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Rumo a uma democracia de cidadãs e cidadãos
Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento
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a democracia
na América Latina
Rumo a uma democracia de cidadãs e cidadãos
Argentina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Costa Rica, Equador, El Salvador,
Guatemala, Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Paraguai, Peru,
República Dominicana, Uruguai, Venezuela
Preparado pelo Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento
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A análise e as recomendações políticas deste Relatório não refl etem necessariamente as opiniões do
Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento, de sua Junta Executiva nem de seus Estados
Membros. O Relatório é uma publicação independente preparada a pedido do PNUD. É o fruto da
colaboração entre um conjunto de prestigiosos consultores e assessores e a equipe do Relatório da
Democracia na América Latina (PRODDAL).
© Programa das Nações Unidas Para o Desenvolvimento, 2004
1 UN Plaza, New York, New York, 10017, Estados Unidos da América
Este documento foi elaborado com a ajuda fi nanceira da União Européia. As análises e recomendações
deste documento não refl etem a opinião ofi cial da União Européia.
A tradução deste Relatório para o português foi dirigida pela Profa. Monica Hirst, coordenada por Mi-
riam De Paoli e contou com a participação de Maria Adelina Guedes Chaves, Gértea Coeli de Macedo
Oliveira e Ivone Tupinambá Pereira Lima.
Da Primeira edição em español: Aguilar, Altea, Taurus, Alfaguara S.A., 2004.
Idéia da capa: Fisher América Argentina
Desenho de portada e interiores: Schavelzon-Ludueña. Estudio de Diseño
© Desta edição:
LM&X Ltda., 2004
Rua Calçada dos Antares, 264 2º andar
Alphaville – Santana do Parnaíba – SP – Brasil
www.lmx.com.br – li[email protected]
Todos os direitos reservados. Esta publicação e seus materiais complementares não podem ser reproduzidos, no todo
ou em parte, nem registrados em, ou transmitidos por um sistema de recuperação de informação, sob nenhuma forma
nem por nenhum meio, seja mecânico, fotoquímico, eletrônico, magnético, eletroóptico, por fotocópia ou qualquer
outro, sem a autorização prévia por escrito da editora.
Direção editorial:
Diagramação:
Revisão:
Alessandra Machado
Adalton Martins, Vanessa Thomaz, Verônica S. Martins
Ivan Garcia
ISBN: 85-98887-01-3
Depósito Legal na Biblioteca Nacional
conforme decreto nº 1825 de 20 de novembro de 1907
Programa das Nações Unidas
para o Desenvolvimento (PNUD)
Administrador
Mark Malloch Brown
Administrador Associado
Zéphirin Diabré
Coordenador do Projeto
Dante Caputo
Administradora Auxiliar
e Diretora Regional para a
América Latina e o Caribe
Elena Martínez
Representante Residente
na Argentina
Carmelo Angulo Barturén (até Abril de 2004)
Carlos Felipe Martínez (desde Maio de 2004)
Assessora de Governabilidade
do Programa Regional
Myriam Méndez Montalvo
Coordenador
do Programa Regional
Freddy Justiniano
Marco teórico
Guillermo O’Donnell, com os comentá-
rios de Bruce Ackerman, Andrew Arato, Re-
nato Boschi, Fernando Calderón, Catherine
Conaghan, Julio Cotler, Larry Diamond,
José Eisenberg, Manuel A. Garretón, David
Held, Céli Regina Jardim Pinto, Jennifer
McCoy, Adalberto Moreira Cardoso, Juan
Méndez, José Nun, Pierre Rosanvallon,
Alain Touraine e Laurence Whitehead.
Pesquisa de opinião
Jorge Vargas coordenou a equipe inte-
grada por Miguel Gómez Barrantes, Tatiana
Benavides, Evelyn Villarreal e Lorena Kikut,
para o projeto e análise da pesquisa Latino-
barômetro / PRODDAL 2002.
Indicadores
Gerardo Munck coordenou a equipe
integrada por David Altman, Jeffrey A.
Bosworth, Jay Verkuilen e Daniel Zovatto.
Rodada de consultas
Diego Achard, Augusto Ramírez Ocam-
po, Edelberto Torres Rivas, Gonzalo Pérez
del Castillo, Claudia Dangond, Raúl Alcona-
da Sempé, Rodolfo Mariani, Leandro García
Silva, Adriana Raga, Luis E. González, Gon-
zalo Kmeid, Pablo Da Silveira, e uma equipe
dirigida por Hilda Herzer e integrada por
Ve rónica De Valle, María M. Di Virgilio,
Graciela Kisilesky, Adriana Redondo e Ma-
ría C. Rodríguez.
Projeto sobre a Democracia
na América Latina
Coordenador do Projeto
Dante Caputo
Consultores por Áreas
Coordenador Países Andinos
Augusto Ramírez Ocampo, com a co-
laboração de Claudia Dangond, Elisabeth
Ungar e Amalfy Fernández.
Coordenador Países
do MERCOSUL
Dante Caputo e Raúl Alconada Sempé.
Coordenador Países do Istmo
Centro-americano e República
Dominicana
Edelberto Torres Rivas, com a colabora-
ção de Claudio Luján.
Coordenador institucional
Gonzalo Pérez del Castillo.
Coordenadores
Ofi cial de Programa PNUD: Rosa Zla-
chevsky.
Equipe técnica: Leandro García Silva,
Rodolfo Mariani e Thomas Scheetz.
Equipe de apoio: María Eugenia Bóveda
e Fabián de Achaval.
Colaboradores especiais: Fabián Bosoer
e Daniel Sazbón.
Equipe do Projeto em Buenos Aires
5
Projeto sobre a Democracia na América Latina
Milena Leivi, Milagros Olivera, Sandra Rojas, Emilio Sampietro.
Difusão do Relatório
José Luis Barros Horcasitas, Fernando Calderón, Alberto Couriel, Joaquín Estefanía,
Gustavo Fernández Saavedra, Enrique Ganuza, Manuel Antonio Garretón, Edmundo
Jarquín, Marta Lagos, Marcos Novaro, Vicente Palermo, Arturo O’Connell, Guillermo
O’Donnell, Carlos Ominami.
Assessores
Gloria Ardaya, Horacio Boneo, Sebastián Campanario, Eva Capece, Julio Godio, Luis
Eduardo González, Juan Carlos Herrera, Néstor Lavergne, Norbert Lechner, Silvia
Lospennato, Luis Verdesoto.
Consultores
Carmelo Angulo, Víctor Arango, Marcia de Castro, Juan Pablo Corlazzoli, Juan Alberto
Fuentes, Enrique Ganuza, Freddy Justiniano (Coordenador), Thierry Lemaresquier, Carlos
Lopes, Carlos F. Martínez, Magdy Martínez, Myriam Méndez-Montalvo, Gerardo Noto,
William Orme, Stefano Pettinato, Juan Rial, Harold Robinson, Martín Santiago, Luis
Francisco Thais.
Grupo de leitores do Relatório
A democracia na América Latina
6
Índice
13 Prólogo do Administrador do PNUD
17 Prefácio da Diretora Regional para América Latina e Caribe do PNUD
21 Apresentação
21 Liberdade, democracia e política
25 Resumo
25 Introdução
26 A democracia e a idéia de democracia na América Latina
26 Balanço da cidadania integral
28 Percepções e apoio de líderes e cidadãos
29 Elementos para uma agenda
31 Metodologia do Relatório
primeira seção
33 O desenvolvimento da democracia na América Latina
35 O desafi o: de uma democracia de eleitores a uma democracia de cidadãos
38 Democracia, pobreza e desigualdade: um triângulo latino-americano
41 Balanço entre reformas e realidades
45 Os organismos internacionais e a promoção da democracia
49 Exploração sobre o desenvolvimento da democracia
50 Um debate incompleto
52 Fundamentos teóricos
A idéia de democracia
Os défi cits da sociedade como défi cit da democracia
Alcances da democracia no Relatório
Democracia, regime político e Estado
Os cidadãos, fonte e justifi cativa da autoridade do Estado democrático
O cidadão, sujeito da democracia
A cidadania excede os direitos políticos, a democracia também
Estado e cidadania
64 “Estatalidad” truncada e fragilidade democrática
66 Especifi cidade histórica das democracias latino-americanas
69 De quanta cidadania uma democracia precisa
7
Índice
segunda seção
73 Bases empíricas do Relatório
75 Indicadores de desenvolvimento da democracia
75 Cidadania política, civil e social
76 Cidadania política
Índice de democracia eleitoral
Outros indicadores do regime democrático de acesso ao governo
Participação eleitoral
Concorrência eleitoral e seleção de candidatos
Representação eleitoral
84 Balanço do regime de acesso democrático ao governo
Outras dimensões da Cidadania Política
Poderes constitucionais clássicos
Agências especializadas de controle
Mecanismos de democracia direta
A corrupção na função pública
Clientelismo
88 Conclusões sobre a cidadania política: conquistas e defi ciências
104 Cidadania civil
Igualdade legal e proteção contra a discriminação
Direito à vida, à integridade física e à segurança
Administração de justiça
Liberdade de imprensa e direito à informação
Conclusões sobre a cidadania civil: conquistas e defi ciências
122 Cidadania Social
Necessidades básicas
Integração social
A sociedade civil como promotora da cidadania social
Conclusões sobre a cidadania social: conquistas e defi ciências
139 Como os latino-americanos vêem a sua democracia
140 Três tendências em relação à democracia: democrática, ambivalente e não-democrática
Magnitude das tendências em relação à democracia
Distância entre as tendências em relação à democracia
Tendências em relação à democracia: perfi l social
Heterogeneidade
147 Formas de participação dos cidadãos na vida política
Participação cidadã e tendências em relação à democracia
Perfi s de intensidade da cidadania
153 O índice de Apoio Cidadão à Democracia
157 A percepção dos dirigentes latino-americanos
157 Perfi l dos atores consultados
157 O ponto de partida conceitual
A democracia na América Latina
8
158 Condições necessárias para a Democracia
A expansão da participação política
A expansão dos controles sobre o exercício do poder
Opiniões sobre o caráter da democracia
162 Causas das limitações das democracias latino-americanas
Poderes institucionais e poderes fáticos
O papel dos partidos políticos
Os poderes fáticos
Empresas
Os meios de comunicação
Os fatores extraterritoriais
As Igrejas
O sindicalismo
Os poderes ilegais
Os poderes políticos formais
O Poder Executivo
As Forças Armadas
170 A visão dos presidentes e vice-presidentes
Avaliação da fi gura do presidente no mapa de poder de cada região
Pressões dos poderes fáticos sobre a autoridade presidencial
O papel dos meios de comunicação
Valoração das organizações sociais na vida política do país
172 O fortalecimento da democracia
A construção da agenda pública na América Latina
A agenda futura
Os desafi os
177 Alcances da democracia na América Latina. Um balanço
Como se exerce o poder nessas democracias?
178 Síntese da rodada de consultas
terceira seção
181 Rumo a uma democracia de cidadania
183 Quatro temas para uma agenda de debate
184 A política, primeira condição
189 A necessidade de uma nova estatalidad”
192 Uma economia para a democracia
198 Poder e políticas democráticas na globalização
201 Em síntese
203 Re exões fi nais
203 O eterno desafi o
9
Índice
207 Agradecimentos
Instituições que colaboraram na elaboração e discussão do Relatório
Autores de artigos sobre temas da agenda
Participantes da Rodada de Consultas
Participações especiais
Funcionários do Escritório do Administrador do PNUD
Funcionários da Direção para América Latina e Caribe do PNUD.
Funcionários do Escritório de Enlace do PNUD em Bruxelas
Funcionários do Escritório do PNUD na Argentina
Representantes Residentes, Adjuntos e Auxiliares dos Escritórios do PNUD na
América Latina
Funcionários dos Escritórios do PNUD na América Latina
210 Participantes em seminários e reuniões
Reunião com o Secretário Geral da ONU
Reunião com o Administrador do PNUD
Apoio na preparação de reuniões e seminários
Produção e tradução
213 Nota técnica sobre o Índice de Democracia Eleitoral (IDE)
213 Construção do IDE
A escolha dos componentes
A medição dos componentes
A geração de uma base de dados retangular com escalas normalizadas
A escolha de regras de agregação
217 Testando o IDE
Confi abilidade entre codifi cadores e estimativa de erro
A solidez das regras de agregação
O caráter dimensional dos elementos componentes
218 Interpretando e usando o IDE
219 Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarô-
metro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
219 Apresentação
219 I- Pesquisa de opinião sobre a democracia
Dados e metodologia
Desenho das amostras
Análises estatísticas
Unidade de análise
Precisão dos resultados
Amostras totais, amostras válidas e não-respostas
Apresentação de resultados
O método de medição do apoio cidadão à democracia mais amplamente utilizado
e suas fragilidades
227 O IAD e as tendências em relação à democracia
As três dimensões do IAD
A democracia na América Latina
10
Primeira dimensão: tamanho de uma tendência
Segunda dimensão: ativismo político das tendências
Classifi cação de modos de participação
Terceira dimensão: distância entre as tendências
A regra de agregação do IAD
A Interpretação do IAD
Validação e confi abilidade do IAD
Pressupostos e limitações do IAD
239 Bibliografi a
255 Abreviaturas
257 Índice de quadros
260 Índice de tabelas
262 Índice de gráfi cos
263 Conteúdo do CD-ROM incluído no relatório
11
Índice
13
Prólogo do Administrador do PNUD
A AMÉRICA LATINA APRESENTA ATUALMENTE UM EXTRAORDINÁ-
RIO PARADOXO. Por um lado, a região pode mostrar, com grande orgulho,
mais de duas décadas de governos democráticos. Por outro, enfrenta uma cres-
cente crise social. Persistem profundas desigualdades, existem níveis de pobreza
elevados, o crescimento econômico tem sido insufi ciente e a insatisfação (expres-
sa, em muitos lugares, por um amplo descontentamento popular) das cidadãs
e dos cidadãos com essas democracias tem aumentado. Essa circunstância tem
gerado, em alguns casos, conseqüências desestabilizadoras.
O Relatório representa um signifi cativo esforço para compreender e superar
esse paradoxo. Ele oferece uma análise abrangente do estado da democracia na
América Latina, mediante a combinação de indicadores quantitativos, entrevis-
tas, pesquisas e diálogo com grande número de líderes e formadores de opinião
por toda a região. O Relatório procura, ainda, ir além do simples diagnóstico dos
problemas existentes e propõe novos enfoques para os desafi os que estão, atual-
mente, pondo em risco os avanços registrados nos últimos 25 anos.
Resultado do trabalho de um grupo de especialistas independentes, o Relató-
rio não é, conseqüentemente, um documento ofi cial sobre as políticas do Progra-
ma das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PNUD) ou das Nações Unidas.
Consideramos que ele representa uma valiosa contribuição para a confi guração
de uma agenda ampliada para os países da América Latina, o PNUD e seus par-
ceiros na busca pelo desenvolvimento nos meses e anos futuros. Por esse motivo,
é grande a satisfação do PNUD em ter apoiado esta iniciativa.
O coração do problema está em que, embora a democracia tenha-se propa-
gado amplamente na América Latina, suas raízes não são profundas. Assim, o
Relatório assinala que a proporção de latino-americanas e latino-americanos que
estariam dispostos a sacrifi car um governo democrático em favor do progresso
socioeconômico real é superior a 50%.
São várias as razões dessa tendência. A mais importante é que a democracia
é, pela primeira vez na história da América Latina, a forma de governo predo-
minante. Assim, os governantes são culpados quando as coisas andam mal em
matéria de emprego, renda e serviços básicos, que são insufi cientes para satisfazer
as crescentes expectativas da cidadania.
O panorama torna-se ainda mais complexo quando se considera que diversos
fatores indispensáveis para a governabilidade democrática, tais como liberdade
Prólogo do Administrador do PNUD
A democracia na América Latina
14
de imprensa, proteção sólida aos direitos humanos e poder judiciário indepen-
dente e vigoroso ainda precisam ser substancialmente fortalecidos. Além disso,
muitos grupos, tradicionalmente excluídos, não têm acesso ao poder por meio
dos canais formais. Assim, eles manifestam suas frustrações por vias alternativas,
não raro por meio de expressões violentas.
Não obstante, existem alguns sinais muito animadores por trás dessa situação.
O primeiro é que, apesar das crises, os países da região não optaram por um re-
trocesso ao autoritarismo; tendo, ao contrário, dado amplo apoio às instituições
democráticas. Em segundo lugar, os cidadãos estão começando a distinguir entre
a democracia como sistema de governo e o desempenho dos governantes em par-
ticular. Muitos desses cidadãos nada mais são do que democratas insatisfeitos,
fenômeno que é bastante conhecido em muitas democracias estabelecidas. Isso
explica, parcialmente, por que os movimentos de oposição não tendem, hoje em
dia, para soluções militares, mas para líderes populistas que se apresentam como
alheios ao poder tradicional e prometem perspectivas inovadoras.
Dessa forma, quando é hora de identifi car responsáveis, as populações dife-
renciam cada vez mais entre as diversas instituições. Ao passo que os corpos le-
gislativos e os partidos políticos têm apoio de menos de um quarto da população,
o Poder Judiciário e o Executivo, assim como os serviços de segurança, mostram
uma imagem um pouco melhor.
Para que a democracia não defi nhe e possa crescer, a América Latina precisa
trabalhar incansavelmente para que as instituições democráticas, das legislaturas
às autoridades locais, sejam transparentes, prestem contas dos seus atos e desen-
volvam as aptidões e capacidades necessárias para desempenhar suas funções
fundamentais. Isso signifi ca que será preciso assegurar que o poder, em todos os
níveis de governo, seja estruturado e distribuído de tal forma que dê voz e parti-
cipação real aos excluídos. Além disso, ele deve proporcionar mecanismos pelos
quais os poderosos, sejam eles líderes políticos, empresários ou outros atores,
quem obrigados a prestar contas de suas ações.
Nesse caminho não há atalhos: consolidar a democracia é um processo, não
um ato isolado.
Fazer, porém, com que as instituições públicas tenham um desempenho efeti-
vo é apenas uma parte do desafi o. Além disso, é preciso demonstrar aos cidadãos
que os governos democráticos estão cuidando dos problemas que verdadeira-
mente preocupam os povos, que são capazes de responder a essas indagações e
que estão sujeitos ao efetivo controle da cidadania quando não o fazem.
Na prática, o desafi o implica também na construção de instituições legislati-
vas e jurídicas capazes de proteger os direitos humanos e de gerar espaço para um
debate político vigoroso e pacífi co. Ele inclui o desenvolvimento de uma força
policial capaz de garantir ruas e fronteiras seguras; um poder descentralizado,
15
Prólogo do Administrador do PNUD
para que a população de cada localidade possa mobilizar-se para garantir escolas
com professores bem capacitados e hospitais com equipamento e medicamentos
apropriados; uma fl orescente sociedade civil e uma imprensa livre. O desafi o im-
plica, ainda, que todos esses atores tenham plena participação na consolidação da
democracia e estejam na vanguarda da luta contra a corrupção e a má adminis-
tração de governos e empresas.
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODM) das Nações Unidas
— que vão de reduzir à metade a pobreza extrema e a fome até assegurar que,
no ano 2015, todas as meninas e meninos freqüentem escolas — oferecem um
instrumento para ajudar a atender a essas questões no nível nacional e regional.
Num sentido muito real, os ODM constituem o primeiro manifesto global para
mulheres e homens, meninas e meninos de todo o mundo: um conjunto de ques-
tões concretas, mensuráveis e enunciadas sinteticamente, de forma que qualquer
um possa compreendê-las e honrá-las.
Como parte de um pacto global entre países ricos e pobres, em face do com-
promisso assumido pelo mundo desenvolvido de apoiar os países em desenvol-
vimento que levam a cabo reformas de boa fé, os ODM oferecem uma oportuni-
dade real para canalizar o apoio externo em termos de acesso a mercados, alívio
da dívida e maior assistência, de que tantos países latino-americanos necessitam
desesperadamente para impulsionar seus próprios esforços.
Se a América Latina e o mundo aproveitarem esta oportunidade, existirá en-
tão possibilidade de se construir um novo círculo virtuoso, por meio do qual o
crescimento econômico renovado dê impulso aos ODM e ajude simultaneamen-
te a construir e sustentar democracias mais efetivas e capazes de acelerar um pro-
gresso social e econômico eqüitativo. Para fazer dessa visão uma realidade, será
preciso, porém, que os latino-americanos, e especialmente os líderes em todas as
esferas, enfrentem decididamente as questões críticas que afetam a governabili-
dade democrática e que possam assegurar que desenvolvimento e democracia
continuem sendo entendidos, não como alternativas, mas como dois lados da
mesma moeda.
Mark Malloch Brown
Administrador do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento
A democracia na América Latina
16
17
Prefácio da Diretora Regional para América Latina e Caribe do PNUD
Prefácio da Diretora Regional para
América Latina e Caribe do PNUD
HOUVE UM MOMENTO, NÃO FAZ MUITO TEMPO, em que muitos acre-
ditaram que a política estava morta: o mercado impessoal e o saber tecnocrático
se encarregariam de levar-nos ao desenvolvimento. O mercado, porém, pressu-
põe a segurança jurídica dada pelas instituições. E a tecnologia não diz para quê
nem para quem, mas apenas como.
Por isso, nestes últimos anos, os economistas e os organismos de desenvolvi-
mento voltaram os olhos para as instituições, para as opções e para os confl itos.
Vale dizer, voltaram a descobrir a política (embora prefi ram não dizer isso).
O Relatório faz parte desse redescobrimento e quer, ao mesmo tempo, ajudá-
lo. Em outras palavras, contribui para a reinvenção da política como sustentáculo
do desenvolvimento latino-americano.
Assim, a pedido dos governos, o PNUD vem dando cada vez mais atenção
ao desafi o de consolidar a democracia na América Latina e no Caribe. De fato,
a maioria dos programas nacionais de cooperação tem em vista esse propósito,
mediante a modernização do estado e de seus diferentes ramos, a reforma polí-
tica, a governança local e a adequada inserção na aldeia global. Em nada menos
que 17 países, acompanhamos diálogos que ajudam a construir consensos entre
autoridades, forças políticas, sociedade civil e atores não tradicionais. Por sermos
uma organização de conhecimento, vários projetos regionais e nacionais empe-
nharam-se ou estão empenhados em avaliar alternativas e difundir boas práticas
no que tange à governabilidade.
Nesse contexto, o Conselho Executivo do PNUD aprovou o II Marco de Coo-
peração Regional para o período 2001-2005, no qual está incluída a preparação
de um Relatório sobre o estado da democracia na América Latina [que] será
resultado de atividades conjuntas de acadêmicos e agentes políticos e sociais da
região
1
“. O texto que tenho hoje a honra de apresentar é o primeiro resultado
desse processo, em que participaram mais de 100 analistas, 32 presidentes ou
ex-presidentes, mais de 200 líderes políticos ou sociais e quase 19 mil cidadãos
entrevistados em 18 países.
Em seu sentido mais elementar, democracia nada mais é do que o governo do
povo. O Relatório procura levar a sério essa velha idéia, para pô-la em diálogo
com o presente e o futuro de nossa América: governo do povo signifi ca que as
decisões que nos afetam a todos sejam tomadas por todos. No contexto da Amé-
rica Latina, há, portanto, que se celebrar a existência de governos eleitos pelo voto
popular e os progressos na representação e participação na esfera política duran-
1 Conselho Executivo do Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento e do Fundo de População
das Nações Unidas, Primeiro Período Ordinário de Sessões de 2002.
18
A democracia na América Latina
te as últimas décadas. Mas persiste o desafi o de engrandecer a política, isto é, de
submeter ao debate e à decisão coletiva todos os assuntos que afetam o destino
coletivo, o que acarreta, por sua vez, maior diversidade de opções e mais poder ao
Estado, para que este possa cumprir os mandatos da cidadania.
Governo do povo signifi ca, então, um estado de cidadãos plenos. Uma forma,
sem dúvida, de eleger as autoridades, mas, além disso, uma forma de organização
que garante os direitos de todos: os direitos civis (garantias contra a opressão),
os direitos políticos (tomar parte nas decisões públicas ou coletivas) e os direitos
sociais (acesso ao bem-estar). É a democracia da cidadania que o Relatório pro-
põe e que serve de eixo ordenador de sua análise.
Assim, a idéia seminal e o convite essencial do texto que estou apresentando
é avançar na direção de uma democracia de cidadãs e cidadãos mediante a am-
pliação da política.
Será necessário advertir que “política não é só (e não é sempre) o que fazem
os políticos, e sim o que fazem os cidadãos e suas organizações quando se ocu-
pam da coisa pública? Ou haverá necessidade de acrescentar que a democracia
assim entendida é uma forma de desenvolvimento humano? Se desenvolvimento
humano, como mais de uma vez disseram os Relatórios do PNUD, é o aumento
das opções para que as pessoas possam melhorar sua vida
2
“ , eu diria que demo-
cracia é desenvolvimento humano na esfera pública, é aumentar as opções de
caráter coletivo que incidem na qualidade de nossas vidas. E assim, a afi rmação
de Amartya Sen —“desenvolvimento humano é o processo de expansão das li-
berdades reais de que goza um povo
3
— vem a ser, de fato, uma defi nição de
democracia.
O debate está aberto. Como manter a vigência e aperfeiçoar o regime demo-
crático de que agora desfrutam nossos países? Como expandir a cidadania social,
como reduzir a pobreza e a desigualdade, que continuam sendo a nossa grande
mancha e a grande ameaça a esse regime democrático? Como ampliar a política
ou como recuperar o que é público para o debate e a participação das pessoas?
Como devolver a economia à política, ou como, sem populismos, direcionar o
mercado para a cidadania e a serviço dela? Como fazer com que o Estado se
empenhe em democratizar a sociedade? Como conseguir que ele se imponha
aos poderes fáticos, ou de fato? Como, enfi m, fazer com que a aldeia global seja
governada e que esse governo represente também as latino-americanas e os lati-
no-americanos?
O Relatório não pretende dar as respostas, e sim ajudar a defi nir as perguntas.
Ainda mais: o texto é apenas um pré-texto, no sentido tanto de texto prévio que
quer ser melhorado como no de desculpa ou ocasião para continuar um diálogo
já iniciado.
2 Esta defi nição foi proposta pela primeira vez no Informe Sobre Desarrollo Humano, Bogotá, Tercer
Mundo, 1990, p. 33.
3 Desarrollo y Libertad, Madrid, Planeta, 2000, p. 13.
19
Prefácio da Diretora Regional para América Latina e Caribe do PNUD
Esse diálogo é a razão de ser do Projeto sobre o Desenvolvimento da Demo-
cracia na América Latina (PRODDAL), que o PNUD leva a cabo com o generoso
apoio da União Européia e de governos, instituições e pessoas a quem não me
cabe enumerar, mas sim, certamente, agradecer.
Um fruto de seus esforços é o Relatório. Outros frutos; que, esperamos, esti-
mularão e enriquecerão um debate urgente (ao qual eu chamaria debate sobre
a democratização de nossas democracias”), são: o livro no qual 26 destacados
intelectuais procuram dar respostas a essas questões, o compêndio estatístico
que permite um escrutínio integral das cidadanias e os ensaios acadêmicos que
sustentam nosso modo de entender a democracia.
A América Latina é múltipla e uma só. Por isso, o debate político tem que
ocorrer a partir das realidades e dos sonhos próprios de cada pais, razão pela qual
previmos encontros em cada um. Uma série de eventos regionais, a rede de atores
da governabilidade que acompanha o PRODDAL e, evidentemente, a e-comuni-
cação interativa são outros tantos cenários nos quais queremos prosseguir com
este diálogo. Bem-vindos!
Elena Martínez
Administradora Auxiliar e Diretora Regional do PNUD para a América Latina e o
Caribe.
20
A democracia na América Latina
21
Apresentação
Apresentação
O RELATÓRIO SOBRE A DEMOCRACIA NA AMÉRICA LATINA propõe al-
gumas respostas às incertezas e aos questionamentos das sociedades latino-ame-
ricanas sobre sua democracia. Fizemos esta exploração levando em conta, prio-
ritariamente, a demanda, ou seja, as indagações que nossas mulheres e homens
formulam e que não estão sendo efi cientemente tratadas no debate político.
Nossa ambição é que ele venha a ser uma ferramenta para o debate das socie-
dades, que chegue a elas e que lhes ajude a compreender melhor suas democra-
cias e suas necessidades de aprimoramento.
Não há problemas com a democracia, mas há problemas na democracia. Para
resolvê-los, é indispensável fazer uso do mais precioso instrumento que ela nos
oferece: a liberdade. Liberdade para discutir o que perturba, o que alguns prefe-
ririam que fi casse oculto. Liberdade para dizer que o rei está nu e procurar com-
preender por quê. Liberdade para saber por que um sistema que é quase sinôni-
mo de igualdade convive com a mais alta desigualdade do planeta; para saber se o
que discutimos é o que precisamos discutir ou o que outros nos impuseram, para
saber quais são nossas urgências e prioridades.
Sem dúvida nenhuma, conhecendo suas limitações, trata-se de um Relatório
para exercitar a liberdade, o que em política signifi ca, antes de tudo, exercer a
capacidade de reconhecer e decidir o que queremos fazer com nossas sociedades;
porque, em parte, a crise de representação na política é atacada com mais efi cácia
quando sabemos o que pleitear, o que exigir de nossos representantes.
Evidentemente, não é um texto em si mesmo que atingirá esse objetivo. Além
disso, é indispensável promover ativamente o debate e incorporar no quotidiano
das decisões das organizações sociais os temas aqui propostos e outros que pos-
samos ter omitido. Faz-se necessário provocar uma nova discussão.
Para esse fi m, o relatório contém uma análise crítica da situação de nossas de-
mocracias, feita a partir da própria democracia. Isso nos levou necessariamente a
destacar défi cits e carências.
No exercício de exploração daquilo que falta existe, porém, um perigo: es-
quecer o que temos. Os défi cits, as lacunas, as ciladas que se lançam sobre nossas
democracias não deveriam levar-nos a esquecer que deixamos para trás a longa
noite do autoritarismo. Foram-se as histórias dos temores, dos assassinatos, dos
desaparecimentos, das torturas e do silêncio esmagador que tem a falta de liber-
dade. A história, em que uns poucos se apoderaram do direito de interpretar e
decidir o destino de todos, cou para trás. Temos problemas, numerosos e alguns
muito graves, mas guardamos a memória desse passado, e desejaríamos que ele
não se esgotasse em nós, para que nossos fi lhos saibam que a liberdade não nas-
Liberdade, democracia e política
22
A democracia na América Latina
ceu espontaneamente; que protestar, falar, pensar e decidir, com a dignidade de
mulheres e homens livres, foi uma conquista árdua e demorada. Precisamos ser
críticos com a nossa democracia, porque essas lembranças nos obrigam a custo-
diá-la e aperfeiçoá-la.
É por meio da política que se plasma a construção democrática. Aqui ocorre
algo semelhante ao que acabo de indicar: também a política tem graves carências,
o que tem produzido crescente repulsa em nossas sociedades à face daqueles que
a praticam. O Relatório não é benigno quando trata de mostrar a gravidade da
crise da política e dos políticos. Estes políticos, porém, é que se lançaram às lutas,
que optaram entre custos, que pagaram com seu prestígio ou sua honra por seus
defeitos ou falhas. Eles não têm a pureza daqueles que só assumem o risco de
opinar. Muitos têm a simples valentia de lutar, em um ambiente em que, muitas
vezes, o que se enfrenta não são grandes idéias, mas, sim, paixões e misérias. Al-
guns temem e abandonam a política, outros cometem erros e, de um ou de outro
modo, pagam por eles; uma maioria, porém, faz algo mais do que opinar sobre
como as coisas deveriam ser feitas. Eles tentam, apostam, perdem, e muitos vol-
tam a tentá-lo, alguns com êxito.
Não existe aqui nada parecido com uma reivindicação sentimental dos políti-
cos, mas simplesmente a advertência de que a democracia não é uma construção
idílica. Ela requer mulheres e homens dispostos a lutar neste turbulento terri-
tório em que se desenvolvem os interesses e as paixões, as lutas reais, que são as
lutas do poder.
Democracia se faz com política, única atividade capaz de reunir a árdua e ma-
ravilhosa tarefa de lidar com a condição humana para construir uma sociedade
mais digna.
Como disse Weber: “a política é uma dura e prolongada penetração através
de resistências tenazes, e para isso são necessárias, ao mesmo tempo, paixão e
comedimento. É certo, sem dúvida, e assim o demonstra a história, que nunca
se consegue o possível neste mundo se não se tentar, vez por outra, o impossível.
Para ser capaz de fazer isso, porém, é necessário ser um caudilho e assim também
um herói, no sentido mais simples do termo. Mesmo aqueles que não são nem
um nem outro precisam armar-se desde agora com essa fortaleza de ânimo que
permite suportar a destruição de todas as esperanças, se não quiserem ver-se in-
capacitados de realizar mesmo aquilo que hoje é possível. Só quem está seguro de
não se abater quando, do seu ponto de vista, o mundo se mostra demasiadamen-
te estúpido ou demasiadamente abjeto para o que ele oferece; somente quem,
em face de tudo isso, é capaz de responder com um apesar disso, somente um
homem construído dessa forma tem ‘vocação para a política’”.
Finalmente, uma advertência sobre as limitações do trabalho. O Relatório
sobre a Democracia na América Latina aborda a análise de nossa situação, ofere-
ce uma ampla base empírica e propõe um temário sobre seus desafi os centrais.
Não obstante, é um esforço parcial. A democracia é um fenômeno cuja dimen-
23
Apresentação
são humana e cultural é central. A história que recebemos, os impulsos sociais
suscitados pelas esperanças e frustrações, as paixões desencadeadas em torno das
relações de poder, não raro contêm explicações ou indícios dos quais os dados e
a análise não dão plena conta. Advertimos sobre essa ausência para indicar que
estamos conscientes dela e para frisar nossa reticência em encerrar em categorias
analíticas e em cifras a imensa complexidade dos fenômenos humanos. Só traba-
lhamos sobre um segmento, importante e necessário, da vasta experiência que a
democracia contém.
Dante Caputo
Coordenador do Relatório
24
A democracia na América LatinaEl desarrollo de la democracia em América Latina
25
Resumo
RESUMO
O presente Relatório sobre A democracia
na América Latina: Rumo a uma democra-
cia de cidadãs e cidadãos faz parte da estra-
tégia do Programa das Nações Unidas para
o Desenvolvimento (PNUD) no sentido de
fortalecer a governabilidade democrática e
o desenvolvimento humano. Elaborado pe-
lo Projeto sobre o Desenvolvimento da De-
mocracia na América Latina (PRODDAL), é
o primeiro insumo de um processo de maior
fôlego e diálogo social. Seu propósito é ava-
liar a democracia na América Latina, não só
como regime eleitoral, mas também como
uma democracia de cidadãos. Sob esse enfo-
que, identifi cam-se conquistas, limites e de-
safi os, e propõe-se uma agenda de reformas
para fortalecer o desenvolvimento da demo-
cracia na região.
Embora 140 países do mundo estejam
vivendo hoje sob regimes democráticos –
fato valorizado como uma grande conquis-
ta – somente em 82 existe uma democracia
plena
1
. De fato, muitos governos eleitos de-
mocraticamente tendem a manter sua au-
toridade com métodos não democráticos,
por exemplo, modifi cando as constitui-
ções nacionais em seu favor e intervindo
nos processos eleitorais e/ou restringindo a
independência dos poderes legislativo e ju-
diciário. Esses fatos demonstram que a de-
mocracia não se reduz só ao ato eleitoral,
mas requer efi ciência, transparência e eqüi-
dade nas instituições públicas e também
uma cultura que aceite a legitimidade da
oposição política, reconheça os direitos de
todos e advogue por eles.
Paralelamente ao que foi colocado, em
muitos casos, a crescente frustração pela fal-
ta de oportunidades e pelos altos níveis de
desigualdade, pobreza e exclusão social ma-
nifesta-se em mal-estar, perda de confi ança
no sistema político, ações radicalizadas e cri-
ses de governabilidade, fatos esses que colo-
cam em risco a estabilidade do próprio regi-
me democrático.
De acordo com o Relatório do Desenvol-
vimento Humano 2002, a democracia não é
apenas um valor em si mesmo, como tam-
bém um meio necessário para o desenvol-
vimento. Para o PNUD, a governabilidade
democrática é um elemento central do de-
senvolvimento humano, porque por meio
da política, e não só da economia, é possível
gerar condições mais eqüitativas e aumentar
as opções das pessoas. Na medida em que a
democracia possibilita o diálogo que inclui
os diferentes grupos sociais e, paralelamen-
te, desde que as instituições públicas se for-
taleçam e sejam mais efi cientes, será possível
alcançar os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio, principalmente, no que se refere
a reduzir a pobreza. Nesse sentido, a demo-
cracia é o marco propício para abrir espaços
de participação política e social, principal-
mente para os que mais sofrem: os pobres e
as minorias étnicas e culturais.
Essa contribuição organiza-se ao redor
de três perguntas: Qual é o estado da de-
mocracia na América Latina? Quais são as
percepções e quão forte é o apoio de líde-
res e cidadãos à democracia? Quais seriam
os principais temas de um debate visando
a um maior avanço na democracia de cida-
dãos? Buscou-se responder a elas ao longo
das seções deste Relatório. Na primeira se-
ção, defi ne-se a base conceitual utilizada no
estudo e contextualiza-se o desenvolvimen-
to da democracia em uma região com al-
tos níveis de pobreza e desigualdade. Na se-
gunda seção, analisam-se os dados obtidos
mediante diversos instrumentos empíricos
aplicados: indicadores e índices das cidada-
nias política, civil e social; uma pesquisa de
opinião respondida por 19.508 cidadãos dos
Introdução
1 PNUD 2002, Relatório do Desenvolvimento Humano 2002 . Mundi-Prensa: Madrid (p. 10).
26
A democracia na América Latina
dezoito países considerados, e uma rodada
de consultas a 231 líderes sobre os desafi os
da democracia na América Latina. A terceira
seção busca ampliar a agenda pública sobre
o desenvolvimento da democracia, centra-
da na crise da política, nas reformas estatais
e estruturais da economia e no impacto da
globalização na região.
A democracia e a idéia de
democracia na América Latina
Os 18 países da América Latina conside-
rados neste Relatório cumprem hoje os re-
quisitos fundamentais do regime democrá-
tico; só três deles viviam em democracia há
25 anos. Contudo, ao mesmo tempo em que
as latino-americanas e os latino-america-
nos consolidam seus direitos políticos, en-
frentam altos níveis de pobreza e a mais alta
desigualdade do mundo. Desse modo, indi-
ca-se que existem fortes tensões entre a ex-
pansão da democracia e a economia, a busca
da eqüidade e a superação da pobreza.
O Relatório valoriza os principais avan-
ços da democracia como regime político na
América Latina, e identifi ca a desigualdade e
a pobreza como suas principais defi ciências.
Além disso, aponta a urgência de uma políti-
ca geradora de poder democrático, cujo ob-
jetivo seja a cidadania integral.
O que devemos entender por cidadania
integral”? Como terá inferido o leitor, ela
abrange um espaço substancialmente maior
do que o do mero regime político e suas re-
gras institucionais. Falar de cidadania inte-
gral é considerar que o cidadão de hoje deve
ter acesso a seus direitos cívicos, sociais, eco-
nômicos e culturais em perfeita harmonia, e
que todos eles formam um conjunto indivi-
sível e articulado.
O presente estudo assume e ressalta, co-
mo elementos importantes para a análise,
as diferenças marcantes entre os países da
região, mas também aponta que, em maté-
ria de democracia, existem problemas re-
gionais comuns e diversidade nacional nas
respostas.
Com base nos fundamentos teóricos, ar-
gumenta-se que a democracia:
pressupõe uma idéia do ser humano e
da construção da cidadania;
é uma forma de organização do poder
que implica a existência e o bom funciona-
mento do Estado;
implica uma cidadania integral, isto é,
o pleno reconhecimento da cidadania políti-
ca, da cidadania civil e da cidadania social.
é uma experiência histórica particular
na região, que deve ser entendida e avaliada
em sua especifi cidade.
tem no regime eleitoral um elemento
fundamental, mas não se reduz às eleições.
Balanço da cidadania integral
Para medir os avanços em cidadania po-
lítica, foi utilizado o Índice de Democracia
Eleitoral (IDE) que, apesar de medir apenas
um aspecto do sistema político, corresponde
à dimensão ou condição mínima para que
se possa falar de democracia. Os dados mos-
tram que na região existem hoje “de mocra-
cias eleitorais”. Mais pontualmente, eles in-
dicam que:
Em todos os países se reconhece o di-
reito universal ao voto.
Apesar de alguns problemas, em ge-
ral, as eleições nacionais foram limpas en-
tre 1990 e 2002
2
.
Nesse mesmo período, ocorreram im-
portantes restrições à liberdade eleitoral em
10 de 70 eleições nacionais, mas a tendência
geral foi positiva.
Houve um avanço na questão das elei-
ções serem um meio de acesso a cargos pú-
blicos: a passagem do mando eleitoral se
converteu em uma prática comum, apesar
de, em alguns casos, ter ocorrido em meio a
complexas crises constitucionais.
No entanto, os dados também demons-
tram que a participação eleitoral é irregular
– em alguns países apresenta níveis muito
baixos – e que, na disputa eleitoral, exis-
tem barreiras para a entrada de novos ato-
2 A informação contida no Relatório, em geral, utiliza dados atualizados até 2002.
O Relatório valoriza
os principais
avanços da
democracia como
regime político
na América
Latina, e
identifi ca a
desigualdade e a
pobreza como
suas principais
defi ciências.
27
Resumo
res. Uma importante conquista é a abertura
de espaços políticos para as mulheres, me-
diante uma porcentagem de vagas ou cotas
nas listas dos partidos. Entretanto, a repre-
sentação de povos originários e afro-des-
cendentes no parlamento é, em geral, ainda
muito reduzida. Os partidos políticos, co-
mo agentes de representação, também atra-
vessam uma severa crise, que se traduz em
desconfi ança, porque as pessoas os sentem
distantes, como um ator indiferente e pro-
ssionalizado que não encarna um projeto
de futuro compartilhado.
Quanto aos mecanismos de controle po-
lítico, não mencionando as eleições, cabe
destacar que o Poder Executivo interfere di-
retamente na Corte Suprema de vários paí-
ses, apesar dos avanços nas reformas cons-
titucionais para fortalecer a independência
e a profi ssionalização do Poder Judiciário.
Desse modo, nos últimos anos, foram cria-
dos organismos especializados como con-
troladorias públicas, promotorias e defen-
sorias do povo. Contudo, a insufi ciência de
recursos e, em alguns casos, a pouca autono-
mia do Poder Executivo limitam a efi cácia
desses organismos. Finalmente, uma grande
conquista a ser destacada é a menor infl uên-
cia ou gravitação política das Forças Arma-
das em quase todos os países.
Por conseguinte, apesar dos avanços no
que se refere ao funcionamento eleitoral e
das conquistas em termos institucionais,
persistem sérias defi ciências quanto ao con-
trole da ação estatal que os cidadãos pode-
riam exercer. Os partidos políticos enfren-
tam um momento de forte desconfi ança
como agentes de representação, o que é um
desafi o-chave para o desenvolvimento de-
mocrático. Assim, a representação de gran-
des grupos populacionais é, em geral, baixa,
e o comparecimento às urnas é irregular.
Com respeito à cidadania civil, regis-
tram-se importantes conquistas em matéria
de legislação, porém é preocupante a limita-
da capacidade dos Estados de garantir esses
direitos na prática.
A maioria dos países ratifi cou os prin-
cipais tratados internacionais e avançou na
normativa nacional referente à igualdade le-
gal e à proteção contra a discriminação, e
também no que diz respeito aos direitos da
mulher. Houve também um avanço na de-
fesa dos direitos trabalhistas e nos direitos
das crianças. Várias constituições reconhe-
ceram esses direitos, apesar de a ratifi cação
da Convenção sobre os povos indígenas ter
sido protelada.
Não ocorreu o mesmo com os tratados
internacionais nem, em especial, com a vi-
gência do direito à vida, à integridade físi-
ca e à segurança. Não se registrou a queda
esperada nesse tipo de violação dos direitos
humanos, muito embora já não seja cometi-
da por determinação da cúpula estatal, e sim
por forças para-estatais que o Estado não foi
capaz de controlar.
Apesar dos avanços normativos, a não-
discriminação ainda não está sufi ciente-
mente garantida, pois grandes desigualda-
des são mantidas no tratamento dispensado
a pessoas pertencentes a diferentes grupos,
as leis que protegem as crianças no trabalho
são freqüentemente desobedecidas e os tra-
balhadores viram diminuir sua proteção so-
cial. Uma conquista no âmbito trabalhista,
porém, é a tendência ao aumento na eqüi-
dade de gênero.
Com relação aos sistemas de adminis-
tração de justiça, observa-se que a carência
de recursos econômicos e humanos os torna
frágeis. Um tema preocupante, também, é o
que se refere à população carcerária, pois os
direitos dos réus são pouco respeitados, a tal
ponto que mais da metade dos presos care-
ce de sentença.
Quanto à liberdade de imprensa, o Rela-
tório detecta que a América Latina ainda se
depara com graves falhas. Os avanços quan-
to ao direito à informação são mais encora-
jadores, pois o acesso às fontes públicas de
dados é legalmente reconhecido na maioria
dos países.
Em resumo, embora tenha melhorado
a situação dos direitos humanos em com-
paração com a do período não democráti-
co, tenham sido ratifi cadas as convenções
internacionais relativas aos direitos civis e,
inclusive, tenham sido criadas normativas
nacionais nesse sentido, os dados mostram
poucos avanços, fato que deveria ser um si-
nal de alerta. O progresso das questões rela-
28
A democracia na América Latina
cionadas ao direito à vida, à integridade fí-
sica, à segurança e à não-discriminação foi
irregular e, em alguns casos, muito insufi -
ciente.
Por outro lado, as tendências detectadas
no que se refere à cidadania social são real-
mente preocupantes e representam o prin-
cipal desafi o das democracias latino-ame-
ricanas, porque, além disso, os grupos mais
excluídos do exercício pleno da cidadania
social são os mesmos que sofrem carências
nas outras dimensões da cidadania.
Os problemas centrais nesse plano são
a pobreza e a desigualdade, que não permi-
tem que os indivíduos se manifestem como
cidadãos com plenos direitos e de maneira
igualitária no âmbito público, e que corro-
em a inclusão social. Os indicadores mos-
tram que todos os países da região são mais
desiguais que a média mundial. Em 15 dos
18 países estudados, mais de 25 por cento
da população vive abaixo da linha de pobre-
za e, em 7 deles, mais da metade da popu-
lação vive nessas condições, embora em 12
deles a pobreza até tenha diminuído e, em
15, o PIB per capita tenha aumentado entre
1991 e 2002.
No entanto, cabe destacar alguns avanços
em termos de saúde (a desnutrição infantil
diminuiu em 13 dos 18 países, a mortalidade
infantil também se reduziu e a expectativa
de vida aumentou) e de educação (a taxa de
analfabetismo diminuiu em todos os países
e o nível de escolaridade aumentou, porém a
qualidade da educação em geral é baixa).
Um tema central é o desemprego, pois o
trabalho é um mecanismo-chave de inclu-
são social e do próprio exercício da cidada-
nia, que tem um componente econômico. O
aumento nos índices de desemprego duran-
te a década de noventa é, conseqüentemen-
te, uma das maiores falhas das democracias
latino-americanas. E ainda mais: a proteção
social dos trabalhadores diminuiu e aumen-
tou o trabalho informal, em geral não qua-
lifi cado e insufi ciente para gerar uma inte-
gração social que garanta um mínimo de
bem-estar.
Resumindo, o desenvolvimento demo-
crático depende de que se amplie de ma-
neira decidida a cidadania social, principal-
mente a partir da luta contra a pobreza e a
desigualdade e da criação de postos de tra-
balho de qualidade. Só será possível dimi-
nuir a pobreza de forma sustentável e me-
lhorar as possibilidades de crescimento
econômico se a desigualdade for reduzida.
Percepções e apoio de líderes
e cidadãos
Apesar dos avanços, inclusive em con-
dições muito precárias, deve-se reconhecer
que, tanto no plano da evolução democráti-
ca quanto no da dinâmica econômica e so-
cial, a região está vivendo um momento de
mudanças que em muitos casos assume as
características de uma crise generalizada.
Conseqüentemente, inicia-se um período de
transformação tanto nos conteúdos da de-
mocracia quanto em suas vinculações com
a economia e com a dinâmica social, em um
contexto global também de mudança, de
concentração de riqueza e de internacionali-
zação crescente da política. A questão é que
a política, como se pode constatar em vários
pontos do Relatório, tem grandes limitações
e está em crise.
Essa crise se manifesta no divórcio entre
os problemas para os quais os cidadãos exi-
gem uma solução e a capacidade da políti-
ca para enfrentá-los. A política tende a per-
der conteúdo em virtude da diminuição da
soberania interior do Estado, que pode ser
atribuída a:
O desequilíbrio na relação entre políti-
ca e mercado.
A presença de uma ordem institucio-
nal que limita a capacidade dos Estados para
agir com razoável autonomia.
O aumento da complexidade das socie-
dades, que os sistemas de representação não
podem processar.
Nesse sentido, os líderes latino-america-
nos consultados coincidem em várias ques-
tões quando formulam seu diagnóstico so-
bre a democracia. Por um lado, valorizam a
democratização durante a última década e o
fato de, pelo menos no plano formal, os pa-
íses da região cumprirem os requisitos mí-
O desenvolvimento
democrático
depende de que
se amplie de
maneira decidida
a cidadania social,
principalmente
a partir da luta
contra a pobreza
e a desigualdade
e da criação de
postos de trabalho
de qualidade.
29
Resumo
nimos da democracia. Entendem, também,
que a participação e os controles sobre o
exercício do poder aumentaram e que as
ameaças à democracia como regime dimi-
nuíram, juntamente com os clássicos riscos
de insubordinação militar.
Por outro lado, detectam problemas re-
lacionados com os partidos políticos e com
os poderes fáticos. Quanto aos partidos po-
líticos, uma das principais difi culdades en-
contradas é que não conseguem canalizar
completamente as demandas da cidadania.
Desse modo, a relação entre partidos e or-
ganizações da sociedade civil costuma ser
confl ituosa. Para os líderes consultados, a
solução dessas difi culdades está dentro da
política, com o fortalecimento dos partidos.
Quanto aos poderes fáticos (principalmente
o setor econômico e fi nanceiro e os meios de
comunicação), são vistos como fatores que
condicionam a capacidade dos governos de
dar respostas à cidadania. Entre as tensões
com outros poderes fáticos, existe uma pre-
ocupação com a perda da autonomia gover-
namental em relação aos Estados Unidos e
aos organismos multilaterais, assim como
coincidência no que se refere à ameaça re-
presentada pelo narcotráfi co.
Por sua vez, a pesquisa de opinião públi-
ca realizada para o Relatório apresenta uma
tensão entre a opção pelo desenvolvimento
econômico e a democracia. Os dados obti-
dos indicam que:
A preferência dos cidadãos pela demo-
cracia é relativamente baixa.
Grande parte das latino-americanas e
dos latino-americanos dá mais valor ao de-
senvolvimento do que à democracia e, in-
clusive, retiraria seu apoio a um governo de-
mocrático se ele fosse incapaz de resolver os
seus problemas econômicos.
Os não-democratas pertencem, geral-
mente, a grupos com menor educação, cuja
socialização ocorreu, fundamentalmente,
em períodos autoritários, que têm baixas ex-
pectativas de mobilidade social e uma gran-
de desconfi ança das instituições democráti-
cas e dos políticos.
Embora os democratas estejam distri-
buídos em diversos grupos sociais, nos paí-
ses com menores níveis de desigualdade os
cidadãos tendem a apoiar mais a democra-
cia. Contudo, essas pessoas não se manifes-
tam por meio de organizações políticas.
Com base nos dados da pesquisa, visan-
do a proporcionar uma estimativa do grau
de respaldo cidadão à democracia, elabo-
rou-se o Índice de Apoio à Democracia
(IAD), que oferece uma visão sintética sobre
o apoio e a possível vulnerabilidade das de-
mocracias latino-americanas.
Concluindo, a informação empírica en-
contrada, os resultados da pesquisa de opi-
nião pública e as opiniões de diversos líderes
políticos registradas no Relatório coincidem
tanto com a necessidade de reconhecer que a
região vive um momento de infl exão e crise,
quanto com a de valorizar o sentido da polí-
tica, ou seja, sua capacidade de criar opções
para promover novos projetos coletivos viá-
veis. No coração de tal confl uência está ins-
talado o fortalecimento da cidadania.
Elementos para uma agenda
O Relatório aponta que o ponto de par-
tida para fortalecer a democracia passa pe-
la revalorização do conteúdo e da relevância
da política, argumenta que as soluções pa-
ra os problemas e desafi os da democracia te-
riam que ser encontradas dentro e não fo-
ra das instituições democráticas, e considera
que deve ser recuperado um papel constru-
tivo da política como ordenadora das deci-
sões da sociedade.
Nesse sentido, continua com a mesma li-
nha argumentativa em que o PNUD vem in-
sistindo. Como afi rma seu Administrador,
Mark Malloch Brown, no prefácio do Re-
latório do Desenvolvimento Humano 2002 :
“[...] a política é tão importante para o êxi-
to do desenvolvimento quanto para o da
economia. A redução sustentável da pobre-
za não só requer um crescimento eqüitativo,
como também que os pobres tenham poder
político. A melhor forma de conseguir esse
resultado de maneira coerente com os ob-
jetivos do desenvolvimento humano é eri-
gir formas sólidas e profundas de governa-
bilidade democrática em todos os níveis da
sociedade”
3
. A revalorização da política pas-
3
0
A democracia na América Latina
sa pela aplicação de medidas que promovam
uma institucionalidade legítima, fortaleçam
uma sociedade civil ativa, e, principalmente,
promovam um amplo debate sobre o Esta-
do, a economia e a globalização.
A agenda proposta pelo Relatório está
voltada para a expansão da cidadania. Para
torná-la sustentável é fundamental desen-
volver uma política que materialize opções,
reúna esforços e motivações individuais e
crie poder democrático.
Urge prosseguir a reforma das institui-
ções, porém essas iniciativas precisam de um
o condutor que fortaleça a participação.
ela poderá tornar essas reformas mais legíti-
mas. Nesse sentido, um aspecto institucional
chave são as reformas eleitorais que garan-
tam um melhor equilíbrio entre governabi-
lidade e representação.
Muito embora tenham passado por im-
portantes mudanças, os sistemas de partido
tendem a ser instrumentais ou operativos.
No entanto, eles precisam é de se fortalecer
para ampliar a efi cácia, a transparência e a
responsabilidade. Esta é, segundo o Relató-
rio, a melhor maneira de reafi rmar o papel
indispensável de representação da sociedade
que eles expressam. Nesse sentido, os parti-
dos políticos deveriam compreender melhor
as mudanças nas sociedades contemporâ-
neas, propor novos projetos de sociedade e
promover debates públicos.
Existe uma importante relação entre a ci-
dadania e as organizações da sociedade ci-
vil. Elas são importantes protagonistas na
construção democrática, no controle da ges-
tão governamental e no desenvolvimento do
pluralismo. É fundamental promover estra-
tégias de fortalecimento da sociedade civil e
de sua articulação com o Estado e com os
partidos políticos. O Relatório advoga por
formas alternativas de representação que,
sem substituir as tradicionais, possam com-
plementá-las e fortalecê-las.
Uma proposta central é construir uma
nova legitimidade do Estado, uma vez que
não existiria uma democracia sustentável
sem um Estado capaz de promover e ga-
rantir o exercício da cidadania. Com Esta-
dos fracos e mínimos, só é possível aspirar
a conservar democracias eleitorais. A demo-
cracia integral de cidadãs e cidadãos requer
uma estatalidad” que garanta a universali-
dade dos direitos.
Por isso, o Relatório convida ao deba-
te sobre a necessidade de um Estado ca-
paz de conduzir o rumo geral da socieda-
de, processar os confl itos de acordo com
regras democráticas, garantir efi cazmente
o funcionamento do sistema legal, preser-
var a segurança jurídica, regular os merca-
dos, estabelecer equilíbrios macroeconômi-
cos, fortalecer sistemas de proteção social
baseados nos princípios de universalidade e
assumir a preeminência da democracia co-
mo princípio da organização social. A refor-
ma do Estado teria que ser orientada no sen-
tido de responder à pergunta sobre o tipo de
nação que uma determinada sociedade aspi-
ra a construir. Dessa forma, o que se propõe
aqui é um Estado em função da cidadania.
Outro tema central a ser debatido é o das
possibilidades de uma economia congruen-
te com a democracia, ou seja, uma econo-
mia que promova a diversidade para fortale-
cer as opções cidadãs. Sob essa perspectiva, o
debate sobre a diversidade de formas de or-
ganização do mercado deve fazer parte da
agenda de discussão pública. A discussão
sobre o futuro da democracia não pode ig-
norar as opções econômicas. A economia é
chave porque dela depende a ampliação da
cidadania social.
Na perspectiva do Relatório, o Estado
e o mercado são passíveis de serem com-
binados de diversas maneiras, tendo co-
mo resultado uma variedade de formas que
podem ser adaptadas em função do desen-
volvimento humano. O tipo de economia
deve estar no centro do debate público e
não deve ser relegado a uma mera questão
técnica. Os avanços na democracia e no es-
tabelecimento de normas macroeconômi-
cas claras e legítimas devem ser considera-
dos como complementares.
O Relatório propõe ampliar o debate so-
bre o processo de globalização. Observa-se
que é perigoso cair em uma espécie de fa-
3 PNUD 2002, Relatório do Desenvolvimento Humano 2002. Mundi-Prensa: Madrid (p. v
Com Estados
fracos e
mínimos, só é
possível aspirar
a conservar
democracias
eleitorais. A
democracia
integral de
cidadãs e
cidadãos
requer uma
“estatalidad”
que garanta a
universalidade
dos direitos.
31
Resumo
talismo em face de fenômeno; é preciso, ao
contrário, discutir a respeito de seu real im-
pacto sobre a soberania interior dos Esta-
dos e a respeito das melhores estratégias pa-
ra fortalecer as nações latino-americanas no
espaço da aldeia global. E a política é, justa-
mente, a força que pode construir espaços
autônomos.
Metodologia do Relatório
Para levar a cabo este Relatório, o
PRODDAL contou com o patrocínio da
Direção da América Latina e do Caribe do
PNUD e com a colaboração de destacados
intelectuais e acadêmicos, assim como de
ex-presidentes e de muitas outras persona-
lidades da região.
O estudo abarcou dezoito países (Argen-
tina, Bolívia, Brasil, Chile, Colômbia, Cos-
ta Rica, Equador, El Salvador, Guatemala,
Honduras, México, Nicarágua, Panamá, Pa-
raguai, Peru, República Dominicana, Uru-
guai e Venezuela
4
). O marco conceitual foi
amplamente consultado e orientou a busca
de informação empírica que inclui:
Uma pesquisa de opinião de alcance
regional (em colaboração com Latinobarô-
metro).
A elaboração de indicadores sobre o es-
tado da democracia.
Entrevistas com líderes e intelectuais
da América Latina.
Para a elaboração do Relatório, par-
tiu-se de uma análise conceitual e histórica
das democracias latino-americanas, a par-
tir de uma ampla revisão bibliográfi ca dos
múltiplos estudos nacionais. Além disso,
realizaram-se reuniões para discussão dos
componentes do projeto, solicitaram-se a
acadêmicos e personalidades políticas opi-
niões e textos sobre diversas facetas do de-
senvolvimento da democracia na região.
O Relatório não pretende avaliar os go-
vernos ou os países, nem elaborar nenhum
tipo de ranking nacional da democracia; seu
interesse é identifi car os grandes desafi os e
promover uma ampla discussão em torno
deles. Além disso, reconhece-se a difi culda-
de de abordar os dilemas da democracia,
pois ela está infl uenciada por múltiplos fa-
tores (políticos, econômicos e sociais, nacio-
nais e internacionais), alguns dos quais, ou
não foram tratados, ou foram tratados de
maneira muito preliminar.
Ademais do Relatório propriamente di-
to, foram preparados para difusão em massa
outros produtos complementares como:
Um livro com os artigos elaborados
por políticos e destacados acadêmicos que
contribuem com “idéias e posições para um
debate sobre o desenvolvimento da demo-
cracia na América Latina.
Um Compêndio Estatístico que reú-
ne informação, até agora dispersa, sobre de-
mocracia e cidadania integral nos países da
América Latina, os índices construídos pa-
ra este Relatório e os resultados da pesqui-
sa de opinião.
Os materiais que alimentam o marco
conceitual do Projeto e sua maneira de en-
tender a democracia, além das opiniões crí-
ticas de importantes analistas.
Os resultados das rodadas de consulta a
dirigentes latino-americanos.
Para fi nalizar, o Relatório demonstra
que, embora muito valiosos, os avanços al-
cançados em termos de desenvolvimento
da democracia na América Latina não são
sufi cientes. É necessário aprofundar tan-
to a governabilidade democtica, entendi-
da como o fortalecimento institucional do
regime, quanto, e acima de tudo, a cultura
política que pressupõe a constrão de es-
paços de participação eqüitativa, sobretudo
dos mais desfavorecidos nas sociedades la-
tino-americanas. Para isso, é preciso deci-
são política, dirigentes comprometidos com
seus países e com a região, e cidadãs e cida-
dãos decididos a enfrentar os problemas e
desa os para viver cada vez mais e melhor
com democracia.
4 Estes países têm regimes democráticos, em sua maioria estabelecidos por meio de processos de transição de-
senvolvidos durante os últimos vinte e cinco anos, e seus governos aceitaram ser incorporados ao PRODDAL.
3
2
A democracia na América Latina
33
O desenvolvimento da democracia na América Latina
primeira seção
Nesta seção apresenta-se o tema do Relatório a partir da conquista da democracia
nos países considerados, dando-se destaque ao fato de que na América Latina a demo-
cracia se instala em sociedades com altos níveis de pobreza e desigualdade. À primei-
ra vista, considerando a democracia do ponto de vista da democracia, observa-se que
muitos direitos civis básicos não estão assegurados e que a pobreza e a desigualdade
colocam nossas sociedades entre as mais defi citárias do mundo.
O Relatório inicia com uma defi nição do desenvolvimento da democracia e de suas
principais carências na região, contrastando as reformas aplicadas com as realidades
políticas e econômicas. A partir daí, surge um conjunto de perguntas: quanta pobreza
e quanta desigualdade as democracias são capazes de tolerar? como esses contrastes
infl uem na coesão social das nações? qual a relevância da democracia para os latino-
americanos? Os resultados da pesquisa de opinião revelam que 54,7 por cento dos la-
tino-americanos estariam dispostos a aceitar um governo autoritário desde que ele re-
solvesse a situação econômica (ver Segunda Seção “Como os latino-americanos vêem
sua democracia”). As razões que explicam esse dado preocupante talvez se encontrem
nos contrastes apontados.
Consta também desta seção uma referência aos fundamentos teóricos em que o Re-
latório se baseia. As conseqüências práticas da abordagem teórica adotada são impor-
tantes, porque sustentam as descrições, a análise e as propostas com razões sistemá-
ticas e rigorosas.
Os desafi os da democracia na América Latina são historicamente singulares. Para
resolvê-los é preciso uma nova compreensão e uma discussão aberta, para as quais o
Relatório visa a contribuir. Isso requer a defi nição dos fundamentos teóricos: os con-
ceitos de democracia, cidadania e sujeitos na democracia, Estado e regime. Os quatro
argumentos centrais são: 1) a democracia implica uma concepção do ser humano e da
construção da cidadania; 2) a democracia é uma forma de organização do poder na so-
ciedade, que pressupõe a existência e o bom funcionamento de um Estado; 3) o regime
eleitoral é um componente básico e fundamental da democracia, no entanto, a realiza-
ção de eleições não esgota seu signifi cado e alcances; e 4) a democracia latino-ameri-
cana é uma experiência histórica distintiva e singular, que deve ser, dessa maneira, re-
conhecida e valorizada, avaliada e desenvolvida.
O desenvolvimento da
democracia na América Latina
3
4
A democracia na América Latina
35
O desenvolvimento da democracia na América Latina
A democracia é uma imensa experiência
humana. Está ligada à busca histórica de li-
berdade, justiça e progresso material e espi-
ritual. Por isso é uma experiência perma-
nentemente inconclusa.
Este é um Relatório sobre a tarefa incon-
clusa da democracia, sobre seus desafi os, so-
bre quais deveriam ser as metas de uma nova
etapa, em cuja construção entrarão em jogo
sua própria sustentabilidade e perduração.
Independentemente de quais tenham si-
do a forma, o ritmo ou o resultado, a bus-
ca da liberdade, da justiça e do progresso
permeia toda a história social do ser huma-
no. Participamos dessa busca com maior ou
menor consciência de nossos objetivos, com
avanços e retrocessos; em suma, com toda a
diversidade de incidentes da qual nossa his-
tória está repleta. Mesmo nas circunstâncias
mais difíceis, apesar de prolongados perío-
dos de inércia, a luta renasceu e renascerá,
seja para passar da condição de escravos à de
pessoas livres, ou para ampliar a cada dia o
espaço da liberdade.
No entanto, possuímos também outro
impulso tão vital quanto os anteriores, ex-
presso de maneira diferente e nos distintos
âmbitos da vida: o impulso de dominação e
de obter o poder que permite exercê-la.
Em grande parte, nossa vida em socieda-
de se constrói na trama desses impulsos cen-
trais: sabe-se que onde não houver liberda-
de, justiça e progresso, aí nascerá a luta para
alcançá-los e que, nessa luta, se confrontarão
interesses, pareceres e métodos.
Nossa busca de liberdade, justiça e pro-
gresso, e a luta pelo poder que se desenca-
deia quando todos nós procuramos impor
nossos interesses e pareceres sobre esses as-
suntos, deram lugar a diversas formas de or-
ganização dos seres humanos. Uma delas é a
democracia.
A democracia se converteu em um si-
nônimo de liberdade e justiça. É, ao mesmo
tempo, um fi m e um instrumento. Contém,
basicamente, uma série de procedimentos
para o acesso e o exercício do poder, mas é
também, para os homens e as mulheres, o
resultado desses procedimentos.
Nessa perspectiva, a democracia não é
só um método para eleger quem governa, é
também uma forma de construir, garantir e
expandir a liberdade, a justiça e o progresso,
organizando as tensões e os confl itos gera-
dos pelas lutas de poder.
Independentemente das diferenças ma-
nifestadas no plano da teoria sobre os alcan-
ces da idéia de democracia, a história reve-
la que as aspirações no sentido de ampliar as
fronteiras das liberdades cidadãs e de atingir
maiores níveis de justiça e progresso sem-
pre estiveram no coração das lutas sociais e
políticas, ligadas, de certa forma, à idéia de
democracia. Com períodos de expansão e
O desafi o: de uma democracia de eleitores
a uma democracia de cidadãos
1
quadro 1
A democracia: uma busca permanente
É necessário considerar os desrespeitos, as fraturas, as tensões, os
limites e as denegações que constituem a contrapartida da experiência da
democracia. A democracia formula uma pergunta que permanece, portanto,
continuamente pendente: é como se jamais pudesse ser dada uma resposta
perfeitamente adequada. A democracia apresenta-se como um regime
sempre marcado por formas não acabadas e incumpridas.
Pierre Rosanvallon, texto elaborado para o PRODDAL, 2002.
A democracia
é uma imensa
experiência
humana. Está
ligada à busca
histórica de
liberdade, justiça
e progresso
material e
espiritual. Por
isso é uma
experiência
permanentemente
inconclusa.
1 “A presente publicão é a tradução para português da segunda edão revisada em Espanhol do Relatório
La democracia en América Latina ”. O listado completo de modifi cações pode ser consultado no site
www.democracia.undp.org
”.
3
6
A democracia na América Latina
retração, de mobilização ou quietude, a his-
tória nos mostra que onde não havia liber-
dade, por ela se lutou; onde não havia jus-
tiça, também se brigou por ela e, onde não
havia progresso, a ele se tentou chegar. In-
dependentemente dos retrocessos e das apa-
tias, o reconhecimento da igualdade e a bus-
ca de sua realização social, em termos de
liberdade, justiça e progresso, constituem
um impulso histórico substancialmente li-
gado à idéia de democracia.
Esta forma de organização entrou e saiu
de nossa história. Surgiu há 2.500 anos na
Grécia, mas depois desapareceu. “Como o
fogo, a pintura ou a escrita, a democracia
parece ter sido inventada mais de uma vez e
em mais de um lugar”.
2
Na América Latina alcançou-se a demo-
cracia eleitoral e suas liberdades básicas. Ago-
ra se trata de avançar na democracia de cida-
dania. A primeira nos deu as liberdades e o
direito de decidir por nós mesmos. Traçou,
em muitos de nossos países, a fronteira en-
tre a vida e a morte. A segunda, hoje plena de
carências, é a que avança para que o conjunto
de nossos direitos se torne efetivo. É a que nos
permite passar de eleitores a cidadãos. A que
utiliza as liberdades políticas como alavanca
para construir a cidadania civil e social.
Para as mulheres e os homens, a demo-
cracia gera expectativas, esperanças e decep-
ções porque contribui para organizar suas
vidas na sociedade, garante seus direitos e
permite melhorar a qualidade de suas exis-
tências. A democracia é muito mais do que
um regime de governo, ela se confunde com
a própria vida. É mais que um método para
eleger e ser eleito. Seu sujeito não é apenas
aquele que vota, é o cidadão.
Na América Latina, em 200 anos de vida
independente, a democracia nasceu e mor-
reu dezenas de vezes. Nas instituições a con-
sagravam, na prática a destruíam. Guerras,
tiranias e breves primaveras compõem gran-
de parte dessa história independente, duran-
te a qual até as violações à democracia fo-
ram feitas em seu nome. A América Latina é,
provavelmente, a região do mundo que mais
reivindicou a democracia, nos dois últimos
séculos, até para a interromper invocando
sua futura instauração.
Nós, latino-americanos que, muitas vezes,
vimos como nos era negado ou arrebatado o
anseio de ser parte da construção da demo-
cracia, somos agora, nalmente, atores que as-
sumem seus desafi os e seu desenvolvimento.
Após duas décadas de diversas formas
de transição, os regimes democráticos es-
tão amplamente vigentes na América Lati-
na. Há vinte e cinco anos, dentre os dezoito
países incluídos no Relatório, só a Colôm-
bia, a Costa Rica e a Venezuela eram demo-
cráticos. Um quarto de século depois, todos
os nossos países cumprem os critérios bási-
cos do regime democrático, em sua dimen-
são eleitoral e política.
As liberdades que hoje possuímos são
um bem de valor incomensurável; essa é
uma conquista que se deve ao impulso, à lu-
ta e ao sofrimento de milhões de seres hu-
manos. Somos testemunhas do avanço mais
profundo e amplo que a democracia obteve
desde a independência de nossas nações. No
entanto, como se verá neste Relatório, o que
foi conquistado não está assegurado.
A preservação da democracia e sua ex-
pansão não são fatos espontâneos. São cons-
truções voluntárias, formuladas em proje-
tos, modeladas por lideranças e investidas
do poder que se origina no apoio popular.
Requerem partidos políticos que construam
opções fundamentais, um Estado com po-
der para executá-las e uma sociedade capaz
de participar de uma construção que excede
as reivindicações setoriais. Uma política que
omite os problemas centrais torna as opções
dos cidadãos vazias de conteúdo. Um Esta-
2 Dahl, 1999, p. 15.
quadro 2
A democracia: um ideal
A democracia é, primeiro e acima de tudo, um ideal. […] Sem uma tendência
idealista, uma democracia não nasce e, se nasce, debilita-se rapidamente.
Mais do que qualquer outro regime político, a democracia vai contra a
corrente, contra as leis inerciais que governam os grupos humanos. As
monocracias, as autocracias, as ditaduras são fáceis, aparecem sozinhas;
as democracias são difíceis, têm que ser promovidas e é preciso acreditar
nelas.
Giovanni Sartori, 1991, p. 119.
37
O desenvolvimento da democracia na América Latina
do sem poder transforma o mandato eleito-
ral em uma expressão de desejos sem conse-
qüências, e uma sociedade sem participação
ativa leva, mais cedo ou mais tarde, a uma
perigosa autonomia do poder, que deixa de
expressar as necessidades dos cidadãos.
Parece que nos afastamos dos riscos dos
golpes militares de Estado, mas surgem ou-
tros perigos: a democracia aparenta perder
vitalidade, dá-se preferência a ela porém se
desconfi a de sua capacidade para melhorar
as condições de vida; os partidos políticos
estão no nível mais baixo da estima públi-
ca;
3
o Estado é visto, ao mesmo tempo, com
expectativa e apreensão e, em alguns casos, o
ímpeto democrático que caracterizou as úl-
timas décadas do século passado está se de-
bilitando. A sociedade está nas ruas, mas
sem um objetivo que unifi que as suas rei-
vindicações e demandas.
Qual a gravidade dessas novas fragilida-
des? Se a democracia perder relevância para
os latino-americanos, se ela se divorciar de
suas necessidades, poderá resistir aos novos
perigos, aos seus adversários, às frustrações?
Analisar, como nos propomos, o desen-
volvimento da democracia na América Lati-
na, leva-nos a sondar a vigência dos direitos
dos latino-americanos, e o nível de concreti-
zação das esperanças que depositam em seus
representantes. E também nos conduz a in-
dagar sobre a sustentabilidade da democra-
cia, isto é, sobre sua capacidade para perdu-
rar e aperfeiçoar-se, a partir da legitimidade
que gera em seus cidadãos, enfi m, leva-nos
a identifi car os desafi os da democracia, e as
ameaças que sobre ela pairam.
Como se resolvem as tensões entre a ex-
pansão democrática e a economia, entre a li-
berdade e a busca da igualdade, entre cresci-
mento e pobreza, entre as demandas públicas
manifestadas livremente e as reformas econô-
micas que exigem ajustes e sacrifícios? Quais
são as chaves que explicam a crise de repre-
sentação, a desconfi ança da sociedade para
com a política? Por que a esperança demo-
crática não se traduziu em avanços nos direi-
tos civis e sociais da mesma dimensão que as
expectativas que gerou? Por que o Estado não
possui o poder necessário? Por que o direito
de escolher governantes não se traduziu, em
muitos casos, em mais liberdade, mais justiça
e maior progresso?
Esses são dilemas cuja solução é comple-
xa, como demonstra a nossa própria história
recente. E não poderão ser resolvidos se não
forem colocados no centro do debate públi-
co e das opções que os partidos oferecem.
Infelizmente, em muitas ocasiões, parece
que existe um debate proibido na Améri-
ca Latina. Questões sobre as quais é incon-
veniente falar, ou – ainda mais grave – não
se deve falar. O silêncio da política e dos que
constroem a agenda do debate público não
pode continuar ignorando, indefi nidamen-
te, o clamor de milhões de pessoas, a não ser
que se esteja disposto a pagar o preço do en-
fraquecimento paulatino da democracia la-
tino-americana.
Este Relatório trata dessas questões,
identifi cando-as não por uma mera intui-
ção, mas por meio da análise teórica, da ob-
servação empírica e do pensamento de inte-
lectuais e políticos.
Atacar esses dilemas demanda a maior
informação possível para iluminar os cri-
térios com que as políticas são formuladas.
A falta de informação e de debate constitui
uma carência grave, porque a democracia –
que se baseia na refl exão e no debate dos ci-
dadãos e de seus líderes – é a única forma
de organização política que tem capacidade
para retifi car-se a si mesma. Essa é a princi-
pal vantagem para fazer da democracia um
sistema justo e efi caz. A liberdade garantida
pela democracia é, ao mesmo tempo, o prin-
cipal instrumento que ela tem para se aper-
feiçoar como sistema, mas a liberdade, ou
melhor, a capacidade de optar, requer que a
matéria da opção esteja presente. Na Améri-
ca Latina, a refl exão e o debate políticos re-
querem ser renovados e promovidos, por-
que perderam vitalidade e conteúdo. Isso
está ocorrendo no período de maior difu-
são da democracia e em um mundo em que
a globalização torna cada vez mais peremp-
tório saber o que queremos como socieda-
des e como nações.
Na América
Latina, a
refl exão e o
debate políticos
requerem ser
renovados e
promovidos,
porque perderam
vitalidade e
conteúdo.
3 Segundo os dados da pesquisa Latinobarômetro 2002, apenas 14 por cento dos latino-americanos têm confi ança
nos partidos políticos.
3
8
A democracia na América Latina
Nossas democracias precisam, urgente-
mente, retomar o impulso inicial. Seus dé-
cits não representam seu fracasso, são seus
desafi os. O que ainda não alcançamos é o
que deve constituir a essência das políticas
que permitirão o nascimento da segunda
etapa da democracia latino-americana.
Este é o fi o condutor que deveria guiar a
leitura dos materiais propostos pelo Relató-
rio: a busca dos temas cruciais nos quais será
testada a nossa capacidade de passar da de-
mocracia eleitoral à democracia de cidada-
nia. Nessa transformação se defi nirá a ques-
tão da capacidade latino-americana de fazer
da democracia um sistema que se estabilize,
se regenere e se expanda.
Nossa proposta é demonstrar que, como
a aposta está no caminho a seguir para pas-
sar da democracia eleitoral à de cidadania, é
inevitável uma séria refl exão conceitual, ca-
paz de gerar idéias que orientem a observa-
ção da realidade e a coleta de dados que, por
sua vez, construam a base empírica do Rela-
tório. A partir daí, da soma desses dois com-
ponentes, sairá a proposição do núcleo de
temas que confi guram os desafi os da agenda
ampliada para o desenvolvimento da demo-
cracia na América Latina.
Esses objetivos, que constituem a razão
desta obra, encontrarão aqui uma primei-
ra aproximação, um início. O Relatório é o
começo de uma tarefa, de um debate que o
Programa das Nações Unidas para o Desen-
volvimento (PNUD) procura promover en-
tre os latino-americanos. É só o primeiro
passo para que a construção de alternativas
e de políticas concretas seja assumida pelos
atores sociais e políticos que devem relançar
e regenerar nossas democracias.
Estas refl exões, observações e conse-
qüências partirão de um reconhecimento
inicial: a singular realidade da democracia
em nossa região. O leque de desafi os é no-
vo porque também é nova a realidade que
expõe uma região que é democrática e, ao
mesmo tempo, pobre e desigual. A partir
desse triângulo – democracia eleitoral, po-
breza e desigualdade – iniciamos nossa ex-
ploração.
Democracia, pobreza e desigualdade:
um triângulo latino-americano
Para entender as necessidades de expan-
são da democracia na América Latina e per-
ceber suas fragilidades, é indispensável fazer
uma apreciação do que a democracia possui
de próprio e original nessa região.
Na América Latina, as regras e institui-
ções do regime são semelhantes às dos países
democraticamente mais maduros, no entan-
to, as sociedades latino-americanas e as des-
ses países são profundamente diferentes.
Na América Latina, construir e ampliar
os direitos cidadãos é uma tarefa que se de-
senvolve em um novo contexto. Nos últi-
mos vinte anos, produziu-se um conjunto
de grandes transformações. Pela primeira
vez na história, uma região em desenvolvi-
mento e com sociedades profundamente de-
siguais está completamente organizada poli-
ticamente sob regimes democráticos. Assim,
defi ne-se na América Latina uma nova rea-
lidade, sem precedentes
4
: o triângulo da de-
mocracia, da pobreza e da desigualdade.
O primeiro vértice do triângulo é a difu-
são da democracia eleitoral na região. Todos
os países que a integram satisfazem os requi-
sitos básicos do regime democrático. Apenas
os países agrupados na Organização de Co-
operação e Desenvolvimento Econômicos
(OCDE) compartilham essa característica.
O segundo vértice é a pobreza . Em 2002,
a região contava com 218 milhões de pes-
soas (ou 42,9 por cento) com renda abaixo
do nível de pobreza. É certo que essa situa-
ção varia de país para país. Apesar dessas di-
ferenças, comparada com as outras grandes
regiões democráticas do mundo, a América
Latina oferece a singularidade da coabitação
das liberdades políticas com as severas pri-
vações materiais de muitas pessoas. Demo-
cracia e riqueza, democracia e pobreza são
duas combinações que geram necessidades,
4 Não afi rmamos aqui que não se verifi ca a existência conjunta de democracia, pobreza e desigualdade em outros
países ou regiões do planeta. O que apontamos é que a democracia latino-americana convive, em toda a sua região,
com níveis amplamente difundidos de pobreza e situações de desigualdade extremas.
Pela primeira
vez na história,
uma região em
desenvolvimento
e com sociedades
profundamente
desiguais está
completamente
organizada
politicamente
sob regimes
democráticos.
39
O desenvolvimento da democracia na América Latina
difi culdades e riscos diferentes.
O terceiro vértice é a desigualdade . As so-
ciedades latino-americanas são as mais desi-
guais do mundo. Como no caso da pobreza,
observa-se na região não apenas a profun-
didade do grau de desigualdade, em compa-
ração com o resto do mundo, mas também
sua persistência ao longo das três últimas
décadas.
Pela primeira vez, essas três caracterís-
ticas convivem e a democracia enfrenta o
desafi o de sua própria estabilidade, coexis-
tindo com os desafi os da pobreza e da desi-
gualdade. Os riscos que derivam dessa situ-
ação são diferentes e mais complexos do que
os riscos tradicionais do golpe militar de Es-
tado que, por outro lado, não desaparece-
ram totalmente.
No entanto, apesar dessa experiência ter
um caráter particular, é habitual que se pense
na América Latina sob a perspectiva da expe-
riência histórica das democracias desenvol-
vidas, desconhecendo que a estabilidade e a
expansão democráticas têm aqui conteúdos
e dilemas distintos, resultados de sua própria
originalidade. Essas são democracias pobres
e desiguais, cujos homens e mulheres, ao
mesmo tempo em que consolidam seus di-
reitos políticos, precisam também completar
suas cidadanias civil e social.
A limitada compreensão dessa realida-
de singular pode levar a duas conseqüên-
cias graves para a democracia. A primeira
é ignorar a necessidade da viabilidade eco-
nômica da democracia. Isso signifi ca igno-
rar a necessidade de construir bases sólidas
de uma economia que torne possível atacar
a pobreza e a desigualdade. Por exemplo, pa-
ra muitos cidadãos latino-americanos, atin-
gir maiores níveis de desenvolvimento em
seus países é uma aspiração tão importante
que muitos estariam dispostos a apoiar um
regime autoritário que pudesse atender suas
demandas de bem-estar. A segunda é desco-
nhecer a viabilidade política dos programas
econômicos. Isso signifi ca ignorar que esses
programas se aplicam em sociedades em que
as demandas cidadãs e a opinião sobre essas
políticas se expressam livremente.
Na realidade, também é comum ten-
der ao erro de pensar em termos de refor-
ma econômica como se não houvesse de-
mocracia. Como se os difíceis e dolorosos
processos de ajuste estrutural não infl uís-
sem nas decisões tomadas pelas maiorias –
submetidas a condições de pobreza e de alta
desigualdade – no momento de votar ou de
expressar seu apoio ou rejeição a um gover-
DEMOCRACIA, POBREZA E DESIGUALDADE
Notas:
(1) Votantes com base na população com direito a voto 1990-2002. Ver tabela 8.
(2) Coefi ciente de Gini. As cifras mais altas do coefi ciente de Gini correspondem a um grau mais alto de desigualdade.
(3) Média simples para a década de 90. Perry et al., 2004, p.57.
(4) Eurostat PCM-BDU, dezembro de 2002.
(5) Fontes: OCDE 2002, Social Indicators and Tables.
(6) Média ponderada por população dos dados de pobreza entre 1998-2002, CEPAL, 2004.
(7) Eurostat PCM-BDU, dezembro de 2002.
(8) Fonte: US Census Bureau 2001, Poverty in the United States 2002.
(9) Elaboração própria com base nos dados da CEPAL, 2004 (em dólares constantes).
(10)Europa ocidental (EU15) e EUA, PIB per capita 2002. Fonte: OCDE (em dólares correntes)
Dada a multiplicidade de fontes e as diversas metodologias de elaboração de dados sugere-se usar os dados desta
tabela como referências indicativas.
Região Participação eleitoral (1) Desigualdade (2) Pobreza PIB per capita
América Latina 62,7 0,552 (3) 42,8 (6) 3792 (9)
Europa 73,6 0,290 (4) 15,0 (7) 22600 (10)
EUA 43,3 0,344 (5) 11,7 (8) 36100
TABELA 1
40
A democracia na América Latina
no, ou como se fosse possível levar adiante
um plano econômico sem o apoio da popu-
lação, ou pior ainda, apesar de sua manifes-
ta hostilidade.
Essa maneira de pensar a democracia la-
tino-americana, independentemente de sua
economia, ou, simetricamente, pensar sua
economia separadamente de sua democra-
cia, parece um erro ingênuo, mas não por
isso menos recorrente e preocupante para
o destino da democracia e da economia, se
considerarmos a experiência das últimas dé-
cadas na América Latina.
Conseentemente, o debate sobre a es-
tabilidade democtica não deve ignorar a
pobreza e a desigualdade, nem as políticas
de crescimento devem esquecer que, pobres
e desiguais, os cidadãos exercem sua liber-
dade para aceitar ou rejeitar essas políticas.
Surge daí o desa o de resolver as tensões
entre economia e democracia. Esse desa o
parte da necessidade de não pensar a eco-
nomia como se não houvesse democracias
pobres, e de não atacar os problemas da es-
tabilidade democrática independentemente
das necessidades de resolver as questões do
crescimento. É provável que um debate que
ignore uma questão tão elementar termi-
ne levando a recomendações simplesmen-
te impraticáveis.
Essas características da América Lati-
na foram utilizadas como argumento para
concluir que a democracia seria inviável en-
quanto não fossem resolvidos os problemas
da pobreza e não fosse alcançado um míni-
mo aceitável de igualdade. Em várias ocasi-
ões, regimes autoritários instalaram-se com
um discurso “restaurador” do regime demo-
crático. Assumimos o governo para criar as
condições para que a democracia se instale
solidamente no futuro. Supostamente, se-
ria preciso atingir um certo nível mínimo de
riqueza para ter acesso à democracia. Con-
tra essa visão, este Relatório sustenta que
só com mais e melhor democracia as socie-
dades latino-americanas poderão ser mais
igualitárias e desenvolvidas. A razão é que,
somente na democracia, aqueles que não go-
zam de níveis mínimos de bem-estar e que
sofrem as injustiças da desigualdade podem
reivindicar, mobilizar-se e eleger em defe-
sa de seus direitos. Para que isso se concre-
tize, é indispensável indagar caminhos não
explorados e abrir novos debates na Améri-
ca Latina, porque – reiteramos – o grande
desafi o é combater a pobreza e a desigual-
dade, com os instrumentos da democracia,
para criar as bases de coesão e estabilidade
social que são os requisitos do crescimento
econômico.
Na América Latina, ocorreram processos
de reforma no plano político e econômico.
Embora esses processos tenham ocasionado
alguns progressos importantes, sobretudo
na expansão da democracia eleitoral, subsis-
te um evidente contraste entre as reformas
realizadas durante as duas últimas décadas
e uma realidade que continua marcada por
grandes carências no plano das diferentes ci-
dadanias, particularmente a social.
Esses não foram anos só de transforma-
ções políticas. A economia, especialmente na
década de 90, também passou por um pro-
cesso de profundas mudanças, de abertura,
reformas e desregulamentações, que se tor-
nou conhecido com a denominação genéri-
ca de ajustes estruturais. Dessa forma, com
algumas exceções, “a nova onda de demo-
cratização na região, que teve início em me-
ados dos anos oitenta, assumiu as reformas
econômicas orientadas no sentido da am-
pliação das esferas do mercado como sua
própria agenda.
5
Como conseqüência dessas transforma-
ções, as sociedades latino-americanas pas-
sam a ser sociedades em vias de desenvol-
vimento, em que as demandas sociais se
expressam livremente e a economia se orga-
niza em torno do mercado. Dessa maneira,
demandas sociais manifestadas em um con-
texto de liberdade política (democracia) e li-
berdade econômica (mercado) formam ou-
tro triângulo singular. Um triângulo que
deveria ser virtuoso e que, à luz dos últimos
vinte anos, apresenta complexas difi culda-
des que requerem um pensamento renova-
do. A combinação entre liberdade política e
liberdade econômica, em contextos de po-
Só com mais
e melhor
democracia
as sociedades
latino-americanas
poderão ser mais
igualitárias e
desenvolvidas.
5 José Antonio Ocampo, 2003 (texto preparado para o Relatório).
41
O desenvolvimento da democracia na América Latina
breza e desigualdade, pode não gerar como
resultado o fortalecimento da democracia e
o desenvolvimento da economia.
Nas páginas seguintes, mostra-se uma
fotografi a que contrasta reformas e realida-
des. Esta é também uma primeira fotografi a
do défi cit democrático da América Latina,
um indício da chave das frustrações, uma
evidência da urgência de construir a demo-
cracia de cidadania.
Balanço entre reformas e realidades
Para este balanço foram utilizados se-
te indicadores básicos: as reformas estrutu-
rais na economia, as reformas democráticas,
a evolução do produto interno bruto (PIB)
per capita, a pobreza, a indigência, a concen-
tração de renda e a situação trabalhista.
Antes de iniciar a apresentação da tabe-
la que mostra um resumo desses indicado-
res básicos (tabela 2), é necessário fazer al-
guns esclarecimentos. Em primeiro lugar,
o Relatório não afi rma que existe necessa-
riamente uma relação causal entre as vari-
áveis que serão utilizadas. Afi rma, porém,
que os cidadãos latino-americanos sentiram
os efeitos dessas variáveis de forma mais ou
menos simultânea.
Em segundo lugar, na democracia, os ci-
dadãos têm expectativas quanto ao funcio-
namento da economia. Elas têm origem na
ideologia igualitária subjacente à democra-
cia, no discurso dos políticos nacionais, nos
meios de comunicação, nas organizações in-
ternacionais etc. Durante a década de 90,
instalou-se, como promessa de desenvolvi-
mento, um modelo econômico que defrau-
dou a muitos.
Em terceiro lugar, a percepção de uma
grande parte dos cidadãos é de que as po-
líticas implementadas “produziram insufi -
ciente crescimento aceitável, pobreza e de-
sigualdade crescentes e agravamento da
situação trabalhista (com seu conseqüen-
te impacto sobre a desigualdade e os rendi-
mentos futuros da previdência).
1. O índice de reforma econômica indica
um avanço sustentado dessas reformas, me-
dido entre 0 e 1, que subiu de 0,58 nos anos
oitenta para uma média de 0,83 entre 1998
e 2002. Esse índice está composto de cinco
subíndices: “políticas de comércio interna-
cional”,políticas impositivas, “políticas -
nanceiras”, “privatizações e “contas de ca-
pital”, todos relacionados com o Consenso
de Washington, assim denominado poste-
riormente.
2. Na América Latina hoje se reconhece
o direito ao voto universal, sem restrição al-
guma de peso signifi cativo. Essa é uma con-
quista notável e extremamente importan-
te. O índice de democracia eleitoral (IDE),
elaborado pelo Projeto sobre o Desenvol-
vimento da Democracia na América Lati-
na (PRODDAL), demonstra que, em termos
eleitorais, a democracia teve uma melhora
constante ao longo do período considerado.
Os processos de democratização e reforma
de mercado, embora de natureza distinta,
avançaram de maneira sustentada, provo-
cando uma grande expectativa que contras-
tou visivelmente com a evolução dos fatos.
3. A média regional do PIB per capita não
variou de maneira signifi cativa nos últimos
vinte anos. Em 1980, enquanto o índice de
reforma econômica era de 0,55, o PIB per
capita era de U$S 3.734 a valores constantes
de 1995. Vinte anos mais tarde, no ano 2000,
tendo-se avançado consideravelmente na
aplicação das reformas, o índice era de 0,83,
e o PIB per capita, de U$S 3.920, um avanço
quase irrelevante.
4. Os níveis de pobreza tiveram uma le-
ve diminuição em termos relativos. Em 1990,
a porcentagem de pobres
6
ponderada pe-
lo tamanho da população representava 46
por cento para os dezoito países; entre 1998
e 2002 esse percentual tinha caído para 42,8
6 A medição da pobreza com o método da “Linha de Pobreza (LP) elaborado pela CEPAL consiste em estabelecer,
a partir da renda dos domicílios, sua capacidade para satisfazer – por meio da compra de bens e serviços – um
conjunto de necessidades alimentícias e não alimentícias consideradas essenciais
42
A democracia na América Latina
REFORMAS E REALIDADES
TABELA 2
(1) Média simples.
(2) Ponderada por população.
(3) De período a período.
O índice de reforma econômica é composto por cinco componentes: políticas de comércio internacional, políticas impositivas,
políticas fi nanceiras, privatizações e contas de capitais. O índice vai de 0, que indica uma falta de reformas orientadas para o
mercado, a 1, que indica a aplicação de reformas fortemente orientadas para o mercado.
O “Índice de Democracia Eleitoral” vai de 0 (igual a falta de democracia eleitoral) a 1 (indica que os requisitos de democracia
eleitoral são cumpridos).
A taxa de crescimento do PIB real per capita anualizado foi calculada da seguinte maneira: a) foram somados os PIB reais (base
dólares 1995) dos anos do período analisado, e se dividiu pelo número de anos do período; b) dividiu-se pela população média do
período; c) o PIB per capita desse período foi dividido pelo do período anterior, extraindo, em seguida, a raiz geométrica, conforme o
número de anos do período analisado.
As cifras de crescimento real do PIB per capita foram calculadas com base em dólares 1995. As cifras sobre pobreza, indigência e o
coefi ciente de Gini são médias de somente alguns anos.
Notas do Quadro atualizado em maio de 2004, para a segunda edição.
Em todos os casos, as colunas sobre Pobreza e Indigência abarcam a porcentagem maior do território oferecida na base de dados
CEPAL. Nesse sentido, e para certos países, foram utilizadas séries com cobertura espacial diferente, com o critério de utilizar o dado
mais abrangente. Isto implica que os dados de Pobreza e Indigência podem estar subestimados e, no caso desses países, os saltos
da série podem não refl etir necessariamente os saltos nos níveis de Pobreza e Indigência.
A atualização deste quadro foi feita com base nos novos dados fornecidos pela CEPAL e nos novos dados populacionais do CELADE.
A partir dos censos mais recentes, o CELADE reestimou os dados populacionais da década de 90. Por conseguinte, isso se refl etiu em
todos os dados ponderados por população e nos dados per capita.
Este exercício acrescentou vários milhões de pessoas aos dados ofi ciais anteriores.
Fontes: Os dados sobre o Índice de Reforma Econômica são de Morley, Machado e Pettinato, CEPAL 1999; Lora 2001, e comunicação
com Manuel Marfán, diretor da Divisão de Desenvolvimento Econômico da CEPAL, 4 de fevereiro de 2003.
A metodologia e os dados do Índice de Democracia Eleitoral são apresentados no Compêndio Estatístico. Os outros dados são de
várias publicações da CEPAL, com exceção dos dados sobre o coefi ciente de Gini antes de 1990, cuja fonte é Deininger e Squire 1998.
Sub-Região “Cone Sul” (Argentina, Chile, Paraguai, Uruguai)
1981-90 0,66 0,44 -0,8% 25,6 7,1 0,502 8,8
1991-97 0,82 0,88 1,3% 21,2 5,7 0,527 8,7
1998-02 0,84 0,91 1,0% 32,3 12,9 0,558 12,1
Brasil
1981-90 0,52 0,70 1,7% 48,0 23,4 0,603 5,2
1991-97 0,75 1,00 0,4% 40,6 17,1 0,638 5,3
1998-02 0,79 1,00 1,1% 37,5 13,1 0,640 7,1
1981 - 90 0,53 0,83 -0,6% 52,3 22,1 0,497 8,8
1991 - 97 0,76 0,86 0,9% 50,4 18,1 0,544 8,3
1998 - 02 0,82 0,83 0,1% 52,7 25,0 0,545 12,0
1981-90 0,61 0,31 1,7% 47,8 18,8 0,521 4,2
1991-97 0,78 0,70 0,4% 48,6 19,1 0,539 4,0
1998-02 0,81 1,00 2,2% 42,5 15,4 0,528 2,6
1981-90 0,55 0,59 4,1% 55,3 35,6 0,532 9,1
1991-97 0,80 0,89 -3,5% 52,0 27,8 0,524 9,1
1998-02 0,85 0,97 2,8% 54,0 29,7 0,546 8,8
1981-90 0,58 0,64 0,7% 46,0 20,4 0,551 8,4
1991-97 0,79 0,87 0,6% 42,8 18,3 0,574 8,8
1998-02 0,83 0,92 1,2% 42,8 17,7 0,577 10,4
Brasil
Sub-Região Andina (Bolívia, Colômbia, Equador, Peru, Venezuela)
México
Sub-Região América Central (C. Rica, El Salvador, Guatemala, Honduras, Nicarágua, Panamá, Rep. Dom.)
Região Latino-americana
Índice de
Reforma
Econômica (1)
Índice de
Democracia
Eleitoral (1)
Crescimento
do PIB Real
per capita
anualizado (3)
%
Pobreza
(2) %
Indigência (2)
%
Coefi ciente de
Gini (2)
Desemprego
Urbano (1)
43
O desenvolvimento da democracia na América Latina
por cento. Esse avanço se produziu, funda-
mentalmente, em virtude das melhorias re-
lativas do Brasil, do Chile e do México. En-
tretanto, em termos absolutos, o número de
habitantes que se situava abaixo da linha de
pobreza aumentou. Em 1990, 191 milhões
de latino-americanos eram pobres. Em
2002, quando a população era de 508 mi-
lhões de habitantes, a quantidade de pobres
chegava a 218 milhões. Poderia se acrescen-
tar que, inclusive em termos relativos, du-
rante esse período houve um crescimento
da pobreza no Cone Sul (de 25,6 a 32,3 por
cento) e nos países andinos (de 52,3 a 53,3
por cento).
5. Os níveis de desigualdade não diminu-
íram. Em 1990, o coefi ciente de Gini
7
(mé-
dia regional ponderada por população) era
de 0,554. Em 2002, esse coefi ciente subiu pa-
ra 0,576. A média mundial para os anos no-
venta foi de 0,381 e a dos países desenvolvi-
dos de 0,337. A alta desigualdade também se
expressa na relação entre os níveis superio-
res e inferiores de renda. Em 1990, a renda
de 10 por cento da população latino-ameri-
cana de mais alta renda era 25,4 vezes supe-
rior à renda de 10 por cento da população de
renda mais baixa. Em 2002, essa relação era
de 40 vezes.
8
Em 2002, 20 por cento da po-
pulação da região de mais alta renda recebeu
quase 54,2 por cento da renda total, enquan-
to 20 por cento do setor de mais baixa ren-
da, apenas 4,7 por cento. A região possui os
níveis de desigualdade mais altos do mundo
na distribuição da renda.
6. Durante os últimos quinze anos, a si-
tuação trabalhista agravou-se em quase toda
a região . O desemprego e a informalidade
aumentaram signifi cativamente. Além disso,
a proteção social dos trabalhadores sofreu
uma queda (saúde, pensões e sindicaliza-
ção). Isso está vinculado a um agravamen-
to da distribuição da renda e a um aumento
da pobreza atual, confi gurando um quadro
cujos efeitos terão conseqüências muito ne-
gativas a médio e longo prazo.
Esta primeira visão é um indício da
imensidade e da complexidade das tarefas
que a América Latina deveria assumir.
vinte e cinco anos, a região tinha um desa-
o difícil e, ao mesmo tempo, simples. Era
preciso audácia e imaginação para alcan-
çá-lo, porém não havia dúvidas quanto ao
seu conteúdo: vencer as ditaduras, superar
as guerras e alcançar a democracia e a paz.
Ninguém tinha dúvidas sobre a agenda da
democracia.
Hoje, regenerar seu conteúdo, dar im-
pulso a uma nova etapa é uma meta mui-
to mais ampla e plena de incertezas. O que
quer dizer realmente ir rumo à democracia
de cidadania? Quais são os temas centrais?
Que condições nos são requeridas para re-
solvê-los? Quem são os novos adversários
da democracia ampliada? Nenhuma dessas
questões tem a clareza daquela opção biná-
ria dos anos setenta: democracia-ditadura,
liberdade-opressão, vida-morte.
Mobilizar a imaginação, o conhecimento
e a política é, como nos ilustram esses con-
trastes que terminamos de mostrar, uma ta-
refa difícil, árdua e incerta. A primeira con-
dição, à qual visamos nessa obra, é tomar
consciência sobre até que ponto não existem
desculpas para não encará-la. A tarefa inclui,
é claro, a necessidade de enfrentar o legado
histórico de atraso econômico e tecnológico,
de fratura social e de inserção secundária e
desvantajosa no sistema internacional.
As páginas seguintes iniciam a explora-
ção destas questões, da natureza dos desa-
os para o desenvolvimento da democracia,
da centralidade dos direitos do cidadão pa-
ra a etapa que se inicia, e de alguns temas – a
própria noção de democracia e do papel do
Estado – que constituem o ponto de partida
7 Este coefi ciente é uma medida que surge de uma representação gráfi ca da distribuição da renda chamada Curva
de Lorenz. Para o coefi ciente de Gini, 0 representa a igualdade perfeita de distribuição e 1, a desigualdade absoluta.
Um coe ciente de Gini de 0,25-0,35 pode ser considerado como uma distribuição “razoável” e um coefi ciente de
Gini de 0,55 representa uma desigualdade extrema.
8 Esses dados foram retirados de uma versão agregada da tabela 2.
Hoje, regenerar
seu conteúdo,
dar impulso a
uma nova etapa
é uma meta
muito mais
ampla e plena de
incertezas.
44
A democracia na América Latina
de nossas proposições.
Não se trata de um desenvolvimento te-
órico no sentido estrito, mas de alguns pon-
tos-chave básicos que estão nos fundamen-
tos teóricos de nosso trabalho.
Ingressamos nesse campo não porque o
objetivo do Relatório seja uma indagação
acadêmica sobre a democracia, e sim por-
que as conseqüências práticas das diferentes
concepções são fundamentais no momento
de pensar as políticas e as estratégias de sus-
tentabilidade democrática. Essas diferenças
se referem às condições de expansão da de-
mocracia, aos seus riscos de desaparecimen-
to, à maneira como certas políticas públicas
são vistas e formuladas, às diferenças socio-
culturais e de gênero, à visão do Estado e su-
as transformações, ou ao papel da política e
suas organizações. Além disso, dependen-
do da visão de democracia por nós adotada,
existirão diferenças contundentes em rela-
ção ao que esperamos de outra forma de or-
ganização da sociedade: a economia .
Em outras palavras, se a democracia fos-
se apenas um regime, poderíamos chegar ao
paradoxo extremo da existência de uma so-
ciedade pobre no tocante aos direitos sociais
e econômicos de seus cidadãos, pobre, inclu-
sive, em seus direitos civis básicos, mas ple-
namente democrática.
Outra conseqüência importante, deriva-
da de uma compreensão da democracia limi-
tada a seu regime, é a visão segmentada das
políticas públicas. Dessa forma, haveria po-
líticas recomendáveis para assegurar as boas
condições de funcionamento do regime de-
A democracia e a promessa dos direitos cidadãos
Apesar da instauração do regime democrático,
não foi possível modifi car a natureza e o
funcionamento do Estado por causa da
presença de fatores internos e externos que
obstaculizaram o cumprimento dos direitos
cidadãos. Conseqüentemente, as expectativas
depositadas em tal ordenamento viram-
se frustradas, porque o desempenho das
representações políticas e das instituições
públicas não correspondiam às expectativas da
maioria da população, sujeita historicamente
a condições de “pobreza” e de “exclusão
– denominações tecnocráticas que escondem
as relações sociais geradoras dessas situações;
mais ainda porque nas novas circunstâncias
internacionais, o regime e o Estado reforçam
tais condições, em direção contrária à dos
discursos democráticos e liberais, e das
promessas dos dirigentes políticos.
Por tais motivos, o descrédito do regime
democrático “realmente existente” propicia
que amplos setores sociais, particularmente
os pobres e os excluídos, tanto do imaginário
como da ação político-estatal, assumam
comportamentos “informais”, às vezes ilegais,
para satisfazer suas aspirações individuais e
coletivas, que o Estado é incapaz de controlar
por não contar com os recursos materiais nem
com o respaldo da população. A fragmentação
dos interesses sociais e das representações
políticas, que essa conduta acarreta, agrava os
problemas da ação coletiva, ao mesmo tempo
em que a proliferação de “aproveitadores”
(free-riders), que de maneira irresponsável se
oferecem para resolver as demandas sociais
por meio de propostas oportunistas de curto
prazo, causa desconcerto e intranqüilidade
geral.
Nessa conjuntura, não é de se estranhar
a existência de vozes que prognosticam
desenlaces dramáticos; porém, mesmo com os
obscuros presságios, observa-se a presença
de atores que, apesar de tudo, persistem
obstinadamente em defender a validade do
regime democrático, alegando que esse regime
constitui o único marco para nacionalizar e
democratizar o Estado e a sociedade. Como
dizia há pouco tempo um dirigente sindical
peruano: “a democracia não assegura a justiça
social, mas é o único espaço que permite lutar
para consegui-la”.
Julio Cotler, texto elaborado para o PRODDAL,
2002.
quadro 3
45
O desenvolvimento da democracia na América Latina
quadro 4
Declaração Universal de Direitos Humanos
As Nações Unidas reafi rmaram, na sua Carta, sua fé nos direitos
fundamentais do homem, na dignidade e no valor da pessoa humana e
na igualdade de direitos dos homens e das mulheres; e declararam-se
decididas a promover o progresso social e a elevar o nível de vida dentro
de um conceito mais amplo de liberdade.
ONU, 1948.
mocrático, outras aconselháveis para o ade-
quado funcionamento da economia, e outras
que indicassem as reformas apropriadas pa-
ra, por exemplo, a organização estatal.
Com essa visão fragmentada se julgaria
estar fortalecendo a democracia com o sim-
ples recurso de melhorar o funcionamento
de seu regime, e se estaria ignorando o im-
pacto que, por exemplo, as reformas do Es-
tado ou as reformas estruturais na economia
teriam sobre ela.
Tampouco se observariam fatos como
o de que as políticas de reforma do Estado
ou da economia sejam, em última instância,
avaliadas por maiorias que medem seus re-
sultados em termos do progresso de suas vi-
das ou de uma maior justiça na distribuição
de bens. Por essa razão, a opinião cidadã é
uma parte fundamental da viabilidade das
políticas de reforma.
Os organismos internacionais e a
promoção da democracia
O Relatório se inspira na letra e no es-
pírito de diferentes documentos das Nações
Unidas:
A Declaração Universal dos Direitos
Humanos, aprovada pelas Nações Unidas
em 1948, estabelece uma concepção ampla
de cidadania, abrangendo direitos civis, po-
líticos e sociais.
A Declaração e Programa de Ação de
Viena, de 1993, estabelece que “a comunida-
de internacional deve apoiar o fortalecimen-
to e a promoção da democracia e o desen-
volvimento e respeito aos direitos humanos
e às liberdades fundamentais no mundo
inteiro.
A promoção do direito à democracia
foi proclamada pela Comissão de Direitos
Humanos das Nações Unidas, em sua reso-
lução 1999/57.
Adicionalmente, no ano 2000, a As-
sembléia Geral das Nações Unidas, na De-
claração do Milênio, estabelece que: “não
mediremos esforços para promover a de-
mocracia e reforçar o cumprimento da lei,
assim como o respeito por todos os direitos
humanos internacionalmente reconhecidos
e liberdades fundamentais, incluindo o di-
reito ao desenvolvimento.
O Sistema das Nações Unidas, por meio
de todos os seus organismos e programas,
promove o respeito pelos direitos huma-
nos e a realização de eleições livres e lim-
pas. Com a Declaração do Milênio, a ONU e
outros organismos internacionais de coope-
ração e fi nanciamento reforçaram seu cha-
mamento para a promoção da democracia,
para o fortalecimento do estado de direi-
to e para o desenvolvimento sustentável. O
Programa das Nações Unidas para o Desen-
volvimento (PNUD), por meio de seus pro-
gramas de governabilidade, inclui a promo-
ção de diálogos democráticos, programas de
reforma do Estado e de promoção do de-
senvolvimento econômico. Para o PNUD,
democracia e desenvolvimento humano
compartilham uma visão e um propósito
comum: o desenvolvimento humano é um
processo para fortalecer as capacidades do
ser humano, expandindo as oportunidades
de cada pessoa de chegar a ter uma vida res-
peitável e valiosa; e é necessário, como cor-
relato, uma forma política que assegure tu-
do isso, a saber, a democracia.
É destacável também, o papel de vários
organismos e iniciativas regionais que de-
ram prioridade à defesa e ao fortalecimen-
to da democracia. Nesse sentido, é notável o
compromisso que os países da região assu-
miram com a democracia, por meio da Or-
ganização de Estados Americanos (OEA).
A OEA deu um passo fundamental em sua
46
A democracia na América Latina
Os direitos democráticos
A Comissão de Direitos Humanos das Nações
Unidas afi rma que dentre os direitos a uma
gestão pública democrática fi guram os
seguintes:
a. O direito à liberdade de opinião e de
expressão, de pensamento, de consciência
e de religião, de associação e de reunião
pacífi cas.
b. O direito à liberdade de investigar e de
receber e difundir informações e idéias por
qualquer meio de expressão.
c. O império da lei, incluída a proteção
jurídica dos direitos, interesses e
segurança pessoal dos cidadãos e a
eqüidade na administração da justiça,
assim como a indepenncia do Poder
judiciário.
d. O direito ao sufrágio universal e igual, assim
como a procedimentos livres de votação e a
eleições periódicas livres.
e. O direito à participação política, incluindo
a igualdade de oportunidades de todos
os cidadãos para apresentarem-se como
candidatos.
f. Instituições de governo transparentes e
responsáveis.
g. O direito dos cidadãos a eleger seu sistema
de governo por meios constitucionais ou outros
meios democráticos.
h. O direito de acesso, em condições de
igualdade, à função pública no próprio país.
ONU, Comissão de Direitos Humanos, 1999.
quadro 5
A democracia requer mais do que eleições
A democratização verdadeira é algo mais do
que as eleições. […] O fato de conceder a todas
as pessoas uma igualdade política ofi cial não
é sufi ciente para criar, na mesma medida, a
vontade ou a capacidade de participar nos
processos políticos, nem uma capacidade
igual de todos em infl uir nos resultados.
Os desequilíbrios de recursos e de poder
político minam, freqüentemente, o princípio
“uma pessoa, um voto”, e a fi nalidade das
instituições democráticas.
PNUD, 2002c, pp.4 e 14.
As eleições não são eventos isolados, mas sim
parte de um processo mais amplo.
Kofi Annan, Secretário Geral da ONU 2003.
As eleições livres e justas são necessárias,
mas não são sufi cientes. Não apreciamos
plenamente o valor da democracia, quando
realizamos eleições, como evidência de que
existe uma democracia.
Mark Malloch Brown, Administrador do PNUD,
2002.
quadro 6
reunião de Santiago do Chile, em 1991,
quando seus países membros adotaram me-
canismos para reagir diante de situações em
que a democracia fosse interrompida. Outro
passo-chave foi dado pela aprovação da Car-
ta Democrática Interamericana em 2001. In-
dubitavelmente, a coordenação de esforços
em prol da democracia por parte de líderes
latino-americanos, especialmente por meio
de organizações internacionais, é um mar-
co que fortalece as democracias na Améri-
ca Latina.
Além disso, cabe destacar o trabalho re-
alizado pelo Grupo do Rio, pelas Cúpulas
Ibero-americanas dos Chefes de Estado e de
Governo, e pela OEA por meio da Unida-
de para a Promoção da Democracia, acerca
de temas-chave para a democracia. Mais es-
47
O desenvolvimento da democracia na América Latina
pecifi camente, essas iniciativas vêm impul-
sionando a defi nição de uma agenda políti-
ca para a região, que ressalta a importância
da política e dos partidos políticos, das orga-
nizações da sociedade civil e da participação
cidadã nos diversos processos da vida públi-
ca, da cultura democrática, das instituições
que garantem a transparência e a efi cácia
governamental, da governabilidade demo-
crática, do estado de direito, da redução da
pobreza, e do impacto da nova economia so-
bre o desenvolvimento econômico.
É importante destacar que essas ini-
ciativas internacionais não se restringem
a promover a democracia em seu aspecto
eleitoral. Pelo contrário, levando em con-
sideração as preocupações dos cidadãos, os
organismos internacionais globais e regio-
nais incluem em suas metas tanto o estado
de direito quanto o desenvolvimento econô-
mico. Cada vez mais, a comunidade inter-
nacional está convergindo para a visão mais
ampla de democracia, proposta por este
Relatório, e para a idéia de que, para pre-
venir retrocessos no processo democráti-
co, é necessário analisar o regime democrá-
tico não isoladamente, mas como parte do
marco das cidadanias política, civil e social.
O grande desafi o reside em consolidar este
consenso emergente e traduzi-lo em apoio a
reformas que fortaleçam as democracias la-
tino-americanas.
48
A democracia na América Latina
49
O desenvolvimento da democracia na América Latina
Exploração sobre o
desenvolvimento da democracia
9
Quanto maior o grau de democracia,
melhor. Essa é a idéia que guia nossa ex-
ploração sobre o desenvolvimento da de-
mocracia na Arica Latina. No entanto,
mesmo assim, in dubio pro democratia.
Embora este seja um critério geral vá-
lido, ele não resolve a discussão teórica e
política sobre duas questões: quanta demo-
cracia e onde?
A que esferas deveriam ser ampliados
os mecanismos democráticos de tomada
de decisão e os princípios e direitos de ci-
dadania? Que custos, em termos de outros
objetivos sociais, estamos dispostos a pagar
para avançar na democratização? Deveriam
os mecanismos democráticos e os princí-
pios de cidadania se estender ao, digamos,
funcionamento interno dos partidos e sin-
dicatos, maso a empresas, universidades,
organizões internacionais e famílias?
Podem existir critérios razoavelmente con-
sistentes e amplamente aceitos sobre onde
aplicar e onde não, os mecanismos e prin-
cípios da democracia? E, talvez ainda mais
enigmático, quem deveria decidir este tipo
de questão e por meio de que processos?
Os democratas sinceros de diversas
escolas e tradições sempre debaterão sobre
onde, como, quando e por quem devem ser
colocados os limites da democracia. A polí-
tica, especialmente a política democrática,
debate centralmente sobre os seus próprios
limites e, por conseqüência, também sobre
os do Estado
10
. Quais os males que podem
ser prevenidos? Quais deles deveriam ser re-
solvidos pela política e pelo Estado adequa-
do? Quais são os fatos inelutáveis ou que
devem ser deixados à mercê do mercado ou
da boa vontade de alguns atores sociais?
Estas perguntas não admitem ser trata-
das independentemente das circunstâncias
específi cas de cada país. No entanto, no
contexto do presente Relatório não pode-
mos deixar de registrar como, na história
recente da América Latina, os limites da
política, da democracia e do Estado se
reduziram.
Essa redução da capacidade criadora da
democracia é produto, entre outras coisas,
de uma defi ciência conceitual: julgar a de-
Grande parte da teoria contemporânea da
democracia se limita a caracterizá-la como
um regime político. Esta restrição refl ete
e reforça uma concepção geral daquilo
que a política, especifi camente a política
democrática, trata. Tais visões expulsam
a democracia e, em geral, a política, de
qualquer relação ativa diante da grande
injustiça social que se manifesta na ampla
carência de direitos sociais e civis, e tam-
bém na anemia de um Estado que se mostra
inefi caz e que perde credibilidade perante
maiorias fl utuantes de suas respectivas
sociedades.
Na história
recente da
América Latina,
os limites da
política, da
democracia e
do Estado se
reduziram.
9 Esta seção se baseia principalmente nos documentos preparados por Guillermo O’Donnell para este Relatório:
“Notas sobre el estado de la democracia en América Latina e Acerca del Estado en América Latina contemporá-
nea: Diez tesis para su discusión. Este último documento é também de grande importância na Terceira Seção do
Relatório, principalmente na parte intitulada: A necessidade de uma nova Estatalidad”.
10 Do mesmo modo, S. N. Eisenstadt (2000, p. 14) faz a importante observação de que um dos “aspectos centrais
do processo político democrático […] [é] uma luta contínua sobre a defi nição do âmbito da política. Na verdade,
é somente com o advento da modernidade que o traçado dos limites da política transforma-se em um dos maiores
foci da luta e da contestação política aberta.
50
A democracia na América Latina
mocracia como a democracia do eleitor.
Quando a cidadania é colocada como funda-
mento da democracia, muda a forma de ava-
liá-la. Na verdade, se o desenvolvimento da
democracia for medido por sua capacidade
de garantir e expandir a cidadania em suas
esferas civil, social e política, abre-se uma
dimensão diferente de refl exão e de ação.
A noção de cidadania implica um status
para cada pessoa como membro de pleno
direito de uma comunidade, e abrange di-
versas esferas que se expressam em direitos e
obrigações. A expansão da cidadania é uma
condição do êxito de uma sociedade e da re-
alização de suas aspirações. A qualidade da
democracia deve ser julgada sobre essa base.
A medida do desenvolvimento de uma
democracia é dada, portanto, por sua capa-
cidade de dar vigência aos direitos dos cida-
dãos e constituir seus cidadãos em sujeitos
das decisões que a eles se referem.
Em síntese, quando este Relatório analisa
o grau de desenvolvimento da democracia,
suas conquistas e carências, interroga-se
sobre o sistema que possibilita o acesso aos
cargos públicos, sobre a organização social
gerada pela democracia – o Estado, os parti-
dos, o poder – e sobre a qualidade da cidada-
nia civil, social e política das mulheres e dos
homens que integram uma Nação.
Um debate incompleto
Durante quase duas décadas, particular-
mente nos anos noventa, a agenda e as polí-
ticas públicas na América Latina trataram da
questão do fortalecimento democrático, da
crise da política, das reformas do Estado, das
reformas estruturais da economia e do im-
pacto da globalização na região. No entanto,
apesar de terem sido abordados aspectos
fundamentais dessas questões, o debate
marginalizou outros que, à luz da análise
apresentada neste Relatório, deveriam ser
colocados no centro da discussão.
A democracia foi observada essencial-
mente em sua dimensão eleitoral; a política
foi examinada sob o prisma da crise expres-
sa pelos partidos, pelas estruturas clientelis-
tas, pela corrupção ou pelos regimes eleito-
rais; a problemática do Estado centrou-se
na questão do equilíbrio das contas fi scais,
na modernizão buroctica e na dimi-
nuição de sua interferência na economia; a
economia teve como tema quase exclusivo
a questão de seus equilíbrios e as reformas
estruturais supostamente necessárias para
atingi-los; e, fi nalmente, a globalizão foi
considerada ou como a origem de males
inevitáveis ou como fonte de benefícios
imensos, colocando inclusive em dúvida
o sentido da continuidade dos Estados
nacionais em um mundo que marchava a
A medida do
desenvolvimento
de uma democracia
é dada, portanto,
por sua capacidade
de dar vigência
aos direitos
dos cidadãos e
constituir seus
cidadãos em
sujeitos das
decisões que a
eles se referem.
quadro 7
Os alicerces da democracia
Não há nada misterioso quanto aos alicerces
de uma democracia saudável e forte. As
coisas básicas que nosso povo espera de seus
sistemas políticos e econômicos são simples.
Elas são:
A igualdade de oportunidade para os jovens
e os demais.
Um trabalho para os que podem trabalhar.
A segurança (social) para os que dela
precisam.
O fi m do privilégio especial para alguns.
A preservação das liberdades civis para
todos.
A participação nos frutos do progresso
científi co, em um padrão de vida
constantemente crescente e amplamente
compartilhado.
Essas são as coisas simples e básicas que seria
necessário nunca se perder de vista no tumulto
e na incrível complexidade de nosso mundo
moderno. A força interior e duradoura de
nossos sistemas econômico e político depende
do grau em que cumprem essas expectativas.
Franklin Delano Roosevelt, “Discurso das
Quatro Liberdades”, janeiro 1941.
51
O desenvolvimento da democracia na América Latina
caminho da “aldeia global.
Como dissemos, esses debates eram,
naquele momento, imprescindíveis. Agora,
são insu cientes. O desenvolvimento da
democracia é muito mais do que a perfeição
de seu sistema eleitoral.
A crise da política se manifesta tanto na
baixa credibilidade e prestígio dos partidos
quanto na pouca efi cácia dos governos para
abordar as questões centrais detectadas
como défi cit de cidadania, em particular, os
défi cits que dizem respeito aos direitos civis
e sociais (tabela 3). Ambas as dimensões da
crise da política – instituições e conteúdos
– são vitais, pois é a política que deve formu-
lar opções, representar os cidadãos e criar os
nexos entre Estado e sociedade para gerar
poder democrático.
Grande parte das questões consideradas
carências centrais está situada no plano da
estatalidad – que entendemos como a
capacidade do Estado para cumprir suas
funções e objetivos, independentemente do
tamanho e da forma de organização de suas
burocracias. Ultimamente, o tema do Estado
reduziu-se, no momento da discussão e das
propostas públicas, a questões relacionadas
com sua capacidade burocrática e sua estru-
tura de gastos e recursos, ou seja, à questão
do défi cit fi scal. Ficou fora da discussão a
existência de Estados com legalidades trun-
cadas, incapazes de monopolizar a coerção,
carentes do poder necessário para colocar
em prática o mandato eleitoral e que, geral-
mente, encontram sérias difi culdades para
cumprir sua crucial responsabilidade de
construir democracia.
11
A questão econômica tem caminhos
e uma diversidade de opções que o pen-
samento único ignora, e a relação entre
economia e democracia é apresentada no
debate atual a partir do impacto da segunda
sobre a primeira. Desse modo, a democracia
ocupa na análise uma posição subordinada
aos objetivos do crescimento econômico. É
preciso inverter os termos e perguntar qual
é a economia necessária para fortalecer a de-
mocracia. Desse modo poderemos debater
tanto o papel da economia no desenvolvi-
mento da democracia, a partir de seu impac-
to nos direitos sociais, quanto a capacidade
da democracia para infl uir na organização
da economia e possibilitar a diversidade de
opções da economia de mercado.
ELEITORAIS POR PARTE DOS GOVERNANTES 2002.
Nota: n = 19.279.
Fonte: Pergunta P25U da Seção Proprietária do PNUD, pesquisa Latinobarômetro 2002.
Cumprimento de promessas Pessoas (%)
Os governantes cumprem suas promessas eleitorais 2,3
Não cumprem porque ignoram como os problemas são complicados 10,1
Não cumprem porque aparecem outros problemas mais urgentes 9,6
Não cumprem porque o sistema não os deixa cumprir 11,5
Não cumprem porque mentem para ganhar as eleições 64,7
Nenhuma das anteriores 1,7
TABELA 3
PERCEPÇÕES SOBRE AS RAZÕES DE DESCUMPRIMENTO DE PROMESSAS
O desenvolvimento
da democracia é
muito mais do que
a perfeição de seu
sistema eleitoral.
11 Do ponto de vista de George Soros (2001), esta questão se expressa assim: “O capitalismo cria riqueza, mas não
se pode depender dele para garantir a liberdade, a democracia e o Estado de direito. As empresas estão motivadas
pelo benefício, não têm por objetivo salvaguardar os princípios universais. Até a proteção do mercado requer mui-
to mais que o benefício próprio: os participantes no mercado competem para ganhar, e se pudessem eliminariam
a concorrência (Soros, 2001).
52
A democracia na América Latina
Finalmente, mesmo não ignorando suas
importantes conseqüências, a globalização
não deveria conduzir a conclusões fatalis-
tas. Os espaços de participação e decisão
democráticas são essencialmente nacionais
e, embora a globalização imponha grandes
restrições à capacidade de ação dos Estados
nacionais, em vez de sucumbir à impotência,
é preciso focar o debate na forma de gerar
novos espaços de autonomia nacional a
partir dos âmbitos regionais de cooperação
e integração.
Portanto, para discutir as condições do
desenvolvimento da democracia, propomos
ampliar os conteúdos da agenda que predo-
minou ultimamente. Obviamente, o objeto
deste Relatório não é propor políticas na-
cionais; cada país tem tempos e situações
diferentes. Essas especifi cidades, porém,
dizem respeito ao tipo de solução a ser apli-
cada em cada caso, e não à relevância dos
problemas. As diversas respostas possíveis
a esses problemas não alteram o conjunto
de interrogações que apresentamos, em
especial, a que se refere à necessidade de
elaborar uma nova agenda de reformas de-
mocráticas para a América Latina.
Assim sendo, de que estamos falando
quando nos referimos à democracia? A
partir de que marco conceitual apre-
sentamos a idéia de desenvolvimento da
democracia? Que democracia temos nós,
latino-americanos? E, fi nalmente, qual
é a agenda de debate necessária para de-
senvolver nossas democracias e expandir
nossas cidadanias?
Fundamentos teóricos
Nesta seção, são apresentados alguns dos
conceitos, argumentos e questões de debate
que pertencem ao campo teórico do Relató-
rio,
12
partindo da base de que a defi nição dos
sentidos da democracia também faz parte
das tarefas que possibilitam transformá-la
e enriquecê-la.
Quando nos deparamos com a com-
plexidade das questões em jogo, quando
observamos novas realidades impossíveis de
serem abordadas por meio da mera intuição,
tomamos consciência de nossa insufi ciente
base teórica. Evidentemente, não estamos
afi rmando que a prática da política é o
corolário de uma teoria apropriada; só es-
tamos enfatizando a necessidade de sérios e
fundados conhecimentos e debates para que
a prática política possa orientar com êxito o
futuro de nossos países. A teoria não é uma
maneira de encerrar-se em um mundo dis-
tante da prática, ela é utilizada para entender
como estamos, para onde vamos e o que se-
ria prioritário transformar.
A teoria política e, dentro dela, a teoria de-
mocrática deram importantes contribuições
para a análise da nossa realidade. Entretanto, é
provável que não haja exemplo mais eloqüen-
te da distância entre teoria e prática do que o
mundo da política. Por um lado, freqüente-
mente se discutem idéias sobre o complexo
desenvolvimento político das sociedades e por
outro – quase como se essas idéias pertences-
sem a outro universo – pratica-se a política.
Desvalorizar a análise teórica, mais do
que um afã de tratar imediatamente de
12 Os dados estatísticos e de opinião pública que constam neste Relatório têm origem em um marco conceitual.
Sem esse marco, não poderíamos ter identifi cado os indicadores relevantes para interpretar o desenvolvimento da
democracia. Os indicadores e a pesquisa utilizados neste Relatório são o resultado de uma determinada concepção
da democracia. Essa teoria justifi ca e explica o método adotado em sua elaboração.
quadro 8
Cidadania e comunidade de cidadãos
A cidadania caracteriza uma situação de inclusão em uma “comunidade
de cidadãos”. Mas esta última não pode ser defi nida simplesmente pelo
direito de voto e pela garantia de ver protegido um certo número de
liberdades individuais. A cidadania se caracteriza também pela existência
de um mundo comum. Em outros termos, possui, necessariamente, uma
dimensão social. Tocqueville foi o primeiro a destacar que a democracia
caracterizava uma forma de sociedade e não apenas um conjunto de
instituições e de princípios políticos.
Pierre Rosanvallon, texto elaborado para o PRODDAL, 2002.
53
O desenvolvimento da democracia na América Latina
coisas práticas, pode ser, às vezes, uma ma-
neira de evitar o cotejo das decisões com as
razões que as fundamentam, ou uma forma
de encobrir as verdadeiras motivações dos
que exercem o poder, público ou privado. A
desvalorização da teoria costuma ser um re-
curso que abre caminho para o pensamento
mágico, entendido como um conjunto de
idéias que, por seu fascínio, parecem pres-
cindir de demonstração.
Este Relatório se propõe a basear suas
descrições, análises e propostas em razões
sistemáticas e rigorosas. Sua intenção não
é abranger a totalidade do debate sobre a
democracia, mas sim fundamentar as afi r-
mações e propostas que apresenta.
A idéia de democracia
Parte-se aqui de uma idéia básica e geral
de democracia, mas não se utiliza uma defi -
nição taxativa e rígida; procura-se encontrar
nas diferentes esferas da vida social o que,
sendo próprio delas, afeta e é afetado pela
democracia. Nesse sentido, a democracia é
o resultado da história das sociedades e não
só de si mesma.
A democracia é o resultado de uma in-
tensa e corajosa experiência social e históri-
ca que se constrói dia-a-dia nas realizações
e frustrações, ações e omissões, ocupações,
intercâmbios e aspirações de seus protago-
nistas: cidadãos, grupos sociais e comunida-
des, que lutam por seus direitos e edifi cam
incessantemente sua vida em comum.
A democracia implica uma forma de
conceber o ser humano e de garantir os
direitos individuais. Por conseguinte, ela
contém um conjunto de princípios, regras
e instituições que organizam as relações so-
ciais, os procedimentos para eleger governos
e os mecanismos para controlar seu exercí-
cio. A democracia é também o modo como
a sociedade concebe o Estado e com o qual
pretende fazê-lo funcionar.
Mas isso não é tudo. A democracia tam-
bém é um modo de conceber e resguardar a
memória coletiva e de acolher, celebrando-
as, diversas identidades de comunidades
locais e regionais.
A democracia é cada uma dessas defi ni-
ções e tarefas, assim como as diversas manei-
ras em que elas se materializam em regras e
instituições.
Sustentamos que a democracia é mais do
que um conjunto de condições para eleger
e ser eleito, que chamamos de democracia
eleitoral. É também, como já dissemos,
uma maneira de organizar a sociedade com
o objetivo de garantir e expandir os direitos
que os indivíduos possuem. Este segundo
aspecto é o que defi ne a democracia de ci-
dadania.
Essas duas caras da democracia estão in-
timamente vinculadas e o grau de desenvol-
vimento de ambas incide substancialmente
em sua qualidade e sustentabilidade.
A diferença entre democracia eleitoral
e de cidadania contém quatro argumentos
básicos que guiam este Relatório:
1. A democracia encontra seu fundamen-
to fi losófi co e normativo em uma concepção
do ser humano como sujeito portador de
direitos. Nela se distingue a idéia do ser
humano como um ser autônomo, razoável e
responsável. Esta concepção subjaz a toda e
qualquer noção de cidadania, inclusive à de
cidadania política.
2. A democracia é uma forma de organi-
zação da sociedade que garante o exercício
A democracia
implica uma
forma de conceber
o ser humano
e de garantir
os direitos
individuais.
quadro 9
A democracia: uma construção permanente
Devemos relembrar que, depois dos seus princípios promissores, a evo-
lução da democracia até nossos dias não seguiu um caminho ascendente.
Houve altos e baixos, movimentos de resistência, rebeliões, guerras civis,
revoluções. Durante alguns séculos […] inverteram-se alguns dos avanços
anteriores. Olhando para trás, para a ascensão e queda da democracia, é
evidente que não podemos contar com as forças sociais para assegurar
que a democracia continue sempre avançando. […] A democracia, tal como
parece, é um pouco incerta, mas suas possibilidades dependem também
do que nós fi zermos. Inclusive, ainda que não possamos contar com impul-
sos benignos que a favoreçam, não somos meras vítimas de forças cegas
sobre as quais não temos nenhum controle. Com uma adequada compre-
ensão do que a democracia exige e com a determinação de satisfazer seus
requerimentos, podemos agir no sentido de satisfazer as idéias e práticas
democráticas e, ainda mais, avançar nelas.
Robert Dahl, 1999, pp. 32-33.
54
A democracia na América Latina
e promove a expansão da cidadania; estabe-
lece regras para as relações políticas e para a
organização e o exercício do poder, que são
coerentes com a já mencionada concepção
do ser humano.
3. As eleições livres, competitivas e insti-
tucionalizadas, e as regras e os procedimen-
tos para a formação e o exercício do governo
(conjunto que denominamos democracia
eleitoral) são componentes essenciais da
democracia e constituem sua esfera básica.
No entanto, no que se refere a seus alcances e
a suas possibilidades de realização, a demo-
cracia não se esgota nessa esfera.
4. O desenvolvimento da democracia na
América Latina constitui uma experiência
histórica única, caracterizada por especifi -
cidades intimamente relacionadas com os
processos de construção da Nação e das so-
ciedades latino-americanas, incluindo suas
diversas identidades culturais.
Os défi cits da sociedade como défi cit
da democracia
Um corolário relevante desta maneira
de entender a democracia e seu desenvol-
vimento é observar os défi cits sociais como
carências da democracia. Dessa forma, a
pobreza e a desigualdade não são somente
“problemas sociais”, mas também défi cits
democráticos. Portanto, resolvê-los é atacar
uma das questões básicas da sustentabilida-
de democrática. Daí se derivará, em nossa
análise, uma crítica à perigosa cisão entre
“política econômica, “política social” e for-
talecimento da democracia que, freqüente-
mente, são tratados como compartimentos
estanques. O principal corolário desta crítica
é que não deve haver uma agenda econômi-
ca social divorciada da agenda democrática.
Como fundamento dos seus mecanis-
mos e instituições, a democracia apela a
uma certa visão da condição humana e de
seu desenvolvimento: todos os seres huma-
nos nascem livres e iguais em dignidade e
direitos, dotados de razão e consciência.
13
Os princípios que daí emanam proje-
tam-se sobre o conjunto da sociedade. A
escola, a família, a economia e, em geral,
todas as formas de organizar a sociedade
além das instituições próprias da democra-
cia, são atingidos pelos princípios inerentes
a ela. O desenvolvimento da democracia
está relacionado com a intensidade com que
esses princípios são capazes de impregnar os
diferentes campos da vida social. É por essa
razão que a democracia não aparece somen-
te em sua dimensão institucional; é também
uma promessa civilizadora que instala a
expectativa de expansão da liberdade, da
igualdade, da justiça e do progresso.
13 Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas.
quadro 10
Democracia e igualdade
Nenhuma teoria da democracia que
omita dar à idéia igualitária um lugar
central pode oferecer uma representação
dedigna do peso extraordinário da
democracia na imaginação política
moderna. […] Devemos ter em
mente que, historicamente, um dos
principais objetivos dos movimentos
democráticos foi procurar compensação
na esfera política para os efeitos
das desigualdades na economia e na
sociedade.
C.R. Beitz, 1989, pp. xi, xvi.
quadro 11
Democracia e soberania
O exercício da democracia é uma afirmão da soberania de uma
nação: É necessário um marco democrático que devolva à reduzida
noção de soberania seu sentido político pstino: não existe não
soberana no concerto internacional que não seja soberana na ordem
nacional, isto é, que não respeite os direitos políticos e culturais da
população concebida não como simples número, mas como complexa
qualidade, não como quantidade de habitantes, mas como qualidade
de cidadãos.
Carlos Fuentes, 1998, p. 9.
55
O desenvolvimento da democracia na América Latina
Alcances da democracia no Relatório
Conforme a perspectiva que adotamos,
a democracia pressupõe um conjunto de
características essenciais que defi nem suas
condições necessárias. Essas características,
raras vezes, existem plenamente, freqüen-
temente combinam-se em diversos graus
e alcances.
14
O que importa é colocar em
evidência que a análise do grau de realização
de cada um desses elementos é irrefutável
no momento de avaliar o grau de desenvol-
vimento de uma democracia. A democracia
inclui, como um de seus elementos centrais,
uma livre delegação da soberania popular
em um governo, para executar a opção
majoritária da cidadania. Para que esse pro-
cedimento atinja seu objetivo é preciso que
exista o conjunto de condições que serão
descritas a seguir.
1. A democracia pressupõe como condi-
ção necessária a existência de um regime po-
lítico que se desenvolve em um Estado e em
uma Nação delimitados por uma população,
por um território e pelo poder exercido em
seu interior. Esse regime contém um con-
junto de instituições e procedimentos que
defi nem as regras e os canais de acesso às
principais posições do Estado, ao exercício
do poder estatal e ao processo de tomada de
decisões públicas.
Na ciência política contemporânea,
existe consenso sobre as condições que
devem ser cumpridas para que o acesso ao
governo de um Estado possa ser considera-
do democrático:
15
Autoridades públicas eleitas.
Eleições livres e limpas.
Sufrágio universal.
Direito a competir por cargos públicos.
Liberdade de expressão.
Acesso à informação alternativa.
Liberdade de associação.
Respeito pela duração dos mandatos,
segundo prazos constitucionalmente esta-
belecidos.
Um território que defi ne claramente o
demos votante.
A expectativa generalizada de que o
processo eleitoral e as liberdades contextuais
serão mantidos em um futuro indefi nido.
2. A democracia implica o real acesso
ao poder do Estado, ou seja, que não exista
14 Essas características, resumidas na seqüência, foram apresentadas e discutidas com um amplo conjunto de
personalidades acadêmicas.
15 Segundo os aportes de Robert Dahl e Guillermo O’Donnell.
quadro 12
Uma defi nição de poliarquia
Poliarquia deriva das palavras gregas que
significam “muitos” e “governo”. Distingue-
se assim o “governo de muitos” do governo
de um, ou monarquia, ou do governo
de poucos, aristocracia ou oligarquia.
[…] Uma democracia poliárquica é um
sistema político dotado das instituições
democráticas [descritas]. A democracia
poliárquica é, pois, diferente da democracia
representativa com sufrágio restrito, como
a do século XIX. É também diferente das
democracias e repúblicas mais antigas, que
tinham sufrágio restrito, e não possuíam
muitas das outras características cruciais
das democracias poliárquicas, tais
como: partidos políticos, direito a formar
organizações políticas para influir em ou
opor-se a governos existentes, grupos
de interesse organizados etc. É tamm
diferente das práticas democráticas
próprias de unidadeso pequenas que
possibilitem a realização de uma assembléia
direta de seus membros e a decisão (ou
recomendação) direta das políticas ou leis.
Robert Dahl, 1987, p. 105.
56
A democracia na América Latina
no território outra organização (formal ou
não) com poder igual ou superior ao pró-
prio Estado. Isso defi ne a soberania interior,
atributo que implica: o monopólio do uso
efetivo e legítimo da força; a capacidade para
aplicar justiça de modo efetivo e defi nitivo,
normatizar as condutas dos indivíduos e
organizações, encontrar os meios – econô-
micos e organizativos – necessários para
o cumprimento de seus fi ns e executar as
políticas decididas. Em uma democracia, a
capacidade de soberania do Estado deriva
da renovada legitimidade outorgada pelos
membros da sociedade.
Este acesso ao real poder estatal requer
também uma certa forma de inter-relação
com os outros Estados soberanos, de ma-
neira que os objetivos estabelecidos pela
sociedade em exercício de suas opções só
poderão ser substancialmente alterados por
imposições de outros poderes fora do terri-
tório como conseqüência da livre delegação
de soberania a órgãos multilaterais.
3. A democracia também implica a vi-
gência do estado de direito. Isso pressupõe
a independência de poderes e um sistema le-
gal que é democrático em três sentidos: pro-
tege as liberdades políticas e as garantias da
democracia política, protege os direitos civis
do conjunto da população e estabelece redes
de responsabilidade e de prestação de contas
por meio das quais os funcionários públicos,
incluindo os cargos mais altos do Estado, es-
tejam sujeitos a controles apropriados sobre
a legalidade de seus atos. Pressupõe também
a submissão da ação do Estado e de seus
poderes às normas que emanam de poderes
designados democraticamente.
4. A democracia pressupõe uma certa
forma de organizar o poder na sociedade.
Em democracia, as relações de poder, entre
o Estado e os cidadãos, os cidadãos entre si,
e entre o Estado, as organizações e os cida-
dãos, devem estar ajustadas ao exercício dos
direitos políticos, civis e sociais de maneira
tal que a imposição de uma conduta (impé-
rio do poder) não vulnere esses direitos. A
essência de uma democracia é que o poder
– público ou privado – esteja organizado de
modo que, além de não vulnerar os direitos,
possa ser um instrumento central para sua
expansão. A opinião acerca dessa relação en-
tre poder e direitos deve ser objetiva, isto é,
defi nida pela própria maioria dos membros
de uma sociedade.
5. A democracia requer que as opções
cidadãs abordem as questões substantivas.
As regras e condições de concorrência pro-
curam garantir uma eleição livre entre can-
didatos e programas de governo. Determi-
nam o leque real de opções do cidadão. Esse
temário eleitoral ou agenda pública excede o
regime, mas é fundamental para a democra-
cia, é parte de sua organização.
Supondo a ausência de limitações sobre
a capacidade de eleger, interessa-nos inda-
gar qual é o leque real de opções e como se
constrói. Essa é a função da agenda pública.
Ela contém o temário dos problemas que
uma sociedade deve resolver e os métodos
para encará-los. A agenda identifi ca, para o
cidadão, as metas desejáveis de um governo
e o caminho para atingi-las.
Eleger sobre o quê e entre quê? Essa
eleição contém todas as opções necessárias,
reais, para garantir e expandir a cidadania
em um momento dado? Ou essas opções,
submetidas a eleições, são somente uma
parte do necessário para o desenvolvimento
da cidadania e excluem outras essenciais?
Se este fosse o caso, poderíamos ter
regras de concorrência perfeitas, ótimas
condições para a eleição, porém temas de
eleição parciais ou limitados. Nessas condi-
ções, talvez o essencial esteja fora da eleição
e o marginal centralize o debate da decisão
eleitoral. O regime tenderia, então, a girar
em falso, a separar-se do desenvolvimento
da cidadania, a tornar-se irrelevante.
Portanto, a agenda pública, entendida
como o leque real de opções de que os cida-
dãos dispõem de acordo com as referências
citadas acima, constitui um componente
central da organização democrática. Essa
agenda contém o conjunto de questões
prioritárias em torno do qual se centram o
debate público, a defi nição e as opções de
políticas da opinião pública.
A agenda deveria conter os desafi os
57
O desenvolvimento da democracia na América Latina
centrais para os interesses individuais, das
organizações e do conjunto da sociedade. O
que se pode eleger está dentro da agenda. A
agenda defi ne o campo da opção.
Entretanto esta agenda não se constrói
idealmente, independentemente das rela-
ções de poder. Escolhe-se a política eco-
nômica? Debatem-se as reformas scais?
Estão claras as opções para combater a
pobreza e a desigualdade? E se esses temas
estiverem fora da oferta eleitoral, de sua
agenda, como se vincula a democracia com
as necessidades reais de expansão da cida-
dania social?
Essa questão, o que deve ser debatido
em uma sociedade e em uma região, é um
dos interesses centrais deste Relatório. Pro-
mover um debate sobre nossa agenda, para
saber se ela contém nossos problemas, ou se
questões omitidas, diluídas, ignoradas
ou, simplesmente, proibidas é a primeira
condição para utilizar nossas capacidades
de evitar os perigos e de desenvolver nossa
democracia. Discutir os alcances do debate
público, as formas de abordá-lo e recuperar
o que se escamoteia e ignora, é uma condi-
ção necessária das reformas democráticas
de que nossa região precisa. A relevância ou
não do conteúdo da agenda pública é deter-
minante para nosso futuro democrático.
Democracia, regime político e Estado
Em um regime democtico, o acesso às
principais posições governamentais (com
exceção do poder judiciário, das forças
armadas e, eventualmente, dos bancos cen-
trais) é realizado por meio de eleições lim-
pas e institucionalizadas. Por eleições lim-
pas se entende aqui as que são competitivas,
livres, igualitárias, decisivas e inclusivas, e
nas quais são respeitadas as liberdades polí-
ticas.
16
Essas liberdades são essenciais não só
durante as eleições, como também nos pe-
ríodos entre elas. Caso contrário, o governo
no poder poderia facilmente manipular ou
cancelar eleições futuras. Os indivíduos que
gozam dessas liberdades estão habilitados e
protegidos para o exercício de seus direitos
de participação. Isso signi ca que a todos
os cidadãos é concedido o direito, vincu-
latório em todo o território, de participar
no Estado e no governo, não por meio
de eleições, como também por meio da
tomada de decisões, seja de forma conjunta
ou individual. Por outro lado, o requisito de
inclusividade das eleições em um regime
democtico indica que todos os adultos
que satisfazem o critério de cidadania têm
direito de participar nessas eleições.
17
Além disso, em um regime democrático
as eleições estão institucionalizadas: para a
grande maioria dos cidadãos é indiscutível
que, no futuro, continuem sendo realizadas
eleições limpas nas datas ou ocasiões legal-
mente preestabelecidas.
Existem quatro aspectos centrais da
democracia: 1) eleições limpas e institucio-
nalizadas; 2) inclusividade; 3) um sistema
legal que sanciona e respalda os direitos e
as liberdades políticas; e 4) um sistema le-
gal que prescreve que nenhuma pessoa ou
instituição retenha o arbítrio de eliminar ou
suspender os efeitos da lei ou de evadir-se a
seu alcance. Vemos então, que, enquanto os
dois primeiros aspectos correspondem ao
regime, os dois últimos correspondem ao
Estado. O Estado não é um elemento alheio
ou extrínseco à democracia, é um de seus
componentes intrínsecos. Por isso, segundo
o esquema conceitual que aqui propomos,
é importante indagar acerca do caráter de-
mocrático do Estado e não só sobre o do
regime.
A relação entre regime democrático e
Estado se fundamenta na existência de um
sistema legal estatal que, em primeiro lugar,
sanciona e respalda os direitos e liberdades
decorrentes do regime democrático; e,
em segundo lugar, coloca sob esse sistema
legal a totalidade das instituições e dos
funciorios do Estado. Sob esse prisma, se
organiza o Estado segundo o princípio da
16 De acordo com Dahl (1989 e 1999), as liberdades políticas relevantes são as de expressão, associação e acesso à
informação de caráter pluralista. Para uma lista detalhada, ver Diamond (1999).
17 A inclusividade é uma conquista bastante recente dos trabalhadores urbanos, dos camponeses, das mulheres e
de vários tipos de minorias e setores discriminados.
Essas liberdades
são essenciais
não só durante
as eleições, como
também nos
períodos entre
elas.
58
A democracia na América Latina
divisão, interdependência e controle de seus
poderes, da existência de um poder judicial
independente, da supremacia do poder civil
sobre o militar e da responsabilidade dos
governantes perante a cidadania.
Um aspecto crucial do sistema legal é
sua efetividade, o grau em que o Estado
realmente organiza as relações sociais. Em
um sistema legal democrático, nenhuma
instituição estatal ou funcionário deveria
negar-se ao controle legal de suas ações.
Em uma dimensão territorial se supõe que
o sistema legal se estende homogeneamente
ao longo do espaço delimitado pelo Estado.
No mesmo sentido, espera-se que o sistema
jurídico dê o mesmo tratamento a casos
similares, independentemente de considera-
ções de classe, gênero, etnia ou outros atri-
butos dos respectivos atores. Em todas essas
dimensões, o sistema legal pressupõe um
Estado efi caz,
19
que não depende só de uma
legislação apropriada mas também de uma
rede de instituições estatais que operam
para garantir o real império de um sistema
legal democrático.
Os cidadãos, fonte e justifi cativa
da autoridade do Estado democrático
Na democracia, o sistema legal, come-
çando por suas mais altas regras consti-
tucionais, estabelece que os cidadãos, ao
votarem em eleições limpas e institucio-
nalizadas, são a fonte da autoridade que o
Estado e o governo exercem sobre eles. Os
cidaos nãoo somente portadores de di-
reitos e obrigações, eles são também a fonte
e a justi cativa da preteno de mando e
autoridade que o Estado e o governo invo-
cam quando tomam decisões coletivamente
vincularias.
Esta é outra característica específi ca da
democracia: fundamenta o direito de gover-
nar na soberania popular que se manifesta
em eleições limpas e institucionalizadas.
To dos os outros sistemas políticos funda-
mentam esse direito em outras fontes.
De tudo isso se depreende que um in-
divíduo não é, e nunca deveria, ser tratado
18 Por esse conceito se entende o equivalente à expressão do inglês accountability.
19 O’Donnell, 2000, 2002a, 2002c.
20 De acordo com esse ponto, Dworkin afi rma que “uma demanda particular de moralidade política […] requer
dos governos falar com uma voz, atuar de maneira coerente e com princípios para com todos os seus cidadãos, [e]
ampliar para todos os cidadãos os padrões de justiça substantiva ou de eqüidade que usa para alguns”.
A efi cácia do sistema legal depende do
entrelaçamento de suas regras com uma
rede de instituições que, em democracia,
devem atuar com propósitos e resultados
coerentes com um Estado democrático de
direito.
quadro 13
Democracia e responsabilidade
dos governantes
Em uma democracia, espera-se
que os governantes estejam
submetidos a três tipos de
prestação de contas
18
: a) a “vertical
eleitoral”, resultado de eleições
limpas e institucionalizadas, por
meio das quais os cidadãos podem
mudar o partido e os funcionários
do governo, b) a “vertical de tipo
societário”, exercida por indivíduos
ou grupos com o objetivo de
mobilizar o sistema legal para
demandar o Estado e o governo
com o objetivo de prevenir,
compensar ou condenar ações
(ou inações), presumivelmente
ilegais, perpetradas por
funcionários públicos, c) a
“horizontal”, realizada quando
algumas instituições do Estado,
devidamente autorizadas,
agem para prevenir, indenizar
ou sancionar ações ou inações,
presumivelmente ilegais, de outras
instituições ou de funcionários
estatais.
Cabe, no entanto, observar, que
há uma diferença importante
entre essas prestações de
contas. A vertical-eleitoral deve
existir pela própria defi nição do
regime democrático; sem ela
esse regime simplesmente não
existiria. Em compensação, o grau
e a efetividade da prestação de
contas societária e da horizontal
são variáveis conforme os casos
e o tempo. Essas variações
são relevantes para avaliar o
desenvolvimento da democracia;
por exemplo, a inexistência
de uma sociedade vigorosa e
autônoma, ou a impossibilidade
ou falta de determinação de
certas instituições do Estado de
exercer sua autoridade sobre
outras instituições estatais são
indicadores de uma democracia de
escasso desenvolvimento.
Guillermo O’Donnell, texto
elaborado para o PRODDAL, 2002c.
59
O desenvolvimento da democracia na América Latina
como um súdito, um suplicante da boa von-
tade do governo e do Estado. Este indivíduo
– portador de um conjunto de direitos civis,
sociais e políticos – tem pretensão legal-
mente sustentada de ser tratado com plena
consideração e respeito.
20
Esse tratamento
deve estar baseado na implementação de
leis e regulamentos que são preexistentes,
claros e discerníveis por todos os cidadãos
21
e sancionados em concordância com os pro-
cedimentos democráticos. Na medida em
que as instituições estatais reconhecem esses
direitos, elas podem ser consideradas mais
ou menos democráticas, ou coerentes com
as obrigações impostas a elas pela cidadania.
Na verdade, este aspecto das relações
diretas e cotidianas dos cidadãos com o
Estado é um dos mais problemáticos da
democracia em nossa região. Com relação
a eleições limpas e, geralmente, ao exercício
dos direitos políticos, os cidadãos são colo-
cados em umvel de igualdade genérica.
No entanto, ao tratar com burocracias esta-
tais, os cidadãos estão freqüentemente colo-
cados em situações de aguda desigualdade
de fato. Costumam enfrentar burocracias
que agem sobre a base de regras formais e
informais que não são transparentes nem
facilmente compreensíveis – e que tomam
decies (ou as omitem) com conseqüên-
cias importantes para os cidadãos. Este é
um problema em todos os lugares, porém
muito mais sério e sistemático em socieda-
des castigadas pela pobreza e pela desigual-
dade. Esses males expressam e cultivam o
autoritarismo social,
22
e repercutem na ma-
neira desrespeitosa com que as burocracias
estatais, às vezes, tratam muitos cidadãos,
sobretudo imigrantes e estrangeiros. Em-
bora seja comumente ignorada, esta é outra
dimeno crucial da democracia: o grau em
que as instituões estatais realmente res-
peitam os direitos de todos os habitantes,
cidaos ou não.
O cidadão, sujeito da democracia
A democracia reconhece em cada indiví-
duo uma pessoa moral e legal, portadora de
direitos e responsável pela forma com que
exercita tais direitos e suas obrigações decor-
rentes. Nesse sentido, concebe o indivíduo
como um ser dotado da capacidade para
escolher entre opções diversas, assumindo
responsavelmente as conseqüências dessas
escolhas, ou seja, como um ser autônomo,
razoável e responsável.
23
Essa concepção do
ser humano não é apenas fi losófi ca e moral,
é também legal: considera o indivíduo como
portador de direitos subjetivos que são san-
cionados e garantidos pelo sistema legal.
A potencialidade inerente a essa concep-
ção do indivíduo, cujos direitos não derivam
da posição que ocupa na hierarquia social e
sim de sua capacidade de comprometer-se
a cumprir, voluntária e responsavelmente,
as obrigações que assume livremente – com
seu correlato do direito a demandar o cum-
primento das obrigações contraídas – de-
sencadeou conseqüências transcendentais
para as lutas pela expansão da cidadania.
Entendemos por cidadania um tipo de
igualdade básica associada ao conceito de
pertencimento a uma comunidade, o que
em termos modernos é equivalente aos
direitos e obrigações de que todos os indiví-
duos estão dotados por pertencer a um esta-
do nacional.
24
Destacamos vários atributos
da cidadania assim de nida:
Os cidadãos não
são somente
portadores
de direitos e
obrigações, eles
são também
a fonte e a
justifi cativa
da pretensão
de mando e
autoridade
que o Estado
e o governo
invocam quando
tomam decisões
coletivamente
vinculatórias.
21 Mesmo em situações onde esta desigualdade é a mais aguda possível (como sob encarceramento), permanece
a obrigação moral de respeitar a agência. Hoje em dia, esta é também uma obrigação legal, embora seja muitas
vezes ignorada.
22 Aristóteles (1968, p. 181) sabia disso: Aqueles que gozam de muitas vantagens –força, riqueza, conexões,
etc.– não estão dispostos a obedecer [o direito] e desconhecem como obedecer”.
23 Segundo o conceito desenvolvido por O’Donnell (2002c), a democracia considera o ser humano como um
agente. “Um agente é um ser dotado de razão prática: usa sua capacidade cognitiva e motivacional para escolher
opções que são razoáveis em termos de sua situação e de seus objetivos, para os quais, exceto prova em contrário,
é considerado como o melhor juiz. Essa capacidade faz do agente um ser moral, no sentido de que normalmente
se sentirá, e será considerado por outros seres relevantes, como responsável pela escolha de suas opções, ao menos
pelas conseqüências diretas decorrentes de tais opções.
24 T. H.Marshall (1965) destaca que “a cidadania moderna é, por defi nição, nacional”.
60
A democracia na América Latina
a. caráter expansivo, baseado na concepção,
moral e legalmente respaldada, do ser humano
como responsável, razoável e autônomo;
b. condição legal de status que se conce-
de ao indivíduo como portador de direitos
legalmente sancionados e respaldados;
c. sentido social ou intersubjetivo que
costuma ser o resultado do pertencimento a
um espaço social comum;
25
d. caráter igualitário, baseado no reco-
nhecimento universal dos direitos e deveres
de todos os membros de uma sociedade de-
mocraticamente organizada;
e. inclusividade, ligada ao atributo de
nacionalidade que implica o pertencimento
dos indivíduos aos Estados nacionais;
f. caráter dinâmico, contingente e aberto,
como produto e condição das lutas históri-
cas para enriquecer ou reduzir seu conteú-
do, e aumentar ou diminuir o número dos
que são reconhecidos.
Podemos identifi car três conjuntos de
direitos de cidadania,
26
cada um deles rela-
cionado a uma área diferente da sociedade:
civis, políticos e sociais.
27
Muito antes da expansão universal da
cidadania política, a formulação de uma
visão legal e moral do indivíduo como
portador de direitos subjetivos contou com
uma longa trajetória de elaboração por meio
de diversas doutrinas – religiosas, éticas,
legais, losófi cas.
28
Essa concepção do ser
humano foi projetada no âmbito político
pelos grandes teóricos do liberalismo
29
e
posteriormente transmitida às duas grandes
25 Esse aspecto da cidadania remete a uma concepção da política como espaço comum, no qual nos reconhecemos
como participantes de uma comunidade política orientada para a construção e para a realização intersubjetiva
de um bem público. Essa concepção foi amplamente desenvolvida pela tradição do republicanismo cívico, cujas
origens remontam ao pensamento grego e romano, e que adquire uma renovada vigência nos debates contempo-
râneos entre liberais e comunitaristas.
26 Este enunciado não implica que ignoremos que algumas discussões atuais propõem acrescentar outras “gera-
ções” de direitos aos que aqui enunciamos. Dadas as circunstâncias da América Latina, dentre essas discussões são
importantes especialmente as relacionadas com seus povos indígenas, e nos parecem particularmente importantes
as propostas de acrescentar uma área específi ca de direitos culturais. No entanto, para facilitar esta primeira ex-
posição de um tema muito complexo, preferimos manter a classifi cação de direitos tradicional. Isso não impede
que a questão dos povos indígenas seja tratada em outras partes deste Relatório, nem que em suas futuras versões
revisemos a classifi cação aqui utilizada.
27 “Começarei propondo uma divisão da cidadania em três partes. [...] Chamarei cada uma destas três partes ou
elementos, civil, político e social. O elemento civil se compõe dos direitos para a liberdade individual: liberdade da
pessoa, de expressão, de pensamento e religião, direito à propriedade e a estabelecer contratos válidos, e direitos à
justiça. Este último é de índole diferente dos restantes, porque se trata do direito de defender e fazer valer o con-
junto dos direitos de uma pessoa em igualdade com os demais, mediante os devidos procedimentos legais. As ins-
tituições diretamente relacionadas com os direitos civis são os tribunais de justiça. Por elemento político, entendo
o direito a participar no exercício do poder político como membro de um corpo investido de autoridade política
ou como eleitor de seus membros. As instituições correspondentes são o Parlamento e as juntas do governo local.
O elemento social abarca todo o espectro, desde o direito à segurança e a um mínimo de bem-estar econômico
até o de compartilhar plenamente a herança social e viver a vida de um ser civilizado conforme os padrões predo-
minantes na sociedade. As instituições diretamente relacionadas são, nesse caso, o sistema educativo e os serviços
sociais. Marshall, 1965, pp. 22-23.
28 “O reconhecimento institucionalizado (i.e. legalmente sancionado e respaldado, e amplamente aceito) do in-
divíduo como portador de direitos subjetivos percorreu um longo e complicado caminho, cuja origem remonta
historicamente a alguns sofi stas e aos estóicos e a Cícero, atravessa a tradição do direito romano e dos legistas
medievais, para depois ser refi nado pelos teóricos do direito natural, e ser fi nalmente reapropriado e, por assim
dizer, politizado, apesar de suas diferenças em outros aspectos, pelos grandes pensadores liberais –especialmente
Hobbes, Locke e Kant–, assim como pelos não-liberais como Espinoza e Rousseau. O’Donnell, 2000.
29 Pierre Rosanvallon (1992, p. 111) comenta que antes do advento do liberalismo “esta visão de autonomia da
vontade certamente já havia aparecido juridicamente formulada no direito civil”. Isso, por sua vez, era parte das
mudanças na própria concepção de moralidade; como Schneewind (1998, p. 27) indica: “durante os séculos XVII
e XVIII, as concepções estabelecidas de moralidade como obediência começaram a ser fortemente contestadas
por concepções emergentes de moralidade como auto-governo […] centradas na idéia de que todos os indivíduos
normais são igualmente capazes de viver juntos em uma moralidade auto-governada.
61
O desenvolvimento da democracia na América Latina
constituições modernas: a dos Estados Uni-
dos e a da França.
A cidadania excede os direitos políticos,
a democracia também
A democracia de cidadania, como dis-
semos, excede o regime político, o exercício
dos direitos políticos. Ela precisa ampliar-se
em direção aos direitos civis e sociais. Esse é
um ponto central da nossa análise, do qual
se deriva a justifi cativa de conceber a demo-
cracia abrangendo um campo mais amplo e
complexo. Como já mencionamos, as conse-
qüências práticas de sustentar esta tese são
consideráveis.
Se os direitos inerentes ao ser humano
estão baseados em sua capacidade como ser
moral, por que então atribuí-los somente a
certas esferas da vida social e política? Já que
a autonomia responsável implica escolher,
que opções reais, ou capacidades, seriam
razoavelmente coerentes com a condição
que a democracia confere ao indivíduo? Em
outros termos, quais são as condições reais
do exercício de tais direitos?
Essas perguntas apontam a um dos argu-
mentos centrais na análise que este Relatório
propõe: colocar a questão das capacidades
na esfera política implica ir além da atri-
buição universal dos direitos de cidadania
política, e leva à pergunta sobre as condições
que podem permitir ou não o exercício real
desses direitos.
Embora sob diferentes condições his-
ricas, em todos os países, a resposta a tais
perguntas resultou em numerosas lutas pela
progressiva expansão dos direitos políticos,
civis e sociais,
30
destacando-se, entre eles, o
direito de sufrágio até alcançar a sua atual
inclusividade. Essa história foi construída
ao longo de múltiplos confl itos, ao fi nal
dos quais, os setores sociais marginaliza-
dos foram sendo incluídos na democracia,
isto é, obtiveram fi nalmente a cidadania
política.
31
Nos países centrais, esses processos pro-
vocaram inicialmente a expansão adicional
de direitos na esfera civil, no duplo sentido
de uma maior especifi cação de direitos e
de incorporação de outros novos, que não
eram ainda os direitos de participação pró-
prios da democracia inclusiva, mas direitos
civis concernentes às atividades sociais e
econômicas privadas.
32
No que se refere a
esses direitos, chegou-se, de diversas manei-
ras, à conclusão de que seu exercício implica
escolha, e escolha implica liberdade para
escolher entre as diversas alternativas que
cada indivíduo valoriza por alguma razão.
Isso pressupõe a vigência de um critério de
eqüidade: deve existir um patamar mínimo
de igualdade entre os membros da sociedade
que outorgue a todos um leque razoável de
opções para exercer sua capacidade de esco-
lha e sua autonomia.
Por outro lado, também nos países cen-
trais, o mencionado critério de eqüidade foi
muito importante para o surgimento dos
30 O processo de progressiva expansão de direitos, que nos países centrais incluiu a extensão da cidadania civil
prévia à expansão da cidadania política, foi o pano de fundo histórico da idéia central do liberalismo político: o
governo e o Estado devem ser limitados e constitucionalmente regulados, pois ambos existem para, e em nome de,
indivíduos portadores de direitos subjetivos sancionados e respaldados pelo mesmo sistema legal que o Estado e o
governo devem obedecer e do qual extraem sua autoridade.
31 Cidadãos políticos são aqueles que, dentro do território de um Estado que inclui um regime democrático,
cumprem o critério respectivo de nacionalidade. Como derivação do regime democrático, os cidadãos políticos
possuem dois tipos de direitos. Primeiro, liberdades tais como as de associação, expressão, movimento, acesso a
informação pluralista e outras que, embora em última instância sejam não defi níveis ex ante, em conjunto tornam
possível a realização de eleições limpas, institucionalizadas e – hoje em dia – inclusivas. O segundo tipo de direito
é de caráter participativo: eleger e eventualmente ser eleito ou nomeado para cargos estatais. Os cidadãos políticos,
assim entendidos, são o lado individual de um regime democrático, e nenhum deles pode existir sem o outro.
32 Como ressalta T. H. Marshall (1965, p. 18): A história dos direitos civis em seu período formativo é uma história
de adição gradual de novos direitos a um status que já existia e que já pertencia a todos os membros adultos da
comunidade”. Estes direitos civis são, em sua defi nição clássica de cidadania civil, “os direitos necessários para a
liberdade individual-liberdade pessoal, liberdade de palavra, pensamento e fé, o direito a possuir propriedade e a
terminar contratos válidos, e o direito à justiça (ibid., pp. 10-11).
A democracia de
cidadania, como
dissemos, excede
o regime político,
o exercício dos
direitos políticos.
Ela precisa
ampliar-se em
direção aos
direitos civis e
sociais.
62
A democracia na América Latina
direitos sociais.
33
Novamente, ao longo de
lutas freqüentemente árduas, diversos seto-
res que haviam sido politicamente excluídos
terminaram aceitando a democracia políti-
ca em troca dos benefícios do bem-estar.
Por meio da legislação social, e com avan-
ços e retrocessos em termos das respectivas
relações de poder, estas visões de eqüidade
foram incorporadas aos sistemas legais. Os
direitos sociais, sancionados pela legislação
correspondente, uniram-se ao direito civil
para expressar que a sociedade, e especial-
mente o Estado, não devem ser indiferentes,
pelo menos nos casos em que existe severa
privação de capacidades relevantes.
Em resumo, nos países centrais, a ques-
tão das capacidades que habilitam a exercer
a liberdade dos indivíduos foi encarada no
âmbito dos direitos civis e sociais. A idéia
que subjaz a essas construções legais é a da
eqüidade, que, em termos de capacidades
disponíveis e de ausência de coerção pe-
remptória, considera os indivíduos como
seres livres e responsavelmente capazes de
escolher. Essa visão fi cou inscrita na cons-
ciência moral da humanidade pela Decla-
ração Francesa dos Direitos do Homem e
do Cidadão.
34
É importante destacar que a
maioria desses direitos não foi simplesmen-
te outorgada, que eles foram conquistados
por meio de múltiplas lutas, conduzidas
por setores sociais oprimidos, explorados e
discriminados.
Por esses caminhos complexos – tão
simpli cadamente resumidos – foram sur-
gindo, nos países centrais, as instituições e
práticas que hoje reconhecemos como de-
mocráticas. Poucos países da América Lati-
na (Chile, Costa Rica e Uruguai) seguiram
caminhos mais ou menos semelhantes. Nos
outros, apesar de cada um com suas sig-
nifi cativas particularidades, encontramos
uma situação muito diferente à descrita: al-
cançamos a enorme conquista dos direitos
políticos, mas ainda falta muito para conse-
guir, para todos, uma expansão satisfatória
dos direitos civis e sociais. Essa circunstân-
cia realça ainda mais a enorme importância
da democracia e de seus direitos políticos
para a América Latina. Eles são, têm que
ser, o principal ponto de apoio das lutas
para alcaar os outros direitos, ainda tão
limitados e conferidos de maneira parcial
na prática. Veremos ecos dessas a rmações
nas sões empíricas deste Relatório.
Estado e cidadania
O Estado é um fenômeno histórico con-
temporâneo, para o qual convergem as lutas
pelo poder e as lutas pelos direitos. Seu apa-
recimento foi marcado pela expropriação,
por parte dos governantes, de um centro de
poder emergente, dos meios de coerção, de
administração e de legalidade que haviam
sido até então controlados por outros atores.
O surgimento do Estado foi contemporâneo
da expansão do capitalismo, que incluiu ou-
tra expropriação, a dos produtores diretos
dos meios de produção. Esse surgimento
foi também contemporâneo da construção
política da Nação como referência privile-
giada das decisões estatais. Todos os Estados
sustentam que sua autoridade emana de
ser Estados-para-a-Nação (ou, em alguns
casos, para-o-povo), cuja missão é atingir
o bem comum – ou o interesse geral – de
uma Nação interpretada homogeneamente,
à qual tanto governantes quanto governados
devem supostamente dar prioridade em
suas lealdades.
33 Uma vez mais, de acordo com Marshall (1965, p. 72), os direitos sociais incluem “desde o direito ao bem-estar
e à segurança econômica básica até o direito a participar plenamente do patrimônio social e viver a vida de um ser
civilizado de acordo com o padrão predominante na sociedade. Para uma discussão útil e detalhada de Marshall
com respeito a esses direitos, ver José Nun, 2001.
34 Podemos agregar: o Prólogo e a Primeira Emenda da Constituão dos Estados Unidos, e mais tarde, a
Declaração Universal dos Direitos Humanos das Nações Unidas, o Acordo Internacional sobre Direitos Civis
e Políticos; o Acordo Internacional sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais; a Declaração de Direitos
Humanos de Viena, e muitos outros tratados e protocolos internacionais e regionais, todos eles ratifi cados por
um grande número de países.
63
O desenvolvimento da democracia na América Latina
Por Estado, entendemos um conjunto
de instituições e relações sociais que cobre
o território que ele delimita e sobre o qual
exerce normalmente a supremacia no con-
trole dos meios de coerção. Esta defi nição
permite entender o Estado como: a) um
foco de identidade coletiva para os habi-
tantes de um território – aí reside sua cre-
dibilidade; b) um sistema legal, que aspira a
um alto grau de efetividade na regulação de
relões sociais; e c) um conjunto de buro-
cracias, cujo funcionamento supostamente
alcança efi cácia no desempenho das fun-
ções que lhes são formalmente outorgadas.
O grau de realizão dessas dimensões em
cada caso é uma variável historicamente
contingente e, na verdade, problemática
(O’Donnell, 2002b).
Portanto, o Estado é:
a. Um âmbito em que se concentra e se
concede a identidade coletiva para todos ou
quase todos os habitantes do território; con-
vida ao reconhecimento generalizado de um
nós, os membros da Nação.
b. Um sistema legal, uma trama de regras
jurídicas que aspira a regular numerosas re-
lações sociais.
35
c. É também um conjunto de entes
burocráticos, uma trama institucional e
administrativa com responsabilidades que
formalmente visam a alcançar e a proteger
algum aspecto do bem comum. Juntas,
as burocracias do Estado e sua legalidade
pretendem gerar, para os habitantes de seu
território, o grande bem público da ordem
e da previsibilidade das relações sociais em
que os habitantes estão imersos. Dessa for-
ma, o Estado também pretende garantir a
continuidade histórica da unidade territo-
rial respectiva, usualmente concebida como
uma Nação.
Esses aspectos do Estado são tendências
que nenhum deles chegou a atingir com-
pletamente. No que diz respeito ao Estado
como foco de identidade coletiva, sua pre-
tensão de ser verdadeiramente um Estado-
para-a-Nação pode ser pouco verossímil
para boa parte de sua população. Quanto
ao sistema legal, pode per se ter carências
e/ou não se ampliar efetivamente a diversas
relações sociais e também a vastas regiões.
No que se refere ao Estado como conjunto
de burocracias, seu desempenho pode se
desviar seriamente do cumprimento das res-
ponsabilidades que lhe foram formalmente
A enorme
importância da
democracia e
de seus direitos
políticos para a
América Latina:
eles são, têm que
ser, o principal
ponto de apoio
das lutas para
alcançar os outros
direitos.
35 Mesmo sob um regime democrático, a legalidade do Estado é uma mistura complexa de igualdade e desigualda-
de. Por um lado, essa legalidade sanciona os direitos universais da cidadania política e civil. Por outro, essa mesma
legalidade sanciona dois tipos de desigualdades: uma, a resultante da organização hierárquica, legalmente regula-
da, das instituições burocráticas do Estado, bem como do respaldo ou da autorização que o sistema legal outorga
a outras instituições privadas que também estão hierarquicamente organizadas; outra, a desigualdade resultante
do fato de que esta mesma legalidade dá forma à condição capitalista da sociedade. Esta forma sanciona e respalda
uma ordem social que inclui, de várias maneiras, a dominação social de quem controla os meios de produção,
como também, e com crescente importância no mundo contemporâneo, o controle dos circuitos do capital fi nan-
ceiro. Isto nos leva a considerar o papel crucial que o Estado tem, em suas várias dimensões, na correção ou repro-
dução dessas desigualdades, ao mesmo tempo que promulga algumas igualdades democráticas fundamentais.
quadro 14
Estado liberal e Estado democrático
O Estado liberal não é apenas o pressuposto histórico, mas também o
pressuposto jurídico do Estado democrático. Estado liberal e Estado
democrático são interdependentes em duas formas: 1. na linha que
vai do liberalismo à democracia, no sentido de que são necessárias
certas liberdades para o correto exercício do poder democrático; 2)
na linha oposta, a que vai da democracia ao liberalismo, no sentido
de que é indispensável o poder democrático para garantir a existência
e a persistência das liberdades fundamentais. Em outras palavras:
é improvável que um Estado não liberal possa garantir um correto
funcionamento da democracia e, por outro lado, é pouco provável que um
Estado não democrático seja capaz de garantir as liberdades fundamentais.
A prova histórica dessa interdependência está no fato de que quando o
Estado liberal e o Estado democrático caem, caem juntos.
Norberto Bobbio, 1992, pp. 15-16.
64
A democracia na América Latina
outorgadas.
Sejam quais forem as conquistas e ca-
rências nestas três dimensões, nos interessa
ressaltar que a democracia política surgiu
e continuou existindo com e no marco do
Estado nacional. Foi devido a esta interseção
que a democracia nasceu com um sentido
de nacionalidade. As duas estão fundamen-
talmente inter-relacionadas e nenhuma
delas pode ser verdadeiramente entendida
independentemente dessa conexão.
36
Isso
ressalta a importância que o Estado e a Na-
ção tiveram e continuam tendo para a exis-
tência e o funcionamento da democracia.
37
“Estatalidad” truncada e fragilidade
democrática
Como já vimos, pela primeira vez em
dois séculos de vida independente, pratica-
mente todos os países latino-americanos sa-
tisfazem a defi nição mínima de democracia.
Eles têm em comum duas características:
por um lado, realizam eleições razoavel-
mente limpas, institucionalizadas e inclusi-
vas, e sancionam os direitos participativos
correspondentes a tais eleições; por outro,
sustentam a vigência de algumas liberdades
políticas fundamentais, especialmente de
opinião, expressão, associação, movimento
e acesso a meios de comunicação razoavel-
mente livres e plurais, e afi rmam a supre-
macia dos poderes constitucionais sobre os
poderes fáticos.
Contudo, há variões quanto ao grau
em que os atributos mencionados são re-
almente cumpridos, assim como também
existem variações signi cativas quanto ao
36 Greenfeld, 1992, p. 7.
37 Maíz, 2002a e Canovan, 1996. John Gray (2000, p. 123) concorda: “O Estado nacional soberano é a grande pre-
missa não examinada do pensamento liberal. […] A instituição do Estado-nação é tacitamente pressuposta pelos
ideais liberais da cidadania.
quadro 15
O Estado: pressuposto da democracia
O Estado – como instituição na qual se reconhece a identidade coletiva,
não voluntária, baseada em um território, sustentada em última insncia
por sua capacidade de coeão, altamente burocratizada e densamente
legalizada – é a premissa histórica e social da democracia. Desde o
início, a democracia potica contemporânea implica uma cidadania de
dupla face: a cidadania (potencialmente) ativa e participativa própria da
democracia, e a cidadania impcita, que resulta do fato de pertencer a
uma nação.
Guillermo O’Donnell, texto elaborado para o PRODDAL, 2002c.
quadro 16
Estado e globalização
A globalização econômica de nenhuma
maneira se traduz necessariamente na
diminuição do poder do Estado; na verdade
está transformando as condições sob as
quais o poder do Estado é exercido. […] Há
muitas e boas razões para ter dúvidas sobre
as bases empíricas e teóricas de algumas
afi rmações de que o Estado-nação está sendo
eclipsado pelos padrões contemporâneos
da globalização.[...] No entanto, é preciso
reconhecer que os novos padrões de mudança
regional e global estão transformando o
contexto da ação política, criando um sistema
de centros de poder múltiplos e esferas de
autoridade superpostas – uma ordem pós-
Westfalia.
David Held, 1999, p. 441.
65
O desenvolvimento da democracia na América Latina
grau em que o Estado e seu sistema legal
cobrem a totalidade do território desses
países. Neste contexto, a avaliação social
sobre o rendimento institucional e o grau
de desenvolvimento de nossas demo-
cracias é sumamente crítica. Em geral, a
opinião pública indica que as instituições
e os governantes não estão tendo um bom
desempenho. Uma razão para isso é que,
com freqüência, os governos eleitos demo-
craticamente às vezes parecem incapazes ou
não dispostos a encarar questões básicas de
desenvolvimento, bem como de desigual-
dade e de inseguraa. Acreditamos que a
esta imagem subjaz outro fato ao qual não
foi dada a devida atenção nas recentes dis-
cussões: nas duas últimas décadas o Estado
debilitou-se enormemente e, em algumas
zonas dentro de nossos países, virtualmente
evaporou-se.
Crises econômicas, o fervoroso anties-
tatismo de muitos programas de reformas
econômicas, a corrupção e o clientelismo
amplamente difundidos emo poucos pa-
íses, são alguns dos fatores que convergiram
para gerar um Estado anêmico. Esta anemia
também se manifesta no sistema legal. De
fato, muitos de nossos países têm um re-
gime democrático que coexiste com uma
legalidade intermitente e parcial. A legali-
dade do Estado não alcaa vastas regiões
de nossos países (e parte de suas cidades),
onde outros tipos de legalidade, basicamen-
te variações da legalidade ma osa, são os
que operam na prática.
Até mesmo em regiões onde o sistema
legal tem atuação, ele costuma ser aplicado
com características discriminatórias contra
várias minorias e também maiorias, tais
como as mulheres, certas etnias e os po-
bres. Esse sistema legal truncado gera o que
se denominou de uma cidadania de baixa
intensidade.
38
Todos nós temos os direitos
políticos e as liberdades que correspondem
ao regime democrático, contudo, muitos
não possuem os direitos sociais básicos. A
esses setores também são negados de fato
direitos civis não menos básicos. Não go-
zam de proteção contra a violência policial
e contra várias formas de violência privada.
Não conseguem acesso igualitário e respei-
toso às burocracias do Estado, inclusive aos
tribunais. Seus domicílioso invadidos
arbitrariamente, e, em geral,o forçados
a viver uma vida não só de pobreza, mas
também de recorrente humilhação e medo
da vioncia.
39
Esses setores não são apenas
materialmente pobres, mas também legal-
mente pobres.
Com défi cits tão importantes na efi cácia
de suas instituões, na efetividade de seu
sistema legal e, não menos importante, em
sua credibilidade como Estado-para-a-
Nação, com poucas e parciais exceções, o
Estado latino-americano atual, ao mesmo
tempo em que abriga regimes democti-
cos, tem grande difi culdade em projetar um
futuro que, embora não possa resolver ra-
pidamente muitas das injustiças e desigual-
dades existentes, apareça para a maioria da
população como realizável e valioso.
Este tipo de Estado de baixa capacidade
é um velho problema da América Latina.
No entanto, nos últimos anos, transfor-
mou-se em um problema ainda mais sério
e, em vários casos, isso ocorreu sob um
regime democrático. O défi cit de credibi-
lidade do Estado é resultado da inefi cácia
operacional de suas instituições e, às vezes,
de sua ostensiva colonizão por parte de
interesses privados que, difi cilmente pode-
se argumentar que sejam coerentes com
algum tipo de interesse geral. Esse défi cit
torna-se ainda mais agudo se parte desses
Nas duas
últimas décadas,
o Estado
debilitou-se
enormemente
e, em algumas
zonas dentro de
nossos países,
virtualmente
evaporou-se.
38 Ver O’Donnell (1993) onde se traça um mapa metafórico de “zonas azuis, verdes e marrons, das quais a mar-
rom se refere a zonas em que a legalidade do Estado é apenas satisfatória.
39 Os relatórios de vários organismos de direitos humanos repetida e abundantemente documentam a ameaça
permanente de violência a que as pessoas estão submetidas. Para o caso do Brasil, ver, entre outros, Dellasoppa et
al. (1999) que documentam que a incidência de mortes violentas nas regiões mais pobres da cidade de São Paulo é
dezesseis vezes maior que nas regiões mais ricas; para dados sobre a Argentina, ver, entre outros, CELS 2001. Mas,
em geral, um estudo que analisa vários conjuntos de dados sobre crime violento encontrou em todos eles uma cor-
relação positiva, forte e persistente, da violência com a pobreza e a desigualdade de renda (Hsieh e Pugh, 1993).
66
A democracia na América Latina
interesses não for, em absoluto, de caráter
nacional; na verdade, eles são parte de inte-
resses extraterritoriais públicos e privados
– e das tendências relativamente anônimas
da globalização ecomica.
É por todas essas razões que acreditamos
ser tão importante inscrever a discussão so-
bre o Estado (incluindo por quê, para quê
e com quem reformá-lo) na perspectiva
estratégica, eminentemente política, do de-
senvolvimento da democracia.
No entanto, é preciso ressaltar que não
existe Estado neutro. Em suas três dimen-
sões, o Estado é um espaço de condensão
complexa e de mediação de forças sociais.
Na verdade, a visão neutra é uma maneira
de argumentar a favor de um tipo de Estado
que, por meio de suas políticas e, certamen-
te, de suas omissões, é um ativo reprodutor
de desigualdade e uma grande barreira à
expansão de direitos civis e sociais.
Alguns tentaram explicar o enfraque-
cimento dos Estados na América Latina
como uma conseqüência inevitável da glo-
balização, diante da qual só seria possível e
desejável uma adaptação passiva. Isso não é
verdade e, em certas ocasiões, é até interes-
seiro. Como os ventos da globalizão são
tão fortes, os países precisam mais do que
nunca de Estados-para-suas-nões. Esse
Estadoo deve ser grande ou pesado. Deve
ser um Estado forte, capaz de processar os
impactos da globalização, adaptando-se
seletivamente aos mais irresistíveis e assi-
milando e reorientando outros.
Nesse sentido, a observação dos Estados
de países centrais que contam com arrai-
gadas instituões e práticas democráticas
mostra quão ativamente eles procuram
processar, assimilar e reorientar muitos
aspectos e conseqüências da globalização.
No entanto, uma condição necessária para
um Estado capaz de construir democracia e
eqüidade social é que alcance níveis razoá-
veis de e cácia, efetividade e credibilidade.
Na Arica Latina, esse objetivo está trava-
do por fatores que, embora já mencionados
na discussão precedente, requerem especial
consideração.
Especifi cidade histórica das
democracias latino-americanas
Os problemas que discutimos até agora
são comuns a muitas das novas e não tão
novas democracias no mundo contempo-
râneo. O que a teoria democrática tem a
dizer em relação a isso? Infelizmente, não
muito. Em grande parte, isso se deve a que
a maioria das teorias sobre a democracia
foi formulada no marco da experiência
histórica dos países europeus e dos Esta-
dos Unidos. Essas teorias deixam implícito
que, nesses países, os direitos civis eram
razoavelmente satisfatórios e atingiam
praticamente a toda a sociedade antes da
adoção da inclusividade e da universali-
zação dos direitos políticos. Além disso,
pressupõem que a legalidade do Estado se
estende homogeneamente a todo o territó-
rio e que, conseqüentemente, não apenas
os regimes nacionais, como também os
subnacionais são democráticos.
40
Deveria
ser óbvio, a esta altura, que essas suposi-
ções não se ajustam à trajetória histórica e
à situação atual da América Latina.
Em termos das trajetórias históricas da
democracia, a Arica Latina apresenta
um padrão bastante único. Por isso, uma
conceitualização da democracia restrita ao
regime pode ser aceitável desde que pressu-
ponha que as cidadanias civil e social não
são problemáticas. No entanto, quando
essas dimensões da cidadania são intermi-
tentes ou estão distribuídas irregularmente
pelos diversos setores sociais ou até pelo
próprio território do Estado, é crucial con-
siderá-las cuidadosamente, se o objetivo for
entender o funcionamento das respectivas
democracias e dos principais desa os para
seu desenvolvimento.
“Ninguém […] pode gozar completa-
mente de nenhum direito, que supostamen-
te possui, se não conta com os elementos
essenciais para uma vida razoavelmente
Como os ventos
da globalização
são tão fortes, os
países precisam
mais do que nunca
de Estados-para-
suas-nações.
40 Na realidade, os Estados Unidos são uma exceção parcial, embora importante, a esta afi rmação. Mas não
podemos nos deter neste aspecto no presente Relatório.
67
O desenvolvimento da democracia na América Latina
saudável e ativa.
41
Como conseqüência, se-
ria inconsistente reconhecer direitos refe-
rentes à vida ou à integridade física quando
os meios necessários para o exercício e gozo
desses direitos são omitidos.
42
Essas afi rma-
ções se referem às capacidades que facilitam
ou difi cultam o exercício dos direitos ine-
rentes à condição de cidadãos. Onde, e base-
ado em que critério, poderíamos traçar uma
linha fi rme e clara acima da qual a cidadania
poderia ser razoavelmente exercida em ter-
mos de direitos e capacidades? Que direitos
e capacidades seriam imprescindíveis para
gozar plenamente da cidadania?
Essas questões deram lugar a longos
debates.
43
Nesse ponto é necessário voltar a
um aspecto dessas discussões, o que se refere
às liberdades políticas. Sobre esse tema, sus-
tentamos duas afi rmações: primeiramente,
que é impossível defi nir teoricamente de
modo geral e universal o conjunto mínimo
e sufi ciente desses direitos; e em segundo
lugar, que essas liberdades (de expressão,
associação, movimento e similares) são, na
realidade, segmentos de direitos civis mais
amplos – e antigos.
44
Já argumentamos que
esses direitos correspondem a todos os seres
humanos, e que os direitos de cidadania na
esfera política, difi cilmente podem ser reali-
zados se os indivíduos não possuem direitos
sociais e civis “básicos”.
45
Um indivíduo, pelo fato de ser um ci-
dadão, tem direito a ser respeitado em sua
dignidade, e também tem direito à provisão
social das condições necessárias para exercer
livremente todos os aspectos e as atividades
de sua sociabilidade. Submeter esse indi-
víduo à violência física ou a privação de
necessidades materiais básicas, ou ainda,
suprimir seus direitos políticos, são atos
que negam severamente sua condição de
cidadão, sujeito-ator da democracia. Essa
visão das condições mínimas que facultam
a capacidade para escolher entre diversas
opções, assumindo responsavelmente as
conseqüências de tais escolhas, é clara já nas
origens da tradição dos direitos humanos
e, mais recentemente, também se tornou
explícita no pensamento sobre o desenvolvi-
mento humano. Como afi rma Amartya Sen
no Relatório do Desenvolvimento Humano
de 2000: “Os direitos humanos e o desenvol-
vimento humano compartilham uma visão
comum e um propósito comum: assegurar
a liberdade, o bem-estar e a dignidade de
todas as pessoas em todos os lugares.
46
Embora as constituições da América La-
tina consagrem os direitos à educação, à saú-
de e ao trabalho, outras dimensões como a
satisfação das necessidades básicas – alimen-
tação e moradia, seguridade social e meio-
ambiente – recebem tratamentos desiguais,
tanto reais quanto formais, nos diferentes
países. Precisamente, esta priorização acom-
panha os Objetivos de Desenvolvimento
do Milênio que emanam da Declaração do
Milênio, adotada pela Assembléia Geral das
Nações Unidas em 2000.
Atingir os Objetivos do Minio na
região Latino-americana signi ca levar
adiante uma série de políticas públicas
muito precisas, tais como: investir na in-
fra-estrutura básica, aumentar a produtivi-
dade agrícola, promover a pequena e média
empresa, fomentar a indústria, investir na
saúde e na educação, dar continuidade a
41 Shue, 1996, p. 7 (itálico no original).
42 Vázquez, 2001, p. 102.
43 Ver Shue, 1996; Nussbaum, 2000b.
44 Nos países europeus e nos Estados Unidos, esses direitos foram realizados como direitos civis muito antes de se-
rem promovidos” à condição de direitos políticos. Esses direitos também são exercidos em espaços sociais muito
distintos, além do âmbito do regime.
45 Como escreve Habermas (1999, p. 332),“sem direitos básicos que garantam a autonomia privada dos cidadãos,
também não haveria meio algum para a institucionalização legal das condições sob as quais esses cidadãos fi zessem
uso de sua autonomia pública. Esse autor (1998, p. 261) afi rma que: “Portanto, a autonomia pública e privada
pressupõem-se mutuamente, de tal maneira que nem os direitos humanos nem a soberania popular podem exigir
primazia sobre sua contraparte”.
46 PNUD, 2000c, p. 1.
“Os direitos
humanos e o
desenvolvimento
humano
compartilham
uma visão comum
e um propósito
comum:
assegurar a
liberdade, o
bem-estar e a
dignidade de
todas as pessoas
em todos os
lugares.”
68
A democracia na América Latina
uma potica pública de sustentabilidade
ambiental. Essas políticas requerem um
Estado com capacidade de ação, o que sig-
nifi ca a necessidade de chegar a consensos
políticos, manter a democracia dentro do
estado de direito e aprofundá-la, tendo
como meta chegar a uma sociedade em que
a cidadania seja integral, em que os direitos
e as obrigações não se limitem apenas ao
campo potico e civil, mas incluam tam-
bém a área social. Essas políticas pressu-
põem a ação do cidadão como indivíduo,
como ator político que se expressa por meio
de representantes e – nas circunsncias
previstas – diretamente, e como integrante
da sociedade, atuando em sua comunidade
e nas associações voluntárias que formam a
rica trama da sociedade civil.
Essa é a mesma visão que, como vimos,
subjaz a nossa concepção de democracia.
To d os estes direitos – os direitos civis e
sua conexão com os direitos humanos, os
quadro 17
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs)
1. ERRADICAR A EXTREMA POBREZA E FOME
Reduzir à metade, entre 1990 a 2015, a
proporção de pessoas com renda inferior a
1 dólar por dia, assim como a proporção de
pessoas que passam fome.
2. ATINGIR O ENSINO BÁSICO UNIVERSAL
Assegurar que, até 2015, as meninas e os
meninos de todo o mundo possam completar
um ciclo completo de educação primária.
3. PROMOVER A IGUALDADE DE GÊNEROS E A
AUTONOMIA DAS MULHERES
Eliminar as disparidades de gênero na edu-
cação primária e secundária, preferencialmen-
te até 2005, e em todos os níveis de educação
antes do fi m de 2015.
4. REDUZIR A MORTALIDADE INFANTIL
Reduzir em dois terços, entre 1990 e 2015,
a taxa de mortalidade de crianças menores de
5 anos.
5. MELHORAR A SAÚDE MATERNA
Reduzir em três quartos a taxa de mortali-
dade materna, entre 1990 e 2015.
6. COMBATER O HIV/AIDS, A MALÁRIA E OU-
TRAS DOENÇAS
Deter e começar a reduzir, até 2015 , a pro-
pagação do HIV/AIDS, a incidência de malária
e outras doenças graves.
7. GARANTIR A SUSTENTABILIDADE DO MEIO
AMBIENTE
Integrar os princípios de desenvolvimen-
to sustentável nos programas e políticas
nacionais e reverter a perda de recursos
ambientais.
Reduzir à metade, até 2015, a proporção
de pessoas sem acesso sustentável à água
potável.
Ter atingido, até 2020, signifi cativa melhoria
nas condições de vida de pelo menos 100
milhões de moradores dos bairros mais
precários.
8. ESTABELECER UMA PARCERIA MUNDIAL PARA
O DESENVOLVIMENTO
Desenvolver ainda mais um sistema comer-
cial e fi nanceiro aberto, baseado em normas,
previsível e não-discriminatório.
Atender às necessidades especiais dos
países menos desenvolvidos e dos países
sem acesso ao mar ou dos pequenos Estados
insulares em desenvolvimento.
Encarar por um prisma geral os problemas
relativos a dívidas de países em desenvol-
vimento, elaborar e aplicar estratégias que
proporcionem aos jovens trabalho digno e
produtivo.
Em cooperação com a indústria farmacêu-
tica, proporcionar acesso aos medicamen-
tos essenciais nos países em desenvolvi-
mento.
Em cooperação com o setor privado,
empenhar-se para que possam ser aprovei-
tados os benefícios de novas tecnologias,
e especialmente as da informação e das
comunicações.
69
O desenvolvimento da democracia na América Latina
direitos sociais e sua conexão com o desen-
volvimento humano, e os direitos políticos
e sua conexão com a democracia – facilitam
e promovem o exercício da cidadania. Isso
ocorre assim, precisamente, porque cada
um, ou alguma combinação deles, empur-
ra em direção ao êxito dos outros ou, ao
menos, cria oportunidades favoráveis para
sua conquista. Como veremos adiante, o
critério relevante para a atribuição de direi-
tos civis, sociais e políticos mudou ao longo
do tempo. Por exemplo, até países centrais
conviveram por longo tempo com enormes
desigualdades, que eram justifi cadas com
o argumento de que os trabalhadores, as
mulheres e outros eram, por alguma razão,
intrinsecamente “inferiores”. Apesar do
grande número de horrores e desigualdades
ainda existentes, a crescente aceitação de que
todos nós, os seres humanos, somos, em al-
gum sentido essencial, iguais, é uma grande
conquista da humanidade.
De quanta cidadania
uma democracia precisa
As afi rmações do item anterior não se
detêm em várias discussões fi losófi cas e éti-
cas que estão centradas na questão do equi-
líbrio entre liberdade e igualdade. Essas são
questões extremamente importantes que
excedem o âmbito do presente Relatório.
Nos países centrais, discute-se sobre os
princípios de liberdade e/ou de eqüidade
que deveriam regular a atribuição dos bens
sociais, quando todos os cidadãos, ou uma
grande maioria, alcançaram um nível básico
de direitos e capacidades.
47
Na América La-
tina, a questão principal refere-se aos cida-
dãos que não gozam desses direitos e capa-
cidades básicas. Isso suscita a pergunta sobre
se existem boas razões para afi rmar um
direito universal para chegar a um nível, ou
conjunto básico de direitos e capacidades.
Sustentamos que essas razões existem e que
o fundamento delas é ver os cidadãos e, em
geral, os indivíduos como seres autônomos,
razoáveis e responsáveis. Essas razões fazem
referência a um aspecto primário da eqüi-
dade: não igualdade plena, mas igualdade
básica. Por igualamento básico entendemos
o direito de cada um a, pelo menos, duas
coisas: ser tratado com eqüidade e conside-
ração, devido a sua condição de ser humano;
obter, se necessário, por meio do Estado ou
da previdência social, um patamar básico de
direitos e capacidades que eliminem, ao me-
nos, as privações que impedem o exercício
das opções responsáveis e das liberdades que
elas implicam.
Reconhecemos que nesse plano existem
complexas e árduas disputas. Contudo, nos
parece inevitável a pergunta sobre se existe
ou não obrigação moral, e também direitos
acionáveis, para demandar capacidades e
direitos básicos que facilitem a todos os
cidadãos o exercício de sua cidadania. Seja
qualquer for a resposta a essa questão, pa-
rece inegável que a democracia possibilita o
melhor contexto possível para a sua discus-
são. Com respeito a isso, Sen argumenta que
“a participação [democrática] política e so-
cial tem valor intrínseco para a vida humana
e o bem-estar, [e também,] valor instrumen-
tal ao melhorar a possibilidade de as pessoas
serem escutadas […] em suas reivindicações
de atenção política [incluindo demandas
sobre necessidades econômicas]”. Esse autor,
além disso, sustenta
48
que a democracia tem
valor construtivo, pois “mesmo a idéia de
‘necessidades’, incluindo o entendimento de
‘necessidades econômicas’, requer discussão
47 Dasgupta (1993, p. 45, nota de rodapé) comenta corretamente: A maior parte da teoria ética contemporânea
assume no começo da indagação que essas necessidades [básicas] foram realizadas”. Esta suposição é explícita nos
trabalhos de fi losofi a política que, pode-se dizer, foram os que tiveram mais infl uência nas últimas décadas, pelo
menos no mundo anglo-saxão (Rawls, 1971, pp. 152, 542-543; sua teoria da justiça é considerada aplicável em
países onde “apenas as necessidades materiais menos urgentes ainda não foram satisfeitas”; para uma reafi rmação
explícita dessa suposição, ver Rawls, 2001). Por sua vez, apesar de menos explícita, a mesma suposição está cla-
ramente contida no trabalho de Habermas. A questão pendente é o que pode ser dito de países, inclusive os que
incluem um regime democrático, que não cumprem com esta suposição.
48 Sen, 1999a, p. 10 (itálico no original).
70
A democracia na América Latina
pública e intercâmbio de informação, visões
e análises […]. Os direitos políticos, incluin-
do a liberdade de expressão e discussão,
não são fundamentais apenas para induzir
respostas sociais a necessidades econômicas,
são também centrais para a conceituação das
necessidades econômicas em si mesmas”.
49
Portanto, o conteúdo dos direitos, seu
grau de especifi cidade, seu alcance, a prio-
ridade relativa de uns sobre outros e outras
questões desse tipo, são, e sempre serão,
objeto de disputas. Existem demasiadas
preferências contrapostas, teorias sobre o
que é justo ou eqüitativo, e interesses sociais
e posições, para que qualquer uma dessas
questões possa ser clara e completamente
resolvida. Este é um fato da vida social, uma
conseqüência da liberdade e da diversidade
de projetos de vida, pontos de vista, interes-
ses e espaços sociais que ela sustenta. Cor-
responde à democracia, e especifi camente à
política democrática, celebrar e promover as
disputas e os acordos que tal pluralidade de
vozes e interesses admite. É por isso também
que a democracia é e admite ser um hori-
zonte aberto, no qual ocorrem incessante-
mente as lutas pela defi nição e redefi nição
de direitos e obrigações.
50
Qual é a resposta para esses problemas,
restrições e incertezas? Simplesmente, mais
democracia. A questão crucial é quem de-
cide, como e sobre que base, que direitos
são sancionados e implementados, e com
que intensidade e alcance, e quais não são
inscritos no sistema legal ou permanecem
como letra morta. Mesmo quando estiverem
embasados em características universais do
ser humano, determinar quais são as reivin-
dicações e as necessidades que devem ser
transformadas em direitos, em que medida
devem ser implementadas e qual é o equilí-
brio que se estabelece com os outros direitos
e obrigações, é uma construção social decor-
rente da política, pelo menos da política em
suas melhores expressões.
É importante para nós, ressaltar o que foi
dito anteriormente porque, paradoxalmen-
te, nos países onde mais se precisa discutir
amplamente sobre necessidades e demandas
e sua possível conversão em direitos acioná-
veis, é onde há mais difi culdade de incor-
porar essas questões à agenda pública. O
que seria “um mínimo social decente,
51
em
termos de um conjunto básico de direitos ci-
vis e sociais para todos os habitantes? Desse
modo, se um país é pobre, tem um Estado
anêmico e um sistema legal truncado, quais
seriam as seqüências e trajetórias adequadas
para alcançar esse mínimo?
52
As necessidades e respectivas privações
não são apenas o sofrimento de indivíduos
isolados; são questões sociais, que devem
ser tratadas em termos do reconhecimento
de responsabilidades estatais e coletivas. São
questões políticas, imbuídas de diferentes
valores e ideologias, de teorias mais ou
menos implícitas sobre o funcionamento
de uma determinada sociedade e, hoje em
dia, cada vez mais também sobre o fun-
cionamento do sistema global. É preciso
49 Ibid., p. 11.
50 Ver Tille, 1990, 1996, 1998b. O autor (1998b, p. 55) conclui que “os direitos [são] produtos históricos, resultados
das lutas”.
51 Nussbaum, 2000a, p. 125.
52 Como Tavares de Almeida (2002) argumenta, mesmo dentro da América Latina há variações importantes nes-
sa questão, que deveriam ser consideradas ao traçar possíveis seqüências e trajetórias. Uma discussão detalhada
dessa questão depende de uma avaliação país por país, que é uma tarefa que excede as possibilidades do presente
Relatório.
É por isso que
a democracia é
e admite ser um
horizonte aberto,
no qual ocorrem
incessantemente
as lutas pela
defi nição e
redefi nição
de direitos e
obrigações.
quadro 18
A democracia: uma tensão entre fatos
e valores
O que a democracia é não pode ser separado do que a democracia deveria
ser. […] Em uma democracia, a tensão entre fatos e valores alcança o ponto
mais alto.
Giovanni Sartori, 1967, p. 4.
71
O desenvolvimento da democracia na América Latina
promover a abordagem desses temas na
agenda pública porque é aí que são defi nidas
as necessidades “reais que um país enfrenta,
ignora ou reprime.
Na experiência histórica da humanidade,
os avanços nos direitos civis e sociais dos
setores populares tornaram muito difícil
resistir aos pedidos de cidadania política;
sua extensão deu às mulheres e a algumas
minorias um trampolim importante para
adquirir outros direitos civis e sociais; a
extensão dos direitos civis impulsionou a
conquista de direitos sociais e políticos;
53
a
disponibilidade de direitos políticos preve-
niu a fome.
54
Estes e muitos outros proces-
sos mostram como diversos direitos tendem
a ser invocados e reforçados entre si; há uma
clara afi nidade eletiva entre os direitos civis,
sociais e políticos. A força que impulsiona
essas relações é fi nalmente moral: o reco-
nhecimento de que uma pessoa não deve ser
privada de nenhum dos direitos e capacida-
des que normalmente a habilitam a atuar de
modo livre e responsável.
No que diz respeito à América Latina,
agora que contamos com uma notável exten-
são dos direitos políticos, deveríamos usá-los
não apenas no que se refere ao regime, mas
também, como alavanca para a indispensá-
vel extensão de direitos civis e sociais.
O próximo passo consiste na observação
empírica do regime democrático, do desen-
volvimento da cidadania e do poder.
Explicitamos até aqui o fi o condutor que
guia este Relatório. Exploramos de modo
sucinto as bases conceituais nas quais se
alicerça a afi rmação de que o desa o global
do relaamento democrático é a passa-
gem da democracia eleitoral à democracia
de cidadania, e foram desenvolvidos os
principais argumentos da íntima vincula-
ção entre a idéia de democracia, cidadania
e Estado. Essas idéias serviram de base, por
sua vez, a uma busca empírica. Sem elas,
a observação de dados seria desarticulada
e provavelmente não nos guiaria em nos-
sa busca. De modo que indagar como os
53 Por exemplo, Touraine (1994) destaca que os trabalhadores europeus obtiveram seus direitos sociais lutando
por princípios gerais, como a liberdade e a justiça.
54 Como argumenta Sen em sua op. cit., 1999a.
Nessa análise, a noção de desenvolvimento
da democracia baseia-se em um pressupos-
to fundamental: a existência de um regime
democrático. Nesse regime encontramos o
cidadão legalmente respaldado e reconhe-
cido como sujeito na democracia política.
Por outro lado, a noção de cidadania nos in-
dicou que o caráter democrático é também
um atributo do Estado. Prosseguindo nessa
busca, encontramos as características e
raízes comuns dos direitos políticos, civis e
sociais. Essa tese foi baseada na afi rmação
de que a democracia signifi ca não apenas
cidadania política, mas também civil e so-
cial. Afi rmamos também que a existência
de um contexto diverso e plural, respal-
dado por um sistema legal consoante com
o mesmo, é outro aspecto fundamental da
democracia, especialmente como sustento
das liberdades que são a cara social dos
direitos individuais de cidadania.
Na maioria desses aspectos observamos
que as democracias da América Latina con-
temporânea apresentam defi ciências. Por
outro lado, porém, mostramos as potencia-
lidades políticas e normativas da democra-
cia, mesmo dentro do marco das restrições
existentes na atualidade. Sob este ângulo,
a democracia pode ser concebida como um
conjunto de princípios gerais de organiza-
ção da sociedade. Ela é, também, a princi-
quadro 19
A informação: uma necessidade básica
A idéia de necessidades, incluindo o entendimento de necessidades
econômicas, requer informação pública e intercâmbio de informação,
visões e análises. […] Os direitos políticos, incluindo a liberdade de
expressão e discussão, não são somente fundamentais para induzir
respostas sociais a necessidades econômicas, eles são fundamentais para
a conceitualização das necessidades econômicas em si mesmas.
Amartya Sen, 1999a.
72
A democracia na América Latina
cidaos percebem a democracia em suas
vidas, construir os indicadores do regime
político e do desenvolvimento de cidadania
e, fi nalmente, consultar os que conhecem o
poder, os limites do Estado e os governos,
são os eixos da pesquisa empírica que se
desenvolve no próximo capítulo. Aí en-
contraremos a matéria das teses que foram
levantadas até aqui.
Finalmente, o leitor poderá apreciar as
idéias dessas primeiras páginas, juntamen-
te com os resultados empíricos da segunda
seção, na terceira parte deste Relatório, onde
serão elaboradas as idéias centrais dos dois
principais desafi os da democracia latino-
americana: garantir a liberdade e ampliar a
cidadania de seus habitantes.
pal alavanca para tentar superar injustiças
e desigualdades. A possibilidade que, com
suas liberdades, a democracia cria para lu-
tar contra essas injustiças e desigualdades
faz dela um horizonte sempre aberto. Essa
abertura e a dinâmica que permite, fazem
com que a democracia, mesmo as que
sofrem sérias defi ciências, seja um bem
imensamente valioso pelo qual vale a pena
esforçar-se para preservar e expandir.
O desafi o global
do relançamento
democrático
é a passagem
da democracia
eleitoral à
democracia de
cidadania.
73
Bases empíricas do Relatório
segunda seção
A partir da apresentação dos fundamentos teóricos do Relatório e da caracterização da
singularidade das democracias latino-americanas, indaga-se e analisa-se seu correla-
to empírico. Esta seção contém:
a. Um olhar dirigido ao regime democrático no sentido estrito (regras, procedimentos e
instituições que determinam as formas de acesso à cúpula do Estado). Inclui um índice
de democracia eleitoral (IDE), que indica que a América Latina progrediu visivelmente
quanto à eleição democrática de governos, e inclui também um estudo de outros indi-
cadores de cidadania política.
b. Um conjunto de indicadores de cidadania civil que revela que o progresso represen-
tado pelo reconhecimento formal dos direitos não está necessariamente acompanhado
por sua vigência real, e um conjunto de indicadores de cidadania social em que se ob-
servam apenas pequenos avanços em alguns temas e agudas defi ciências em outros.
c. Uma análise da visão dos latino-americanos sobre sua democracia, com base em
uma pesquisa de opinião de 19.508 pessoas interessadas nos dezoito países consi-
derados. A análise revela uma clara preferência pela democracia em relação a outras
formas de governo, embora esta preferência não implique um claro e sustentado apoio,
tal como o índice de apoio cidadão à democracia (IAD) e os perfi s de intensidade cidadã
evidenciam.
d. Uma análise da rodada de consultas sobre aspectos centrais da democracia, reali-
zadas com 231 dirigentes políticos e sociais latino-americanos, dentre eles, um grupo
destacado de presidentes e vice-presidentes. As consultas incluíram temas como a
participação política, os controles ao exercício do poder, o papel dos partidos políticos,
os poderes fáticos, os poderes ilegais, os poderes políticos formais e a construção de
uma agenda para o fortalecimento da democracia.
Bases empíricas do Relatório
74
A democracia na América Latina
75
Bases empíricas do Relatório
Cidadania política, civil e social
Foi construído para esta seção um con-
junto de indicadores para descrever a atual
situação da democracia na América Latina.
O alcance, a interpretação e o uso desses in-
dicadores devem basear-se nas notas meto-
dológicas incluídas ao fi nal do Relatório.
É importante fazer alguns esclarecimen-
tos a respeito dos dados aqui apresentados:
a. Não proporcionam um sistema de
qualifi cação dos governos latino-america-
nos. Os indicadores tentam iluminar o am-
plo cenário em que os representantes eleitos
e outros atores atuam, e por isso não devem
ser interpretados como qualifi cações das au-
toridades eleitas. Tampouco se trata de com-
parar os diferentes países entre si.
b. Não constroem um índice ou ranking
único de países. O marco teórico propõe, co-
mo tese fundamental, que a democracia in-
clui o regime político, porém não se esgota
nele. Levando em consideração esse ponto
de partida, os indicadores apontam vários
aspectos ou dimensões da democracia, me-
diante diversos direitos políticos, civis e so-
ciais. Esta realidade complexa não pode se
resumir adequadamente em um único índi-
ce. Além disso, como os indicadores sempre
captam a realidade com um certo grau de in-
certeza, não são apresentadas classifi cações
precisas, que pressupõem a inexistência de
erros. Por razões metodológicas básicas não
se apresenta um índice único nem uma clas-
sifi cação de países.
c. Apresentam medições parciais de
uma realidade complexa. Para captar essa
complexidade foram reunidos diferentes
indicadores, alguns com o foco em proces-
sos, outros em políticas e outros em resulta-
dos. Embora eles possam, em seu conjunto,
delinear um panorama detalhado, ofere-
cem uma visão parcial da realidade e não
esgotam o signi cado dos conceitos medi-
dos. Além disso, em mais de um caso, a in-
formação disponível diz respeito apenas a
uma conjuntura e não a um período longo
sobre o qual podem ser identi cadas ten-
dências. Certos aspectos, alguns realmen-
te essenciais para captar a singularidade de
cada país, difi cilmente podem ser incorpo-
rados por meio de medições quantitativas e
são melhor compreendidos com um enfo-
que qualitativo.
d. Fazem referência ao momento em
que a medão foi realizada e não devem
ser considerados como uma qualifi cação
da situação atual. Existe um lapso normal
entre o momento da medão e sua poste-
rior análise e publicão, que deve ser le-
vado em conta no momento de interpretar
os dados. Esse fenômeno adquire particu-
lar relevância quando ocorrem medições
únicas ou iniciais, e essa relevância dimi-
nui quando se conta com séries históricas
ou medões reiteradas ao longo de perío-
dos prolongados.
e. Os novos índices apresentados neste
Relatório signifi cam uma primeira aproxi-
mação qualitativa e quantitativa a fenôme-
nos sociais e políticos complexos. Os dados
selecionados que compõem os diversos in-
dicadores obedecem ao processo de cons-
trução do índice. Uma mudança nos com-
ponentes que constituem o índice poderia
modifi car o seu valor. Os valores atribuídos
às variáveis que compõem os índices funda-
mentam-se em um processo de codifi cação
realizado por analistas. Apesar do cuidado
ao atribuir valores semelhantes a situações
semelhantes, existe uma margem de variabi-
lidade vinculada à apreciação de cada analis-
ta acerca da realidade em questão.
Conseqüentemente, na leitura dos resul-
tados, esse complexo processo de construção
Indicadores de desenvolvimento
da democracia
76
A democracia na América Latina
deve ser levado em conta.
Cidadania política
Índice de democracia eleitoral
A análise do regime eleitoral é feita ini-
cialmente a partir do índice de democracia
eleitoral (IDE), construído para o Relatório.
Este índice reúne medições que respondem
quadro 20
O índice de democracia eleitoral (IDE)
Uma contribuição à discussão sobre a democracia
O Índice de Democracia Eleitoral (IDE) é uma
nova medida do regime eleitoral democrático
produzida para este Relatório. Este tipo de
medição tem uma evolução prolongada no
mundo acadêmico. Um passo importante
na discussão dessa metodologia foi dado
na publicação do PNUD, Relatório do
Desenvolvimento Humano 2002, “Aprofundar
a democracia em um mundo fragmentado”.
A construção do IDE apóia-se nos últimos
avanços na matéria, cuja explicação encontra-
se na nota técnica do compêndio estatístico.
O IDE apresenta uma agregação de quatro
componentes considerados essenciais em um
regime democrático, tal como está refl etido na
seguinte árvore conceitual:
Índice de Democracia Eleitoral (IDE)
Direito de voto Eleições limpas Eleições livres Cargos públicos eleitos
Todos os adultos
em um país têm
direito de voto ?
O processo eleitoral
desenvolve-se sem
irregularidades que
possam infl uir na
expressão autônoma
das preferências
dos votantes
por candidatos e
alterem a contagem
dedigna dos votos
emitidos?
É oferecido
ao eleitorado
um leque de
alternativas
que não são
infl uenciadas por
restrições legais
ou de fato?
As eleições são o meio
de acesso aos principais
cargos públicos de um
país, isto é, o Executivo
e o Legislativo nacional,
e os que ganham as
eleições assumem e
permanecem nesses
cargos públicos durante
os prazos estipulados
por lei?
Por sua vez, a regra de agregação está
expressa formalmente na seguinte fórmula:
Índice de democracia eleitoral (IDE)
= Direito de voto x Eleições limpas
x Eleições livres x Cargos públicos eleitos
O IDE é um insumo para o processo de
discussão e análise da realidade latino-
americana e não deve ser considerado
como uma medida completa da democracia.
Recentemente, iniciou-se um debate sobre
o possível uso de medições da democracia
como um dos critérios para identifi car países
que seriam receptores de fundos destinados
à promoção do desenvolvimento. Um
exemplo é o Millenium Challenge Accoumt
(MCA) do Governo dos Estados Unidos, que
utiliza, junto com outros dados, medidas de
democracia e de estado de direito elaboradas
pela Freedom House e pelo Banco Mundial.
O PRODDAL considera que ainda não existe
sufi ciente consenso e uma metodologia
comprovada e adequada para justifi car a
tomada desse tipo de decisões sobre a base
de medidas de democracia.
77
Bases empíricas do Relatório
às seguintes perguntas (para uma explicação
mais detalhada, ver quadro 20):
O direito ao voto é reconhecido?
As eleições são limpas?
As eleições são livres?
As eleições são o meio de acesso a
cargos públicos?
O IDE capta informação sobre alguns
dos componentes mais básicos e necessários
do regime democrático. Violações, mesmo
parciais, de qualquer um desses direitos
cidadãos políticos indicam restrições muito
importantes do regime democrático. No
entanto, é necessário enfatizar que o IDE é
uma medida relativamente minimalista da
democracia. A conquista de uma democracia
eleitoral plena, medida de acordo com os
critérios usados pelo IDE, representa um
avanço signifi cativo dos direitos cidadãos.
O estabelecimento de uma democracia
eleitoral, porém, é apenas um passo que
determina um piso mínimo na luta mais
ampla pela expansão dos direitos cidadãos.
A conclusão mais evidente que surge do
IDE é que a América Latina progrediu no-
tavelmente no que se refere à democratiza-
ção do regime de acesso ao governo. A Amé-
rica Latina nunca teve regimes eleitorais tão
democráticos e duráveis quanto os do início
do século XXI.
Antes de começar a onda de transições,
no fi m da década de 70, a maioria dos pa-
íses na região tinha regimes autoritários. A
partir daí, o progresso foi muito marcante.
A média do IDE (cujo valor varia entre 0 e
1) para a América Latina passou rapidamen-
te de 0,28 em 1977 para 0,69 em 1985, e para
0,86 em 1990; continuou melhorando e ter-
minou 2002 com 0,93.
As experiências variam bastante, como
se pode ver no gráfi co 1. Por volta de 1990,
os países do Mercosul e Chile, com exceção
do Paraguai, já haviam rompido com os re-
gimes militares. A partir dessa época manti-
veram regimes democráticos.
Outra situação é a da sub-região América
Central e República Dominicana que,
com exceção da Costa Rica e da República
Dominicana, nos anos noventa ainda
estava resolvendo confl itos armados. A
democratização coincidiu com a resolução
pacífi ca desses confl itos e avançou a passos
rmes. Em 2002, essa sub-região era
eleitoralmente a mais democrática.
Outra situação é a dos países andinos,
que no início da década de 90 tinham regi-
mes democráticos de longa data (Colômbia,
Ve nezuela) ou foram os primeiros casos de
transição de regimes militares na América
do Sul, no fi nal dos anos setenta e início dos
anos oitenta (Equador, Peru, Bolívia). En-
tretanto, durante a década de noventa, essa
sub-região começou a enfrentar sérios pro-
blemas que chegaram, inclusive, a colocar
em risco seus regimes políticos.
Por último, o México registrou uma
transição para a democracia, lenta, porém
constante, que culminou com a presidência
de Ernesto Zedillo. Outras conclusões, mais
específi cas, surgem de uma observação mais
minuciosa dos quatro indicadores utilizados
pelo IDE: direito ao voto, eleições limpas,
eleições livres e as eleições como o meio de
acesso a cargos públicos.
O primeiro componente-chave do re-
gime democrático é o direito ao voto: sem
esse direito, as outras conquistas perdem o
78
A democracia na América Latina
seu conteúdo. Em relação a esse componen-
te, existe pouca variação na América Latina.
Hoje em dia, em todos os países se reconhe-
ce o direito universal ao voto. Cabe obser-
var que, mesmo nos casos em que existe o
que geralmente é chamado de direito ao vo-
to universal, podem subsistir restrições que
afetam o direito ao voto de militares e po-
liciais, do clero, de residentes estrangei-
ros
55
e de cidadãos vivendo no estrangeiro.
Além disso, em alguns países existem barrei-
ras que difi cultam a prática real do direito
55 Ver Paxton et al., 2003.
56 Ver, por exemplo, o estudo de Boeno e Torres Vivas, 2001.
Argentina 2 2 2 2 2 2
Bolívia 2 2 2
Brasil 2 2 2 2
Chile 2 2 2 2
Colômbia 1 1 1 1 2-
Costa Rica 2 2 2 2
Equador 2 2 2 2 2
El Salvador 2 2 2 2 2
Guatemala 1 1 1 2
Honduras 2 2 2
México 2- 2 2 2
Nicarágua 2 2 2
Panamá 2 2
Paraguai 1 2
Peru 2 2 1 0 * 2
República Dominicana 1-* 0 * 2 2 2 2
Uruguai 2 2
Venezuela 2 2 2
América Latina (**) 3 1 0 1 3 2 0 0 1 0 1 0 0
ELEIÇÕES LIMPAS, 1990-2002
TABELA 4
Número de casos de eleições com irregularidades de alguma significação
País 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Notas: As eleições são consideradas “limpas” quando o processo eleitoral ocorre sem irregularidades que limitem os
eleitores a expressar autônoma e fi elmente suas preferências por algum candidato. Não inclui questões relacionadas
com a competitividade do processo eleitoral nem se é permitido ao ganhador das eleições assumir seu cargo público,
nem se todos os cargos públicos são eletivos.
Valores: 0 = graves irregularidades no processo eleitoral que têm um efeito determinante sobre os resultados das
eleições (por exemplo, alteram o resultado de uma eleição presidencial e/ou do equilíbrio de poder dentro do Parla-
mento); 1= irregularidades signifi cativas no processo eleitoral (por exemplo, intimidação dos eleitores, violência contra
os eleitores, fraude eleitoral); 2 = falta de irregularidades signifi cativas no processo eleitoral (por exemplo, eleições que
podem incluir irregularidades “técnicas”, mas que não possuem um viés sistemático de peso signifi cativo).
Sinais de mais e menos são usados para indicar situações intermediárias. Quando em um ano há eleições tanto para o
Executivo quanto para o Parlamento e as irregularidades se aplicam apenas às eleições para o Executivo, indica-se esta
situação com um asterisco (*). Nesses casos o valor para as eleições parlamentares é 2.
(**) Os dados para a região abarcam o número total de eleições realizadas em um determinado ano com irregularidades
signifi cativas ou maiores, isto é, que não recebem uma pontuação de 2 ou 2-.
Fontes: Cerdas-Cruz, Rial e Zovatto 1992, Rial e Zovatto 1998, Middlebrook 1998, Montgomery 1999, Pastor 1999, Hartlyn,
McCoy e Mustillo 2003, relatórios da Organização dos Estados Americanos (OEA), da União Européia (UE), do Centro
Carter e do Instituto Nacional Democrático; diversos artigos do Journal of Democracy; e consultas com especialistas.
79
Bases empíricas do Relatório
ao voto.
56
No entanto, o reconhecimento do
direito universal ao voto é, sem dúvida, uma
conquista importante, que vale a pena res-
saltar. Algumas das lutas políticas mais des-
tacadas da primeira metade do século XX
centraram-se em estender o sufrágio às clas-
ses trabalhadoras, aos setores populares e às
mulheres.
O IDE também capta em que medida as
preferências dos votantes são registradas fi el-
mente por meio do processo eleitoral. Como
se pode ver na tabela 4, entre 1990 e 2002 fo-
ram realizadas setenta eleições nacionais, no
total, e em treze casos houve problemas sig-
nifi cativos. Em duas oportunidades (Repú-
blica Dominicana 1994 e Peru 2000), a co-
munidade internacional considerou que os
problemas foram de tal magnitude que colo-
Argentina 4 4 4 4 4 4
Bolívia 4 4 4
Brasil 4 4 4 4
Chile 4 4 4 4
Colômbia 3 3 3 3 3
Costa Rica 4 4 4 4
Equador 4 4 4 4 4
El Salvador 3 4 4 4 4
Guatemala 3 3 3 4
Honduras 4 4 4
México 4 4 4 4
Nicarágua 4 4 4-
Panamá 4 4
Paraguai 4 4
Peru 4 3 4 3 4
República Dominicana 4 4 4 4 4 4
Uruguai 4 4
Venezuela 4 4 4
América Latina (*) 2 2 1 0 2 1 0 0 1 0 0 0 1
ELEIÇÕES LIVRES, 1990-2002
TABELA 5
Número de casos de eleições com restrições de alguma significação
País 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Notas: As eleições são consideradas “livres” quando o eleitorado tem uma variedade de opções que não está limitada nem
por restrições legais nem pela força. Essa medida não inclui fatores que possam afetar a capacidade dos partidos e can-
didados para competir em igualdade de condições, tais como: fi nanciamento público, acesso aos meios de comunicação
e uso dos recursos públicos.
Valores: 0= sistemas de partido único; 1= proscrição de um partido importante; 2 = proscrição de um partido menor;
3 = restrições de natureza legal ou prática que afetam signifi cativamente a capacidade de candidatos potenciais a se
apresentarem para eleições e/ou a formação de partidos políticos (por exemplo, assasinatos sistemáticos e intimidação
de candidados, proscrições de candidatos populares, restrições de natureza legal ou prática que impedem a formação de
partidos ou que levam certos partidos a boicotar as eleições); 4=condições essencialmente irrestritas para a postulação
de candidatos e a formação de partidos.
Sinais de mais e menos são usados para indicar situações intermediárias.
(*) Os dados para a região abarcam o número total de eleições realizadas em um determinado ano com restrições signifi -
cativas, isto é, que não recebam uma pontuação de 4 ou 4-.
Fontes: Cerdas-Cruz, Rial e Zovatto 1992; Rial e Zovatto 1998, Middlebrook 1998, Montgomery 1999, Pastor 1999; diversos
artigos no Journal of Democracy; e consulta com especialistas.
80
A democracia na América Latina
cavam em questão o caráter democrático do
procedimento eleitoral. Na maioria dos ca-
sos, porém, as irregularidades não parecem
ter sido decisivas para o resultado das elei-
ções. Além disso, o número de atos eleitorais
problemáticos diminuiu consideravelmente:
no período 1900-1996, em um total de trin-
ta e cinco eleições, houve dez casos, enquan-
to no período 1997-2002, esse número caiu
para dois sobre o mesmo total.
O terceiro componente do IDE, as elei-
ções livres, introduz um elemento que não é
captado diretamente pelos conceitos de di-
reito ao voto e de eleições limpas: a liber-
dade do eleitor de escolher entre várias al-
ternativas. Nessa matéria subsistem alguns
problemas, tal como mostra a tabela 5. Do
total de setenta eleições nacionais, realiza-
das entre 1990 e 2002, houve dez casos em
que a possibilidade de competir livremente
em eleições foi restringida de maneira signi-
cativa. Apesar disso, a tendência é positiva.
Enquanto no período 1990-1996 houve oi-
to casos de eleições com restrições signifi ca-
tivas em um total de trinta e cinco eleições,
esse número caiu para dois sobre o mesmo
total no período 1997-2002.
Visto em perspectiva, a melhoria é
notável. Já não existem as proscrições legais
que em outras épocas atingiram partidos
majoritários como o Partido Justicialista
(PJ) na Argentina ou a Aliança Popular
Revolucionária Americana (APRA) no Peru,
e partidos de menor peso eleitoral, como os
partidos comunistas do Brasil, do Chile e da
Costa Rica. Essas restrições – de uso reiterado
do fi nal da década de 40 até a de 60 na
maioria dos casos, mas até 1985 no caso do
Brasil – foram superadas. Da mesma forma,
com a resolução dos confl itos armados na
América Central, durante a década de 90,
as restrições devido à falta de capacidade
estatal para garantir a integridade física dos
candidatos, também foram superadas, com
exceção da Colômbia.
O quarto componente do regime demo-
crático gira em torno das eleições como o
meio de acesso a cargos públicos. Aqui sur-
gem duas questões básicas. Uma é saber se
os cargos públicos principais (presidentes
e parlamentares) são ocupados ou não pe-
los que ganham as eleições. A outra é saber
se os que têm acesso a esses cargos perma-
necem neles durante os prazos estipulados
por lei ou, no caso de serem substituídos, se
isso ocorre de acordo com as normas cons-
titucionais. Esse componente complementa
a visão do processo eleitoral ao introduzir
uma consideração acerca do que realmen-
te está em jogo nas eleições. Foi introduzido
porque sua violação determina que o regime
deixa de ser democrático, embora as eleições
em si mesmas tenham sido limpas.
Como se observa na tabela 6, nessa ques-
tão a situação atual da América Latina é
muito positiva. Estabeleceu-se como cri-
tério amplamente aceito que todos os car-
gos públicos principais (presidentes e par-
lamentares) sejam atribuídos por meio de
eleições e que os governantes eleitos perma-
neçam em seus cargos durante o período de
seus mandatos. A transferência do manda-
to presidencial tornou-se uma prática nor-
mal. Isso signifi ca um contraste com a situ-
ação da América Latina durante o período
1950-1980, e é um dos sinais mais claros dos
grandes avanços democráticos que transfor-
maram o marco político da região.
Existem, porém, duas exceções que me-
recem atenção. Uma delas pode ser obser-
vada no Chile, em virtude da criação dos
senadores designados, fato que limita a pos-
sibilidade de as preferências da maioria ci-
dadã se verem representadas no Parlamento.
A outra exceção, de maior relevância, refe-
re-se às tentativas de utilizar formas que não
seguem, rigorosamente, as regras constitu-
cionais, para afastar do poder os governan-
tes eleitos. São exemplos: em 1992, no Peru,
o fechamento do Parlamento pelo presiden-
te Fujimori; em 1993, na Guatemala, a ten-
tativa falida do presidente Serrano de imitar
Fujimori; em 1997, no Equador, a destitui-
ção do presidente Bucaram; em 1999, no Pa-
raguai, o assassinato do vice-presidente Ar-
gaña; em 2000, no Equador, o afastamento
do presidente Mahuad; em 2001, na Argen-
tina, a queda do presidente De la Rúa; e em
abril de 2002, na Venezuela, a crise suscita-
da pela tentativa de destituir o presidente
Chávez. Essas situações não resultaram em
clássicos golpes militares, como os que fre-
81
Bases empíricas do Relatório
qüentemente aconteceram com a ruptura de
regimes democráticos, em um passado não
muito distante da América Latina. Essas ten-
tativas encerram, no entanto, outra modali-
dade de interromper o exercício do poder.
Os casos de restrição ao princípio de
acesso democrático a cargos públicos não
são poucos. Entre 1990 e 2002, em seis dos
dezoito países considerados houve algum ti-
po de restrição de peso a esse princípio. A
tendência não é positiva, pois os casos passa-
ram de um, em 1990 para três, em 2002.
Argentina 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4- 4
Bolívia 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Brasil 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Chile 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3 3
Colômbia 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Costa Rica 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Equador 4 4 4 4 4 4 4 3+ 4 4 3 3 3
El Salvador 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Guatemala 4 4 4 3 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Honduras 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
México 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Nicarágua 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Panamá 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Paraguai 4 4 4 4 4 4 4 4 4 2+ 4 4 4
Peru 4 4 2 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Rep. Dominicana 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Uruguai 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4
Venezuela 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 4 3-
América Latina (*) 1 1 2 2 1 1 1 2 1 2 2 2 3
ELEIÇÕES COMO O MEIO DE ACESSO A CARGOS PÚBLICOS, 1990-2002
TABELA 6
Número de casos com restrições de alguma significação
País 1990 1991 1992 1993 1994 1995 1996 1997 1998 1999 2000 2001 2002
Notas: As eleições são consideradas o meio de acesso aos principais cargos públicos de um país, isto é, o Executivo e o
Legislativo nacional, se os que ganham as eleições assumem seus cargos públicos e permanecem nos cargos durante os
prazos estipulados pela lei. No caso de os ocupantes de cargos públicos serem substituídos, avalia-se a forma de remoção
do cargo e de seleção de substitutos.
Valores: 0 = nenhum dos cargos públicos principais é ocupado por meio de eleições, ou os que ocupam todos os principais
cargos políticos são removidos pela força por governantes inconstitucionais; 1 = somente alguns dos principais cargos
públicos são ocupados por ganhadores de eleições, ou a maioria dos ocupantes de cargos públicos são removidos de seus
cargos pela força e substituídos por governantes inconstitucionais; 2 =o presidente ou o Parlamento não são eleitos ou
são removidos do cargo pela força e substituídos por governantes inconstitucionais; 3 = o presidente ou o Parlamento são
eleitos, mas o presidente é removido do cargo e/ou substituído por meios inconstitucionais, ou um número signifi cativo
de parlamentares não são eleitos ou são removidos dos cargos pela força; 4 = todos os cargos políticos principais são
preenchidos por meio de eleições e nenhum dos ocupantes desses cargos políticos principais é removido do cargo a menos
que sua remoção e substituição esteja baseada em fundamentos constitucionais estritos.
Sinais de mais e menos são usados para indicar situações intermediárias.
(*) Os dados para a região abarcam o número total de eleições realizadas em um determinado ano com restrições signifi -
cativas, isto é, que não recebem uma pontuação de 4 ou 4-.
Fontes: Domínguez e Lowenthal 1996, Domínguez 1998, Diamond et al.1999, Walker e Armony 2000, Pérez-Liñán 2001 e
2003, e consulta com especialistas.
82
A democracia na América Latina
Outros indicadores do regime
democrático de acesso ao governo
Além dos aspectos do regime democráti-
co incluídos no IDE, existem outros indica-
dores relevantes.
Participação eleitoral
A participação cidadã no processo
eleitoral na América Latina, mesmo com
diferenças signifi cativas entre países, é
positiva (tabela 8). No nível regional, 89,3
por cento dos eleitores em potencial estão
inscritos nos registros eleitorais, 62,7 por
cento votam e 56,1 por cento emitem um
voto válido. Essas cifras indicam que é
possível ganhar eleições sem que o candidato
vencedor consiga o respaldo da maioria dos
cidadãos. Esses percentuais de participação
eleitoral estão abaixo dos da Europa
ocidental, mas estão acima dos percentuais
dos Estados Unidos. Os níveis latino-
americanos também mostram tendências
estáveis durante períodos prolongados.
Alguns países da América Latina têm
uma participação eleitoral muito baixa.
A porcentagem de eleitores na Venezuela
(45,7), em El Salvador (38,7), na Guatemala
(36,2) e na Colômbia (33,3) é baixa e é
motivo de preocupação. A participação nas
eleições da Bolívia, da República Dominicana
e do Paraguai, mesmo sendo maior, também
é baixa. Embora o absenteísmo não seja
um problema regional, certamente é um
problema em alguns países.
Concorrência eleitoral e seleção
de candidatos
Outros indicadores oferecem informação
mais detalhada sobre o processo de seleção
dos candidatos, uma questão que infl ui
na concorrência eleitoral. Trata-se de um
processo complexo, que gira em torno dos
partidos políticos que são, em toda a região,
o veículo privilegiado por meio do qual
os candidatos se apresentam para cargos
públicos. Em relação a esse tema, entre os
países latino-americanos existem diferenças
signifi cativas a respeito de três questões
importantes:
o monopólio dos partidos sobre as
candidaturas a cargos públicos e a possibi-
lidade de apresentação de candidatos inde-
pendentes;
os requisitos para a formação de parti-
dos nacionais;
a exigência legal de realizar eleições
internas nos partidos para a escolha de
candidatos.
Como se observa na tabela 9, um
primeiro grupo de países apresenta
frágeis barreiras para a entrada de novos
atores na concorrência eleitoral e certo
desenvolvimento de uma normativa e/ou
prática de democracia partidária interna.
São eles: Colômbia, Costa Rica, Honduras,
México, Paraguai, Uruguai e Venezuela.
Um grupo intermediário está formado por
Argentina, Brasil, Chile, Equador, Panamá
e República Dominicana, onde barreiras
de entrada mais altas coexistem com
alguns requisitos legais para a indicação de
candidatos ou com o pouco uso das primárias
para escolher os candidatos partidários.
Em um terceiro grupo de países, a seleção
de candidatos está altamente centralizada
nas mãos das elites partidárias: Bolívia, El
Salvador, Guatemala, Nicarágua e Peru.
Certamente, os temas de barreiras de en-
trada no processo eleitoral e de democracia
interna são complexos. Antes de apresentar
uma avaliação abrangente, é necessário ob-
ter mais informação do que a atualmente
disponível sobre candidaturas independen-
tes, formação de partidos e procedimen-
tos para eleger seus candidatos, condições
em que concorrem os pré-candidatos den-
tro dos partidos e formas de fi scalização das
eleições internas.
Um tema relevante que incide sobre
a concorrência eleitoral é a existência de
legislação que abra espaços políticos para
as mulheres mediante a reserva de cotas
nas listas partidárias para o Parlamento.
Na última década, muitos países da região
aprovaram esse tipo de legislação (tabela
10). De 1991 a 2003, doze dos dezoito países
da América Latina introduziram leis de cotas
que, em geral, requerem que entre 20 e 40
por cento de lugares nas listas parlamentares
partidárias sejam atribuídos a mulheres.
83
Bases empíricas do Relatório
Esse mecanismo é uma melhora importante,
pois expressa um reconhecimento formal da
necessidade de criar mais oportunidades para
a inclusão das mulheres. No entanto, esse é
apenas um passo inicial no tratamento das
múltiplas barreiras que ainda as impedem
de competir na política, em igualdade de
oportunidades.
Outra questão relevante que se refl ete
na concorrência eleitoral são as regras pa-
ra o fi nanciamento político. Esse tema tem
um impacto cada vez maior sobre a natu-
reza da competição eleitoral, porque defi ne
se as eleições são, além de livres, justas, com
igualdade de oportunidades para todos.
Os dados de fi nanciamento estatal
revelam uma situação muito variada (tabela
11). Para assegurar que o dinheiro não se
converta em um fator de desvirtuação do
processo eleitoral, alguns países recorrem
ao fi nanciamento público de parte da
campanha eleitoral, pagando por voto
emitido ou facilitando o acesso aos meios
de comunicação, substancialmente a TV. A
maioria dos países utiliza um sistema misto
de fi nanciamento, mas a tendência é no
sentido de maiores controles, sendo ainda
difícil sua instrumentação.
Representação eleitoral
É importante também observar as
características das pessoas e dos partidos
que têm acesso a cargos públicos eleitos. No
que diz respeito às mulheres, o número de
parlamentares aumentou (tabela 12). Em
pouco mais de uma década, as mulheres
aumentaram seu nível de representação,
de 8 para 15,5 por cento, ainda que com
variações consideráveis entre os países.
O número de indígenas nas câmaras
baixas ou únicas do Poder Legislativo,
durante o período 2001-2002, foi de 0,8 por
cento (1 sobre o total de 120) no Peru; 3,3
por cento (4 sobre 121) no Equador; 12,4 por
cento (14 sobre 113) na Guatemala; e 26,2 por
cento (34 sobre 130) na Bolívia.
57
Essas cifras
contrastam com as de 43, 34, 60 e 61 por
cento que representam aproximadamente
as populações indígenas nesses países,
respectivamente.
58
Por último, o número de afro-
descendentes na câmara baixa do Parla-
mento do Brasil foi de 0,8 por cento (4 sobre
o total de 479) entre 1983 e 1987; de 2,1
por cento (10 sobre 487) entre 1987 e 1991;
3,2 por cento (16 sobre 503) entre 1991 e
1995, e de 2,8 por cento (15 sobre o total de
513) entre 1995 e 1999,
59
enquanto os afro-
descendentes são aproximadamente 44 por
cento da população total do Brasil.
60
A representação pode ser examinada
também sob a perspectiva dos partidos
políticos, sobre os quais apresentamos
vários indicadores relevantes (ver tabela 13).
Uma medida simples é o percentual de votos
recebidos pelos partidos políticos que não
chegam a obter representação na câmara
baixa ou única do Parlamento. A média
regional de 4,3 por cento é relativamente
baixa e, em vários países – Honduras,
Uruguai, Paraguai e Brasil, o percentual de
votos válidos dos partidos sem representação
parlamentar é sumamente baixo. Já em
outros países – Costa Rica, Chile e Guatemala
– esse percentual é alto, oscilando entre 7,8 e
12,3 por cento. Da mesma forma, o índice de
desproporcionalidade – uma medida mais
complexa, que capta a relação entre votos
emitidos por partido e as cadeiras ocupadas
por esses partidos na câmara baixa ou
única do Parlamento – mostra um pano-
rama bastante positivo. A média regional
de 5,6 por cento é bastante moderada,
indicando que existe um grau considerável
de correspondência ou proporcionalidade
entre o número de votos e as cadeiras de
57 Estas cifras podem mudar mesmo dentro do período indicado, segundo o critério de apreciação dos observado-
res que forem consultados. Comunicação pessoal, Luis Enrique López Hurtado, 2002, e Simón Pachano, FLACSO-
Equador, 2003; e Estado Unidos, Departamento de Estado, 2001.
58 Estas cifras são uma média das estimativas mais altas e baixas que oferecem Mato Mar, 1993, pp. 232-233; e
Meentzen, 2002, p.12.
59 Johnson, 1998, pp. 103-105.
60 Torres, 2001, p. 94.
84
A democracia na América Latina
cada partido. Além disso, em vários países
– Uruguai, Honduras, Nicarágua e Colôm-
bia –, esse índice é particularmente baixo.
em outros países – Guatemala e Panamá –,
o percentual é bastante alto, oscilando entre
11,9 e 13,9 por cento.
Balanço do regime de acesso
democrático ao governo
De acordo com os componentes do IDE
observa-se que na América Latina:
O direito ao voto é reconhecido sem
restrições aos cidadãos residentes em cada
país.
A prática de eleições limpas foi esta-
belecida como padrão geral. É clara a ten-
dência no sentido de uma melhoria no com-
ponente de eleições livres. São isolados os
episódios de irregularidades, fraude eleito-
ral e intimidação a votantes.
Produziram-se notáveis avanços no
que diz respeito às eleições como o meio de
acesso a cargos públicos. O normal é que os
cargos principais da área executiva e legis-
lativa do Estado (em nível nacional) sejam
ocupados por meio de eleições, e que a su-
cessão entre governos obedeça a normas
constitucionais, mesmo nos casos de crises
políticas ou político-sociais que incluíram
casos de renúncia dos primeiros mandatá-
rios eleitos. No entanto, existem exceções a
essa situação, especialmente algumas tenta-
tivas de afastamento de governantes eleitos
por meios não constitucionais.
Entre os aspectos do regime democrático
não incluídos no IDE observamos que:
O nível de participação dos cidadãos
em processos eleitorais é moderadamente
alto na região, embora em alguns países se
detecte uma tendência no sentido de uma
menor participação eleitoral.
Não existem tendências marcantes
quanto às barreiras para entrar na compe-
tição eleitoral, nem sobre a participação dos
cidadãos na seleção dos candidatos. Entre-
tanto, em vários países, as elites partidárias
centralizam as decisões sobre a indicação de
candidatos.
Existe uma tendência a introduzir nor-
mas legais tendentes a criar maiores oportu-
nidades de inclusão cidadã. Esse é o caso de
leis promulgadas na maioria dos países lati-
no-americanos, que estabelecem um núme-
ro mínimo para a representação feminina
nas listas parlamentares.
Entre o fi m da década de oitenta e ho-
je, as mulheres aumentaram seu nível de re-
presentação nos Parlamentos da América
Latina, mas o nível atual ainda é muito infe-
rior ao peso demográfi co feminino. As defi -
ciências são ainda mais signifi cativas na re-
presentação parlamentar dos indígenas e
afro-descendentes.
Os sistemas eleitorais possibilitam um
grau considerável de proporcionalidade en-
tre a força eleitoral e a representação parla-
mentar dos partidos políticos.
Poucos países aprovaram uma legisla-
ção sobre fi nanciamento de partidos políti-
cos e campanhas eleitorais que contemple
um fácil acesso a fundos públicos e uma re-
gulação efi caz do dinheiro na política.
Outras dimensões da Cidadania Política
A cidadania política não apenas está
relacionada com o vínculo entre eleitores
e os que tomam as decisões públicas, mas
também com a orientação dos que tomam
essas decisões – eleitos ou não: para o bem
público ou para fi ns privados. Por isso, um
aspecto importante a considerar é o do
controle da gestão de funcionários públicos
e sua obrigação de prestar contas na forma
e prazo devidos. Nesta parte analisamos,
em primeiro lugar, os poderes constitucio-
nais clássicos (Executivo, Legislativo e
Judiciário), em seguida os organismos
públicos especializados no controle
horizontal das atividades do Estado e, por
último, alguns mecanismos de democracia
direta que podem oferecer oportunidades
de participação cidadã no controle e na
formulação de políticas.
Poderes constitucionais clássicos
Um primeiro aspecto do tema do con-
trole da política é a relação entre os poderes
85
Bases empíricas do Relatório
quadro 21
A petição cidadã perante as instituições públicas
Embora uma petição cidadã seja negada, o
tratamento dispensado pelos funcionários
públicos deve cumprir duas condições:
respeitar os direitos e a dignidade das
pessoas e amparar suas resoluções dentro
de um mandado legal aprovado mediante
normas democráticas. O contrário é o maltrato
ao cidadão. Uma proporção dos casos de
maltrato pode estar relacionada com razões
contingentes, mas elas difi cilmente explicam
a existência de padrões de maltrato nas
interações entre cidadãos e Estado. Por isso,
o Relatório explora se existem padrões de
maltrato para indagar se isso obedece a
uma razão mais estrutural: a persistência
de modalidades pouco democráticas na
organização e no funcionamento de um Estado.
Uma primeira constatação do Relatório é
que, em 2002, uma proporção minoritária de
pessoas declarou ter entrado em contato com
uma instituição pública para realizar algum
tipo de trâmite (39,9%). Dentre elas, uma alta
porcentagem declarou ter recebido algum
tipo de maltrato por parte dos funcionários
públicos (78%). Na maioria dos casos, tratou-se
de experiências de maltrato leves (espera em
longas fi las, trâmites desnecessários, negação
de informação ou problemas para obtê-la).
Nessas experiências podem existir fatores como
a falta de instalações adequadas e a saturação
dos serviços.
Um assunto preocupante é a quantidade de
relatos de experiências de maltrato “duro”:
uma de cada quatro pessoas que interagiram
com as instituições públicas declarou ter
sido humilhada, ter recebido tratamento
desrespeitoso ou que lhe solicitaram uma
gorjeta ou propina (22,3%). Nesses casos, o
direito ao tratamento eqüitativo e o respeito
à dignidade pessoal foram, aos olhos dos
entrevistados, vulnerados pelos funcionários
públicos que os atenderam.
EXPERIÊNCIAS NO TRATAMENTO DADO A PESSOAS QUE PROCURARAM
UMA ENTIDADE PÚBLICA NOS ÚLTIMOS 12 MESES, 2002
Situação Experiência no tratamento (1)
Porcentagem
do total
Porcentagem
dos que
procuraram
Procuraram Más experiências graves e leves 6,1 15,4
Más experiências graves 2,8 6,9
Más experiências leves 22,2 55,7
Sem más experiências (2) 8,8 22,0
Total 39,9 100,0
Não Procuraram 60,1
Total 100,0
TABELA 7
A coluna “porcentagem do total” está baseada nas 19.536 entrevistados que indicaram ter procurado ou não ter procura-
do uma instituição pública nos últimos doze meses. Na coluna “Porcentagem dos que procuraram” se baseia unicamente
nos 7.790 entrevistados que declararam ter procurado nos últimos 12 meses uma instituição pública e portanto são quem
tem experiência no trato recebido.
(1) Más experiências leves: longas fi las, trâmites desnecessários, demora na obtenção da informação ou negaram infor-
mação. Más experiências graves: pedido de gratifi cação, sentiu-se humilhado ou foram descorteses ou falta de respeito
no tratamento.
(2)Entende-se que não tiveram más experiências se, em p12u responderam que tinham procurado uma instituição pública
e em p13u não respondem. Isto é porque a pergunta p13u somente apresenta alternativas negativas.
Fonte: Processamento da pergunta p13u, da Seção Proprietária do PNUD no Latinobarômetro 2002.
86
A democracia na América Latina
constitucionais clássicos. O controle da po-
lítica é mais efi caz quando existe uma ver-
dadeira divisão de poderes, cada um deles
legalmente dotado de faculdades para con-
trolar e sancionar a conduta dos outros.
A relação entre os poderes Executivo e
Legislativo é, talvez, a peça mais importan-
te da relação entre os poderes do Estado. Isso
é particularmente certo na América Latina
devido a sua tradição de presidencialismo,
autoritário ou não, e a sua tendência a im-
por-se sobre o Congresso.
Registramos que os poderes formais dos
presidentes latino-americanos continuam
sendo relativamente altos comparados com
o sistema presidencialista clássico, o dos Es-
tados Unidos (tabela 14).
Outro aspecto-chave é o poder da área
judiciária do governo e seu grau de inde-
pendência em relação aos outros poderes.
Muitos países latino-americanos realizaram
reformas constitucionais e legais dirigidas a
fortalecer a independência do Poder Judici-
ário (tabela 15). Apesar dessas reformas, em
vários países, o Executivo ainda possui im-
portantes poderes no processo de indicação
dos magistrados da Corte Suprema. No en-
tanto, o critério cada vez mais generalizado
é que os magistrados devem ser identifi ca-
dos inicialmente por Conselhos da Judica-
tura, ou Magistratura, um mecanismo que
tem o potencial – na verdade ainda não to-
talmente demonstrado – de reduzir a poli-
tização do processo de seleção e de aumen-
tar o profi ssionalismo e independência desse
poder. Em quase todos os países existe outro
órgão, geralmente no âmbito do Congres-
so, encarregado de selecionar os candidatos
dentre uma relação de indicados e de ratifi -
car essas indicações por maioria simples ou
qualifi cada.
Em resumo, os indicadores da tabela
14 sugerem que, pelo menos formalmen-
te, a área judiciária do Estado conta com
um grau considerável de poder e indepen-
dência em suas funções. Entretanto, a infor-
mação disponível não nos permite chegar a
um conceito preciso sobre a independên-
cia real dos poderes judiciários na América
Latina, pois esses indicadores captam ape-
nas aspectos formais e, freqüentemente, ig-
noram algumas realidades. Ainda não exis-
te uma boa medida, amplamente aceita, em
relação ao grau de independência do Poder
Judiciário. De acordo com diversas pesqui-
sas de opinião e opiniões de especialistas, al-
guns avanços notáveis foram alcançados em
matéria de independência do Poder Judiciá-
rio, mas ainda subsistem graves problemas
na América Latina.
61
Outro tema que deverá merecer conside-
ração, quando houver informação adequa-
da, refere-se à forma em que, ao menos em
alguns países, o Poder Judiciário utiliza sua
crescente independência. Essa independên-
cia, por si mesma, não previne (e, em várias
hipóteses, pode facilitar) tentações corpora-
tivas de interesse setorial e até a corrupção
desse poder. Esperamos que os enormes es-
forços e as volumosas quantias de ajuda in-
ternacional destinada à reforma do Poder Ju-
diciário considerem nossa preocupação com
mais cuidado do que o até agora dispensa-
do. A independência, o crescente profi ssio-
nalismo e um adequado poder dessa área do
Estado adquirem pleno sentido quando co-
laboram generosamente na instauração, não
de um estado de direito, mas sim de um es-
tado democrático de direito.
Agências especializadas de controle
Outras entidades estatais que contri-
buem para o controle político são aquelas
especializadas no controle horizontal das
atividades do Estado.
62
Esses organismos
se distinguem dos poderes constitucionais
clássicos por suas funções mais delimitadas
e específi cas (tabela 16).
Existem os organismos encarregados do
controle da receita pública, isto é, de que
os fundos públicos sejam empregados de
acordo com as normas e os procedimentos
legais: controladorias gerais, auditorias e
tribunais de contas. To dos os países latino-
61 Jarquín e Carrillo, 1998; Domingo, 1999; Prillaman, 2000; Popkin, 2001; e Hammergren, 2002.
62 Peruzzotti e Smulovitz, 2002a.
87
Bases empíricas do Relatório
americanos contam com instituições que
desempenham essas funções. No entanto,
existem importantes diferenças quanto à
independência entre esses organismos e o
Poder Executivo (o poder de Estado que é
objeto principal de seu controle) e ao peso
real da fi scalização. Na maioria dos países
da região, as máximas autoridades das
controladorias são designadas pelo Poder
Legislativo, com condições específi cas, tais
como: votação qualifi cada, recomendação
prévia da Corte Suprema e, em certos
casos, recomendação de organismos não
governamentais. Em três países – Bolívia,
Chile e Equador –, o Poder Executivo no-
meia diretamente essas autoridades. Em
doze dos dezoito países estudados, os
poderes das controladorias são poucos ou
fracos, suas resoluções não são vinculatórias
ou, se são, não possuem potestade legal para
forçar seu cumprimento.
Outros organismos são as promotorias,
procuradorias ou ministérios públicos , que se
dedicam à representação legal do Estado e, em
vários países, se encarregam da ação penal pú-
blica. Sobre eles, conta-se com menos infor-
mação. Todos os países têm controladorias,
mas nem todos têm promotorias. O Poder
Executivo intervém tanto na designação como
na remoção de seu principal responsável.
Por último, desde 1990 foram criadas de-
fensorias do povo em quase toda a região,
com exceção do Brasil, Chile e Uruguai. Es-
ses novos órgãos de controle distinguem-se
dos descritos acima por receberem denún-
cias cidadãs que potencialmente operam
não apenas como agentes de controle ho-
rizontal como também de controle vertical.
Em geral, a designação e remoção de seus
responsáveis correspondem ao Poder Legis-
lativo. A consolidação e o resultado das de-
fensorias do povo na América Latina variam
segundo o país.
63
A existência desses órgãos expressa uma
tendência positiva. Suas tarefas incluem,
formalmente, o controle e, em alguns casos,
a sanção de funcionários públicos. Oferecem
aos poderes constitucionais clássicos, canais
adicionais para o controle da gestão política,
muito embora em alguns países careçam
dos recursos necessários para cumprir suas
funções adequadamente e/ou suas atividades
sejam, na prática, controladas pelo Poder
Executivo. É por isso que a existência desses
órgãos, por si só, não pode ser interpretada
necessariamente como evidência de maior
controle real da gestão pública.
Mecanismos de democracia direta
Os mecanismos de democracia direta
oferecem aos cidadãos, oportunidades pa-
ra contribuir com a fi scalização e gestão dos
assuntos políticos.
64
Podem ser classifi cados
em dois tipos. O primeiro compreende pro-
cessos ativados de cima isto é, por agentes
do Estado, tais como os plebiscitos vincu-
latórios e não vinculatórios. O segundo ti-
po inclui processos ativados de baixo, pe-
63 Uggla, 2003.
64 Como indicamos, os cidadãos também podem contribuir indiretamente para o controle político, por exemplo,
quando apresentam denúncias sobre a conduta de agentes estatais e ativam, dessa forma, investigações por parte
dos respectivos organismos.
quadro 22
Experiências de participação
em governos locais
Durante a década de 90, houve um processo de descentralização que
abriu novos canais para a participação cidadã. Alguns dos exemplos
mais notáveis são as experiências de participação popular da Bolívia,
de orçamento participativo em Porto Alegre e Villa El Salvador, e de
promoção da cultura cívica em Bogotá. Essas experiências têm elementos
comuns e resultam de movimentos sociais fortes. Têm como objetivo a
melhoria da qualidade de vida, das capacidades e da autonomia de seus
participantes. E, embora se desenvolvam em um contexto de cultura
patrimonialista, representam uma clara ruptura com os mecanismos de
distribuição populista, uma prática comum na América Latina, que leva à
cooptação política. Como parte de um projeto, do Programa das Nações
Unidas para o Desenvolvimento (PNUD), orientado para a promoção
de uma agenda de governabilidade local na América Latina, foram
identifi cadas e documentadas muitas dessas experiências de sucesso de
participação em governos locais, que podem ser consultadas na Internet
em: www.logos.undp.org.
88
A democracia na América Latina
los próprios cidadãos, tais como iniciativas
vinculatórias e não vinculatórias, referendos
e petições de revogação de mandato.
Quanto à existência legal e ao uso desses
mecanismos, os dados permitem distinguir
três grupos de países (ver tabelas 17 e 18):
Aqueles em que os mecanismos de de-
mocracia direta simplesmente não existem,
como Bolívia, Honduras, México e Repúbli-
ca Dominicana.
Aqueles em que existem alguns desses
mecanismos, mas até agora não foram em-
pregados, como Chile, Costa Rica, El Salva-
dor, Nicarágua e Paraguai.
Países em que esses mecanismos são
reconhecidos legalmente e onde se registram
experiências de uso. Aqui encontramos nove
casos, na maioria dos quais – Brasil, Equador,
Guatemala, Panamá, Peru e Venezuela – só
foram utilizados mecanismos de democracia
direta “de cima.
A corrupção na função pública
Um tema-chave é o controle da corrup-
ção na função pública. A pouca informa-
ção disponível torna difícil saber sua dimen-
são real, mas mostra certa evidência sobre
a gravidade do problema. Existem disponí-
veis duas fontes de informação complemen-
tares sobre as percepções do nível de corrup-
ção (tabela 19).
A persistência e a extensão da corrupção
no exercício da função pública encontram
um terreno fértil quando os cidadãos se re-
signam a ela ou ajudam a praticá-la. Uma
grande rejeição cidadã às práticas corrup-
tas é uma valiosa ferramenta de fi scalização
e favorece o funcionamento de mecanismos
efi cazes de prevenção, controle e sanção.
Nos dezoito países latino-americanos
considerados, 41,9 por cento dos consulta-
dos estão de acordo em pagar o preço de cer-
to grau de corrupção contanto que “as coisas
funcionem (tabela 20).
Uma análise do per l social e político
das pessoas que toleram a corrupção indica
que, para a América Latina em seu conjun-
to, esta atitude pode ser encontrada de ma-
neira similar em todos os estratos sociais e
demográ cos.
Clientelismo
O clientelismo gera privilégios e envolve
uma utilização discricionária dos recursos
públicos. Na pesquisa Latinobarômetro
2002, indagou-se aos consultados se
conheciam casos de pessoas que tivessem
recebido privilégios por serem simpatizantes
do partido do governo. 31,4 por cento
declararam conhecer um ou mais casos de
clientelismo (tabela 21).
Conclusões sobre a cidadania
política: conquistas e defi ciências
A informação que apresentamos so-
bre cidadania política, independentemen-
te dos processos eleitorais, indica que foram
obtidas algumas conquistas signifi cativas na
América Latina.
As bases institucionais da indepen-
dência e profi ssionalização do Poder Judici-
ário se fortaleceram por meio de uma série
de reformas recentes. No entanto, ainda não
se sabe qual será a contribuição que elas da-
rão para a plena instauração de um estado
democrático de direito.
Os organismos especializados no con-
trole da gestão dos funcionários públicos,
eleitos ou não – alguns deles criados na úl-
tima década –, oferecem novos canais pa-
ra exercer esse controle que complementa
a função controladora que deve ser exercida
pelos poderes constitucionais clássicos. En-
tretanto, ainda existem defi ciências que con-
dicionam algumas das conquistas obtidas.
Em particular, observam-se difi culdades de
diversos desses organismos para exercer o
controle na prática e, para coibir abusos co-
metidos por outras entidades do Estado.
O uso de mecanismos de democracia
direta ainda é limitado.
Mesmo quando existem alguns meca-
nismos de controle, a informação de que se
dispõe sugere que ainda se observam prá-
ticas de corrupção e clientelismo na gestão
dos assuntos públicos.
89
Bases empíricas do Relatório
Argentina Sim Automático 98,3 78,0 70,9
Bolívia Sim Não automático 76,8 55,2 51,8
Brasil Sim Não automático 92,4 75,9 54,6
Chile Sim Não automático 83,6 74,4 66,6
Colômbia Não Automático 78,2 33,3 30,0
Costa Rica Sim Automático 90,9 68,8 66,5
Equador Sim Automático 98,1 65,8 52,5
El Salvador Sim Não automático 88,3 38,7 36,6
Guatemala Sim Não automático 78,0 36,2 31,5
Honduras Sim Automático 101,2(*) 68,3 63,7
México Sim Não automático 90,2 59,3 57,3
Nicarágua Não Não automático 95,8 77,9 73,7
Panamá Sim Automático 98,0 72,3 68,2
Paraguai Sim Não automático 72,7 53,9 51,9
Peru Sim Não automático 87,0 66,6 49,2
Rep. Dominicana Sim Não automático 85,1 53,6 55,2
Uruguai Sim Não automático 103,8(*) 94,8 91,6
Venezuela Não Automático 80,9 45,7 35,6
América Latina (**) 89,3 62,7 56,1
Europa Ocidental 96,2 73,6
Estados Unidos 69,5 43,3
A PARTICIPAÇÃO ELEITORAL, 1990-2002
TABELA 8
Notas:
(*) Os números sobre eleitores registrados que excedem 100 por cento indicam que o número de pessoas nos padrões eleitorais é maior do que o número de
pessoas com direito a voto. Essa situação geralmente ocorre quando os padrões eleitorais não foram depurados adequadamente.
(**) Os dados para a região são a média de todos os países.
Fontes: Baeza 1998, EPIC 2002; Gratschew 2001 e 2002; International IDEA 2002b, León-Rosch 1998, Reyes 1998, várias Constituições nacionais, e cálculos
sobre a base de dados no CD-ROM em Payne et al.2002, e dados sobre as eleições de 2001 e 2002 obtidos de fontes ofi ciais.
Referentes extra-regionais
País Deveres cidadãos Participação cidadã (porcentagens)
Voto
obrigatório
(2002)
Procedimentos
para o registro
de eleitores
(2000)
Eleitores
registrados (referente
à população com
direito a voto)
(média 1990-2002)
Votantes
(referente à população
com direito
a voto)
(média 1990-2002)
Votos válidos
(referente à população
com direito
a voto)
(média 1990-2002)
90
A democracia na América Latina
Argentina 1990-01 Medianamente restritivo 1990-01 Pelo menos um
Bolívia 1990-01 Medianamente restritivo 1990-99 Nenhum
1999-2001 (3)
Brasil 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Nenhum
Chile 1990-01 Medianamente restritivo 1990-2001 Pelo menos um
Colômbia 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Pelo menos um
Costa Rica 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Todos
Equador 1990-95 Medianamente restritivo 1990-2001 Nenhum
1995-01
El Salvador 1990-01 Muito restritivo 1990-2001 Pelo menos um
Guatemala 1990-01 Medianamente restritivo 1990-2001 Nenhum
Honduras 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Todos
México 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Todos
Nicarágua 1990-01 Muito restritivo 1990-2001 Pelo menos um
Panamá 1990-01 Muito restritivo 1990-2001 Todos
Paraguai 1990-01 Pouco restritivo 1990-2001 Todos
Peru 1990-01 Medianamente restritivo 1990-2001 Nenhum
Rep. Dominicana 1990-01(1) Medianamente restritivo 1990-2001 Todos
Uruguai 1990-01 Pouco restritivo 1990-1997 Todos
1997-2001
Venezuela 1990-01 Pouco restritivo 1990-1999 Nenhum
1999-2001
OS PARTIDOS POLÍTICOS E A DEMOCRACIA INTERNA, 1990-2001*
TABELA 9
Notas:
(*) Reformas relevantes introduzidas desde o fi nal de 2001 incluem: na Argentina a Lei Nº 25.611, de junho de 2002, e no Peru a Lei de Partidos Políticos de
novembro de 2003.
(1) Embora a legislação na República Dominicana permita a postulação de candidatos independentes, os requisitos para postular-se como candidato indepen-
dente são similares aos que devem ser seguidos para formar um partido político.
(2) Em “requisitos legais para a indicação de candidatos presidenciais ”, considera-se se a Constituição ou as leis eleitorais requererem que os candidatos
sejam indicados por meio de uma primária ou uma convenção.
(3) A Lei de Reforma dos Partidos Políticos de junho de 1999 na Bolívia ainda não foi aplicada na prática.
(4) Defi ne-se “primárias ”como um processo no qual os candidatos a presidente são eleitos de uma maneira livre e direta, por meio de um voto secreto, seja
pelos membros de um partido ou pelos cidadãos registrados para votar em eleições nacionais.
Fontes: Alcántara Sáez 2002, pp.20-34; Payne et al.2002, pp.156-166;Constituições nacionais e legislação sobre os partidos políticos, e consultas a especia-
listas associados – atualmente ou no passado – aos tribunais eleitorais em cada país.
País
Monopólio dos
partidos sobre as
candidaturas
Permite-se a
postulação de
candidatos
independentes
Controle dos partidos
sobre a seleção de
candidatos, 1990-2001
Restrições para a
formação dos
partidos nacionais, 2002
Requisitos legais para a
indicação de candidatos
presidenciais, 1990-2001 (2)
Uso de primárias
para a indicação
de candidatos
presidenciais dos
principais partidos,
eleição de 2001
ou imediatamente
anterior(4)
Nenhum Alguns
91
Bases empíricas do Relatório
Argentina 30 30 1991
Bolívia 30 25 1997
Brasil 30 0 1997
Chile 0 0 -
Colômbia 0 0 -
Costa Rica 40 - 1996
Equador 20 - 1997
El Salvador 0 - -
Guatemala 0 - -
Honduras 30 - 2000
México 30 30 2002
Nicarágua 0 - -
Panamá 30 - 1997
Paraguai 20 20 1996
Peru 30 - 1997
Rep. Dominicana 25 - 1997
Uruguai 0 0 -
Venezuela 0 - -
COTAS PARA CANDIDATAS A CARGOS
TABELA 10
País
PARLAMENTARES, 2003
Câmara baixa
ou única
Senado
Ano
adotado
Notas: Os números são as porcentagens das listas parlamentares que cada partido deve destinar às mulheres. A informa-
ção inclui somente as cotas mencionadas na legislação sobre partidos políticos e parlamentos, e exclui cotas adotadas nos
regulamentos internos dos partidos. O sinal menos indica que a informação não se aplica.
Fontes: CEPAL 1999, p.69; Méndez-Montalvo e Ballington 2002, OEA-Comissão Interamericana de Mulheres 2002, e Inter-
nacional IDEA 2003.
92
A democracia na América Latina
Argentina Sim, patamar baixo Sim Sim Sim Medianamente fortes Sim Limitado
Bolívia Sim, patamar alto Sim Sim Sim Medianamente fortes Sim Limitado
Brasil Sim, patamar baixo Sim Sim Sim Fortes Sim Proibido
Chile Sim, patamar baixo Sim Sim Sim Medianamente fortes Sim Proibido
Colômbia Sim, patamar alto Não Sim Não Medianamente fortes Sim Limitado
Costa Rica Sim, patamar alto Sim Sim Não Fracas Não Limitado
Equador Sim, patamar baixo Não Sim Sim Muito fracos Não Ilimitado
El Salvador Sim, patamar baixo Não Não Não Não Não Ilimitado
Guatemala Sim, patamar alto Não Não Não Não Sim Ilimitado
Honduras Sim, patamar baixo Não Sim Sim Não Não Limitado
México Sim, patamar baixo Sim Sim Sim Muito fracos Sim Limitado
Nicarágua Sim, patamar alto Não Sim Não Fracas Sim Limitado
Panamá Sim, patamar baixo Não Não Não Não Sim Ilimitado
Paraguai Sim, patamar baixo Sim Sim Sim Muito fracos Sim Limitado
Peru Sim, patamar baixo Sim Não Não Fracos Sim Limitado
Rep. Dominicana Sim, patamar baixo Não Não Sim Não Não Ilimitado
Uruguai (*) Sim, patamar baixo Não Não Não Não Sim Ilimitado
Venezuela Não Sim Sim Sim Não Não Limitado
FINANCIAMENTO DE PARTIDOS E CAMPANHAS ELEITORAIS, 2003
TABELA 11
Notas: A expressão “fi nanciamento público direto ”refere-se à provisão direta de recursos fi nanceiros aos partidos e se contrasta usualmente com as formas
indiretas de fi nanciamento, como a provisão de serviços e benefícios tributários.
(*) No Uruguai há fi nanciamento público desde 1928 por meio de leis ad hoc votadas antes de cada eleição.
Fontes:Del Castillo e Zovatto 1998; Payne et al.2002, pp.169-172; Pinto-Duschinsky 2002a, pp.76-77, e 2002b;Ward 2002; Zovatto 2003; consulta a especialis-
tas associados –atualmente ou no passado – aos tribunais eleitorais em cada país, e a várias Constituições e leis eleitorais nacionais.
País
Financiamento
público direto
Limites
sobre
doações
particulares
aos partidos
Limites
sobre
doações
por
contratados
do Estado
aos partidos
Acesso à televisão
Limites
sobre
doações
anônimas
aos partidos
Leis sobre divulgação pública
A
cesso à
televisão gratuita
Gasto de partidos
destinado à
televisão privada
Acesso a fontes privadas
93
Bases empíricas do Relatório
Argentina 1989 6,3 1995 21,8 2003 34,1
Bolívia 1989 9,2 1997 11,5 2002 18,5
Brasil 1986 5,3 1994 7,0 2002 8,6
Chile 1989 5,8 1997 10,8 2001 12,5
Colômbia 1986 4,5 1994 10,8 2002 12,0
Costa Rica 1986 10,5 1994 14,0 2002 35,1
Equador 1988 4,5 1994 4,5 2002 16,0
El Salvador 1988 11,7 1994 10,7 2003 10,7
Guatemala 1985 7,0 1994 7,5 2003 8,2
Honduras 1989 10,2 1997 9,4 2001 5,5
México 1988 12,0 1994 14,2 2003 22,6
Nicarágua 1984 14,8 1996 9,7 2001 20,7
Panamá 1989 7,5 1994 8,3 1999 9,9
Paraguai 1989 5,6 1993 2,5 2003 8,8
Peru 1985 5,6 1995 10,0 2001 17,5
Rep. Dominicana 1986 7,5 1994 11,7 2002 17,3
Uruguai 1989 6,1 1994 7,1 1999 12,1
Venezuela 1988 10,0 1993 5,9 2000 9,7
América Latina (*) 8,0 9,9 15,4
CADEIRAS NO CONGRESSO GANHAS POR MULHERES, 1990-2003
TABELA 12
Notas: Os números são porcentagens de cadeiras obtidas por mulheres na Câmara baixa ou única do Parlamento. Os dados correspondem ao resultado da
eleição do ano mencionado e podem variar entre eleições.
(*) Os dados para a região são a média de todos os países.
Fonte: IPU 1995, 2003.
País
Ano % mulheres Ano % mulheres Ano %mulheres
Fim da década de 80 Meados da década 90 Última eleição
94
A democracia na América Latina
Argentina 3,8 6,7
Bolívia 4,2 5,0
Brasil 1,4 3,8
Chile 8,9 7,2
Colômbia 4,8 3,0
Costa Rica 7,8 5,0
Equador 4,2 5,9
El Salvador 2,2 4,7
Guatemala 12,3 11,9
Honduras 0,4 2,5
México 3,7 5,7
Nicarágua 2,4 2,7
Panamá 4,9 13,9
Paraguai 0,7 6,1
Peru 3,5 5,2
Rep. Dominicana 5,4 6,3
Uruguai 0,5 0,6
Venezuela 6,2 5,3
América Latina (*) 4,3 5,6
Notas: A expressão “porcentagens de votos ganhos por partidos sem representação parlamentar ”refere-se aos votos
emitidos em eleições para a Câmara baixa ou única. A expressão “desproporcionalidade eleitoral ” refere-se à diferença
entre a quantidade de cadeiras e votos obtidos por partido. O índice de desproporcionalidade eleitoral refere-se à Câmara
baixa ou única, e é o resultado do método de mínimos quadrados, que se calcula mediante a somatória das diferenças
entre os votos e as cadeiras obtidas por cada partido, elevadas ao quadrado, e o total dividido por dois. Finalmente, ex-
trai-se a raiz quadrada desse resultado. Uma qualifi cação baixa indica que o número de cadeiras que os partidos obtêm
é bastante proporcional ao número de votos recebidos, enquanto que uma qualifi cação alta indica que a relação entre
cadeiras e votos é desproporcional.
(*) Os dados para a região são a média de todos os países.
Fontes: Cálculos sobre a base de dados no CD-ROM em Payne et al.2002, e dados sobre as eleições de 2001 e 2002 obtidos
de fontes ofi ciais.
País
Porcentagem de votos ganhos
por partidos sem
representação parlamentar
(média 1990-2002)
PROPORCIONALIDADE NA REPRESENTAÇÃO
TABELA 13
VIA PARTIDOS POLÍTICOS, 1990-2002
Índice de desproporcionalidade
eleitoral
(média 1990-2002)
95
Bases empíricas do Relatório
Argentina 0,38 Médio baixo (*) 0,44 Médio alto (*) 0,41 Médio alto (*)
Bolívia 0,50 Médio alto 0,23 Médio baixo 0,37 Médio baixo
Brasil 0,50 Médio alto 0,62 Muito alto 0,56 Muito alto
Chile 0,50 Médio alto 0,66 Muito alto 0,58 Muito alto
Colômbia 0,00 Muito baixo 0,59 Muito alto 0,29 Muito baixo
Costa Rica 0,50 Médio alto 0,23 Médio baixo 0,36 Médio baixo
Equador 0,50 Médio alto 0,59 Muito alto 0,55 Muito alto
El Salvador 0,50 Médio alto 0,33 Médio baixo 0,42 Médio alto
Guatemala 0,25 Médio baixo 0,29 Médio baixo 0,27 Muito baixo
Honduras 0,50 Médio alto 0,25 Médio baixo 0,38 Médio baixo
México 0,50 Médio alto 0,24 Médio baixo 0,37 Médio alto
Nicarágua 0,50 Médio alto 0,25 Médio baixo 0,38 Médio baixo
Panamá 0,50 Médio alto 0,43 Médio alto 0,46 Médio alto
Paraguai 0,50 Médio alto 0,19 Muito baixo 0,34 Médio baixo
Peru 0,13 Muito baixo 0,50 Médio alto 0,31 Médio baixo
República Dominicana 0,50 Médio alto 0,37 Médio baixo 0,44 Médio alto
Uruguai 0,38 Médio baixo 0,38 Médio 0,38 Médio baixo
Venezuela 0,19 Muito baixo 0,30 Médio baixo 0,25 Muito baixo
América Latina 0,41 0,38 0,40
Referente extra-regional
Estados Unidos 0,48 Médio alto 0,15 Muito baixo 0,31 Médio baixo
PODERES FORMAIS PRESIDENCIAIS, 2002
TABELA 14
Notas:
(1) Esta medida é a média entre as pontuações atribuídas segundo a capacidade de censura legislativa sobre o gabinete e a capacidade de dissolução do Con-
gresso por parte do Poder Executivo. As escalas foram padronizadas entre 0 e 1 para possibilitar sua comparação.
(2) Média ponderada dos poderes legislativos do presidente.
(3) O índice geral dos poderes presidenciais formais é uma média dos poderes presidenciais não-legislativos e legislativos.
(*) O nível desses poderes é considerado sob uma perspectiva regional comparada. Um nível “muito alto ”em qualquer uma das dimensões dos poderes sig-
nifi ca que esse país está acima do desvio padrão da média regional. “Médio alto” signifi ca que sua qualifi cação [score] cai entre a média regional e o desvio
padrão positivo. O mesmo método é utilizado para qualifi car os níveis “médio baixo ”e “muito baixo ”.
Fontes: Shugart e Carey 1992, Mainwaring e Shugart 1997, Carey e Shugart 1998, Samuels 2000; Altman 2001 e 2002; Payne et al.2002, e Universidade de
Georgetown e OEA 2002.
País Poderes não legislativos (1) Poderes legislativos (2) presidenciais formais (3)
Índice de poderes
96
A democracia na América Latina
Argentina Constituição 1853, reforma Executivo indica candidatos (*) Senado nomeia (2/3 de votos) Vitalício (aposentadoria Corte Suprema
de 1994 obrigatória aos 75 anos)
Bolívia Constituição 1967, reforma Conselho Judicial apresenta Congresso em pleno seleciona 10 anos, reeleição alterna Tribunal Constitucional
de 1994 Terna” (listado de 3 pessoas) da lista e nomeia depois de um período
(2/3 de votos)
Brasil Constituição 1988, reforma Executivo indica candidatos Senado nomeia (maioria Vitalício (aposentadoria Tribunal Supremo Federal
de 1998 absoluta) obrigatória aos 70 anos)
Chile Constituição 1980, reforma Co
rte Suprema apresenta
Presidente seleciona da lista Vitalício (aposentadoria Tribunal Constitucional
de 1997
“Quinária” (listado de 5 pessoas)
e Senado nomeia (2/3 votos) obrigatória aos 75 anos)
Colômbia Constituição 1991, reforma Consel
ho Superior da
Corte Suprema seleciona da 8 anos, sem reeleição Corte Constitucional
de 1997
Judicatur
a apresenta lista lista e nomeia (maioria
absoluta)
Costa Rica Constituição 1949, reforma Congresso identifi ca Congresso seleciona da lista 8 anos, reeleição permitida Sala especializada de
de 1954 e 1993 candidatos e nomeia Corte Suprema
Equador Constituição 1978, reforma Corte Suprema indica Corte Suprema nomeia Vitalício Tribunal Constitucional
de 1986, 1993, 1996 e 1997 candidatos (2/3 de votos)
El Salvador Constituição 1983, reforma Conselho Nacional Judicial e as Congresso seleciona da lista 9 anos, reeleição sucessiva Sala especializada de Corte
de 1996 Associações de Advogados de e nomeia (2/3 de votos) Suprema
El Salvador, apresentan lista
Guatemala Constituição 1985, reforma Comissão de postulação, de Congresso seleciona da lista 5 anos, reeleição permitida Corte Constitucional
de 1994 composição governamental e nomeia (2/3 de votos)
e não governamental,
apresenta lista
Honduras Constituição 1982, reforma Junta Nomeadora, com Congresso seleciona da lista 7 anos, reeleição sucessiva Sala Constitucional
de 2000 presença não governamental, e nomeia (2/3 de votos)
apresenta lista
México Constituição 1917, reforma Executivo apresenta lista Senado seleciona da 15 anos, sem reeleição Corte Suprema
de 1992, 1993 e 1994 lista e nomeia (2/3 de
votos presentes)
Nicarágua Constituição 1987, reforma Executivo e Congresso Congresso seleciona da 5 anos, reeleição permitida Corte Suprema
de 1995 apresentam lista lista e nomeia (6/10 dos votos)
País Textos constitucionais
Condições para a nomeação de magistrados
PODERES JUDICIÁRIOS, 2002
TABELA 15
Identifi cação inicial de candidatos Seleção e nomeação Período de nomeação
Controle de constitucionalidade
97
Bases empíricas do Relatório
Panamá Constituição 1972, reformas Presidente e gabinete Congresso nomeia (maioria 10 anos, reeleição permitida Corte Suprema
de 1978, 1983 e 1984 apresentam lista absoluta)
Paraguai Constituição 1992 Conselho de Magistrados Senado nomeia com 5 anos, a reeleição implica Corte Suprema
apresenta lista consentimento do Executivo período vitalício (aposentadoria
obrigatória aos 75 anos)
Peru Constituição 1993 Conselho Nacional da Conselho Nacional de Aposentadoria obrigatória Tribunal Constitucional
Magistratura aprova Magistrados nomeia aos 70 anos
(2/3 votos) (2/3 de votos)
República Dominicana Constituição 1966, reforma Conselho Nacional da Conselho Nacional da Vit
alício (aposentadoria
Corte Suprema
de 1995 Judicatura identifi ca Judicatura nomeia
obrigató
ria aos 75 anos)
candidatos (maioria absoluta)
Uruguai Constituição 1967 Congresso identifi ca Congresso em pleno 10 anos, reeleição alterna Corte Suprema
candidatos (ambas as câmaras) 5 anos após a conclusão do
aprova (2/3 de votos) período (aposentadoria
obrigatória aos 75 anos)
Venezuela Constituição 1999 Comité de Postulações Congresso seleciona da 12 anos, sem reeleição Tribunal Supremo
Judiciais apresenta lista lista e nomeia de Justiça
Nota:
(*) Na Argentina, o processo de nomeação de magistrados da Corte Suprema foi modifi cado pelo Decreto N º222, de 19 de junho de 2003.
Fontes: Projeto Estado da Nação 1999, p. 199; Skaar 2001, Apêndice 1; PNUD 2002b, 78, 81; OEA- CIDH 2003; Instituto de Direito Público
Comparado 2003; Comissão Andina de Juristas 2003, e várias Constituições nacionais.
País Textos constitucionais
Condições para a nomeação de magistrados
PODERES JUDICIÁRIOS, 2002
Identifi cação inicial de candidatos Seleção e nomeação Período de nomeação
Controle de constitucionalidade
CONTINUAÇÃO TABELA 15
98
A democracia na América Latina
Argentina Legislativo .. Fraco Ejecutivo++ No se defi ne 1993 Legislativo+ Legislativo+
Bolívia Executivo+ Legislativo++ Fraco Legislativo Legislativo 1994 Legislativo Legislativo
Brasil Legislativo- Poder Judiciário Forte Executivo++ Legislativo - - -
Chile Executivo++ Legislativo+ Forte Executivo++ Legislativo++ - - -
Colômbia Legislativo++ Poder Judiciário Forte Legislativo- Corte Suprema 1991 Legislativo- Sin especifi car
Costa Rica Legislativo Legislativo Intermediário Corte Suprema Não se defi ne 1992 Legislativo Legislativo
Equador Executivo+ Legislativo Fraco Legislativo- Legislativo 1998 Legislativo++ Legislativo
El Salvador Legislativo Legislativo Forte Legislativo Legislativo 1991 Legislativo Legislativo
Guatemala Legislativo Legislativo Forte Executivo Executivo 1985 Legislativo++ Legislativo
Honduras Legislativo Legislativo Fraco Legislativo Legislativo 1992 Legislativo Sin especifi car
México Legislativo- Legislativo- Fraco Executivo ++ Executivo 1990 Legislativo Legislativo
Nicarágua Legislativo- Legislativo++ Intermediário Legislativo- Legislativo 1995 Legislativo++ Legislativo
Panamá Legislativo Poder Judiciário Forte Executivo++ Corte Suprema 1997 Executivo+ Corte Suprema
Paraguai Legislativo+ Executivo++ Intermediário Executivo++ Legislativo+ 1992 Legislativo Legislativo+
Peru Legislativo- Legislativo Fraco Junta de Fiscais Legislativo 1993 Legislativo Legislativo
Supremos
Rep. Dominicana Legislativo- .. Fraco Executivo Executivo 2001 Legislativo Corte Suprema
Uruguai Legislativo Legislativo Intermediário Executivo++ Executivo++ - - -
Venezuela Legislativo++ Legislativo++ Fraco Legislativo++ Legislativo++ 1999 Legislativo++ Legislativo+
ORGANISMOS ESPECIALIZADOS DE CONTROLE, 2002
Notas: O dois pontos seguidos ( . . ) indicam que a informação não está disponível. ( 1) Inclui os órgãos encarregados de fi scalizar as contas públicas: Tribunais de Contas, Auditorias nacionais e Controladoria Geral da República.
( 2) Inclui os órgãos encarregados da acusação penal do Estado: promotorias, procuradorias, ministérios públicos. ( 3) Inclui os órgãos encarregados de defender os direitos dos habitantes perante o Estado: Defensorias,
procuradorias de direitos humanos. ( 4) Executivo: a nomeação ou remoção é de responsabilidade exclusiva do Executivo. Executivo+ : a nomeação ou remoção é feita pelo Executivo, com base na lista de candidatos
confeccionada pelo Parlamento. Executivo+ + : a nomeação ou remoção é feita pelo Executivo, mas requer aprovação ou ratifi cação legislativa. Legislativo- : a nomeação é feita pelo Poder Legislativo, a partir de uma lista
enviada pelo Executivo ou existe um sistema misto de nomeação com potestades do Executivo e do Legislativo para a nomeação ou remoção. Legislativo: a nomeação ou remoção é responsabilidade exclusiva da câmara baixa.
Legislativo+ : a nomeação ou remoção é de responsabilidade do Parlamento, mas requer procedimento bicameral. Legislativo+ + : a nomeação ou remoção é feita pelo Poder Legislativo com a participação de entidades da
sociedade civil ou do Poder Judiciário. ( 5) Fraco: as resoluções não são vinculatórias. Intermediário: as resoluções são vinculatórias, mas não possuem potestades legais para forçar seu cumprimento. Forte: as resoluções são
vinculatórias e, além disso possuem potestades legais para forçar seu cumprimento.
Fontes: Groisman e Lerner 2000, Maiorano 2000; Payne et al. 2002, cap. 9, Universidade de Georgetown e OEA 2002, e Uggla 2003.
TABELA 16
Controladoria (1)
País
Promotoria (2) Ombudsman (3)
Nomeação 4/ Destituição 4/ Poder 5/ Nomeação 4/ Destituição 4/ Criação Nomeação 4/ Destituição 4/
99
Bases empíricas do Relatório
Argentina Sim Não - - Sim Sim 1 1
Bolívia Não - - - Não - - -
Brasil Sim Sim 2 0 .. .. .. ..
Chile Sim Não - - .. .. .. ..
Colômbia Sim Sim 1 1 .. .. .. ..
Costa Rica Sim Não - - .. .. .. ..
Equador Sim Sim 17 (2) 14 Sim Sim 16 (3) 6
El Salvador Sim (1) Não - - .. .. .. ..
Guatemala Sim Sim 5 1 .. .. .. ..
Honduras Não - - - .. .. .. ..
México Não - - - .. .. .. ..
Nicarágua Não - - - .. .. .. ..
Panamá Sim Sim 2 0 .. .. .. ..
Paraguai Sim Não - - .. .. .. ..
Peru Sim Sim 1 1 .. .. .. ..
República Dominicana Não - - - .. .. .. ..
Uruguai Sim Sim 2 1 Não - - -
Venezuela Sim Sim 3 3 .. .. .. ..
América Latina (*) 13 8 33 21 2 2 17 7
MECANISMOS DE DEMOCRACIA DIRETA DE CIMA PARA BAIXO, 1978-2002
Notas: A informação se refere somente a mecanismos de democracia direta ofi ciais e no âmbito nacional. As datas são de 1978 em diante ou desde que esses
mecanismos foram criados, mas só registra seu uso dentro do contexto de regimes democráticos. O hífen ( - ) indica que a informação não é relevante; os dois
pontos seguidos ( . . ) , que a informação não está disponível.
( 1) Somente em relação à integração centro-americana.
( 2) Quatorze desses foram realizados em uma determinada data: maio de 1997.
( 3) Quinze desses foram realizados em duas ocasiões: agosto de 1994 e novembro de 1995.
( * ) Os dados para a região referem-se ao total de países que permitem o uso de mecanismos de democracia direta e, também, ao total de vezes que esses
mecanismos foram usados.
Fontes: Altman 2002, p. 8, e várias Constituições e leis eleitorais nacionais.
TABELA 17
Plebiscito Plebiscito não vinculatório
País
Existência Uso Vezes usado Êxito no uso Existência Uso Vezes usado Êxito no uso
100
A democracia na América Latina
Argentina Sim Não - - Sim Não - - Não - - - Não - - -
Bolívia Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Brasil Sim Não - - .. .. .. .. Sim Não - - Não - - -
Chile Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Colômbia Sim Não - - Sim Sim 2 2 Sim Não - - Sim Não - -
Costa Rica Sim Não - - .. .. .. .. Sim Não - - Não - - -
Equador Sim Não - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
El Salvador Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Guatemala Sim Não - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Honduras Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
México Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Nicarágua Sim Não - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Panamá Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Paraguai Sim Não - - .. .. .. .. Sim Não - - Não - - -
Peru Sim Não - - .. .. .. .. Sim Não - - Sim Não - -
Rep. Dominicana Não - - - .. .. .. .. Não - - - Não - - -
Uruguai Sim Sim 5 2 Não - - - Sim Sim 6 2 Não - - -
Venezuela Sim Não - - Sim Não - - Sim Não - - Sim Não - -
América Latina(*) 11 1 5 2 3 1 2 2 7 1 6 2 3 0 0 0
MECANISMOS DE DEMOCRACIA DIRETA DE BAIXO PARA CIMA, 1978-2002
Notas: A informação se refere apenas a mecanismos de democracia direta ofi ciais e no âmbito nacional. As datas são de 1978 em diante ou desde que esses
mecanismos foram criados, mas somente registra seu uso dentro do contexto de regimes democráticos. O hífen ( - ) indica que a informação não é relevante;
os dois pontos seguidos ( . . ) , que a informação não está disponível.
( * ) Os dados para a região referem-se ao total de países que permitem o uso de mecanismos de democracia direta e, também, ao total de vezes que esses
mecanismos foram usados.
Fontes:Altman 2002, p.8,e várias Constituições e leis eleitorais nacionais.
TABELA 18
Iniciativa vinculatória
Revogação de mandato
País
Exis- Vezes Êxito Exis- Vezes Êxito Exis- Vezes Êxito Exis- Vezes Êxito
tência Uso usado no uso tência Uso usado no uso tência Uso usado no uso tência Uso usado em uso
Iniciativa Não-vinculatória
Referendo
101
Bases empíricas do Relatório
Argentina 3,5 2,8 4,28 4,42
Bolívia 2,0 2,2 4,26 3,56
Brasil 4,0 4,0 4,45 4,82
Chile 7,5 7,5 6,35 6,34
Colômbia 3,8 3,6 4,73 5,14
Costa Rica 4,5 4,5 4,60 4,41
Equador 2,3 2,2 3,91 3,67
El Salvador 3,6 3,4 4,47 5,16
Guatemala 2,9 2,5 4,12 3,81
Honduras 2,7 2,7 3,64 3,84
México 3,7 3,6 4,40 4,82
Nicarágua 2,4 2,5 3,76 4,31
Panamá 3,7 3,0 4,26 4,52
Paraguai .. 1,7 2,77 3,55
Peru 4,1 4,0 2,31 5,21
República Dominicana 3,1 3,5 4,46 4,43
Uruguai 5,1 5,1 4,78 5,88
Venezuela 2,8 2,5 4,05 3,85
América Latina 3,6 3,4 4,37 4,52
Europa ocidental 7,1 7,8 6,07 6,08
INDICADORES DE PERCEPÇÕES SOBRE CORRUPÇÃO, 2002
TABELA 19
Notas: Os dois pontos seguidos (..) indicam que a informação não está disponível. Ambas as organizações constroem
seu índice entrevistando grupos de especialistas selecionados por cada uma delas. Obviamente, o resultado não tem
signifi cação estatística numéricamente. Os dados da Transparência Internacional consistem em uma escala de 11 pontos,
com números mais altos indicando menos corrupção. A escala do Fórum Econômico Mundial é de 7 pontos, com números
mais altos indicando menor corrupção.
Fontes: Lambsdorff 2001, pp. 234-236 e TI 2002.
Transparência Internacional
País 1999-2001 2002 2001 2002
Fórum Econômico Mundial
REGIÃO
102
A democracia na América Latina
América Central e México (1) % de pessoas n=7,424 16,1 31,4 31,5 21,0 ..
Região Andina % de pessoas n=5,238 11,3 32,2 37,6 18,9 ..
Mercosul e Chile % de pessoas n=5,351 6,8 25,5 39,4 28,3 ..
América Latina % de pessoas n=18,013 12,0 29,9 35,6 22,6 ..
Sexo % Homens 49,6 50,3 49,9 49,0 49,9 ns
% Mulheres 50,4 49,7 50,1 51,0 50,1
Idade % 16 a 29 anos 37,0 43,0 38,5 35,7 34,0 **
% 30 a 64 anos 54,6 50,2 53,7 55,4 56,7
% 65 a 99 anos 8,4 6,7 7,9 8,9 9,3
Média de idade 38,43 36,17 37,71 39,03 39,63 **
Nível educativo % Sem estudos 8,1 11,9 8,4 7,2 7,2 **
% 1 a 6 anos 33,8 34,7 35,8 31,8 33,8
% 7 a 12 anos 41,6 38,4 42,0 43,3 40,3
% Superior completa ou incompleta 16,4 14,9 13,7 17,7 18,7
Média de anos de estudo 9,04 8,52 8,79 9,31 9,22 **
Nível ecomômico (2) % Baixo 43,9 50,7 46,6 40,1 42,9 **
% Médio 47,5 41,5 46,1 50,7 47,4
% Alto 8,6 7,8 7,3 9,2 9,7
Média de índice ecomômico 3,92 3,68 3,80 4,04 4,00 **
Orientação Democrática % Democratas 42,8 29,7 31,9 48,8 55,0 **
% Ambivalentes 30,5 47,9 38,6 23,8 21,1
% Não democratas 26,7 22,4 29,5 27,4 23,8
PERFIL DAS PESSOAS COM DIFERENTES ATITUDES EM RELAÇÃO À CORRUPÇÃO, 2002
TABELA 20
Notas:
(1) Inclui República Dominicana.
(2) Com base no índice econômico construído a partir da propriedade artefatos e da educação do chefe de família. Este índice pode variar entre 0 e 10. Se o
índice estiver entre 0 e 3,33 considera-se nível econômico baixo, se estiver entre 3,34 e 6,66 considera-se nível econômico médio e se estiver entre 6,67 e 10
considera-se nível econômico alto.
(3) Indica-se com um “*”quando a medida de associação utilizada ou a Análise de Variância (ANOVA sigla em inglês) resultar signifi cativa a 5%. Indica-se com
“**”quando o resultado for signifi cativo a 1%. Indica-se “ns “quando a prova não resultar signifi cativa nem a 1% nem a 5%. Quando não for pertinente o cálculo
de uma medida de associação ou da ANOVA, indica-se com “..”. Sobre provas realizadas em cada caso, consulte o compêndio estatístico.
Fontes: Processamento de pergunta P23UF da Seção Proprietária do PNUD (pergunta p23uf: O/A senhor/a está totalmente de acordo, de acordo, em desacordo
ou totalmente em desacordo com a seguinte afi rmação? “Pode-se pagar o preço de certo grau de corrupção no governo desde que os problemas do país sejam
solucionados?”), e de outras perguntas de caráter socioeconômico no Latinobarômetro 2002.
Categorias
Totalmente De Em Totalmente
Pode-se pagar o preço de certo grau
de corrupção no governo desde que os
problemas do país sejam solucionados
Signifi cância
(3)
de acordo acordo desacordo em desacordo
Estrutura
da amostra
103
Bases empíricas do Relatório
Baixo conhecimento de casos de clientelismo Brasil (23,9); Colômbia (16,3); Chile (16,0);
Equador (24,4); El Salvador (23,3)
Conhecimento intermediário de casos de Argentina (32, 4); Bolívia (33,9); Costa Rica
clientelismo (27,2); Honduras (36,7); Nicarágua (35,2);
Panamá (27,4); Paraguai (34,0); Peru (32,2);
Uruguai (32,3); Venezuela (31,8)
Alto conhecimento de casos de clientelismo Guatemala (42,3); México (43,4);
República Dominicana (53,1)
Tradição democrática Proporção de pessoas que conhecem um ou
mais casos de clientelismo
Democracias mais velhas (3) 24,7
Democracias mais novas 34,0
Média América Latina 31,4
REDES CLIENTELISTAS, 2002
TABELA 21
Notas: n =19.366.
(1) Pouco conhecimento: 25% ou menos dos consultados afi rmaram conhecer um ou mais casos de privilégios.
Conhecimento intermediário: entre 25% e 40% das pessoas afi rmam conhecer um ou mais casos de privilégios. Alto
conhecimento: mais de 40% das pessoas têm conhecimento.
(2) A cifra entre parênteses depois do país indica a proporção de pessoas que afi rmaram conhecer um ou mais casos de
privilégios.
(3) Democracias mais velhas: inclui Colômbia, Costa Rica e Venezuela.
Fonte: Processamento da pergunta p7u da Seção Proprietária do PNUD (pergunta p7u:”O/A senhor/a conhece
pessoalmente um caso de uma pessoa que tenha recebido privilégios por ser simpatizante do partido do governo?”), no
Latinobarômetro 2002.
Nível de conhecimento (1) País (2)
113
Bases empíricas do Relatório
Direitos gerais Pacto Internacional da ONU sobre Direitos Civis e Políticos 1966 0 -
Pacto Internacional da ONU sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 1966 0 -
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, “Pacto de San José de Costa Rica” 1969 0 -
Direitos trabalhistas Convenção 29 da OIT: Eliminação do Trabalho Forçado e Compulsivo 1930 1 Bolívia
Convenção 87 da OIT: Liberdade de Associação e Proteção do Direito de Organização 1948 2 Brasil, El Salvador
Convenção 98 da OIT: Direito à Organização e à Negociação Coletiva 1949 2 El Salvador, México
Convenção 105 da OIT: Abolição do Trabalho Forçado 1957 0 -
Direitos de mulheres Convenção 100 da OIT: Igualdade nas Remunerações 1951 0 -
Convenção 111 da OIT: Discriminação no Emprego e no Trabalho 1958 0 -
Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres 1979 0 -
Convenção Interamericana de Prevenção, Castigo e Erradicação da Violência contra as Mulheres,
“Convenção de Belém do Pará” 1994 0 -
Direitos de indígenas Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965) 1965 1 Panamá
e grupos étnicos Convenção da OIT 169 sobre Povos Indígenas e Tribais 1989 6 Chile, El Salvador,
Nicarágua, Panamá,
República Dominicana,
Uruguai
Direitos de menores Convenção da OIT 138 sobre Idade Mínima 1973 2 México, Paraguai
Convenção da ONU dos Direitos da Criança 1989 0 -
Convenção da OIT 182 sobre Piores Formas do Trabalho Infantil 1999 3 Bolívia, Colômbia,
Venezuela
Notas: O hífen ( - ) indica que o dado não é aplicável. A informação sobre os direitos de indígenas e minorias étnicas está atualizada até 24 de novembro de 2002. O restante da informação está atualizado até 1 º de abril de
2003.
Fontes: ONU 2003a, OIT 2003, e OEA 2003.
Ano
TRATADOS DA ONU, DA OIT E DA OEA: DIREITOS GERAIS E DIREITOS DE CATEGORIAS DE CIDADÃOS, 2002
TABELA 24
Número de
países sem
ratifi car
Direito
Tratado Países sem ratifi car
114
A democracia na América Latina
Argentina 1853/1994 Fracos Não, mas não existe idioma ofi cial
Bolívia 1967/1994 Sim Não, mas não existe idioma ofi cial
Brasil 1988 Não Não, o português é o idioma ofi cial
Chile (*) 1980 Não Não, mas não existe idioma ofi cial
Colômbia 1991 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas e os dialetos são ofi ciais em seus territórios
Costa Rica 1949 Não Não, o espanhol é o idioma ofi cial
Equador 1998 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas são para uso ofi cial restrito
El Salvador 1983/1992 Não Não, mas as “línguas autóctones” são respeitadas
Guatemala 1985 Sim Sim, as línguas indígenas têm status ofi cial
nas áreas onde são faladas
Honduras 1982 Não Não, o espanhol é o idioma ofi cial
México 1917/1992 Sim Não, mas as línguas indígenas são fomentadas
Nicarágua 1987/1995 Sim Sim, os idiomas das comunidades da costa
atlântica são ofi ciais nessas regiões
Panamá 1972/78/83/93/94 Sim Não, mas as “línguas aborígenes” são
conservadas e difundidas
Paraguai 1992 Sim Sim, o guarani é um idioma ofi cial
Peru 1993 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas são de uso ofi cial nas áreas onde
predominam
República Dominicana .. .. ..
Uruguai 1967/97 Não Não
Venezuela 1999 Sim Sim, as línguas indígenas são de uso ofi cial para
os indígenas e devem ser respeitadas em todo o território
Notas: As datas das constituições se referem aos documentos originais e à última reforma ou emenda. Os direitos multiculturais referem-se ao fato de as
múltiplas identidades étnicas serem ou não reconhecidas pelo Estado. Os direitos apresentados neste quadro são considerados, às vezes, como direitos
coletivos, e não estritamente direitos civis.
(*) No Chile, a Lei Indígena N º19.253, de outubro de 1993, estabelece a promoção das culturas e idiomas indígenas e dos sistemas de educação intercultural
bilíngüe (art.39), e garante o uso de línguas indígenas em processos judiciais (art.74).
Fontes :OIT 2002b;Barié 2000,pp.42,572-574;Van Cott 2003,e Universidade de Georgetown e OEA 2002.
Existência de direitos relacionados com o uso do idioma
Constituição
DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS, 2000
Direitos multiculturais
TABELA 25
País
Direitos constitucionais
115
Bases empíricas do Relatório
MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO 1990-2000
Notas: Os dados sobre disparidade salarial por gênero representam a porcentagem da renda masculina recebida pelas mulheres. A coluna PEA (População
Economicamente Ativa) compara diferenças da renda entre homens e mulheres no contexto da PEA global. A coluna “assalariados “compara as diferenças
salariais entre homens e mulheres unicamente no contexto da população assalariada. As cifras regionais são a média ou termo médio de todos os casos em
que existem dados para qualquer ano.
Fontes: CEPAL 2001a, pp. 201-202, quadro 8; 2002b, pp. 201-202, quadro 8; e 2003, pp. 20-21, quadro 15.
TABELA 26
Participação na atividade econômica
Disparidade salarial por gênero
(renda média nas áreas urbanas)
1990 1995 2000
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
PEA assalariados PEA assalariados PEA assalariados
49,37 70,30 28,81 50,77 70,55 31,32 52,23 70,86 33,93
Início dos anos 90 Meados dos anos 90 Fim dos anos 90
61,99 70,89 64,90 72,23 67,34 77,89
INCIDÊNCIA DO ABUSO DE MENORES NAS DIFERENTES REGIÕES DO MUNDO, 2000
Notas: A “proporção que trabalha” refere-se ao número de crianças que trabalham em relação ao número total de crianças. As cifras sobre crianças
implicadas nas “piores formas de trabalho” são estimativas.
Fontes: IPEC-SIMPOC 2002, p. 17, quadro 2, e p. 27, quadro 10.
TABELA 27
Crianças economicamente
ativas (5-14 anos)
Região
Economias desenvolvidas 2,5 2 .. .. 1 420 110
Ásia e Pacífi co 127,3 19 250 5.500 120 590 220
África subsaariana 48,0 29 .. .. .. .. ..
Oriente Médio e Norte da África 13,4 15 .. .. .. .. ..
África .. .. 200 210 120 50 ..
América Latina e Caribe 17,4 16 550 3 30 750 260
Crianças implicadas nas piores formas
de trabalho infantil
número de
crianças
(em milhões)
trabalho
forçado e servil
(em milhares)
atividades
ilícitas (em
milhares)
proporção
que trabalha
(%)
confl ito
armado (em
milhares)
prostituição
e pornografi a
(em milhares)
tráfi co
(em milhares)
116
A democracia na América Latina
Convenção da ONU contra 1984 2 Nicarágua,
a tortura e outras formas República
de tratamento e castigo cruéis, Dominicana
inumanos ou degradantes
Convenção Interamericana 1995 3 Bolívia,
da OEA para prevenir e Honduras,
castigar a tortura Nicarágua
Protocolo da Convenção 1990 10 Argentina,
Interamericana de Direitos Humanos Bolívia,
para abolir a pena de morte Chile,
Colômbia,
El Salvador,
Guatemala,
Honduras,
México, Peru,
República
Dominicana
Convenção Interamericana 1994 9 Brasil,
sobre o Desaparecimento Colômbia,
Forçoso de Pessoas Equador,
El Salvador,
Honduras,
México,
Nicarágua,
Peru,
República
Dominicana
Nota: A informação está atualizada a 1º de abril de 2003.
Fontes: ONU 2003, e OEA 2003.
FUNDAMENTAIS, 2003
TABELA 28
Tratado
TRATADOS DA ONU E DA OEA SOBRE DIREITOS CIVIS
Países
sem ratifi car
Ano
Número de países
sem ratifi car
117
Bases empíricas do Relatório
PARTES DO MUNDO, C.2000
Nota: As cifras regionais são a soma de todos os casos em que existem dados disponíveis, e refl etem uma média não-
ponderada, para América Latina corresponde o ano 1997. O número de homicídios para El Salvador e Honduras é estimado.
A Europa Ocidental não inclui Luxemburgo nem o Reino Unido.
Fontes: Interpol 2004, UNODC 2002; Krug 2002, pp. 274, 308-312. ONU, e ONU, Divisão de População, Departamento de
Assuntos Econômicos e Sociais 2001 e 2002.
HOMICÍDIOS DOLOSOS NA AMÉRICA LATINA E EM OUTRAS
TABELA 29
Ano
País
Argentina 2001 3.048 8,2
Bolívia 2000 2.558 32,0
Brasil 2001 39.618 23,0
Chile 2001 699 4,5
Colômbia 2000 29.555 70,0
Costa Rica 1999 245 6,2
Equador 1999 3.217 25,9
El Salvador 2001 2.196 34,3
Guatemala 1994 3.239 33,3
Honduras 1998 9.241 154,0
México 2000 13.829 14,0
Nicarágua 1998 1.157 24,1
Panamá 1998 54 2,0
Paraguai 2001 890 15,6
Peru 2001 1.298 5,0
República Dominicana 1998 1.121 15,8
Uruguai 2000 154 4,6
Venezuela 2000 8.022 33,2
América Latina c. 1997 109.135 25,1
Referentes extra-regionais
Europa Ocidental c. 2000 4.519 1,4
Mediterrâneo Oriental c. 1995-99 31.000 7,1
Ásia do Sul e Oriental c. 1995-99 78.000 5,8
África c. 1995-99 116.000 22,2
Pací co Ocidental c. 1995-99 59.000 5,1
Total mundial c. 1995-99 521.000 8,8
N° de mortes
por 100.000
habitantes
N° de mortes
118
A democracia na América Latina
Argentina 2000 3,2 2000 11,1 2001 857 2,3
Bolívia 2001 1,5 2002 9,1 2001 82 0,9
Brasil 2000 2,1 2000 3,6 2001 3000 1,7
Chile 2002 0,9 2002 5,0 2004 417 2,7
Colômbia 2002 1,2 2002 7,4 2000 1.126 2,7
Costa Rica 2001 5,2 2001 16,0 2001 128 3,2
Equador 2001 1,5 2002 5,6 2001 33 0,3
El Salvador 2002 4,5 2002 9,2 2001 274 4,3
Guatemala 2002 3,4 2002 6,0 2001 92 0,8
Honduras 2002 7,2 2002 8,2 2002 200 3,0
México 2000 1,0 2000 0,7 2001 686 0,7
Nicarágua 2001 2,9 2001 6,0 2001 15 0,3
Panamá 2000 2,6 2002 8,0 2001 48 1,7
Paraguai 2001 1,6 2001 10,5 2001 200 3,6
Peru 2002 1,5 2002 6,0 2001 263 1,0
Rep. Dominicana 2001 1,4 2001 7,0 2001 39 0,5
Uruguai 2001 1,6 2000 15,5 2001 74 2,2
Venezuela 2002 1,4 2000 6,1 1998 159 0,7
América Latina 2,5 4,9 1,5
RECURSOS FINANCEIROS E HUMANOS DEDICADOS AO SISTEMA
Notas: O número de juízes para o México refere-se unicamente ao nível federal. Os dados sobre advogados públicos para a Argentina referem-se ao total de
funcionários e para o Brasil são estimados. Os dados regionais para a porcentagem do orçamento não são ponderados; para o número de Juízes e Defesores
públicos a média é ponderada.
Fontes: CEJA,2003a e 2003b; Banco Mundial, Legal and Judicial Reform Practice Group 2003;
Número de defensores públicos
DE ADMINISTRAÇÃO DE JUSTIÇA, 2001
TABELA 30
País
Recursos fi nanceiros Número de juízes
% orçamento
nacional
Ano
Número de juízes
por 100.000
habitantes
Número de
defensores
públicos
Número de
defensores públicos
por 100.000
habitantes
Ano
Ano
119
Bases empíricas do Relatório
Nota: As cifras regionais são a média dos casos.A populación presa total para América Latina é de 660.684, a populaçao regional de 508 milhoes para 2002.
Fontes: Centro Internacional para Estudos Penitenciários,2003. Os dados sobre o nível de ocupação para a Argentina foram retirados de CELS
2001,cap.2,fi g.2.4,e correspondem ao ano 2000.
Total de população
carcerária
(inclui presos
processados
e presos sem
condenação)
POPULAÇÃO CARCERÁRIA, PRESOS SEM CONDENAÇÃO E SUPERLOTAÇÃO, 2002
TABELA 31
País
Ano
Taxa de população
carcerária (por
100.000 habitantes)
Presos sem
processo e presos
sem condenação
(porcentagem
da população
carcerária)
Nível de ocupação
(sobre a base da
capacidade ofi cial)
Argentina 1999 38.604 107 55,2 119,9
Bolívia 1999 8.315 102 36,0 162,5
Brasil 2002 240.107 137 33,7 132,0
Chile 2002 33.098 204 40,4 134,3
Colômbia 2001 54.034 126 41,1 136,5
Costa Rica 1999 8.526 229 39,5 109,6
Equador 2002 7.716 59 69,9 115,0
El Salvador 2002 10.278 158 49,7 167,5
Guatemala 1999 8.460 71 60,9 112,9
Honduras 2002 11.502 172 78,5 207,6
México 2000 154.765 156 41,2 127,8
Nicarágua 1999 7.198 143 30,8 113,0
Panamá 2002 10.423 359 55,3 136,5
Paraguai 1999 4.088 75 92,7 151,0
Peru 2002 27.493 104 67,2 137,8
República Dominicana 2001 15.341 178 64,5 175,3
Uruguai 2002 5.629 166 72,5 150,8
Venezuela 2000 15.107 62 57,5 97,2
América Latina c. 2002 36.705 145 54,8 138,2
Referente extra-regional
Estados Unidos 2001 1.962.220 686 18,8 106,4
120
A democracia na América Latina
Notas: As escalas de liberdade de imprensa da Freedom
House e de Repórteres sem Fronteiras vão de 0 a 100, as
cifras mais baixas indicam maior grau de liberdade. A in-
formação de Repórteres sem Fronteiras refere-se ao perío-
do setembro 2001-outubro 2002.Os dois pontos seguidos
(..) indicam que a informação não está disponível.
Fontes: Karlekar 2003, e Repórteres sem Fronteiras 2003.
2001-2002
TABELA 32
País
Freedom
House
2001
Rerteres
sem Fronteiras
2001/2002
Argentina 39 12,0
Bolívia 30 14,5
Brasil 38 18,8
Chile 22 6,5
Colômbia 63 40,8
Costa Rica 14 4,3
Equador 41 5,5
El Salvador 38 8,8
Guatemala 58 27,3
Honduras 51 ..
México 38 24,8
Nicarágua 40 ..
Panamá 34 15,5
Paraguai 55 8,5
Peru 35 9,5
Rep. Dominicana 33 ..
Uruguai 30 6,0
Venezuela 68 25,0
América Latina 40,4 15,2
LIBERDADE DE IMPRENSA,
Nota: Os índices medem unicamente o número de casos
claramente confi rmados de jornalistas assassinados no
cumprimento do dever, seja por represália direta por seu
trabalho ou por fogo cruzado.
Fonte: CPI 2003.
1993-2002
TABELA 33
País
1993-1997
1998-2002
MORTE DE JORNALISTAS,
Argentina 1 1
Bolívia 0 1
Brasil 6 4
Chile 0 0
Colômbia 13 18
Costa Rica 0 1
Equador 0 0
El Salvador 1 0
Guatemala 2 2
Honduras 1 0
México 5 3
Nicarágua 0 0
Panamá 0 0
Paraguai 0 1
Peru 1 0
Rep. Dominicana 1 0
Uruguai 0 1
Venezuela 1 1
Região
América Latina 32 33
Europa Ocidental 1 2
121
Bases empíricas do Relatório
PÚBLICA E HABEAS DATA, 2002
Notas: A expressão “direito ao acesso à informação pública” refere-se ao direito a obter informação de fontes estatais
sobre a administração dos assuntos públicos. A expressão “Habeas data” refere-se a uma ação que garanta o acesso
de qualquer indivíduo à informação existente em bases de dados públicas ou privadas, referente à sua pessoa ou à
sua propriedade e, caso seja necessário, a possibilidade de atualizar, corrigir, remover ou preservar tal informação
com o objetivo de proteger certos direitos fundamentais. Fontes: OEA-CIDH, Relatório para a Liberdade de Expressão
2001,cap.3,quadro 1; e Guadamuz 2000 e 2001.
DIREITO AO ACESSO À INFORMAÇÃO
País
Argentina Sim Sim 1994
Bolívia Não Não -
Brasil Sim Sim 1988
Chile Sim, mas ambígua Não -
Colômbia Sim Sim 1997
Costa Rica Não Não -
Equador Não Sim 1996
El Salvador Não Não -
Guatemala Sim Sim 1995
Honduras Sim Não -
México Sim Sim 2002
Nicarágua Sim, mas ambígua Sim 1995
Panamá Sim Sim 2002
Paraguai Não Sim 1992
Peru Sim Sim 1993
Rep. Dominicana Sim Não -
Uruguai Não Não -
Venezuela Sim Sim 1999
Direito ao acesso à
informação pública
Habeas data
Ano de adoção
Opção
legal
TABELA 34
113
Bases empíricas do Relatório
Direitos gerais Pacto Internacional da ONU sobre Direitos Civis e Políticos 1966 0 -
Pacto Internacional da ONU sobre Direitos Econômicos, Sociais e Culturais 1966 0 -
Convenção Americana sobre Direitos Humanos, “Pacto de San José de Costa Rica” 1969 0 -
Direitos trabalhistas Convenção 29 da OIT: Eliminação do Trabalho Forçado e Compulsivo 1930 1 Bolívia
Convenção 87 da OIT: Liberdade de Associação e Proteção do Direito de Organização 1948 2 Brasil, El Salvador
Convenção 98 da OIT: Direito à Organização e à Negociação Coletiva 1949 2 El Salvador, México
Convenção 105 da OIT: Abolição do Trabalho Forçado 1957 0 -
Direitos de mulheres Convenção 100 da OIT: Igualdade nas Remunerações 1951 0 -
Convenção 111 da OIT: Discriminação no Emprego e no Trabalho 1958 0 -
Convenção da ONU sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação contra as Mulheres 1979 0 -
Convenção Interamericana de Prevenção, Castigo e Erradicação da Violência contra as Mulheres,
“Convenção de Belém do Pará” 1994 0 -
Direitos de indígenas Convenção Internacional sobre a Eliminação de Todas as Formas de Discriminação Racial (1965) 1965 1 Panamá
e grupos étnicos Convenção da OIT 169 sobre Povos Indígenas e Tribais 1989 6 Chile, El Salvador,
Nicarágua, Panamá,
República Dominicana,
Uruguai
Direitos de menores Convenção da OIT 138 sobre Idade Mínima 1973 2 México, Paraguai
Convenção da ONU dos Direitos da Criança 1989 0 -
Convenção da OIT 182 sobre Piores Formas do Trabalho Infantil 1999 3 Bolívia, Colômbia,
Venezuela
Notas: O hífen ( - ) indica que o dado não é aplicável. A informação sobre os direitos de indígenas e minorias étnicas está atualizada até 24 de novembro de 2002. O restante da informação está atualizado até 1 º de abril de
2003.
Fontes: ONU 2003a, OIT 2003, e OEA 2003.
Ano
TRATADOS DA ONU, DA OIT E DA OEA: DIREITOS GERAIS E DIREITOS DE CATEGORIAS DE CIDADÃOS, 2002
TABELA 24
Número de
países sem
ratifi car
Direito
Tratado Países sem ratifi car
114
A democracia na América Latina
Argentina 1853/1994 Fracos Não, mas não existe idioma ofi cial
Bolívia 1967/1994 Sim Não, mas não existe idioma ofi cial
Brasil 1988 Não Não, o português é o idioma ofi cial
Chile (*) 1980 Não Não, mas não existe idioma ofi cial
Colômbia 1991 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas e os dialetos são ofi ciais em seus territórios
Costa Rica 1949 Não Não, o espanhol é o idioma ofi cial
Equador 1998 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas são para uso ofi cial restrito
El Salvador 1983/1992 Não Não, mas as “línguas autóctones” são respeitadas
Guatemala 1985 Sim Sim, as línguas indígenas têm status ofi cial
nas áreas onde são faladas
Honduras 1982 Não Não, o espanhol é o idioma ofi cial
México 1917/1992 Sim Não, mas as línguas indígenas são fomentadas
Nicarágua 1987/1995 Sim Sim, os idiomas das comunidades da costa
atlântica são ofi ciais nessas regiões
Panamá 1972/78/83/93/94 Sim Não, mas as “línguas aborígenes” são
conservadas e difundidas
Paraguai 1992 Sim Sim, o guarani é um idioma ofi cial
Peru 1993 Sim Sim, o espanhol é o idioma ofi cial, mas as línguas
indígenas são de uso ofi cial nas áreas onde
predominam
República Dominicana .. .. ..
Uruguai 1967/97 Não Não
Venezuela 1999 Sim Sim, as línguas indígenas são de uso ofi cial para
os indígenas e devem ser respeitadas em todo o território
Notas: As datas das constituições se referem aos documentos originais e à última reforma ou emenda. Os direitos multiculturais referem-se ao fato de as
múltiplas identidades étnicas serem ou não reconhecidas pelo Estado. Os direitos apresentados neste quadro são considerados, às vezes, como direitos
coletivos, e não estritamente direitos civis.
(*) No Chile, a Lei Indígena N º19.253, de outubro de 1993, estabelece a promoção das culturas e idiomas indígenas e dos sistemas de educação intercultural
bilíngüe (art.39), e garante o uso de línguas indígenas em processos judiciais (art.74).
Fontes :OIT 2002b;Barié 2000,pp.42,572-574;Van Cott 2003,e Universidade de Georgetown e OEA 2002.
Existência de direitos relacionados com o uso do idioma
Constituição
DIREITOS DOS POVOS INDÍGENAS, 2000
Direitos multiculturais
TABELA 25
País
Direitos constitucionais
115
Bases empíricas do Relatório
MULHERES NO MERCADO DE TRABALHO 1990-2000
Notas: Os dados sobre disparidade salarial por gênero representam a porcentagem da renda masculina recebida pelas mulheres. A coluna PEA (População
Economicamente Ativa) compara diferenças da renda entre homens e mulheres no contexto da PEA global. A coluna “assalariados “compara as diferenças
salariais entre homens e mulheres unicamente no contexto da população assalariada. As cifras regionais são a média ou termo médio de todos os casos em
que existem dados para qualquer ano.
Fontes: CEPAL 2001a, pp. 201-202, quadro 8; 2002b, pp. 201-202, quadro 8; e 2003, pp. 20-21, quadro 15.
TABELA 26
Participação na atividade econômica
Disparidade salarial por gênero
(renda média nas áreas urbanas)
1990 1995 2000
Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres Total Homens Mulheres
PEA assalariados PEA assalariados PEA assalariados
49,37 70,30 28,81 50,77 70,55 31,32 52,23 70,86 33,93
Início dos anos 90 Meados dos anos 90 Fim dos anos 90
61,99 70,89 64,90 72,23 67,34 77,89
INCIDÊNCIA DO ABUSO DE MENORES NAS DIFERENTES REGIÕES DO MUNDO, 2000
Notas: A “proporção que trabalha” refere-se ao número de crianças que trabalham em relação ao número total de crianças. As cifras sobre crianças
implicadas nas “piores formas de trabalho” são estimativas.
Fontes: IPEC-SIMPOC 2002, p. 17, quadro 2, e p. 27, quadro 10.
TABELA 27
Crianças economicamente
ativas (5-14 anos)
Região
Economias desenvolvidas 2,5 2 .. .. 1 420 110
Ásia e Pacífi co 127,3 19 250 5.500 120 590 220
África subsaariana 48,0 29 .. .. .. .. ..
Oriente Médio e Norte da África 13,4 15 .. .. .. .. ..
África .. .. 200 210 120 50 ..
América Latina e Caribe 17,4 16 550 3 30 750 260
Crianças implicadas nas piores formas
de trabalho infantil
número de
crianças
(em milhões)
trabalho
forçado e servil
(em milhares)
atividades
ilícitas (em
milhares)
proporção
que trabalha
(%)
confl ito
armado (em
milhares)
prostituição
e pornografi a
(em milhares)
tráfi co
(em milhares)
116
A democracia na América Latina
Convenção da ONU contra 1984 2 Nicarágua,
a tortura e outras formas República
de tratamento e castigo cruéis, Dominicana
inumanos ou degradantes
Convenção Interamericana 1995 3 Bolívia,
da OEA para prevenir e Honduras,
castigar a tortura Nicarágua
Protocolo da Convenção 1990 10 Argentina,
Interamericana de Direitos Humanos Bolívia,
para abolir a pena de morte Chile,
Colômbia,
El Salvador,
Guatemala,
Honduras,
México, Peru,
República
Dominicana
Convenção Interamericana 1994 9 Brasil,
sobre o Desaparecimento Colômbia,
Forçoso de Pessoas Equador,
El Salvador,
Honduras,
México,
Nicarágua,
Peru,
República
Dominicana
Nota: A informação está atualizada a 1º de abril de 2003.
Fontes: ONU 2003, e OEA 2003.
FUNDAMENTAIS, 2003
TABELA 28
Tratado
TRATADOS DA ONU E DA OEA SOBRE DIREITOS CIVIS
Países
sem ratifi car
Ano
Número de países
sem ratifi car
117
Bases empíricas do Relatório
PARTES DO MUNDO, C.2000
Nota: As cifras regionais são a soma de todos os casos em que existem dados disponíveis, e refl etem uma média não-
ponderada, para América Latina corresponde o ano 1997. O número de homicídios para El Salvador e Honduras é estimado.
A Europa Ocidental não inclui Luxemburgo nem o Reino Unido.
Fontes: Interpol 2004, UNODC 2002; Krug 2002, pp. 274, 308-312. ONU, e ONU, Divisão de População, Departamento de
Assuntos Econômicos e Sociais 2001 e 2002.
HOMICÍDIOS DOLOSOS NA AMÉRICA LATINA E EM OUTRAS
TABELA 29
Ano
País
Argentina 2001 3.048 8,2
Bolívia 2000 2.558 32,0
Brasil 2001 39.618 23,0
Chile 2001 699 4,5
Colômbia 2000 29.555 70,0
Costa Rica 1999 245 6,2
Equador 1999 3.217 25,9
El Salvador 2001 2.196 34,3
Guatemala 1994 3.239 33,3
Honduras 1998 9.241 154,0
México 2000 13.829 14,0
Nicarágua 1998 1.157 24,1
Panamá 1998 54 2,0
Paraguai 2001 890 15,6
Peru 2001 1.298 5,0
República Dominicana 1998 1.121 15,8
Uruguai 2000 154 4,6
Venezuela 2000 8.022 33,2
América Latina c. 1997 109.135 25,1
Referentes extra-regionais
Europa Ocidental c. 2000 4.519 1,4
Mediterrâneo Oriental c. 1995-99 31.000 7,1
Ásia do Sul e Oriental c. 1995-99 78.000 5,8
África c. 1995-99 116.000 22,2
Pací co Ocidental c. 1995-99 59.000 5,1
Total mundial c. 1995-99 521.000 8,8
N° de mortes
por 100.000
habitantes
N° de mortes
118
A democracia na América Latina
Argentina 2000 3,2 2000 11,1 2001 857 2,3
Bolívia 2001 1,5 2002 9,1 2001 82 0,9
Brasil 2000 2,1 2000 3,6 2001 3000 1,7
Chile 2002 0,9 2002 5,0 2004 417 2,7
Colômbia 2002 1,2 2002 7,4 2000 1.126 2,7
Costa Rica 2001 5,2 2001 16,0 2001 128 3,2
Equador 2001 1,5 2002 5,6 2001 33 0,3
El Salvador 2002 4,5 2002 9,2 2001 274 4,3
Guatemala 2002 3,4 2002 6,0 2001 92 0,8
Honduras 2002 7,2 2002 8,2 2002 200 3,0
México 2000 1,0 2000 0,7 2001 686 0,7
Nicarágua 2001 2,9 2001 6,0 2001 15 0,3
Panamá 2000 2,6 2002 8,0 2001 48 1,7
Paraguai 2001 1,6 2001 10,5 2001 200 3,6
Peru 2002 1,5 2002 6,0 2001 263 1,0
Rep. Dominicana 2001 1,4 2001 7,0 2001 39 0,5
Uruguai 2001 1,6 2000 15,5 2001 74 2,2
Venezuela 2002 1,4 2000 6,1 1998 159 0,7
América Latina 2,5 4,9 1,5
RECURSOS FINANCEIROS E HUMANOS DEDICADOS AO SISTEMA
Notas: O número de juízes para o México refere-se unicamente ao nível federal. Os dados sobre advogados públicos para a Argentina referem-se ao total de
funcionários e para o Brasil são estimados. Os dados regionais para a porcentagem do orçamento não são ponderados; para o número de Juízes e Defesores
públicos a média é ponderada.
Fontes: CEJA,2003a e 2003b; Banco Mundial, Legal and Judicial Reform Practice Group 2003;
Número de defensores públicos
DE ADMINISTRAÇÃO DE JUSTIÇA, 2001
TABELA 30
País
Recursos fi nanceiros Número de juízes
% orçamento
nacional
Ano
Número de juízes
por 100.000
habitantes
Número de
defensores
públicos
Número de
defensores públicos
por 100.000
habitantes
Ano
Ano
119
Bases empíricas do Relatório
Nota: As cifras regionais são a média dos casos.A populación presa total para América Latina é de 660.684, a populaçao regional de 508 milhoes para 2002.
Fontes: Centro Internacional para Estudos Penitenciários,2003. Os dados sobre o nível de ocupação para a Argentina foram retirados de CELS
2001,cap.2,fi g.2.4,e correspondem ao ano 2000.
Total de população
carcerária
(inclui presos
processados
e presos sem
condenação)
POPULAÇÃO CARCERÁRIA, PRESOS SEM CONDENAÇÃO E SUPERLOTAÇÃO, 2002
TABELA 31
País
Ano
Taxa de população
carcerária (por
100.000 habitantes)
Presos sem
processo e presos
sem condenação
(porcentagem
da população
carcerária)
Nível de ocupação
(sobre a base da
capacidade ofi cial)
Argentina 1999 38.604 107 55,2 119,9
Bolívia 1999 8.315 102 36,0 162,5
Brasil 2002 240.107 137 33,7 132,0
Chile 2002 33.098 204 40,4 134,3
Colômbia 2001 54.034 126 41,1 136,5
Costa Rica 1999 8.526 229 39,5 109,6
Equador 2002 7.716 59 69,9 115,0
El Salvador 2002 10.278 158 49,7 167,5
Guatemala 1999 8.460 71 60,9 112,9
Honduras 2002 11.502 172 78,5 207,6
México 2000 154.765 156 41,2 127,8
Nicarágua 1999 7.198 143 30,8 113,0
Panamá 2002 10.423 359 55,3 136,5
Paraguai 1999 4.088 75 92,7 151,0
Peru 2002 27.493 104 67,2 137,8
República Dominicana 2001 15.341 178 64,5 175,3
Uruguai 2002 5.629 166 72,5 150,8
Venezuela 2000 15.107 62 57,5 97,2
América Latina c. 2002 36.705 145 54,8 138,2
Referente extra-regional
Estados Unidos 2001 1.962.220 686 18,8 106,4
120
A democracia na América Latina
Notas: As escalas de liberdade de imprensa da Freedom
House e de Repórteres sem Fronteiras vão de 0 a 100, as
cifras mais baixas indicam maior grau de liberdade. A in-
formação de Repórteres sem Fronteiras refere-se ao perío-
do setembro 2001-outubro 2002.Os dois pontos seguidos
(..) indicam que a informação não está disponível.
Fontes: Karlekar 2003, e Repórteres sem Fronteiras 2003.
2001-2002
TABELA 32
País
Freedom
House
2001
Rerteres
sem Fronteiras
2001/2002
Argentina 39 12,0
Bolívia 30 14,5
Brasil 38 18,8
Chile 22 6,5
Colômbia 63 40,8
Costa Rica 14 4,3
Equador 41 5,5
El Salvador 38 8,8
Guatemala 58 27,3
Honduras 51 ..
México 38 24,8
Nicarágua 40 ..
Panamá 34 15,5
Paraguai 55 8,5
Peru 35 9,5
Rep. Dominicana 33 ..
Uruguai 30 6,0
Venezuela 68 25,0
América Latina 40,4 15,2
LIBERDADE DE IMPRENSA,
Nota: Os índices medem unicamente o número de casos
claramente confi rmados de jornalistas assassinados no
cumprimento do dever, seja por represália direta por seu
trabalho ou por fogo cruzado.
Fonte: CPI 2003.
1993-2002
TABELA 33
País
1993-1997
1998-2002
MORTE DE JORNALISTAS,
Argentina 1 1
Bolívia 0 1
Brasil 6 4
Chile 0 0
Colômbia 13 18
Costa Rica 0 1
Equador 0 0
El Salvador 1 0
Guatemala 2 2
Honduras 1 0
México 5 3
Nicarágua 0 0
Panamá 0 0
Paraguai 0 1
Peru 1 0
Rep. Dominicana 1 0
Uruguai 0 1
Venezuela 1 1
Região
América Latina 32 33
Europa Ocidental 1 2
121
Bases empíricas do Relatório
PÚBLICA E HABEAS DATA, 2002
Notas: A expressão “direito ao acesso à informação pública” refere-se ao direito a obter informação de fontes estatais
sobre a administração dos assuntos públicos. A expressão “Habeas data” refere-se a uma ação que garanta o acesso
de qualquer indivíduo à informação existente em bases de dados públicas ou privadas, referente à sua pessoa ou à
sua propriedade e, caso seja necessário, a possibilidade de atualizar, corrigir, remover ou preservar tal informação
com o objetivo de proteger certos direitos fundamentais. Fontes: OEA-CIDH, Relatório para a Liberdade de Expressão
2001,cap.3,quadro 1; e Guadamuz 2000 e 2001.
DIREITO AO ACESSO À INFORMAÇÃO
País
Argentina Sim Sim 1994
Bolívia Não Não -
Brasil Sim Sim 1988
Chile Sim, mas ambígua Não -
Colômbia Sim Sim 1997
Costa Rica Não Não -
Equador Não Sim 1996
El Salvador Não Não -
Guatemala Sim Sim 1995
Honduras Sim Não -
México Sim Sim 2002
Nicarágua Sim, mas ambígua Sim 1995
Panamá Sim Sim 2002
Paraguai Não Sim 1992
Peru Sim Sim 1993
Rep. Dominicana Sim Não -
Uruguai Não Não -
Venezuela Sim Sim 1999
Direito ao acesso à
informação pública
Habeas data
Ano de adoção
Opção
legal
TABELA 34
122
A democracia na América Latina
Cidadania social
A cidadania social refere-se aos aspec-
tos da vida dos cidadãos relacionados com
o potencial para desenvolver suas capacida-
des básicas. Diferentemente dos outros tipos
de cidadania, a cidadania social nem sempre
tem uma clara base legal nas constituições
e legislações nacionais, e sua aceitação in-
ternacional, mediante convenções ou trata-
dos, é menos difundida.
66
No entanto, a ação
constante da sociedade civil possibilitou
avançar não apenas no debate como tam-
bém na permanente mobilização para con-
seguir que a cidadania social seja um efetivo
componente da cidadania integral.
Debate-se, em âmbitos acadêmicos e po-
líticos, acerca dos conteúdos da cidadania
social. Surgiu desses debates um certo con-
senso a respeito dos componentes básicos
dessa cidadania. Nesse sentido, a contribui-
ção dada pelos relatórios de desenvolvimen-
to humano
67
foi importante.
Os direitos à saúde e à educação são con-
siderados componentes básicos da cidada-
nia social. Por sua vez, a falta de emprego, a
pobreza e a desigualdade foram amplamente
reconhecidas como aspectos que obstaculi-
zam a integração dos indivíduos na socieda-
de. Em condições de extrema pobreza e desi-
gualdade, torna-se difícil a realização de um
pressuposto chave da democracia: que os in-
divíduos são cidadãos plenos que atuam em
uma esfera pública em que se relacionam em
condição de iguais.
A seguir, apresentamos alguns indica-
dores centrais da cidadania social: saúde,
educação, emprego, pobreza e desigualda-
de, agrupados nas duas dimensões indicadas
no quadro 30. A leitura desses indicadores
nos dará uma aproximação da capacida-
de real de exercício da cidadania na Amé-
rica Latina.
Os dados sobre a cidadania social mos-
tram que a maioria dos países da Améri-
ca Latina possui severas defi ciências com
conseqüências para grandes e, algumas ve-
zes, majoritários segmentos de suas popula-
ções. Todos os países da região são mais de-
siguais do que a média mundial e dezesseis,
de um total de dezoito, podem ser cataloga-
dos como sumamente desiguais. Em 2002,
em quinze casos, mais de 25 por cento da
população vivia abaixo da linha de pobreza,
e em sete, a proporção de pobres era supe-
rior a 50 por cento.
Necessidades básicas
Nessa dimensão registram-se alguns
avanços embora os indicadores ainda con-
tinuem distantes do que seria desejável.
Observam-se, na região, melhoras nos in-
dicadores de desnutrição infantil e analfa-
betismo, e três países – Chile, Costa Rica e
Uruguai – destacam-se por apresentar níveis
relativamente baixos desses problemas.
Especifi camente, a desnutrição infantil
diminuiu em treze países e, de maneira no-
tável, no Brasil, na Guatemala e na Bolívia.
No entanto, ela ainda atinge mais de 5 por
cento das crianças em dezesseis dos dezoito
países considerados e, em sete, pelo menos
uma de cada cinco (tabela 35).
O índice de analfabetismo reduziu-se em
todos os países da região, registrando-se os
66 Por exemplo, o Protocolo Adicional da Convenção Interamericana dos Direitos Humanos na área dos direitos
econômicos, sociais e culturais, denominado Protocolo de San Salvador foi assinado só em 1988.
67 Em relação ao impacto da desigualdade e da pobreza sobre as capacidades dos cidadãos, ver Sen, 1999b, pp.20-
24 e capítulo 4. Sobre a saúde e a educação como duas necessidades básicas, ver PNUD, 2002c, pp.252-253.
quadro 29
Cidadãos pobres e desiguais
Este é um problema em todos os lugares. Vimos que é inerente à dimensão
burocrática do Estado. É mais severo e sistemático quando o “sujeito” dessas
relações está em situação de pobreza e desigualdade ampla e severa. Esses
males cultivam o autoritarismo social, amplamente praticado na América
Latina por ricos e poderosos, e repercutem na maneira em que as burocracias
do Estado tratam muitos indivíduos. Essa é, acredito, outra dimensão crucial
da qualidade da democracia; na América Latina, com suas profundas e per-
sistentes desigualdades, essa dimensão é uma das mais defi cientes.
Guillermo O’Donnell, texto elaborado para o PRODDAL, 2002c.
123
Bases empíricas do Relatório
maiores avanços na Guatemala, na Bolívia,
em El Salvador e em Honduras. Entretan-
to, em quatorze dos dezoito países, o anal-
fabetismo ainda atinge mais de 5 por cen-
to da população de mais de quinze anos, e
em quatro atinge 20 por cento ou mais (ta-
bela 36).
As conquistas em matéria de redução da
desnutrição infantil e do analfabetismo evi-
denciam que, nos últimos anos, em muitos
casos, essas defi ciências relacionadas com a
cidadania social puderam ser atendidas com
resultados positivos.
Outros indicadores, como mortalidade
infantil (tabela 37), expectativa de vida (ta-
bela 38) e nível de escolarização (tabela 39),
também permitem observar alguns avanços,
embora algumas vezes o nível de melhoria
resulte baixo diante da extensão e profundi-
dade dos défi cits existentes.
Em matéria de indicadores de saúde e
educação existe, na região, uma tendência
geral positiva. No entanto, é necessário ser
prudente na valorização desses indicadores.
Há outros dados disponíveis que colocam
em dúvida alguns dos indicadores aqui utili-
zados. Nesse sentido, o estudo Aptidões lin-
güísticas para o mundo de amanhã”, realiza-
do pela OCDE e pela UNESCO, que abarcou
quarenta e um países, mostra que, mesmo
alfabetizados, um número enorme – mais da
metade – dos alunos da América Latina, não
tem real capacidade de ler e entender o que
lê (tabela 40). Os seis países latino-america-
nos incluídos no estudo encontram-se entre
os últimos lugares nos índices de qualidade
educativa e de desempenho dos alunos.
Integração social
Nessa dimensão, evidenciam-se as mais
graves carências de cidadania social na Amé-
rica Latina. Os problemas de emprego, po-
breza e desigualdade registram níveis muito
altos. Tanto é assim que até quando é pos-
sível notar certas melhorias, como no caso
da pobreza, isso não é sufi ciente para deixar
de caracterizar a situação como sumamente
grave. A situação do emprego piorou e os ní-
veis de desigualdade mantiveram-se estacio-
nários ou aumentaram. O nível de desem-
prego da América Latina situa-se entre os
mais altos do mundo e o de desigualdade é o
mais alto do mundo.
Como a cidadania social possui um com-
ponente econômico, para a maioria da po-
pulação, o emprego signifi ca um pilar básico
de sua cidadania. O trabalho é o aporte dos
cidadãos para a produção da sociedade, e é
a forma por meio da qual obtêm os meios
que lhes permitem gozar de seus direitos.
Para a enorme maioria dos latino-america-
nos, o emprego é a via para enfrentar a po-
breza, e para dela sair. No entanto, com fre-
qüência, essa expectativa não se satisfaz, o
que signifi ca um enorme desafi o para a polí-
tica e para a democracia na região.
Tudo indica que, na América Latina, o
emprego perdeu qualidade e força como
meio de inserção social. Como destaca a Co-
missão Econômica para a América Latina
e Caribe (CEPAL): “O emprego é o víncu-
lo mais importante entre desenvolvimento
econômico e desenvolvimento social, pois é
a principal fonte de renda dos lares (gera 80
por cento do total). A exclusão e a segmenta-
ção derivadas da falta de acesso a empregos
de qualidade são, por isso, fatores determi-
nantes da pobreza e das desigualdades so-
ciais que se reproduzem no tempo, manifes-
tadas na elevada e persistente concentração
de renda que prevalece na região.
68
68 “Globalização e desenvolvimento social”, discurso do secretário executivo da CEPAL, José Antonio Ocampo, no
II Encontro de ex-Presidentes Latino-americanos, Santiago, Chile, 22-23 de abril de 2002.
quadro 30
Dimensões da cidadania social
Dimensão Questões relevantes
Necessidades básicas Saúde e educação
Integração social Trabalho, pobreza e desigualdade
124
A democracia na América Latina
Como já indicamos, a situação do em-
prego agravou-se na América Latina.
69
A ta-
xa de desocupação aberta (ponderada) em
2002 foi de 10,8 por cento, o nível mais alto
desde que se dispõe de cifras confi áveis (ta-
bela 41).
O índice de desemprego urbano caiu
no Equador e, mais levemente, na Colôm-
bia, em El Salvador, e no Chile, ao passo que
na Argentina, no Panamá, na Venezuela, no
Brasil, na Costa Rica, no México e no Uru-
guai, esse índice aumentou.
Entre os jovens latino-americanos, na
maioria dos países da região, o índice de de-
semprego duplica ou quase duplica a média
nacional de desocupação (tabela 42).
Por sua vez, a cobertura social dos tra-
balhadores diminuiu e o emprego informal
cresceu: sete de cada dez novos empregos
criados na região desde 1990 correspon-
dem ao setor informal. Além disso, de cada
dez novos empregos gerados no setor formal
desde 1990, apenas seis têm acesso a algum
tipo de cobertura social. Esta situação moti-
va um sério alarme sobre o futuro de nossas
sociedades: muitos dos latino-americanos,
além das carências que sofrem atualmente,
correm o risco de desproteção ao chegar à
idade de retiro (tabelas 43 e 44).
A expansão da informalidade é um elo-
qüente indicador da crise de emprego. Além
disso, é uma resposta inadequada para ate-
nuar o desemprego, pois cria ocupações de
baixa qualidade e baixa utilidade social, que
são geralmente insufi cientes como forma de
integração social que garanta mínimos ní-
veis de bem-estar.
Segundo dados da OIT, em 1990, o dé-
cit primário de trabalho decente
70
atingia
49,5 por cento da força de trabalho urba-
na da América Latina. Em 2002, subiu para
50,5 por cento. O aumento do défi cit atin-
ge 15,7 por cento da força de trabalho. Em
2002, o défi cit primário de trabalho decente
atingia 93 milhões de trabalhadores na re-
gião, 30 milhões a mais do que em 1990. A
brecha de emprego ampliou-se, alcançando
21 milhões de trabalhadores, entre desem-
pregados e informais, e a brecha de prote-
ção social cresceu atingindo nove milhões de
novos trabalhadores ocupados (basicamente
informais).
71
Entre 1990 e 2002, a pobreza diminuiu
em doze países, especialmente no Chile, no
Equador, no México, no Panamá e no Bra-
sil. Entretanto, em quinze dos dezoito países
considerados, um quarto da população vive
abaixo da linha de pobreza, e em sete, mais
de cinqüenta por cento da população é po-
bre (tabela 45).
No entanto, como afi rma José Nun, o
problema não se reduz ao acesso marginal
dos ‘pobres estruturais’ aos direitos de cida-
dania. Atualmente, nas áreas mais moder-
nizadas da América Latina, abundam mu-
69 OIT, Escritório Regional para as Américas, 2002.
70 O défi cit primário de trabalho decente é um indicador elaborado e calculado pela OIT. Para isso examina a
evolução das brechas de emprego e previdência social. Para fazer uma estimativa da brecha de emprego usa dois
componentes: desemprego e informalidade. O primeiro corresponde à diferença entre a taxa de desemprego real
e a média de um período de trinta anos (1950-1980), que dá como resultado a denominada taxa de desemprego
“histórica. O segundo componente leva em conta as pessoas ocupadas em atividades informais de baixa qualidade
(baixa produtividade, níveis de renda voláteis e próximos à linha da pobreza, instabilidade de trabalho). Para o cál-
culo da brecha de proteção social, são considerados, dentre os empregados nos setores formais e informais, aqueles
que não contribuem para a previdência social. O somatório das brechas de emprego e proteção social determina o
défi cit primário de trabalho decente. OIT, Escritório Regional para as Américas, 2002., pp. 30-31.
71 OIT, Escritório Regional para as Américas, 2002.
quadro 31
Inserção genuína para os “supranumerários”
Quase todo mundo recusa abertamente o modelo de “sociedade dual”.
Mas muitos lhe abrem as portas festejando qualquer realização – do
desenvolvimento de um setor de “utilidade social” à abertura de “novas
fontes de trabalho” – desde que proporcione alguma atividade para os
supranumerários. Porém, do ponto de vista da problemática da integração
social, não se trata apenas de conseguir ocupação para todos, mas
também de conseguir um estatuto.
Robert Castel , 1995, pp. 454-455.
125
Bases empíricas do Relatório
quadro 32
O papel da sociedade civil
Os invisíveis nas sociedades latino-
americanas [são] aqueles que não formam
parte das sociedades civis, simplesmente
porque não têm identidade, projeto,
organização social e forma de luta para
afi rmar-se, defender-se, para conquistar
direitos e reconhecimento público. São os
politicamente destituídos de todo poder
real. Em nome da verdade, é necessário
reconhecer o avanço da cidadania formal,
aquela com direito a voto, particularmente
no período de recente democratização. Mas
ter o direito político de voto não é o mesmo
que ser cidadão, exatamente em função do
que mencionei acima, quanto à inclusão e à
garantia prática de direitos fundamentais,
não apenas civis e políticos, mas também
o direito ao trabalho e à renda, a comida, a
casa, a saúde, a educação, etc. Entre 30% e
60% da população de nossos pses sofre
alguma forma de exclusão social, negadora
de sua cidadania.Essa populão, quando
não consegue se organizar e lutar, para voltar
a incluir-se politicamente e a ter alguma
perspectiva de mudança na situação geradora
de desigualdade, pobreza e exclusão social,
constitui o enorme contingente de invisíveis
de nossas sociedades. Perdem as sociedades
civis e perde a democracia. Mas se, por
alguma razão, os grupos de invisíveis se
organizam, ganha a sociedade civil e ganha a
democracia, pois sua presença como atores
concretos é a condição indispensável de sua
inclusão sustentável na cidadania. […]
[A] garantia da democracia […] passa
necessária e indispensavelmente
pela sociedade civil, sobretudo pelas
possibilidades de tornar viveis os invisíveis.
Simplesmente porque não podem existir
direitos de cidadania se não são para todos.
Direitos para algumas pessoas, por mais
numerosas que sejam,o são direitos,
são privilégios. Cidadania é expressão de
uma relação social que tem a todos como
premissa, sem exceção. Como se incluir na
relação de cidadania? Pensando em nossa
realidade de milhões e milhões que ainda
permanecem fora do sistema, sem que sua
cidadania tenha sido reconhecida; tentando
ver como e em que condições podem se
transformar em sujeitos históricos de sua
própria inclusão, iniciando um processo
virtuoso de rupturas e de reorganizão
social, econômica, política e cultural, de
modo democrático e sustentável. É sempre
bom recordar que os grupos populares em
situação de pobreza e desigualdade, quase
na exclusão social, não são ontológica ou
necessariamente democráticos. Do mesmo
modo que todos os sujeitos sociais, eles
precisam tornar-se democráticos ao longo
do próprio processo pelo qual tornam-se
sujeitos. A questão crucial é o entrelamento
social organizativo, em que se baseia um
grupo – de membros de favelas ou de
camponeses sem terra, por exemplo – para
desenvolver sua identidade, construir sua
visão do mundo, tomar consciência dos
direitos e da importância de sua participão,
formular propostas e estratégias. No
processo, literalmente, adquirem poder de
cidadania, mesmo estando longe de mudar
efetivamente o conjunto de relações que os
excluem. Entendendo o empoderamento como
conquista de poder cidadão – de visibilidade
dos até então invisíveis nas relações
constitutivas do poder – estamos falando do
que o grupo, a sociedade civil e a democracia
ganham. O processo de “empoderamento”
traz consigo novas organizações, uma
cultura democrática de direitos e uma real
capacidade de incidência na luta potica.
O que se constata na Arica Latina é que
o atropelamento da democratização por
parte da globalização neoliberal estancou
e, inclusive, fez retroceder processos
consistentes de emergência de novos
sujeitos. A luta contra essa globalizão, ao
contrário, está revelando as contradições
que permitem novamente a emergência
desses setores. No entanto, o quadro é novo
e depende de como a maior segmentação
produzida entre incluídos e excluídos é vista e
vivida nas diferentes sociedades. As grandes
cidades da América Latina não são apenas
uma soma de partes, como o Rio de Janeiro
do asfalto e das favelas. Uma parte não
pode dar as costas para a outra, ignorando e
desprezando-a.
Cândido Grzebowsky, texto elaborado para o
PRODDAL, 2002.
126
A democracia na América Latina
tações muito profundas nos sistemas de
produção e de emprego, que conduzem ao
aumento da desocupação e da sub-ocupa-
ção, e a uma grande crise dos laços sociais e
políticos. Tudo isso gera outra classe de bai-
xa qualidade, a dos ‘novos pobres,
72
provo-
cada, na verdade, por um tipo de desfi liação
cidadã dos que já estiveram integrados”.
De 1991 a 2002, quinze dos dezoito pa-
íses avançaram em seu crescimento econô-
mico per capita. E doze países obtiveram
uma redução no nível da pobreza (de fato,
Argentina, Bolívia, Paraguai, Peru, Repúbli-
ca Dominicana e Venezuela pioraram). Por
outro lado, ao chegar a 2002 apenas Guate-
mala, Honduras, México, Nicarágua, Pana-
má e Uruguai tinham conseguido reduzir a
desigualdade.
73
Há razões para afi rmar que
somente reduzindo a desigualdade será pos-
sível fazer com que a pobreza continue di-
minuindo, e também que a diminuição da
desigualdade tende a melhorar a possibili-
dade de crescimento econômico em ritmos
aceitáveis (gráfi co 4).
A possibilidade de maior igualdade vin-
cula-se a força da democracia. O cumpri-
mento dos objetivos sociais do desenvolvi-
mento, especialmente do desenvolvimento
humano, não pode ser alcançado unicamen-
te por meio do funcionamento dos merca-
dos. O impulso de igualdade não vem do
mercado e sim da promessa implícita na de-
mocracia. A igualdade dos cidadãos fortale-
ce e consolida a democracia.
A sociedade civil como promotora da
cidadania social
Os problemas e difi culdades encontra-
dos pelos estados de bem-estar para man-
ter a proteção de seus cidadãos, assim como
a difusão da ação das grandes organizações
não governamentais (ONG’s) que procuram
atenuar os efeitos da pobreza, possibilitaram
inicialmente a expansão de organizações vo-
luntárias que, aos poucos, estenderam seu
campo de ação a um grande número de áre-
as preocupantes no que se refere ao bem-es-
tar dos cidadãos.
O crescimento da sociedade civil rece-
beu maior impulso nos países onde hou-
ve ditaduras, em que os partidos políticos
não podiam expressar as demandas dos ci-
dadãos, ou nas zonas, tanto urbanas quanto
rurais, onde o Estado deixou de atender ade-
quadamente às necessidades básicas em saú-
de, educação, apoio a setores em risco, en-
tre outros.
Contudo, também fl oresceu um núme-
ro importante de organizações dedicadas à
promoção dos valores cívicos que velam pe-
72 Nun, José, texto produzido para o PRODDAL, 2002.
73 Reduzir o nível de pobreza signifi ca diminuir a porcentagem da população com renda abaixo da linha de po-
breza (baseado na medida da pesquisa de domicílios). A desigualdade é medida pelo coefi ciente de Gini. Ambas as
medidas referem-se à 1999 (o ano mais próximo) e são contrastadas com as de 2002.
127
Bases empíricas do Relatório
la inscrição dos cidadãos nos registros elei-
torais, pela realização de eleições limpas e
trabalham para melhorar a ação dos parti-
dos, dos movimentos políticos e das insti-
tuições representativas.
No campo da ação prática para reduzir a
pobreza, muitas ONGs (em rigor, diríamos
não estatais) assumem funções que até en-
tão, conforme se supunha, eram de respon-
sabilidade do Estado. Atualmente, uma par-
te relevante das políticas públicas sociais é
conduzida por ONGs em acordo com as ins-
tituições estatais.
A ação dessas organizações aumentou o
nível participativo dos habitantes. Em mui-
tos casos, a organização da sociedade civil
visa a promover valores democráticos em
sua prática corrente e atinge também a for-
ma com que se tomam decisões.
Embora seja preciso uma vigorosa ação
estatal para recuperar políticas sociais uni-
versais, que abarquem a totalidade da cida-
dania e que atendam às necessidades básicas
da população, essas políticas deveriam ser
executadas incluindo a dimensão participa-
tiva originária das diversas organizações da
sociedade civil, e promover a transparência.
Conclusões sobre a cidadania social:
conquistas e defi ciências
As de ciências no campo da cidadania
social são um dos desafi os mais importan-
tes que a região enfrenta. Em nenhum ou-
tro plano da cidadania, a democracia está
mais comprometida do que no da cidada-
nia social. Por último, existem boas razões
para afi rmar que os cidadãos que sofrem ex-
clusões em uma dimensão da cidadania são
os mesmos que sofrem exclusões em outras
dimensões. A pobreza material dos cidadãos
incide negativamente nas oportunidades de
educação, nas questões de nutrição e de saú-
de, nas oportunidades de emprego, na capa-
cidade para exercer e fazer valer os direitos ci-
vis, políticos, sociais, etc. A educação, a saúde
e o emprego requerem alimentação, moradia
e vestimenta. Estas, por sua vez, conduzem à
liberdade, ao progresso e à justiça. Abaixo de
certos níveis mínimos de direitos sociais, o
próprio conceito de cidadania é questionado
pela realidade. O panorama fi ca ainda mais
complexo quando se considera que a expec-
tativa de melhoria em algum desses temas
costuma estar vinculada à evolução de al-
gum ou de alguns dos outros aspectos.
quadro 33
A decência como valor coletivo
O que vou sugerir é vincular a superação da
pobreza e da desigualdade com algo que se
poderia argumentar que constitui um interesse
público geral: a democracia. Então, por que a
democracia interessaria aos privilegiados? […]
O argumento moral e político válido é que a
democracia funda-se em valores que exigem
uma atitude respeitosa para com a dignidade e
a autonomia de cada ser humano; nada mais e
nada menos […] o principal aglutinador só pode
ser um motivo ético: o tratamento decente que
todo ser humano merece. Um motivo adicional
é de interesse público: a melhoria da qualidade
de nossas democracias equivale a avançar em
direção a essa decência como um valor coletivo
de toda a sociedade.
Guillermo O’Donnell, 1999c. p. 82.
quadro 34
Disfunções da economia mundial
Se o capitalismo, ao excluir o político, se tornasse totalirio, correria o
risco de desmoronar-se […]. Porque em nenhum outro período de nossa
história, com a exceção muito transitória dos anos trinta, as disfunções
da economia mundial (desocupação em massa, formidável incremento
das desigualdades e da pobreza nos países ricos) foramo graves como
hoje; miséria insustentável e crises recorrentes em numerosos pses
em desenvolvimento, e exacerbão da desigualdade de renda por
habitante entre os diferentes países. A democracia não pode permanecer
indiferente a tudo isso.
Jean-Paul Fitoussi, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.
128
A democracia na América Latina
Em síntese, o desenvolvimento da de-
mocracia na Arica Latina requer abor-
dar decididamente os problemas que impe-
dem a vigência e a expansão da cidadania
social. Para isso, parece necessário centrar-
se no ataque à pobreza e na geração de em-
pregos de boa qualidade, tendo presente que
isso será muito difícil de conseguir sem re-
duzir também os enormes níveis de desi-
gualdade existentes na região.
Um dos desafi os mais urgentes que a re-
gião enfrenta são as defi ciências no campo
da cidadania social.
Os dados, em sua maior parte, refl etem
uma grave situação. A América Latina se ca-
racteriza por sofrer grandes carências em
múltiplos aspectos da cidadania social. Os
avanços de alguns países nesse plano, embo-
ra signifi cativos em si mesmos, são pequenos
em comparação com a escala dos problemas.
Existem exclusões sociais superpos-
tas. As privões em um componente da
cidadania social costumam coincidir com
privões em outros campos. Esta situação
sugere a idéia de défi cits estruturais em ma-
téria de cidadania social.
O panorama social regional é, por-
tanto, insufi ciente; a busca de uma maior
e melhor cidadania social, começando pe-
la satisfação das necessidades básicas da po-
pulão, representa um desa o central para
a América Latina.
74 CEPAL, IDEA, PNUD, 2003, p. 49
quadro 35
Pobreza e desigualdade: pouca variação signifi cativa
[Constatam-se], em várias oportunidades, as
relações que existem entre a desigualdade
e a pobreza econômicas, por um lado, e a
qualidade da democracia, por outro. […] Nesse
sentido, convém ler atentamente resultados
como os de um trabalho econométrico que
acaba de ser difundido: “A concluo mais
importante a que se pode chegar com o pre-
sente estudo é que o principal obstáculo que
se interpõe no caminho do êxito dos esforços
para reduzir a pobreza na Arica Latina e
no Caribe consiste em que o melhor remédio
para tratar a pobreza que afl ige a região – a
redução da desigualdade– parece ser um que
é muito difícil de receitar. Uma leve diminui-
ção da desigualdade contribuiria muito para
reduzir as privações extremas que ocorrem
na região. No entanto, parece que são muito
poucas as economias da região que foram
capazes de conseguir esse resultado, ainda
que em pequena medida”.
José Num, texto elaborado para o PRODDAL,
2002.
129
Bases empíricas do Relatório
1980 E 2000
Notas: A baixa estatura para a idade é uma medida que compara a estatura de uma criança de acordo com sua idade em
relação à média da população de referência. Este indicador refl ete um crescimento acumulado defi ciente e constitui uma
medida de defi ciências prévias no crescimento físico. Está associado a um conjunto de fatores de longo prazo tais como:
uma alimentação cronicamente insufi ciente, infecções freqüentes, persistentes más condutas de alimentação e um baixo
nível econômico do lar.
Fonte: Cálculo baseado em dados da OMS, Departamento de Nutrição para a Saúde e o Desenvolvimento 2002.
DESNUTRIÇÃO INFANTIL ENTRE
TABELA 35
País
Argentina 1995/96 12,4 1994-95/96 7,7
Bolívia 1998 26,8 1989-98 -10,9
Brasil 1996 10,5 1989-96 -15,4
Chile 1999 1,9 1986-99 -7,7
Colômbia 2000 13,5 1989-00 -3,1
Costa Rica 1996 6,1 1989-96 -3,1
Equador 1998 26,4 1986-98 -7,6
El Salvador 1998 23,3 1993-98 0,2
Guatemala 1999 46,4 1987-99 -11,3
Honduras 1996 38,9 1991/92-96 2,6
México 1999 17,7 1988-99 -5,1
Nicarágua 1998 24,9 1993-98 2,4
Panamá 1997 18,2 1985-97 -0,6
Paraguai 1990 13,9 .. ..
Peru 2000 25,4 1991/92-00 -6,4
Rep. Dominicana 1996 10,7 1991-96 -5,8
Uruguai 1992/93 9,5 1987-92/93 -6,4
Venezuela 2000 12,8 1990-00 -1,0
América Latina 18,9 -4,2
Último ano
Tendência recente
Anos de comparação
Ano
Porcentagem Mudança percentual
130
A democracia na América Latina
ANALFABETISMO EM MAIORES DE 15 ANOS, 1970-2001
Nota: Os dados representam a proporção da população adulta que é analfabeta. Referem-se à população de mais de 15
anos de idade que não é capaz de ler ou escrever uma pequena frase em sua vida cotidiana. Os dados para a Região são a
média de todos os casos.
Fonte: UNESCO, Instituto de Estatísticas 2002a.
TABELA 36
Argentina 7,0 5,6 4,3 3,2
Bolívia 42,3 31,2 21,8 14,5
Brasil 31,9 24,5 19,1 14,8
Chile 12,2 8,5 5,9 4,2
Colômbia 22,1 15,9 11,5 8,3
Costa Rica 11,8 8,3 6,1 4,4
Equador 25,7 18,1 12,3 8,4
El Salvador 42,0 34,1 27,5 21,3
Guatemala 54,8 46,9 38,9 31,4
Honduras 46,7 38,6 31,5 25,4
México 25,1 17,7 12,1 8,6
Nicarágua 45,5 41,2 37,2 33,5
Panamá 20,8 15,2 11,0 8,1
Paraguai 20,2 14,1 9,7 6,7
Peru 28,5 20,5 14,5 10,1
República Dominicana 32,8 26,1 20,6 16,4
Uruguai 7,0 5,1 3,4 2,3
Venezuela 23,6 16,0 11,0 7,4
América Latina 27,8 21,5 16,6 12,7
País 1970 1980 1990 2000
131
Bases empíricas do Relatório
MORTALIDADE INFANTIL, 1970-2000
Nota: A mortalidade infantil é medida em termos da probabilidade de morte entre o nascimento e o primeiro ano de vida.
Expressa-se em termos de mortes para cada 1.000 nascimentos. Os dados da região são a média de todos os casos.
Fonte: Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População, 2001.
TABELA 37
Argentina 48,1 39,1 32,2 27,1 24,3 21,8
Bolívia 151,3 131,2 109,2 90,1 75,1 65,6
Brasil 90,5 78,8 65,3 55,3 46,8 42,1
Chile 68,6 45,2 23,7 18,4 14,0 12,8
Colômbia 73,0 56,7 48,4 41,4 35,2 30,0
Costa Rica 52,5 30,4 19,2 16,0 13,7 12,1
Equador 95,0 82,4 68,4 57,1 49,7 45,6
El Salvador 105,0 95,0 77,0 54,0 40,2 32,0
Guatemala 102,5 90,9 78,8 65,0 51,1 46,0
Honduras 103,7 81,0 65,5 53,3 45,4 37,1
México 69,0 56,8 47,0 39,5 34,0 31,0
Nicarágua 97,9 90,1 79,8 65,0 48,0 39,5
Panamá 43,4 35,4 30,4 28,4 25,1 21,4
Paraguai 53,1 51,0 48,9 46,7 43,3 39,2
Peru 110,3 99,1 81,6 68,0 55,5 45,0
República Dominicana 93,5 84,3 63,9 54,6 46,5 40,6
Uruguai 46,3 42,4 33,5 22,6 20,1 17,5
Venezuela 48,7 39,3 33,6 26,9 23,2 20,9
América Latina 80,69 68,28 55,91 46,08 38,40 33,34
País 1970-75 1975-80 1980-85 1985-90 1990-95 1995-2000
132
A democracia na América Latina
Argentina 67,1 68,5 70,0 70,8 71,9 72,9
Bolívia 46,7 50,0 53,7 56,8 59,3 61,4
Brasil 59,5 61,5 63,1 64,6 66,0 67,2
Chile 63,4 67,1 70,6 72,5 74,2 74,9
Colômbia 61,6 63,8 66,6 67,6 68,2 70,4
Costa Rica 67,9 70,8 73,5 74,5 75,3 76,0
Equador 58,8 61,3 64,3 66,8 68,5 69,5
El Salvador 58,2 56,7 56,6 63,2 66,8 69,1
Guatemala 53,7 56,0 58,0 59,6 62,5 64,0
Honduras 53,8 57,3 60,9 64,3 65,0 65,6
México 62,4 65,1 67,5 69,6 71,2 72,2
Nicarágua 55,1 57,5 59,3 62,0 65,9 67,7
Panamá 66,2 68,8 70,5 71,4 72,5 73,6
Paraguai 65,9 66,5 67,1 67,6 68,5 69,6
Peru 55,4 58,4 61,4 64,1 66,5 68,0
República Dominicana 59,7 61,8 62,8 64,7 66,5 67,3
Uruguai 68,7 69,5 70,8 71,9 72,8 73,9
Venezuela 65,7 67,5 68,6 70,3 71,4 72,4
América Latina 60,54 62,67 64,74 66,79 68,50 69,76
Nota: Este indicador expressa, em anos, a esperança de vida ao nascer. Os dados para a região são médias de todos os casos.
Fonte: Nações Unidas, Departamento de Assuntos Econômicos e Sociais, Divisão de População, 2001.
ESPERENÇA DE VIDA AO NASCER, 1970-2000
País 1970-75 1975-80 1980-85 1985-90 1990-95 1995-2000
TABELA 38
133
Bases empíricas do Relatório
Argentina 100,0 76,0 48,0
Bolívia 99,1 .. 32,9
Brasil 96,5 68,5 14,8
Chile 88,9 71,8 37,5
Colômbia 88,1 54,3 22,2
Costa Rica 91,3 43,4 ..
Equador 97,7 46,9 ..
El Salvador 80,6 .. 18,2
Guatemala 81,0 18,4 ..
Honduras .. .. 13,0
México 100,0 57,4 19,8
Nicarágua 79,4 .. ..
Panamá 98,0 60,9 ..
Paraguai 91,5 45,0 ..
Peru 100,0 61,5 28,8
Rep. Dominicana 90,6 40,0 ..
Uruguai 93,6 77,4 33,6
Venezuela 88,0 50,4 29,2
América Latina 92,0 55,1 27,1
Notas: Os dois pontos seguidos (..) indicam que a informação não está disponível. A taxa de escolarização primária e secundária é a porcentagem de crianças
em idade escolar (segundo a defi nição de cada país) efetivamente inscritos na escola. As taxas de escolarização terciária não estão disponíveis.
Os dados para El Salvador (todas as categorias) e para o Peru (secundária e terciária) são de 1998/1999, o restante está baseado em informações de 1999/
2000. Os dados para a região são a média de todos os casos disponíveis.
Fonte: UNESCO, Instituto de Estatísticas,2002b,2002c e 2002d.
Taxa de Escolarização
Primária
ESCOLARIZAÇÃO PRIMÁRIA, SECUNDÁRIA E TERCIÁRIA, 1999
TABELA 39
Taxa de Escolarização
Secundária
Taxa de Escolarização
Terciária
País
Argentina 43,9 45,8 10,3
Brasil 55,8 40,6 4,7
Chile 48,2 46,6 5,3
México 44,2 48,8 6,9
Peru 79,6 19,4 1,1
Finlândia 6,9 43 50,1
Coréia do Sul 5,7 55,4 36,8
Estados Unidos 17,9 48,4 33,7
Notas: Porcentagem de estudantes em cada nível de rendimento na escala combinada de capacidade de leitura. O conceito de alfabetismo empregado no
Programa para Avaliação de Estudantes Internacionais (PISA) é mais amplo do que a noção tradicional, ou seja, “poder ler e escrever”. Aqui o alfabetismo
é medido sobre um contínuo, não como algo que um indivíduo possui ou não possui, inclusive em casos em que é necessário ou desejável para alguns
propósitos defi nir um ponto no contínuo do alfabetismo abaixo do qual os níveis de competência são considerados inadequados. Na verdade, não existe uma
linha que distinga uma pessoa completamente alfabetizada de outra que não é. O PISA – teste de capacidade de leitura – foi realizado com alunos de 15 anos.
O estudante tinha que procurar a informação, entender e interpretar os textos, refl etir sobre os conteúdos e avaliá-los.
Fontes: OCDE e UNESCO 2003, p.274.
Baixo Médio Alto
QUALIDADE EDUCATIVA E PERFORMANCE DO ALUNO, 2002
TABELA 40
Porcentagem de alunos em cada nível
País
134
A democracia na América Latina
Argentina 6,1 6,1 16,4 15,1 19,7
Bolívia 5,7 7,2 3,6 7,5 8,7
Brasil 5,3 4,3 4,6 7,1 7,1
Chile 17,0 7,4 6,6 9,2 9,0
Colômbia 13,8 10,5 8,8 20,2 16,2
Costa Rica 7,2 5,4 5,2 5,2 6,8
Equador 10,4 6,1 7,7 9,7 6,3
El Salvador .... 10,0 7,0 6,5 6,2
Honduras 11,7 6,9 6,6 .... 5,9
México 4,4 2,8 6,2 2,2 2,7
Nicarágua 3,2 7,6 16,9 9,8 12,1
Panamá 15,7 20,0 16,4 15,3 16,4
Paraguay 5,1 6,6 5,3 10,0 14,7
Peru 10,1 8,3 7,9 7,0 9,4
República Dominicana .... .... 15,8 13,9 17,2
Uruguai 13,1 9,2 10,8 13,6 17,0
Venezuela 14,3 11,0 10,3 13,9 15,9
América Latina 8,3 5,7 7,4 8,5 10,8
(TAXAS ANUAIS MÉDIAS), 1985-2002
Notas: Os dois pontos seguidos (..) indicam que a informação não está disponível. Para Argentina, Bolívia, Costa Rica,
El Salvador, Honduras, Nicarágua, Panamá, Uruguai e Venezuela a pesquisa é nacional urbana. No Brasil consideram-
se seis regiões metropolitanas (não se inclui aqui uma série nova para o Brasil). No Chile cobre o total do país. Para
Colômbia só se pode considerá-los sob sete áreas metropolitanas; desde 2000 o universo se expandiu, incluindo treze
áreas metropolitanas. No Equador, toma-se o total do país até 1997; a partir de 1998 só Quito, Guaiaquil e Cuenca estão
incluídos. No México, observam-se 39 áreas urbanas. A OIT não inclui dados para Guatemala. No Paraguai apenas se
realizou a pesquisa em Assunção. Os dados da República Dominicana incluem desemprego oculto. Finalmente, para o
Peru, leva-se em conta a Lima metropolitana, de 1996 a 2000 corresponde ao nacional urbano. As cifras, a partir de 2001,
correspondem a Lima metropolitana. Para América Latina as médias foram ponderadas pela OIT.
Fontes: Elaboração com base na informação das Pesquisas de Domicílios dos países, OIT, Panorama Trabalhista 2003,
anexo estatístico. Atenção: os dados desta tabela não coincidem necessariamente com os da Tabela 2, que utiliza os dados
da CEPAL (2003).
DESEMPREGO ABERTO URBANO
TABELA
4
1
País
1985 1990 1995 2000 2002
135
Bases empíricas do Relatório
Argentina 15-19 21,7 46,8 39,5 45,4
15-24 15,2 30,1 .. ..
Bolívia 10-19 13,3 5,0 14,7 20,0
20-29 9,5 5,4 10,8 10,7
Brasil 15-17 .. 11,0 17,8 34,5
18-24 .. 9,3 14,7 21,4
Chile 15-19 15,9 15,8 26,1 28,4
20-24 12,0 10,1 20,1 20,0
Colômbia 12-17 .. 21,0 33,3 32,7
18-24 .. 16,6 32,4 32,0
Costa Rica 12-24 10,4 13,5 10,9 16,3
Equador 15-24 13,5 15,3 17,4 17,4
El Salvador 15-24 18,6 13,3 14,3 ..
Honduras 10-24 10,7 10,2 .. 8,8
México 12-19 7,0 13,1 5,4 6,5
20-24 .. 9,9 4,0 5,2
Panamá 15-24 .. 31,9 32,6 34,1
Paraguai 15-19 18,4 10,8 .. 20,6
20-24 14,1 7,8 .. 16,7
Peru 14-24 15,4 11,2 17,1 15,1
Uruguai 14-24 26,6 25,5 31,7 40,0
Venezuela 15-24 18,0 19,9 25,3 27,2
(TAXAS ANUAIS), 1990-2002
Notas: Os dois pontos seguidos (..) indicam que a informação não está disponível. Na Argentina a Pesquisa de Lares
se realiza na Grande Buenos Aires; na Bolívia, em áreas urbanas nacionais 1996 (15-25 anos); no Brasil, em seis áreas
metropolitanas (novas séries a partir de 2001);no Chile, é o total nacional; na Colômbia, em sete áreas metropolitanas, em
setembro de cada ano, e, a partir de 2001, em treze áreas metropolitanas. Na Costa Rica, Equador, El Salvador e Honduras
os dados cobrem o total nacional (urbano). No México a pesquisa se realiza em 41 áreas urbanas; no Panamá, na região
metropolitana; e no Paraguai, em Assunção. Para o Peru, a partir de 1996, os dados cobrem o total nacional (urbano); e, a
partir de 2001, a Lima metropolitana. No Uruguai a pesquisa cobre Montevidéo; e, os dados da Venezuela são nacionais
urbanos. Não há dados da República Dominicana, Guatemala nem Nicarágua.
Fontes: Elaboração com base em informação das Pesquisas de Domicílios dos países, OIT, Panorama Trabalhista 2003,
Anexo Estatístico.
DESEMPREGO JUVENIL
TABELA 42
País Idade 1990 1995 2000 2002
136
A democracia na América Latina
1990 Total 42,8 57,2
Homens 39,4 60,6
Mulheres 47,4 52,6
1995 Total 46,1 53,9
Homens 42,7 57,3
Mulheres 51,0 49,0
2000 Total 46,9 53,1
Homens 44,5 55,5
Mulheres 50,3 49,7
2002 Total 46,5 53,5
Homens 44,3 55,7
Mulheres 49,4 50,6
NÃO AGRÍCOLA (PORCENTAGENS) 1990-2002
Nota: Só há informação para quinze países. Os países cobertos são: Argentina, Brasil, Chile, Costa Rica, Equador,
Honduras, México, Panamá, Peru (Lima metropolitana), Uruguai (cobre Montevidéo) e Venezuela.
Fonte: Baseado na informação das Pesquisas de Domicílios em cada país, em conjunto com outros dados de fontes
ofi ciais OIT, Panorama Trabalhista 2003, anexo estatístico, 2003.
AMÉRICA LATINA: ESTRUTURA DO TRABALHO
TABELA 43
Setor Formal
Setor Informal
Total
Total
Ano
1990 Total 29,2 80,6 66,6
Homens 32,5 79,1 68,4
Mulheres 27,0 82,8 65,1
1995 Total 24,2 79,3 65,2
Homens 25,4 78,2 66,6
Mulheres 24,0 81,1 65,7
2000 Total 27,2 79,6 64,6
Homens 26,6 78,4 66,0
Mulheres 27,9 81,5 62,9
2002 Total 26,2 78,9 63,7
Homens 25,5 77,9 64,9
Mulheres 27,0 80,6 62,3
PREVIDÊNCIA SOCIAL, (PORCENTAGENS) 1990-2002
Notas: As Pesquisas de Domicílios cobrem as seguintes áreas: Argentina (nacional urbano), Brasil (área urbana), Chile
(total do país), Colômbia (10 áreas metropolitanas), Costa Rica (total do país), Equador (área urbana), México (área
urbana), Panamá (total do país), Peru (Lima metropolitana), Uruguai (total do país) e Venezuela (área urbana).
Fonte: Elaboração com base nas informações das Pesquisas de Domicílios dos países, OIT, Escritório Regional para as
Américas 2003.
AMÉRICA LATINA: ASSALARIADOS QUE CONTRIBUEM PARA A
TABELA 44
Setor Formal
Setor Informal
To t a l
Ano
137
Bases empíricas do Relatório
Argentina 0,590 45,4
Bolívia 0,614 62,4
Brasil 0,639 37,5
Chile 0,559 20,6
Colômbia 0,575 50,6
Costa Rica 0,488 20,3
Equador 0,513 49,0
El Salvador 0,525 48,9
Guatemala 0,543 59,9
Honduras 0,588 77,3
México 0,514 39,4
Nicarágua 0,579 69,3
Panamá 0,515 34,0
Paraguai 0,570 61,0
Peru 0,525 54,8
Rep. Dominicana 0,544 44,9
Uruguai 0,455 15,4
Venezuela 0,500 48,6
Nota: As cifras mais altas do coefi ciente de Gini correspondem a um grau mais alto de desigualdade. A informação para
Argentina, Bolívia, Equador, Paraguai e Uruguai é das áreas urbanas. Os valores para os outros países correspondem à
média nacional. A média mundial do coefi ciente de Gini para 1999 é de 0,381. Pobreza: as cifras indicam a porcentagem de
indivíduos abaixo da linha de pobreza. Os indivíduos pobres são aqueles cuja renda é menor do que o dobro do custo da
cesta básica de alimentos.
Fontes: CEPAL, 2004.
Desigualdade:
coefi ciente de Gini, c.2002
CIDADANIA SOCIAL: DESIGUALDADE E POBREZA, 2002
TABELA 45
País
Pobreza: porcentagem abaixo
da linha de pobreza, 2002
138
A democracia na América Latina
139
Bases empíricas do Relatório
O apoio dado pelos cidadãos à democra-
cia é um componente-chave de sua sustenta-
bilidade. A experiência histórica nos ensina
que as democracias foram derrubadas por
forças políticas que contavam com o apoio
(ou, pelo menos, com a passividade) de uma
grande parte, às vezes majoritária, da cida-
dania. As democracias se tornam vulnerá-
veis quando, entre outros fatores, as forças
políticas autoritárias encontram, nas atitu-
des cidadãs, terreno fértil para atuar. Daí a
importância de conhecer e analisar os ní-
veis de apoio com que a democracia conta
na América Latina.
Com esse propósito, em maio de 2002, re-
alizou-se uma pesquisa sobre as opiniões cida-
dãos acerca da democracia com 19.508 pesso-
as entrevistadas, abrangendo uma população
de mais de 400 milhões de habitantes, nos de-
zoito países considerados no Relatório.
Uma primeira leitura das opiniões cida-
dãos, comparada com as pesquisas anterio-
res de Latinobarômetro, indica que por volta
de 1996, 61 por cento dos entrevistados, no
âmbito da região, preferiam a democracia a
qualquer outro regime; por volta de 2002,
esse percentual era de 57 por cento. Essa pre-
ferência pela democracia não implica neces-
sariamente um sólido apoio. Na realidade,
muitas pessoas que dizem preferir a demo-
cracia a outros regimes têm atitudes pouco
democráticas em relação a diversas questões
sociais. Em 2002, quase metade (48,1 por
cento) dos entrevistados que diziam preferir
a democracia a qualquer outro regime, pre-
feria igualmente o desenvolvimento econô-
mico à democracia, e um percentual seme-
lhante (44,9 por cento), que dizia preferir
a democracia, estava disposto a apoiar um
governo autoritário, desde que resolvesse os
problemas econômicos do seu país.
Grande parte das pessoas que manifes-
Como os latino-americanos vêem
a sua democracia
Estão de acordo com que o Presidente passe além do âmbito das leis 42,8 38,6
Acreditam que o desenvolvimento econômico é mais importante que a democracia 56,3 48,1
Apoiariam um governo autoritário se resolvesse os problemas econômicos 54,7 44,9
Não acreditam que a democracia solucione os problemas do país 43,9 35,8
Acreditam que pode haver democracia sem partidos 40,0 34,2
Acreditam que pode haver democracia sem um Congresso Nacional 38,2 32,2
Estão de acordo com que o presidente imponha ordem pela força 37,2 32,3
Estão de acordo com que o presidente controle os meios de comunicação 36,1 32,4
Estão de acordo com que o presidente deixe de lado o Congresso e os partidos 38,1 32,9
Não acreditam que a democracia seja indispensável para alcançar o desenvolvimento 25,1 14,2
EM RELAÇÃO A OUTROS SISTEMAS DE GOVERNO, 2002
Nota: n varia entre 16.183 (pode haver democracia sem congresso) e 17.194 (democracia vrs desenvolvimento econômico).
Fontes: Elaboração própria com base no Latinobarômetro 2002.
FRAGILIDADES DA PREFERÊNCIA PELA DEMOCRACIA
TABELA 46
Porcentagem da
amostragem total
dos 18 países
Atitudes específi cas relacionadas com a vigência e importância da democracia
Porcentagem dos
que preferem
a democracia a
qualquer outra
forma de governo
140
A democracia na América Latina
tam sua preferência pela democracia tem
atitudes contrárias a algumas regras bási-
cas desse regime. Aproximadamente, de três
pessoas, uma opina que a democracia po-
de funcionar sem instituições como o Par-
lamento e os partidos políticos. Essas res-
postas são um chamado de atenção: uma
proporção signifi cativa de latino-america-
nos dá mais valor ao desenvolvimento eco-
nômico do que à democracia, e estaria dis-
posta a deixar de lado a democracia por um
governo não-democrático que pudesse solu-
cionar seus problemas econômicos.
Para avançar na compreensão dessa situ-
ação, realizamos uma análise das respostas
a onze perguntas que refl etem não apenas
preferência pela democracia, mas também
atitudes em relação à forma de exercer o po-
der em democracia, a suas instituições bási-
cas e a diversos temas sociais.
75
Três tendências em relação à
democracia: democrática,
ambivalente e não-democrática
Identi camos três tendências ou perfi s
principais em que se agrupam as opiniões
e atitudes dos latino-americanos em rela-
ção à democracia: democrática, ambivalen-
te e não-democrática (gráfi co 5).
Os democratas são pessoas que dão res-
postas favoráveis à democracia em todos os
assuntos consultados. Preferem a democra-
cia a qualquer outra forma de governo e
apóiam a aplicação das regras democráticas
na gestão de governo, até mesmo em épocas
de difi culdades. Colocados na situação de
escolher entre a democracia e o desenvolvi-
mento, os democratas respondem que pre-
ferem a primeira ou que ambas as metas são
igualmente importantes. E ainda mais, con-
75 Ver metodologia de elaboração do IAD. As seguintes são as perguntas-chave que guiaram este componente do
estudo: (1) Com qual das seguintes frases o/a senhor(a) está mais de acordo?: a) a democracia é preferível a qual-
quer outra forma de governo; b) em algumas circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível; c) para
pessoas como nós, dá no mesmo um regime democrático ou um não democrático. (2) Se o/a senhor(a) tivesse
que escolher entre a democracia e o desenvolvimento econômico: a) o desenvolvimento econômico é o mais im-
portante; b) a democracia é o mais importante; c) ambos são iguais. (3) O/A senhor(a) acredita que a democracia
é indispensável para um país ser desenvolvido?: a) a democracia é indispensável para um país ser desenvolvido;
b) não é indispensável, pode-se chegar a ser um país desenvolvido com outro sistema de governo que não seja a
democracia. (4) Não me importaria que um governo não-democrático chegasse ao poder se pudesse resolver os
problemas econômicos: a) totalmente de acordo; b) de acordo; c) em desacordo; d) totalmente em desacordo. (5)
Algumas pessoas dizem que a democracia permite que se solucionem os problemas: a) a democracia soluciona os
problemas; b) a democracia não soluciona os problemas.
Apoio às instituições democráticas : (6) a) Sem Congresso Nacional não pode haver democracia; b) a democracia
pode funcionar sem Congresso Nacional. (7) a) Sem partidos políticos não pode haver democracia; b) A demo-
cracia pode funcionar sem partidos.
Dimensão delegativa : Se o país está com sérias difi culdades, o/a senhor(a) está totalmente de acordo, de acordo,
em desacordo ou totalmente em desacordo com que o presidente? (8) a) não se limite ao que dizem as leis; (9) b)
imponha a ordem pela força; (10) c) controle os meios de comunicação; (11) d) deixe de lado o Congresso e os
partidos.
76 O conceito de democracia delegativa foi construído por O’Donnell (1994) para referirse a países onde são re-
alizadas eleições livres e limpas, mas nos quais os governantes (especialmente presidentes) sentem-se autorizados
a atuar sem restrições institucionais. Nessa concepção fortemente majoritária e plebiscitária do poder político, o
governante não deixa de ser democrático, no sentido de que surge de eleições livres e limpas, e não tenta suprimi-
las no futuro. Mas, por outro lado, não se sente obrigado a aceitar as restrições e os controles de outras instituições
constitucionais (Parlamento e Poder Judiciário) nem de diversos organismos estatais ou sociais de controle; ao
contrário, costuma dedicar-se a ignorar, anular ou cooptar essas instâncias. A idéia básica dessa concepção é que os
eleitores vêem o presidente como o depositário exclusivo da legitimidade democrática, a quem conseqüentemente
delegam o direito e a obrigação de resolver os problemas do país como bem entender. Essa idéia (que não exclui
a de futuras eleições livres e limpas em que o presidente e seu partido poderão ser mudados) autoriza ações anti-
institucionais do presidente e também, como se verá mais adiante, decisões “para pôr ordem ou “resolver crises”
141
Bases empíricas do Relatório
rem um regime autoritário a um democráti-
co. São da opinião que atingir o desenvolvi-
mento do país é uma meta mais importante
do que a de preservar a democracia, e não
acreditam que a democracia seja indispen-
sável para atingir esse objetivo. Quando co-
locados na situação de ter que escolher entre
essas metas, optam pelo desenvolvimento.
Estão de acordo com as seguintes posições:
que “um governo não-democrático chegue
ao poder desde que possa resolver os proble-
de nítido cunho autoritário. Isto não implica, claro está, que o presidente delegativo seja onipotente, pois choca
com os Ressaibos de institucionalidade subsistentes, com diversas relações fáticas de poder e, dependendo das
conjunturas, com movimentos opositores, principalmente de prestação de contas à sociedade.
sideram que “a democracia é indispensável
para um país ser considerado desenvolvido.
Os democratas não estão de acordo com po-
sições do tipo delegatório
76
para resolver os
problemas do país: opõem-se a que o presi-
dente prescinda do Parlamento, controle os
meios de comunicação e imponha ordem
pela força, mesmo em tempos de crise.
Os não-democratas são pessoas que, em
todos os assuntos consultados, expressam
opiniões contrárias à democracia. Prefe-
142
A democracia na América Latina
mas econômicos” e que o presidente dei-
xe de lado o Congresso e os partidos políti-
cos, se o país estiver em sérias difi culdades”.
Finalmente, não parecem dar muita chan-
ce para que a solução dos problemas do país
seja encontrada dentro da democracia, mes-
mo que se trate de uma democracia de tipo
delegatório. Em síntese, inclinam-se a prefe-
rir a substituição de qualquer tipo de demo-
cracia por outro sistema de governo.
Os ambivalentes são pessoas com opini-
ões ambíguas, para não dizer contraditórias.
As opiniões que expressam, em geral, con-
cordam com concepções delegatórias da de-
mocracia. Eles estão, a priori, de acordo com
a democracia, mas consideram válido tomar
decisões antidemocráticas na gestão de go-
verno se, na sua opinião, as circunstâncias
assim exigirem. Conseqüentemente, em al-
guns temas, eles estão de acordo com as opi-
niões dos democratas e em outros, com as
dos não-democratas. Assim como os demo-
cratas, eles manifestam preferir um governo
democrático a um autoritário, consideram
que “a democracia soluciona problemas” e
que é indispensável para o desenvolvimento.
Mas, por outro lado, estão de acordo com os
não-democratas quando opinam que atingir
o desenvolvimento do país é mais impor-
tante do que preservar a democracia, e não
objetariam que um governo não-democráti-
co chegasse ao poder, se pudesse resolver os
problemas econômicos. Além disso, os am-
bivalentes se distinguem dos outros dois
grupos por aceitar que, em tempos de cri-
se, o presidente imponha ordem pela força,
controle os meios de comunicação e pres-
cinda do Parlamento e dos partidos.
Pode parecer paradoxal que os ambiva-
lentes, que expressam preferir a democracia,
manifestem acordo com medidas de gover-
no de clara tendência autoritária. Conside-
ramos que essas opiniões derivam da con-
cepção delegatória da democracia adotada
por esses consultados. Esta comprovação é
importante: a preferência dos ambivalentes
por uma liderança de base democrática, mas
com traços que, embora autoritários, au-
mentem a efi cácia da sua gestão, poderia ser
eventualmente capitalizada pelos adversá-
rios da democracia.
Magnitude das tendências em relação à
democracia
Em 2002, os democratas pertenciam à
tendência mais difundida entre os latino-
americanos, não chegando, porém, a for-
mar uma maioria (grá co 6). Somaram 43
por cento dos consultados nos dezoito paí-
ses da América Latina. Entretanto, o apoio
majoritário à democracia depende dos am-
bivalentes, que são a segunda tendência
mais difundida (30,5 por cento). Finalmen-
te, os não-democratas pertenciam à ten-
dência menos difundida: 26,5 por cento dos
consultados.
Cada sub-região apresenta uma situa-
ção diferente: vantagem para os democratas,
equilíbrio e polarização. Na América Cen-
tral e no México, os democratas são quase a
metade da população, representam mais do
que o dobro dos não-democratas e têm am-
pla vantagem sobre os ambivalentes. Nos pa-
íses do Mercosul e no Chile há uma situação
polarizada: as tendências mais difundidas
são as opostas, os democratas e os não-de-
mocratas. Além disso, a diferença de magni-
tude entre ambos é estreita. Finalmente, na
Região Andina existe um equilíbrio entre as
três tendências: a diferença entre os demo-
cratas e os ambivalentes é pequena, e nenhu-
ma consegue uma vantagem ampla sobre os
não-democratas.
Distância entre as tendências em relação
à democracia
De que tendência os ambivalentes es-
tão mais próximos? Na maior parte dos pa-
íses latino-americanos, a existência de uma
maioria que respalde a democracia depende
da capacidade dos democratas para atrair os
ambivalentes para suas posições. A distância
entre as atitudes dessas duas tendências é re-
levante para considerar o efeito da dimensão
da tendência democrática.
Nas perguntas relativas ao apoio às insti-
tuições representativas (Congresso Nacional
e partidos políticos), preferência pela demo-
cracia, consideração desta como indispen-
sável para o desenvolvimento, e expectativa
de que com a democracia os problemas do
país possam ser resolvidos, as opiniões dos
ambivalentes e dos democratas são signifi -
Na maior parte
dos países latino-
americanos, a
existência de
uma maioria
que respalde
a democracia
depende da
capacidade dos
democratas
para atrair os
ambivalentes
para suas
posições.
143
Bases empíricas do Relatório
cativamente mais próximas do que entre os
não-democratas e os ambivalentes. Em dois
temas em particular, A democracia solucio-
na problemas e A democracia é indispen-
sável para o desenvolvimento, praticamen-
te não há diferenças entre os ambivalentes e
os democratas. Além disso, em todos esses
casos, os ambivalentes se encontram na zo-
na de atitudes democráticas (tabela 47), com
um elevado número de pontos nas respecti-
vas escalas.
No entanto, tratando-se de atitudes de-
legatórias e da tendência a apoiar um gover-
no não-democrático se “assim os problemas
do país puderem ser resolvidos”, a situação
se inverte.
A distância entre os não-democratas e
os ambivalentes é signifi cativamente menor
do que a existente entre democratas e ambi-
valentes. Em dois temas, particularmente, a
distância entre os ambivalentes e os demo-
cratas é muito evidente: no apoio a um pre-
sidente que deixar de lado o Congresso e os
partidos, e no apoio a um eventual governo
não-democrático.
Finalmente, a respeito da opção entre
democracia e desenvolvimento, observamos
que as três tendências se deslocaram “para
baixo”: os democratas se encontram na zona
de atitudes intermediárias (média de pontos
= 2,47), os ambivalentes beiram a zona de
atitudes não democráticas (média de pontos
= 2) e os não-democratas assumem uma po-
sição fechada (média de pontos = 1,47).
Embora as diferenças entre tendências se
mantenham em relação a essa opção, o fato
de o número de pontos ser menor nos três
casos é um chamado de atenção: é na opção
entre desenvolvimento econômico e demo-
cracia que se evidencia uma maior tensão
entre as preferências dos latino-americanos.
De um ponto de vista geral, a distância
entre as atitudes dos ambivalentes e as dos
democratas é quase igual à existente entre os
ambivalentes e os não-democratas. Os am-
bivalentes não se inclinam, por enquanto,
para um ou para outro lado.
Em resumo, a relativa eqüidistância en-
tre democratas, ambivalentes e não-demo-
cratas parece ser resultado de uma tensão:
144
A democracia na América Latina
quadro 36
Quantos democratas e não-democratas “puros” existem na América Latina?
Em toda a população entrevistada nos 18 países da América
Latina, foram detectados, somente 7 não-democratas “puros”
e 142 democratas “puros” (os dois somam apenas 1 porcento
das pessoas). Um não-democrata “puro” é uma pessoa que
em todos os aspectos incluídos na pesquisa das tendências
sempre escolheu a resposta mais hostil à democracia. Devido
ao fato de que a escala de medição empregada varia entre 1
(atitude mais hostil) e 4 (atitude mais pró-democrática), essas
pessoas obtiveram uma pontuação média igual a 1. Como era
de se esperar, esses 7 recalcitrantes pertencem à tendência
não democrática. Pelo contrário, um democrata “puro” é uma
pessoa que, em todos os casos, escolheu a resposta mais favo-
rável à democracia: sua pontuação média foi a máxima (4).
A imensa maioria dos entrevistados tem pontos de vista um
pouco mais misturados, menos extremos, embora com tendên-
cias claramente discerníveis. Como foi indicado, os democra-
tas tendem a pontuar na zona alta das escalas para medir as
atitudes democráticas em todos os temas considerados: 70%
dos assim classifi cados têm pontuações médias entre 3,01 e 4
pontos, enquanto poucos ambivalentes – 9,8% do total – e ne-
nhum não-democrata obtêm essa pontuação. Em contraparti-
da, na zona de atitudes não-democráticas, em que a pontuação
média varia entre 1 e 2 pontos, predominam os não-democra-
tas: constituem 75% das pessoas que estão nessa zona.
Na zona intermediária (pontuação média entre 2 e 3 pontos)
pode ser verifi cada uma situação menos defi nida, pois nela
coexistem importantes segmentos das três tendências. No
entanto, mesmo assim é possível identifi car tendências. Em
primeiro lugar, quase todos os ambivalentes estão localizados
nessa zona (84,2% do total). Em segundo lugar, há uma pre-
sença importante de não-democratas na faixa entre 2,01 e 2,50,
abaixo do ponto médio da escala, e alguma concentração de
democratas na faixa entre 2,51 a 3,0, uma área acima do ponto
médio. Em ambos os casos, trata-se de áreas adjacentes a suas
respectivas “zonas naturais”.
Em resumo, embora na realidade haja poucos “tipos puros”,
as tendências conseguem agrupar as pessoas de acordo com
padrões de apoio à democracia.
Elaboração própria com base no Latinobarômetro, 2002.
145
Bases empíricas do Relatório
a maior proximidade entre ambivalentes e
democratas no tema do apoio à democracia
e suas instituições compensa a maior proxi-
midade entre os ambivalentes e os não-de-
mocratas no que se refere a atitudes delega-
tórias.
Tendências em relação à democracia:
perfi l social
No que se refere às tendências em rela-
ção à democracia, a base social que as sus-
tenta é heterogênea; as pessoas que apóiam
uma tendência determinada não pertencem
majoritariamente a um grupo ou classe so-
cial. Em particular, a composição social dos
democratas revela que o apoio à democra-
cia está arraigado de um modo bastante se-
melhante nos distintos setores da sociedade.
Mesmo assim, observam-se as seguintes re-
lações (tabela 48):
Pessoas com educação superior (com-
pleta ou incompleta) tendem a ser democra-
tas.
Não há, em compensação, maiores di-
ferenças entre pessoas com educação primá-
ria e secundária.
Os democratas tiveram maior mobili-
dade educativa em relação aos pais.
Há uma maior presença relativa de jo-
vens entre os não-democratas.
Os não-democratas são, em média, pes-
soas que percebem que tiveram uma mobili-
dade econômica descendente mais intensa do
que os outros grupos em relação aos pais.
Os não-democratas são os que mais
tendem a pensar que os fi lhos terão uma
menor mobilidade econômica ascendente.
Zona de atitudes democráticas Preferência democracia 0,45
(3 a 4 pontos) Democracia indispensável
para o desenvolvimento 0,04
Democracia soluciona
problemas 0,05
Apoio ao Congresso 0,57
Apoio aos partidos 0,52
Zona intermediária Democracia vs. desenvolvimento 0,90 Apoio a governo democrático
(2 a 3 pontos) para resolver problemas 4,61
Presidente respeite leis 1,76
Presidente não use força 1,80
Presidente não controle meios 1,65
Presidente deixe de lado
Congresso e partidos 2,13
Zona de atitudes não democráticas
(1 a 2 pontos)
DISTÂNCIA ENTRE AS TENDÊNCIAS EM RELAÇÃO À DEMOCRACIA
TABELA 47
Notas: Os n variam entre 14.532(p41st) e 15.216 (p39st e p40st).
(1) O intervalo de variação das escalas de medição das atitudes democráticas nas perguntas empregadas para o estudo
das tendências em relação à democracia foi padronizado. Um valor de 4 foi estipulado para as atitudes mais favoráveis em
relação à democracia e o valor de 1, para as atitudes mais negativas em relação à democracia.
(2) Consulte explicação sobre o conceito de distância e seu respectivo indicador sob o título “Terceira dimensão: distância
entre as tendências” da Nota Técnica do IAD que aparece em Anexos (p.225).
Fonte: Elaboração própria com base no Latinobarômetro 2002.
Maior proximidade entre democratas
e ambivalentes
Pontuação na escala de atitudes
democráticas (1)
NOS DIVERSOS TEMAS ESTUDADOS, AMÉRICA LATINA, 2002
Di
Di
Distância entre tendências (2)
Maior proximidade entre não
democratas e ambivalentes
146
A democracia na América Latina
América Central e México (1) % de pessoas n=6.402 46,6 33,8 19,7 ..
Região Andina % de pessoas n=4.377 37,3 34,4 28,3 ..
Mercosul e Chile % de pessoas n=4.438 43,6 21,9 34,5 ..
América Latina % de pessoas n=15.217 43 30,5 26,5 ..
Sexo % Homens 51,5 52,9 50,8 50 **
% Mulheres 48,5 47,1 49,2 50
Idade % 16 a 29 anos 37,6 35,1 38,5 40,8 **
% 30 a 64 anos 54,3 56,3 53,3 52,2
% 65 a 99 anos 8 8,6 8,1 7
Média de idade 38,16 39,24 37,83 46,8 **
Nível educativo % sem estudos 7,2 6,3 8,5 7,2 **
% 1 a 6 anos 32 30,4 34,2 31,8
% 7 a 12 anos 43,1 41,9 43,2 45
% Superior completa ou incompleta 17,7 21,4 14,1 16
Média de anos de estudo 9,33 9,69 8,84 9,29 **
Nível econômico (2) % Baixo 41,5 40 44,8 40,2 *
% Médio 49,2 49,5 47,3 50,9
% Alto 9,3 10,5 7,9 8,9
Média do índice econômico 4,01 4,12 3,84 4,05 **
Média de mobilidade econômica -0,44 -0,42 -0,38 -0,52
acontecida (4)
Corte (3) % Socializado em regime autoritário 51,8 48,8 53,3 55,1 **
% Socializado em período de transição 11,6 11,9 11 11,9
% Socializado em democracia 36,6 39,4 35,7 33
Média de anos de socialização
em não democracia 6,36 6,04 6,49 6,74 **
PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS PESSOAS SEGUNDO SUA
Notas:
(1) Inclui República Dominicana.
(2) Com base no índice econômico elaborado a partir da posse de artefatos e da educação do chefe de família. Esse índice
pode variar entre 0 e 10. Se o índice encontra-se entre 0 e 3,33 considera-se nível econômico baixo, se encontra-se entre
3,34 e 6,66 considera-se nível econômico médio e se encontra-se entre 6,67 e 10 considera-se nível econômico alto.
(3) De acordo ao número de anos de socialização nos que se viveu sob um regime autoritário, se determina se uma pessoa
foi socializada em democracia, num período de transição ou em um regime autoritário. Considera-se que o número de
anos de socialização de uma pessoa é de onze anos (entre os 7 e os 17 anos).
(4) O índice de mobilidade econômica é elaborado segundo a avaliação que os entrevistados fazem sobre a situação
econômica dos seus pais e a comparação de esta em relação com a situação atual própria.
Fonte: Processamento de várias perguntas do Latinobarômetro 2002.
Estrutura da
amostragem
Democratas
Não democratas
Signifi cância
(4)
Categorias
TENDÊNCIA EM RELAÇÃO À DEMOCRACIA, 2002
Ambivalantes
Tendência em relação à democracia
TABELA 48
147
Bases empíricas do Relatório
Um pouco mais da metade dos habitan-
tes da América Latina foi socializada sob re-
gimes autoritários (52,8 por cento). No ca-
so dos democratas, esta proporção cai para
48,8 por cento; entre os não-democratas a
proporção se eleva a 55,1 por cento.
Heterogeneidade
O estudo de opiniões em outros âmbi-
tos de interesse permite analisar se pessoas
de uma mesma tendência em relação à de-
mocracia compartilham, também, opini-
ões a respeito do que deveria ser feito e de
quem deveria ser apoiado eleitoralmente em
um país.
Os dados levantados indicam que as ten-
dências são politicamente heterogêneas. Em
particular, as pessoas que compartilham
uma tendência positiva em relação à demo-
cracia não se concentram em forças políti-
cas determinadas, nem manifestam opiniões
muito diferentes das opiniões do resto dos
consultados (tabela 49). Entretanto, há algu-
mas diferenças interessantes:
Os não-democratas tendem a opinar,
com maior freqüência do que os outros, que
o problema para eles prioritário não está
sendo solucionado ou que existe um retro-
cesso na sua solução.
Os não-democratas tendem a notar,
com maior freqüência, que o setor políti-
co ao qual pertencem não tem igualdade de
oportunidades no que se refere a acesso ao
poder.
Os não-democratas tendem a estar
menos satisfeitos com a democracia do que
os democratas e os ambivalentes (apenas 19
por cento, comparados com 40 e 43,9 por
cento, respectivamente).
Os não-democratas tendem a confi ar
menos do que os outros nas instituições e
nos políticos.
Os não-democratas acreditam com
maior freqüência do que os outros que, se
for preciso, os políticos mentem para ganhar
as eleições.
Os democratas, mais do que os não-
democratas e os ambivalentes, tendem a fa-
vorecer um maior protagonismo do Estado
no desenvolvimento do país.
Não há maiores diferenças de opinião
acerca dos problemas prioritários que de-
vem ser solucionados no país: democratas,
ambivalentes e não democratas coincidem
em apontar os problemas de pobreza e de-
semprego como os mais importantes.
Pela análise do perfi l dos não-democratas
e de suas opiniões sobre a realidade política
e econômica, é possível também comprovar
que essa tendência está associada a menor
educação, socialização em períodos autoritá-
rios, baixa mobilidade social em relação aos
pais, menores perspectivas positivas quanto
ao futuro dos fi lhos e à solução de seus pro-
blemas públicos, e a uma grande desconfi an-
ça nas instituições e nos políticos.
Formas de participação dos cidadãos
na vida política
Embora não seja possível determinar
de maneira geral o nível ótimo de partici-
pação que deveria existir em uma democra-
cia, toda democracia precisa de algum nível
de participação dos cidadãos. Nas mais di-
nâmicas, as pessoas encontram uma série de
caminhos para exercer esse direito.
Mediante o exame da participação cida-
dã, pode-se determinar qual das tendências
já examinadas é a mais ativa e, dessa forma,
acrescentar um novo elemento de juízo para
o estudo sobre o apoio – e a vulnerabilidade –
das democracias na região (tabela 50).
A maioria dos cidadãos na América La-
tina não está desconectada da vida políti-
ca e social dos seus países. Só uma peque-
na minoria dos consultados, 7,3 por cento
do total, não aderiu a nenhum ato de parti-
cipação cidadã nos anos recentes. Adicionais
22,1 por cento se limitaram a exercer o vo-
to na última eleição presidencial do seu país.
No total, em torno de 30 por cento das pes-
soas podem ser classifi cadas como cidadãos
desmobilizados: ou não exercem seus direi-
tos de participação ou exercem de maneira
intermitente, na modalidade de participa-
ção política que menos esforço pessoal re-
quer: o voto.
Em cada dez pessoas entrevistadas, qua-
se quatro (37,6 por cento) intervêm na vi-
da pública do seu país, independentemente
148
A democracia na América Latina
América Central e México (1) % de pessoas n=6.402 46,6 33,8 19,7 ..
Região Andina % de pessoas n=4.377 37,3 34,4 28,3 ..
Mercosul e Chile % de pessoas n=4.438 43,6 21,9 34,5 ..
América Latina % de pessoas n=15.217 43,0 30,5 26,5 ..
Voto % votou na última eleição 78,3 82,3 76,9 73,6 **
% não votou por desencanto
ou desinteresse 8,9 7,2 10,2 10,2 **
% manifesta ter um partido 47,5 51,7 46,6 41,7 **
Média do índice de
efi cácia do voto 3,01 3,03 3,13 2,84 **
Democracia % dá signifi cado
negativo de democracia 5,4 2,4 3,8 12,8 **
% satisfeito com o funciona
mento da democracia 35,6 40,0 43,9 19,0 **
Outras atitudes políticas % opina não ter igualdade
de oportunidades políticas 32,5 29,5 31,0 39,3 **
% opina que é preciso ser
cuidadoso ao tratar com os demais 80,7 79,0 78,9 85,5 **
Média na escala esquerda-direita 5,93 5,77 6,33 5,75 **
Média de índice de confi ança em
instituições e atores políticos 1,93 1,97 2,03 1,77 **
Estratégias de desenvolvimento % opina: instituições públicas
sem solução ou privatizar 5,0 3,8 5,1 6,8 **
% a favor de medidas
administrativas de reforma 42,0 41,8 43,6 40,7
% a favor de melhoramento de
“accountability” no Estado 53,0 54,4 51,3 52,6
Média índice de intervenção
econômica do Estado 3,82 4,05 3,55 3,76 **
Problemas prioritários % menciona emprego, pobreza,
desigualdade e renda insufi ciente 60,2 62,6 58,2 58,6 **
% menciona corrupção 12,0 12,3 11,6 12,0 ns
% menciona violência política 7,4 5,7 7,8 9,6 **
Resposta a problemas % opina que está retrocedendo na
prioritários solução ou não tem solução 32,0 31,9 27,4 37,8 **
% opina que o problema prioritário
está sendo solucionado 7,5 6,9 9,5 6,3 **
% menciona um tema prioritário
não tratado em campanha 82,9 84,2 80,3 83,6 ns
% opina que políticos
não cumprem promessas de
campanha porque mentem 64,4 65,3 58,3 69,7 **
PERFIL POLÍTICO DAS PESSOAS SEGUNDO SUA TENDÊNCIA
Notas:
(1) Inclui República Dominicana.
(2) Indica-se com um (*) quando a medida de associação utilizada ou a Análise de Variância (ANOVA por sua sigla em inglês) resulta signifi cativa a 5%. Indica-
se com (**) quando o resultado é signifi cativo a 1%. Quando não é pertinente o cálculo de uma medida de associação ou da ANOVA indica-se com dois pontos
seguidos (..). Sobre as provas realizadas em cada caso, consulte o Compêndio Estatístico.
Fonte: Processamento de várias perguntas do Latinobarômetro 2002.
Estrutura da
amostragem
Democratas
Não democratas
Signifi cância
(2)
Categorias
EM RELAÇÃO À DEMOCRACIA, 2002
Ambivalantes
Tendência em relação à democracia
TABELA 49
149
Bases empíricas do Relatório
da participação eleitoral. Além de votar, en-
tram em contato com autoridades públicas
quando há problemas que afetam suas co-
munidades, participam de manifestações
públicas e colaboram com tempo, traba-
lho ou dinheiro na resolução dos proble-
mas da comunidade. São cidadãos que exer-
citam ativamente seus direitos. Dentre eles,
distinguem-se dois grupos. Em primeiro lu-
gar, existe um setor altamente participati-
vo, composto por pessoas que, literalmen-
te, fazem de tudo”. Registrou-se atividade
em todos os âmbitos de participação cidadã
pesquisados (participação eleitoral, em ma-
nifestações coletivas, em instituições sociais,
e contatando autoridades). Na América La-
tina, são aproximadamente 25 por cento do
total, um número ligeiramente inferior ao
dos cidadãos desmobilizados.
O segundo setor, composto aproximada-
mente por uma de cada oito pessoas (13,3
por cento), também realiza atividades de
participação política independentemente da
eleitoral, mas sem atingir o nível e a diversi-
dade das ações dos cidadãos altamente par-
ticipativos. Combinam o exercício do sufrá-
gio com pelo menos uma outra modalidade
de participação política: votam e entram em
contato com autoridades; votam e partici-
pam de manifestações públicas; em alguns
casos, podem também colaborar com a co-
munidade. Não estão, porém, ativas em to-
das as frentes. Existe um setor que desen-
volve atividades políticas não eleitorais de
participação cidadã: abstém-se de votar, po-
rém entra em contato com autoridades pú-
blicas e participa de manifestações públicas
(4,9 por cento).
Finalmente, um terço (33,2 por cento)
dos latino-americanos são pessoas social-
mente ativas, a maioria das quais tem, no
mínimo, uma intervenção esporádica na po-
lítica por meio do voto. Neste grupo, as pes-
soas se encontram em uma posição inter-
mediária entre os cidadãos desmobilizados
e os politicamente ativos. Por um lado, co-
laboram com organizações da sua comuni-
dade e, nesse sentido, exercitam seu direito
de participar de atividades de seu interesse.
Por outro lado, essa atividade se desenvolve
principalmente em um âmbito não político.
Participação cidadã e tendências em rela-
ção à democracia
O último aspecto na análise da partici-
pação é seu vínculo com as opiniões em re-
lação à democracia. Na América Latina, os
democratas tendem levemente a participar
mais ativamente na vida política de seus pa-
íses do que os ambivalentes e os não- demo-
cratas. 43 por cento dos democratas realizam
outras atividades políticas, tais como, entrar
em contato com autoridades e funcionários
públicos e manifestar-se publicamente, além
de que quase todos votam; 37 por cento dos
não-democratas podem ser classifi cados co-
mo ativos, assim como 39 por cento dos am-
bivalentes. Uma comprovação importante é
que nem sempre os democratas são os mais
participativos.
Per s de intensidade da cidadania
A análise integrada da dimensão, da dis-
tância e do ativismo das tendências em re-
lação à democracia ajuda a proporcionar
uma estimativa do grau de respaldo cida-
dão com que ela conta. Com esse propósito
preparamos o índice de apoio à democracia
(IAD), que oferece uma visão sintética sobre
o apoio e a possível vulnerabilidade das de-
mocracias latino-americanas.
Esse índice permite avaliar o atual equilí-
brio de forças e o potencial para criar coali-
zões cidadãs amplas de apoio à democracia,
incluindo os setores ambivalentes. É uma
ferramenta que distingue as situações polí-
ticas favoráveis das desfavoráveis e arrisca-
das. Nas situações favoráveis, há um balanço
de forças positivo para a democracia, pois os
democratas são maioria, são os politicamen-
te mais ativos, e os ambivalentes estão relati-
vamente próximos de suas posições. No caso
oposto, quando o balanço de forças é negati-
vo, os não-democratas são maioria, são mais
ativos e têm os ambivalentes mais próximos.
Com o IAD será possível, mediante futuras
medições, examinar as variações na situação
política e na suposta solidez das bases de es-
tabilidade democrática na cidadania.
As fontes de informação do IAD também
podem ser empregadas para estudar a inten-
sidade da cidadania, isto é, como as pessoas
exercitam, se é que o fazem, seu status de ci-
150
A democracia na América Latina
(As provas
são realizadas
comparando as
pessoas que não
fazem nada ou
que só votam com
as que realizam
ação política só ou
combinada)
PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS PESSOAS SEGUNDO MODOS DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ, 2002.
TABELA 50
Estrutura da
amostragem
Signifi cância (2)
Categorias
Modos de participação cidadã
Colabora com ou
sem voto
Colabora e ação
política com voto
Colabora e ação
política sem voto
Ação política com
ou sem voto
Só vota
Não faz nada
(As provas
são realizadas
comparando as
pessoas que
participam nos
seis modos)
América Central e México (1) % de pessoas n=7.387 7,3 20,2 35,2 6,9 5,0 25,4 .. ..
Região Andina % de pessoas n=5.178 7,9 23,1 34,3 8,0 4,3 22,6 .. ..
Mercosul e Chile % de pessoas n=5.330 6,6 23,8 29,2 11,1 5,2 24,0 .. ..
América Latina % de pessoas n=17.895 7,3 22,1 33,2 8,5 4,8 24,2 .. ..
Sexo % Homens 48,5 41,8 45,5 46,3 49,0 52,1 55,4 ** **
% Mulheres 51,5 58,2 54,5 53,7 51,0 47,9 44,6
Idade % 16 a 29 anos 33,1 51,0 28,3 34,9 31,7 49,7 26,8 ** ns
% 30 a 64 anos 57,8 38,4 59,8 57,3 58,4 44,6 65,1
% 65 a 99 anos 9,0 10,6 11,9 7,8 9,8 5,8 8,1
Média de idade 39,68 35,78 42,06 38,72 40,58 33,96 40,83 ** *
Nível educativo % Sem estudos 9,2 14,1 11,7 9,3 6,9 9,2 6,3 ** **
% 1 a 6 anos 35,4 38,5 37,4 37,6 33,2 30,6 31,2
% 7 a 12 anos 39,5 39,8 38,4 39,9 43,2 43,7 37,7
% Superior completo
ou incompleto 15,9 7,6 12,6 13,2 16,6 16,5 24,8
Média de anos de
estudo 8,79 7,64 8,23 8,58 9,18 8,97 9,77 ** **
151
Bases empíricas do Relatório
Notas:
( 1) Inclui República Dominicana.
(2) Indica-se com um (*) quando a medida de associação utilizada ou a Análise de Variância (ANOVA por sua sigla em inglês) resulta signifi cativa a 5%. Indica-se com (**) quando o resultado é signifi cativo a 1%. Quando não é
pertinente o cálculo de uma medida de associação ou da ANOVA indica-se com dois pontos seguidos (..). Sobre as provas realizadas em cada caso, consulte o Compêndio Estatístico.
( 3) Com base no índice econômico construído a partir da posse de utensílios e da educação do chefe de família. Esse índice pode variar entre 0 e 10. Se o índice encontra-se entre 0 e 3,33 considera-se nível econômico baixo,
se encontra-se entre 3,34 e 6,66 considera-se nível econômico médio e se encontra-se entre 6,67 e 10 considera-se nível econômico alto.
( 4) Com base na pergunta p27u: “Qual é o tema que lhe interessa e que os candidatos na última eleição não se atreveram a abordar? “.
( 5) Com base no índice de confi ança em instituições e atores, construído a partir de perguntas sobre confi ança em “ “Poder judiciário “, “Governo “, “Municípios “, “Congresso “, “Partidos políticos “ e “Pessoas que dirigem
o país “.
Cidadão não ativo: Não tem participação política ou realiza a que, além de esporádica, requer menor esforço: votar). Pode colaborar em atividades sociais.
Cidadão ativo: Contacta autoridades e participa de manifestações públicas, mas sem atividade em todos os âmbitos da participação cidadã.
Cidadão altamente participativo. Está ativo em todos os âmbitos da participação cidadã.
Fonte: Processamento de perguntas da Seção Proprietária do PNUD e de outras perguntas no Latinobarômetro 2002.
(As provas
são realizadas
comparando as
pessoas que não
fazem nada ou
que só votam com
as que realizam
ação política só ou
combinada)
PERFIL SOCIOECONÔMICO DAS PESSOAS SEGUNDO MODOS DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ, 2002.
CONTINUAÇÃO TABELA 50
Estrutura da
amostragem
Signifi cância (2)
Categorias
Modos de participação cidadã
Colabora com ou
sem voto
Colabora e ação
política com voto
Colabora e ação
política sem voto
Ação política com
ou sem voto
Só vota
Não faz nada
(As provas
são realizadas
comparando as
pessoas que
participam nos
seis modos)
Nível econômico (3) % Baixo 45,4 52,8 51,3 47,6 42,9 44,1 35,8 ** **
% Médio 46,5 43,2 42,7 45,7 49,3 45,8 51,3
% Alto 8,1 4,0 6,0 6,7 7,8 10,2 12,9
Média de índice
econômico 3,85 3,45 3,60 3,73 3,95 4,02 4,29 ** **
Agenda não tratada (4) % Menciona um
tema sem tratar 18,4 31,4 27,2 14,5 21,7 11,2 13,8 ** **
% Não menciona um
tema sem tratar 81,6 68,6 72,8 85,5 78,3 88,8 86,2
Confi ança (5) Média de confi ança
em instituições
e atores 1,91 1,84 1,88 1,90 1,96 1,89 1,97 ** **
152
A democracia na América Latina
dadão ou cidadã.
O conceito de intensidade cidadã vem do
termo cidadania de baixa intensidade, cria-
do por O’Donnell.
77
Entende-se por inten-
sidade cidadã o livre e ativo exercício dos
direitos e o cumprimento dos deveres gené-
ricos próprios do status de cidadania. A fer-
ramenta utilizada para se aproximar desse
tema é uma tipologia de perfi s de intensida-
de cidadã que permite classifi car as pessoas
conforme a maneira de exercitar seu status
de cidadão (tabela 47).
Com base na informação das tendências
em relação à democracia e nas formas de
participação cidadã na América Latina, exis-
tem quatro perfi s de intensidade cidadã:
os democratas participativos;
os democratas desmobilizados;
os ambivalentes e não-democratas des-
mobilizados;
os ambivalentes e não-democratas
participativos.
Os dois primeiros grupos compartilham
uma tendência democrática, mas diferem
em seu nível de participação na vida polí-
tica. Os dois últimos grupos compartilham
sua ausência de compromisso com a demo-
cracia e também diferem em seu nível de
participação política.
Aproximadamente, uma de cada cinco
pessoas na América Latina (18,9 por cento)
pode ser classifi cada como democrata parti-
cipativa. Pouco mais de um terço dos con-
sultados (34,9 por cento) são ambivalentes
ou não-democratas desmobilizados. Essas
pessoas têm dúvidas ou se opõem à demo-
cracia, mas estão retiradas da vida política.
Os ambivalentes e não-democratas partici-
pativos representam uma proporção mui-
to similar à dos democratas participativos.
77 O’Donnell, 1993.
quadro 37
Cidadania de baixa intensidade
Em 1993, O’Donnell defi niu que, na América
Latina, uma proporção considerável das cidadãs
e dos cidadãos não pode exercer seus direitos
civis e é discriminada, embora seus direitos
políticos estejam razoavelmente protegidos. Ele
denominou esse fenômeno “cidadania de baixa
intensidade”, e o atribuiu a barreiras objetivas
como a debilidade do Estado democrático de
direito e o efeito das desigualdades sociais
extremas. Um estudo da cidadania de baixa
intensidade requer, então, a utilização de
diversas fontes de informação, tanto percepções
quanto registros institucionais.
Além desses obstáculos, a intensidade no
exercício da cidadania pode ser infl uenciada
pelo grau em que as pessoas se sintam
obrigadas a cumprir seus deveres e a
exercer seus direitos. Esta é precisamente a
perspectiva estudada neste capítulo, com a
informação do Latinobarômetro. Trata-se de
uma perspectiva inspirada no pensamento
de O’Donnell, embora diferente, pois está
centrada no estudo das atividades e dos
comportamentos dos indivíduos.
Uma democracia na qual uma proporção
signifi cativa da cidadania decide não exercer
seus direitos nem cumprir seus deveres,
encontra-se com problemas.
Para avançar no estudo desse tema, preparou-
se uma tipologia de perfi s de intensidade
cidadã, que classifi ca as pessoas combinando
os seguintes critérios:
Sob a perspectiva dos deveres cidadãos,
o dever de aceitar a vigência das normas
democráticas. Para isso utilizou-se o estudo
das tendências em relação à democracia.
Sob a perspectiva dos direitos cidadãos, o
grau em que as pessoas participam na vida
política, para o qual foi utilizado o estudo
sobre os modos de participação cidadã.
153
Bases empíricas do Relatório
Segundo nossos dados, na América Latina,
aproximadamente uma de cada cinco pes-
soas (21,6 por cento) pode ser classifi cada
com este perfi l: pessoas que têm dúvidas ou
se opõem à democracia e são politicamen-
te ativas.
As características sociais das pessoas que
compõem cada um dos perfi s de intensida-
de cidadã são similares às descritas para a
base social das tendências em relação à de-
mocracia, mas sob a presente perspectiva, o
panorama pode ser observado com maior
precisão. Em termos gerais, podem ser for-
muladas duas conclusões: os dois grupos so-
cialmente mais parecidos entre si são, pa-
radoxalmente, os que poderiam chegar a
enfrentar-se no caso de uma crise que ame-
ace a estabilidade de uma democracia, os
democratas participativos e os ambivalen-
tes ou não-democratas participativos. Am-
bos os grupos têm estruturas de idade, nível
de instrução e nível econômico mais pare-
cidos entre si do que em relação aos outros
dois grupos.
A segunda conclusão é que os ambiva-
lentes ou não-democratas desmobilizados
parecem concentrar, em maior proporção
do que os outros grupos, as pessoas mais jo-
vens e de menor nível econômico. Os jovens
são mais numerosos neste grupo do que en-
tre os democratas participativos (38,4 por
cento dos primeiros e 30 por cento dos se-
gundos). As pessoas sem estudos ou com es-
cola primária completa ou incompleta (1 a 6
anos de escolaridade) têm uma distribuição
similar: proporcionalmente tendem a agru-
par-se mais entre os ambivalentes ou não-
democratas desmobilizados, ao passo que as
pessoas com educação superior completa ou
incompleta são mais numerosas entre os de-
mocratas participativos.
O Índice de Apoio Cidadão à
Democracia
O resultado do IAD para a região ten-
deu a ser positivo para a democracia. Os de-
mocratas, em termos de correlação de for-
ças, estão em melhor posição do que seus
contrários, os não-democratas. Na verda-
de, os democratas constituem a tendência
em relação à democracia mais difundida e
tenderam (embora levemente) a participar
mais na vida política e social dos seus paí-
ses do que as pessoas com outras tendências.
quadro 38
O Índice de Apoio à Democracia (IAD)
A elaboração do IAD baseia-se:
Nas tendências em relão à democracia.
No tamanho de cada tendência e, depois,
na proporção entre democratas e não-
democratas.
Na distância média nas atitudes entre
cada tendência, se os democratas ou os
não-democratas estão mais próximos dos
ambivalentes.
No nível de ativismo político das pessoas
que apóiam as tendências e na situação dos
democratas e dos não-democratas.
O IAD, então, pondera o tamanho das
orientações com a distância e o ativismo.
Uma explicação mais detalhada pode
ser encontrada na nota técnica sobre a
pesquisa, no Compêndio Estatístico.
Nas situações favoráveis à democracia, o
IAD chega a um valor bastante superior a
1. Quando o IAD tem um valor próximo a
1, resume situações de equilíbrio político
entre as tendências democrática e não-
democrática. São situações com um
potencial de instabilidade, pois o apoio
cidadão à democracia não está garantido.
Quando o IAD assume valores muito
inferiores a 1 e próximos a zero, o apoio
cidadão à democracia é precário. Caso
haja uma crise política severa, o futuro
da democracia poderia estar facilmente
comprometido pela precariedade do apoio
cidadão.
154
A democracia na América Latina
Eles também tiveram os ambivalentes ligei-
ramente mais próximos de suas posições do
que das posições dos não-democratas (grá-
co 8). O IAD agregado para a região reve-
lou um valor de 2,03.
De qualquer maneira, os ambivalen-
tes são um grupo-chave para ser observa-
do, pois na maioria dos países, os democra-
tas requerem seu apoio para formar grupos
majoritários de cidadãos. É preciso também
tomar nota dos fatores associados mais for-
temente aos não-democratas, pois esses fa-
tores estão relacionados com carências da ci-
dadania social e com baixas perspectivas de
mobilidade econômica e educativa, questões
em que, como já vimos, a região ainda tem
sérios défi cits.
Resumindo os resultados desta análise,
encontramos:
Processando dados da pesquisa de La-
tinobarômetro de 2002, 43% dos entrevista-
dos tinham uma tendência pró-democráti-
ca, sendo esta a mais difundida.
Evidencia-se uma tensão quando se
pergunta sobre a alternativa entre desen-
De qualquer
maneira, os
ambivalentes
são um grupo-
chave para ser
observado,
pois na maioria
dos países, os
democratas
requerem seu
apoio para
formar grupos
majoritários de
cidadãos.
Índice de
apoio à
democracia
Distância
média entre as
tendências
Ativismo
político das
orientações
Tamanho
das
tendências
155
Bases empíricas do Relatório
volvimento econômico e democracia. Pare-
ce que muitos preferem a primeira.
Os entrevistados pertencentes a pa-
íses onde menoresveis de desigual-
dade social tendem a ser mais favoráveis à
democracia.
Da análise do perfi l dos denominados
não-democratas, surge que esta tendência
tem maiores adeptos nos setores com me-
nos educação, nos que têm uma socialização
proveniente de períodos autoritários, nos
que têm uma percepção de baixa mobilida-
de social em relação aos pais e baixas expec-
tativas quanto a uma futura melhoria para
os fi lhos, e naqueles que têm maior descon-
ança nas instituições.
A maioria dos cidadãos não está des-
conectada da vida política e social de seus
países.
Em média, os democratas tendem le-
vemente a participar mais ativamente na vi-
da política de seus países.
156
A democracia na América Latina
157
Bases empíricas do Relatório
A indagação sobre o desenvolvimento da
democracia na América Latina se enrique-
ce com as percepções e opiniões dos que to-
mam as decisões de mais impacto na vida
política da região.
Esta parte expõe e sistematiza as opiniões
que surgem da rodada de consultas a 231 lí-
deres latino-americanos, que inclui 41 presi-
dentes e vice-presidentes atuais e anteriores.
Analisamos aqui suas opiniões sobre
o grau de desenvolvimento de nossas de-
mocracias, colocando ênfase na participa-
ção dos cidadãos, nos limites do poder de-
mocrático, na con ança nas instituições
– particularmente nos partidos políticos –
e nas relações com os poderes fáticos novos
ou tradicionais. Foram observados tam-
bém a tensão entre pobreza/desigualdade/
democracia, os problemas em torno da ela-
boração da agenda pública e os desa os en-
frentados pelas democracias.
Expressamos nosso agradecimento às
231 personalidades que se dispuseram a
contribuir generosamente para que pudés-
semos realizar as entrevistas, e lamentamos
a impossibilidade de realizar todas as que
pretendíamos, o que resultou na omissão de
importantes dirigentes.
Perfi l dos atores consultados
Para a realização das consultas – que ti-
veram lugar entre julho de 2002 e junho de
2003 – seguimos dois critérios: a) fazer um
mínimo de seis consultas por país, e b) fa-
zer um número maior de consultas nos paí-
ses maiores (os dois grupos mais numerosos
são os brasileiros, com trinta e quatro líde-
res consultados, e os mexicanos, com vin-
te e cinco).
Esta não é uma amostra aleatória e, por-
tanto, os dados não têm valor estatístico. A
meta é levantar opiniões fundamentais de
um conjunto relevante de líderes sobre as
democracias da região. Procuramos detectar
as formas de ver e de pensar manifestadas
nas respostas dos líderes, em uma entrevista
cuja agenda era previamente desconhecida.
Na parte fi nal do Relatório, oferecemos
mais informação sobre a metodologia e os
critérios de processamento empregados. É
importante levar em conta que o estudo não
pretende substituir e, sim, complementar
outros tipos de estudos de opinião. A per-
gunta que merece resposta é: quais são as
opiniões e formas de pensar de um grupo de
231 pessoas que exercem funções de lideran-
ça na América Latina? Trata-se de importan-
tes protagonistas da vida política, econômi-
ca, social e cultural latino-americana, que
integram uma amostragem cuja signifi ca-
ção decorre da relevância de suas trajetórias:
a) líderes políticos que detêm ou detiveram
o poder em seu máximo nível institucional,
em chefi as partidárias, parlamentares, fun-
cionários de alto escalão ou prefeitos; b)
protagonistas sociais em um amplo espec-
tro que inclui líderes sindicais, empresários,
acadêmicos, jornalistas, religiosos e dirigen-
tes de movimentos ou organizações sociais;
e c) membros das Forças Armadas. 51 por
cento dos consultados são políticos. Entre os
restantes, observa-se um número signifi cati-
vo de empresários (11 por cento) e intelec-
tuais (14 por cento). As restantes categorias
se distribuem em: sindicalistas (7 por cen-
to), jornalistas (6 por cento), líderes da so-
ciedade civil (7 por cento), religiosos (2,5
por cento) e militares (1,5 por cento).
O ponto de partida conceitual
As declarações coincidem em ressaltar
um diagnóstico que pode ser assim resumi-
do: nunca antes houve tanta democracia na
América Latina nem esteve tão controlado o
A percepção dos dirigentes
latino-americanos
158
A democracia na América Latina
perigo de golpe de Estado, mas, mesmo as-
sim, a democracia está exposta a fragilida-
des, como as que derivam do baixo prestígio
dos partidos políticos e da chamada crise da
sociedade política.
78
Na atualidade, todos os
países cumprem os requisitos do regime de-
mocrático, que são especialmente valoriza-
dos pelos consultados, em contraste com o
passado autoritário. Sob essa perspectiva, a
conquista e afi rmação dos atributos básicos
da democracia são consideradas uma etapa
necessária e um progresso signifi cativo. Es-
ta visão deixa em aberto uma gama de ques-
tões a serem abordadas e de objetivos não
atingidos, dentro de um acordo generaliza-
do em apontar o caráter inacabado da cons-
trução da democracia na América Latina,
inclusive onde dito processo histórico tem
duração mais longa.
Condições necessárias
para a Democracia
Embora não as interpretem exatamen-
te da mesma forma, os líderes latino-ameri-
canos consideram que a participação políti-
ca e os controles sobre o exercício do poder
são duas condições básicas da democracia, e
que ambas se fortaleceram ao longo da últi-
ma década.
A expansão da participação política
Por mais que a palavra participação te-
nha diferentes signifi cados políticos, em um
sentido mais estreito, sua abrangência costu-
ma se restringir à participação eleitoral. Em
seu sentido mais amplo, pressupõe alguma
forma estável de conexão com a tomada de
decisões públicas, principalmente através da
mediação dos partidos políticos ou das or-
ganizações da sociedade civil. Alguns sen-
tidos intermediários aludem a formas mais
ou menos ativas de exercício da cidadania,
tais como a participação em consultas po-
pulares ou em âmbitos deliberativos a ní-
vel local.
A quase unanimidade das pessoas con-
sultadas pensa que uma maior participação
em qualquer uma de suas formas tende a
fortalecer o funcionamento das instituições
democráticas. Nesse sentido amplo, em ge-
ral, mais participação aparece como preferí-
vel a menos participação. Entretanto, como
veremos mais abaixo, esta opinião genérica
se relativiza quando boa parte dos consul-
tados se refere a formas mais específi cas de
participação. Também há coincidência em
que maior participação através dos partidos
políticos é saudável para a democracia. Os
líderes consultados tendem a compartilhar
essa idéia, mesmo quando são céticos quan-
to ao funcionamento adequado dos partidos
como canais de participação ou à possibili-
dade de recuperação de protagonismo nes-
se terreno.
Para a maioria dos consultados, a parti-
cipação da população no sentido amplo (is-
to é, tanto no que se refere à eleição dos go-
vernos quanto à defi nição de suas políticas)
aumentou signifi cativamente durante a últi-
ma década.
No momento de considerar o ato elei-
toral como uma expressão da participação
política, existem duas tendências. Nos paí-
ses com menor tradição democrática, o voto
é visto como um ato que concretiza a parti-
cipação, pois permite expressar uma posi-
ção crítica em relação a velhas estruturas pa-
trimonialistas e, eventualmente, um prêmio
ou um castigo aos governantes. Identifi ca-se
o crescimento da participação eleitoral com
o progresso da participação. Em compensa-
ção, nas democracias de maior continuida-
de, o fato de votar é visto como algo habi-
tual, que não é considerado no momento de
avaliar o nível de participação, pois, para os
consultados nesses países, a participação im-
plica formas mais ativas de exercer os direi-
tos cidadãos.
Em quase toda a América Latina, o au-
mento da participação é interpretado como
uma das caras mais visíveis do processo de
construção democrática. Já a diminuição ou
o estancamento da participação apontado
pelos líderes chilenos, uruguaios e costarri-
78 Garretón, documento elaborado para o PRODDAL, 2003.
Há coincidência
em que maior
participação
através dos
partidos políticos
é saudável para a
democracia.
159
Bases empíricas do Relatório
Uma diferença signifi cativa entre os pa-
íses com democracias historicamente mais
arraigadas e os outros são os canais por meio
dos quais se exerce a participação. Os con-
sultados dos países do primeiro caso ten-
dem a pressupor que os partidos são um dos
canais naturais (não o único, mas um dos
mais importantes). Mas em vários países
com tradições democráticas menos arraiga-
das, alguns consultados opinam que a maior
participação se produz quando os cidadãos
atuam fora dos partidos, quer seja porque
tomam a distância sufi ciente para fazer um
exercício independente do voto (por exem-
plo, apoiando candidatos independentes)
ou porque se incorporam a organizações
da sociedade civil que se apresentam como
alternativa para os partidos. Segundo esses
consultados, não se trata apenas da imagem
negativa dos partidos, mas também do fato
de que são vistos como um obstáculo para a
participação.
Sempre, segundo os consultados, esse fe-
nômeno de maior participação por canais
alternativos às estruturas partidárias aparece
freqüentemente associado à outra tendência
vigorosa, o fortalecimento das instâncias de
deliberação e de decisão no âmbito local. É a
essa escala (a aldeia, o distrito rural, a cida-
de, o estado) em que apareceriam dirigentes
capazes de gerar níveis importantes de ade-
são e em que melhor funcionariam as orga-
nizações da sociedade civil que conseguem
atrair os cidadãos com mais facilidade.
quenhos parece próprio de democracias que
se sentem profundamente arraigadas histo-
ricamente. Isso não signifi ca que esses paí-
ses estejam livres de difi culdades (de fato,
dois deles padeceram de duras experiências
de regimes autoritários); mesmo assim, tra-
ta-se de um problema diferente dos proble-
mas enfrentados por países onde esse envol-
vimento é menor ou mais recente.
Um dirigente consultado no Chile acres-
centa detalhes: A participação que caracte-
riza a democracia era mais institucionaliza-
da [de meados do século passado até o golpe
de Estado de 1973], fundamentalmente atra-
vés das organizações políticas e sociais. [...]
Hoje em dia, a realidade chilena é mui-
to preocupante: [...] nas votações e nas elei-
ções, o interesse da cidadania vem diminuin-
do progressivamente enquanto a abstenção
eleitoral vem aumentando. [...] [Agora] há
uma participação mais desorganizada, mais
circunstancial [...]. Os partidos perderam
presença e representatividade”.
Por sua vez, um líder brasileiro destaca a
expansão da participação: A pobreza é di-
fusa, não organizada [...]. Quanto mais se
aperfeiçoa o poder democrático, mais au-
mentam as pressões de baixo para cima [pa-
ra que seus problemas sejam levados em
conta]. E isso é o que ocorre [...], [há] mais
organizações democráticas, mais organiza-
ções da sociedade e mais pressão de baixo
para cima. Essa é a prova pela qual temos
que passar agora.
A participação aumentou Honduras, México, Bolívia, Brasil, Paraguai
Colômbia, República Dominicana, Venezuela,
El Salvador, Panamá, Equador, Guatemala,
Nicarágua, Peru, Argentina.
A participação não aumentou nem diminuiu Costa Rica
A participação diminuiu Uruguai, Chile
AUMENTOU A PARTICIPAÇÃO NA AMÉRICA LATINA?
TABELA 51
Nota: Os países estão classifi cados segundo “resultados de opinião”, ou seja, a diferença entre os que dizem que a
participação aumentou e os que dizem que a participação diminuiu. O primeiro país é o que tem um maior balanço
positivo, ou seja, aquele em que a diferença é mais favorável para os que pensam que a participação aumentou. Depois a
classifi cação é feita por ordem decrescente desse resultado.
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina, 2002.
Em quase toda a
América Latina,
o aumento da
participação é
interpretado como
uma das caras
mais visíveis
do processo
de construção
democrática.
160
A democracia na América Latina
Assim descreve um dos líderes consultados
na Colômbia: “Em Bogotá, [...] governos su-
cessivos [...] geraram uma transformação
radical da cidade: [...] as políticas públicas
tornaram-se uma essência vital, [...] o pú-
blico passou a ter prioridade em relação ao
privado, que não era como se via antes, [...]
as conseqüências para os cidadãos geraram
um convencimento e uma continuidade em
política, [mas] quase nada em relação aos
partidos, porque os últimos três candidatos
eleitos são independentes.
Entre os consultados, a percepção sobre
a participação social é heterogênea. Os no-
vos movimentos sociais e o crescimento da
participação fora dos partidos levam esses
movimentos a serem vistos, por muitos dos
consultados, como uma ameaça à governa-
bilidade. Existe também desacordo sobre a
institucionalização da participação social.
Certos países contam com canais institucio-
nais através dos quais as demandas podem
ser viabilizadas e negociadas. Para alguns
consultados, a resistência a desenvolver me-
canismos de participação institucionalizada
infl ui negativamente no desenvolvimento da
democracia; outros objetam esses processos
por considerá-los particularistas e por gerar
consensos contingentes que limitam o plu-
ralismo da democracia.
A expansão dos controles
sobre o exercício do poder
Na maioria dos países latino-americanos,
a idéia predominante é a de que os governos
estão mais controlados e limitados do que
no passado. Isso é tido, em geral, como um
fato positivo, porque implica a presença de
uma cidadania mais atenta e decidida a fa-
zer valer seus direitos (o que é coerente com
a percepção de uma maior participação). A
idéia de que os controles sobre o exercício
do poder se aperfeiçoaram predomina entre
os líderes de doze dos dezoito países estuda-
dos. Os políticos e funcionários de governo
são os que mais freqüentemente consideram
que os controles aumentaram.
Vários líderes consultados também men-
cionam a presença de tradições desfavorá-
veis aos controles do exercício do poder em
alguns países centro-americanos, onde a au-
sência de controles efi cazes aparece associa-
da a problemas de longa data.
Por outro lado, os consultados relacio-
nam o exercício do controle com o fortaleci-
mento da sociedade civil (sobretudo a partir
do papel assumido pelas ONGs) e dos meios
de comunicação. Estes são considerados, si-
multaneamente, um controle e um grupo de
pressão, o que permite compreender sua pa-
radoxal percepção: ser uma condição sine
qua non da democracia e, ao mesmo tem-
po, um instrumento de grupos de poder que
exercem indevida infl uência na tomada de
decisões públicas.
De maneira geral, a existência de meios
de comunicação independentes é vista co-
mo um fator que contribuiu decisivamente
para o aumento dos controles. Numerosos
líderes consultados insistem na capacidade
dos meios de detectar irregularidades e ex-
cessos (ou simples erros e difi culdades) e de
dar-lhes difusão pública. Mas esta mesma
relevância dos meios é vista como um pe-
rigo pela maioria dos líderes consultados:
apoiados na popularidade que as denún-
cias lhes proporcionam, certos meios termi-
nam por construir sua própria agenda e por
perseguir interesses particulares (os do gru-
po econômico a que pertencem ou os de cer-
tos setores de poder a que estão associados).
Para muitos de nossos consultados, um gra-
ve problema é que não existem mecanismos
efi cazes para controlar os eventuais excessos,
sem com isso atentar contra a liberdade de
imprensa. Contudo, tanto em suas melhores
como nas piores versões, os meios são vistos
pelos líderes como um dos principais con-
trapesos do poder político.
Opiniões sobre o caráter da democracia
Os líderes latino-americanos acreditam
que as condições políticas necessárias para
a democracia avançaram signifi cativamen-
te durante a última década. Consideremos
a defi nição de democracia de um entrevis-
tado na Guatemala: “Se em 1986 nós tivés-
semos perguntado aos guatemaltecos o que
era para eles a democracia, teriam nos res-
pondido ‘um regime cujo governo seja civil
e seja eleito popularmente’, e isso é basica-
mente o que deve suceder em toda a Améri-
De maneira geral,
a existência
de meios de
comunicação
independentes
é vista como
um fator que
contribuiu
decisivamente
para o aumento
dos controles.
161
Bases empíricas do Relatório
ca Latina. Partindo do princípio de que es-
ta defi nição seja aceitável, não há dúvida de
que a grande maioria dos consultados coin-
cidiria em que seus países são democráticos.
A pauta das consultas previa que, ao térmi-
no de uma conversa extensa, os consultados
fossem convidados a responder sobre a pre-
sença ou ausência de democracia em seu pa-
ís (“Levando tudo isso em conta, o senhor
diria que seu país é hoje uma democracia?”).
Só 14 por cento dos consultados responde-
ram de maneira inequívoca (6 por cento que
sim, 8 por cento que não). Para os outros, foi
necessário precisar e decompor o conceito.
Precisamos então explorar o sentido des-
ses condicionamentos e relativizações. Pa-
ra 6 por cento, como foi mencionado, exis-
te uma democracia plena em seu país; para
um robusto percentual de 66 por cento, em
seu país existe uma democracia com poucas
ou algumas limitações; 17 por cento consi-
deram que há numerosas limitações em seu
país, e 8 por cento opinam que seu país não
é uma democracia.
Portanto, pelo menos como uma primei-
ra aproximação, a grande maioria dos con-
sultados (quase nove em cada dez) aceita o
termo democracia para descrever suas res-
pectivas situações nacionais, ainda que faça
isso complementando com várias especifi ca-
ções adicionais.
Esta observação pode parecer trivial, mas
ratifi ca todos os avanços dos últimos anos.
Pela primeira vez na história do continente,
os líderes de todos os países incluídos no es-
tudo vêem que seus países satisfazem a de-
nição mínima de democracia: há concor-
rência genuína, os governos têm pelo menos
algumas limitações ao seu poder e os con-
sultados acreditam que houve um progres-
so signifi cativo nesses dois planos. A res-
posta predominante poderia ser sintetizada
desse modo: “Pode-se falar de democracia,
sim, sobretudo comparando com o passa-
do, mas.... Por outro lado, para 25 por cen-
to dos consultados, em seu país ainda fal-
ta muito para que se possa dizer que se vive
em democracia.
Em alguns casos, as pessoas consultadas
insistem em que a debilidade da democracia
não tem tanta relação com bloqueios políti-
cos, problemas de legitimidade ou questões
de projeto institucional (embora estes pro-
blemas também sejam mencionados), mas
sim com as condições de vida da popula-
ção: “Do ponto de vista econômico e social,
realmente temos gravíssimos problemas de
distribuição da riqueza, de participação dos
panamenhos [...]. Como pode haver demo-
cracia nessas condições?”.
A idéia da desigualdade e da segmenta-
ção social como impedimento para a cons-
trução de uma democracia plena aparece
com muita freqüência associada às opiniões
mais pessimistas. No conjunto de consultas,
o comentário mais freqüentemente ligado a
uma opinião cética sobre o grau de força ou
de realização da democracia refere-se, usual-
mente, às condições de vida da população.
Um dos consultados na Nicarágua afi r-
Os controles aumentaram El Salvador, México, Peru, Brasil, Colômbia,
República Dominicana, Guatemala, Chile,
Honduras, Costa Rica, Bolívia, Paraguai
Os controles não aumentaram nem diminuíram Uruguai, Nicarágua
Os controles diminuíram Equador, Panamá, Argentina, Venezuela
AUMENTARAM OS CONTROLES SOBRE O PODER NA AMÉRICA LATINA?
TABELA 52
Nota: Os países estão classifi cados segundo “resultados de opinião”, ou seja, a diferença entre os que dizem que os
controles aumentaram e os que dizem que diminuíram. O primeiro país no primeiro lugar é o que tem o balanço mais
positivo, ou seja, aquele em que a diferença é mais favorável para os que pensam que os controles aumentaram. Os
restantes são classifi cados à medida que o balanço diminui.
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina, 2002.
Pela primeira
vez na história
do continente,
os líderes de
todos os países
incluídos no
estudo vêem
que seus países
satisfazem a
defi nição mínima
de democracia.
162
A democracia na América Latina
ma, por exemplo: “Para nós, foi muito difí-
cil chegar aonde chegamos: mortos, lutas in-
testinas [...]. Avançamos mais do que muitos
países no que se refere à consolidação da de-
mocracia, mas ainda há muito para ser fei-
to, pois não é possível conceber democracia
plena em uma situação de pobreza e misé-
ria. Enquanto a única liberdade existente for
a de morrer [...] fi ca difícil”. A mesma idéia
aparece neste resumo formulada por um dos
líderes consultados no Peru: “54 por cento
da população vive abaixo da linha de pobre-
za extrema e 23 por cento abaixo da linha
de pobreza extrema-extrema [...]. A partici-
pação dessa gente em política resume-se a ir
votar no dia da eleição, porque é obrigatório
e quem não vota tem que pagar uma mul-
ta, mas isso não é democracia. A democra-
cia não é um ato político eleitoral. Quem vai
dormir esta noite sem saber se amanhã terá
algo para comer não é livre.
No outro extremo, as respostas mais po-
sitivas são encontradas especialmente entre
personalidades provenientes das democra-
cias mais arraigadas e nos países maiores.
Como destaca um dos consultados no Bra-
sil, as recentes eleições contribuem para um
clima de confi ança na democracia: “Estamos
vendo um momento em que uma pessoa
[Luiz Inácio Lula da Silva] sai da extrema
pobreza nordestina e chega ao poder má-
ximo do país; [...] a mobilidade social é um
dos ingredientes da democracia: [...] quanto
mais possibilidades houver de se atravessar
as barreiras [entre as classes sociais], acho
que mais democracia haverá”.
Estes casos indicam que, na América
Latina, o vínculo entre condições socioe-
conômicas e atitudes em relação à demo-
cracia não é automático nem necessaria-
mente determinante. O que distingue as
atitudes das lideraas desses países não ra-
dica, então, nas condições socioeconômicas
“objetivas” de seus países, mas sim em seu
grau de confi ança na capacidade das insti-
tuições democráticas de conviver com, e de
modi car, emdio prazo, essas situações
de pobreza e exclusão. Para os que vêem as
coisas sob esse prisma, a pobreza e a exclu-
são são problemas que devem ser solucio-
nados por um sistema político claramente
democrático. “Chegamos à república e ain-
da temos que construir a democracia. A re-
pública é a que preserva as liberdades in-
dividuais, evita que um governo despótico
nos mate, que nos leve preso [...], mas além
dessas liberdades chamadas negativas, estão
as outras liberdades, as positivas da demo-
cracia, concentradas nos direitos sociais”
(ex-presidente).
Causas das limitações das
democracias latino-americanas
Poderes institucionais e poderes fáticos
Um problema tradicional dos países la-
tino-americanos foi o divórcio entre os po-
deres institucionais e os poderes fáticos: em-
bora os textos constitucionais outorguem
grande peso ao Poder Executivo e uma im-
portante capacidade de ação ao Legislativo
e ao Judiciário, o poder real costuma residir
em instituições às quais as normas delegam
outras funções (como foi o caso, no passado
recente, das Forças Armadas) ou em grupos
que não fazem parte da ordem político-ins-
titucional (famílias tradicionais, grupos eco-
nômicos e outros).
A tensão entre poderes institucionais e
poderes fáticos continua presente na reali-
dade latino-americana. Há informação que
sugere, e as consultas realizadas confi rmam,
que nas últimas décadas, apesar do fortaleci-
mento das instituições democráticas, os po-
deres fáticos continuam assumindo um pa-
pel muito importante.
As Forças Armadas são vistas como o fa-
tor de poder mais importante para alguns
consultados na Guatemala e na República
Dominicana e, em menor medida, no Equa-
dor, no Chile e na Venezuela. Mas as Forças
Armadas não são mencionadas nos países
restantes, incluindo os que viveram recen-
temente crises políticas agudas (Argentina,
Colômbia e Paraguai). Esse forte debilita-
mento das Forças Armadas como fator po-
lítico é uma novidade importante para a de-
mocracia latino-americana.
No entanto, alguns líderes consultados
identifi cam três riscos principais que pode-
riam ameaçar o bom funcionamento da or-
dem democrática:
A tensão
entre poderes
institucionais
e poderes
fáticos continua
presente na
realidade latino-
americana.
163
Bases empíricas do Relatório
Poderes fáticos Os grupos econômicos/ empresários/ O setor fi nanceiro 150 (79,8%)
Os meios de comunicação 122 (64,9%)
Poderes constitucionais Poder Executivo 68 (36,2%)
Poder Legislativo 24 (12,8%)
Poder Judiciário 16 (8,5%)
Forças de segurança As Forças Armadas 40 (21,3%)
A Polícia 5 (2,7%)
Instituições políticas e Partidos políticos 56 (29,8%)
líderes políticos Os políticos/ operadores políticos/ líderes políticos 13 (6,9%)
Fatores EUA/ A embaixada norte-americana 43 (22,9%)
extraterritoriais Organismos multilaterais de crédito 31 (16,5%)
O fator internacional/ o fator externo 13 (6,9%)
Empresas transnacionais 9 (4,8%)
QUEM EXERCE O PODER NA AMÉRICA LATINA?
Nota: n=188. O total não soma 100% porque foram permitidas respostas múltiplas.
Fonte: PRODDAL, Rodada de Consultas com Líderes da América Latina, 2002.
1. Segundo os líderes dos países maiores
e dos que têm tradições democráticas mais
arraigadas, as limitações têm duas origens.
As limitações internas provêm da prolife-
ração de controles institucionais inadequa-
dos, assim como da multiplicação de gru-
pos de interesses (em especial empresariais)
que funcionam como poderosos lobbies. As
limitações externas provêm, basicamen-
te, do comportamento dos mercados inter-
nacionais (em especial, mas não exclusiva-
mente, dos fi nanceiros), da vigincia das
avaliadoras de risco e do papel dos organis-
mos internacionais de crédito.
Por sua vez, em países menores ou com
tradições democráticas menos arraigadas,
os consultados também destacam limita-
ções externas e internas, mas as descrevem
de maneira diferente. No âmbito interno,
mencionam os grupos de interesses (parti-
cularmente empresários e grandes latifun-
diários), mas os métodos empregados já
não são só lobbies, e sim práticas tais como
a compra de votos e a “fabricação de candi-
datos. No externo, mencionam a dependên-
cia de organismos internacionais de crédi-
to, e acrescentam a desmesurada infl uência
de empresas estrangeiras instaladas nos pró-
prios países.
2. O segundo tema considerado é a ame-
aça do narcotráfi co. Como é natural, a im-
portância atribuída pelos líderes latino-
americanos a esse fator está diretamente
ligada ao grau de desenvolvimento de tal
fenômeno em seus respectivos países. En-
tretanto, quase todas as opiniões recolhi-
das convergem em indicar que o narcotrá-
co implica um duplo desafi o. É um desafi o
direto porque tenta controlar parte do apa-
relho estatal e partes signifi cativas do terri-
tório, enquanto cria fortes incentivos para
a passagem da economia formal à informal.
Além disso, o narcotráfi co cria desafi os in-
diretos, dois dos quais são destacados pelos
consultados. O primeiro é que, ao atrair a
atenção do governo dos Estados Unidos, ge-
ra novas formas de pressão externa que limi-
tam ainda mais a esfera de ação dos gover-
nos nacionais. O segundo tem relação com a
corrupção: o dinheiro sujo tem efeitos de-
vastadores sobre o comportamento de uma
parte dos dirigentes políticos e sobre o fun-
cionamento das instituições.
3. O terceiro fator, ao qual atribuem ca-
pacidade de limitar o poder das instituições
SEGUNDO O PONTO DE VISTA DOS LÍDERES CONSULTADOS
TABELA 53
Quantidade
de menções
% de Líderes que
fazem a menção
164
A democracia na América Latina
políticas, são os meios de comunicação. Es-
sa grande infl uência dos meios é vista como
parte do aumento dos controles que permi-
tiram democratizar o exercício do governo,
e também, como uma restrição ao processo
democrático, segundo, principalmente, os
políticos consultados. Os meios têm a capa-
cidade de gerar agenda, de predispor a opi-
nião pública a favor ou contra diferentes
iniciativas e de deteriorar a imagem de fi -
guras públicas mediante a manipulão de
denúncias.
Existe amplo consenso entre os consul-
tados quanto ao fato de que a grande infl u-
ência da mídia limita o poder das institui-
ções políticas. Em realidade, sempre tiveram
muita infl uência e os políticos tentaram ser-
vir-se dela. A novidade, além da maior ex-
posição do público à mídia, é que anterior-
mente estavam em grande parte vinculados
aos partidos políticos que, em alguns casos,
exerciam certo controle sobre eles; atual-
mente muitos meios de comunicação torna-
ram-se independentes das estruturas parti-
dárias e passaram a fazer parte de grupos
econômicos não subordinados ao poder po-
lítico e com interesses muito diversifi cados.
O papel dos partidos políticos
Segundo os líderes consultados, os par-
tidos políticos, atores fundamentais para o
funcionamento das democracias contempo-
râneas, sofrem uma séria crise. Um dado re-
velador é que não apenas a maior parte dos
líderes consultados acha que os partidos não
estão cumprindo adequadamente sua fun-
ção, como também, esta opinião é predomi-
nante, (59 por cento) entre os próprios po-
líticos consultados. Nesse caso, as opiniões
favoráveis (“evidentemente sim”) represen-
tam 18 por cento e as opiniões neutras (“por
um lado sim, por outro não”), 16 por cento.
Esse ceticismo generalizado oculta dife-
renças signifi cativas de país para país. Em
alguns casos (Argentina e Equador), o des-
prestígio dos partidos atinge um grau extre-
mo. Em outros casos (Honduras, Uruguai e,
ainda que em menor medida, Chile), os par-
tidos aparecem em condições bastante me-
lhores. De maneira geral, pode-se dizer que,
com algumas exceções, o ceticismo em rela-
ção aos partidos é muito amplo e a disposi-
ção para se vincular a eles tende a diminuir
em toda a América Latina. Estas opiniões re-
ferem-se à conjuntura política de 2002 e iní-
cio de 2003. Uma nova rodada de consultas
daria presumivelmente novos resultados.
Quais são as razões que fundamentam
essa opinião? Como acusação mais fre-
qüente temos o personalismo e a ausência
de democracia interna. Nas palavras de um
líder costarriquenho: “São as mesmas ca-
ras, as mesmas pessoas nos últimos quaren-
ta anos, é bater na mesma tecla, o que hoje
é deputado, amanhã é embaixador, e recebe
um ministério outra vez [e depois] será sua
vez novamente”.
Essa rejeição às oligarquias partidárias
pode ser atribuída, parcialmente, a uma mo-
dernização das expectativas dos cidadãos (o
Sim, ou na verdade, sim Uruguai, Honduras
Não, ou na verdade, não Chile, Peru, México, República Dominicana,
El Salvador, Bolívia, Panamá, Brasil,
Guatemala, Paraguai, Venezuela, Argentina,
Colômbia, Equador, Nicarágua, Costa Rica
OS PARTIDOS ESTÃO CUMPRINDO SEU PAPEL?
TABELA 54
Nota: Os países estão classifi cados segundo “balanços de opinião”, ou seja, a diferença entre os que dizem que os
partidos estão cumprindo seu papel e os que dizem que não. O primeiro país no primeiro lugar é o que tem o balanço mais
positivo, ou seja, aquele em que a diferença é mais favorável para os que pensam que os partidos cumprem seu papel
adequadamente. Em seguida, são classifi cados à medida que o resultado diminui.
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina,2002.
De maneira
geral, pode-se
dizer que, com
algumas
exceções, o
ceticismo em
relação aos
partidos é
muito amplo e a
disposição para
se vincular a
eles tende a
diminuir em toda
a América Latina.
165
Bases empíricas do Relatório
velho caudilhismo e o velho estilo patrimo-
nialista têm mais difi culdades em ser acei-
tos). Além disso, a aguda deterioração so-
frida pelo Estado, por várias razões, em boa
parte de nossos países, levou ao enfraque-
cimento de um dos atrativos que os parti-
dos podiam ter no passado: ao menos para
uma parte signifi cativa da cidadania, os par-
tidos já não conseguem, mediante sua infl u-
ência em diversos segmentos do Estado, re-
solver os problemas da população. Mas, ao
mesmo tempo em que o atrativo clientelista
se debilitou, os partidos também não foram
capazes de modernizar-se em grau sufi cien-
te para destacar-se nem por sua capacida-
de de proposta nem pela consistência de su-
as equipes de governo. Nas palavras de um
entrevistado peruano: “Os partidos políti-
cos não foram capazes de sentir o ritmo da
América Latina.
Os partidos políticos atravessam uma
forte crise de representação que incide na di-
minuição da participação eleitoral e em sua
canalização por outras vias (em geral, or-
ganizações da sociedade civil). No entanto,
quase todos os líderes reconhecem a centra-
lidade dos partidos políticos e a necessidade
de que assumam um papel de maior respon-
sabilidade. “Nossas sociedades passaram por
uma rápida metamorfose e nós, os políticos,
não a monitoramos de perto, por isso exis-
te um grande desencontro (presidente). O
povo quer participar e sente que o formalis-
mo do voto nas urnas, por mais transparen-
tes que sejam as eleições, não lhe dá esse sen-
timento de participação [...]. A democracia
precisa dos partidos políticos, mas eu não
posso fazer parte de um partido, porque to-
dos têm dono (empresário).
Nossos consultados vinculam essa cri-
se de representação à ausência de democra-
cia interna nos partidos, à lógica clientelista
de manipulação do eleitorado que incentiva
os personalismos, ao esquecimento das pla-
taformas político-partidárias (falta de dife-
renciação ideológica, carência de progra-
mas), à geração de dissidências personalistas
e não ideológicas, a sua vinculação a pode-
res fáticos e a alianças em que se confundem
as identidades políticas.
Por essas razões, a maioria dos consulta-
dos entende que os partidos – em particu-
lar os tradicionais – não tiveram êxito como
canalizadores das demandas da cidadania.
Por sua vez, as oposições políticas aparecem
fragmentadas e seu discurso se confi gura
mais contra fi guras políticas controvertidas
do que a partir de propostas programáti-
cas. Em geral, longe de expressar uma von-
tade majoritária da população, segundo es-
sas opiniões, os partidos atuam em função
de interesses particularistas e sofrem dema-
siadas pressões dos grupos de poder, tanto
legais quanto ilegais.
“[Os partidos] têm muitas difi culdades
para manter-se em contato com as deman-
das da população porque a carreira políti-
ca depende acima de tudo dos dirigentes dos
partidos e não tanto dos cidadãos. É curioso,
há uma partidocracia mais ou menos sólida
e os partidos têm um bom percentual de vo-
tos, embora as pessoas não tenham uma boa
opinião a respeito deles (acadêmico).
Certos atores, particularmente os jorna-
listas, vêem os partidos políticos como insti-
tuições frágeis, divorciadas das necessidades
cidadãs, submetidas a caudilhismos, que se
ocupam apenas da sociedade incluída e per-
dem contato com suas bases sociais – atu-
am, às vezes, como verdadeiras má as –.
Por sua vez, os acadêmicos tendem a vin-
cular a crise de representão dos partidos
políticos aos défi cits institucionais que cada
país apresenta. A revisão do sistema de pro-
porcionalidade em alguns países, das forças
que aparecem representadas no Parlamento
e dos mecanismos de promoção de candida-
turas intra ou extrapartidárias, é a dimensão
mais ressaltada. Sob esse ponto de vista, os
problemas da representação política descan-
sariam mais na forma institucional de fun-
cionamento do sistema de representação, do
que na credibilidade dos partidos políticos
diante da cidadania.
Por sua vez, segundo nossos consulta-
dos, o descrédito da população em relação
aos partidos políticos favoreceu a expansão e
a diversifi cação de organizações da socieda-
de civil, assim como a capacidade destas de
encaminhar as demandas. O desequilíbrio
entre os níveis de participação alcançados
pelos partidos e pelas organizações da socie-
Os partidos
políticos
atravessam uma
forte crise de
representação
que incide na
diminuição da
participação
eleitoral e em sua
canalização por
outras vias.
166
A democracia na América Latina
dade civil gera olhares críticos a respeito do
papel que ambos desempenham no proces-
so democrático.
Os consultados das ONG´s expressam
fortes críticas aos partidos, baseadas funda-
mentalmente em sua corrupção, em seu dis-
tanciamento em relação aos interesses so-
ciais e em sua busca do poder como aval de
interesses particularistas.
No entanto, para alguns dos consultados
mais próximos dos partidos, o problema
não está no fato de eles não terem se moder-
nizado plenamente, mas sim de não terem
conseguido que isso fosse percebido. Um lí-
der consultado no Chile expressou-se des-
ta forma: Acho que aqui é preciso fazer um
mea culpa. Acho que os partidos não tiveram
a capacidade de clarifi car ante a opinião pú-
blica suas proposições, a alternativa que re-
presentam, o caminho que oferecem. Expli-
cações desse tipo não são sufi cientes para os
consultados de países que enfrentam crises
muito severas. Entre eles, uma idéia recor-
rente é que não foi a cidadania que deu as
costas aos partidos, mas sim os partidos que
deram as costas ao povo. Nas palavras de um
entrevistado argentino: “Os políticos falam
muito mais de candidaturas, de internas, de
eleições, de mecanismos eleitorais, e falam
muito pouco de desemprego, de pobreza, de
marginalização, de insegurança pública, que
são os temas que preocupam a população.
[...] Essa crise teve origem basicamente em
uma classe política dirigente que se negou a
aceitar responsabilidades e esforços. O único
objetivo foi durar o maior tempo possível”.
Das consultas também surgem elemen-
tos para avaliar a situação de outras institui-
ções da democracia. A baixa confi ança nes-
sas instituições manifestada pela cidadania
(ver o capítulo precedente) é percebida pe-
los líderes. Alguns apontam um esgotamen-
to da capacidade de representação e o vin-
culam à elevada infl uência dos poderes não
eleitos. Ao mesmo tempo em que reconhe-
cem, com diferentes matizes, o caráter cen-
tral dos partidos políticos como instrumen-
tos de representação em uma democracia de
boa qualidade, os consultados ressaltam que
os partidos sofrem de modo particular a in-
uência dos poderes fáticos.
Existe grande coincidência entre os con-
sultados no que diz respeito ao poder acu-
mulado na última década pelos grandes em-
presários, pelo setor fi nanceiro e pelos meios
de comunicação que constituem, segundo
eles, o principal fator de poder nas demo-
cracias da região. Além disso, ressaltam a in-
uência exercida pelos organismos multila-
terais de crédito. Existe amplo consenso de
que a agenda dos governos é determinada
centralmente pelos temas e pelas perspecti-
vas promovidas por esses atores.
Os poderes fáticos
Empresas
Dos consultados da América Latina, 80%
ressaltam o poder acumulado, na última dé-
cada, pelos empresários, pelo setor fi nancei-
ro e pelos meios.
79
Eles são o principal gru-
po de poder que limita o poder de decisão
dos governos.
O condicionamento imposto pelos po-
deres fáticos aos regimes democráticos favo-
rece a noção de que se conta com governos
e partidos políticos que não podem respon-
der às demandas da cidadania. “O gran-
de poder fático da incipiente democracia é
o poder econômico privado. Integrado por
grupos de pressão que condicionam a con-
duta do presidente, de legisladores, juízes e
outros funcionários do governo e da admi-
nistração pública (ex-presidente). “Nós te-
mos uma democracia desvinculada do inte-
resse geral e, fundamentalmente, vinculada
a fatores fáticos que acabam por oligarqui-
zar a economia do país e transformar o go-
verno democrático em um governo pluto-
crático (político).
Os líderes destacam que a relevância do
setor empresarial repousa na sua capacida-
de de lobby diante dos governos, defenden-
79 Diferentemente do restante dos países da América Latina, no Brasil não se faz menção à vinculação entre o
setor econômico fi nanceiro e os meios de comunicação. No entanto, é reconhecida sua grande incidência sobre a
opinião pública.
167
Bases empíricas do Relatório
do e promovendo seus interesses e direcio-
nando ações políticas em seu benefício. O
governo está a serviço da empresa privada
e dos que tomam as decisões [...], os multi-
milionários são os que decidem o que se faz
ou se deixa de fazer no país (religioso).“ O
poder do dinheiro se converte rapidamente
em poder político, com capacidade de limi-
tar o poder político democrático (presiden-
te). “Sua capacidade de infl uência se baseia
[...] no fato de que fi nanciam as campanhas
eleitorais” (político). “O mundo empresarial
tem um poder muito forte. Como os empre-
sários tomam as decisões de investimento, e
sem investimento não há desenvolvimento
nem crescimento, eles têm assim um poder
de veto. [...] O poder da direção empresarial
com seus capitais e com o poder de veto que
conduz ao desemprego, não cabe dúvida de
que é muito forte (político).
Na opinião de alguns presidentes consul-
tados, no Cone Sul é preocupante o peso de
corporações que aparecem como um obstá-
culo para uma democracia mais ampla, por-
que são outorgados privilégios a certos gru-
pos, em um contexto de partidos frágeis e de
um Estado que deveria ser mais republica-
no. Em países menores, como os da Améri-
ca Central, aponta-se a pressão exercida pelo
setor privado –ligado a uma estrutura oli-
gárquica de poder– sobre o presidente, e a
cooptação de altos funcionários, o que per-
mite a alguns dos consultados falar de um
processo de captura do Estado.
A estreita vinculão entre grupos eco-
nômicos e meios de comunicação é destaca-
da pela maioria dos consultados. Mediante
os meios, os empresários concentram mais
poder ainda, quer seja porque são seus pro-
prietários ou porque imem condições
por meio do controle das pautas publici-
rias. Essa aliança lhes confere grande capa-
cidade de gerar opinião, determinar temas
de agenda e incidir sobre a imagem públi-
ca dos funciorios, dos partidos políticos
e das instituições.
Os meios de comunicação
Os meios de comunicação são caracteri-
zados como um controle sem controle, que
cumpre funções que excedem o direito à in-
formação. “Formam a opinião pública, deci-
dem as pesquisas de opinião e, conseqüen-
temente, são os que mais têm infl uência na
governabilidade” (político). Atuam como
suprapoderes, [...] passaram a ter um poder
que excede o Executivo e os poderes legiti-
mamente constituídos, [...] substituíram to-
talmente os partidos políticos” (político).
A maioria dos jornalistas consultados vê
o setor econômico-fi nanceiro e os meios de
comunicação como os principais grupos de
poder. Os meios de comunicação têm a pe-
culiaridade de operar como mecanismo de
controle e/ou limitação às ações dos três po-
deres constitucionais e dos partidos políti-
cos, sejam quais forem os proprietários des-
ses meios. A verdadeira vigilância que se
exerce é a da imprensa (jornalista). Além
disso, reconhecem que atuam como uma
corporação que defi ne os temas da agen-
da pública e que até traça a agenda presi-
dencial.
Em geral, os consultados consideram
problemática a relação entre os meios de
comunicação e os políticos. Aqui a classe
política os teme. Porque podem fazer des-
moronar uma fi gura pública a qualquer mo-
mento (sindicalista). A forma através da
qual se construíram as concessões e os inte-
resses com os quais se teceu toda a estrutura
dos meios de comunicação os converteram
em um poder” (político).
Para alguns, no entanto, a infl uência
exercida pelos meios de comunicação é po-
sitiva: “Graças aos meios, ainda podemos es-
tar falando de democracia (empresário).
Valorizam seu papel fi scalizador: “Está claro
que se não fosse pela vigília da imprensa, as
coisas seriam muito piores”. “[A imprensa]
sofi stica os mecanismos de engano, mas, por
outro lado, opera como limite (jornalista).
Os fatores extraterritoriais
O papel dos Estados Unidos e dos or-
ganismos multilaterais de crédito (Banco
Mundial, BIRD; Fundo Monetário Interna-
cional, FMI; Banco Interamericano de De-
senvolvimento, BID) como fatores de gran-
de infl uência são mencionados pela metade
dos consultados, aproximadamente. Eles
apontam a ingerência dos organismos nas
“[A imprensa]
sofi stica os
mecanismos
de engano,
mas, por outro
lado, opera
como limite”
(jornalista).
168
A democracia na América Latina
questões internas e a perda de autonomia. A
dependência se vê expressa nas prioridades
da agenda pública, particularmente na coin-
cidência entre as sugestões oferecidas por es-
ses organismos e as pautas de reformas eco-
nômicas, scais e estatais, previstas a curto e
médio prazo.
“O rumo, a direção, os ritmos da coisa es-
tão predeterminados por condicionamentos
externos [...] com o FMI, com os bancos, com
o BID” (jornalista). A aprovação do governo
dos Estados Unidos perante os organismos
multilaterais é essencial. Sem uma visão favo-
rável do FMI, do BIRD e do BID, a economia
do país entraria em colapso em curto prazo,
pela situação de endividamento [...]. A ajuda
norte-americana é vital para a correlação de
forças internas neste período (político).
“A política econômica não é dirigida de-
mocraticamente [...].Existe uma pauta úni-
ca para a região. E quem quiser seguir outro
caminho, ou vai se enfrentar com a impos-
sibilidade de concretizá-lo ou, se o fi zer, terá
que assumir todos os riscos. [Esta é a] limi-
tação do caráter internacional e global dos
vetores econômicos (alto funcionário).“O
povo vota e as instituições que surgem desse
voto são facilitadores de decisões que foram
tomadas em outro lugar [...]. Gradualmente,
as fronteiras vão caindo devido a esses pode-
res fáticos que fazem com que as decisões do
Parlamento, do Poder Executivo, da Justiça,
de cada jurisdição sejam, na verdade, só de
fachada (jornalista).
Embora os consultados reconheçam a
infl uência desses poderes, alguns conside-
ram que o poder político mantém capacida-
de de autonomia. “O desafi o é como adaptar
as instituições democráticas à existência dos
poderes fáticos. Provavelmente não haja ne-
nhuma forma de institucionalizá-los, porém
é preciso saber que existem, que infl uenciam
e que essas infl uências pesam (político).
Nesse contexto e sob um ponto de vista
de futuro, um presidente identifi ca o desafi o
que signifi ca dirimir o vínculo entre os fato-
res extraterritoriais e as prioridades nacio-
nais, que incluem a superação da pobreza e o
conseqüente fortalecimento da democracia:
“Este quadro nos coloca perante um enorme
desafi o: se nós, os governantes da região, so-
mos ou não capazes de fazer com que o con-
trole responsável das políticas econômicas
funcione com efi cácia e visão de futuro.
As igrejas
A metade dos consultados considera que
as igrejas continuam tendo infl uência, ain-
da que decrescente em relação ao passa-
do. Menciona-se que a expansão das igrejas
evangélicas está minando o poder das cató-
licas. Acho que a Igreja Católica ainda con-
tinua sendo a hegemônica. [...] Os setores
mais conservadores se fortaleceram, [...] os
que mais avançaram são alguns grupos pen-
tecostais, evangélicos que hoje têm gran-
de infl uência, porque controlam os meios
de comunicação, [...] têm um discurso que
atrai as pessoas como solução para seus pro-
blemas e que é extremamente alienante do
ponto de vista da consciência democrática
[...]. As pessoas não precisam participar pa-
ra construir a democracia, têm que ir lá re-
zar e Deus sabe o que faz. Além disso, essas
igrejas estão se transformando em um poder
econômico extraordinário (líder da socie-
dade civil). Em alguns casos mencionam-se
autoridades da Igreja Católica que em épo-
cas de campanha eleitoral manifestam opi-
niões políticas em suas homilias. “Eles são
os que na campanha eleitoral, lá do púlpito,
vão infl uenciar ou insinuar em quem votar”
(política). “Isso traz como conseqüência que
a Igreja Católica exerça não só uma função
estritamente pastoral, mas que adicional-
mente exerça uma infl uência real no proces-
so de tomada de decisões políticas (funcio-
nário de alto escalão).
O sindicalismo
O sindicalismo é reconhecido por apro-
ximadamente um terço dos consultados co-
mo fator de poder, particularmente por sua
capacidade de veto através de pressões e
mobilizações, bem como por sua infl uên-
cia na construção da agenda pública relati-
va a temas trabalhistas. Mencionam-se, em
especial, os sindicatos do setor público, res-
saltando sua vinculação com o poder polí-
tico, ao mesmo tempo em que se faz alusão
aos do setor privado como fator de poder
decrescente.
169
Bases empíricas do Relatório
Os poderes ilegais
O peso dos poderes ilegais constitui uma
especial preocupação em alguns países. São
grupos relacionados com todo tipo de ativi-
dades ilícitas: tráfi co de drogas, contraban-
do, prostituição, jogo clandestino etc.
“A lguns setores do crime organizado são
um poder em crescimento. Em grandes cen-
tros urbanos muito vinculados com o tráfi -
co de drogas, contam com o braço policial e
com outros recursos como o dinheiro abun-
dante. Então, esse poder é realmente uma
ameaça à democracia (empresário).
“Na próxima eleição, vão se apresentar
pela primeira vez, em forma direta, repre-
sentantes diretos desses grupos mafi osos.
Antigamente, tinham seus contatos com o
poder político, agora têm seus próprios re-
presentantes. Nas listas de candidatos a se-
nadores e deputados podemos reconhecer,
por exemplo, o fi lho, o genro, o cunhado e
em alguns casos, até o próprio líder do gru-
po mafi oso [...]. São os grupos de maior in-
uência e de maior capacidade de manobra
em operações à margem da lei relacionadas
com a falsifi cação, isto é, todo o comércio de
fronteira e esse tipo de atividades que são as
que dão maior lucro atualmente em nosso
país” (prefeito).
Destaca-se a infl uência que esses gru-
pos exercem sobre os poderes do Estado e
sobre as empresas. “[Em certas zonas] on-
de há uma produção importante de coca,
o narcotráfi co tem infl uências, obviamente
obscuras, secretas, através da corrupção das
autoridades” (presidente). Trata-se de um
poder agressivo, antidemocrático e terrível
[...]: compra tudo, juízes, fronteiras, poli-
ciais, instituições inteiras” (funcionário de
alto escalão).
A in uência dos grupos ilegais foi favo-
recida pelas mudanças na economia e por
um Estado frágil e permeável: “Esses gru-
pos extralegais têm o poder que têm por-
que existe um Estado débil, instituições
desprestigiadas como o Congresso [...]. Em
uma alta porcentagem, o narcotrá co foi
capaz de corrom-las, e continuam cor-
rompidas [...]. No Congresso continua exis-
tindo gente paga pelo narcotrá co [que]
chegou a corromper a cúpula dos partidos
tradicionais [...]. São as fontes de nancia-
mento da insurgência e dos paramilitares”
(sindicalista).
Os poderes políticos formais
O Poder Executivo
Um forte presidencialismo caracteri-
za a maioria dos regimes democráticos na
América Latina. É interessante ver que os
presidentes da América Central e do Cari-
be reforçam essa caracterização incluindo o
Executivo na identifi cação dos grupos com
maior poder.
Aproximadamente um terço dos consul-
tados considera que o Executivo é um po-
der forte na América Latina. Entretanto, es-
ta avaliação assume diferentes matizes. Por
um lado, é considerado um poder positivo,
que favorece a constrão de acordos e pos-
sibilita a governabilidade. Por outro, desta-
ca-se que, apesar de sua capacidade de ini-
ciativa, está condicionado e subordinado a
fatores extraterritoriais e fáticos. Indepen-
dentemente de suas atribuições e restrições
constitucionais, os presidentes tentam man-
ter a primazia sobre o Congresso e o Poder
Judiciário.Tentaram ter mais ingerência
na Corte e na Assembléia []. Este é um
regime presidencialista e se faz o que o pre-
sidente diz […]. Ele tem um poder que está
muito acima dos poderes muito fortes que a
Constituição lhe dá” (presidente).“Quando
alguém tem uma lideraa forte e ganha
as eleições arrasadoramente [...], o Con-
gresso não controla o presidente em nada
(presidente).
As Forças Armadas
Aproximadamente um quinto dos con-
sultados atribui às Forças Armadas uma
importante infl uência. Apesar disso, ten-
dem a considerar que perderam peso, devi-
do a que se encontram em um processo de
institucionalização e, em alguns casos, de-
vido às conseqüências de disputas internas,
que também minaram o grande poder que
tiveram em épocas passadas. Em apenas
dois países –Equador e Venezuela – comen-
ta-se que atuam como controle da demo-
cracia, contam com forte reconhecimento
A infl uência dos
grupos ilegais
foi favorecida
pelas mudanças
na economia
e por um
Estado frágil e
permeável.
170
A democracia na América Latina
público, construíram bases de apoio vincu-
ladas às organizações sociais e à política so-
cial, e estão relacionadas com o movimento
ingena. Nesse contexto, as Forças Arma-
das aparecem politizadas. Aponta-se co-
mo indicador relevante a militarização da
administração pública, mediante a incor-
poração de pessoal militar em serviço ati-
vo. “Quando há alguma ameaça, esse poder
militar vai para as ruas” (jornalista).
A visão dos presidentes e
vice-presidentes
Os testemunhos dos que foram ou são
presidentes e vice-presidentes (de agora em
diante, os mandatários”) da América Latina
têm uma importância particular: suas refl e-
xões estão intimamente ligadas ao exercício
concreto do poder político em sua máxima
expressão institucional.
Avaliação da fi gura do presidente no
mapa de poder de cada região
Como já vimos, há ampla coincidên-
cia em que um presidencialismo forte ca-
racteriza os regimes democráticos na Amé-
rica Latina. Os mandatários da América
Central e do Caribe reforçam esta caracte-
rização incluindo o Executivo na identifi ca-
ção dos grupos com maior poder. Segundo
um deles: A presidência ainda tem um po-
der muito forte [que se manifesta em] as ati-
tudes do presidente, em sua missão, em seu
comportamento, em sua maneira de enten-
der as coisas.
Em alguns países aparecem críticas ao
desempenho presidencial: detectam-se prá-
ticas personalistas que confundem a identi-
dade dos partidos com a fi gura presidencial.
Outros mandatários reconhecem o poder
presidencial, mas não o consideram irrefu-
tável, identifi cando nele certas fi ssuras; esse
debilitamento lhes parece preocupante.
Outros mandatários observam que o re-
gime eleitoral distorce sua base de apoio
político. E o contexto do exercício do po-
der também impõe condicionamentos. En-
tre os mandatários do Cone Sul, detecta-se
uma disparidade entre o poder formal do
presidente e sua efetiva capacidade de exer-
cê-lo. Segundo eles, a imagem do presidente
como “caudilho ou monarca criollo dis-
ta em grande medida da realidade. “O presi-
dente é uma pessoa cuja capacidade está, em
geral, bastante limitada.
Outro mandatário de um país do Merco-
sul agrega que o maior número de controles
a partir de mecanismos de democracia dire-
ta e da criação de novas instituições, devido
a reformas constitucionais, gera maior legi-
timidade no exercício do papel presidencial
e um conseqüente fortalecimento da demo-
cracia. “Eu governei em um marco institu-
cional que me permitiu legislar. O desafi o
principal se centra na capacidade presiden-
cial de dirigir ou não o processo político: “O
problema é quando não se tem a capacidade
de propor uma direção.
Pressões dos poderes fáticos sobre
a autoridade presidencial
Os mandatários consultados analisam o
exercício da presidência diante da pressão de
diversos poderes fáticos. Nessa abordagem,
aparecem referências e refl exões de caráter
pessoal no tocante à capacidade de impor
decisões. Ao exercer a presidência não me
senti muito pressionado. Talvez porque está-
vamos começando, porque a base de susten-
tação do governo democrático tinha muita
força; talvez porque, sem falsa modéstia, as
pessoas me conhecem, e sabiam que não iam
poder me pressionar.
Mas, por outro lado, a pressão exerci-
da por poderes extraterritoriais, centrados
fundamentalmente no governo dos Esta-
dos Unidos e nos organismos multilaterais
de crédito, é uma característica da experiên-
cia de governo dos mandatários.
As pressões sobre a autonomia das de-
cisões presidenciais são avaliadas negativa-
mente em todos os casos. Segundo vários
mandatários consultados, “é um poder exer-
cido de maneira negativa, é mais um poder
de perturbação do que de decisão. “Estamos
totalmente condicionados, eles nos impõem
as regras […]. Os governos soberanos estão
dependendo da avaliação de uma agência
particular de risco, da decisão de um orga-
nismo internacional, ‘te ajudo ou não te aju-
171
Bases empíricas do Relatório
do. Os governos têm mais limitações pa-
ra exercer o poder. Perdemos capacidade
de decisão nacional, posto que os organis-
mos internacionais de crédito estabelecem
condições que atentam contra o próprio
crescimento e, enfi m, contra a democracia,
quando direitos humanos fundamentais são
lesados. “Tu tens então um presidente da
República, com uma pressão bilateral brutal
e com uma infl uência da cooperação inter-
nacional, não direi brutal, mas muito signi-
cativa. “Os organismos bilaterais, com su-
as exigências de seguir modelos e programas
determinados com condições politicamen-
te inviáveis, não são os responsáveis pelo re-
sultado político que essas obrigações acarre-
tam, que te impõem [...]. Ou seja, vem um
burocrata internacional e, seguindo as di-
retivas de seu organismo, marca uma dire-
triz e depois esse senhor cumpre sua missão
e vai embora.
O papel dos meios de comunicação
Os mandatários identifi cam a interven-
ção onipresente dos meios de comunicação
como um contrapeso a seu poder, na medi-
da em que a opinião pública tende a orien-
tar-se a respeito das ações governamentais,
basicamente pela opinião e avaliação reali-
zadas pelos meios. “O meio de comunica-
ção informa, opina, julga e condena […].
É um fator de poder que pode ser bem ou
mal exercido, e que está infl uenciado por
interesses econômicos, paixões, sentimen-
tos e idéias, e por sua vez não está submeti-
do a nenhum controle. […] Então, é por is-
so que o governante se sente hostilizado pela
imprensa […].Não interessa a tendência do
governo, sempre vai se sentir hostilizado.
Reconhece-se também uma enorme ca-
pacidade dos meios para incidir no destino
de um governo: A incidência midiática po-
de tornar inútil uma sólida formulação ins-
titucional se tiver ataques ou rivais desse
setor” .“A imprensa tem uma infl uência de-
cisiva sobre o Congresso […]. Se a imprensa
se move contra uma lei, é muito difícil que
ela saia.
Apesar de valorizarem o papel dos meios
de comunicação como controle do poder, os
mandatários avaliam com certa apreensão o
crescente papel que os meios assumiram co-
mo expressão de interesses de grupos eco-
nômicos, sem estar submetidos a nenhum
controle. “Não podemos descartar nessa
paisagem o papel que os meios de comuni-
cação mais desenvolvidos, mais profi ssiona-
lizados cumpriram no que se refere a tarefas
de denúncia e controle, […] mas, há tam-
bém maior interferência no livre decorrer da
vida democrática. [...] O grande capital é um
fator de poder muito mais real hoje, porque
veio se apoderando dos instrumentos midi-
áticos, então isso lhes permite não só ter po-
der mas também exercê-lo.
A falta de controles estatais sobre a im-
prensa, que como vimos é um elemento
próprio da democracia, pode se transformar
em uma ameaça ao desempenho dos man-
datários. A crítica dos mandatários centra-
se na falta de responsabilidade com que os
meios de comunicação difundem informa-
ção, com aval de seu posicionamento no ma-
pa de poder de cada país. “Os meios são de
uma infl uência enorme, talvez os mais for-
tes e consistentes. […] Caem na estratégia
do sensacionalismo fácil e difi cultam a go-
vernabilidade e a consistência de gestão. […
] Não creio que esteja claro para a sociedade
o que isso implica. Estive conversando com
mandatários da região e todos nós sentimos
o mesmo problema.
A pressão exercida pelos meios de co-
municação se refl ete também no grande
peso que eles têm na construção da agen-
da pública. “Os meios de comunicação es-
tão atravessando um processo de evolução
em que temos uma confusão de poder como
nunca jamais eles tiveram em sua história,
que é o poder total e a responsabilidade zero
[…]. Os meios hoje têm um poder que pode
derrubar um ministro, que pode infl uir em
uma política e que está defi nindo a agenda,
às vezes em uma superdimensão injusta.
Os elementos resultantes do que já foi
exposto aparecem conjugados por um líder
que resume as percepções de muitos man-
datários da América Latina: “Os meios de
comunicação passaram a ser suprapoderes
[...], vinculados aos setores econômicos, evi-
dentemente, têm mais poder do que o poder
militar, do que o Executivo, do que a pró-
“Este quadro
nos coloca
perante um
enorme desafi o:
se nós, os
governantes da
região, somos
ou não capazes
de fazer com
que o controle
responsável
das políticas
econômicas
funcione com
efi cácia e visão
de futuro.”
172
A democracia na América Latina
pria Igreja e do que os partidos políticos.
Substituíram totalmente os partidos políti-
cos. Instalaram-se no centro da sociedade, o
que é bom para o controle dos outros pode-
res, mas, ao mesmo tempo, se existe um con-
trole, esse poder pode se tornar uma inquie-
tante perversão.
Valoração das organizações sociais na
vida política do país
No momento de avaliar o papel dessas
organizações sociais, vários mandatários
vêem os partidos em uma relação de com-
petição e até oposição com diversas orga-
nizações da sociedade civil. A tensão é ma-
nifestada por um mandatário ao mencionar
que: “ Foram criadas muitas ONGs que são
úteis e geram participação, que realizam as-
sembléias e escutam as pessoas, que incre-
mentam, dentro do possível, uma democra-
cia representativa […], mas em geral existe
uma certa posição antipolítica e isso não é
bom, do mesmo modo que na política exis-
te uma certa tensão com as ONGs. Isso tem
que ser superado com o avanço de uma tare-
fa comum que será difícil levar adiante.
Outro mandatário se manifesta com
mais fi rmeza sobre este tema: “Nós nos en-
contramos com um fenômeno que é de to-
da a América, que é perigoso se não o sou-
bermos organizar, que é o das ONGs e da
mal denominada sociedade civil. […] Os
partidos estão enfrentando a concorrên-
cia de ONGs e de organizações intermediá-
rias que não têm a legitimidade que os par-
tidos têm. Eno, temos que fortalecer essa
legitimidade porque os partidos são a úni-
ca organização que, através do exercício do
poder, pode aprovar normas, atos, regras,
obrigatórios para a sociedade”.
O conjunto de organizações sociais é um
espectro amplo e diverso, não claramente
defi nido, segundo os consultados. Isso incli-
na alguns mandatários a considerá-las pre-
ocupantes fatores de poder. A importância
da sociedade civil está aumentando. Nin-
guém sabe ainda quem são e o que represen-
tam, e essa é uma das preocupações.
Para outro mandatário, esse poder está
incluído no âmbito da globalização. “Veio
uma onda das grandes potências e houve
uma onda de exigências do poder mundial;
era preciso minimizar os governos, era pre-
ciso delimitar o Estado e era preciso forta-
lecer as ONGs.
O papel das ONGs também é questiona-
do quanto à representação dos interesses po-
pulares que pretendem assumir. As ONGs
são privilegiadas, mas não se colocam ques-
tões. Falam em nome do povo, mas fazem
isso contra reformas que são para o bem do
povo.
Na visão desses mandatários, as contro-
vérsias entre partidos políticos e organiza-
ções da sociedade civil se refl etem nas con-
cepções sobre democracia representativa e
participativa. Junto a elas se entrelaçam os
questionamentos sobre os alcances da de-
mocracia em sentido institucional e/ou seu
fortalecimento a partir de seu conteúdo de
eqüidade social. “Para recuperar a base de-
mocrática, não basta dizer às pessoas que se
organizem, que participem. É preciso incluí-
las e a inclusão não é só um problema de ca-
nais para que as pessoas falem ou protestem,
é ir ao conceito de liberdade sobre a base da
solução da necessidade […], é o investimen-
to social, é ampliar a cobertura, a qualidade
da educação […]. Participação signifi ca que
as pessoas se sintam parte do Estado. “O
grande segredo para que haja participação é
aproximar-se o máximo possível dos proble-
mas das pessoas, que são basicamente saúde,
educação, cultura e esporte.
O fortalecimento da democracia
Após termos apresentado algumas opi-
niões dos mandatários, voltamos agora ao
conjunto dos consultados. Nós lhes pergun-
tamos quais os passos a seguir para forta-
lecer a democracia nos próximos anos. Esta
pergunta deu lugar a uma dispersão relativa-
mente importante de respostas. No entanto,
um grupo de respostas, agrupável em três
grandes blocos, foi mencionado por dois
terços dos consultados.
O primeiro bloco reúne a necessidade de
realizar uma reforma política para fortalecer
as instituições, inclusive os partidos políti-
173
Bases empíricas do Relatório
cos. As características dessa reforma variam
de país para país: alguns falam de reforma
eleitoral, outros de reforma do Congresso,
outros de reforma do Estado ou de fortale-
cimento geral das instituições. A idéia co-
mum, porém, é que um melhor projeto dos
dispositivos e incentivos institucionais po-
deria melhorar, e muito, o funcionamento
da democracia. Uma proporção importan-
te dessas respostas indica que a reforma po-
lítica deveria construir novos canais que fa-
cilitassem a participação da sociedade civil
organizada. Para muitos dos líderes consul-
tados, a apatia cidadã e a desconfi ança em
relação às instituições se revertem melho-
rando os canais de participação e ampliando
seu número e seus alcances.
Este primeiro grupo de respostas é o mais
freqüentemente mencionado pelos consul-
tados e sugere que, diferentemente do que
ocorria há algumas décadas, as instituições
não são vistas como um refl exo secundário
do essencial, mas sim como parte do essen-
cial. O mesmo ocorre em relação aos parti-
dos políticos. Embora muitos consultados
coincidam em que os partidos não estão de-
sempenhando seu papel de maneira adequa-
da, uma quantidade semelhante indica a ne-
cessidade de fortalecê-los. O interesse dessa
resposta reside em que a constatação das di-
culdades que os partidos enfrentam não
leva à adoção de posturas de rejeição ou à
busca de canais alternativos: os partidos vão
mal, mas é preciso melhorá-los.
O segundo bloco de respostas inclui a
necessidade de tomar medidas signifi cativas
(não “puramente institucionais”) que aju-
dem a enfrentar as profundas iniqüidades
das sociedades latino-americanas. Elas cons-
piram contra o fortalecimento da democra-
cia e são detectadas tanto em termos econô-
micos (pobreza extrema e falta de recursos
mínimos, como a alimentação) quanto em
aspectos culturais (marginalização de se-
tores camponeses e urbanos, marginaliza-
ção de indígenas). Incorporar genuinamen-
te toda a população à política democrática
requer derrotar essas formas de exclusão.
Para isso é necessário desenvolver políticas
sociais e econômicas que conduzam a uma
melhoria generalizada dos níveis de vida.
O terceiro bloco refere-se à necessidade
de fortalecer a educação em geral (não só o
acesso a ela, mas também sua qualidade) e a
cultura democrática em particular. Pelo me-
nos parte dos problemas políticos enfrenta-
dos pelas sociedades latino-americanas de-
ve-se ao pouco conhecimento das regras do
jogo democrático ou, mais freqüentemente,
a um conhecimento superfi cial dessas re-
gras, que não leva a uma adesão sufi cien-
temente fi rme aos valores democráticos. Os
consultados acreditam que um esforço de-
liberado para desenvolver a educação, em
particular a educação para a democracia,
poderia melhorar ou reverter essa situação.
Um último ponto em que coincidiram
vários consultados foi a necessidade de in-
tensifi car a luta contra a corrupção. Isso é
coerente com seu próprio diagnóstico. Se
a corrupção é um dos problemas que mais
afeta a democracia e a deslegitimiza peran-
te a cidadania, a luta contra ela deve ser uma
das metas fundamentais.
Convém acrescentar que as opiniões dos
consultados sobre os principais problemas a
enfrentar, para fortalecer a democracia, dife-
rem segundo sua visão acerca do estado atu-
al de seus respectivos países. Os consultados
que afi rmam que seu país é uma democra-
cia ou uma democracia com poucas limita-
ções dão mais ênfase à necessidade de refor-
mas institucionais e partidárias. Essa ênfase
diminui entre os que detectam várias limita-
ções e diminui ainda mais entre os que vêem
muitas limitações a suas democracias (ou,
Reforma política 45
Aumentar participação 13
Institucionais, partidárias 32
Combater desigualdade 18
Políticas sociais 8
Políticas econômicas 10
Educar para a democracia 11
Combater a corrupção 9
Outros 17
Todos 100
Nota: Os valores são a proporção dos consultados que fazem menção no primeiro lugar a
este problema
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina, 2002.
PROBLEMAS A ENFRENTAR PARA
FORTALECER A DEMOCRACIA
TABELA 55
Para muitos
dos líderes
consultados,
a apatia dos
cidadãos e a
desconfi ança
em relação às
instituições
se revertem
melhorando
os canais de
participação e
ampliando seu
número e seus
alcances.
% dos consultados
174
A democracia na América Latina
simplesmente, acham que não existe demo-
cracia). Com as opiniões favoráveis a uma
maior participação, ocorre o contrário: são
mais freqüentes onde não se vê democra-
cia ou onde é considerada muito limitada, e
muito menos no extremo oposto.
A construção da agenda pública na
América Latina
As opiniões dos consultados a respei-
to da agenda política atual apresentam sig-
nifi cativas variações. A corrupção é o tema
mais mencionado (36 por cento). O papel
defi ciente dos partidos políticos e sua re-
forma são referidos por 20 por cento dos
consultados.
Em relação à agenda econômica, o tema
da reativação – incluindo o uso de recursos
produtivos, as privatizações e as reformas fi -
nanceiras – aparece como o mais menciona-
do (53 por cento). A dívida externa e a in-
tegração regional são apontadas por 23 por
cento dos líderes consultados.
Na agenda social, o desemprego e a vio-
lência (34 por cento) defi nem as priorida-
des. Observa-se também uma quebra na
homogeneidade das opiniões acerca dos
grupos infl uentes e dos temas da agenda.
Os consultados convergem amplamente em
indicar os grupos empresariais (80 por cen-
to) e os meios de comunicão (65 por cen-
to) como os grupos com maior capacidade
de modelar e impor a agenda. Por sua vez,
os consensos mais freqüentes aparecem no
que diz respeito à necessidade de reativação
econômica.
As prioridades de agenda dos líderes não
políticos não se distanciam das do conjun-
to dos consultados; para eles o tema central
da agenda é também a reativação econômica
(57 por cento), mas o restante das questões
econômicas recebe poucas menções. Quan-
to à agenda social, questões tais como a vio-
lência e a segurança cidadã, assim como as
reformas setoriais em saúde e educação, são
mencionadas principalmente pelos acadê-
micos, enquanto o desemprego e a pobreza
aparecem como problemas prioritários para
os jornalistas.
Se considerarmos a perspectiva das mu-
lheres líderes, a reforma fi scal atinge os mes-
mos níveis de importância que a reativação
econômica (45 por cento). No caso da agen-
da social, a pobreza ascende ao segundo lugar
(27 por cento) e diminuem as menções acer-
ca da violência (21 por cento), com valores
iguais aos das reformas de saúde e educação
(21 por cento). A agenda política, no entan-
to, mantém a mesma ordem de prioridades
que a do conjunto de consultados, embora
as mulheres líderes mencionem com menos
freqüência a corrupção (22 por cento).
A agenda futura
A agenda futura que se identifi ca com os
interesses e as preocupações dos consultados
não apresenta variações signifi cativas em re-
lação à agenda atual.
Reforma política 45 46 45
Aumentar participação 3 14 19
Institucionais, partidárias 42 32 26
Combater desigualdade 22 16 20
Educar para a democracia 12 13 7
Combater corrupção 10 8 10
Outros 11 17 18
Todos 100 100 100
Nota: Os valores são a proporção dos consultados que fazem menção no primeiro lugar a este problema
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina, 2002.
PROBLEMAS A ENFRENTAR PARA FORTALECER A DEMOCRACIA
SEGUNDO OPINIÃO SOBRE O ESTADO DA DEMOCRACIA EM SEU PAÍS
TABELA 56
Democracia com muitas
limitações, ou não é
democracia
Democracia plena,
ou democracia com
poucas limitações
Democracias
com várias
limitações
175
Bases empíricas do Relatório
No plano econômico, a reativação con-
centra 42 por cento das respostas e as pro-
blemáticas ligadas à integração regional, 24
por cento, valores semelhantes aos da agen-
da atual.
Quanto à agenda social, a dispersão de
respostas se mantém, mesmo quando se
perfi lam com mais prioridade as reformas
setoriais de saúde e educação, e os temas de
pobreza e desigualdade, mencionados por
aproximadamente um terço dos líderes. O
desemprego e a violência perdem importân-
cia relativa.
A agenda política se centra em um con-
junto amplo de temas. O tema prioritário é
a reforma política, mas só é mencionada por
35 por cento dos consultados. Os temas que
envolvem a defesa das liberdades e os direi-
tos humanos são considerados como temas
de agenda por 10 por cento dos consultados.
Chama a atenção que a menção às reformas
– tanto na agenda social como na política –
não faz alusão ao conteúdo das mesmas.
Os acadêmicos coincidem majoritaria-
mente com os percentuais gerais em rela-
ção aos temas da agenda futura. No entan-
to, enquanto 32 por cento dos consultados
consideram que a reforma educativa e a
saúde deveriam ingressar na agenda futu-
ra, só 17 por cento dos acadêmicos se ex-
pressa nesse sentido. Estes tendem a priori-
zar uma estratégia vinculada à estabilidade
do regime democrático e suas instituões.
Por essas razões, a reforma política, o ques-
tionamento do papel dos partidos políti-
cos e a descentralização concentram suas
prioridades, que chegam a 48 por cento das
menções contra 36 por cento que os consul-
Agenda econômica
A reativação econômica (debate sobre uso de recursos produtivos
(gás, petróleo, coca; privatizações, reforma fi nanceira) 80 (53%)
Questão fi scal 24 (16%)
Dívida externa 9 (6%)
Integração regional andina/Mercosul/ALCA 9 (6%)
Tratados de livre comércio 8 (5%)
Acordo com o FMI 3 (2%)
Agenda social
Desemprego 52 (34%)
Violência, delinqüência, segurança cidadã 51 (34%)
Reforma da educação/Saúde 40 (26%)
Pobreza 37 (24%)
Agenda política
A corrupção 55 (36%)
Reforma política/ Papel dos partidos/ Descentralização 30 (20%)
Reforma do Estado (abertura, modernização) 23 (15%)
Solução do confl ito político institucional/ Reconstrução institucional/
Fragilidade institucional 12 (8%)
Lavagem de dinheiro e narcotráfi co. A questão/O tema da coca 12 (8%)
Reforma do sistema judiciário. Estado de direito. Segurança jurídica 11 (7%)
Reforma constitucional 9 (6%)
Relação governo-sociedade, conciliação nacional 6 (4%)
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina,2002.
Temas N° de atores
que mencionam
AGENDA ATUAL SEGUNDO TEMA
80
TABELA 57
80 A tabela referente à agenda atual foi elaborada sobre a base dos 152 entrevistados que efetivamente responde-
ram às perguntas sobre o tema.
176
A democracia na América Latina
tados em geral atribuem a esse ponto. Um
panorama similar é apresentado pela refor-
ma judicial, pelo funcionamento do esta-
do de direito e pela seguraa jurídica, que
concentram 22 por cento das menções dos
atores acadêmicos contra 15 por cento das
menções gerais.
No caso dos presidentes e ex-presidentes,
a centralidade da questão da reativação eco-
nômica na região se destaca tanto na agen-
da atual quanto na futura. Outros temas co-
mo a questão do desemprego e a violência,
que concentram suas opiniões sobre os te-
mas da agenda atual, sustenta-se de manei-
ra frágil na agenda futura. A agenda políti-
ca, levando em conta o número de menções,
aparece como a menos relevante para esses
mandatários.
Os desafi os
Quais deveriam ser os passos para for-
talecer o desenvolvimento da democracia
nos próximos anos? Um grupo de respos-
tas, agrupáveis em três blocos, foi mencio-
nado por dois terços dos consultados. A se-
guir, resumimos as opiniões dos consultados
acerca dos passos futuros; isso implica certa
repetição a respeito de suas posições sobre a
situação atual.
O primeiro bloco se refere à necessidade
de realizar uma reforma política que forta-
leça as instituições, inclusive os partidos po-
líticos. As características das reformas pro-
postas variam de país para país: alguns falam
do sistema eleitoral, outros, do Congresso e
outros, do Estado. Mas, de maneira geral, a
idéia é que um melhor projeto dos disposi-
tivos e incentivos institucionais deveria me-
Agenda econômica
A reativação econômica, debate sobre o uso de recursos produtivos
(gás, petróleo, coca; privatizações, reforma fi nanceira) 66 (42,3%)
Questão fi scal 28 (17,9%)
Integração regional andina/ Mercosul/ ALCA 22 (14,1%)
Dívida externa 13 (8,3%)
Tratados de livre comércio 4 (2,5%)
Papel do FMI, Banco Mundial, BID 1 (0,6%)
Agenda social
Reforma da educação/Saúde 45 (28.8%)
Pobreza e Desigualdade 44 (28,2%)
Desemprego 26 (16,6%)
Violência, delinqüência, segurança cidadã 13 (8,3%)
Agenda política
Reforma política/ Papel dos partidos/ Descentralização 55 (35,2%)
Reforma do Estado (abertura, modernização, reforma administrativa) 33 (21,1%)
Reforma constitucional 9 (16,0%)
Reforma do sistema judiciário. Estado de direito. Segurança jurídica 15 (9,6%)
Segurança democrática (defesa de liberdades democráticas, direitos
humanos, paz) 15 (9,6%)
A corrupção 10 (6,4%)
Solução do confl ito político institucional/ Reconstrução institucional/
Fragilidade institucional 9 (5,8%)
Lavagem de dinheiro e narcotráfi co. A questão da coca 5 (3,2%)
Relação governo-sociedade; conciliação nacional 2 (1,2%)
Total 156
Nota: n=156
Fonte: PRODDAL, Rodada de consultas com líderes da América Latina,2002.
Temas N° de atores
mencionados
AGENDA FUTURA SEGUNDO TEMA
TABELA 58
177
Bases empíricas do Relatório
lhorar o funcionamento da democracia. No-
vamente, as instituições não são vistas como
um refl exo secundário do essencial, mas sim
como parte essencial da democracia.
O segundo bloco inclui a necessidade
de fortalecer a educação em geral e a cul-
tura democrática em particular, assim co-
mo a necessidade de enfrentar as profundas
iniqüidades das sociedades latino-america-
nas. O primeiro aspecto deveria ser enca-
rado mediante um esforço de educação cí-
vica e, em termos mais gerais, elevando o
nível educativo da população. Os consulta-
dos acreditam que um esforço deliberado
para desenvolver a educação, em particular
a educação para a democracia, poderia me-
lhorar ou reverter essa situação. A desigual-
dade educativa, em particular, é uma das ca-
ras mais visíveis e importantes do problema.
Para incorporar genuinamente toda a popu-
lação à sociedade e à defesa da democracia é
necessário enfrentar essas desigualdades.
O terceiro bloco ressalta a necessidade de
construir novos canais que facilitem a par-
ticipação da sociedade civil organizada. Pa-
ra muitos dos líderes consultados, a apatia
cidadã e a desconfi ança em relação às ins-
tituições se revertem melhorando os canais
de participação e ampliando seu número e
seus alcances.
Um último aspecto de coincidência, mais
pontual do que os anteriores, é a necessidade
de intensifi car a luta contra a corrupção co-
mo uma prioridade para fortalecer a ordem
democrática.
Alcances da democracia na América
Latina. Um balanço
Qual é a visão da democracia que pre-
valece? Todos os consultados valorizam al-
tamente a sustentabilidade e expansão da
democracia na América Latina. Essa visão
reconhece a vigência das liberdades e a regu-
laridade das eleições (em alguns casos, com
alternância no poder entre situação e opo-
sição), como grandes conquistas dos pro-
cessos democráticos em curso. Reconhe-
ce também as reformas constitucionais que
habilitaram mecanismos de democracia di-
reta e reformularam e/ou criaram mecanis-
mos de controle.
Entretanto, observa-se uma forte tensão
entre os alcances da democracia e os níveis
de pobreza e exclusão social. Entre os con-
sultados aparece como tema central a capa-
cidade – ou incapacidade – das democracias
para atingir níveis aceitáveis de integração
social. Instituições políticas que perdem cre-
dibilidade e a persistência das situações de
pobreza e exclusão social constituem um ce-
nário complexo que torna as democracias
vulneráveis diante da ingerência dos pode-
res fáticos.
As difi culdades para atingir um nível
aceitável de integração social são visíveis no
divórcio entre o diagnóstico feito pelos con-
sultados sobre o funcionamento e as debi-
lidades da democracia, por um lado, e por
outro, nos temas atualmente vigentes na
agenda pública. As restrições para formular
uma agenda em longo prazo dão conta das
difi culdades para pensar um projeto de pa-
ís” – e também de região – que possa prever
respostas programáticas para os graves pro-
blemas existentes. As limitações para formu-
lar uma agenda socialmente compartilhada
também suscitam o risco de que essas demo-
cracias se tornem “irrelevantes”.
Como se exerce o poder nessas
democracias?
Como vimos, na opinião de muitos de
nossos consultados, o Poder Executivo cos-
tuma encontrar limitações ao exercício de
suas funções que se devem, principalmen-
te, à ingerência de poderes fáticos. O Po-
der Executivo não conta com partidos po-
líticos sólidos que o sustentem, nem com
uma oposição que contribua para fortalecer
a institucionalidade democrática.
No mapa do poder traçado por nossos
consultados, destaca-se o grande peso de
certos poderes fáticos, em particular do se-
tor econômico-fi nanceiro e dos meios de co-
municação. Entre nossos consultados existe
a percepção de que os condicionamentos
impostos por esses poderes conduzem à
existência de governos com sérias limitações
para responder às demandas da cidadania.
Eles também enfatizam que os partidos não
178
A democracia na América Latina
conseguem formular projetos coletivos que
possam convertê-los em expressão autênti-
ca da cidadania. Dão ênfase também à infl u-
ência de poderes extraterritoriais que, entre
outros aspectos, se expressa na importância
relativamente baixa que se atribui, na agen-
da, à integração entre países da região.
Por outro lado, a institucionalização dos
processos de participação social é vista co-
mo débil ou incipiente. Muitos dos consul-
tados afi rmam a importância de fortalecer a
participação social; no entanto, quando esta
se materializa, são poucos os que apontam
os benefícios dela decorrentes. Isso parece
estar vinculado à falta de canais institucio-
nais adequados a essa participação.
Síntese da rodada de consultas
O resumo que apresentamos permite
enunciar algumas conclusões sobre as opi-
niões predominantes entre os líderes latino-
americanos, em relação ao desenvolvimento
da democracia na região.
1. Uma primeira constatação é que a
América Latina deu passos muito importan-
tes no caminho da democratização. O au-
mento da participação e dos controles ins-
titucionais é reconhecido como um passo
decisivo nesse sentido.
2. Para os líderes consultados, toda a re-
gião é, ao menos formalmente, democrá-
tica. Esta segunda constatação indica algo
que antes nunca existiu na região e que es-
tá associado a uma idéia muito importante:
apesar de os líderes latino-americanos opi-
narem majoritariamente que os aspectos
institucionais não são sufi cientes para afi r-
mar que existe democracia, também opinam
que eles são necessários. A dimensão institu-
cional não é vista como um epifenômeno do
que realmente importa, mas sim como parte
constitutiva da democracia.
3. Algumas das ameaças tradicionais às
democracias latino-americanas desaparece-
ram ou enfraqueceram signifi cativamente.
O quase desaparecimento dos riscos de in-
subordinação militar é o caso mais notável,
mas também é importante o enfraquecimen-
to das práticas patrimonialistas e dos perso-
nalismos, mencionados pelos consultados.
4. Embora as ameaças tradicionais te-
nham se desvanecido ou atenuado, apare-
ceram outras que continuam colocando em
questão a continuidade e a expansão da de-
mocracia. A mais ostensiva dessas ameaças é
o narcotráfi co, com suas seqüelas de poder
paralelo, violência, corrupção e destruição
da economia formal.
5. Outras ameaças que pesam sobre a de-
mocracia latino-americana são políticas. As
mais importantes estão interrelacionadas: a
reduzida autonomia de decisão dos poderes
institucionais e o debilitamento dos parti-
dos políticos.
6. A crise dos partidos não ocorre devi-
do a uma perda do desejo dos cidadãos de
participação, ao contrário, ela se dá em um
contexto de aumento desse desejo. Os parti-
dos latino-americanos não enfrentam a ver-
são regional de um problema mais geral (co-
mo a fuga em direção ao privado que ocorre
em outras regiões); enfrentam um proble-
ma novo e, em certa medida, específi co, que
combina três elementos distintos: um dese-
jo de maior participação e controle do poder
político, uma rejeição bastante generalizada
aos partidos como canais de participação, e
um deslocamento da participação e do exer-
cício de controles para outros tipos de or-
ganizações, em geral pertencentes à socie-
dade civil.
7. Os líderes consultados, apesar de ve-
rem esses problemas com clareza, não estão
buscando soluções fora da política, mas sim
dentro dela. Estão persuadidos de que é im-
portante ter partidos fortes e governos com
capacidade de decisão, e se perguntam so-
bre os caminhos que permitirão atingir am-
bas as metas.
8. Esses resultados gerais não ocultam,
é claro, algumas diferenças entre os países.
Uma delas é a que separa as opiniões das li-
179
Bases empíricas do Relatório
deranças dos maiores países da região (Bra-
sil e México), das opiniões dos consulta-
dos em outras democracias jovens. Tanto
no Brasil como no México se encontra mais
otimismo sobre o progresso das condições
necessárias para a democracia e mais satisfa-
ção com as conquistas já obtidas.
9. Do que foi dito pode-se concluir que,
segundo nossos consultados, o primeiro de-
safi o da democracia latino-americana é en-
contrar soluções políticas para seus proble-
mas políticos. Isso pressupõe buscar novas
maneiras de canalizar a participação, o con-
trole, a gestão de agendas e a construção de
acordos políticos, no âmbito de uma situa-
ção caracterizada por uma crescente globa-
lização das infl uências” e por uma transna-
cionalização dos problemas. Em parte, esse
é um problema universal, mas adquire mati-
zes específi cos na América Latina.
10. O segundo desafi o da democracia la-
tino-americana é encontrar soluções para a
desigualdade, para a pobreza e para a atu-
al impossibilidade de acesso de grande par-
te da população aos níveis de bem-estar ne-
cessários para o pleno exercício dos direitos.
No passado, esses lamentáveis problemas fo-
ram esgrimidos como razão para justifi car
a busca de caminhos alternativos para a de-
mocracia. Hoje são tomados como os gran-
des desafi os que a própria democracia deve
resolver.
180
A democracia na América Latina
181
Rumo a uma democracia de cidadania
terceira seção
Durante quase duas décadas, mas particularmente nos anos noventa, a agenda
latino-americana incluiu o fortalecimento democrático, a crise da política, as reformas
do Estado, as reformas estruturais da economia e o impacto da globalização na região.
No entanto, embora tenham sido abordados aspectos substantivos dessas questões,
o debate deixou de lado outros que, à luz da análise realizada, devem ser colocados
novamente no centro da discussão.
O Relatório chega à conclusão de que o desenvolvimento da democracia está inti-
mamente vinculado à busca de maior igualdade social, à luta efi caz contra a pobreza e
à expansão dos direitos dos cidadãos. Desse modo, é essencial revisar as políticas e as
ações implementadas até o presente, aprender das experiências históricas recentes,
auscultar as realidades sociais emergentes e explorar novos caminhos. Isso possibi-
litará abrir o horizonte para fórmulas que permitam recriar o debate sobre a política e
seu lugar na América Latina, por exemplo, por meio dos seguintes temas:
A necessidade de uma nova “estatalidad”: qual é o papel do Estado no fortaleci-
mento da democracia?
A economia do ponto de vista da democracia: quais são as políticas econômicas
que favorecem o desenvolvimento da democracia?
As democracias latino-americanas no contexto da globalização atual: que espaços
de autonomia requerem para sua expansão?
Rumo a uma democracia
de cidadania
182
A democracia na América Latina
183
Rumo a uma democracia de cidadania
nuam fora do alcance da deliberação públi-
ca e da vontade cidadã, se os governos não
podem executar as políticas decididas de-
mocraticamente? Ou se, mesmo contando
com governos e Estados efi cientes e efi ca-
zes, não é possível exercer o mandato eleito-
ral porque outros poderes internos ou exter-
nos não permitem?
Para enfrentar os défi cits de nossas de-
mocracias, é preciso poder democrático, isto
é, capacidade de agir de modo efetivo dian-
te dos problemas para expandir a cidadania.
Para construir esse poder, a política é indis-
pensável. Mas é preciso que a política se-
ja relevante, que proponha caminhos para
abordar os temas-chave da sociedade, que os
empreenda com a fi rmeza da determinação
dos líderes e dos cidadãos e os sustente com
a idoneidade dos instrumentos para a ação
coletiva, dentre os quais os partidos políticos
são atores centrais, mas não únicos.
As propostas de ação dos partidos políti-
cos têm, nas instituições representativas e de
governo do Estado, o principal instrumen-
to para sua execução. O poder democráti-
co também se constrói a partir da “e stata-
lidad”. Ao mesmo tempo, a sociedade civil,
constante criadora de novas organizações de
voluntários que aumentam a participação, é
outro dos instrumentos substanciais para a
expansão da cidadania e, conseqüentemen-
te, da democracia.
Por trás de todo direito há um Estado
que o garante. E por trás de todo direito
truncado há um Estado que não chega a tor-
ná-lo efetivo. Essa inoperância do Estado es-
tá relacionada com a qualidade de suas ins-
tituições e, fundamentalmente, com o poder
que fl ui por meio delas e com a conseqüen-
te capacidade – ou incapacidade – do Estado
para atingir suas metas.
Dessa forma, os problemas do desenvol-
vimento da democracia vistos nas seções an-
teriores aparecem em um amálgama em que
os limites do Estado se conjugam com as
Nesta seção, abordamos as considera-
ções necessárias para elaborar uma agen-
da ampliada para o desenvolvimento da de-
mocracia. Entendemos por agenda, para os
ns deste Relatório, a apresentação dos te-
mas que precisam ser debatidos. Não é, por-
tanto, uma enumeração de ações ou políti-
cas públicas.
O signifi cado e o alcance dessas contri-
buições são o resultado de três caminhos
convergentes: uma certa concepção da de-
mocracia, o reconhecimento da singularida-
de latino-americana e o conjunto de dados
resultantes de nossa pesquisa empírica.
Tr ata-se de temas que constituem preo-
cupações comuns à região latino-americana.
Entretanto, as políticas que possam deles de-
rivar devem expressar o que há de original e
singular em cada situação nacional.
Na seção anterior tratamos do estado da
cidadania na região. Em face dessa realida-
de, foram propostos, muitas vezes, receitas,
princípios técnicos e programas ambicio-
sos de reforma. Alguns foram implementa-
dos com certo êxito e obtiveram resultados
signifi cativos. No entanto, após uma década
de reformas, as carências de cidadania não
foram resolvidas. É preciso encontrar outros
critérios de ação que permitam avançar no
caminho das soluções que nossas socieda-
des esperam.
To da democracia encerra a promessa de
liberdade, justiça e progresso para seus cida-
dãos e, como afi rma Rosanvallon, “é preci-
so considerar o não cumprido, as fraturas, as
tensões, os limites e as denegações que des-
virtuam a experiência da democracia. Na
distância existente entre essa promessa e a
realidade descrita na segunda seção, surgem
com força os grandes temas que compõem a
agenda do desenvolvimento da democracia.
Mas, o que restaria da liberdade exerci-
da ao eleger democraticamente os governos,
se grandes esferas da vida social relacionadas
com os mais básicos direitos cidadãos conti-
Quatro temas para uma agenda
de debate
Para enfrentar os
défi cits de nossas
democracias, é
preciso poder
democrático, isto
é, capacidade
de agir de modo
efetivo diante
dos problemas
para expandir a
cidadania.
184
A democracia na América Latina
exigências do crescimento econômico e seus
resultados freqüentemente geradores de de-
sigualdades, com a impotência da política
para encarnar as aspirações da cidadania em
poder democrático, com as tensões de socie-
dades fraturadas, com a existência de pode-
res fáticos que evadem a legalidade, trafi cam
infl uências e permeiam as mais altas instân-
cias de decisão, com a evidência de uma glo-
balização que limita o espaço próprio da
democracia ao escamotear do campo da es-
colha dos cidadãos, os temas centrais que di-
zem respeito ao futuro da sociedade.
Em outros termos, a agenda que esta-
mos tratando está relacionada com os com-
plexos caminhos que habilitam e obstruem
a expansão da cidadania e a reconstrução
da sociedade política no marco das demo-
cracias latino-americanas. Trata-se de abor-
dar a discussão das condições que permitam
a nossas democracias encarar a solução dos
problemas que registramos, por meio da ex-
pansão dos instrumentos que a própria de-
mocracia oferece.
Em síntese, os problemas evidenciados,
que constituem os desafi os para o desenvol-
vimento da democracia na América Latina,
manifestam-se nessas quatro esferas centrais
(a política, o Estado, a economia e a globa-
lização), todas elas atravessadas pela questão
do poder, condição indispensável para que a
vontade da maioria se traduza em políticas
que transformem a realidade.
Os critérios aqui apresentados consti-
tuem um ponto de partida, procuram de-
sencadear um debate, são o início e não
o fi nal desse processo. Propomos que essa
agenda inclua: como passar de uma demo-
cracia cujo sujeito é o eleitor para outra cujo
sujeito é o cidadão que tem direitos e deve-
res ampliados, no campo político, civil e so-
cial; como passar de um Estado de legalidade
truncada para um Estado com alcance uni-
versal em todo o território, e cujo principal
objetivo seja garantir e promover os direitos
– um Estado de e para uma Nação de cida-
dãos –; como passar de uma economia con-
cebida segundo os dogmatismos do pensa-
mento único para outra com diversidade de
opções, e como construir um espaço de au-
tonomia na globalização. Trata-se, enfi m, de
preencher a sociedade com política e, conse-
qüentemente, a política com sociedade.
A política, primeira condição
A política cumpre uma função vital no
processo democrático: concebe as políticas
públicas para atacar os problemas que con-
sidera centrais e as concretiza em projetos
que são parte essencial das opções básicas
da sociedade; proporciona os dirigentes pa-
ra executar esses projetos; agrupa a enorme
quantidade de vocações cidadãs em deno-
minadores comuns que permitem escolher
entre um número razoável de alternativas
eleitorais; e fi nalmente constrói o poder pú-
blico necessário para executar os projetos
que apresenta à sociedade.
Em suma, a política encarna as opções,
agrupa as vocaçõ es e cria poder. Estas são três
condições indispensáveis para o desenvol-
vimento da democracia. Uma política que
não as cumpra põe em perigo a sustenta-
bilidade democrática. Na América Latina,
crise da política e crise de representação
porque essas três condições são cumpridas
apenas parcialmente e, em certas ocasiões,
nem existem. O debate sobre a política de-
ve estar centrado em como superar essa si-
tuação, da qual se deriva não só uma crise
de representação, como também um perigo
para a democracia.
Para isso, é preciso que existam insti-
tuições efi cazes, partidos políticos e práti-
cas transparentes e responsáveis. Essas con-
dições estão longe de ser cumpridas em
muitos países da região, o que debilita pe-
rigosamente a função dos partidos como
principais construtores da política para a
democracia.
Sobre essa carência, notória e difundi-
da, centrou-se a maior parte do debate pú-
blico sobre a política. No entanto, mesmo
sendo central, esse debate ocupou o lugar
da discussão sobre outras questões que pa-
recem mais decisivas do que as debilidades
institucionais: a crise de conteúdo da po-
tica e a di culdade para construir poder
democrático.
Mesmo na hipótese de contarmos com
excelentes instrumentos institucionais, se a
capacidade da política para construir opções
Trata-se, enfi m, de
encher a sociedade
de política e,
conseqüentemente,
a política de
sociedade.
185
Rumo a uma democracia de cidadania
substantivas e poder não for recuperada, tan-
to a democracia eleitoral quanto a democracia
de cidadania tenderão a ser não sustentáveis
e irrelevantes para os cidadãos. Uma política
que não nutre a sociedade de opções e de po-
der, não tem representatividade.
Na análise realizada na segunda seção
do Relatório, chama muita atenção o fato
de que os diversos instrumentos de estudo
empírico tenham levado a coincidir em um
conjunto similar de défi cit em nossas demo-
cracias. Esses défi cits devem estar no centro
dos esforços para a renovação dos conteú-
dos da política. Nesse sentido, foram apon-
tadas as seguintes questões:
Os problemas de expressão da cidada-
nia política são os menos marcantes. Embo-
ra em alguns países a participação eleitoral
ainda seja baixa, estudam-se mecanismos
para incrementar essa participação, por
meio da melhora nos procedimentos de ca-
dastramento eleitoral, e da incorporação de
facilidades para o acesso aos lugares de vo-
tação. Praticamente não há casos de frau-
de fl agrante e a intimidação de votantes di-
minuiu notoriamente. Como em todo país,
sempre há margens para a manipulação de
certo número de eleitores. Em muitos casos,
ainda, as cúpulas partidárias continuam do-
minando o esquema de indicação de candi-
datos. A normativa que permite a discrimi-
nação positiva de gênero para ter acesso a
cargos representativos melhorou. Pouco a
pouco, aprovam-se normas para controlar o
efeito das doações privadas sobre a ação po-
lítica, embora, em muitos casos, esse contro-
le ainda não tenha relevância prática.
Em toda a América Latina a fórmula
política está centrada na fi gura do presiden-
te constitucional e a instituição presiden-
cial costuma ter poderes formais relativa-
mente altos. Isso nem sempre se traduz em
efi cácia na ação de governar, o que cria ou-
tra fonte de descontentamento da cidadania
e de frustração para os políticos. O Parla-
mento, por sua vez, não possui muito pres-
tígio entre a massa cidadã e é considerado
como uma instância pouco efi caz para re-
presentar e defender os interesses da maio-
ria. Embora a área judiciária do Estado goze
de independência formal, em vários países
subsistem severas limitações para seu pleno
desempenho cotidiano. Os organismos es-
pecializados de controle da gestão pública,
tais como as controladorias de contas, ou os
organismos de promoção ou defesa de direi-
tos cidadãos, como as promotorias especiais
ou as defensorias do povo, às vezes não têm
a independência necessária e em outras, não
possuem poder para exercer suas funções.
Como se sabe, as defensorias públicas do
povo não podem ter poder próprio no cam-
po judiciário ou administrativo, pois invadi-
riam a área de competência de outros pode-
res estatais. Os mecanismos de democracia
direta, embora tenham ampliado o campo
da participação política da cidadania, em
alguns casos, contribuíram para a desesta-
bilização política, e não fi ca claro se repre-
sentaram um instrumento efi caz para o de-
senvolvimento da democracia.
Apesar dos avanços fundamentais em
matéria de direitos humanos, cuja violação
sistemática caracterizou a região nos perío-
dos autoritários e de guerra civil, continu-
am registrando-se abusos no que se refere
aos direitos à vida e à integridade física, pro-
venientes, particularmente, da incapacidade
do Estado de controlar a violência e o uso da
força pública. A liberdade de imprensa me-
lhorou notoriamente e apesar de os primei-
ros passos no sentido de assegurar o direito
de acesso à informação em poder do Estado
estarem sendo dados, esse é um desafi o no
qual é preciso avançar.
Os défi cits da cidadania sociais relacio-
nados com a estatalidad” e a economia são
os mais notórios: subsistem altos níveis de
desigualdade e pobreza e, em muitos países,
as desigualdades sociais não diminuíram,
mas, ao contrário, aumentaram. Em um nú-
mero considerável de países persistem os ní-
veis de necessidades básicas não satisfeitas.
Essas comprovações coincidem com a
percepção da cidadania que, no estudo de
opinião, indicou como problemas princi-
pais: desemprego, pobreza, desigualdade e
renda insufi ciente, delinqüência e drogas,
corrupção, e serviços e infra-estrutura in-
sufi cientes.
186
A democracia na América Latina
Coincidentemente também, os líderes
consultados mencionam como problemas
da agenda: reativação econômica, corrup-
ção, desemprego, violência e delinqüência,
saúde e educação.
Dar um conteúdo à política signifi ca não
apenas tornar “visíveis” os défi cits indicados:
também é indispensável construir um leque
de opções substantivas para solucioná-los de
modo efetivo, e colocar essa opções no eixo
da discussão pública. Resumimos alguns te-
mas desse debate nos seguintes enunciados:
1. A política, especialmente a política de-
mocrática, é o âmbito onde são concebidos
os diferentes projetos e alternativas de uma
sociedade. A política é representação, rei-
vindicação social e busca coletiva de senti-
do. No entanto, hoje observamos uma séria
incapacidade da política para articular pro-
jetos coletivos. Ela passou a ser, quase exclu-
sivamente, uma atividade pouco vinculada
às identidades, aos interesses e às aspirações
da sociedade.
2. A crise da política manifesta-se na
ruptura que existe entre os problemas pa-
ra os quais a cidadania requer uma solução
e a capacidade da política para enfrentá-los.
A política tende então a esvaziar-se, sem ser
capaz de construir o poder e os instrumen-
tos para enfrentar os principais desafi os de
nossos países. Aí reside boa parte dos pro-
blemas de confi ança e legitimidade que a de-
mocracia, a política, suas instituições básicas
e seus líderes enfrentam na América Latina.
3. É preciso então, perguntar-se qual de-
veria ser o lugar da política em uma Amé-
rica Latina que, ao mesmo tempo em que
conquistou o importante direito de gozar de
eleições livres, limpas e periódicas, está atra-
vessando o processo de globalização, apre-
senta graves problemas sociais e tem Estados
defi citários para garantir e expandir a cida-
dania. Pode a política encarnar as aspirações
cidadãs de redução da pobreza e da desi-
gualdade, de expansão do emprego e da soli-
dariedade? Pode a política ajudar a construir
um horizonte de progresso para nossos paí-
ses e nossos cidadãos?
4. Muitos dos temas que antes eram pró-
prios da política e dos Estados nacionais ho-
je são tratados e decididos em outras esfe-
ras. A economia, os poderes fáticos e alguns
meios de comunicação ocuparam boa parte
desse lugar. A política tende a perder conte-
údo por três vias vinculadas entre si:
Os Estados nacionais perdem sobera-
nia interior. Por um lado, em face dos po-
deres fáticos e ilegais, e, por outro, como
conseqüência dos défi cits que limitam a ca-
pacidade estatal, por inefi ciência e inefi cácia
de suas organizações burocráticas.
Há um desequilíbrio na relação en-
tre política e mercado, que tende a reduzir o
espaço da primeira e limitá-la a âmbitos de
menor relevância, excluindo, por exemplo,
importantes problemas econômicos do seu
âmbito de decisão e deliberação. Esta situa-
ção não é coerente com a democracia e com
os direitos de cidadania dela decorrentes.
Uma ordem internacional que limita a
capacidade dos Estados para atuar com ra-
zoáveis graus de autonomia e que, portanto,
restringe as opções nacionais.
Esses problemas debilitam a vocação
transformadora da política, e tornam espe-
cialmente grave a situação na América La-
tina. Neste contexto, às privações materiais
atuais se une uma certa perda da noção de
progresso, da própria possibilidade de pro-
jetos coletivos viáveis. A aparente impotên-
cia da política enfraquece seriamente a de-
mocracia, não apenas no que se refere às
suas possibi lidades de expansão, como tam-
bém – talvez – à sua sustentabilidade.
5. Na Arica Latina, as instituições de-
mocráticas básicas, principalmente os par-
tidos e o Parlamento, gozam de um baixo
conceito. Aproximadamente 36% dos la-
tino-americanos (Latinobarômetro 2002)
concordam em aceitar que, se for necessá-
rio, o presidente deixe de lado os partidos
políticos e o Parlamento na hora de gover-
nar. A maior parte dos latino-americanos
opina que não há democracia sem partidos
e Parlamento, mas seu funcionamento gera
insatisfação.
A política,
especialmente
a política
democrática, é o
âmbito onde são
concebidos os
diferentes projetos
e alternativas de
uma sociedade.
187
Rumo a uma democracia de cidadania
6. Os meios de comunicação, às vezes,
aparecem ocupando o vazio de representa-
ção originado na crise da política e suas ins-
tituições; esse vazio subsistirá enquanto a
política não assumir suas faculdades dian-
te de temas relevantes e enquanto os par-
tidos se mostrarem incapazes de articular
projetos coletivos e de alcançar a condução
do Estado.
7. Quando a política se esvazia de con-
teúdos, quando o Estado ignora as grandes
questões da cidadania, a sociedade os recu-
pera. Nos últimos anos, paralelamente à cri-
se de representação e à deserção do Estado,
surgiram, de maneira crescente e nas for-
mas mais diversas, organizações da socieda-
de que ocuparam o espaço das questões não
resolvidas ou ignoradas. Trata-se de um sis-
tema auto-organizado de grupos intermedi-
ários relativamente independentes do Esta-
do e das empresas privadas, que é capaz de
deliberar e levar adiante ações coletivas em
defesa e promoção de seus interesses e opi-
niões, respeitando a estrutura legal e civil
existente.
81
8. O cidadão e as organizações da socie-
dade civil desempenham um papel essen-
cial na construção democrática, no contro-
le da gestão governamental, na expressão de
demandas e no fortalecimento do pluralis-
mo que toda democracia promove e preci-
sa. Eles são atores relevantes da democracia
de cidadania. Seu papel é complementar ao
dos atores políticos tradicionais da demo-
cracia. Apesar das difi culdades e dos obs-
táculos inerentes à aceitação da sociedade
civil como âmbito de participação e forta-
lecimento da democracia, sua importância
na democratização da América Latina deve
ser claramente reconhecida. Assim, para via-
bilizar a passagem à democracia de cidada-
nia, a política deve recuperar seus conteúdos
essenciais e também rever cuidadosamente
sua tarefa incompleta, assumindo as deman-
quadro 39
O poder dos meios de comunicação
Evidentemente, em todos os grandes grupos sobre os quais temos
alguns dados, o controle sobre a comunicão encontra-se distribuído
de uma maneira tão desigual, que alguns indivíduos possuem uma in-
uência consideravelmente maior que outros… aqui temos um problema
enorme… o número de indivíduos que exerce um controle importante
sobre as alternativas programadas corresponde somente, na maioria das
organizações, a uma fração muito reduzida do total dos membros. Pare-
ce que esse é o caso, inclusive, nas organizações mais democráticas, se
o número de membros é considerável.
Robert Dahl, 1987, pp. 97-98.
quadro 40
Sociedade civil, política e participação
As pessoas que se organizam por meio de entidades independentes
da sociedade civil superam a dicotomia entre autonomia pública e
privada. Elas exercem a cidadania civil, não apenas para proteger seus
próprios interesses, mas também para ampliar as possibilidades de
proteção dos interesses de outros menos afortunados. Essas pessoas
exercem também a cidadania política, não apenas ao votar e decidir
em função de seus interesses pessoais, mas também quando ampliam
as possibilidades de acesso e participação dos relegados pelo sistema
político. Por isso, eles encarnam em si mesmos toda a potencialidade
do ser humano como agente, porque abarcam tanto a dimeno pessoal
quanto a dimensão social da cidadania.
Na América Latina há um crescimento impressionante das organizações
independentes da sociedade civil. Especialmente no âmbito dos direitos
humanos, a transão democrática trouxe uma nova gerão para os
organismos nascidos para lutar contra a represo ilegal das ditaduras,
e propiciou também o surgimento de novas entidades dedicadas
aos direitos da mulher, das crianças, dos povos indígenas, dos afro-
descendentes e de diversos setores excluídos. […] A sociedade entende
a política em um sentido mais amplo e mais rico que o da concorncia
eleitoral.
Juan Méndez, texto elaborado para o PRODDAL, 2002.
81 Conseqüentemente, não podem incluir organizações que tendem à ilegalidade para atingir seus objetivos, sejam
elas “máfi as” ou organizações políticas subversivas, nem atores com fi ns mais precisos, que são parte da sociedade,
como: os sindicatos; os meios de comunicação, que são organismos de informação e entretenimento; os partidos;
as associações, ou as Igrejas formais, mas sim inclui os organismos colaterais que entram na defi nição adotada.
188
A democracia na América Latina
das de uma sociedade que se organizou para
reivindicar, controlar e propor.
9. Na América Latina, os espaços con-
quistados pela sociedade civil foram fun-
damentais para abrir caminhos políticos
que estavam fechados para a construção de-
mocrática. Dessa forma, a sociedade civil
amplia o espaço público por meio da par-
ticipação, da expressão de identidades e
demandas, e da organização cidadã. Atu-
almente, há necessidade de formas alterna-
tivas de representação que, sem substituir
as tradicionais (partidos políticos, eleições,
Parlamentos), as complementem e fortale-
çam, respondendo a novas necessidades, às
particularidades dos setores excluídos ou
sub-representados, à necessidade de agrega-
ção política gerada pela saudável e crescente
expressão da diversidade, e à imprescindível
reapropriação cidadã dos espaços de cons-
trução de vontade democrática.
10. Esta questão está vinculada a certos
âmbitos de poder onde se tomam decisões
que afetam gravemente a sociedade, sem que
ela possa participar dessas discussões. Esses
claustros cerrados de decisão econômica e
os poderes fáticos legais e ilegais, nacionais
ou extraterritoriais, contribuem para esva-
ziar a política. A democracia abre caminho
e convida à participação cidadã; no entanto,
se os âmbitos em que essa participação ocor-
re têm pouco peso nas grandes decisões na-
cionais, a conseqüência tende a ser a apatia e
a desconfi ança generalizadas.
quadro 41
A dimensão associativa da democracia
A qualidade da democracia está determinada tanto pelos que estão
envolvidos em práticas associativas quanto pelos que estão excluídos
delas. Costuma suceder, em toda a América Latina, que um mundo
hobbesiano de segmentos totalmente desorganizados da população
convive com um mundo muito menor inspirado em Tocqueville. Nesse
sentido, apresentam-se dois problemas: um, que tem a ver com a
defi nição do espaço público mediante a silenciosa ação cotidiana
dos que administram o acesso ao aparato estatal. Daí a necessidade
de democratizar a cultura de elites e seus resultados vinculados à
apropriação do espaço público por parte de interesses especiais
organizados. O segundo problema refere-se a uma avaliação dos padrões
associativos em si mesmos, tanto em termos de sua difusão quanto de
seu conteúdo e qualidade. Supondo que sejam produzidas conseqüências
institucionais positivas do capital social, a dinâmica de associação deve
ser considerada como um ingrediente essencial da democracia.
Renato Boschi, texto elaborado para o PRODDAL, 2002.
quadro 42
Política, partidos e democracia na América Latina
Ao falar de uma transformação das relações en-
tre Estado e sociedade estamos nos referindo
a uma transformação da política. Se a crise da
política, que infl ui na qualidade e relevância
das democracias novas, repercute na socieda-
de inteira, com mais intensidade isso acontece
em relação aos atores principalmente políticos,
isto é, aos partidos, que são julgados severa-
mente pela opinião pública.
No novo cenário gerado pelas transformações
sociais, estruturais e culturais das últimas
décadas que decompõem a unidade da socie-
dade-polis, tende a desaparecer a centralidade
exclusiva da política como expressão da ação
coletiva. Mas ela adquire uma nova centrali-
dade, mais abstrata, pois é seu papel abordar
e articular as diversas esferas da vida social,
sem destruir sua autonomia. Desse modo, há
menos espaço para políticas altamente ideo-
logizadas, voluntaristas ou globalizantes, mas
há uma exigência de política por “sentido”, que
as forças do mercado, o universo mediático,
os particularismos ou os meros cálculos de
interesses individuais ou corporativos, não são
capazes de dar.
A grande tarefa do futuro é a reconstrução do
espaço institucional, a polis, em que a política
volte a ter sentido como articulação entre
atores sociais autônomos e fortes e um Estado
que recupere seu papel de agente de desenvol-
vimento em um mundo que ameaça destruir as
comunidades nacionais.
A opção é o fortalecimento, autonomia e com-
plementaridade entre o Estado, o regime, os
partidos e os atores sociais autônomos, isto é,
uma nova matriz sociopolítica.
Manuel Antonio Garretón, texto elaborado
para o PRODDAL, 2002.
189
Rumo a uma democracia de cidadania
A necessidade de uma nova
estatalidad”
É indispensável ampliar o debate sobre o
Estado na América Latina. Enquanto a ên-
fase, durante os últimos vinte anos, foi dada
a questões como privatizações, tamanho e
gasto do Estado e modernização de suas bu-
rocracias, dois temas principais foram dei-
xados de lado: o poder real do Estado para
pôr em prática o mandato eleitoral e o po-
der para democratizar, isto é, sua capacida-
de para chegar, de maneira universal, a todas
as classes sociais, em todo seu território. Es-
ta última questão é condição necessária pa-
ra que os direitos e as obrigações tenham vi-
gência real para todos, em todos os lugares.
Se estas condições não forem cumpridas, o
resultado será um défi cit de estatalidad” :
sérias falhas na vigência do estado de direi-
to afetarão diretamente a sustentabilidade e
o desenvolvimento da democracia.
Com o pretexto da aplicação de refor-
mas institucionais que possibilitariam um
melhor funcionamento dos mercados, es-
sas questões foram ignoradas ou ocultas.
Um Estado para a democracia busca igua-
lar a aplicação de direitos e deveres, o qual
– inexoravelmente – modifi ca as relações de
poder, particularmente em regiões como a
América Latina, onde a grande concentra-
ção de rendas leva à concentração de poder.
Este é um debate urgente, porque na
América Latina existe uma crise de esta-
talidad” , entendida como a capacidade do
Estado para cumprir suas funções e objeti-
vos, independentemente do tamanho e da
forma de organização de suas burocracias.
Em muitos casos, os Estados latino-ameri-
canos perderam capacidade como centro de
tomada de decisões legítimas, efi cazes e efi -
cientes, orientadas para a resolução dos pro-
blemas que as sociedades reconhecem como
relevantes.
É imperioso recuperar essa capacidade
para promover as democracias. Não exis-
te democracia sem Estado e não existe de-
senvolvimento da democracia sem um Esta-
do para todos, capaz de garantir e promover
universalmente a cidadania. Se esta condi-
ção não for cumprida, a democracia deixa
de ser uma forma de organização do poder,
capaz de resolver as relações de cooperação e
confl ito. O poder escapa da democracia e ela
perde substância.
Recuperar um Estado para a cidadania é
um desafi o central do desenvolvimento da
democracia na América Latina. Com Esta-
dos frágeis e mínimos, pode-se aspirar uni-
camente a conservar democracias eleitorais.
A democracia de cidadania precisa de uma
estatalidad” que assegure a universalidade
dos direitos.
82
É necessário um Estado capaz de con-
duzir o rumo geral da sociedade, adminis-
trar os confl itos de acordo com princípios
democráticos, garantir efi cazmente o fun-
cionamento do sistema legal (direitos de
propriedade e direitos de cidadania, simul-
taneamente), regular os mercados, estabele-
cer equilíbrios macroeconômicos, estabele-
cer sistemas de proteção social baseados no
princípio de universalidade da cidadania, e
quadro 43
A democracia como princípio
de organização da sociedade
A ordem social já não pode descansar sobre uma regulação
exclusivamente estatal da convivência, mas tampouco opera como um
sistema auto-regulado. O problema de fundo consiste em redefi nir a
coordenação social em uma sociedade em que o Estado e a política
deixaram de ser as principais instâncias de coordenação.
Nesse contexto, do meu ponto de vista, deve estar situada a
discussão sobre a “queso democrática” na Arica Latina.
Enquanto a tendência atual aponta para uma “democracia eleitoral,
cabe perguntar, ao contrário, sobre o papel da democracia como um
âmbito privilegiado de coordenação social. Em lugar de restringi-la
a um princípio de legitimação, deveria ser explorado seu potencial
como princípio de organização. Na verdade, as instituições e os
procedimentos democráticos sempre tiveram a fuão de mediação
de interesses e opiniões plurais com o objetivo de decidir “aonde
vamos”.
Norbert Lechner, 1996.
82 Seja qual for a defi nição de cidadania que adotemos, o vínculo entre cidadania e democracia comporta sempre
a idéia de universalidade.
Recuperar um
Estado para
a cidadania
é um desafi o
central do
desenvolvimento
da democracia na
América Latina.
190
A democracia na América Latina
assumir a preeminência da democracia co-
mo princípio de organização da sociedade.
A “e statalidad” é uma condição indis-
pensável para que uma democracia aspi-
re a desenvolver-se além do plano eleitoral,
para que seja capaz de enfrentar, de manei-
ra efetiva, os desafi os democráticos. A partir
dessa proposição, enunciamos os temas que,
em nossa opinião, deveriam ser contempla-
dos em uma agenda abrangente sobre a ex-
pansão da “e statalidad” democrática:
1. A agenda de reformas democráticas
deve considerar o Estado em suas três di-
mensões: como conjunto de entes burocrá-
ticos, como sistema legal e como âmbito de
identidade coletiva. Estas três dimensões va-
riam historicamente. Na maior parte da
América Latina, elas exibem defi ciências.
As burocracias estatais freqüentemente não
têm poder nem efi cácia; a efetividade do sis-
tema legal é social e territorialmente limita-
da; e, para muitos de seus cidadãos, as pre-
tensões de ser um Estado-para-a-Nação,
dedicado seriamente a resolver problemas
de interesse geral, não são dignas de crédito.
Essas defi ciências estão na origem do redu-
zido poder dos governos latino-americanos
para democratizar.
2. Cada país da região tem suas peculia-
ridades, mas em quase todos há uma am-
pla proporção da população que se encontra
abaixo de um nível mínimo de desenvolvi-
mento humano, em termos não apenas de
bens materiais e de acesso a serviços públi-
cos, como também de direitos básicos. A so-
lução desses lamentáveis problemas não
exige – obviamente – apenas adequadas po-
líticas econômicas e sociais, mas também re-
clama um Estado abrangente e abarcador,
além de razoavelmente efi caz, efetivo e con-
ável. Requer também uma sociedade civil
pujante, que pela via da participação vise a
complementar a implementação de políti-
cas públicas.
3. O problema do Estado latino-ameri-
cano não é apenas o tamanho de suas bu-
rocracias, mas sua inefi ciência e inefi cácia,
além da falta de efetividade de seu siste-
ma legal e da pouca credibilidade do Esta-
do e dos governos. Isso contrasta com a for-
te reivindicação cidadã de presença estatal,
que surge, entre outros elementos, da pes-
quisa apresentada na segunda seção deste
Relatório.
4. Além da eliminação de burocracias
desnecessárias e, em geral, da racionalização
de processos administrativos, um problema
que alguns Estados latino-americanos evi-
denciam é o alto grau de fragmentação e a
freqüente falta de diferenciação entre o inte-
resse público e o privado. Quando isso ocor-
re, o Estado se desvirtua e se transforma em
uma série de agências desconexas com fun-
cionários e políticos ocupados na busca de
benefícios.
5. Existe um problema particularmen-
te inquietante: a legalidade do Estado não
alcança, ou alcança de modo intermitente,
grandes, e em alguns casos crescentes, áre-
as da região. Chama a atenção o fato de uma
questão dessa natureza ser freqüentemente
ignorada nos programas de reforma do Es-
tado. O problema central do Estado na Amé-
rica Latina é o de um Estado inconcluso, dé-
bil, com pouca capacidade para ser efetivo
de modo universal.
6. Outra dimensão desse problema é a
presença de vários tipos de “legalidade” re-
al, de caráter informal, patrimonial e delitu-
oso. Às vezes, essas “legalidades” originam-
se em regimes discricionários subnacionais
que coexistem com regimes que, a nível
nacional, são democráticos. Os atores de-
sempenham-se sobre a base de instituições
informais tais como o personalismo, paren-
tesco, sinecurismo, caciquismo e similares.
Esses circuitos de poder baseiam-se no de-
saparecimento da fronteira entre o privado
e o público, e no truncamento da legalida-
de do Estado.
Por outro lado, o clientelismo – uma tra-
ma de relações por meio do qual um “pa-
trão consegue o apoio de outros em troca
de certos benefícios – gera privilégios e ex-
clusões, e costuma envolver um tratamento
discricionário de recursos públicos.
191
Rumo a uma democracia de cidadania
7. Uma função fundamental do Estado
é proteger as pessoas da violência privada.
A democracia pressupõe a existência de um
Estado que obteve o controle sobre a violên-
cia em seu território. No entanto, esse não é
o caso em algumas regiões da América La-
tina. Nelas operam grupos terroristas, orga-
nizações delituosas, “paramilitares e outros
fenômenos similares. Esses grupos têm seus
códigos legais, cobram seus próprios “im-
postos e, algumas vezes, chegam a ter quase
o monopólio da coerção em “seu território.
Esse tipo de violência privada, não contro-
lada pelo Estado, é uma das principais fon-
tes de violação de direitos fundamentais da
população.
8. A proteção dos cidadãos, por parte
do Estado democrático, está comprometida
também pela violência associada aos delitos
contra as pessoas e a propriedade. Seu nível
e persistência colocam em evidência a fragi-
lidade de um Estado incapaz de cumprir su-
as funções de modo universal. Essa situação
é ainda mais grave no ambiente social da re-
gião, marcado pela pobreza e pela desigual-
dade, em que os cidadãos mais pobres são os
que mais sofrem a violência.
9. Entre outras conseqüências do que
vem sendo abordado é preciso mencionar
a crítica redução da autonomia do Estado;
de fato, existe um conjunto muito restrito de
políticas que podem ser defi nidas e imple-
mentadas à margem de poderes fáticos lo-
cais e internacionais, que infl uem decisiva-
mente sobre o aparelho estatal.
10. Uma agenda de um Estado para a
democracia deveria construir-se a partir da
idéia de Nação para a qual pretende-se que o
Estado atue. Deveria entender o Estado co-
mo centro de tomada de decisões legítimas,
efi cazes e efi cientes, orientadas no sentido
de enfrentar os problemas que as sociedades
reconhecem como mais relevantes.
11. Para isso, é preciso debater as ques-
tões que, na América Latina, colocam em
dúvida a efi ciência e efi cácia de suas buro-
cracias, a efetividade de seu sistema legal e a
própria credibilidade do Estado. São elas:
Inefi ciência da ação do Estado e a re-
dução de sua autonomia, que deriva de sua
colonização por interesses particularistas
(corrupção).
Falta de efetividade do sistema legal
como conseqüência da presença de sistemas
legais patrimonialistas.
Incapacidade de alguns Estados para
abranger o conjunto de seu território e to-
dos os seus habitantes, o que gera uma lega-
lidade truncada (desigualdade perante a lei,
vigência assimétrica dos direitos cidadãos).
Falta de um real monopólio da força
por parte de alguns Estados, que se traduziu,
entre outros efeitos, na persistência do nível
de violação dos direitos humanos.
Incapacidade estatal para assumir a re-
presentação da diversidade no interior da
sociedade.
Perda de credibilidade que provém da
falta de transparência e responsabilidade
(prestação de contas) do Estado perante os
cidadãos.
A questão política, mais abrangente, da
capacidade estatal de construir seu próprio
poder, de maneira a exercer soberanamente
o mandato popular.
quadro 44
Privatização perversa do Estado
Um meticuloso diagnóstico do desenvolvimento da região pode evidenciar
um crônico défi cit democrático que, freqüentemente, traduziu-se em
fenômenos de autoritarismo, clientelismo, amiguismo e, em casos
extremos, de nepotismo, que foram a expressão, em termos de regime
político, de uma “captura” das instituições e políticas públicas por
interesses particulares (de um partido político ou sindicato ou grupo
econômico ou uma família, ou interesses regionais e locais). Essa espécie
de “privatização perversa” do Estado, presente na base dos fenômenos
de corrupção, conduziu a intervenções estatais desencorajadoras de um
funcionamento efi ciente do mercado e promotoras da busca de rendas e da
especulação.
Enrique V. Iglesias, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.
O Estado é uma das caras da democra-
cia: um Estado sem poder é uma democra-
cia sem poder.
192
A democracia na América Latina
Uma economia para a democracia
Os problemas da cidadania social aten-
tam diretamente contra a perduração da de-
mocracia na América Latina. A sustenta-
bilidade democrática depende, em grande
parte, da solução dessa questão. Para isso, o
debate sobre a economia e a diversidade de
formas de organização do mercado deve es-
tar presente na agenda pública e na opção
cidadã, porque é na economia que reside a
solução de boa parte dos défi cits de cidada-
nia social.
No início deste Relatório, afi rmamos que
um aspecto singular e historicamente no-
vo da América Latina é o de ser a primeira
região inteiramente democrática compos-
ta por sociedades com níveis muito altos de
pobreza e com a maior desigualdade social
do mundo. Dessa forma, referimo-nos ao
triângulo: democracia eleitoral, pobreza e
desigualdade, para sintetizar a natureza des-
sas democracias e a necessidade de impul-
sionar um novo pensamento que refl etis-
se essa realidade. Não obteremos respostas
úteis para os questionamentos sobre sus-
tentabilidade democrática latino-america-
na se forem ignorados os desafi os peculia-
res que nascem da coexistência desses três
fenômenos.
Quando descrevemos os resultados das
indagações empíricas na segunda seção do
Relatório, a questão das condições materiais
de vida dos latino-americanos aparecia cla-
ramente como o maior défi cit da “democra-
cia de cidadania. Tamanha é a dimensão
dos problemas da cidadania social, que vá-
rias vezes reiteramos uma pergunta dramá-
tica: A quanta pobreza resiste a liberdade?
No entanto, o debate sobre a democra-
cia omite a questão econômica e é realizado,
freqüentemente, em termos das restrições
institucionais que a democracia signifi ca pa-
ra o crescimento econômico. O debate sobre
a economia, com o pretexto de sua comple-
xidade técnica, está cada vez mais ausente da
discussão pública e das opções reais dos ci-
dadãos no momento de votar. À luz dessas
realidades, parece útil opormos à conhecida
frase “as questões técnicas não se votam, a
de que o bem-estar de uma sociedade não
se decide em um laboratório de técnicos”,
por mais ilustrados que eles sejam.
Esse não é um problema exclusivo de
nossa região. Em certos países centrais, a
tendência crescente no sentido do desenvol-
vimento de instituições econômicas com ní-
veis de autonomia quase total, infl ui direta-
mente na sua transparência e, portanto, na
sua responsabilidade (accountability) peran-
te a sociedade, o que deriva na perda de sua
credibilidade perante a opinião pública. De-
cisões econômicas substantivas distanciadas
da vontade geral pressagiam, na visão de Je-
an-Paul Fitoussi, um século em que a crise
da democracia será dominante.
83
Na Amé-
rica Latina, onde os défi cits de cidadania so-
ciais atingem a dimensão que indicamos, es-
sa questão assume uma importância e uma
urgência ainda maiores, a tal ponto que
questões como o nível de desenvolvimento
da democracia, a sustentabilidade do siste-
quadro 45
A economia e a política
Sem descartar a importância de instâncias
técnicas em todo bom ordenamento do Estado
e sem deixar de reconhecer o aspecto científi co
da análise econômica, a economia deve estar
sujeita à política e, em particular, a processos
políticos democráticos, porque essa é a forma
em que a sociedade dirime suas controvér-
sias.[...] É necessário contar com partidos
políticos sólidos que ofereçam à cidadania
opções alternativas de ordenamento econômi-
co e social.
José Antonio Ocampo, texto elaborado para o
PRODDAL, 2003.
83 Ver Fitoussi, 2002.
193
Rumo a uma democracia de cidadania
ma e a resolução da crise de representação
política, dependem de nossa capacidade pa-
ra incorporar a economia e suas opções co-
mo um tema da democracia e da sociedade.
A economia é uma questão-chave para
a democracia. Esta afi rmação não implica
confundir duas formas de organização so-
cial claramente diferenciadas: a democracia,
que organiza relações de poder; a economia,
que organiza relações de produção, repro-
dução e troca. No entanto, o resultado da
organização econômica é uma questão de-
cisiva para a democracia, especialmente pa-
ra a democracia de cidadania, como foi defi -
nida neste Relatório.
A economia é uma questão da democra-
cia porque dela depende o desenvolvimento
da cidadania social e porque é ela que gera e
altera as relações de poder. Portanto, a agen-
da da sustentabilidade democrática deve in-
cluir o debate sobre a diversidade possível de
políticas e de organização do mercado, e a
questão do papel regulador do Estado.
Na América Latina aprendeu-se que o
Estado não pode tratar a economia com le-
viandade: o Estado (democrático) tem um
irrefutável papel orientador sobre a econo-
mia, o que implica uma forte capacidade de
fazer política econômica.
Existem cinco funções que as institui-
ções públicas devem oferecer para que os
mercados funcionem adequadamente: a
proteção de direitos de propriedade, a regu-
lação do mercado, a estabilização macroeco-
nômica, o seguro social e a administração de
confl itos de interesses
84
. O Estado e o mer-
cado são suscetíveis de serem combinados
de modos diferentes dando origem à diver-
sidade de formas que a economia de merca-
do pode adotar.
Uma concepção dos mercados como um
conjunto de instituições existentes na na-
tureza leva à aceitação do funcionamento
da economia de modo totalmente autôno-
mo das decisões tomadas democraticamen-
te. Do ponto de vista democrático, porém,
as políticas econômicas são parte dos ins-
trumentos utilizados pelas sociedades para
atingir a cidadania plena. Por isso, a econo-
mia deve ser um dos temas do debate polí-
tico, e não ser excluída sob o pretexto de ser
uma questão que contextualiza a organiza-
ção do Estado. Isso se dá porque:
A eventual eliminação da desigualda-
de não é um problema econômico marginal,
resultante (ou residual) de uma boa políti-
ca econômica. Pelo contrário, a distribuição
tem conseqüências sobre a efi ciência e a pró-
pria sobrevivência do sistema econômico.
O Estado tem um papel sumamente
importante na distribuição da renda via fi s-
co, regulação dos mercados, e subsídios ou
promoção de certos setores ou políticas de
longo prazo. Esse papel requer um Estado
forte e capaz, não raquítico. Fazer o Estado
dar um passo atrás, a palavra de ordem do-
minante nos anos noventa, que signifi cava
que seu papel não passava de manter a esta-
bilidade econômica e de prover alguns bens
públicos, foi um erro grave cujos resultados
são visíveis.
Quando esse papel estatal não é as-
sumido, a democracia torna-se irrelevan-
te e não fi ável para desenvolver a cidada-
nia social.
A democracia oferece a garantia mais
efetiva de boa governabilidade, tanto na es-
A economia é
uma questão da
democracia porque
dela depende o
desenvolvimento
da cidadania social
e porque é ela que
gera e altera as
relações de poder.
quadro 46
Uma economia para a democracia
A economia política clássica criou um mundo econômico que não existe,
um Guterwelt, um mundo isolado que é sempre idêntico a si mesmo, e
no qual os confl itos entre forças puramente individuais solucionam-se
de acordo com leis econômicas imutáveis. Na realidade, é no interior de
coletividades bastante diferentes umas das outras que os indivíduos
tratam de enriquecer, e tanto a natureza quanto o sucesso desses esforços
variam de acordo com a natureza da coletividade em que aparecem [...] isso
torna sempre indispensável a ação do Estado para organizar os mercados,
garantir os contratos, fi xar os padrões de moeda e crédito, a oferta de mão-
de-obra, as relações trabalhistas, os serviços de infra-estrutura, o comércio
exterior, as pautas de distribuição da renda, as cargas tributárias, etc.
José Nun, texto elaborado para o PRODDAL, 2002.
84 D. Rodrik, 2000.
194
A democracia na América Latina
fera econômica quanto na política. Os direi-
tos civis, a liberdade política e os procedi-
mentos participativos são a melhor maneira
de assegurar padrões de trabalho, sustenta-
bilidade do meio ambiente e estabilidade
econômica. O desempenho das democracias
em todas essas áreas foi superior ao dos regi-
mes com participação política restritiva.
Quanto mais amplo for o domínio da
disciplina de mercado, maior será o espa-
ço para a governabilidade democrática. Em
princípio, e na medida em que a disciplina
de mercado estiver baseada no que se de-
nomina os fundamentais (economic funda-
mentals) e em considerações de longo pra-
zo, não existe razão para haver confl ito entre
os mercados e a governabilidade democráti-
ca. Mas a realidade está longe desse ideal. O
trade-off é autêntico, não apenas porque os
mercados se orientam por razões puramente
nanceiras, mas porque são excessivamente
voláteis e dominados por considerações de
curto prazo. Nessa situação, a reafi rmação
da primazia da disciplina democrática sobre
a disciplina dos mercados deveria ser clara e
freqüente.
Os mercados necessitam de governa-
bilidade e regras. A boa governabilidade só
é assegurada por via da democracia. E a de-
mocracia continua sendo co-extensiva com
o Estado-Nação.
85
Por isso, a agenda da sustentabilidade de-
mocrática deve incluir, sob pena de perder o
conteúdo, essas questões da economia, suas
opções e sua diversidade.
As opções econômicas devem ser parte
do conteúdo renovado da política, elas são
um componente substancial da agenda pú-
blica, assim como o debate sobre a diversida-
de é uma necessidade imperiosa para reunir
a melhor combinação entre o papel do mer-
cado, o Estado e o contexto histórico de cada
um de nossos países. Pelo contrário, o pen-
samento único, as receitas universal e atem-
poral atentam contra o desenvolvimento da
democracia e da própria economia.
A seguir, indicamos os temas que, sob o
ponto de vista adotado neste Relatório, de-
vem fazer parte de uma agenda centrada em
uma visão da economia a partir das neces-
sidades do desenvolvimento da democracia
da América Latina:
1. Em nenhum outro período da histó-
ria mundial – com a exceção transitória da
década de 30 – os problemas da economia
mundial foram tão graves como hoje: de-
quadro 47
Democracia e Mercado
O avanço da democracia e o estabelecimento de regras macroeconômicos
claras e fortes não devem ser vistos como situações antagônicas, mas sim
complementares.
José Antonio Ocampo, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.
quadro 48
Modelo único de desenvolvimento
O “fetichismo” das reformas implantadas
pelo “fundamentalismo de mercado”, que
teve como uma das expressões o “Consenso
de Washington”, nega-se a reconhecer a
diversidade existente na democracia [...].
Por trás do discurso do chamado “Consenso
de Washington”, encontra-se o pressuposto
da existência de um modelo único de
desenvolvimento, aplicável a todos os países
sejam quais forem suas circunstâncias, e
uma visão da “economia de mercado” como
antagônica ao intervencionismo estatal. Essa
idéia, compartilhada pelos organismos de
crédito internacionais, é “a-histórica”, nociva e
contrária à democracia.
José Antonio Ocampo, texto elaborado para o
PRODDAL, 2003.
85 Para estas citações ver Rodrik, 2001.
195
Rumo a uma democracia de cidadania
semprego em massa, aumento das desigual-
dades e da pobreza nos países ricos, extensa
miséria e crises recorrentes em numerosos
países em desenvolvimento, exacerbação da
desigualdade entre países.
2. A democracia não pode permanecer
indiferente a essa situação. Não devemos es-
quecer que vivemos simultaneamente em
democracias e em economias de mercado.
Por isso, é inelutável que exista tensão en-
tre duas dimensões: de um lado, o individu-
alismo, e a desigualdade que tende a ser re-
sultado do funcionamento do mercado; do
outro, as igualdades consagradas pela cida-
dania democrática, e a conseqüente neces-
sidade de existência de um espaço público
para a tomada de decisões, agora não indi-
viduais, mas coletivas. Isso obriga a buscar
uma conciliação entre ambas as esferas.
3. A tensão entre ambos os princípios é
dinâmica, porque permite que o sistema se
adapte, em vez de romper-se, como aconte-
ce, geralmente, em sistemas regidos por um
único princípio de organização (por exem-
plo, o sistema soviético). Somente as formas
em movimento conseguem sobreviver; as
outras, sucumbem à esclerose. Ou melhor, o
capitalismo não sobreviveu como forma do-
minante de organização econômica apesar
da democracia, mas sim graças a ela.
4. Existem duas correntes que se en-
frentam no debate sobre as relações entre
o mercado e a democracia. De acordo com
a primeira corrente, hoje dominante, a am-
pliação da esfera do mercado exigiria a limi-
tação do campo da democracia. A segunda
corrente postula que a tensão sempre exis-
tente entre mercado e democracia, no que se
196
A democracia na América Latina
refere a sua aspiração de igualdade, deveria
ser resolvida mediante a busca de sua com-
plementaridade.
5. Muitas das teorias hoje prevalecen-
tes sustentam que as intervenções do Estado
costumam reduzir a efi cácia da economia. O
discurso dos que advogam por mais e mais
mercado é claramente antiestatal: “O Esta-
do é um mal necessário, é preciso limitar ra-
dicalmente sua capacidade de intervenção.
Este Relatório sustenta, pelo contrário, que
um Estado ajustado à democracia – efi caz,
efi ciente e fi ável – é um componente indis-
pensável do desenvolvimento.
6. A democracia pressupõe uma hierar-
quia entre a política e o sistema econômi-
co e, por conseguinte, autonomia da socie-
dade na escolha das formas em que organiza
seu mercado.
7. A democracia, em sua busca por limi-
tar as exclusões provocadas pelo mercado,
aumenta a legitimidade do sistema econô-
mico; o mercado, ao limitar o poder do Es-
tado e da política sobre a vida dos cidadãos,
possibilita uma maior adesão à democracia.
A liberdade coletiva precisa apoiar-se sobre
as liberdades individuais, e vice-versa. Tanto
uma quanto as outras estão em relação ite-
rativa, mostrando que a democracia é uma
forma em movimento. A história prova que
a democracia realizada nunca é mais que um
momento do movimento democrático. Um
movimento que não se detém jamais”.
86
8. As sociedades nacionais – inclusive,
claro, as dos países centrais – não têm os
mesmos sistemas de eqüidade social; existe,
de fato, grande diversidade nesses sistemas.
Isso não deve nos surpreender: a democracia
implica diversidade; existem diferentes “va-
riedades de capitalismo, diferentes combi-
nações entre Estado e mercado, e nas formas
de acionar do Estado. Esta é uma importante
verdade que, contra toda evidência, o pensa-
mento único nega.
9. A abertura das economias favorece os
fatores mais móveis, não apenas o capital fi -
nanceiro como também alguns tipos de co-
nhecimentos. O aumento da mobilidade
desses fatores tem, como efeito, transferir
aos fatores menos móveis – ou seja, princi-
palmente ao trabalho – o peso da inseguran-
ça econômica. Isso encerra o risco de redu-
zir a adesão das populações à democracia e
ao próprio mercado.
10. Diante dessa situação, convém rever
com atenção alguns critérios sobre políticas
econômicas e sua relação com a democra-
cia, tal como surgem das experiências lati-
no-americanas das últimas décadas:
É necessário um debate que identifi -
que políticas que redistribuam a renda sem
quadro 49
Quatro vantagens econômicas da democracia
Além do mais, quem sustenta a primeira posão costuma considerar
indiferente para a economia o tipo de regime político existente em
cada caso. No entanto, [Dani Rodrik] coloca a hitese de que a
democracia possui pelo menos quatro vantagens em relação aos
regimes autoritários: a variância do crescimento em longo prazo é
menor; a estabilidade macroeconômica de curto e médio prazo é
maior; as crises exógenas são mais bem controladas e o nível dos
salários (e de sua participação na renda nacional) é mais elevado.
Dani Rodrik, 1997, p. 15.
quadro 50
Complementaridade entre democracia
e mercado
As relações entre democracia e mercado são então mais complementares
do que confl itantes. A democracia, ao impedir a exclusão por razões de
mercado, aumenta a legitimidade do sistema econômico, e o mercado, ao
limitar o poder da política sobre a vida das pessoas, possibilita uma maior
adesão à democracia. Desse modo, cada um dos princípios que regem as
esferas política e econômica encontra sua limitação, e, ao mesmo tempo,
sua legitimação, no outro.
Jean-Paul Fitoussi, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.
86 Burdeau, 1985.
197
Rumo a uma democracia de cidadania
distorcer severamente o funcionamento dos
mercados, evitando assim o “populismo ou
o “facilismo tão presentes na história da
América Latina.
A busca de maiores níveis de bem-es-
tar para a população exige um crescimento
econômico sustentado que se revela, porém,
insufi ciente, quando vem acompanhado de
conseqüências redistributivas desfavoráveis.
A experiência internacional demons-
tra que as vantagens competitivas baseadas
em baixos salários são frágeis e instáveis. Pa-
ra competir no mundo atual, é fundamental
a produção efi ciente, a inovação de proces-
sos, o projeto e a diferenciação de produtos,
e o desenvolvimento de serviços de apoio
adequados. Para isso, é essencial contar com
um capital humano qualifi cado. Por sua vez,
a política social deve guiar-se por quatro
princípios básicos: universalidade, solidarie-
dade, efi ciência e integralidade.
Os limites à grande propriedade e à
empresa privada estão relacionados com
os níveis de desigualdade que uma socieda-
de está disposta a tolerar, e também com as
modalidades de sua tributação. Um segundo
tipo de limite está relacionado com o possí-
vel abuso do poder de mercado que os gran-
des proprietários e empresas podem chegar
a conseguir. O terceiro refere-se à capacida-
de desses proprietários e empresas de expan-
dir sua infl uência além dos mercados, graças
a sua capacidade de lobby e à ampliação de
seu controle a outras esferas de poder, típi-
cas da sociedade contemporânea – em parti-
cular, os meios de comunicação –.
Um acordo político dos distintos seto-
res sociais sobre o que o Estado deve fazer
ajuda a legitimar o nível, a composição e a
tendência do gasto público e da carga tribu-
tária necessária para seu fi nanciamento.
Finalmente, ressaltamos que nossos da-
dos mostram dois aspectos de grande im-
portância prática. O primeiro deles é que
muitos latino-americanos têm em comum
uma visão extremamente crítica sobre o
funcionamento da economia de mercado. O
segundo aspecto – decerto em contraposição
à frustração – é a majoritária opinião favorá-
A política social
deve guiar-se por
quatro princípios
básicos:
universalidade,
solidariedade,
efi ciência e
integralidade.
198
A democracia na América Latina
vel à intervenção do Estado na economia.
Poder e políticas democráticas na
globalização
Uma agenda mais ampla sobre a globali-
zação deve incluir um debate sobre sua natu-
reza política e militar, sua restrição à diversi-
dade, e as fortes limitações ao poder estatal.
A globalização coloca cruamente as questões
do poder dos Estados nacionais e do poder
dentro dos Estados. Expressa-se aqui, de ou-
tra maneira, novamente o problema vital da
democracia: a existência ou não de poder
para executar a vontade da maioria.
O debate que naturalmente existiu até
agora deu ênfase aos assuntos fi nanceiros e
comerciais da globalização e deixou relati-
vamente à margem, seu dado dominante: os
poderes exteriores deixaram de ser exterio-
res, são tão interiores quanto os locais. Con-
dicionam ou determinam as decisões do Es-
tado e seu campo não se limita às fi nanças
ou ao comércio. Abrangem, cada vez mais,
as questões políticas, de segurança e organi-
zação interior, dos sistemas educativos, de
saúde e de previdência social. Conseqüen-
temente, é preciso ampliar o debate sobre a
globalização em duas áreas para:
dimensionar o impacto real da soberania
interior dos Estados; e conceber as estraté-
gias possíveis para aumentar as capacidades
nacionais e regionais, para que o poder na-
cional não desapareça em nome de um in-
controlável poder global.
A globalização trouxe o mundo exte-
rior para o interior de nossas sociedades. O
mundo está em todos os lugares. Mas o po-
der do mundo, não. No entanto, e ao mes-
mo tempo em que isso acontece, reconhecer
a natureza das relações que regem o mundo
em que vivemos não deveria nos fazer aban-
donar a idéia de uma ordem mundial regida
por normas. Uma coisa é a realidade que nos
rodeia; outra coisa são nossas aspirações,
utopias talvez, mas não fantasias.
A luta por um sistema internacional de-
mocrático de direito não deveria deixar de ser
uma reivindicação permanente de uma ci-
vilização que apresenta, como uma de suas
conquistas, a democracia e a idéia de que as
condutas são regidas por normas destinadas
a preservar o direito igualitário de todos, in-
divíduos e Estados.
Com efeito, no mundo que surgiu após
o término do pós-guerra fria, as relações de
poder, basicamente militares e econômi-
cas, regulam o sistema internacional. Nessas
condições, o tema que emerge como priori-
dade é a contradição entre a necessidade da
diversidade – que reclama um importan-
te grau de autonomia dos países e um sis-
tema mundial baseado em normas claras e
comuns – e um mundo homogeneizado por
relações de poder que deixam aos atores na-
cionais a capacidade de regulação normati-
va apenas em questões relativamente mar-
ginais. Nessas condições, que escolha sobre
questões substantivas os cidadãos podem fa-
zer? Qual é a possibilidade de que seja cum-
prido o que decidiram?
Em relação a essa questão central, o Rela-
tório apresenta, a seguir, um conjunto de re-
exões e temas que deveriam nutrir o deba-
te sobre a globalização e o desenvolvimento
da democracia:
1. Ao mesmo tempo em que favoreceu o
progresso da democracia, a globalização im-
pôs restrições, inclusive aos Estados mais for-
tes e desenvolvidos. Na América Latina, essas
restrições questionam a credibilidade do Es-
tado como construtor de sociedade e promo-
tor de cidadania; além disso, trazem consigo
grandes conseqüências sobre o tipo de polí-
ticas possíveis para os governos da região. A
ação isolada da maior parte dos Estados na-
cionais latino-americanos revela-se insufi -
ciente para infl uir, controlar e regular esse
processo, ou benefi ciar-se com ele, ou ainda
para opor resistência a suas tendências.
2. Paradoxalmente, a globalização, en-
quanto desgastou a capacidade de ação dos
governos, particularmente a efi cácia de seus
instrumentos de regulação econômica, dei-
xou nas mãos dos Estados nacionais a com-
plexa tarefa de manter a coesão social, mas
com menores margens de ação. E ainda
mais, como resultado do peso crescente da
condicionalidade imposta pelos organismos
internacionais de crédito e, em geral, pe-
A globalização
trouxe o mundo
exterior para
o interior
de nossas
sociedades. O
mundo está em
todos os lugares.
Mas o poder do
mundo, não.
199
Rumo a uma democracia de cidadania
la mobilidade do capital fi nanceiro, vêm se
reduzindo os espaços para a diversidade de
modelos de organização social e econômica
próprios da democracia.
3. Entretanto, há uma grande distância
entre essa constatação e a passividade go-
vernamental. O reconhecimento das restri-
ções existentes não obriga necessariamen-
te a aceitar o statu quo. A construção de um
espaço de autonomia dos Estados nacionais
face à globalização constitui um desafi o pró-
prio da política democrática que, como afi r-
mamos ao longo deste Relatório, deve ser
proposto como meta central para a constru-
ção e expansão de diversas cidadanias.
4. É perigoso cair no fatalismo face à
globalização, sustentando que a assimetria
de forças é tal que não há lugar para polí-
ticas autônomas. Esse fatalismo, infelizmen-
te muito difundido, ignora os espaços reais
de negociação que existem no mundo, bem
como que esses espaços podem ser amplia-
dos se houver uma vontade política, consis-
tente e sustentada, de construção de instân-
cias regionais.
5. Os lugares institucionais de realiza-
ção da cidadania política continuam sen-
do essencialmente nacionais. Isso signifi ca
que o reconhecimento da democracia como
valor universal só adquire pleno sentido se
os processos nacionais de representação, de
participação e de tomada de decisões pude-
rem determinar as estratégias de desenvol-
vimento econômico e social, e exercer uma
mediação efi caz com as tensões próprias da
globalização.
6. Por sua vez, sob a perspectiva do de-
senvolvimento da democracia também é
preciso debater a construção dos espaços de
autonomia mencionados no ponto anterior;
eles são necessários para que as democracias
latino-americanas possam adquirir sólida
sustentação e expandir-se.
7. A democracia se vê severamente pre-
judicada pela crescente transferência de im-
portantes decisões para âmbitos que estão
fora do alcance do controle dos cidadãos. Is-
so tende a colocar em questão nada menos
que a relevância real da democracia para os
cidadãos e, conseqüentemente, a sua lealda-
de em relação a ela. Esta preocupação deve
ser enfatizada porque podemos estar nos di-
rigindo a uma política que maneja agendas
especifi camente limitadas que, mais cedo ou
mais tarde, podem nos conduzir a agendas
irrelevantes ou negadoras da diversidade de
caminhos e critérios que a especifi cidade de
cada um de nossos países deveria refl etir.
8. Como conseqüência do que foi colo-
cado anteriormente, entende-se que, encon-
trar a maneira de aumentar a capacidade de
autonomia na defi nição e solução dos gran-
des problemas que nos afetam, é uma ques-
tão que diz respeito não apenas a cada país,
como também à região em seu conjunto.
9. Isso implica debater também políticas
de alcance regional que possibilitem um au-
mento compartilhado dessa autonomia. Por
isso passa a ter sentido e urgência o renas-
cimento político dos esforços regionais que,
além de serem esforços meramente comer-
ciais, recriem e aumentem os espaços políti-
cos de decisão própria, os nacionais e os dos
cidadãos.
10. Isso não signifi ca necessariamente a
criação de novas organizações para assumir
essas tarefas nem, muito menos, que tenham
caráter supranacional. O fundamental é que
os Estados da região decidam abordar o tra-
tamento desses temas no plano político. Pa-
ra isso, as atuais instituições regionais e sub-
quadro 51
Globalização e impotência da política
A globalização não apenas aumenta a participação do mercado no sistema
de eqüidade e reduz a participação da democracia, mas o faz em nome da
efi cácia do mercado e de uma ordem superior à da democracia. É o que se
denomina atualmente impotência do político.
Jean-Paul Fitoussi, texto elaborado para o PRODDAL, 2003.
200
A democracia na América Latina
regionais possibilitam uma razoável base de
ação, com os ajustes de agenda e estrutura
que serão indispensáveis.
11. Assim colocada, a tarefa da integra-
ção política é a construção da Nação e a
construção da região, uma região de nações
em que umas e outras se complementam e
reforçam. Isto é, uma associação política de
Estados soberanos.
12. O ordenamento internacional deve-
ria respeitar a diversidade dos países (entre
eles e em cada um deles), dentro dos limi-
tes da interdependência. No entanto, as prá-
ticas de poder imperantes nas relações inter-
nacionais não tendem a levar em conta essa
necessidade.
13. A capacidade de constrão autôno-
ma em um mundo globalizado, com uma
única potência hegemônica, envolve novos
desa os. Não se trata apenas dos problemas
clássicos da relação centro-periferia, o im-
pério e suas zonas de controle, mas, am de
tudo, trata-se dessas relações no contexto
da globalização atual. Nela, os fenômenos
exteriores são tão imediatos e cotidianos
quanto os produzidos no próprio territó-
rio das nações.
14. O pós-guerra fria terminou em 11
de setembro de 2001, com o ataque terro-
rista aos Estados Unidos. A questão da segu-
rança voltou ao centro do cenário, transfor-
mando-se na matéria prioritária da política
mundial. Por sua vez, a partir desse momen-
to, os acontecimentos marcaram uma mu-
dança substancial nas relações mundiais,
com forte impacto sobre os sistemas multi-
laterais de defesa coletiva.
15. A centralidade da questão da segu-
rança na agenda internacional suscita uma
tensão com a democracia e as liberdades. Os
países centrais têm melhores contrapartidas
que os nossos para resolver essa tensão.
16. A experiência que tivemos na Amé-
rica Latina, nas décadas anteriores ao fi m da
guerra fria, é um bom exemplo do que suce-
de quando a questão da segurança torna-se
o prisma central sob o qual a política e as re-
lações internacionais são observadas.
17. Por sua vez, a região tem uma forte
carga de antecedentes nessa matéria. Em um
passado recente, foi objeto de vários aten-
tados terroristas graves. Além disso, duran-
te várias décadas alguns países latino-ame-
ricanos sofreram grande violência, tanto de
grupos insurgentes quanto do próprio Esta-
do. Portanto, o perigo da violência terrorista
não é uma hipótese abstrata para a região.
18. Recentemente, as relações de poder
militar marcaram de maneira decisiva os
vínculos mundiais. A idéia de que a globa-
lização havia transferido o centro das rela-
ções internacionais das questões militares
e de segurança para as fi nanceiras, de que
a economia substituía a política, dissipou-
se. A preeminência da questão do terroris-
mo traz para a análise, por um lado, o im-
pacto de uma potencial agressão terrorista
sobre as capacidades estatais e, por outro,
as conseqüências de respostas inapropriadas
sobre essas capacidades e sobre a própria de-
mocracia. A resposta apropriada refere-se à
capacidade estatal de responder efi cazmen-
te ao perigo de agressão e, ao mesmo tem-
po, evitar que essa resposta enfraqueça sua
capacidade de democratizar ou diminua a
qualidade da democracia.
19. É fundamental para a democracia
que os problemas de segurança não fi gurem
como parte de uma agenda imposta, mas
que sejam assumidos com soluções pró-
prias. Nesse sentido, a questão da seguran-
ça adquire centralidade. Uma posição passi-
va nessa matéria pode nos tornar altamente
vulneráveis a estratégias exteriores, defi nidas
sem levar em consideração importantes in-
teresses, próprios de nossa região.
20. Os países da região devem formular,
à luz do que ocorreu em 11 de setembro e
suas conseqüências, bem como da singulari-
dade de suas democracias, critérios próprios
para inspirar suas opções de resposta ao pe-
rigo instaurado pelo terrorismo.
201
Rumo a uma democracia de cidadania
Em síntese
O Relatório propôs que a democracia
entendida de maneira minimalista, como a
possibilidade de exercer o direito de voto pe-
riodicamente para eleger governantes, den-
tro de um marco de plena vigência do estado
de direito, não apenas é importante como é
uma condição sine qua non para poder qua-
lifi car um regime de democrático. O Rela-
tório, porém, vai mais além. Considera que
se deve ampliar o horizonte da democracia,
não apenas aperfeiçoando os mecanismos
institucionais da política e a implementação
efetiva dos direitos civis para todos os cida-
dãos, como também atendendo à expansão
efetiva da cidadania social.
Tr ata-se de discutir como se pode avan-
çar no caminho de uma cidadania integral,
colocando a política no centro, de maneira
que o cidadão, e mais precisamente a comu-
nidade de cidadãos, possa participar em de-
cisões substanciais. A globalização é um da-
do, mas não se trata pura e exclusivamente
de admitir que tudo o que sucede como
conseqüência da transformação tecnológica
e da expansão dos mercados deve ser acei-
to sem refl exão e sem ação. É preciso enten-
der a transformação constante e rápida que
ocorre no mundo de hoje, é preciso convi-
ver com incertezas, mas também é preciso
atuar para modifi car essas macrotendências
na conjuntura de cada país. Trata-se de im-
plementá-la regional e localmente com uma
atitude pró-ativa e não meramente passiva,
para que possa arraigar-se. Desse modo, a
economia não é tampouco um dado a ser
assumido passivamente; não existe uma ma-
neira única de pensar e de fazer funcionar o
mercado. Já se sabe que há diversas formas
históricas bem-sucedidas que conviveram
em marcos culturais diferentes.
Essa comunidade de cidadãos deve, en-
tão, promover uma nova legitimidade para
o Estado, esse organismo que deve não ape-
nas proporcionar a máquina burocrática ad-
ministrativa de cada país, mas também res-
peitar e ampliar as instituições políticas e o
estado de direito, e lançar as bases para asse-
gurar a eqüidade, para poder construir po-
líticas sociais que visem à ampliação da ci-
dadania social. Criar uma visão integral da
cidadania e articular o funcionamento da
economia com as decisões políticas da co-
munidade de cidadãos são alguns dos temas
que emergem deste Relatório para suscitar
uma nova forma de debater a democracia na
região latino-americana.
202
A democracia na América Latina
203
Refl exões fi nais
Em um de seus célebres ensaios, Isaiah Berlin nos recorda que há mais de cem
anos, o poeta alemão Heine advertiu os franceses de que não deviam subestimar
o poder das idéias: os conceitos fi losófi cos alimentados no silêncio do escritório
de um acadêmico podiam destruir toda uma civilização.
A América Latina foi fi lha de uma idéia, e essa idéia continua sendo o cerne
de sua visão de futuro: construir uma sociedade democrática. Seu processo de
independência esteve indissoluvelmente ligado à concepção republicana e, para
ela, os libertadores canalizaram seu esforço. O devir histórico mostrou, no en-
tanto, um estranho périplo, repleto de contradições, interrupções e retomadas,
entardeceres e alvoradas. Algumas vezes foram os fatos, sociais, econômicos,
militares, que ultrapassaram as fronteiras dos princípios, mas as idéias também
caíram em suas próprias armadilhas, pois todas as vezes que liberdade e justiça se
conjugaram separadamente, ambas se viram em situação de risco. Foi assim que
ocorreu, infelizmente, quando se sonhou em superar o núcleo central da idéia
democrática, que não é outro senão o de assegurar as liberdades e organizar um
governo representativo do povo, capaz, portanto, de fazer com que essa liberdade
se concilie com o máximo possível de igualdade entre as pessoas.
Quanto de construção desse ideal foi, de fato alcançado? Que deve ser feito
para assegurar o que foi alcançado e seguir avançando? Desafi ados por essas
básicas interrogações é que este trabalho foi lançado há dois anos, consultando,
perguntando, removendo, despertando interesses, procurando encontrar alguns
métodos objetivos para medir realidades sempre mais complexas do que qual-
quer estatística. Idéia e realidade vivem uma constante tensão. Se nos mantemos
exclusivamente no território da idéia, podemos traí-la na ação. Se a perdemos de
vista em uma luta acirrada contra as realidades injustas, arriscamos cair em um
perigoso e desconexo empirismo. É preciso, então, defi nir conceitos e contrastá-
los, em passos aproximativos, com a realidade.
Devemos recordar que se hoje isso é possível para o PNUD é porque a região
atingiu um nível de desenvolvimento da democracia como nunca antes. Nos
anos setenta, qualquer caminho para um trabalho dessa natureza estava inter-
ditado, porque o mapa latino-americano era sombrio, com tantas ditaduras que
não existiam condições para que a organização internacional tentasse uma pro-
funda refl exão sobre a questão. A partir dessa premissa cheia de esperança abriu-
se, então, o trabalho que contou com a colaboração, sem exceção, de governos e
partidos, atores políticos e civis, protagonistas econômicos e acadêmicos. Reuni-
Re exões fi nais
O eterno desafi o
204
A democracia na América Latina
ões, seminários, entrevistas, relatórios, estudos, investigações estatísticas foram
povoando um grande conjunto que, além de seu valor intrínseco, gerou em toda
a região um interesse no tema, uma convicção de que é necessário – e possível
– atuar sobre nossa situação.
O propósito inicial de gerar um clima estimulante à refl exão foi ganhando
corpo. E hoje se chega a este Relatório sobre a democracia com a convicção de
que, independentemente de suas inevitáveis limitações e necessárias imperfei-
ções, coloca-se à disposição de toda a sociedade latino-americana um instrumen-
to de trabalho. Não está aqui a tomografi a computadorizada de nenhum Estado
concreto. Tampouco a análise específi ca de alguma patologia determinada. O que
realmente se defi ne é uma idéia geral da saúde democrática, uma aproximação
sobre realidades que merecem preocupação e a confi guração de alguns instru-
mentos para que a constante revisão permita a todos nós seguir construindo.
Como nos disse Pierre Rosanvallon, “a democracia formula uma pergunta
que permanece continuamente aberta: é como se nenhuma resposta adequada
pudesse lhe ser dada. Esta incômoda sensação de que nunca nada está termina-
do constitui a própria idéia da liberdade, e com ela temos de conviver. Todas as
vezes que se quis tentar, em nome da democracia, algum sistema com todas as
respostas, construiu-se um totalitarismo. O século passado, talvez tenha sido o
que gerou maiores tragédias nessa busca. Herdeiros dessa experiência, hoje, assu-
mimos que a realidade nunca nos deixará conformados porque, comparada com
a idealização pura, sempre será insatisfatória; mas também sabemos que sendo
a democracia antes de tudo um ideal”, como nos diz Giovanni Sartori, devemos
procurar seu constante aperfeiçoamento, sempre e a toda hora, sem pressa, mas
sem pausa.
A pobreza, as desigualdades sociais, o choque étnico, o divórcio entre as ex-
pectativas e as realidades, em um momento histórico em que uma revolução
científi ca transforma a nossa vida todos os dias, introduzem notas de instabili-
dade. Daí a necessidade constante de prevenir. Se este Relatório contribui para
instalá-la na preocupação afi rmativa de todos os seus atores, terá conseguido seu
propósito fundamental, que não é julgar ninguém, mas sim estimular a todos. Foi
o que o PNUD fez com o Índice de Desenvolvimento Humano e assim conseguiu
que esse modo de avaliar, independente do parcial e insufi ciente PIB, fosse assu-
mido na sociedade. Na mesma linha inovadora, hoje se pretende que a melhora
democrática não seja simplesmente uma expressão retórica, sempre questioná-
vel, mas sim uma realidade sobre a qual se atua, registrando avanços e retrocessos
que possam ser vistos com objetividade. Esses avanços, essas buscas respondem
à idéia de que democracia e desenvolvimento humano são apenas duas caras da
mesma moeda.
Subestimar o progresso atingido, colecionando défi cits e carências, é desalen-
tar a sociedade em seu necessário e constante aperfeiçoamento. Deleitar-se nele,
caindo na ilusão de uma meta alcançada, seria colocar tudo em risco. Por isso
205
Refl exões fi nais
aqui, simplesmente, abre-se uma nova etapa no caminho.
O esforço das últimas duas décadas foi formidável e suas conquistas devem ser
apresentadas com toda plenitude. Esse esforço deve prosseguir e até pode-se abrir
aqui, a partir desses instrumentos elaborados, um procedimento permanente de
observação e análise e, ao mesmo tempo, de difusão de experiências e prevenção
de riscos. A consciência alerta é o único estado de ânimo para que a democracia
continue sua vida, adaptando-se aos tempos. Ela permanece, ainda, como a mais
revolucionária das idéias e, por ser sempre inacabada, é a mais desafi ante. Não
haverá respostas defi nitivas para suas interrogações, mas sempre haverá, como
no destino do homem, oportunidades para fazer o bem aos semelhantes.
Julio María Sanguinetti
Ex-Presidente da República Oriental do Uruguai
Presidente da Fundação Círculo de Montevidéu
206
A democracia na América Latina
207
Agradecimentos
Iglesias, José Antonio Ocampo, Celi Pinto,
Lourdes Sola, Augusto Ramírez Ocampo,
Rubens Ricupero, Joseph Stiglitz, Cardenal
Julio Terrazas e Francisco Thoumi.
Participantes da Rodada de Consultas
Argentina: Raúl Alfonsín, Jaime Cam-
pos, Elisa Carrió, Jorge Casaretto, Víctor
De Genaro, Fernando de la Rúa, José Ma-
nuel De la Sota, Jorge Elías, Rosendo Fraga,
Aníbal Ibarra, Ricardo López Murphy, Ju-
an Carlos Maqueda, Joaquín Morales Solá,
Hugo Moyano, Adolfo Rodríguez Saá, Ro-
dolfo Terragno, Horacio Verbitsky e Oscar
Vignart.
Bolívia: Esther Balboa, Carlos Calvo,
Carlos Mesa, Gustavo Fernández Saavedra,
Martha García, Fernando Mayorga, Jaime
Paz Zamora, Jorge Quiroga Ramírez, Edgar
Ramírez, e Gonzalo Sánchez de Losada.
Brasil: Luiz Gonzaga Belluzo, Frei Betto,
Luiz Carlos Bresser-Pereira, José Márcio Ca-
margo, Fernando Henrique Cardoso, Suely
Carneiro, Marcos Coimbra, Fábio K. Com-
parato, Paulo Cunha, Antônio Delfi m Neto,
Joaquim Falcão, José Eduardo Faria, Ruben
César Fernandes, Argelina Figueiredo, Oded
Grajew, Cândido Grzybowski, Luiz Suplicy
Hafers, Helio Jaguaribe, Miriam Leitão, Ma-
ria Osmarina Marina Silva Vaz de Lima, Ives
Martins, Filmar Mauro, Henrique Meirelles,
Jarbas Passarinho, João C. Pena, Celso Pin-
to, Márcio Pochmann, Clóvis Rossi, Pedro
Simon, Luiz E. Soares, João Paulo dos Reis
Ve lloso, Vicentinho, Arthur Virgílio e Ségio
Werlang.
Chile: Andrés Allamand, Patricio Aylwin,
Benito Baranda, Edgardo Boeninger, Eduar-
do Frei, Juan Pablo Illanes, Jorge Inzun-
za, Ricardo Lagos, Norbert Lechner, Artu-
ro Martínez, Jovino Novoa, Ricardo Nuñez,
Carlos Ominami, e Carolina Tohá.
Colômbia: Ana Teresa Bernal, Belisa-
Este Relatório não poderia ter sido ela-
borado sem a generosa colaboração de mui-
tas pessoas e organizações às quais expressa-
mos nosso agradecimento.
Gostaríamos de expressar um especial
reconhecimento à União Européia, parti-
cularmente a Chris Patten, Comissário de
Relações Exteriores da Comissão Européia,
Eneko Landaburu, Diretor Geral, Fernando
Valenzuela, Diretor Geral Adjunto e Tomas
Dupla del Moral, Diretor da América Latina,
Direção de Relações Exteriores, e Fernando
Cardesa, Diretor da América Latina de EU-
ROPEAID, bem como a todos os funcioná-
rios da Direção Geral de Relações Exteriores
e do Escritório de Cooperação EuropeAid
que colaboraram neste projeto, pelo respal-
do e interesse demonstrado para a publica-
ção e difusão deste Relatório.
Instituições que colaboraram na
elaboração e discussão do Relatório
Comissão Econômica para a América La-
tina e o Caribe (CEPAL), Banco Interameri-
cano de Desenvolvimento (BID), Organiza-
ção dos Estados Americanos (OEA), Clube
de Madri, Círculo de Montevidéu, Corpora-
ção Latinobarômetro, Fundação Chile XXI,
Universidade de Bolonha, Centro de Estu-
dos Sociais e Ambientais, Instituto para a
Democracia e Assistência Eleitoral (IDEA) e
Associação Civil Transparência (Peru).
Autores de artigos sobre temas da agenda
Manuel Alcántara, Raúl Alconada Sem-
pé, Willem Assies, Natalio Botana, Fernan-
do Calderón, Dante Caputo, Fernando Hen-
rique Cardoso, Jean-Paul Fitoussi, Eduardo
Gamarra, Marco Aurélio Garcia, Manuel
Antonio Garretón, César Gaviria, Julio Go-
dio, Felipe González, Rosario Green, Cândi-
do Grzybowski, Osvaldo Hurtado, Enrique
Agradecimentos
208
A democracia na América Latina
rio Betancur, Héctor Fajardo, Guillermo
Fernández de Soto, Luis Jorge Garay, Her-
nando Gómez Buendía, Julio Roberto Gó-
mez, Carlos Holguín, Fernando Londoño,
Antonio Navarro, Sabas Pretelt de la Ve-
ga, Jorge Rojas, Ernesto Samper, Francisco
Santos,Horacio Serpa, Álvaro Valencia To-
var e Luis CarlosVillegas.
Costa Rica: Oscar Arias, Leonardo Gar-
nier, Eduardo Lizano, Elizabeth Odio Be-
nito, Ottón Solis, Albino Vargas e Samuel
Yankelewitz.
Equador: Rodrigo Borja, Marena Brio-
nes, Joaquín Cevallos, José Eguiguren, Ra-
miro González, Susana González, Lucio
Gutiérrez, Osvaldo Hurtado, Miguel Llu-
co, Alfredo Negrete, Jaime Nebot, Benjamín
Ortiz, Alfredo Palacio, Rodrigo Paz, Gustavo
Pinto, Mesías Tatamuez Moreno, Luis Verde-
soto e Jorge Vivanco.
República Dominicana: Manuel Esquea
Guerrero, Leonel Fernández Reyna, Antonio
Isa Conde, Carlos Guillermo León, Hipólito
Mejía e Jacinto Peynado.
El Salvador: Armando Calderón Sol,
Gregorio Rosa Chávez, Humberto Cora-
do, David Escobar Galindo,Mauricio Funes,
Salvador Samayoa, Héctor Silva e Eduardo
Zablah Touché.
Guatemala: Marco Vinicio Cerezo, Mar-
co Augusto García, Gustavo Porras, Alfonso
Portillo, Rosalina Tuyuc e Raquel Zelaya.
Honduras: Isaías Barahona, Rafael
Leonardo Callejas,Miguel Facusse, Carlos
Flores Facusse, Ricardo Maduro e Leticia
Salomón.
México: Lorenzo Meyer, José Wolden-
berg, Carlos Elizondo, José Francisco Pa-
oli Bolio, Luis Felipe Bravo Mena, Beatriz
Paredes, Francisco Hernández, Soledad Lo-
aeza, César Verduga, Luis H. Álvarez, Amalia
García, José Luis Reina, Raúl Benitez, Felipe
Calderón Hinojosa, Felipe de Jesús Cantú,
Cuauhtémoc Cárdenas, Sergio Aguayo, Eu-
genio Clariond, Arturo Montiel, Bernardo
Sepúlveda, Juan Sánchez Navarro, Manuel
Arango, Jorge G. Castañeda, Gilberto Borja
Navarrete, Rolando Cordera, Santiago Cre-
el, Juan Ramón de la Fuente, Vicente Fox,
Santiago Levy, Andrés Manuel López Obra-
dor, Roberto Madrazo, Arturo Núñez, Jesús
Reyes Heroles, Rosario Robles, Luis Téllez,
Ernesto Zedillo, Mariano Palacios Alcocer,
Carmen Lira, Sergio Sarmiento.
Nicarágua: Carlos Fernando Chamorro,
Violeta Granera, Wilfredo Navarro Moreira,
René Núñez Tellez, Sergio Ramírez Mercado
e José Rizo Castellón.
Panamá: Miguel Candanedo,Norma Ca-
no, Guillermo Endara, Angélica Maytin,
Martín Torrijos e Alberto Vallarino.
Paraguai: Martín Almada, Nelson Ar-
gaña, Nicanor Duarte Frutos, Pedro Fadul,
Ricardo Franco, Cristina Muñoz, Enrique
Riera, Milda Rivarola, Humberto Rubin,
Miguel Abdón Saguier e Aldo Zucolillo.
Peru: Julio Cotler, Jorge Del Castillo,
Carlos Ferrero Costa, Lourdes Flores Nano,
Gastón Garatea Vori, Diego García-Sayán,
Juan José Larrañeta, Roberto Nesta, Valen-
tín Paniagua, Rafael Roncagliolo, Javier Sil-
va Ruete, Luis Solari de la Fuente, Alejandro
Toledo e Alan Wagner.
Uruguai: Diego Balestra, Jorge Batl-
le, Héctor Florit, Luis Alberto Lacalle, José
Mujica, Romeo Pérez, Juan José Ramos, Ju-
lio María Sanguinetti, Liber Seregni e Ricar-
do Zerbino.
Ve nezuela: José Albornoz, Alejandro Ar-
mas, Carlos Fernández, Eduardo Fernández,
Guillermo García Ponce, Alberto Garrido,
Janet Kelly, Enrique Mendoza, Calixto Or-
tega, Teodoro Petkoff, Leonardo Pisani, Jo-
Vicente Rangel, Cecilia Sosa, Luis Ugalde
e Ramón Velásquez.
Participações especiais
Belisario Betancur, ex-Presidente da Co-
lômbia; Rodrigo Borja, ex-Presidente do
Equador; Kim Campbell, ex-Primeiro Mi-
nistro do Canadá e Presidente do Clube de
Madri; Aníbal Cavaco Silva, ex-Primeiro Mi-
nistro de Portugal; Fernando Henrique Car-
doso, ex-Presidente do Brasil; Eduardo Frei,
ex-Presidente do Chile; Felipe González, ex-
Presidente do Governo Espanhol; Antonio
Guterres, ex-Primeiro Ministro de Portugal;
Osvaldo Hurtado, ex-Presidente do Equa-
dor; Valentín Paniagua, ex-Presidente do Pe-
ru; Jorge Quiroga Ramírez, ex-Presidente da
Bolívia; Carlos Roberto Reina, ex-Presidente
de Honduras; Miguel Ángel Rodríguez, ex-
209
Agradecimentos
Presidente da Costa Rica; Ernesto Zedillo,
ex-Presidente do México; Julio María San-
guinetti, ex-Presidente do Uruguai e Presi-
dente da Fundação Círculo de Montevidéu;
César Gaviria, ex-Presidente da Comlômbia
e Secretário Geral da OEA; Enrique Iglesias,
Presidente do BID; José Antonio Ocampo,
ex-Secretário Executivo da CEPAL e atual
Subsecretário Geral da ONU para Assun-
tos Econômicos e Sociais; Fernando Valen-
zuela, Diretor Geral Adjunto de Relações Ex-
teriores da União Européia; Guillermo de la
Dehesa, ex-Secretário de Estado de Econo-
mia da Espanha; Miguel Ángel Fernández-
Ordoñez, ex-Secretário de Estado de Eco-
nomia da Espanha; Ernesto Garzón Valdés,
Presidente Clube de Tampere; Antonio Ál-
varez-Couceiro, Secretário Geral do Clube
de Madri; Fernando Carrillo-Florez, Conse-
lheiro Principal Escritório BID na Europa e
Lucinio Muñoz, Adjunto ao Secretário Geral
do Clube de Madri.
Nossos agradecimentos especiais a
Jacques Le Pottier, Decano da Faculdade
de Ciências Econômicas da Universidade
de Toulouse Le Mirail, que ofereceu seu
apoio e facilitou o acesso aos recursos dessa
universidade.
Funcionários do Escritório do
Administrador do PNUD
Nossos agradecimentos aos funcioná-
rios do Escritório do Administrador do
PNUD, especialmente a Marck Suzman,
Jessica Faietta, William Orme e Victor
Arango do Escritório de Comunicações do
Administrador.
Funcionários da Direção para América
Latina e Caribe do PNUD
A equipe do projeto agradece, particular-
mente, a estreita colaboração dos funcioná-
rios do PNUD, e em especial a Freddy Justi-
niano, Myriam Méndez-Montalvo, Enrique
Ganuza, Gilberto Flores, Jacqueline Carba-
jal, Isabel Chang, Elisabeth Díaz, Cristina
Fasano, Elena García-Ramos, Lydia Legna-
ni, Cielo Morales, Susana Pirez, Juan Ma-
nuel Salazar, Luis Francisco Thais, María-
Noel Vaeza e Gemma Xarles.
Funcionários do Escritório de Enlace do
PNUD em Bruxelas
Nossos agradecimentos aos funcionários
do Escritório de Enlace do PNUD em Bruxe-
las, Omar Baquet, María Noel Vaeza, e Susa-
na Etcheverry.
Funcionários do Escritório do PNUD na
Argentina
O Escritório do PNUD na Argentina, lu-
gar Sede do projeto, ofereceu uma inestimá-
vel colaboração, e apoio organizativo e ad-
ministrativo, especialmente Carmelo Angulo
Barturén, Jessica Faieta, Silvia Rucks, Susa-
na Gatto, Pablo Vinocur, José Ignacio López,
Gerardo Noto, Liliana De Riz, Elba Luna, So-
nia Urriza, Aldo García, Ana Inés Mulleady,
María Angélica Wawrzyk, Ana Edmunds, Pa-
blo Basz, Marcelo Bagnasco, Beatriz Martí-
nez, Saioa Royo, Itziar Abad, Mercedes An-
sotegui, Natalia Aquilino, Andrea Botbol,
Cecilia Del Río, Daniela Del Río, Myriam Di
Paolo, Claudio Flichman, Oscar González,
Guillermo Iglesias, Beatriz López, María Inés
Jezzi, Vivian Joensen, Juan Carlos Magnaghi,
Marina Mansilla Hermann, Jorge Martínez,
Santiago Redecillas, Walter Ricciardi, Ricar-
do Salas e Geraldine Watson, aos quais ex-
pressamos nosso agradecimento.
Representantes Residentes, Adjuntos e
Auxiliares dos Escritórios do PNUD na
América Latina
Jeffrey Avina, Kim Bolduc, Katica Ceka-
lovic, Renata Claros, Juan Pablo Corlazzoli,
Jorge Chediek, Juan Carlos Crespi, Ligia Eli-
zondo, Jafet Enríquez, Niki Fabiancic, Elisa-
beth Fong, Walter Franco, Roberto Galvez,
Susana Gatto, Peter Grohmann, Elizabeth
Hayek, José Manuel Hermida, Henry Jacke-
len, Lorenzo Jiménes de Luis, Thierry Lema-
resquier, Carlos Lopes, Carlos Felipe Martí-
nez, Pablo Martínez, Alfredo Marty, César
Miquel,Antonio Molpeceres, Roberto Mon-
teverde, Bruno Moro, Clemencia Muñoz,
Lucien Muñoz, Adelina Paiva, Barbara Pes-
ce-Monterio, Irene Phillip, Benigno Rodrí-
guez, Beat Rohr, Martín Santiago, Rosa San-
tizo, Ilona Szemzo, Aase Smedler, Claudio
To masi, René Mauricio Valdés, Jan-Jilles Van
der Hoeven, Alfredo Witschi-Cestari.
210
A democracia na América Latina
Participantes em seminários
e reuniões
No projeto do Compêndio Estatístico
e na construção de índices contamos com
comentários de Kenneth Bollen, Fernando
Carrillo-Florez, Michael John Coppedge,
Freddy Justiniano, Fernando Medina, John
Mark Payne, Adam Przeworski, Arodys Ro-
bles Soto, Michael Smithson, Jay Verkuilen,
Gemma Xarles e Daniel Zovatto.
Em uma reunião para revisar o Índice
de Democracia Eleitoral contribuíram com
seus conhecimentos Horacio Boneo, Dan-
te Caputo, Leandro Garcia Silva, Hernan-
do Goméz Buendía, Freddy Justiniano, Juan
Fernando Londoño, Myriam Mendez-Mon-
talvo, Simón Pachano, Juan Rial, Elisabeth
Spehar, Maria Hermínia Tavares de Almei-
da e José Woldenberg.
Na análise do estado atual e das perspec-
tivas da democracia na América Latina par-
ticiparam Héctor Aguilar Camín, Raúl Al-
conada Sempé, Soledad Alvear, Julio Angel,
Sergio Bitar, Dante Caputo, Jorge Castañe-
da, Marcelo Contreras, Nicolás Eyzaguirre,
Álvaro Díaz, Marco Aurélio Garcia, Manuel
Funcionários dos Escritórios do PNUD na
América Latina
Bolívia: Cecilia Ledesma, Christian Jetté
e Patricia Cusicanqui.
Brasil: Filipe Nasser, Gilberto Chaves, Jo-
hanna Clarke de Voest Silva, José Carlos Li-
bânio e Wilson Pires Soares.
Chile: Alejandra Cáceres, Carla Pietran-
toni, Eugenio Ortega, Josefa Errázuriz, Ma-
ría Teresa Vergara e Oscar Muñoz.
Colômbia: Adriana Anzola, Alice Aya-
la, Amalia Paredes, Carlos Mauricio García,
Daniel Igartua, Hernando Gómez Buendía,
María del Pilar Rojas, Mauricio Ramírez e
Patricia Lizarazu.
Costa Rica: Arlene Méndez Solano, Hen-
ry González e Vera Brenes.
Equador: José Balseca, Norma Guerrero
e Santiago Burbano.
El Salvador: Esther López e Morena Valdez.
Honduras: Doris Rivas, Fátima Cruz,
Karina Servellón e Lesly María Sierra.
Guatemala: Carmen Morales, Cecilia
Zúñiga, Ingrid Melgar, Juan Alberto Fuentes
e Myriam de López.
México: Arturo Fernández, Luz Patricia
Herremann e Patricia Marrón.
Nicarágua: Dina Garcia e Gloria Alta-
mirano.
Panamá: Marta Alvarado.
Paraguai: Inés Brack e María Clavera.
Peru: Carolina Aragón, Mario Solari e
Pilar Airaldi.
República Dominicana: Martha Elizabe-
th Martínez Correa e Solange Bordas.
Uruguai: Mónica Voss e Verónica Nori.
Ve nezuela: Alberto Fuenmayor e Mayra
Cartaya.
Antonio Garretón, Gabriel Gaspar, Rodolfo
Gil, Alonso González, Eduardo Graeff, Kat-
ty Grez, Jorge Heine, José Miguel Insulza,
Ricardo Lagos, Ester Levinsky, Thierry Le-
maresquier, Edgardo Lepe, Rodolfo Maria-
ni, Elena Martínez, Guttemberg Martínez,
Gonzalo Martner, Jorge Levi Mattoso, He-
raldo Muñoz, José Antonio Ocampo, Carlos
Ominami, Verónica Oyarzún, Augusto Ra-
mírez Ocampo, Juan Ramírez, Jorge Reyes,
Camila Sanhueza, Julio María Sanguinetti,
Joseph Stiglitz, Federico Storani, Juan Ga-
briel Valdéz e Isabel Vásquez.
Na discussão sobre a crise da política,
juntamente com o Círculo de Montevidéu,
participaram Carmelo Angulo Barturén, Da-
nilo Arbilla, Dante Caputo, Antonio Álvarez
Cruceiro, Joaquín Estefanía, Aníbal Fernán-
dez, Eduardo Frei, Felipe González, Osvaldo
Hurtado, Elena Martínez, Bartolomé Mitre,
Alfredo Negrete, Andrés Oppenheimer, Ro-
drigo Pardo, J.C. Pereyra, Rafael Poleo, Ju-
lio María Sanguinetti, Martín Santiago, En-
rique Santos, Thomas Scheetz,Javier Solanas
211
Agradecimentos
e Ernesto Tiffenberg.
Na análise sobre democracia e Estado
contribuíram com sua participação Die-
go Achard, Giorgio Alberti, Raúl Alcona-
da Sempé, Antonio Álvarez Couceiro, José
Luis Barros, Rodrigo Borja, Dante Capu-
to, Fernando Henrique Cardoso, Elisa Car-
rió, Marcelo Contreras Nieto, Alberto Cou-
riel, Sonia Draibe, Gilberto Dupas, Gustavo
Fernández Saavedra, Walter Franco, Manuel
Antonio Garretón, Rodolfo Gil, George Gray
Molina, Edmundo Jarquín, José Carlos Libâ-
nio, Rodolfo Mariani, Elena Martínez, Mar-
cus Melo, Augusto Ramírez Ocampo, Artu-
ro O’Connell, Guillermo O’Donnell, Beatriz
Paredes, Celi Pinto, Eduardo Piragibe Grae-
ff, Márcio Pochmann e Lourdes Sola.
No debate sobre sociedade civil e narco-
tráfi co participaram Carlos Basombrío, Fer-
nando Calderón, Eduardo Gamarra, Luis
Jorge Garay, Gonzalo Perez del Castillo, Elí-
as Santana, Edelberto Torres Rivas, Franciso
Thoumi e Luis Verdesoto.
Na discussão sobre democracia e mul-
ticulturalismo nos acompanharam Álvaro
Artiga, Willem Assies, Santiago Bastos, An-
tonio Cañas, Julieta Castellanos, Isis Duar-
te, Galo Guardián, Francesca Jessup, Car-
los Benjamín Lara, Carlos Mendoza, Arodys
Robles Soto, Ignacio Rodríguez, Gonza-
lo Rojas, Manuel Rojas, Leticia Salomón,
Edelberto Torres Rivas, Jorge Vargas e Aga-
tha Williams.
Na análise sobre democracia e econo-
mia participaram Raúl Alconada Sempé, Al-
berto Alesina, Carlos Amat y León, José Luis
Barros, María Elisa Bernal, Tim Besley, Dan-
te Caputo, Alberto Couriel, Ricardo Ffren-
ch-Davis, Enrique Ganuza, Innocenzo Gas-
parini, Rebeca Grynspan, Eugenio Lahera,
Oscar Landerretche, Thierry Lemaresquier,
Manuel Marfán, Juan Martín, Elena Martí-
nez, Gonzalo Martner, Oscar Muñoz, Artu-
ro O’Connell, José Antonio Ocampo, Carlos
Ominami, Torsten Persson, Thomas Sche-
etz, Jorge Schvarzer, Andrés Solimano e Gui-
do Tabellini.
Na análise sobre democracia e globa-
lização, juntamente com o Clube de Ma-
dri, participaram Andrés Allamand, An-
tonio Alvarez- Couceiro, Rodrigo Borja,
Dante Caputo, Fernando Henrique Cardo-
so, Fernando Carrillo- Florez, Aníbal Ca-
vaco Silva, Tarcísio Costa, Miguel Darcy,
Guillermo de la Dehesa, Miguel Ángel Fer-
nández-Ordóñez, Eduardo Frei, Ernesto
Garzón Valdés, Felipe González, Antonio
Guterres, Carlos Lopes, Elena Martínez, Lu-
cinio Muñoz,Carlos Ominami, Beatriz Pare-
des, Jorge Quiroga Ramírez e Fernando Va-
lenzuela.
Na discussão sobre condições para a es-
tabilidade das instituições democráticas na
América Central participaram: Alberto Are-
ne, Miguel Angel Barcárcel, Rafael Guido
Béjar, Marcia Bermúdez, Miguel Antonio
Bernal, Roberto Cajina, Antonio Cañas, Ze-
nayda Castro, Carlos Cazzali, Elvira Cuadra,
Jorge Chediek, Francisco Díaz, Mirna Flores,
Dina García, Jorge Giannareas, Ricardo Gó-
mez, Valdrack Jaentschke, Francesca Jessup,
Walter Lacayo, Semiramis López, José Raúl
Mulino, Isabela Orellana , Alfonso Peña, Ke-
es Rade, Juan Carlos Rodríguez, María del
Carmen Sacasa, Gabriela Serrano, Héctor
Hérmilo Soto, Edelberto Torres Rivas, Ar-
noldo Villagrán e Knut Walter.
Reunião com o Secretário Geral da ONU
Participaram da reunião com o Secretá-
rio Geral da ONU, Sr. Kofi Annan, em Nova
Yo rk, em 12 de novembro de 2002, Belisario
Betancur, ex-Presidente da Colômbia; Kim
Campbell, Presidente do Clube de Madri
(ex-Primeiro Ministro do Canadá); Eduar-
do Frei, ex-Presidente de Chile; Jorge Quiro-
ga Ramírez, ex-Presidente de Bolívia; Carlos
Roberto Reina, ex-Presidente de Honduras;
Julio María Sanguinetti, ex-Presidente do
Uruguai; Ernesto Zedillo, ex-Presidente do
México; Zéphirin Diabré, Administrador As-
sociado do PNUD; Shoji Nishimoto, Admi-
nistrador Auxiliar e Diretor de Desenvolvi-
mento de Políticas, PNUD; Elena Martínez,
Administradora Auxiliar e Diretora Regio-
nal para América Latina e Caribe (DRALC)
do PNUD; José Antonio Ocampo, ex-Secre-
tário Executivo, Comissão Econômica para
a América Latina e o Caribe (CEPAL) e atu-
al Subsecretário Geral para Assuntos Econô-
micos e Sociais da ONU; Danilo Türk, Se-
cretário Geral Assistente, Departamento de
212
A democracia na América Latina
Assuntos Políticos (DPA); Marta Maurás,
Diretora do Escritório do Secretário Ge-
ral Adjunto (EOSG); Michael Moller, Dire-
tor de Assuntos Humanitários, Políticos e de
Manutenção da Paz (EOSG); Angela Kane,
Diretora Divisão para as Américas e Europa
(DPA); Freddy Justiniano, Coordenador do
Programa Regional, DRLAC/PNUD; e os se-
guintes participantes do Projeto: Dante Ca-
puto, Gonzalo Pérez del Castillo, Edelberto
To rres Rivas, e Augusto Ramírez Ocampo.
Reunião com o Administrador do PNUD
Participaram da reunião com o Admi-
nistrador do PNUD, Mark Malloch Bro-
wn, em 4 de novembro de 2003, Elena Mar-
tínez, Administradora Auxiliar e Diretora
Regional para América Latina e Caribe do
PNUD; Víctor Arango, Especialista em Co-
municações para América Latina e Caribe,
Escritório do Administrador; Magdy Martí-
nez-Solimán, Chefe de Escritório, Prática de
Governabilidade, BDP/PNUD; William Or-
me, Chefe da Seção Meios, Escritório do Ad-
ministrador; Stefano Pettinato, Assessor em
Políticas, Escritório do Relatório de Desen-
volvimento Humano do PNUD; Carmelo
Angulo Barturén, Representante Residen-
te do PNUD na Argentina; Dante Caputo,
Diretor do Projeto; Freddy Justiniano, Co-
ordenador do Programa Regional, DRLAC,
PNUD; Myriam Méndez- Montalvo, Asses-
sora de Governabilidade do Programa Re-
gional, DRALC, PNUD; Leandro García
Silva, Consultor Acompanhamento Técni-
co e Acadêmico do Projeto, e Luis Francis-
co Thais, Consultor do Programa Regional,
DRALC, PNUD.
Apoio na preparação de reuniões e
seminários
Agradecemos a especial colaboração de
Isabel Vásquez, do Círculo de Montevidéu;
Katty Grez e Verónica Oyarzún, da Fun-
dação Chile XXI; Ángeles Martínez e Ire-
ne Fraguas, do Clube de Madri; Bernardi-
ta Baeza, Carolina Ries e Valerie Biggs da
CEPAL.
Produção e tradução
Para a transcrição das entrevistas da Ro-
dada de Consultas contou-se com a colabo-
ração de Maximiliano Bourel, Marcelo Bu-
rello, María Eva Cangiani, Valentina Farrell,
Virginia Gallo, Guadalupe Guzmán, Erika
Moeykens, Josefi na Pittaluga, Julia Ramos,
Natalia Rosenberg, Gisela Urriza e Geraldi-
ne Watson. A depuração do som da grava-
ção das consultas foi realizada por Federico
M. Guido Calvo.
A tradução foi realizada por Marcelo
Canosa, María Esperanza Clavell, Yvon-
ne Fisher, Liliana Hecht, Gabriela Ippóli-
to, Claudia Martínez e Merril Stevenson. A
correção de estilo esteve a cargo de Hinde
Pomeraniec.
Fizemos questão de expressar nosso agradecimento a cada uma das pessoas que contri-
buíram para a realização deste Relatório. Esperamos que saibam desculpar qualquer possível
omissão, totalmente involuntária, sem nenhuma dúvida.
213
Nota técnica sobre o Índice de Democracia Electoral (IDE)
aspectos, certamente, têm importância, mas
não estão tão claramente conectados com o
grau de democracia de um regime como os
quatro escolhidos.
Em terceiro lugar, esses elementos pos-
sibilitam contar com dados válidos e confi -
áveis do último ano civil. Deu-se ênfase na
medição de componentes estritamente ob-
serváveis, evitando o uso de pesquisas sobre
percepções. Desse modo, alguns componen-
tes que poderiam ter sido incluídos foram
deixados de lado por razões “práticas.
Por último, analisou-se um conjunto de
fatores que poderiam ter sido incluídos e não
foram, em grande parte devido à difi culda-
de de desenvolver medições apropriadas e a
tempo para este primeiro Relatório. Isso in-
clui fatores associados ao exercício do direi-
to ao voto, tais como o processo de obtenção
de documentos de identidade, a inscrição ou
registro para votar e a própria votação, e as
condições para a concorrência livre, em que
infl uem fatores como: o fi nanciamento dos
partidos e das campanhas, o uso de recursos
Esta nota descreve os passos dados e as
provas estatísticas realizadas para a constru-
ção do Índice de Democracia Eleitoral (IDE),
uma medida composta sobre os direitos po-
líticos relacionados com a eleição dos gover-
nos. Apresentam-se, também, esclarecimen-
tos sobre sua interpretação e utilização.
Construção do IDE
A escolha dos componentes
O primeiro passo para a construção do
IDE, e provavelmente o mais importante,
consistiu na escolha dos seus quatro com-
ponentes: sufrágio, eleições limpas, eleições
livres e cargos públicos eleitos. Eles foram
selecionados considerando os elementos
centrais tradicionalmente invocados pelos
teóricos sobre a democracia para a defi nição
de um regime democrático, e abarcam uma
série de temas que, em geral, foram consi-
derados centrais, inclusive necessários, para
qualquer avaliação sobre o caráter democrá-
tico de um regime político (fi gura 1).
Em segundo lugar, esses elementos refe-
rem-se a direitos de cidadania, cuja vigência é
responsabilidade do Estado, e que podem ser
interpretados claramente em termos da teo-
ria da democracia vigente. Desse modo, evi-
tam-se problemas associados com elementos
tais como o comparecimento dos eleitores às
urnas ou a desproporcionalidade eleitoral,
que refl etem tanto as ações estatais como as
dos cidadãos. Isso permite garantir que o ín-
dice possa ser interpretado claramente como
uma medida do grau em que o Estado garan-
te os direitos da cidadania referentes ao regi-
me político, de modo diferenciado da ação
dos cidadãos. Da mesma maneira, evitam-se
problemas relacionados com medidas de sig-
nifi cação pouco claras com respeito ao grau
de democracia de um regime, tais como a di-
ferença entre regulamentações eleitorais pro-
porcionais e majoritárias, ou entre sistemas
presidencialistas ou parlamentaristas. Esses
Nota técnica sobre o Índice
de Democracia Eleitoral (IDE)
Índice de Democracia Eleitoral (IDE)
Direito de voto
Têm direito de
voto todos os
adultos de um
país?
Eleições limpas
O processo
eleitoral
transcorre sem
irregularidades
que
constranjam
a expressão
autônoma das
preferências
dos eleitores
pelos
candidatos
e alterem o
conteúdo
dedigno dos
votos emitidos?
Eleições livres
É oferecido
ao eleitorado
um leque de
alternativas
que não
estejam
constrangidas
por restrições
legais ou de
fato?
Cargos públicos
eletivos
As eleições são o
meio de acesso
aos principais
cargos públicos
de um país, ou
seja, o Executivo
e o Legislativo
nacional; e os que
ganham as eleições
assumem seus
cargos públicos e
neles permanecem
durante os prazos
estipulados pela
lei?
FIGURA 1
214
A democracia na América Latina
públicos, o acesso aos meios de comunica-
ção e a liberdade de imprensa. Outras ques-
tões importantes dizem respeito às práticas
eleitorais a nível subnacional e à estabilida-
de do regime. A conveniência da construção
de novos índices fi ca como tema para futu-
ras discussões.
A medição dos componentes
Para o segundo passo para a constru-
ção do IDE – a medição de seus quatro com-
ponentes – foi preciso tomar duas decisões-
chave. A primeira diz respeito às regras do
processo de codifi cação e a segunda, ao pro-
cesso de codifi cação propriamente dito.
Quanto às regras do processo de codifi ca-
ção, as escalas – três ordinais de cinco pontos
e um ordinal de três pontos – foram constru-
ídas determinando primeiro os pontos fi nais
teoricamente signifi cativos e, em seguida,
identifi cando valores de escala, distanciados
conceitualmente o máximo possível, come-
çando com o ponto médio. Os valores da es-
cala foram escolhidos para refl etir diferenças
relevantes da bibliografi a, evitando pequenas
variações entre casos, mesmo que fossem ve-
rifi cáveis. Nos casos que não correspondiam
com precisão a nenhum dos pontos das es-
calas ordinais, introduziu-se o uso de sinais
mais e menos, como forma de registrar valo-
res intermediários. As escalas foram constru-
ídas também de modo que cada ponto cor-
respondesse a situações e acontecimentos
relativamente concretos, e que as decisões de
sua codifi cação pudessem ser tomadas, rigo-
rosamente, sobre a base de fatores observá-
veis. Não foram incluídos no índice dados
baseados em pesquisas sobre percepções.
Além disso, como uma forma de garan-
tir a replicabilidade do exercício de codifi ca-
ção, e em face de possíveis arbitrariedades,
destacou-se a importância de documen-
tar as bases das decisões de codifi cação por
meio da referência a fontes de informação
disponíveis publicamente. Não foram re-
queridas pontuações para cada caso em cada
ano. Na verdade, só foram requeridas pon-
tuações para três dos componentes – direito
a voto, eleições limpas e eleições livres – pa-
ra os anos em que foram realizadas eleições.
As condições para as eleições dependem de
acontecimentos e decisões tomadas entre as
eleições, e a codifi cação coletou informação
entre os períodos eletivos. Mas a signifi cação
desses acontecimentos e decisões, para o pro-
cesso pelo qual os atores obtêm o acesso aos
cargos governamentais, que é o interesse cen-
tral do exercício de medição, cristaliza-se no
acontecimento eleitoral em si. Desse modo,
embora as pontuações tenham sido atribu-
ídas a alguns componentes somente duran-
te os anos de eleições, essas pontuações fo-
ram entendidas como a síntese de processos
mais amplos.
O segundo conjunto de decisões refere-
se ao processo de codifi cação propriamen-
te dito. Nesse sentido, foram utilizados dois
procedimentos complementares para codifi -
car os casos. Um codifi cador particular rea-
lizou uma codifi cação baseando-se em uma
pesquisa extensa e em consultas com nume-
rosos especialistas, durante muitos meses.
As pontuações defi nidas foram apresenta-
das e discutidas em profundidade em vários
encontros, inclusive um, com um grupo de
participantes convidados que trabalhavam
em diversos contextos (política, âmbito aca-
dêmico, organizações internacionais), pro-
venientes de diferentes países das Américas
(Argentina, Brasil, Canadá, Colômbia, Equa-
dor, Estados Unidos, México e Uruguai). Es-
sas discussões conduziram à identifi cação de
discordâncias que levaram a sucessivas pes-
quisas e mais discussões grupais. Finalmente,
após esse processo iterativo, chegou-se a um
alto grau de consenso em relação à codifi ca-
ção das quatro dimensões do IDE.
A geração de uma base de dados
retangular com escalas normalizadas
O terceiro passo na construção do IDE foi
a transformação das pontuações nas escalas
dos componentes em uma base de dados re-
tangular, ou seja, uma base de dados que in-
clui pontuações numéricas para todos os ca-
sos, em todas as variáveis e em todos os anos,
com escalas normalizadas.
Esse passo envolveu uma série de proce-
dimentos. Primeiro, enfrentaram-se aspectos
bastante mecânicos. Os sinais mais e menos
foram convertidos em números, somando
e subtraindo 0,33 da pontuação base (por
215
Nota técnica sobre o Índice de Democracia Electoral (IDE)
exemplo, um 3+ foi convertido em 3,33). Os
hífens (-) utilizados para indicar que a atri-
buição de uma pontuação não era aplicável,
devido a que o governo não era proveniente
de uma eleição, foram convertidos em zeros
(0). Além disso, as pontuações de dois dos
componentes que tinham pontuações ape-
nas para os anos em que houve uma eleição
– sufrágio e eleições livres – foram estendidas
para os anos intermediários, simplesmen-
te transferindo a pontuação de um determi-
nado ano para os anos subseqüentes, até ser
atribuída uma nova pontuação (seja porque
foi realizada uma eleição após um período de
um governo não eleito, ou porque se realizou
uma nova eleição, ou porque o processo elei-
toral foi interrompido). A justifi cativa para
esse procedimento é que a forma em que um
governo se origina continua sendo uma ca-
racterística que afeta sua natureza mesmo
depois do momento de sua instalação.
No caso das eleições limpas, seguiu-se
um processo um pouco mais complexo. Na
codifi cação desse item foi utilizada uma es-
cala de três pontos para facilitar a interpre-
tação. Contudo, o 1 dessa escala não repre-
senta na realidade um ponto médio; está
muito mais próximo do 2. Desse modo, ca-
da 1 foi convertido em um 3 e cada 2 em um
4. Além disso, devido a que esse elemento
distingue os valores atribuídos às eleições
presidenciais e parlamentares, as pontua-
ções não foram simplesmente transferidas
de eleição para eleição. As pontuações são
uma média das pontuações das eleições pre-
sidenciais e parlamentares.
Um segundo aspecto considerado foi a
atribuição de uma única pontuação por pa-
ís e por ano. Essa prática habitual obedece a
razões de parcimônia e está bem justifi ca-
da, porque o objetivo de gerar um índice é
oferecer uma síntese da situação de um pa-
ís. Mas um índice único implica vários pro-
blemas, devido a que a situação de um país
muda no curso de um ano, e utiliza-se ape-
nas uma pontuação para caracterizar todo o
período anual. Em alguns casos, a solução é
relativamente simples: quando um aconte-
cimento-chave – como a realização de uma
eleição – ocorria no fi m do ano, a mudan-
ça de status em função desse acontecimento
foi registrada no ano seguinte. Por exemplo,
quando em 1985 foram realizadas, na Gua-
temala, as eleições que terminaram com um
período de governos dominados pelos mi-
litares, essas eleições foram realizadas no
m do ano, e a mudança de governo reali-
zou-se em janeiro de 1986. Portanto, embo-
ra as pontuações para os elementos compo-
nentes tenham sido registradas em 1985, ao
computar o IDE, essas pontuações foram in-
gressadas em 1986. Quando os acontecimen-
tos ocorreram na primeira metade do ano,
foram computados para o mesmo ano. Por
exemplo, as eleições de 1994 em El Salvador
foram realizadas em março, e a mudança de
governo em junho, portanto a mudança foi
registrada em 1994.
Em outros casos, a solução foi mais com-
plicada, pois quando um acontecimento
ocorreu na segunda metade do ano, foi re-
gistrado nesse mesmo ano. Esse é o caso, por
exemplo, das eleições fraudulentas realiza-
das em maio na República Dominicana, e
da nova presidência que assumiu em agosto.
Foram também problemáticos os casos em
que ocorreu mais de um acontecimento crí-
tico no mesmo ano. Por exemplo, em 2000,
no Peru, realizaram-se duas eleições forte-
mente questionadas, em abril e em maio,
que levaram Fujimori, em julho, à presidên-
cia e, em seguida, à sua renúncia em novem-
bro. Nesse caso, as eleições problemáticas fo-
ram registradas em 2000 e a retifi cação da
situação, em 2001.
Em terceiro lugar, as escalas dos com-
ponentes foram normalizadas, isto é, fo-
ram trasladadas a uma métrica comum, por
meio de uma normalização linear simples
do intervalo unidade:
valor normalizado = valor de escala original /
máximo valor possível em escala original
Praticamente, qualquer opção que fos-
se tomada teria sido um pouco arbitrária,
pois não existem unidades de medida pa-
ra a liberdade eleitoral amplamente aceitas
e comparáveis com unidades como quilo-
gramas ou dólares. No entanto, a escolha do
procedimento de normalização tal como foi
aplicado às escalas ordinais de cinco pontos
216
A democracia na América Latina
– com a modifi cação introduzida no elemen-
to eleições limpas, ao transformar as pontu-
ações das escalas componentes em uma base
de dados retangular, todas as escalas utiliza-
das para medir os quatro componentes são
escalas ordinais de cinco pontos – é transpa-
rente e justifi cável.
Por um lado, todas as escalas têm pon-
tos fi nais com signifi cação teórica, e pode-
se supor que caem no intervalo unidade, no
qual 0 indica ausência total da propriedade
e 1 indica presença total da propriedade. O
valor inferior da escala ordinal corresponde
à negação da propriedade em questão, en-
quanto o valor superior corresponde à sua
presença completa. Um caso com valor de
sufrágio 0 não apresenta direito a voto de
modo nenhum, enquanto um caso com va-
lor de direito a voto 1 depois da normali-
zação tem direito a voto adulto completo,
o padrão teoricamente estabelecido. Des-
se modo, o problema da distância se refere
unicamente aos pontos compreendidos en-
tre o ponto inicial e o ponto fi nal.
Por outro lado, a maior parte das esca-
las foi construída de modo que cada pon-
to da escala pudesse ser interpretado teori-
camente, e que os diferentes valores da escala
estivessem, conceitualmente, o mais distante
possível entre si. Os valores da escala foram
escolhidos para refl etir diferenças identifi ca-
das como relevantes na bibliografi a, evitando
variações menores entre os casos verifi cáveis.
Portanto, a probabilidade de introdução de
um erro importante é relativamente peque-
na. Embora pudessem ser utilizados outros
métodos psicométricos mais sofi sticados,
eles seriam mais complicados, menos aces-
síveis, fortemente dependentes dos dados e,
freqüentemente, não funcionam muito me-
lhor do que esse procedimento simples.
A escolha de regras de agregação
O quarto passo para a construção do IDE
– a escolha de regras de agregação para for-
malizar a relação entre os elementos com-
ponentes do índice – foi resolvido por meio
do uso de uma regra de agregação simples.
A idéia central utilizada para isso é a opinião
bem estabelecida de que os quatro elementos
componentes do IDE são partes que consti-
tuem um sistema, em virtude da forma em
que estão combinados, e ainda mais, que es-
ses quatro componentes são tão fundamen-
tais para a caracterização global de um regi-
me, que sua ausência o tornaria diretamente
não-democrático. Por exemplo, como os te-
óricos argumentaram, amplamente, sobre a
democracia, o fato de que os sistemas de tipo
soviético tivessem eleições com direito a vo-
to completo não tem signifi cação do ponto
de vista da democracia, devido a que o elei-
torado não tinha opção entre candidatos al-
ternativos e a que essas eleições não levaram
ao acesso a cargos que exercessem efetiva-
mente poder estatal.
Os quatro elementos componentes do IDE
são, portanto, postulados como condições in-
dividualmente necessárias, insubstituíveis e de
igual peso. Essa concepção se formaliza calcu-
lando o produto do valor de cada um dos ele-
mentos componentes. Em termos formais, o
IDE é calculado seguindo a seguinte equação:
Índice de Democracia Eleitoral = Direito a voto x
Eleições Limpas x Eleições Livres x
Cargos Públicos Eleitos
Essa equação retoma uma idéia-chave da
teoria sobre a democracia: quando um ele-
mento componente está completamente au-
sente, o regime deve ser considerado como
não-democrático. Na prática, essa operação
garante que um valor zero em qualquer dos
quatro elementos componentes leva a classi-
car o caso como não-democracia.
Esse é um padrão duro, que pode ser
visto como menos “perdoador” do que ou-
tras regras de agregação. A concepção de que
os elementos componentes do IDE são con-
dições individualmente necessárias é alta-
mente exigente, por isso foi utilizada con-
juntamente com um critério conservador
na atribuição de zeros aos elementos com-
ponentes. Isso é assim, tanto para as esca-
las construídas de modo tal que um zero se-
ja utilizado apenas em casos extremos, em
que uma propriedade amplamente consi-
derada como vital para a existência da de-
mocracia esteja totalmente ausente, quan-
to no sentido de que a evidência necessária
para atribuir um zero deve ser convincente.
217
Nota técnica sobre o Índice de Democracia Electoral (IDE)
Portanto, o IDE qualifi cará um país como
não-democrático apenas quando as normas
democráticas foram, indiscutivelmente, dei-
xadas de lado.
Testando o IDE
Confi abilidade entre codifi cadores e
estimativa de erro
Por razões de tempo, não foi realizada
uma prova formal de confi abilidade entre
os codifi cadores. No entanto, para saber se
outros codifi cadores poderiam ter tido atri-
buição de valores diferentes dos elementos
componentes do IDE, realizou-se uma aná-
lise de sensibilidade. Essa análise baseia-se
em perturbações nas codifi cações, de acor-
do com um projeto experimental e com o
exame do índice global “replicado resultan-
te. Desse modo, utiliza-se a matemática pa-
ra criar codifi cadores “virtuais” deformados
de diversos modos; por exemplo, com um vi-
és em uma valoração inferior de um ou mais
componentes.
Os resultados dessa prova demonstraram
que o IDE é bastante estável – as correlações
de intervalo de medição com todas as outras
réplicas” foram 0,99 ou maiores – e as mu-
danças na média e na dispersão foram bas-
tante previsíveis, mostrando um viés nega-
tivo ou positivo, esperado de acordo com o
projeto experimental. Essa prova também
proporcionou algumas margens de erro bá-
sicas do IDE sobre a base das “réplicas”. Para
valores do índice entre 0,25 e 0,75, uma am-
plitude de margem generosa é de aproxima-
damente ±0,07, e uma amplitude de margem
razoavelmente conservadora é de ±0,1. De
acordo com o padrão mais conservador pos-
sível, os valores do IDE estão dentro de ±0,2.
Essa amplitude é razoavelmente constante ao
longo do intervalo citado, mas os limites pre-
cisos dependem do valor do índice e, em ge-
ral, são mais estreitos perto dos pontos fi -
nais. Realizou-se um controle matemático
utilizando a inversão da conhecida e muito
conservadora prova de Kolmogorov- Smir-
nov para a função de distribuição – baseada
em matemáticas completamente diferentes –
e foram obtidos resultados semelhantes.
A solidez das regras de agregação
Realizou-se uma prova de comparação
de quatro possíveis regras de agregação pa-
ra combinar os elementos componentes do
IDE: o produto dos quatro componentes uti-
lizados no IDE, o valor mínimo dos quatro
componentes da escala, a média geométrica
dos quatro componentes e a média aritmé-
tica dos quatro componentes. Os resultados
mostraram que, sem importar a regra utili-
zada, as correlações de intervalo de medição
são sempre muito altas, o que indica que se
preserva o ordenamento geral dos casos. Mas
existem diferenças entre os índices, sendo
por um lado, a média aritmética e a geomé-
trica semelhantes entre si, e por outro lado,
também semelhantes entre si o valor míni-
mo e o IDE. A diferença mais importante en-
contra-se entre as médias e os desvios padrão
(DE). As médias geométrica e aritmética são
de 0,92 e 0,91, respectivamente, e o DE de
0,20 e 0,21, respectivamente. Em compensa-
ção, o valor mínimo e o IDE têm médias de
0,84 e 0,82, respectivamente, e o DE de 0,26
e 0,28, respectivamente. Isso sugere que apli-
cando essas últimas regras, é melhor a dis-
persão dos casos para evitar o conglomerado
de casos que torna difícil interpretar suas di-
ferenças com clareza.
O caráter dimensional dos elementos
componentes
A prova de escalabilidade dos quatro ele-
mentos componentes do IDE deu como re-
sultado um alfa de Cronbach de 0,92; o que
sugere que o IDE é uma medida de um fe-
nômeno unidimensional. Contudo, quan-
do se realizou uma prova em dois períodos
(1960-1985 e 1990-2002), os alfas de Cron-
bach resultantes foram de 0,95 e 0,23, res-
pectivamente. Isso indica que, enquanto no
primeiro período os componentes foram
unidimensionais, isso já não era válido no
período posterior a 1990. Esse resultado é
consistente com a teoria utilizada para se-
lecionar as regras de agregação para o IDE.
Com efeito, é importante notar que os mo-
delos de medição aditivos padrão descansam
na presunção de que a agregação opera em
múltiplas medições paralelas. Em oposição,
dado que os componentes do IDE são, por
218
A democracia na América Latina
teoria, considerados insubstituíveis, a decisão
de agregá-los a uma pontuação única não é
invalidada por nenhum desvio potencial da
unidimensionalidade. Desse modo, a pro-
va de escalabilidade torna ainda mais válida
a escolha das regras de agregação propostas
em lugar da muito habitual regra de adição.
Interpretando e usando o IDE
O IDE é uma escala de 0,00-1,00; na
qual 0,00 indica um regime não democrá-
tico e qualquer número maior do que 0,00
um grau de democracia, sendo que as pon-
tuações mais altas indicam um maior grau
de democracia. Para evitar confusões, é im-
portante notar que o índice não deve ser in-
terpretado como uma avaliação das ações do
governo. É uma medida do estado de um sis-
tema, que se vê afetado pela ação ou inação
de um governo, bem como por outros agen-
tes estatais e atores sociais. Além disso, é pre-
ciso ressaltar que o conceito que está sendo
medido é o de democracia eleitoral. Este con-
ceito não é tão estreito como alguns o consi-
deram. Portanto, ainda que esteja focalizado
completamente na celebração de eleições in-
clusivas, livres e limpas, abarca mais do que
simples eleições”. O índice leva em consi-
deração, também, o que ocorre com os pró-
prios governos entre as eleições, e o que su-
cede nesse período, que infl ui nas condições
para realizar tais eleições.
O IDE não é certamente uma medida
ampla da democracia. É, na verdade, uma
medida de uma concepção do regime políti-
co democrático baseada nos postulados mais
amplamente compartilhados no que se refe-
re aos direitos políticos fundamentais. Isso
é muito signifi cativo. Por um lado, signifi ca
que qualquer defeito detectado pelo IDE de-
ve ser considerado como uma restrição im-
portante aos direitos políticos dos cidadãos.
Por outro lado, o fato de que um país tenha
recebido uma pontuação perfeita de 1,00 não
deve ser interpretado no sentido de que não
possa melhorar, tanto as dimensões não in-
cluídas no índice quanto os padrões mais exi-
gentes dos elementos componentes do IDE.
O IDE pode ser utilizado para propósitos
comparativos, tanto para comparar um país
consigo mesmo ou com outros países. Dessas
duas formas, a comparação de um país con-
sigo mesmo, em diferentes momentos é, em
geral, a mais simples de interpretar. Afi nal,
um país pode até ter introduzido melhorias
notáveis e, no entanto, car em inferioridade
em comparação com outros países, se estes
tiverem avançado mais. No entanto, é impor-
tante notar que qualquer comparação deve-
se basear em diferenças consideráveis e não
menores. Porque o IDE, como qualquer ín-
dice, tem um certo grau de erro de medição
e dentro dos limites desse erro não é aconse-
lhável realizar qualquer afi rmação categórica
sobre diferenças. De fato, como foi estimado
por meio da análise de sensibilidade, para os
valores do IDE entre 0,25 e 0,75, uma ampli-
tude de margem de erro generosa é de aproxi-
madamente ±0,07. Desse modo, os casos que
difi ram em menos desse valor – por exemplo,
um país com um IDE de 0,85 e outro com
um de 0,92 – estão demasiado próximos pa-
ra que seja possível distingui-los de maneira
válida. Portanto, é metodologicamente injus-
tifi cável oferecer um ranking excessivamen-
te preciso de países, como é habitual no con-
texto de outros índices, que simplesmente
transformam as pontuações do IDE em um
ranking, sem levar em consideração os graus
de incerteza associados a elas. A identifi cação
de casos de referência que sejam representa-
ções prototípicas dos traços associados com
uma gama de pontuações pode ajudar a pro-
porcionar maior concretude ao signifi cado
de cada número.
O IDE pode ser utilizado também co-
mo um sinal, pois as pontuações específi cas
de cada país convidam o leitor a voltar aos
quadros dos elementos que o compõem, pa-
ra identifi car precisamente que aspecto ou
aspectos estão refl etidos nessa pontuação.
Desse modo, o IDE pode ser usado como
uma ferramenta analítica valiosa, pois ofe-
rece uma pontuação resumida que ajuda os
que a utilizam a identifi car o aspecto distin-
tivo do regime político de cada país, não ape-
nas em termos de seus elementos, mas tam-
bém em termos da relação entre as partes
constitutivas do regime e sua contribuição
para o conjunto.
219
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
Nota técnica sobre os índices
derivados na análise da pesquisa
Latinobarômetro 2002 – A construção
do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
Apresentação
Esta nota técnica descreve a fonte de
informação, o desenho metodológico e os
procedimentos estatísticos utilizados na ela-
boração dos principais índices e indicadores
empregados para a análise das percepções e
comportamentos das cidadãs e dos cidadãos
na América Latina. Explica o sentido, utili-
dade e alcance destes índices e indicadores.
As descrições contidas neste documento
complementam os quadros apresentados
no compêndio estatístico. Para explicações
mais detalhadas é conveniente consultar a
memória do processo metodológico e esta-
tístico aplicado, composta de 7 documentos
mais extensos, disponível na página web do
Relatório sobre A Democracia na América La-
tina: www.democracia.undp.org
(Benavides
e Vargas Cullell, 2003; Gómez, 2003; Kikut,
Gómez y Vargas Cullell, 2003ª, 2003b; Ki-
kut e Vargas Cullell, 2003; Vargas Cullell,
Benavides y Gómez, 2003a, 2003b; Vargas
Cullell e Benevides, 2003; Vargas Cullell e
Gómez, 2003).
O documento contém duas seções. Na
primeira, que introduz o estudo de opinião
sobre a democracia, é apresentada uma
valorização geral sobre a pesquisa Latino-
barômetro como fonte de informação e
uma indicação sobre os dados e métodos de
análise empregados no estudo. Na segunda
seção se descreve, com detalhe, o processo
metodológico para a elaboração do Índice
de apoio à democracia (IAD) e suas partes
componentes, que constituem a principal
inovação do estudo.
I- Pesquisa de opinião sobre a
democracia
A seção do Relatório “Como os Latino-
americanos vêem a sua democracia está
baseada no trabalho realizado por uma
equipe coordenada por Jorge Vargas Cul-
lell e integrada por Miguel Gómez, Lorena
Kikut e Tatiana Benavides. Essa equipe ela-
borou o marco conceitual e metodológico a
partir do qual foram defi nidos os índices e
indicadores respectivos e realizou a análise
da informação cujo principal objetivo foi
possibilitar um estudo comparativo sobre
o exercício dos direitos e deveres cidadãos
na América Latina e indagar sobre o apoio
cidadão à democracia.
Esta seção descreve as fontes de dados
em que a análise apresentada no Relatório
se baseia. Convidamos o leitor especializado
que desejar mais informação a consultar a
documentação detalhada sobre a defi ni-
ção conceitual e as decisões metodológi-
cas da análise no site web do PRODDAL
www.democracia.undp.org
.
Os dados do PRODAL são elaborados a
partir de defi nições conceituais próprias e
de procedimentos metodológicos e aplica-
ções técnicas que permitem chegar a resulta-
Latinobarômetro como fonte de informação
Latinobarômetro é um estudo comparativo realizado periodicamente em
todos os países da região. Em 2002 mediante um convênio entre PNUD
e Latinobarômetro foram incorporadas à pesquisa 28 perguntas (62
variáveis), aproximadamente um terço do questionário, dedicadas a temas
defi nidos pelo PRODDAL. A pesquisa foi feita em espanhol em 18 países
(pela primeira vez foi realizada na República Dominicana), com o mesmo
questionário e o mesmo livro de códigos. Foram entrevistadas 19.508
pessoas. As amostras variam entre 1.000 e 1200 pessoas por ps. Todos
os esquemas empregam alguma versão da amostragem polietápica e
praticamente em todos a selão fi nal dos entrevistados foi realizada
usando amostragem de quota. Em função disso, as amostras podem estar
afetadas pelos vieses e limitações conhecidos da amostragem de cota. (ver,
CD/Compêndio Estatístico, Segunda Seção, “Estudo de Opinião sobre a
Democracia”, p. 187 e ss.).
220
A democracia na América Latina
dos específi cos que não são necessariamente
coincidentes com os das fontes utilizadas.
Os índices e indicadores sobre percepções
e comportamentos cidadãos utilizam infor-
mação de três fontes, com base em um con-
vênio entre o PNUD e o Latinobarômetro.
A seção regular da pesquisa de opinião
realizada pela Corporação Latinobarômetro
em 2002.
A seção proprietária do PNUD
1
.
A série histórica de perguntas do Lati-
nobarômetro, de modo secundário.
A partir dessas fontes e sobre a base
conceitual e metodológica, foi elaborado
o Índice de Apoio à Democracia. Para sua
construção foi preciso analisar:
A questão geral do apoio cidadão à
democracia, a maneira de medi-lo e as fragi-
lidades do método mais amplamente usado.
As tendências dos cidadãos em relação
à democracia, a maneira de determiná-las e
a classifi cação das opiniões.
O tamanho de cada uma das tendên-
cias, seu ativismo político e distância relativa.
A regra de agregação do Índice e sua
validação estatística.
Esses temas são apresentados a seguir.
Dados e metodologia
O objetivo principal da seção proprie-
tária do PNUD foi possibilitar um estudo
comparativo sobre o exercício dos direitos
e deveres dos cidadãos na América Latina.
Isso complementou a pergunta que a seção
regular do Latinobarômetro faz sobre as
atitudes políticas em um amplo conjunto
de temas. Os índices e indicadores sobre as
percepções e comportamentos dos cidadãos
utilizam informação de três fontes: a seção
regular, a seção proprietária do PNUD e, de
forma suplementar, a série temporal. A in-
formação proveniente da seção proprietária
está refl etida nos quadros do compêndio
estatístico. Entretanto, a informação prove-
niente da seção regular unicamente se apre-
senta de forma já processada, como parte de
um determinado indicador ou índice.
Desenho das amostras
O Relatório metodológico permite um
comentário sobre as amostras utilizadas no
Latinobarômetro 2002, com a fi nalidade de
identifi car aspectos relevantes para o uso
adequado da informação. Trata-se de uma
avaliação simples, já que o texto não apre-
senta a informação necessária para uma au-
ditoria técnica das amostras, o que impede
dar atenção a algumas das eventuais fraque-
zas do projeto técnico (Gómez, 2003)
2
. Em
conseqüência, as observações desta seção
são de caráter geral e inevitavelmente insufi -
cientes. Mesmo assim, permitem identifi car
as precauções para a manipulação dos dados
no futuro.
Do exame das principais características
dos desenhos utilizados em cada um dos
países. dessa informação derivam-se as se-
guintes conclusões gerais.
To dos os desenhos empregam alguma
versão da amostragem polietápica e pratica-
mente em todos a seleção fi nal dos entre-
vistados é realizada usando amostragem de
quota. Em um par de casos é empregada a
técnica aleatória “último aniversário, mas,
na prática, se substitui o selecionado quan-
do não está em sua casa ou não aparece em
prazo curto. Por isso, todas as amostras são
afetadas pelas limitações e viés conhecidos
da amostragem da quota, particularmente
por uma subestimação das pessoas que têm
menor disponibilidade – especialmente
aquelas que têm trabalhos de tempo integral
– e uma superestimação das que trabalham
por conta própria ou em casa.
Praticamente todos os desenhos em-
pregam estratifi cação geográfi ca e segundo
o tamanho das localidades e cidades. A me-
tade das amostras utiliza afi xação despro-
porcionada. Cabe assinalar que isso, em si,
não representa um problema, porque logo
são empregados fatores de ponderação para
obter resultados em proporção à população
de referência.
1 A seção proprietária do PNUD, de uso exclusivo, compreende as perguntas P1U a P28U do questionário utili-
zado para o estudo.
221
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
Para alguns dos países, existe um viés
na amostra em relação à população urbana,
o que supõe nestes casos uma super-repre-
sentação das opiniões da população urbana
nos promédios destes paises.
Em resumo, pode-se dizer que, embora
o Latinobarômetro refl ita para alguns dos
paises fundamentalmente a opinião da po-
pulação urbana – o que pode produzir uma
distorção nos dados fi nais – o Latinobarô-
metro é sem dúvida a fonte de informação
que melhor apresenta as opiniões da popu-
lação na região em conjunto. Portanto, neste
Relatório, foi adotada esta base de dados
para a análise de opinião sobre a democracia
na América Latina.
Análises estatísticas
Na análise estatística realizada para o
Relatório sobre A Democracia na América
Latina, baseado no Latinobarômetro, foi
utilizado o software SPSS versão 11. Os
métodos de análises estatísticas empregados
foram simples. Para estabelecer a associação
entre duas variáveis numéricas é usado o
coe ciente de correlação de Pearson, cujos
valores oscilam entre 0 e 1. Para estabelecer a
associação entre variáveis nominais empre-
gou-se a medida V de Crammer e, quando se
trata de uma variável ordinal e outra nomi-
nal utilizou-se Tau-c.
Para integrar a informação de perguntas
que, a primeira vista, parecem referir-se a
um mesmo tema, em todos os casos foram
feitas análises fatoriais com a fi nalidade de
determinar dimensões implícitas e foram
elaboradas escalas por soma simples. Como
indicador da consistência ou confi abilida-
de interna das escalas assim construídas é
utilizado o coefi ciente Alfa de Crombach
(coefi cientes de 0,70 ou mais são conside-
rados confi áveis e consistentes). Se não for
alcançado este valor, deve-se descartar a
respectiva escala. Quando isso ocorre, apli-
ca-se cada uma das variáveis de maneira in-
dependente (como se fez no Índice de apoio
à democracia).
Durante o processo de análise da infor-
mação, foram utilizadas técnicas de análise
de profi ling (perfi l), para examinar se os
valores de uma variável dependente estão
associadas a determinados fatores sócio-
demográfi cos e atitudes políticas. Foram
destacadas aquelas que tivessem um nível
de signifi cação igual ou inferior a 1% (Ver
Compêndio estatístico).
Unidade de análise
As unidades de análise para o estudo do
tema de apoio à democracia, em particular,
o Índice de apoio à democracia (IAD) e
seus componentes, foram os países. Foram
obtidos valores para América Latina em seu
conjunto (18 países) e para três sub-regi-
ões: (a) México, República Dominicana e
América Central (que inclui Guatemala, El
Salvador, Honduras, Nicarágua, Costa Rica
e Panamá; (b) Região Andina (Venezuela,
Colômbia, Equador, Peru e Bolívia); (c)
Mercosul e Chile (Brasil, Uruguai, Argenti-
na, Paraguai e Chile). Nesse caso os valores
expressam médias do grupo de países dentro
da unidade maior, considerando cada país
como uma unidade com um mesmo peso.
Por isso, não foi ponderada a amostra para
chegar a conclusões sobre América Latina
ou para uma das sub-regiões mencionadas
anteriormente. As razões para não ponderar
são as seguintes:
• As cidadãs e os cidadãos expõem opini-
ões e avaliações sobre o sistema político do
qual fazem parte e não em relação com uma
“macrounidade” política latino-americana.
A maioria dos assuntos aos que elas fazem
referência são problemas de caráter nacional
(por exemplo, o desempenho da democra-
cia). Por isso as diferenças nacionais são im-
portantes e, em princípio, todas são de igual
importância. Se, para efeito de estudo, fosse
ponderada a amostra pela população para
obter tendências a nível latino-americano,
basicamente seriam refl etidas as opiniões e
avaliações de brasileiros e mexicanos (apro-
ximadamente 60% da população total). No
entanto, tanto uns quanto outros fazem re-
ferência, apesar do peso que teriam dentro
2 Para uma análise critica do Latinobarômetro 2002 consultar o documento preparado por Miguel Gómez para
o relatório A Democracia na América Latina (Gómez, 2003).
222
A democracia na América Latina
da amostra ponderada, à experiência de
seus próprios países e não aos da América
Latina.
Os tamanhos originais da amostra
para cada país não foram estabelecidos pela
Corporação Latinobarômetro para facilitar
uma análise posterior que, ao mesmo tem-
po que obtivesse resultados representativos
para a população da América Latina em
seu conjunto, proporcionasse resultados
representativos para cada um dos países in-
cluídos no estudo. Se ponderássemos a base
de dados consolidada atual por população,
aos países pequenos (por exemplo, Uruguai,
Nicarágua, Costa Rica) lhes corresponderia
uma quota muito pequena.
Os desenhos das amostragens nos
países incluídos no estudo são claramente
diferentes. Como foi indicado em seções
anteriores, umas amostras são nacionais;
outras são urbanas e, inclusive, em alguns
países, cobrem só alguns centros urbanos.
Por exemplo, o universo da amostra do Bra-
sil são algumas cidades e não toda a popula-
ção; se ponderássemos a amostra do Brasil
por população, na realidade estaríamos
dando um peso excessivo aos habitantes dos
centros urbanos em relação aos habitantes
de outros países onde as amostras parecem
um pouco mais “nacionais”.
Quando se fez o “profi ling” das pessoas
com diferentes tendências à democracia, foi
utilizada a amostra em seu conjunto sem
ponderar. Nestes casos, os resultados refl e-
tem a situação da população entrevistada
em seu conjunto, e não das e dos latino-
americanos”.
Precisão dos resultados
3
To da pesquisa por amostragem é afeta-
da por dois tipos de erros: os erros de não
amostragem
4
e de amostragem
5
. Como não
são conhecidos os resultados de uma au-
ditoria técnica do Latinobarômetro 2002,
não é possível fazer referência aos erros de
não amostragem. Por outra parte, a análise
dos erros de amostragem é muito limitada
porque a informação contida no Relatório
metodológico 2002 não permite apresentar
os erros da amostragem (erros padrão, EP)
e os efeitos de desenho (DEF) para índices e
perguntas selecionadas. Não há informação
a nível de unidade primária de observação.
Em conseqüência, não se pode apresentar
uma opinião sobre a precisão das estima-
tivas.
Em termos gerais, podemos dizer que
em casos como o da Costa Rica, as outras
nações centro-americanas e o Brasil, onde o
tamanho médio do conglomerado fi nal não
é muito alto – cerca de 13 entrevistados – se
são supostos valores de roh usuais de 0,02 a
0,04, o ED alcança no máximo 1,50, o que
3 A explicação sobre os erros de amostragem e não amostragem é tomada literalmente da redação feita por Luis
Rosero-Bixby para o estudo sobre Cultura democrática em Costa Rica 2004 do Projeto de Opinião Pública da
Universidade de Vanderbilt (Vargas Cullell e Rosero-Bixby, 2004).
4 Os erros de não amostragem são os cometidos durante a coleta e processamento da informação, mas podem
ser controlados construindo um adecuado instrumento de medição, treinando os pesquisadores para uma corre-
ta aplicação do instrumento, supervisionando o trabalho de campo, criando um programa de captura de dados
efi ciente, revisão de questionário e adequada codifi cação, assim como uma limpeza do arquivo, entre outros.
Esses erros podem ser controlados mas não quantifi cados. A comparação dos resultados da amostra com os da
população, porém, dá uma idéia sobre a possível geração de viés que diminui a representatividade da amostra.
5 Os erros de amostragem são produtos do acaso e são resultado do fato de se entrevistar uma amostra e não a
totalidade da população. Quando selecionamos uma amostra ela é uma das tantas amostras possíveis a serem se-
lecionadas na população. A variabilidade existente entre todas essas possíveis amostras é o erro da amostragem,
que poderia ser medido se fosse possível dispor de todas essas amostras, situação obviamente irreal. Na prática,
o que se faz é calcular esse erro sobre a variação obtida a partir da amostra. Para calcular o erro da amostragem
de uma estatística (médias, porcentagens, diferenças e totais), calcula-se o erro padrão que é a raiz quadrada da
variação populacional da estatística. Isso permite medir o grau de precisão com que esse dado estatístico se apro-
xima ao resultado obtido nas entrevistas com todos os elementos da população sob as mesmas condições. Para o
cálculo deste erro é muito importante considerar o desenho com o qual foi selecionada a amostra.
223
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
signifi ca que a conglomeração aumenta a
variância de p em um 50% e o erro de amos-
tragem em 22%, magnitudes totalmente to-
leráveis. Entretanto, em outros casos, como
de Equador, o procedimento de selecionar
cidades ou municípios e logo depois sub-
amostrá-los, produz níveis de conglomera-
ção elevados (50 ou mais entrevistados) e
ED que podem ser de 3 ou 4, o que implica
erros de amostragem de 1,73 ou 2 vezes aos
obtidos usando a fórmula usual.
Amostras totais, amostras válidas e
não-respostas
O tamanho da amostra total consolida-
da do Latinobarômetro 2002 nos 18 países
onde foi realizado o estudo é de 19.508 ca-
sos
6
. Aos dados do Paraguai foram dados
uma ponderação dupla com a fi nalidade de
simular uma amostra de 1.200 pessoas nesse
país. Isso aumentou o tamanho da mostra
de 19.508 a 20.108 registros (Quadro 1).
To dos os cálculos e estimativas foram reali-
zados com base nessa amostra que inclui a
dupla ponderação do Paraguai.
Os motivos que justifi caram essa decisão
foram os seguintes:
Permitir conferir ao Paraguai, no estu-
do, um peso similar ao dos outros 18 países;
do contrário, pesaria como “meio país”
quando se acrescenta informação para ana-
lisar a situação regional (América Latina) ou
sub-regional (Mercosul e Chile).
Se tivesse sido empregada uma amos-
tra de 1.200 pessoas nas mesmas localidades
onde foi aplicada a amostra, os resultados
não deveriam ser muito diferentes dos que
efetivamente foram obtidos com o estudo de
600, se fossem utilizados os mesmos crité-
rios e fossem aplicadas de forma apropriada
as técnicas de amostragem estatística.
Ao dar maior peso ao Paraguai mudam,
muito levemente, os resultados médios do
conjunto dos países da América Latina (em
décimos de ponto percentual) e mudam
um pouco os resultados médios dos países
da sub-região do Mercosul e Chile (dois a
três pontos percentuais), em relação aos que
seriam obtidos se não houvesse ponderação
da amostra. Por tudo que foi mencionado,
supõe-se, que essas mudanças seriam as es-
peradas se tivesse sido realizado um estudo
com 1.200 pessoas.
Na prática, devido às “não resposta, as
amostras válidas são menores do que o total
e diferentes segundo a variável sob conside-
ração. As tabelas do compêndio estatístico
apresentam as amostras totais e as amostras
válidas para a maioria das variáveis que fo-
ram empregadas na análise. Em alguns casos
a porcentagem de não resposta é baixa – por
exemplo, quando se trata de variáveis sócio-
demográfi cas como a idade, sexo ou o nível
educacional do entrevistado. Em outros ca-
sos, porém, a porcentagem de não resposta é
elevada, especialmente quando as perguntas
foram agrupadas para formar os índices em-
pregados na análise de resultados, o que leva
ao tamanho de amostras válidas inferiores.
O Quadro 2 apresenta essa diferença em re-
lação ao Índice de Apoio a Democracia, que
se analisara com detalhe na seção seguinte.
A não consideração da “não resposta
Desde o início da análise decidiu-se não
considerar a não resposta. Os “não sabe e
não responde foram unidos e declarados
Amostra # casos
Número de entrevistas ou tamanho da amostra 18.508
não ponderada (17 países)
Tamanho da amostra ponderada (17 Países) 18.501
Tamanho da amostra ponderada (18 países após a 19.501
inclusão da República Dominicana)
Tamanho da amostra ponderada (18 países após a dupla 20.101
ponderação do Paraguai)
6 Quando o estudo cobria 17 países, o tamanho da amostra consolidada era de 18.508 casos. Incluindo República
Dominicana acrescentaram-se mais 1.000 registros.
quadro 1
TAMANHO DA AMOSTRA DO ESTUDO
224
A democracia na América Latina
como missing (valores faltantes). Isso tam-
bém foi feito no cálculo das tendências em
relação à democracia no cálculo do Índice
de Apoio à Democracia (IAD). Nesse caso,
para efeitos de análise, é necessário suprimir
a “não resposta, para não serem levantadas
hipóteses sobre as atitudes das pessoas que
se encontram nessa categoria.
A decisão adotada é conseqüente e con-
sistente com o conteúdo total dos textos.
Para realizar as análises multivariadas e a
construção de índices complexos, a não
consideração da não resposta como alter-
nativa foi sistemática.
Para evitar a indução ao erro da não con-
sideração da “não resposta, para todos os
resultados inclui-se o tamanho da amostra
em que estão baseados, ou amostra efetiva
(“n de respostas válidas). Dessa maneira,
sempre é possível a reconstrução dos valores
originais e a dedução do volume de “não
resposta.
Apresentação de resultados
No texto principal do Relatório, as
porcentagens de quadros e gráfi cos são das
amostras válidas e não das amostras totais.
Em todos os casos, foi incluído o tamanho
da amostra na qual se basearam, ou amostra
efetiva, e por isso sempre é possível a recons-
trução dos valores originais e deduzir assim
o volume da não resposta.
No caso dos quadros e gráfi cos referidos
ao IAD e aos modos de participação dos
cidadãos, a amostra válida inclui os casos
resgatados através do procedimento descri-
to no texto metodológico respectivo (Kikut,
Gómez y Vargas, 2003: 13-16). São excluídos
os valores que faltam, ou não resposta (não
sabe e não responde). A exclusão da “não
resposta dos resultados na análise dos
dados é necessária com a fi nalidade de não
fazer suposições sobre as atitudes das pesso-
as que se encaixaram nessa categoria e que
poderiam ter infl uência sobre os resultados
das análises multivariadas e na construção
de índices.
O método de medição do apoio
cidadão à democracia mais
amplamente utilizado e suas
fragilidades
Na pesquisa Latinobarômetro foi usada
uma pergunta para acompanhar a lealdade
das cidadãs e dos cidadãos latino-america-
nos em relação à democracia
7
. A pergunta
diz:
Com qual das seguintes frases o(a)
senhor(a) está mais de acordo?
1.A democracia é preferível a qualquer
outra forma de governo.
2.Em algumas circunstâncias, um go-
Argentina 1.200 964 19,7
Bolívia 1.242 886 28,7
Brasil 1.000 663 33,7
Colômbia 1.200 768 36,0
Costa Rica 1.006 808 19,7
Chile 1.188 873 26,5
Equador 1.200 938 21,8
El Salvador 1.014 577 43,1
Guatemala 1.000 703 29,7
Honduras 1.005 747 25,7
México 1.210 1.031 14,8
Nicarágua 1.016 833 18,0
Panamá 1.010 794 21,4
Paraguai 1.200 1.011 15,8
Peru 1.224 856 30,1
Rep.Dominicana 1.000 909 9,1
Uruguai 1.187 926 22,0
Venezuela 1.200 928 22,7
América Latina 20.101 15.217 24,3
País Amostra total Índice de apoio
à democracia
Amostra válida* % não resposta*
* Após o resgate de casos através dos procedimentos indicados nos seguintes documentos: Kikut,
Gómez e Vargas Cullell, 2003ª; 2003; Vargas Cullell e Kikut, 2003.
** Os valores para a região são diferentes da soma dos totais por país, isto é devido a necessidade
de arredondar os totales ponderados, feito automaticamente pelo programa estatístico
Fonte: Compêndio estatístico
7 Em círculos acadêmicos, políticos e jornalísticos essa pergunta é tratada como uma medida-resumo do apoio
cidadão à democracia e, indiretamente, da “saúde” da democracia; ano após ano seus resultados são observados
com especial atenção.
AMOSTRAS TOTAIS E AMOSTRAS VÁLIDAS PARA O ÍNDICE
DE APOIO A DEMOCRACIA EMPREGADO NA ANÁLISE DO
LATINOBARÔMETRO
quadro 2
225
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
verno autoritário pode ser preferível a um
democrático.
3.Para pessoas como nós, dá no mesmo
um regime democrático e um não demo-
crático.
Assim, as pessoas que escolhem a res-
posta 1 (“a democracia é preferível”) são as
que apóiam a democracia; as que escolhem
a resposta 2 são as que apoiariam sua subs-
tituição por um sistema autoritário e as que
selecionam a resposta 3 têm um comporta-
mento ambivalente, potencialmente proble-
mático. Se, ao longo do tempo, a freqüência
da resposta 1 aumenta, supõe-se que o apoio
à democracia aumenta; se diminui, o apoio
declina. A melhor situação para a democra-
cia de um país seria aquela em que quase
todos os entrevistados escolhem a resposta 1
e, por outro lado, a pior seria aquela em que
a maioria se inclina pela resposta 2.
A pergunta – codifi cada na pesquisa La-
tinobarômetro com a chave P32ST - foi cri-
ticada como medida do apoio à democracia
8
(Seligson, 2000). Não obstante, é útil como
ponto de entrada no tema, pois as pessoas
adotam uma posição, prima facie, em rela-
ção à sua idéia de democracia. Embora a
pergunta P32ST seja um ponto de entrada
útil, como medida-resumo inicial, para o
tema da lealdade cidadã em relação à demo-
cracia, isso não signifi ca que, por si só, seja
sufi ciente para um tratamento mais profun-
do do apoio cidadão, ou uma boa medida
indireta da “saúde” da democracia.
Quando se relaciona a pergunta P32ST
com outras que medem o apoio ou a acei-
tação de regras democráticas, surgem resul-
tados que, à primeira vista, podem parecer
inesperados ou simplesmente inconsisten-
tes. Uma signifi cativa proporção das pessoas
que dizem apoiar a democracia demonstra,
8 Seligson argumenta que, ao não especifi car a idéia de democracia que as pessoas possuem, a pergunta P32ST
tem um componente de indeterminação. Propõe explorar o apoio ao sistema mediante uma bateria alternativa
de perguntas (Seligson, 2000). Embora sua observação coloque a necessidade de manter uma atitude cautelosa
na interpretação dos resultados, sua crítica não invalida necessariamente a pergunta como ponto de entrada para
o exame do apoio cidadão à democracia. A debilidade indicada por Seligson pode ser resolvida examinando a
pergunta P32ST em relação a outras do mesmo Latinobarômetro, em particular às perguntas P30ST (“Para o(a)
senhor(a), o que signifi ca democracia?”) e P31ST (“As pessoas, freqüentemente, diferem em seus pontos de vista
sobre as características mais importantes da democracia. Da lista, escolha só uma característica que para o(a)
senhor(a) seja a mais essencial em uma democracia”).
P28UA Com que o presidente não se limite às leis 38.6
P28UB Com que o presidente imponha ordem pela força 32.3
P28UC Com que o presidente controle os meios de comunicação 32.4
P28UD Com que o presidente deixe de lado o Congresso e os partidos 32.9
P38STB Não me importaria que um governo não democrático chegasse 44.9
ao poder, se resolvesse os problemas do país
Pergunta O(A) senhor(a) está de acordo...? Porcentagem que apóia
sistema democrático e
que está de acordo com…
Notas:
Não foram incluídas respostas NS/NR.
No caso das pessoas que manifestam apoiar um sistema democrático, foram somadas as respostas “em desacordo” e “muito em
desacordo” com cada uma das afi rmações.
PROPORÇÃO DE PESSOAS QUE APÓIAM A DEMOCRACIA COM RESPOSTAS
“INESPERADAS” EM RELAÇÃO AO APOIO A MEIOS AUTORITÁRIOS PARA RESOLVER
PROBLEMAS
quadro 3
P32ST
226
A democracia na América Latina
ao mesmo tempo, atitudes contrárias ao
funcionamento de instituições básicas da de-
mocracia (como o Congresso e os partidos)
e apóia a governantes que utilizarem meios
autoritários para resolver os problemas do
país. Respostas igualmente “inesperadas”
surgem quando se examina o apoio declara-
do à democracia em relação a, por exemplo,
a avaliação da democracia como um bom
sistema de governo, ou sua prioridade dian-
te de outros valores socialmente relevantes,
como na alternativa entre desenvolvimento
e democracia (quadros 3 e 4).
Ante essas respostas inesperadas, podem
ser adotadas, basicamente, duas posições.
Por um lado, podem ser empregadas como
evidência para argumentar a veleidade do
apoio declarado a um regime. Se a prefe-
rência pela democracia é apenas retórica, a
pergunta P32ST como medida da lealdade
cidadã ao regime teria que ser desprezada,
devido a seu escasso interesse analítico. Seria
preciso, então, procurar outras variáveis que
evidenciem comportamentos mais estáveis.
Na opinião deste estudo, tal posição é equi-
vocada. Implica não apenas assumir que as
respostas inesperadas são sempre o refl exo
de atitudes inconsistentes, o que não é, ne-
cessariamente, verdadeiro, mas também que
o inesperado não faz parte do nosso estudo.
Em sentido contrário à posição anterior,
as respostas inesperadas podem ser em-
pregadas como ponto de partida para um
estudo das lealdades cidadãs à democracia.
Se esse fosse o caso, a pergunta P32ST, que
indaga sobre o apoio “em geral” à democra-
cia, deveria ser analisada em relação a outras
perguntas que exploram dimensões mais
concretas desse apoio, com o objetivo de de-
terminar se as respostas “inesperadas” obe-
decem a atitudes meramente inconsistentes
das cidadãs e dos cidadãos ou se, vistas em
seu conjunto, revelam padrões de opinião.
Em princípio, a idéia seria examinar se é
possível distinguir os setores que consisten-
temente têm atitudes democráticas, tanto
em termos gerais quanto em assuntos espe-
cífi cos, daqueles que demonstram atitudes
pró-autoritárias. Esta segunda posição é a
adotada no Relatório.
Do ponto de vista indutivo, explorar a
inter-relação entre variáveis coloca a ne-
cessidade de contar com um conceito que
permita estudar se as atitudes de apoio ou
rejeição ao regime democrático confi guram
posições determinadas. Este conceito deve-
ria ser também uma ferramenta que -adap-
tando o enfoque de Linz- possibilitasse a
análise da vulnerabilidade das democracias
latino-americanas. Para cumprir ambos os
ns, defi ne-se o conceito de “tendências em
relação à democracia.
Cabe colocar um último comentário
sobre a fonte de informação disponível. O
estudo das tendências em relação à demo-
cracia na América Latina utiliza informação
proveniente de uma pesquisa de opinião
pública. Embora trate-se de um material va-
Pergunta 32ST
Pergunta 35ST Porcentagem que apóia
sistema democrático e que
está de acordo com…
Democracia mais importante 32.8
Ambas por igual 20.7
Desenvolvimento mais importante 46.4
PROPORÇÃO DE PESSOAS QUE APÓIAM A DEMOCRACIA COM RESPOSTAS
“INESPERADAS” EM RELAÇÃO A SUA AVALIAÇÃO SOBRE A OPÇÃO ENTRE
DEMOCRACIA E DESENVOLVIMENTO
quadro 4
Nota:
Não foram incluídas respostas NS/NR.
227
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
lioso, deve-se lembrar que, às vezes, as opini-
ões refl etem apenas de maneira aproximada
o pensamento das pessoas. Os indivíduos
podem encobrir seus verdadeiros pontos
de vista; as perguntas e escalas de medição
podem ter defeitos que impedem cumprir o
m para o qual foram elaboradas e, mesmo
quando as e os entrevistados respondem
com honestidade e as perguntas funcionam
bem, o que as pessoas respondem não refl ete
necessariamente os valores e as crenças que
guiarão suas reações diante de situações
concretas.
II- O IAD e as tendências em relação
à democracia
O Índice de apoio à democracia (IAD),
elaborado para o Relatório, é a medida-re-
sumo para estudar o respaldo dos cidadãos
à democracia
9
. Combina os indicadores de
tamanho, ativismo político e distância das
tendências para a democracia. É a alterna-
tiva metodológica á análise deste tema base-
ado na leitura de variáveis separadamente
10
.
Essa seção inicia-se com uma descrição do
procedimento e provas aplicadas para deter-
minar essas tendências e depois descreve o
IAD e seus componentes.
As tendências para a democracia são
posições de apoio ou rejeição à democracia,
identifi cadas a partir de um conjunto de ati-
tudes sobre a preferência pela democracia e
a aceitação das normas em que está baseada.
Este conceito – e os indicadores e índices
elaborados pelo Relatório – surgem de uma
adaptação da teoria de Juan Linz sobre a
falência das democracias (Linz, 1978).Linz
diz que, em relação com a permanência ou
substituição de um regime democrático,
podem ser encontrados entre os cidadãos
três posicionamentos: as forças políticas
leais ao sistema; as desleais, que procuram
derrubá-lo, e as semi-leais, que têm atitudes
ambivalentes e contraditórias. Estabelece,
também, as condições propícias para a que-
bra da democracia; afi rma que uma crise do
regime derruba uma democracia quando os
desleais são capazes de atrair para as suas
posições os semi-desleais. As tendências
para a democracia conservam o signifi cado
dos posicionamentos de Linz (leal, semi-leal
e desleal). Para facilitar o entendimento da
análise, por parte dos leitores não especia-
lizados, as tendências foram rebatizadas da
seguinte maneira: os leais foram chamados
democratas”; os semi-leais, “ambivalentes”
e os desleais, “não-democratas.
A análise das tendências procura respon-
der as seguintes perguntas: existe entre os
cidadãos latino-americanos uma corrente
de opinião contrária à democracia, que
pode constituir base de apoio social de uma
força política desleal”? Qual é a extensão
dessa corrente de opinião frente à que apóia
a democracia? Quem são os mais ativos na
vida política do país: os que se opõem ao sis-
tema ou os que o apóiam? Qual a dimensão
do segmento com atitudes ambivalentes?
Do ponto de vista de suas atitudes, estão os
ambivalentes mais perto dos que se opõem
ao sistema? Como varia o tamanho da base
social destas correntes de opinião?
O conceito de tendências para a demo-
cracia não é, porém, idêntico ao dos posi-
cionamentos políticos de Linz. Em primeiro
lugar, Linz estuda situações históricas para
tirar daí uma teoria comparativa. As tendên-
cias são uma ferramenta para chegar perto
do tema da vulnerabilidade da democracia
diante da eventualidade de uma crise do
regime, e estuda o apoio que os cidadãos
9 Na elaboração do IAD foi buscada a coerência com o conceito amplo de democracia defendido pelo Relatório (a
democracia é muito mais que um regime político). De fato, as perguntas consideradas para determinar as tendên-
cias das pessoas sobre a democracia, que é a base do IAD, incluem tanto atitudes sobre a democracia como regime
político e suas instituições políticas representativas, fazendo referência, segundo Mazzuca, à dimensão do exercício
do poder, como sobre a democracia além do regime político ou dimensão do exercício do poder.
A leitura de freqüências simples de variáveis foi o ponto de entrada para a análise, mas não são seu fundamento.
To da pergunta deve ser contextualizada, examinada em relação a outras, para ter uma melhor aproximação ao
signifi cado dos dados. Do contrário, há o risco de formular interpretações baseadas na “espetacularidade” ou a
conveniência de um dado. Evitar esse risco é justamente um dos propósitos da análise das tendências.
228
A democracia na América Latina
Pergunta p32st: Com qual das seguintes frases o/a senhor(a) está mais de acordo?
“A democracia é preferível a qualquer outra forma de governo ”,“Em algumas
circunstâncias, um governo autoritário pode ser preferível a um democrático
”,“Para pessoas como nós, dá na mesma um regime democrático que um não
democrático ”.
Pergunta p35st: Se o/a senhor(a) tivesse que escolher entre a democracia e o desenvolvimento
econômico, qual diria que é o mais importante?
Pergunta p37no2: O/A senhor(a) acha que a democracia é indispensável como sistema de
governo para que este país possa ser um país desenvolvido?, ou O/A senhor(a)
acha que não é indispensável; é possível chegar a ser um país desenvolvido
com outro sistema de governo que não seja a democracia?
Pergunta p38stb: Está totalmente de acordo, de acordo, em desacordo ou totalmente em
desacordo com a seguinte afi rmação: “Não me importaria que um governo não
democrático chegasse ao poder, desde que pudesse resolver os problemas
econômicos”.
Pergunta p39st: Algumas pessoas dizem que sem Congresso Nacional não pode haver
democracia, enquanto outras dizem que a democracia pode funcionar sem
Congresso Nacional. Qual frase está mais próxima de sua maneira de pensar?
Pergunta p40st: Algumas pessoas dizem que sem partidos políticos não pode haver
democracia, enquanto outras dizem que a democracia pode funcionar sem
partidos. Qual dessas frases está mais próxima de sua maneira de pensar?
Pergunta p41st: Algumas pessoas dizem que a democracia permite que os problemas que
temos no país sejam solucionados. Outras pessoas dizem que a democracia
não soluciona os problemas. Qual dessas frases está mais próxima de sua
maneira de pensar?
Pergunta p28ua: Se o país estiver em sérias difi culdades, está totalmente de acordo, de acordo,
em desacordo ou totalmente em desacordo com que o presidente …“não se
limite ao que dizem as leis ”?
Pergunta p28ub: Se o país estiver em sérias difi culdades, está totalmente de acordo, de acordo,
em desacordo ou totalmente em desacordo com que o presidente …“imponha
ordem por meio da força ”?
Pergunta p28uc: Se o país estiver em sérias difi culdades, está totalmente de acordo, de acordo,
em desacordo ou totalmente em desacordo com que o presidente …“controle
os meios de comunicação ”?
Pergunta p28ud: Se o país estiver em sérias difi culdades, está totalmente de acordo, de acordo,
em desacordo ou totalmente em desacordo com que o presidente …“deixe de
lado o Congresso e os partidos ”?
ONZE PERGUNTAS EMPREGADAS PARA IDENTIFICAR AS TENDÊNCIAS EM
RELAÇÃO À DEMOCRACIA
quadro 5
Fonte: Latinobarômetro 2002.
229
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
lhe dão. Em segundo lugar, as tendências
identifi cam os padrões de atitudes dos ci-
dadãos e das cidadãs, mas não possibilitam
uma observação direta do comportamento
desses atores.
O ponto de partida para a identifi cação
das tendências para a democracia foi a re-
visão do questionário do Latinobarômetro
2002. Foram aplicadas sucessivas análises
fatoriais a um amplo conjunto de perguntas
para medir, em princípio, atitudes sobre a
democracia, o desenvolvimento, os valores
e a confi ança interpessoal. O propósito foi
identifi car as perguntas diretamente relacio-
nadas com o tema das atitudes de apoio à
democracia
11
. Esse processo permitiu sele-
cionar onze perguntas (quadro 5).
Em todas as análises, as perguntas
selecionadas foram agrupadas consistente-
mente em ts fatores (Quadro 6). O fator
1 forma a dimensão de atitudes delegativas.
Explica um 23.5% de varncia. O fator 2
compõe a dimeno de apoio à democra-
cia como sistema de governo (16.5% da
variância), e o fator 3 está localizado em
uma dimensão de apoio a instituões da
democracia representativa (13.8% da va-
riância). A variância explicada acumulada
foi de 53.8%
12
. As provas de confi abilidade
mostraram que não era conveniente usar
índices de adição derivados das dimenes
geradas pela análise fatorial, e por isso foi
usado de maneira independente com cada
uma das variáveis.
A técnica selecionada para determinar a
localização dos entrevistados e entrevistadas
em uma ou outra tendência para a democra-
cia, foi a análise de conglomerados e clusters.
11 O coefi ciente de Kaiser-Meyer-Olkin de adequação da amostra para as onze variáveis foi de 0,77, considerado
apropriado para sua utilização em uma análise fatorial .
12 A agrupação das onze variáveis de interesse nos três fatores indicados cumpre com o método Kaiser-Guttman
(“eigenvalores” maiores que um), se bem que a variância explicada por eles não é particularmente alta. São
determinadas as porcentagens obtidas no fatorial aplicado com as variáveis de interesse –sem incluir o resto das
variáveis inicialmente consideradas.
Atitudes Presidente além das leis 0.74
delegativas Presidente imponha ordem pela força 0.81
Presidente controle a mídia 0.80
Presidente deixe de lado partidos e Congresso 0.77
Apoio à Preferência por democracia 0.67
democracia como Democracia ou desenvolvimento 0.58
sistema de governo Democracia indispensável para desenvolvimento 0.69
Não importa governo autoritário se resolver 0.48
problemas
Democracia soluciona problemas 0.57
Apoio a Democracia sem Congresso 0.84
instituições Democracia sem partidos 0.85
representativas
Variância explicada 23.5% 16.5% 13.8%
Dimensão Pergunta Fator 1 Fator 2 Fator 3
Nota: Estão incluídas apenas cargas fatoriais maiores de 0.450.
Fonte: Elaboração própria com base no Latinobarômetro 2002.
CARGAS FATORIAIS PARA ONZE PERGUNTAS DE INTERESSE NA DETERMINAÇÃO
DE TENDÊNCIAS PARA A DEMOCRACIA.
quadro 6
230
A democracia na América Latina
Essa é uma ferramenta exploratória utiliza-
da com a fi nalidade de resolver problemas
de classifi cação, já que contribui para revelar
associações e estruturas presentes nos dados
que não são observáveis previamente. Seu
objetivo é atribuir os casos a grupos, deno-
minados clusters, de forma que os membros
de um mesmo grupo sejam similares entre
si quanto às características selecionadas,
enquanto que os membros de diferentes
grupos sejam relativamente diferentes.
A análise de conglomerados pode ser
realizada de diversas maneiras, dependen-
do da medida de similaridade e do método
empregado. Neste caso, devido à magnitude
da base de dados disponível, foi calculada a
distância euclidiana como medida de simi-
laridade e foi utilizado o método de partição
de k-médias. Este procedimento requer que
o pesquisador determine a priori o número
(k) de conglomerados que deseja obter
13
a
teoria de Linz permitiu defi nir k = 3. Em
geral, é desejável fundamentar o número
de conglomerados em uma teoria existente,
porque isso permite descrever cada um deles
e, especialmente, contar com elementos de
juizo para entender suas implicações.
O método selecionado de k-médias deve
estar orientado para a classifi cação de variá-
veis quantitativas. As onze perguntas utiliza-
das na determinação das tendências para a
democracia têm uma escala de medição que
não chega a alcançar o nível de intervalo.
Entretanto, todas elas evidenciam uma clara
direcionalidade relacionada com a atitude
para a democracia das pessoas entrevistadas.
Por isso, julgou-se apropriado empregar este
método. Com essa fi nalidade, as variáveis fo-
ram recodifi cadas para dar às suas escalas de
medição um mesmo nível e direção. Poste-
13 O algoritmo de análise de clusters encontrará grupos uma vez que tenham sido defi nidas as variáveis que
entrarão em jogo e se tenha estabelecido a instrução do número de clusters que se deseja obter. É importante,
então, contar con um modelo que respalde a identifi cação desses grupos e depois validar seus resultados teórica e
empiricamente, de acordo com as características dos indivíduos atribuídos a cada um deles.
Atitudes Presidente além de leis .511 -0.707 -0.004 3.09 2.01 2.63
delegativas Presidente imponha ordem pela força .609 -0.816 -0.010 3.25 1.97 2.68
Presidente controle a mídia .582 -0.812 0.037 3.26 2.01 2.77
Presidente deixe de lado partidos e Congresso .612 -0.755 -0.107 3.25 1.99 2.58
Apoio à Preferência por democracia .464 0.080 -0.772 3.72 3.28 2.29
democracia Democracia ou desenvolvimento .345 -0.017 -0.438 2.47 2.00 1.47
como sistema Democracia indispensável para desenvolvimento .455 0.383 -1.090 3.83 3.75 1.78
de governo Não importa governo autoritário se .514 -0.268 -0.416 2.88 2.17 2.02
resolver problemas
Democracia soluciona problemas .274 0.326 -0.691 3.07 3.15 1.64
Apoio a instituições Democracia sem Congresso .379 0.006 -0.595 3.38 2.87 1.98
representativas Democracia sem partidos .372 0.029 -0.572 3.32 2.85 1.94
Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3 Cluster 1 Cluster 2 Cluster 3
Positivo Central Negativo Positivo Central Negativo
Dimensão Pergunta Centróides padronizados Centróides sem padronizar
Nota: em todas as variáveis, o nível da escala é de 1 (atitude mais contrária à democracia) e 4 (atitude mais favorável à democracia). As perguntas da dimensão do apoio
a instituições representativas são binárias e isso lhes diminui poder de discriminação.
CENTRÓIDES OBTIDOS PARA CADA UMA DAS VARIÁVEIS RELACIONADAS COM DEMOCRACIA, POR
CLUSTER IDENTIFICADO
quadro 7
231
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
riormente, as respostas recodifi cadas foram
aplicadas na análise de conglomerados
14
.
As provas de estabilidade e confi abilidade
dos clusters deram resultados satisfatórios.
Por uma parte, diferentes ordens da base de
dados deram variações muito pequenas nos
centróides das onze variáveis: 50% tinham
desvios padrão menores que 0,03. Por ou-
tra parte, para assegurar que os resultados
sejam confi áveis, foi estimada a média de
42 resultados, com a fi nalidade de utilizar
essa informação como os centróides ini-
ciais que se proporcionam ao algoritmo da
análise de conglomerados
15
. Além disso, foi
desenhada uma metodologia para resgatar
os casos com uma ou duas respostas que
faltavam, o que permitiu elevar de 12.020
a 14.308 os casos habilitados para o estudo
(74,9% da amostra total).
O cluster 1 é consistentemente positivo
em seus valores padronizados, por isso po-
demos dizer que os indivíduos localizados
neste grupo têm uma tendência democrata.
O cluster 2 pode considerar*se como de pes-
soas ambivalentes, pois tende a apresentar
valores positivos nas dimensões de apoio
à democracia e de apoio às instituições da
democracia representativa, mas valores
negativos na dimensão de atitudes dele-
gativas. Por último, o cluster 3 apresenta
centróides negativos em dez das variáveis,
sendo o único valor positivo muito próxi-
mo de zero, por isso podemos afi rmar que
as cidadãs e os cidadãos classi cados neste
grupom uma tendência não-democrata
(Quadro 7).
Com o propósito de verifi car a impor-
tância das diferenças das médias dos conglo-
merados nas variáveis empregadas para de-
ni-los, foi usada uma análise de variância
por cluster. Foi feito um estudo post hoc com
a prova de Scheffé a 5% de signifi cância
16
. O
resultado foi que as diferenças são signifi ca-
tivas para as onze variáveis nos três conglo-
merados. Isto é, todas as perguntas incluídas
na análise são úteis para diferenciar os três
grupos.
O agrupamento da análise de conglo-
merados foi validado por meio da análise
discriminante. Com este objetivo, tomou-
se uma amostra alearia de aproximada-
mente 30% dos dados, à qual foi dada infor-
mação sobre os grupos de pertinência dos
casos, de acordo com o obtido nos clusters.
Com base nisso, foram obtidas as funções
discriminantes, as quais foram aplicadas
aos demais 70% dos casos para determinar
em que grupos se localizariam. Em 30%
da amostra utilizada, 93,4% dos dados
foram localizados corretamente no grupo
designado pela análise de conglomerados
baseada nas funções discriminantes gera-
das. Em 70% dos dados empregados para
validação, obteve-se que 92,6% dos casos
foram atribuídos corretamente. Foi obtida
uma atribuição certeira da amostra global
de 92,9%. Pode-se dizer que tal percentual
é alto e determina a validade da agrupação
14 Zhexue Huang (1997) indica que “o procedimiento habitual de converter dados categóricos em valores
numéricos não necessariamente produz resultados interpretáveis naqueles casos em que os domínios categóricos
não estão ordenados”. Porém, tal como se ha mencionado, neste caso os dados têm um sentido e, como veremos
posteriormente, os resultados são relevantes.
15 É importante indicar que, uma vez introducidos os centroides iniciais, o resultado da análise de clusters não
varia diante de diferentes ordens da base de dados.
16 Quando, ao fazer uma análise de variância, se rejeita a hipôtese nula, se aceita que pelo menos uma das
médias dos grupos é diferente. Para conhecer a relação entre essas médias e determinar qual o quais são
diferentes e quais são iguais entre si, se utilizam os procedimentos post hoc. Este tipo de técnica é empregada
para provar as diferentes entre os dados comparando todos os possíveis pares de médias, com a fi nalidade de
determinar aquelas que são diferentes.
Existe uma ampla variedade de provas post hoc. A proposta por Scheffé é útil para provar a signifi cancia de todos
os possíveis pares de médias e é a recomendada quando se compara grupos com diferente número de casos,
como ocorre neste exercício (Steel e Torrie, 1996).
232
A democracia na América Latina
feita pela análise de conglomerados
17
.
As três dimensões do IAD
O Índice de Apoio à Democracia (IAD) é
uma medida-resumo do apoio dos cidadãos
à democracia. É elaborado a partir da atri-
buição das pessoas a cada um dos clusters
que identifi cam as três tendências em rela-
ção à democracia. Combina três dimensões
que respondem às seguintes questões:
Qual é o tamanho de cada uma das
tendências em relação à democracia na
cidadania?. A melhor situação para uma
democracia é aquela em que a tendência
democrata agrupa a maioria dos cidadãos e
das cidadãs.
Qual é o grau de ativismo político das
tendências? A melhor situação para uma de-
mocracia é aquela em que a orientação de-
mocrata é não apenas a de maior tamanho,
mas, também, a mais ativa.
Qual é a distância ou a magnitude das
diferenças de opinião entre as tendências. O
ponto crítico é determinar se, em termos
gerais, os ambivalentes estão mais perto da
tendência democrata ou da não-democrata.
A melhor situação é aquela em que a distân-
cia entre os ambivalentes e os democratas é
bem menor do que a existente entre os pri-
meiros e os não-democratas.
Os indicadores e índices de apoio dos
cidadãos são escalas de intervalo. Não têm
zero absoluto; os valores expressam uma
maior ou menor proximidade em relação
a uma situação, mas não expressam propor-
ções. Por serem ferramentas em processo de
depuração, não há critérios para categorizá-
las e criar escalas de intensidade.
Dimensão Descrição
Participação eleitoral PE 0 = Não vota
1 = Vota
Participação social PSO 0 Não colabora
1 Colabora em ao menos 1 atividade
Participação contatando autoridades PCO 0 = Não contata
1 = Contata ao menos a 1 autoridade
Participação em manifestações coletivas PMC 0 = Não participa
1 = Participa em ao menos 1 manifestação
coletiva
Participação violenta PVI 0 = Não participa
1 = Participa em ao menos 1 ato violento,
independentemente de 0
ou 1 no resto
Essas dimensões não podem ser hierarquizadas sem recorrer a premissas adicionais. Os números 0 e 1 são empregados para
denotar a presença ou ausência de atividade.
PROCEDIMENTO APLICADO PARA DETERMINAR OS MODOS DE PARTICIPAÇÃO
CIDADÃ
quadro 8
17 A totalidade dos casos usados pela análise discriminante se reduz até 12.020 pessoas que responderam as
onze perguntas de interesse , pelo que esta análise se materializa unicamente com aqueles casos que têm toda a
informação. Não se esperariam grandes diferenças na situação daqueles dados resgatados” por ter uma ou duas
perguntas sem resposta, em virtude de se haver comprovado que o perfi l desses indivíduos não difere muito do
das pessoas para as quais se tinham valores para as onze variáveis relevantes.
233
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
18 Existem outros dois indicadores de tamanho cujos resultados são comentados no Relatório, mas que
não foram empregados pelo IAD. O primeiro é o indicador de maioria democrática. Este indicador indica a
proporção de democratas em relação ao resto (ambivalentes e não-democratas) e determina se os democratas
constituem ou não uma maioria. O indicador é igual ou maior que 1 quando a proporção de democratas é igual
ou superior a 50% da cidadania. O segundo indicador é o tamanho relativo da tendência democrata em relação
à tendência ambivalente. Quando tem valores maiores que 1, indica que os democratas são mais numerosos que
os ambivalentes.
19 Esta idéia foi adotada da análise fi nanceira, na qual existe um indicador denominado “prova ácida. Este
determina, em curto prazo, a vulnerabilidade de uma empresa, ou seja, se ela tem capacidade para pagar suas
dívidas de curto prazo. É defi nida como a razão entre o ativo circulante e o passivo circulante.
Primeira dimensão: tamanho de uma
tendência
Por tamanho de uma tendência em rela-
ção à democracia, entende-se a quantidade
de pessoas que pertencem a um cluster. Para
medir essa dimensão, o IAD emprega o in-
dicador de proporção de democratas com
relação aos não-democratas
18
. Este indica-
dor ilustra uma situação crítica: se, mesmo
sendo minoria, a tendência democrata é ou
não de maior tamanho que a não-democra-
ta, sua adversária “natural”
19
.
(1) Proporção democratas para
não-democratas = Qd / Qnd
onde Qd = número de pessoas com ten-
dência democrata; Qnd = número de pesso-
as com tendência não-democrata.
Quando em um país ou sub-região os
democratas são mais numerosos que os não-
democratas – uma condição minimamente
desejável – o indicador assume um valor
superior a 1. A pior situação ocorre quando
esses indicadores têm um valor inferior a
1 e próximo de 0. Existem, por outro lado,
diversas situações de equilíbrio político que
apresentam valores próximos de 1.
Segunda dimensão: ativismo político
das tendências
Por ativismo de uma tendência em rela-
ção à democracia, entende-se a proporção
de seus membros que participa ativamente
na vida política do país. Uma tendência é
mais ativa quanto maior for a proporção dos
cidadãos participativos que a compõem.
Nessa dimensão, foi aplicado um proce-
dimento composto de dois passos. O primei-
ro é a determinação do ativismo político de
cada tendência. O IAD toma essa informa-
ção da variável “Modo de participação dos
cidadãos” (MPC). Essa variável distingue os
diferentes tipos de intervenção das pessoas
na vida social e política de um país e permi-
te elaborar diversas classifi cações conforme
o interesse do pesquisador.
Os “Modos de participação dos cida-
dãos” (MPC) são os tipos de intervenção
que os cidadãos e cidadãs praticam na
vida social e política. Um modo descreve
um perfi l característico de atividades de
um cidadão. Reconstrói-se examinando as
coisas que as pessoas fazem nas diversas di-
mensões de participação cidadã. Esta é uma
classifi cação nominal cujas categorias não
foram planejadas pensando em ordená-las
com base em um critério que permita hie-
rarquizá-las; Dessa forma, a ordem de sua
Nome Descrição
Não faz nada Tem 0 em todas as dimensões de
participação cidadã
Só vota 1 em PEL e 0 em PSO, PCO e PMC
Vota e colabora 1 em PEL e PSO; 0 em PCO e PMC.
Só ação política 1 em PCO e PMC; 0 em PEL e PSO
Vota e ação política 1 em PEL, PCO e PMC; 0 em PSO
Colabora e ação política 1 em PSO, PCO e PMC; 0 em PEL
Vota, colabora e ação política 1 em todas as dimensões de
participação cidadã
Participação violenta Qualquer combinação em que a
participação violenta for 1
CLASSIFICAÇÃO DE MODOS DE PARTICIPAÇÃO CIDADÃ
quadro 9
234
A democracia na América Latina
apresentação expressa a aplicação fl exível de
certos critérios
20
.
Classifi cação de modos de
participação cidadã
Desta maneira, Foram diferenciados 8
modos de participação cidadã. Ver quadro 9.
(2)Ativismo (OX) = (QmpcX)/QX
onde: QmpcX = número de pessoas da
tendência “X” que exercem a participação
política além do voto: modos de participa-
ção dos cidadãos onde há estabelecimento
de contatos com autoridades e participação
em manifestações públicas; Qx = número de
pessoas que apóiam a tendência “X”. X pode
ser a tendência democrata, a ambivalente ou
a não-democrata.
O segundo passo é comparar o ativismo
das tendências adversárias – democrata e
não-democrata – e saber qual delas é a mais
ativa. Esse indicador, denominado “ativismo
democrático (AC), é o utilizado para o IAD.
É obtido dividindo o ativismo da tendência
democrata pelo ativismo da tendência não-
democrata.
(3)AC = ativismo D/ativismo ND
onde:AC = ativismo democrático, D =
democratas, ND = não-democratas.
Se a divisão apresentar um valor maior
que 1, os democratas são mais ativos que
os não-democratas, uma situação favorável
para a democracia; se o valor for inferior a
1, os não-democratas são mais ativos do que
os democratas, uma situação pouco conve-
niente; se o resultado for 1, o ativismo dessas
tendências é igual
21
.
Terceira dimensão: distância entre as
tendências
Por distância, entende-se a maior ou
menor diferença de opinião nas atitudes de
apoio ou rejeição à democracia, entre pes-
soas que pertencem a tendências diferentes.
Em cada uma das variáveis que compõem
uma tendência, o indicador examina a afi -
nidade média nas respostas dos membros de
duas tendências. Quanto maior a afi nidade,
menor é a distância, e vice-versa.
O procedimento para incorporar a di-
mensão de distância ao IAD é semelhante
ao empregado para a dimensão do ativismo.
Primeiro calcula-se a distância dos ambiva-
lentes em relação a cada uma das tendências
adversárias. Para calcular a distância entre
duas tendências deve-se obter, para cada
uma das variáveis, o valor absoluto das di-
ferenças entre os centróides (valores médios
padronizados conforme a análise de conglo-
merados) e, depois, somá-los.
(4)Di(Ox/A)=∑|Cxvi – Cavi|
onde: Di=distância, Ox=tendência de-
mocrata ou não-democrata, A=tendência
ambivalente. Cxi=centróide da tendência
democrata ou não-democrata na variável i;
Cavi=centróide da tendência ambivalente
na variável i.
Posteriormente, comparam-se os re-
sultados dos democratas e dos não-demo-
cratas, por meio do indicador de distância
(ID). Esse indicador expressa a distância
média entre as tendências não-democrata
20 Em termos gerais, a ordem de apresentação se inicia com as categorias em que há menor custo pessoal
(investimento de tempo, dinheiro), compromisso e liderança, e se conclui com as categorias que implicam maior
custo pessoal, compromisso e liderança. Ao fi m se acrescenta uma categoria que responde a outros critérios.
21 Existem outras duas situações que não são analisadas: (a) quando o ativismo é similar em todas as tendências
(distribuição uniforme) e (b) quando o ativismo das tendências adversárias (democratas e não-democratas) é
similar e muito superior ao dos ambivalentes. Ambas são situações políticas potencialmente instáveis para uma
democracia, pois os democratas não têm uma vantagem particular.
235
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
e ambivalente como uma proporção da
distância entre as tendências democrata e
ambivalente.
(5)IDD = Di(D/A) / Di(ND/A)
onde: IDD = Distância dos democratas
como proporção da distância dos não-de-
mocratas. Di(D/A) = distância entre tendên-
cias democrata e ambivalente; Di(ND/A) =
distância entre tendências não-democrata e
ambivalente.
Se a divisão apresentar um valor superior
a 1, os ambivalentes estão mais próximos
das posições não-democratas; se o valor
for inferior a 1, os ambivalentes estão mais
próximos dos democratas; se o resultado for
1, existe uma eqüidistância dos ambivalen-
tes com relação às tendências contrárias. Ao
contrário dos indicadores de tamanho e de
ativismo, nos quais os maiores valores a fa-
vor dos democratas apontam para situações
excelentes para a democracia, em matéria de
distância, o ideal é que, entre os ambivalen-
tes e os democratas, a distância seja pequena
(indica atitudes mais afi ns).
A regra de agregação do IAD
O IAD combina o tamanho, o ativismo e
a distância das tendências. No índice, todos
os fatores têm peso igual. Há a necessidade
de uma teoria que hierarquize estes ele-
mentos e de pesquisas prévias que ofereçam
critérios para ponderar a importância de
cada fator. Para não introduzir pressupos-
tos difi cilmente justifi cáveis, escolheu-se a
opção que, de forma mais simples, expressa
a proposta conceitual.
(6) IAD = tamanho [AD] * (Ativismo [AC] /
Distância [ID])
Se em um país a maioria dos cidadãos é
leal à democracia, e estes são mais participa-
tivos que o resto das pessoas e apresentam
uma pequena distância em relação aos
ambivalentes, pode-se concluir que a demo-
cracia tem um respaldo dos cidadãos. Nestas
situações, o IAD apresenta um valor bastan-
te superior a 1. Ao contrário, se em um país
a maioria dos cidadãos é não-democrata, os
não-democratas são mais participativos do
que o resto das pessoas e apresentam uma
pequena distância em relação aos ambi-
valentes, pode-se concluir que o respaldo
à democracia é frágil. Nestas situações, o
índice assume valores muito inferiores a 1 e
próximos de 0. A inferência é que um siste-
ma político com estas características é mais
Quando o IAD assume valores superiores ou próximos a 5, as condições são
muito favoráveis à democracia, isto é, os democratas tendem a ser maioria,
a ser mais politicamente ativos que os adversários e a ter os ambivalentes
muito mais próximos de suas posições.
A situação contrária seria quando as condições tendem a ser desfavoráveis
para a democracia: os não democratas são maioria, estão politicamente
mais ativos e têm os ambivalentes muito próximos de suas posições. Um
valor de 0,15 do IAD corresponderia a essa situação.
Quando o IAD adota valores superiores a 1, mas não muito distante dessa
cifra, a situação tende a ser favorável para a democracia, porém mais
atenuadamente. Em alguma dimensão ou componente do índice, a situação
é desfavorável para a democracia, mas isso é mais que compensado por
resultados favoráveis nas outras dimensões; ou pode ser que nas três
dimensões a situação seja favorável para a democracia, ainda que por
margens relativamente estreitas. Por exemplo, um valor de 1,43 do IAD
resume uma situação na qual os democratas são os mais numerosos (mas
não a maioria), têm os ambivalentes ligeiramente mais próximos de suas
posições, mas são politicamente menos ativos que os não democratas.
O IAD é uma ferramenta que precisa ser refi nada. Seu algoritmo atual,
baseado na hipótese de que os três componentes do IAD são independentes
entre si e têm o mesmo peso, não funciona apropriadamente em certas
situações
22
. Mais pesquisas são necessárias para encontrar respostas
metodológicas válidas aos problemas que a simples formulação do IAD não
pode resolver. Contudo, cabe ressaltar que a observação dos resultados do
IAD em 2002, para os diversos países da América Latina, sugere que, apesar
dessas limitações, o índice não apontou resultados inesperados. Por outro
lado, nenhum dos componentes do IAD teve um comportamento “anômalo
que pudesse introduzir distorções no resultado global do índice.
EXEMPLOS DE SITUAÇÕES E VALORES QUE O IAD ASSUME.
quadro 10
22 Por exemplo, num país em que a quantidade de democratas seja quase a metade dos não democratas (AD=
0,5), os não democratas estejam politicamente mais ativos que os democratas (AC=0,5), mas os ambivalentes
se situem majoritariamente mais perto das posições democratas do que as não democratas (ID=0,2), teria um
IAD=12,5. Esta situação esta longe de ser favorável para a democracia, como resultado do IAD parece sugerir .
Pode que se trate de uma situação pouco provável , porém, certamente, uma que pode acontecer.
236
A democracia na América Latina
vulnerável a uma crise do que um que conte
com um forte respaldo dos cidadãos. Podem
ocorrer diferentes combinações de tamanho,
ativismo e distância, que confi guram situa-
ções intermediárias de força e debilidade da
democracia. Em situações de equilíbrio, o
valor do IAD está por volta do 1.
A interpretação do IAD
Dada a fórmula empregada para calcular
o IAD, os valores do índice podem oscilar
entre 0 e um número extremamente alto
(tende a infi nito em um país onde quase
todos os democratas são participativos e os
poucos ambivalentes estão muito próximos
dessas posições). Neste nível de conheci-
mento sobre o tema, não existem elementos
sufi cientes para padronizar essa variação em
um intervalo que varie, por exemplo, entre
0 e 1, nem para categorizar os valores em
uma escala de intensidade. A padronização
exigiria aplicar procedimentos relativamen-
te sofi sticados sobre a base de pressupostos
adicionais.
A criação de uma escala de intensidade,
além disso, implicaria justifi car os pontos
de corte entre as categorias defi nidas, o que
será possível de realizar quando se dispuser
de mais observações do que as existentes
na atualidade (medição de 18 países em
um ano). Não obstante, a observação do
comportamento do IAD diante de algumas
situações hipotéticas permite realizar um
primeiro exercício de interpretação (Qua-
dro 10)
Validação e confi abilidade do IAD
Não se conhecem estudos prévios que
tenham aplicado esta metodologia para
estudar o respaldo dos cidadãos à demo-
cracia. A análise das tendências em relação à
democracia não pode ser replicada na série
de tempo do Latinobarômetro. Algumas
das variáveis empregadas para a análise
pertencem ao segmento regular do Latino-
barômetro, mas não são incluidas todos os
anos; outras perguntas foram elaboradas
especifi camente para o segmento proprietá-
rio do PNUD na pesquisa; por isso, não há
observações prévias.
Algumas perguntas empregadas para
as tendências têm limitações que infl uem
na medição. As perguntas com escalas de
resposta de duas ou três alternativas não se
ajustam plenamente aos requisitos de uma
análise de conglomerados. Além disso, nes-
sas variáveis, o desvio padrão foi superior ao
das outras variáveis. Essas difi culdades são
particularmente palpáveis no caso das per-
guntas da dimensão de apoio às instituições
da democracia representativa, cujas escalas
de resposta são binárias. Apesar dessas li-
mitações, como foi explicado, os resultados
obtidos foram sólidos.
Efetuou-se uma prova da validade ex-
terna da análise das tendências. Utilizou-se
a pergunta “Estaria disposto(a) a defender a
democracia se ela fosse ameaçada?”, que foi
incluída nos Latinobarômetro 1996 e 1998.
Foram correlacionados os resultados obti-
dos por país com o tamanho das tendências
em 2002. Em geral, em 1996 e 1998, os países
onde mais pessoas estavam dispostas a de-
fender a democracia foram os países onde,
em 2002, havia mais democratas (r = 0,27 e
r = 0,25, respectivamente); a correlação com
a porcentagem de não-democratas é inversa
(r = -0,29 e r = -0,36).
Pressupostos e limitações do IAD
A metodologia proposta baseia-se em
três pressupostos. O primeiro é que as
tendências em relação à democracia são
23 A série de tempo do Latinobarômetro não permite medir a estabilidade das tendências em relação à demo-
cracia. Comparações feitas entre a pergunta sobre a situação econômica do lar e as perguntas sobre a preferência
pela democracia e a satisfação com a democracia, em distintos anos (1996, 1997, 2001 e 2002), apontam que a
preferência pela democracia não varia segundo a boa ou má situação econômica do lar, mas sim de acordo com a
satisfação com seu funcionamento.
237
Nota técnica sobre os índices derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 – A construção do Índice de Apoio à Democracia (IAD)
relativamente estáveis no tempo. Não se
descartam as fl utuações diante do efeito
acumulado, por exemplo, da deterioração
econômica de um país; porém, por tratar-se
de atitudes relacionadas com o apoio difuso
(ou rejeição) à democracia, infere-se que as
variações são menos explícitas do que as que
exibiriam as percepções relacionadas com a
satisfação em relação ao funcionamento das
instituições ou aos resultados econômicos e
sociais do sistema
23
.
O segundo pressuposto consiste em
que, embora as pessoas que pertencem a
uma tendência não constituam, necessa-
riamente, uma força política com capaci-
dades organizativas e condução ideológica
própria, podem chegar a sê-lo no caso de
enfrentar um evento político polarizador
24
.
É preciso lembrar que as tendências não
ajudam a predizer o comportamento das
pessoas em termos da subversão ou defesa
do sistema. Existe uma série de fatores, di-
ceis de determinar a priori, que in uem
sobre a transformação das atitudes em
comportamentos.
Em terceiro lugar, pressupõe-se que,
em matéria de defesa ou oposição ao siste-
ma democrático, os ambivalentes não têm
iniciativa própria. São, portanto, objeto da
disputa entre as tendências democrata e
não-democrata. Além disso, presume-se que
a resistência oferecida pelos ambivalentes,
ainda que de magnitude desconhecida, é a
mesma perante ambas as tendências. Esses
dois pressupostos são uma herança e uma
implicação lógica da proposição de Linz,
que é a fonte de inspiração desta análise.
Quando a questão política do dia é a sobre-
vivência da democracia, não há uma “ter-
ceira via”: ou defende-se ou subverte-se o
regime. No entanto, enquanto a vida política
não enfrenta a alternativa da sobrevivência
ou morte da democracia, esses pressupostos
não serão necessariamente certos. Na prá-
tica, os ambivalentes podem ter iniciativa
política própria sobre um amplo leque de
assuntos, apesar de não formarem uma for-
ça política determinada
25
.
Por último, certas características das
amostragens do Latinobarômetro aconse-
lham prudência na avaliação do IAD, espe-
cialmente em certos países. São desconheci-
dos os efeitos de uma eventual inclusão do
“mundo rural” e dos segmentos urbanos
mais empobrecidos sobre os resultados.
Os dados da pesquisa de opinião utiliza-
dos neste Relatório foram fornecidos pelo
Latinobarômetro, no marco de uma relação
contratual de trabalho e de cooperação com
o PNUD. Em 2002, o Latinobarômetro in-
crementou em um terço seu estudo anual,
com perguntas específi cas solicitadas pelo
PNUD para o presente Relatório. Dentro do
acordo interinstitucional, o Latinobarôme-
tro colocou à disposição do PNUD as séries
de tempo com dados de pesquisas prévias,
que também foram utilizadas como um dos
antecedentes incluídos na base empírica do
Relatório.
24 Por evento político polarizador entende-se uma crise econômica, social ou política, que gere a possibilidade
de substituição do sistema democrático por outro tipo de regime.
25 Estabelecer o perfi l político e social dos ambivalentes é um dos pontos mais importantes deste estudo.
238
A democracia na América Latina
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BM Banco Mundial
BID Banco Interamericano de
Desenvolvimento
CEJA Centro de Estudos de Justiça das
Américas
CEPAL Comissão Econômica para a América
Latina
CELADE Centro Latino-Americano e Caribenho
de Demografi a
CLAD Centro Latino-Americano
de Administração para o
Desenvolvimento
EPIC Coleção Informativa sobre Processos
Eleitorais
FMI Fundo Monetário Internacional
IDEA Instituto para a Democracia e a
Assistência Eleitoral
IPEC Programa Internacional para a
Erradicação do Trabalho Infantil
IPU União Interparlamentar
LASA Associação de Estudos Latino-
Americanos
OCDE Organização para a Cooperação e o
Desenvolvimento Econômico
OEA Organização dos Estados Americanos
OIT Organização Internacional do Trabalho
OMS Organização Mundial da Saúde
ONU Organização das Nações Unidas
PNUD Programa das Nações Unidas para o
Desenvolvimento
SIMPOC Programa de Informações Estatísticas e
Monitoramento do Trabalho Infantil
TI Transparência Internacional
UNESCO Organização das Nações Unidas para a
Educação, a Ciência e a Cultura
UNICEF Fundo das Nações Unidas para a
Infância
UNODC Escritório das Nações Unidas contra a
Droga e o Crime
255
Abreviaturas
Índice de quadros
35 quadro 1
A democracia: uma busca permanente
36 quadro 2
A democracia: um ideal
44 quadro 3
A democracia e a promessa dos direitos cidadãos
45 quadro 4
Declaração Universal de Direitos Humanos
46 quadro 5
Os direitos democráticos
46 quadro 6
A democracia requer mais do que eleições
50 quadro 7
Os alicerces da democracia
52 quadro 8
Cidadania e comunidade de cidadãos
53 quadro 9
A democracia: uma construção permanente
54 quadro 10
Democracia e igualdade
54 quadro 11
Democracia e soberania
55 quadro 12
Uma defi nição de poliarquia
58 quadro 13
Democracia e responsabilidade dos governantes
63 quadro 14
Estado liberal e Estado democrático
64 quadro 15
O Estado: pressuposto da democracia
64 quadro 16
Estado e globalização
68 quadro 17
Os Objetivos de Desenvolvimento do Milênio (ODMs)
70 quadro 18
A democracia: uma tensão entre fatos e valores
71 quadro 19
A informação: uma necessidade básica
76 quadro 20
O índice de democracia eleitoral (IDE)
Uma contribuição à discussão sobre a democracia
85 quadro 21
A petição cidadã perante as instituições públicas
87 quadro 22
Experiências de participação em governos locais
257
Índice de quadros
104 quadro 23
Dimensões da cidadania civil
106 quadro 24
Legislação sobre violência contra a mulher, 2002
107 quadro 25
Povos Indígenas e cidadania
107 quadro 26
A democracia étnica e o multiculturalismo
108 quadro 27
A percepção cidadã sobre a igualdade perante a Lei
110 quadro 28
A petição cidadã ao sistema de administração de justiça
122 quadro 29
Cidadãos pobres e desiguais
123 quadro 30
Dimensões da cidadania social
124 quadro 31
Inserção genuína para os “supranumerários ”
125 quadro 32
O papel da sociedade civil
127 quadro 33
A decência como valor coletivo
127 quadro 34
Disfunções da economia mundial
128 quadro 35
Pobreza e desigualdade: pouca variação signifi cativa
144 quadro 36
Quantos democratas e não-democratas “puros” existem na América Latina?
152 quadro 37
Cidadania de baixa intensidade
153 quadro 38
O Índice de Apoio à Democracia (IAD)
187 quadro 39
O poder dos meios de comunicação
187 quadro 40
Sociedade civil, política e participação
188 quadro 41
A dimensão associativa da democracia
188 quadro 42
Política, partidos e democracia na América Latina
189 quadro 43
A democracia como princípio de organização da sociedade
191 quadro 44
Privatização perversa do Estado
192 quadro 45
A economia e a política
193 quadro 46
Uma economia para a democracia
194 quadro 47
Democracia e Mercado
194 quadro 48
Modelo único de desenvolvimento
A democracia na América Latina
258
196 quadro 49
Quatro vantagens econômicas da democracia
196 quadro 50
Complementaridade entre democracia e mercado
199 quadro 51
Globalização e impotência da política
259
Índice de quadros
Índice de quadros da nota técnica sobre os índices
derivados na análise da pesquisa Latinobarômetro 2002 –
A construção de um Índice de Apoio à Democracia (IAD)
223 quadro 1
Tamanho da amostra do estudo
224 quadro 2
Amostras totais e amostras válidas para o Índice de Apoio a Democracia empregado na
análise do Latinobarômetro
225 quadro 3
Proporção de pessoas que apóiam a democracia com respostas “inesperadas” em
relação ao apoio a meios autoritários para resolver problemas
226 quadro 4
Proporção de pessoas que apóiam a democracia com respostas “inesperadas” em
relação a sua avaliação sobre a opção entre democracia e desenvolvimento
228 quadro 5
Onze perguntas empregadas para identifi car as tendências em relação à democracia
229 quadro 6
Cargas fatoriais para onze perguntas de interesse na determinação de tendências para
a democracia.
230 quadro 7
Centróides obtidos para cada uma das variáveis relacionadas com democracia, por
cluster identifi cado.
232 quadro 8
Procedimento aplicado para determinar os modos de participação cidadã
233 quadro 9
Classifi cação de modos de participação cidadã
235 quadro 10
Exemplos de situações e valores que o IAD assume
A democracia na América Latina
260
39 tabela 1
Democracia, Pobreza e Desigualdade
42 tabela 2
Reformas e Realidades
51 tabela 3
Percepções sobre as razões de descumprimento de promessas eleitorais por parte
dos governantes, 2002.
78 tabela 4
Eleições limpas, 1990-2002
79 tabela 5
Eleições livres, 1990-2002
81 tabela 6
Eleições como meio de acesso a cargos públicos, 1990-2002
85 tabela 7
Experiências no tratamento dado a pessoas que procuraram uma entidade pública
nos últimos 12 meses, 2002
89 tabela 8
A participação eleitoral, 1990-2002
90 tabela 9
Os partidos políticos e a democracia interna, 1990-2001*
91 tabela 10
Cotas para candidatas a cargos parlamentares, 2003
92 tabela 11
Financiamento de partidos e campanhas eleitorais, 2003
93 tabela 12
Cadeiras no congresso ganhas por mulheres, 1990-2003
94 tabela 13
Proporcionalidade na representação via partidos políticos, 1990-2002
95 tabela 14
Poderes formais presidenciais, 2002
96 tabela 15
Poderes judiciários, 2002
98 tabela 16
Organismos especializados de controle, 2002
99 tabela 17
Mecanismos de democracia direta de cima para baixo, 1978-2002
100 tabela 18
Mecanismos de democracia direta de baixo para cima, 1978-2002
101 tabela 19
Indicadores de percepções sobre corrupção, 2002
102 tabela 20
Perfi l das pessoas com diferentes atitudes em relação à corrupção, 2002
103 tabela 21
Redes clientelistas, 2002
108 tabela 22
Percepção sobre a igualdade legal de grupos específi cos, 2002
Índice de tabelas
261
Índice de tabelas
110 tabela 23
Experiência dos cidadãos com o sistema de administração de justiça, 2002
113 tabela 24
Tratados da ONU, da OIT e da OEA: direitos gerais e direitos de categorias de
cidadãos, 2002
114 tabela 25
Direitos dos povos indígenas, 2000
115 tabela 26
Mulheres no mercado de trabalho 1990-2000
115 tabela 27
Incidência do abuso de menores nas diferentes regiões do mundo, 2000
116 tabela 28
Tratados da ONU e da OEA sobre direitos civis fundamentais, 2003
117 tabela 29
Homicídios dolosos na América Latina e em outras partes do mundo, c.2000
118 tabela 30
Recursos fi nanceiros e humanos dedicados ao sistema de administração
de justiça, 2001
119 tabela 31
População carcerária, presos sem condenação e superlotação, 2002
120 tabela 32
Liberdade de imprensa, 2001-2002
120 tabela 33
Morte de jornalistas, 1993-2002
121 tabela 34
Direito ao acesso à informação pública e habeas data, 2002
129 tabela 35
Desnutrição infantil entre 1980 e 2000
130 tabela 36
Analfabetismo em maiores de 15 anos, 1970-2001
131 tabela 37
Mortalidade infantil, 1970-2000
132 tabela 38
Esperança de vida ao nascer, 1970-2000
133 tabela 39
Escolarização primária, secundária e terciária, 1999
133 tabela 40
Qualidade educativa e performance do aluno, 2002
134 tabela 41
Desemprego aberto urbano (taxas anuais médias), 1985-2002
135 tabela 42
Desemprego juvenil (taxas anuais), 1990-2002
136 tabela 43
América Latina: estrutura do trabalho não agrícola, (porcentagens) 1990-2002
136 tabela 44
América Latina: Assalariados que contribuem para a previdência social,
(porcentagens) 1990-2002
137 tabela 45
Cidadania Social: Desigualdade e Pobreza, 2002
139 tabela 46
Fragilidades da preferência pela democracia em relação a outros sistemas
de governo, 2002
A democracia na América Latina
262
Índice de gráfi cos
77 gráfi co 1
Índice de democracia eleitoral (IDE), 1977, 1985, 1990-2002
105 gráfi co 2
Ambiente de negócios, América Latina e Europa Ocidental, 1990-2000
105 gráfi co 3
Direitos dos trabalhadores, América Latina e Europa Ocidental, 1990-2000
126 gráfi co 4
Distribuição da renda na América Latina, 2002
141 gráfi co 5
Perfi l das tendências em relação à democracia, 2002 (1)
143 gráfi co 6
Proporção de pessoas que constituem as tendências em relação à democracia, médias
sub-regionais, 2002
145 tabela 47
Distância entre as tendências em relação à democracia nos diversos temas estudados,
américa latina, 2002
146 tabela 48
Perfi l socioeconômico das pessoa
s segundo sua tendência em relação à
democracia, 2002
148 tabela 49
Perfi l político das pessoas segundo sua tendência em relação à democracia, 2002
150 tabela 50
Perfi l socioeconômico das pessoas segundo modos de participação cidadã, 2002.
159 tabela 51
Aumentou a participação na América Latina?
161 tabela 52
Aumentaram os controles sobre o poder na América Latina?
163 tabela 53
Quem exerce o poder na América Latina? Segundo o ponto de vista dos líderes consultados.
164 tabela 54
Os partidos estão cumprindo seu papel?
173 tabela 55
Problemas a enfrentar para fortalecer a democracia
174 tabela 56
Problemas a enfrentar para fortalecer a democracia, segundo
opinião sobre o estado da democracia em seu país
175 tabela 57
Agenda atual segundo tema
176 tabela 58
Agenda futura segundo tema
263
Conteúdo do CD-ROM incluído no
relatório
Relatório: A democracia na América Latina, rumo a uma democracia de cidadãs e cidadãos.
Anexo I: Compêndio Estatístico
Anexo II: O debate Conceitual sobre a democracia
Livro: “Contribuiciones para el Debate”
Resumo: Idéias e Contribuições.
Conteúdo do CD-ROM (parte integrante do Relatório)
144 gráfi co 7
Democratas, ambivalentes e não democratas segundo sua posição nas escalas de
atitude democrática, América Latina, 2002
154 gráfi co 8
Panorama regional do IAD, 2002
195 gráfi co 9
A agenda dos cidadãos: principais problemas, 2002
197 gráfi co 10
Posição face à intervenção do Estado na economia, 2002
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