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Presidência da República
Casa Civil
Subchefia para Assuntos Jurídicos
DECRETO Nº 6.583, DE 29 DE SETEMBRO DE 2008.
Promulga o Acordo Ortográfico da Língua
Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro
de 1990.
O PRESIDENTE DA REPÚBLICA, no uso da atribuição que lhe confere o art. 84, inciso IV, da
Constituição, e
Considerando que o Congresso Nacional aprovou, por meio do Decreto Legislativo n
o
54, de 18 de
abril de 1995, o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de
1990;
Considerando que o Governo brasileiro depositou o instrumento de ratificação do referido Acordo
junto ao Ministério dos Negócios Estrangeiros da República Portuguesa, na qualidade de depositário do ato,
em 24 de junho de 1996;
Considerando que o Acordo entrou em vigor internacional em 1
o
de janeiro de 2007, inclusive para o
Brasil, no plano jurídico externo;
DECRETA:
Art. 1
o
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, entre os Governos da República de Angola, da
República Federativa do Brasil, da República de Cabo Verde, da República de Guiné-Bissau, da República
de Moçambique, da República Portuguesa e da República Democrática de São Tomé e Príncipe, de 16 de
dezembro de 1990, apenso por cópia ao presente Decreto, será executado e cumprido tão inteiramente
como nele se contém.
Art. 2
o
O referido Acordo produzirá efeitos somente a partir de 1
o
de janeiro de 2009.
Parágrafo único. A implementação do Acordo obedecerá ao período de transição de 1
o
de janeiro de
2009 a 31 de dezembro de 2012, durante o qual coexistirão a norma ortográfica atualmente em vigor e a
nova norma estabelecida.
Art. 3
o
São sujeitos à aprovação do Congresso Nacional quaisquer atos que possam resultar em
revisão do referido Acordo, assim como quaisquer ajustes complementares que, nos termos do art. 49,
inciso I, da Constituição, acarretem encargos ou compromissos gravosos ao patrimônio nacional.
Art. 4
o
Este Decreto entra em vigor na data de sua publicação.
Brasília, 29 de setembro de 2008; 187
o
da Independência e 120
o
da República.
LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA
Celso Luiz Nunes Amorim
Este texto não substitui o publicado no DOU de 30.9.2008
ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
Considerando que o projeto de texto de ortografia unificada de língua portuguesa aprovado em
Lisboa, em 12 de outubro de 1990, pela Academia das Ciências de Lisboa, Academia Brasileira de Letras e
delegações de Angola, Cabo Verde, Guiné-Bissau, Moçambique e São Tomé e Príncipe, com a adesão da
delegação de observadores da Galiza, constitui um passo importante para a defesa da unidade essencial da
língua portuguesa e para o seu prestígio internacional,
Considerando que o texto do acordo que ora se aprova resulta de um aprofundado debate nos Países
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signatários,
a República Popular de Angola,
a República Federativa do Brasil,
a República de Cabo Verde,
a República da Guiné-Bissau,
a República de Moçambique,
a República Portuguesa,
e a República Democrática de São Tomé e Príncipe,
acordam no seguinte:
Artigo 1
o
É aprovado o Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa, que consta como anexo I ao presente
instrumento de aprovação, sob a designação de Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990) e vai
acompanhado da respectiva nota explicativa, que consta como anexo II ao mesmo instrumento de
aprovação, sob a designação de Nota Explicativa do Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa (1990).
Artigo 2
o
Os Estados signatários tomarão, através das instituições e órgãos competentes, as providências
necessárias com vista à elaboração, até 1 de janeiro de 1993, de um vocabulário ortográfico comum da
língua portuguesa, tão completo quanto desejável e tão normalizador quanto possível, no que se refere às
terminologias científicas e técnicas.
Artigo 3
o
O Acordo Ortográfico da Língua Portuguesa entrará em vigor em 1
o
de janeiro de 1994, após
depositados os instrumentos de ratificação de todos os Estados junto do Governo da República
Portuguesa.
Artigo 4
o
Os Estados signatários adotarão as medidas que entenderem adequadas ao efetivo respeito da data
da entrada em vigor estabelecida no artigo 3
o
.
Em fé do que, os abaixo assinados, devidamente credenciados para o efeito, aprovam o presente
acordo, redigido em língua portuguesa, em sete exemplares, todos igualmente autênticos.
Assinado em Lisboa, em 16 de dezembro de 1990.
PELA REPÚBLICA POPULAR DE ANGOLA
JOSÉ MATEUS DE ADELINO PEIXOTO
Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA FEDERATIVA
DO BRASIL
CARLOS ALBERTO GOMES CHIARELLI
Ministro da Educação
PELA REPÚBLICA DE CABO VERDE
DAVID HOPFFER ALMADA
Ministro da Informação, Cultura e Desportos
PELA REPÚBLICA DA GUINÉ-BISSAU
ALEXANDRE BRITO RIBEIRO FURTADO
Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA DE MOÇAMBIQUE
LUIS BERNARDO HONWANA
Ministro da Cultura
PELA REPÚBLICA PORTUGUESA
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PEDRO MIGUEL DE SANTANA LOPES
Secretário de Estado da Cultura
PELA REPÚBLICA DEMOCRÁTICA DE SÃO TOMÉ E PRÍNCIPE
LÍGIA SILVA GRAÇA DO ESPÍRITO SANTO COSTA
Ministra da Educação e Cultura
ANEXO I
ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
(1990)
Base I
Do alfabeto e dos nomes próprios estrangeiros e seus derivados
1
o
)O alfabeto da língua portuguesa é formado por vinte e seis letras, cada uma delas com uma forma
minúscula e outra maiúscula:
a A (á) j J (jota) s S (esse)
b B (bê) k K (capa ou cá) t T (tê)
c C (cê) l L (ele) u U (u)
d D (dê) m M (eme) v V (vê)
e E (é) n N (ene) w W (dáblio)
f F (efe) o O (ó) x X (xis)
g G (gê ou guê) p P (pê) y Y (ípsilon)
h H (agá) q Q (quê) z Z (zê)
i I (i) r R (erre)
Obs.: 1. Além destas letras, usam-se o ç (cê cedilhado) e os seguintes dígrafos: rr (erre duplo), ss (esse
duplo), ch (cê-agá), lh (ele-agá), nh (ene-agá), gu (guê-u) e qu (quê-u).
2. Os nomes das letras acima sugeridos não excluem outras formas de as designar.
2º)As letras k, w e y usam-se nos seguintes casos especiais:
a)Em antropónimos/antropônimos originários de outras línguas e seus derivados: Franklin,
frankliniano; Kant, kantismo; Darwin, darwinismo; Wagner, wagneriano; Byron, byroniano; Taylor, taylorista;
b)Em topónimos/topônimos originários de outras línguas e seus derivados: Kwanza, Kuwait,
kuwaitiano; Malawi, malawiano;
c)Em siglas, símbolos e mesmo em palavras adotadas como unidades de medida de curso
internacional: TWA, KLM; K-potássio (de kalium), W-oeste (West); kg-quilograma, km-quilómetro, kW-
kilowatt, yd-jarda (yard); Watt.
3º)Em congruência com o número anterior, mantêm-se nos vocábulos derivados eruditamente de
nomes próprios estrangeiros quaisquer combinações gráficas ou sinais diacríticos não peculiares à nossa
escrita que figurem nesses nomes: comtista, de Comte; garrettiano, de Garrett; jeffersónia/jeffersônia, de
Jefferson; mülleriano, de Müller, shakespeariano, de Shakespeare.
Os vocabulários autorizados registrarão grafias alternativas admissíveis, em casos de divulgação de
certas palavras de tal tipo de origem (a exemplo de fúcsia/ fúchsia e derivados, buganvília/ buganvílea/
bougainvíllea).
4º)Os dígrafos finais de origem hebraica ch, ph e th podem conservar-se em formas onomásticas da
tradição bíblica, como Baruch, Loth, Moloch, Ziph, ou então simplificar-se: Baruc, Lot, Moloc, Zif. Se
qualquer um destes dígrafos, em formas do mesmo tipo, é invariavelmente mudo, elimina-se: José, Nazaré,
em vez de Joseph, Nazareth; e se algum deles, por força do uso, permite adaptação, substitui-se,
recebendo uma adição vocálica: Judite, em vez de Judith.
5º)As consoantes finais grafadas b, c, d, g e t mantêm-se, quer sejam mudas, quer proferidas, nas
formas onomásticas em que o uso as consagrou, nomeadamente antropónimos/antropônimos e
topónimos/topônimos da tradição bíblica: Jacob, Job, Moab, Isaac; David, Gad; Gog, Magog; Bensabat,
Josafat.
Integram-se também nesta forma: Cid, em que o d é sempre pronunciado; Madrid e Valhadolid, em
que o d ora é pronunciado, ora não; e Calecut ou Calicut, em que o t se encontra nas mesmas condições.
Nada impede, entretanto, que dos antropónimos/antopônimos em apreço sejam usados sem a
consoante final Jó, Davi e Jacó.
6º)Recomenda-se que os topónimos/topônimos de línguas estrangeiras se substituam, tanto quanto
possível, por formas vernáculas, quando estas sejam antigas e ainda vivas em português ou quando
entrem, ou possam entrar, no uso corrente. Exemplo: Anvers, substituído por Antuérpia; Cherbourg, por
Cherburgo; Garonne, por Garona; Genève, por Genebra; Jutland, por Jutlândia; Milano, por Milão; München,
por Munique; Torino, por Turim; Zürich, por Zurique, etc.
Base II
Do h inicial e final
1º)O h inicial emprega-se:
a)Por força da etimologia: haver, hélice, hera, hoje, hora, homem, humor.
b)Em virtude de adoção convencional: hã?, hem?, hum!.
2º)O h inicial suprime-se:
a)Quando, apesar da etimologia, a sua supressão está inteiramente consagrada pelo uso: erva, em
vez de herva; e, portanto, ervaçal, ervanário, ervoso (em contraste com herbáceo, herbanário, herboso,
formas de origem erudita);
b)Quando, por via de composição, passa a interior e o elemento em que figura se aglutina ao
precedente: biebdomadário, desarmonia, desumano, exaurir, inábil, lobisomem, reabilitar, reaver;
3º)O h inicial mantém-se, no entanto, quando, numa palavra composta, pertence a um elemento que
está ligado ao anterior por meio de hífen: anti-higiénico/anti-higiênico, contra-haste; pré-história, sobre-
humano.
4º)O h final emprega-se em interjeições: ah! oh!
Base III
Da homofonia de certos grafemas consonânticos
Dada a homofonia existente entre certos grafemas consonânticos, torna-se necessário diferençar os
seus empregos, que fundamentalmente se regulam pela história das palavras. É certo que a variedade das
condições em que se fixam na escrita os grafemas consonânticos homófonos nem sempre permite fácil
diferenciação dos casos em que se deve empregar uma letra e daqueles em que, diversamente, se deve
empregar outra, ou outras, a representar o mesmo som.
Nesta conformidade, importa notar, principalmente, os seguintes casos:
1º)Distinção gráfica entre ch e x: achar, archote, bucha, capacho, capucho, chamar, chave, Chico,
chiste, chorar, colchão, colchete, endecha, estrebucha, facho, ficha, flecha, frincha, gancho, inchar, macho,
mancha, murchar, nicho, pachorra, pecha, pechincha, penacho, rachar, sachar, tacho; ameixa, anexim,
baixel, baixo, bexiga, bruxa, coaxar, coxia, debuxo, deixar, eixo, elixir, enxofre, faixa, feixe, madeixa, mexer,
oxalá, praxe, puxar, rouxinol, vexar, xadrez, xarope, xenofobia, xerife, xícara.
2º)Distinção gráfica entre g, com valor de fricativa palatal, e j: adágio, alfageme, Álgebra, algema,
algeroz, Algés, algibebe, algibeira, álgido, almargem, Alvorge, Argel, estrangeiro, falange, ferrugem, frigir,
gelosia, gengiva, gergelim, geringonça, Gibraltar, ginete, ginja, girafa, gíria, herege, relógio, sege, Tânger,
virgem; adjetivo, ajeitar, ajeru (nome de planta indiana e de uma espécie de papagaio), canjerê, canjica,
enjeitar, granjear, hoje, intrujice, jecoral, jejum, jeira, jeito, Jeová, jenipapo, jequiri, jequitibá, Jeremias,
Jericó, jerimum, Jerónimo, Jesus, jibóia, jiquipanga, jiquiró, jiquitaia, jirau, jiriti, jitirana, laranjeira, lojista,
majestade, majestoso, manjerico, manjerona, mucujê, pajé, pegajento, rejeitar, sujeito, trejeito.
3º)Distinção gráfica entre as letras s, ss, c, ç e x, que representam sibilantes surdas: ânsia, ascensão,
aspersão, cansar, conversão, esconso, farsa, ganso, imenso, mansão, mansarda, manso, pretensão,
remanso, seara, seda, Seia, Sertã, Sernancelhe, serralheiro, Singapura, Sintra, sisa, tarso, terso, valsa;
abadessa, acossar, amassar, arremessar, Asseiceira, asseio, atravessar, benesse, Cassilda, codesso
(identicamente Codessal ou Codassal, Codesseda, Codessoso, etc.), crasso, devassar, dossel, egresso,
endossar, escasso, fosso, gesso, molosso, mossa, obsessão, pêssego, possesso, remessa, sossegar;
acém, acervo, alicerce, cebola, cereal, Cernache, cetim, Cinfães, Escócia, Macedo, obcecar, percevejo;
açafate, açorda, açúcar, almaço, atenção, berço, Buçaco, caçanje, caçula, caraça, dançar, Eça, enguiço,
Gonçalves, inserção, linguiça, maçada, Mação, maçar, Moçambique, Monção, muçulmano, murça, negaça,
pança, peça, quiçaba, quiçaça, quiçama, quiçamba, Seiça (grafia que pretere as erróneas/errôneas Ceiça e
Ceissa), Seiçal, Suíça, terço; auxílio, Maximiliano, Maximino, máximo, próximo, sintaxe.
4º)Distinção gráfica entre s de fim de sílaba (inicial ou interior) e x e z com idêntico valor fónico/fônico:
adestrar, Calisto, escusar, esdrúxulo, esgotar, esplanada, esplêndido, espontâneo, espremer, esquisito,
estender, Estremadura, Estremoz, inesgotável; extensão, explicar, extraordinário, inextricável, inexperto,
sextante, têxtil; capazmente, infelizmente, velozmente. De acordo com esta distinção convém notar dois
casos:
a)Em final de sílaba que não seja final de palavra, o x = s muda para s sempre que está precedido de
i ou u: justapor, justalinear, misto, sistino (cf. Capela Sistina), Sisto, em vez de juxtapor, juxtalinear, mixto,
sixtina, Sixto.
b)Só nos advérbios em –mente se admite z, com valor idêntico ao de s, em final de sílaba seguida de
outra consoante (cf. capazmente, etc.); de contrário, o s toma sempre o lugar de z: Biscaia, e não Bizcaia.
5º)Distinção gráfica entre s final de palavra e x e z com idêntico valor fónico/fônico: aguarrás, aliás,
anis, após atrás, através, Avis, Brás, Dinis, Garcês, gás, Gerês, Inês, íris, Jesus, jus, lápis, Luís, país,
português, Queirós, quis, retrós, revés, Tomás, Valdés; cálix, Félix, Fénix, flux; assaz, arroz, avestruz, dez,
diz, fez (substantivo e forma do verbo fazer), fiz, Forjaz, Galaaz, giz, jaez, matiz, petiz, Queluz, Romariz,
[Arcos de] Valdevez, Vaz. A propósito, deve observar-se que é inadmissível z final equivalente a s em
palavra não oxítona: Cádis, e não Cádiz.
6º)Distinção gráfica entre as letras interiores s, x e z, que representam sibilantes sonoras: aceso,
analisar, anestesia, artesão, asa, asilo, Baltasar, besouro, besuntar, blusa, brasa, brasão, Brasil, brisa,
[Marco de] Canaveses, coliseu, defesa, duquesa, Elisa, empresa, Ermesinde, Esposende, frenesi ou
frenesim, frisar, guisa, improviso, jusante, liso, lousa, Lousã, Luso (nome de lugar, homónimo/homônimo de
Luso, nome mitológico), Matosinhos, Meneses, narciso, Nisa, obséquio, ousar, pesquisa, portuguesa, presa,
raso, represa, Resende, sacerdotisa, Sesimbra, Sousa, surpresa, tisana, transe, trânsito, vaso; exalar,
exemplo, exibir, exorbitar, exuberante, inexato, inexorável; abalizado, alfazema, Arcozelo, autorizar, azar,
azedo, azo, azorrague, baliza, bazar, beleza, buzina, búzio, comezinho, deslizar, deslize, Ezequiel, fuzileiro,
Galiza, guizo, helenizar, lambuzar, lezíria, Mouzinho, proeza, sazão, urze, vazar, Veneza, Vizela, Vouzela.
Base IV
Das seqüências consonânticas
1º)O c, com valor de oclusiva velar, das seqüências interiores cc (segundo c com valor de sibilante),
cç e ct, e o p das seqüências interiores pc (c com valor de sibilante), pç e pt, ora se conservam, ora se
eliminam.
Assim:
a)Conservam-se nos casos em que são invariavelmente proferidos nas pronúncias cultas da língua:
compacto, convicção, convicto, ficção, friccionar, pacto, pictural; adepto, apto, díptico, erupção, eucalipto,
inepto, núpcias, rapto.
b)Eliminam-se nos casos em que são invariavelmente mudos nas pronúncias cultas da língua: ação,
acionar, afetivo, aflição, aflito, ato, coleção, coletivo, direção, diretor, exato, objeção; adoção, adotar, batizar,
Egito, ótimo.
c)Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer
geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: aspecto e aspeto,
cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição; facto e fato, sector e setor, ceptro e cetro, concepção e
conceção, corrupto e corruto, recepção e receção.
d)Quando, nas seqüências interiores mpc, mpç e mpt se eliminar o p de acordo com o determinado
nos parágrafos precedentes, o m passa a n, escrevendo-se, respectivamente nc, nç e nt: assumpcionista e
assuncionista; assumpção e assunção; assumptível e assuntível; peremptório e perentório, sumptuoso e
suntuoso, sumptuosidade e suntuosidade.
2º)Conservam-se ou eliminam-se, facultativamente, quando se proferem numa pronúncia culta, quer
geral, quer restritamente, ou então quando oscilam entre a prolação e o emudecimento: o b da seqüência
bd, em súbdito; o b da seqüência bt, em subtil e seus derivados; o g da seqüência gd, em amígdala,
amigdalácea, amigdalar, amigdalato, amigdalite, amigdalóide, amigdalopatia, amigdalotomia; o m da
seqüência mn, em amnistia, amnistiar, indemne, indemnidade, indemnizar, omnímodo, omnipotente,
omnisciente, etc.; o t, da seqüência tm, em aritmética e aritmético.
Base V
Das vogais átonas
1º)O emprego do e e do i, assim como o do o e do u, em sílaba átona, regula-se fundamentalmente
pela etimologia e por particularidades da história das palavras. Assim se estabelecem variadíssimas
grafias:
a)Com e e i: ameaça, amealhar, antecipar, arrepiar, balnear, boreal, campeão, cardeal (prelado, ave
planta; diferente de cardial = “relativo à cárdia”), Ceará, côdea, enseada, enteado, Floreal, janeanes, lêndea,
Leonardo, Leonel, Leonor, Leopoldo, Leote, linear, meão, melhor, nomear, peanha, quase (em vez de quási),
real, semear, semelhante, várzea; ameixial, Ameixieira, amial, amieiro, arrieiro, artilharia, capitânia, cordial
(adjetivo e substantivo), corriola, crânio, criar, diante, diminuir, Dinis, ferregial, Filinto, Filipe (e identicamente
Filipa, Filipinas, etc.), freixial, giesta, Idanha, igual, imiscuir-se, inigualável, lampião, limiar, Lumiar, lumieiro,
pátio, pior, tigela, tijolo, Vimieiro, Vimioso;
b)Com o e u: abolir, Alpendorada, assolar, borboleta, cobiça, consoada, consoar, costume, díscolo,
êmbolo, engolir, epístola, esbaforir-se, esboroar, farândola, femoral, Freixoeira, girândola, goela, jocoso,
mágoa, névoa, nódoa, óbolo, Páscoa, Pascoal, Pascoela, polir, Rodolfo, távoa, tavoada, távola, tômbola,
veio (substantivo e forma do verbo vir); açular, água, aluvião, arcuense, assumir, bulir, camândulas, curtir,
curtume, embutir, entupir, fémur/fêmur, fístula, glândula, ínsua, jucundo, légua, Luanda, lucubração, lugar,
mangual, Manuel, míngua, Nicarágua, pontual, régua, tábua, tabuada, tabuleta, trégua, virtualha.
2º)Sendo muito variadas as condições etimológicas e histórico-fonéticas em que se fixam
graficamente e e i ou o e u em sílaba átona, é evidente que só a consulta dos vocabulários ou dicionários
pode indicar, muitas vezes, se deve empregar-se e ou i, se o ou u. Há, todavia, alguns casos em que o uso
dessas vogais pode ser facilmente sistematizado. Convém fixar os seguintes:
a)Escrevem-se com e, e não com i, antes da sílaba tónica/tônica, os substantivos e adjetivos que
procedem de substantivos terminados em eio e eia, ou com eles estão em relação direta. Assim se
regulam: aldeão, aldeola, aldeota por aldeia; areal, areeiro, areento, Areosa por areia; aveal por aveia;
baleal por baleia; cadeado por cadeia; candeeiro por candeia; centeeira e centeeiro por centeio; colmeal e
colmeeiro por colmeia; correada e correame por correia.
b)Escrevem-se igualmente com e, antes de vogal ou ditongo da sílaba tónica/tônica, os derivados de
palavras que terminam em e acentuado (o qual pode representar um antigo hiato: ea, ee): galeão, galeota,
galeote, de galé; coreano, de Coreia; daomeano, de Daomé; guineense, de Guiné; poleame e poleeiro, de
polé.
c)Escrevem-se com i, e não com e, antes da sílaba tónica/tônica, os adjetivos e substantivos
derivados em que entram os sufixos mistos de formação vernácula – iano e –iense, os quais são o resultado
da combinação dos sufixos –ano e –ense com um i de origem analógica (baseado em palavras onde –ano e
ense estão precedidos de i pertencente ao tema: horaciano, italiano, duriense, flaviense, etc.): açoriano,
acriano (de Acre), camoniano, goisiano (relativo a Damião de Góis), siniense (de Sines), sofocliano, torriano,
torriense (de Torre(s)).
d)Uniformizam-se com as terminações io e ia (átonas), em vez de eo e ea, os substantivos que
constituem variações, obtidas por ampliação, de outros substantivos terminados em vogal: cúmio (popular),
de cume; hástia, de haste; réstia, do antigo reste; véstia, de veste.
e)Os verbos em –ear podem distinguir-se praticamente, grande número de vezes, dos verbos em –iar,
quer pela formação, quer pela conjugação e formação ao mesmo tempo. Estão no primeiro caso todos os
verbos que se prendem a substantivos em eio ou eia (sejam formados em português ou venham já do
latim); assim se regulam: aldear, por aldeia; alhear, alheio; cear, por ceia; encadear, por cadeia; pear, por
peia; etc. Estão no segundo caso todos os verbos que têm normalmente flexões rizotónicas/rizotônicas em –
eio, -eias, etc.: clarear, delinear, devanear, falsear, granjear, guerrear, hastear, nomear, semear, etc. Existem,
no entanto, verbos em iar, ligados a substantivos com as terminações átonas ia ou io, que admitem
variantes na conjugação: negoceio ou negocio (cf. negócio); premeio ou premio (cf. prémio/prêmio); etc.
f)Não é lícito o emprego do u final átono em palavras de origem latina. Escreve-se, por isso: moto, em
vez de mótu (por exemplo, na expressão de moto próprio); tribo, em vez de tríbu.
g)Os verbos em oar distinguem-se praticamente dos verbos em uar pela sua conjugação nas
formas rizotónicas/rizotônicas, que têm sempre o na sílaba acentuada: abençoar com o, como abençoo,
abençoas, etc.; destoar, com o, como destoo, destoas, etc.: mas acentuar, com u, como acentuo, acentuas,
etc.
Base VI
Das vogais nasais
Na representação das vogais nasais devem observar-se os seguintes preceitos:
1º)Quando uma vogal nasal ocorre em fim de palavra, ou em fim de elemento seguido de hífen,
representa-se a nasalidade pelo til, se essa vogal é de timbre a; por m, se possui qualquer outro timbre e
termina a palavra; e por n, se é de timbre diverso de a e está seguida de s: afã, grã, Grã-Bretanha, lã, órfã,
sã-braseiro (forma dialetal; o mesmo que são-brasense = de S. Brás de Alportel); clarim, tom, vacum;
flautins, semitons, zunzuns.
2º)Os vocábulos terminados em ã transmitem esta representação do a nasal aos advérbios em
mente que deles se formem, assim como a derivados em que entrem sufixos iniciados por z: cristãmente,
irmãmente, sãmente; lãzudo, maçãzita, manhãzinha, romãzeira.
Base VII
Dos ditongos
1º)Os ditongos orais, que tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, distribuem-se por dois
grupos gráficos principais, conforme o segundo elemento do ditongo é representado por i ou u: ai, ei, éi, ui;
au, eu, éu, iu, ou: braçais, caixote, deveis, eirado, farnéis (mas farneizinhos), goivo, goivar, lençóis (mas
lençoizinhos), tafuis, uivar, cacau, cacaueiro, deu, endeusar, ilhéu (mas ilheuzito), mediu, passou, regougar.
Obs: Admitem-se, todavia, excepcionalmente, à parte destes dois grupos, os ditongos grafados ae(= âi ou
ai) e ao (= âu ou au): o primeiro, representado nos antropónimos/antropônimos Caetano e Caetana, assim
como nos respectivos derivados e compostos (caetaninha, são-caetano, etc.); o segundo, representado nas
combinações da preposição a com as formas masculinas do artigo ou pronome demonstrativo o, ou seja, ao
e aos.
2º)Cumpre fixar, a propósito dos ditongos orais, os seguintes preceitos particulares:
a)É o ditongo grafado ui, e não a seqüência vocálica grafada ue, que se emprega nas formas de 2
a
e
3
a
pessoas do singular do presente do indicativo e igualmente na da 2
a
pessoa do singular do imperativo
dos verbos em uir: constituis, influi, retribui. Harmonizam-se, portanto, essas formas com todos os casos
de ditongo grafado ui de sílaba final ou fim de palavra (azuis, fui, Guardafui, Rui, etc.); e ficam assim em
paralelo gráfico-fonético com as formas de 2
a
e 3
a
pessoas do singular do presente do indicativo e de 2
a
pessoa do singular do imperativo dos verbos em – air e em – oer: atrais, cai, sai; móis, remói, sói.
b)É o ditongo grafado ui que representa sempre, em palavras de origem latina, a união de um u a um
i átono seguinte. Não divergem, portanto, formas como fluido de formas como gratuito. E isso não impede
que nos derivados de formas daquele tipo as vogais grafadas u e i se separem: fluídico, fluidez (u-i).
c)Além, dos ditongos orais propriamente ditos, os quais são todos decrescentes, admite-se, como é
sabido, a existência de ditongos crescentes. Podem considerar-se no número deles as seqüências vocálicas
pós-tónicas/pós-tônicas, tais as que se representam graficamente por ea, eo, ia, ie, io, oa, ua, ue, uo: áurea,
áureo, calúnia, espécie, exímio, mágoa, míngua, ténue/tênue, tríduo.
3º)Os ditongos nasais, que na sua maioria tanto podem ser tónicos/tônicos como átonos, pertencem
graficamente a dois tipos fundamentais: ditongos representados por vogal com til e semivogal; ditongos
representados por uma vogal seguida da consoante nasal m. Eis a indicação de uns e outros:
a)Os ditongos representados por vogal com til e semivogal são quatro, considerando-se apenas a
língua padrão contemporânea: ãe (usado em vocábulos oxítonos e derivados), ãi (usado em vocábulos
anoxítonos e derivados), ão e õe. Exemplos: cães, Guimarães, mãe, mãezinha; cãibas, cãibeiro, cãibra,
zãibo; mão, mãozinha, não, quão, sótão, sotãozinho, tão; Camões, orações, oraçõezinhas, põe, repões. Ao
lado de tais ditongos pode, por exemplo, colocar-se o ditongo ũi; mas este, embora se exemplifique numa
forma popular como rũi = ruim, representa-se sem o til nas formas muito e mui, por obediência à tradição.
b)Os ditongos representados por uma vogal seguida da consoante nasal m são dois: am e em.
Divergem, porém, nos seus empregos:
i)am (sempre átono) só se emprega em flexões verbais: amam, deviam, escreveram, puseram;
ii)em (tónico/tônico ou átono) emprega-se em palavras de categorias morfológicas diversas, incluindo
flexões verbais, e pode apresentar variantes gráficas determinadas pela posição, pela acentuação ou,
simultaneamente, pela posição e pela acentuação: bem, Bembom, Bemposta, cem, devem, nem, quem,
sem, tem, virgem; Bencanta, Benfeito, Benfica, benquisto, bens, enfim, enquanto, homenzarrão,
homenzinho, nuvenzinha, tens, virgens, amém (variação de ámen), armazém, convém, mantém, ninguém,
porém, Santarém, também; convêm, mantêm, têm (3
as
pessoas do plural); armazéns, desdéns, convéns,
reténs; Belenzada, vintenzinho.
Base VIII
Da acentuação gráfica das palavras oxítonas
1º)Acentuam-se com acento agudo:
a)As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas abertas grafadas a, e ou o,
seguidas ou não de –s: está, estás, já, olá; até, é, és, olé, pontapé(s); avó(s), dominó(s), paletó(s), só(s).
Obs.: Em algumas (poucas) palavras oxítonas terminadas em e tónico/tônico, geralmente provenientes do
francês, esta vogal, por ser articulada nas pronúncias cultas ora como aberta ora como fechada, admite
tanto o acento agudo como o acento circunflexo: bebé ou bebê; bidé ou bidê, canapé ou canapê, caraté ou
caratê, croché ou crochê, guiché ou guichê, matiné ou matinê, nené ou nenê, ponjé ou ponjê, puré ou purê,
rapé ou rapê.
O mesmo se verifica com formas como cocó e cocô, ró (letra do alfabeto grego) e rô. São igualmente
admitidas formas como judô, a par de judo, e metrô, a par de metro.
b)As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticos lo(s) ou la(s), ficam a
terminar na vogal tónica/tônica aberta grafada a, após a assimilação e perda das consoantes finais
grafadas r, s ou z: adorá-lo(s) (de adorar-lo(s)), dá-la(s) (de dar-la(s) ou dá(s)-la(s)), fá-lo(s) (de faz-
lo(s)), fá-lo(s)-ás (de far-lo(s)-ás), habitá-la(s)-iam (de habitar-la(s)-iam), trá-la(s)-á (de trar-la(s)-á);
c)As palavras oxítonas com mais de uma sílaba terminadas no ditongo nasal grafado em (exceto as
formas da 3
a
pessoa do plural do presente do indicativo dos compostos de ter e vir: retêm, sustêm; advêm,
provêm; etc) ou ens: acém, detém, deténs, entretém, entreténs, harém, haréns, porém, provém, provéns,
também;
d)As palavras oxítonas com os ditongos abertos grafados –éi, éu ou ói, podendo estes dois últimos
ser seguidos ou não de s: anéis, batéis, fiéis, papéis; céu(s), chapéu(s), ilhéu(s), véu(s); corrói (de corroer),
herói(s), remói (de remoer), sóis.
2º)Acentuam-se com acento circunflexo:
a)As palavras oxítonas terminadas nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam e ou o,
seguidas ou não de s: cortês, dê, dês (de dar), lê, lê s (de ler), português, você(s); avô(s), pôs (de pôr),
robô(s).
b)As formas verbais oxítonas, quando, conjugadas com os pronomes clíticoslo(s) oula(s), ficam a
terminar nas vogais tónicas/tônicas fechadas que se grafam e ou o, após a assimilação e perda das
consoantes finais grafadas –r,s ou –z: detê-lo(s) (de deter-lo(s)), fazê-la(s) (de fazer-la(s)), fê-lo(s) (de fez-
lo(s)), vê-la(s) (de ver-la(s)), compô-la(s) (de compor-la(s)), repô-la(s) (de repor-la(s)), pô-la(s) (de por-la(s)
ou pôs-la(s)).
3º)Prescinde-se de acento gráfico para distinguir palavras oxítonas homógrafas, mas
heterofónicas/heterofônicas, do tipo de cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locução de cor; colher (ê),
verbo, e colher (é), substantivo. Excetua-se a forma verbal pôr, para a distinguir da preposição por.
Base IX
Da acentuação gráfica das palavras paroxítonas
1º)As palavras paroxítona não são em geral acentuadas graficamente: enjoo, grave, homem, mesa,
Tejo, vejo, velho, voo; avanço, floresta; abençoo, angolano, brasileiro; descobrimento, graficamente,
moçambicano.
2º)Recebem, no entanto, acento agudo:
a)As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o
e ainda i ou u e que terminam em l, n, r, x e ps, assim como, salvo raras exceções, as respectivas
formas do plural, algumas das quais passam a proparoxítonas: amável (pl. amáveis), Aníbal, dócil (pl.
dóceis), dúctil (pl. dúcteis), fóssil (pl. fósseis), réptil (pl. réptéis; var. reptil, pl. reptis); cármen (pl. cármenes
ou carmens; var. carme, pl. carmes); dólmen (pl. dólmenes ou dolmens), éden (pl. édenes ou edens), líquen
(pl. líquenes), lúmen (pl. lúmenes ou lumens); açúcar (pl. açúcares), almíscar (pl. almíscares), cadáver (pl.
cadáveres), caráter ou carácter (mas pl. carateres ou caracteres), ímpar (pl. ímpares); Ájax, córtex (pl.
córtex; var. córtice, pl. córtices), índex (pl. index; var. índice, pl. índices), tórax, (pl. tórax ou tó raxes; var.
torace, pl. toraces); bíceps (pl. bíceps; var. bicípite, pl. bicípites), fórceps (pl. fórceps; var. fórcipe, pl.
fórcipes).
Obs.: Muito poucas palavras deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sílaba,
seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da
língua e, por conseguinte, também de acento gráfico (agudo ou circunflexo): sémen e sêmen, xénon e
xênon; fémur e fêmur, vómer e vômer; Fénix e Fênix, ónix e ônix.
b)As palavras paroxítonas que apresentam, na sílaba tónica/tônica, as vogais abertas grafadas a, e, o
e ainda i ou u e que terminam emã(s),ão(s), –ei(s), –i(s), –um, –uns ou us: órfã (pl. órfãs), acórdão (pl.
acórdãos), órfão (pl. órfãos), órgão (pl. órgãos), sótão (pl. sótãos); hóquei, jóquei (pl. jóqueis), amáveis (pl.
de amável), fáceis (pl. de fácil), fósseis (pl. de fóssil), amáreis (de amar), amáveis (id.), cantaríeis (de
cantar), fizéreis (de fazer), fizésseis (id.); beribéri (pl. beribéris), bílis (sg. e pl.), íris (sg. e pl.), júri (pl. júris),
oásis (sg. e pl.); álbum (pl. álbuns), fórum (pl. fóruns); húmus (sg. e pl.), vírus (sg. e pl.).
Obs.: Muito poucas paroxítonas deste tipo, com as vogais tónicas/tônicas grafadas e e o em fim de sí laba,
seguidas das consoantes nasais grafadas m e n, apresentam oscilação de timbre nas pronúncias cultas da
língua, o qual é assinalado com acento agudo, se aberto, ou circunflexo, se fechado: pónei e pônei; gónis e
gônis, pénis e pênis, ténis e tênis; bónus e bônus, ónus e ônus, tónus e tônus, Vénus e Vênus.
3º)Não se acentuam graficamente os ditongos representados por ei e oi da sílaba tónica/tônica das
palavras paroxítonas, dado que existe oscilação em muitos casos entre o fechamento e a abertura na sua
articulação: assembleia, boleia, ideia, tal como aldeia, baleia, cadeia, cheia, meia; coreico, epopeico,
onomatopeico, proteico; alcaloide, apoio (do verbo apoiar), tal como apoio (subst.), Azoia, boia, boina,
comboio (subst.), tal como comboio, comboias, etc. (do verbo comboiar), dezoito, estroina, heroico, introito,
jiboia, moina, paranoico, zoina.
4º)É facultativo assinalar com acento agudo as formas verbais de pretérito perfeito do indicativo, do
tipo amámos, louvámos, para as distinguir das correspondentes formas do presente do indicativo (amamos,
louvamos), já que o timbre da vogal tónica/tônica é aberto naquele caso em certas variantes do português.
5º)Recebem acento circunflexo:
a)As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e,
o e que terminam em –l, –n, –r ou –x, assim como as respectivas formas do plural, algumas das quais se
tornam proparoxítonas: cônsul (pl. cônsules), pênsil (pênseis), têxtil (pl. têxteis); cânon, var. cânone, (pl.
cânones), plâncton (pl. plânctons); Almodôvar, aljôfar (pl. aljôfares), âmbar (pl. âmbares), Câncer, Tânger;
bômbax (sg. e pl.), bômbix, var. bômbice, (pl. bômbices).
b)As palavras paroxítonas que contêm, na sílaba tónica/tônica, as vogais fechadas com a grafia a, e,
o e que terminam em ão(s), eis, i(s) ou us: bênção(s), côvão(s), Estêvão, zângão(s); devêreis (de
dever), escrevêsseis (de escrever), fôreis (de ser e ir), fôsseis (id.), pênseis (pl. de pênsil), têxteis (pl. de
têxtil); dândi(s), Mênfis; ânus.
c)As formas verbais têm e vêm, 3
a
s pessoas do plural do presente do indicativo de ter e vir, que são
foneticamente paroxítonas (respectivamente /tãjãj/, /vãjãj/ ou /t j/, /v j/ ou ainda /t j j/, /v j j/; cf. asẽẽ ẽẽ
antigas grafias preteridas, t em , v em ), a fim de se distinguirem de tem e vem, 3
a
s pessoas do singular do
presente do indicativo ou 2
a
s pessoas do singular do imperativo; e também as correspondentes formas
compostas, tais como: abstêm (cf. abstém), advêm (cf. advém), contêm (cf. contém), convêm (cf. convém),
desconvêm (cf. desconvém), detêm (cf. detém), entretêm (cf. entretém), intervê m (cf. intervém), mantêm (cf.
mantém), obtêm (cf. obtém), provêm (cf. provém), sobrevêm (cf. sobrevém).
Obs.: Também neste caso são preteridas as antigas grafias det em, interv em, mant em, prov em , etc.
6º)Assinalam-se com acento circunflexo:
a)Obrigatoriamente, pôde (3
a
pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo), que se distingue
da correspondente forma do presente do indicativo (pode).
b)Facultativamente, dêmos (1
a
pessoa do plural do presente do conjuntivo), para se distinguir da
correspondente forma do pretérito perfeito do indicativo (demos); fôrma (substantivo), distinta de forma
(substantivo; 3
a
pessoa do singular do presente do indicativo ou 2
a
pessoa do singular do imperativo do
verbo formar).
7º)Prescinde-se de acento circunflexo nas formas verbais paroxítonas que contêm um e tónico/tônico
oral fechado em hiato com a terminação em da 3ª pessoa do plural do presente do indicativo ou do
conjuntivo, conforme os casos: creem, deem (conj.), descreem, desdeem (conj.), leem, preveem, redeem
(conj.), releem, reveem, tresleem, veem.
8º)Prescinde-se igualmente do acento circunflexo para assinalar a vogal tónica/tônica fechada com a
grafia o em palavras paroxítonas como enjoo, substantivo e flexão de enjoar, povoo, flexão de povoar, voo,
substantivo e flexão de voar, etc.
9º)Prescinde-se, quer do acento agudo, quer do circunflexo, para distinguir palavras paroxítonas que,
tendo respectivamente vogal tónica/tônica aberta ou fechada, são homógrafas de palavras proclíticas.
Assim, deixam de se distinguir pelo acento gráfico: para (á), flexão de parar, e para, preposição; pela(s) (é),
substantivo e flexão de pelar, e pela(s), combinação de per e la(s); pelo (é), flexão de pelar, pelo(s) (ê),
substantivo ou combinação de per e lo(s); polo(s) (ó ), substantivo, e polo(s), combinação antiga e popular
de por e lo(s); etc.
10º)Prescinde-se igualmente de acento gráfico para distinguir paroxítonas homógrafas
heterofónicas/heterofônicas do tipo de acerto (ê), substantivo e acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô),
substantivo, e acordo (ó), flexão de acordar; cerca (ê), substantivo, advérbio e elemento da locução
prepositiva cerca de, e cerca (é), flexão de cercar; coro (ô), substantivo, e coro (ó), flexão de corar; deste (ê),
contracção da preposição de com o demonstrativo este, e deste (é), flexão de dar; fora (ô), flexão de ser e ir,
e fora (ó), advérbio, interjeição e substantivo; piloto (ô), substantivo, e piloto (ó), flexão de pilotar, etc.
Base X
Da acentuação das vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das
palavras oxítonas e paroxítonas
1º)As vogais tóncias/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas levam acento agudo
quando antecedidas de uma vogal com que não formam ditongo e desde de que não constituam sílaba com
a eventual consoante seguinte, excetuando o caso de s: adaís (pl. de adail), aí, atraí (de atrair), baú, caís
(de cair), Esaú, jacuí, Luís, país, etc.; alaúde, amiúde, Araújo, Ataíde, atraíam (de atrair), atraísse (id.), baía,
balaústre, cafeína, ciúme, egoísmo, faísca, faúlha, graúdo, influíste (de influir), juízes, Luísa, miúdo, paraíso,
raízes, recaída, ruína, saída, sanduíche, etc.
2º)As vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras oxítonas e paroxítonas não levam acento
agudo quando, antecedidas de vogal com que não formam ditongo, constituem sílaba com a consoante
seguinte, como é o caso de nh, l, m, n, r e z: bainha, moinho, rainha; adail, paul, Raul; Aboim, Coimbra,
ruim; ainda, constituinte, oriundo, ruins, triunfo; at-rairn. demiuñrgo, influir, influirmos; juiz, raiz; etc.
3º)Em conformidade com as regras anteriores leva acento agudo a vogal tónica/tônica grafada i das
formas oxítonas terminadas em r dos verbos em air e uir, quando estas se combinam com as formas
pronominais clíticas lo(s), la(s), que levam à assimilação e perda daquele r: atraí-lo(s) (de atrair-lo(s));
atraí-lo(s)-ia (de atrair-lo(s)-ia); possuí-la(s) (de possuir-la(s)); possuí-la(s)-ia (de possuir-la(s)-ia).
4º)Prescinde-se do acento agudo nas vogais tónicas/tônicas grafadas i e u das palavras paroxítonas,
quando elas estão precedidas de ditongo: baiuca, boiuno, cauila (var. cauira), cheiinho (de cheio), saiinha
(de saia).
5º)Levam, porém, acento agudo as vogais tónicas/tônicas grafadas i e u quando, precedidas de
ditongo, pertencem as palavras oxítonas e estão em posição final ou seguidas de s: Piauí, teiú, teiús, tuiuiú,
tuiuiús.
Obs.: Se, neste caso, a consoante final for diferente de s, tais vogais dispensam o acento agudo: cauim.
6º)Prescinde-se do acento agudo nos ditongos tónicos/tônicos grafados iu e ui, quando precedidos de
vogal: distraiu, instruiu, pauis (pl. de paul).
7º)Os verbos arguir e redarguir prescindem do acento agudo na vogal tónica/tônica grafada u nas
formas rizotónicas/rizotônicas: arguo, arguis, argui, arguem, argua, arguas, argua, arguam. Os verbos do
tipo de aguar, apaniguar, apaziguar, apropinquar, averiguar, desaguar, enxaguar, obliquar, delinquir e afins,
por oferecerem dois paradigmas, ou têm as formas rizotónicas/rizotônicas igualmente acentuadas no u mas
sem marca gráfica (a exemplo de averiguo, averiguas, averigua, averiguam; averigue, averigues, averigue,
averiguem; enxaguo, enxaguas, enxagua, enxaguam; enxague, enxagues, enxague, enxaguem, etc.;
delinquo, delinquis, delinqui, delinquem; mas delinquimos, delinquís) ou têm as formas
rizotónicas/rizotônicas acentuadas fónica/fônica e graficamente nas vogais a ou i radicais (a exemplo de
averíguo, averíguas, averígua, averíguam; averígue, averígues, averígue, averíguem; enxáguo, enxáguas,
enxágua, enxáguaim; enxágue, enxágues, enxágue, enxáguem; delínquo, delínques; delínque, delínquem;
delínqua, delínquas, delínqua, delinquám).
Obs.: Em conexão com os casos acima referidos, registre-se que os verbos em ingir (atingir, cingir,
constringir, infringir, tingir, etc.) e os verbos em inguir sem prolação do u (distinguir, extinguir, etc.) têm
grafias absolutamente regulares (atinjo, atinja, atinge, atingimos, etc; distingo, distinga, distingue,
distinguimos, etc.)
Base XI
Da acentuação gráfica das palavras proparoxítonas
1º)Levam acento agudo:
a)As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais abertas grafadas a, e,
o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta: árabe, cáustico, Cleópatra, esquálido, exército,
hidráulico, líquido, míope, músico, plástico, prosélito, público, rústico, tétrico, último;
b)As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam na sílaba tónica/tônica as vogais
abertas grafadas a, e, o e ainda i, u ou ditongo oral começado por vogal aberta, e que terminam por
seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas como ditongos crescentes (-ea,
-eo, -ia, -ie, -io, -oa, -ua, -uo, etc.): álea, náusea; etéreo, níveo; enciclopédia, glória; barbárie, série; lírio,
prélio; mágoa, nódoa; exígua, língua; exíguo, vácuo.
2º)Levam acento circunflexo:
a)As palavras proparoxítonas que apresentam na sílaba tónica/tônica vogal fechada ou ditongo com a
vogal básica fechada: anacreôntico, brêtema, cânfora, cômputo, devêramos (de dever), dinâmico, êmbolo,
excêntrico, fôssemos (de ser e ir), Grândola, hermenêutica, lâmpada, lôstrego, lôbrego, nêspera, plêiade,
sôfrego, sonâmbulo, trôpego;
b)As chamadas proparoxítonas aparentes, isto é, que apresentam vogais fechadas na sílaba
tónica/tônica, e terminam por seqüências vocálicas pós-tónicas/pós-tônicas praticamente consideradas
como ditongos crescentes: amêndoa, argênteo, côdea, Islândia, Mântua, serôdio.
3º)Levam acento agudo ou acento circunflexo as palavras proparoxítonas, reais ou aparentes, cujas
vogais tónicas/tônicas grafadas e ou o estão em final de sí laba e são seguidas das consoantes nasais
grafadas m ou n, conforme o seu timbre é, respectivamente, aberto ou fechado nas pronúncias cultas da
língua: académico/acadêmico, anatómico/anatômico, cénico/cênico, cómodo/cômodo, fenómeno/fenômeno,
género/gênero, topónimo/topônimo; Amazónia/Amazônia, António/Antônio, blasfémia/blasfêmia,
fémea/fêmea, gémeo/gêmeo, génio/gênio, ténue/tênue.
Base XII
Do emprego do acento grave
1º)Emprega-se o acento grave:
a)Na contração da preposição a com as formas femininas do artigo ou pronome demonstrativo o: à
(de a + a), às (de a + as);
b)Na contração da preposição a com os demonstrativos aquele, aquela, aqueles, aquelas e aquilo ou
ainda da mesma preposição com os compostos aqueloutro e suas flexões: àquele(s), àquela(s), àquilo;
àqueloutro(s), àqueloutra(s);
Base XIII
Da supressão dos acentos em palavras derivadas
1º)Nos advérbios em mente, derivados de adjetivos com acento agudo ou circunflexo, estes são
suprimidos: avidamente (de ávido), debilmente (de débil), facilmente (de fácil), habilmente (de hábil),
ingenuamente (de ingênuo), lucidamente (de lúcido), mamente (de má), somente (de só), unicamente (de
único), etc.; candidamente (de cândido), cortesmente (de cortês), dinamicamente (de dinâmico),
espontaneamente (de espontâneo), portuguesmente (de português), romanticamente (de romântico).
2º)Nas palavras derivadas que contêm sufixos iniciados por z e cujas formas de base apresentam
vogas tónica/tônica com acento agudo ou circunflexo, estes são suprimidos: aneizinhos (de anéis), avozinha
(de avó), bebezito (de bebê), cafezada (de café), chapeuzinho (de chapéu), chazeiro (de chá), heroizito (de
herói), ilheuzito (de ilhéu), mazinha (de má), orfãozinho (de órfão), vintenzito (de vintém), etc.; avozinho (de
avô), bençãozinha (de bênção), lampadazita (de lâmpada), pessegozito (de pêssego).
Base XIV
Do trema
O trema, sinal de diérese, é inteiramente suprimido em palavras portuguesas ou aportuguesadas.
Nem sequer se emprega na poesia, mesmo que haja separação de duas vogais que normalmente formam
ditongo: saudade, e não saüdade, ainda que tetrassílabo; saudar, e não saüdar, ainda que trissílabo; etc.
Em virtude desta supressão, abstrai-se de sinal especial, quer para distinguir, em sílaba átona, um i
ou um u de uma vogal da sílaba anterior, quer para distinguir, também em sílaba átona, um i ou um u de um
ditongo precedente, quer para distinguir, em sílaba tónica/tônica ou átona, o u de gu ou de qu de um e ou i
seguintes: arruinar, constituiria, depoimento, esmiuçar, faiscar, faulhar, oleicultura, paraibano, reunião;
abaiucado, auiqui, caiuá, cauixi, piauiense; aguentar, anguiforme, arguir, bilíngue (ou bilingue), lingueta,
linguista, linguístico; cinquenta, equestre, frequentar, tranquilo, ubiquidade.
Obs.: Conserva-se, no entanto, o trema, de acordo com a Base I, 3º, em palavras derivadas de nomes
próprios estrangeiros: hübneriano, de Hübner, mülleriano, de Müller, etc.
Base XV
Do hífen em compostos, locuções e
encadeamentos vocabulares
1º)Emprega-se o hífen nas palavras compostas por justaposição que não contêm formas de ligação e
cujos elementos, de natureza nominal, adjetival, numeral ou verbal, constituem uma unidade sintagmática e
semântica e mantêm acento próprio, podendo dar-se o caso de o primeiro elemento estar reduzido: ano-luz,
arcebispo-bispo, arco-íris, decreto-lei, é s-sueste, médico-cirurgião, rainha-cláudia, tenente-coronel, tio-avô,
turma-piloto; alcaide-mor, amor-perfeito, guarda-noturno, mato-grossense, norte-americano, porto-alegrense,
sul-africano; afro-asiático, afro-luso-brasileiro, azul-escuro, luso-brasileiro, primeiro-ministro, primeiro-
sargento, primo-infeção, segunda-feira; conta-gotas, finca-pé, guarda-chuva.
Obs.: Certos compostos, em relação aos quais se perdeu, em certa medida, a noção de composição,
grafam-se aglutinadamente: girassol, madressilva, mandachuva, pontapé, paraquedas, paraquedista, etc.
2º)Emprega-se o hífen nos topónimos/topônimos compostos, iniciados pelos adjetivos grã, grão ou
por forma verbal ou cujos elementos estejam ligados por artigo: Grã-Bretanha, Grão-Pará; Abre-Campo;
Passa-Quatro, Quebra-Costas, Quebra-Dentes, Traga-Mouros, Trinca-Fortes; Albergaria-a-Velha, Baía de
Todos-os-Santos, Entre-os-Rios, Montemor-o-Novo, Trás-os-Montes.
Obs.: Os outros topónimos/topônimos compostos escrevem-se com os elementos separados, sem hífen:
América do Sul, Belo Horizonte, Cabo Verde, Castelo Branco, Freixo de Espada à Cinta, etc. O
topónimo/topônimo Guiné-Bissau é, contudo, uma exceção consagrada pelo uso.
3º)Emprega-se o hífen nas palavras compostas que designam espécies botânicas e zoológicas,
estejam ou não ligadas por preposição ou qualquer outro elemento: abóbora-menina, couve-flor, erva-doce,
feijão-verde; benção-de-deus, erva-do-chá, ervilha-de-cheiro, fava-de-santo-inácio; bem-me-quer (nome de
planta que também se dá à margarida e ao malmequer); andorinha-grande, cobra-capelo, formiga-branca;
andorinha-do-mar, cobra-d’água, lesma-de-conchinha; bem-te-vi (nome de um pássaro).
4º)Emprega-se o hífen nos compostos com os advérbios bem e mal, quando estes formam com o
elemento que se lhes segue uma unidade sintagmática e semântica e tal elemento começa por vogal ou h.
No entanto, o advérbio bem, ao contrário do mal, pode não se aglutinar com palavras começadas por
consoante. Eis alguns exemplos das várias situações: bem-aventurado, bem-estar, bem-humorado; mal-
afortunado, mal-estar, mal-humorado; bem-criado (cf. malcriado), bem-ditoso (cf. malditoso), bem-falante (cf.
malfalante), bem-mandado (cf. malmandado), bem-nascido (cf. malnascido), bem-soante (cf. malsoante),
bem-visto (cf. malvisto).
Obs.: Em muitos compostos, o advérbio bem aparece aglutinado com o segundo elemento, quer este tenha
ou não vida à parte: benfazejo, benfeito, benfeitor, benquerença, etc.
5º)Emprega-se o hífen nos compostos com os elementos além, aquém, recém e sem: além-Atlântico,
além-mar, além-fronteiras; aquém-mar, aquém-Pirenéus; recém-casado, recém-nascido; sem-cerimônia,
sem-número, sem-vergonha.
6º)Nas locuções de qualquer tipo, sejam elas substantivas, adjetivas, pronominais, adverbiais,
prepositivas ou conjuncionais, não se emprega em geral o hífen, salvo algumas exceções já consagradas
pelo uso (como é o caso de água-de-colônia, arco-da-velha, cor-de-rosa, mais-que-perfeito, pé -de-meia, ao
deus-dará, à queima-roupa). Sirvam, pois, de exemplo de emprego sem hífen as seguintes locuções:
a)Substantivas: cão de guarda, fim de semana, sala de jantar;
b)Adjetivas: cor de açafrão, cor de café com leite, cor de vinho;
c)Pronominais: cada um, ele próprio, nós mesmos, quem quer que seja;
d)Adverbiais: à parte (note-se o substantivo aparte), à vontade, de mais (locução que se contrapõe a
de menos; note-se demais, advérbio, conjunção, etc.), depois de amanhã, em cima, por isso;
e)Prepositivas: abaixo de, acerca de, acima de, a fim de, a par de, à parte de, apesar de, aquando de,
debaixo de, enquanto a, por baixo de, por cima de, quanto a;
f)Conjuncionais: a fim de que, ao passo que, contanto que, logo que, por conseguinte, visto que.
7º)Emprega-se o hífen para ligar duas ou mais palavras que ocasionalmente se combinam, formando,
não propriamente vocábulos, mas encadeamentos vocabulares (tipo: a divisa Liberdade-Igualdade-
Fraternidade, a ponte Rio-Niterói, o percurso Lisboa-Coimbra-Porto, a ligação Angola-Moçambique), e bem
assim nas combinações históricas ou ocasionais de topónimos/topônimos (tipo: Áustria-Hungria, Alsácia-
Lorena, Angola-Brasil, Tóquio-Rio de Janeiro, etc.).
Base XVI
Do hífen nas formações por prefixação, recomposição e sufixação
1º)Nas formações com prefixos (como, por exemplo: ante-, anti-, circum-, co-, contra-, entre-, extra-,
hiper-, infra-, intra-, pós-, pré-, pró-, sobre-, sub-, super-, supra-, ultra-, etc.) e em formações por
recomposição, isto é, com elementos não autônomos ou falsos prefixos, de origem grega e latina (tais como:
aero-, agro-, arqui-, auto-, bio-, eletro-, geo-, hidro-, inter-, macro-, maxi-, micro-, mini-, multi-, neo-, pan-,
pluri-, proto-, pseudo-, retro-, semi-, tele-, etc.), só se emprega o hífen nos seguintes casos:
a)Nas formações em que o segundo elemento começa por h: anti-higiénico/anti-higiênico, circum-
hospitalar, co-herdeiro, contra-harmónico/contra-harmônico, extra-humano, pré-história, sub-hepático, super-
homem, ultra-hiperbólico; arqui-hipérbole, eletro-higrómetro, geo-história, neo-helénico/neo-helênico, pan-
helenismo, semi-hospitalar.
Obs.: Não se usa, no entanto, o hífen em formações que contêm em geral os prefixos des- e in- e nas quais
o segundo elemento perdeu o h inicial: desumano, desumidificar, inábil, inumano, etc.
b)Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina na mesma vogal com que se inicia o
segundo elemento: anti-ibérico, contra-almirante, infra-axilar, supra-auricular; arqui-irmandade, auto-
observação, eletro-ótica, micro-onda, semi-interno.
Obs.: Nas formações com o prefixo co-, este aglutina-se em geral com o segundo elemento mesmo quando
iniciado por o: coobrigação, coocupante, coordenar, cooperação, cooperar, etc.
c)Nas formações com os prefixos circum- e pan-, quando o segundo elemento começa por vogal, m
ou n (além de h, caso já considerado atrás na alínea a): circum-escolar, circum-murado, circum-navegação;
pan-africano, pan-mágico, pan-negritude.
d)Nas formações com os prefixos hiper-, inter- e super-, quando combinados com elementos iniciados
por r: hiper-requintado, inter-resistente, super-revista.
e)Nas formações com os prefixos ex- (com o sentido de estado anterior ou cessamento), sota-, soto-,
vice- e vizo-: ex-almirante, ex-diretor, ex-hospedeira, ex-presidente, ex-primeiro-ministro, ex-rei; sota-piloto,
soto-mestre, vice-presidente, vice-reitor, vizo-rei.
f)Nas formações com os prefixos tónicos/tônicos acentuados graficamente pós-, pré- e pró- quando o
segundo elemento tem vida à parte (ao contrário do que acontece com as correspondentes formas átonas
que se aglutinam com o elemento seguinte): pós-graduação, pós-tónico/pós-tônicos (mas pospor); pré-
escolar, pré-natal (mas prever); pró-africano, pró-europeu (mas promover).
2º)Não se emprega, pois, o hífen:
a)Nas formações em que o prefixo ou falso prefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
por r ou s, devendo estas consoantes duplicar-se, prática aliás já generalizada em palavras deste tipo
pertencentes aos domínios científico e técnico. Assim: antirreligioso, antissemita, contrarregra,
comtrassenha, cosseno, extrarregular, infrassom, minissaia, tal como biorritmo, biossatélite,
eletrossiderurgia, microssistema, microrradiografia.
b)Nas formações em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
por vogal diferente, prática esta em geral já adotada també m para os termos técnicos e científicos. Assim:
antiaéreo, coeducação, extraescolar; aeroespacial, autoestrada, autoaprendizagem, agroindustrial,
hidroelétrico, plurianual.
3º)Nas formações por sufixação apenas se emprega o hífen nos vocábulos terminados por sufixos de
origem tupi-guarani que representam formas adjetivas, como açu, guaçu e mirim, quando o primeiro
elemento acaba em vogal acentuada graficamente ou quando a pronúncia exige a distinção gráfica dos dois
elementos: amoré-guaçu, anajá-mirim, andá-açu, capim-açu, Ceará-Mirim.
Base XVII
Do hífen na ênclise, na tmese e com o verbo haver
1º)Emprega-se o hífen na ênclise e na tmese: amá-lo, dá-se, deixa-o, partir-lhe; amá-lo-ei, enviar-lhe-
emos.
2º)Não se emprega o hífen nas ligações da preposição de às formas monossilábicas do presente do
indicativo do verbo haver: hei de, hás de, hão de, etc.
Obs.: 1. Embora estejam consagradas pelo uso as formas verbais quer e requer, dos verbos querer e
requerer, em vez de quere e requere, estas últimas formas conservam-se, no entanto, nos casos de ênclise:
quere-o(s), requere-o(s). Nestes contextos, as formas (legítimas, aliás) qué-lo e requé-lo são pouco usadas.
2. Usa-se também o hífen nas ligações de formas pronominais enclíticas ao advérbio eis (eis-me, ei-
lo) e ainda nas combinações de formas pronominais do tipo no-lo, vo-las, quando em próclise (por ex.:
esperamos que no-lo comprem).
Base XVIII
Do apóstrofo
1º)São os seguintes os casos de emprego do apóstrofo:
a)Faz-se uso do apóstrofo para cindir graficamente uma contração ou aglutinação vocabular, quando
um elemento ou fração respectiva pertence propriamente a um conjunto vocabular distinto: d’ Os Lusíadas,
d’ Os Sertões; n’ Os Lusíadas, n’ Os Sertões; pel’ Os Lusíadas, pel’ Os Sertões. Nada obsta, contudo, a
que estas escritas sejam substituídas por empregos de preposições íntegras, se o exigir razão especial de
clareza, expressividade ou ênfase: de Os Lusíadas, em Os Lusíadas, por Os Lusíadas, etc.
As cisões indicadas são análogas às dissoluções gráficas que se fazem, embora sem emprego do
apóstrofo, em combinações da preposição a com palavras pertencentes a conjuntos vocabulares imediatos:
a A Relíquia, a Os Lusíadas (exemplos: importância atribuída a A Relíquia; recorro a Os Lusíadas). Em tais
casos, como é óbvio, entende-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a
A = à, a Os = aos, etc.
b)Pode cindir-se por meio do apóstrofo uma contração ou aglutinação vocabular, quando um elemento
ou fração respectiva é forma pronominal e se lhe quer dar realce com o uso de maiúscula: d’Ele, n’Ele,
d’Aquele, n’Aquele, d’O, n’O, pel’O, m’O, t’O, lh’O, casos em que a segunda parte, forma masculina, é
aplicável a Deus, a Jesus, etc.; d’Ela, n’Ela, d’Aquela, dA, n’A, pel’A, m’A, t’A, lh’A, casos em que a segunda
parte, forma feminina, é aplicável à mãe de Jesus, à Providência, etc. Exemplos frásicos: confiamos n’O que
nos salvou; esse milagre revelou-m’O; está n’Ela a nossa esperança; pugnemos pel’A que é nossa
padroeira.
À semelhança das cisões indicadas, pode dissolver-se graficamente, posto que sem uso do apóstrofo,
uma combinação da preposição a com uma forma pronominal realçada pela maiúscula: a O, a Aquele, a
Aquela (entendendo-se que a dissolução gráfica nunca impede na leitura a combinação fonética: a O = ao,
a Aquela = àquela, etc.). Exemplos frásicos: a O que tudo pode; a Aquela que nos protege.
c)Emprega-se o apóstrofo nas ligações das formas santo e santa a nomes do hagiológio, quando
importa representar a elisão das vogais finais o e a: Sant’Ana, Sant’Iago, etc. É, pois, correto escrever:
Calçada de Sant’Ana, Rua de Sant’Ana; culto de Sant’Iago, Ordem de Sant’Iago. Mas, se as ligações deste
gênero, como é o caso destas mesmas Sant’Ana e Sant’Iago, se tornam perfeitas unidades mórficas,
aglutinam-se os dois elementos: Fulano de Santana, ilhéu de Santana, Santana de Parnaíba; Fulano de
Santiago, ilha de Santiago, Santiago do Cacém.
Em paralelo com a grafia Sant’Ana e congêneres, emprega-se também o apóstrofo nas ligações de
duas formas antroponímicas, quando é necessário indicar que na primeira se elide um o final: NunÁlvares,
Pedr’Eanes.
Note-se que nos casos referidos as escritas com apóstrofo, indicativas de elisão, não impedem, de
modo algum, as escritas sem apóstrofo: Santa Ana, Nuno Álvares, Pedro Álvares, etc.
d)Emprega-se o apóstrofo para assinalar, no interior de certos compostos, a elisão do e da
preposição de, em combinação com substantivos: borda-d’água, cobra-d’água, copo-d’água, estrela-d’alva,
galinha-d’água, mãe-d’água, pau-d’água, pau-d’alho, pau-d’arco, pau-d’óleo.
2º)São os seguintes os casos em que não se usa o apóstrofo:
Não é admissível o uso do apóstrofo nas combinações das preposições de e em com as formas do
artigo definido, com formas pronominais diversas e com formas adverbiais (excetuado o que se estabelece
nas alíneas 1º) a) e 1º) b)). Tais combinações são representadas:
a)Por uma só forma vocabular, se constituem, de modo fixo, uniões perfeitas:
i) do, da, dos, das; dele, dela, deles, delas; deste, desta, destes, destas, disto; desse, dessa, desses,
dessas, disso; daquele, daquela, daqueles, daquelas, daquilo; destoutro, destoutra, destoutros, destoutras;
dessoutro, dessoutra, dessoutros, dessoutras; daqueloutro, daqueloutra, daqueloutros, daqueloutras; daqui;
daí; dali; dacolá; donde; dantes (= antigamente);
ii) no, na, nos, nas; nele, nela, neles, nelas; neste, nesta, nestes, nestas, nisto; nesse, nessa, nesses,
nessas, nisso; naquele, naquela, naqueles, naquelas, naquilo; nestoutro, nestoutra, nestoutros, nestoutras;
nessoutro, nessoutra, nessoutros, nessoutras; naqueloutro, naqueloutra, naqueloutros, naqueloutras; num,
numa, nuns, numas; noutro, noutra, noutros, noutras, noutrem; nalgum, nalguma, nalguns, nalgumas,
nalguém.
b)Por uma ou duas formas vocabulares, se não constituem, de modo fixo, uniões perfeitas (apesar de
serem correntes com esta feição em algumas pronúncias): de um, de uma, de uns, de umas, ou dum,
duma, duns, dumas; de algum, de alguma, de alguns, de algumas, de alguém, de algo, de algures, de
alhures, ou dalgum, dalguma, dalguns, dalgumas, dalguém, dalgo, dalgures, dalhures; de outro, de outra, de
outros, de outras, de outrem, de outrora, ou doutro, doutra, doutros, doutras, doutrem, doutrora; de aquém
ou daquém; de além ou dalém; de entre ou dentre.
De acordo com os exemplos deste último tipo, tanto se admite o uso da locução adverbial de ora
avante como do advérbio que representa a contração dos seus três elementos: doravante.
Obs.: Quando a preposição de se combina com as formas articulares ou pronominais o, a, os, as, ou com
quaisquer pronomes ou advérbios começados por vogal, mas acontece estarem essas palavras integradas
em construções de infinitivo, não se emprega o apóstrofo, nem se funde a preposição com a forma imediata,
escrevendo-se estas duas separadamente: a fim de ele compreender; apesar de o não ter visto; em virtude
de os nossos pais serem bondosos; o fato de o conhecer; por causa de aqui estares.
Base XIX
Das minúsculas e maiúsculas
1º)A letra minúscula inicial é usada:
a)Ordinariamente, em todos os vocábulos da língua nos usos correntes.
b)Nos nomes dos dias, meses, estações do ano: segunda-feira; outubro; primavera.
c)Nos bibliónimos/bibliônimos (após o primeiro elemento, que é com maiúscula, os demais vocábulos,
podem ser escritos com minúscula, salvo nos nomes próprios nele contidos, tudo em grifo): O Senhor do
Paço de Ninães, O senhor do paço de Ninães, Menino de Engenho ou Menino de engenho, Árvore e
Tambor ou Árvore e tambor.
d)Nos usos de fulano, sicrano, beltrano.
e)Nos pontos cardeais (mas não nas suas abreviaturas); norte, sul (mas: SW sudoeste).
f)Nos axiónimos/axiônimos e hagiónimos/hagiônimos (opcionalmente, neste caso, também com
maiúscula): senhor doutor Joaquim da Silva, bacharel Mário Abrantes, o cardeal Bembo; santa Filomena (ou
Santa Filomena).
g)Nos nomes que designam domínios do saber, cursos e disciplinas (opcionalmente, também com
maiúscula): português (ou Português), matemática (ou Matemática); línguas e literaturas modernas (ou
Línguas e Literaturas Modernas).
2º)A letra maiúscula inicial é usada:
a)Nos antropónimos/antropônimos, reais ou fictícios: Pedro Marques; Branca de Neve, D. Quixote.
b)Nos topónimos/topônimos, reais ou fictícios: Lisboa, Luanda, Maputo, Rio de Janeiro; Atlântida,
Hespéria.
c)Nos nomes de seres antropomorfizados ou mitológicos: Adamastor; Neptuno / Netuno.
d)Nos nomes que designam instituições: Instituto de Pensões e Aposentadorias da Previdência
Social.
e)Nos nomes de festas e festividades: Natal, Páscoa, Ramadão, Todos os Santos.
f)Nos títulos de periódicos, que retêm o itálico: O Primeiro de Janeiro, O Estado de São Paulo (ou S.
Paulo).
g)Nos pontos cardeais ou equivalentes, quando empregados absolutamente: Nordeste, por nordeste
do Brasil, Norte, por norte de Portugal, Meio-Dia, pelo sul da França ou de outros países, Ocidente, por
ocidente europeu, Oriente, por oriente asiático.
h)Em siglas, símbolos ou abreviaturas internacionais ou nacionalmente reguladas com maiúsculas,
iniciais ou mediais ou finais ou o todo em maiúsculas: FAO, NATO, ONU; H
2
O; Sr., V. Ex
a
.
i)Opcionalmente, em palavras usadas reverencialmente, aulicamente ou hierarquicamente, em iní cio
de versos, em categorizações de logradouros públicos: (rua ou Rua da Liberdade, largo ou Largo dos
Leões), de templos (igreja ou Igreja do Bonfim, templo ou Templo do Apostolado Positivista), de edifícios
(palácio ou Palácio da Cultura, edifício ou Edifício Azevedo Cunha).
Obs.: As disposições sobre os usos das minúsculas e maiúsculas não obstam a que obras especializadas
observem regras próprias, provindas de códigos ou normalizações específicas (terminologias antropológica,
geológica, bibliológica, botânica, zoológica, etc.), promanadas de entidades científicas ou normalizadoras,
reconhecidas internacionalmente.
Base XX
Da divisão silábica
A divisão silábica, que em regra se faz pela soletração (a-ba-de, bru-ma, ca-cho, lha-no, ma-lha, ma-nha,
má-xi-mo, ó-xi-do, ro-xo, tme-se), e na qual, por isso, se não tem de atender aos elementos constitutivos
dos vocábulos segundo a etimologia (a-ba-li-e-nar, bi-sa-vô, de-sa-pa-re-cer, di-sú-ri-co, e-xâ-ni-me, hi-pe-
ra-cú-sti-co, i-ná-bil, o-bo-val, su-bo-cu-lar, su-pe-rá-ci-do), obedece a vários preceitos particulares, que
rigorosamente cumpre seguir, quando se tem de fazer em fim de linha, mediante o emprego do hífen, a
partição de uma palavra:
1º)São indivisíveis no interior da palavra, tal como inicialmente, e formam, portanto, sílaba para a
frente as sucessões de duas consoantes que constituem perfeitos grupos, ou sejam (com exceção apenas
de vários compostos cujos prefixos terminam em b, ou d: ab- legação, ad- ligar, sub- lunar, etc., em vez de
a- blegação, a- dligar, su- blunar, etc.) aquelas sucessões em que a primeira consoante é uma labial, uma
velar, uma dental ou uma labiodental e a segunda um l ou um r: a- blução, cele- brar, du- plicação, re- primir,
a- clamar, de- creto, de- glutição, re- grado; a- tlético, cáte- dra, períme- tro; a- fluir, a- fricano, ne- vrose.
2º)São divisíveis no interior da palavra as sucessões de duas consoantes que não constituem
propriamente grupos e igualmente as sucessões de m ou n, com valor de nasalidade, e uma consoante: ab-
dicar, Ed- gardo, op- tar, sub- por, ab- soluto, ad- jetivo, af- ta, bet- samita, íp- silon, ob- viar, des- cer, dis-
ciplina, flores- cer, nas- cer, res- cisão; ac- ne, ad- mirável, Daf- ne, diafrag- ma, drac- ma, ét- nico, rit- mo,
sub- meter, am- nésico, interam- nense; bir- reme, cor- roer, pror- rogar, as- segurar, bis- secular, sos- segar,
bissex- to, contex- to, ex- citar, atroz- mente, capaz- mente, infeliz- mente; am- bição, desen- ganar, en-
xame, man- chu, Mân- lio, etc.
3º)As sucessões de mais de duas consoantes ou de m ou n, com o valor de nasalidade, e duas ou
mais consoantes são divisíveis por um de dois meios: se nelas entra um dos grupos que são indivisíveis (de
acordo com o preceito 1º), esse grupo forma sílaba para diante, ficando a consoante ou consoantes que o
precedem ligadas à sílaba anterior; se nelas não entra nenhum desses grupos, a divisão dá-se sempre
antes da última consoante. Exemplos dos dois casos: cam- braia, ec- tlipse, em- blema, ex- plicar, in- cluir,
ins- crição, subs- crever, trans- gredir, abs- tenção, disp- neia, inters- telar, lamb- dacismo, sols- ticial, Terp-
sícore, tungs- tênio.
4º)As vogais consecutivas que não pertencem a ditongos decrescentes (as que pertencem a ditongos
deste tipo nunca se separam: ai- roso, cadei- ra, insti- tui, ora- ção, sacris- tães, traves- sões) podem, se a
primeira delas não é u precedido de g ou q, e mesmo que sejam iguais, separar-se na escrita: ala- ú de, áre-
as, ca- apeba, co- ordenar, do- er, flu- idez, perdo- as, vo- os. O mesmo se aplica aos casos de contiguidade
de ditongos, iguais ou diferentes, ou de ditongos e vogais: cai- ais, cai- eis, ensai- os, flu- iu.
5º)Os digramas gu e qu, em que o u se não pronuncia, nunca se separam da vogal ou ditongo
imediato (ne- gue, ne- guei; pe- que, pe- quei), do mesmo modo que as combinações gu e qu em que o u se
pronuncia: á- gua, ambí- guo, averi- gueis, longín-quos, lo- quaz, quais- quer.
6º) Na translineação de uma palavra composta ou de uma combinação de palavras em que há um
hífen, ou mais, se a partição coincide com o final de um dos elementos ou membros, deve, por clareza
gráfica, repetir-se o hífen no início da linha imediata: ex- -alferes, serená- -los-emos ou serená-los- -emos,
vice- -almirante.
Base XXI
Das assinaturas e firmas
Para ressalva de direitos, cada qual poderá manter a escrita que, por costume ou registro legal, adote
na assinatura do seu nome.
Com o mesmo fim, pode manter-se a grafia original de quaisquer firmas comerciais, nomes de
sociedades, marcas e títulos que estejam inscritos em registro público.
ANEXO II
NOTA EXPLICATIVA DO
ACORDO ORTOGRÁFICO DA LÍNGUA PORTUGUESA
(1990)
1. Memória breve dos acordos ortográficos
A existência de duas ortografias oficiais da língua portuguesa, a lusitana e a brasileira, tem sido
considerada como largamente prejudicial para a unidade intercontinental do português e para o seu
prestígio no Mundo.
Tal situação remonta, como é sabido, a 1911, ano em que foi adotada em Portugal a primeira grande
reforma ortográfica, mas que não foi extensiva ao Brasil.
Por iniciativa da Academia Brasileira de Letras, em consonância com a Academia das Ciências de
Lisboa, com o objetivo de se minimizarem os inconvenientes desta situação, foi aprovado em 1931 o
primeiro acordo ortográfico entre Portugal e o Brasil. Todavia, por razões que não importa agora mencionar,
este acordo não produziu, afinal, a tão desejada unificação dos dois sistemas ortográficos, fato que levou
mais tarde à convenção ortográfica de 1943. Perante as divergências persistentes nos Vocabulários
entretanto publicados pelas duas Academias, que punham em evidência os parcos resultados práticos do
acordo de 1943, realizou-se, em 1945, em Lisboa, novo encontro entre representantes daquelas duas
agremiações, o qual conduziu à chamada Convenção Ortográfica Luso-Brasileira de 1945. Mais uma vez,
porém, este acordo não produziu os almejados efeitos, já que ele foi adotado em Portugal, mas não no
Brasil.
Em 1971, no Brasil, e em 1973, em Portugal, foram promulgadas leis que reduziram substancialmente
as divergências ortográficas entre os dois países. Apesar destas louváveis iniciativas, continuavam a
persistir, porém, divergências sérias entre os dois sistemas ortográficos.
No sentido de as reduzir, a Academia das Ciências de Lisboa e a Academia Brasileira de Letras
elaboraram em 1975 um novo projeto de acordo que não foi, no entanto, aprovado oficialmente por razões
de ordem política, sobretudo vigentes em Portugal.
E é neste contexto que surge o encontro do Rio de Janeiro, em Maio de 1986, e no qual se
encontram, pela primeira vez na história da língua portuguesa, representantes não apenas de Portugal e do
Brasil mas também dos cinco novos países africanos lusófonos entretanto emergidos da descolonização
portuguesa.
O Acordo Ortográfico de 1986, conseguido na reunião do Rio de Janeiro, ficou, porém, inviabilizado
pela reação polêmica contra ele movida sobretudo em Portugal.
2.Razões do fracasso dos acordos ortográficos
Perante o fracasso sucessivo dos acordos ortográficos entre Portugal e o Brasil, abrangendo o de
1986 também os países lusófonos de África, importa refletir seriamente sobre as razões de tal malogro.
Analisando sucintamente o conteúdo dos acordos de 1945 e de 1986, a conclusão que se colhe é a
de que eles visavam impor uma unificação ortográfica absoluta.
Em termos quantitativos e com base em estudos desenvolvidos pela Academia das Ciências de
Lisboa, com base num corpus de cerca de 110.000 palavras, conclui-se que o Acordo de 1986 conseguia a
unificação ortográfica em cerca de 99,5% do vocabulário geral da língua. Mas conseguia-a sobretudo à
custa da simplificação drástica do sistema de acentuação gráfica, pela supressão dos acentos nas palavras
proparoxítonas e paroxítonas, o que não foi bem aceito por uma parte substancial da opinião pública
portuguesa.
Também o acordo de 1945 propunha uma unificação ortográfica absoluta que rondava os 100% do
vocabulário geral da língua. Mas tal unificação assentava em dois princípios que se revelaram inaceitáveis
para os brasileiros:
a)Conservação das chamadas consoantes mudas ou não articuladas, o que correspondia a uma
verdadeira restauração destas consoantes no Brasil, uma vez que elas tinham há muito sido abolidas.
b)Resolução das divergências de acentuação das vogais tônicas e e o, seguidas das consoantes
nasais m e n, das palavras proparoxítonas (ou esdrúxulas) no sentido da prática portuguesa, que consistia
em as grafar com acento agudo e não circunflexo, conforme a prática brasileira.
Assim se procurava, pois, resolver a divergência de acentuação gráfica de palavras como António e
Antônio, cómodo e cômodo, género e gênero, oxigénio e oxigênio, etc., em favor da generalização da
acentuação com o diacrítico agudo. Esta solução estipulava, contra toda a tradição ortográfica portuguesa,
que o acento agudo, nestes casos, apenas assinalava a tonicidade da vogal e não o seu timbre, visando
assim resolver as diferenças de pronúncia daquelas mesmas vogais.
A inviabilização prática de tais soluções leva-nos à conclusão de que não é possível unificar por via
administrativa divergências que assentam em claras diferenças de pronúncia, um dos critérios, aliás, em
que se baseia o sistema ortográfico da língua portuguesa.
Nestas condições, há que procurar uma versão de unificação ortográfica que acautele mais o futuro
do que o passado e que não receie sacrificar a simplificação também pretendida em 1986, em favor da
máxima unidade possível. Com a emergência de cinco novos países lusófonos, os fatores de desagregação
da unidade essencial da língua portuguesa far-se-ão sentir com mais acuidade e também no domínio
ortográfico. Neste sentido importa, pois, consagrar uma versão de unificação ortográfica que fixe e delimite
as diferenças atualmente existentes e previna contra a desagregação ortográfica da língua portuguesa.
Foi, pois, tendo presentes estes objetivos, que se fixou o novo texto de unificação ortográfica, o qual
representa uma versão menos forte do que as que foram conseguidas em 1945 e 1986. Mas ainda assim
suficientemente forte para unificar ortograficamente cerca de 98% do vocabulário geral da língua.
3.Forma e substância do novo texto
O novo texto de unificação ortográfica agora proposto contém alterações de forma (ou estrutura) e de
conteúdo, relativamente aos anteriores. Pode dizer-se, simplificando, que em termos de estrutura se
aproxima mais do acordo de 1986, mas que em termos de conteúdo adota uma posição mais conforme com
o projeto de 1975, atrás referido.
Em relação às alterações de conteúdo, elas afetam sobretudo o caso das consoantes mudas ou não
articuladas, o sistema de acentuação gráfica, especialmente das esdrúxulas, e a hifenação.
Pode dizer-se ainda que, no que respeita às alterações de conteúdo, de entre os princípios em que
assenta a ortografia portuguesa, se privilegiou o critério fonético (ou da pronúncia) com um certo detrimento
para o critério etimológico.
É o critério da pronúncia que determina, aliás, a supressão gráfica das consoantes mudas ou não
articuladas, que se têm conservado na ortografia lusitana essencialmente por razões de ordem etimológica.
É também o critério da pronúncia que nos leva a manter um certo número de grafias duplas do tipo de
caráter e carácter, facto e fato, sumptuoso e suntuoso, etc.
É ainda o critério da pronúncia que conduz à manutenção da dupla acentuação gráfica do tipo de
económico e econômico, efémero e efêmero, género e gênero, génio e gênio, ou de bónus e bônus, sémen
e sêmen, ténis e tênis, ou ainda de bebé e bebê, ou metro e metrô, etc.
Explicitam-se em seguida as principais alterações introduzidas no novo texto de unificação
ortográfica, assim como a respectiva justificação.
4.Conservação ou supressão das consoantes c, p, b, g, m e t em certas seqüências consonânticas
(Base IV)
4.1.Estado da questão
Como é sabido, uma das principais dificuldades na unificação da ortografia da língua portuguesa
reside na solução a adotar para a grafia das consoantes c e p, em certas seqüências consonânticas
interiores, já que existem fortes divergências na sua articulação.
Assim, umas vezes, estas consoantes são invariavelmente proferidas em todo o espaço geográfico da
língua portuguesa, conforme sucede em casos como compacto, ficção, pacto; adepto, aptidão, núpcias; etc.
Neste caso, não existe qualquer problema ortográfico, já que tais consoantes não podem deixar de
grafar-se (v. Base IV, 1º a).
Noutros casos, porém, dá-se a situação inversa da anterior, ou seja, tais consoantes não são
proferidas em nenhuma pronúncia culta da língua, como acontece em acção, afectivo, direcção; adopção,
exacto, óptimo; etc. Neste caso existe um problema. É que na norma gráfica brasileira há muito estas
consoantes foram abolidas, ao contrá rio do que sucede na norma gráfica lusitana, em que tais consoantes
se conservam. A solução que agora se adota (v. Base IV, b) é a de as suprimir, por uma questão de
coerência e de uniformização de critérios (vejam-se as razões de tal supressão adiante, em 4.2.).
As palavras afectadas por tal supressão representam 0,54% do vocabulário geral da língua, o que é
pouco significativo em termos quantitativos (pouco mais de 600 palavras em cerca de 110.000). Este número
é, no entanto, qualitativamente importante, já que compreende vocábulos de uso muito frequente (como, por
ex., acção, actor, actual, colecção, colectivo, correcção, direcçã o, director, electricidade, factor, factura,
inspector, lectivo, óptimo, etc.).
O terceiro caso que se verifica relativamente às consoantes c e p diz respeito à oscilação de
pronúncia, a qual ocorre umas vezes no interior da mesma norma culta (cf. por ex., cacto ou cato, dicção ou
dição, sector ou setor, etc.), outras vezes entre normas cultas distintas (cf., por ex., facto, receção em
Portugal, mas fato, recepção no Brasil).
A solução que se propõe para estes casos, no novo texto ortográfico, consagra a dupla grafia (v. Base
IV, 1º c).
A estes casos de grafia dupla devem acrescentar-se as poucas variantes do tipo de súbdito e súdito,
subtil e sutil, amígdala e amídala, amnistia e anistia, aritmética e arimética, nas quais a oscilação da
pronúncia se verifica quanto às consoantes b, g, m e t (v. Base IV, 2º).
O número de palavras abrangidas pela dupla grafia é de cerca de 0,5% do vocabulário geral da
língua, o que é pouco significativo (ou seja, pouco mais de 575 palavras em cerca de 110.000), embora nele
se incluam também alguns vocábulos de uso muito frequente.
4.2. Justificação da supressão de consoantes não articuladas (Base IV 1º b)
As razões que levaram à supressão das consoantes mudas ou não articuladas em palavras como
ação (acção), ativo (activo), diretor (director), ótimo (óptimo) foram essencialmente as seguintes:
a)O argumento de que a manutenção de tais consoantes se justifica por motivos de ordem
etimológica, permitindo assinalar melhor a similaridade com as palavras congêneres das outras línguas
românicas, não tem consistência. Por outro lado, várias consoantes etimológicas se foram perdendo na
evolução das palavras ao longo da história da língua portuguesa. Vários são, por outro lado, os exemplos de
palavras deste tipo, pertencentes a diferentes línguas românicas, que, embora provenientes do mesmo
étimo latino, revelam incongruências quanto à conservação ou não das referidas consoantes.
É o caso, por exemplo, da palavra objecto, proveniente do latim objectu-, que até agora conservava o
c, ao contrário do que sucede em francês (cf. objet), ou em espanhol (cf. objeto). Do mesmo modo projecto
(de projectu-) mantinha até agora a grafia com c, tal como acontece em espanhol (cf. proyecto), mas não em
francês (cf. projet). Nestes casos o italiano dobra a consoante, por assimilação (cf. oggetto e progetto). A
palavra vitória há muito se grafa sem c, apesar do espanhol victoria, do francês victoire ou do italiano
vittoria. Muitos outros exemplos se poderiam citar. Aliás, não tem qualquer consistência a ideia de que a
similaridade do português com as outras línguas românicas passa pela manutenção de consoantes
etimológicas do tipo mencionado. Confrontem-se, por exemplo, formas como as seguintes: port. acidente
(do lat. accidente-), esp. accidente, fr. accident, it. accidente; port. dicionário (do lat. dictionariu-), esp.
diccionario, fr. dictionnaire, it. dizionario; port. ditar (do lat. dictare), esp. dictar, fr. dicter, it. dettare; port.
estrutura (de structura-), esp. estructura, fr. structure, it. struttura; etc.
Em conclusão, as divergências entre as línguas românicas, neste domínio, são evidentes, o que não
impede, aliás, o imediato reconhecimento da similaridade entre tais formas. Tais divergências levantam
dificuldades à memorização da norma gráfica, na aprendizagem destas línguas, mas não é com certeza a
manutenção de consoantes não articuladas em português que vai facilitar aquela tarefa.
b)A justificação de que as ditas consoantes mudas travam o fechamento da vogal precedente também
é de fraco valor, já que, por um lado, se mantêm na língua palavras com vogal pré-tónica aberta, sem a
presença de qualquer sinal diacrítico, como em corar, padeiro, oblação, pregar (= fazer uma prédica), etc.,
e, por outro, a conservação de tais consoantes não impede a tendência para o ensurdecimento da vogal
anterior em casos como accionar, actual, actualidade, exactidão, tactear, etc.
c)É indiscutível que a supressão deste tipo de consoantes vem facilitar a aprendizagem da grafia das
palavras em que elas ocorriam.
De fato, como é que uma criança de 6-7 anos pode compreender que em palavras como concepção,
excepção, recepção, a consoante não articulada é um p, ao passo que em vocábulos como correcção,
direcção, objecção, tal consoante é um c?
Só à custa de um enorme esforço de memorização que poderá ser vantajosamente canalizado para
outras áreas da aprendizagem da língua.
d)A divergência de grafias existente neste domínio entre a norma lusitana, que teimosamente
conserva consoantes que não se articulam em todo o domínio geográfico da língua portuguesa, e a norma
brasileira, que há muito suprimiu tais consoantes, é incompreensível para os lusitanistas estrangeiros,
nomeadamente para professores e estudantes de portuguê s, já que lhes cria dificuldades suplementares,
nomeadamente na consulta dos dicionários, uma vez que as palavras em causa vêm em lugares diferentes
da ordem alfabética, conforme apresentam ou não a consoante muda.
e)Uma outra razão, esta de natureza psicológica, embora nem por isso menos importante, consiste
na convicção de que não haverá unificação ortográfica da língua portuguesa se tal disparidade não for
revolvida.
f)Tal disparidade ortográfica só se pode resolver suprimindo da escrita as consoantes não articuladas,
por uma questão de coerência, já que a pronúncia as ignora, e não tentando impor a sua grafia àqueles que
há muito as não escrevem, justamente por elas não se pronunciarem.
4.3. Incongruências aparentes
A aplicação do princípio, baseado no critério da pronúncia, de que as consoantes c e p em certas
sequências consonânticas se suprimem, quando não articuladas, conduz a algumas incongruências
aparentes, conforme sucede em palavras como apocalítico ou Egito (sem p, já que este não se pronuncia),
a par de apocalipse ou egipcio (visto que aqui o p se articula), noturno (sem c, por este ser mudo), ao lado
de noctívago (com c por este se pronunciar), etc.
Tal incongruência é apenas aparente. De fato, baseando-se a conservação ou supressão daquelas
consoantes no critério da pronúncia, o que não faria sentido era mantê-las, em certos casos, por razões de
parentesco lexical. Se se abrisse tal exceção, o utente, ao ter que escrever determinada palavra, teria que
recordar previamente, para não cometer erros, se não haveria outros vocábulos da mesma família que se
escrevessem com este tipo de consoante.
Aliás, divergências ortográficas do mesmo tipo das que agora se propõem foram já aceites nas Bases
de 1945 (v. Base VI, último parágrafo), que consagraram grafias como assunção ao lado de assumptivo,
cativo, a par de captor e captura, dicionário, mas dicção, etc. A razão então aduzida foi a de que tais
palavras entraram e se fixaram na língua em condições diferentes. A justificação da grafia com base na
pronúncia é tão nobre como aquela razão.
4.4.Casos de dupla grafia (Base IV, 1º c, d e 2º)
Sendo a pronúncia um dos critérios em que assenta a ortografia da língua portuguesa, é inevitável
que se aceitem grafias duplas naqueles casos em que existem divergências de articulação quanto às
referidas consoantes c e p e ainda em outros casos de menor significado. Torna-se, porém, praticamente
impossível enunciar uma regra clara e abrangente dos casos em que há oscilação entre o emudecimento e
a prolação daquelas consoantes, já que todas as sequências consonânticas enunciadas, qualquer que seja
a vogal precedente, admitem as duas alternativas: cacto e cato, caracteres e carateres, dicção e dição, facto
e fato, sector e setor; ceptro e cetro; concepção e conceção, recepção e receção; assumpção e assunção,
peremptório e perentório, sumptuoso e suntuoso; etc.
De um modo geral pode dizer-se que, nestes casos, o emudecimento da consoante (exceto em
dicção, facto, sumptuoso e poucos mais) se verifica, sobretudo, em Portugal e nos países africanos,
enquanto no Brasil há oscilação entre a prolação e o emudecimento da mesma consoante.
Também os outros casos de dupla grafia (já mencionados em 4.1.), do tipo de súbdito e súdito, subtil e
sutil, amígdala e amídala, omnisciente e onisciente, aritmética e arimética, muito menos relevantes em
termos quantitativos do que os anteriores, se verificam sobretudo no Brasil.
Trata-se, afinal, de formas divergentes, isto é, do mesmo étimo. As palavras sem consoante, mais
antigas e introduzidas na língua por via popular, foram já usadas em Portugal e encontram-se
nomeadamente em escritores dos séculos XVI e XVII.
Os dicionários da língua portuguesa, que passarão a registrar as duas formas, em todos os casos de
dupla grafia, esclarecerão, tanto quanto possível, sobre o alcance geográfico e social desta oscilação de
pronúncia.
5.Sistema de acentuação gráfica (Bases VIII a XIII)
5.1.Análise geral da questão
O sistema de acentuação gráfica do português atualmente em vigor, extremamente complexo e
minucioso, remonta essencialmente à Reforma Ortográfica de 1911.
Tal sistema não se limita, em geral, a assinalar apenas a tonicidade das vogais sobre as quais
recaem os acentos gráficos, mas distingue também o timbre destas.
Tendo em conta as diferenças de pronúncia entre o português europeu e o do Brasil, era natural que
surgissem divergências de acentuação gráfica entre as duas realizações da língua.
Tais divergências têm sido um obstáculo à unificação ortográfica do português.
É certo que em 1971, no Brasil, e em 1973, em Portugal, foram dados alguns passos significativos no
sentido da unificação da acentuação gráfica, como se disse atrás. Mas, mesmo assim, subsistem
divergências importantes neste domínio, sobretudo no que respeita à acentuação das paroxítonas.
Não tendo tido viabilidade prática a solução fixada na Convenção Ortográfica de 1945, conforme já foi
referido, duas soluções eram possíveis para se procurar resolver esta questão.
Uma era conservar a dupla acentuação gráfica, o que constituía sempre um espinho contra a
unificação da ortografia.
Outra era abolir os acentos gráficos, solução adotada em 1986, no Encontro do Rio de Janeiro.
Esta solução, já preconizada no I Simpósio Luso-Brasileiro sobre a Língua Portuguesa
Contemporânea, realizada em 1967 em Coimbra, tinha sobretudo a justificá-la o fato de a língua oral
preceder a língua escrita, o que leva muitos utentes a não empregarem na prática os acentos gráficos, visto
que não os consideram indispensáveis à leitura e compreensão dos textos escritos.
A abolição dos acentos gráficos nas palavras proparoxítonas e paroxítonas, preconizada no Acordo
de 1986, foi, porém, contestada por uma larga parte da opinião pública portuguesa, sobretudo por tal
medida ir contra a tradição ortográfica e não tanto por estar contra a prática ortográfica.
A questão da acentuação gráfica tinha, pois, de ser repensada.
Neste sentido, desenvolveram-se alguns estudos e fizeram-se vários levantamentos estatísticos com
o objetivo de se delimitarem melhor e quantificarem com precisão as divergências existentes nesta matéria.
5.2.Casos de dupla acentuação
5.2.1.Nas proparoxítonas (Base XI)
Verificou-se assim que as divergências, no que respeita às proparoxítonas, se circunscrevem
praticamente, como já foi destacado atrás, ao caso das vogais tônicas e e o, seguidas das consoantes
nasais m e n, com as quais aquelas não formam sílaba (v. Base XI, 3º).
Estas vogais soam abertas em Portugal e nos países africanos recebendo, por isso, acento agudo,
mas são do timbre fechado em grande parte do Brasil, grafando-se por conseguinte com acento circunflexo:
académico/ acadêmico, cómodo/ cômodo, efémero/ efêmero, fenómeno/ fenômeno, génio/ gênio, tónico/
tônico, etc.
Existem uma ou outra exceção a esta regra, como, por exemplo, cômoro e sêmola, mas estes casos
não são significativos.
Costuma, por vezes, referir-se que o a tônico das proparoxítonas, quando seguido de m ou n com que
não forma sílaba, também está sujeito à referida divergência de acentuação gráfica. Mas tal não acontece,
porém, já que o seu timbre soa praticamente sempre fechado nas pronúncias cultas da língua, recebendo,
por isso, acento circunflexo: âmago, ânimo, botânico, câmara, dinâmico, gerânio, pânico, pirâmide.
As únicas exceções a este princípio são os nomes próprios de origem grega Dánae/ Dânae e Dánao/
Dânao.
Note-se que se as vogais e e o, assim como a, formam sílaba com as consoantes m ou n, o seu
timbre é sempre fechado em qualquer pronúncia culta da língua, recebendo, por isso, acento circunflexo:
êmbolo, amêndoa, argênteo, excêntrico, têmpera; anacreôntico, cômputo, recôndito, cânfora, Grândola,
Islândia, lâmpada, sonâmbulo, etc.
5.2.2.Nas paroxítonas (Base IX)
Também nos casos especiais de acentuação das paroxítonas ou graves (v. Base IX, 2º), algumas
palavras que contêm as vogais tônicas e e o em final de sílaba, seguidas das consoantes nasais m e n,
apresentam oscilação de timbre, nas pronúncias cultas da língua.
Tais palavras são assinaladas com acento agudo, se o timbre da vogal tônica é aberto, ou com acento
circunflexo, se o timbre é fechado: fémur ou fêmur, Fénix ou Fênix, ónix ou ônix, sémen ou sêmen, xénon ou
xênon; bónus ou bônus, ónus ou ônus, pónei ou pônei, ténis ou tênis, Vénus ou Vênus; etc. No total, estes
são pouco mais de uma dúzia de casos.
5.2.3.Nas oxítonas (Base VIII)
Encontramos igualmente nas oxítonas (v. Base VIII, a, Obs.) algumas divergências de timbre em
palavras terminadas em e tônico, sobretudo provenientes do francês. Se esta vogal tônica soa aberta,
recebe acento agudo; se soa fechada, grafa-se com acento circunflexo. Também aqui os exemplos pouco
ultrapassam as duas dezenas: bebé ou bebê, caraté ou caratê, croché ou crochê, guiché ou guichê, matiné
ou matinê, puré ou purê; etc. Existe também um caso ou outro de oxítonas terminadas em o ora aberto ora
fechado, como sucede em cocó ou cocô, ró ou rô.
A par de casos como este há formas oxítonas terminadas em o fechado, às quais se opõem variantes
paroxítonas, como acontece em judô e judo, metrô e metro, mas tais casos são muito raros.
5.2.4.Avaliação estatística dos casos de dupla acentuação gráfica
Tendo em conta o levantamento estatístico que se fez na Academia das Ciências de Lisboa, com
base no já referido corpus de cerca de 110.000 palavras do vocabulário geral da língua, verificou-se que os
citados casos de dupla acentuação gráfica abrangiam aproximadamente 1,27% (cerca de 1.400 palavras).
Considerando que tais casos se encontram perfeitamente delimitados, como se referiu atrás, sendo assim
possível enunciar a regra de aplicação, optou-se por fixar a dupla acentuação gráfica como a solução
menos onerosa para a unificação ortográfica da língua portuguesa.
5.3.Razões da manutenção dos acentos gráficos nas proparoxítonas e paroxítonas
Resolvida a questão dos casos de dupla acentuação gráfica, como se disse atrá s, já não tinha
relevância o principal motivo que levou em 1986 a abolir os acentos nas palavras proparoxítonas e
paroxítonas.
Em favor da manutenção dos acentos gráficos nestes casos, ponderaram-se, pois, essencialmente as
seguintes razões:
a)Pouca representatividade (cerva de 1,27%) dos casos de dupla acentuação.
b)Eventual influência da língua escrita sobre a língua oral, com a possibilidade de, sem acentos
gráficos, se intensificar a tendência para a paroxitonia, ou seja, deslocação do acento tônico da
antepenúltima para a penúltima sílaba, lugar mais frequente de colocação do acento tônico em português.
c)Dificuldade em apreender corretamente a pronúncia em termos de âmbito técnico e científico,
muitas vezes adquiridos através da língua escrita (leitura).
d)Dificuldades causadas, com a abolição dos acentos, à aprendizagem da língua, sobretudo quando
esta se faz em condições precárias, como no caso dos países africanos, ou em situação de auto-
aprendizagem.
e)Alargamento, com a abolição dos acentos gráficos, dos casos de homografia, do tipo de análise(s)/
analise(v.), fábrica(s.)/ fabrica(v.), secretária(s.)/ secretaria(s. ou v.), vária(s.)/ varia(v.), etc., casos que
apesar de dirimíveis pelo contexto sintático, levantariam por vezes algumas dúvidas e constituiriam sempre
problema para o tratamento informatizado do léxico.
f)Dificuldade em determinar as regras de colocação do acento tônico em função da estrutura mórfica
da palavra. Assim, as proparoxítonas, segundo os resultados estatísticos obtidos da análise de um corpus
de 25.000 palavras, constituem 12%. Destes, 12%, cerca de 30% são falsas esdrúxulas (cf. génio, água,
etc.). Dos 70% restantes, que são as verdadeiras proparoxítonas (cf. cômodo, gênero, etc.),
aproximadamente 29% são palavras que terminam em ico /–ica (cf. ártico, econômico, módico, prático,
etc.). Os restantes 41% de verdadeiras esdrúxulas distribuem-se por cerca de duzentas terminações
diferentes, em geral de caráter erudito (cf. espírito, ínclito, púlpito; filólogo; filósofo; esófago; epíteto; pássaro;
pêsames; facílimo; lindíssimo; parêntesis; etc.).
5.4.Supressão de acentos gráficos em certas palavras oxítonas e paroxítonas (Bases VIII, IX e X)
5.4.1.Em casos de homografia (Bases VIII, 3º e IX, 9º e 10º)
O novo texto ortográfico estabelece que deixem de se acentuar graficamente palavras do tipo de para
(á), flexão de parar, pelo (ê), substantivo, pelo (é), flexã o de pelar, etc., as quais são homógrafas,
respectivamente, das proclíticas para, preposição, pelo, contração de per e lo, etc.
As razões por que se suprime, nestes casos, o acento gráfico são as seguintes:
a)Em primeiro lugar, por coerência com a abolição do acento gráfico já consagrada pelo Acordo de
1945, em Portugal, e pela Lei nº 5.765, de 18/12/1971, no Brasil, em casos semelhantes, como, por exemplo:
acerto (ê), substantivo, e acerto (é), flexão de acertar; acordo (ô), substantivo, e acordo (ó), flexão de
acordar; cor (ô), substantivo, e cor (ó), elemento da locação de cor; sede (ê) e sede (é ), ambos
substantivos; etc.
b)Em segundo lugar, porque, tratando-se de pares cujos elementos pertencem a classes gramaticais
diferentes, o contexto sintático permite distinguir claramente tais homógrafas.
5.4.2.Em paroxítonas com os ditongos ei e oi na sílaba tônica (Base IX, 3º)
O novo texto ortográfico propõe que não se acentuem graficamente os ditongos ei e oi tônicos das
palavras paroxítonas. Assim, palavras como assembleia, boleia, ideia, que na norma gráfica brasileira se
escrevem com acento agudo, por o ditongo soar aberto, passarão a escrever-se sem acento, tal como
aldeia, baleia, cheia, etc.
Do mesmo modo, palavras como comboio, dezoito, estroina, etc., em que o timbre do ditongo oscila
entre a abertura e o fechamento, oscilação que se traduz na facultatividade do emprego do acento agudo no
Brasil, passarão a grafar-se sem acento.
A generalização da supressão do acento nestes casos justifica-se não apenas por permitir eliminar
uma diferença entre a prática ortográfica brasileira e a lusitana, mas ainda pelas seguintes razões:
a) Tal supressão é coerente com a já consagrada eliminação do acento em casos de homografia
heterofônica (v. Base IX, 10º, e, neste texto atrás, 5.4.1.), como sucede, por exemplo, em acerto, substantivo,
e acerto, flexão de acertar, acordo, substantivo, e acordo, flexão de acordar, fora, flexão de ser e ir, e fora,
advérbio, etc.
b)No sistema ortográfico português não se assinala, em geral, o timbre das vogais tônicas a, e e o
das palavras paroxítonas, já que a língua portuguesa se caracteriza pela sua tendência para a paroxitonia.
O sistema ortográfico não admite, pois, a distinção entre, por exemplo cada (â) e fada (á), para (â) e tara (á);
espelho (ê) e velho (é), janela (é) e janelo (ê), escrevera (ê), flexão de escrever, e Primavera (é); moda (ó) e
toda (ô), virtuosa (ó) e virtuoso (ô); etc.
Então, se não se torna necessário, nestes casos, distinguir pelo acento gráfico o timbre da vogal
tónica, por que se há-de usar o diacrítico para assinalar a abertura dos ditongos ei e oi nas paroxítonas,
tendo em conta que o seu timbre nem sempre é uniforme e a presença do acento constituiria um elemento
perturbador da unificação ortográfica?
5.4.3.Em paroxítons do tipo de abençoo, enjoo, voo, etc. (Base IX, 8º)
Por razões semelhantes às anteriores, o novo texto ortográfico consagra também a abolição do
acento circunflexo, vigente no Brasil, em palavras paroxítonas como abençoo, flexão de abençoar, enjoo,
substantivo e flexão de enjoar, moo, flexão de moer, povoo, flexão de povoar, voo, substantivo e flexão de
voar, etc.
O uso do acento circunflexo não tem aqui qualquer razão de ser, já que ele ocorre em palavras
paroxítonas cuja vogal tônica apresenta a mesma pronúncia em todo o domínio da língua portuguesa. Além
de não ter, pois, qualquer vantagem nem justificação, constitui um fator que perturba a unificação do
sistema ortográfico.
5.4.4.Em formas verbais com u e ui tônicos, precedidos de g e q (Base X, 7º)
Não há justificação para se acentuarem graficamente palavras como apazigue, arguem, etc., já que
estas formas verbais são paroxítonas e a vogal u é sempre articulada, qualquer que seja a flexão do verbo
respectivo.
No caso de formas verbais como argui, delinquis, etc., também não há justificação para o acento, pois
se trata de oxítonas terminadas no ditongo tónico ui, que como tal nunca é acentuado graficamente.
Tais formas só serão acentuadas se a seqüência ui não formar ditongo e a vogal tônica for i, como,
por exemplo, arguí (1
a
pessoa do singular do pretérito perfeito do indicativo).
6.Emprego do hífen (Bases XV a XVIII)
6.1.Estado da questão
No que respeita ao emprego do hífen, não há propriamente divergências assumidas entre a norma
ortográfica lusitana e a brasileira. Ao compulsarmos, porém, os dicionários portugueses e brasileiros e ao
lermos, por exemplo, jornais e revistas, deparam-se-nos muitas oscilações e um largo número de formações
vocabulares com grafia dupla, ou seja, com hífen e sem hífen, o que aumenta desmesurada e
desnecessariamente as entradas lexicais dos dicionários. Estas oscilações verificam-se sobretudo nas
formações por prefixação e na chamada recomposição, ou seja, em formações com pseudoprefixos de
origem grega ou latina.
Eis alguns exemplos de tais oscilações: ante-rosto e anterrosto, co-educação e coeducação, pré-
frontal e prefrontal, sobre-saia e sobressaia, sobre-saltar e sobressaltar, aero-espacial e aeroespacial, auto-
aprendizagem e autoaprendizagem, agro-industrial e agroindustrial, agro-pecuária e agropecuária, alvéolo-
dental e alveolodental, bolbo-raquidiano e bolborraquidiano, geo-história e geoistória, micro-onda e
microonda; etc.
Estas oscilações são, sem dúvida, devidas a uma certa ambiguidade e falta de sistematização das
regras que sobre esta matéria foram consagradas no texto de 1945. Tornava-se, pois, necessário reformular
tais regras de modo mais claro, sistemático e simples. Foi o que se tentou fazer em 1986.
A simplificação e redução operadas nessa altura, nem sempre bem compreendidas, provocaram
igualmente polêmica na opinião pública portuguesa, não tanto por uma ou outra incongruência resultante da
aplicação das novas regras, mas sobretudo por alterarem bastante a prática ortográfica neste domínio.
A posição que agora se adota, muito embora tenha tido em conta as críticas fundamentadas ao texto
de 1986, resulta, sobretudo, do estudo do uso do hífen nos dicionários portugueses e brasileiros, assim
como em jornais e revistas.
6.2.O hífen nos compostos (Base XV)
Sintetizando, pode dizer-se que, quanto ao emprego do hífen nos compostos, locuções e
encadeamentos vocabulares, se mantém o que foi estatuído em 1945, apenas se reformulando as regras de
modo mais claro, sucinto e simples.
De fato, neste domínio não se verificam praticamente divergências nem nos dicionários nem na
imprensa escrita.
6.3.O hífen nas formas derivadas (Base XVI)
Quanto ao emprego do hífen nas formações por prefixação e também por recomposição, isto é, nas
formações com pseudoprefixos de origem grega ou latina, apresenta-se alguma inovação. Assim, algumas
regras são formuladas em termos contextuais, como sucede nos seguintes casos:
a)Emprega-se o hífen quando o segundo elemento da formação começa por h ou pela mesma vogal
ou consoante com que termina o prefixo ou pseudoprefixo (por ex. anti-higiênico, contra-almirante, hiper-
resistente).
b)Emprega-se o hífen quando o prefixo ou falso prefixo termina em m e o segundo elemento começa
por vogal, m ou n (por ex. circum-murado, pan-africano).
As restantes regras são formuladas em termos de unidades lexicais, como acontece com oito delas
(ex-, sota- e soto-, vice- e vizo-; pós-, pré- e pró-).
Noutros casos, porém, uniformiza-se o não emprego do hífen, do modo seguinte:
a)Nos casos em que o prefixo ou o pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa
por r ou s, estas consoantes dobram-se, como já acontece com os termos técnicos e científicos (por ex.
antirreligioso, microssistema).
b)Nos casos em que o prefixo ou pseudoprefixo termina em vogal e o segundo elemento começa por
vogal diferente daquela, as duas formas aglutinam-se, sem hífen, como já sucede igualmente no vocabulário
científico e técnico (por ex. antiaéreo, aeroespacial)
6.4.O hífen na ênclise e tmese (Base XVII)
Quanto ao emprego do hífen na ênclise e na tmese mantêm-se as regras de 1945, exceto no caso
das formas hei de, hás de, há de, etc., em que passa a suprimir-se o hífen. Nestas formas verbais o uso do
hífen não tem justificação, já que a preposição de funciona ali como mero elemento de ligação ao infinitivo
com que se forma a perífrase verbal (cf. hei de ler, etc.), na qual de é mais proclítica do que apoclítica.
7.Outras alterações de conteúdo
7.1.Inserção do alfabeto (Base I)
Uma inovação que o novo texto de unificação ortográfica apresenta, logo na Base I, é a inclusão do
alfabeto, acompanhado das designações que usualmente são dadas às diferentes letras. No alfabeto
português passam a incluir-se também as letras k, w e y, pelas seguintes razões:
a)Os dicionários da língua já registram estas letras, pois existe um razoável número de palavras do
léxico português iniciado por elas.
b)Na aprendizagem do alfabeto é necessário fixar qual a ordem que aquelas letras ocupam.
c)Nos países africanos de língua oficial portuguesa existem muitas palavras que se escrevem com
aquelas letras.
Apesar da inclusão no alfabeto das letras k, w e y, mantiveram-se, no entanto, as regras já fixadas
anteriormente, quanto ao seu uso restritivo, pois existem outros grafemas com o mesmo valor fônico
daquelas. Se, de fato, se abolisse o uso restritivo daquelas letras, introduzir-se-ia no sistema ortográfico do
português mais um fator de perturbação, ou seja, a possibilidade de representar, indiscriminadamente, por
aquelas letras fonemas que já são transcritos por outras.
7.2.Abolição do trema (Base XIV)
No Brasil, só com a Lei 5.765, de 18/12/1971, o emprego do trema foi largamente restringido,
ficando apenas reservado às sequências gu e qu seguidas de e ou i, nas quais u se pronuncia (cf. aguentar,
arguente, eloquente, equestre, etc.).
O novo texto ortográfico propõe a supressão completa do trema, já acolhida, aliás, no Acordo de
1986, embora não figurasse explicitamente nas respectivas bases. A única ressalva, neste aspecto, diz
respeito a palavras derivadas de nomes próprios estrangeiros com trema (cf. mülleriano, de Müller, etc.).
Generalizar a supressão do trema é eliminar mais um fator que perturba a unificação da ortografia
portuguesa.
8.Estrutura e ortografia do novo texto
Na organização do novo texto de unificação ortográfica optou-se por conservar o modelo de estrutura
já adotado em 1986. Assim, houve a preocupação de reunir, numa mesma base, matéria afim, dispersa por
diferentes bases de textos anteriores, donde resultou a redução destas a vinte e uma.
Através de um título sucinto, que antecede cada base, dá-se conta do conteúdo nela consagrado.
Dentro de cada base adotou-se um sistema de numeração (tradicional) que permite uma melhor e mais
clara arrumação da matéria aí contida.
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