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Antônio Carlos Soares Martins
A EMERGÊNCIA DE EVENTOS COMPLEXOS EM
AULAS ON-LINE E FACE-A-FACE: UMA
ABORDAGEM ECOLÓGICA
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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Antônio Carlos Soares Martins
A EMERGÊNCIA DE EVENTOS COMPLEXOS EM
AULAS ON-LINE E FACE-A-FACE: UMA
ABORDAGEM ECOLÓGICA
Tese apresentada ao Programa de Pós-Graduação em
Letras: Estudos Lingüísticos, da Faculdade de Letras da
Universidade Federal de Minas Gerais, como requisito
para a obtenção do título de Doutor em Lingüística
Aplicada.
Área de Concentração: Lingüística Aplicada
Linha de Pesquisa: Linguagem e Tecnologia
Orientadora: Prof.ª Dr.ª Vera Lúcia Menezes de
Oliveira e Paiva.
Belo Horizonte
Faculdade de Letras da UFMG
2008
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À minha filha, Gabriela, que nasceu durante o período
de elaboração desta tese e renovou-me as forças para
concluir com êxito este trabalho.
À minha esposa, Rejane, pelo carinho, companheirismo
e compreensão durante essa jornada.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais pelo carinho, apoio e incentivos
constantes.
A Rejane e Gabriela, fontes de acalento nos momentos
mais difíceis do percurso.
À Profª. Drª. Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva
pela amizade e orientação competente.
Aos participantes do grupo de pesquisa, Eliane, Júnia,
Liliane, Rita, Roberval, Valdir e Vera, pelos valiosos
momentos de discussão que certamente ecoam em todo
este trabalho.
À FAPEMIG pela bolsa de estudo que muito contribuiu
para a execução deste trabalho.
À Unimontes pelo indispensável apoio para a
realização deste trabalho.
Aos professores Deise Prina Dutra, Ricardo Augusto de
Souza e Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva por
terem contribuído significativamente para minha
formação acadêmica durante o curso de Doutorado.
Às funcionárias da Pró-Reitoria de Pesquisa da
Unimontes pela atenção constante, cordial e
competente.
Aos funcionários do Programa de Pós-Graduação em
Estudos Lingüísticos pela receptividade, atenção e
presteza.
À professora Ana Alves Neta pelo apoio e incentivo
valiosos.
À professora e às alunas participantes desta pesquisa
por terem gentilmente permitido sua realização.
Aos queridos amigos Júnia Braga e Valdir Silva que
ajudaram a encontrar a ordem no caos.
The ecological approach looks at the entire situation and asks
what is it in this environment that makes things happen the
way they do? How does learning come about? Ecology
therefore involves the study of context (…). In addition,
things are happening all the time, in schools, classrooms, at
desks and around computers. So, ecology is also the study of
movement, process, and action. (VAN LIER, 2004, p.11)
Resumo
O papel da interação na aprendizagem de línguas tem sido tema freqüente na área
de Lingüística Aplicada. Com os recentes avanços tecnológicos, essa questão tornou-se ainda
mais proeminente. Este trabalho investiga as dinâmicas interativas ocorridas em uma
disciplina de escrita em inglês como língua estrangeira oferecida na modalidade mista com
aulas face-a-face e on-line. O estudo foi sustentado por uma perspectiva ecossistêmica,
incluindo princípios da Teoria da Complexidade e de abordagens ecológicas às relações de
ensino e aprendizagem de línguas. A investigação foi conduzida sob uma perspectiva
etnográfica, com acompanhamento sistemático das atividades da disciplina durante todo o
semestre letivo. A análise procurou evidenciar os processos de interação, participação e
colaboração na disciplina como um todo e, em especial, no processo de revisão colaborativa
de textos em um fórum on-line e em seminários face-a-face. Os resultados destacam o valor
de desenhos instrucionais mistos que busquem a convergência das modalidades de ensino
aulas face-a-face e on-line de forma a explorar o potencial de cada modalidade. Desenhos
instrucionais mistos têm o potencial de combinar essas modalidades de ensino
tradicionalmente separadas, integrando as propriedades e possibilidades de cada uma. A
combinação dessas modalidades supera o dualismo que parece sugerir a necessidade de se
escolher entre a modalidade convencional face-a-face e a on-line, e potencializa os benefícios
de uma forma que vai além das capacidades individuais de cada uma.
PALAVRAS-CHAVE: 1. Língua estrangeira. 2. Aprendizagem de línguas mediada por
computador. 3. Aprendizagem situada. 4. Teoria da complexidade. 5. Abordagem ecológica.
Abstract
Interaction has frequently been a theme of intense debate in the field of Applied
Linguistics and this has become more prominent with the recent technological developments.
This work investigates the interactional dynamics in an English as a foreign language writing
course offered in blended mode with face-to-face and online classes. The study was supported
by an ecosystemic perspective which incorporated principles from both Complexity Theory
and ecological approaches to language teaching and learning. The investigation was carried
out in an ethnographic perspective with systematic observation of the course activities for the
length of a school term. The analysis sought to enlighten the processes of interaction,
participation and collaboration in the course, focusing on the collaborative text editing process
in an online forum and in face-to-face seminars. The results point out to the value of blended
instructional designs that aim at the convergence of face-to-face and online modes in order to
explore the potentialities of each mode. Blended learning courses have the potential of
combining these traditionally separated teaching modalities integrating the proprieties and
possibilities of each one. The combination of these modalities overcomes the dualism that
seems to suggest a need to chose between conventional face-to-face and online modes and
enhance the potential benefits in a way that is beyond the capacities of each one individually.
KEYWORDS: 1. Foreign language. 2. Computer-mediated language learning. 3. Situated
learning. 4. Complexity theory. 5. Ecological approach.
Lista de figuras
F
IGURA
1-
Posições preferidas em sala de aula...................................................................... 77
F
IGURA
2- Formulário de mensagem do fórum ..................................................................... 110
F
IGURA
3- Organização dos tópicos no fórum....................................................................... 126
Lista de tabelas
T
ABELA
1-
Alunos participantes da pesquisa......................................................................... 64
T
ABELA
2- Organização das aulas ......................................................................................... 64
T
ABELA
3- Síntese da base de dados...................................................................................... 67
T
ABELA
4-
Turnos de fala no 1º seminário face-a-face.......................................................... 99
T
ABELA
5-
Atividades on-line no período de 12 a 19/11/2004.............................................. 104
Sumário
1
Primeiras Palavras......................................................................................................... 13
1.1 - Objetivos ................................................................................................................ 15
1.2 - Um percurso de pesquisa ....................................................................................... 15
1.3 - Abordagem ecológica............................................................................................. 17
1.4 - Perguntas de pesquisa ............................................................................................ 19
1.5 - Organização da tese................................................................................................ 20
2
Interação e Aprendizagem de Línguas......................................................................... 21
2.1 - Abordagens interacionais....................................................................................... 24
2.2 - Abordagens socioculturais ..................................................................................... 25
2.3 - Aprendizagem situada: participação periférica legítima........................................ 29
2.4 - Interação, participação e colaboração em uma perspectiva ecológica ................... 32
3
As Dinâmicas Complexas da Sala de Aula .................................................................. 38
3.1 - Teoria da Complexidade ....................................................................................... 40
3.2 - Dinâmicas interativas em sala de aula .................................................................. 49
3.2.1- Abordagens tradicionais ao discurso de sala de aula....................................... 49
3.2.2- Complexidade: a ecologia da aprendizagem de línguas.................................. 51
3.2.3- Condições da complexidade em sala de aula .................................................. 54
4
Metodologia ....................................................................................................................
59
4.1 - Etnografia e complexidade.................................................................................... 60
4.2 - Contexto e participantes da pesquisa .................................................................... 63
4.3 - Fonte de dados e procedimentos de análise .......................................................... 66
5 – Comunidade mista de aprendizagem: dinâmicas de participação e interação ....... 68
5.1 - Dinâmicas complexas: a emergência da coletividade em ambientes de aula ....... 71
5.1.1- Diversidade interna.......................................................................................... 71
5.1.2- Redundância .................................................................................................... 76
5.1.3- Controle descentralizado ................................................................................. 79
5.1.4- Restrições possibilitadoras .............................................................................. 83
5.1.5- Interações locais .............................................................................................. 85
5.2 - Dinâmicas de participação na comunidade de aprendizagem............................... 86
5.3 - Dinâmicas interativas em aulas on-line e face-a-face ........................................... 96
5.3.1- Interações locais na comunidade de aprendizagem......................................... 97
5.3.2- O processo de revisão colaborativa de textos em aulas on-line e face-a-face . 118
6 – Conclusão ....................................................................................................................... 138
6.1 - Respondendo às perguntas de pesquisa................................................................. 139
6.2 - Implicações para o ensino de línguas.................................................................... 146
6.3 - Limitações deste estudo ........................................................................................ 147
6.4 - Sugestões para futuras pesquisas .......................................................................... 148
6.5 - Considerações finais ............................................................................................. 148
7 – Referências Bibliográficas ............................................................................................ 150
8 – Anexos............................................................................................................................. 167
Anexo I: Programa da disciplina .................................................................................... 168
Anexo II: Entrevistas...................................................................................................... 169
13
1- Primeiras palavras
Honest, knowledgeable researchers now how little they know
and how much is yet unknown. They ponder and debate about
how much is knowable. They are trying to see but working in
the dark. Concepts can be likened to searchlights of varying
beam width and intensity. They help us to see some things but
not others. Instead areas outside the beam appear darker than
ever. When the electricity of new publications diminishes, the
light dims; and they look elsewhere for new sources of energy
(ERAUT, 2002, p.1)
14
Esta pesquisa investiga as dinâmicas interativas de um grupo de alunas em uma
lista de discussão via e-mail, em um fórum on-line e em uma sala de aula ‘convencional’
1
, no
contexto de uma disciplina cujo foco era o desenvolvimento da escrita acadêmica em língua
inglesa.
Este trabalho foi motivado por minha própria experiência como aluno e como
professor de cursos on-line. Tendo participado de alguns cursos de capacitação on-line e
atuado como professor de cursos on-line
15
1.1 – Objetivos
Compreendendo a comunidade de aprendizagem mista
2
como um sistema
complexo, esta pesquisa possui os seguintes objetivos:
a) Objetivo geral
Analisar as dinâmicas ocorridas em uma comunidade mista de
aprendizagem buscando compreender a natureza dos eventos ocorridos em
ambientes on-line e face-a-face de aprendizagem.
b) Objetivos específicos
Investigar como as condições da complexidade em sala de aula
identificadas por Davis e Simmt (2003) se estabelecem em uma
comunidade mista de aprendizagem;
Compreender como ocorrem as dinâmicas de participação em uma
comunidade mista de aprendizagem;
Investigar como se configuram os movimentos interativos ocorridos
durante o processo de revisão colaborativa de textos em um fórum on-line
e em seminários face-a-face.
1.2 – Um percurso de pesquisa
Este trabalho iniciou-se com um propósito essencialmente comparativista. Ele
buscava, em suma, analisar comparativamente as interações comunicativas ocorridas em um
ambiente virtual de aprendizagem e em uma sala de aula face-a-face convencional.
2
O termo “mista” é aqui utilizado no sentido do termo inglês “blended” que, no contexto educacional, caracteriza
a experiência que envolve a mixagem de aulas on-line e face-a-face, com a redução do tempo de permanência em
sala de aula convencional. Em português o termo mais comumente utilizado é “semi-presencial”, mas, nesta
análise, não é a questão da presença ou ausência que está em foco. Outro termo eventualmente encontrado em
português é “bimodal”, mas o termo “blended” não se restringe a dois modos de interação.
16
Esse enfoque foi motivado não pelo interesse pessoal e profissional em
compreender as especificidades das interações ocorridas nesses ambientes de aprendizagem,
mas também por não ter encontrado na literatura estudos comparativos longitudinais de
orientação etnográfica que procurassem compreender como alunos interagem em ambientes
de aprendizagem on-line e face-a-face (MARTINS, 2005a).
Nos primeiros momentos da ALMC, houve um grande interesse por pesquisas
comparativas, geralmente bu0.95892(m)-10.7446(e)(s)-5.37229(s)-5.37229(ei60221(n)-0.96t)0.874347(o)-0.960221(s)-5.370995.37229(ei1( )-314.911(i)-9.78436653(r)2.57qh)-0.960221(o)-0.9602218(t)-9.78436(i)0.874347(v)-0.960221c(i)-9.78436((r)2.5R)-45t
17
contextos mediados por computador e em ambientes face-a-face mais convencionais e em
contextos naturalísticos e não em situações criadas para fins específicos de pesquisa.
Diante dessas questões, foi escolhida, então, para investigação, uma disciplina
organizada com parte da carga horária em sala de aula convencional e parte em ambientes on-
line (lista de discussão e fórum), oferecida na Universidade Federal de Minas Gerais no
segundo semestre de 2004. Esse contexto oferecia, portanto, as condições adequadas para o
propósito de uma investigação naturalística longitudinal dos movimentos interativos ocorridos
nas modalidades on-line e face-a-face, levando em consideração a maneira como os
participantes percebem esses eventos.
No entanto, o desenvolvimento das atividades de aula demonstrou que, se por um
lado o fato de esse contexto contar com os mesmos participantes nos ambientes on-line e face-
a-face possibilitavam uma investigação ainda não encontrada na literatura, esse mesmo fato
inviabilizava comparações em termos absolutos, pois as ações dos participantes em um
ambiente influenciavam e eram influenciadas por suas ações no outro ambiente.
Além disso, a abordagem ecológica adotada, sob uma perspectiva da Teoria da
Complexidade, ressaltou a necessidade de considerar a intrincada rede de interação e
interdependência entre pessoas, ambientes e recursos que se configuram nessa comunidade de
aprendizagem.
1.3 – Abordagem ecológica
Este estudo adota uma abordagem ecológica, considerando a tecnologia, a
linguagem e o ensino de línguas em uma ampla rede interligada de forma dinâmica e
interdependente. Essa perspectiva reconhece que “todos os membros de uma comunidade
ecológica estão interligados numa vasta e intrincada rede de relações” (CAPRA, 1999, p.
231). De acordo com Capra (1982, p. 82), a “concepção de universo como uma rede
interligada de relações” e a “compreensão de que a rede cósmica é intrinsecamente dinâmica”
são os dois temas tratados com maior freqüência na física moderna. Nessa perspectiva
sistêmica, as comunidades ecológicas são vistas como “totalidades integradas, cujas
propriedades não podem ser reduzidas às de unidades menores” (CAPRA, 1982, p. 260). O
foco, portanto, não está simplesmente nos elementos ou componentes básicos, mas
principalmente nos seus princípios de organização.
18
A abordagem ecológica ou ecossistêmica, como prefere chamar Moraes (2004),
foi grandemente influenciada por Bateson (1972, 1986) que chama a atenção para o “padrão
que liga” todas as coisas. Ele destaca a necessidade de se considerar a “totalidade do mundo
biológico em que vivemos e temos nosso ser” (1986, p. 16) e como tudo isso está organizado.
Outra perspectiva também compatível com uma abordagem ecológica é a biologia
do conhecer desenvolvida por Maturana e Varela (MATURANA, 1997, 1998, 2001, 2002;
MATURANA e VARELA, 2001; VARELA, 1994), na qual os seres vivos e o mundo são
vistos como essencialmente interligados. Para esses autores, é no contexto social que surge o
fenômeno do conhecer. O mental não é algo que está dentro do crânio de um indivíduo; não é
um fluido do seu cérebro, mas algo que pertence “ao domínio de acoplamento social, e é nele
que ocorre a sua dinâmica” (MATURANA e VARELA, 2001, p. 256).
O termo ecológico” é usado num sentido mais amplo do que a acepção biológica
convencional. Esse termo envolve uma perspectiva que, segundo Capra, tem sido também
chamada de “holística”. Ele afirma, porém, que o primeiro termo é mais adequado, pois uma
visão holística de uma bicicleta, por exemplo,
significa ver a bicicleta como um todo funcional e
compreender, em conformidade com isso, as
interdependências das suas partes. Uma visão ecológica da
bicicleta inclui isso, mas acrescenta-lhe a percepção de como
a bicicleta está encaixada em seu ambiente natural e social
de onde vêm as matérias-primas que entram nela, como foi
fabricada, como seu uso afeta o meio ambiente natural e a
comunidade pela qual é usada, e assim por diante (CAPRA,
1999, 25).
A adoção de abordagens ecológicas para a compreensão de sistemas humanos não
é algo recente, mas ganhou um novo impulso com a incorporação de princípios da Teoria da
Complexidade. Essa perspectiva percebe o mundo como um todo integrado de forma
sistêmica e não como uma coleção de partes dissociadas. A perspectiva adotada neste estudo é
essencialmente transdisciplinar
3
, reconhecendo como Halliday (2001) que atividades como
ensino e aprendizagem de nguas envolvem muito mais que uma disciplina e “são
demasiadamente complexas e multifacetadas para ser analisadas por qualquer perspectiva
isoladamente”
4
(2001, p. 176).
3
Para uma discussão sobre abordagens transdisciplinares na área de Lingüística Aplicada sob as perspectivas
ecológica e da complexidade, ver Martins e Braga (2007).
4
Minha tradução de “are too much complex and manysided to be looked at from any one perspective alone”.
19
Uma pesquisa ecológica considera fatores como espaço e tempo, os quais,
conforme argumenta Van Lier (2004), são melhor alcançados em trabalhos longitudinais
descritivo-interpretativos tais como em estudos etnográficos. Além da etnografia, Van Lier
destaca como formas de pesquisa compatíveis com uma perspectiva ecológica o estudo de
caso, a pesquisa-ação, a pesquisa narrativa, as autobiografias, a análise da conversação e a
análise do discurso.
Este estudo trata-se de uma pesquisa qualitativa de orientação etnográfica,
conduzida durante um semestre letivo, com um mesmo grupo interagindo em sala de aula
convencional e on-line, em contexto de desenvolvimento da escrita em ngua inglesa como
língua estrangeira. Foram utilizados instrumentos de coleta de dados advindos da etnografia e,
para a interpretação dos dados, princípios da Sociolingüística Interacional, Análise da
Conversação e da Teoria da Complexidade.
1.4 – Perguntas de pesquisa
O presente trabalho norteia-se pelas seguintes perguntas:
Como as condições da complexidade em sala de aula identificadas por
Davis e Simmt (2003) se estabelecem em uma comunidade mista de
aprendizagem?
Como ocorrem as dinâmicas de participação em uma comunidade mista de
aprendizagem?
Como se configuram os movimentos interativos ocorridos durante o
processo de revisão colaborativa de textos no fórum on-line e nos
seminários face-a-face?
20
1.5 – Organização da tese
Além deste capítulo introdutório, esta tese inclui mais quatro capítulos. O capítulo
2 faz uma discussão sobre a questão da interação na literatura sobre ensino e aprendizagem de
línguas e discute o papel da interação em uma abordagem ecológica aos eventos de ensino e
aprendizagem de línguas. O capítulo 3 discute as dinâmicas complexas da sala de aula e, para
tanto, aprofunda as discussões sobre a abordagem ecológica e sobre a teoria da complexidade.
Após uma revisão breve das abordagens tradicionais às práticas discursivas ocorridas em sala
de aula, é apresentada uma perspectiva ecológica que compreende a sala de aula como um
ecossistema complexo adaptativo e auto-organizante. O capítulo 4 apresenta a abordagem
metodológica adotada neste estudo, destacando, em especial, os instrumentos de coleta de
dados, o contexto e os participantes da pesquisa. No capítulo 5, são apresentados e discutidos
os resultados da pesquisa. Inicialmente, a partir das cinco condições da complexidade
identificadas por Davis e Simmt (2003), são analisadas as dinâmicas interativas da sala de
aula. Em seguida, a participação das alunas nas aulas face-a-face e on-line é discutida a partir
do conceito de participação periférica legítima, desenvolvido por Lave e Wenger (1991),
enfocando as complexas dinâmicas de participação em uma comunidade de aprendizagem.
Por fim, são analisadas as dinâmicas interativas ocorridas nas aulas on-line e face-a-face, com
uma análise descritiva das interações interpessoais nos ambientes de aula. Na conclusão
respondo às perguntas de pesquisa, avalio os resultados e discuto implicações da pesquisa
para o ensino de línguas. Discuto, ainda, na conclusão algumas questões relevantes apontadas
pelo estudo bem como suas limitações e apresento sugestões para futuras pesquisas.
21
2-
Interação e aprendizagem de línguas
One interpretation of ecology points us directly to the
negotiative interaction of human persons with their
environment. Socialization is in one sense also exactly that.
Another interpretation, of course, is the interaction among
those persons themselves within that natural environment,
and the relative constraints on the necessary affordances for
learning offered by that environment. Ecology in this sense is
both reactive and creative: it suggests a system, and it makes
us reflect on the change within that system and between that
system and others. (CANDLIN e SARANGI, 2002, p. xii-iii)
22
A importância da interação no processo de aprendizagem tem sido reconhecida
nas principais discussões sobre o ensino e a aprendizagem de segunda ngua (L2)
5
. Como
afirma Leffa (2003), embora possa parecer que tudo foi dito sobre interação, é impossível
não continuar falando sobre essa questão, quer nos afinemos com o construtivismo, com a
teoria sociocultural, com a teoria do caos ou com a hipótese interacional.
Ellis (2005), enfatizando o papel da interação oral, afirma que, tanto na teoria
computacional quanto na sociocultural, a oportunidade de interagir na língua que se está
aprendendo é fundamental para o desenvolvimento da proficiência. Segundo ele, essas duas
teorias formam dois grandes grupos nos quais podem ser enquadradas as perspectivas teóricas
que têm informado as pesquisas sobre o ensino e a aprendizagem de L2.
Na teoria computacional, a aprendizagem é vista em termos de insumo-produção
(input-output), “especificando os processos psicolingüísticos envolvidos no desenvolvimento
da L2 e seu uso no discurso planejado e não-planejado”
6
(ELLIS, 2005, p. 9). Na teoria
sociocultural, por outro lado, a aprendizagem de nguas é vista como “algo que origina na
interação social; os aprendizes produzem colaborativamente estruturas que eles não são
capazes de produzir independentemente e, subseqüentemente, internalizam-nas”
7
(op.cit., p.
9).
Como demonstram Brown e Rodgers (2002, p. 80), o termo ‘interação’ tem sido
usado com uma variedade de sentidos diferentes, podendo abranger:
1) teorias de descrição lingüística,
2) modelos de aquisição de segunda língua,
3) trocas instrucionais entre professores e alunos,
4) conversações entre alunos e alunos na realização de tarefas, e
5) conversação interna entre autores e leitores.
Na área de aquisição de segunda língua, diferentes perspectivas teóricas podem ser
observadas. Como ressalta Ellis (1994), o rótulo de interacionista tem sido aplicado a dois
5
Embora esteja ciente da distinção tradicionalmente feita entre os termos ‘segunda língua’ e ‘língua estrangeira’,
neste trabalho, utilizarei indistintamente esses conceitos, pois, como ressalta Ellis (2003), é costumeiro falar
genericamente de aquisição de ‘segunda’ língua, independentemente de a língua estar sendo aprendida
naturalmente em um país onde essa língua é falada ou em sala de aula através da instrução formal.
6
Minha tradução de specifying the psycholinguistic processes involved in the development of L2 knowledge and
in its use in planned and unplanned discourse.
7
Minha tradução de “something that originates in the social interaction; learners collaboratively produce
structures that they are unable to perform independently and subsequently internalize them”.
23
diferentes tipos de teorias. De acordo com as teorias cognitivas, a aquisição é vista como um
produto da interação complexa do ambiente lingüístico e de mecanismos internos do aprendiz.
Um outro tipo de teoria interacionista apresenta uma maior orientação social. Nessa
perspectiva, “a interação verbal é de crucial importância para tornar os ‘fatos’ da L2 salientes
para o aprendiz”
8
(ELLIS, 1994, p. 244).
Ellis (1999) distingue dois significados de “interação”: interação intrapessoal e
interação interpessoal. A interação intrapessoal ocorre “quando diferentes módulos mentais
interagem para construir um entendimento de ou a resposta a algum fenômeno”
9
(ELLIS,
1999, p. 1). A interação interpessoal, compreendida como o comportamento social que ocorre
quando uma pessoa comunica com uma outra, pode ocorrer face-a-face ou mediada por algum
recurso tecnológico. Desses dois significados de “interação” destacados por Elis, apenas o de
interação interpessoal será considerado nesse estudo.
Ressaltando que a interação é um aspecto fundamental da aprendizagem, Leffa
(2003, p. 2) afirma que ela
envolve sempre algum tipo de negociação, que pode ocorrer em
três planos diferentes: (1) entre as fontes de conhecimento de
uma pessoa como, por exemplo, entre o conhecimento que
posso ter de um determinado pico de leitura e meu
conhecimento do léxico da língua; (2) entre uma pessoa e outra
como, por exemplo, entre dois alunos na tentativa de interpretar
um poema; (3) entre uma pessoa e um objeto como acontece,
por exemplo, num jogo de computador, onde, por simulação, o
usuário pode jogar uma partida de xadrez, construir um império
ou administrar uma empresa.
Embora todas essas dimensões estejam presentes no contexto desta pesquisa,
enfoco, principalmente, as relações interpessoais em sala de aula e em ambientes mediados
por computador em que as alunas e a professora se interagiam na condução das atividades de
ensino e aprendizagem.
8
Minha tradução de verbal interaction is of crucial importance for language learning as it helps to make the
‘facts’ of the L2 salient to the learner”.
9
Minha tradução de when different modules of the mind interact do construct an understanding of or a response
to some phenomenon”.
24
2.1 – Abordagens interacionais
A abordagem interacionista, principalmente a chamada hipótese interacional, tem
fundamentado a maior parte dos estudos recentes na área de ensino e aprendizagem de L2.
Como destaca Ellis (1999), a hipótese interacional apóia-se na investigação de como os
falantes nativos reparam as rupturas ocorridas na comunicação, como, por exemplo, no
trabalho de Schegloff, Jefferson e Sacks (1977) e na concepção de que as pessoas aprendem a
segunda língua através do processo de interação e não simplesmente manifestam o que
aprenderam na interação, ou seja, “uma pessoa aprende como realizar conversações, ela
aprende como interagir verbalmente e, dessa interação, estruturas sintáticas são
desenvolvidas”
10
(HATCH, 1978, p. 403).
A hipótese interacional foi desenvolvida sob forte influência da hipótese do input,
defendida por Krashen (1985) que prediz que
os aprendizes adquirirão uma L2 quando eles tiverem acesso ao
input compreensível e quando seu ‘filtro afetivo’ estiver baixo
(por exemplo, quando eles estiverem motivados para aprender e
não estiverem ansiosos) de forma que o input compreendido
esteja disponível para processamento pelos mecanismos
internos de aquisição
11
(ELLIS, 1999, p. 5).
No entanto, na hipótese do input, a interação não assumia um papel de destaque,
sendo considerada apenas como uma das fontes de input compreensível. Já na hipótese
interacional, o input modificado na interação é considerado essencial para fornecer ao
aprendiz informações relacionadas às formas lingüísticas que são problemáticas para eles. Na
hipótese interacional, uma questão central é um tipo de interação conhecido por negociação de
significado, que envolve as tentativas de resolver os impasses surgidos na conversação ou de
evitar que tais impasses ocorram.
As versões subseqüentes da hipótese interacional, como afirma Ellis (1999),
procuraram não somente postular um efeito para o input compreensível, mas também
demonstrar como o input modificado na interação contribui para a aquisição, especificando os
10
Minha tradução de one learns how to do conversations, one learns how to interact verbally, and out of this
interaction syntactic structures are developed”.
11
Minha tradução de “learners will acquire an L2 when they have access to comprehensible input and when their
‘affective filter’ is low (e.g. they are motivated to learn and are not anxious) so that the comprehended input is
made available to the internal acquisitional mechanisms”.
25
mecanismos internos do aprendiz que estão envolvidos nesse processo, e oferecendo uma
visão mais detalhada de como a negociação pode contribuir para a aquisição.
Uma outra questão ampliada nas versões posteriores da hipótese interacional foi o
papel da produção dos aprendizes que, inicialmente, como em Long (1983), não era vista
como um fator facilitador da aquisição, a não ser através da negociação de significado que
resultava em input modificado. Posteriormente, em Long (1996), foi reconhecido que o
significado da negociação pode levar os aprendizes a modificarem sua produção, o que pode
também promover a aquisição.
Conforme ressalta Ellis (1999), esse interesse teórico na produção como uma
fonte de aquisição lingüística foi estimulado pela proposta de Swain (1985) de que o output
compreensível, assim como o input compreensível, pode ser necessário para que os aprendizes
possam alcançar níveis mais elevados de competência gramatical e sociolingüística em uma
L2.
2.2 – Abordagens socioculturais
Com o desenvolvimento de uma abordagem sociocultural à aquisição de L2, o
papel da interação foi também re-significado, uma vez que a mediação é o elemento central
dessa teoria. Nessa perspectiva, a aprendizagem, e a aprendizagem de línguas em particular,
“ocorre quando funções biologicamente determinadas evoluem para funções mais complexas
de ‘ordem superior’ através da interação social”
12
(ELLIS, 1999, p. 17).
Como destaca Figueiredo (2003, p. 126),
A teoria sociocultural, baseada principalmente nos trabalhos de
L. S. Vygotsky e seus colaboradores, tem dado subsídios para
melhor compreender a importância da interação no processo de
aprendizagem, visto que, de acordo com essa teoria, a
aprendizagem ocorre dentro e a partir de interações
significativas, pelas quais os indivíduos co-constroem o seu
conhecimento.
Apoiando-se na teoria sociocultural, Swain desenvolve o conceito de diálogo
colaborativo que, segundo ela,
26
é o diálogo que constrói o conhecimento lingüístico. É o que
possibilita à performance ultrapassar a competência. É onde o
uso da ngua e a aprendizagem da língua podem co-ocorrer. É
o uso da língua mediando a aprendizagem da ngua. É a
atividade cognitiva e é a atividade social
13
(2000, p. 97).
O diálogo colaborativo é, portanto, o diálogo em que os aprendizes se engajam na
solução de problemas e construção de conhecimento.
Swain demonstra em seu estudo que o esforço colaborativo dos alunos, mediado
pelo diálogo, possibilitou-lhes a internalização de formas gramaticais corretas. Segundo a
autora, a verbalização foi iniciada por meio da interação social e a base para a resolução da
tarefa foi o diálogo que, por sua vez, mediou a construção de processos estratégicos e de
conhecimento lingüístico. Swain ainda completa que o papel do diálogo na mediação da
aprendizagem em áreas como a matemática, a ciência e a história é bem aceito, na área de
aprendizagem de línguas, no entanto, isso não é bem compreendido, o que, talvez, deva-se ao
fato de que a noção de ‘linguagem mediando linguagem’ é mais difícil de conceituar e de
certificar do que aquelas passíveis de serem observadas empiricamente. Swain conclui
ressaltando as evidências de que no diálogo colaborativo ocorre a aprendizagem de línguas e
de que esses insights não são alcançados com foco simplesmente no insumo e na produção.
Assim como Van Lier (2000), Swain (2000) questiona a continuidade do uso dos
termos ‘input’ e ‘output’, referindo a eles como ‘metáfora do conduíte’. Conduítes são aqueles
tubos utilizados em inúmeros equipamentos para conduzir um elemento de um ponto a outro.
Um exemplo bastante corriqueiro é aquele utilizado no sistema de freios de uma bicicleta para
conduzir o cabo de aço da alavanca que aciona o freio ao mecanismo que, em atrito com a
roda, provoca a frenagem. Esses autores argumentam que essa metáfora do conduíte tem um
efeito inibidor no desenvolvimento de uma compreensão mais ampla do processo de
aprendizagem de uma língua estrangeira.
Nessa perspectiva, a interatividade torna-se essencial no processo de
aprendizagem. Indo além da metáfora ‘insumo-produção’, característica da hipótese
interacional que, segundo Ellis (2005), está inserida em uma visão meramente computacional
12
Minha tradução de occurs when biologically determined mental functions evolve into more complex ‘higher
order’ functions through social interaction”.
13
Minha tradução de “it is dialogue that constructs linguistic knowledge. It is what allows performance to
outstrip competence. It is where language use and language learning can co-occur. It is language use mediating
language learning. It is cognitive activity and it is social activity.
27
de aprendizagem de línguas, a interação colaborativa surge como um elemento crucial para a
aprendizagem de uma língua estrangeira.
Kramsch (2000) questiona que as teorias tradicionais sobre a ngua e a aquisição
da ngua envolvem uma clara dicotomia entre o indivíduo e o social. Nessas teorias, a língua
e os processos psicológicos de aquisição da língua estariam na cabeça do indivíduo, enquanto
a comunicação e os processos sociais de uso da língua estariam no contexto social. Na teoria
sociocultural, no entanto, “os signos lingüísticos e os processos psicológicos não precedem
seu uso nos contextos sociais; ao contrário, é a atividade social, e suas formas materiais de
mediação cultural e social, que precede a emergência das formas individuais de consciência”
14
(KRAMSCH, 2000, p. 133).
É preciso considerar que “os aprendizes trazem para as interações suas próprias
histórias, repletas de valores, concepções, crenças, direitos, deveres e obrigações”
15
(DONATO, 2000, p. 46). Dessa maneira, as interações dos estudantes com o processo de
aprendizagem (inclusive com os demais participantes) surgem de um complexo de atitudes
que são específicas a cada um como indivíduo. De fato, a própria atividade mental é, pelo
menos em parte, determinada histórico e discursivamente. Como destaca Roebuck (2000, p.
82) “a atividade mental, a operação de um sistema simbólico, é em grande parte determinada
pela história sociocultural da pessoa e pelos discursos aos quais ela tem acesso”
16
. É
importante, portanto, como argumenta Sullivan (2000), examinar não as práticas
pedagógicas, mas também como essas práticas e discursos de sala de aula estão relacionados
aos valores socioculturais.
Segundo Thorne (2000), em abordagens socioculturais, a língua (aprendizagem e
uso) e a subjetividade podem, eventualmente, ser separadas analiticamente, mas devem ser
analisadas holisticamente e interdependentemente para a interpretação da ‘atividade situada’,
conforme conceituação de Lave e Wenger (1991) discutida a seguir.
14
Minha tradução de “linguistic signs and psychological processes do not precede their use in social contexts; on
the contrary, it is social activity, and its material forms of social and cultural mediation, that precedes the
emergence of individual forms of consciousness”.
15
Minha tradução de learners bring to interactions their own personal histories replete with values,
assumptions, beliefs, rights, duties, and obligations”.
16
Minha tradução de mental activity, the operation of a symbolic system, is to a large extent determined by the
sociocultural history of the person and the discourses to which she has access”.
28
Uma concepção central na teoria sociocultural é a que “os aprendizes transformam
ativamente o mundo e não meramente se conformam com ele”
17
29
2.3 – Aprendizagem situada: participação periférica legítima
A participação dos aprendizes tem sido um tema freqüente entre pesquisadores e
professores de língua estrangeira. Em reuniões de professores, por exemplo, é comum ouvir
comentários sobre a participação ou não participação dos alunos nas aulas. Essa participação é
geralmente avaliada a partir da fala: os alunos considerados mais participativos são aqueles
que mais falam, que mais perguntam, que mais comentam ou que mais respondem às
perguntas feitas pelo professor. Nas pesquisas em ensino e aprendizagem de línguas, trabalhos
como Chaudron (1988), Van Lier (1988), Tsui (1995), Dalacorte (1999), entre outros,
analisam a interação e a participação a partir da quantidade de fala em sala de aula. Utilizando
uma abordagem conversacional, esses estudos, em geral, buscam compreender o ambiente de
ensino e aprendizagem de línguas a partir da análise da distribuição de turnos de fala. Esses
trabalhos contribuem significativamente para a compreensão dos eventos conversacionais
ocorridos em sala de aula, mas não alcançam outras também significativas formas de
participação.
Essa perspectiva conversacional tem ganhado amplos espaços nos estudos em
ensino e aprendizagem de línguas. O periódico “The Modern Language Journal”, por
exemplo, dedicou sua edição de número 88, publicada em 2004, integralmente à exploração
das contribuições da Análise da Conversação para as pesquisas em ensino e aprendizagem de
línguas.
Recentemente, muitos autores, como Pavlenko e Lantolf (2000), Flowerdew
(2000), Norton (2001), Lantolf e Pavlenko (2001), Young e Nguyen (2002), Young e Miller
(2004), Mondada e Pekarek Doehler (2004) e Morita (2004), apoiando-se em Lave e Wenger
(1991), têm incorporado o conceito de participação periférica legítima em uma concepção de
aprendizagem situada para ampliar a compreensão dos processos ocorridos em contextos de
aprendizagem e de uso da língua estrangeira.
Lave e Wenger (1991) argumentam que a aprendizagem é uma atividade situada e
que os aprendizes inevitavelmente participam em uma comunidade de prática na qual o
domínio do conhecimento e de habilidades exige que os novos participantes movam em
direção a uma participação total nas práticas socioculturais da comunidade. A comunidade,
segundo Lantolf e Pavlenko (2001), pode ser ampla como uma sociedade ou cultura, ou
restrita como uma sala de aula de línguas.
30
Para capturar o relacionamento mediado entre os novos e antigos membros de
uma comunidade de prática, Lave e Wenger (1991, p. 98) utilizam o conceito de ‘participação
periférica legítima’, definida como “um grupo de relações entre pessoas, atividade e mundos,
por certo tempo e em relação com outras comunidades de práticas tangenciais e
sobrepostas”
20
. Discutindo esse conceito, Flowerdew (2000) afirma que se trata de
participação porque os aprendizes estão desenvolvendo o conhecimento através do seu
envolvimento com ele; periférica porque os aprendizes não estão no centro, mas à margem da
atividade em questão; e legítima porque qualquer um é potencialmente um membro de uma
comunidade de prática ou comunidade discursiva
21
.
Ao permitir que outros participem legitimamente a partir da periferia e rumo a
uma participação total, as comunidades de prática asseguram a sua própria reprodução. A
própria organização social da comunidade, porém, pode facilitar ou limitar esse percurso rumo
a uma participação mais ampliada. Como afirmam Lave e Wenger (1991, p. 100),
A chave para a participação periférica legítima é o acesso dos
novos membros à comunidade de prática e a tudo que o
pertencimento implica. Mas embora isso seja essencial para a
reprodução da comunidade, é sempre problemático ao mesmo
tempo. Tornar-se um membro total de uma comunidade de
prática requer acesso a uma ampla extensão de atividade em
andamento, a membros antigos e aos demais membros da
comunidade; e a informação, recursos e oportunidade para
participação
22
.
Esses autores, porém, enfocam muito mais a reprodução da comunidade do que as
transformações nela ocorridas com o fluxo de entrada e saída de membros e de recursos. Essa
perspectiva será ampliada com uma perspectiva ecológica, discutida a seguir, que envolve a
relação dialética entre a conservação e a evolução da comunidade.
20
Minha tradução de a set of relations among persons, activity and worlds, over time and in relation with other
tangential and overlapping communities of practice”.
21
Neste trabalho não discuto sobre a relação entre o termo ‘comunidade de prática’ e termos tradicionalmente
utilizados na Lingüística Aplicada, como, por exemplo, ‘comunidade discursiva’ e ‘comunidade de fala’.
31
No processo de integração de novos membros, é determinante a natureza e a
extensão do acesso oferecido a esses indivíduos pela comunidade. É a partir dessa luta
dialética entre os aprendizes e a comunidade, como afirmam Lantolf e Pavlenko (2001), que
as posições e identidades emergem.
Segundo Lantolf e Pavlenko, os aprendizes podem permanecer às margens de uma
comunidade particular como relutantes visitantes temporários se as suas histórias não
justificarem um investimento em uma língua particular. Eles podem também se posicionar na
periferia por escolher uma participação marginal na comunidade. Eles podem, ainda,
permanecer na periferia se suas tentativas de participar forem rejeitadas pela comunidade. Por
outro lado,
Se as tentativas de participação de um aprendiz forem vistas
positivamente pelos membros da comunidade alvo, os
aprendizes e usuários de L2 podem tornar-se participantes
totais em sua segunda comunidade lingüística
23
(LANTOLF e
PAVLENKO, 2001, p. 152).
Lave e Wenger (1991) tratam de formas gerais de aprendizagem no seio de uma
comunidade e não especificamente de educação escolar, mas não descartam a possibilidade de
se compreender a educação escolar a partir da noção de aprendizagem situada (e de
participação periférica legítima). O não aprofundamento da discussão sobre educação escolar,
de acordo com Lave e Wenger, deve-se ao seu interesse em desenvolver uma visão de
aprendizagem que se sustentasse por si só. Isso não significa que a educação escolar seja
desconsiderada. De acordo com os autores, eles optaram por não definir e construir sua teoria
em contraste com qualquer compreensão de educação, incluindo a educação escolar. Nessa
perspectiva, a “aprendizagem através da participação periférica legítima ocorre, não importa
que forma educacional fornece o contexto para aprendizagem, ou se qualquer forma de
educação intencional”
24
(LAVE e WENGER, 1991, p. 40). Embora não tenham aprofundado a
discussão da educação escolar, eles destacam que “repensar a educação escolar a partir da
perspectiva oferecida pela participação periférica legítima será um exercício frutífero”
25
(LAVE e WENGER, 1991, p. 40).
23
Minha tradução de if learner’s bids for participation are positively viewed by the members of the target
community, L2 learners and users may become full participants in their second language community”.
24
Minha tradução de “learning trough legitimate peripheral participation takes place no matter which educational
form provides a context for learning, or whether there is any intentional educational form at all”.
25
Minha tradução de “rethinking schooling from the perspective afforded by legitimate peripheral participation
will turn out to be a fruitful exercise”.
32
No entanto, essa concepção de aprendizagem como algo que surge da e na
participação implica uma outra maneira de conceber a educação escolar. Nessa perspectiva,
não se trata simplesmente de selecionar um conjunto de práticas desejáveis e um conjunto de
conteúdos a serem adquiridos, pois a aprendizagem envolve também o processo de tornar-se
membro de uma comunidade. No entanto, Sfard (1998), Pavlenko e Lantolf (2000) e Larsen-
Freeman (2002) ressaltam que a metáfora da participação não surgiu como um substituto para
a tradicional metáfora da aprendizagem como aquisição. Para Larsen-Freeman, uma maneira
de superar o dilema “aquisição versus uso/participação” é encontrar lentes mais amplas para
examinar essas questões. E, segundo ela, a teoria da complexidade pode fornecer os meios
metafóricos para fazer isso.
2.4 – Interação, participação e colaboração em uma perspectiva ecológica
A perspectiva ecológica nos estudos da linguagem, em particular, no ensino de
línguas, tem sido um foco de crescente interesse nos últimos anos. Um dos principais
representantes dessa perspectiva é Van Lier (1996, 1997, 1998, 2000, 2004), que propõe uma
maneira ecológica de pesquisa, prática e conceituação das atividades de ensino e
aprendizagem de línguas. Segundo ele, os trabalhos de Vygotsky e Bakhtin, datados das
primeiras décadas do século XX, ilustram uma abordagem ecológica à cognição,
aprendizagem e linguagem. Nessa perspectiva, “a atividade social e perceptual do aprendiz, e
particularmente a interação verbal e não-verbal na qual o aprendiz se engaja, é central para
uma compreensão da aprendizagem”
26
(VAN LIER, 2000, p. 246).
A abordagem ecológica à aprendizagem de línguas, desenvolvida nos trabalhos de
Van Lier (1997, 1998, 2000, 2004), Tudor (2001, 2003) e Lam e Kramsch (2003) sob a
perspectiva sociocultural e apoiada na teoria da complexidade, propõe uma análise dos
ambientes de aprendizagem que considere as diversas interações entre seus componentes e
com o ambiente social mais amplo.
O papel da interação, que é proeminente em maior parte das abordagens ao ensino
e à aprendizagem de L2, em uma perspectiva ecológica, segundo Van Lier (2000), torna-se
26
Minha tradução de the perceptual and social activity of the learner, and particularly the verbal and nonverbal
interaction in which the learner engages, are central to an understanding of learning”.
33
um ingrediente central. Como ressalta Leffa (2003, p. 1-2), “tudo que existe no universo que
conhecemos, pessoa ou objeto, só pode ser transformado pela interação com outros objetos ou
pessoas”.
A perspectiva ecológica enfatiza a interatividade dos seres humanos e do seu
ambiente, apoiando-se em Mead (1934) que propõe uma teoria da formação do indivíduo
através da interação simbólica na vida social. Mead, citado por Lam e Kramsch (2003), sugere
que as relações entre os organismos humanos e seus ambientes sociais são caracterizadas pela
interação, adaptação e mudança. De acordo com a teoria de Mead, a formação do indindod.9p83g47(e)6.l(o)-0.960221aeoe0.957618(u)-0.957618( )250]TJ-2t-3.66523(ç)et-0.95892(é)6.99348(s)-5.37229( )-5.80946(d)-0.95892(a)n3.66523(ç)6.99348(ã).95892( )-5.895892(u)-z37229(i)0.873046(m)-ç843(i)0.87-3.66523(d)-0.95892(a)6..873056.5788(m)-0.0858734(a)-3.6256(h)-0.960229218( )256(h)-0.96218(ã)-3.66.66523( )-347(e)-3.66653(d)-0.960f58734(a)]TJ269.4369.78436(s)5.28772( )-5788(m)-0.0858734(a)-3.625.99218(r)2.9218( )788(1)-0.960221(9)-0.960221(3)-0.96027(()2.521(8734( )-256(h)-0.96ã66653(a)658734(a(,)-5-48.443(a)6.7.7843(f)2.5788(o)-0.347(e)-3.666v)-3.66653(o)]TJ246.2347(e)-3.66660221(i)-9.78436(d)-02.5788(o)-0.347(e)-3.6663.66653(s)5.1017(q)-0.960221(u)--48.443(a)0.95892(ó)-0.95892(l)0.8739218( )2578436(e)6.99218(n)-0.960221(t)0.874347(e)-)]TJ246.2ratieerf7.7843(a)21(d)-0.962837.7843(a)187.006(d)-0.96478(r)-8.0773(s)5.2877221(89(u)-0.957618(g)9.70109(e)6.99478(r)2.58141(e)-3..2830a)6.99348( )0.95892(u)-0.95892( )-3.247 -19.92 T.2830atiç iç nhes udo s -3.66523(ç)6.788(a)6.99218(t)-9.78436(i)0.87256(h)-0.960221.283coqula a eshitehp no oo(m)-10.7433(o)-0.9589248(d)-0.960z3714.3250.960221(a)65788(m)-0.0858734(a)-3.6256(h)-0.96858734(u)-0.96265241]O0.957618(a256(h)-0.960221265241]99218(n)-0.960221(o)-60221(o)-436(i)0.87256(h)-0.960221265241]h21( )-37.7847(n)-0.9602187.006(d)-0.96478(r)-8.218(o)-0.96037099( )-16.4703(o)-0.055(()2.578873(s)5.2853.68.957618(í)-9.78436(d)-0.957618(u)-0.957618(o)-0.957618( )250]TJ-269.436 -20.04 Td[(a)-3.5892(e)6-3.66523(ç))-0.95892(t)05892(e)6.04 Td[(a)u3.66523(ç)6..436 -20.04 Td[(a)-3.5892(e)6-0.95892(é)6.99348(s)-5..69979(r)2.58011(e)
34
Em uma abordagem ecológica ao contexto de aprendizagem de línguas, assume o
papel central a noção de affordance’, que, segundo Van Lier (1996), enfatiza a
interdependência entre o aprendiz e o ambiente. A palavra ‘affordance’ foi cunhada pelo
psicólogo James Gibson (1979) “para referir-se ao relacionamento recíproco entre um
organismo e um traço particular do seu ambiente”
28
(VAN LIER, 2000, p. 252). Varela,
Thompson e Rosch (1991, p. 203), citados por Van Lier (2000, p. 253), afirmam que
“affordances consistem de oportunidades para interação que as coisas no ambiente possuem
em relação às capacidades senso-motoras no animal”
29
. Em uma edição portuguesa, publicada
pelo Instituto Piaget de Lisboa, esse termo é traduzido como “concessões” (VARELA,
THOMPSON e ROSCH, 1991).
Em se tratando de aprendizagem de línguas, “o ambiente está cheio de linguagem
que proporciona ao aprendiz ativo e participante oportunidades de aprendizagem”
30
(VAN
LIER, 2000, p. 253). O aprendiz, portanto, está imerso em um ambiente cheio de significados
potenciais. Esses significados tornam-se disponíveis gradualmente, na medida em que o
aprendiz age e interage no e com este ambiente. Assim, torna-se crucial o papel da interação
social, que torna as possibilidades lingüísticas disponíveis, bem como o papel do contexto
cultural em que a aprendizagem de línguas ocorre. Esse contexto sociocultural refere-se “não
somente ao ambiente de sala de aula e às formas como os estudantes interagem nele, mas
também ao contexto histórico e cultural do mundo fora da sala de aula”
31
(SULLIVAN, 2000,
p. 115).
Como ressalta Tudor, “a essência de uma perspectiva ecológica ao ensino de
línguas é precisamente entender as situações em seus próprios termos e à luz das dinâmicas
que operam em cada situação”
32
(2001, p. 26). É preciso compreender que todos os
participantes do processo de ensino de línguas (alunos, professores, diretores, autores de
materiais didáticos, etc.) são indivíduos com sua própria personalidade, atitudes, crenças e
experiências de vida, e que isso influencia como os participantes interpretam e interagem em
uma atividade de ensino de línguas. Além disso, cada participante é também membro de um
28
Minha tradução de to refer to a reciprocal relationship between an organism and a particular feature of its
environment”.
29
Minha tradução de “affordances consist in the opportunities for interaction that things in the environment
posses relative to the sensorimotor capacities of the animal”.
30
Minha tradução de the environment is full of language that provides opportunities for learning to the active,
participating learner”.
31
Minha tradução de not only to the classroom setting and the ways students interact within it, but also to the
historical and cultural context of the world outside the classroom”.
35
ou mais grupos socioculturais ou socioprofissionais e isso também influencia as identidades
que emergem nos contextos educacionais. Assim, o ensino de línguas não pode nunca ser
menos complexo que os indivíduos que estão envolvidos nele”
33
(TUDOR, 2001, p. 26).
Nesse contexto, “ações humanas e identidade social articulam-se ecologicamente
com os contextos sociais, materiais, históricos e discursivos”
34
(THORNE, 2000, p. 219). A
própria realidade da sala de aula de línguas, como salienta Tudor (2001), emerge
dinamicamente do grupo complexo de interações ocorridas entre os participantes. Trata-se de
um processo dinâmico no qual os comportamentos e identidades dos seus participantes
professores e alunos constantemente definem-se e redefinem-se através dos fenômenos de
auto-organização e emergência. É, pois, dessa maneira, que se configura a ecologia da sala de
aula de línguas.
Colaboração e participação tornam-se elementos essenciais em uma perspectiva
ecológica, pois a aprendizagem de línguas é, segundo Lam e Kramsch (2003), compreendida
como a socialização através da interação simbólica com os outros indivíduos em uma
atividade comum compartilhada e participando em uma comunidade social compartilhada.
Embora colaborar (collaborare, co- + laborare) e cooperar (cooperari, co- +
operari) possam etimologicamente ser considerados como sinônimos (trabalhar juntos), a
noção de aprendizagem cooperativa é geralmente associada a uma técnica pedagógica em que
os estudantes trabalham em pequenos grupos sob a coordenação do professor, tendo em vista
o alcance de um objetivo comum ao grupo.
Como afirmam Campos et al (2003, p.26),
A aprendizagem cooperativa é uma técnica educacional ou
proposta pedagógica na qual estudantes ajudam-se no processo
de aprendizagem, atuando como parceiros entre si e com o
professor, com o objetivo de adquirir conhecimento sobre um
dado objeto.
Oxford (1997) salienta que, embora esses dois conceitos sejam por vezes
utilizados como sinônimos, cada um deles tem recebido uma conotação específica nas
aplicações em situações de sala de aula. A aprendizagem cooperativa refere-se a um conjunto
32
Minha tradução de the essence of an ecological perspective on language teaching is precisely to understand
the situations in their own terms and in the light of the dynamics which operate within each situation.
33
Minha tradução de “language teaching can never be less complex than the individuals who are involved in it”.
34
Minha tradução de human actions and social identity articulate ecologically with social-material, historical,
and discursive contexts”.
36
de cnicas que favorecem a interdependência como rota para o desenvolvimento cognitivo e
social. A aprendizagem colaborativa, por outro lado, envolve uma concepção filosófica de
base socioconstrutivista que a aprendizagem de línguas como a construção de
conhecimento no contexto social e que, portanto, encoraja a aculturação dos indivíduos em
uma comunidade de aprendizagem.
De acordo com Oxford e Nyikos (1997), a noção de aprendizagem colaborativa
está diretamente ligada a idéias como cognição situada, scaffolding, aprendizagem cognitiva e
zona de desenvolvimento proximal.
Como afirma Van Lier (2000), a abordagem ecológica à aprendizagem de nguas
está em consonância com a proposta de aprendizagem situada (e ‘participação periférica
legítima’) de Lave e Wenger (1991). A aprendizagem de uma língua não significa a
transmissão de fatos racionais ou rotinas das mentes dos professores para as mentes dos
alunos, mas, sim, como a participação em processos que levam a processos melhores ou
superiores, definidos pela sociedade ou pelo indivíduo. Ela, portanto, envolve sempre o
relacionamento entre os aprendizes e entre os aprendizes e o ambiente.
O foco na interação, como ressalta Leffa (2003, p. 1), “é a maneira mais adequada
de ver o todo sem perder as partes e como tudo se relaciona entre si”. Em uma abordagem
ecológica às relações de ensino e aprendizagem de línguas, a interação, incluindo os processos
de participação e colaboração, passa a ser compreendida como um fenômeno emergente.
O foco na emergência, segundo Bates et al. (1999), está possibilitando surgir uma
nova teoria da interação mais explícita que as anteriores. Esses autores destacam a
necessidade de distinguir dois tipos de abordagens de interações: as interações simples, nas
quais preto e branco formam cinza; e a forma emergente, na qual preto e branco se juntam e
algo novo e diferente acontece. Os resultados em uma teoria emergentista podem surgir por
razões que não são previsíveis a partir dos ‘inputs’ individuais ao problema.
A sala de aula de línguas é aqui compreendida como um sistema complexo
adaptativo no qual interações em um nível local levam ao surgimento de propriedades
emergentes em um nível global. Em um sistema adaptativo complexo, agentes individuais
interagem entre si e adaptam-se uns aos outros e ao ambiente. Segundo Nelson (2004), isso
acontece porque os agentes são sensíveis ao feedback e buscam a acomodação mútua e a
otimização dos benefícios. Essas interações e adaptações possibilitam que os agentes de um
sistema se auto-organizem, levando, assim, à emergência de novos padrões e
comportamentos.
37
A análise da sala de aula como um sistema complexo implica uma percepção dos
processos de aprendizagem que considere “os conflitos e paradoxos de que as salas de aula
são constituídas” (PARREIRAS, 2005, p. 226). Implica, portanto, compreender a dinâmica
das interações que ocorrem na sala de aula, bem como suas relações com o ambiente no qual
ela está inserida.
É nesse sentido que este estudo coloca o foco na interação, incluindo os processos
de participação e colaboração, em uma abordagem ecológica que leva em conta toda a
complexidade dos eventos ocorridos nos contextos de ensino e aprendizagem de línguas e, em
especial, a atividade social em que os aprendizes se engajam no processo de aprendizagem de
uma língua estrangeira.
38
3- As Dinâmicas Complexas da Sala de Aula
This is the century of biology, we are told, so it is not
surprising that we borrow our metaphor from biology.
Metaphors can be very powerful in shaping the way that we
think. Therefore, it’s important for us to call attention to the
fact that the mainstream field is operating according to a
different metaphor or set of metaphors. The ecological
metaphor is undoubtedly nonmainstream at this point, and
therefore one of its contributions is that it enables us to see
the assumptions underlying more traditional paradigms. This
is not to say that we should leave our own metaphors and
their implications unexamined. We have to keep on looking at
our own ways of conceptualizing, both creatively and
critically. It encourages us to take a stance of humility. What
this means for the researcher is a certain imperative: to keep
looking at the phenomenon from different angles because it is
essentially dynamic and constantly transformative.
(LARSEN-FREEMAN, 2002, p.93)
39
A perspectiva ecológica nos estudos da linguagem e na aprendizagem de línguas,
como mencionado no capítulo anterior, tem sido foco de crescente interesse nos últimos anos.
Pesquisadores e professores de línguas têm, cada vez mais, adotado perspectivas ecológicas
almejando a compreensão dos eventos ocorridos nos ambientes de aprendizagem de línguas.
Abordagens ecológicas a várias ciências, no entanto, não são uma novidade surgida nos
últimos anos. De fato, Van Lier (1997) cita diversos trabalhos em lingüística, psicologia e
teorias de aprendizagem ecológicas que datam desde meados da década de 1950.
Como afirma Van Lier (2000, 2004), a ecologia como uma disciplina científica foi
estabelecida em meados do século XIX, quando o biólogo alemão Ernst Haeckel utilizou esse
termo para referir-se à totalidade das relações de um organismo com todos os outros
organismos com os quais ele entra em contato. Originalmente, o termo ecologia era usado
para designar o estudo e gerenciamento do ambiente (ecosfera ou biosfera) ou ecossistemas
específicos. Atualmente, ele é usado também
para denotar uma visão de mundo que é completamente
diferente da visão científica ou racional herdada de Descartes e
alguns de seus contemporâneos a qual pressupõe que é direito e
destino da raça humana controlar e explorar a terra e todos os
seus recursos animados e inanimados (visão antropocêntrica de
mundo)
35
(VAN LIER, 2004, p. 3).
A visão ecológica de mundo é, por outro lado, ecocêntrica e compreende que o ser
humano é parte de um ecossistema mais amplo. Davis, Sumara e Luce-Kapler utilizam a
forma de uma árvore para demonstrar os complexos fluxos e padrões que se estabelecem ao
longo do tempo, pois “seu padrão preciso de galhos nos galhos é simultaneamente
imprevisível e familiar”
36
(2000, p.10). Esses padrões são similares a outros que observamos
em outras árvores, em suas raízes, na forma de um relâmpago, no fluxo dos rios, em nossas
veias, etc. A percepção dessas redes complexas de interdependência, emergência e forma tem
profundas raízes na história do pensamento humano. Porém, foi recentemente que tais
apreciações retornaram a uma posição de destaque nas discussões acadêmicas “tendo sido
35
Minha tradução de to denote a world view that is completely different from the scientific or rational one
inherited from Descartes and some of his contemporaries, which assumes that it is the right and destiny of the
human race to control and exploit the earth and all its inanimate and animate resources (the anthropocentric world
view)”.
36
Minha tradução de “its precise pattern of branches on branches on branches is simultaneously unpredictable and
familiar”.
40
eclipsadas por séculos pelos hábitos de definição precisa, classificação sem ambigüidade e
lógica linear”
37
(op.cit., p.10).
Como destaca Van Lier (2004), a ciência tradicional procura controlar,
conceitual788(i)-9.747(c)6.99348(i)0.873046(i)0.873046ec-9808349mocoeal710992336ect(c)6.99218(i)0.874347ol788(i)-9.747(c)6.94347(ê)-3.66653(t(L)24.7706(i(r)2.5781())2.5788(,))2.588953(ã)6.99218(o)-080834834( )-155.03(a)6.99218(m)-0.0858734(b)-0.960221eV)-2.79219(a)6.99218(t(L)24.7706(i)0.874347(,))2.58895( )-144.371(ea)6.90858 10]TJ2788(s)5.28772e( )-155.03(c)6.99218(i)0.874347ncione.085873f182 0 Td[(r)2.4347(ê)-3.66653(ôê)-3.66653((l788(i)-9.747()-2.79219(a)6.99218((t)0.874347(o)-0.960221(s)-2.58895p)-0.960221(n)-0.96022(e)-3.666t(L)24.770647(f)2.5788(i)-9.78431(c)6.9282303(c)6.99218(l)0.87.3717(a)6.9947el)0.87434o)-0.960221(s)-6.99218( )-174347(d) eaos trés(t)0.874347(o)-0.960221(s)6-0.6089t(L)24.7706(i(r)2.578(l710992468po)-0.99218((t)0.874347(o) )-155.0(s)6-0.60893(s)5.28772(e)-3.66653(m)-06-0.6089v)-0.960221(á)-0.96022(e)-3.62847(f)2.5788alsas1())2.5788(,)282.835(po)-0.99218(.())2.5788(,)293-95474(()2.5788(1ã)-3.66653(4)-0.960221()-3.66653(,293-9547n))-2.7921(s)293-9547vüin,h(ã)6.99218(uê)-3.66653((l710992468(s-0.96022o)-0.957618(al-0.957618(e)282.835(él-0.957618(e)282.835(1(c)6.74347((l71099221(s)-3.66393909157.TJ-331.715 f)-5.80946 701.4 Tm[(o)-0.95957ôl)-9.78566(l788(i)-9.747(c)6.99348(i)0.873046)-0.0858734(s)9085791((a)-3.665237()-1449348(s)-01.7384(d)-0.9589ul)-9.78566(i)0.873046(i)-9.59323(-a)-3.6652ece)6.993482(.)4.8492(l)-9.79323(-a)-3.6652)-0.0858734r)-5.80946(ó)-0.9748a(c)6.99348(i)0.8730464()-3.66523ze)0.873046(c)0.874347(i)0.874347()-3.66653(ã)6.99218(o)-001.7378(i)0.874347xo)-0.99218(t7(f)2.5788u)-0.960221(r)2.57821(r)2.5788((t)0.8743( )-144.371(18(f)2.5788(i)-9.78436(n)-0.96022(e)-3.6661(c)6.99218(i)0.874347(l788(i)-9.747()-2.79219(a)6.99218(t)a)6.900.44)]TJ2787()-2.7921o)-001.7378n(l710992468po)-0.99218(l(L)24.7706(i(r)2.578x()50608953(ã)6.99218(o)-001.7378(i(r)2.5781())2.5788(,)90857787po)-0.99218((t)0.874347((e)-3.666t(L)24.7706(tc)6.94347(ê)-3.66653(t(L)24.7706(i)-9.74347(1()-3.66653(,90857787(t)0.874347(o)-0.960221(s)90857787f182 0 Td[)0.87921(ê)-3.628230ô(c)6.74347((l71099221el)0.87434o)-0.957618((i)-9.74347((i)0.874347(e)-3.6639300.44)TJ-17.0727 a(c)6.99852(o)-0.95957(s)-5.38501r)-5.80946(()2.58011(o)-0.95892(l)-9.78566(oe)6.99348o)-0.95761)-0.08587342()0.873046iu)0.873046a()0.873046iu)0.8730462(a)6.99348(s)37q 0696(i)0.873046ã(.)4.8492(l)-9.58734(s)376.993((o)-0.95892(l)-9.78566(a)-3.665237()-2.6652(l7-3.66653(m)-0376.9472)-0.0858734bl)-9.785667()-2.7921de)-9.78436(ei-0.96022ci(r)2.5788ei-0.96022(e)-3.666n)-27q 0518nr182 0 Tdi(L)24.7706nãci(r)2.5788í1(c)6.99218(i)-9.78436(o)-0.960221(s)27q 0518( )-144.371(d)
41
Entre os proponentes da teoria da complexidade, ou teoria dos sistemas
complexos, estão ganhadores do Prêmio Nobel como Ilya Prigogine, em química, Kenneth
Arrow, em economia, e Philip Anderson e Murray Gell-Mann, em física. Esses pesquisadores
buscaram traçar algumas características comuns dos sistemas complexos que, certamente,
podem trazer contribuições significativas para a compreensão de sistemas humanos e sociais,
entre eles, as relações de ensino e aprendizagem. z nog çtraie en218.4203492(t)0.873046(r)-8.0773046(e)-3.66523(x)-11.617(,)4.84924( )-50.960221(a)6.99213(g)9.6980221(e)6.99478msi18.419153(a)6.992o653(a)-3.66653(g)9.69836(18.41915p7099( )-48.443(e)6.9895p7446(a)6.99218(n)-0.960l6( )250]TJ( )-59.1017(a)6.992653(g)9.69849(1(n)-52(78(,)-5.80816( )-464.13(o)]TJ233.26 )26138772(q)-0.960221(u)-0.95l6(s)5.28772(,)-5.78436(18.41915p7446(a)6.99218(n)-0.960b18(n)-0.960l634(p)43.46 )-155.0318(t)0.874347(i)-9.78436(v)-0.96ç6(v)-0.96443(d)-0.960221(e)6.99218(6 )26048017(s)5.28772(i)-9.78436(6 )2604858734(a)-3.7(a)6.99218( )-48.44b16( )-464.13(o)]TJ23lJ-261.26 -20.04)-453.477(s)-5.37099(i)0.8743476 )2604878(i)-9.7844347(a)6.99457618(t)-9.78962(l)]TJ261.26 l
42
adaptação e auto-organização, dando origem a novas características globais, comumente
definidas como propriedades emergentes.
A relação entre as interações locais e as estruturas globais emergentes é cíclica: da
interação dos componentes individuais surge uma propriedade global que, por sua vez,
influencia o comportamento dos agentes individuais. Lewin (1994, p. 228) demonstra que a
interação em um nível local produz comportamentos emergentes em um nível global, e
também aponta como isso retroalimenta as interações locais. A ciência da complexidade,
portanto, possibilita “a compreensão de que ambos são importantes, ligados num laço
apertado e interminável de retroalimentação” (LEWIN, 1994, p. 228). Isso ressalta a
necessidade de se considerar tanto os elementos locais quanto os globais na investigação de
sistemas complexos. Ed Wilson, em entrevista a Lewin (1994), reconhece que, no início de
seus estudos sobre as colônias de formigas, com seu foco na “obtenção de detalhes num nível
mais baixo” (LEWIN, 1994, p. 214), sua abordagem poderia ser descrita como reducionista,
mas ressalta que eles precisavam entender como as partes do sistema funcionavam antes que
pudessem ver o todo. Ele observou que uma colônia de formigas “contava com especialização
de funções, as unidades individuais eram completamente dependentes do todo, que por sua
vez era uma conseqüência de sua atividade coletiva; e o resultado final não se comparava ao
mundo dos insetos solitários” (LEWIN, 1994, p. 214). Isso se relaciona ao que Gell-Mann
definiu como “complexidade superficial resultante de simplicidade profunda” (LEWIN, 1994,
p. 26).
Wheelan e Williams (2003) incluem entre as características necessárias para
qualificar um grupo humano como sistema adaptativo complexo que ele seja uma rede de
agentes individuais interagindo. Esses agentes estão numa relação de
independência/interdependência entre si em relação ao sistema. Eles são independentes
porque possuem suas características e funções individuais, mas são interdependentes porque o
bem-estar do grupo e, às vezes, a própria sobrevivência dependem da ação coletiva de todos
os componentes do sistema. A própria noção de autonomia humana é complexa, pois depende
de condições culturais e sociais (MORIN, 1990, p. 96). Os seres humanos são “uma mistura
de autonomia, de liberdade, de heteronímia e (...) mesmo de possessão por forças ocultas que
não são simplesmente as do inconsciente reveladas pela psicanálise” (MORIN, 1990, p. 98). A
autonomia, portanto, alimenta-se da dependência: o ser humano depende de uma educação, de
uma linguagem, de uma cultura, de uma sociedade e, além disso, depende de um cérebro que
por sua vez depende dos genes.
43
Em sistemas complexos, a interação entre os constituintes e entre o sistema e seu
ambiente “são de uma natureza tal que o sistema como um todo não pode ser totalmente
compreendido simplesmente pela análise de seus componentes”
39
(CILLIERS, 1998, p.viii). A
própria complexidade “emerge como um resultado de padrões de interação entre os
elementos”
40
(CILLIERS, 1998, p. 5), mas, sendo abertos, esses sistemas estão também
sujeitos a influências externas. No entanto, fazendo uma analogia com a noção de autopoiese
utilizada por Maturana e Varela para definir o funcionamento dos sistemas biológicos, os
sistemas complexos caracterizam-se por produzirem a si próprios. Assim, uma perturbação
externa não contém em si uma especificação dos seus efeitos sobre o sistema, pois ele, “por
meio de sua estrutura, é que determina quais as mudanças que ocorrerão em resposta” (2001,
p. 108). Ou seja, o ambiente ou perturbações externas não podem especificar as mudanças
ocorridas no sistema, mas sim desencadeá-las.
Além da distinção entre sistemas complicados e sistemas complexos, que é
amplamente aceita na teoria da complexidade, Cilliers (1998) destaca a necessidade de
discutir a relação entre a teoria do caos e a teoria da complexidade, o que é uma questão longe
do consenso. É muito freqüente na literatura, por exemplo, encontrar a terminologia “teoria do
caos/complexidade”, o que sugere tratar-se de uma teoria única ou em sobreposição.
Em entrevista a Lewin (1994), Chris Langton diz que “o caos e a complexidade
estão se perseguindo ao redor de um círculo, procurando descobrir se são a mesma coisa ou
coisas diferentes” (LEWIN, 1994, p. 20), mas conclui que a complexidade acontece em algum
lugar entre a ordem total e o acaso total. O caos é, então, compreendido como um subconjunto
da complexidade, mas não um elemento essencial, visto que os sistemas complexos
caracterizam-se pela busca da ordem ou, como afirma Gell-Mann, “sistemas adaptativos
complexos sempre buscam o padrão” (LEWIN, 1994, p. 28). Nessa mesma linha, Waldrop
afirma que os “sistemas complexos de alguma forma adquiriram a habilidade de trazer ordem
e caos em uma forma especial de balanço”
41
(1992, p. 12), o que é definido como fronteira do
caos.
Para alguns, porém, “complexo pode significar quase o mesmo que caótico”
(LEWIN, 1994, p. 26). De acordo com Lorenz, por exemplo, “caos consiste de coisas que, de
39
Minha tradução de are of such a nature that the system as a whole cannot be fully understood simply by
analysing its components”.
40
Minha tradução de “emerges as a result of the patterns of interaction between the elements”.
41
44
fato, não são aleatórias e somente parecem ser” (1993, p. 5). Segundo ele, “diversos outros
termos, notadamente não-linearidade, complexidade e fractalidade, são freentemente usados
mais ou menos sinonimamente com caos em um ou vários dos seus sentidos (LORENZ,
1993, p. 4).
Ao discutir a relação entre a teoria do caos e a da complexidade, Cilliers (1998)
afirma que a contribuição da primeira para o estudo da segunda é extremamente limitada. Ele
destaca, por exemplo, que, ao analisar sistemas complexos, a sensibilidade às condições
iniciais não é uma questão importante, pois “é exatamente a natureza robusta dos sistemas
complexos, isto é, sua capacidade de desempenhar da mesma forma sob condições diferentes,
que assegura a sua sobrevivência”
42
(1998, p. ix, ênfase no original). Para ele, a noção de
auto-organização é muito mais produtiva do que metáforas advindas da teoria do caos. O
sistema se auto-organiza a partir da interação interna entre os seus componentes individuais e
com o ambiente, mas a sua estrutura emergente não é “nem um reflexo passivo do exterior
nem o resultado de ativos fatores internos pré-programados, mas o resultado de complexas
interações entre o ambiente, o estado atual do sistema e a história do sistema”
43
(1998, p. 89).
Além da distinção entre sistemas complicados e sistemas complexos e entre teoria
do caos e teoria da complexidade, acrescento a necessidade de se distinguir também os
sistemas complexos dos Sistemas Adaptativos Complexos (SAC).
Uma tentativa de definição da complexidade é, freqüentemente, feita a partir da
etimologia da palavra ‘complexo’. Bindé (2003) afirma que a palavra complexidade tem
origem grega e redundou em latim no verbo plectere (voltar, enrolar os cabelos, frisar,
entrelaçar, entrançar) e depois complecti (enlaçar, estreitar), cujo particípio passado era
complexus. Ele afirma que, no sentido literal, o substantivo complexus significa “o abraço, o
ato de fechar com os braços, o abraço paternal, amigável, até mesmo erótico”, no sentido
figurado, entretanto, significa “o ato de compreender um certo número, ou um grande número
de coisas diferentes” (BINDÉ, 2003, p. 12). O substantivo ‘complexo’ é, às vezes, analisado
como cum (preposição) + plexus,us (tecido, nó, laço). Essa parece ter sido a análise de Morin
(1990), que afirma que a complexidade é, à primeira vista, um tecido (complexus: o que é
tecido em conjunto) de constituintes heterogêneos inseparavelmente associados”. Numa
42
Minha tradução de “it is exactly the robust nature of complex systems, i.e. their capability to perform in the
same way under different conditions, that ensures their survival”.
43
Minha tradução de “neither a passive reflection of the outside, nor a result of active, pré-programmed internal
factors, but the result of a complex interaction between the environment, the present state of the system and the
history of the system”.
45
segunda abordagem, de acordo com o autor, a complexidade é “o tecido de acontecimentos,
ações, interações, retroações, determinações, acasos, que constituem o nosso mundo
fenomenal” (1990, p. 20). Em uma definição dicionarizada, o substantivo ‘complexo’ refere-
se a um “conjunto, tomado como um todo mais ou menos coerente, cujos componentes
funcionam entre si em numerosas relações de interdependência ou de subordinação, de
apreensão muitas vezes difícil pelo intelecto e que geralmente apresentam diversos
aspectos”
44
.
García (2002) apresenta também uma definição do termo ‘sistema’. Segundo ele,
esse termo é empregado “num sentido preciso”, caracterizado como “uma representação de
um recorte da realidade (...) que se possa analisar (...) como uma totalidade organizada, no
sentido de ter um funcionamento característico”, sendo que o ‘funcionamento’ de um sistema
refere-se ao “conjunto de atividades que se pode realizar (ou permite realizar) o sistema, como
resultante da coordenação das funções que desempenham suas partes constitutivas” (2003, p.
55). Em uma definição dicionarizada, o termo ‘sistema’ refere-se a uma “estrutura que se
organiza com base em dois eixos de unidades inter-relacionáveis: o eixo das que podem ser
agrupadas pelas características semelhantes que possuem, e o eixo das que se distribuem em
dependência hierárquica ou arranjo funcional”. Por extensão, refere-se a “qualquer conjunto
natural constituído de partes e elementos interdependentes”, à inter-relação das partes,
elementos ou unidades que fazem funcionar uma estrutura organizada, ou, ainda, a “qualquer
estrutura que devesse funcionar com este inter-relacionamento ótimo entre as partes”
45
.
Waldrop (1992, p. 11) afirma que um sistema é complexo “no sentido em que
muitos agentes independentes estão interagindo um com o outro em um grande número de
formas”
46
, e inclui nos exemplos os milhões de indivíduos mutuamente interdependentes que
formam uma sociedade humana. Portanto, um sistema complexo é composto de elementos
cuja interação produz um evento global que é diferente da soma de suas ações individuais.
Nos sistemas complexos, não é possível realizar previsões a longo prazo, mas
podem ser encontrados padrões que permitem, com certo grau de possibilidade de acerto,
realizar previsões a curto prazo. A meteorologia, por exemplo, tendo como base padrões
observados, realiza previsões para uma semana com uma margem de erro razoavelmente
pequena. Previsões para meses ou anos são realizadas, mas a possibilidade de erro é bem
44
Dicionário Houaiss da Língua Portuguesa.
45
Idem.
46
Minha tradução de in the sense that a great many independent agents are interacting with each other in a great
many ways”.
46
maior, considerando que “estímulos pequenos podem levar a conseqüências dramáticas”
(LEWIN, 1994, p. 23).
Os SACs, por outro lado, segundo Holland (1997), além de possuírem essas
características, também são capazes de adaptação, o que leva à auto-organização e,
conseqüentemente, à emergência de novos padrões e comportamentos.
Um SAC é composto de agentes que interagem dinamicamente e adaptam-se uns
aos outros e ao ambiente, pois são sensíveis ao feedback e procuram acomodação mútua para
obter a otimização dos benefícios que garantirão a sua sobrevivência. Essas interações e
adaptações possibilitam que os agentes de um sistema se auto-organizem, criando novos
padrões e comportamentos. Uma outra característica dos SACs é a capacidade dos agentes de
anteciparem eventos com base em experiências anteriores. Segundo Holland (1997, p. 25),
a infinidade de interações, modificações por alterações
aprendidas, dá origem à capacidade única que canídeos, felinos,
primatas e outros mamíferos possuem de anteciparem as
conseqüências das suas ações através da modelação dos
respectivos mundos.
Essa capacidade de antecipação, no entanto, não é uma especificidade dos
mamíferos, mas uma características geral dos SACs. Uma bactéria, por exemplo, “é capaz de
se mover na direção de um gradiente químico, prevendo implicitamente que a comida se
encontra nessa direção” (HOLLAND, 1997, p. 57).
A teoria da complexidade apóia-se na idéia de que a ordem emerge através das
interações entre os organismos ou agentes. Embora essas interações entre os agentes possam
seguir regras simples, sistemas complexos são capazes de inovação através dos processos de
adaptação e auto-organização que levam à emergência de novos padrões.
Richardson e Cilliers (2001) afirmam que o campo da ciência da complexidade é
uma corrente de pensamento que engloba uma extensão de disciplinas aparentemente díspares
na ciência contemporânea. Segundo eles, um estudo da literatura sobre a complexidade
confirma que um número de escolas de pensamento está em desenvolvimento e que elas
diferem substancialmente. Eles identificaram três grandes escolas da ciência da complexidade,
por eles denominadas de novo reducionismo, complexidade suave e pensamento baseado na
complexidade.
O novo reducionismo refere-se às escolas de pensamento em complexidade que se
baseiam em modelos computadorizados e buscam teorias absolutas de complexidade, ou
47
“teoria de tudo”, que seria “uma explicação a-contextual para a existência de todas as coisas”
(p. 5). Segundo os autores, essa é a versão de complexidade que domina maior parte da
literatura fora das ciências da simulação e é o foco da maioria das conferências que objetivam
explorar a ‘ciência’ da complexidade. Citando Horgan (1995), eles afirmam que essa escola
de ciência da complexidade parece estar baseada no seguinte silogismo:
Premissa 1: grupos simples de regras matemáticas que,
quando seguidas por um computador, dão origem a padrões
extremamente complicados.
Premissa 2: O mundo também contém muitos padrões
extremamente complicados.
Conclusão: Regras simples subjazem muitos fenômenos
complicados no mundo e, com o auxílio de poderosos
computadores, os cientistas podem chegar à raiz dessas regras e
controlá-las.
Richardson (2003) destaca que esse silogismo foi refutado por OresKes et al.
(1994), que advertiram que a “verificação e validação de modelos numéricos de sistemas
numéricos é impossível”. Ele observa, ainda, que muitos cientistas da complexidade que
procuram ridicularizar um paradigma dito simplista, mecanicista e ingênuo, freqüentemente,
mantêm a maior parte das mesmas concepções subjacentes, tais como “uma crença
inquestionável no poder onipresente da ciência para tornar o desconhecido conhecido, assim
como uma confiança exagerada na precisão da representação da ‘realidade’ através de
modelos” (RICHARDSON, 2003, p.1).
A complexidade suave refere-se, segundo Richardson e Cilliers, a uma tendência,
principalmente na ciência organizacional norte-americana, em utilizar-se da metáfora da teoria
da complexidade de forma não crítica. Segundo eles, essa escola baseia-se na crença
subjacente de que o mundo social é intrinsecamente diferente do mundo natural, sendo
construído através de linguagem e significado” (2001, p. 6). Assim, as teorias da
complexidade, que foram desenvolvidas para o exame de sistemas primariamente naturais,
não são diretamente aplicáveis a sistemas sociais, mas sua linguagem pode desencadear
importantes insights para a compreensão dos comportamentos no mundo social. Para
Richardson, “a complexidade suave é uma filosofia radicalmente relativista” (2003, p. 2).
Cilliers (1998) ressalta que a conciliação da teoria da complexidade com outras perspectivas
(com o pós-modernismo, no seu caso) não implica a asserção do relativismo absoluto do
48
conhecimento. Como afirma Byrne (1999), Cilliers é adâmico em afastar a noção de que tal
conciliação forneceria uma licença para o relativismo absoluto.
O pensamento baseado na complexidade, segundo Richardson (2003), toma como
dadas as concepções ontológicas da complexidade (ou seja, de que o universo é formado de
componentes fundamentais interagindo de forma não linear) e explora suas conseqüências
epistemológicas, isto é, os insights que podem advir da complexidade com relação ao nosso
processo de construção de sentido. Essa escola, segundo Richardson e Cilliers (2001), envolve
uma mudança de atitude filosófica e é, provavelmente, a menos representada na ampla
literatura sobre a complexidade. Nessa perspectiva, ao se considerar organizações como
sistemas complexos, “é necessária uma mudança fundamental na nossa maneira de construir
sentidos do nosso ambiente: deve ser reconhecida a natureza limitada e provisional de toda
compreensão” (p. 8).
Segundo Richardson, a principal conclusão daí advinda é que “uma forma de
pluralismo crítico encontra determinadas exigências epistemológicas da ontologia da
complexidade” (2003, p.2), ou seja, a adoção de concepções da complexidade traz à tona a
necessidade de abordagens críticas e do uso de uma ampla variedade de perspectivas
(qualitativas e quantitativas) de investigação.
A perspectiva adotada neste trabalho é a do pensamento complexo, desenvolvida
em trabalhos como os de Morin (1990, 2003), Richardson e Cilliers (2001) e Richardson
(2003), em uma perspectiva ecológica mais ampla, assumindo que o Universo como um todo
é complexo, o que significa que a noção de causalidade é problematizada, isto é, torna-se
difícil associar efeitos particulares a causas particulares de uma maneira absoluta.
Essa perspectiva será adotada para a análise dos processos interativos em contexto
de desenvolvimento da escrita em aulas de inglês como língua estrangeira. Uma vez que
possibilita a análise detalhada das dinâmicas em rede nos processos de adaptação e
aprendizagem, essa abordagem pode ser bastante útil para a compreensão das dinâmicas
interativas em tarefas on-line e em sala de aula de língua estrangeira.
49
3.2 – Dinâmicas interativas em sala de aula
O fenômeno da interação vem sendo, bastante tempo, alvo de diversos estudos
o,to seneeennené99218(n)-69.3361 -86uJ960221(e)60.0858786( )-5.03361 -86a99478(s)-5.37099(t)0p.957618(s)-.99478(s)-c99478(s)-4.06048 61-0.957618(s)-50]TJ-303.61.14T-04 TLT(o)-3.66523(s)-snônn n-0.95892(a)-3.66523( )-69505471(-v.95892(a)-i.06048566-0.95892(a)-3.9348(n)-69505471(-h.95892(a)-u.95892(a)-10.7446(p)]a99348(n)-0.95892(o)-3.9348(n)-693705 9e)-3.9348(n)-0.07446(3)-69505471(-5.37099 -)-0.958921(t)0c99218(o)-i874347(e)6.966653(n)-d.960221(a)6.99218(s)-dJ960221(e)6.966653(n)-.95054769]TJ/R957435749.92 Td[(q38A.79219( )-69.2033325-5.37099 -)-3.9348(n)-l.06048566-3.9348(n)-6932033325-0.95892(a)-e.66523( )-69.2033325-3.9348(n)-u.95892(a)-l.06048566-3.9348(n)-.8505471(-59.2033325-c99348(n)-o.95892(a)-10.858734(e)60.960221( )-59.20333246uJ960221(e)60.0858734(e)669.2 T523(2c.66653(n)-0.960221(,)40.960221(t)0.874347(e)6.99218(m)-x9.21.(s)9-4.06048 61-0.957621( )-59.2 T523(2p.960221(a)6.99218(s)-.5788(s)-4.06048 61-i874347(e)6c99218(o)-uJ960221(e)6l.06048 61-.99218(s)-.5788(s)-59.2 T523(2dJ960221(e)6.966653(n)-59.2 T523(2i874347(e)60.960221(t)0.80604817)-3.252.333325Td[(o)-.5788(a)6.99218(ç)-3.66653(ã)6.99218(o)-0.960221( )-.83705 016069.2 T523(2t874347(e)6.966653(n)-0.0858734(e)669.2 T523(25.37099(e)6.99218(n)-69.20333246c99218(o)-0.960221( )-0.9602228 )-.5801114)0.874347(v)-g)60401a)-0.957618(d)-r5801114)03.66523393-0.957618(o4-0.957618(s)-50]TJ-3036(n.1829.92 Td[(q38c.66523(s)-o)-0.97618(10.858734(e)60.96022(o)-59.9476791-u.95892(a)-10.858734(e)669.9476791-2.36523( )-a99348(n)-0.0858734(e)6p.95892(o)-0.95892( )-69.9476791-.58011(e)-é.36523( )-r58011(e)-.873046(e)-.873046(n)-l.06048566-69.9476791-p.95892(o)-a99348(n)-r58011(e)-3.9478(s)-69.9476791-3.66523( )-0.0858734(e)6p.958921(e)6l.74347(a)-3.66653(n)-s)5 Tf772-69.9476778-i.06048 61-0.960221(t)00.960221(e)6.99218(r)25.37099(t)0.874347(u)-.874347(v)-g)6069547-3.66653(n)-ç99218(r)2õJ960221(e)6.966653(n)-s)5 Tf772-69.9476778-758.9521(e)6uJ960221(e)6.99478(s)-69252.30.56Td[(o)-.966653(n)-s)5 Tf772-4.06048 61-.99218(n)-0.960221(d)-0.960221(o)-.966653(n)-0.0858734(e)669.9476778-d.960221(a)6.99218(s)-69.9476778-c99218(o)-0.960221( )-10.7446(p)]TJ960221( )-.5788(s)-.99218(n)-.966653(n)-0.960221(d)-s)5 Tf772-ã.66653(n)-0.960221(,)469.80.4191-d.960221(a)6.99218(s)-69.80.424ssds
50
participantes tomam o turno de fala e negociam o turno através do princípio de que o falante
atual seleciona a si mesmo, seleciona o próximo falante ou falha em selecionar.
As pesquisas sobre a interação em sala de aula realizadas sob essa perspectiva,
como os trabalhos de Van Lier (1988), Tsui (1995), Cook (1986) e McCarthy (1991),
geralmente destacam as diferenças entre a tomada de turno em ambientes naturais e em sala de
aula. O discurso da sala de aula tem demonstrado ser, essencialmente, centrado no professor
que, geralmente, controla a dinâmica da troca de turnos.
O discurso da sala de aula tem sido também investigado sob a perspectiva da
Sociolingüística Interacional que “propõe o estudo do uso da linguagem na interação social”
(RIBEIRO e GARCEZ, 2002, p.8). Esses estudos têm sido grandemente influenciados pelo
trabalho de Goffman, para quem “a fala é socialmente organizada, não apenas em termos de
quem fala para quem em que língua, mas também como um pequeno sistema de ações face-a-
face que são mutuamente ratificados e ritualmente governados, em suma, um encontro social”
(GOFFMAN, 2002, p.19).
A noção de “face”, elaborada por Goffman (1967), é retomada por Brown e
Levinson (1987) para a formulação da sua teoria da polidez. Eles discutem a preservação da
face nos rituais de comunicação, enfocando as relações de solidariedade e deferência para com
o outro. A “face” é compreendida como a auto-imagem pública que cada um clama para si e
deseja manter. Os autores afirmam que o individuo é motivado pela necessidade de satisfazer
seus desejos de preservação da face positiva ou negativa. Face positiva é a necessidade de se
apresentar positivamente, ser visto como amigável, apreciado, admirado, etc. Face negativa é
a necessidade de preservação pessoal, de liberdade de ação e ausência de imposição.
Brown e Levinson (1987) demonstram as estratégias que os participantes de uma
interação utilizam para satisfazer a necessidade de parecer bom aos olhos dos outros e a
necessidade de não se impor sobre os outros nem sofrer imposição. Eles partem da concepção
de que a face é vulnerável e que a interação é caracterizada por um esforço para resguardá-la.
Assim, os participantes de uma interação se utilizam de diversas estratégias de cortesia para
suavizar algum ato que ameace a própria face ou a face do seu interlocutor.
São também úteis para a compreensão da natureza do discurso da sala de aula as
noções de enquadre (frame) e footing. Para Goffman (1974), a conversação é uma interação
social em enquadres. Esses enquadres são determinantes para o entendimento da mensagem e
de seu conteúdo semântico, uma vez que eles ‘dizem’ ao interlocutor como interpretar a
mensagem. Esses enquadres podem, às vezes, ser comunicados através da estrutura do
51
discurso, especificamente nas formas em que os falantes negociam a interação e criam
estratégias. A noção de enquadre refere-se “à definição do que está acontecendo em uma
interação, sem a qual nenhuma elocução (ou movimento ou gesto) poderia ser interpretada”
(TANNEN e WALLAT, 2002, p.188). Assim, os participantes de uma conversação precisam
saber dentro de qual enquadre uma elocução foi composta para compreendê-la: algo
produzido para ser uma piada pode ser interpretado como um insulto, se não houver o
conhecimento do enquadre de sua produção.
A noção de footing é desenvolvida por Goffman como um desdobramento da
noção de enquadre, direcionando sua atenção para as mudanças de alinhamento entre os
participantes de uma interação conversacional. Segundo o autor, “uma mudança em nosso
footing, é um outro modo de falar de uma mudança em nosso enquadre dos eventos”
(GOFFMAN, 2002, p.113). Conforme destacam Ribeiro e Garcez, “footing representa o
alinhamento, a postura, a posição, a projeção do “eu” de um participante na sua relação com o
outro, consigo próprio e com o discurso em construção” (2002, p.107). Segundo os autores, os
footings podem sinalizar aspectos pessoais, papéis sociais, bem como papéis discursivos mais
complexos.
3.2.2 – Complexidade: a ecologia da aprendizagem de línguas
Nos últimos anos, um número crescente de trabalhos tem procurado analisar o
processo de aprendizagem de segunda língua e a sala de aula de línguas à luz da teoria do caos
e, mais recentemente, da teoria da complexidade.
No entanto, como lembra Larsen-Freeman (2002), essa perspectiva não é, no
momento, a principal tendência na área de Lingüística Aplicada. Nelson (2002) destaca que
apenas um artigo (LARSEN-FREEMAN, 1997) dedicado especialmente à teoria da
complexidade apareceu nas principais revistas especializadas da área. Outros quatro artigos
publicados em grandes revistas da área discutiram a teoria da complexidade, mas juntamente
com outras perspectivas (VAN LIER, 1997; ELLIS, 1998; LARSEN-FREEMAN, 2000;
TUDOR, 2003).
No Brasil, o primeiro um primeiro esforço no sentido de compreender o processo
de desenvolvimento de uma segunda língua como um sistema complexo foi o trabalho de
Paiva (2002). Fundamentando-se no trabalho de Larsen-Freeman (1997) e diversos autores
das teorias do caos e da complexidade, Paiva faz uma revisão dos principais modelos de
52
aquisição de segunda ngua e propõe um modelo baseado na teoria dos sistemas complexos.
O seu modelo, denominado ‘Modelo Fractal de Aquisição de Línguas’, vem sendo
desenvolvido e utilizado em seus trabalhos posteriores. Inspirados nas contribuições desses
estudos, um grupo de trabalhos
48
do qual esta pesquisa faz parte vem utilizando a teoria da
complexidade como base epistemológica para a compreensão de fenômenos diversos
relacionados aos processos de ensino e aprendizagem e, em particular, em contextos de
educação on-line. Entre os trabalhos concluídos nesse grupo estão os de Fleischer (2003),
Parreiras (2005), Braga (2007) e Silva (2008), que incorporaram as teorias do caos e da
complexidade em suas investigações sobre eventos de ensino e aprendizagem, especialmente
em contextos de educação on-line.
Embora outros trabalhos, como o de Bowers (1990), Lewis (1993), Connor-Linton
(1995) e Van Lier (1996), tivessem refletido sobre as implicações de certos aspectos das
teorias do caos e da complexidade para o ensino e para a aprendizagem de línguas, foi com
Larsen-Freeman (1997) que, de fato, essas teorias começaram a ganhar espaço no domínio da
Lingüística Aplicada
49
. Alguns desses trabalhos (LEWIS, 1993; VAN LIER, 1996) tocam a
questão apenas tangencialmente, e outros (BOWERS, 1990; CONNOR-LINTON, 1995)
tratam-se de trabalhos apresentados em conferências, os quais não causaram, na ocasião,
grande repercussão na área. Assim, é pertinente dizer que foi Larsen-Freeman (1997) que
trouxe as teorias do caos e da complexidade para a arena da Lingüística Aplicada. Esse foi o
primeiro trabalho especialmente dedicado às teorias do caos e da complexidade como
metáfora para a compreensão dos processos envolvidos na aprendizagem de línguas publicado
em uma grande revista especializada da área de Lingüística Aplicada. Nesse artigo, a autora
chama a atenção para diversas similaridades existentes entre os sistemas complexos
encontrados na natureza e a aquisição de segunda língua. Uma das implicações dessa
perspectiva, segundo a autora, é que ela desencoraja explicações reducionistas aos eventos de
ensino e aprendizagem de línguas.
No entanto, esses trabalhos anteriores merecem também destaque pelo seu caráter
precursor e pelas contribuições que deram à questão.
O trabalho de Bowers, apresentado em 1990 na Georgetown University Round
Table on Language and Linguistics, levanta algumas questões que a teoria do caos pode trazer
48
Grupo de Pesquisa do Programa da Pós-Graduação em Estudos Lingüísticos da UFMG, orientado pela Profa.
Dra. Vera Lúcia Menezes de Oliveira e Paiva.
49
Larsen-Freeman (1997) cita outros trabalhos em Lingüística Aplicada e áreas afins que, de uma forma ou de
outra, consideraram alguns aspectos dessas teorias.
53
para as pesquisas em ensino e aprendizagem de línguas. Bowers tem sido citado por outros
autores particularmente no que se refere ao uso de metáforas advindas da teoria do caos para
iluminar questões de interesse da Lingüística Aplicada. Esse autor ressalta a importância das
metáforas, afirmando que “você não algo até que tenha a metáfora correta para percebê-
lo”
50
(BOWERS, 1990, p. 132, citado por LARSEN-FREEMAN, 1997, p. 142). Ele afirma
que as metáforas dominantes nas pesquisas em ensino e aprendizagem de línguas são
essencialmente hierárquicas e lineares. Segundo ele “elas ao mesmo tempo guiam e limitam a
maneira em que nós pensamos sobre ensino, aprendizagam, avaliação, língua, o professor, o
aprendiz”
51
(BOWERS, 1990, p. 128, citado por MALLOWS, 2002, p. 6).
Connor-Linton (1995) retoma e estende o modelo de Bowers, apoiando-se em
Waldrop (1992) para abranger questões mais amplas da complexidade, como adaptação e
auto-organização, não consideradas no trabalho de Bowers. Connor-Linton diz que, após
descobrir a literatura popular sobre a pesquisa em complexidade, percebeu que muitos
aspectos descobertos pelos pesquisadores da ciência da complexidade ofereciam uma nova
maneira de olhar para a linguagem e ficou surpreso com o fato de a noção aparentemente não
estar sendo aplicada à linguagem. Ele afirma, porém, que, após a apresentação do seu
trabalho, muitos lingüistas na platéia informaram que eles estavam trabalhando com a noção
de complexidade.
Após examinar as descrições e exemplos de complexidade oferecidos por
Waldrop (1992) e acrescentar exemplos próprios, Connor-Linton discute as possíveis
conexões da teoria da complexidade com a linguagem e com o ensino de línguas. Segundo
esse autor, seu objetivo não é construir uma nova teoria da “complexidade lingüística”, mas
“sugerir o valor potencial do construto da complexidade (...) para um número de questões em
lingüística e em ensino de línguas”
52
(CONNOR-LINTON, 1995, p. 596).
Van Lier (1996), em sua discussão sobre a interação no currículo de ensino de
línguas, compreende o contexto educacional e a sala de aula como um sistema complexo.
Em suas palavras,
o contexto educacional, com a sala de aula no seu centro, é
visto como um sistema complexo no qual eventos não ocorrem
50
Minha tradução de “you don’t see something until you have the right metaphors to perceive it”.
51
Minha tradução de “they at once guide and constrain the way we think about teaching, learning, assessment,
language, the teacher, the learner”.
52
Minha tradução de to suggest the potential value of the construct of complexity (…) for a number of questions
in linguistics and language teaching”.
54
em uma maneira causal linear, mas no qual uma multidão de
forças interagem em formas complexas, auto-organizantes, e
criam mudanças e padrões que são em parte previsíveis e em
parte imprevisíveis
53
(VAN LIER, 1996, p. 148).
Esses trabalhos apontaram para algumas contribuições das teorias do caos e da
complexidade para o ensino de línguas, contribuições essas que foram retomadas e ampliadas
por Larsen-Freeman (1997). Após a publicação do trabalho de Larsen-Freeman, diversos
trabalhos m refletido sobre as implicações da complexidade para a compreensão das
relações de ensino e aprendizagem de línguas. De particular interesse para este estudo é a
abordagem ecológica ao ensino e à aprendizagem de línguas, que incorpora princípios da
teoria da complexidade associados a outras perspectivas.
Van Lier (1997) apresenta a perspectiva ecológica à aprendizagem de nguas
como uma alternativa para analisar os contextos em que os usos e a aprendizagem de nguas
estão situados. Sua abordagem ecológica à educação lingüística gira em torno de quatro
perspectivas essenciais: (a) a semiótica, ou a ciência da comunicação e usos de signos; (b) a
ecologia, ou o estudo dos inter-relacionamentos complexos entre os organismos no e com o
seu ambiente; (c) a interação e a ação significativas como investigadoras da aprendizagem; e
(d) as teorias do caos e da complexidade como modelos científicos para estudar os processos e
desenvolvimentos que estão além dos mecanismos lineares causa-efeito ou input-output.
3.2.3 – Condições da complexidade em sala de aula
Uma vez que a abordagem ecológica à sala de aula estuda as interações dos
indivíduos uns com os outros e com o seu ambiente, essa perspectiva volta a sua atenção para
fenômenos emergentes que são uma propriedade do coletivo. Como destacam Davis e Simmt,
em vários momentos e em circunstâncias variadas, movimentos
intelectuais podem surgir espontaneamente e podem
rapidamente exceder as possibilidades de qualquer um de seus
membros – ao mesmo tempo em que elas proporcionam as
53
Minha tradução de “the educational context, with the classroom at its center, is viewed as a complex system in
which events do not occur in linear causal fashion, but in which a multitude of forces interact in complex, self-
organizing ways, and create changes and patterns that are part predictable and part unpredictable”
55
condições para esses membros avançarem suas compreensões
pessoais e insights
54
(2003, p. 146).
Essas propriedades coletivas correspondem ao que vem sendo denominado como
insights compartilhados (DAVIS e SIMMT, 2003), cognição distribuída (SALOMON, 1993;
THORNE, 2000) e inteligência coletiva (LÉVY, 1998).
Este estudo, apoiado em autores como Davis e Simmt (2003) e Bowsfield (2004),
considera que, em sistemas complexos, a emergência não pode ser causada, mas pode ser
impulsionada desde que asseguradas as condições necessárias. Nas palavras de Davis e
Simmt, “eventos emergentes não podem ser causados, mas eles poderiam ser ocasionados”
55
(2003, p. 147).
Assim, é necessário enfocar as condições para a emergência dessas propriedades
coletivas em ambientes educacionais, o que poderia expandir o horizonte de possibilidades
para o ensino e a aprendizagem.
Neste trabalho, utilizo as cinco condições identificadas por Davis e Simmt (2003)
como necessárias (embora não suficientes) para que comunidades de aprendizagem
(compreendidas como sistemas complexos) possam surgir e manter sua coerência em
contextos dinâmicos. A partir de vários pesquisadores da complexidade, eles identificam (e
adaptam para a compreensão de comunidades de aprendizagem) as seguintes condições: (a)
diversidade interna, (b) redundância, (c) controle descentralizado, (d) aleatoriedade
organizada (restrições possibilitadoras) e (e) interações entre vizinhos.
Essas condições, desenvolvidas por Davis e Simmt para a compreensão da
educação matemáticizdoram utilizadas por Bosfield (200), para a nlise da sala de l de
nguas zcomo zm zsistema complexo de aprendizagem.
ada ma dessas condições, segundo Davis e Simmt, simutaneamente ma
reerência àas propriedades gobais de um sistema e s atividades ocais de agentes em m
sisema compexo”
56
3.2.3.1 – Diversidade interna
A diversidade interna, como destacam Davis e Simmt (2003), é uma característica
importante de teorias ecológicas e de aprendizagem situada. Na área de ensino de línguas, um
número considerável de estudos, como Skehan (1989) e Ellis (1994), entre outros, tem
demonstrado que a sala de aula é composta de membros com diversas características e
diferenças individuais. Essas características fazem com que cada um contribua e participe de
forma diferente das atividades de aula.
Segundo Van Lier, o foco na diversidade ressalta a importância de se ter
“diferentes aprendizes e professores em uma sala (ou escola) e, em termos mais gerais,
diferentes tipos de pessoas em uma sociedade, em vez de uma população homogênea” (2004,
p. 7).
Na biologia, por exemplo, a diversidade é essencial em qualquer ecossistema. Em
termos ecológicos, porém, uma maior diversidade nem sempre é melhor. Por outro lado, a
redução da diversidade é sempre prejudicial ao sistema. O balanço ou equilíbrio é, pois,
crucial.
Essa diversidade interna, naturalmente presente em qualquer sala de aula, é,
portanto, aqui reconhecida e valorizada como uma importante fonte de inteligência coletiva.
3.2.3.2 – Redundância
A redundância é o contraponto e o complemento da diversidade. Enquanto a
segunda refere-se a diferenças entre os agentes, a primeira refere-se à similaridade entre eles.
A redundância refere-se a duplicações e excessos de características que são necessárias a
eventos particulares.
Assim como a diversidade, a redundância é também necessária para a emergência
de uma inteligência coletiva. Segundo Davis e Simmt (2003), a redundância desempenha dois
papéis essenciais: primeiro, ela possibilita a interação entre os agentes; segundo, quando ela
possibilita que os agentes compensem as falhas dos outros.
56
Minha tradução de “is simultaneously a reference to the global properties of a system and to the local activities
of agents within a complex system”.
57
Em comunidades de aprendizagem, a semelhança entre os participantes (em
background, propósitos, etc.) é essencial para que o sistema possa passar “de uma coleção de
‘eus’ para um coletivo de ‘nós’” (DAVIS e SIMMT, 2003, p. 150).
De fato, qualquer comunidade, na essência do termo, é formada a partir do que os
indivíduos têm em comum. No entanto, o foco excessivo na redundância, com o tratamento da
classe como um grupo homogêneo, contribui para a redução do seu potencial criativo. Sendo
assim, é essencial o balanço entre a diversidade e a redundância como forma de possibilitar a
coerência e a interatividade entre os agentes, potencializando as oportunidades de emergência
da inteligência coletiva.
3.2.3.3 – Controle descentralizado
O controle descentralizado é uma propriedade essencial de todos os SACs, pois,
como demonstram Lewin (1994), Waldrop (1992), Holland (1998) e Johnson (2003), os
padrões g2(l)0.873043.123.054(p)-0.99348(w)-2.95892(o)-0.95848(m)-10.7446( )-5.8072(e)-3.6665301(d)-0.66588(d)-0.37229( )4.7446( )-5.8072(e)-3.66873046(e)6.99816( )-229a8011(õ)-0.95892(e)6.99348(s)-5240.3(W)-4.t5788(a)-3.66653(l)0.860221(i)-9.70221(n)-0.960221(i)-9.78436(d)-0.960221(a)6.99218(d)-0.960221(e)6.99218())2.l9218( )-123.054(t)0.87c8566(i)0.874[(n)-0.960221(c)-3.960221(e)6.9936(o)-0.957618dooe4347(a)]T.1017(s)-5.37099 oo coopo endea,.
58
Apoiando-se em Davis e Simmt (2003) e em Juarrero (2002), Bowsfield (2004)
utiliza o termo ‘restrições possibilitadoras’ para se referir a essa noção de que as restrições
não fecham certas possibilidades, mas também criam outras. Como sugere Juarrero (2002),
algumas restrições podem não reduzir o número de alternativas, mas elas podem,
simultaneamente, criar novas possibilidades. Reconhecer isso, segundo Bowsfield (2004), é
fundamental no balanceamento das restrições em sala de aula.
Uma dificuldade, segundo Bowsfield (2004), é que não se pode saber de antemão
quais restrições estimularão e quais desestimularão o potencial criativo do coletivo. É, pois,
necessário que essas restrições sejam continuamente avaliadas e ajustadas.
3.2.3.5 – Interações entre vizinhos
A interação tem sido considerada um importante fator na aprendizagem de uma
segunda língua (ELLIS, 1999). Em uma abordagem ecológica ela torna-se crucial, visto que o
foco está nas interações entre os indivíduos uns com os outros e com o seu ambiente (VAN
LIER, 2004).
Conforme afirmam Davis e Simmt, “os agentes em um sistema complexo devem
ser capazes de afetar as ações uns dos outros” (2003, p. 155). O foco desses autores, porém,
não está nas interações interpessoais ou em grupo, mas nas idéias e outras formas de
representação que se contrapõem umas às outras. As idéias, representadas em forma de
expressões orais ou afirmações escritas, em confronto ou justaposição umas com as outras,
podem impulsionar outras interpretações e elaborações. Isso, segundo Bowsfield, “é a
retroalimentação necessária do sistema que molda e re-molda as idéias representadas pelo
coletivo” (204, p. 151). É a partir de interações de idéias que novos entendimentos e
interpretações são impulsionados.
Neste trabalho, enfoco tanto a noção de interação interpessoal (ELLIS, 1999)
quanto a noção de interação entre diversos outros elementos do sistema, a partir das quais
nova ordem pode emergir. A concepção subjacente é que as interações interpessoais têm
implicações significativas para a interação de idéias, conhecimentos e interpretações em uma
comunidade de aprendizagem.
59
4- Metodologia
The ecological approach developed here is neither a theory
nor a method. It is a way of thinking and a way of acting.
(…)
Since ecology studies organisms in their relations with the
environment, ecology is a contextualized or situated form of
research. (VAN LIER, 2004, p.3)
This sort of work is often associated with longitudinal
descriptive/interpretative work, such as ethnography. (VAN
LIER, 2004, p.193)
Ethnography, on the other hand, offers CAS [complex
adaptive systems], a form of social research compatible with
its assumptions and objectives. If CAS means to investigate
and theorize the social world in any serious way, ethnography
is the kind of research it will have to do. (AGAR, 2004, p.
24).
60
Este capítulo é dedicado à perspectiva metodológica adotada nesta pesquisa. Na
primeira seção, discuto a etnografia como alternativa para a investigação de fenômenos
complexos. Na segunda, apresento o contexto e os participantes da pesquisa e, na terceira,
apresento a fonte dos dados e os procedimentos de análise e interpretação dos dados.
4.1 – Etnografia e Complexidade
A perspectiva ecológica adotada nesse estudo procura procedimentos
investigativos que considerem “toda a complexidade e inter-relação dos processos que
combinam para produzir um ambiente”
57
(VAN LIER, 2004, p. 4). Essa abordagem ecológica
não é uma técnica ou metodologia investigativa, mas uma maneira de pensar e ver o mundo.
Ela implica uma forma situada e contextualizada de pesquisa, pois estuda os organismos em
suas relações com outros organismos e com o ambiente. Uma pesquisa ecológica, segundo
Van Lier, considera os fatores espaço e tempo e é geralmente associada com trabalhos
longitudinais descritivo-interpretativos como a etnografia. Além da etnografia, o autor destaca
como outras formas de pesquisa compatíveis com uma perspectiva ecológica o estudo de caso,
a pesquisa narrativa, as autobiografias, a análise da conversação e a análise do discurso.
Nesse sentido, esse estudo emprega uma abordagem qualitativa de perspectiva
etnográfica tendo em vista a obtenção de uma compreensão holística das perspectivas e
experiências dos participantes. Essa perspectiva se alinha às idéias de autores como Van Lier
(2004), Agar (2004) e Rodrigues Júnior e Paiva (2007) que defendem a etnografia como uma
lógica de investigação adequada para os estudos que adotam a perspectiva da complexidade.
Ao adotar a perspectiva da complexidade, surge, segundo Agar (2004), uma
questão para os pesquisadores: como entender sistemas com tantos elementos em interação
que se torna difícil dizer como eles serão e se comportarão no futuro? Essa questão e a noção
de emergência aqui adotada, que implica o reconhecimento de muitos elementos em interação
podem se auto-organizar em novos padrões sistêmicos, exigem uma gica de investigação
que aborde o sistema de forma holística. A etnografia, como argumenta Agar (2004), oferece
às investigações sobre a complexidade uma forma de pesquisa social compatível com suas
premissas e objetivos. Segundo esse autor, se o pesquisador tomar a perspectiva da
57
Minha tradução de “the full complexity and interrelatedness of processes that combine to produce an
environment”.
61
complexidade e pretender investigar e teorizar o mundo social de maneira séria, a etnografia é
o tipo de pesquisa que ele deverá fazer.
Embora os termos etnográfico, qualitativo e naturalístico sejam freqüentemente
utilizados na literatura educacional de forma intercambiável, como lembra Watson-Gegeo
(1988), esses termos diferem em sua essência. Em seu sentido primário, a pesquisa qualitativa
define sua natureza em contraste com a pesquisa quantitativa cuja preocupação é com
medições e descrições numéricas. Pesquisa qualitativa é um termo amplo que engloba vários
tipos de abordagens e técnicas de pesquisa, incluindo a etnografia, o estudo de caso, a análise
de conteúdo, a pesquisa-ação, entre outros. Pesquisa naturalística é um termo utilizado para
significar que o pesquisador conduz seu estudo em ambiente natural e não em contextos
criados artificialmente para fins de pesquisa. Nesse sentido, a pesquisa etnográfica é
qualitativa e também naturalística. No entanto, como argumenta Watson-Gegeo, a pesquisa
etnográfica difere de outras formas de pesquisa qualitativa por sua preocupação com o
holismo e com interpretações culturais dos eventos investigados. De fato, segundo Hornberger
(1994, p. 688), uma pesquisa etnográfica procura descrever “o conjunto de entendimentos e
conhecimentos específicos compartilhado pelos participantes que guiam seu comportamento
naquele contexto específico”
58
, ou seja, procura descrever a cultura da comunidade, sala de
aula, evento ou programa em investigação.
Watson-Gegeo (1988) destaca que o grande interesse pela pesquisa etnográfica
deve-se a sua promessa de investigar questões difíceis de alcançar com a pesquisa
experimental, tais como os processos socioculturais envolvidos na aprendizagem de línguas,
como pressões sociais e institucionais afetam as interações locais em sala de aula e como
obter uma perspectiva mais holística das interações entre professor e alunos em sala de aula.
Watson-Gegeo (1988), Green and Bloome (1997), Van Lier (2004), Agar (2004) e
Rodrigues Júnior e Paiva (2007) destacam que a etnografia deve abranger a complexidade que
envolve o fenômeno investigado. Nesse sentido, Rodrigues Júnior e Paiva (2007) afirmam que
“a etnografia como lógica de investigação deve considerar cuidadosamente as complexidades
dos eventos em análise, a fim de representar a realidade como um sistema complexo,
dinâmico e principalmente imprevisível”
59
. Esses autores reconhecem que a metodologia
58
Minha tradução de the set of understandings and specific knowledge shared among participants that guide
their behavior in that specific context”.
59
Minha tradução de ethnography as logic of inquiry has to carefully consider the complexities of the events
under scrutiny, in a bid to represent reality as a complex, dynamic and mainly unpredictable system”.
62
etnográfica está de acordo com a ciência da complexidade, pois ela enfoca a observação e
descrição de diversos níveis de sistemas adaptativos, não lineares e auto-organizantes.
Este estudo não pretende ser uma etnografia no seu sentido antropológico original,
mas uma pesquisa etnográfica educacional conforme descrita por Van Lier (1988), Tsui
(1995), Green and Bloome (1997) e Telles (2002), entre outros. Não se trata aqui de fazer
uma descrição densa dos fenômenos, como sugere Geertz (1989), mas de uma perspectiva
etnográfica de pesquisa aplicada à sala de aula.
Uma limitação inerente da observação sistemática da sala de aula (com categorias
pré-estabelecidas), segundo Tsui (1995), é que ela não fornece evidência dos “não-
observáveis”, tais como o pensamento dos participantes por trás de suas ações e suas
percepções das ações dos outros participantes. De acordo com a autora, “isto é uma séria
limitação, uma vez que esses não-observáveis são freqüentemente cruciais para ajudar a
compreender as complexidades dos processos da sala de aula”
60
(1995, p.107). Por essa razão,
estudos mais recentes tem incisivamente advogado o uso de observações etnográficas como
uma abordagem alternativa. Conforme essa perspectiva,
em vez de observar um grande número de salas de aula,
observações etnográficas freqüentemente estudam em detalhe
63
4.2 – Contexto e participantes da pesquisa
Esta pesquisa foi desenvolvida na Universidade Federal de Minas Gerais
(UFMG), no segundo semestre de 2004. A proposta inicial deste estudo envolvia o
oferecimento de uma disciplina de língua inglesa, com parte das aulas em sala de aula
‘convencional’ e parte on-line, realizadas em um ambiente virtual desenvolvido especialmente
para fins de pesquisa. Essa opção oferecer-me-ia condições de controlar um número de
variáveis e organizar as aulas de acordo com os propósitos da pesquisa. Além disso, a minha
posição como professor da disciplina proporcionar-me-ia um acesso privilegiado aos eventos
da sala de aula em foco neste estudo. Optei, porém, por investigar uma disciplina que
estivesse sendo oferecida independentemente da minha atividade de pesquisa, pois isso
possibilitaria uma investigação naturalística de natureza etnográfica como definida na seção
anterior, o que não seria possível em uma disciplina criada especialmente para fins de
pesquisa.
No primeiro semestre de 2004, obtive a informação de que uma disciplina com
aulas em sala de aula ‘convencional’ e on-line seria oferecida na UFMG. Procurei os
professores responsáveis pela disciplina em cada um dos turnos e obtive o parecer favorável.
Um dos professores enviou-me por e-mail o programa da disciplina e um cronograma previsto
para que eu pudesse programar a observação das aulas.
No início do semestre letivo, fui às salas de aula, expliquei aos alunos o propósito
da pesquisa e solicitei a autorização para a observação e filmagem das aulas. No turno
noturno, um aluno mostrou-se resistente à filmagem das aulas e até mesmo à gravação em
áudio, não explicitando os seus motivos. No turno matutino, uma aluna disse que se sentia
inibida diante de uma câmera, mas não se opôs à gravação em áudio. Optei, então, por
investigar apenas a turma do matutino, com observação de aulas, gravação em áudio das aulas
face-a-face, arquivamento das aulas on-line e realização de notas de campo.
Os participantes desta pesquisa são, portanto, alunos da disciplina “Inglês:
Produção de Textos”, oferecida no curso de Letras da universidade, no segundo semestre de
2004, no turno matutino.
A disciplina, conforme indicado na Tabela 1, recebeu oito matrículas, sendo todas
do sexo feminino, de aprendizes de inglês como língua estrangeira, capazes de se comunicar
em inglês com relativo desembaraço. Quatro delas (Nathalie, Amanda, Bárbara e Clara) eram
alunas regulares do curso de Letras/Inglês da instituição e quatro matricularam-se como alunas
64
de disciplina isolada. Dessas últimas, uma (Cristina) era aluna do curso de Letras em uma
universidade de outro Estado e havia acabado de mudar-se para a cidade, duas (Angélica e
Chris) eram graduadas em Letras e uma (Tatiana) era arquiteta. Todas as três alunas
graduadas pretendiam fazer Mestrado em suas áreas de formação, sendo que uma (Tatiana)
estava se preparando para o processo de seleção. As aulas da disciplina ocorriam em inglês,
com exceção de uns poucos momentos de conversas informais em português.
Tabela 1: Alunos participantes da pesquisa
Nome
62
Sexo
Idade
Área
Graduada / Não-
graduada (Período)
Experiência prévia
com aulas on-line
Nathalie F 40 Letras NG (5°P) Não
Cristina F 42 Letras NG (5°P) Não
Tatiana F 29 Arquitetura G Não
Amanda F 22 Letras NG (5°P) Não
Bárbara F 21 Letras NG (4°P) Não
Clara F 21 Letras NG (6°P) Não
Angélica F 51 Letras G Sim
Chris F 51 Letras G Sim
Fonte: Dados de pesquisa
A disciplina “Inglês: produção de textos”, em estudo, foi oferecida na
universidade no primeiro semestre de 2004, no horário matutino, com carga horária de 60
horas, organizada em 16 semanas com 4 horas semanais de aula, exceto a décima segunda e a
décima sexta semanas, que tiveram apenas 02 aulas cada uma.
Tabela 2: Organização das aulas
Atividade Semana Modalidade
Número de
horas
Introdução 1 Face-a-face 02
Laboratório de informática 2 Face-a-face 02
Testes 2 e 15 Face-a-face 04
Leituras teóricas e exercícios 1, 3, 5, 8, 10, 12, e 13 Face-a-face 22
Seminários de revisão colaborativa 7, 14, 15 e 16 Face-a-face 10
Edição em pares 4, 6, 9, 11, 13 e 14 On-line 20
Total
60
Fonte: Dados de pesquisa
As atividades foram organizadas no programa da disciplina em aulas on-line e
face-a-face, conforme representado na tabela 2. Como podemos observar nessa tabela, das 60
horas totais da disciplina, 20 foram destinadas a atividades on-line. O restante da carga horária
62
Os nomes das participantes desta pesquisa foram substituídos por pseudônimos.
65
foi destinado a atividades face-a-face em sala de aula (38 horas) e em um laboratório de
informática (02 horas).
66
selecionados: “introduction to the essay”, “editing skills”, “the classification essay”, using
published sources”, “the process analysis essay” e “the argumentative essay”.
Além da fundamentação teórica, o programa da disciplina previa a realização de
seminários em sala de aula para a edição dos textos produzidos pelas alunas. Esses
seminários, assim como as tarefas do fórum eletrônico, iniciaram com a concepção do texto
que seria produzido e definição da “thesis statement”, passando, posteriormente, para versões
ampliadas dos textos.
4.3 – Fonte de dados e procedimentos de análise
As aulas convencionais foram observadas durante um semestre letivo, com a
utilização de notas de campo e gravações em áudio e vídeo para a coleta dos dados. Os dados
gravados em áudio e em deo foram analisados, e os trechos mais significativos para a
análise foram transcritos. As discussões escritas assíncronas on-line foram também
observadas durante o semestre letivo, e os dados obtidos foram armazenados em dois arquivos
distintos, sendo um para a lista de discussão e outro para o fórum eletrônico.
No primeiro semestre de 2005, foram realizadas entrevistas semi-estruturadas com
a professora e com as alunas participantes da pesquisa, com gravação digital. Das entrevistas
previstas apenas uma não foi realizada, pois a aluna desistiu logo no início da disciplina e não
se mostrou disposta a ser entrevistada.
Considerando a perspectiva ecológica de educação adotada neste estudo, foram
selecionados procedimentos analíticos que permitissem compreender a relação entre as
aprendizes e entre as aprendizes e seu ambiente, bem como os eventos ocorridos nos
ambientes de aprendizagem de inglês como língua estrangeira em estudo.
67
Tabela 3: Síntese da base de dados
Instrumento de
coleta de dados
Período de coleta de dados
(Agosto 2004 – Abril 2005)
Dados
Observação em
sala de aula
Segundo semestre de 2004
Notas de campo do pesquisador
Aulas gravadas em áudio parcialmente
transcritas
2 seminários de 02 h/a cada, gravados
em vídeo e transcritos
Observação de
aulas on-line
Segundo semestre de 2004
Interações na lista de discussão via e-
mail, copiadas e gravadas como
documento Word.
Atividades do fórum on-line, copiadas
e gravadas como documento Word.
Entrevistas com
as alunas
Entrevistas informais: ao longo do
período letivo
Entrevistas semi-estruturadas: após o
término do período letivo
Anotações do pesquisador
Entrevistas gravadas em áudio e
integralmente transcritas
Entrevistas com
a professora
Entrevistas informais: ao longo do
período letivo
Entrevista semi-estruturada: após o
término do período letivo
Anotações do pesquisador
Entrevista gravada em áudio e
integralmente transcrita
Documentos Segundo semestre de 2004
Programa da disciplina
Cronograma de atividades
Textos e exercícios escritos utilizados
nas aulas
Fonte: Dados de pesquisa
A análise enfoca os processos de interação, participação e colaboração em sala de
aula convencional (face-a-face) em aulas escritas assíncronas on-line. Os dados referentes às
interações ocorridas em cada um dos ambientes são apresentados separadamente para fins de
análise, mas são analisados sempre considerando a intrínseca inter-relação entre eles nesse
contexto, visto que esses ambientes são parte de uma mesma disciplina, com a mesma
professora e as mesmas alunas. A análise das interações ocorridas nos ambientes de ensino e
aprendizagem de línguas apóia-se em princípios advindos dos estudos sobre o discurso,
especialmente aquelas abordagens relacionadas ao discurso de sala de aula, em uma
perspectiva ecológica que, sustentada pela teoria da complexidade, compreende que o
ambiente de ensino e a aprendizagem de línguas estão ecologicamente interligados.
É essa perspectiva ecológica, então, que ilumina a análise dos processos de
interação, participação e colaboração em aulas de escrita acadêmica em inglês como língua
estrangeira, em sala de aula convencional e em ambientes mediados por computador.
68
5- Comunidade mista de aprendizagem: dinâmicas
de participação e interação
One of the most important scientific tools has always been the
analytical method. If something is too complex to be grasped
as a whole, it is divided into manageable units which can be
analysed separately and then put together again. However, the
study of complex dynamic systems has uncovered a
fundamental flaw in the analytical method. A complex system
is not constituted merely by the sum of its components, but
also by the intricate relationships between these components.
In ‘cutting up’ a system, the analytical method destroys what
it seeks to understand. Fortunately this does not mean that the
investigation of complexity is hopeless. (CILLIERS, 1998,
p.2)
69
Esta análise considera a disciplina “Inglês: produção de textos” como uma
comunidade de aprendizagem ecológica e, portanto, complexa. Na ecologia, como lembra
Eraut (2002), uma comunidade abrange todos os organismos vivos nos limites de uma área
geográfica, sendo que essa área pode ser um único habitat ou vários habitats com os
organismos que se movem através deles. Para esse autor, a aplicação dessa perspectiva
ecológica às comunidades de aprendizagem direciona nossa atenção para as oportunidades de
aprendizagem disponíveis para os participantes de tais comunidades. Eraut lembra ainda que
uma comunidade ecológica envolve relações complexas entre os diversos organismos e que
ela é sempre estudada em relação ao seu ambiente físico. De forma análoga, a comunidade de
aprendizagem envolve relações complexas entre seres humanos, recursos de aprendizagem e
outros artefatos culturais e é influenciada pelo seu ambiente físico, pelo sistema educacional,
pelas experiências vivenciadas por cada um de seus participantes fora dela, etc.
No entanto, como argumenta Cilliers (1998), devemos enquadrar nossa descrição
determinando qual será a nossa distância do sistema, ou seja, qual o vel de detalhes nós
iremos considerar. Segundo ele, se afastarmos bastante, teremos uma visão mais ampla do
sistema, no entanto perderemos a percepção de muitos detalhes. Por outro lado, se
aproximarmos bastante, veremos detalhes em um nível microscópico, mas poderemos não
perceber padrões emergentes significativos em um nível mais global do sistema.
Esta análise aproxima-se o suficiente para descrever as microrrelações ocorridas
na dinâmica interacional entre os participantes, bem como suas relações com as restrições e
recursos presentes no sistema; e afasta-se o suficiente para perceber o funcionamento do
sistema como uma comunidade ecológica, para perceber alguns padrões emergentes e para
considerar algumas relações dos participantes com os contextos educacional e social
manifestadas nos eventos de aula e nas entrevistas.
Este capítulo organiza-se em três seções. A primeira analisa a disciplina “Inglês:
produção de textos” a partir das cinco condições da complexidade em sala de aula
identificadas por Davis e Simmt (2003), retomadas por Davis e Sumara (2006) e utilizadas
por Bowsfield (2004) para analisar a sala de aula de línguas, quais sejam, diversidade interna,
redundância, controle descentralizado, restrições possibilitadoras e interações locais (ou
entre vizinhos). Compreender o ambiente de aula como um sistema complexo implica
reconhecer que as relações de ensino e aprendizagem não são totalmente previsíveis nem
totalmente aleatórias. Assim sendo, enfocar as condições da complexidade em ambientes de
aula pode ser útil para compreender os eventos que ocorrem nesse contexto. Uma vez que a
70
experiência educacional em estudo é considerada como um sistema complexo, a ecologia de
aprendizagem de línguas que se estabelece é estudada a partir das cinco condições da
complexidade identificadas por Davis e Simmt (2003), tomadas como necessárias para que
sistemas de aprendizagem possam surgir e possam manter sua coerência em contextos
dinâmicos.
A segunda seção analisa as dinâmicas de participação na comunidade de
aprendizagem a partir da noção de participação periférica legítima, desenvolvida por Lave e
Wenger (1991), e dos princípios que, segundo Wenger (1998), estruturam e estabelecem a
coerência da comunidade. Embora esta análise incorpore noções e princípios desenvolvidos
por Lave e Wenger, a disciplina “Inglês: produção de textos” não é compreendida como uma
comunidade de prática
63
, mas sim como uma comunidade de aprendizagem, visto que ela
envolve a aprendizagem “não como uma questão de curso na história de sua prática, mas
como a essência do seu empreendimento”
64
(WENGER, 1998, p. 214-5).
A participação das alunas nos eventos de aula é discutida a partir da noção de
participação periférica legítima. Essa abordagem é útil para a compreensão da participação
nos diferentes ambientes de aula, mas é ampliada para incorporar princípios advindos da
Teoria da Complexidade. Nessa perspectiva, a partir das interações locais dos participantes,
emergem propriedades globais que funcionam como uma forma de inteligência coletiva.
A terceira seção enfoca as dinâmicas interativas ocorridas nas aulas on-line e face-
a-face, com uma análise descritiva das interações interpessoais nos ambientes de aula, a partir
de princípios da Análise da Conversação e de abordagens tradicionais ao discurso de sala de
aula. Essa e face-
6588(o)-0.95957(m)-0.0858734(o)-0.957(s)-5.3723(i)0.873046(r)2.580046(i)-9.78566(f)2.5808( )-16.4682(s)5.286892(i)0.873046(z)-3.6658734(o)78436(i)016.46-
71
5.1 – Dinâmicas complexas: a emergência da coletividade em ambientes de aula
Uma vez que os ambientes de sala de aula e o processo de aprendizagem de
línguas são, em consonância com os trabalhos de Van Lier (1996, 1997, 2002, 2004), Larsen-
Freeman (1997, 2002, 2006), Paiva (2002, 2005a, 2005b, 2006) e Parreiras (2005),
considerados neste estudo como sistemas complexos, a ecologia de aprendizagem de línguas é
estudada a partir das cinco condições da complexidade identificadas por Davis e Simmt
(2003) como necessárias para que sistemas de aprendizagem possam surgir e manter sua
coerência em contextos dinâmicos. Essas condições são: diversidade interna, redundância,
controle descentralizado, restrições possibilitadoras e interações locais (ou entre vizinhos).
Cada uma dessas condições é analisada individualmente, mas como o foco deste
estudo são as dinâmicas interativas em aulas on-line e ‘convencionais’, a análise um
destaque especial para a última condição: interações locais, tratadas aqui sempre em relação
às demais por serem condições interdependentes.
5.1.1 – Diversidade interna
No ambiente de aula, como um sistema complexo, cada um de seus membros tem
características diferentes e ocupa um nicho que é definido pelas interações que nele se
centram. Davis e Simmt (2003) sugerem que a diversidade interna na sala de aula está ligada à
extensão de interações possíveis e, assim, à extensão de experiências e habilidades dos
agentes.
Questões individuais como estilo e preferências apresentam-se como relevantes
nesse contexto. Em relação à sua participação em sala de aula, por exemplo, a aluna
Angélica
65
faz o seguinte comentário:
Excerto # 01:
Angélica: Olha realmente eu acho uma coisa meio delicada
porque eu não conhecia ninguém da sala de aula e eu falava
muito pouco, principalmente no início. Fazia mais pela
solicitação da professora mesmo.
65
Os nomes reais foram substituídos por pseudônimos escolhidos pelas próprias participantes.
72
Angélica era aluna de disciplina isolada e não conhecia ninguém na turma.
Segundo ela, esse era o motivo de sua restrita participação em sala de aula no início da
disciplina. Tal padrão de participação também ocorreu nas aulas on-line. Isso fica explícito
quando analisamos a lista de discussão onde a participação é espontânea. Essa aluna envia seu
primeiro e-mail para a lista em 21/11/2004, quarto mês da disciplina. Quando o fórum fica
temporariamente inativo, ela utiliza a lista para enviar sua tarefa 4. Depois dessa data,
Angélica envia mais dois e-mails para a lista, ambos relacionados ao envio de tarefas. Como
veremos adiante, a dificuldade da aluna com relação ao uso dos recursos tecnológicos pode ter
influenciado sua pouca participação na lista. Na afirmação da aluna, no entanto, fica evidente
que o fato de não conhecer as colegas foi um fator relevante. O que está em questão aqui não é
simplesmente o fato de conhecer ou não as colegas, mas uma necessidade da aluna de não se
expor diante de desconhecidos ou, nos termos de Goffman (1967), uma necessidade de ter a
sua face preservada, ou seja, de preservar no grupo social a sua auto-imagem.
Angélica relata que essa dificuldade foi sendo aos poucos superada, a partir de
certo momento, então, começa a falar bastante em sala de aula. Ao contrário, a aluna Chris é
mais falante desde o início. Ao ser questionada sobre como avaliava sua participação em sala
de aula, ela faz o seguinte comentário:
Excerto # 02:
Chris: Bom eu sempre tive uma participação muito ativa em
sala de aula eu sou 100%, sou uma pessoa que participa 100%
em tudo, ((risos)) às vezes até demais.
Chris e Angélica matricularam-se como alunas de disciplina isolada e não
conheciam nenhuma das colegas. Diferentemente da colega, Chris não conhecia nem mesmo a
professora. Mas isso não a faz optar pelo silêncio, como ela própria declara, normalmente é
bastante participativa em tudo.
Essas duas alunas aproximam-se bastante durante a disciplina, criando vínculos
que, segundo elas, facilitam o processo de revisão colaborativa de textos. Isso evidencia o
papel tanto das características que essas alunas tinham em comum (redundância), que será
discutido a seguir, quanto de suas diferenças (diversidade), as quais possibilitaram que uma
pudesse suprir as limitações da outra.
Amanda, Bárbara e Clara, porém, têm uma postura diferente:
73
Excerto # 03:
Amanda: Assim éh eu faltei o máximo que eu pude da aula
((risos)) porque até por causa desse negócio de serem on-line,
eu acabava faltando a outra aula. Mas na aula eu participava
muito sabe! Dava muito éh como é que fala? Muito palpite
assim.
Excerto # 04:
Bárbara: Eu participava nas aulas geralmente quando a a
professora pedia um uma opinião sobre o trabalho de alguém,
ou alguém apresentava um texto e pedia que fizesse uma
avaliação aí eu costumava comentar alguma coisa.
Excerto # 05:
Clara: Eu sempre tive uma freqüência nas aulas, freqüentei as
aulas, faltei poucas vezes mas a minha participação, éh eu não
acho que participo muito das aulas porque é meu jeito, eu não
participo muito no geral desde que me conheço como
estudante eu participo menos.
As três eram alunas regulares da instituição, tinham experiência com escrita
acadêmica em língua inglesa e se conheciam antes do início da disciplina. Isso, porém, não faz
com que elas sejam mais falantes em sala de aula. Amanda, Bárbara e Clara costumam se
sentar próximas umas das outras e, eventualmente, conversam entre si. Às vezes uma uma
sugestão ou pede uma opinião à outra, em voz baixa, sem envolver a turma como um todo.
Quando solicitadas, porém, elas costumam contribuir com bastante pertinência.
O padrão de participação dessas três alunas, além de reforçar as questões
individuais e afetivas discutidas anteriormente, ressalta o papel da diversidade como elemento
essencial para garantir a robustez do sistema. São suas diferentes habilidades, estilos e
preferências que garantem uma extensão de interações locais no sistema que podem dar
origem a comportamentos emergentes no nível global.
Outra diferença que aparece são as razões que levaram as alunas a se matricularem
na disciplina. Entre as alunas regulares da instituição, uma razão indicada nas entrevistas é a
obrigatoriedade da disciplina na curso de Inglês.
Excerto # 06:
Bárbara: Eu me matriculei na disciplina porque ela é uma
disciplina obrigatória no meu curso e eu acabo em momentos
que disciplina obrigatória, eu me matriculei na Produção de
Textos porque achei que era uma área boa pra poder melhorar a
minha escrita, pra fazer o trabalho acadêmico centrado nas
literaturas que é a parte que eu acho mais difícil.
74
Excerto # 07:
Clara: Éh eu matriculei porque é uma disciplina que faz parte
né, no curso de inglês ela é obrigatória, éh as minhas
expectativas éh, eu pretendia de alguma forma melhorar minha
escrita, éh melhorar meu inglês porque é sempre o que a
gente busca quando a gente entra pra universidade.
(...) é muito por conveniência também, porque era éh o horário
batia de dia, eu podia fazer esse horário, eu podia fazer esse dia
e eu achei conveniente fazer nesse horário.
Além do fato de a disciplina ser obrigatória, Amanda, Bárbara e Clara mencionam
também a utilidade da disciplina para a sua produção escrita. Percebe-se então que a matrícula
das alunas na disciplina foi influenciada pela organização curricular do curso, pela
disponibilidade de horários e pela possibilidade de desenvolver habilidades que seriam
necessárias mais adiante no curso.
Outra fonte de diversidade interna na sala de aula em estudo é o sistema
institucional que abre a possibilidade de matrícula tanto para os alunos regulares da instituição
quanto para outras pessoas da comunidade que desejam se inscrever como alunos de
disciplina isolada. Isso aumenta a diversidade em sala de aula porque atrai pessoas com
diferentes experiências e formação, abrindo uma maior extensão de possibilidades de
interação de experiências e idéias, o que pode contribuir para a emergência de novos
conhecimentos.
Entre as alunas de disciplina isolada, surgem outras razões:
Excerto # 08:
Angélica: Eh eu já tinha sido aluna da Ana na Inglês
Instrumental tinha gostado muito e na verdade éh eu achei que
na Produção de Texto pra mim seria importante porque eu
tenho a intenção de fazer mestrado num futuro próximo e a
Produção de Texto me ajudaria a poder fazer os textos na
maneira acadêmica.
O fato de ter sido aluna de Ana é mencionado apenas por Angélica como um
dos motivos para a matrícula na disciplina. A intenção de fazer mestrado, porém, é citada por
ela e por Tatiana como razões para cursar a disciplina Produção de Textos.
A idade e a formação também são fontes de diversidade interna. Entre as alunas
regulares do curso de Letras da instituição, duas tinham 21 anos, uma tinha 22 e uma tinha 40
anos. Entre as alunas matriculadas em disciplina isolada, uma tinha 42 anos e cursava Letras
75
em uma universidade de outro Estado. Uma outra tinha 29 anos e era arquiteta. As outras duas
alunas tinham 51 anos e já eram graduadas em Letras há bastante tempo.
Como salienta Bowsfield (2004), as salas de aula naturalmente vêm com
76
O comentário da aluna Clara, embora destaque as dificuldades advindas da
heterogeneidade da turma, reconhece que essa diversidade pode trazer contribuições positivas.
Ela afirmou que surgiram “opiniões boas”, “comentários que acrescentavam”.
A sala de aula, assim como qualquer comunidade humana, é marcada pela
diversidade. Os estudantes trazem vários interesses, capacidades, experiências,
personalidades, etc., o que se torna uma fonte de inteligência do coletivo. Isso se porque a
rede de interações que se forma entre os indivíduos cria conhecimento e possibilidades que
não são inerentes a nenhum dos indivíduos.
5.1.2 – Redundância
A redundância é o contraponto e o complemento da diversidade. A sala de aula,
assim como outras comunidades humanas, é marcada não só pela diferença, mas também pela
semelhança entre os seus componentes. Embora as comunidades, como sistemas complexos,
tenham a diversidade interna como uma de suas características essenciais, elas são formadas
em torno da semelhança. De fato, a própria palavra ‘comunidade’ já traz em sua raiz o sentido
de ‘comum’. Mesmo em comunidades não delimitadas física ou geograficamente, como as
comunidades virtuais definidas por Reingold (1993) ou comunidades imaginadas definidas
por Anderson (1983), o pertencimento é definido a partir de certos elementos em comum.
Uma sala de aula é constituída por um grupo de indivíduos que se agregam tendo
em vista um objetivo comum e a otimização dos resultados. A agregação é um fenômeno
natural nas relações humanas, observado pela antropologia ao longo dos tempos. Nesse caso,
trata-se da reunião de seres humanos para garantir benefícios mútuos. Esse é o princípio
básico da agregação: otimizar os benefícios para garantir a sobrevivência. Essas agregações
são formadas em torno de características e propósitos comuns. Em outras palavras, elas são
formadas em torno da similaridade (redundância) entre os agentes, embora tenha na diferença
(diversidade interna) uma de suas características constitutivas.
Nas aulas da disciplina “Inglês: produção de textos”, são diversos os elementos
em comum. O primeiro ponto em comum é o objetivo de desenvolvimento da escrita
acadêmica em ngua inglesa. Esse objetivo é o elemento central, em torno do qual se forma
essa comunidade de aprendizagem. Em todas as entrevistas esse objetivo é mencionado pelas
alunas como uma das razões para terem se matriculado na disciplina. Além disso, todas as
participantes são brasileiras, falantes de português como língua materna e de língua inglesa
77
como língua estrangeira. Entretanto, a redundância não precisa ser necessariamente algo
comum a todos os participantes. Podem ser elementos ou características redundantes em um
ponto ou outro do sistema.
Figura 1: Posições preferidas em sala de aula
Nas aulas da disciplina “Inglês: produção de textos”, desde os primeiros
momentos, três alunas (Bárbara, Amanda e Clara) começam a sentar-se próximas umas das
outras, como identificado na figura 1 por barras transversais.
Isso, provavelmente, é influenciado por certas marcações (características) que uma
identifica na outra: elas possuem a mesma faixa etária (21-22 anos), são alunas regulares do
curso de Letras da universidade (4º-6º períodos), entre outras. Esse agregado emerge, então, a
partir da identificação de marcações que possibilitam a seleção de possíveis parceiros.
Não é relevante para o propósito deste estudo avaliar qual dessas características
foi mais determinante para a formação das agregações. O que é relevante observar é que, nos
padrões interacionais manifestos nas atividades de aula, as agregações se formam em torno de
elementos redundantes entre as participantes.
A dupla, Angélica e Chris, identificada na figura 1 por barras horizontais, que se
forma ainda no início das aulas e se mantém consistente até o final do semestre letivo, não se
conhecia anteriormente, como expresso por Angélica no excerto 10.
Excerto # 10:
Angélica: (...) eu tinha uma colega que eu fiquei mais amiga e
com ela eu tinha a liberdade de trocar idéias, mas não muito
com as outras.
78
Entre as características (marcações) comuns identificáveis estão: elas possuem
exatamente a mesma idade (51 anos), são graduadas em Letras, possuem uma vida
profissional já estruturada (uma dá aulas de inglês em casa e outra é aposentada) e já cursaram
outra disciplina isolada (on-line) na instituição. Isso certamente tem implicações para as
dinâmicas que se estabelecem nas atividades de aula. Como veremos mais detalhadamente na
seção 5.3, em um seminário face-a-face de edição colaborativa de textos em que essas duas
alunas apresentaram mais dificuldades em organizar seus textos, foram elas as que mais
participaram da edição dos textos uma da outra.
Essas são características que se mostram claramente em ambos os agregados. São
como bandeiras ou camisas que identificam grupos de torcedores de um time ou de outro a
caminho de um estádio de futebol em dia de jogo. Porém, outras marcações não tão visíveis,
como personalidade e empatia, por exemplo, podem ter exercido papel determinante na
formação dos agregados.
As alunas Nathalie, Cristina e Tatiana, identificadas na figura 1 por barras
verticais, pontos e círculos, respectivamente, também costumam sentar-se próximas, mas não
chegam a formar claramente um agregado consistente como nos outros dois casos. Elas se
enquadram em uma faixa etária intermediária entre os dois outros agregados ( 29, 40 e 42
anos), mas cada uma está em uma situação bastante particular na disciplina. Nathalie é aluna
regular do curso de Letras da instituição, havia trancado sua matrícula durante algum tempo e
está retornando naquele momento. Cristina é aluna do curso de Letras em uma universidade
de outro Estado e acabara de se mudar para a cidade. Como não havia conseguido
transferência para o curso de Letras da universidade, matriculou-se em “Inglês: Produção de
Texto” como disciplina isolada. Tatiana era graduada em arquitetura e estava se preparando
para ingressar em um programa de mestrado em sua área. Cristina e Tatiana desistiram da
disciplina no primeiro e terceiro mês respectivamente.
Depois das desistências de Cristina e de Tatiana, a classe, aos poucos, se
reorganiza e adquire características de um grupo único. Os dois grupos formados para as
atividades de edição no fórum eletrônico acabam desfeitos e essa atividade passa a ocorrer na
classe como um todo.
Com o estreitamento das relações nos ambientes de aula e em função da própria
dinâmica de evolução de um grupo, a disciplina “Inglês: produção de textos passa a
apresentar cada vez mais as características de uma comunidade de aprendizagem, como
79
discutido na seção 5.2. Aqueles agregados formados no início da disciplina, mesmo
persistindo ao longo de todo o semestre letivo, passam a ser menos perceptíveis na dinâmica
global da comunidade.
O uso de uma lista de discussão via e-mail e de um fórum eletrônico é, de certa
forma, também um aspecto redundante, pois ambas as ferramentas visam criar espaços de
‘encontros’ assíncronos on-line para que as atividades de aula possam ocorrer quando as
participantes não estão co-presentes no espaço físico da sala de aula ‘convencional’. Em
termos técnicos, não há muita distinção entre uma lista de discussão e um fórum. Nas listas de
discussão, as mensagens são enviadas para os e-mails individuais dos participantes e, como
nos fóruns, são também armazenadas em um ambiente on-line. Alguns fóruns, por sua vez,
como acontece com as listas, oferecem a possibilidade de as mensagens serem remetidas aos
e-mails dos participantes.
Nesse caso particular, a lista de discussão é utilizada para gerenciamento,
informes, solução de dúvidas e outras questões de aula, enquanto o fórum é utilizado como
um espaço on-line para a postagem dos textos das alunas e para a edição em pares. Em certos
momentos em que o fórum fica ‘fora do ar’, a postagem e a edição dos textos são feitas na
lista de e-mails.
A redundância não se trata, portanto, de uma simples repetição dentro do sistema.
Trata-se de uma abundância de características ou recursos que permitem que o sistema
continue funcionando mesmo diante de adversidades.
5.1.3 – Controle descentralizado
O controle descentralizado é uma outra característica essencial de sistemas
emergentes. Postular o controle descentralizado não significa abrir mão do controle da sala de
aula, mas sim, como argumenta Bowsfield (2004, p. 149), “compartilhar projetos onde todos
os agentes, estudantes e professores tornem-se aprendizes na sala de aula”
66
.
Na disciplina “Inglês: produção de textos”, a professora não controla todas as
ações, nem na sala de aula ‘convencional’ nem nas aula on-line. Quando se trata de atividades
de edição de textos, ela tenta deixar que essa atividade seja feita mais livremente pelas alunas:
66
Minha tradução de “sharing projects where all agents, students and teachers alike, become learners in the
classroom”.
80
Excerto # 11:
Ana: Eles têm que trocar o que você quis dizer, quis dizer isso,
então faz assim sua introdução o ta, desenvolve de acordo
com o que você colocou, aquela história assim dos papers, cadê
a topic sentence, certo? Então essa interação é que dispensa um
pouco o professor porque é só entre eles.
Nas demais atividades de sala de aula, a professora exerce um controle maior,
sem, contudo, determinar exatamente o que cada aluna deve fazer em cada momento.
A sala de aula ‘convencional’ tradicionalmente tende a ser mais centrada no
professor, conforme indicam trabalhos como Chaudron (1988), Van Lier (1988), Tsui (1995),
Dalacorte (1999), entre outros. Nas aulas em estudo, como veremos na seção 5.3, não um
controle rígido dos turnos de fala por parte da professora. Esta, como autoridade em sala de
aula, seleciona em diversos momentos a próxima falante nas atividades de aula. De fato,
algumas alunas esperavam ser selecionadas para falar.
Nas aulas on-line, a presença da professora é muito menor. No excerto 12, a
seguir, a professora faz um comentário sobre essa questão:
Excerto # 12:
Ana: (...) eu acho que on-line eles ficam mais livres porque eu
não queria muito éh me meter nessa relação deles de peer-
editing eu acho que é uma relação dos alunos, uma interação
entre eles, agora em sala eu tentei não sei se eu consegui
porque a gente não tem consciência dessas coisas né, mas eu
tentei fazer que eles trocassem opiniões, então eu falava o quê
que tem de errado aqui? Então eu sempre tentava perguntar pra
eles o que tinha de errado antes de falar o que tava errado
porque eu acho que meu papel é fazer eles pensarem
chegarem às próprias conclusões (...).
Conforme indicam estudos como Warscheuer (1996), Paiva (1999) e outros, a
aula on-line tende a ser menos controlada, menos centrada no professor, que a aula em sala de
aula ‘convencional’. De acordo com a professora, isso não se trata de algo determinado pelo
meio, mas de algo que faz parte do desenho pedagógico da disciplina.
A professora não saía de cena, de fato, nesses momentos que, segundo ela,
deveriam ser uma interação entre os alunos. Nas aulas face-a-face, como será discutido na
seção 5.3, veremos que a presença imediata da professora Ana, aliada a outras questões, não
permite que ela saia de cena ou que desempenhe um papel de coadjuvante como ela mesma
disse pretender em certos momentos destinados à interação entre as alunas. Em alguns dos
momentos em que tenta deixar o turno de fala mais com as alunas, esse turno é novamente
81
devolvido a Ana. Notadamente uma forte expectativa por parte das aprendizes em relação
ao feedback da professora referendando ou não o que escrevem.
No fórum on-line, a presença da professora é menos marcante. Ela posta as
orientações no início de cada tarefa e a partir daí deixa o processo de edição dos textos ocorrer
sem sua interferência direta. Sua presença, porém, está virtualmente posta no desenho
instrucional do curso.
Nessas aulas on-line, conforme indica o comentário da aluna Angélica, a
professora não abre mão totalmente do controle:
Excerto # 13:
Angélica: A professora ela tentou incentivar a gente pra essas
aulas on-line e ela sempre quase toda semana ela dava uma
instrução se a genteo estava fazendo conforme ela tava
esperando ela explicava como a gente deveria fazer até no
início ela chegou a me falar como entrava na Internet então
porque ela sentiu que eu tinha um pouco de bloqueio ela tentou
me ensinar assim nem como se fazia
A aluna Chris reclama a necessidade de um maior controle por parte da professora
nas aulas on-line. No excerto 14, ela comenta problemas ocorridos com relação ao
cumprimento dos prazos estabelecidos para a postagem dos comentários sobre os textos das
colegas:
Excerto # 14:
Chris: (...) eu acho que as pessoas não têm responsabilidade, as
pessoas de forma em geral , lógico que tem as pessoas que
tem e as que não tem, mas a maioria aquele grupo principal e o
outro grupo do trabalho que eu fiz com Abordagem
Comunicativa, eu senti a mesma coisa, que no outro grupo
como era inteiramente on-line tinha gente que esperava o aluno
a ler o capitulo que eram capítulos grandes não desse do qual
você fez o trabalho, do Abordagem Comunicativa, eram
capítulos grandes que você tinha que ler e fazer um summary,
tinha gente que tinha coragem de esperar o aluno a fazer o
summary pra fazer um summary em cima daquele summary
entendeu? Então eu acho que as pessoas não têm
responsabilidade, com relação à Produção de Textos, tinha um
prazo pra você fazer então não controlou esse prazo eu sempre
fiz antes, então muita gente estourava prazo e os alunos não
tinha comentado seu trabalho, muitas vezes você precisava
daquele comentário pra você elaborar o seu final então eu acho
que essa parte foi bem falha.
82
Chris sempre analisa as aulas da disciplina “Inglês: produção de textos”
relacionando-a ou comparando-a com outras experiências pelas quais passou como professora
ou como aluna de cursos on-line. Ela afirma que é uma professora “totalmente presente’ em
suas aulas on-line. Também comenta que, em um outro curso on-line que fez, a professora
controlava os prazos e direcionava as atividades. Ainda sugere que essa presença e esse
controle devam também ocorrer nas aulas on-line da disciplina “Inglês: produção de textos”.
No excerto 15, a seguir, Chris é muito mais incisiva em suas críticas:
Excerto # 15:
Chris: Eu acho que ela tinha que fazer o papel de monitorar ali
o que tava acontecendo e dar algumas idéias o que não
aconteceu não, eu acho que ela não preparada o pra esse
tipo de trabalho eu acho que professor, o profissional que se
dispõe a montar o curso a abrir uma página tem que monitorar
a participação ele tem que intermediar né.
Nota-se, nesse momento, um desencontro entre os propósitos instrucionais da
professora e as expectativas da aluna. Enquanto a professora pretendia que as atividades de
edição em pares fossem feitas pelas alunas sem a sua interferência, a aluna esperava que a
professora direcionasse e controlasse mais as atividades e os prazos e monitorasse e
intermediasse a participação das alunas.
Segundo Sumara e Davis (2006), o controle descentralizado no contexto
educacional não deve ser interpretado como a condenação da sala de aula centrada no
professor nem a defesa da sala de aula centrada no aluno, pois em certas circunstâncias
nenhuma dessas abordagens serve de sustentação para a complexidade, e em outras
circunstâncias ambas as abordagens exercem esse papel. Segundo os autores, “um elemento
chave no ensino efetivo não é manter ou abrir mão do controle, mas sim dispersar ou distribuir
o controle através das redes de relações na sala de aula”
67
(2006, p. 48).
Analisando o StarLogo, um software para a modelagem de sistemas emergentes,
Johnson (2003) reconhece que ele é um sistema centralizado, pois “obedece a regras
postuladas por uma única autoridade o programador”. Porém, ele ressalta que essas regras
governam apenas os micromotivos e que o comportamento macro não pode ser controlado
diretamente. Segundo Johnson, “tudo o que se pode fazer é estabelecer as condições que
67
Minha tradução de “a key element in effective teaching is not maintaining control or relinquishing control but,
rather, in dispersing or distributing control across the network of relationships in the classroom.”
83
supostamente vão tornar aquele comportamento possível. Depois, é pressionar o botão
‘iniciar’ e ver o que acontece” (2003, p. 125).
A sala de aula, como um sistema emergente, assemelha-se, em certa medida, aos
sistemas discutidos por Johnson. No entanto, o professor o é um programador que
estabelece certos objetivos, condições e regras e, então, pressiona o botão ‘iniciar’ e espera
para ver o que acontece. Ele acompanha o sistema e intervém pontualmente ao longo de sua
história para tentar garantir que os objetivos sejam alcançados. Mas, assim como em outros
sistemas emergentes, essas regras governam apenas os micromotivos. O professor não
controla a empatia entre os alunos, as parcerias preferenciais, os estilos individuais, as
motivações e, mesmo que deseje profundamente isso, não controla a aprendizagem de seus
alunos.
Dito isso, pode parecer que a sala de aula é um sistema “fora de controle”, como
disse Kelly (1994) sobre o comportamento de sistemas descentralizados. Como argumenta
Johnson, essa denominação não é justa para os sistemas emergentes, pois eles não são
anarquias totais. É preciso considerar que “mesmo os mais otimistas paladinos da auto-
organização sentem-se um pouco cautelosos quanto à falta de controle de um processo desse
tipo” (JOHNSON, 2003, p. 175).
Assim sendo, os professores precisam ser “artistas do controle”, descrição
utilizada por Johnson para caracterizar os projetistas de softwares emergentes. Eles precisam
ter “sensibilidade para o espaço intermediário entre o livre-arbítrio e a creche, para a estreita
linha entre ordem de mais e de menos” (p. 142). Ou seja, eles precisam ter sensibilidade para
atuar em zonas limítrofes.
5.1.4 – Restrições possibilitadoras
Embora o professor o controle tudo o que acontece em sala de aula e muitos dos
eventos ocorridos sejam de natureza não-linear e, portanto, imprevisíveis, esses eventos o
são totalmente aleatórios. Eles são influenciados por certas restrições e recursos presentes no
sistema.
O papel das restrições é reconhecido em uma compreensão ecológica da sala de
aula de línguas. Como destaca Van Lier (1996), é necessário ter em mente a intricada relação
entre restrições e recursos presente em uma comunidade ecológica. Ele compara o dinamismo
de restrições e recursos com as regras de um jogo: as regras dizem que vonão pode fazer o
84
que quiser, se desejar permanecer no jogo. Isso, de certa forma, limita o jogador, mas é essa
rigidez de regras que permite que o jogo ocorra. De forma análoga, segundo o autor,
o jogo’ educacional deve ser também uma interação dinâmica
entre restrições e recursos. Se há controle excessivo, e nos
dizem exatamente o que fazer e quando fazer e quando fazê-lo,
então a educação deixa de ser educação. Se, por outro lado, nós
rejeitarmos todas as restrições, então a educação será
igualmente impossível, uma vez que ela se degenera no
caos
68
(VAN LIER, 1996, p. 8).
As restrições mais perceptíveis nas aulas da disciplina “Inglês: produção de textos”
são as normas que regem suas atividades. Algumas são advindas do sistema institucional
como, por exemplo, a exigência de freqüência e nota para aprovação. Outras são estabelecidas
pela professora no planejamento da disciplina ou negociadas em sala de aula. Essas regras não
só restringem certas possibilidades, mas também criam outras possibilidades.
As aulas em sala de aula ‘convencional’ e on-line criam, cada uma, suas restrições
e possibilidades. Na sala de aula ‘convencional’, os eventos ficam circunscritos ao mesmo
domínio espaço-temporal e a interação obedece mais rigidamente às regras de troca de turnos.
Uma vez que essas ações são sincronizadas, o tempo de fala de cada aluna é restringido pela
dinâmica conversacional. Os seminários face-a-face, porém, possibilitam uma coordenação de
ações e uma dinâmica de colaboração que não ocorrem nas aulas on-line.
Uma vez que a edição dos textos é feita em discussão com todo o grupo, essa
atividade possibilita uma colaboração de tal natureza que leva a uma co-construção ou
reconstrução coletiva dos textos. No fórum on-line, como as atividades são assíncronas, não
a mesma coordenação de ações. As alunas, individualmente, lêem os textos e postam seus
comentários e sugestões. Cada aluna, após ler os comentários colocados pelas colegas, decide
o que reajustar em seu texto.
A edição no fórum eletrônico não permite a reconstrução coletiva dos textos como
ocorre nos seminários face-a-face, mas possibilita uma leitura mais atenta e uma edição com
foco em mais detalhes. Uma vez que esse trabalho não é limitado ao tempo de sala de aula,
todas as alunas podem ler integralmente os textos das colegas, elaborar previamente suas
68
Minha tradução de “the educational ‘game’ must also be a dynamic interplay between constraints and
resources. If there is excessive control, and we are told exactly what to do and when to do it, then education
ceases to be education. If, on the other hand, we reject all constraints, then education will likewise be impossible,
since it will degenerate into chaos”.
85
sugestões e postá-las no fórum. Dessa forma, as restrições limitam certas possibilidades, no
entanto, criam outras.
5.1.5 – Interações locais
As interações locais são a força motriz de qualquer sistema complexo. Nas aulas
da disciplina “Inglês: produção de textos”, a coordenação de ações e as interações entre as
participantes levam à emergência de propriedades globais, que funcionam como uma forma de
inteligência coletiva. As interações de cada aluna com as outras que formam a intrincada rede
de relações que se estabelece ao longo do semestre letivo.
Essas interações, como observam Davis e Simmt (2003), referem-se tanto às
relações interpessoais quanto às interações de idéias ao longo da história do sistema. As
relações interpessoais nas aulas em estudo levaram ao surgimento de agregações, como
discutido anteriormente. Essas agregações não levam à fragmentação do sistema, mas dão
uma nova dinâmica à ordem global, pois elas funcionam como meta-agentes em um outro
nível do sistema. Essas agregações exercem influências significativas sobre as interações que
ocorrem durante as atividades de aula, como podemos observar nas falas de alunas nas
entrevistas.
86
Excerto # 19:
Chris: (...) algumas que eram mais amigas, mais chegadas elas
que davam mais palpite mesmo, a gente se via numa certa parte
o trabalho ficou difícil então a gente teve que pedir ajuda tal, as
amigas, as pessoas mais chegadas, companheiras de grupo que
tinha amizade pessoal foram as que mais interferiram as que
mais ajudaram, as outras pessoas tendem a ficar muito neutras.
Como demonstrado na seção 5.3 adiante, tanto nos seminários face-a-face quanto
no fórum eletrônico as alunas estão mais propensas a contribuir com as colegas de quem mais
se aproximam.
Com relação às interações de idéias, elas ocorrem de forma não linear ao longo do
sistema, não sendo possível mapear a sua rede de relações. No trabalho de edição em pares,
por exemplo, as sugestões das alunas ao texto de uma colega não são simplesmente
descartadas ou incorporadas à nova versão do texto. Uma análise do texto final não possibilita
dizer com certeza o que leva às reorganizações. Considerando que a própria produção de texto
de uma aluna é um processo complexo, as sugestões e comentários das colegas são estímulos
externos que poderão provocar grandes mudanças ou mudança nenhuma. Entre o processo de
edição e a elaboração de uma nova versão do texto, não é possível traçar uma relação causal
linear. Todas as participantes, no entanto, ressaltam nas entrevistas que esse processo de
edição contribui significativamente não para a melhoria do seu texto final, mas,
principalmente, para o desenvolvimento de sua habilidade de escrita acadêmica em língua
inglesa.
5.2 – Dinâmicas de participação na comunidade de aprendizagem
O ambiente de ensino e aprendizagem de línguas engendra certas práticas
sociodiscursivas que constituem-no como uma comunidade de aprendizagem (MARTINS,
2004, 2005b). Nessa comunidade, as alunas engajam em um processo de participação que, até
certo ponto, é análogo ao processo de participação periférica legítima que, segundo Lave e
Wenger (1991), caracteriza o processo de integração de novos membros a uma comunidade de
prática. Portanto, a socialização das alunas na prática da comunidade envolve um processo de
mudança gradativa de uma participação periférica rumo a uma participação integral.
87
Porém, considerando que a comunidade de aprendizagem em questão configurou-
se como um sistema complexo, a participação das alunas nas práticas da comunidade não se
necessariamente de forma linear e gradativa rumo a uma participação integral. De fato,
como veremos adiante, a mesma aluna apresenta em certos momentos da história da
comunidade uma participação mais ampla em certas práticas da comunidade e uma
participação mais periférica em outras.
Como afirma Lemke (1997), a teoria de Lave e Wenger forneceu-nos os princípios
de um modelo de aprendizagem como participação em uma comunidade de prática na qual
nós nos juntamos aos outros em suas atividades, inicialmente, como participantes periféricos,
e, gradativamente, vamos nos tornando capazes de fazer o que eles fazem. Esse modelo,
embora promissor, precisa, segundo Lemke, de alguns ajustes e desenvolvimentos para ser
adequadamente aplicado na compreensão de certas comunidades. Na teoria desses autores, a
participação periférica legítima tem como conseqüência uma participação crescente rumo a
uma participação integral. Nessas comunidades, os novatos aspiram ao status de veteranos, os
quais aceitam e esperam que isso aconteça. Lemke ressalta, no entanto, que o pertencimento
total não é possível em certos casos simplesmente a partir da crescente participação nas
práticas da comunidade. Ele exemplifica dizendo que não é suficiente conviver com
advogados ou médicos, auxiliá-los em suas práticas, aprender a falar o seu jargão e mesmo
tornar muito bom em suas práticas visíveis para passar a ser considerado um deles. Em certas
comunidades, os papéis são hierarquicamente diferenciados e não expectativa de
mobilidade (mudança de status), a não ser pelo engajamento nas práticas de outra comunidade
(curso específico de graduação, nos casos dos exemplos). De maneira similar, na sala de aula
não se espera que os alunos se tornem professores através de sua crescente participação nas
práticas da sala de aula. Diante disso, Lemke (1997) questiona se professores e alunos
pertenceriam a diferentes comunidades de prática. Ele conclui que não, se a prática for
definida em termos das atividades nas quais ambos os papéis (professor e alunos) devem se
engajar.
Na sala de aula da disciplina “Inglês: produção de textos”, as práticas que definem
a comunidade são aquelas relacionadas ao desenvolvimento da escrita acadêmica em língua
inglesa como língua estrangeira. Nessas aulas, a professora assume o papel de especialista,
mas, diferentemente das comunidades de prática descritas por Lave e Wenger (1991), ela não
se engaja cotidianamente na atividade de produção de textos, e as alunas, por meio do
envolvimento gradativo nessas práticas, aprendem. As atividades da professora se organizam
88
a partir de certos propósitos e procedimentos pedagógicos que almejam propiciar às alunas o
desenvolvimento da escrita em língua inglesa.
Analisando o trabalho de Young e Miller (2004), Wagner questiona a utilização da
noção de participação periférica legítima para descrever a participação de um aprendiá0.0858734( )-112.395(a)4(i)0.874347(á 88(e)-z0.874347(c)6.99218(o95892(l)0.-9.78436(n)-0.96022)-0.9c5892(e)6.99348(r)2.584924(o)-0.f0.874347(141(é)6.99348(r)2.58ê95892( )4.84924(o)-0.c5892(e)6.i348(m)-0.0855892( )4.1043(p)-0.96026(e)6.99348(s)-0.960221(u)6.99348(r)2.58011(i)-9.78566(t)359.99218(ç)6.957618(i)99218(ã)-3.t017(à)6.99216(l)0.874347(l)0.875788( )-11-9.78436(n)-0.96022)0.87L)2333706(E)-88(2986.66TJ-298..96022)0.87962823(d)-0.-3.66653( )-0.08788(e)6.99266TJ-298..96022vedstio s
89
Excerto # 20:
Angélica: (...) depois aos poucos, do modo que a gente foi
conduzindo, a gente foi tendo mais liberdade, companheirismo.
Essa aluna relata que a sua participação se amplia à medida que se envolve com as
práticas da comunidade. Angélica se engaja em um processo de participação que
crescentemente avança à medida que participa dessas práticas. A aluna demonstra que tem
dificuldades com as principais práticas da comunidade, tanto com a produção de textos
acadêmicos em inglês, foco da disciplina, quanto com outras práticas como edição em pares e
uso de computadores e da internet.
Em relação ao uso de computadores, por exemplo, Angélica relata que a sua
primeira experiência (em ambiente profissional) não foi muito boa e que acabou “tomando
birra” desses artefatos. Ainda afirma que anteriormente havia se matriculado na universidade
em outra disciplina que envolvia a utilização de recursos computacionais, mas acabou
desistindo “porque achava que não ia aprender”.
Na disciplina “Inglês: produção de textos”, porém, ela consegue aprender, à
medida que se envolve nessas práticas e conta com a ajuda de pares mais experientes. Ao ser
questionada sobre como se sente participando das atividades on-line da disciplina, Angélica
responde:
Excerto # 21:
Angélica: A princípio achei muito difícil mas assim fui me
acostumando. Acho que até gostei.
Como relata a aluna, na disciplina “Inglês: produção de textos”, ela engaja-se em
um processo centrípeto de participação similar ao descrito por Lave e Wenger (1991),
diferentemente do que ocorreu na disciplina em que se matriculou anteriormente. A aluna
afirma resistir aos recursos tecnológicos e diz ter desistido da disciplina por achar que não
aprenderia a utilizá-los. na disciplina “Inglês: produção de textos”, ela afirma ter sido bem
sucedida. Angélica ainda aponta como razões para o seu sucesso não só a sinergia de relações
construídas entre as colegas, mas também as orientações e incentivo recebidos da professora e
o auxílio de suas filhas que possuíam mais experiência no manejo dos recursos tecnológicos
em questão.
No excerto a seguir, ela destaca contribuições significativas recebidas da
professora.
90
Excerto # 22:
Angélica: A professora ela tentou incentivar a gente pra essas
aulas on-line e ela sempre quase toda semana ela dava uma
instrução se a genteo estava fazendo conforme ela tava
esperando ela explicava como a gente deveria fazer até no
início ela chegou a me falar como entrava na Internet então
porque ela sentiu que eu tinha um pouco de bloqueio ela tentou
me ensinar assim nem como se fazia
A superação desse bloqueio o advém unicamente de sua participação nas
práticas dessa comunidade de aprendizagem. Conforme afirma Wenger (1998), cada indivíduo
participa simultaneamente de diferentes comunidades de prática, portanto, a aprendizagem em
sala de aula está também relacionada a práticas em comunidades outras nas quais o aprendiz
se engaja. Isso é explicitado no seguinte comentário:
Excerto # 23:
Angélica: (...) minha primeira experiência com computador não
foi muito boa eu fiz um curso e na minha época eu tinha
havido tinha sido secretária mas eu nunca num mexia com
computador era com máquina eletrônica e fui fazer
computador fui fazer curso de computação pra poder pegar um
emprego numa área de trade e ((risos)) a minha chefe era muito
estressada ela também o sabia mexer com computador e eu
recente conhecedora e ela me estressava muito me apressando e
eu acabei tomando birra de computador cheguei a fazer a
entrar me matricular em uma disciplina da federal que era com
computador éh aulas de eh com como chama modem,
programas e eu cheguei a desistir porque achava que num ia
aprender eh contei também com a ajuda das minhas filhas
porque elas são experts ((risos)) em computação e elas me
ajudaram a poder mexer mais, saber entrar na Internet até que
eu consegui me adaptar com aulas on-line.
Como afirma Van Lier (2003, 2004), apoiando-se em Bronfenbrenner (1979,
1993), o sistema educacional pode ser caracterizado como um grupo hierárquico de
ecossistemas aninhados que se influenciam mutuamente. Cada um desses ecossistemas possui
seu próprio grupo de fatores e artefatos e seus próprios padrões de operações e relações e
opera em sua própria escala de tempo e ciclos de eventos. Os eventos ocorridos na disciplina
“Inglês: produção de textos” são, portanto, determinados não apenas pela dinâmica interna
dessa comunidade ecológica, mas também pelas suas relações com outros sistemas
ecossociais.
91
Embora afirme que prefere a aula ‘convencional’ (face-a-face) à aula on-line,
Angélica salienta que sua experiência com esta última foi positiva:
Excerto # 24:
Angélica: Eu particularmente prefiro presencial pela minha
dificuldade de lidar com o computador, mas acho que foi muito
interessante e também me deu a oportunidade de conhecer esse
lado da internet de e começou até me despertar de para receber
e-mails e passar e-mails para outras pessoas então foi muito
interessante nesse ponto porque quebrou um tabu meu.
A aluna Angélica inicia a disciplina com uma participação restrita que vai se
ampliando com o seu envolvimento nas práticas da comunidade. Em outras palavras, ela vai
evoluindo da posição de novata, principiante, rumo à posição de veterana, especialista nas
práticas da comunidade. Nesse processo não há um ponto definitivo de chegada, um momento
em que se possa dizer que o participante consegue a maestria completa de todas as práticas da
comunidade. Há, sim, uma aprendizagem contínua, definida pelas trajetórias de interações do
aprendiz com tais práticas e com outras de outras comunidades que formam, nos termos de
Lemke (1994), uma rede no sistema ecossocial mais amplo.
No processo de participação periférica legítima, os participantes têm diferentes
graus de familiaridade com as práticas da comunidade. Essa relação entre especialistas e
principiantes, ou entre veteranos (oldtimers) e principiantes (newcomers), conforme
descrevem Lave e Wenger (1991), pode, até certo ponto, ser associada ao que ocorre na
disciplina em estudo. A disciplina recebeu oito matrículas, quatro de alunas regulares do curso
de letras da instituição e quatro de alunas especiais (matriculadas em disciplina isolada). Uma
dessas alunas regulares (Nathalie) havia se afastado do curso (por trancamento de matrícula) e
estava retornando na ocasião. Ela, embora aluna regular da instituição, o havia tido, como
as outras três, experiência anterior com escrita acadêmica e com atividade de edição em pares,
pois vinha de um curso cuja estrutura curricular era diferente.
As três alunas regulares da instituição, Amanda, Bárbara e Clara, que haviam
cursado as disciplinas Habilidades Integradas I, II e III, ocupam nas aulas da disciplina
“Inglês: produção de textos” uma posição similar à dos veteranos nas comunidades de práticas
analisadas por Lave e Wenger (LAVE e WENGER, 1991; WENGER, 1998), mesmo tendo
iniciado na disciplina na mesma ocasião que as outras alunas. Ocorre que elas estavam
muito mais familiarizadas com as atividades de escrita acadêmica em ngua inglesa e edição
em pares, que são as práticas em torno das quais se estabelece essa comunidade de
92
aprendizagem. Dessa forma, desde o início, essas alunas participam de forma mais ampla
nas práticas da comunidade. As demais engajam em um processo de participação com vistas a
uma maior integração às práticas da comunidade.
Esses papéis diferenciados ocupados pelas alunas na sala de aula são também
observados pela professora, como expresso no comentário abaixo:
Excerto # 25:
Ana: (...) o problema dessa turma é que havia três alunos do
curso de letras, alunos daqui e e três alunos no final acabaram
seis não foi? E três alunos que vieram de outro lugar ou que
não eram alunos regulares, eu não vou falar os nomes não
porque você tá trocando tudo ((risos) então, enfim, esses alunos
que eram do curso regular, eles já tinham cursado habilidades
um, dois e três, esses alunos eles estavam mais tranqüilos eles
sabiam mais ou menos como operar, os alunos que vieram de
fora eles ficaram muito tensos, a eu vou falar o nome a
Nathalie era mais tranqüila, mas mesmo assim tensa (...)
A professora separa as alunas em “regulares” e “que vieram de outro lugar”, mas
inclui no segundo grupo a aluna Nathalie, que, mesmo sendo aluna regular da instituição, está
retomando ao curso (após trancamentos de matrícula). Diferentemente das três alunas
colocadas pela professora no primeiro grupo, Nathalie o havia cursado as disciplinas
mencionadas. Portanto, o que 14.911(q184357(g)17 140.873046(a)-(q184357)0.874342( )-314.91-0.0858734(e)--91.0778(m))-314.911(q)-0.95892o(q)-0.95892(u)-0.95892(e)-3.66653( )--314.91rt guno ca araumos a6( )-304.253()-3.6652ncir a rvurof artaoque pade (r)2.5788(t)0.874347(i)652(i)-9.78436(f)2.5788(e)6.99218(36(n)37r)-285(n)1.8130.960221(221(g)9.70109995.676(8(r)2.5788(e)-3.66653a)6.55.03u)-16.4669(e)-3-,unse c(e)-3.66653(n)-0.960221(t)0.874347(e)6.99218sea a êrp4(l)0.8743(a272.276(h 140.84347(u)-0.960221(i)0.874347(ç)-9.7843637r)-280.742(a)6.990.998085 0099( )250]T892(r)2.58011(o)-0.958( )-304.253(o)-0..372-3-,)4.85055()6.208.325046(c)6.9934(i)0.873046(s)-5.37229( )-69.7617(s)-5( )4.84969(2399(s)-5.37222(r)2.58011e((á)6.99348(t)-9.78566(-0.958922(o)-0.95892(ó)-.99348(s)-5.372u8(r)-8.0786(v)-0.95892()9-5.37099(a)-34.253(o)-0..37229(208.3250f7(r)2.575( )-91.07(g)-0.960221(81(ê)6.9947l9( )46.4669(p)-0.9602)-0.960221(e)-3.6665-0.960221(m)-10.7445(u)-0.960221(n)-0.960221(i)0.874347(2()9-5.3709 )4.85055(n)-0.960221(o)-0.9602212()9-5.3709a)6.99218(l)-9.78436(u)-0.960221p21(r)4347(p4()-3.6620.94m)-10.7446(e)6.60221(,)-5.80819(p)-0.960221(a)-3.666a)6.99218(l)-9.78436(u)-0.960221)-10.7445(u)-0.960221(29(208.3243 )4.85055(n)-0.960221(o)-,)4.85055(3( )4.85055(c)6.99218(o)-0)-0.96022)-10.7445(u)-0.960221(n)-0.960221(i)-187.006.içioce s (ç)-.960221o (ã)6.9947888(ê)6.99476( )-282.935221(r)4347(p4(l)0.8743m)-0.083276620.94m957618(a)6.94.84969( )](a)-3.666390.998085 08(s)-5.37224(p)-0.95892(r)2.580114(p)-0.95896( )-304.253(P)-8.9113ma-0.9589223(s)-5.37229ad péa-0.958922( )-27.1269(d)-0.95892(a)6.99348( (ã)6.9947866(o)-0.95892(r)2.5801á-0.9602212(ó)-0.950221(t)]TJ245.39 0 Td[(s)-5.37099(.960221(29()-5.3709 )-91.0778i)0.874347(221(a)-3.66653( 253.78221(r)2.5788(i)0.874:(p)-0.95957(0.874347(x)-11.618161.109m957616)-9.78775( )]TJ/R11 11.28 Tf-84.2814 -20.28 Td( )Tj13.32 TLT*[(E)-4.49925(x)-0.960221(c)6.99218(e)-3.66653(r)6.99218(t)2.5788(o)-0.960221(6)-0.960221()-0.960221( )4.85055(2)-0.960221(5)-0.960221(:)2.5788147)-2/R13 C).3772 Tf6( )-8104 0 (E)-m)13.33423(,)-4.88438966.64 575.76 Tm[(A235564706(q)1.8115971(a)500]TJ5)-1279(B28( )72590084(m)13.2( )249.999]57(n)1.81311(u)1.81(b)-9.77264(l5)-1279(1())-2.98695( )-1438(j)-23.2281(á)3.74217( )-16.4706í423(,)-4.8p95(a)3.74217(m)13.34491(e)-7.84357(n)1.813139,)-4177264(s)6.66972( )-85(t)-0.056571(r)-2.98695(o)-9.774(m)13.3425)-1279(1602( )-16.4706(o)1.13139,)-41771(l)-11.6423(a)3.742ai3423(,)-4.8c(,)6.70084( )-340.1(r)-2.98695(a)-7.8433423(,)-4.813139, f E7( )-132.328(o)993964(r)-2.984(s)-4.916ç2.981 0 Tã972( )-16466-0.0858734((l)-11.6423(9,)-8464(r)-2.98695(a)-7.8464(m)24.9252( Td(.331(d)1.81593TE7( )629695(a)-7.843x)-4.91602())-2.9861(t)-0.056571(e)-7.84357(n)1.8131109.15716.4706(o)1.7(i)-0.05657109.15712(e)3.74217(i)-11.6423(s)-4.91602(s)-4.91-12.24 Td[(j)-11.6423(á)-7.84357(( )-143.914(h)1.8131(a)(s)-4.91131(n)1.8131(o)-9.77264(s)6.66972)-4.91602( )-97.570(l)-0.056571(i)-11.6457( )-4.88491(s)-4.91972)-4.91605(ê)-7.84357(s)6.66972(,( )-97.5708(c)-7.84972)-4.9160a.4706(o)1.7(i)-0.05.5708(r)-2.98695(e)3.74972)-4.9160a.4706(o)1.972( )-143.93(e)3.74217(s) imroe
93
A aluna Chris, assim como Angélica, é principiante na produção de textos
acadêmicos em língua inglesa, no entanto, ao contrário da colega, tem experiência com uso
de computadores e com aulas on-line. Chris é professora de inglês há bastante tempo e, como
relata, desenvolve aulas on-line com seus alunos. Ela informa que já fez outros cursos on-line,
inclusive uma disciplina totalmente a distância na mesma universidade. Assim, nas práticas
em que ela já tem experiência, ela participa de forma mais ampla desde o princípio e, naquelas
em que ela é principiante, sua participação se amplia gradativamente.
Vejamos o seguinte comentário da aluna em relação aos resultados da disciplina:
Excerto # 27:
Chris: Eu acho que teve uma hora que ficou meio no vácuo, eu
acho que se essa aula on-line ela é bem elaborada, como foi
essa aula que eu fiz de Abordagem Comunicativa só faltou
professor uma vez e ela andou muito bem né, andou muito bem
a gente recebeu todo material pra estudar, eu achei que teve um
desencontro, mas de qualquer forma foi muito válido. Eu não
sabia nada, eu aprendi, né. Eu acho que foi muito bom.
Essa aluna, na maioria das vezes, analisa a disciplina “Inglês: produção de textos”
comparando-a com as aulas on-line que desenvolvia com seus alunos e com outros cursos dos
quais participou como aluna. Esse comentário, iniciado com a expressão mas de qualquer
forma”, é um contraponto às suas críticas e ressalvas. De acordo com seu relato, ela “não
sabia nada” e conseguiu aprender. Essa aprendizagem ocorre gradativamente, à medida que
ela participa das práticas da comunidade.
A relação entre participação e aprendizagem, no entanto, não é um processo
linear. Podem ocorrer variações significativas, de acordo com as diferentes trajetórias de
participação em uma ou mais comunidades. Corroborando as idéias de Lemke (1994),
compreendo que essa comunidade de aprendizagem, como um sistema complexo, está envolta
em um sistema ecossocial que é organizado em diferentes escalas através de processos inter-
relacionados complexos, cujas realimentações mútuas podem produzir fenômenos emergentes
surpreendentes.
Lantolf e Pavlenko (2001) elencam uma série de exemplos para ilustrar problemas
encontrados por aprendizes para mover da periferia para uma participação integral, bem como
as diferentes atitudes de diferentes comunidades para com os novos participantes. Norton
(2001) também apresenta uma ampla discussão sobre a resistência e não participação em aulas
de inglês como língua estrangeira. Ela relaciona essa discussão o com as mudanças nas
94
expectativas e identidades dos aprendizes, mas também com o investimento individual na
língua estrangeira.
Nas aulas da disciplina “Inglês: produção de textos”, as alunas Cristina e Tatiana
não ultrapassam a participação periférica nas práticas dessa comunidade. Cristina é aluna do
curso de Letras em uma universidade de outro Estado e mudou-se recentemente para a cidade;
como não consegue ainda a transferência do seu curso, matricula-se em disciplina isolada.
Cristina, porém, desiste ainda no princípio para cursar a disciplina Habilidades Integradas,
segundo a professora. Certo tempo depois de sua desistência, no entanto, ela informa-me em
uma conversa telefônica que havia conseguido a transferência do seu curso para outra
faculdade da cidade. Durante a conversa, Cristina ainda afirma que desde que chegou à cidade
seu propósito era continuar seu curso. Além do fato de ela ter encontrado dificuldades na
escrita acadêmica em língua inglesa, ela conseguiu vaga para transferência em uma outra
faculdade, o que não justificava mais a sua permanência na disciplina.
Segundo Lantolf e Pavlenko (2001), os aprendizes podem não ir além de uma
participação marginal se suas histórias não justificarem um investimento na língua estrangeira.
Eles podem também se posicionar na periferia por escolher uma participação marginal. Ou
ainda, eles podem não ir além de uma participação periférica se suas tentativas de participação
forem rejeitadas por outros membros da comunidade. As desistências de Cristina e de Tatiana
se enquadram parcialmente nos motivos identificados por Lantolf e Pavlenko. Além dos
motivos discutidos, Cristina desistiu dizendo que pretendia cursar a disciplina Habilidades
Integradas. A professora havia sugerido em sala de aula que o planejamento da disciplina
Produção de Textos partiu do pressuposto de que os alunos tivessem cursado Habilidades
Integradas.
Tatiana era arquiteta e estava, na ocasião, concluindo uma especialização em
Geoprocessamento e se preparando para ingressar em um programa de mestrado de sua área.
Como as outras alunas que não tinham experiência com escrita acadêmica em língua inglesa,
Tatiana encontrou dificuldades, mas, além disso, também se sentia desambientada. Em relação
a essa questão, ela fez o seguinte comentário:
Excerto # 28:
Tatiana: (...) eu acho que muita a maioria das pessoas ali ficou
meio perdida inclusive eu é claro, por ser da de fora da área né,
mas eu acho que não dei muita contribuição não né, porque eu
to meio fora do ambiente, né.
95
Como discutido, outras alunas encontraram dificuldades no início. Porém, à
exceção de Cristina e Tatiana, elas se engajaram em um processo centrípeto rumo a uma
participação integral e conseguiram, aos poucos, superar suas dificuldades.
No excerto abaixo, Tatiana falou de sua interação em sala de aula e de sua
desistência:
Excerto # 29:
Tatiana: (...) pelo inglês que eu cheguei a ter né, não tinha
problema em conversar em conversar nem nada não, mas eu
acho que na hora que você a teoria , a questão da
produção de texto mesmo, eu acho que eu já tava meio perdida
entendeu? Até a professora Ana me falou que eu teria que fazer
umas outras matérias pra poder tá naquele nível ali, entendeu?
Por isso que eu deixei de fazer a disciplina.
As aulas ocorrem essencialmente em inglês, o que não se apresenta como um
problema para Tatiana e para as colegas. Apenas Angélica demonstra durante as aulas certas
limitações para falar em inglês, mas nem sequer menciona isso nas entrevistas como uma
dificuldade enfrentada, talvez pelo fato de essas limitações serem compensadas pelo uso de
outras estratégias conversacionais. No caso de Tatiana, quando se trata da escrita acadêmica
em inglês, enfrenta dificuldades maiores do que quando se trata de conversações, como ela
mesma reconhece no excerto anterior.
Em uma aula face-a-face, a professora afirma que as alunas de disciplina isolada
enfrentam maiores dificuldades porque não cursaram uma disciplina que é pré-requisito para a
disciplina em questão. De fato, o programa da disciplina “Inglês: produção de textos” aponta
como pré-requisito a disciplina “Inglês: habilidades integradas III”. Segundo a professora, as
alunas que possuem o pré-requisito têm certa experiência tanto em produção de textos
acadêmicos quanto em revisão colaborativa entre os pares.
Tatiana não associa a sua desistência a problemas com a interação em inglês, mas
a dificuldades com a escrita acadêmica e à sugestão da professora de que precisava cursar
outras disciplinas antes da produção de textos:
Excerto # 30:
Tatiana: Eu acho que na hora que for ofertar uma matéria eles
dizerem “olha você tem que ter tal nível” ou fazer uma prova
antes de entrar numa matéria, porque você faz quase o semestre
todo numa matéria, a matrícula é o tempo seu que você tá
dando ali e chega eles falam ah você não tem o vel pra ta
aqui”, então eu acho que tinha que ter feita uma prova
96
entendeu? O pré requisito vamos dizer assim, seria uma prova
pra entrar. Tipo assim pra mim que tava fazendo matéria eletiva
né, porque como eu vou saber que vel que eu tô, porque ali
não tava especificando nada.
Outras questões também aparecem como determinantes, como podemos observar
no excerto a seguir:
Excerto # 31:
Tatiana: É, bem, eu tinha outras prioridades, tava fazendo um
curso de especialização e chegou a hora de fazer a monografia
e teve a prova pro mestrado também, então eu tinha que estudar
e sendo que a professora falou que eu não tinha nível pra
continuar, que eu realmente não ia passar ela foi bem taxativa,
então eu falei “não, eu vou partir pra minhas prioridades” então
eu larguei a disciplina. Foi isso.
A partir do excerto, observamos que a desistência da aluna deve-se não às
dificuldades encontradas com a escrita acadêmica e à sugestão da professora de que ela
deveria ter cursado a disciplina “Habilidades Integradas”, mas também ao fato de que a sua
história acadêmica e profissional não justificava um investimento maior na língua inglesa.
Tatiana já havia estudado inglês durante muito tempo e estava interessada em continuar, mas a
escrita da monografia do curso de especialização e a preparação para a seleção do mestrado
surgiram como prioridades.
5.3 – Dinâmicas interativas em au mt eaTJ/R11 11.28 T78.42.252 0 Td[(o)-0.9602n1(u)1.74693(-)2.5718(l)0.874347(i)0.874347(u)1.746e
97
eventos externos. De fato, corroborando as idéias de Van Lier (2000, 2003, 2004) e de Lam e
Kramsch (2003), a metáfora da ecologia aqui adotada tenta capturar a interconectividade de
processos socioafetivos e sociocognitivos presentes na comunidade de aprendizagem.
Esta seção tem seu foco principal no nível do microssistema, levando em
consideração que, como destaca Van Lier (2003), a pesquisa em sala de aula também se
beneficia da investigação de como outros ecossistemas co-determinam o que acontece em sala
de aula. Esse autor, apoiando-se em Bronfenbrenner (1993), define um microssistema como
um padrão de atividades, papéis e relações interpessoais experimentadas pelas pessoas em um
dado ambiente com traços sicos, sociais e simbólicos particulares que convidam, permitem
ou inibem o engajamento em interações complexas sustentadas nas atividades ocorridas no
ambiente imediato. Neste capítulo, busco compreender os traços da comunidade ecológica de
aprendizagem, compreendida como um sistema complexo, que possam tanto restringir quanto
possibilitar oportunidades de construção de conhecimento compartilhado neste contexto.
Esta seção está organizada em três subseções. A primeira discute os
posicionamentos e reposicionamentos da professora nos diferentes ambientes da comunidade
de aprendizagem, retomando a noção de controle descentralizado discutido anteriormente. A
segunda retoma a noção de interações locais ou entre vizinhos discutida anteriormente e
enfoca as dinâmicas interacionais locais ocorridas nos ambientes de aula, considerando
também que as dinâmicas contextuais que envolvem o sistema ecossocial mais amplo
exercem influencias significativas nos eventos ocorridos no interior da comunidade de
aprendizagem. A terceira analisa o processo de produção e revisão colaborativa de textos na
comunidade de aprendizagem, com atenção especial para alguns fatores que influenciam a
evolução do sistema.
5.3.1 – Interações locais na comunidade de aprendizagem
A disciplina “Inglês: produção de textos” conta com três diferentes ambientes de
aula: uma lista de discussão via e-mail, um fórum on-line e uma sala de aula face-a-face.
O objetivo principal da lista de discussão é o gerenciamento das atividades, como
informa a professora em entrevista:
98
alguma coisinha que eu não lembrada em sala eu colocava ali
na lista de discussão mas principalmente ficou pra repetir o que
eu tinha dito em sala e muitas vezes pra eu falar por exemplo
como corrigir um texto deles e notava que a maioria dos erros
era de, vamos supor, não fazer a introdução e erros de
concordância então ai era a que eu mandava um mensagem pro
grupo falando que eles deveriam olhar parte do livro, de fazer
revisão de concordância e a parte de introdução de turnabout
que é feita assim e assim assado. Então servia também pra
essas explicações e dificuldades que eu notava nas
composições que eu corrigia, depois da edição.
As atividades da lista não envolvem produção escrita das alunas nem leitura
teórica ou discussão sobre escrita acadêmica, elementos que constituem o foco da disciplina.
A lista de discussão funciona como uma extensão da sala de aula face-a-face no que concerne
às atividades de gerenciamento da disciplina.
Nessa comunidade de aprendizagem, como um sistema complexo, os eventos
globais que se estabelecem são essencialmente determinados pelas interações locais ocorridas
no nível do microssistema. De fato, como destaca Johnson (2001), os agentes de um sistema
complexo interagem primeiramente em um nível local entre seus vizinhos. Como observado
na seção, os movimentos interacionais ocorridos nos ambientes de aula ocorrem
essencialmente em um nível local entre os agentes formando inclusive agregados que passam
a funcionar como meta-agentes em um nível mais global do sistema. Nesta seção, portanto,
são enfocadas as dinâmicas interacionais ocorridas no nível do microssistema, das quais certos
padrões mais globais emergem.
A interação e a participação são inicialmente analisadas a partir da distribuição de
turnos de fala em sala de aula e a partir do número de emissivas postadas no fórum eletrônico
e enviadas para a lista de discussão, conforme trabalhos tradicionais sobre a sala de aula de
línguas, tais como Chaudron (1988), Van Lier (1988), Tsui (1995), Dalacorte (1999), entre
outros, e sobre aprendizagem de línguas mediada por computador, tais como Warschauer
(1996), Levy (1997), Debski e Levy (1999), Chapelle (2001), Paiva (2001a,b), Warschauer e
Kern (2000), Fernández-García e Arbelaiz (2003), entre outros. Essa perspectiva será, então,
ampliada com a incorporação de uma perspectiva ecológica que busca compreender não a
dinâmica interna dos ambientes de aula, mas também a sua estreita inter-relação com o
sistema ecossocial mais amplo com o qual esses ambientes estão ecologicamente interligados.
As aulas face-a-face são realizadas em sala de aula convencional sem o uso de
computador, exceto a segunda e a terceira aulas, que ocorrere em um laboratório de
99
informática. As duas últimas têm o propósito de familiarizar os alunos com as atividades de
edição de textos e com a utilização de computadores e Internet para esse fim. As demais aulas
face-a-face envolvem a leitura de textos teóricos e resolução de exercícios, orientação para
execução das tarefas e outras atividades de gerenciamento e seminários de revisão
colaborativa de textos. As atividades on-line da disciplina utilizam uma lista de discussão via
e-mail e um fórum eletrônico. A lista é um espaço para o gerenciamento das atividades on-line
pela professora e para interação espontânea entre alunas nos períodos que intercalam as aulas
face-a-face; e o fórum é o espaço para a realização das tarefas de produção de texto e revisão
colaborativa em momentos previamente definidos no cronograma da disciplina.
As primeiras aulas da disciplina privilegiam a leitura de textos e resolução de
exercícios sobre escrita acadêmica em língua inglesa, como mencionado. Como
paralelamente as alunas estavam realizando tarefas de produção e edição de textos no fórum,
certos momentos da aula face-a-face são reservados para orientações por parte da professora
sobre essa atividade on-line. Além disso, o tipo de texto que as alunas devem produzir e
postar no fórum eletrônico modifica-se à medida que também avançam as leituras e exercícios
em sala de aula. Assim, durante as aulas face-a-face, as alunas freqüentemente trazem
questões relacionadas ao processo de produção de texto que ocorre no ambiente on-line.
O primeiro seminário face-a-face de edição colaborativa de textos, ocorrido em 17
de novembro de 2004, com a carga horária de 02 horas/aula, foi transcrito integralmente para
a análise das dinâmicas conversacionais. Esse seminário visa à edição do texto de definição da
tese (thesis statement) a ser desenvolvido no texto final. Esse seminário conta com a
participação apenas da professora Ana e das alunas Angélica, Bárbara, Chris e Nathalie; na
ocasião, estão ausentes Amanda e Clara, e já haviam desistido Cristina e Tatiana.
Para uma melhor compreensão da dinâmica interacional no primeiro seminário,
fez-se foi feita uma contagem dos turnos de fala, conforme representado na tabela 4 a seguir.
Tabela 4: Turnos de fala no 1º seminário face-a-face
Tópico
Nome
Gerenciamento
e outros
Texto
Angélica
Texto
Bárbara
Texto
Chris
Texto
Nathalie
Totais
Ana 20 126 13 54 33 246
Angélica 17 147 03 05 04 176
Bárbara 01 21 09 03 07 41
Chris 07 56 08 46 05 122
Nathalie 04 34 00 04 26 68
Totais 49 384 33 112 75 653
Fonte: Dados de pesquisa
100
Analisando apenas o número total de turnos de fala nesse seminário (última
coluna da tabela 4), observamos que Ana, a professora, é quem mais fala, corroborando
estudos anteriores tais como os de Chaudron (1988), Van Lier (1988), Tsui (1995), entre
outros, que apontam uma predominância da fala do professor em sala de aula. Como
observado anteriormente, mesmo tentando não centrar em si as situações, o total de turnos de
Ana (246) ainda é expressivo, correspondendo a 37,6% do número total de turnos (653) de
todo o seminário. A professora, como veremos adiante, procura não dominar deliberadamente
a fala em sala de aula, estimulando freqüentemente a participação das alunas, seja
relembrando para turma o propósito colaborativo do seminário, seja fazendo perguntas para a
classe como um todo ou solicitando diretamente a algumas alunas suas contribuições para a
reorganização do texto de determinada colega.
Excerto # 33:
Ana: While you write yours, I’m going to read Angélica’s
((olhando para o quadro, baixinho) some wrong there are
some mistakes
Angélica: Yes ((levanta-se e vai ao quadro fazer algumas
correções))
Ana: Yeah, we’ll help you to correct. Chris, Bárbara ((olha para
as alunas, solicitando sua contribuição))
Angélica: Eu queria falar they should ((com
dificuldades de pronúncia))
Ana: Should? ((corrigindo a pronúncia))
Angélica: Teacher showing they’re important
Ana: Showing they are important and ((estimulando Angélica a
completar))
Como discutido anteriormente, uma intrincada relação de fatores envolvidos
nessa questão. A própria presença da professora, compreendida pelo grupo como sendo
alguém mais competente, contribui para que as alunas direcionem para ela o processo de
correção dos textos. Além disso, a professora está incluída nesse processo de edição. Isso
pode ser observado no excerto acima, quando Ana utiliza as expressões I’m going to read
(eu vou ler) e “we’ll help you to correct(nós iremos te ajudar a corrigir). No primeiro caso a
professora centra em si o processo e no segundo ela abrange o coletivo, ao mesmo tempo que
se inclui. Isso por si só não seria um problema, ocorre, porém, que as alunas tendiam a ver a
professora não mais como um par na interação, mas como o par mais capaz, nos termos de
Vygotsky (1978), que poderia trazer contribuições mais significativas para o seu texto.
101
Depois de Ana ter solicitado a contribuição das alunas Chris e Bárbara, a aluna
Angélica retoma o turno e continua o diálogo com a professora. Pouco tempo depois, a
professora solicita novamente a participação de Chris e Bárbara que, desta vez, tomam o turno
de fala.
Excerto # 34:
Angélica: ((volta ao quadro, faz alguns ajustes e senta-se
novamente. Nesse momento, Nathalie termina de escrever e
senta-se ao fundo da sala))
Ana: ((lendo)) Teachers should teach cohesive devices
((falando para Angélica)) without the article ((Angélica vai ao
quadro, retira o artigo e volta. Ana continua a ler)) which
comprise the lexical words showing they are important and
encouraging students to recognize and use them in order to
have a better understanding of texts. ((voltando-se para a
classe)) Now Chris, Bárbara, what is the essay about? What
aspects of cohesive devices? How is she going to develop?
Chris: I think you should explain the lexical words to for the
students to understand how to comprehend a text. I think she’s
going to talk about the lexical words.
Bárbara: I think she’s going to show how you should use this
to prepare a better ((trecho incompreensível na gravação))
Ana: Well, there are many things you can do in the thesis
statement ((continua lendo o texto no quadro. Nathalie vem
para a primeira fila))
Observamos nesse excerto que, como descrito na literatura (CHAUDRON, 1988,
VAN LIER, 1988, TSUI, 1995), a professora muitas vezes é quem seleciona as próximas
falantes, mas isso não parece tratar-se de uma atitude para controlar o discurso de sala de aula
e sim de uma tentativa de estimular as alunas a contribuirem com o trabalho da colega. Muitas
vezes, como veremos a seguir, são as alunas que selecionam a professora como próxima
falante. Esse padrão emergente nos seminários face-a-face de revisão colaborativa de textos
indica uma expectativa das alunas de que a professora corrigisse seus textos, embora tivesse
sido estabelecido de antemão que o foco da disciplina era a revisão colaborativa entre os
pares. Já no ambiente on-line, essa necessidade de receber o feedback da professora é expressa
em e-mails enviados para a lista e não no fórum eletrônico onde ocorria a edição entre os
pares. Ocorre que nas aulas on-line as questões de gerenciamento e a atividade-fim da
disciplina, duas partes constitutivas dos eventos de aula, ocorriam na lista de discussão e no
fórum eletrônico, respectivamente, enquanto na sala de aula não havia essa distinção.
Excerto # 35:
102
Angélica: Ana, I found another book in the library on academic
essays
Ana: Ah!
Angélica: And the name ((abre a pasta e começa folhear uns
papéis)) I bring it for you
Ana: For us ((risos))
Angélica: For us ((risos)). Éh ((abre um envelope e continua
procurando))
Bárbara: Ana, in my essay I used this
Ana: Thesis statement
Bárbara: But I put it in the fourth paragraph. I used the
arguments to make it ãhm the main idea of the ãhm controlling
idea. So it’s not a thesis statement anymore I need another one
in the first paragraph
Ana: ((Olha o texto)) No. Ok
Bárbara: But in the fourth paragraph
Ana: Hum?
Bárbara: The fourth paragraph
Ana: The fourth paragraph
Bárbara: Because I gave my arguments on the subject ((trecho
incompreensível na gravação))
Ana: Ah yes. You put your arguments in the fourth paragraph.
It’s too far from the thesis statement
Bárbara: Yeah. If I so I need another one in the first or second
paragraph?
Ana: ((olha o texto novamente)) You may be right, but ãhm it
can be useful for an argumentative essay but ãhm you may be
right ((trecho incompreensível na gravação))
Bárbara: Yes because I used an idea that it’s the same.
Computers in computers you aren’t going to see body language
and I can use this to start talking about the thesis of my essay
Ana: Aah sim! Use it in the end. In the end too. It’s ok ((olha
agora para as demais alunas))
Angélica: ((pega a folha com o nome do livro e entrega a Ana))
Bem aqui o nome. In the library ((trecho incompreensível na
gravação))
Ana: This is the one we use for integrated skills
Angélica: Ãh it’s more step by step
Ana: Yeah. We start in one, go on in two and finish in three.
It’s the one. It’s very good ((risos))
A aluna Angélica chama a professora pelo nome e fala de um outro livro que
encontrou sobre escrita acadêmica, inciando, assim, um diálogo com ela. Em seguida, Bárbara
faz o mesmo e começa a conversar com a professora sobre seu texto. Mais adiante, como
antes, Angélica não usa o vocativo, mas entrega uma folha com o nome do livro para a
professora e informa que o encontrou na biblioteca. Como nas duas situações anteriores,
Angélica passa o turno de fala para Ana.
103
Utilizando-se dessas ou de outras estratégias, as alunas muitas vezes selecionam a
professora como próxima falante, seja para dar uma informação, seja para fazer um
comentário ou (mais comumente) para solicitar auxílio em seu texto. Como a professora é
vista como a especialista, as alunas valorizam mais seus comentários que os das colegas; e
tentam obter com freqüência uma ajuda ou um parecer dela sobre os textos escritos. Embora
estivesse estabelecido que o objetivo do seminário seria a revisão colaborativa entre os pares e
que haveria um momento posterior para que a professora fizesse as correções individuais e as
encaminhasse via e-mail, as alunas buscavam sempre a contribuição da professora durante os
seminários.
Outra questão é que, por ser a professora a autoridade em sala de aula, quando
ninguém é selecionado ou se auto-seleciona como próximo falante, é ela geralmente quem
toma o turno de fala. Assim, é natural que na contagem geral dos turnos a professora apareça
com um maior número.
Retomando a tabela 4, poderíamos, num primeiro momento, inferir que a aluna
Angélica (176 turnos) é mais falante, seguida de Chris (122 turnos), Nathalie (68 turnos) e
Bárbara (41 turnos). Ainda poderíamos interpretar, a partir da contagem de turnos por tópicos,
que foi privilegiada a edição dos textos das alunas Angélica (384 turnos) e Chris (112 turnos)
em detrimento da edição dos textos de Bárbara (33 turnos) e Nathalie (75 turnos). No entanto,
outras questões precisam ser consideradas. Em primeiro lugar, a aluna Angélica não é a mais
falante em sala de aula, conforme observado ao longo do semestre letivo. O seu grande
número de turnos (57,2% da soma dos turnos de fala das colegas) deve-se, principalmente, às
contingências desse seminário, do processo de revisão/edição do seu texto e de suas
dificuldades na escrita acadêmica em inglês. Portanto, essa diferença nos números de turnos
104
Tabela 5: Atividades on-line no período de 12 a 19/11/2004
Ambiente
Nome
Lista de Discussão Fórum Eletrônico Totais
Ana 11 01 12
Angélica 01 06 07
Amanda 00 05 05
Bárbara 00 06 06
Chris 03 06 09
Clara 01 06 07
Nathalie 00 05 05
Totais 16 35 51
Fonte: Dados de pesquisa
O pequeno número de emissivas computadas nos ambientes on-line nessa semana,
porém, não significa, necessariamente, que esses ambientes tenham ficado esvaziados. Em
primeiro lugar, é preciso considerar a natureza das interações em cada um desses contextos.
Em sala de aula, por se tratar de uma interação face-a-face, a interação apresenta uma
dinâmica em que os falantes alternam constantemente conforme a organização de tomada de
turnos conversacionais descrita por Sacks, Schegloff e Jefferson (1974). na lista de
discussão e no fórum, por se tratarem de ambientes assíncronos, um falante não interrompe o
outro, o que pode contribuir para a redução do número de emissivas. Porém, como os
ambientes assíncronos possibilitam uma elaboração do texto antes de sua postagem, as
emissivas enviadas para esses ambientes tendem a ser muito mais extensas e estruturadas que
um turno de fala da interação face-a-face.
A primeira mensagem da lista foi enviada em 31 de agosto de 2004:
Excerto # 36:
From: Ana <ana@...>
Date: Tue Aug 31, 2004 9:15pm
Subject: First message
Hello, guys,
Below is the link to our forum, where you're going to interact
with your group to edit your compostitions.
http://www.voy.com/184050/
See you on Wednesday,
Ana
Como as aulas em sala de aula convencional haviam iniciado desde o princípio
de agosto, não houve qualquer apresentação na lista de discussão. Esse primeiro e-mail visava
apenas informar o endereço do fórum onde deveriam ser postados os textos produzidos pelas
alunas e realizada a atividade de edição.
105
Como a participação na lista não era obrigatória, houve pouca interação entre as
alunas nesse ambiente. A maioria das emissivas da lista foi enviada pela professora, para
quem também convergia a maioria das emissivas enviadas pelas alunas. As emissivas da
professora, geralmente, referiam-se a informes, respostas a questionamentos ou comentários
sobre os textos produzidos pelas alunas. As emissivas enviadas pelas alunas, por outro lado,
envolviam, na maioria das vezes, questionamentos e outras solicitações.
As interações ocorridas nesse ambiente não se enquadram nos padrões de discurso
de sala de aula tradicionalmente encontrados na literatura. Conforme afirmado anteriormente,
a professora não controlava a participação na lista, nem mesmo estabeleceu a obrigatoriedade
de participação por meio do envio de qualquer e-mail durante a semestre letivo. Todos os
cadastrados na lista eram participantes legitimamente autorizados, referendados pela
professora, pela instituição e pelo grupo e, portanto, poderiam se manifestar em qualquer
momento. Essa liberdade de participação e de não participação, somada ao fato de que a
atividade-fim da lista (gerenciamento da disciplina) era também realizada em certos
momentos da aula face-a-face, facultou a algumas alunas a pouca participação na lista ou
mesmo não participação.
Durante a execução da tarefa 5, entre 12 e 19 de novembro, as alunas Amanda,
Bárbara e Nathalie não enviaram e-mails para a lista. Dos 16 e-mails enviados nesse período,
11 foram enviados pela professora, 03 pela aluna Chris e os outros 02 pelas alunas Angélica e
Clara. Todos os e-mails enviados pelas alunas nesse período foram endereçados à professora.
Dessa forma, mesmo não controlando o envio de e-mails para a lista, foi a professora quem
mais participou dos eventos ocorridos nesse ambiente, fato que foi observado não no
período de execução da tarefa 5, mas no e,entbm
106
professor aceita, avalia ou simplesmente comenta. A série de atos que formam essa estrutura
nem sempre ocorre no contexto em questão, em alguns casos, as alunas também iniciavam
tópicos, como nos excertos a seguir:
Excerto # 37:
From: Chris <chris@...>
Date: Fri Nov 12, 2004 6:16pm
Subject: Re: TASK 5
Ana
I’ve already posted my TASK 5. I was waiting you to invite us
to put our task 5, so I did not want to any longer and decided I
put it under task 4 but unfortunately it appears below tasks. I’m
afraid people won’t see it.
Have a nice holiday.
Chris
Excerto # 38:
From: Ana <ana@...>
Date: Sat Nov 13, 2004 11:18am
Subject: Re: Re: TASK 5
Please, Chris if you can, post it again under task 5.
Yours,
Ana
Esse tópico iniciado pela aluna Chris refere-se à tarefa 5 do fórum eletrônico, no
qual a professora criava um tópico referente à tarefa da semana e as alunas postavam, na
seqüência, seus textos e edições dos textos das colegas. Como existia um cronograma de
atividades a serem executadas, a aluna tomava a iniciativa de postar sua tarefa 5 no tópico da
tarefa 4 e enviava um e-mail para a lista informando essa ação à professora. O tópico na lista
é, portanto, iniciado pela aluna e não pela professora, como descreve o modelo IRF, discutido
anteriormente.
Em alguns casos, estabelece-se uma estrutura interacional semelhante ao padrão de
discurso de sala de aula tradicionalmente descrito pela literatura, no qual o professor inicia a
interação, o aluno responde e o professor comenta ou avalia:
Excerto # 39:
From: Ana <ana@...>
Date: Sat Nov 13, 2004 2:00pm
Subject: forum
Girls,
I’ve copied all texts which were under task 4 and pasted them
into Task 5. Clara, I did not find yours. Where have you posted
it?
107
Yours,
Ana
Nesse e-mail, a professora apresenta a solução dada à questão da postagem da
tarefa 5, e na seqüência passa o turno de fala para a aluna Clara. Como podemos observar a
seguir, a aluna Clara responde e a professora comenta, formando o padrão IRF:
Excerto # 40:
From: Clara <clara@...>
Date: Mon Nov 15, 2004 0:27am
Subject: Re: forum
Hi Ana! I have just read your message and could not undrstand
it till I checked the forum and saw that my task was not there. I
think I had a kind of technical problem once I had posted it on
Saturday morning. Hope you take this into account.
Sorry XXX Clara
Excerto # 41:
From: Ana <ana@...>
Date: Mon Nov 15, 2004 0:43pm
Subject: Re: forum
Ok, Clara, I’ll accept it.
See you on Wednesday,
Ana
A estrutura IRF, porém, ocorre de forma bastante atípica, pois se trata de uma
interação assíncrona mediada por computador. O e-mail de iniciação da professora foi enviado
às 14 horas do sábado, 13 de novembro de 2004. A resposta da aluna Clara foi enviada na
segunda, 15 de novembro de 2004, 0 hora e 27 minutos. O comentário da professora foi
encaminhado no mesmo dia, às 12 horas e 43 minutos. Além da distância temporal entre cada
um desses atos, o e-mail de iniciação da professora e a resposta da aluna Clara são
intercalados por um e-mail da aluna Chris e uma resposta da professora, enviados no sábado
às 14 horas e 58 minutos e às 16 horas e 23 minutos, respectivamente.
Nesse ambiente, também não se estabelece o padrão de discurso de sala de aula
que, de acordo com autores como Chaudron (1988), Van Lier (1988), Tsui (1995), Cook
(1986), McCarthy (1991) e Dalacorte (1999), tem demonstrado ser, essencialmente, centrado
no professor que, geralmente, controla a dinâmica da troca dos turnos de fala. Na estrutura
interacional de iniciação, resposta e comentário expressos nos excertos 44, 45 e 46, a
professora transfere o turno para a aluna Clara, de maneira similar ao que é tradicionalmente
encontrado no discurso de sala de aula. No entanto, entre o ato da professora em nomear a
aluna como próxima falante e a tomada do turno por parte da referida aluna, houve dois turnos
108
intercalados. Além disso, essa não é a estrutura típica das interações ocorridas nesse ambiente.
Em geral, cada participante toma livremente o turno, pois não há a limitação de um falante por
vez que, segundo Sacks, Schegloff e Jefferson (1974), caracteriza organização de tomadas de
turno na conversação.
Diferentemente da lista de e-mails, a participação no fórum eletrônico era
obrigatória, pois essa participação era computada como presença nas aulas on-line. Além
disso, as atividades desse fórum envolviam tarefas de produção de texto e edição em pares
previamente definidas.
As mensagens postadas no fórum assemelham-se bastante em sua estrutura aos e-
mails enviados para a lista de discussão. Em seu convite para a realização da tarefa 5, por
exemplo, a professora inicia sua emissiva com o vocativo “Girls” e fecha com “Yours”,
seguido de seu nome. Como pudemos observar anteriormente, essa estrutura estava também
presente na lista de discussão. Era comum, por exemplo, a professora enviar e-mails para a
lista iniciando com o mesmo vocativo “Girls” e fechando com “Yours”, seguido de seu nome.
Tanto na lista de discussão quanto no fórum eletrônico essa era a forma padrão de abertura e
fechamento das emissivas da professora, quando estas eram endereçadas ao grupo e não a um
interlocutor em particular.
Essa grande semelhança entre as mensagens do fórum e os e-mails da lista de
discussão sugere que a estruturação das mensagens não foi unicamente determinada pelas
características do meio eletrônico. É preciso considerar, além das especificidades de cada um
desses meios, as funções atribuídas a cada um deles nesse contexto sob investigação.
Os textos postados pelas alunas no fórum apresentam características do gênero
texto acadêmico e não de interação on-line, pois eles eram produzidos offline e depois
postados no fórum. Além disso, o foco da disciplina era a produção de textos no gênero
acadêmico, o programa previa como meta o “desenvolvimento da habilidade de escrita de
textos acadêmicos”.
A estrutura das mensagens postadas pelas alunas no fórum assemelha-se bastante
à estrutura típica dos e-mails enviados para a lista, o que é mais um indício de que os
diferentes meios eletrônicos não foram os determinantes essenciais das formas lingüísticas
prevalentes nesses ambientes. Havia muita semelhança quanto à forma lingüística das
mensagens postadas em cada um desses ambientes, e a estrutura utilizada pela professora era
bastante parecida com a de bilhetes, recados e cartas informais comumente escritos em papel,
característica do gênero e-mail, segundo Paiva (2004)
109
A ausência de vocativo ou de assinatura em algumas mensagens enviadas para a
lista ou postadas no fórum é também algo que se destaca nesse sistema. Essa ausência, no
entanto, não prejudica a comunicação nesses ambientes, pois a estruturas dos softwares
identifica os autores das mensagens.
No fórum, a maneira como o software organizava as mensagens também facilitava
a identificação dos interlocutores:
Task 5 -- Ana, 16:03:56 11/12/04 Fri [36]
o
Re: Task 5 -- Bárbara, 18:05:52 11/12/04 Fri [1]
Re: Task 5 -- Paula, 12:19:18 11/14/04 Sun [1]
Re: Task 5 -- Chris's comments, 02:33:43 11/16/04 Tue [1]
Re: Task 5 -- Angélica, 15:33:38 11/18/04 Thu [1]
Re: Task 5 -- Clara, 16:35:57 11/18/04 Thu [1]
Re: Task 5 -- Nathalie, 04:00:01 11/19/04 Fri [1]
Como podemos observar nesse exemplo, o fórum organiza as mensagens em
diferentes níveis e identifica as respostas por “Re:”. Além disso, os autores das mensagens são
também identificados. No primeiro nível, estava o convite da professora para a apresentação
da tarefa. No segundo nível, as respostas ao convite ou instrução da professora. Então, nesse
caso, antes mesmo de abrir o arquivo, as alunas sabiam se tratar do texto produzido pela
colega Bárbara, o qual deveriam ler e editar. No terceiro nível, estavam as correções e
comentários sobre o texto da aluna Bárbara. Portanto, a ausência de vocativo no princípio da
mensagem ou do nome da autora no final não prejudicava a comunicação.
No fórum, o espaço para a inserção dos textos e comentários pede a
identificação. Apenas a expressão (título/humor) para acompanhar o nome e o endereço de e-
mail eram opcionais. As participantes deviam necessariamente informar seu nome e o assunto
para postar uma mensagem no fórum. Como nessa disciplina era a professora quem sempre
abria os tópicos no fórum, o próprio sistema fornecia o assunto da mensagem original
criada pela professora antecedida pela identificação RE: (resposta). Algumas alunas
mantinham o assuto fornecido pelo software.
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Notice: Copies of your message may remain on this and other systems on internet. Please be
respectful.
Figura 2: Formulário de mensagem do fórum
Por outro lado, os textos produzidos pelas alunas e postados no fórum não trazem
nenhuma marca de interação on-line ou mesmo de bilhete ou carta informal como os e-mails
da lista ou recados postados no fórum. Esses textos foram produzidos no formato do gênero
texto acadêmico, conforme os objetivos da disciplina “Inglês: Produção de Textos”. No
entanto, as mensagens de correção são caracterizadas por uma estrutura mais informal de
bilhete ou recado. Como se trata de um contexto formal de aula, essas mensagens não se
caracterizam pela informalidade e hibridismo comumente descritos na literatura sobre o texto
eletrônico. As principais características lingüísticas dos textos produzidos tanto no fórum
quanto na lista de discussão são, portanto, essenci
111
Uma outra questão é que esse pequeno número de emissivas encontrado nos
ambientes on-line é influenciado pelo próprio desenho pedagógico da disciplina que previa
discussões nesses ambientes como as ocorridas nos seminários face-a-face. Isso fica evidente
quando comparamos as interações ocorridas nesses ambientes on-line com aquelas
apresentadas em estudos como os de Paiva e Rodrigues Júnior (2004, 2007), Martins (2004,
2005b, 2006b), Parreiras (2005), Braga (2007) e Silva (2008). Nesses estudos, mesmo as
ferramentas tecnológicas utilizadas sendo as mesmas (lista de discussão em alguns casos e
fórum on-line em outros), o número de mensagens postadas nos ambientes on-line é bastante
expressivo. Na disciplina “Inglês: produção de textos”, a lista de discussão foi destinada muito
mais para recados, avisos, esclarecimento de dúvidas e outras questões de gerenciamento da
disciplina. O fórum eletrônico, mesmo sendo destinado à edição de textos entre os pares, não
previa a discussão entre as participantes. Cada aluna devia postar apenas seu texto e sua
edição dos textos das colegas. Considerando que na semana de execução da tarefa 5 as alunas
da disciplina eram 6, era esperado que elas postassem um total de 36 mensagens no fórum.
Isso não ocorreu, ou melhor, apenas 34 mensagens foram postadas, pois as alunas Amanda e
Nathalie deixaram de postar suas edições de textos.
Além disso, o fato de esse contexto envolver a mesma disciplina, a mesma professora
e as mesmas alunas em aulas on-line e face-a-face, muitas das questões sociais relatadas por
Martins (2004, 2005b, 2006b), Parreiras (2005) e Braga (2007) não foram significativas nem
na lista de discussão nem no fórum eletrônico. Considerando a maior proximidade da
interação face-a-face e o fato de que os ambientes on-line utilizados o permitiam a
interação em tempo real, as manifestações socioafetivas ocorreram muito mais em sala de
aula e nos corredores que nos ambientes on-line.
Nessa comunidade de aprendizagem, por se tratar de um ecossistema complexo de
sala de aula, parte dos eventos ocorreu de forma diferente do que foi planejado. Em um
momento do curso, por exemplo, a aluna Angélica enviou para a lista uma tarefa que deveria
ter sido postada no fórum. A professora solicitou à aluna que postasse seu texto no fórum para
que as colegas o editassem. Diversas outras questões não previstas fizeram com que o sistema
se reorganizasse, como podemos observar nos excertos a seguir.
Excerto # 42:
112
From: Amanda <amanda@...>
Date: Sat Sep 25, 2004 2:22pm
Subject: voy
Hi, eveybody!
I'm writing just to say that the page www.voy.com/184050 is
not working today, so it is impossible to correct my friends's
composition. I hope tomorow everything is ok.
Bye,
Amanda.
A indisponibilidade do uso do fórum em certos momentos do semestre letivo fez
com que as atividades de edição de texto fossem adiadas ou transferidas para a lista de
discussão. Isso indica a dinamicidade do sistema que, diante da indisponibilidade de uma das
ferramentas tecnológicas, se auto-organiza e passa a utilizar a outra que inicialmente não tinha
essa função. Além da auto-organização do sistema em relação à tecnologia, ocorre a auto-
organização também em relação às tarefas.
A organização da tarefa de edição entre os pares também passou por
reorganizações à medida que os eventos foram se modificando nesse ecossistema. Uma dessas
modificações, como observaremos no excerto a seguir, decorreu da desistência de duas alunas,
o que inviabilizou a continuidade dos grupos estabelecidos no início do semestre para as
atividades de edição dos textos:
Excerto # 43:
From: Ana <ana@...>
Date: Sun Oct 24, 2004 10:52pm
Subject: Task 4
Hello, girls,
I'd like to suggest one more chance to the dynamics of the on
line work. As you are only six students now, and two editions
is not at all enough, I'd like to propose that all of you give
feedback to all your classmates. This way we wouldn't have
two groups any longer, but one only group and each of you will
have to revise five texts. I know it means more work, but it may
also mean better texts, right? So, let's begin doing that right
now for task 4, all right?
See you,
Ana
A turma foi inicialmente dividida em dois grupos para a atividade de edição em
pares no fórum. A desistência de duas alunas pôs fim a essa divisão, a partir de então, todas as
alunas passaram a ter a tarefa de ler e editar os textos de todas as colegas. Esse remanejamento
ilustra como a comunidade se auto-organiza e se adapta diante de alterações contextuais,
113
garantindo a manutenção da sua coerência ou, nos termos de Holland (1997), garantindo a sua
sobrevivência.
Nas aulas face-a-face, nos primeiros momentos da disciplina, antes do início dos
seminários de edição colaborativa de textos, os eventos de aula giravam mais em torno da
professora. Essa primeira parte da disciplina envolvia a leitura de textos sobre escrita
acadêmica, com resolução de exercícios e correção em sala de aula, exposições e orientações
da professora sobre as tarefas que as aprendizes deveriam realizar e, em certos momentos,
correção por parte da professora das primeiras versões dos textos das alunas. Em geral essa
correção pela professora era feita fora da sala de aula, após a edição entre os pares no fórum
on-line. Porém, na tarefa 1, a professora solicitou às alunas que, após o processo de edição no
fórum, elas reorganizassem seus textos, imprimissem e levassem para a sala de aula.
Na aula face-a-face seguinte à realização da tarefa 1 no fórum, as alunas levaram
seus textos impressos e estes foram corrigidos essencialmente pela professora, embora ela
demonstrasse um propósito de que isso fosse feito pela classe, como veremos a seguir:
Excerto # 44:
Clara: Ana, first I’d like you to take a look at my outline.
Ana: ((Olhando para a classe)) So let’s have a look at Clara’s
outline.
A professora Ana, após a solicitação da aluna de que seu texto fosse analisado,
direciona para a turma como um todo e sugere que isso seja feito. A sua ação sugere um
propósito de que essa análise do texto de Clara fosse feito pela turma. No entanto, com o uso
da expressão let’s”, a professora se inclui nesse processo e não apenas sugere que as colegas
façam isso. O que se segue é um diálogo entre a professora e a aluna sobre seu texto e não um
processo de edição coletiva, como sugere a fala da professora no excerto anterior. No excerto
a seguir temos mais um recorte desse diálogo da professora com a aluna:
Excerto # 45:
Clara: But I have to because do not have a symmetry.
Ana: Uhum. And they don’t have a symmetry that’s why it’s
always good to have parallel structures because it’s this, this
and that.
Clara: But not ((a professora e a aluna falam simultaneamente,
o que torna esse trecho incompreensível na gravação)). I don’t
know how to include this in my thesis statement. How can I
make this?
114
Nesse diálogo que se seguiu por alguns minutos sem a participação das demais
alunas da classe, Clara solicita à professora as correções e orientações para a reorganização do
seu texto. Já que a professora se incluía no processo de edição e as alunas a viam como uma
participante mais competente, elas tentavam freqüentemente buscar nela o suporte que
precisavam:
Excerto # 46:
Chris: Ana, now we after that part ((referindo-se ao texto lido
em sala de aula)) I have an idea about how to rearrange my
essay
Ana: ((Simultaneamente à fala de Chris)) Ok.
Chris: again uhm the paper you my essay you read was (( outra
aluna fala algo simultaneamente e o trecho fica
incompreensível)). Now when I’m supposed to reorganize this
essay?
Através do uso do vocativo, como no caso acima, ou por meio de olhares e gestos
para a professora, as alunas tentavam direcionar para ela o processo de correção. A professora,
embora afirme nas entrevistas que o seu papel nesses momentos de aula era tentar incentivar e
impulsionar a participação das alunas nesse processo de edição colaborativa, em alguns
momentos ela aceita a solicitação das alunas e acaba realizando a correção. Nesses momentos,
as aulas estabeleciam-se como séries de diálogos da professora com a aluna cujo texto estava
sendo corrigido, de forma similar às conferencias de correção de textos entre um professor e
um aluno descritas por Figueiredo (2004). No caso da disciplina “Inglês: produção de textos”,
porém, essa conferência ocorria com uma platéia (demais alunas da classe) a quem a
professora por vezes se dirigia e que eventualmente era chamada a participar. No entanto,
como afirma Figueiredo, citando Walker (1992), “o domínio do professor não se torna um
problema se o foco da interação for as reais necessidades dos alunos” (2004, p. 128).
Essa participação da professora foi reconfigurada nos seminários de edição de
textos, dos quais a classe, de fato, participava revisando os textos das colegas. Nesse processo
de edição, a professora também se incluía como participante, mas tentava estimular a
participação das alunas. A professora afirma que em sala de aula tentava estimular e
direcionar a participação das alunas por ser o fórum o momento das alunas, no qual ela não
queria interferir. O fato de a professora se colocar como participante dos seminários face-a-
face, aliado à ansiedade das alunas de terem seu texto corrigido por ela e a crenças e
concepções sociohistoricamente construídas sobre os papéis de professores e alunos em sala
115
de aula, contribui para que nesses seminários as alunas esperassem pela correção de seus
textos ou que as edições feitas por elas fossem referendadas pela professora.
Não estou defendendo aqui que a professora devesse sair de cena para que o
processo de edição acontecesse entre as alunas. Como ocorre em um seminário de edição de
textos em que ela, propositadamente, sai da sala por um certo tempo. Também não estou
defendendo que a professora não devesse interferir no processo de edição ocorrido nos
seminários, masmo sabendo que as pesquisas sobre correção de textos em conferência entre
professor e aluno e correção com os pares não são conclusivas sobre a maior eficácia de um
ou outro modelo. A perspectiva ecológica aqui adotada retira o foco da tensão entre a
centralização no professor e a centralização no aluno e concentra-se nas relações ocorridas nos
eventos de aula.
Como aponta Figueiredo (2001), encontram-se na literatura estudos que destacam
os pontos positivos de um modelo de correção, outros destacam pontos positivos do outro ou
mesmo de ambos. Segundo esse autor, a conferência, por se tratar de um tipo de diálogo,
possibilita o levantamento de problemas, mudança de tópicos e encorajamento ou
desencorajamento para a elaboração de certos tópicos. Dessa forma, o texto escrito passa a ser
“uma co-construção da interação entre o professor e o aluno” (op. cit., p. 52). O que estou
ressaltando aqui é que, na sala de aula em questão, o posicionamento da professora como
participante do processo de edição dos textos e até mesmo a sua presença imediata têm
implicações para as dinâmicas ocorridas nesse contexto.
Como apontam Davis e Simmt (2003), o controle descentralizado é uma condição
essencial da complexidade em sala de aula. De fato, se todos os movimentos do sistema
fossem rigidamente controlados, não haveria espaço para a auto-organização e emergência.
Porém, os estudos sobre a complexidade demonstram que esse controle absoluto é impossível
em sistemas complexos. Como afirma Johnson (2001), o controle descentralizado é uma
característica de qualquer sistema emergente. Segundo Sumara e Davis (2006), o controle
descentralizado no contexto educacional não deve ser interpretado como a condenação da sala
de aula centrada no professor nem a defesa da sala de aula centrada no aluno, pois em certas
circunstâncias nenhuma dessas abordagens serve de sustentação para a complexidade e em
outras circunstâncias ambas as abordagens exercem esse papel. Segundo eles, “um elemento
116
chave no ensino efetivo não é manter ou abrir mão do controle, mas sim dispersar ou distribuir
o controle através das redes de relações na sala de aula”
69
(op cit, p. 48).
No fórum eletrônico, a professora não se colocava como participante do processo
de edição de textos, apenas postava as instruções em cada tarefa e deixava que esse processo
fosse realizado pelas alunas. Isso fazia parte do desenho instrucional da disciplina, pois,
como relata a professora em entrevista, esse seria um momento das alunas. O fato de a
professora não se colocar como participante nessas interações e a sua não presença (virtual) no
ambiente eletrônico, durante o processo de edição, certamente têm implicações significativas,
como demonstrado a seguir na análise do processo de revisão colaborativa de textos no fórum
on-line e nos seminários face-a-face.
Considerando que a professora e as alunas são as mesmas nos ambientes face-a-
face e on-line, permanecem as mesmas concepções e expectativas por parte da professora de
que as alunas devessem colaborar entre si, e por parte das alunas de que a professora
corrigisse seus textos ou referendasse suas correções. Uma diferença marcante é que a
imediaticidade da sala de aula, a presença física das participantes no mesmo ambiente e a
dinâmica conversacional que se estabelece possibilitam que as intervenções da professora e as
solicitações de feedback por parte das alunas ocorram no curso do processo de edição dos
textos. No caso das interações on-line, não havia uma ferramenta interacional sincrônica
através da qual as alunas poderiam fazer contato com a professora em tempo real. Além disso,
não havia um horário, nem mesmo um dia estabelecido para a realização da escrita e das
edições dos textos. Assim, quando as alunas necessitavam de alguma ajuda ou esclarecimento
por parte da professora, elas tinham que encaminhar um e-mail para a lista ou diretamente
para a professora e aguardar o retorno. Nas aulas on-line, então, a professora conseguia mais
facilmente afastar-se do processo de edição de textos e deixar que ele fosse de fato realizado
entre os pares.
No entanto, nas aulas on-line a professora também não abria mão totalmente do
controle. No fórum, ela postava no início de cada tarefa instruções específicas sobre como ela
deveria ser executada. Então, a professora estava metonimicamente presente nas tarefas em
todas as etapas do fórum. Além disso, havia também a lista de discussão que se configurou
essencialmente como um espaço de gerenciamento de atividades das atividades on-line por
69
Minha tradução de “a key element in effective teaching is not maintaining control or relinquishing control but,
rather, in dispersing or distributing control across the network of relationships in the classroom.”
117
parte da professora. Nesse espaço ela dava instruções, corrigia eventuais distorções, dava
feedback em relação às tarefas, determinava os prazos, entre outros.
Portanto, mesmo nas aulas on-line a professora mantinha certo controle sobre os
eventos ocorridos nesse ambiente, pois o desenho pedagógico da disciplina e a presença da
professora na lista implicam certa forma de controle. O controle, no entanto, é sempre
parcial, pois nessa ecologia de aprendizagem de línguas, como um sistema complexo, muitos
eventos são totalmente imprevisíveis.
Ocorrem, na disciplina “Inglês: produção de textos”, movimentos de
descentralização, partindo de um primeiro momento das aulas face-a-face onde os eventos de
aula eram mais direcionados pela professora, passando para uma maior descentralização nos
seminários face-a-face e, por fim, para o processo de revisão colaborativa entre os pares no
fórum on-line, onde a professora se reposiciona e oferece em seu desenho instrucional
oportunidades de as alunas interagirem sem sua intervenção direta. Mesmo nos momentos
mais iniciais das aulas face-a-face, a professora não controlava todos os eventos ocorridos na
dinâmica da comunidade. De fato, como sugerem Davis e Simmt (2003) sobre a sala de aula e
como fala Johnson (2001) sobre diversos sistemas emergentes, o controle descentralizado é
uma característica essencial de sistemas complexos.
Como destacam autores como Johnson (2001), Davis e Simmt (2003), Bowsfield
(2004) e Davis e Sumara (2006), a emergência não pode ser causada, uma vez que é um
fenômeno de surgimento espontâneo, mas ela pode ser ocasionada de acordo com as restrições
e possibilidades estabelecidas no interior do sistema. Assim, no contexto educacional, os
fenômenos emergentes em uma comunidade de aprendizagem podem estar intimamente
relacionados à própria estrutura do desenho instrucional que ao mesmo tempo estabelece
restrições e possibilidades dentro do sistema.
Apesar de essa comunidade não apresentar um padrão de distribuição de liderança
como o relatado nos estudos empíricos de Braga (2007), a descentralização do controle
observada nas interações no seminário e no ambiente on-line, principalmente, favorece a
emergência de padrões comuns aos sistemas complexos adaptativos. Observa-se dinamicidade
quando a comunidade, diante de alterações contextuais, muda de estado através da auto-
organização, possibilitando a emergência de uma nova ordem que garante que o sistema
continue funcionando mesmo diante de adversidades. Sendo assim, ao demonstrar alguns
desses padrões de emergência e auto-organização, esses indícios reforçam que o sistema está
em evolução e que o reposicionamento da professora, aliado ao desenho instrucional
118
(seminário e fórum), parece garantir oportunidades para que o sistema evolua tanto em nível
micro quanto em macro, se considerarmos a emergência desses padrões.
5.3.2 – O processo de revisão colaborativa de textos em aulas on-line e face-a-face.
Como relatado, o processo de revisão colaborativa nessa comunidade de
aprendizagem ocorreu essencialmente no fórum on-line e nos seminários face-a-face, embora
algumas correções específicas tenham sido feitas em outras aulas face-a-face. Em sala de aula,
o processo de revisão era feito com toda a turma, com a escrita no quadro-negro das seções do
texto a serem editadas, no caso do primeiro seminário, ou com a entrega do texto impresso a
cada uma das participantes ou apresentação em retroprojetor, no caso dos demais seminários.
Esse processo de edição nos seminários não se trata do tipo de correção com toda
a turma de que fala Figueiredo (2001) sobre um tipo de correção com toda a turma adotado
geralmente quando o professor trabalha com turmas grandes. Segundo esse autor, na correção
com toda a turma, “o professor seleciona alguns tipos de erros e trabalha-os no quadro-negro
ou com o auxílio de um retroprojetor juntamente com os alunos” (op.cit., p. 51). No caso
particular da disciplina “Inglês: produção de textos”, a turma era pequena e foi isso, como
afirma a professora em entrevista, que possibilitou a realização dos seminários com edição
dos textos de cada aluna:
Excerto # 47:
Ana: Éh eu acho, Antônio Carlos, éh eu gosto muito de ter
contato com o aluno, eu acho, eu concordo com eles que o ideal
seria que fosse o curso todo presencial isso pra mim, a minha
crença né, mas essa questão de edição no presencial ela não
funciona realmente não funciona. Eu acho que tem que ser on-
line mesmo acho que a experiência deu certo por isso que to
querendo repetir do mesmo jeito, mas a questão dos workshops
mostrou como pode ser rica essa interação na sala de aula mas
ai precisava que você tivesse uma turma do tamanho dessa que
eu tive não pode ser mais de seis alunos não cabe, não pode
fazer um workshop falando da vida de cada um, das thesis
statements, da introdução de cada um, dos outlines de cada um,
todo mundo avaliando não tem como então teria que ter uma
turma pequena como essa foi e uma turma que tivesse
conhecimento dessa não começar do zero como teve caso nessa
turma e que eles cumprissem os compromissos né, olha tal dia
a composição aqui e a composição tá ai naquele dia, geralmente
não acontece isso.
119
Além da questão do mero de alunos, a professora também destaca no excerto
anterior sua preferência e de suas alunas por aulas face-a-face, mas defende que a edição deve
ser on-line, pois em suas experiências anteriores a edição em sala de aula não funcionou. A
preferência da professora por aulas face-a-face, segundo ela afirma, deve-se ao fato de ela
gostar de “ter contato com o aluno” e de considerar “rica a interação em sala de aula”. No
entanto, ela destaca que pretende oferecer novamente o curso nos mesmos moldes, por
considerar que os resultados foram positivos.
O processo de revisão realizado em cada um desses ambientes apresentou
características particulares, no que se refere ao foco das correções, questões afetivas e
especificidades de cada ambiente.
Como a professora destaca no excerto anterior, o foco das correções nos
seminários era, geralmente, voltado para questões mais globais de organização do texto, ao
passo que no fórum o foco variava de questões formais como gramática e ortografia a
questões gerais, como coerência e organização do texto.
Nesses seminários, o foco das revisões era, por vezes, determinado pelas alunas
que faziam questionamentos ou destaque de algum ponto particular do seu texto ou do texto
de uma colega. Na situação destacada no excerto 32, por exemplo, a professora estava
iniciando a aula quando foi solicitada a revisar o texto de uma aluna (first I’d like you to take
a look at my outline).
Muitas vezes, porém, era a professora quem determinava o foco por meio de
perguntas, comentários e orientações:
Excerto # 48:
Ana: Ok? So uhm thesis statement seminar. Ok, this has to be
your thesis statement for your final paper. It has to be very
clear yeah what you’re going to do and if uhm it must uhm to
help you in fact you know we don’t even need a thesis
statement but in order to help you we are going to do the thesis
statement and make it as explicit as possible for uhm writing
strategy. So it has to contain a main idea, the topic, the
controlling idea and way you’re going to develop your essay,
ok? So let’s try if it’s not there let’s try to do it , ok?
Portando, o foco das correções nos seminários era “orquestrado” pela professora,
que ela diz em entrevista ser o seu papel nesse contexto. No primeiro seminário, por exemplo,
como observado no excerto 41, o foco era a definição da tese (thesis stratement) que as alunas
desenvolveriam no texto final. Então, no início do seminário, a professora pediu que cada
120
aluna fosse ao quadro-negro e escrevesse a introdução do seu texto que deveria apresentar
uma definição clara do que seria desenvolvido. Iniciado o seminário, a professora ia seguindo
a ordem em que os textos foram escritos no quadro e solicitando a análise da turma. No
decorrer do seminário, porém, as alunas iam, espontaneamente, enfocando questões que
consideravam relevantes:
Excerto # 49:
Ana: ((Olha para o quadro)) Ok. So the second one. Rebecca
Oxford in her book ((continua lendo baixinho))
Chris: Which are learning strategies are… I’m confused about
Angélica: Éh éh não é mesmo
Chris: I put will be
Angélica: É will be eu colocaria will be num sei
Ana: ((novamente lendo baixinho)) learning strategies direct
and indirect ( )
Angélica: Senão seria which
Enquanto a professora e as demais alunas estavam lendo o texto no quadro, com
foco na organização geral do texto que seria desenvolvido pela aluna, Chris e Angélica
discutiam um ajuste lexical específico. O foco, porém, foi redirecionado com a intervenção da
professora.
Excerto # 50:
Ana: ((Continua olhando para o quadro)) Because Rebecca
Oxford classified between A and B. Which I’m going to talk
about? I’m going to talk about B or I’m going to talk about A
and B?
Bárbara: I thought she was not going to discuss
Ana: about
Chris: I, I
Bárbara: The kind of classification
Ana: It’s not very clear. We can have a number of ideas of
which is the object of this essay. So we can understand which
is the object of the essay? Maybe the object is indirect
strategies or may be both or maybe it’s the classification
itself.
Como observado no excerto, a professora direcionou o foco do seminário para o
propósito definido anteriormente, e as alunas passaram a discutir a redefinição do foco do
texto de Chris. Em outros momentos, a professora intervinha para ajustar o próprio processo
de edição.
Excerto # 51:
121
Nathalie: Why not to say that she’s going to talk about
cohesive devices? Cohesive devices should be the most
important ((pára e gesticula negativamente com a mão))
Ana: Let’s listen to one by one right?
Nathalie: Let me let me structure first.
Nos dois excertos acima, a intervenção da professora visava reorganizar a
dinâmica do seminário e instigar a participação das alunas. De acordo com as falas das alunas
em entrevista, muitas contribuíam com o trabalho das colegas quando solicitadas pela
professora.
Figueiredo (2001) destaca, a partir de uma ampla revisão da literatura, alguns
problemas apresentados pela correção com os pares. Dentre esses problemas, ele cita que
muitos alunos podem não confiar nos comentários feitos pelos colegas, também pode haver
certo constrangimento ou certa inabilidade por parte dos alunos em comentar o trabalho do
colega, ou os alunos podem preferir ter seus textos corrigidos pelo professor. Todos esses
problemas foram observados no processo de revisão colaborativa no curso. Como já discutido,
algumas alunas expressaram nas entrevistas o seu constrangimento em corrigir os textos das
colegas. Os dois outros problemas não foram mencionados nas entrevistas, mas se
apresentaram nitidamente no decorrer dos seminários. A preferência pela correção da
professora pôde ser observada em diversos momentos em que as alunas solicitavam da
professora e não das colegas a correção dos seus textos. Isso pode indicar também uma o
confiança nas correções feitas pelas colegas. Porém, isso se mostrava mais claramente nos
momentos em que, após as correções feitas pelas colegas, as alunas solicitavam o
posicionamento da professora referendando ou não as correções feitas.
Alguns desses problemas se apresentam nos excertos a seguir, referentes à edição
do texto da aluna Angélica em um seminário face-a-face.
Excerto # 52:
Angélica: ((Para a professora)) Help me with my ((ri)) my
((olhe para o quadro))
Ana: ((senta-se novamente e começa o texto de Angélica no
quadro))
Chris: Ok I’m definitely about this I’m sure about this I’m
because I have studied so much about this but not talked
much about this ((ri))
Ana: Ok Angélica. So did you make up your mind? Now you
have to help me first ((ri))
Angélica: Ok lexical items ok
Ana: Lexical items?
122
Angélica: Yes
Ana: Lexical cohesion? Yes?
Angélica: Yes
Nesse excerto, Angélica direciona-se para a professora e não para as colegas para
pedir ajuda na organização do seu texto. A aluna Chris destaca sua dificuldade em ajudar
nessa questão específica e a professora Ana, então, inicia um diálogo com a aluna Angélica
sobre o foco do seu texto. Ana, então, solicita que as colegas auxiliem Angélica.
Excerto # 53:
Ana: ((Olha para as demais alunas)) Help her Bárbara please!
Nathalie! Chris! Please help Angélica
Chris: Ok about the important
Angélica: Yes
Ana: I’m going to the teacher’s room while you help her when
I come back I want it ready ((ri))
Chris: Ok
((Ana sai da sala))
Nathalie: Portuguese time!
((Risos))
Nesse momento, a professora sai de cena para que o papel de editar o texto de
Angélica seja desempenhado pelas demais alunas. Imediatamente após a saída da professora, a
aluna Nathalie diz, com expressão de alívio, que seria momento de se falar em português.
Curiosamente ela diz isso em inglês. A saída da professora causou certa desestabilização no
sistema e o comentário de Nathalie causou risos e criou um momento de maior descontração
na sala de aula. Porém, após alguns instantes, Angélica chama as colegas para retomarem a
discussão do seu texto.
Excerto # 54:
Angélica: Yes ((faz um gesto com o braço, chamando as
colegas para ajudá-la))
Nathalie: Ok don’t ((olha para mim e ri))
Chris: ((Olha para mim)) Help us Carlos you are attending to
doctorate classes ((olha para as colegas e ri))
Nathalie: Teaching lexical cohesion I don’t understand about
this topic what can I do to help her?
Bárbara: I think to to improve student’s recognition and use
of cohesive devices
Angélica: Ãhm como é que é? Ela falô pra
Bárbara: Teaching lexical cohesion
Chris: Teaching the
Bárbara: Is an important task
Angélica: In order the students can understand
Bárbara: to improve the students’ recognition and use
123
Chris: ((ditando para Angélica)) to improve the students to
improve task. Tira in order. Take out in order
Angélica: Éh
Chris: to improve
Angélica: to improve
Chris: important task to improve
Angélica: to allow the students
Chris: to improve
Angélica: to recognize and use
Bárbara: cohesive devices while you
Chris: Ah vai ficar ah it’s going to be
Angélica: important task to allow the students to recognize
and use (+)
Chris: I can’t think éh collectively
((risos))
Angélica: Como é que é?
Nathalie: I can’t think while everybody is
Chris: thinking
Nathalie: doing the same
Ainda em meio à desestabilização causada pela saída da professora, a aluna
Nathalie olha para mim, começa a dizer algo, sorri e para. Na seqüência, a aluna Chris
também olha para mim e pede que eu as auxilie, alegando que eu estava cursando doutorado.
Ela então olha para as colegas e também ri. Imediatamente a aluna Nathalie retoma as
discussões sobre o texto de Angélica. A sugestão das alunas de se falar em português ou a
solicitação de que eu as auxiliasse foram feitas em tom de brincadeira e não foram levadas a
termo. A sugestão de Nathalie de se falar em português foi feita em inglês e, na seqüência,
Angélica retoma as discussões também em inglês. Após ter solicitado minha ajuda, Chris olha
para as colegas sorrindo, e Nathalie imediatamente toma o turno de fala dando continuidade às
discussões. Essas sugestões foram, portanto, muito mais estratégias de humor para lidar com a
desestabilização causada pela saída da professora do que sugestões de fato. Mesmo sendo o
tom do convite à minha participação uma estratégia de descontração, ele denota o
reconhecimento do par mais capaz enfatizando, mais do que o convite para que o doutorando
ajude no processo, a expectativa um controle hierárquico que em geral faz parte das crenças
sobre o ambiente de sala de aula.
A partir desse momento de desestabilização, o sistema se auto-organizou,
passando a funcionar temporariamente sem a presença da professora. Nessa nova ordem que
emergiu, o sistema passou a funcionar como um todo sem que nenhum dos agentes assumisse
a posição de líder. O texto passa, então, a ser co-construído pelas alunas. Embora esse
processo de produção compartilhada tenha o potencial de dar origem a resultados coletivos
124
significativos, ele pode ser desconfortável para os participantes, como reconhece Figueiredo
125
funcionar como um atrator
70
para as dinâmicas ocorridas no ambiente de aprendizagem face-
a-face.
No fórum, diferentemente da sala de aula, as revisões eram feitas individualmente,
uma vez que se tratava de uma ferramenta interacional assíncrona. Nesse ambiente, como
discutido, a professora não participava do processo de edição. Sua participação ocorria apenas
no início da tarefa, quando ela postava as instruções:
Excerto # 56:
Date Posted: 10:30:18 09/01/04 Wed
Author: Ana
Subject: Task 1
Dear students,
Reply to this message, write your name in the box, erase this
message and paste your written work here. You have until
September 6 at midnight to do it. After that, double-click each
of your group members' replies to edit their compositions. You
should read both their original work and the revisions your
classmates have suggested. You must have finished revising all
three compositions until September 10 at midnight, so that
everybody will have plenty of time to rewrite their texts. After
the third member of your group has revised your work, write
the final draft and print it. This final version should be handed
in during our class on September 15, that´s a Wednesday.
That's all for now,
Ana
Nas primeiras tarefas, as instruções da professora eram mais detalhadas,
envolvendo também questões de uso da ferramenta, como na instrução da tarefa 1, destacada
acima. Nessa instrução, a professora informa passo a passo como as alunas deveriam proceder
para postar seus textos no fórum, destacando, inclusive, que, como se tratava de resposta a
uma mensagem anterior, o software repetiria a mensagem original na caixa onde elas
deveriam escrever seus textos. Por esse motivo essa mensagem precisave ser apagada. Isso,
provavelmente, deve-se ao fato de que havia na turma alunas não muito familiarizadas com o
uso dessas tecnologias.
No fórum, a professora abria a tarefa com as instruções, as alunas respondiam ao
tópico criado com seu texto que posteriormente era respondido pelas colegas. Esse era o
padrão geral de organização das atividades no fórum.
70
Utilizo aqui o termo “atrator” em seu sentido corriqueiro, sem uma preocupação com uma definição precisa nos
termos da Teoria do Caos.
126
Na tarefa 2, especificamente, 4 alunas postaram no fórum seus textos revisados
após a edição por parte das colegas. Apenas as alunas Angélica e Cristina não fizeram isso,
como podemos observar a seguir na organização dos tópicos da tarefa 2:
Task 2 -- Ana, 15:44:56 09/14/04 Tue [41]
o
Re: Task 2 -- Tatiana, 04:46:13 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2- comments on Tatiana's -- Chris, 05:25:15 09/23/04
Thu [1]
Re: Task 2 -COMMENTS ON TATIANA'S (2) -- Chris, 05:44:03
09/23/04 Thu [1]
Re: Task 2 -- Angélica, 11:55:07 09/24/04 Fri [1]
Re: Task 2- Commentson Tatiana´s -- Nathalie, 13:00:08 09/24/04
Fri [1]
Re: Task 2 -- revised Essay- Tatiana, 13:05:51 09/29/04 Wed [1]
Re: Task 2 -- Ana, 15:28:07 10/02/04 Sat [1]
o
Re: Task 2 -- Chris, 07:33:38 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Tatiana, 09:18:00 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Angélica, 11:56:53 09/24/04 Fri [1]
Re: Task 2 -- Nathalie, 14:21:13 09/24/04 Fri [1]
Re: Task 2- revised -- Chris, 06:46:15 09/28/04 Tue [1]
o
Re: Task 2 -- Amanda, 15:15:12 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Clara, 04:36:16 09/22/04 Wed [1]
Re: Task 2 -- Cristina, 20:11:46 09/23/04 Thu [1]
Re: Task 2 -- Bárbara, 09:16:59 09/26/04 Sun [1]
Re: Task 2 -- Amanda's Composition Revised, 13:58:39 09/28/04
Tue [1]
o
Re: Task 2 -- Nathalie, 15:25:03 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Tatiana, 11:22:31 09/22/04 Wed [1]
Re: Task 2 comments on Nathalie's -- Chris, 05:54:03 09/23/04
Thu [1]
Re: Task 2 -- Angélica, 11:58:51 09/24/04 Fri [1]
Re: Task 2 -- Nathalie, 21:53:36 09/28/04 Tue [1]
o
Re: Task 2 -- Angélica, 16:45:31 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Tatiana, 11:28:45 09/22/04 Wed [1]
Re: Task 2 comments on Angélica"s -- Chris, 06:05:09 09/23/04
Thu [1]
Re: Task 2- Comments on Angélica´s text -- Nathalie, 13:16:27
09/24/04 Fri [1]
o
Re: Task 2 -- Cristina, 18:58:06 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Clara, 04:59:35 09/22/04 Wed [1]
Re: Task 2 -- Bárbara, 20:42:59 09/25/04 Sat [1]
Re: Task 2 -- Amanda, 10:57:07 09/26/04 Sun [1]
o
Re: Task 2 -- Clara, 19:43:49 09/20/04 Mon [1]
Re: Task 2 -- Cristina, 19:45:20 09/23/04 Thu [1]
Re: Task 2 -- Bárbara, 20:53:25 09/25/04 Sat [1]
Re: Task 2 -- Amanda, 11:14:48 09/26/04 Sun [1]
Re: Task 2 -- Clara, 15:45:53 09/28/04 Tue [1]
o
Re: Task 2 -- Bárbara, 18:54:37 09/21/04 Tue [1]
Re: Task 2 -- Cristina, 20:00:40 09/23/04 Thu [1]
Re: Task 2 -- Amanda, 10:59:45 09/26/04 Sun [1]
Re: Task 2 -- Clara, 17:28:42 09/26/04 Sun [1]
127
Re: Task 2 -- Bárbara, 19:32:25 09/28/04 Tue [1]
Figura 3: Organização dos tópicos no fórum
A postagem do texto corrigido depois das edições foi um padrão que emergiu
espontaneamente nessa tarefa, visto que não havia instrução específica da professora para que
isso fosse feito, como pode ser observado na instrução da tarefa 2:
Excerto # 57:
Date Posted: 15:44:56 09/14/04 Tue
Author: Ana
Subject: Task 2
Hello, folks! Do as you did last time. Delete this message and
paste (with a right click on your mouse) your text here.
Remember, it should have classification essay development and
a turnabout introduction. Your deadline is next Monday, Sept
20. You will have until Friday (Sept 25) to post your
corrections and comments. You must meet these deadlines as,
from now on, they (posting your text + posting your
corrections) will be your attendance for the two on-line classes.
Have fun!
Esse fato pode ter sido ocasionado por uma interpretação equivocada por parte das
alunas da orientação da professora de que elas deveriam postar no fórum “seu texto + suas
correções” (your text + posting your corrections). Mesmo nesse caso, é possível que essa
interpretação tenha inicialmente sido feita por uma aluna e seguida pelas demais, seguindo a
lógica de funcionamento local de sistemas complexos, como destaca Johnson (2001, p. 54).
Esse autor afirma que “os agentes individuais do sistema prestam atenção a seus vizinhos
mais próximos em vez de ficarem esperando por ordens superiores”. Esses agentes “pensam
localmente e agem localmente, mas sua ação coletiva produz comportamento global”. Como
discutido anteriormente, a comunidade de aprendizagem em estudo não se organiza sem
qualquer controle hierárquico, como outros sistemas complexos encontrados na natureza.
Porém a professora não controla todos os eventos que ocorrem na comunidade, podendo
surgir, a partir das interações locais, padrões globais emergentes.
Após as revisões feitas pelas colegas, cada aluna retomava seu texto, fazia
eventuais ajustes e encaminhava sua nova versão para a professora, que as devolvia corrigidas.
Na primeira tarefa, excepcionalmente, os comentários da professora foram encaminhados
coletivamente em uma mensagem para a lista de discussão:
Excerto # 58:
From: Ana <ana@...>
128
Date: Sat Sep 18, 2004 6:47pm
Subject: Feedback task 1
Girls,
I've read your texts and I haven't got good news.
I sincerely hope you don't mind these shared comments. I'd
rather make them individually, but you need to get this message
before you write a new version of your essay. I hope you
forgive the bluntness of my comments, but remember we are all
here to learn, and making mistakes is part of the process.
Here is for all of you:
DO CHAPTER 6 - It has exercises on how to write a thesis
statement, how to develop it into development paragraphs (with
topic sentences) and how to devise effective conclusions which
are coherent to your text. You need it really badly. The key to it
is in our folder. We can sort out your remaining doubts in our
next meeting, although you can always direct your questions to
our e-group. However, your doing these exercises is essential.
Something else all of you need is to write DETAILED
OUTLINES before writing your texts. They will prevent you
from losing sight of your thesis. Chapter 9 has exercises on
outline preparation (e.g.: exercise 9.3).
Now, I'm going to list individual problems for you to have an
idea where you stand.
The only texts which had a thesis statement or at least one
single idea around which there was some sort of coherent
development were Clara's and Bárbara's texts, respectively.
Nathalie, your text can be improved into an essay. The way it is
now is lacking in a thesis statement.
Chris, your second paragraph seems to contain your thesis
statement. The development, however, is problematic. First,
development paragraphs shouldn't be numbered. Second, some
of the items should be either developed or grouped together.
Your conclusion ("As outlined above, ...") has to be made
coherent to your introduction.
Angélica, at first I thought your thesis was around the social
context of reading, but then you changed subject and started
talking about strategic reading. You need to choose a specific
idea to work on and write a thesis statement in order to guide
your development.
Tatiana, I guess the three paragraphs you wrote comprise the
introduction to your essay. The first sentence of your last
paragraph sounds like a thesis statement to me, although it also
needs improvements.
Cristina, your problem is similar to Angélica's. I don't really
know what you're focusing on: learners' shyness or different
teaching methods for speaking.
I hope you all take this week to catch up with your work as
you were supposed to have done Chapter 6 long ago. I guess all
these problems that are coming up now derive from the fact
that you have not done it, at least not as carefully as you
should.
Be good,
Ana
129
Nesse e-mail, a professora deixa clara a sua preferência por correções
individualizadas, o que ela passa a fazer a partir da segunda tarefa. Também pede desculpas às
alunas, ressaltando que elas precisavam desses comentários antes de escrever a próxima
versão do texto.
Excerto # 59:
From: Ana <ana@...>
Date: Sun Sep 19, 2004 9:29am
Subject: Still about task 1
Hello, girls,
I have decided to list some tips to Academic Essay Writing
derived from the mistakes most of you made:
Contracted forms are not allowed.
Use a/an instead of one whenever possible.
Be precise. this means avoiding the use of words which can
mean just about anything. The words to be avoided include
(some/any/every/...THING, A LOT, LOTS, NICE, GOOD,
BAD, INTERESTING).
Avoid personal comments (Let me show you, As I said, I can
remember,...)
Avoid slang or words which are too informal.
Avoid using ETC.
Avoid clichés.
Avoide Hyperboles.
GRAMMAR
Check web sites for parallel structures, use and omission of the
definite article, punctuation and transition words.
PUNCTUATION
There cannot be a comma between subject and verb.
Never use colons (:) after BE.
EDITING
Indent your paragraphs.
Use double-spacing.
This is all for now.
See you,
Ana
Além das correções das colegas e da professora, as reestruturações dos textos são
também influenciadas pelas leituras teóricas feitas em sala de aula. Na tarefa 4, por exemplo,
postada no fórum em 25/10/2004, logo após a leitura de textos e realização de exercícios
sobre “dramatic entrance”
71
nas aulas face-a-face, todas as alunas inseriram um novo
parágrafo dando um efeito dramático à introdução do texto.
71
“Dramatic entrance” é uma técnica de redação utilizada para atrair a atenção do leitor.
130
Excerto # 60:
Date Posted: 19:43:41 10/25/04 Mon
Author: Nathalie
Subject: Re: Task 4
In reply to: Ana's message, "Re: Task 4" on 19:32:42 10/25/04
Mon
Joan has been sitting in front of the computer all day long. She
has been trying to write an essay assigned by her teacher the
day before, and that will due on the next day. It was the first
time she was using the computer to write an essay. Up to now
she has been writing her academic papers by using the old
method, which was a pen and some sheets of paper. She was
having a hard time, but she was willing to finish that task. After
navigating on the Internet for some time, she finally found a
site dedicated to teaching people the steps they should follow
to write an academic essay.
Excerto # 61:
Date Posted: 05:19:52 10/25/04 Mon
Author: Veronica
Subject: Task 4
An older English teacher is teaching a group of 35 12-year-old
students, who just go to school to have fun with their
classmates and gossip about everything. The teacher makes
effort to have the students´ attention to what she is talking
about, but what they are interested in is listening anything
except their teacher´s explanation. Although the class is messy
and noisy, the teacher goes on presenting the subject and writes
on the board: Countable Nouns are everything that are capable
of being numbered. (eg: an apple apples; a biscuit biscuits).
Uncoutable Nouns are everything that is impossible to be
numbered such as liquid, powder, grains, etc. and needs a
container to be measured (a packet of, a can of, a carton of, a
kilo of, a piece of or the word “some” that does not specify the
quantity – Eg: some/a carton of milk; some/a packet of/a kilo of
rice.). Then, from the middle of that noisy and disinterested
group, an exception emerges; a student lifts his hand and
expresses his conclusion in a loud voice: So ´bread´ is also
countable once I can count ´the breads´ I eat for breakfast”.
Teaching a second/foreing language requires care with the
interference of the mother language. The comparissions
between them are not always helpful once the formation of
rules of a certain language may differ from others.
Curiosamente, apenas Nathalie manteve essa introdução até o texto final. Ela
mantém essa introdução, mesmo após uma discussão em sala e sugestão de uma colega no
fórum de que essa introdução não era apropriada para o seu texto.
Excerto # 62:
131
Date Posted: 14:50:19 11/29/04 Mon
Author: Clara
Subject: Re: Final Paper
In reply to: Nathalie's message, "Re: Final Paper" on
03:44:08 11/29/04 Mon
Nathalie,
My suggestion is that one that we have already disscussed in
class. You should not use the dramatic introduction!
132
Durante todo o semestre letivo, foi comum a utilização de palavras e expressções
de elogio ou encorajamento, tais como your essay is very good”, congratulations”, your
text is perfect”, “I haven’t found any mistakes”, “your text is very well organized” etc.
Figueiredo e Assis (2006), em seu estudo sobre a auto-estima e a atitude quanto à revisão
colaborativa, encontraram essa mesma tendência dos alunos para o encorajamento dos
parceiros, ressaltando aspectos positivos dos seus textos. Isso corrobora o estudo de Braga
(2007) que defende que as comunidades on-line de aprendizagem se estabelecem em uma
tessitura conjunta de fatores instrucionais, cognitivos e socioafetivos.
Nesse processo de revisão, diferentes questões eram enfocadas. Em sua edição do
texto da colega Cristina, Bárbara não reenviou o texto com as edições, mas apenas seus
comentários:
Excerto # 64:
Date Posted: 16:45:59 09/11/04 Sat
Author: Bárbara
Subject: Re: Task 1
In reply to: Cristina's message, "Re: Task 1" on 09:33:48
09/06/04 Mon
Cristina,
In my opinion, the sentence "The funny thing is that when they
get to class they have a strong resistance to speak and 'pay
attention to one-thing guys: there is only one-way to speak
(learn?) a language and it's speaking it' the teachers keep saying
this for all their professional lives" is too long and not very
clear. Maybe if you divide it in two would be better.
In a sentence of the last paragraph I think it's missing an article.
"Learning a foreign language is not (a) so simple subject."
That's all. Very good text.
Bárbara enfoca a organização de um período que considerou longo e não muito
claro e a ausência de um artigo na última sentença do texto. Embora tenha apontado que o
período não estava muito claro, não sugere a nova redação ou em que momento a colega
deveria dividir o período. Diferentemente de Bárbara, Amanda insere no texto, entre
parênteses, seus comentários e sugestões. Ao final, ainda acrescenta o seguinte comentário:
Excerto # 65:
Date Posted: 08:01:27 09/08/04 Wed
Author: Amanda
Subject: Re: Task 1
In reply to: Cristina's message, "Re: Task 1" on 09:33:48
09/06/04 Mon
(…)
133
Cristina, I put my opinion into parentheses. To my mind you
should avoid contract forms, like I’m, isn’t, but I’m not sure if
it is wrong. Very good text!
Amanda faz uma edição detalhada, enfocando questões diversas. Algumas das
sugestões envolvem inserção, retirada ou substituição de palavras, como no primeiro
parágrafo do texto em que ela sugere a substituição da frase but three other skills such as:
por “but also three other skills:”, ou no parágrafo seguinte em que ela sugere a substituição do
artigo the por a na frase the main objective of learning to speak the language”. Em
outros, as sugestões envolviam a reorganização de períodos ou parágrafos inteiros, como no
excerto a seguir.
Excerto # 66:
(…) there is only one-way to speak a language and it's
speaking it' the teachers keep saying this for all their
professional lives. (there is only one way to speak a language
and the teachers keep saying this for all their professional
lives).
(…)
Repetition is very good to work on pronunciation, controlled
speaking is when the teacher gives a model for students to
follow and so students learn how to do something new in a safe
way, and non controlled is the time when students have the
opportunity to produce, in a free way, what they have learned
so far and still create whatever it's possible for them.
(Repetition is very good to work on pronunciation. Controlled
speaking is when the teacher gives a model for students to
follow and students learn how to do something new in a safe
way. Non controlled is the time when students have the
opportunity to produce, in a free way, what they have learned
so far and still create whatever it's possible for them).
Na primeira parte do excerto acima, Amanda sugere uma nova redação para uma
sentença completa do segundo parágrafo do texto de Cristina. Na segunda parte ela reorganiza
um parágrafo inteiro inserindo pontuação e retirando conectivos.
Algumas das sugestões feitas por Bárbara coincidem com as feitas por Amanda,
como no caso do período que estava muito longo. Ela, no entanto, não reformulou o período
como a colega, mas apenas apontou que ele estava confuso.
Diferentemente do que ocorria nos seminários face-a-face, as sugestões das alunas
são mais elaboradas, apontando tanto questões específicas como correção ortográfica e
escolhas lexicais quanto questões mais globais envolvendo a estruturação de parágrafos ou do
134
texto como um todo. Nos seminários face-a-face, como as sugestões iam sendo co-construídas
no curso das discussões, uma única aluna nunca dava sugestões muito elaboradas. Nesses
seminários, as correções tinham que ser feitas no momento, diferentemente do fórum em que
as alunas tinham geralmente o prazo de três a quatro dias para ler os textos das colegas e fazer
as edições. Portanto, o fórum favorecia mais a reflexão e, conseqüentemente, melhor
elaboração das sugestões. Além de tempo para reflexão, essa edição assíncrona on-line
possibilitava também que os alunos pudessem checar suas dúvidas de ortografia, gramática,
etc. antes de dar sua sugestão.
Figueiredo (2006) afirma que uma das limitações da aprendizagem colaborativa
mediada por computador é a falta de colaboração que o meio virtual pode ocasionar. Para ele,
“o fato de a interação o ser face-a-face pode fazer com que os interlocutores não sejam tão
comprometidos e colaboradores uns com os outros e, devido a isso, não darem termo a alguma
tarefa pela qual são responsáveis” (p. 27). Na disciplina “Inglês: produção de textos”, uma vez
que as alunas estavam sendo avaliadas pela professora e o cumprimento das tarefas era
computado como presença” nas aulas on-line, as aprendizes freqüentemente executavam as
tarefas. Em todo o semestre letivo ocorreram apenas duas “faltas” às aulas on-line e alguns
atrasos na postagem das tarefas, fato que, após justificativa, fez com que a professora acabasse
dilatando os prazos. O fato de o número de faltas ter sido pequeno não indicava
comprometimento de todas as alunas no momento da edição, pois nem todas as alunas tinham
o mesmo compromisso. Em alguns casos, inclusive, algumas alunas postavam no fórum
apenas um elogio ou um comentário superficial sobre o texto. Sobre isso a professora, em
entrevista, faz a seguinte observação:
Excerto # 67:
Ana: Olha, o que eu acho é o seguinte, alguns alunos eles são
mais relaxados, mais tranqüilos e esses alunos eles já
perceberam que eles podem fazer menos e ainda sim ter um
bom desempenho então alguns alunos, acho que uma aluna
em especial talvez duas elas faziam a edição de um modo bem
descuidado então essa foi a reclamação que eu tive, que
algumas alunas não fizeram o que podia ter feito, o ajudaram
não contribuíram tanto quanto podiam, fizeram um pouco
menos do que poderiam ter feito então mas isso aconteceu
principalmente on-line então eu acho que o meio on-line ele
possibilita eu to pensando isso agora e falando, to pensando
agora, nunca pensei isso antes não, mas eu acho que o meio on-
line ele possibilita o esperto entendeu? a fazer mais ou menos a
dar uma lidinha de três erros e aponta esses três erros e pronto.
135
A professora começa falando sobre alguns alunos que não faziam tudo o que
podiam fazer, mas acaba destacando uma aluna em particular. A inferência que ela faz é no
mesmo sentido da opinião de Figueiredo (2006). Ou seja, que o meio on-line pode ocasionar
que os alunos não levem a termo uma tarefa que seria de sua responsabilidade. Em outro
trecho da entrevista, ela volta a comparar os dois ambientes:
Excerto # 68:
Porque on-line ele vai ter que acessar, então vai acessar,
vão entrar, vai ver quando ele tiver que fazer isso. Agora na
sala de aula não ele vai né, se a gente discutindo um
texto x, então ele já tá mesmo, tem a idéia, inclusive essa
aluna que to me referindo é boa aluna e tudo mas ela podia ser
muito melhor porque é muito inteligente, mas ela sempre faz o
suficiente pra passar, então porque ela já foi minha aluna em
outros cursos, ela é desse jeito mesmo, o que ela pode fazer
menos ela faz e ela dava ótimas contribuições ótimas
contribuições em sala de aula.
A professora destaca que a imediaticidade da sala de aula, o fato de os alunos
estarem lá, compartilhando o mesmo ambiente sico,
136
difícil de você fazer trabalhar elas contribuem mais
presencialmente.
Embora a professora reconheça que cada um dos tipos de aula teve efeito para
aulas diferentes, ela novamente ressalta os pontos positivos dos seminários face-a-face,
dizendo que estes facilitam o trabalho comaquelas pessoas mais preguiçosas”. Pode-se
inferir desse comentário que o ambiente virtual exige mais autonomia e responsabilidade por
parte dos alunos, ao passo que em sala de aula convencional os eventos são mais controlados
pelo professor.
A aluna Amanda, por outro lado, destaca em entrevista as suas faltas às aulas face-
a-face.
Excerto # 70:
Amanda: Assim éh eu faltei o máximo
que eu pude da aula
((risos)) porque até por causa desse negócio de serem on-line,
eu acabava faltando a outra aula. Mas na aula eu participava
muito sabe! Dava muito éh como é que fala? Muito palpite
assim.
Amanda sugere que suas faltas às aulas face-a-face advêm de um cálculo em
relação à freqüência obrigatória que é de 75% em cada conteúdo. Considerando que as aulas
on-line correspondiam a algo em torno de 40% da carga horária da disciplina, se ela fizesse
todas as tarefas on-line, teria garantido um percentual significativo de freqüência na
disciplina, podendo faltar bastante às aulas face-a-face sem extrapolar o número de faltas que
legalmente poderia ter.
Observamos que o “esperto”, como diz a professora, não é favorecido pelo
ambiente on-line. Na aula face-a-face, além do número de faltas legalmente permitido,
formas de se camuflar a não-participação tal como acontece na aula on-line. Nesta, a presença
das alunas estava condicionada a sua manifestação no fórum, ou seja, não poderiam “entrar na
aula” e ficar caladas, como por vezes ocorre na sala de aula convencional. Naquela, quando
dos seminários, algumas alunas se manifestavam ao serem solicitadas pela professora e,
mesmo assim, na maioria das vezes, devolviam o turno de fala para ela, que, geralmente,
conduzia o processo de edição dos textos.
Cada um desses ambientes apresentou suas especificidades que podem funcionar,
dependendo do contexto, como restrições ou possibilidades. A imediaticidade da sala de aula
possibilitou a edição coletiva de textos, a discussão em tempo real entre autor do texto e
137
revisores e o foco no texto em sua organização global, mas não possibilitou a edição detalhada
de todos os textos, uma edição colaborativa entre os pares de fato, a consulta a outras fontes e
um maior tempo para refletir e elaborar melhor as correções. Por outro lado, o ambiente on-
line possibilitou a edição de vários textos completos de cada aluna em cada tarefa, a consulta a
fontes durante o processo de correção, um tempo maior para reflexão e uma melhor
elaboração das correções.
A abordagem ecológica adotada nesta pesquisa direciona nosso olhar para as inter-
relações entre os diversos eventos ocorridos nos ambientes de aula. Assim, neste capítulo
analisei a disciplina “Inglês: produção de textos” com três focos distintos, mas inter-
relacionados. Inicialmente, discuti o estabelecimento das condições da complexidade nessa
disciplina. Em seguida, analisei a dinâmica de participação das alunas na disciplina,
compreendida como uma complexa comunidade de aprendizagem. Por fim, analisei as micro-
relações ocorridas nos eventos de aula, enfocando as interações entre as participantes e o
processo de revisão colaborativa no fórum on-line e nos seminários face-a-face. Esta análise
visou a uma maior compreensão dos eventos, iniciando com um olhar global sobre a
comunidade como um sistema complexo e concluindo com um foco nas relações locais a
partir das quais emergiram padrões globais no sistema. Embora a comparação entre os dois
ambientes de aula não tenha sido feita em termos absolutos, uma vez que as atividades neles
ocorridas influenciavam-se mutuamente, os resultados apontaram algumas especificidades dos
eventos em cada ambiente, o que certamente tem implicações significativas para o ensino de
línguas.
138
6- Conclusão
m not entirely sure what the methodological implications of
an ecological approach might be. What it does, I think, is
prevent premature closure. I think it says we should not be
reductionistic. All along, I’ve been chanting “look up, look
down, look inside, look outside, look back, look forth”, the
point being that I think we can no longer just say that we’ve
got it!” And I am not necessarily talking about the part we all
do at the end and say further research is needed on this. This
new perspective really forces us into a position of humility
with regards to what we are looking at. It encourages us to
recognize just how limited our current tools of analysis are
and how much more there is to be seen. As researchers, it
means that we’ve got to remind ourselves that we can’t just
isolate and examine one part and assume that this will tell us
anything substantive about the whole. That been said, I am
also human, and the scope at which I can take it all in
obviously is limited. So this new theoretical orientation seems
to me to ask us at the in between, to look in relational terms. It
may turn out that it is more power to our researchers in
shaping attitude than in actual methodological intervention.
(LARSEN-FREEMAN, 2002, p.91)
139
Este capítulo está organizado em cinco seções. Na primeira, procuro responder às
perguntas de pesquisa postas no capítulo 1. Na segunda, discuto as implicações dos resultados
obtidos para o ensino denguas. Na terceira, discuto algumas limitações do estudo. Na quarta
apresento algumas sugestões para futuras pesquisas, e na quinta, faço algumas considerações
finais.
6.1 – Respondendo às perguntas de pesquisa
Nesta seção, retomando os resultados discutidos no capítulo anterior, procuro
responder às perguntas de pesquisa postas no capítulo 1, as quais guiaram o desenvolvimento
deste trabalho.
6.1.1 Como as condições da complexidade em sala de aula identificadas por Davis e
Simmt (2003) se estabelecem em uma comunidade mista de aprendizagem?
As cinco condições da complexidade em sala de aula, identificadas por Davis e
Simmt (2003), foram observadas na comunidade de aprendizagem investigada. Essas
condições apresentaram-se essencialmente inter-relacionadas e interdependentes.
A diversidade interna estabelece-se tanto em termos de recursos disponíveis nos
ambientes de aula quanto em termos de características individuais dos membros da
comunidade. Além dessas diferenças individuais, geralmente presentes em qualquer sala de
aula, a diversidade no contexto pesquisado foi também impulsionada pelo sistema educacional
que abriu espaço para que pessoas com diferentes interesses e formação se matriculassem
como alunos de disciplina isolada. Em decorrência disso, a disciplina “Inglês: produção de
textos” recebeu alunas doe do período do curso de letras da UFMG, uma aluna do curso
de letras de outra instituição, uma arquiteta e dua
cito a
140
No fórum on-line, após o processo de edição colaborativa, cada aluna reorganizava
seu texto e o resultado não era simplesmente a correção dos erros apontados ou a incorporação
das sugestões feitas, mas uma reestruturação mais ampla do texto. Nos seminários face-a-face,
muitas soluções surgiram das discussões e não de uma aluna individualmente. As soluções,
então, pertenciam muitas vezes à comunidade e não a um agente individual.
A diversidade é, portanto, uma fonte de inteligência coletiva do sistema e deve ser
valorizada em ambientes de aula. Isso não significa, no entanto, que mais diversidade seja
sempre melhor, mas significa que, assim como na natureza, a redução da diversidade é sempre
prejudicial.
Como discutido no capítulo anterior, a diversidade deve ser contrabalanceada e
complementada pela redundância. Assim como é necessária a existência de diferenças entre os
agentes de um sistema, é necessária também a existência de similaridades. Se por um lado a
diversidade contribui para a emergência de uma inteligência coletiva no sistema, por outro a
redundância é essencial para que ele possa manter a sua coerência. Além de ser a redundância
um elemento que possibilita a interação entre os agentes, também possibilita que um agente
compense eventuais falhas de outros.
Entre os elementos de redundância identificados estão o interesse comum em
desenvolver a habilidade de escrita em língua inglesa, a capacidade de se comunicar
oralmente e por escrito no idioma e o fato de serem todas do sexo feminino.
A redundância, no entanto, não era necessariamente algo que se estabelecia entre
todas as agentes do sistema. De fato, questões como idade, estilo, interesse, formação, entre
outras, eram redundâncias locais entre algumas participantes. Como demonstrado na análise,
em torno dessas redundâncias locais surgiram pequenos agregados que também contribuíram
com a dinâmica do sistema.
Em se tratando de uma comunidade de aprendizagem, a redundância é um
elemento chave, pois a comunidade é constituída, em sua essência, a partir dos elementos que
os participantes têm em comum. O excesso de redundância, embora possa contribuir para uma
maior especialização do sistema, pode reduzir a sua capacidade de agir criativamente diante
de situações adversas.
A diversidade interna e a redundância apresentam-se, portanto, como elementos
essenciais e indissociáveis da comunidade de aprendizagem.
Quanto ao controle distribuído, embora tenha se apresentado na comunidade de
aprendizagem como um todo, estabeleceu-se diferentemente em cada um dos ambientes e em
141
diferentes momentos da história do sistema. Em sala de aula, as atividades eram inicialmente
direcionadas pela professora, o que não significa que ela controlasse todos os eventos
ocorridos em sala. Esse controle foi sendo suavizado nas aulas e, principalmente, nos
seminários de revisão colaborativa de textos. A lista de discussão configurou-se como o
espaço de gerenciamento da disciplina e os eventos eram mais direcionados pela professora,
principalmente no início. Mesmo nesse espaço de gerenciamento das atividades de aula em
que os eventos tendem tradicionalmente a ser direcionados pelo professor, as alunas por vezes
iniciavam tópicos, trocavam informações, negociavam prazos, etc. Embora esse ambiente
tenha sido idealizado para a comunicação da professora com as alunas, elas também
participaram desse espaço virtual, de certa forma ativamente, à medida que a necessidade da
comunidade ia surgindo.
No fórum on-line, a participação da professora limitava-se à instrução inicial para
a execução das tarefas. Inicialmente essas instruções eram mais detalhadas, incluindo até
mesmo informações técnicas sobre a utilização da ferramenta tecnológica. Essas instruções
foram sendo simplificadas, chegando a uma mera abertura das tarefas nos últimos meses do
semestre letivo. Nesse contexto, as alunas realizavam individualmente as edições dos textos
das colegas de acordo com sua disponibilidade de horário, interesse, estilo e grau de
familiaridade ou proximidade com a autora do texto.
O controle descentralizado é uma das condições da complexidade, visto que em
qualquer sistema complexo os eventos emergentes não são causados por um coordenador
hierárquico, mas surgem da interação entre os agentes.
No contexto educacional, isso não significa defender nem o ensino centrado no
professor nem o ensino centrado no aluno, pois o que está em foco são os eventos de ensino e
aprendizagem, os fenômenos emergentes, os insights compartilhados e a inteligência coletiva.
Em se tratando de sistemas complexos educacionais, o foco está nas relações que podem
promover oportunidades de aprendizagem e não necessariamente nas relações com o foco
centralizado no aluno ou no professor, considerando-se que o sistema, principalmente um
sistema social, pode, muitas vezes, buscar no professor ou em um dos pares a solução de seus
problemas, o que não necessariamente quer dizer que o sistema seja centrado. Não é, portanto,
minha intenção defender a centralização do professor ou em nenhum de seus agentes ou meta-
agentes, mas sim conjecturar as necessidades advindas das relações contextuais do próprio
sistema.
142
Postular o controle descentralizado não significa condenar uma participação ativa
do professor ou qualquer forma de coordenação hierárquica nos ambientes de aula, mas sim
destacar a necessidade de se atuar na tênue zona entre o controle excessivo e a ausência total
de controle. Significa ainda reconhecer que os efeitos das intervenções hierárquicas são
sempre indiretos, pois em sistemas complexos os efeitos não são sempre diretamente
proporcionais às ações de intervenções.
As restrições possibilitadoras manifestam-se no próprio desenho instrucional da
disciplina, com suas normas, ambientes e ferramentas tecnológicas. A comunidade de
aprendizagem, como qualquer sistema complexo, é baseada em regras e não uma
aleatoriedade absoluta. Porém essas regras, ao mesmo tempo em que estabelecem os limites
das atividades de aula, elas também criam outras possibilidades. Na sala de aula uma regra
advinda do sistema educacional exigia certa freqüência para aprovação, mas isso não garantia
o envolvimento efetivo de cada aluna em todas as atividades de aula. Por outro lado, a co-
presença das alunas no mesmo ambiente físico possibilitou uma sinergia, uma coordenação de
ações da qual emergiram diversas soluções que não foram elaboradas por apenas uma aluna,
mas pelo coletivo.
No desenho instrucional da disciplina foi estabelecida uma regra segundo a qual a
presença das alunas nas aulas on-line seria computada a partir da realização das tarefas, visto
que elas não estavam co-presentes no mesmo ambiente físico como nas aulas face-a-face. Essa
regra limitava a o realização das tarefas, mas não determinava como essas tarefas eram
realizadas. Portanto, essa mesma regra possibilitou a realização de diferentes formas de
edições dos textos no fórum.
O próprio ambiente funcionou como uma restrição possibilitadora nessa
comunidade de aprendizagem. No fórum, não era possível inserir cores e, como alternativa, as
alunas utilizaram números, parênteses, letras maiúsculas e outros símbolos para identificar
suas correções e sugestões. A lista de discussão, eventualmente utilizada como substituta do
fórum, possibilitava a inserção de cores, mas não oferecia a mesma organização no
armazenamento dos tópicos e suas respostas.
A comunidade de aprendizagem, como um sistema complexo, organizou-se com
certas regras, restrições e recursos que possibilitaram o engajamento dos seus membros no
mesmo projeto comum.
As interações locais ou entre vizinhos funcionaram como um elemento
fundamental para as dinâmicas que se estabeleceram nessa comunidade de aprendizagem. A
143
partir das interações entre participantes, textos, correções e sugestões emergiram soluções
criativas no processo de revisão colaborativa de textos. A própria dinâmica da disciplina foi
sendo reconfigurada a partir de tais interações. A partir das interações locais e do
envolvimento das participantes em um empreendimento compartilhado a disciplina “Inglês:
produção de textos” configurou-se como uma comunidade de aprendizagem.
Se na literatura sobre ensino e aprendizagem de línguas a questão da interação tem
recebido atenção considerável, numa perspectiva da Teoria da Complexidade ela torna-se
fundamental, pois é a partir delas que padrões e comportamentos globais emergem no sistema.
Para compreender a aprendizagem de nguas como um fenômeno emergente é fundamental
considerar as interações locais ocorridas no interior do sistema.
A comunidade demonstrou, portanto, ser constituída por um complexo arranjo de
experiências, habilidades, interesses, estilos individuais etc. Cada uma das participantes
contribuía de uma maneira particular com os eventos ocorridos na comunidade e ocupavam
um nicho definido pelas interações ocorridas no interior do sistema.
6.1.2 – Como ocorrem as dinâmicas de participação em uma comunidade mista de
aprendizagem?
As dinâmicas de participação na comunidade de aprendizagem apresentaram
alguns princípios da participação em uma comunidade de prática. A coerência da comunidade
estabeleceu-se em torno de um repertório compartilhado, de um empreendimento conjunto e
de um engajamento mútuo. O repertório compartilhado envolve a língua portuguesa falada
pelas participantes como língua materna, a língua inglesa falada como língua estrangeira e os
termos e conceitos do estudo sobre o desenvolvimento da escrita acadêmica que se
estabelecem nessa comunidade. O empreendimento conjunto refere-se ao propósito da
disciplina que era o desenvolvimento da escrita acadêmica em língua inglesa. O engajamento
mútuo refere-se ao envolvimento das alunas nas práticas da comunidade.
A participação nessa comunidade de aprendizagem apresentou princípios do
processo de participação periférica legítima, com algumas especificidades ocasionadas pela
natureza complexa da comunidade. Todas as alunas eram participantes legítimas porque eram
mutuamente ratificadas e porque eram referendadas pela instituição que garantia o seu status
de alunas regularmente matriculadas na disciplina.
144
Algumas alunas possuíam experiência prévia com escrita acadêmica e revisão
colaborativa de textos e, portanto, tinham condições de participar mais amplamente dessas
práticas nos primeiros momentos da disciplina. As alunas possuíam níveis diferentes de
experiência em outras práticas estabelecidas na comunidade tais como o uso da tecnologia,
conversação em língua inglesa e estruturas léxico-sistêmicas do idioma. As alunas
envolveram-se em um processo de participação que lhes possibilitava um aceso mais
ampliado a essas práticas. Isso não significa porém que houvesse um ponto central onde
estavam certas participantes e para onde as demais necessariamente se dirigiam. Essa
participação não se estabelecia na dicotomia entre periferia e centro. A periferalidade
configura-se como uma forma de participação que possibilita aos recém-chegados o acesso às
práticas da comunidade. Considerando a complexidade desse contexto e dos eventos nele
ocorridos, não se apresentou um centro para onde convergiam todas as ações. De fato, esse
processo não se estabeleceu cronológica e linearmente como parece sugerir a concepção
original de participação periférica legítima. A periferalidade aqui se refere às diferentes
configurações do sistema nas quais algumas alunas apresentaram momentaneamente menor
familiaridade com certas práticas da comunidade e, através da participação inicialmente
periférica buscavam uma participação mais ampliada. Não se trata, porém, de um processo
reprodutor da comunidade através do qual os recém-chegados adquiriam suas práticas e
conhecimentos e passariam a fazer parte da ordem anteriormente estabelecida. Na verdade, a
própria comunidade de aprendizagem passou por reconfigurações a partir do processo de
participação. Porém a comunidade não foi desestruturada com a chegada de novos
participantes. O processo de auto-organização dos sistemas complexos visa exatamente
manter a coerência do sistema e assegurar sua continuidade mesmo diante de situações
adversas.
A participação, então, estabeleceu-se tanto como um elemento de dinamização do
sistema quanto como um processo de reprodução de certas práticas. A comunidade, como um
sistema complexo, foi influenciada pela entrada de novos membros e por outros eventos
esternos, pois se trata de um sistema aberto, mas a sua organização autopoiética garantiu a sua
sobrevivência. É nesse processo de conservação e mudança que emergiram as configurações e
reconfigurações do sistema.
145
6.1.3 Como se configuram os movimentos interativos ocorridos durante o processo de
revisão colaborativa de textos no fórum on-line e nos seminários face-a-face?
Os movimentos interativos do processo de revisão colaborativa de textos
ocorreram com certas especificidades no fórum on-line e nos seminários face-a-face.
No fórum on-line, por se tratar de um meio interacional assíncrono, cada aluna
elaborava individualmente e depois postava suas correções e sugestões para os textos das
colegas. Depois dessa etapa de revisões, cada aluna revisava seu texto e encaminhava para a
professora. A interação entre as alunas era, portanto, mediada pela ferramenta tecnológica e
pelo texto. No processo de edição as alunas postavam em certos momentos o texto original
com suas correções e sugestões de uma maneira formal; em outros elas faziam isso, mas
acrescentavam uma espécie de bilhete eletrônico com alguns comentários e em outros apenas
o “bilhete” era postado. Esses “bilhetes” às vezes traziam apenas comentários sobre o texto,
mas em muitos casos traziam expressões de incentivo, reconhecimento ou parabenização. Às
vezes, esses bilhetes traziam expressões como “abraços”, “beijos”, “bom fim de semana”,
“bom feriado”, ora em português e ora em inglês. Como relatado pelas alunas em entrevistas,
esse processo de revisão colaborativa ocorria de maneiras diferentes de acordo com o grau de
proximidade com a autora do texto que estava sendo revisado.
Nos seminários face-a-face, o processo de revisão era feito coletivamente. Embora
cada aluna pudesse fazer seus comentários, as edições envolviam um processo negociado.
Muitas vezes uma participante iniciava uma sugestão que era retomada, complementada ou
modificada por outra. Diferentemente do que ocorria no fórum, nos seminários, as autoras dos
textos discutiam com as outras participantes as correções e sugestões feitas. A revisão do texto
era, portanto, co-construída. Nesses seminários, diferentemente do fórum, a professora se
colocava como uma participante do processo de revisão. As alunas, então, tentavam muitas
vezes direcionar a tarefa de revisão para a professora ou esperar que ela referendasse ou não
suas correções e sugestões.
A dinâmica da interação em sala de aula não possibilitava que as alunas fizessem
correções e sugestões elaboradas como ocorria no fórum, mas criou significativos momentos
de produção compartilhada de textos.
As especificidades dos movimentos interativos ocorridos nessa comunidade
decorrem, portanto, de questões socioafetivas, das restrições e possibilidades de cada
ambiente e do próprio desenho instrucional da disciplina.
146
6.2 – Implicações para o ensino de línguas
Os resultados desta pesquisa salientam o valor da utilização de aulas face-a-face e
on-line de forma a explorar o potencial de cada modalidade. A partir dos resultados desta
pesquisa pude perceber que cada um dos ambientes possibilitou uma dinâmica particular de
relações e proporcionou resultados positivos significativos de acordo com suas
especificidades.
Tanto as alunas quanto a professora quanto as alunas participantes desta pesquisa
demonstraram claramente a sua preferência pelas aulas face-a-face, mas ressaltaram as
contribuições significativas das aulas on-line. Algumas alunas ressaltaram também a
conveniência de poder realizar as tarefas de qualquer lugar e em qualquer horário.
As atividades de sala de aula proporcionaram uma dinâmica de interações que
favoreceu a discussão e a produção compartilhada. As atividades on-line, por outro lado,
possibilitaram enfocar as questões com um maior nível de reflexão e elaboração de uma forma
que não era possível dentro da dinâmica e da limitação de tempo da sala de aula.
Isso destaca o valor de desenhos instrucionais mistos que busquem a convergência
das modalidades de ensino aulas face-a-face e on-line. Esses resultados corroboram
afirmações de autores como Graham (2005) e Garrison e Vaughan (2007) que desenhos
instrucionais mistos têm o potencial de combinar essas modalidades de ensino
tradicionalmente separadas, integrando as propriedades e possibilidades de cada uma.
Concordo com Garrison e Vaughan (2007) que é tempo de se superar o dualismo
que parece sugerir a necessidade de se escolher entre a modalidade convencional face-a-face e
a on-line. A combinação dessas modalidades supera o dualismo e potencializa os benefícios
de uma forma que vai além das capacidades individuais de cada uma.
Uma das vantagens da modalidade mista é que ela oferece aos alunos a
conveniência e a flexibilidade da aula on-line, mantendo a interação e a atenção individual
proporcionadas pela aula face-a-face.
A adoção dessa modalidade mista requer uma reflexão sobre a quantidade do
tempo destinado para a aula on-line e para a aula face-a-face, bem como que tipo de atividade
será realizado em cada ambiente. É necessária ainda a elaboração de um desenho instrucional
que não apenas inclua um ambiente como um adendo do outro, mas, de fato, integre-os de
forma a maximizar as potencialidades de cada um.
147
Essa modalidade mista, no entanto, não surge como uma alternativa para substituir
a aula face-a-face ou a aula on-line, mas como uma alternativa para explorar as
potencialidades de cada uma.
É preciso reconhecer, porém, que em certas circunstâncias a aula exclusivamente
on-line é mais conveniente, ao passo que em outras a aula face-a-face é mais adequada. A
opção por uma dessas modalidades ou pela sua integração em uma modalidade mista deve
levar em consideração as contingências do contexto, da disciplina e do público-alvo.
6.3 – Limitações deste estudo
Reconhecendo que toda pesquisa tem suas possibilidades e limitações, torna-se
relevante destacar algumas limitações apresentadas por este estudo que, todavia, não
invalidaram os seus resultados.
Uma das limitações é o pequeno número de participantes. A classe investigada
não foi formada de acordo com os propósitos da pesquisa, pois se trata de um estudo
naturalístico. Contudo esse pequeno número de estudantes configura-se como uma limitação,
pois esta não é a realidade mais comumente encontrada no Brasil. Portanto, uma investigação
de contextos com um grande número de alunos pode encontrar dinâmicas significativamente
diferentes.
Outra limitação é o foco do estudo que permite observar certas coisas, mas o
outras. Questões como contexto social, contexto educacional, motivação, interesses, e crenças
foram abordadas apenas superficialmente nesta pesquisa. Tais questões podem ter influências
relevantes, mas, devido ao propósito do estudo, não foi possível analisa-las com mais atenção.
O fato de este esta pesquisa ter analisado as mesmas alunas, a mesma professora e
a mesma disciplina em aulas face-a-face e on-line não possibilitou comparações absolutas
entre os dois ambientes, pois eles demonstraram influenciar-se mutuamente. Então, embora os
resultados apresentem algumas especificidades de cada um dos ambientes, eles não são
conclusivos sobre as características, potencialidades e limitações de cada um.
148
6.4 – Sugestões para futuras pesquisas
Tendo em vista os resultados obtidos neste trabalho e ainda as limitações desta
pesquisa, proponho como sugestões para futuras pesquisas investigar:
as dinâmicas interacionais em desenhos instrucionais mistos com um grande
número de alunos;
o processo de participação periférica legítima em comunidades de
aprendizagem on-line;
o engajamento e a participação de aprendizes de línguas em comunidades
informais de aprendizagem;
o processo de revisão colaborativa de textos na modalidade mista em turmas
grandes com desenho instrucional que envolva o trabalho em sub-grupos sem a
intervenção direta do professor;
as potencialidades do ambiente on-line para a revisão colaborativa de textos
entre os pares.
6.5 – Considerações finais
Neste trabalho, analisei as dinâmicas interativas ocorridas em uma comunidade
mista de aprendizagem buscando compreender a natureza dos eventos ocorridos em ambientes
on-line e face-a-face de aprendizagem. O fenômeno da interação tem sido um tema freqüente
nas pesquisas em Lingüística Aplicada e o debate sobre o papel da interação on-line nas
relações de ensino e aprendizagem de línguas recebeu um novo impulso com o
desenvolvimento das novas tecnologias de comunicação e informação.
Diferentemente de outros estudos que, segundo Levy (2001), analisaram a
aprendizagem de línguas mediada por computador procurando provar inequivocamente a
superioridade de uma ou outra modalidade, neste estudo procurei compreender as relações
estabelecidas em aulas face-a-face e on-line, bem como as potencialidades de cada
modalidade.
149
A adoção de uma perspectiva etnográfica permitiu dar voz às participantes
(professora e alunas), o que geralmente não é feito nos estudos comparativos realizados na
área de aprendizagem de línguas mediada por computador.
Considerando os estudos que apontam para a inexistência de diferenças
significativas entre os resultados de aprendizagem em sala de aula face-a-face e outras
modalidades, técnicas e métodos de ensino (RUSSELL, 2001), os resultados deste trabalho
apontam para a necessidade de se retirar o foco da tensão entre os ambientes de aprendizagem
e buscar alternativas de integração e complementaridade entre eles.
Embora tenha um interesse particular pela aprendizagem de nguas mediada por
computador, direcionei o foco deste trabalho muito mais para a porção “aprendizagem de
línguas” do que para a porção “mediada por computador. Concordando com Van Lier (2003),
compreendo que a questão não é mais se os computadores serão ou não utilizados nos
contextos de ensino e aprendizagem de língua. Eles são utilizados hoje no ensino de línguas e,
provavelmente, serão utilizados no futuro, sejam quais forem as suas características e a forma
que venham a assumir.
Tudo isso reforça o valor de abordagens ecológicas que coloquem o foco nas
inter-relações entre os indivíduos e entre eles e o seu ambiente. Assim, a compreensão dos
limites e das potencialidades das aulas on-line e face-a-face passa necessariamente pela
compreensão das relações que se estabelecem nesses contextos.
A adoção de uma perspectiva ecológica, apoiada na Teoria da Complexidade,
amplia a importância dessa questão, pois demonstra que para a compreensão de um sistema
complexo é imprescindível considerar as relações entre as partes do sistema, uma vez que a
análise isolada dos elementos implica o desmantelamento deste sistema. Nesta perspectiva, a
análise das interações ocorridas no interior do sistema é um fator crucial.
150
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167
8- Anexos
168
Anexo I – Programa da disciplina
Faculdade de Letras
Inglês: Produção de textos – 2004/2
Mondays/Wednesdays: 7:30 - 9:10 am
Código
169
Anexo II – Entrevistas
1. Ana
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Bom, meu nome é Ana éh e eu trabalho aqui na UFMG tem uns dez anos, onze anos e
agora é que eu dei o primeiro curso on-line na UFMG, eu trabalhei num curso on-
line na PUC, virtual, mas era completamente diferente porque eles tinha pouco a
mais, a gente dava uns textos pra eles e eles punham no ar, ele colocavam no site deles,
eles faziam tudo e aqui não, aqui eu que tive que criar os mecanismos de interação e o
que acontece que eu acho com os cursos on-line e depois desse curso eu dei muito on-line
pra especialização que é o seguinte, os alunos eles ficam muito tensos no curso on-line,
porque o tem sua presença que confiança né, a presença do professor, do lado do
professor eu acho que isso traz uma confiança pro aluno, uma segurança pro aluno, o que
eu acho é que eles ficam muito tensos e coisas simples eles não conseguem compreender,
por causa da tensão, então eu notei isso no curso de especialização e notei muito mais
nesse curso porque éh o problema dessa turma é que havia três alunos do curso de letras,
alunos daqui e e três alunos no final acabaram seis não foi? E três alunos que vieram de
outro lugar ou que não eram alunos regulares, eu não vou falar os nomes não porque você
trocando tudo ((risos) então, enfim, esses alunos que era do curso regular, eles
tinham cursado habilidades um, dois e três, esses alunos eles estavam mais tranqüilos eles
sabiam mais ou menos como operar, os alunos que vieram de fora eles ficaram muito
tensos, a eu vou falar o nome a Nathalie era mais tranqüila, mas mesmo assim tensa,
então o que eu notei é isso que a tensão que eles normalmente sentiriam eles sentem três
vezes mais porque não estão acostumados com o meio virtual e tão distantes mas mesmo
que não estejam acostumados com isso, mas eles estão distantes da gente, então nessas
semana porque era uma aula presencial e duas on-line ou duas presenciais não me lembro
como era o dividido o programa mas era assim um bloco presencial, um bloco on-
line, então nessa semana que eles ficavam sem a nossa companhia né sem a nossa
presença eles ficavam muito inseguros, mas eu não falei, o que você me pediu da minha
formação? Eu não falei nada disso ((risos))
P. Tudo bem. Pode ficar à vontade ((risos)). Qual foi o objetivo principal da disciplina
“Inglês: Produção de Textos”?
R. O objetivo principal da disciplina é fazer com que os alunos possam redigir um texto
acadêmico, então a escrita acadêmica formal, a escrita formal e o gênero acadêmico, eles
tinham que aprender a fazer papers.
P. Por que ela foi organizada dessa maneira, com aulas presenciais e on-line e por que a
escolha do fórum e da lista de discussão?
R. . Ela foi organizada dessa maneira porque quando a gente fazia o curso todo presencial
o que acontece, o aluno ele demora muito tempo fazendo o peer-editing fazendo a
edição dos papers do colega, então normalmente o que acontece? Um aluno faz do outro,
faz de dois no máximo de dois e quando chega na aula de peer-editing ele chega e ah
eu não trouxe, ah eu esqueci, tem sempre uma desculpa você acaba perdendo ai você vai e
começa a aula e perde essa etapa do processo que é tão importante pra escrita que o
que eu acho que o mais importante o processo mesmo de trocas entre eles, então esse foi
o jeito de fazer com que eles escrevessem porque isso valia presença, que eles
realizassem de varias pessoas quer dizer, não queria editar, que no inicio era de três
170
pessoas, depois de todos acho que de editar era de cinco, terminaram de seis pessoas
então cada um editava de todos os outras colegas e no trabalho de edição eles estão
aprendendo tem o processo de aprendizagem.
P. Certo. Você falou um pouco sobre essa questão, mas eu gostaria que você falasse um
pouco mais sobre os critérios foram utilizados para definir que atividades seriam
desenvolvidas em sala de aula e quais seriam desenvolvidas on-line?
R. Éh foi isso mesmo. O critério foi esse, a gente deixou pra fazer on-line, aquilo que era
feito em sala sem nossa sem grande participação do professor porque nessa hora de peer-
editing o que eles têm que fazer? Eles têm que trocar: o que você quis dizer, quis dizer
isso, então faz assim, sua introdução não tá, desenvolve de acordo com o que vo
colocou, aquela história assim dos papers, cadê a topic sentence, certo? Então essa
interação é que dispensa um pouco o professor porque é entre eles. Então foi esse o
critério, essa é a etapa pra ser feita on-line.
P. Qual era a função do fórum e qual era a função da lista de discussão?
R. A lista de discussões ficou mais pra passar tarefas, né? Repetir o que eu havia dito em
sala ((risos)) Ou às vezes alguma coisinha que eu não lembrada em sala eu colocava ali na
lista de discussão mas principalmente ficou pra repetir o que eu tinha dito em sala e
muitas vezes pra eu falar por exemplo como corrigir um texto deles e notava que a
maioria dos erros era de, vamos supor, não fazer a introdução e erros de concordância
então ai era a que eu mandava uma mensagem pro grupo falando que eles deveriam olhar
parte do livro, de fazer revisão de concordância e a parte de introdução de turnabout que
é feita assim e assim assado. Então servia também pra essas explicações e dificuldades
que eu notava nas composições que eu corrigia, depois da edição.
P. Como você avalia a interação e participação das alunas em nas aulas presenciais e nas
aulas on-line?
R. Olha, eu acho que eles tiveram uma boa participação, primeiro porque eles estavam
nervosos, tavam tensos então eles não faltavam aulas, eu acho que foi bom o nível de
presença e como eles estavam tensos eles estavam muito atentos, eu acho que a atenção
ela pode ser positiva até num certo ponto ela atrapalha nessa questão de às vezes nem
compreende o que a gente fala de tão tensos que eles estão eu acho que eles extrapolaram
o nível de tensão mas eu acho que um pouco de tensão é positiva eu achei que eles foram
bem participativos assim, fizeram todas as tarefas, todos eles fizeram todas as tarefas,
corrigiram de todos, fizeram a edição tão normal porque eles estavam fazendo a lição,
muitos deles reclamavam assim olha, fulana olha mas muita reclamação um do outro,
muita implicância, fulana olha a gramática ela não olha minha composição como um
todo, fulana o olha meus erros olha minha introdução, então eles não entenderam
que era pra olhar tudo e o principal organização textual.
P. Você diferença entre as aulas presenciais e on-line em termos de participação e até
mesmo nessa questão da tensão que ê estava falando?
R. Olha, o que eu acho é o seguinte, alguns alunos eles são mais relaxados, mais tranqüilos e
esses alunos eles perceberam que eles podem fazer menos e ainda sim ter um bom
desempenho então alguns alunos, acho que uma aluna em especial talvez duas elas
faziam a edição de um modo bem descuidado então essa foi a reclamação que eu tive, que
algumas alunas o fizeram o que podia ter feito, não ajudaram o contribuíram tanto
quanto podiam, fizeram um pouco menos do que poderiam ter feito então mas isso
aconteceu principalmente on-line então eu acho que o meio on-line ele possibilita eu to
pensando isso agora e falando, to pensando agora, nunca pensei isso antes não, mas eu
acho que o meio on-line ele possibilita o experto entendeu? a fazer mais ou menos a dar
uma lidinha de três erros e aponta esses três erros e pronto.
171
P. Na sala de aula, você percebia que as alunas davam essas contribuições aos trabalhos das
colegas mais espontaneamente ou quando era solicitado?
R. Mais espontânea. Espontânea.
P. E on-line? As alunas faziam isso espontaneamente ou quando era agendado?
R. Não, agendada, tinha que ta agendada pra contribuir. Porque on-line ele vai ter que
acessar, então vai acessar, vão entrar, vai ver quando ele tiver que fazer isso.
Agora na sala de aula não ele vai ta né, se a gente tá discutindo um texto x, então ele já
mesmo, tem a idéia, inclusive essa aluna que to me referindo é boa aluna e tudo mas
ela podia ser muito melhor porque é muito inteligente, mas ela sempre faz o suficiente pra
passar, então porque ela foi minha aluna em outros cursos, ela é desse jeito mesmo, o
que ela pode fazer menos ela faz e ela dava ótimas contribuições ótimas contribuições
em sala de aula.
P. Que papel você assumia em cada uma das aulas?
R. Orquestradora ((risos))
P. Orquestdadora? ((risos))
R. Não, eu acho que on-line eles ficam mais livres porque eu não queria muito éh me meter
nessa relação deles de peer-editing eu acho que é uma relação dos alunos, uma interação
entre eles, agora em sala eu tentei não sei se eu consegui porque a gente não tem
consciência dessas coisas né, mas eu tentei fazer que eles trocassem opiniões, então eu
falava o quê que tem de errado aqui? Então eu sempre tentava perguntar pra eles o que
tinha de errado antes de falar o que tava errado porque eu acho que meu papel é fazer eles
pensarem chegarem nas próprias conclusões, eu gosto de aluno assim, quebrando a
cabeça ((risos)).
P. Em sua opinião, que atividades funcionaram melhor on-line e quais funcionaram melhor
em sala de aula?
R. Eu particularmente gostei muito dos workshops, eu achei que eles tiveram oportunidade
de opinar sobre o trabalho dos outro e aqueles que não tava entendendo o que era pra ser
feito aquele tipo de introdução o que era aquele tipo de organização textual, eles tiveram
a oportunidade de aprender com as colegas e também de relaxar porque se o colega
entendendo eu também posso entender então eu acho que os workshops foram muito
produtivos, muito interessantes, achei que eles cresceram muito durante os workshops né
que a gente colocava as thesis statements todas elas no quadro cada um apontava
colocava todos os outlines no quadro e cada um apontava qual era os problemas então
eles chegaram a uma conclusão que tava com uma serie de problemas, eles mesmo
chegavam um apontando o problema do outro antes que eu falasse pelo menos tentei
fazer isso você agora vai ver se eu consegui fazer isso ou não ((risos))
P. E on-line?
R. O on-line eu não falei porque on-line realmente foi a edição foi isso que eles
fizeram on-line a edição do texto um do outro. Eu acho que a gente precisava de uma
ferramenta no fórum onde a gente pudesse fazer outro tipo de marcação, outro tipo de
comentário, as correções dos trabalhos, primeiro comecei fazendo as correções no papel
ai depois eu notei que era muito melhor eu fazer no Word e passar pra eles anexo porque
eu podia comentar usar aquela ferramenta comentários e eu achei muito melhor esse tipo
de correção, muito mais trabalhosa mais eu gostei mais de fazer esse tipo de correção,
demora mais tempo mas é um dia pra cada uma, uma tarde pra cada uma, mas eu gostei
bastante de fazer isso e eu acho que eles gostaram também, eu acho que o que foi
interessante também é a avaliação de item por item eu não sei se você vai perguntar eu to
atropelando. Aquela avaliação, aquela folha que eu dei, de organização textual,
introdução gramática, coesão, coerência, então eu achei que aquilo ali eles podem sentir
172
aquilo ali que não tem uma proteção essa ou pra aquela pessoa que fica bem claro qual foi
o problema naquele texto, então eu achei que colocar isso em anexo e mandar pro grupo
eu achei interessante porque eu não sei se eles fizeram isso mas eles podiam ter olhado a
composição, o paper do colega e ter olhado a avaliação daquilo que ter aprendido isso
ficou aberto pra eles fazerem eu não mandei ninguém fazer isso quis fazer poder fazer.
P. Que comparação você estabelece entre os dois tipos de aula?
R. Éh eu acho, Antônio Carlos, éh eu gosto muito de ter contato com o aluno, eu acho, eu
concordo com eles que o ideal seria que fosse o curso todo presencial isso pra mim, a
minha crença né, mas essa questão de edição no presencial ela não funciona realmente
não funciona. Eu acho que tem que ser on-line
173
claro, as duvidas são dissipadas mais facilmente presencialmente e que aquelas pessoas
mais preguiçosas mais difícil de você fazer trabalhar elas contribuem mais
presencialmente.
P. A que você atribui isso?
R. Ao fato de que on-line ela pode não há o desgaste da face ne? Eu acho que essa relação de
interação FACE-a-face fala FACE-a-face né? tem essa questão de você querer
174
P. Como era a sua participação em sala de aula? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Eu procurava participar o máximo geralmente não faltava aulas e sempre tava querendo
aprender eu gosto muito de aprender e sempre procurei participar bastante.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Olha realmente eu acho uma coisa meio delicada porque eu não conhecia ninguém da sala
de aula e eu falava muito pouco, principalmente no inicio, fazia mais pela solicitação da
professora mesmo, eu tinha uma colega que fiquei mais amiga e com ela eu tinha a
liberdade de trocar idéias, mais não muito com as outras.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho em sala de aula?
R. Do mesmo modo que eu colaborei com uma determinada colega ela também fazia mais
criticas ao meu trabalho e dava maior contribuição. As outras eu não achava que era mais
assim, não eram muito profundo assim não. Era uma coisa superficial.
P. Como você se sentia interagindo com as colegas e com a professora em sala de aula?
R. Com a professora eu interagi muito bem com meu grupo também e depois aos poucos do
modo que a gente foi conduzindo a gente foi tendo mais liberdade, companheirismo.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora em sala de aula?
R. Eu acho que o papel dela era muito importante, ela sabe conduzir bem a discussão e dava
umas dicas muito boas assim pra gente.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. Fazia na minha casa geralmente a noite e no final de semana.
P. Como era a sua participação nessas aulas? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Ai era conforme era estipulado mesmo na segunda feira a gente tinha que colocar os
comentários e na quarta a gente tinha que apresentar o trabalho então geralmente fazia
conforme o combinado mesmo.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas nas aulas on-line? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Acho que era mais quando era solicitado porque como falei anteriormente nos
conhecíamos bem eu então eu procurava ser bem objetiva tentar não dar muita opinião eu
colocava mais realmente se eu via algum erro eu colocava nesse parágrafo tal acho que
deveria colocar essa palavra invés dessa ou essa palavra tá com engano nessa palavra.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. A principio eu achei meio difícil mais assim fui mim acostumando acho que até gostei.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. A professora ela tentou incentivar a gente pra essas aulas on-line e ela sempre quase toda
semana ela dava uma instrução se a gente não estava fazendo conforme ela tava
esperando ela explicava como a gente deveria fazer até no inicio ela chegou a me falar
como entrava na Internet então porque ela sentiu que eu tinha um pouco de bloqueio ela
tentou me ensinar assim nem como se fazia
P. Que papel era desempenhado pela monitora?
R. Ela eu só interagi com ela duas vezes e não senti muita contribuição não.
P. Que comparação você estabelece entre os dois tipos de aula?
R. Eu particularmente prefiro presencial pela minha dificuldade de lidar com o computador
mas acho que foi muito interessante e também me deu a oportunidade de conhecer esse
lado da Internet de e começou até me despertar de para receber e-mails e passar e-mails
para outras pessoas então foi muito interessante nesse ponto porque quebrou um tabu
meu.
1
75
P. Há mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar?
R. Não eu gostei muito do curso e acho que foi valido esse tipo de interação on-line e foi
interessante e também aula presencial também foi muito importante pra mim.
3. Amanda
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Bom, meu nome é Amanda e assim éh a experiência que a gente teve na aula de Produção
de Texto não foi muito eficiente pra mim não com o uso do computador, porque eu achei
o seguinte, co a questão da gente fazer os textos e as colegas darem uma olhada no
texto e ter outras opiniões eu acho que quando você faz isso na sala de aula com seu
colega é mais produtivo porque eu tive uma experiência quando fiz inglês em
habilidade 3 a gente fazia isso dentro de sala, então assim ficava em duplas e um ia
corrigindo dando sugestões e tudo, que com essa experiência da Internet, assim eu
acho que as pessoas às vezes tem um pouco de preguiça, de corrigir o trabalho dos outros.
P Você já tinha feito aulas on-line antes?
R. Não, não, não tinha feito essa foi a primeira, mas eu tive experiência da correção
mesmo na sala.
P. Você usa computador e internet com freqüência?
R. Uso, uso. Mas eu acho que é muito útil assim sabe? Porque você até economiza tempo,
muita coisa mas eu acho que no caso mesmo, por exemplo tinha gente que nem olhava o
texto sabe? Tava com um pouco de preguiça ((risos)).
P. Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas com relação a ela?
R. Desde que eu entrei aqui na faculdade eu fiz inglês antes ne cursinho e depois que eu
entrei, principalmente depois que eu fiz Produção de Texto, minha escrita melhorou
muito, acho que foi com esse objetivo mesmo que eu me matriculei mas ajudou muito
mesmo, aagora to fazendo literatura, fazendo outras disciplinas que eu preciso fazer os
textos, nossa ajudou muito.
P. Como era a sua participação em sala de aula? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Assim éh eu faltei o máximo que eu pude da aula ((risos)) porque até por causa desse
negócio de serem on-line, eu acabava faltando a outra aula. Mas na aula eu participava
muito sabe! Dava muito éh como é que fala? Muito palpite assim.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Por exemplo, durante quando era solicitado eu dava palpite a não ser que fosse por
exemplo uma amiga minha entendeu, no trabalho eu falava que não devia fazer assim
porque tem gente que não gosta muito, tem gente que não se sente muito bem quando o
colega tá corrigindo, às vezes durante a aula a gente colocava numa transparência ou dava
uma cópia pra todo mundo, aí eu dava a minha sugestão, o que e achava.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho em sala de aula?
R. Foram boas, me ajudaram, assim, não foram muitas, algumas me ajudaram bastante a
poder aperfeiçoar mais o meu texto.
P. Como você se sentia interagindo com as colegas e com a professora em sala de aula?
R. Era tranqüilo assim, muito bom, gostei, e a turma era pequena e como eu conhecia a
professora, algumas das minhas colegas eu conhecia também, então ficava tudo mais
fácil, porque a gente não ficava muito constrangida né de ter seu trabalho corrigido.
176
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora em sala de aula?
R. Olha, eu acho que era de ajudar mesmo, de aperfeiçoar cada vez mais o texto, como eu
vou falar, eu tava pra ajudar do palavriado em inglês, ajudar a gente melhorando,
porque cada aula a gente fazia um texto e no final a gente juntou pra fazer os textos.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. Ou daqui da faculdade ou da casa do meu namorado, porque aqui eu não tenho
computador, porque eu não moro com minha família, horário? A tarde assim, às vezes
algum dia na parte da manha quando não tinha aula eu fazia aqui.
P. Como era a sua participação nessas aulas? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Olha, assim, eu corrigia os textos, lia os textos, eu fiz o máximo que eu pude, que tem
algumas coisas que passam, eu tenho certeza que tem texto de alguém que eu não li
porque não deu.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas nas aulas on-line? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Corrigindo on-line assim. eu tenho sei assim, eu tinha que fazer isso, eu deixava
uns recados assim, tinha texto depois não tinha nada pra corrigir, às vezes eu não percebia
os erros, alguma coisa, a idéia não ia mudar né, então a gente começou, é melhor você
colocar o que tinha que fazer entendeu?
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho nas aulas on-line?
R. A maioria foi assim das contribuições, então elas me ajudavam a corrigir, mas não
muito.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. Na verdade a gente não tinha... porque o texto tava lá, eu ia lia, entrava na Internet, mas
assim eu deixava recados porque a gente o tinha uma comunicação rápida entendeu?
Então eu deixava o que eu achava e tudo, era assim que a gente comunicava.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. On-line eu acho que... não sei assim, ela colocava assim tipo, ela que organizava, porque
a gente não tinha muito contato com isso porque a gente não tinha feito muita aula assim
antes, então era pra organizar mesmo o nosso trabalho e dava dicas pra gente, o que a
gente tinha que fazer isso ai.
P. Que papel era desempenhado pela monitora?
R. Olha eu vou te falar a verdade eu nem sei quem é, acho que lembro o nome dela, mas a
única vez que precisei que ela me ajudasse, ela não me ajudou, ela não mandou, assim, eu
mandei um e-mail só que ela não me ajudou.
P. Que comparação você estabelece entre os dois tipos de aula?
R. Eu prefiro muito mais a presencial. Ah porque eu acho que o contato que é melhor sabe,
você discute mais dentro da sala eu acho que eu te falei dá preguiça às vezes de você o
texto tipo assim sabe, eu prefiro.
P. Há mais alguma coisa que não foi abordada e que você gostaria de acrescentar ou
comentar?
R. Tirando essa parte, nada de 100% por cento bom, mas o curso foi muito bom sabe,
mesmo nessa tendo essa parte on-line, a gente teve até tempo pra discutir na sala, mas eu
preferia se fosse todo em sala, do jeito que foi, prefiro em sala.
4. Bárbara
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
177
R. Meu nome é Bárbara, eu sempre usei o computador pra fazer trabalhos da faculdade mas
eu to acostumada a usar o computador mas nunca tive aulas on-line. Foi a primeira vez,
foi presencial, não foi totalmente on-line.
P Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas com relação a ela?
R. Eu me matriculei na disciplina porque ela é uma disciplina obrigatória no meu curso e eu
acabo em momentos que disciplina obrigatória, eu me matriculei na Produção de Textos
porque achei que era uma área boa pra poder melhorar a minha escrita, pra fazer o
trabalho acadêmico centrado nas literaturas que é a parte que eu acho mais difícil.
P. Como era a sua participação em sala de aula? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Eu participava nas aulas geralmente quando a professora pedia uma opinião sobre o
trabalho de alguém, ou alguém apresentava um texto e precisa que fazia uma avaliação ai
eu acostumava comentar alguma coisa.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado?
R. Era espontaneamente, elas apresentavam, a professora pedia uma idéia de como seria o
texto que a gente, dava uma idéia de introdução, uma idéia de desenvolvimento do texto,
uma thesis, elas apresentavam então sempre que eu percebia ter uma introdução que
encaixasse melhor ou alguma coisa que ela podia acrescentar no texto eu colaborava
nesse sentido.
P. Como foram as contribuições que você recebeu de suas colegas em sala de aula?
R. Éh mais ou menos. Sempre que apresentava idéias do texto elas procuravam ajudar.
P. E como você se sentia interagindo com as colegas e com a professora em sala de aula?
R. Ah eu achava tranqüilo, a turma era pequena, eu tinha muitas amigas então acabava
fazendo a matéria comigo então era tranqüilo, a professora também era muito objetiva
porque ela apresentava os problemas mas sempre de uma forma amigável, mas eu acho
muito melhor na sala de aula do que on-line.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas em sala de aula?
R. Ela apresentava a teoria e ajudava um pouco na prática também, porque antes da gente
colocava os textos on-line, ela pedia uma apresentação breve do que ia ser, de como ia
ficar e dava uma colaboração também na prática do que ela apresentou.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. Em casa, normalmente a noite, as oito, nove horas.
P. Como era a sua participação nessas aulas on-line? Com que freqüência participava? Em
que situações?
R. Sempre tinha um texto pra corrigir, a gente tinha um grupo, a sala tava dividida em
grupos e cada grupo analisava os textos e seus componentes do grupo e sempre que tinha
um texto pra gente analisar eu lia todos e costumava comentar alguma coisa que eu vi que
precisava melhorar ou algum erro de ortografia mesmo corrigia ou a gente mandava pra
pessoa corrigir.
P. Você tem algo mais a acrescentar sobre o tipo de contribuição que você fazia? Você fazia
isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Quando solicitado e também espontaneamente porque a gente tinha, a tarefa era essa
corrigir os textos mais mesmo as pessoas dos outros grupos as as amigas de outros
pediam pra rever os textos delas também e fazer um comentário então...
P. E como foram as contribuições de seus?
R. Foram boas contribuições éh que ajuda mesmo a gente a melhorar o texto tem muitas
vezes que a gente passa por cima de alguma coisa, então tem uma MANIA eles tinha
178
muita mania, de escrever a mesma palavra ou de usar a mesma construção, então alguém
que tá lendo o texto, alguém de fora costuma ver mais do que quem escreveu e ai aponta
uma uma opção diferente, isso ajuda isso acrescentou muito na minha escrita.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. Era muito complicado porque eu percebi que tinha umas pessoas na sala que não
gostavam do que tinha colocado, eu então eu tentava escrever de um jeito que a pessoa
entendesse, que era uma ajuda, que eu tava querendo, que eu não tava criticando o texto
dela, que eu queria ajudar mesmo, eu oferecia uma opção diferente pra ela escrever, mas
eu percebi que tinha algumas pessoas que ficam meio chateadas com a gente porque
corrigia muita coisa então era complicado porque a gente tinha que ser muito educado,pra
poder não magoar as pessoas, achando que tava criticando muito o texto dela, mas o
objetivo não era esse, mas há algumas pessoas que se sentiam assim.
P. E qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. Ah a professora normalmente ela colocava a a task, a tarefa que ela tava pedindo e pra
gente colocar o texto embaixo da task que ela pediu, mas normalmente quem lia os
textos, corrigia os textos on-line eram os alunos só, ela corrigia a versão final depois
das correções que a gente recebia do grupo, a gente fazia uma lição e entregava pra ela, e
era essa lição que ela lia, as as primeiras versões do texto ela num não corrigia, era só pra
os alunos mesmo.
P. Qual era o papel da monitora?
R. O papel da monitora ((risos)) devia ser também ajuda para os grupos e corrigir porque
179
R. Não, num to lembrada. Normalmente quando a gente ia botar o texto era direto no Voy. A
gente botava o texto, assim éh as correções mas antes do texto a gente escrevia era só um
recado breve.
P. O e-mail era pra recado breve?
R. Não no fórum mesmo que a gente colocava éh acho que é isso mesmo, eu copiava o texto
e fazia as correções no próprio e texto e devolvia ele pra pessoa. E mais éh no fórum
mesmo antes em cima do texto eu colocava um recado, tipo um bom dia, corrigi seu
texto, éh na linha tal tal tem uma sugestão né, não usava e-mail não.
P. Algo mais que você gostaria de acrescentar?
R. Não, é só isso mesmo.
5. Clara
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Meu nome é Clara, ah eu to no sétimo período de letras, éh experiência com computador
éh e aulas on-line eu não tinha ainda, éh computador é uso domestico mesmo eu não
fiz curso, só um curso de digitação mas curso de computação não, mexer em programas
eu não tinha feito.
P Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas?
R. Éh eu matriculei porque é uma disciplina que faz parte né, no curso de inglês ela é
obrigatória, éh as minhas expectativas éh, eu pretendia de alguma forma melhorar minha
escrita, éh melhorar meu inglês porque é sempre o que a gente busca quando a gente
entra pra universidade.
P. Certo. É obrigatória a Produção de Textos, mas ela foi oferecida em outras
modalidades. Por que essa especificamente? Por que você resolveu se matricular nessa
especificamente?
R. Mais por, é muito por conveniência também, porque era éh o horário batia de dia, eu
podia fazer esse horário, eu podia fazer esse dia e eu achei conveniente fazer nesse
horário.
P. Como era a sua participação nas aulas em sala de aula? Com que freqüência participava?
Em que situações?
R. Eu sempre tive uma freqüência nas aulas, freqüentei as aulas, faltei poucas vezes mas a
minha participação, éh eu não acho que participo muito das aulas porque é meu jeito, eu
não participo muito no geral desde que me conheço como estudante eu participo
menos mas como era uma turma pequena éh o aluno sente obrigado entre aspas a
participar mais, a falar mais e é o que dá até pra colaborar com o professor.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Os dois, um pouco dos dois. Até porque eu tive a partir do semestre passado eu tenho tido
muito pouco tempo pra fazer os trabalhos, porque eu to trabalhando também então éh eu
procurava juntar as duas coisas quando me era solicitado e também porque eu queria
comentar o trabalho das colegas e, eu procurava realmente fazer os comentários.
P. Que tipo?
R. Éh quando eu via que tinha alguma coisa errada eu falava pode melhorar isso, poderia
colocar isso no lugar mas eu percebi uma coisa, que a medida que foi passando o tempo
eu fui fazendo isso com menos freqüência né ia colocando menos comentários justamente
180
pelo pouco tempo que eu tinha pra pra corrigir pra correção on-line então no inicio eu
comecei a colocar mais comentários e no final eu comecei a colocar menos comentários.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho em sala de aula?
R. Em sala de aula eu acho que não teve muito, aporque em sala de aula, o tempo ficava
mais restrito a explicações da matéria em si, a professora falava mais.
P. E quanto aos seminários?
R. Ah nos seminários não, nos seminários teve muito eu achei muito proveitoso assim a
gente pode colocar a nossa o nosso texto né, mostrar o que a gente ia fazer e as opiniões
foram proveitosas tanto on-line quanto na sala de aula.
P. O que você ia falar da matéria, da exposição da matéria?
R. É porque ah quando a gente encontrava em sala de aula ficava mais o tempo ficava
mais éh como era pouco tempo né, era mais a professora que falava porque a gente tinha
que ela tinha que dá o conteúdo, mas tinha muita colaboração da turma também.
P. Como você se sentia interagindo em sala de aula?
R. Era uma boa interação éh que eu percebi que era um pouco heterogênea, assim éh cada
uma tinha, não cada uma, tinham pequenos grupos eu nem sei classificar e dividir, mas éh
até porque tinha alunas de isolada, né então é gente que vem com experiência diferente da
gente que tá aqui dentro, né então eu percebi um pouquinho que a turma era heterogênea e
às vezes ficava difícil essa integração mas de uma maneira geral foi boa porque tinha saía
opiniões boas, éh comentários que acrescentavam mas o pouco de dificuldade que teve
que acho que era devido de a turma ser heterogênea.
P. E você? Como você se sentia interagindo nessa sala de aula?
R. Ah de uma maneira geral eu sentia com liberdade pra interagir, agora eu me sentia mais
com a liberdade pra falar porque eu acho que a turma era pequena porque em turmas
grandes eu não tenho essa essa coisa de às vezes opinar, mostrar a minha opinião eu fico
mais quieta não gosto muito não, quando a turma era pequena eu ficava mais éh falava
mais.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora em sala de aula?
R. Acho que em sala de aula a professora era uma facilitadora, ela expunha a matéria
também, só que ela fazia o possível pra vir da gente também os comentários do que gente
tinha feito em sala de aula, em sala de aula não, em casa porque tinha muita tarefa, ela
passava muita tarefa, a gente fazia e ela corrigia em sala de aula, a partir daí começou a
surgir a matéria, o que era pra ser dado mesmo. Éh ah acho que foi isso.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. As atividades on-line eu fazia aqui da faculdade mesmo porque a Internet em casa não é
muito boa então geralmente eu fazia quando não tinha aula dela né, tinha espaço
reservado pra aula on-line, o horário reservado pra aula on-line, então eu ficava e fazia, éh
geralmente eram esse horários mesmo, esses horários e aqui na faculdade.
P. Como era a sua participação nas aulas on-line? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Eu éh procurava responder porque tem os grupos a sala foi dividida em dois grupos então
eu respondia os do meu grupo pela questão do tempo eu acho assim que se tivesse
mais tempo, comentaria os dos outro também as das outras pessoas mais eu ficava restrita
ao meu grupo e é igual o que te falei, éh no inicio eu fazia mais comentários, depois eu
comecei fazer menos comentários eu sempre procurava comentar alguma coisa, de
corrigir alguma coisinha.
181
falar onde o erro mas também éh elogiar né, mais ai eu procurava apontar os erros pra
pessoa ficar mais atenta e o que eu via que não tinha erro nenhum eu falava que tava bom
, que não tinha o que mudar mas no geral eu destacava mais os erros não sei se muito
certo mas eu fazia isso.
P. Você fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Mais quando era solicitado.
P. Como foram as contribuições que você recebeu de suas?
R. Que eu recebi foram muito boas também. Éh tiveram comentários que realmente éh,
porque quando você escreve seu texto tem coisas que você não que as outras pessoas
vêem e comentam e realmente servem pra melhorar e te ajudar né a reescrever.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. Éh eu achava uma boa interação, às vezes acontecia algum probleminha porque quando
você mexe com computador, você tem que esperar por isso porque tem vez que Internet
não funciona, éh às vezes a professora passava a tarefa a gente não recebia então o colega
respondia mas a gente não recebia então você tem que atento pra essas coisas, de uma
maneira foi legal, foi proveitoso, eu achei muito válido.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. Basicamente nas aulas on-line no inicio ela mandava as tarefas, antes claro teve uma
preparação ela explicou pra gente como faria éh e depois teve uma outra aluna né
convidada por ela começou a ajudar a gente principalmente na elaboração do trabalho
final eu achei muito legal porque deu umas dicas pra gente e ajudou bastante porque a
gente tinha não só a opinião do colega mas também de uma outra pessoa que tava por fora
do grupo então essa pessoa conhecia a gente virtualmente e é legal porque ela eu
acho que ela tem como apontar mais coisas que a gente não vê.
P. Qual era o papel dessa monitora?
R. A monitora éh ela não sei se ela era aluna de mestrado ou era aluna de graduação, ela lia
as redações de todo mundo on-line e fazia os comentários do mesmo jeito que a
gente fazia que ela procurava comentar o trabalho de todo mundo e as pessoas pediam
ajuda pra ela né e eu acho que foi muito proveitoso isso.
P. Que comparação você estabelece entre os dois tipos de aula?
R. Eu acho que cada um contribui da sua maneira, eu acho que essa questão da aula
presencial éh de uma maneira eu me sentia mais segura dentro da sala né, você a
pessoa, voouvir o comentário diretamente dela, eu me sinto mais segura dentro da
sala de aula mas por outro lado a aula on-line ela é mais pratica né se você pensar, se você
tiver na sua casa e pode comentar o texto do colega ele vai receber e vai poder melhorar a
redação dele a partir do que você comentou e enviou por e-mail mas eu particularmente
me sinto mais segura na sala de aula apesar da Internet ser mais pratico.
P. Há mais alguma coisa que você gostaria de acrescentar ou comentar?
R. Eu queria enfatizar essa questão da éh da importância né de como é legal essa coisa de
ter a matéria presencial, matéria on-line, como as coisas estão mudando né, como que
tudo agora tende a facilitar a vida do aluno e do professor também, então isso tem que ser
bem administrado né. Que éh claro que você num vai fazer uma matéria éh eu acho que
uma matéria on-line ela é muito éh fica meio vago. Então eu acho que pra matéria ser
on-line, não tem que ser on-line, tem que ser semipresencial. Eu acho isso muito
importante, igual eu te falei eu te falei, é mais seguro vendo professor, tendo aquela
explicação já tradicional.
P. Você já fez alguma disciplina só on-line?
R. Não. Por isso mesmo. Porque eu não me sinto segura fazendo uma disciplina só on-line.
182
6. Chris
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Ok. Meu nome é Chris, eu sou professora de inglês e fiz dois cursos a distância pela
UFMG um foi de Abordagem Comunicativa e o segundo foi disposição de textos, o
primeiro foi totalmente a distancia o segundo foi intermediado classe e a distancia teve
essa.
P Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas com relação a ela?
R. Bom o principio quando me matriculei no Produção de Textos eu não sabia que teria essa
aula a distancia , eu me matriculei porque eu tinha dificuldade de fazer trabalhos
acadêmicos e depois eu fiquei sabendo que tinha essa parte que era a distancia que eu
achei muito bom porque eu já tinha experiência né.
P. Como você avalia a sua participação em sala de aula? Como era? Com que freqüência
participava? Em que situações?
R. Bom eu sempre tive uma participação muito ativa em sala de aula eu sou 100%, sou uma
pessoa que participa 100% em em tudo, ((risos)) às vezes até demais.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Éh eu sou o tipo de pessoa que acaba até palpitando , não sei oportunamente como vai
ser participando, em relação a Internet isso é obrigatório dentro do grupo ne então eu
realmente participei ativamente ainda mais ainda pontualmente né.
P. E na sala de aula?
R. Na sala de aula também.
P. Que tipo contribuições você dava aos trabalhos de suas colegas?
R. A gente comentava o trabalho que a essa tinha feito, como ela tinha desenvolvido o
trabalho mas sempre pensando, como a maioria era tudo feita dentro do computador a
gente tinha que ler lá e muitas vezes era comentada em sala de aula.
P. Como foram as contribuições que você recebeu de suas colegas em sala de aula?
R. Muito poucas, algumas que eram mais amigas, mais chegadas elas que davam mais
palpite mesmo, a gente se via numa certa parte o trabalho ficou difícil então a gente teve
que pedir ajuda tal, as amigas, as pessoas mais chegadas, companheiras de grupo que
tinha amizade pessoal foram as que mais interferiram as que mais ajudaram, as outras
pessoas tendem a ficar muito neutras.
P. Como você se sentia interagindo com as colegas e com a professora em sala de aula?
R. Não, eu não tenho problema nenhum, eu sempre me senti muito a vontade. Assim, tanto
nessa matéria como em qualquer outra, talvez mais a vontade nessa porque a turma era
pequena né, eu acho que a medida que a turma é muito grande acho também dificulta a
gente vai ficar falando muito mas como sempre essas classes são menores, num numero
bem menor você fica mais um tipo assim mais intimo né por causa do pessoal.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora em sala de aula?
R. O papel dela era orientar de maneira que as tarefas tinham que ser desempenhadas acho
que isso nem aconteceu, isso eu to colocando pra ela. Eu acho que ela atendia, ela jogava,
ela queria que a gente se se virasse mas acho que ela tinha que ter dado a orientação antes
né e realmente a gente acabava ou não fazendo, ela invertia um pouco a ordem das coisas
então eu acho que tudo tem uma ordem, de repente ela dava umas investidas eu acho
nessa parte não foi muito boa não.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
183
R. Daqui da minha casa.
P. E que horários?
R. Os meus horários são sempre muito cedo, sempre trabalho 6 horas, 7 são meus horários
preferidos de manhã na hora que a casa tranqüila, eu tenho Internet aqui a cabo então
esses horários.
P. Como era a sua participação nessas aulas? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Eu participava com tudo tanto no grupo de discussão que ficava nos e-mails quanto
aonde eu tinha que participar, eu não me interferia nos outros grupos que também no final
os grupos se juntaram tudo mas eu interferi na com muita pontualidade no trabalho
das minhas colegas que tinha que comentar esse trabalho entendeu.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas nas aulas on-line?
Você fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Se fosse no e-mail que era pelo fórum é que não me lembro né, se era lançada a
pergunta se o aluno perguntasse por exemplo aonde que ia achar uma determinada coisa
ou seja fazer uma pergunta eu dava uma pesquisada aqui e falava olha você acha
porque aquilo não era aberto pro grupo e erra o grupo né, então você acha o lugar, eu nem
esperava a professora responder eu respondia porque vinha pra mim como todo mundo
né e no trabalho que você tinha que postar lá com a data e tudo eu fazia o que a professora
pedia no trabalho e fazia comentário.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho nas aulas on-line?
R. Muito precária, eu acho que as pessoas não tem responsabilidade, as pessoas de forma
em geral né, lógico que tem as pessoas que tem e as que não tem, mas a maioria aquele
grupo principal e o outro grupo do trabalho que eu fiz com Abordagem Comunicativa, eu
senti a mesma coisa, que no outro grupo como era inteiramente on-line tinha gente que
esperava o aluno a ler o capitulo que eram capítulos grandes não desse do qual você fez o
trabalho, do Abordagem Comunicativa, eram capítulos grandes que você tinha que ler e
fazer um summary, tinha gente que tinha coragem de esperar o aluno a fazer o summary
pra fazer um summary em cima daquele summary entendeu? Então eu acho que as
pessoas não tem responsabilidade, com relação ao Produção de Textos, tinha um prazo
pra você fazer então não controlou esse prazo eu sempre fiz antes, então muita gente
estourava prazo e os alunos não tinha comentando seu trabalho, muitas vezes você
precisava daquele comentário pra você elaborar o seu final então eu acho que essa parte
foi bem falha.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. Eu sempre gostei muito mas quando tem essas falhas assim eu ficava muito nervosa
né, eu gostei mais do outro curso que eu fiz porque ele era inteiramente on-line, como ele
era inteiramente on-line a outra professora tinha o follow up estrito sobre as datas
então se você não colocasse o trabalho ali você não tirava, gostei muito inclusive do
fórum também que você tinha que participar tipo, eu achei muito legal.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. Eu acho que ela tinha que fazer o papel de monitorar ali o que tava acontecendo e dar
algumas idéias o que não aconteceu não, eu acho que ela não preparada não pra esse
tipo de trabalho eu acho que professor, o profissional que se dispõe a montar o curso a
abrir uma pagina tem que monitorar a participação ele tem que intermediar né.
P. Isso foi feito?
R. Não.
P. Como foi?
184
R. Eu acho que foi omisso, totalmente mesmo com relação a prazo assim, como é que você
se sente numa situação dessa, sente lesada porque você fica esperando porque quando
é um grupo você pertence ao grupo, o grupo tem que trabalhar ordenado porque seu grupo
que manda as informações você não pode desempenhar o próximo passo, é a mesma coisa
que você fizer um trabalho de equipe aonde que éh sempre tem alguém que não participa
entendeu? As pessoas tava jogando lá, falando ah mas eu mandei né, sempre tem essas
conversas ah eu mandei mas não foi, ah mas tava eu vi que tava lá, tava que não
sei o que e tal eu nunca dei muito mole assim.
P. Que papel era desempenhado pela monitora?
R. Foi escolhida uma monitora mais pro final, porque tinha um grupo que tinha muita
dificuldade com a matéria então foi escolhida uma monitora pra ajudar nesse trabalho e
ela simplesmente não fez isso, não sei qual era a combinação na faculdade, ela ficou
bem omissa também, aí nessa parte eu senti de uma monitoria.
P. Que comparação você estabelece entre os dois tipos de aula? E no on-line considerando a
lista de discussão e o fórum.
R. Como?
P. Como você compara as duas aulas? Os dois tipos: presencial e on-line?
R. Éh uma aula presencial e uma on-line ou essa aula que eu fiz com a Ana que foi
misturada?
P. Essa que você fez. Como você avalia as aulas presenciais e as on-line? Como você
compara essas aulas?
R. Éh Eu acho que teve uma hora que ficou meio no vácuo, eu acho que se essa aula on-line
ela é bem elaborada, como foi essa aula que eu fiz de Abordagem Comunicativa só faltou
professor uma vez e ela andou muito bem né, andou muito bem a gente recebeu todo
material pra estudar, eu achei que teve um desencontro mas eu acho que faltou
experiência dela coordenando não sei ficou muito confuso, mas de qualquer forma foi
muito válido, eu não sabia nada, eu aprendi né, eu acho que foi muito bom, eu faço aula
on-line com meus alunos e tenho uma escrita pelo computador, eu sou totalmente
presente quer dizer não é um fórum não tenho fórum, mas acho que teve um desencontro
sim, acho que a professora poderia melhorar, agora tem uma coisa eu sou muito critica né
Antônio Carlos, então eu não sei né, eu tenho ta uma mania de perfeição né, então eu não
sei acho que pode ser comigo entendeu? ((risos))
P. Ok. Com relação às ferramentas a lista de discussão e o fórum como você compara
esses dois recursos?
R. Depois que ficou funcionando éh dentro do computador?
P. É. A lista de discussão do Yahoo e o fórum do Voy.
R. O Voy tudo bem, as pessoas têm um pouco de medo assim de entrar na lista ali, eu tive
duas experiências diferentes que foram, uma eu acho que até vale a pena citar aqui pra
você, quando eu comecei a fazer o curso de Abordagem Comunicativa as pessoas que
tavam participando ai elas eram um grupo enorme acho que tinha quarenta não sei teve
que dividir em duas turmas, as pessoas começaram a encontrar colegas e eles começaram
a falar coisas pessoais né e começou a ficar muito desagradável isso aí foi dado uma basta
e tal e as pessoas começaram a misturar, depois que ela cortou isso, cortou também o
assunto cnico, ninguém falou mais nada, mas eu acho assim, não sei como funciona
esses outros cursos que eu to preparando aluno pro PMI eles participam de fórum não sei
como é que é, falar se eles usam ou não, mas com relação a UFMG, eu acho que faltou
um pouco de mesmo assim de lançar as questões, eu acho que ainda é uma coisa que o
aluno não tá muito preparado, não sei se é experiência nova na UFMG não sei como é.
185
P. mais alguma coisa que não foi abordada que você gostaria de comentar ou de
acrescentar?
R. Não não eu acho eu queria acrescentar que é muito válido sim, éh éh o que eu gostaria de
acrescentar é assim se muitas vezes o aluno acha que ele vai fazer um curso on-line
porque ele não vai ta lá na faculdade, tudo bem ele vai economizar tempo, ele vai
economizar combustível, passagem o que seja, mas éh esse não pode ser um motivo pra
ele entrar num curso on-line porque se o curso for bem elaborado ele vai ter que produzir
do mesmo jeito, ele vai ter o conforto da casa dele e o horário que ele escolheu pra
trabalhar que é até melhor do que ir entendeu? Mas se ele fugindo de uma
responsabilidade de ter que ir eu acho que o que de errado é isso, quando o aluno
não tem maturidade pra entrar nesse curso ele corre e por isso é que ele acaba não
participando, porque ele pensa que é brincadeira não sei, mas se ele realmente escolhe
acho que funciona apesar que nem tem vaga né, eu gostaria muito de fazer um outro, mas
é isso.
7. Nathalie
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Olha, ahm eu não tenho assim uma boa experiência com o computador não. Ahm porque
eu não manuseio muitas vezes então assim mesmo pra Internet, uma pesquisa, também
lógico né, fazer algum trabalho mas assim, sempre encontro dificuldades. E aulas on-line
não ainda assim. Ahm tive aquelas que nós tivemos a experiência que recebíamos
ahm os exercícios e mandávamos através do computador. Mas sempre assim eu sempre
ficava receiosa de não dar certo e algumas vezes não dava mesmo não.
P Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas com relação a ela?
R. Olha, eu resolvi mim matricular porque realmente na hora de transmitir a mensagem do
que eu quero encontro dificuldades na escrita, em transmitir a minha mensagem. Então às
vezes não fica tão coerente ou então o texto não é tão éh critico e lá teve algumas técnicas
que realmente né me ajudaram. Eu tenho só que colocar mais em pratica.
P. Como era a sua participação em sala de aula? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Olha, não uhm vou confessar que não muito. Porque sempre que possível que havia eu lia
alguma coisa previamente eu discutia em sala de aula, mas ahm quando não dava pra
ler o material, então ficava difícil principalmente porque eu chegava um pouco atrasada.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas em sala de aula?
R. Ah assim eu dava opiniões, por exemplo, assim às vezes o pessoal tinha ahm não
conseguia fazer uma introdução éh éh de uma maneira uma maneira especifica e às
vezes eu conseguia entender como era pra fazer aquela introdução e ficava atenta ao que a
professora, falava, e ajudava no que eu podia.
P. Você fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. Não, espontaneamente.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho em sala de aula?
R. Ah, não não tanto em sala de aula, porque realmente o tempo em sala de aula é pouco né,
mas assim às vezes através da Internet quando o pessoal lia MESmo o que eu tinha
escrito eles ahm davam uma opinião, ó você tem que melhorar nisso” então às vezes
quando não conseguia discutir pela Internet as pessoas pegavam meu texto e falavam “ó
186
você tem que mudar esse tópico”, “a maneira de como você escreveu não é a maneira que
foi solicitada”.
P. Como você se sentia interagindo com as colegas e com a professora em sala de aula?
R. Olha, com a maior parte dos alunos eu acho que teve uma boa interação. No que foi
possível todo mundo assim eu acho que ajudou uns aos outros. Mas assim não assim não
éh é um pouco difícil assim você ajudar porque você também tirando muitas dúvidas
então eu acho que as pessoas não ajudam, ou ajudavam mesmo porque realmente elas têm
dúvidas e fica difícil também pra elas tá ajudando.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora em sala de aula?
R. Orientar, tirar as dúvidas e ahm mostrar a maneira correta de de escrever um texto
ahm, uma analise critica ou analítica, ou uma introdução por exemplo, tipo novela, num
sei às vezes uma introdução de drama assim mostrar mas às vezes ela também fazia com
que nós pensássemos. Então não dava também né tudo pronto não. Ela fazia com que nós
tentássemos chegar a uma solução.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. Ah em casa, em casa.
P Em um horário específico?
R. Ah variava por causa dos meus filhos. Ahm principalmente à noite ou de madrugada.
P. Como era a sua participação nessas aulas? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Ahm porque era mais pra você produzir o texto e mandar via on-line. Não tinha uma
comunicação entre um e outro.
P. E quanto à lista de discussão do Yahoo, aquela lista de e-mails que mandava para o
grupo?
R. Ah sim, mas não entrávamos simultaneamente. Então o horário que eu entrava também
provavelmente muitas pessoas tavam dormindo. Então assim eu pegava e mandava
ahm meu comentário dos textos pra cada pessoa.
P. Que tipo de contribuição você deu para os trabalhos das colegas nas aulas on-line?
R. Algum erro gramatical, ou alguma palavra que eu via que era que tava diferente. Mais
nesse sentido porque tinha muitas duvidas também de como fazer com meu texto porque
tinha determinadas coisas que eu não conhecia sobre o tópico, então não podia ta dando
muita opinião.
P. Como foram as contribuições de seus colegas para o seu trabalho nas aulas on-line?
R. Como meu tópico era um tópico assim de conhecimento geral, não exigia conhecimento
mais aprofundado, prévio era justamente de como escrever, como usar o computador,
como te auxilia nos seus ahm writings, então eles ahm todo mundo me ajudou bastante,
tive bastante ajuda.
P. Como você se sentia interagindo on-line com as colegas e com a professora?
R. Ah não sinto bem, porque eu acho que não domino, não dominava técnicas e ou então
ahm quando a Internet saia do ar, então não me sinto bem interagindo on-line,
definitivamente não.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. Olha ela não tinha muita participação. Era mais a participação do grupo mesmo. A
professora ela ia tirar ela ahm nós mandávamos os trabalhos, depois do trabalho pronto
ela analisava e comentava conosco em sala de aula ou então depois ela mandava uma
correção mais assim não tinha muita interação. Não tinha muita interação não.
P. Que papel era desempenhado pela monitora?
R. Não foi muito bom, ela ela começou, depois desapareceu e depois voltou no final. Então
não deu muita ajuda não.
187
P. Que comparação você estabelece entre as aulas on-line e as aulas em sala de aula?
R. Olha, pra mim, num sei se é porque éh realmente uma opinião pessoal eu ahm eu prefiro
as aulas em sala de aula, talvez justamente por não dominar essa técnica de computação
então eu fico meio ((risos)) eu fico receosa. Eu prefiro em sala de aula né, eu acho que eu
produzo melhor em sala de aula e a professora tá mais presente assim ajuda mais ahm não
sei, pelo menos foi o que eu senti sabe, em sala de aula nós temos mais ajuda do que na
Internet, talvez justamente por eu não dominar essa técnica de Internet, então foi isso que
eu senti.
P. Com relação aos dois ambientes, o fórum e a lista de discussão, como você esses dois
ambientes?
R. Olha, se realmente todas as pessoas se dispusessem a usar regularmente eu acho que é
uma boa opção é isso que você tá perguntando, mais ou menos isso? ((risos))
P. Se esse curso fosse oferecido novamente você teria alguma sugestão de alguma coisa que
poderia ser modificada?
R. Ah definitivamente não fazê-lo on-line ou então a maior parte seja em sala de aula e
algumas vezes on-line porque eu sei que facilita a vida das pessoas e eu taria abrindo mão
do ((risos)) do que eu sinto.
P. Você teria mais alguma coisa a acrescentar ou algum comentário?
R. Ah sim, porque éh hoje pelo que todo mundo tem um tempo muito corrido, acho e o
que puder produzir ta produzindo em sala de aula, éh sendo feito e produzido em sala de
aula seria muito bom, facilitaria mais a vida das pessoas talvez não a do professor mais a
dos alunos.
8. Tatiana
P. Eu gostaria que você começasse com uma breve apresentação, falando de você, sua
formação e experiência anterior com computador, internet e aulas on-line.
R. Sou arquiteta, sou formada vão fazer sete anos, sou especializada em processamento,
agora to fazendo mestrado, questão de Internet eu nunca tinha feito nada on-line não.
mesmo por necessidade, mas nada de curso on-line não.
P Por que você resolveu matricular-se na disciplina “Inglês: Produção de Textos” e quais
eram suas expectativas com relação a ela?
R. No caso como a gente entra no mestrado, numa pós graduação a gente tem que saber uma
outra língua estrangeira e saber escrever também então eu achei que com a Produção de
Texto eu poderia aprender a redigir um bom texto entendeu? Na língua inglesa no caso,
seria essa minha expectativa né, de saber redigir um texto científico.
P. Como era a sua participação em sala de aula? Com que freqüência participava? Em que
situações?
R. Eu sempre ia em todas as aulas, o faltava nenhuma até eu sair na disciplina, mas eu
sempre perguntava, o que eu não entendia eu perguntava o que fosse possível, entendeu?
P. Que tipo de contribuição você dava para os trabalhos das colegas em sala de aula? Você
fazia isso espontaneamente ou quando era solicitado que você o fizesse?
R. A gente não fez muito trabalho em grupo não né, no caso teve muito individual.
P. Com relação ao que as outras escreviam, você dava alguma contribuição?
R. Não, porque eu não ficava direto lá, eu fazia em casa e chegava entendeu? Não sou da
área de letras então mal encontrava.
P. Com relação ao seu trabalho, você saiu antes ou depois de começar a escrever o seu
paper?
R. Antes, antes.
188
P. Então você não começou a escrever o final paper?
R. Não, não, eu parei em acho que foi em outubro.
P. Você começou a escrever aquela thesis statement?
R. Comecei.
P. Você chegou a discutir sala de aula? Aqueles workshops que tinham?
R. Sei, tinha mais aquele summary né, como tinha que ser ser feito né né.
P. Nesse momento, que tipo de contribuição você recebeu de suas colegas na sala de aula?
R. Eu acho que mais falava era a professora né, num era bem as alunas, às vezes a gente
entendia uma coisa a professora dizia que era outra, essa era é a idéia que eu tinha né.
Ahm a gente via tudo sobre como desenvolver um essay, e chegava e não era bem isso
né, então tinha que refazer então eu acho que muita a maioria das pessoas ali ficou meio
perdida inclusive eu é claro, por ser da de fora da área né, mas eu acho que não dei muita
contribuição não né, porque eu to meio fora do ambiente, né.
P. Como você se sentia interagindo em sala de aula com as colegas e com a professora?
R. Ó pelo inglês que eu cheguei a ter né, não tinha problema em conversar em conversar
nem nada não, mas eu acho que na hora que você vê a teoria né, a questão da Produção de
Texto mesmo, eu acho que eu tava meio perdidas entendeu? Até a professora Ana me
falou que eu teria que fazer umas outras matérias pra poder tá naquele nível ali, entendeu?
Por isso que eu deixei de fazer a disciplina.
P. Em sua opinião qual era o papel da professora nas aulas em sala de aula?
R. Ensinar ((risos)). O fator principal é ensinar.
P. Em que horários e de que local você fazia suas atividades on-line?
R. On-line, eu fazia aqui em casa, geralmente a tarde né. Quer um horário especifico assim?
Você fala na questão de mandar os essays, né? Era à tarde.
P. Como era a sua participação nessas atividades on-line? Com que freqüência participava?
Em que situações?
R. Tudo no prazo direitinho. No caso ali teve mais entrega de trabalho, não teve muita
discussão não, só quando tinha um erro assim que uma colega “Oh, isso aqui não tá legal,
se eu fosse você eu mudava isso aqui” ai em questão disso a gente tinha uma troca de
idéia né, “eu acho que não tá legal não, você podia mudar”.
P. Como você avalia essas contribuições de suas colegas?
R. Ah, positivas né. Porque eu acho que contribuindo, de repente uma coisa que você não
sabe a outra sabe então tá te complementando né.
P. Essas contribuições foram mais on-line ou em sala de aula?
R. Mais on-line. Porque nas aulas a gente tinha que perguntar as dúvidas pra professora, a
gente tem que aproveitar o professor ali né, porque on-line era mais difícil de falar com
ela.
P. Como você se sentia interagindo on-line?
R. Sem nenhum problema. Como se tivesse falando ao telefone. Só que é um pouco
demorado porque não é instantâneo né, não é no Messenger, era e-mail então não era
instantâneo.
P. Em sua opinião, qual era o papel da professora nas aulas on-line?
R. Tirar dúvidas, eu acho que seria tirar duvidas, e tinha até uma estagiária dela, no caso, que
tirava dúvidas pra gente.
P. E qual era o papel dessa estagiária?
R. A gente mandava o texto pra ela, ela ia e “olha eu acho que isso aqui tem que mudar por
causa disso e disso”, ela justificava o erro entendeu?
P. Como você avalia o papel desempenhado por essa monitora?
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R. Ah eu acho que foi muito tranqüilo. Na hora que precisou dela, ela teve presente. não
vou saber o nome dela aqui agora.
P. Que comparação você estabelece entre essas aulas on-line e presenciais?
R. O presencial eu acho que tem umas coisas que você tem que perguntar pessoalmente né,
porque só ficar no computador esperando foto não adianta, tem que ser uma coisa
recíproca ao mesmo tempo né. E tem certas horas que você tem que mostrar pro
professor, “ó eu num tô entendendo isso aqui”, eu acho que só on-line não serve,
entendeu? Eu acho que o face-to-face é importante ainda, porque chega uma hora que
você não a fim de ver computador, o computador estragada, então você não tem mais
como comunicar e você estando pessoalmente você tá vendo a pessoa ali, tá mostrando.
P. Você teve problema com a tecnologia, com o fórum?
R. Não, até então não.
P. Como você compara os dois ambientes, o fórum do Voy e a lista do Yahoogroups?
R. Você fala aquela que ela abriu no caso?
P. Aquela lista que vocês mandavam e-mails para todos e o fórum onde vocês postavam
seus trabalhos. Como você compara os dois?
R. O fórum acho que não tinha muito o que falar, era entregar o que ela abriu lá. No
Yahoo era onde a gente discutia porque você não tinha o e-mail especifico de cada um,
você coloca num, você manda mensagem pro grupo e todo mundo sabendo ai cada um
da sua opinião. No fórum não, você entregava, o tinha uma discussão, foi como a
Ana pôs entendeu, por isso ela criou o fórum pra gente entregar trabalho e o grupo do
Yahoo pra gente discutir.
P. Se esse curso fosse oferecido novamente você sugeriria que se mudasse alguma coisa?
R. Não eu acho que não.
P. Alguma coisa a mais que você gostaria de acrescentar ou comentar?
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