O crescente vácuo de conhecimento entre os países desenvolvidos e os países em
desenvolvimento implica que quase todo o esforço científico mundial tenha origem e
permaneça retido nos países desenvolvidos. Esse é um problema fundamental que
deve ser estudado e corrigido com urgência.
2.5 Os sistemas sociais-nacionais da ciência, da tecnologia e da inovação
Há um consenso no sentido de que o conhecimento constitui o fator mais importante
no desenvolvimento econômico-social, que é determinante para melhorar o nível de
vida da população e respeitar a sustentabilidade do meio-ambiente e para garantir-se
o bem-estar das gerações futuras.
Além disso, reconhece-se que o conhecimento por si só não transforma as economias
ou a sociedade. Pode, entretanto, consegui-lo por meio da estrutura dos sistemas
sociais-nacionais da ciência, da tecnologia e da inovação, que possibilitam a sua
incorporação ao setor produtor de bens e serviços. Além das capacidades e
conhecimentos associados aos processos de P&D, é necessário considerar as
capacidades e os conhecimentos associados a processos de outra natureza, que
recebem a intervenção de diversos agentes e instituições, tanto públicos como
privados, que, de uma forma ou de outra, participam do processo de geração, da
difusão, da absorção do conhecimento e das inovações nas sociedades modernas,
articulando os diversos processos de aprendizagem científica e tecnológica dos
diferentes agentes sociais. Os sistemas sociais-nacionais da ciência, da tecnologia e da
inovação constituem redes de instituições, recursos, interações e relações,
mecanismos e instrumentos de política e atividades científicas e tecnológicas que
promovem, articulam e materializam os processos de inovação e difusão tecnológica
na sociedade (geração, importação, adaptação e difusão de tecnologias).
Isso implica reduzir a dispersão dos esforços científicos e tecnológicos, e focalizar os
recursos em atividades e projetos que possam gerar uma massa crítica e que tenham
maior potencial para resolver os problemas prioritários da nossa região, relacionados
tanto às condições sociais e ambientais como à competitividade das empresas
produtoras de bens e serviços.
3. UMA NOVA MISSÃO PARA A CIÊNCIA
3.1 Percepção social do papel da ciência
O presente difícil e o futuro sombrio da pesquisa científica da maioria dos países em
desenvolvimento tornam necessária a união de esforços variados, que complementem
o esforço que cada sociedade nacional deve dispender. Deve-se levar em conta a
forma como a sociedade percebe a ciência e a tecnologia em cada país, a fim de
formular-se uma base mais democrática de estratégias e políticas de desenvolvimento
científico e tecnológico. Somente um apoio majoritário, explícito e consciente por parte
dos cidadãos pode garantir a continuidade do investimento científico e tecnológico no
nível necessário à transformação da produção endógena de conhecimento, em um
palanque de desenvolvimento, e assim consolidar-se como uma atividade socialmente
valorizada. Notam-se diferenças marcantes na percepção social da ciência e da
tecnologia, que geralmente correspondem com os níveis socioeconômico, educacional
e de informação das pessoas. Essas diferenças respondem também à tão desigual
distribuição social dos benefícios procedentes da produção científica e tecnológica
mundial.