apresentavam maior incidência de ceceio do que em fase de dentição decídua (RODRIGRUES et al., 1999), devido à maior
facilidade de anteriorização de língua, pela ausência de dentes anteriores.
Outro aspecto observado neste estudo foi que no GSTFSD a maioria dos sujeitos apresentou oclusão adequada. No
entanto, ocorreu também mordida aberta anterior, cruzada anterior, cruzada posterior, aberta anterior associada à cruzada posterior,
sobremordida e overjet. Já no GSTFCD, a maioria dos sujeitos foram classificados como apresentando maloclusão
do tipo mordida
aberta anterior associada a posterior. Desta forma, no GSTFCD a presença de mordida aberta anterior pode ter contribuído para a
presença de distorção.
Estudos como o de Tomé et al. (2004) também relatam que a presença de alterações oclusais no plano vertical anterior
pode representar um risco para o desenvolvimento de ceceio. Por outro lado, Paura et al. (1999) não encontraram relação significante
entre a presença de maloclusão e ceceio em crianças com desenvolvimento típico e falantes do Português brasileiro.
Outro instrumento aplicado com o intuito de obter maior precisão no reconhecimento das distorções foi a palatografia e
linguografia, já que esses instrumentos não aparecem na literatura como instrumentos de estudo da produção dos sons em crianças,
tanto com desenvolvimento típico como no transtorno fonológico. Para ter algum parâmetro de comparação, foram realizadas
palatografias em crianças do GTF sem alterações de motricidade orofacial para os sons estudados na pesquisa.
Dessa forma, a análise mostrou que as duas crianças do GSTFSD que foram analisadas apresentaram dentição mista,
sendo que a de sete anos tinha ausência de incisivo central superior direito.
As manchas da palatografia e linguografia foram assimétricas e com interrupção, com tensão fraca para os sujeitos de
cinco anos e forte para os de sete anos. Assimetria, interrupção e tensão das manchas podem indicar que essas crianças encontram-se
em fase de aperfeiçoamento e desenvolvimento do sistema articulatório para os sons verificados. De acordo com Casaes (1990), a
intensidade articulatória pode ser real ou não, dependendo da demora na pressão da língua contra o palato durante a realização
articulatória. Quanto à assimetria, a sua ocorrência pode não prejudicar a articulação, pois existem condições compensatórias dos
órgãos fisiológicos envolvidos na produção.
Quanto às zonas articulatórias, nota-se que as produções dos sons estudados nem sempre ocorreram na mesma região
para os dois sujeitos, com exceção do palatograma para o som [s] e linguograma para [s], [z] [Σ] e [×], que foram semelhantes.
Não foram observadas diferenças da zona de articulação quando se comparou o palatograma e o linguograma, ou seja, quando a
palatografia foi produzida em região mais anterior o linguograma também mostrou contato mais anterior. A diferença dos
pontos articulatórios encontrados nos dois sujeitos pode ser explicada pelo processo de maturação do sistema miofuncional oral
enquanto mecanismo de produção motora dos sons (MARCHESAN, 1993; WERTZNER, 1997).
Os resultados encontrados nesta pesquisa concordam com a literatura, no sentido de que distúrbios na aquisição e
desenvolvimento da função da língua estão associados com a diminuição do movimento entre as diferentes regiões deste órgão,
sendo que o grau de independência do movimento poderá delimitar a capacidade da língua para codificar distinções lingüísticas e
o tempo do curso da co-articulação (GREEN e WANG, 2003). Gibbon (1999), por meio da palatografia, concluiu que a maioria
das crianças com distúrbio de fala apresenta padrões de contato lingual sem clara diferenciação entre o ápice, lâmina e margens
laterais.
Em relação à aplicação da palatografia e linguografia, deve ser enfatizado que para a maioria dos sujeitos que foram
submetidos à técnica, principalmente para os de menor faixa etária, houve pouca colaboração na realização. Isto pode ser explicado
pela aparência da mistura (azeite e carvão), pois a cor escura causou curiosidade e nojo, gerando recusa e até mesmo náusea.
Além disso, em alguns casos, após a aplicação da mistura, as crianças sentiram desconforto com a presença da mistura,
sendo necessário que as fotos fossem tiradas rapidamente, não permitindo um posicionamento adequado do fotógrafo, o que
dificultou a análise das fotos. Também devido ao desconforto, nem sempre que foi possível o correto posicionamento do espelho
entre os molares para refletir a imagem do palato duro, sendo que rapidamente os espelhos ficavam embaçados, comprometendo a
qualidade das fotos.
Outro aspecto que comprometeu a execução da palatografia foi o aumento da salivação, dificultando a aplicação
homogênea da mistura no palato ou na língua. Uma questão que também pode prejudicar a utilização dessas técnicas é a necessidade
de ter, além do pesquisador, a presença de um auxiliar para realizar a filmagem e fotografia.
Tais desvantagens já haviam sido descritas na literatura para sujeitos em idade
adulta (MALMBERG, 1971; CAGLIARI, 1974; CASAES, 1992; LADEFOGED, 1997).
Cayley
et al. (2000) também referiram que medidas intra-orais da língua durante as funções
são difíceis, no entanto necessárias para a avaliação.
A comparação dos pontos de contato da palatograma e linguograma no GSTFCD para o som [s] (Quadro 7) indicou que
todas as produções analisadas no palatograma ocorreram com contato dental juntamente ou não com a região alveolar ou alvéolo-
palatal. Apenas para o sujeito de 6:2 anos não houve acordo entre o linguograma e o palatograma, pois o palatograma ocorreu mais