Se nos anos sessenta do século passado, uma onda revisionista parece ter
tomado conta de uma grande parte das manifestações sociais, artísticas e culturais, criando
uma série de utopias revolucionárias, na década seguinte, tais utopias foram
progressivamente abandonadas, e novas possibilidades, mais viáveis, surgiram, no sentido
de efetuar na prática os questionamentos surgidos na década anterior. Nesse sentido, Pedro
Luiz Pereira de Souza define a segunda metade da década de 1970 como “um tempo de
diluição das tendências ideológicas mais radicais. O início dos grandes consensos e das
tentativas de ‘conciliação nacional’, eram as novas palavras de ordem. O movimento de 68
passou a ser visto, contrariamente ao que se pensara, como uma rebeldia mitificada”
(Souza, 1996: 301). Segundo Carlos Alberto Messeder Pereira,
a década de setenta foi um momento crucial de passagem de um
paradigma político-cultural a outro, enfim, um verdadeiro divisor de
águas. Descobriram-se novas formas de atuação político-cultural crítica,
novas formas de engajamento, cujo ponto central era constituído por
dimensões até então não necessariamente encaradas como passíveis de
permitir uma postura crítica voltada para transformações sociais ... Mas a
década de 1970 também teve, no Brasil, um caráter no mínimo duplo.
Aberta com a marca da mais intensa censura e repressão – representando
o auge da ditadura militar que então vivíamos – ela foi fechada sob o
signo da ‘abertura ampla, geral e irrestrita’, tendo passado pela ‘distensão
lenta, gradual e segura’. No fim dos anos 70, com a queda do AI-5, da
censura, a volta dos exilados e assim por diante, iniciava-se um período
novo na vida política e cultural brasileira, marcado por outras formas de
mobilização e de organização políticas, pelo surgimento de partidos. A
‘distensão’ iniciada com a posse do general Ernesto Geisel, em 1974,
evoluiu na direção da conhecida ‘abertura’ levada a efeito pelo general
João Baptista Figueiredo, que assumiu em 1979 (Pereira, 2005: 89-90).
Como colocado por esses autores, nos anos 1970, a contestação dos anos
1960 – mais explosão que proposição, canalizou sua energia no sentido de criar meios
alternativos de expressão. Nesse sentido, Hollanda e Gonçalves comentam que
em fevereiro de 1970, na revista Visão, o jornalista Paulo Francis
arriscava, para a década que se abria, alguns palpites. O artigo, chamado
“Um balaio de nacionalismo e experimentalismo”, fazia referência às duas
tendências básicas e antagônicas das artes brasileiras nos anos 60 e