Murphy, Shleifer e Vishny (1989) afirmam que um setor da economia só tem o poder
de alavancar o crescimento se a renda gerada por ele for distribuída de maneira suficientemente
igualitária, permitindo um efeito repercussão interna que aumente o fluxo dos mercados. Dessa
forma, os autores destacam a relação intrínseca entre o crescimento e o desenvolvimento
econômico.
Quando se está investigando as relações entre crescimento e desigualdade rural,
procura-se responder à seguinte questão: qual seria o impacto da distribuição de terras no
crescimento econômico? Essa é uma indagação muito discutida no Brasil. Como se sabe, a
estrutura fundiária é desfavorável às camadas de renda mais baixas.
Alguns trabalhos como os de Alesina e Rodrick (1994), Deininger e Squire (1996) e
Li, Squire e Zou (1998) consideram que a desigualdade na distribuição da propriedade de terra
apresenta uma correlação negativa com crescimento econômico do período seguinte. Essas
conclusões sugerem que políticas de reforma agrária podem ter efeitos positivos no crescimento
econômico, embora se saiba que somente o fator terra não é suficiente para alavancar um
crescimento de forma agregada, pois seus efeitos repercutem apenas em termos pontuais.
Após a estabilização econômica iniciada em 1994, ocorrem, de forma mais intensiva,
as chamadas transferências de renda compensatórias (intensificadas no governo Lula) que, de
certa forma, amenizam a situação dos mais pobres e indigentes, embora não sejam práticas
autogeradoras de rendimentos. Acrescenta-se a isso a remuneração previdenciária e as
transferências correntes responsáveis por grande parte da renda da zona rural, principalmente na
região Nordeste.
A Tabela 2 mostra que, para os anos de 1991 e 2000, foi crescente, sem exceção, a
evolução da participação das rendas provenientes de transferências governamentais na renda total
por parte dos seus receptores em todos os estados.
No Brasil, houve um crescimento médio de 66%. Porém, em termos regionais, a
região Sudeste foi a que mais aumentou o percentual de utilização das transferências na renda
total, cerca de 74,56%, seguida de perto pela região Nordeste com 73,02%.
Na região Sudeste, esses resultados refletem as transferências previdenciárias e os
direitos trabalhistas sentidos, mais intensamente, nas regiões mais desenvolvidas. Para região
Nordeste, pode ser considerada como uma proxy do custo do governo com a pobreza. Em termos
absolutos, essa região é a que mais se utiliza desse tipo de renda, seguida pela Sudeste e Sul.