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desde o início” (BORRADORI, 2003, p. 53). Mas Quine acredita que é na neurologia,
e não no comportamento, que se deve identificar a razão principal.
O comportamentalismo é indispensável no sentido metodológico, porque
fornece critérios. Se quisermos isolar o mecanismo neurológico, ou então o
dos estados ou dos processos mentais do tipo introspectivo, são
necessários pontos de partida sólidos, verificáveis objetivamente: nesse
sentido os critérios comportamentais estabelecem os próprios termos do
problema, cuja solução está na neurologia. (BORRADORI, 2003, p. 54)
Um ponto de vista fundamental, que Quine compartilha com Skinner, é o de
que “grande parte da pesquisa, não do tipo mais profundo, mas daquele mais
epidérmico, é praticável a partir do plano puramente comportamental; trata-se de
descobrir simples recorrências de comportamento” (BORRADORI, 2003, p. 54).
Outra característica de Quine é a defesa do holismo, noção crucial: “Holismo
significa para mim a convergência de várias hipóteses, teorias, crenças, verdades,
por isso se nos concentrarmos apenas em uma, as outras sobrevêm, como
conseqüência e em auxílio” (BORRADORI, 2003, p. 55). Carnap, ao contrário,
embora também tivesse apreço pelo holismo e admirasse Duhem, não teria feito uso
proveitoso do holismo, como aconteceu com outros filósofos do Círculo de Viena. É
ponto comum o apreço por hipóteses ulteriores que possam servir de apoio à tese. O
fato é que quando essas hipóteses são exploradas seriamente, são densas de
conseqüências empíricas. Falando de matemática, aritmética e análises diferencial
aplicada, por exemplo, Quine afirma: “todas as leis fazem parte do mesmo
emaranhado holístico, que já implica, desde o início, os resultados experimentais e
as previsões” (BORRADORI, 2003, p. 55). Esta concepção já evitaria a noção
complicada, como faz Carnap, de que a matemática teria um significado mesmo
sendo privada de conteúdo e que isso ajudaria ainda a compreender a necessidade
da verdade matemática. A perspectiva holística assinalou decisivamente a
separação de Quine com Carnap. Mas Quine atenua seu holismo inicial. Uma das
conclusões finais a que Quine chega, e defende com afinco, pode ser resumida
nessas suas palavras:
Hoje parece-me que não existe uma ciência só, mas um emaranhado de
leis, tão grande e complexo que não pode ser compreendido por uma única
lei, e que implica condições de observação (observational conditions), isto é,
categorias de definições de situações observáveis. O vínculo entre a ciência
e a observação experimental é estabelecido por esses condicionais ou
‘categóricos’. O holismo é necessário apenas na medida em que, com ele,
obtém-se uma combinação mais ampla dessas categorias sujeitas a
experimentação e controle. (BORRADORI, 2003, p. 56)