (insucesso)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
6. M. V. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 LB2 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16
Semana
Noites Molhadas
7. R. C. (alta)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29
Semana
Noites Molhadas
8. G. H. (insucesso)
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas
Figura 7 - Freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos em grupo (as definições de alta, sucesso
inicial, desistência, insucesso e saída inevitável encontram-se no texto, na pág. 35)
1. A.S. (14 anos, sexo masculino), permaneceu pouco tempo em tratamento antes da sua
saída inevitável, o que inviabiliza a análise da sua curva de “molhadas”. O único aspecto que
Início do atendimento
Início do uso do alarme
Início da superaprendizagem
Recesso
72
se pode observar é que não houve mudança na freqüência durante as poucas semanas em que
esteve em tratamento.
2. A.B. (14 anos, sexo masculino) teve uma leve diminuição da sua freqüência de
“molhadas” ao iniciar o tratamento, passando de 4 a 7 na linha de base para 2 a 4 “molhadas”
na primeira fase. Contudo, a inserção do alarme não teve o mesmo impacto nas primeiras
semanas de tratamento. Na verdade, o adolescente oscilou sobre o mesmo patamar até a 19ª
semana de atendimento. Durante o recesso, iniciou-se uma diminuição e o adolescente obteve
14 noites consecutivas secas entre a 21ª e 23ª semanas. Durante a superaprendizagem, o
adolescente chegou a molhar 3 vezes numa semana, o que é considerado normal. Logo depois
as “molhadas” cessaram e ele completou a prevenção de recaída, recebendo alta.
3. B. M. (sexo feminino, 12 anos) era classificada com enurética múltipla, uma vez que
tinha mais de um episódio de molhada por noite. Não houve alteração desse quadro durante as
quatro primeiras semanas de atendimento, mas a partir da quinta semana ela passou a ter
noites secas, revelando uma diminuição na quantidade de “molhadas”. A inserção do alarme
fez com que a freqüência baixasse ainda mais, chegando a uma molhada semanal na 12ª
semana de atendimento. Contudo, nesse momento, houve uma quebra de seu alarme. Como a
adolescente faltou na sessão seguinte, ela acabou ficando vários dias sem usar o aparelho, o
que provavelmente causou o aumento na freqüência nas semanas seguintes. Mesmo voltando
a usar o alarme, ela não conseguiu voltar a baixar sua freqüência, desistindo do tratamento
após 27 semanas. A adolescente era a única menina do grupo.
4. B.R. (sexo masculino, 12 anos): embora molhasse todas as noites antes do início do
tratamento, o adolescente não era classificado como portador de enurese múltipla. Durante a
fase de atendimento sem o alarme, a freqüência baixou de 7 para 5 “molhadas” semanais.
Após a inserção do aparelho e sua utilização por duas semanas, houve uma queda abrupta,
chegando ao critério de sucesso na 10ª semana de atendimento com o alarme. A
superaprendizagem foi iniciada em seguida e houve apenas mais uma ocorrência até a
finalização do procedimento.
5. F.F. (sexo masculino, 13 anos) era outro adolescente classificado como múltiplo no
início do tratamento. O quadro não sofreu alterações durante o período de atendimento sem o
alarme. Contudo, quando o aparelho começou a ser utilizado, houve queda da freqüência na
terceira semana, que se manteve até a 15ª semana de atendimento, quando o adolescente
alcançou a taxa de uma molhada semanal. A exemplo de B.M., F também enfrentou uma
quebra de alarme que persistiu por mais de uma semana, tendo um reflexo imediato no
tratamento, configurando um delineamento de reversão não planejado. A nova inserção do
73
alarme em boas condições, na 20ª semana de atendimento, provocou uma redução, que foi
mais lenta e não possibilitou que o adolescente obtivesse semanas secas dentro do período de
atendimento.
6. M.V. (14 anos, sexo masculino) tinha uma linha de base instável, alternando semanas
secas com semanas com freqüência baixa antes do tratamento. Essa alternância persistiu na
fase de tratamento sem o alarme e após a sua inserção. Como entre a e a semana M.
obteve 14 noites secas consecutivas, iniciou-se a superaprendizagem, que aumentou a
quantidade de “molhadas” na semana seguinte. Entretanto, acredita-se que isso se deva ao fato
da bexiga estar se adaptando à continência de uma quantidade maior de quido durante a
noite. A partir da 13ª semana de atendimento, M. não voltou a molhar, completando a
superaprendizagem na 16ª semana e recebendo alta.
7. R.C. (15 anos, sexo masculino) não tinha uma freqüência alta de “molhadas” antes do
tratamento (2 episódios por semana). A fase de atendimento sem o alarme não provocou
alterações consideráveis nessa freqüência. Após a inserção do alarme, porém, houve uma
intensificação na variação da freqüência, que oscilou de semanas secas a picos de 5 ou 4
episódios por semana. É possível que essa variação seja decorrente da descrença manifesta do
adolescente em relação ao tratamento e conseqüente relaxamento na adoção dos
procedimentos. Durante o recesso, R. obteve três semanas sem “molhadas”, o que possibilitou
a inserção da superaprendizagem e a alta após sua finalização, na 29ª semana de atendimento.
8. G.H. (11 anos, sexo masculino) ingressou no grupo algumas semanas após o seu
início. O alarme foi inserido após as mesmas quatro semanas de atendimento, apesar do atraso
em relação ao resto do grupo. A característica marcante na curva de G.H. é a inexistência de
qualquer variação além dos limites de 3 a 5 “molhadas” durante todo o período de
atendimento. É o único caso em que uma faixa tão restrita de oscilação e que não se
observa nenhum pico de alteração em nenhum momento do tratamento, sugerindo que há algo
específico nesse caso, como, por exemplo, fatores causais da enurese não alcançados pelo
tratamento.
Este grupo teve um índice alto de insucessos por desistência e pela o obtenção das
catorze noites secas. O alarme foi entregue na quarta semana de atendimento, que todas as
famílias cumpriam as instruções para início do tratamento em casa. As curvas de “molhadas”
são bastante distintas, possivelmente pelas características individuais marcantes nesse grupo.
Por exemplo, havia três enuréticos múltiplos entre os participantes, o que é um preditor
de insucesso. Outro fator que caracterizou esse atendimento foi a quebra dos alarmes, em dois
74
casos bastante parecidos: enuréticos múltiplos, no momento em que conseguiam uma redução
considerável nas suas freqüências de “molhadas”. É possível que os alarmes, depois de
substituídos por novos sem defeitos, não tenham tido o mesmo efeito pela desmotivação e
falta de confiança dos adolescentes para iniciar o procedimento novamente.
Pode-se especular que se tal quebra não tivesse ocorrido, o desfecho desses casos seria
diferente, assim como o resultado do grupo como um todo.
A Figura 8 foi elaborada a partir da média das freqüências de “molhadas” do grupo. A
linha vertical azul representa o momento de inserção do alarme.
0
1
2
3
4
5
6
7
LB1 1 3 5 7 9 11 13 15 17 19 21 23 25 27 29 31 33 35 37 39
Semana
Noites Molhadas (média)
Figura 8 - Média das freqüências de “molhadas” dos adolescentes atendidos em grupo
Ao inspecionar a Figura 8, verifica-se que a linha de base desse grupo teve média em
torno de cinco “molhadas” semanais. Mais uma vez, há uma tendência de queda nas primeiras
semanas de atendimento, seguida de oscilações para cima no período intermediário de
atendimento. Novamente, uma queda nas últimas semanas seguida de estabilização da
freqüência entre a semana 31 e a semana 40. A oscilação situou-se entre 5,3 “molhadas” na
linha de base 2 e 0,8 nas semanas 31, 34 e 37.
4.2. Análise dos problemas de comportamento
O CBCL foi aplicado antes da triagem com ambos os pais e no final do tratamento para
aqueles que não desistiram, para que se pudesse realizar a comparação. Contudo, em algumas
famílias os pais não estavam presentes e não puderam responder. Com outras, foi perdido o
contato por mudança de telefone e endereço e não foi possível aplicar o CBCL final. Por isso,
75
foram considerados apenas os dados dos CBCLs respondidos pelas mães, que correspondem à
maior parte dos dados.
A seguinte análise contempla os dados individuais antes de após o tratamento.
4.2.1. Crianças atendidas em grupo
Tabela 8 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas em grupo
Inicial Final (variação) Criança Resultado
CS DI DE DT CS DI DE DT
MG SA 43 53 50 54
BN A 61* 64** 65**
MF D 25** 69** 78** 77**
AC I 38* 58 60* 62* 41 (+3) 60* (+2) 65**(+5) 64**(+2)
BJ SI 37* 18 50 51
CF D 33** 74** 71** 75**
DR A 39* 68** 63* 66** 42(-21) 48(-18)
GF SI 46 55 60* 58 39*(-7) 57(+2) 59(+1) 58 (0)
JC A 36** 39 42 46 34**(-2) 43(+4) 48(+6) 45(-1)
MC A 43 43 46 44 48(+5) 40(-3) 44(-2) 37(-7)
PN A 29** 68** 56 67** 37*(+8) 55(-13) 52(-4) 55(-12)
Um * ao lado do número indica que aquele escore se encaixa na faixa borderline. Dois * indicam que o escore é
clínico. Para o índice de CS (competência social), quanto menor o escore, mais clínico ele é.
A: Alta
SI: sucesso inicial
I: Insucesso
D: desistência
SA: saída inevitável
DI: distúrbios internalizantes
DE: distúrbios externalizantes
DT: distúrbios totais
CS: competência social (em branco quando a criança ainda não está em idade escolar)
Pode-se observar, na Tabela 8, que das 11 crianças, cinco tinham escores que as
classificavam na faixa clínica dos distúrbios totais e uma na faixa borderline. Os escores das
outras se encontravam na faixa não clínica, o que resultou num grupo heterogêneo.
Ao final do tratamento, quatro entre as seis crianças, cujos pais forneceram dados de
avaliação (N=5/11), apresentaram redução no valor dos distúrbios externalizantes, fato que
pode se dever a três causas: mudança apenas na percepção dos pais, mudança no
comportamento da criança devido às intervenções terapêuticas ou mudança no
comportamento da criança devido à melhora da enurese. Não é possível, com o delineamento
utilizado (A-B com replicação) concluir em favor de qualquer uma dessas possibilidades.
Apesar de todas as crianças que tiveram melhora no escore de DT tivessem obtido alta, a
relação entre esses dois fatores pode ser questionada. Como o instrumento é aplicado logo
após o fim do tratamento, talvez ainda não haja tempo para que as mudanças decorrentes do
76
término das “molhadas” provoquem mudanças comportamentais mais intensas. É provável
que as intervenções terapêuticas e principalmente a mudança na percepção dos pais sejam
mais determinantes na mudança do escore, uma vez que as expectativas parentais em relação
ao comportamento dos filhos são bastante trabalhadas em sessão.
Os participantes M. G. e M. C. não tiveram escores que os classificaram como clínicos
em nenhuma da áreas avaliadas pelo CBCL.
Das onze crianças, sete delas (M.F., A.C., B.J., C.F., D.R., J.C. e M.C.) apresentaram
escores que as classificam na faixa clínica ou borderline em competências. Este pode ser tanto
um resultado das dificuldades sociais que a enurese implica como um viés relativo ao
instrumento, uma vez que muitas das atividades presentes no lculo do escore de
competências podem ser menos freqüentes no Brasil por conta de uma questão cultural.
As crianças B. N., M. F. e C. F. apresentaram um índice elevado de distúrbios
externalizantes e totais, o que seria um preditor do insucesso no tratamento. Como o CBCL é
um instrumento que mede a percepção dos pais, indica que os pais dessas crianças as vêem
como altamente problemáticas. Duas dessas crianças desistiram do tratamento, enquanto a
outra obteve alta.
D.R. foi classificado na faixa bordeline nos DE, e teve uma grande redução na sua
escala no escore final, de 21 pontos, que a fez situar-se bem abaixo da faixa clínica. Essa
mudança pode ter sido decorrente das sessões de grupo, em que D., muito agitado no início,
precisou adaptar-se para ser melhor aceito por outras crianças. Houve intervenção do
terapeuta nesse sentido.
Outra variação digna de nota é a de P.N. nos DI, que passou de 68, na faixa clínica, para
55, na faixa normal. É menos claro o mecanismo pelo qual variação nos distúrbio
internalizantes. Pode-se hipotetizar que a criança ao ter suas “molhadas” cessadas, isole-se
menos, o que aumentaria o escore desse grupo de distúrbios.
As outras crianças tiveram não tiveram variações que se destacassem através de
inspeção visual.
Comparando-se os escores de competências iniciais e finais, verifica-se que não houve
um padrão nas mudanças ou associação com o resultado do tratamento. Das cinco crianças
que tiveram escores de CS finais, duas apresentaram redução que, ao contrário das outras
escalas, as aproximam da faixa mais clínica — e três apresentaram elevação.
B.N. e B.J. são duas crianças que terminaram o tratamento mas cujas famílias não foram
localizadas para a aplicação do CBCL. B.N. mudou-se de país e B.J. mudou-se de endereço e
telefone.
77
Este grupo caracteriza-se, então, por uma diminuição nos DT em mais casos (quatro
entre seis) e com valores maiores (média de redução de 9,5 pontos contra uma média de
aumento de 1 ponto). Todas as crianças que tiveram redução nos DT obtiveram alta no
tratamento. Embora acredita-se que esse seja um resultado do atendimento com as crianças, é
provável que a percepção dos pais mude bastante com o fim da enurese, provocando escores
melhores.
4.2.2. Crianças atendidas individualmente
Tabela 9 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas individualmente
Inicial Final (variação) Criança Resultado
CS DI DE DT CS DI DE DT
HF A 30** 74** 77** 71** 35**(+5) 75**(+1) 64*(+7) 71**(0)
CA D 40* 51 49 51
RN A 55 58 58
WB D 28** 63** 62* 67**
GS A 43 53 47 51 52(+9) 51(-2) 49(+2) 49(-2)
KL A 51 68** 61* 48 46(-5) 62*(-6) 57(-4)
FA A 24** 74** 66** 71** 45(+21) 75**(+1) 71**(+5) 75**(+4)
Um * ao lado do número indica que aquele escore se encaixa na faixa borderline. Dois * indicam que o escore é
clínico. Para o índice de CS (competência social), quanto menor o escore, mais clínico ele é.
A: Alta
D: desistência
DI: distúrbios internalizantes
DE: distúrbios externalizantes
DT: distúrbios totais
CS: competência social (em branco quando a criança ainda não está em idade escolar)
Assim como as crianças atendidas em grupo, os participantes da mesma faixa etária
atendidos individualmente formaram um grupo com escores distintos nos distúrbios totais no
CBCL. Três crianças tinham escores na faixa clínica, uma na borderline e três na faixa o
clínica, como apresentado na Tabela 9.
Não se observou, nesse grupo, relação entre alto escore nos DT e desistência. Das três
crianças com escores na faixa clínica, duas alcançaram sucesso no tratamento. Por outro lado,
uma criança com DT baixos (C. A.) desistiu do atendimento.
Além disso, não ficou evidente nesse grupo a diminuição nos escores de DT como no
atendimento em grupo. Houve, inclusive, um aumento de 71 para 75 nos DT de F.A., que
tinha um escore clínico. Contudo, a criança perdeu o pai durante o tratamento, o que pode ter
uma influência nesse resultado.
78
As crianças que tinham escores de CS no início e cujos pais preencheram o CBCL no
fim do tratamento (H.F., G.S. e F.A.) apresentaram aumento nas competências, especialmente
F.A., que teve seu escore aumentado em 21 pontos. Talvez isso se deva às mudanças
familiares que ocorreram após a morte de seu pai, culminando numa maior necessidade de
F.A. participar de tarefas e situações sociais.
Três crianças tinham escores que as classificavam como clínicas nos DI (H.F., W.B. e
F.A) no início do tratamento, enquanto as outras tinha escores que as situavam na faixa
normal. Não houve variação padronizada ou valor elevado de mudança em nenhum caso.
O mesmo ocorre com os DE, embora uma criança que tinha um escore que a colocava
na faixa clínica (K.L.) tenha tido uma redução que a situou na faixa borderline após o
tratamento. Contudo, as variações nessa escala podem ser reflexos da variabilidade natural do
comportamento da criança ou dos pais.
Os pais de R. N. não retornaram o CBCL entregue para avaliação final, devido a
problemas familiares.
Este grupo teve cinco altas entre sete crianças. Contudo, ao contrário das crianças
atendidas em grupo, esse resultado não esteve associado à melhora nos escores de DT. Uma
característica deste grupo, no entanto, foi o padrão de melhora nos escores de CS. É possível
que o atendimento individual favoreça a melhora das competências.
79
4.2.3. Adolescentes atendidos em grupo
Tabela 10 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de crianças atendidas em grupo
Inicial Final (variação) Adolesc. Resultado
CS DI DE DT CS DI DE DT
AS SA 39* 55 53 56
AB A 41 55 50 58 45(+4) 51(-4) 45(-5) 53(-5)
BM D 36** 61* 67** 66**
BR A 39* 64** 67** 68** 40*(+1) 57(-7) 64**(-3) 65**(-3)
FF I 39* 57 53 54 36**(-3) 72**(+15) 56(+3) 65**(+11)
MV A 46 43 58 60* 43(-3) 65**(+12) 65(+7) 66**(+6)
RC A 41 60* 55 57 36**(-5) 62*(+2) 55(0) 57(0)
GH I 44 51 47 52 39*(-5) 45(-6) 43(-4) 46(-6)
Um * ao lado do número indica que aquele escore se encaixa na faixa borderline. Dois * indicam que o escore é
clínico. Para o índice de CS (competência social), quanto menor o escore, mais clínico ele é.
A: Alta
SI: sucesso inicial
I: Insucesso
D: desistência
SA: saída inevitável
DI: distúrbios internalizantes
DE: distúrbios externalizantes
DT: distúrbios totais
CS: competência social (em branco quando a criança ainda não está em idade escolar)
Segundo a análise da Tabela 10, os adolescentes atendidos em grupo caracterizam-se
por escores relativamente baixos nos DT quando comparados aos outros grupos. Apenas dois
deles m escores que os classificam como clínicos, sendo que nenhum deles está acima de
70. Mais uma vez, não houve relação direta desses valores com o resultado do tratamento: um
desses participantes recebeu alta (B. R.) enquanto outro desistiu (B. M.).
A variação nos escores iniciais e finais do DT também não obedeceu a um padrão, com
casos de aumento nos problemas, diminuição e manutenção. Dois participantes (F.F. e M.V.)
que não tinham escores na faixa clínica alcançaram essa faixa ao fim do tratamento.
Embora A.B. e B.R tenham tido ligeiros incrementos nos seus escores de competências,
F.F., M.V., R.C. e G.H. tiveram diminuição nessa escala, sendo que apenas M.V. não foi
classificado numa faixa mais clínica do que a do início do tratamento.
Além disso, o aumento nos escores de DI foi notável nos casos de F.F. e M.V., que
passaram direto da faixa normal para a clínica, puxando também o escore dos D.T. para a
mesma classificação.
B.M. e B.R. tinham escores clínicos em todas as escalas no início do tratamento, sendo
que B.M. acabou desistindo e B.R. foi o primeiro do grupo a obter alta. Fica claro que outros
80
fatores que não os problemas de comportamento têm influência no resultado do tratamento.
Nestes casos, é provável que tenha sido as diferenças das famílias. A de B.R. era tolerante,
com alto nível de compreensão e seguimento das regras, enquando a de B.M. era intolerante e
frequentemente não seguia as instruções.
Os escores de DE não tiveram grandes variações durante o tratamento. Um número
relativamente baixo dos adolescentes, quando comparado com os outros grupos, tinha escores
clínicos no DE. Nenhum tinha escore nessa escala acima de 70, que seria um preditor de
insucesso no tratamento.
Este grupo foi o que teve a maior proporção de insucessos quando comparada à de
sucessos. Curiosamente, os problemas de comportamento, que poderiam ser um fator
determinante, o eram excessivos no início do tratamento. Ao contrário do esperado, eles
aumentaram com um valor acima de 5 em dois casos. Esses aumentos foram ocasionados
principalmente pelo aumento nos escores de DI. Uma possibilidade para isso é que pelo fato
dos adolescentes estarem entrando numa fase diferente, tendem a se isolar mais e ter menos
contato com os pais do que eles estavam acostumados. Essa discrepância pode causar uma
impressão de que os problemas são maiores do que são de fato.
81
4.2.4. Adolescentes atendidos individualmente
Tabela 11 - Escores do CBCL no início e no término do tratamento de adolescentes atendidos
individualmente
Inicial Final (variação) Adolesc. Resultado
CS DI DE DT CS DI DE DT
JG A 30** 64** 60* 66**
ED I 39* 75** 63** 70** 40*(+1) 65**(-10) 53(-10) 59(-11)
LF A 64** 66** 67** 36** 48(-16) 55(-11) 55(-12)
FS SI 21** 76** 77** 78** 26**(+5) 76**(0) 75**(-2) 80**(+2)
CB A 33** 75** 64** 73** 29**(-4) 62*(-13) 65**(+1) 66**(-7)
I 44 71** 75** 76** 43(-1) 55(-16) 63**(-12) 63*(-13)
Um * ao lado do número indica que aquele escore se encaixa na faixa borderline. Dois * indicam que o escore é
clínico. Para o índice de CS (competência social), quanto menor o escore, mais clínico ele é.
A: Alta
SI: sucesso inicial
I: Insucesso
D: desistência
SA: saída inevitável
DI: distúrbios internalizantes
DE: distúrbios externalizantes
DT: distúrbios totais
CS: competência social (em branco quando a criança ainda não está em idade escolar ou quando
preenchidos de forma incompleta)
De acordo com a Tabela 11, o grupo de adolescentes atendidos individualmente,
apesar da seleção aleatória, foi formado por participantes com escores altos nos DT, ao
contrário dos adolescentes atendidos em grupo. Todos eles tiveram escores acima de 65, e
quatro deles acima de 70, o que indicaria problemas com o tratamento.
Contudo, o que se observou foi uma grande diminuição nesses valores, sendo que os
escores de dois participantes deixaram de ser clínicos e um situou-se na faixa borderline.
Deve-se ressaltar que todos esses casos tiveram acompanhamento terapêutico das dificuldades
alheias à enurese.
Não houve desistências nesse grupo, e a alto escore clínico não parece ter sido
relacionado com o sucesso do tratamento, uma vez que houve apenas dois insucessos.
Além dos escores na faixa clínica nos DT, os adolescentes tiveram escores na mesma
faixa e na faixa borderline em praticamente todas as escalas no início do tratamento. A única
exceção foi J.A. no seu escore de competências, que situou-se na faixa normal.
82
Não houve grandes variações nos escores de CS comparando-se os do início com os
do fim do tratamento, ao contrário do que ocorreu com as crianças atendidas individualmente,
que obtiveram uma redução mais ampla nessa escala.
Por outro lado, tanto os valores de DI como DE tiveram reduções importantes, com
exceção de F.S. Dois adolescentes (L.F. e J.A.) deixaram de ter escores na faixa clínica nos
DI e dois (E.D. e L.F.) deixaram de ter escores na faixa clínica nos DE.
L.F. e E.D. conseguiram ser classificados na faixa normal ao terem seus escores nos
DT reduzidos para menos de 60.
F.S., o participante com escores mais altos dentro da amostra, foi o único a não
apresentar diminuição no escore dos DT. Embora sua mãe tenha verbalizado nas sessões que
percebeu uma grande melhora no comportamento do filho durante o tratamento,
estranhamente isso não se manifestou nos dados do CBCL. Talvez suas expectativas em
relação ao comportamento do filho aumentaram na mesma freqüência em que ele demonstrou
melhora nos problemas que apresentava.
A família de J.G. não retornou o questionário enviado para avaliação.
Embora este grupo tenha sido variado em termos de resultados do tratamento, foi
homogêneo em relação aos escores de problemas de comportamento no início do tratamento e
nas grandes reduções desses escores, notadamente nos DI, DE e DT. Talvez essa redução se
deva ao contato terapêutico mais intenso com os adolescentes e os pais, que o alto nível de
problemas iniciais se converteu em alta demanda por atenção esses problemas, o que não
ocorreu de forma tão intensa em outros grupos. O contato terapêutico pode ajudar nos escores
na medida em que diminui a freqüência dos problemas de comportamento e auxilia os pais a
lidar e perceber melhor as necessidades e características dos filhos, associando isso a uma
expectativa realista.
A análise das Tabelas referentes aos escores do CBCL e dos resultados dos
atendimentos mostram que não relação clara entre os problemas de comportamento e o
resultado do tratamento.
Por outro lado, alguns tipos de atendimento parecem ter relação com a mudança nos
escores de problemas de comportamento. Cada tipo de atendimento e cada faixa etária parece
ter suas especificidades.
O atendimento individual para adolescentes reduziu, na maioria dos casos os índices
de DI, DE e DT. Já o atendimento em grupo para adolescentes, além de não produzir os
83
mesmos resultados, produziu aumento nos escores de DI e DT em dois casos numa nível mais
elevado do que o observado em outros grupos.
no caso das crianças, o atendimento em grupo propiciou uma redução nos DT como
resultado principalmente de uma combinação na melhora de outros escores. Em contrapartida,
o atendimento individual infantil não produziu a mesma redução nos DT, tendo, em vez disso,
como destaque, uma melhora nos escores de competências.
Não há, portanto, uma relação entre os tipos de atendimento e a variação entre os
problemas de comportamento entre o início e o fim do tratamento.
84
4.3. Resultados do tratamento, caso a caso
Tabela 12 - Resultados detalhados do tratamento por caso
Identificação Faixa etária Atendimento Resultado N° semanas
s/ aparelho
Semana
de
sucesso
Semana de
alta
faltas
Demanda
em outros
problemas
HF
Criança Individual Alta 12 31 39 5 Sim
CA
Criança Individual Desistência 2 x x 5 Não
RN
Criança Individual Sucesso Inicial 3 10 x 9 Não
WB
Criança Individual Desistência 4 x x 8 Não
GS
Criança Individual Alta 4 13 21 3 Não
KL
Criança Individual Alta 7 12 40 5 Não
FA
Criança Individual Alta 9 23 36 5 Sim
MG
Criança Grupo Saída Inevitável 8 x x 2 Não
BN
Criança Grupo Alta 8 16 21 1 Não
MF
Criança Grupo Desistência 9 x x 4 o
AC
Criança Grupo Insucesso 9 x x 4 Sim
BJ
Criança Grupo Sucesso Inicial 9 32 x 7 o
CF
Criança Grupo Desistência 11 x x 8 Não
DR
Criança Grupo Alta 9 13 21 0 Não
GF
Criança Grupo Sucesso Inicial 9 30 x 9 Sim
JC
Criança Grupo Alta 9 7 25 1 Não
MC
Criança Grupo Alta 9 13 21 2 Não
PN
Criança Grupo Alta 9 12 17 1 Não
JG
Adolescente Individual Alta 4 13 34 2 Sim
ED
Adolescente Individual Insucesso 4 x x 3 Sim
LF
Adolescente Individual Alta 6 19 27 9 Sim
FS
Adolescente Individual Sucesso Inicial 24 21 x 4 Sim
CB
Adolescente Individual Alta 5 5 13 0 Sim
JA
Adolescente Individual Insucesso 3 x x 3 Sim
AS
Adolescente Grupo Saída Inevitável 3 x x 3 Não
AB
Adolescente Grupo Alta 4 24 33 2 Não
BM
Adolescente Grupo Desistência 4 x x 4 Não
BR
Adolescente Grupo Alta 4 10 15 0 Sim
FF
Adolescente Grupo Insucesso 4 x x 1 Sim
MV
Adolescente Grupo Alta 4 2 16 1 Sim
RC
Adolescente Grupo Alta 4 10 29 2 Não
GH
Adolescente Grupo Insucesso 4 x x 2 Sim
A Tabela 12 mostra as informações referentes a cada caso atendido. As colunas da
Tabela são referentes a:
Identificação: sigla individual de cada participante.
Faixa etária: o participante pode ser classificado como criança (6 a 10 anos) ou
adolescente (11 a 18 anos).
85
Atendimento: o participante pode ter sido atendido nas modalidades individual
ou grupal.
Resultado: descrição do desfecho do tratamento de cada participante.
semanas sem aparelho: número de semanas nas quais o participante já estava
em atendimento mas aguardava a entrega do alarme para utilização em casa.
Semana de sucesso: número da semana, contada a partir do início do tratamento,
na qual o participante obteve pela primeira vez 14 noites secas consecutivas.
Semana de alta: número da semana na qual o participante completou a
superaprendizagem.
Faltas: número de faltas, justificadas ou não, ocorridas durante o período de
tratamento.
Demanda em outros problemas: existência ou não por parte da família de uma
demanda clara e específica por atenção do terapeuta sobre um problema de
comportamento não relacionado diretamente com a enurese, como problema de
aprendizagem ou dificuldade no relacionamento com pares.
Observa-se que houve 18 crianças atendidas, sendo 7 individualmente e 11 em grupo.
Os adolescentes foram 14, sendo 6 individualmente e 8 em grupo. Dos 32 participantes, 16
receberam alta, 4 obtiveram sucesso inicial, 5 foram classificados como insucessos, 5
desistiram e 2 foram considerados saídas inevitáveis. Para análise da efetividade do
tratamento, convém agrupar os casos de alta e sucesso inicial como “sucesso”, pois obtiveram
as 14 noites secas consecutivas tomadas como critério na literatura. Os casos em que a
continência não se manteve após o sucesso inicial podem ser chamados de recaídas quando
chegam a duas molhadas” por semana. Os casos de insucesso e desistência podem ser
agrupados em “insucesso”, que o tratamento, nesses casos, o foi efetivo para reduzir as
“molhadas” a ponto de atingir o critério inicial ou não conseguiu manter as famílias em
atendimento. Excluem-se desse agrupamento os casos de saídas inevitáveis, pois elas são
consideradas fatores de força maior que não têm relação com o tratamento. Com esse
agrupamento, restaria um total de 30 participantes, dentre os quais 20 se enquadram em
“sucesso” e 10 em “insucesso”.
O número de semanas em atendimento sem o alarme variou de três a 11, excetuando-se
um caso específico de 24 semanas. O tempo era estabelecido de acordo com a disponibilidade
da família em aceitar as modificações na rotina necessárias para inserção do alarme. No
atendimento individual isso culminava numa maior flexibilidade, enquanto no grupo era
86
determinado uma data comum com mais semanas a fim de dar tempo para todos se
adaptassem. Por isso, as crianças atendidas em grupo tem maior tempo antes da inserção do
alarme; já nos atendimentos individuais em que havia colaboração imediata da família a
inserção podia ocorrer antes. O caso de F.S. foi uma exceção em que o adolescente
apresentava muitos problemas de comportamento. O tempo de mais de vinte semanas foi
necessário para que ele aceitasse o uso do alarme.
A semana de sucesso variou de duas a32, sendo que M.V. alcançou sucesso em tão
pouco tempo por ter uma freqüência baixa ao iniciar o tratamento. A literatura aponta que
26 semanas com o alarme é um critério ideal máximo para verificar a efetividade do
tratamento. Se forem tomadas as semanas de sucesso e subtraídas os números de semanas sem
o alarme, constatar-se-á que o caso em que houve maior demora foi o de B.J., exatamente 26
semanas depois do início do uso do alarme. A maior parte dos sucessos (12 entre 20) ocorreu
antes da 20ª semana de tratamento. As crianças que o tem um valor para essa coluna são
aquelas que não obtiveram sucesso.
A semana de alta retrata a semana em que a superaprendizagem foi concluída, após o
sucesso inicial. Esse intervalo variou de cinco a 21 semanas, sendo que quatro participantes
que obtiveram sucesso inicial não conseguiram completar com sucesso a superaprendizagem,
sendo três crianças e um adolescente. Dos 16 participantes que receberam alta, 7 completaram
a superaprendizagem em 8 semanas.
Das 32 famílias que particparam, em 14 houve demanda por atenção a outros problemas
de comportamento, especialmente entre os adolescentes (10 entre 14), notadamente no grupo
de atendimento individual (6 casos). Este grupo era realmente o que tinha mais escores na
faixa clínica em todas as escalas, e foi o que também obteve as maiores reduções nos escores
ao fim do tratamento, especialmente nos DI, DE e DT. As reduções podem ser devidas à
intervenção terapêutica direta nos problemas de comportamento.
Nenhuma família faltou mais de nove vezes nas sessões, e apenas três completaram o
tratamento sem perder nenhum encontro. Embora o número de faltas possa ser observado na
Tabela 11, sua relação com o resultado fica mais clara observando a Figura 9.
87
0 1 2 3 4 5 6 7 8 9
HF
CA
RN
W
GS
KL
FA
BN
MF
AC
BJ
CF
DR
GF
JC
MC
PN
JG
ED
LF
FS
CB
JA
AB
BM
BR
FF
M
RC
GH
Participante
Número de faltas
Sucesso
Insucesso
CI
CG
AI
AG
Figura 9 - Número de faltas e relação com o resultado
CI: crianças atendidas individualmente
CG: crianças atendidas em grupo
AI: adolescentes atendidos individualmente
AG: adolescentes atendidos em grupo
Como o maior contato terapêutico produziria melhores resultados, esperar-se-ia que as
famílias mais assíduas nas sessões de tratamento obtivessem mais sucesso e, em
contrapartida, as mais ausentes obtivessem resultados piores. Isso foi verificado nos trabalhos
de Silva (2004) e Costa (2005).
Os participantes foram divididos entre “mais assíduos”, através do critério arbitrário de
até 5 faltas no tratamento e “menos assíduos”, com mais de cinco faltas.
A partir da observação da Figura 9, verifica-se que há 24 clientes com menos de 5 faltas
e 6 clientes com mais de seis faltas. A taxa de sucesso entre os clientes com menos faltas é de
66%, a mesma entre os clientes com mais faltas, o que indica que a diferença na assiduidade
88
não parece ter relação com o resultado em termos gerais. Apesar de contrariar os resultados
obtidos em outros trabalhos, deve-se considerar que houve um número menor de faltas entre
os participantes do presente estudo quando comparado com os estudos anteriores, o que pode
inviabilizar uma comparação direta. Uma análise estatística compreensiva dos dados
conjuntos de todos os trabalhos pode clarificar essa questão.
Cinco dos seis casos classificados como menos assíduos” encontraram-se entre os
grupos de atendimento infantil. A Figura 9 não incluiu os participantes que tiveram
configurada a saída inevitável.
Na Figura 10, pode-se visualizar a proporção de participantes que atingiu cada um dos
resultados possíveis do tratamento.
Alta
53%
Sucesso
Inicial
13%
Insucesso
17%
Desisncia
17%
Figura 10 - Distribuição percentual dos resultados do tratamento em todos os grupos *
* excluindo-se as saídas inevitáveis
A Figura 10 mostra que um total de 66% dos casos (20 entre 30) atendidos chegou ao
critério de 14 noites secas consecutivas. Trinta e quatro por cento dos casos (10 entre 30) o
foram bem sucedidos, tanto por desistências como por insucesso. Mais da metade das crianças
e adolescentes conseguiram, além de obter as 14 noites secas, passar com sucesso pela
superaprendizagem. Dezessete por cento, no entanto, não conseguiram manterem-se secas
durante a prevenção de recaída.
Na figura 10, chama atenção a alta proporção de desistências (5 ao todo), que
certamente contribuíram para manter a taxa de sucesso num nível compatível com o da
89
literatura, mas abaixo do esperado. É provável que, caso essas crianças tivessem continuado o
tratamento, pudessem ser bem sucedidas.
A falibilidade dos alarmes também pode ter tido sua influência na taxa de insucessos.
Ao ter um alarme quebrado, a criança ou o adolescente interrompe o processo de
condicionamento, que pode causar mais “molhadas”, diminuindo a confiança da criança em si
mesma e no tratamento, o que, por sua vez, pode provocar um aumento ainda maior nos
episódios, resultando em desistência ou insucesso. A equipe do Projeto Enurese, juntamente
com a fabricante dos alarmes, tem buscado uma solução para a questão dos alarmes
defeituosos, a fim de que o mesmo problema não ocorra no futuro.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Número de participantes
CG CI AG AI
Grupo de atendimento
Insucesso
Sucesso
Figura 11 - Distribuição de sucesso e insucesso por grupo de atendimento
CG: crianças atendidas em grupo
CI: crianças atendidas individualmente
AG: adolescentes atendidos em grupo
AI: adolescentes atendidos individualmente
A Figura 11 mostra a proporção entre sucessos e insucessos em cada grupo de
atendimento. Verifica-se que não diferença nessa relação nos dois grupos de atendimento
para crianças, situando-se em torno de 70%. Por outro lado, varia nos grupos de atendimento
a adolescente, com cerca de 60% para os adolescentes atendidos em grupo e 80% para os
adolescentes atendidos individualmente.
A inspeção visual da figura permite especular que, enquanto as diferentes modalidades
de atendimento não diferem para as crianças, o atendimento individual parece ser mais efetivo
90
nos adolescentes, principalmente se considerarmos que o grupo de adolescentes atendidos
individualmente tinha escores mais clínicos no CBCL que os adolescentes atendidos em
grupo.
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Individual Grupo
Tipo de atendimento
Insucesso
Sucesso
Figura 12 - Distribuição de sucesso e insucesso por tipo de atendimento
A Figura 12 demonstra que não houve diferença, a partir de inspeção visual, nos
resultados de acordo com os tipos de atendimento. O atendimento em grupo, tendo mais
participantes, também teve maiores números de sucessos e insucessos.
91
0%
10%
20%
30%
40%
50%
60%
70%
80%
90%
100%
Crianças Adolescentes
Faixa eria
Insucesso
Sucesso
Figura 13 - Distribuição de sucesso e insucesso de acordo com a faixa etária
A Figura 13 mostra a distribuição dos resultados de acordo com a faixa etária. Embora
houvesse mais crianças do que adolescentes em tratamento, aparentemente, por inspeção
visual, uma pequena desproporção entre os sucessos e insucessos. Tal diferença pode
indicar certa facilidade maior para que as crianças sejam mais bem sucedidas, mas é provável
que a variação seja pequena demais para se tomar uma conclusão desse tipo.
A Figura 14 foi criada sobrepondo-se as curvas médias de freqüências de “molhadas”
para cada grupo de atendimento.
92
0
0,5
1
1,5
2
2,5
3
3,5
4
4,5
5
5,5
6
6,5
7
LB1LB21 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12 13 14 15 16 17 18 19 20 21 22 23 24 25 26 27 28 29 30 31 32 33 34 35 36 37 38 39 40
Semana
Noites Molhadas (média)
CI
CG
AI
AG
Figura 14 - Média de noites “molhadas” por grupo de atendimento
CG: crianças atendidas em grupo
CI: crianças atendidas individualmente
AG: adolescentes atendidos em grupo
AI: adolescentes atendidos individualmente
Analisando as curvas da Figura 14 em toda sua extensão, fica clara a tendência de
redução nas “molhadas” durante o atendimento. A dia dos quatro grupos situa-se entre 4,4
e 5,3 no período de linha de base.
Verifica-se também que os grupos de crianças, apesar de terem médias mais altas na
primeira semana de linha de base, são os que têm as dias mais baixas na 40ª semana de
atendimento. Curiosamente, as médias dos grupos de adolescentes é a mesma na última
semana de atendimento.
uma redução nas curvas logo nas primeiras semanas de atendimento, com
decréscimos ocorrendo a a 15ª ou 16ª semana. Após esse período, uma oscilação
ascendente em todos os grupos, mais intensa nos grupos de adolescentes e menos intensa para
as crianças atendidas em grupo.
Excetuando-se as crianças atendidas individualmente, verifica-se que uma
estabilização das curvas em torno de um determinado patamar a partir da trigésima semana.
A análise da Figura 14 permite concluir que nas primeiras semanas de atendimento,
mesmo antes da inserção do alarme um tendência de queda nas médias de freqüência de
“molhadas”. Parece ser normal um aumento das freqüências no meio do período de
tratamento, aumento esse que algumas crianças recuperam e outras não. A pouca
variabilidade das curvas após a 30ª semana sugere que o tratamento talvez pudesse ser mais
curto sem grande prejuízo nos resultados.
93
4.4. Análise estatística
A análise estatística foi elaborada através de dois agrupamentos, a fim de aumentar o
número de participantes em cada um deles. Foram comparados crianças e adolescentes,
independentemente do tipo de atendimento; e participantes atendidos coletiva e
individualmente, desconsiderando-se a faixa etária. O sucesso no tratamento foi analisado
segundo esses agrupamentos. Além disso, o resultado foi também associado a outras
variáveis, como problemas de comportamento, o número de faltas e a demanda por atenção a
outros problemas, a fim de verificar se existiu relação com o desfecho dos atendimentos. A
relação entre problemas de comportamento antes e após o atendimento também foi objeto de
atenção.
4.4.1. Resultado do tratamento
4.4.1.1. Atendimento coletivo e individual
A Tabela 13 mostra os testes realizados para verificar se havia similaridade entre os
participantes quando agrupados de acordo com o tipo de atendimento.
94
Tabela 13 - Testes de variáveis não relacionados ao resultado do tratamento de acordo com tipo de
atendimento
Tipo de Atendimento
COMPARAÇÃO
Coletivo Individual
ENTRE OS GRUPOS *
Variável
estatística
valor - p
conclusão a
5%
Num.de indivíduos
total
19 (59,4%) 13 (40,6%)
Idade (anos) teste de médias *
média (dp)
9,6 ( 3,04 ) 10 ( 3,85 ) 0,732 aceita H0
teste de independência **
freqüência
1,000 aceita H0
06 - 10 anos (n)
57,9% (11) 53,8% (7)
11 -16 anos (n)
42,1% (8) 46,2% (6)
coef.de Cramer
0,040
Sexo teste de independência **
freqüência
1,000 aceita H0
masculino (n)
78,9% (15) 84,6% (11)
feminino (n)
21,1% (4) 15,4% (2)
coef.de Cramer
0,071
Demanda por intervenção teste de independência **
freqüência
0,094
aceita H0
Não (n)
68,4% (13) 38,5% (5)
Sim (n)
31,6% (6) 61,5% (8)
coef.de Cramer
0,297
Freqüência semanal (media da LB1 e LB2) teste de médias *
média (dp)
5,1 ( 2,07 ) 4,7 ( 2,14 ) 0,623
aceita H0
teste de independência **
freqüência
0,897
aceita H0
menos de 3 vezes (n)
21,1% (4) 23,1% (3)
3 a 6 vezes (n)
36,8% (7) 46,2% (6)
mais de 6 vezes (n)
42,1% (8) 30,8% (4)
coef.de Cramer
0,118
semanas s/ aparelho teste de médias *
média (dp)
6,1 ( 2,66 ) 6 ( 5,8 ) 0,945
aceita H0
faltas teste de médias *
média (dp)
2,8 ( 2,61 ) 4,7 ( 2,69 ) 0,061
aceita H0
teste de independência **
freqüência
0,049 rejeito H0
menos ou igual de 10% (4 faltas)
(n)
84,2% (16) 46,2% (6)
mais de 10% (4 faltas) (n)
15,8% (3) 53,8% (7)
coef.de Cramer
0,403
dp - desvio padrão ; num. - numero de indivíduos ; coef.Cramer valor zero se independência e tem valores entre 0 e +1
(1) considerando o inicio da coorte como inicio do uso do aparelho- 3 pacientes obtiveram sucesso antes da colocação
do aparelho sendo apenas 29 individuos acompanhados na coorte
(2) considerando o inicio da coorte como primeira sessão
95
* ANALISE DE MEDIAS NÃO-PAREADAS
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :a media do grupo de coletivo e do individual são
iguais
HA :a media do grupo de coletivo e do individual são
diferentes
ESTATÍSTICA DO TESTE
t OBS > t-studentCRITICO ( ou equivalente se o nível
descritivo -valor p - for menor que 0,050 )
rejeita a hipótese H0 , ou seja, um grupo difere do
outro
** ANALISE DE independência (teste exato de Fisher )
HIPÓTESES DO TESTE Ho :há independência entre grupo e variável
HA :há associação entre grupo e variável
ESTATÍSTICA DO TESTE
ProbalidadeOBS > ProbalidadeCRITICO ( ou
equivalente se o nível descritivo -valor p -
for menor que 0,050 ) rejeita a hipótese H0 , ou seja,
existe associação entre grupo e variável
A Tabela 13 mostra que, ao agrupar os participantes pelo tipo de atendimento, houve
uma proporção de 59,4% no atendimento coletivo e 40,6% no atendimento individual. Os
testes relativos à variável “idade” evidenciam que a distribuição entre os tipos de atendimento
foi semelhante, assim como a distribuição de acordo com o sexo.
Embora não seja uma diferença significativa, houve uma tendência a que a demanda por
intervenção em outros problemas de comportamento ocorresse com mais freqüência nos
atendimentos individuais do que em grupo. Em parte, pode-se dizer que isso é esperado pela
própria diferença na configuração do atendimento, já que nas sessões individuais mais
tempo e espaço para que os pais coloquem suas preocupações em relação a outras
dificuldades dos filhos e peçam ajuda.
A média das linhas de base dos participantes atendidos coletivamente foi igual a 5,7,
enquanto a dos participantes atendidos em grupo foi de 4,7. Esses valores o semelhantes, o
que valida a análise das freqüências de “molhadas” posteriores para o agrupamento de acordo
com os tipos de atendimento. Ao dividir as amostras em grupos com menos de três
“molhadas” semanais, entre três e seis “molhadas” ou mais de seis “molhadas”, também não
houve diferença significativa ou tendência na distribuição desses participantes.
A dia do número de semanas sem o aparelho foi praticamente a mesma entre os
grupos: 6,1 entre os que foram atendidos coletivamente e 6 entre os participantes atendidos
individualmente.
A única diferença significativa observada no agrupamento pelo tipo de atendimento
ocorreu no número de faltas. Quando se divide os grupos em participantes com menos de 4
faltas ou mais de 4 faltas, verifica-se que os participantes do atendimento coletivo faltam
menos. Embora essa divisão pela freqüência de faltas tenha sido arbitrária, a mesma tendência
se observa no teste das médias. Esse resultado indica que o atendimento em grupo parece
96
favorecer a assiduidade dos participantes. Contudo, vale ressaltar que o número de faltas de
todos os participantes foi baixa (o máximo foi 9). Mesmo com a tendência observada nas
médias, ao considerar o aspecto clínico, talvez a diferença entre 2 e 4 faltas em 40 sessões
não seja tão relevante quando a análise estatística sugere.
a Tabela 14 contempla as variáveis relacionadas ao resultado do tratamento, em vista
do agrupamento dos participantes em atendimento coletivo ou individual.
97
Tabela 14 - Variáveis relativas ao sucesso no tratamento para os agrupamentos por tipo de atendimento
Tipo de Atendimento COMPARAÇÃO
Coletivo Individual ENTRE OS GRUPOS *
Variável
estatística
valor - p
conclusão a 5%
Resultado (após 40 semanas) teste de independência **
freqüência
0,902 aceita H0
alta (n)
47,4% (9) 61,5% (8)
sucesso inicial (n)
10,5% (2) 7,7% (1)
insucesso (n)
15,8% (3) 15,4% (2)
desistência (n)
15,8% (3) 15,4% (2)
saída inevitável (n)
10,5% (2) 0% (0)
coef.de Cramer
0,232
Resultado alterado(após 40 semanas) teste de independência **
freqüência
1,000 aceita H0
Alta+sucesso inicial (n)
64,7% (11) 69,3% (9)
Insucesso+desistência (n)
35,3% (6) 30,7% (4)
coef.de Cramer
0,048
Coorte (1)
n
17 12
Semana de sucesso (1) teste de médias *
% crianças (n)
52,9% (9) 66,6% (8)
média (dp)
11,4 ( 8,29 ) 10,1 ( 6,17 ) 0,718 aceita H0
Semana de alta (1) teste de médias *
% crianças (n)
41,2% (7) 66,6% (8)
média (dp)
16,2 ( 7,05 ) 25,5 ( 8,75 ) 0,029 rejeito H0
Coorte (2)
n
19 13
Semana de sucesso (2) teste de médias *
% crianças (n)
57,9% (11) 69,2% (9)
média (dp)
15,4 ( 9,46 ) 16,3 ( 7,89 ) 0,809 aceita H0
Num. Semana de alta (2) teste de médias *
% crianças (n)
47,4% (9) 61,5% (8)
média (dp)
22 ( 6,04 ) 31,1 ( 9,88 ) 0,034 rejeito H0
dp - desvio padrão ; num. - numero de indivíduos ; coef.Cramer valor zero se independência e tem valores entre 0 e +1
(1) considerando o inicio da coorte como inicio do uso do aparelho- 3 pacientes obtiveram sucesso antes da colocação
do aparelho sendo apenas 29 individuos acompanhados na coorte
(2) considerando o inicio da coorte como primeira sessão
* ANALISE DE MEDIAS NÃO-PAREADAS
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :a media do grupo de coletivo e do individual são
iguais
HA :a media do grupo de coletivo e do individual são
diferentes
ESTATÍSTICA DO TESTE
t OBS > t-studentCRITICO ( ou equivalente se o nível
descritivo -valor p - for menor que 0,050 )
rejeita a hipótese H0 , ou seja, um grupo difere do outro
** ANALISE DE independência (teste exato de Fisher )
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :há independência entre grupo e variável
HA :há associação entre grupo e variável
ESTATÍSTICA DO TESTE
ProbalidadeOBS > ProbalidadeCRITICO ( ou equivalente se
o nível descritivo -valor p -
for menor que 0,050 ) rejeita a hipótese H0 , ou seja, existe
associação entre grupo e variável
98
Através da análise da Tabela 14, verifica-se que, após 40 semanas, não diferença
significativa no resultado do atendimento para os atendimentos individual e grupal, com um
valor p=0,902, considerando os cinco critérios de resultados apresentados anteriormente.
Quando se excluem as saídas inevitáveis e se agrupa alta e sucesso inicial em uma só
categoria, assim como insucesso e desistência em outra, as diferenças são nulas (p=1).
As primeiras linhas de semana de sucesso e alta correspondem à semana contada a partir
do uso do alarme. Pode-se observar que não há diferença no tempo médio levado para se obter
o sucesso para os participantes atendidos em grupo e individualmente. Contudo, diferença
significativa quando considerada a semana de alta: é alcançada mais rapidamente pelos
participantes atendidos em grupo do que os atendidos individualmente.
A mesma relação se observa quando é considerado o tempo desde o início do
atendimento (Semana de sucesso 2 e semana de alta 2). Os participantes de ambas as
modalidade obtêm sucesso num período similar, mas os que foram atendidos coletivamente
alcançam a alta mais rapidamente.
O que separa o sucesso da alta do sucesso é o procedimento de superaprendizagem.
Como eles são administrados de forma idêntica independentemente do tipo de atendimento,
pode-se supor que, de alguma forma, o grupo favoreça a manutenção dos procedimentos,
mesmo após o sucesso inicial, o que não ocorreria da mesma forma no atendimento
individual. Verificando-se as freqüências de “molhadas”, observa-se que, entre os
participantes atendidos individualmente, houve aquele que alcançaram o sucesso inicial, mas
não a alta dentro das 40 semanas de atendimento, o que configura a recaída. Pode-se, então,
traçar uma hipótese de que o grupo desfavoreça a recaída ao menos enquanto as crianças
ainda estão em atendimento.
A Figura 15 mostra o risco de obtenção de sucesso inicial a partir do início do
atendimento para os participantes atendidos coletivamente.
99
Figura 15 - Risco de sucesso para participantes atendidos coletivamente
Observa-se, na Figura 15, que os participantes de atendimento coletivo que obtiveram
sucesso o fizeram gradualmente, desde um s após o início do atendimento até sete meses
após a primeira sessão. Depois de sete meses de atendimento, não houve mais nenhum
sucesso entre os participantes dos atendimentos coletivos.
a Figura 16 mostra o risco de que os participantes atendidos individualmente
obtenham sucesso inicial. Os primeiros casos a serem bem sucedidos ocorrem cerca de um
mês depois do que as atendidas coletivamente. No geral, contudo, todos os sucessos ocorrem
dentro dos mesmos sete meses.
100
Figura 16 - Risco de sucesso inicial para participantes atendidos individualmente
Comparando-se as duas Figuras, verifica-se que pouco risco de sucesso nos dois
primeiros meses, até pelo fato dos participantes levarem até oito semanas para receber o
alarme. Ainda assim, alguns participantes obtém o sucesso inicial nesse período. Obeserva-se,
ainda, que os participantes atendidos individualmente aparentam ter uma elevação mais
gradual do risco do que os adolescentes, embora não tenha existido diferença significativa.
Essa relação mostra que o tempo de tratamento ideal é relativamente o mesmo quando
se compara o atendimento em grupo e individual, situando-se em torno de trinta semanas
desde o início do tratamento ou cerca de 25 semanas após a inserção do alarme.
4.4.1.2. Atendimento com crianças e adolescentes
A mesma análise realizada separando-se os participantes por tipo de atendimento foi
efetuada discriminando-se os participantes por faixa etária, entre crianças e adolescentes. A
Tabela 15 relaciona os resultados obtidos em relação às variáveis o relacionadas
diretamente com a efetividade do tratamento.
101
Tabela 15 - Testes com variáveis não relacionadas ao resultado do tratamento por faixa etária
Faixa Etaria
COMPARAÇÃO
Geral Criança Adolescente ENTRE OS GRUPOS *
Variável
06 - 10 anos 11 -16 anos
estatística
valor - p
conclusão a
5%
Num.de indivíduos
total
32 (100%) 18 (56,3%) 14 (43,8%)
Sexo teste de independência **
freqüência
0,672 aceita H0
masculino (n)
81,3% (26) 77,8% (14) 85,7% (12)
feminino (n)
18,8% (6) 22,2% (4) 14,3% (2)
coef.de Cramer
0,101
Demanda por intervenção em outros problemas teste de independência **
freqüência
0,094 aceita H0
Não (n)
56,3% (18) 77,8% (14) 28,6% (4)
Sim (n)
43,8% (14) 22,2% (4) 71,4% (10)
coef.de Cramer
0,297
Freqüência semanal (media da LB1 e LB2) teste de médias *
média (dp)
5 ( 2,07 ) 5,1 ( 1,81 ) 4,8 ( 2,42 ) 0,757 aceita H0
teste de independência **
freqüência
0,478 aceita H0
menos de 3 vezes (n)
21,9% (7) 16,7% (3) 28,6% (4)
3 a 6 vezes (n)
40,6% (13) 50% (9) 28,6% (4)
mais de 6 vezes (n)
37,5% (12) 33,3% (6) 42,9% (6)
coef.de Cramer
0,223
semanas s/ aparelho teste de médias *
média (dp)
6,1 ( 4,14 ) 7,2 ( 2,57 ) 4,6 ( 5,33 ) 0,087 aceita H0
faltas teste de médias *
média (dp)
3,6 ( 2,76 ) 4,4 ( 2,91 ) 2,6 ( 2,24 ) 0,063 aceita H0
teste de independência **
freqüência
0,035 rejeito H0
menos de 10% (4 faltas) (n)
68,8% (22) 50% (9) 92,9% (13)
10% - 20% (n)
15,6% (5) 27,8% (5) 0% (0)
mais de 20% (8 faltas) (n)
15,6% (5) 22,2% (4) 7,1% (1)
coef.de Cramer
0,472
dp - desvio padrão ; num. - numero de indivíduos ; 1ºq med 3ºq - 1ºquartil mediana 3ºquartil ; coef.Cramer valor zero se independência
e tem valores entre 0 e +1
(1) considerando o inicio da coorte como inicio do uso do aparelho- 3 pacientes obtiveram sucesso antes da colocação
do aparelho sendo apenas 29 individuos acompanhados na coorte
(2) considerando o inicio da coorte como primeira sessão
* ANALISE DE MEDIAS NÃO-PAREADAS
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :a media do grupo de coletivo e do individual são
iguais
HA :a media do grupo de coletivo e do individual são
diferentes
ESTATÍSTICA DO TESTE
t OBS > t-studentCRITICO ( ou equivalente se o nível
descritivo -valor p - for menor que 0,050 )
rejeita a hipótese H0 , ou seja, um grupo difere do outro
102
** ANALISE DE independência (teste exato de Fisher )
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :há independência entre grupo e variável
HA :há associação entre grupo e variável
ESTATÍSTICA DO TESTE
ProbalidadeOBS > ProbalidadeCRITICO ( ou equivalente se
o nível descritivo -valor p -
for menor que 0,050 ) rejeita a hipótese H0 , ou seja, existe
associação entre grupo e variável
A análise da Tabela 15 nos permite afirmar que, ao agrupar os participantes pela faixa
etária, independentemente do tipo de atendimento realizado, a distribuição por gênero foi
semelhante, com p=0,672, embora a proporção de meninos no grupo de adolescentes tenha
sido ligeiramente maior.
Observa-se que houve maior demanda por intervenção do terapeuta em outros
problemas de comportamento pelos pais de adolescentes do que pelos pais de crianças.
Contudo, isso pode ser explicado pelo fato de haver mais adolescentes com escore clínico no
CBCL do que crianças, embora se possa apenas especular sobre a relação desses escores com
a enurese. Além disso, todos os adolescentes atendidos individualmente tinham escores
clínicos nos DT do CBCL, o que criava condições propícias para que houvesse essa demanda
por atenção a esses problemas.
Não houve diferença significativa entre as médias das freqüências de “molhadas” na
linha de base para crianças e adolescentes, situando-se perto de 5 (5,1 para as crianças e 4,8
para os adolescentes). Há, no entanto, uma pequena variação na forma como os participantes
se distribuem ao categorizar as freqüências em menos de três vezes, de três a seis vezes e mais
de seis vezes. Enquanto os adolescentes se distribuem de maneira mais uniforme, havendo
apenas uma maior quantidade nos participantes que molham todos os dias, no caso das
crianças existe uma concentração numa freqüência inicial média. Não consenso na
literatura sobre a relação entre mais molhadas” no início do tratamento e o resultado do
mesmo.
Houve certa diferença nas semanas que crianças e adolescentes receberam o alarme.
Enquanto, na média, as crianças receberam o alarme com 7,2 semanas de atendimento, os
adolescentes receberam com 4,6. Isso se deve principalmente ao fato do grupo de crianças ter
demorado mais para receber o alarme devido a um período de recesso entre o início do
atendimento e a entrega do alarme. Contudo, como, ao analisar o tempo despendido para
obtenção do sucesso, considera-se tanto o início do atendimento como o momento de entrega
do alarme, espera-se suplantar essa limitação.
103
Assim como na divisão por tipo de atendimento, também no agrupamento por faixa
etária houve diferenças em relação às faltas. Na média, houve uma tendência de maior
número de faltas para as crianças. Além disso, quando se categoriza o número de faltas, é
possível observar que 50% das crianças tiveram 10% de faltas ou mais, enquanto apenas 7,1%
(1 caso) dos adolescentes se encaixaram nessa faixa. Esse dado pode estar ligado ao fato dos
adolescentes e suas famílias encararem o tratamento de uma forma diferente. Uma vez
que têm mais problemas de comportamento, que existe mais demanda dos pais para atenção a
outros problemas e que os adolescentes têm maior capacidade para assumir a responsabilidade
pelo tratamento, pode haver um maior comprometimento com o trabalho terapêutico, o que
teria como conseqüência o menor número de faltas. Ainda assim, o número de faltas global é
baixo, quando se tem em vista as 40 semanas de tratamento.
A Tabela 16 foi elaborada através da análise das variáveis relacionadas ao sucesso no
tratamento quando se agrupou os participantes de acordo com a faixa etária.
104
Tabela 16 - Variáveis relativas ao sucesso do tratamento por faixa etária
Faixa Etaria COMPARAÇÃO
Geral Criança Adolescente
ENTRE OS GRUPOS *
Variável 06 - 10 anos 11 -16 anos
estatística
valor - p conclusão a 5%
Resultado (após 40 semanas) teste de independência **
freqüência
0,405 aceita H0
alta (n)
53,1% (17) 55,6% (10) 50% (7)
sucesso inicial (n)
9,4% (3) 11,1% (2) 7,1% (1)
insucesso (n)
15,6% (5) 5,6% (1) 28,6% (4)
desistência (n)
15,6% (5) 22,2% (4) 7,1% (1)
saída inevitável (n)
6,3% (2) 5,6% (1) 7,1% (1)
coef.de Cramer
0,355
Resultado alterado(após 40 semanas) teste de independência **
freqüência
0,705 aceita H0
alta+sucesso inicial (n)
66,7% (20) 70,6% (12) 61,5% (8)
Insucesso+desistência (n)
33,3% (10) 29,4% (5) 38,5% (5)
coef.de Cramer
0,095
Coorte (1)
n
29 17 12
Semana de sucesso a partir da introdução do alarme teste de médias *
% crianças (n)
58,6% (17) 64,7% (11) 50,0% (6)
média (dp)
10,8 ( 7,18 ) 11,3 ( 7,63 ) 10 ( 6,87 ) 0,739 aceita H0
Num. Semana de alta a partir da introdução do alarme teste de médias *
% crianças (n)
51,7% (15) 52,9% (9) 50,0% (6)
média (dp)
20,6 ( 9,01 ) 20,7 ( 9,45 ) 20,4 ( 9,07 ) 0,954 aceita H0
Coorte (2)
n
32 18 14
Semana de sucesso a partir do início do atendimento teste de médias *
% crianças (n)
62,5% (20) 60,0% (12) 40,0% (8)
média (dp)
15,8 ( 8,58 ) 17,7 ( 8,89 ) 13 ( 7,78 ) 0,243 aceita H0
Num. Semana de alta a partir do início do atendimento teste de médias *
% crianças (n)
53,1% (17) 58,8% (10) 41,2% (7)
média (dp)
26,3 ( 9,11 ) 28 ( 9,29 ) 23,9 ( 8,95 ) 0,373 aceita H0
dp - desvio padrão ; num. - numero de indivíduos ; 1ºq med 3ºq - 1ºquartil mediana 3ºquartil ; coef.Cramer valor zero se
independência e tem valores entre 0 e +1
(1) considerando o inicio da coorte como inicio do uso do aparelho- 3 pacientes obtiveram sucesso antes da
colocação
do aparelho sendo apenas 29 individuos acompanhados na coorte
(2) considerando o inicio da coorte como primeira sessão
* ANALISE DE MEDIAS NÃO-PAREADAS
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :a media do grupo de coletivo e do individual
são iguais
HA :a media do grupo de coletivo e do individual
são diferentes
ESTATÍSTICA DO TESTE
t OBS > t-studentCRITICO ( ou equivalente se o
nível descritivo -valor p - for menor que 0,050 )
rejeita a hipótese H0 , ou seja, um grupo difere
do outro
** ANALISE DE independência (teste exato de Fisher )
HIPÓTESES DO TESTE
Ho :há independência entre grupo e
variável
HA :há associação entre grupo e variável
ESTATÍSTICA DO TESTE
ProbalidadeOBS > ProbalidadeCRITICO ( ou
equivalente se o nível descritivo -valor p -
for menor que 0,050 ) rejeita a hipótese H0 , ou
seja, existe associação entre grupo e variável
105
A análise da Tabela 16 evidencia que não houve diferença significativa nos resultados
do tratamento após quarenta semanas entre crianças e adolescentes, quando se consideraram
os cinco critérios de resultados. Observa-se, porém, que houve uma pequena diferença nos
insucessos, com mais ocorrências entre os adolescentes, e nas desistências, mais freqüentes
entre as crianças. Essa informação pode ser interpretada à luz do comentário anterior sobre o
maior envolvimento dos adolescentes no tratamento. Mesmo mal sucedidos, eles
permaneceram até o fim das 40 semanas, enquanto as crianças mal sucedidas tenderem mais a
desistir durante o tratamento.
Essas diferenças desaparecem quando se excluem as saídas inevitáveis e se agrupa os
insucessos e desistências numa categoria, como o que é feita com as altas e os sucessos
iniciais. Embora haja uma maior probabilidade das crianças serem bem sucedidas, a diferença
não é suficiente para que se afirmar que existe uma vantagem do atendimento infantil sobre o
realizado com adolescentes.
Não houve diferenças significativas no tempo decorrido entre a inserção do alarme e a
semana de sucesso entre crianças e adolescentes. Essa diferença foi ainda menor quando
considerado o intervalo entre a inserção do alarme e a semana de alta, que ficou entre 20 e 21
para os dois grupos.
Ao contrário do que ocorreu em relação às semanas de sucesso e alta a partir do início
do tratamento para o agrupamento por modalidade de atendimento, não houve discrepância
entre os dados quando o agrupamento foi feito por faixa etária. Observa-se que as crianças
levaram um pouco mais de tempo para atingir o sucesso e a alta a partir do início do
atendimento, mas esse fator deve ser analisado segundo a diferença nas médias de tempo de
entrega do alarme, que foi maior para as crianças. O mais relevante é a informação de que não
houve diferença no tempo para obtenção de sucesso e alta a partir da inserção do aparelho de
alarme.
A Figura 17 mostra a taxa de risco de obtenção de sucesso inicial pelas crianças
atendidas, desde o início do atendimento. Observa-se que o sucesso é obtido entre um mês de
atendimento e sete meses contados a partir da primeira sessão, sendo que a maioria dos
sucesso ocorre até os cinco meses.
106
Figura 17 - Risco de sucesso inicial para crianças
na Figura 18 observa-se que os adolescentes obtém sucesso inicial desde o primeiro
mês, mas limitando-se ao quinto mês em relação aos casos que mais demoraram a ser bem-
sucedidos, sendo o único grupo a fugir do padrão de sete meses de tratamento até o último
sucesso.
Figura 18 - Tempo para obtenção do sucesso inicial para adolescentes
107
A partir da análise das Figuras 17 e 18, verifica-se que, assim como na comparação por
tipo de atendimento, o tempo máximo para obtenção de sucesso é de sete meses. Contudo, os
adolescentes tendem a concentrar a obtenção das noites secas relativas ao critério nos cinco
meses iniciais, o que sugere que a resposta dos participantes dessa faixa etária deve ocorrer
rapidamente para que o tratamento seja bem sucedido.
A Figura 19 mostra a relação entre as médias de semana de sucesso e as variáveis
abordadas. uma pequena diferença no tempo decorrido até o sucesso, o-significativa,
menor para os atendimentos individuais, com adolescentes e com famílias que não
demandaram atenção por outros problemas, como fora colocado. A única diferença
significativa ocorre quando se divide a amostra entre os que tiveram menos de 10% de faltas e
mais de 10% de faltas, sendo que os que faltaram menos obtiveram sucesso mais rápido.
Figura 19 - Média da semana de sucesso a partir do uso do alarme em função de variáveis relativas ao
tratamento
a figura 20 aborda as mesmas variáveis levando em consideração o atendimento
desde o seu início. Não houve diferença no momento em que adolescentes e crianças, em
média alcançaram a alta. A demanda por intervenção ou não em outros problemas também
não foi relacionada ao tempo para a alta. O número de faltas, quando categorizado em mais
de 10% e menos de 10%, esteve relacionado também com a demora para se alcançar a alta,
sendo que os que faltaram menos foram mais rápidos.
108
Figura 20 - Média da semana de alta a partir do uso do alarme em função de variáveis relativas ao
tratamento
Como foi colocado, houve diferença significativa entre o atendimento individual e
coletivo no tempo para obtenção da semana de alta, diferença queo ocorria quando
considerada a semana de sucesso. Tal discrepância pode estar relacionada à dificuldade na
execução da superaprendizagem ou, mais provavelmente, no suporte oferecido pelo grupo que
favoreceu a manutenção dos procedimentos e evitando a recaída ainda durante o tratamento,
que foi mais freqüente entre os atendidos individualmente.
A Tabela 17 mostra a relação entre outras variáveis e o tempo a a obtenção das
primeiras 14 noites secas consecutivas que caracterizam o sucesso inicial.
109
Tabela 17 – Taxa de incidência de sucesso inicial relacionada a outras variáveis
Tempo de sucesso
VARIÁVEL IC Teste razão de taxas*
categorias
taxas de incidência por
100 pessoas-semana
razão de taxas
de incidência
a nível de
95% valor - p
conclusão a
5%
Sexo
masculino 3,1%
referencia
feminino 3,3%
1,08 ( 0,36 - 3,24 )
0,887 aceito H0
Demanda por intervenção em outros problemas
sim 2,5%
referencia
não 3,8%
1,49 ( 0,62 - 3,59 )
0,374 aceito H0
Freqüência semanal
menos de 3
vezes 8,0% referencia
4 a 5 vezes 4,0% 0,50 ( 0,19 - 1,33 )
0,157 aceito H0
mais de 6
vezes
1,2% 0,15 ( 0,04 - 0,51 )
0,000 rejeito H0
faltas
menos de
10% (4
faltas)
3,1% referencia
mais de
10% (4
faltas)
3,1% 1,02 ( 0,41 - 2,55 )
0,968 aceito H0
Obs.: para um período de seguimento de 40 semanas
(2) considerando o inicio da coorte como primeira sessão
*Teste da Razão de Taxa de Incidência
Verifica-se, através da análise da Tabela 17, as taxas de incidência semanais de
obtenção de sucesso inicial e sua relação com variáveis além das analisadas entre os objetivos
principais deste trabalho. Não houve diferença na velocidade na qual os participantes
adquiriram o sucesso durante o tratamento quando considerados o sexo, a demanda por
intervenção em outros problemas e o número de faltas. Entretanto, a freqüência semanal de
“molhadas” dos clientes antes do tratamento foi um fator significativo na taxa de incidência,
ao se categorizar os participantes de acordo com os dados da linha de base. Observa-se que as
crianças e adolescentes que tinham uma freqüência menor de “molhadas” obtiveram o sucesso
mais rapidamente.
A análise estatística referente ao resultado do tratamento mostrou que não houve
diferenças significativas entre as modalidades de atendimento ou faixas etárias. Contudo, ela
apontou diferenças e tendências na composição dos grupos, como a maior demanda por
atenção a outros problemas de comportamento nos atendimentos individuais e com
adolescentes, que podem afetar a validade dos dados gerais do trabalho. Além disso, apontou
110
que, embora não haja diferença no resultado do tratamento em si, algumas variáveis
interferem no tempo que se leva para alcançar sucesso e alta, como o número de faltas, a
modalidade de atendimento e a freqüência semanal inicial.
4.4.2. Problemas de comportamento
4.4.2.1. Composição dos grupos
Ao abordar os problemas de comportamento, a análise estatística teve como objetivo
caracterizar os grupos antes e após o atendimento e verificar a relação entre esses dois
momentos. Mais uma vez, os participantes foram agrupados de acordo com a modalidade do
tratamento e a faixa etária.
A Tabela 18 caracteriza os participantes agrupados por tipo de atendimento de acordo
com a percepção das mães no início do atendimento.
Tabela 18 - Média inicial nos escores do CBCL das mães de acordo com tipo de atendimento
Média inicial das mães (desvio padrão)
Escala Coletivo Individual valor p
CS 38,6 (5,5) 33,2 (7,98) 0,046*
DT 59,8 (8,91) 66,2 (8,66) 0,054*
DI 55,4 (12,95) 65,1 (9,84) 0,029*
DE 57,4 (9,33) 64 (9,37) 0,058
*p<0,05
Verifica-se, na leitura da Tabela 17, que, apesar da seleção aleatória, houve discrepância
entre os grupos de atendimento individual e coletivo. Os escores de CS, cuja média ficou
dentro da faixa clínica nos dois grupos, tiveram diferença significativa entre os atendidos em
grupo e individualmente. O mesmo ocorreu com as médias de escores de DI, com uma
diferença ainda mais significativa. As médias de escores de DT e DE não tiveram diferença
significativa, mas houve uma forte tendência para mais problemas nos participantes atendidos
individualmente.
Além da significância estatística, verifica-se que as médias dos participantes atendidos
individualmente encontram-se nas faixas clínicas em todos os escores. Para o atendimento
coletivo, a média do CS encontra-se na faixa borderline; as outras médias estão na faixa
normal.
111
O mesmo tipo de comparação foi feito para as faixas etárias, como mostrado na Tabela
19.
Tabela 19 - Médias dos escores iniciais dos CBCLs das mães de acordo com a faixa etária
Média inicial das mães (desvio padrão)
Escala Crianças Adolescentes valor p
CS 35,6 (7,06) 37,8 (6,71) 0,3982
DT 60,8 (9,84) 64,4 (8,31) 0,2914
DI 57,1 (14,26) 62,2 (9,75) 0,2564
DE 59,3 (10,53) 61,1 (9) 0,6145
A diferença observada quando se separou os participantes por modalidade de
atendimento não se repetiu ao distribuir os sujeitos por faixa etária. Contudo, observa-se uma
pequena tendência para que os escores médios dos adolescentes sejam mais elevados do que
os das crianças, especialmente nos DI e nos DT. Nos CS, o escore médio também é
ligeiramente mais alto, o que indica que os adolescentes são um pouco mais competentes
socialmente.
Enquanto o escore médio das crianças nas competências situou-se na faixa clínica, o dos
adolescentes ficou na faixa borderline. Embora a diferença entre as médias dos outros escores
não seja significativa, é suficiente para classificar as médias em faixas diferentes. Nos DT, a
média dos escores das crianças caiu na faixa borderline, enquanto a dos adolescentes situou-
se na faixa clínica. Para os DI e DE, as crianças tiveram escores médios dentro da faixa
normal, e os adolescentes dentro da faixa borderline.
Verifica-se, então, que existiu uma tendência, nessa amostra, de que os adolescentes
tivessem mais problemas de comportamento no início do tratamento. Pode-se supor que esses
problemas de comportamento tenham relação direta ou indireta com a enurese: sendo
causados por ela ou por outros fatores que tenham influência no surgimento desses problemas
ao mesmo tempo em que favorecem a manutenção dos episódios de “molhadas”.
4.4.2.2. Comparação entre início e término do atendimento
A Figura 21 mostra as médias dos escores iniciais e finais dos CBCLs preenchidos pelas
mães, além dos desvios padrão, de acordo com o agrupamento por tipo de atendimento.
112
Figura 21 - Médias dos escores dos CBCLs iniciais e finais das mães de acordo com tipo de atendimento
Observa-se que o escore médio de competências dos participantes atendidos
coletivamente não variou significativamente (valor p=0,4042), permanecendo na faixa
borderline. Por outro lado, o escore relativo aos participantes atendidos individualmente teve
uma variação mais elevada (p=0,0744) e a média passou da faixa clínica para a faixa
borderline. Ao contrário do que o senso comum indicaria, o atendimento individual parece
favorecer mais o desenvolvimento das competências avaliadas pelo CBLC.
Em relação aos escores médios de DT, houve um queda nos participantes que receberam
atendimento coletivo (p=0,1220), e uma queda mais acentuada e significativa nas médias dos
que foram atendidos individualmente (p=0,0262). Entretanto, a média relativa aos
atendimentos coletivos permaneceu na faixa normal e as dos atendimentos em grupo na faixa
clínica.
Nos escores relativos aos DE, não houve diferença significativa dentre os atendidos
coletivamente (p=0,2368). Por outro lado, a variação foi significativa mais uma vez nos
atendimentos individuais (p=0,0269). Além disso, observa-se que os escores médios para
esses participantes passou da faixa clínica para a faixa borderline.
No DI, os participantes atendidos coletivamente tiveram uma queda nos escores médios
que o se mostrou significativa (p=0,3406), continuando na faixa normal. Já os atendidos
individualmente tiveram uma redução bastante expressiva nos escores (p=0,0118), que fez
com que a média dos escores descesse da faixa clínica para a boderline.
113
A análise mostrou que durante o atendimento, houve redução dos escores médios de
problemas de comportamento tanto para as modalidades de atendimento coletivo como
individual. As reduções entre os escores relativos aos atendimentos individuais foram
maiores, sendo significativos em todas as escalas de problemas de comportamento. Porém,
isso se deve à diferença dos grupos; uma vez que os atendidos individualmente tinham mais
problemas iniciais, a redução foi maior. Sendo assim, não é possível, através desses dados,
afirmar que o atendimento individual seja mais efetivo para redução de outros problemas de
comportamento além da enurese.
A mesma comparação foi feita distribuindo-se os participantes de acordo com a faixa
etária, como pode ser observado na Figura 22.
Figura 22 - Médias iniciais e finais dos escores dos CBCLs respondidos pelas mães de acordo com a faixa
etária
Ao analisar a Figura 22, verifica-se que o escore dio de CS das crianças teve um
acréscimo elevado (p=0,0576) que o fez passar da faixa clínica para a normal. Já os
adolescentes apresentaram um ligeiro decréscimo nos escores (p=0,207) que se mantiveram
como borderlines.
114
No caso dos DT, as crianças tiveram um decréscimo importante no seu escore
(p=0,055), que passou de clínico a borderline. Os adolescentes obtiveram a mesma mudança
de categoria, embora a redução do seu escore tenha sido menor (p=0,3136).
A redução nos DE não foi tão significativa para as crianças (p=0,1582), que tinham
um escore médio relativamente baixo, dentro da normalidade. os adolescentes
apresentaram uma redução maior no seu escore médio (p=0,0503), que passou a ser
classificado como normal no fim do tratamento.
Tanto crianças como adolescentes tiveram redução semelhante nos escores médios de
DI (p=0,2134 para o escore das crianças e p=0,2176 para os escores dos adolescentes). A
pontuação das crianças permaneceu na normalidade e a dos adolescentes chegou a esse nível,
deixando a faixa borderline.
A análise de acordo com a faixa etária evidenciou que houve reduções importantes nos
problemas de comportamento em todas as escalas, embora a distribuição entre crianças e
adolescentes tenha sido mais equilibrada do que quando se agrupam os participantes por tipo
de atendimento. A redução, na verdade, parece ser proporcional à quantidade de problemas
iniciais mais redução quando mais problemas e não ocorrer de forma diferenciada
entre crianças e adolescentes, com exceção do CS, no qual as crianças se saíram melhor.
4.4.2.3. Relação entre problemas de comportamento e resultado do tratamento
Os participantes foram divididos entre os que obtiveram sucesso inicial ou alta
(categoria sucesso) e insucesso e desistência (categoria insucesso). As médias iniciais nos
escores das escalas DE e DT do CBCL foram comparadas a fim de verificar se havia
diferença entre os grupos. Os resultados são apresentados na Tabela 20.
115
Tabela 20 - Relação entre escores iniciais médios no CBCL e resultado do tratamento
Resultado DE (média e dp) Valor p DT (média e dp) Valor p
Sucesso
59,7 (9,57) 61,8 (9,08)
Insucesso
57,2 (9,97)
0,4715
58,6 (11,4)
0,3853
Verifica-se que não há diferença significativa nos valores. Os escores iniciais, então, não
foram preditores do resultado do tratamento para essa amostra. Deve-se levar em
consideração, porém, que os escores médios da escala DE, que seriam os que teriam maior
interferência no tratamento, encontram-se abaixo da faixa clínica. Curiosamente, nas duas
escalas, embora a diferença não seja significativa, os participantes apresentaram um índice
mais elevado de problemas de comportamento segundo a percepção de seus pais.
4.5. Considerações clínicas sobre os participantes
Uma vez que existem muitos fatores familiares e psicológicos associados à enurese e
seu tratamento, cabe realizar uma breve descrição de cada caso atendido, citando juntamente
os aspectos observados durante o atendimento que podem estar associados à moderação de
seus resultados.
Como a enurese pode ser regulada ou até causada por fatores ambientais, apontou-se em
cada caso a existência de uma ou mais das seguintes dificuldades:
Resistência familiar ao tratamento: familiares questionando ou reclamando de
algum dos aspectos do tratamento, ameaça de interrupção, intolerância, não
seguimento dos procedimentos por parte da criança ou da família.
Dificuldade ao acordar com o alarme: crianças que demoravam mais de um
minuto para acordar com o alarme, e situações em que os pais não o ouviam ou
não conseguiam retirar a criança da cama.
Conflitos conjugais ou familiares: brigas, separações e conflitos entre pais e
filhos ou entre maridos e esposas.
Problemas de relacionamento: crianças com queixas de isolamento, timidez ou
contato social inadequado.
Problemas de aprendizagem: crianças com queixas de baixo desempenho
escolar.
116
Sintomas de hiperatividade: agitação motora, agressividade, dificuldade para
permanecer quieto, esquecimentos.
Demanda por intervenção em outros problemas: situações nas quais o
pesquisador se envolveu no tratamento de questões alheias ao foco do
tratamento em resposta a uma demanda explícita por parte da família.
Essas informações não foram medidas objetivamente, sendo listadas apenas por
interesse clínico em cada caso individual. O seu levantamento foi realizado a partir da
verbalização de pais e crianças durante a sessão. O único item utilizado como elemento da
análise dos resultados do tratamento é o acompanhamento terapêutico a problemas além da
enurese.
4.5.1. Crianças atendidas em grupo
1. M. G. (sete anos, sexo masculino) não pôde completar o tratamento pelo fato da
família mudar-se para o interior, caracterizando uma situação de saída inevitável. No período
em que ficou em tratamento, a criança teve uma diminuição na freqüência de “molhadas”, o
que sugere que o tratamento poderia ser bem-sucedido se fosse continuado. O pai demonstrou
irritação com o barulho do alarme no início do tratamento, o que fez com que a criança
passasse a desligá-lo. Foi preciso garantir com a família que eles apoiariam o tratamento, o
que de fato ocorreu após a conversa.
Saída inevitável
Resistência familiar ao tratamento
2. B. N. (seis anos, sexo masculino) já havia participado do grupo de espera recreativo e,
embora apresentasse um CBCL com escore clínico nos comportamentos externalizantes, tinha
uma boa participação no atendimento. A família era de classe alta, e a criança era sempre
levada pela mãe, ainda que o pai tenha comparecido em duas sessões. No meio do
atendimento, a família revelou que se mudaria para o exterior em agosto. Contudo, o garoto
conseguiu o critério de sucesso antes de se desligar do atendimento, ainda que não tenha sido
possível, com isso, realizar a prevenção de recaída de forma completa. A diminuição de
“molhadas” foi bastante marcada assim que ele foi inserido e a freqüência foi de sete a zero
em apenas sete semanas. Na 17ª semana, a mãe relatou que a criança havia dito que não
117
molharia mais a cama, e de fato não o fez. A verbalização da criança indica que os aspectos
psicológicos associados à enurese podem ser poderosos. O que realmente fez com que as
“molhadas” cessassem é discutível nesse caso. O tratamento com certeza foi efetivo, talvez
pelo uso do alarme, pela mudança cognitiva da criança sobre sua própria condição ou por uma
combinação de ambos.
Alta
3. A. C. (9 anos, sexo feminino). Começou o atendimento com uma freqüência bastante
alta, além de alguns episódios de enurese diurna que após o início do trabalho foram
relatados pela mãe. O foco do seu atendimento foi a intolerância da mãe em relação à enurese
e a outros problemas de comportamento, que frequentemente desencadeavam brigas e punição
física por parte dos pais.
Após algumas semanas de uso do alarme, a freqüência baixou drasticamente. A mãe
relata que isso ocorreu no momento em que ela contou a filha que estava grávida, notícia que
foi recebida alegremente pela filha. Depois disso, a freqüência teve algumas oscilações e
aumentou em três semanas consecutivas em que a família teve problemas com o alarme,
voltando a baixar em seguida. Apesar da freqüência ter baixado a níveis bastante baixos
quando comparados com o início do tratamento, A. não atingiu o critério de sucesso durante o
período de tratamento.
A. tinha dificuldades com colegas na escola. A mãe relata que ela gostava de utilizar
cosméticos como batom e levá-los para a sala de aula, o que além de problemas com as
professoras, trouxe dificuldades no relacionamento com os colegas.
Houve tentativa de intervenção por parte do terapeuta nos conflitos entre a mãe e a
criança, através da instrução da mãe sobre como contingenciar adequadamente o
comportamento da filha, dar instruções e solucionar problemas.
Insucesso
Resistência familiar ao tratamento
Problemas de relacionamento
4. B. J. (8 anos, sexo feminino). Tanto a criança como a família tiveram, no início, uma
adesão surpreendente ao tratamento. A própria criança cobrava dos pais o seguimento dos
118
procedimentos, e estes souberam implantar de forma adequada a responsabilidade ativa em
casa. Contudo, como a sua freqüência de “molhadas” não era tão alta no início, o tratamento
tende a ser mais demorado. Por isso, nos últimos meses houve um número maior de faltas às
sessões e um descumprimento declarado da família às instruções do tratamento. A criança
atingiu, durante o tratamento, o critério de sucesso, mas não obteve sucesso suficiente na
superaprendizagem para ser caracterizada a alta. Após o tratamento, permanecendo com uma
baixa freqüência, B. iniciou tratamento com DDAVP, que, segundo os pais, foi bem-sucedido.
Sucesso inicial
Resistência familiar ao tratamento
5. C. F. (7 anos, sexo masculino). Essa família destoava do grupo, na medida em que a
criança se relacionava pouco com os pares e a mãe era altamente intolerante, exigindo
inclusive comportamentos do filho que não eram condizentes com sua idade. As faltas logo no
início já evidenciavam a dificuldade em aderir ao tratamento. Logo após o empréstimo do
alarme, eles não vieram mais. Por telefone, a mãe disse que o marido não havia aceitado o uso
do alarme pelo incômodo de acordar durante a noite, sendo que ele havia sido acionado
uma vez. A mãe colocou que o marido não pensava nos lençóis que ela tinha que lavar.
Aparentemente, nessa família, o bem-estar da criança não é uma prioridade.
Desistência
Resistência familiar ao tratamento
6. D. R. (6 anos, sexo masculino). Surpreendentemente, essa criança teve uma
diminuição consistente das “molhadas” antes mesmo do uso do alarme. A família apresentou
uma adesão exemplar ao tratamento, com presença em todas as reuniões, registros completos
e seguimento total dos procedimentos. Esses elementos, associados à participação da criança
no grupo parecem ter promovido mudanças imediatas, evidenciadas pela forma rápida e
marcada na qual as “molhadas” diminuíram. Foi a segunda criança do grupo a receber alta.
D., contudo, era bastante agitado e agressivo nas situações de grupo, emitindo
comportamentos de provocação verbal e até física. Contudo, a própria postura do grupo e as
intervenções terapêuticas durante o processo fizeram com que a freqüência desses
comportamentos diminuísse até sua saída do grupo.
Alta
Sintomas de hiperatividade
119
7. G. F. (7 anos, sexo masculino). Essa criança apresentava, no início do grupo, alguns
comportamentos agressivos, mas que diminuíram após algum tempo, decorrente da própria
dinâmica do grupo, em que apenas um outro menino dava atenção para ela nesses momentos.
Os pais se alternavam a cada sessão e em algumas delas compareciam ambos. Contudo, no
meio do processo eles se separaram. Ainda assim, os dois compareciam às sessões, embora o
número de faltas tenha aumentado. G. conseguiu, apesar disso, diminuir a freqüência das suas
“molhadas”, chegando a iniciar a superaprendizagem por duas vezes.
A e de G. pediu durante as sessões de grupo e em duas sessões separadas, realizadas
apenas com ela a seu pedido, orientações sobre como proceder no trato com G. durante a crise
conjugal pela qual ela e o marido passavam. Além disso, a criança foi encaminhada para
atendimento psicológico na clínica no IPUSP ao término do tratamento para enurese.
Sucesso inicial
Conflitos familiares
Resistência familiar ao tratamento
Demanda por intervenção em outros problemas
8. J. C. (8 anos, sexo feminino). Primeira das meninas a deixar o grupo após a alta, J.
também mostrou ganhos com o tratamento mesmo antes do uso do alarme. A exemplo de D.
R., ela teve apenas uma falta justificada e a adesão da família foi grande. A mãe, solteira,
usava as sessões para falar principalmente da dificuldade em criar a filha sozinha,
encontrando apoio no grupo. A sua saída do grupo pode ter um impacto em A. C., com quem
se relacionava mais proximamente. Apesar do grupo continuar aberto para aqueles que tem
alta, não é costume comparecer após a saída.
Alta
9. M. C. (7 anos, sexo masculino). Apesar de ter uma freqüência baixa no início do
tratamento, essa criança conseguiu alta praticamente junto com os outros que deixaram o
grupo antes do segundo recesso. A família, também bastante envolvida, parece ter
influenciado na melhora que ele apresentou. Uma mudança de casa no meio do processo
parece ter abalado a criança, embora não seja possível relacionar isso com as “molhadas”.
Alta
120
10. P. N. (7 anos, sexo masculino). Esse caso é um exemplo claro da efetividade do uso
do alarme. Logo que o aparelho foi introduzido, as “molhadas” baixaram drasticamente. Um
fator interessante é que na primeira semana com o alarme, P. teve uma molhada, após ficar
quatro dias seco. Ou seja, o alarme parece ter funcionado mais como um estímulo
discriminativo, que mesmo sem tocar fez com que a criança ficasse seca mais do que ela
jamais havia conseguido. A família, outro exemplo de alta adesão e apenas uma falta
justificada, também pode ser considerada responsável pelo sucesso.
Alta
11. M. F. (sete anos, sexo masculino), que tinha o nível mais alto de problemas de
comportamento no grupo apontado pelo CBCL, chegou a permanecer nos atendimentos até
receber o aparelho. Contudo, suas faltas eram freqüentes e esse caso se caracterizou como
desistência. Para os critérios do trabalho, casos de desistência são considerados insucessos,
uma vez que manter a adesão ao trabalho é um dos aspectos da efetividade do tratamento. A
freqüência não se alterou nas primeiras semanas em que o alarme ainda era usado.
Desistência
Resistência familiar ao tratamento
Conflitos familiares
Sintomas de hiperatividade
Neste grupo, observa-se que a maioria dos casos em que houve alta não estava
relacionada com as dificuldades listadas anteriormente. Pelo fato do atendimento ser realizado
em grupo, talvez não seja possível interferir de forma mais efetiva nessas dificuldades, o que
pode ter relação com o resultado do tratamento.
4.5.2. Crianças atendidas individualmente
1. H. F. (9 anos, sexo masculino): o atendimento teve início antes do período de bolsa do
pesquisador, uma vez que consistiu num projeto piloto enquanto este ainda era estagiário no
Projeto Enurese. As sessões foram realizadas no Centro de Atendimento e Apoio ao
Adolescente, da Universidade Federal de São Paulo, uma vez que a família não tinha
condições de se deslocar até o Centro de Atendimento Psicológico do IPUSP. Contudo, o
atendimento foi finalizado quando este projeto de pesquisa já havia sido iniciado.
121
O envolvimento da família demorou a se concretizar, e problemas de relacionamento
conjugal freqüentes podem explicar a dificuldade do garoto em manter uma freqüência baixa.
A partir do momento em que o pai, e o a mãe, começou a comparecer às sessões, houve
melhora significativa.
Alta
Dificuldade no seguimento dos procedimentos
Conflitos conjugais
Demanda por intervenção em outros problemas
2. K. L. (oito anos, sexo masculino). Esta criança permaneceu por bastante tempo no
atendimento, embora ela tivesse uma freqüência de “molhadas” baixa no início do processo.
Também foi a que teve mais faltas durante o processo. Talvez a baixa freqüência de
“molhadas”, e conseqüentemente o menor número de vezes em que o aparelho é acionado
explique a demora na evolução do caso. Ainda assim, a criança atingiu critério de sucesso
dentro de 40 semanas e alta logo em seguida, uma vez que foi bem sucedida no processo de
superaprendizagem.
A família realizou corretamente os procedimentos sugeridos em casa, mas teve um
número médio de faltas sem justificativa, o que pode classificá-la como levemente resistente.
Alta
Resistência familiar ao tratamento
3. F. A. (sete anos, sexo masculino). F. teve redução na freqüência de “molhadas” assim
que iniciou o uso do aparelho. Durante o atendimento, seu pai faleceu e a família decidiu se
mudar para o interior. Ainda assim, antes da mudança, foi possível que a criança atingisse o
critério de alta e voltou a ter “molhadas” durante a superaprendizagem, o que o
descaracteriza o sucesso do tratamento.
Obviamente, a situação pela qual a família passou causou uma série de dificuldades
tanto em relação ao tratamento (a família faltou em três semanas consecutivas), como na
relação familiar. Apesar disso, pode-se dizer que só o fato da manutenção do tratamento após
esse episódio evidencia que a família teve estrutura para seguir em frente.
Houve uma solicitação da mãe para que houvesse uma atenção do terapeuta às
dificuldades da criança relativas à morte do pai.
Alta
122
Problemas familiares
Demanda por intervenção em outros problemas
4. C. A. (6 anos). A família tinha tido contato com o projeto, pois a irmã da criança
havia sido atendida por outro membro da equipe, com sucesso. Devido a isso, o uso do alarme
foi iniciado na terceira sessão. A criança tem enurese múltipla, o que torna um pouco mais
difícil o tratamento, demandando mais paciência por parte da família. O pai o participa e,
durante o atendimento, a mãe perdeu o emprego, o que ocasionou duas faltas. Apesar de o
garoto ter conseguido aumentar o tempo entre a hora de dormir e a ocorrência das
“molhadas”, o quadro estabilizou-se, o que fez com que a mãe desistisse do tratamento.
Um dos motivos pelos quais o tratamento pode não ter sido bem sucedido é a
dificuldade da criança em acordar com o alarme.
Desistência
Dificuldade para acordar com o alarme
5. R. N. (6 anos). Por conta do atendimento ser realizado num horário difícil (quartas-
feiras às sete horas da noite), a família faltou algumas vezes, notadamente na véspera de
feriados. Ainda assim, R. mostrou uma boa evolução com o tratamento, permitindo iniciar a
superaprendizagem após seis semanas com o uso do alarme.
Nessa família, o tratamento resumiu-se ao acompanhamento do alarme, uma vez que
não houve demanda para outras intervenções e os pontos mais críticos estava diretamente
relacionados ao tratamento da enurese: a dificuldade da criança em acordar com o alarme e as
faltas.
Alta
Dificuldade em acordar com o alarme
Resistência familiar ao tratamento
6. W. B. (8 anos). Trazido nas primeiras semanas pela mãe e nas seguintes pelo pai, que
passa meses fora de casa trabalhando, W. teve uma boa evolução. Poderia ter sido melhor
caso a família tivesse aderido de forma mais completa aos procedimentos. Além disso, três
problemas seguidos com o aparelho (uma semana com o alarme, outra com o tapete e a
terceira com as pilhas) podem ter prejudicado o andamento do tratamento. Ainda assim, na
última semana de atendimento antes do recesso, a criança obteve sua primeira semana
123
totalmente seco. Após o recesso, a mãe pediu que o tratamento fosse encerrado por conta de
ciúmes do esposo em relação ao tratamento. Optou-se por considerar o caso como uma
desistência e encaminhá-lo para atendimento com uma estagiária do projeto.
Desistência
Resistência familiar ao tratamento
Conflitos familiares
Problemas escolares
7. G. S. (6 anos). Com uma freqüência baixa na linha de base, essa criança ainda não
mostrou resultados consistentes logo após o início do tratamento, talvez pelo fato do alarme
tocar muito pouco, que ele molhava no máximo duas vezes por semana. A família toda
comparecia ao atendimento, possibilitando engajar todos nos procedimentos necessários.
Contudo, os pais ressaltavam que o menino deixava de realizar os exercícios de contenção e
de ligar o alarme algumas vezes. Após um recesso de fim de ano, a criança retornou seca e
concluiu com sucesso a superaprendizagem.
Alta
Resistência familiar ao tratamento
8. W. S. (9 anos, sexo masculino): W. também foi atendido no CAAA da UNIFESP,
tendo início em 2003 e finalizado no fim de 2004. O aparelho foi introduzido no tratamento
na nona semana. Houve uma diminuição inicial, com freqüência chegando a uma vez por
semana na décima-quarta semana, período de rias de verão em que a família viajou para o
nordeste. Contudo, as “molhadas” voltaram a aumentar quando a criança retornou para São
Paulo. Lançou-se mão de vários procedimentos auxiliares, como treinos de retenção e
contenção, esquemas de reforçamento por parte da família e do terapeuta, e finalmente um
cronograma de despertar. Durante o tratamento, a criança passou pelo departamento de
urologia da UNIFESP, no qual realizou exames. A família não soube informar com precisão o
diagnóstico, mas relatou que foi prescrita a medicação Retemic. Utilizada com várias
dosagens, não mostrou efeito na freqüência de “molhadas”. Após atendimento prolongado,
descobriu-se que o participante era portador de espinha bífida. O diagnóstico o foi obtido
antes pela demora do serviço público de saúde. Sob o ponto de vista clínico, uma saída
possível seria o tratamento com desmopressina, cujos resultados parecem satisfatórios no
124
tratamento desse tipo de caso (Del Gado, Aceto, Del Gaizo, Del Gado, Polidori, &
Chiozza,2004). Optou-se por excluir esse caso dos resultados do tratamento.
Não considerado
Ao contrário do que foi observado nas crianças atendidas em grupo, houve casos em que
apesar de existir a resistência ao tratamento e problemas familiares, o tratamento foi bem
sucedido. Contanto, levando-se em conta que esse foi um grupo de atendimento individual,
pode-se supor que esse seja o diferencial, na medida em que permite que o terapeuta possa ter
um melhor manejo dessas situações em favor do seguimento necessário para a obtenção de
sucesso.
4.5.3. Adolescentes atendidos individualmente
1. C.B. (17 anos, sexo feminino). A adolescente, quando veio para a triagem, tinha uma
freqüência de cerca de quatro “molhadas” por semana, que haviam diminuído uma semana
antes da entrevista. Quando o tratamento foi iniciado, ela tinha tido apenas duas “molhadas”
nas duas semanas anteriores, o que não preenche o critério para enurese. Mesmo assim, optou-
se por realizar o tratamento. Ela logo alcançou três semanas sem “molhadas”, e o aparelho foi
entregue para que se realizasse o processo de superaprendizagem, que foi finalizado com
sucesso.
Como se suspeitava que as “molhadas” pudessem estar relacionadas a fatores ambientais
a adolescente diminuíra a freqüência após uma viagem com o colégio realizou-se um
acompanhamento terapêutico a fim de levantar hipóteses mais detalhadas. Porém, como C.
logo obteve sucesso no tratamento, nenhuma hipótese foi levantada.
Alta
Acompanhamento terapêutico
2. E. D. (12 anos, sexo masculino). Este adolescente, quando se iniciou o uso do alarme,
apresentou uma freqüência de “molhadas” bastante alta, chegando a quatro por noite. Houve
uma diminuição pida e a enurese passou a ser simples (uma molhada por noite), com duas
“molhadas” ocorrendo ocasionalmente. O tratamento ainda está em curso, embora o período
de 40 semanas tenha se encerrado, sem sucesso. Além da enurese, fez-se necessário um
trabalho relativo a habilidades sociais, uma vez que este garoto tem uma grande dificuldade
125
no contato social, refletida pelo baixo tom de voz, dificuldade em fazer amigos e problemas
com colegas na escola.
O adolescente, mesmo finalizado o período de 40 semanas, permaneceu em atendimento
terapêutico com o pesquisador por mais um ano, aproximadamente. No fim desse período, ele
conseguiu, entre outros ganhos, o urinar mais na cama. Contudo, pela elevada duração do
tratamento e pela mudança na forma de atendimento após as 40 semanas, o elementos
que possam garantir a validade de alguma hipótese sobre o porquê das “molhadas” terem
cessado, exceto a possibilidade de remissão espontânea.
Insucesso
Problemas de relacionamento
Demanda por intervenção em outros problemas
3. F. S. (15 anos, sexo masculino). O adolescente veio para atendimento com queixa de
enurese, mas também apresentando uma série de problemas de comportamento, classificados
como transtorno de conduta pela psiquiatra. Esse tipo de desordem é um preditor de insucesso
no tratamento, então é preciso que antes se faça um trabalho em relação a esses problemas,
especialmente no seguimento de regras, para depois focar na enurese. Houve uma crise do
paciente durante o tratamento, na qual ele chegou a ser internado numa clínica para pacientes
com problemas psiquiátricos. Após esse evento, o adolescente passou a tomar nova
medicação: Zyprex 10mg e Fluxitina 10mg. A nova medicação parece ter sido decisiva na
mudança de comportamento de F., com seus conflitos familiares e na escola diminuindo
drasticamente. O próprio tratamento para enurese, antes rechaçado pelo participante, passou a
ser seguido com interesse e seriedade no seguimento dos procedimentos. Embora tenha
conseguido uma série de semanas secas durante o período de tratamento, a instabilidade nas
“molhadas” e no comportamento do adolescente não permitiram classificá-lo como alta.
F. continuou em atendimento mesmo após o período de 40 semanas, a fim de se auxiliar
o adolescente e a família com os problemas psicológicos por ele apresentados.
Sucesso inicial
Problemas familiares
Problemas de aprendizagem
Problemas de relacionamento
Dificuldade no seguimento dos procedimentos
126
Demanda por intervenção em outros problemas
4. J. G. (16 anos, sexo masculino). O adolescente, morador da grande São Paulo,
comparecia sempre acompanhado de ambos os pais ao atendimento, o que facilitava a
transmissão de instruções relativas ao tratamento. Contudo, os pais sabiam pouco como lidar
com o não seguimento de regras do adolescente, fator que precisou ser trabalhado diretamente
com ele dentro das sessões terapêuticas. Notadamente, a maior dificuldade era fazer com que
o garoto seguisse as recomendações de ingestão de líquidos diuréticos durante o tratamento.
Em algumas semanas, o próprio adolescente relatou que as “molhadasestavam associadas à
quantidade de refrigerante ingerido na noite anterior. A partir disso, foi possível trabalhar a
questão da sua responsabilidade em relação à sua melhora e ele conseguiu cortar os líquidos
diuréticos, chegando assim à alta, que sua freqüência inicial não era grande e sua enurese
era simples.
Alta
Dificuldade no seguimento dos procedimentos
Demanda por intervenção em outros problemas
5. J. A. (11 anos, sexo masculino). O adolescente mora sozinho com sua mãe. Seu pai é
casado com outra mulher, mas os visita algumas vezes por semana. A condição do pai é
aberta, uma família sabe da outra. Há um grande envolvimento por parte da mãe e do
adolescente, embora o pai não compareça às sessões. Várias rotinas na casa foram
modificadas em razão do atendimento, como o horário de dormir e a ingestão de líquidos,
rotinas essas que a e também teve que mudar para acompanhar o filho. Apesar do esforço
da família, J. não conseguiu diminuir significativamente a quantidade de “molhadas”,
sugerindo que o problema vai além do alcance do tratamento.
Além da enurese, foram realizadas sessões em que se abordaram outros aspectos da vida
do adolescente, principalmente a questão familiar: o pai era casado com outra mulher desde o
nascimento de J.A., ficando dividido entre as duas famílias, o que causava conflitos familiares
e perplexidade por parte do adolescente.
Insucesso
Problemas familiares
Demanda por intervenção em outros problemas
127
6. L. F. (11 anos, sexo masculino). Último atendimento individual a ser iniciado. Houve
faltas nas primeiras sessões. Família de renda bastante baixa, a mãe cria sozinha três filhos de
pais diferentes. Existe a preocupação em relação ao adolescente ter contato com grupos que
possam o levar à criminalidade ou às drogas. O tratamento da enurese, após as primeiras
semanas, foi bem aceito e mesmo o uso do alarme não trouxe qualquer problema. L. obteve o
sucesso inicial e passou sem problemas pela superaprendizagem.
Entretanto, em outras áreas queixas da mãe em relação ao adolescente. Moradores de
uma favela, ela se queixa do tempo que L. passa fora de casa com “más companhias” e das
dificuldades de aprendizagem na escola, da qual foi pedido que se transferisse pela diretora. O
acompanhamento durante o tratamento permitiu elaborar um encaminhamento para
atendimento dentro do Centro de Atendimento Psicológico do IPUSP.
Alta
Problemas de aprendizagem
Problemas de relacionamento
Conflitos familiares
Demanda por intervenção em outros problemas
7. J.O. (14 anos, sexo masculino). Os dados relativos ao atendimento deste adolescente
não podem ser considerados para os fins de pesquisa, pois após quatro semanas seu
atendimento teve de ser interrompido por conta de greve na Universidade. Nesse período, a
única recomendação foi de que a família suspendesse o medicamento Tofranil, com anuência
do médico. Seis semanas depois, quando contatada para retomar o atendimento, a família o
teve interesse, uma vez que após a retirada da medicação as “molhadas” cessaram. É difícil
identificar qual foi o fator, ou fatores, decisivos para o fim das “molhadas”, que houve a
suspensão da medicação, dificuldades familiares — a separação dos pais — e o próprio
atendimento. É possível que este seja um caso de remissão espontânea.
Não considerado
Problemas familiares
Mais uma vez, apesar da existência de uma série de dificuldades familiares nos casos
desse grupo, esse o parece ter sido um fator determinante do insucesso. F.S. e L.F., por
exemplo, que estavam entre os mais problemáticos, obtiveram sucesso inicial e alta,
respectivamente.
128
Pode-se observar que os problemas relatados durante a sessão e listados a cada caso aqui
refletem os escores clínicos no CBCL, que foram uma característica de todos os participantes
desse grupo.
4.5.4. Adolescentes atendidos em grupo
1. A. S. (14 anos, sexo masculino). A família compareceu às primeiras sessões, até o
momento de entrega do alarme. Em seguida, sem aviso prévio, mudou-se de estado,
caracterizando a saída inevitável.
Saída inevitável
2. A. B. (13 anos, sexo masculino). O adolescente comparece sempre acompanhado do
pai. A mãe esteve presente na primeira sessão. Houve a necessidade de se trabalhar a
questão da tolerância e a compreensão de que o envolvimento no tratamento é demonstrado
através do seguimento dos procedimentos, e não das noites secas. O adolescente teve um
momento de estabilidade na sua curva de “molhadas” que, em seguida, cedeu e ele obteve a
alta.
Alta
Resistência familiar ao tratamento
3. B. M. (12 anos, sexo feminino). A família tem um baixo nível de instrução, o que
dificulta a compreensão pelos pais do mecanismo por trás da enurese e do tratamento. Com
isso, a adolescente fica sobrecarregada com a responsabilidade por sua própria melhora.
Durante o tratamento, seu alarme teve problemas, e isso parece ter sido refletido em sua
freqüência de “molhadas”. Esses dois fatores fizeram com que a adesão ao tratamento por
parte da adolescente se deteriorasse, com falhas no seguimento dos procedimentos,
culminando na desistência, já que os pais mantinham-se intolerantes.
Desistência
Resistência da família ao tratamento
Dificuldade para acordar com o alarme
4. B. R. (12 anos, sexo masculino). B. fora diagnosticado anteriormente com TDAH,
mas havia realizado tratamento. Sua interação com o grupo foi bastante boa desde o início,
e a família o apoiou de forma total durante o tratamento. Logo que iniciou o uso do alarme, as
129
“molhadas” cessaram e não houve mais escapadas, nem durante a superarpendizagem. Foi o
primeiro a ter alta no grupo.
Durante o tratamento, a família solicitou ajuda com alguns problemas enfrentados por B.
na escola, notadamente aos esquecimentos e falta de atenção frutos de seu quadro clínico.
Alta
Sintomas de hiperatividade
Problemas de aprendizagem
Demanda por intervenção em outros problemas
5. F. F. (13 anos, sexo masculino). Adolescente com enurese múltipla, chegando a
molhar três vezes numa noite. O tratamento começou logo a dar resultado, mas um problema
com o seu alarme parece ter favorecido um aumento na freqüência de “molhadas”. Seu pai
não era tão tolerante quanto a mãe, o que fez com que o participante se sentisse incapaz de
melhorar, inferior, anormal. O trabalho no grupo foi focado a fazê-lo perceber suas qualidades
e capacidade de melhorar o problema. Embora tenha tido melhoras na auto-estima, o
adolescente não alcançou o critério de sucesso dentro das 40 semanas.
Insucesso
Resistência familiar ao tratamento
Demanda por intervenção em outros problemas
6. M. V. (14 anos, sexo masculino). M. começou o atendimento com uma freqüência
bastante baixa, o que permitiu o início da superaprendizagem logo depois da entrega do
alarme. Nas última semanas de tratamento, o adolescente se desentendeu com a mãe, por
conta de problemas escolares, sendo necessária uma sessão terapêutica extra com ambos.
Apesar disso, ele manteve-se seco e obteve alta do programa na semana seguinte.
Alta
Conflitos familiares
Demanda por intervenção em outros problemas
7. R. C. (14 anos, sexo masculino). O adolescente teve uma grande apoio por parte dos
pais, que se alternam ao trazê-lo para o programa. Contudo, este é um exemplo que como a
influência dos pais não é tão grande nos participantes mais velhos, pois, apesar do
engajamento da família, R. teve dificuldades em seguir os procedimentos mais simples, como
130
o preenchimento do registro. Além disso, a própria instabilidade da sua freqüência de
“molhadas” fez com que o adolescente duvidasse da possibilidade de ficar totalmente seco.
Por isso, a tônica do trabalho com o grupo nas últimas semanas foi justamente o trabalho com
a auto-estima e a possibilidade de melhora dos participantes. R. obteve alta durante essas
semanas.
Alta
Dificuldade no seguimento dos procedimentos
Demanda por intervenção em outros problemas
8. G. H. (11 anos, sexo masculino). G. entrou no grupo algumas semanas após o seu
início. O começo teve alguns problemas em relação ao seguimento do procedimento, talvez
por ele não ter acompanhado a ênfase que se nesse ponto, apresentada nas primeiras
semanas do atendimento. Além disso, era o mais novo do grupo, e talvez ainda um pouco
imaturo para assumir a responsabilidade sobre o tratamento da forma como é colocada para os
adolescentes. Porém, o trabalho com ele foi focado nesses pontos e nas últimas semanas, uma
melhora na adesão ao tratamento. Contudo, a sua freqüência de “molhadas” pouco se alterou
durante o tratamento. A família pediu ajuda com os problemas de comportamento e
aprendizagem do adolescente.
Insucesso
Dificuldade no seguimento dos procedimentos
Problemas de aprendizagem
Demanda por intervenção em outros problemas
Neste grupo, mesmo com o atendimento individual, não parece haver relação clara entre
as dificuldades enfrentadas e o sucesso no tratamento. Todos os casos considerados para
análise dos dados tiveram alguma dificuldade, e ainda assim os resultados foram variados.
Não se confirma aqui a hipótese de que o atendimento grupal é deficiente no manejo de
problemas que podem interferir no resultado do tratamento.
Esperava-se, com a análise clínica dos casos, conseguir avaliar quais aqueles em que
houve apenas o acompanhamento ao alarme e em quais houve o que pode se chamar de
psicoterapia, a fim de adicionar dados para análise estatística que pudessem avaliar se
relação desse aspecto com os resultados do tratamento.
131
Contudo, o que se concluiu com essa análise foi que foi realizada psicoterapia em todos
os casos, embora em níveis diferentes, o que impossibilita uma descrição mais precisa ou uma
análise objetiva.
Por exemplo, nos casos em que o resultado foi a alta e a família não apresentou
nenhuma dificuldade, ainda assim houve a intervenção do terapeuta na forma de informação
sobre a enurese e na condução de algumas mudanças ainda que mínimas na rotina
familiar. Nenhuma família chega ao tratamento com todas as informações e rotinas
necessárias para iniciar o uso do alarme, como horário de dormir, política de ingestão de
líquidos, tolerância etc.
Nos casos bem ou mal sucedidos em que houve resistência familiar ao tratamento,
fossem essas dificuldades meras faltas ou a não aceitação do alarme, houve por parte do
terapeuta uma avaliação dos motivos, intervenção junto aos pais ou à criança sobre esses
motivos a fim de se continuar com o tratamento. Essa intervenção se baseia muitas vezes
numa avaliação funcional, como no caso de M.G., em que a criança desligava o alarme pelo
fato de seus pais reclamarem do barulho: aparentemente era menos aversivo continuar
molhado do que molhar a cama, acordar com o alarme e ainda receber a bronca dos pais. Essa
avaliação permitiu uma intervenção com a família que passou a ser cúmplice do terapeuta.
Problemas como sintomas de hiperatividade, mesmo quando não havia demanda da
família em relação a uma atenção especial, eram abordados em sessão de qualquer forma,
uma vez que o relacionamento entre as crianças sempre era motivo de intervenção terapêutica.
Nos casos em que houve mais demanda por intervenção, notadamente no grupo de
adolescentes atendidos individualmente, configurou-se um processo terapêutico mais
“convencional”, em que as sessões eram em sua maioria realizadas apenas com o adolescente.
Nessas sessões, havia um momento de acompanhamento do tratamento para enurese, que
poderia durar de 15 a 20 minutos, seguido de um momento em que se discutiam os problemas
dos adolescentes, muitas vezes trazidos por eles mesmos, e em que havia intervenção livre por
parte do terapeuta.
Como em todos os casos houve intervenções psicoterápicas, embora ocorressem em
diferentes níveis e formatos, optou-se por não se tentar realizar uma distinção. A fim de
satisfazer a curiosidade sobre esse aspecto e sua relação com o tratamento, foi utilizado um
elemento mais objetivo: a demanda familiar por atenção a algum problema, que foi incluída
na análise dos dados como uma variável a ser considerada entre os resultados.
No que se refere à relação entre as dificuldades enfrentadas pelas famílias e sua relação
no resultado do tratamento, isso parece ter obedecido a um padrão no caso das crianças
132
atendidas em grupo, em que os participantes que tinham menos dificuldades tiveram melhores
índices de sucesso. Não houve um padrão claro nos outros grupos de atendimento.
De qualquer forma, a listagem desses fatores não seguiu uma medição clara e objetiva,
devendo-se unicamente ao interesse clínico e dando pouca margem para especulações.
133
5. Discussão
O primeiro objetivo do trabalho relacionava-se à verificação da efetividade do
tratamento nas diferentes formas de atendimento propostas: em grupo e individual, para
crianças e adolescentes. A fim de analisar a eficácia, foi feita uma leitura de dois aspectos
distintos dos dados: a freqüência de “molhadas” e a taxa de sucesso que, embora estejam
ligadas, permitem níveis diferentes de análise.
A freqüência de molhadas” de cada criança permite fazer uma análise individual dos
efeitos do tratamento, assegurando, como colocado por Kazdin (1982) que há validade interna
no estudo, quando as condições assim o permitem. Butler (1998) coloca que apenas 15% das
crianças enuréticas molham a cama todos os dias. No entanto, no caso da amostra desse
trabalho, 12 entre 30 crianças tinham uma freqüência igual a sete por semana, um proporção
de cerca de 36%.
Para que se possa afirmar que o tratamento foi responsável pela alteração, deve haver
uma resposta rápida ao tratamento, entre outros fatores. Essa resposta rápida ocorreu na
maioria dos casos em que houve sucesso, sendo que ela ocorreu já se deu com o início das
sessões ou com a inserção do alarme, algumas semanas depois. O fato da redução relativo ao
início das sessões terapêuticas ter ocorrido mais frequentemente nos atendimentos em grupo,
pode ser visto como derivado do contato com outras pessoas com o mesmo problema, o que
geraria alívio, aumento da confiança e auto-estima. Segundo Butler (1994), esses aspectos são
importantes no tratamento da enurese. Segundo o autor, o fato da criança acreditar que pode
ficar seca pode ter um valor importante na obtenção do sucesso. Contudo, como esses fatores
não foram observados de forma objetiva durante o trabalho, não se pode atribuir essa
diminuição inicial a nenhum fator, com um grau de certeza desejável.
Observou-se que na maioria dos casos em que houve alta, a resposta ao alarme foi
rápida, com diminuição significativa das “molhadas” nas primeiras semanas. Poucos casos
em que a resposta não foi rápida ou imediata obtiveram alta. Pode-se observar na Figura 14
que, em três dos quatro grupos, a tendência de queda nas “molhadas” manteve-se apenas até a
30ª semana, permanecendo estabilizada após esse momento do tratamento. Além disso, a
análise do risco de obtenção de sucesso evidenciou que o mesmo ocorria até o sétimo mês,
o que corresponderia a cerca de 30 semanas.
Esse dado pode indicar que seria adequada uma diminuição no número de semanas de
tratamento, de acordo com o que coloca Butler (2004), que sugere uma duração intermediária,
com cerca de 20 semanas para o tratamento. Isso estaria de acordo tanto com a literatura
134
específica sobre enurese em relação à duração do tratamento como seria um fator a mais para
garantir a validade interna da análise dos casos, já que se reduziria o prazo para que a variável
dependente (a freqüência de “molhadas”) sofresse alterações provocadas pela variável
independente (o tratamento).
Todos os casos finalizados, exceto um, apresentaram redução na taxa de freqüência de
“molhadas” em algum momento do tratamento. Pode-se especular que o caso que não obteve
alteração de freqüência em nenhum momento do tratamento (G.H.) tem como fatores causais
de seus episódios de “molhadas” aspectos não alcançados pelo alarme, de acordo com a teoria
dos três sistemas (Butler, 2004). Contudo, como essa linha de pensamento ainda carece de
estudos empíricos e como os dados de avaliação disponíveis neste trabalho são insuficientes,
não se pode traçar uma hipótese de maior valor heurístico.
A análise das curvas de “molhadas” parece permitir também estabelecer relações entre
os episódios de molhadas” e os diversos acontecimentos do tratamento, como problemas
familiares e quebras dos alarmes. Caso a experiência acumulada dos pesquisadores do Projeto
Enurese venha a confirmar esses fatores, eles fornecerão uma maior profundidade aos dados,
permitindo que se possam criar formas de melhorar o tratamento no futuro, o que o ocorre
ao só analisar a taxa de sucessos e insucessos.
Contudo, os tratamentos para enurese têm como medida de eficácia a quantidade de
crianças que foram bem sucedidas, o que também foi feito neste tratamento. Butler (2005), ao
realizar uma revisão da literatura sobre esses tratamentos, constatou que a média de sucesso
situa-se entre 60% e 75%. Considerando os participantes do trabalho com exceção daqueles
em que se configurou a saída inevitável, 66% atingiram o critério de sucesso, o que está de
acordo com a informação da literatura (Butler, 2005). Dos 34% que não foram bem sucedidos,
17% desistiram e 17% não obtiveram sucesso mesmo completando o tratamento. Essa taxa
ficou abaixo da relatada por Costa (2005), na qual mais de 80% dos participantes foram bem
sucedidos. A principal hipótese para explicar essa diferença é a interrupção no tratamento
provocada pelas quebras nos alarmes.
Em relação ao objetivo de comparar os atendimentos individuais aos de grupo, na
literatura a informação de que não haveria diferença entre os dos formatos (Houts, 2003).
Contudo, o autor não utiliza o acompanhamento terapêutico, que caracteriza o presente
trabalho e que, segundo o mesmo autor (Houts, 2003) poderia trazer melhores resultados. A
partir de inspeção visual, observou-se que não houve diferenças consideráveis nos resultados
relativos à enurese nos formatos individual e em grupo, que a amostra é pequena. No
entanto, antes de concluir que realmente o diferenças nos dois tipos de atendimento, é
135
importante considerar que o grupo de adolescentes atendidos individualmente tinha todos os
participantes com escores clínicos no CBCL, o que para Butler (1994) e Houts (2003) é um
preditor de insucesso no tratamento. Por outro lado, entre os adolescentes atendidos em grupo,
dois entre oito possuíam escores na faixa clínica. Contrariando o que seria esperado, os
adolescentes do grupo individual, com escores mais clínicos, obtiveram mais sucesso.
Portanto, ao associar os três fatores (tipo de atendimento, problemas de comportamento e
resultado do tratamento) há margem para se dizer que o tratamento individual possa ter
vantagens sobre o grupal. No entanto, a análise estatística não mostrou diferença entre os
tipos de atendimento em relação aos índices de obtenção do sucesso inicial. Houve diferença
apenas na obtenção da alta. Isso pode significar que o grupo favorece o procedimento de
superaprendizagem ou a menor incidência de recaídas.
O segundo objetivo do trabalho referia-se à comparação dos resultados do tratamento
entre crianças e adolescentes. Havia a hipótese (Costa, 2005) de que os adolescentes, por
serem mais impactados com a enurese (Arantes, no prelo) responderiam de forma mais rápida
ao tratamento. Porém, essa hipótese não havia ainda sido verificada no Brasil, uma vez que
Oliveira (1999) e Silva (2004) só trabalharam com crianças e Costa (2005) apenas com
adolescentes. Quando as crianças participantes do presente trabalho foram agrupadas e
comparadas com adolescentes, obtiveram uma pequena vantagem no número de sucessos. Ao
contrário do que se havia suposto, talvez o impacto maior sofrido pelos adolescentes dificulte
a recuperação. Contudo, a questão da quebra dos alarmes é uma variável adicional que coloca
em questão essa hipótese, pois os casos mais sérios ocorreram com adolescentes. Os
adolescentes mostraram-se diferentes em relação ao tempo máximo de obtenção de sucesso.
Enquanto as crianças levavam até sete meses para obter as 14 noites secas consecutivas, os
adolescentes só forma bem-sucedidos até o quinto mês de atendimento.
Silva (2004) e Costa (2005) haviam verificado uma relação (significativa no caso de
Silva, e não significativa no caso de Costa) entre o número de faltas e o resultado no
tratamento, com favorecimento das famílias mais presentes nas sessões. A partir dessa
informação poderia se especular se haveria uma relação causal, pelo fato das famílias mais
presentes terem mais informações e acompanhamento do tratamento ou apenas uma
associação de fatores. No presente trabalho, no entanto, tal relação não foi observada, uma
vez que houve famílias com poucas faltas bem e mal sucedidas e famílias com muitas faltas
também com resultados favoráveis e desfavoráveis. No entanto, foi verificada uma relação
significativa entre o número de faltas e o tempo até a obtenção do sucesso inicial. Conclui-se
então, que as faltas atrapalham o tratamento; essa relação são não estendeu-se para o resultado
136
do atendimento pelo fato do número de faltas (máximo de 9) ter sido menor do que o
observado nos trabalhos anteriores.
Um outro fator que interferiu significativamente no tempo para obtenção do sucesso foi
a freqüência de “molhadas” dos participantes na linha de base. As crianças e adolescentes que
molhavam mais de seis vezes por semana demoraram significativamente mais tempo para
obter o sucesso do que as que molhavam menos de três vezes por semana. Na prática, isso
significa que aqueles que molham a cama com menos freqüência no início do tratamento têm
mais chance de obter sucesso, o que contraria o afirmado por Jensen e Kristensen (2001), para
quem a maior freqüência significava mais chances de sucesso. Butler (1994) já havia
sinalizado que a enurese múltipla poderia ser um fator preditor de abandono do tratamento,
insucesso ou recaída. Na amostra do presente trabalho, mais da metade das crianças
molhavam todas as noites possivelmente muitas dessas crianças apresentavam quadro de
enurese múltipla. Confirmou-se, então, que uma maior freqüência de molhadas está ligada à
dificuldade de obtenção de sucesso, apesar de proporcionar um condicionamento mais
“intenso”.
um trabalho em andamento que visa verificar a relação entre o resultado do
tratamento e os problemas de comportamento medidos pelo CBCL (Arantes, 2006). Houts
(2003) afirma que crianças com escores clínicos, especialmente nos distúrbios externalizantes,
não devem ser tratadas com o alarme até solucionar tais problemas. No presente trabalho, não
houve relação significativa entre os escores iniciais de DT e DE e o resultado do tratamento.
As crianças tratadas tinham escores que iam de muitos baixos (como 44 nos DT) até bastante
altos (como 78 nos DT). Isso corrobora a afirmação de Butler (1998) de que as crianças
enuréticas podem passar por dificuldades específicas, mas não necessariamente mostram
problemas de ajustamento quando consideradas como grupo e comparadas com crianças não
enuréticas.
O fato de não haver relação clara entre esses fatores não desqualifica a hipótese de
Houts (2003), uma vez que o tipo de tratamento avaliado pelo autor não inclui o
acompanhamento terapêutico realizado neste trabalho. Pode-se supor, então, que os escores
clínicos no CBCL são de fato preditores de insucesso, mas essa relação pode ser contornada
através de acompanhamento terapêutico desses problemas antes e durante a utilização do
alarme. Além disso, os dados estatísticos poderão trazer alguma mudança, se for observada
relação significativa entre algum dos escores e resultado do tratamento.
A maioria dos casos apresentou redução dos escores de problemas de comportamento no
CBCL. Nos grupos em que havia mais problemas de comportamento, como o de adolescentes
137
atendidos individualmente, a diferença das dias dos escores antes e após o tratamento foi
significativa. Contudo, como os grupos eram diferentes no início do atendimento, não foi
possível verificar se a redução significativa se deu em decorrência da modalidade de
atendimento ou pela disparidade entre as médias iniciais.
Uma questão que permanece em aberto é a causa da diminuição dos escores de
problemas de comportamento. As hipóteses são: devido ao contato terapêutico direto; devido
à diminuição das “molhadas”; devido à mudança na percepção dos pais sobre a criança. Um
trabalho posterior com seguimento desses casos e com maior ênfase na associação entre
enurese e problemas de comportamento poderá clarificar mais essa questão. É favorecida a
tese de Meneghello, Pereira e Silvares (no prelo), para os quais a manutenção do sucesso no
seguimento de um ano é a maior causa de diminuição de problemas de comportamento a
longo prazo, qualificando o tratamento como um trabalho preventivo.
Foi incluída uma seção de análise clínica dos casos para prover um levantamento de
elementos que pudessem ter relação com os resultados do tratamento e na tentativa de
clarificar a participação do pesquisador nas sessões de atendimento no que se refere ao
acompanhamento terapêutico. Além disso, foram levantadas, a partir de relatos dos pais nas
sessões, dificuldades da criança ou das famílias que pudessem estar associadas ao resultado
do tratamento. Verificou-se que essa relação ocorreu apenas entre as crianças atendidas em
grupo, no qual a existência dessas dificuldades coincidiu com o insucesso. O mesmo não foi
observado nos outros casos.
O levantamento desses fatores também não permitiu que se determinasse um papel
definido do terapeuta, uma vez que se observou que ele interferia em todos os casos, embora
em níveis diferentes. Entretanto, utilizou-se como elemento para análise dos dados a demanda
por parte dos pais de atenção terapêutica a problemas não associados diretamente à enurese.
Pode-se considerar que o presente trabalho cumpriu os objetivos propostos no plano de
trabalho inicial, apesar das dificuldades. O tratamento mostrou-se efetivo de acordo com o
que é esperado na literatura, e foi possível realizar comparações entre as faixas etárias e os
tipos de atendimento, embora apenas com análise estatística possam ser formuladas
conclusões mais precisas. A análise caso a caso, tanto em relação à freqüência de “molhadas”
quanto nos aspectos clínicos possibilita uma análise quantitativa dos atendimentos que pode
funcionar como amparo para um aprofundamento na análise dos dados quantitativos,
possibilitando a formulação de novas conclusões e hipóteses.
138
6. Conclusões
Os dados obtidos através do procedimento terapêutico realizado com a amostra de
crianças e adolescentes permitiram formular algumas conclusões a partir dos objetivos
delimitados no projeto de pesquisa.
Como era esperado, o tratamento com uso do alarme nacional é mais efetivo do que
nenhum tratamento, uma vez que provoca uma taxa de sucesso maior do que ocorre com a
remissão espontânea. O alarme nacional obtém os mesmos índices de sucesso do que os
encontrados na literatura estrangeira. Além disso, a amostra brasileira mostrou-se apta a
receber o tratamento delineado a partir da experiência internacional de tratamento com
enurese e da experiência nacional com trabalho em clínicas-escola.
Não houve diferenças significativas nas taxas de sucesso entre as modalidades de
atendimento individual e grupal. Contudo, houve diferença no tempo médio para se obter a
alta após o sucesso inicial, sendo maior nos atendimentos individuais, contrariando o que era
esperado. O grupo favoreceu a manutenção do sucesso naqueles que o atingiram. A igualdade
nos resultados favorece o atendimento em grupo, uma vez que é mais econômico ao permitir
o tratamento de várias crianças simultaneamente, o que vai ao encontro da busca por melhores
trabalhos junto às comunidades realizados pela clínica-escola.
Também não foram observadas diferenças significativas entre os resultados entre
crianças e adolescentes. Isso evidencia que o mecanismo pelo qual o tratamento é eficaz
ocorre independentemente da idade do enurético, podendo também ser um indicativo de que a
etiologia é a mesma para crianças e adolescentes. Ainda é pouco claro, no entanto, o papel dos
aspectos psicológicos de crianças e adolescentes na instalação e cura da enurese noturna.
Ao contrário do que a literatura sugere, não houve relação entre os problemas de
comportamentos medidos no início do tratamento e o resultado do atendimento. Contudo, isso
pode ser devido ao acompanhamento terapêutico realizado juntamente com o uso do alarme.
Quando o alarme é utilizado isoladamente, é mais provável que os problemas de
comportamento, especialmente os externalizantes, tenham maior influência.
Houve decréscimo na taxa média de problemas de comportamento medidas pelo CBCL
na grande maioria dos casos. Isso evidencia que o atendimento clínico favorece a melhora da
competência social, a diminuição de problemas internalizantes e externalizantes. Não foi
confirmada a expectativa de que o tratamento em grupo tivesse maior impacto positivo nos
problemas de comportamento. Na verdade, o atendimento individual teve taxas médias de
139
redução significativamente maiores. Contudo, como os grupos também eram
significativamente diferentes no início do atendimento, não se pode afirmar que a modalidade
de atendimento individual seja mais efetiva para redução dos problemas de comportamento. A
maior redução pode se dever ao fato dessas crianças terem maiores valores médios iniciais.
A melhora nos índices do CBCL pode ser explicada de diversas maneiras. A atuação
terapêutica pode ter tido efeito direto nos problemas, ocasionando mudanças comportamentais
observadas pelos pais. Os pais podem ter alterado sua percepção dos filhos em decorrência
das sessões de orientação de pais, ou mudado seu comportamento de forma que ofereceram
um ambiente que tornou possíveis as mudanças no comportamento dos filhos. A melhora na
enurese pode ser outro elemento favorável à mudança comportamental ou da percepção dos
pais, resultando em melhores escores no CBCL.
Uma pergunta que se formula a partir dos resultados obtidos é a importância das sessões
de atendimento semanal na eficácia do tratamento e na redução dos problemas de
comportamento. Os índices seriam os mesmos caso fosse realizado apenas o
acompanhamento do uso do alarme à distância? Seria essa forma, já amplamente utilizada nos
centros de tratamento europeus e americanos uma maneira ainda mais econômica de tratar a
enurese com eficácia no Brasil, demandando menos recursos das clínicas-escola e dos
usuários do tratamento? Responder a essas perguntas pode ser o próximo passo no esforço da
equipe do Projeto Enurese, que busca as melhores formas de difundir o tratamento, uma vez
que sua eficácia está amplamente baseada nos estudos realizados de 1992 até o presente.
Independentemente do modelo de atendimento adotado, pode-se afirmar que ele pode ser mais
curto que o realizado nesse trabalho, em que as últimas 10 semanas de atendimento
mostraram-se infrutíferas. Seria de bom tom adotar cerca de 30 semanas de atendimento ou
entre 20 e 26 semanas de uso do alarme, o que além de evidenciado como mais efetivo pelos
dados aqui apresentados, também está em conformidade com a duração estabelecida em
estudos similares.
Este trabalho teve diversas limitações. A amostra reduzida tem impacto sobre a validade
das conclusões, embora haja o pioneirismo nesse tipo de pesquisas no Brasil. Foram
realizados pelo pesquisador 38 atendimentos, mas apenas 32 se encaixavam nos critérios de
inclusão no projeto, ante os 36 atendimentos propostos no projeto inicial.
ainda a falta de um protocolo totalmente padronizado para o atendimento, o que
poderia ser interessante do ponto de vista metodológico, mas que talvez seja justamente o
diferencial das pesquisas do Projeto Enurese, que têm, como possível conseqüência disso,
baixas taxas de recaída. Não houve, ainda, um controle externo dos atendimentos, a fim de se
140
verificar se eles eram suficientemente similares em todos os casos, o que poderia ser resolvido
com uma avaliação de juízes. E o que talvez seja a maior limitação, a falta de um grupo
controle, que seria um elemento a mais para ressaltar a eficácia do tratamento. Na tentativa de
amenizar essa deficiência, foi realizada a taxa de sucesso anual para que se pudesse fazer uma
comparação com o que a literatura aponta como taxa de remissão espontânea ao ano. O
seguimento dos casos atendidos, ainda o realizado, é outro fator que poderá aumentar a
credibilidade dos dados, na medida em que será medida a generalização dos ganhos no tempo.
A composição dos grupos pode ter influenciado nos resultados do trabalho, uma vez que
os participantes atendidos individualmente tinham mais problemas de comportamento,
segundo a percepção das duas mães, do que os atendidos em grupo. Com isso, não se pode
afirmar certamente que as diferenças nos resultados de ambos os grupos devam-se somente ao
tipo de intervenção, uma vez que há, como apontado pela literatura, relação entre problemas
de comportamento e enurese.
Outro aspecto que pode ter prejudicado o trabalho foi a quebra excessiva de aparelhos
de alarme utilizados no segundo ano de atendimento. Pode-se especular que dois adolescentes
atendidos em grupo tenham tido uma piora no seu quadro por conta desse problema, piora
essa que não foi recuperada. Além de possivelmente ter alterado os resultados do projeto, esse
fator pode ter impedido dois adolescentes de resolver um problema que certamente traz
grande impacto em suas vidas.
Apesar das limitações, inerentes ao trabalho científico, especialmente naquele aplicado
com seres humanos, considera-se que esse trabalho cumpriu seu objetivo imediato, que era de
validar e identificar certas nuances do tratamento para enurese. Contudo, a motivação maior
por trás do estudo não são os resultados imediatos e sim, aqueles que podem ser obtidos a
partir da construção de conhecimento que ele proporciona. Ao tratar efetivamente crianças e
adolescentes enuréticos, o se está apenas eliminando lençóis molhados, que certamente o
o menor dos incômodos que essas crianças passam. Pretende-se, aqui, desenvolver um
trabalho preventivo: ao resolver esse problema, melhorar a qualidade da relação da criança
com os pais e amigos, amenizar problemas de comportamento decorrentes da enurese e,
especialmente, permitir que a criança ou adolescente sinta-se normal, adequada, feliz e capaz
de lidar com as próprias dificuldades.
141
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Anexo 1: Registro semanal de “molhadas
Projeto Enurese – Registro Simples de “molhadas”
Nome:
Dia do
mês/mês
Dia da
semana
Seco Molhado
Hora da
molhada
Tamanho
da
mancha
Observações
Domingo
Segunda-
Feira
Terça-Feira
Quarta-Feira
Quinta-Feira
Sexta-Feira
Sábado
Rodrigo: (telefones)
Anexo 2: Registro mensal de “molhadas”
Projeto Enurese
Registro de
“molhadas”
Nome:
Data
DataData
Data
Seco
SecoSeco
Seco
Molhado
MolhadoMolhado
Molhado
Hora
HoraHora
Hora
Tamanho
TamanhoTamanho
Tamanho
Observações
ObservaçõesObservações
Observações
Anexo 3: Entrevista semi-estruturada
ENTREVISTA SEMI-ESTRUTURADA
Nome: _____________________________________idade:___________
1. Responda:
a) Estar úmido, molhado é um problema para você? ( ) sim ( ) não
b) Quem se aborrece com isto? ( ) Pai ( ) Mãe ( ) irmãos ( ) outros
________________________________________________________
2. Desenho
a) Desenhe uma figura de você acordando com a cama molhada / uma figura sua
com as calças “molhadas”.
b) Desenhe uma figura sua acordando com a cama seca / uma figura sua com as
calças secas.
3. Molhar a cama impede você de fazer algo / molhar suas calças impede você de
fazer algo? ( ) sim ( ) não - Por exemplo: _____________________
__________________________________________________________
4. Mencione três coisas sobre meninas/meninos que molham sua cama / suas
calças.
____________________________________________________________
____________________________________________________________
____________________________________________________________
___________________________________________________
5. Sobre o molhar-se:
a) Fale-me três idéias ruins sobre o molhar-se.
_________________________________________________________
_________________________________________________________
______________________________________________________
b) Há alguma coisa boa sobre o molhar-se? ( ) sim ( ) não
c) Fale-me três idéias boas sobre o estar seco (a).
_________________________________________________________
_________________________________________________________
______________________________________________________
d) Há alguma coisa ruim sobre o estar seco (a)? ( ) sim ( ) não
e) Que diferença a possibilidade de estar seco (a) faz a você?
____________________________________________________________
________________________________________________________
6. O que fazem / dizem estas pessoas quando você está molhado (a)?
a) Sua mãe: ________________________________________________
b) Seu pai: _________________________________________________
c) Seus irmãos e irmãs (ou outros familiares): _______________________
_______________________________________________________
7. Experiência de molhar-se:
a) Como você se sente quando acorda com a cama molhada / tendo suas calças
“molhadas”?___________________________________________________
__________________________________________________________
b)Qual é o seu primeiro pensamento?______________________________
__________________________________________________________
c) O que poderia mudar se você estivesse seco? ______________________
__________________________________________________________
d) Seria diferente a reação de sua mãe se você estivesse seco (a)? ________
__________________________________________________________
e) Sua mãe sabe por que você molha a cama / suas calças? ( ) Sim ( ) Não
8. Segredos!
a) Quem sabe que você molha sua cama / suas calças? __________________
__________________________________________________________
b) Se os outros soubessem, como você se sentiria? ____________________
__________________________________________________________
c) O que eles poderiam achar disso? _______________________________
__________________________________________________________
9. Como é estar seco.
a) Você acha que poderia estar mais feliz se estivesse seco (a) o tempo todo?
( ) Sim ( ) Não
b) O que você acha de estar seco (a) alguns dias/noites e outros não?
____________________________________________________________
________________________________________________________
c) Como você tenta manter-se seco (a)?_____________________________
__________________________________________________________
d) O que você faz?____________________________________________
Anexo 4: Escala de Impacto
Anexo 5: Formulário de avaliação de enurese
FORMULÁRIO DE AVALIAÇÃO DE ENURESE
Nome: ___________________________ Data de nasc.:______________
Endereço:________________________ Idade:______________________
___________________________________ Sexo:_______________________
Escola:____________________________
Nome do pai ou responsável ____________________________________
Irmão/Idade:__________
Endereço (se diferente)__________________________________________
PRIMÁRIA OU SECUNDÁRIA?
Se a enurese é primária:
1) Com que idade a criança começou a ficar seca durante o dia (no caso de enurese diurna) ou
durante a noite (no caso de enurese noturna)?
2) Há alguma associação dos problemas à determinada hora do dia ou da noite?
3) A criança está consciente da necessidade de urinar?
4) A criança é capaz de, independentemente:
a) vestir-se/despir-se
b) ir ao banheiro e sentar-se no vaso sanitário?
5) A criança tem algum medo associado ao banheiro?
6) A criança passou por algum evento ou situação estressante recentemente?
Para enurese primária e secundária:
1) A criança é capaz de "retenção"(segurar)? Ela tem algum problema de urgência?
2) Há sinais de incontinência devido ao stress? (molhar-se quando ri, tosse ou espirra)
3) A criança é capaz de esvaziar completamente a bexiga?
4) A criança é capaz de reter uma quantidade razoável de urina? Se sinais de idas muito
frequentes ao banheiro, qual é a capacidade máxima da bexiga?
5) Qual a atitude dos pais em relação ao "molhar-se” da criança? (Ver questionário de
tolerância dos pais)
6) Qual a atitude da criança em relação ao problema? (Ver entrevista estruturada)
7) Houve algum tratamento prévio? Teve sucesso? Se não, por quê?
INVESTIGAÇÃO MÉDICA
Disuria (dor ao passar a urina)
Exame de urina
Infecção M.S.U. ( ) sim ( ) não
História passada de infecção urinária?
Sinais de dificuldade em evitar
-Hesitação
-Fluxo reduzido
-Esforço/Irritação
-Pingos após urinar
OUTRAS DIFICULDADES?
-Descontrole de fezes?
-Sinais de constipação (controle excessivo de fezes)
HISTÓRIA MÉDICA PRÉVIA
Acontecimentos relevantes:
-Nascimento
-Problema quando recém-nascido?
-Eventos marcantes
-Desfralde
-Operações
-Doenças graves
-Drogas/medicamentos
HISTÓRIA FAMILIAR DE ENURESE
Mãe:
Pai:
Irmãos:
CIRCUNSTÂNCIAS EM CASA
Divide o quarto ou cama com alguém?
Usa parte de cima ou de baixo do beliche?
A criança tem fácil acesso ao banheiro?
Há luz suficiente para ver o banheiro?
Há um urinol (de criança) disponível?
Alguma outra circunstância relevante em casa?
INFORMAÇÃO BÁSICA (história do molhar-se das últimas 4 semanas)
a)Enurese noturna:
Número de noites "“molhadas”/secas” por semana"
Número de episódios de "“molhadas”” por noite
Algum acordar espontâneo para ir ao banheiro
Há algum padrão nas "“molhadas”"? (por exemplo, tarde da noite, relacionado a stress, etc)
Em quais atividades rotineiras os pais estão engajados:
Levantar ou acordar a criança.
A criança vai para a cama dos pais depois de molhar a cama?
A criança ajuda a refazer a cama?
Há restrição quanto a ingestão de líquidos pela família?
Refrigerantes ao anoitecer?
Há uso de punições ou recompensas?
Há uso de fraldas ou protetor?
Outras rotinas?
ENURESE DIURNA
Número de episódios de “molhadas” por dia/semana?
Hora do dia?
Em que locais: casa, escola, outro?
A criança demonstra urgência? Extrema urgência?
Por que a criança não chega ao toalete a tempo?
Qual a urgência da molhada antes?
Não respostas a sinais de bexiga cheia a tempo (não reconhecimento, preguiça,
preocupação)?
Há medo de usar o toalete?
Outros?
AVAENURE.DOC
Anexo 6: Escala de intolerância
Escala dos pais
Nome da criança ou adolescente:_____________________________________________
Abaixo está uma lista de afirmações sobre “xixi” na cama. Por favor, leia cada uma com
cuidado. Coloque um círculo ao redor da palavra SIM se você acha que ela descreve seus
próprios sentimentos. Coloque um círculo ao redor da palavra NÃO se você acha que ela não
descreve seus sentimentos.
1. Uma criança que molha a cama precisa de ajuda e compaixão. SIM NÃO
2. Se apenas ele(a) crescesse um pouco, nós não teríamos todo esse problema
com camas “molhadas”.
SIM O
3. Molhar a cama não é realmente um grande problema. SIM NÃO
4. Crianças poderiam parar de se molhar se tentassem com bastante esforço. SIM NÃO
5. Eu já me acostumei com camas “molhadas”. SIM O
6. Eu castigo meu filho(a) por molhar a cama. SIM NÃO
7. O “xixi” na cama geralmente desaparece sozinho. SIM O
8. O “xixi” a cama de meu filho(a) é um incômodo para todos nós. SIM NÃO
9. Eu deixo que ele(a) veja que eu estou desapontado(a) quando ele(a) molha a
cama.
SIM O
10. Molhar a cama não é nada mais do que um hábito sujo. SIM O
11. Quando meu filho(a) molha a cama eu digo a ele(a) que não tem problema. SIM NÃO
12. Eu me preocupo mais com a felicidade do meu filho(a) do que com alguns
lençóis a mais para lavar.
SIM O
13. Eu tento ajudá-lo(a) a não se aborrecer com o “xixi” na cama. SIM NÃO
14. É uma pena que molhar a cama impeça uma criança de fazer tantas coisas. SIM NÃO
15. Eu sinto pena de qualquer criança que molhe a cama. SIM O
16. Uma boa palmada nunca fez mal a nenhuma criança que molhe a cama e
pode fazer muito bem.
SIM O
17. Eu não ligo de lavar lençóis molhados, porque a criança não tem culpa. SIM NÃO
18. Eu não sei porque meu filho(a) não consegue estar seco enquanto outras
crianças conseguem.
SIM O
19. Eu tento fazer que meu filho(a) se dê conta de como seu “xixi” na cama é
desagradável para os outros.
SIM O
20. É muito embaraçoso ser alguém que molha a cama. SIM NÃO
Anexo 7: Instruções Gerais
INSTRUÇÕES GERAIS
01) A cama de seu (sua) filho (a) deve estar tão firme quanto possível. Isto pode
exigir que você coloque uma tábua debaixo do colchão.
02) Coloque o “tapete” no meio do colchão, sobre um lençol de plástico na área em
que seu (sua) filho (a) molha na maioria das vezes para evitar que o colchão
seja molhado.
03) Forre o colchão com o lençol de algodão, cobrindo todo o tapete. Não deixe
seu (sua) filho (a) se deitar diretamente sobre o tapete.
04) Será melhor que seu (sua) filho (a) durma sem a calça do pijama e sem
calcinha ou cueca, se for possível.
05) É preciso testar a força da bateria do aparelho semanalmente. Para fazê-lo,
ligue o aparelho e junte os botões. Se a bateria estiver ligada, deverá fazer o
sinal.
06) Deixe uma luz fraca acesa à noite, no quarto de seu (sua) filho (a), se ele tem
problemas com o escuro.
07) Seu (sua) filho (a) pode beber algo antes de dormir, se quiser. (Evitar chá,
café, coca-cola, chocolate, devido ao efeito diurético).
08) Seu (sua) filho (a) deve ir ao banheiro antes de dormir, fazer “xixi”, para
esvaziar a bexiga.
09) Não levar seu (sua) filho (a) ou acordá-lo (a) para ir ao banheiro sem que o
alarme tenha tocado.
10) Os “tapetes” deverão ser limpos com água morna, evitar usar desinfetantes,
pois são nocivos ao aparelho.
11) Verificar a temperatura do quarto para evitar que seu (sua) filho (a)
transpire excessivamente, e, consequentemente, o alarme dispare sem ser
por urina.
12) Esteja atento (a) durante o dia para o tempo que seu (sua) filho (a) dispende
em atividades. Se ele (a) estiver muito cansado (a), poderá não acordar
durante a noite.
13) Se seu (sua) filho (a) não ouvir o alarme, acorde-o (a).
ANTES DE SEU (SUA) FILHO (A) DEITAR
14) Certifique-se que mais de uma troca de lençois disponível no quarto assim
como roupas extras de dormir para o caso de “acidentes”.
15) Pela manhã, seu (sua) filho (a) deve preencher o gráfico de registro.
16) Certifique-se de que há um cesto para colocar os lençóis molhados, que
possam ocorrer à noite.
17) Certifique-se de que o lençol está adequadamente colocado sobre o tapete.
18) Ligar o aparelho.
19) Seu (sua) filho (a) deve deitar na cama sobre o lençol.
20) Explique a seu (sua) filho (a) o que vai acontecer à noite. Lembre-se que é
responsável pelo alarme e que poderá contar com sua ajuda.
QUANDO SEU (SUA) FILHO (A) MOLHAR A CAMA, ELE (ELA) DEVE:
21) Acordar assim que o alarme soar, levantar da cama e acender a luz. Desligar o
aparelho.
22) Ir até o banheiro e jogar água no rosto para Ter certeza de que acordou.
23) Terminar de urinar. Se não tiver penico no quarto, ir até o banheiro.
24) Voltar ao quarto e remover o lençol molhado.
25) Pegar uma parte do lençol removido e enxugar todo o molhado do “tapete”.
Colocar lençol molhado no cesto.
26) Forrar a cama com o lençol seco, cobrindo todo o “tapete”.
27) Ligar novamente o alarme.
28) Voltar a dormir, deitando-se sobre o lençol.
Adaptado de S.B. Johnson (1983) The treatment of enuresis. In P. Keller, S.L.
Ritt (Org.) Innovations in clinical pratice: A source book p. 94. Sarasota, F.L:
Professoral Resource Exchange, apud Geffken G.R e Johnson, S. B. A case study
of family with four nocturnally enuretic children. In M.C. Roberts and C. E.
Walker (Orgs.). Casebook of child Pediatric Psychology, Nova York,Giulford
Press (1989).
Anexo 8: Aparelho nacional de alarme (foto)
Anexo 9: Termo de anuência às gravações
UNIVERSIDADE DE SÃO PAULO
INSTITUTO DE PSICOLOGIA
Clínica Psicológica
Eu, ________________________________________________________________, estou
ciente da necessidade de serem registradas as sessões individuais e/ou grupais realizadas em
casa, na clínica e/ou escola. Estou ainda ciente, e não faço objeção que os registros, feitos por
gravador, vídeo e/ou observações sejam usados por supervisores idôneos, no ensino de seus
alunos/estagiários da Clínica-Escola do Departamento de Psicologia Clínica do Instituto de
Psicologia da Universidade de São Paulo, ou em suas pesquisas científicas.
Data:___/____/____ Assinatura:________________________________
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