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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
UMESP
IANA PROFETA RIBEIRO
DE VOLTA PARA CASA:
ESTUDO COM EGRESSOS DE HOSPITAIS PSIQUIATRICOS
São Bernardo do Campo
2006
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IANA PROFETA RIBEIRO
DE VOLTA PARA CASA:
ESTUDO COM EGRESSOS DE HOSPITAIS PSICUIATRICOS
Dissertação apresentada ao Programa de
Pós-Graduação em Psicologia da Saúde
da Universidade metodista de São Paulo
como requisito parcial para obtenção do
título de mestre em Psicologia da Saúde
Orientador: Prof. Dr. Manuel Morgado Rezende
São Bernardo do Campo
2006
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UNIVERSIDADE METODISTA DE SÃO PAULO
UMESP
IANA PROFETA RIBEIRO
DE VOLTA PARA CASA:
ESTUDO COM EGRESSOS DE HOSPITAIS PSIQUIATRICOS
Banca Examinadora
Presidente: Manuel Morgado Rezende
Titular: Eda Custódio Marconi
Titular: Maria Clemilse Cavalcante
São Bernardo do Campo
2004
AGRADECIMENTOS
Ao Professor Doutor Manuel Morgado Rezende, meu orientador pela
maneira tranqüila e coerente que foi me mostrando as possibilidades de
investimentos e conhecimentos deste estudo, e pela paciência com as
imprevisibilidades do meu desenvolvimento.
A Professora Doutora Marilia Martins Vizzotto, por seu excelente trabalho na
orientação metodológica, e disponibilidade para esclarecimentos e dúvidas
individuais.
As professoras dos módulos que contribuíram direta ou indiretamente com
este trabalho: Professora Doutora Laura Belluzzo de Campos Silva, a
Professora Doutora Eda Custódio Marconi, ao Professor Doutor José
Tolentino.
Aos meus colegas do curso de pós-graduação com os quais pude trocar
experiências, conhecimentos e dividir angústias deste processo de
aprendizado.
Aos meus colegas de trabalho que tanto me incentivaram nesta caminhada
em especial ao Felipe e a Dirce pela disponibilidade dedicada ao trabalho
nas residências.
Aos participantes deste estudo que de forma generosa se dispuseram a
participar e contribuir com este trabalho.
Aos Cuidadores que se mostraram sempre abertos a colaborar com este
estudo que envolve uma luta diária no cotidiano da reforma psiquiátrica no
país.
Ao Colegiado de Saúde Mental, na figura em especial do Coordenador de
Saúde Mental, Senhor Décio de Castro Alves, sem o seu apoio incondicional
este estudo não teria sido possível.
Aos professores colegas do Centro Universitário UNI-A pelas palavras de
estimulo e incentivo. Em especial ao Professor José Fiúza pela maneira
generosa que sempre me tratou, e a Professora Doutora Denise Marroni
Coordenadora do Curso de Enfermagem.
Á minha família: meus pais, João (in memoriam) e Marlene (in memoriam)
que sempre me estimularam e me ensinaram o quanto o ensino é
importante. Aos meus irmãos Izildo, Irani, Idel e Isabela que mesmo de longe
sempre me incentivaram e tiveram paciência com a minha falta de tempo
para vê-los. Aos meus cunhados e sobrinhos. Em especial meu
agradecimento emocionado ao meu filho Rafael pela compreensão sobre a
minha falta de tempo para brincar e passear em momentos que este estudo
exigia maior dedicação de minha parte. E ao Eduardo meu marido pelo apoio
sempre me acompanhando á UMESP para as orientações.
Sumário
Lista de Tabelas
Lista de Gráficos
Resumo
Abstract
1 INTRODUÇÃO............................................................................................14
1.1 Concepções de Saúde e Doença Mental.........................................15
1.2 A Institucionalização e a Desinstitucionalização............................... 16
1.3 Breves Apontamentos da Psiquiatria no Brasil..................................19
1.4 Políticas de Saúde Mental e a Reforma Psiquiátrica........................ 22
1.5 A Reforma Psiquiátrica em Santo André........................................... 26
2 OBJETIVOS................................................................................................ 30
2.1 Objetivo Geral................................................................................... 30
2.2 Objetivos Específicos......................................................................... 30
3 MÉTODO.................................................................................................. .31
3.1 Ambiente da Pesquisa........................................................................ 31
3.2 Histórico do Ambiente da Pesquisa................................................... .32
3.2.1 Residência Terapêutica Masculina.............................................32
3.2.2 Residência Terapêutica Feminina........................................... ..33
3.2.3 Residência Terapêutica Mista....................................................35
3.3 Público-Alvo.........................................................................................36
3.4 Material e Instrumento.........................................................................36
3.5 Procedimento de aplicação ................................................................39
3.6 Tratamento dos Dados........................................................................40
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO...................................................................42
4.1 Dados Sóciodemográficos.................................................................. 42
4.2 Livro de anotações diárias.................................................................. 47
4.3 Apresentação dos dados de prontuários e entrevistas..................... 58
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS...................................................................76
6 CONSIDERAÇÕES FINAIS........................................................................78
7 REFERÊNCIAS.............................................................................................82
ANEXOS.......................................................................................................... 87
LISTA DE TABELAS
Tabela 1 Dados sobre a vinculação familiar
Tabela 2 Distribuição dos moradores por gênero
Tabela 3 Distribuição dos moradores por estado civil
Tabela 4 Distribuição dos moradores por faixa etária
Tabela 5 Quanto a ter documentação de ordem pessoal
Tabela 6 Distribuição de benefícios
Tabela 7 Distribuição dos moradores quanto ao grau de escolaridade
LISTA DE GRÁFICOS
Gráfico 1 - Indicadores de autonomia referente ao banho diário no
Período: saída do hospital
Gráfico 2 Indicadores de autonomia referente ao banho diário no
Período: um mês depois de saírem do hospital.
Gráfico 3 Indicadores de autonomia referente ao banho diário no
Período: seis meses após saírem do hospital.
Gráfico 4 Indicadores de autonomia referente ao uso do banheiro
Período: saída do hospital.
Gráfico 5 Indicadores de autonomia referente ao uso do banheiro
Período: um mês depois de saírem do hospital.
Gráfico 6 Indicadores de autonomia referente ao uso do banheiro
Período: seis meses após saírem do hospital
Gráfico 7 Indicadores de autonomia quanto à capacidade de
organização de roupas e objetos pessoais.
Período. Saída do hospital.
Gráfico 8 - Indicadores de autonomia quanto a capacidade de
organização de roupas e objetos pessoais.
Período. Um mês depois de saírem do hospital
Gráfico 9 Indicadores de autonomia quanto a capacidade de
organização de roupas e objetos pessoais.
Período. Seis meses após saírem do hospital
Gráfico 10 Indicadores de autonomia quanto a capacidade de troca
Período: Saída do hospital
Gráfico 11 - Indicadores de autonomia quanto a capacidade de troca
Período: Um mês depois de saírem do hospital
Gráfico 12 - Indicadores de autonomia quanto a capacidade de troca
Período: Seis meses após saírem do hospital
Gráfico 13 Indicadores de autonomia quanto a circular pelas ruas.
Período: Saída do hospital
Gráfico 14 - Indicadores de autonomia quanto a circular pelas ruas
Período: Um mês depois de saírem do hospital
Gráfico 15 Indicadores de autonomia quanto a alfabetização
Período: Saída do hospital
Gráfico 16 Indicadores de autonomia quanto a ir ao MOVA.
Período: Fevereiro de 2003
Gráfico 17 Indicadores de autonomia quanto a ir ao MOVA
Período: junho de 2003
RIBEIRO, I. P , De volta para casa: Estudo de caso com
egressos de hospitais psiquiátricos, São Bernardo do Campo,
2006, Dissertação de mestrado Programa de Pós Graduação
em Psicologia da Saúde da Universidade Metodista de São
Paulo.
Resumo
O presente trabalho tem como objetivo descrever e avaliar
o impacto da implantação do programa De volta para casa, na consolidação
da reforma psiquiátrica no Brasil. O método adotado foi a pesquisa quanti-
qualitativa numa abordagem de estudo de caso. O local do estudo foi às três
(03) residências terapêuticas localizadas no município de Santo André.
Todos os 25 (vinte e cinco) moradores foram sujeitos da pesquisa, utilizamos
como instrumentos: entrevista semi-estruturada, livro de anotações diárias e
os prontuários. Os resultados forma analisados segundo Bardin (1979)
construindo categorias que demonstrassem com clareza: o perfil sócio
demográfico dos egressos de hospitais psiquiátricos, e demonstrasse os
indicadores de qualidade e autonomia. Procurando focar a implementação do
processo de reabilitação psicossocial com estes moradores.
Palavras-chave: Reforma Psiqui
átrica, moradia, Reabilitação psicossocial
RIBEIRO, I. P. Back home: Research with people coming from
Psychiatric Hospitals. Dissertation (Masters Degree). o
Bernardo do Campo. Universidade Metodista de São Paulo,
2006.
Abstract
The purpose of this research was to describe and to analyze the impact of the
program De volta para casa, in the consolidation of the Psychiatric Reform in
Brazil. Methodology: It is a research of qualitative character with case study.
The research was developed in three therapeutic home located in the city
Santo André (SP); the subjects of the investigation were the 25 in habitants of
these homes. The results were analyzed, according to the theoretical basis of
Bardin. Final Considerations: The therapeutic home services show their
efficient importance, all involved from managers to technicians realize the
objective of the consolidation of this equipment that demands a process of
daily construction. It was observed that the great preoccupation of the service
is with people and their group relations that enable sharing among those who
present different forms of contracts and autonomy. Thus, it was possible to
realize an enrichment of the social reinsertion contracts.
Keywords: Psychiatric Reform, Home, Psychosocial Rehabilitation,
Santo André
1 INTRODUÇÃO
Nas últimas décadas a abordagem e o tratamento na área de saúde mental
tem sofrido importantes transformações. Avanços nas neurociências, psicopatologia,
farmacologia e intervenções comunitárias aliadas a mudanças na legislação, propiciam o
surgimento de um quadro de intervenções mais complexo e diversificado que os
tradicionais, muitas vezes, de caráter hospitalocêntrico.
Este projeto de dissertação de mestrado abordará o programa do Ministério da
Saúde: De Volta para Casa, trata-se de um dos programas, atualmente, em desenvolvimento
no âmbito das políticas públicas que consta da Reforma Psiquiátrica Brasileira.
No Brasil, os casos de transtornos mentais são registrados desde os
primeiros séculos da colonização. Aos poucos, estes indivíduos que passeavam livremente
pela cidade do Rio de Janeiro, ficaram reclusos em Hospitais, sem pessoas especializadas
para cuidar. Estes pacientes ficavam na Santa Casa no Rio de Janeiro, em uma enfermaria
separada dos demais, sem pessoal preparado para atendê-los. A administração da Santa
Casa era feita por irmãs de caridade sem nenhum conhecimento de saúde mental, e por
serem coniventes com os maus tratos aos pacientes foram afastadas. Na época, vieram
uns grupos de enfermeiras francesas onde se acreditava que a psiquiatria estava mais
avançada, vieram do Hospital de Bicêtre. Com isso foi inaugurada a Escola de
Enfermagem Alfredo Pinto, a primeira escola de enfermagem do Brasil, no ano de 1852. E
foi construído o primeiro Hospital Psiquiátrico do Brasil denominado D. Pedro II.
(GEOVANINI et al. 2002).
O Hospital Psiquiátrico tinha como modelo a política de atenção e manteve-
se como centro de atendimento até a década de 1970, quando se iniciou a discussão do
modelo de atendimento em saúde mental . Em abril de 2001 foi aprovada a Lei nº 10.216
que estabelece os direitos dos pacientes com transtornos mentais e regulamenta as
internações psiquiátricas. (anexo A). Com isto, devemos fazer uma avaliação se as
estratégias e novas políticas de atenção em saúde mental avançam no sentido da
reabilitação psicossocial.
Neste trabalho, entendemos reabilitação psicossocial conforme Pitta (2001)
um conjunto de meios (programas e serviços) que se desenvolvem para facilitar a vida de
pessoas com problemas severos e persistentes.
1.1 Concepções de Saúde e Doença Mental
Os entendimentos sobre os transtornos mentais modificam-se de acordo
com as mudanças e organizações sociais de cada época.. É importante ressaltar que
existem divergências e congruências que perpassam o tempo e que dependem de razões
religiosas, artísticas, médicas, outras ciências.
Para Pessoti (1994, p. 9)...A concepção de loucura como um estado ou
processo unitário, mais ou menos duradouro ou complexo, envolvendo disfunções
orgânicas e afetivas é relativamente recente na história do conhecimento.
Na antiguidade clássica, obras de Homero, Esquilo, Eurípides, Hipocrates e
Galeno retratam uma doutrina demonista da loucura. As tragédias gregas descrevem o
pensamento sobre a natureza humana e seus desatinos.
Na Grécia antiga a desrazão é entendida como tudo que uma sociedade
enxerga como sendo seu outro: a estranheza, a ameaça, a alteridade radical. (Silveira
L.C.; Braga VAB) Portanto, neste período utilizam a palavra maniké para designar
divinatório e/ou delirante. Por meio desse fenômeno, alguns podiam ter acesso às
verdades divinas.
Todos os desempenhos motores, perceptivos ou mentais de que é capaz
estão permanentemente sob controle superior, transcendente. (Pessoti, 1994 p. 14).
Explicando o comportamento e as emoções por meio do poder dos deuses mitológicos.
Neste sentido, para o autor a loucura é um acidente de percurso, ela não acarreta
qualquer estigma. Não há necessidade de cura, já que não existe doença.
Segundo Foucault (1972, p.30) ...A loucura torna-se uma forma relativa à
razão ou, melhor, loucura e razão entram numa relação eternamente reversível que faz com
que toda loucura tenha sua razão que a julga e controla, e toda razão sua loucura na qual
ela encontra sua verdade irrisória. Cada uma é a medida da outra, e nesse movimento de
referência recíproca elas se recusam, mas uma fundamenta a outra.
1.2 A Institucionalização e a Desinstitucionalização
Na Idade Média, as práticas da institucionalização consolidam-se como
modelos de exclusão, utilizando os asilos como modelo de atendimento para solucionar os
problemas das doenças mentais, e doenças infecciosas. (ORNELLAS, 1997).
Para Foucault (1972.p.53), a metade do século XVII é o período em que
algumas instituições tornaram-se reservadas apenas para o atendimento aos doentes
mentais. Em sua obra, a História da loucura afirma::O gesto que aprisiona não é mais
simples, ele tem significações políticas, sociais, religiosas, econômicas e morais. E que
dizem respeito às estruturas do mundo clássico.
Em 1809, Philipe Pinel, inaugura a psiquiatria como uma especialidade
médica e reconhece a loucura como alienação. Considera como causas desta as paixões
violentas ou exasperadas pelas contradições, o acredita na possibilidade da existência
de causas orgânicas. No seu entender, há um comprometimento ou lesão do intelecto e da
vontade, manifestada pelo paciente por sintoma, que podem ter em comum o fato de se
referirem a uma mesma lesão da vontade ou juízo
Segundo Pinel, ao tratamento: eram necessários: o isolamento para
romper com o foco permanente de influências incontroladas que é a vida social, o
estabelecimento da ordem asilar, uma relação de autoridade entre o médico e o
doente.(HUMEREZ, 1990). A assistência para Pinel se dava pelo isolamento e
observação, desta maneira buscava encontrar pontos em comum entre as lesões e
construía critérios para classificação e diagnóstico. (PESSOTI, 1994)
Verificamos que o trabalho de Pinel e de seus seguidores pode ser discutido
nos dias de hoje, mas não podemos deixar de reconhecer seu valor no âmbito de uma
investigação clínica. Nesta retrospectiva, uma conjuntura histórica mostrando as
divergências e concordâncias sobre os atendimentos prestados aos portadores de
transtornos mentais. Nossa intenção é enfocar o fato destes indivíduos serem vistos com
um olhar mais de interrogação, e do ponto em que surgem a doença e os asilos,
predominando a exclusão.
As duas guerras mundiais e seus desdobramentos produziram nos Estados
Unidos da América e nos países da Europa Ocidental um debate intenso nos âmbitos
políticos e econômicos da organização institucional e da assistência à saúde. Em vários
países no pós-guerra, o movimento de critica a instituição psiquiátrica ganhou força e
consistência, o que implicou a busca de alternativas de tratamento mais adequados ao
portador de transtorno mental.
Na Itália Franco Basaglia conseguiu reduzir os leitos psiquiátricos com base
no enfrentamento técnico e político das bases ideológicas da psiquiatria, assumindo como
prioridade central a desconstrução do hospital psiquiátrico.
Para a Psiquiatria democrática italiana, o processo de desinstitucionalização
não podia ser reduzido ao simples fechamento dos velhos, sujos e violentos hospícios. Mas
do que derrubar paredes, muros e grades, desinstitucionalizar significava desmontar
estruturas mentais (formas de olhar) que se codificam e transformam-se em instituições
sociais. (BASAGLIA, 1991).
Os campos teóricos e práticos da reforma italiana exigiam a definição de um
novo objetivo, que passou a ser entendido como existência-sofrimento dos pacientes e sua
relação com o corpo social. O trabalho terapêutico passou a ser entendido como um
processo de reconstrução das pessoas como atores sociais em suas múltiplas dimensões
existenciais.
A instituição a ser negada, desmontada e desconstruida não se resumia ao
hospital psiquiátrico. O processo envolvia repensar, transformar o conjunto de aparatos
científicos, legislativos, administrativos, culturais e as relações de poder que se articulam no
manicômio e lhes dão sustentação.
Nesse sentido, o problema fundamental, não reside em remover o sistema,
a doença, ou recuperar a pessoa, mas criar muitas possibilidades de vida dentro de um
novo modelo cultural que deixe de ser o de custódia ou de tutela, apoiando-se na
participação e no desenvolvimento de projetos que alarguem os espaços de liberdade dos
sujeitos.
A utopia basagliana pretende transformar a realidade para superar limites e
contradições. Uma utopia da realidade para modificar a relação do homem com a
sociedade que exige a construção de bases éticas e de desmontagem dos aparatos e
dispositivos que normatizam os sujeitos sociais, docilizando corpos e mentes
(MELMAN,2001).
1.3 Breves Apontamentos da Psiquiatria no Brasil
No Brasil, reconstruir a trajetória das políticas de saúde mental constitui-se
em grande complexidade nos esforços de desconstruir condutas tidas como superadas e
construir outras que propunham novos referenciais de sociabilidade para a assistência
psiquiátrica. O território brasileiro é imenso e seu crescimento se diferenciou de região para
região em todos os aspectos inclusive na implantação dos atendimentos de saúde mental.
Em conseqüência percebemos avanços e recuos, cabe ressaltar que a
organização da assistência psiquiátrica brasileira apropriou-se do modelo europeu que
determinava a maneira como deveríamos relacionar com paciente psiquiátrico. O enfoque
desse modelo centraliza-se no biológico, definindo-se, portanto, a loucura como uma
doença mental. Por outro lado, na prática, não se tem verificado a cura relacionada a partir
de processos orgânicos, e designando o asilo como função terapêutica eficaz sobre o qual
o médico argumentava sua origem hereditária, para convencer as famílias a ficarem
distantes de seus doentes. (NICÁCIO, 1990).
No hospital psiquiátrico o desejo de normatização é explicito, escancarado,
com a separação entre os dois sexos, a ruptura dos laços familiares e amigos, controle
rígido do tempo, a onipresença do regulamento encontra-se a serviço da exigência da
ordem e da disciplina. (GOFFMAN, 1974).
Esta interpretação nos faz lembrar o período da República no qual se
configurava a questão social, sobretudo, na cidade do Rio de Janeiro, e estabelecia-se o
saneamento retirando os doentes, mendigos, vadios e loucos, por serem eles que
sujavam as ruas. Surge então, a primeira instituição psiquiátrica no Brasil 1852 Hospício
D. Pedro II destinados àqueles destituídos de família, os que sofriam de paixões, que não
aceitavam os princípios morais da sociedade e deformavam a imagem da família
(MORENO; ALECANSTRE, 2003).
Nesta época o processo implicava nas bases de sustentação da assistência
psiquiátrica centrada no hospital. O objetivo da psiquiatria não podia mais ser a
periculosidade ou a doença, entendida como algo que está no corpo de uma pessoa. Com
a Reforma Psiquiátrica no Brasil, iniciou-se um processo de reformulação pela falta de
recuperação dos doentes, pelas denúncias feitas por meio da mídia a respeito do
tratamento recebido pelos pacientes, ressaltando as más condições de vida e a
superlotação dos pacientes. (SILVA; VIANNA, 1999).
Descreveremos um breve histórico da história da política de saúde mental
no Brasil Até 1830 os loucos andavam soltos pelas ruas, faziam parte da paisagem
urbana, dos costumes populares e do cotidiano da cidade. A partir desta época surge a
função de um novo paradigma psiquiátrico qual seja o emprego da medicina eugenista para
controlar, dominar as massas proletárias degeneradas e causadoras de desordem nas
cidades. (CUNHA,1986).
No Brasil colônia, a assistência á saúde ficou a cargo das Santas Casa de
Misericórdia e era voltada para evangelização e manipulação das tropas. Até a metade do
século XIX, os doentes mentais não se beneficiavam de nenhum tipo de assistência médica
específica. Perambulavam pelas ruas ou eram jogados nos porões das Santa Casas, onde
lhes era dado apenas o que comer e, ás vezes o que vestir. (RESENDE, 1992).
Em 1830, segundo Alho Filho (1980;1981), no Rio de Janeiro, um grupo de
médicos higienistas começou a exigir medidas de saúde pública, entre outras a construção
de um hospício para alienados. O primeiro hospício foi inaugurado por D. Pedro II no Rio
de Janeiro em 1852, funcionando sob o comando das Santas Casas. Estava, então,
institucionalizada a loucura como doença mental, sujeita á estatização da assistência.
(MEDEIROS, 1993).
Em 1923, NO Brasil, Eloí Chaves cria as Caixas de Aposentadorias e
Pensões (marco inicial da Previdência Social). A assistência psiquiátrica se mantém no
modelo totalmente hospitalocêntrico, embora no restante do mundo, a questão da
desospitalização se encontrasse em discussão. Este modelo exclui as dimensões do
social e subjetivo. A psiquiatria cria neste período várias colônias agrícolas.
Segundo Amarante (1995), após a segunda guerra ocorreram. Como em
todo o mundo, alguns movimentos relacionados á experiências socioterapicas. Estas
experiências terminaram por constituir-se, o advento da psiquiatria preventiva. Nesse
momento, o que antes se denominava de profilaxia começa a ser abandonado e passa a
prevalecer a idéia de prevenção, partindo-se para a de promoção á saúde mental. Assim,
construiu-se uma nova concepção, não mais a de prevenção da doença mental, mas seu
objetivo passou a ser a saúde mental.
De outro lado, as pessoas já doentes somente teriam assistência em
estruturas hospitalares com internações fechadas em serviços privativos. (Amarante, 1994).
Nessa década o Estado (1960) continua a comprar serviços psiquiátricos do setor privado
e, vai sendo transferindo para o setor privativo grande parte da economia; o Estado concilia
no setor saúde pressões com o interesse de lucro por parte dos empresários. Dessa forma
a mercatilização da doença mental, é um dos responsáveis pela quebra da Previdência
Social, no inicio dos anos 80. Neste período temos consolidado um grande número de
hospitais psiquiátricos com uma super população de pacientes, e os gestores preocupando
com as internações prolongadas e o número crescente de pacientes que passaram a ser
moradores de hospitais psiquiátricos, a média de internação era de 10 a 20 anos, e os
pacientes passaram a ser chamados de moradores do hospital.
Nos anos de 1970, ocorreram intensos debates sobre saúde pública e
saúde mental. O movimento sanitário assim como outros movimentos que marcaram esta
época: o movimento de defesa dos direitos humanos, os movimentos de mulheres, as
CEBS (Comunidades Eclesiásticas de Base)... Sensibilizaram-se diante de denuncias das
condições desumanas oferecidas dentro dos hospitais psiquiátricos públicos e privadas.
1.4 Políticas de Saúde Mental e a Reforma Psiquiátrica
Em 1978, no contexto da redemocratização, surge no Rio de Janeiro, o
Movimento dos Trabalhadores em Saúde Mental (MTSM), que virá a tornar-se o ator social
estratégico pelas reformas no campo da saúde mental. (AMARANTE; 1995)
Em 1987, realizou-se o I Congresso de Trabalhadores de Saúde Mental do
Estado de São Paulo que deu origem a Plenária de Trabalhadores de Saúde Mental, fórum
de debates que questionava as ações governamentais na área de saúde mental.
No inicio de 1986 aconteceu a VII Conferência Nacional de Saúde que
definiu a universalidade do acesso á saúde e várias de suas teses foram incorporadas no
texto da Constituição Federal de 1988.
Em 1987, os trabalhadores de Sa
úde Mental, reunidos no II Encontro
Nacional de Saúde Mental lançam um lema Por uma sociedade sem manicômios. Este
lema serviu para questionar e levantar uma discussão nacional em todos os setores da
população sobre a atenção em saúde mental.
O Movimento de Luta Antimanicomial aglutinou familiares, usuários,
trabalhadores, estudantis e simpatizantes da causa, que a partir da discussão dos direitos
do portador de sofrimento psíquico, também passou a propor novas formas de atendimento
e financiamento pelo Sistema Único de Saúde. A participação desse movimento nos fóruns
de discussão política como: Congresso Nacional, Senado e Câmara trouxe um
amadurecimento e maior esclarecimento para a sociedade como um todo. Os próprios
meios de comunicação divulgaram de maneira mais abrangente a questão da saúde
mental. Por tudo o que foi aqui registrado as mudanças fazem parte de um processo de
construção, mas o que fica claro é que há um processo dinâmico em curso.
Desde 1987 há um processo de avanços na implantação de novos serviços
de atenção em saúde mental, mesmo com as alternâncias do governo federal, porque as
diretrizes da política de saúde mental vêm se mantendo em uma linha progressiva de
discussão e vem se consolidando uma visão de um atendimento mais integral e
humanizado. Existem várias portarias, sugerindo serviços, modelos, redefinindo práticas e
refinanciamento dos atendimentos em saúde mental. A partir de 1988, o Governo Federal
tem liberado portarias no sentido de propor novos serviços e recursos na área de saúde
mental, visando a um investimento extra hospitalar e comunitários.
Os debates permanentes promovidos no âmbito das instituições de ensino,
nos conselhos de classe, na área política e governamental, fizeram com que houvesse
uma crescente produção de experiências e práticas que o próprio governo foi buscando
incorporar como políticas públicas. Vivemos este momento de propostas novas,
descobertas novas, pelos mais diversos interesses. No entanto, a reforma avança, não
tão lenta como muito prevêem , nem tão rápida quanto tantos gostariam, È preciso
reconhecer que ela existe. Podemos verificar pelas produções de textos, artigos, livros,
pesquisas, escolhas profissionais e número de investimentos financeiros e de pessoal
nesta área o quanto tem aumentado. (Serviços Substitutivos).
O modelo de atendimento utilizado no Brasil, centrado no Hospital
Psiquiátrico como seu principal recurso de atenção em saúde mental, deixou aos gestores
uma herança que deveria ser gerenciada , ou seja, um grande número de moradores dos
hospitais psiquiátricos.
Diversos fatores contribuíram para este abandono: o longo período de
internação, a falta de vinculação com as famílias, e, por fim estes casos foram
denominados de casos sociais. Neste sentido o governo federal resolveu criar estratégias
que pudessem solucionar este problema.
A implantação do SUS (Sistema Ùnico de Saúde), e seu financiamento
contribuíram para uma maior fiscalização do credenciamento dos leitos psiquiátricos nos
municípios, obrigando um maior investimento por parte dos donos dos hospitais
conveniados ou a busca de descredenciamento.
Neste contexto podemos verificar que o Ministério da Saúde (2000) tem
investindo como prioridade em uma política de saúde mental que garanta e restabeleça os
direitos de cidadania ao portador de sofrimento psíquico. Sendo assim, diversas estratégias
têm sido determinadas de modo que possibilite novos parâmetros de atuação na atenção
aos usuários chamados de moradores de hospital por não terem vínculo com suas famílias,
tem necessidade de serem inseridos nas chamadas Residências Terapêuticas. O
Ministério da Saúde divulga a portaria 106/2000 que diz: (anexo B)
Art.1 º Criar os Serviços Residências Terapêuticos em Saúde Mental, no âmbito do Sistema
Único de Saúde (SUS), para o atendimento ao portador de transtornos mentais.
Parágrafo único. Entende-se como Serviços Residenciais Terapêuticos, moradias ou casas
inseridas, preferencialmente, na comunidade, destinadas a cuidar dos portadores de
transtornos mentais, egressos de internações psiquiátricas de longa permanência, que não
possuam suporte social e laços familiares e que viabilizem sua inserção social.
Art. 2º Definir os Serviços Residências Terapêuticos em Saúde mental constituem uma
modalidade assistencial substitutiva da internação psiquiátrica prolongada, de maneira que,
a cada transferência de paciente do Hospital Especializado para o Serviço residencial
Terapêutico, deve-se reduzir ou descredenciar do SUS, igual número de leitos naquele
hospital, realocando o recurso no município que se responsabilizará pela assistência ao
paciente e pela rede substitutiva de cuidados em saúde mental.
O projeto de implantação dos serviços residenciais terapêuticos (SRT) é
entendido como um instrumento fundamental no processo de Reforma Psiquiátrica. Para
Saraceno, (1999) é somente nesta lógica que assume sentido a noção de casa: a casa é
um direito e, a partir desse direito, constroem-se políticas que geram casas para os
usuários. É preciso ressaltar, contudo, que os percursos individuais que acompanham a
experiência de aquisição da casa são percursos fundamentais para a reabilitação: o direito
não é somente a casa, mas também sua aquisição como processo de formação de
cidadania do usuário.
Em face desta reformulação, percebeu-se a necessidade de estabelecer
novos parâmetros de atuação, direcionando para metas estabelecidas pelo programa.
Alguns desafios surgem em razão do incipiente conhecimento e praticamente pioneirismo
em nosso País, que propõe uma diferente perspectiva ao acreditar que pessoas
institucionalizadas há vários anos, pudessem reerguer e reconstruir suas vidas na qual não
havia espaço para planejar o cotidiano e sonhar, as atividades de laborterapia serviam mais
para ocupar o tempo do que para dar um sentido a existência de cada um.
Partindo desse entendimento de que um ambiente sem visitas, sem
calendários, sem relógios representa um dos lugares onde se manifesta, sob uma forma
menos velada, uma das contradições fundamentais das sociedades modernas, a oposição
entre as ideologistas humanistas, liberais e racionalizadora e a existência de instâncias
oficiais que institucionalizam a segregação social e perpetuam as mais absolutistas formas
de poder sobre o homem que para Castel (1988, p. 151) (...) significa lugar zero de trocas
sociais.
No momento atual essas mudanças têm produzido reflexões sobre a prática
adotada nos hospitais psiquiátricos, e, sobretudo colocam em xeque os modelos de
assistência em saúde mental. Reavivando discussões como a institucionalização e
desospitalização dos doentes mentais. Criando indicadores que comparem os modelos de
reabilitação aos modelos tradicionais de assistência. Há inúmeros paises que vêm
alterando seus programas buscando garantir o processo de desospitalização. Nessa
direção, devemos ressaltar que existe uma tarefa árdua a ser cumprida pela equipe de
saúde, como incluir a vida social aqueles que destituídos dos laços familiares devem
usufruir de novas formas de atendimento.
Sob essa ótica, foram levantadas as seguintes questões norteadoras
desta investigação: Como se configura esse novo programa de integração que possibilita
ao portador de transtorno mental um melhor suporte social e de um cuidado mais
humanizado? Como esse acolhimento reflete em seu comportamento tendo em vista que
as práticas adotadas divergem da sua atual vivência? E o que vem a ser reabilitação na
vida destes sujeitos tão calejados pela institucionalização. Muito se tem discutido sobre
reabilitação para Kinoshita (1996), reabilitar pode ser então entendido como um processo
de restituição do poder contratual do usuário, com vistas a ampliar a sua autonomia. (...)
Entendemos autonomia como a capacidade de um individua gerar normas, ordens para
sua vida, conforme as diversas situações que enfrente. Assim, não se trata de confundir
autonomia com auto-suficiência nem com independência.
O presente trabalho de dissertação de mestrado em Psicologia da Saúde
pretende contribuir descrevendo e analisando o conjunto de esforços implementados para a
melhoria da atenção á saúde mental dos pacientes crônicos. Assim como, descrever a
reabilitação psicossocial, como uma das dimensões da promoção de saúde em populações
clínicas vulneráveis, é o centro deste trabalho.
1.5 A Reforma Psiquiátrica em Santo André
A partir da I Conferência Municipal de Saúde Mental, (1996), outros
movimentos têm revelado a importância no campo das lutas sociais por uma melhor
assistência ao paciente com transtorno mental, como as associações de familiares e
usuários.
O projeto de Saúde Mental de Santo And desde então estabelece
diretrizes buscando um modelo assistencial consolidando as diretrizes do SUS (Sistema
Único de Saúde) e avançando na construção de uma assistência em saúde mental voltada
para a política de reabilitação psicossocial, priorizando a construção de serviços com leitos
na comunidade.
Com essa preocupação o município de Santo André em 1999, antes da
portaria do Ministério da Saúde de 2000, cria a primeira residência terapêutica
proporcionando aos egressos de hospitais psiquiátricos, um novo serviço que garantisse a
sua reinserção social, sua reabilitação psicossocial e a humanização. O que significa uma
proposta ímpar com vistas a preservar o suporte social entre aqueles que após longos
períodos de internação, não vivenciaram esse apoio.
O município naquele momento contava com 07 (sete médicos), psiquiátrica
que cumpriam plantões de 24 horas na Emergência Psiquiátrica, mas sem leitos específicos
para os usuários da Saúde Mental, 01 Ambulatório de Saúde Mental, 03 equipes de Saúde
Mental em unidades de Especialidade, 01 CAPS (Centro de Atenção Psicossocial) que
funcionava da 7 ás 17 horas de 2ª á 6ª feira, e uma mini equipe para implantar o serviço de
reabilitação para o trabalho.
No final de 1999 criou-se a primeira Residência Terapêutica no município
mesmo antes da Portaria 106/00. Com o trabalho desta residência implantou-se o projeto:
De volta para Casa O direito de existir, que visava trazer para Santo André todos os
munícipes internados em Hospitais Psiquiátricos espalhados pelo país.
Este novo Equipamento de saúde denominado de Serviço Residencial
Terapêutico foi criado como estratégia de diminuição dos leitos hospitalares, porque a cada
paciente que sai do hospital para morar numa casa o leito (AIH Guia de autorização de
Internação Hospitalar) é fechado. A maioria destas guias tinha, em média, de 15 a 30 anos
de internação. Há como objetivo central a qualidade de vida e promoção à saúde. A
desospitalização não significava deixar o paciente sem atendimento, mas uma nova forma
de atendimento, sem exclusão. A meta de desinstitucionalizar propõe uma diferente
perspectiva ética, teórica e política vinculada a compreensão da loucura e as relações
produzidas no contexto social, possibilitando assim, uma ruptura prática-teorica no campo
da psiquiatria. (AMARANTE , 1996. NICÁCIO 2003).
A implantação no município de Santo André do Projeto dos Serviços
Residenciais Terapêuticos é um desafio para os técnicos. Por ser uma nova prática que se
constrói em todo o país fazendo-se necessário a descrição e a criação de instrumentos que
realmente possibilitem investigar os indicadores de qualidade que norteiam esta nova
prática de promoção á saúde.
Este equipamento de saúde se coloca como um desafio. É um serviço no
âmbito da saúde com várias interlocuções porque não é uma clínica, não é uma modalidade
com identidade, eminentemente, assistencial, mas de promoção à saúde. Neste sentido é
uma experiência incipiente principiante) e insipiente (não temos conhecimento), enfim
uma necessidade de aprofundarmos o conhecimento em todos os sentido, e faz-se
necessário à descrição, a avaliação de indicadores para verificarmos a sua eficiência.
O gestor local avaliou que este projeto necessitava de um gerenciamento
ágil e que privilegiasse a singularidade dos cuidados, assim como uma responsabilidade
conjunta de toda sociedade quanto a situação dos egressos de hospitais psiquiátricos, por
isso propôs uma gerenciamento de co-gestão através de contrato com a Organização
Social. A Organização Social é uma qualificação fornecida pelo poder Executivo, á
organização da sociedade civil sem fins lucrativos para desempenharem funções de
interesse público, conforme determina a Lei Federal nº 9637/98 (Anexo C). Em Santo
André, a Associação José Martins de Araújo Junior, foi qualificada como Organização
Social em 2003, constituindo-se a Associação De Volta para Casa. Com esta qualificação
há um gerenciamento compartilhado entre o poder público e civil, por meio do conselho
administrativo, paritariamente constituído. Todo programa é administrado pela OS o que
permite que através do contrato de gestão seja permitido o gasto com pizzas, bolo de
aniversário, compras individualizadas para os moradores como os objetos pessoais...
Os Serviços Residenciais servem também como suporte para todo uma rede
de Saúde mental hoje Santo André conta com: 01 Emergência Psiquiátrica com 10 leitos
para observação, 02 CAPS III que funcionam 24 horas incluindo finais de semana, 01
CAPS AD que funciona 24 horas, uma equipe de Redução de Danos, 01 Núcleo de
Projetos Especiais (serviço onde são gerenciados as oficinas de geração de renda e
profissionalização para os usuários da Rede de Atenção Psicossocial), 03 Residências
Terapêuticas, 01 CAPS II infantil que funciona das 7 ás 19 horas de á 6ª feira, e 03
equipes de saúde mental nos Ambulatórios de Especialidades.
Entendemos que este quadro demonstra a evolução de todo o processo de
implantação da Rede de Saúde Mental no município e o quanto as Residências
Terapêuticas e o Projeto De Volta para Casa se inserem neste contexto.
2 OBJETIVOS
2.1 Objetivo Geral
Avaliar o processo de reabilitação psicossocial dos pacientes egressos do Hospital
Psiquiátrico incluídos no programa: De volta para casa .
2.2 Objetivos Específicos
Caracterizar os pacientes que fazem parte do programa De volta para casa;
Apresentar a reinserção social, psicológica e ocupacional desses moradores
egressos de hospitais psiquiátricos incluídos no programa: De volta para casa,
verificando se existe ampliação da utilização dos espaços sociais e comunitários, e
apropriação da vida;
Descrever este novo serviço e sua relação com a rede de saúde.
3 MÉTODO
Para atendermos aos propósitos deste estudo, adotamos o método quanti
quali. .A pesquisa qualitativa, que segundo Minayo (1996), se caracteriza por preocupar-se
com a realidade que não pode ser quantificada e aprofundar-se no mundo dos significados
das ações e relações humanas.
Nas pesquisas qualitativas, é freqüente que o pesquisador procure entender
os fenômenos, segundo a perspectiva dos participantes da situação estudada e, assim, dar
sua interpretação aos fenômenos estudados. (NEVES, 1996).
A forma da pesquisa qualitativa adotada é o estudo de caso, que segundo
Godoy (1995) visa a um exame detalhado de um ambiente, de um sujeito ou de uma
situação em particular.
Os dados sociodemograficos foram computados de forma quantitativa e
analisados através de tabelas. Segundo Lopes (1990) uma falsa dicotomia entre
pesquisas quantitativas e qualitativas na investigação social, pois acredita que as
operações quantitativas apóiam-se em dados qualitativos originalmente coletados e
transformados, não existindo uma oposição, mas sim, uma circularidade entre a análise
qualitativa sistematizadora e as formas de medição mais rigorosas. Adotando este
entendimento apresentamos os dados de perfil dos sujeitos da pesquisa de maneira
quantitativa.
3.1.Ambiente da Pesquisa
A pesquisa aconteceu no município de Santo André, que passou a assumir
um projeto de saúde mental de forma prepositiva, que adotasse as diretrizes da reforma
psiquiátrica no Brasil a partir de 1999.
]
3.2.Histórico do Ambiente da Pesquisa
3.2.1 Residência Terapêutica Masculina
A Residência Masculina foi a primeira do município, segundo registros da
secretaria da saúde o município no primeiro semestre de 1998 recebeu um comunicado do
proprietário da Clínica Psiquiátrica Borda do Campo, conveniada ao SUS (Sistema Único de
Saúde) e que atendia as cidades da região, que fecharia as portas a partir do próximo ano.
A partir deste comunicado uma equipe da Secretaria de Saúde passou a trabalhar com a
equipe do hospital transferindo os pacientes para os serviços de referência com o objetivo
que ninguém ficasse sem atendimento. Afinal um número considerável de pacientes era
internado mensalmente nesse hospital. Dados do Pronto Socorro Municipal mostravam que
Santo André internava 200 pacientes / mês.
O município conseguiu resolver a questão dos casos agudos e crônicos, mas
havia nove pacientes no hospital considerados casos sociais, porque ninguém conhecia
a origem destes pacientes e estavam há anos internados. Um dos casos havia vindo do
Manicômio Judiciário.
Os pacientes foram transferidos para a casa onde funcionava o antigo
Ambulatório de Saúde Mental que havia se transformado em CAPS. Portanto, em
dezembro de 1998, é criada a primeira residência terapêutica no município sem que
existisse uma portaria que regulamentasse esse serviço.
O im
óvel era muito grande para ser uma casa, não tinha um ambiente
aconchegante, possuía três andares, muitos quartos e salas que não eram utilizados, os
móveis vieram do hospital ou de algum outro departamento da Prefeitura, o que mais
chamava atenção eram as camas do hospital velhas e com colchões pesados de mola.
Nos registros dos livros de relatório percebemos que havia uma realidade bastante
peculiar. Na escala de funcionários, havia dois auxiliares de enfermagem por plantão,
um guarda municipal, e um auxiliar de limpeza. Os registros mostram que as
ocorrências de agressividade, brigas e desentendimentos eram freqüentes; assim, os
comportamentos inadequados como relacionamentos sexuais em qualquer local da
casa, deitar-se no chão do quintal, não usar o banheiro adequadamente e outros. Os
funcionários questionavam sobre o que fazer, como lidar, tinham muita dificuldade e se
mostravam assustados. O relato desses fatos encontra-se na análise do livro de
anotações diárias.
Atualmente esta residência localiza-se próxima ao NAPS II, serviço de
referência desta região, o imóvel alugado, é um sobrado com dois andares. No andar
inferior encontramos um quarto com três leitos, uma sala de estar com televisão e
mesinha de telefone, um corredor que dá para um ampla cozinha que comporta uma
mesa com oito lugares onde todos fazem as refeições, um banheiro, uma ante-sala
onde fica uma escrivaninha com os livros de relatório e o armário de medicação, uma
escada que leva ao andar superior onde encontramos três quartos com duas camas
cada e um banheiro, e uma sacada, todos os quartos têm guarda-roupas, os moradores
são afetivos e acolhedores parecem satisfeitos para mostrar a casa.
3.2.2 Residência Terapêutica Feminina
Em junho de 2003, a Clínica Psiquiátrica de Ribeirão Pires comunicou seu
fechamento, havia aproximadamente 90 pacientes considerados moradores do hospital.
Desse modo, esta residência foi criada em dezembro de 2003. Sendo que cada
município de origem ficou de assumir seus moradores.
A Secretaria de Saúde de Santo André criou uma equipe de trabalho que
desde junho de 2003 passou a visitar o hospital semanalmente, com o objetivo de fazer
um levantamento sobre o nível de autonomia de cada paciente, seu quadro clínico e
psiquiátrico. As pacientes foram agrupadas e construíram a idéia de terem uma casa.
Definiram quem gostaria de dormir com quem no mesmo quarto e assim por diante...Até
a alta-transferência. No dia 20 de dezembro de 2003 saíram do hospital para a casa em
Santo André 12 (doze) moradoras. Os municípios da região não assumiram seus
moradores e Ribeirão Pires teve de garantir residências a todas as moradoras do
hospital, assim, não houve um trabalho de desospitalização, e no dia em que a equipe
de Santo André foi buscar suas moradoras, viu cenas grotescas como pacientes se
agarrarem aos pilares para não saírem do hospital e gritavam e choravam. Enquanto as
pacientes que vinham para Santo André estavam felizes porque queriam uma casinha
como diziam para outras pacientes que não sabiam para onde iriam e mostravam-se
apavoradas.
Neste período o Secretaria de saúde foi procurado por uma senhora dizendo
que tinha uma irmã internada num hospital psiquiátrico no Rio de Janeiro que não
poderia assumi-la em sua casa porque morava num barraco na favela e não tinha
espaço, mas que durante anos o via a sua irmã e gostaria de manter o contato, o
Secretario assumiu que esta paciente deveria vir para esta residência. Foi feito o
contato com a médica, com a psicóloga e passaram a se comunicar para já irem
assumindo o caso. Foi feita uma aproximação entre as irmãs que passaram a conversar
semanalmente por telefone e trocaram fotos via correio. Em janeiro esta paciente
chegou do Rio de Janeiro, do Hospital de Paracambi. A casa tinha quatro quartos, uma
ampla sala de estar, uma cozinha, um refeitório, três banheiros, um quintal, uma
garagem, uma varanda. Apesar do espaço da casa ser confortável a lei não permitia o
número de moradores deveria ser oito moradores, por isso foi alugada uma outra casa e
verificamos que nas reuniões semanais um dos pontos de pauta era a discussão da
divisão das moradoras, em relação as casas, o mais interessante é que as moradoras
não queriam se separar e também não queriam se separar das cuidadores, elas
estavam apegadas. Após várias reuniões e muitas visitas á casa nova optaram que
como a casa nova era um sobrado iriam aquelas com maior facilidades de
deambulação. Em março de 2004 foi criada a terceira residência terapêutica do
município. (Residência Terapêutica Feminina). Um casa com dois andares tendo no piso
superior três quartos com guarda roupas embutidos, um banheiro e uma ante-sala, no
piso inferior uma ampla copa e cozinha, uma sala de estar, uma varanda, uma garagem,
uma área de limpeza, um quarto para dispensa e dois banheiro e uma churrasqueira
com um salão.
Na época que as moradoras saíram do hospital, tentamos criar uma
planilha que pudesse quantificar os indicadores de qualidade de vida destes pacientes
por anos institucionalizados. Desta forma criamos uma planilha (anexo ). E depois de
seis meses tivemos o seguinte resultado, que segue após o histórico da implantação da
residência mista.
3.2.3 Residência Terapêutica Mista
Conforme observamos e pesquisamos nesta época a residência terapêutica
feminina ficava com dois cuidadores por possuir um maior número de moradores cinco com
maior dependência para as atividades de vida diária (moradores idosos, com dificuldade de
deambular sozinhos, e com seqüelas de AVC - acidente vascular cerebral, e um deficiente
visual) e dois moradores da residência masculina também estavam necessitando de
maiores cuidados, por este motivo foram transferidos dois moradores para a residência
feminina que se transformou numa residência mista. Desta forma, esta residência passou a
abrigar sete moradores. Houve uma certa apreensão por parte de todos, afinal uma
residência com homens e mulheres, porém os moradores adoraram. Em sua maioria, estas
pessoas eram de idade avançada e gostavam de ambiente diversificado. Um dos
moradores foi convidado a retornar á residência masculina e respondeu: eu não, lá não
tem mulher. È importante registrar que estas mudanças passaram por um processo de
discussão com os moradores e cuidadores.
Em 2005, a Residência Mista recebeu um comunicado do proprietário do
imóvel que havia vendido o imóvel e não tinha interesse em manter a casa alugada. A
equipe da Secretaria teve muita dificuldade em encontrar na região uma casa térrea nessas
condições, conseguiu encontrar uma casa com um quarto, cozinha e sala nos fundos, e três
quartos, sala, três banheiros, área de despensa, refeitório, copa, quintal, na parte da frente,
encontra-se em negociação se será registrado como duas Residências ou uma podendo
morar dez moradores, esta autorização depende da Vigilância Sanitária. No período de
dezembro de 2002 preenchemos um planilha de indicadores de autonomia que foi
consolidado os dados nos períodos nos dias seguintes a saída do hospital (de 20 á 31 de
dez/2002) um mês após as pacientes saíram do hospital portanto de 01 á 31 de janeiro de
2003, e seis meses depois, que tabulados montaram os gráficos que estão no (Anexo D )e
a análise dos gráficos (Anexo E)
3.3 Público-alvo
Os participantes da pesquisa foram os moradores das residências terapêuticas
do município de Santo Andegressos de hospitais psiquiátricos ou dos NAPS (Núcleo de
Atenção Psicossocial).
Os participantes estão distribuídos da seguinte maneira:
Residência Terapêutica Masculina: oito moradores
Residência Terapêutica Mista: nove moradores
Residência Terapêutica Feminina oito moradores
Constituindo um total de 25 moradores
Todos os moradores foram sujeitos da pesquisa, e os instrumentos de
observação e coleta de dados foram modificados de acordo com cada caso. Para as
entrevista foram selecionados quatro casos emblemáticos do ponto de vista do
diagnóstico médico e da história e evolução do cotidiano da convivência na residência, e
a capacidade de comunicar-se verbalmente.
3.4 Material e Instrumento
Para realizar o presente estudo, foram pesquisados: os registros do livro de
anotações diárias que procuramos transcrever as anotações do mesmo período de anos
diferentes para compararmos os textos, os prontuários dos moradores, e as entrevistas.
O roteiro de entrevistas foi predefinido e de seqüência flevel, de modo que
o (a) entrevistado (a) tivesse a oportunidade de colocar suas opiniões e sentimentos a
respeito do assunto pesquisado. A técnica de entrevista adotada foi a semi-estruturada. Na
visão do pesquisador 3 (três) eixos deveriam ser analisados, um relato sobre a vida anterior
a doença e a internação, a vida dentro do hospital comparada com a residência e as
perspectivas de futuro.
Neste tipo de entrevista o entrevistador tem liberdade para expor seus
sentimentos, iniciando por onde desejar e incluindo o que desejar. (OCAMPO, 1981).
O entrevistador após explicar os objetivos da pesquisa e solicitar
autorização dos participantes, esclarecendo que poderiam deixar o estudo a hora que
assim o desejassem. Também deixou claro qual seria o teor das questões. Desse modo,
foi assinalando e procurando entender o discurso do entrevistado. Quando havia um
momento de silêncio ou bloqueio procurava acenar com a cabeça, demonstrando
entendimento e estimulando a continuidade da frase. As entrevistas terminaram de acordo
com as necessidades do entrevistado. Ao não entender o relato, o entrevistador procurava
retornar ao assunto, fazendo com que fosse esclarecido.
O conteúdo de cada entrevista visava obter informações que foram
agrupadas em categoria como:
Dados de identificação: Neste item buscamos identificar o perfil dos moradores
egressos de hospitais psiquiátricos em relação às questões quanto: sexo, idade,
escolaridade, documentação, estado civil, se recebe algum tipo de beneficio
(aposentadoria, LOAS, De volta para casa...), e o nível de independência e uso deste
dinheiro.
Reconhecimento sobre sua história e do aparecimento do transtorno mental:: O
reconhecimento e a descrição dos acontecimentos na vida demonstra uma
apropriação da existência e a capacidade de lidar com o momento existente. A
reconstrução desta memória demonstra um nível de independência e autonomia.
Reconhecer no sentido de ter consciência das perdas e de sua situação atual.
Lembranças e desenvolvimento infantil: No relato da história de vida de cada
morador buscamos redefinir a existência de seus vínculos familiares, o que nos
possibilitou compreender a situação vivida por cada um, o caminho que foi trilhado
até chegarmos a uma vida em que é preciso reconstruir uma outra família, um outro
lar.
Internações: Buscamos verificar o quanto cada morador tem noção do seu processo
de adoecimento, tratamento e dificuldades no relacionamento com a família devido a
doença e acompanhamento terapêutico.
Conhecimento sobre seu quadro psiquiátrico: com este tópico objetivamos verificar o
reconhecimento de cada morador sobre sua doença, suas crenças, as explicações,
mitos e tudo o que envolve suas crises, no que depositam suas melhoras ou a
manutenção do mesmo quadro.
Vivência na Residência: esta questão busca demonstrar o que representa hoje morar
na residência e o convívio com pessoas que estão na mesma situação, e tiveram a
mesma experiência de ficar anos internados, comparando a vida no hospital e na
residência, analisando que efeito o programa de volta para casa traz no cotidiano de
cada um.
Projeto de Vida: o homem diferencia-se por sua capacidade de pensar e projetar,
neste item, verificamos a possibilidade de cada morador expressar perspectivas
futuras de vida.
Benefícios e documentos: Com esta questão o nosso intuito foi verificar o quanto a
garantia de receber algum beneficio auxilia e interfere nas relações de poder e de
troca, caracterizando, também, possibilidade de organização e planejamento da vida.
3.5 Procedimento da Aplicação
Ao definirmos o projeto de pesquisa encaminhamos a proposta com a
solicitação de autorização por parte da instituição, ao Coordenador de Saúde Mental do
município, o qual nos permitiu seu encaminhamento.
Foi realizado um levantamento nos documentos, como livros de registros
(relatórios) diários, livros de atas das assembléias semanais, fotos e diversos
documentos que nos ajudaram na observação do local, e posterior condução das
entrevistas.
As entrevistas foram realizadas entre o de janeiro/fevereiro de 2006, em local
reservado, mediante o preenchimento do termo de consentimento livre informado (em
anexo), solicitamos a autorização para uso do gravador, explicando o porque da
solicitação. A duração média de cada entrevista foi de aproximadamente 45 minutos.
Para as entrevistas selecionamos os moradores com maior disponibilidade e facilidade
de comunicação verbal, os demais fizemos um levantamento e estudo dos relatos de
prontuários.
As entrevistas foram realizadas na sala de reuniões da Sede da
Organização Social de Volta para Casa, situada á rua Estados Unidos, 24 Parque das
Nações Santo André. A Organização Social segundo lei federal funciona em co-gestão
com a Prefeitura e é responsável pela parte administrativa da implantação das residências
na cidade. Optamos por realizar as entrevistas num local que não houvesse interferências
externas e onde os moradores se sentissem á vontade por já conhecerem.
3.6 Tratamento dos Dados
Para tratamento dos dados, utilizamos o método de análise de conteúdo.
Segundo Bardin (1977 p. 31) a análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de análise
das comunicações que utiliza procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, considerando o todo do discurso desde os aspectos lingüísticos
até os atitudinais.
A análise de conteúdo proposta por Bardin dá ao pesquisador uma liberdade
de trabalhar com a redação do texto, de inicio é flexível e no desenrolar do texto o trabalho
vai se tornando sistematizado por meio da elaboração e verificação de hipóteses.
Tendo em mão todo material que foi colhido, o pesquisador deve trabalhar
sabendo que os dados colhidos constituem os dados brutos.: Segundo Bardin (1977 p 69)
Há quatro categorias que organizam o sistema categoria que são: origem, implicação,
descrição e sentimentos. Neste momento encontramos as variáveis empíricas que
emergem dos dados do texto e as variáveis construídas que é o grau de estranheza entre
o ideológico e o conflito vivido. O objetivo é construir hipóteses verificadas pelos dados do
texto A categorização pode empregar dois processos inverso: o fornecimento de um
sistema de categoria conforme os elementos vão aparecendo. O sistema de categorias só é
definido no final do texto. .Um conjunto de categorias deve possuir as seguintes qualidades:
Exclusão mútua Cada elemento não pode existir em mais de uma divisão. Uma
categoria tem que ser construída de forma que um elemento não tenha mais que um
aspecto.
Homogeneidade os documentos escolhidos devem ser homogêneos, ou seja,
obedecer os critérios descritos anteriormente pelo pesquisador. No nosso caso
procuramos buscar fontes e material que contribuíssem efetivamente numa análise
com conteúdo. Um único critério deve organizar toda classificação.
Pertinência Todo material utilizado foi pertinente e estava dentro do propósito do
trabalho. O sistema de categorias deve refletir as intenções da investigação, as
questões do analista e/ou corresponder as características das mensagens.
A objetividade e a fidelidade: O organizador da análise deve definir claramente as
variáveis que trata, assim como deve precisar os índices que determinam a entrada
de um elemento numa categoria. O investigador deve cuidar para não misturar
questões subjetivas. Este item dentro da análise de conteúdo é de fundamental
importância. Procuramos manter com clareza a divisão das categorias encontradas.
A produtividade: Um conjunto de categorias é produtivo se fornece resultado fértil,
fértil em indicadores de inferências e hipóteses novas, e em dados exatos.
Em seguida procedemos a preparação e exploração do material. Esta fase
caracterizou-se no presente trabalho, pela reprodução das entrevistas e todo o material na
integra.
Ao transcrevermos as entrevistas estas ficaram na integra com o
pesquisador, os aspectos centrais foram condensados para facilitar o entendimento do
leitor.
Tendo todo material em mãos passamos a elaborar indicadores precisos e
seguros, que fundamentaram a interpretação final. A freqüência de determinadas respostas
ou a repetição de algumas idéias, descrição de sentimentos e emoções durante as
entrevistas e mesmo através dos demais materiais, possibilitaram a construção dos
indicadores.
O último passo foi a construção no tratamento dos dados obtidos e sua
interpretação. Os resultados brutos como o perfil dos moradores, foram tratados, com
operações estatísticas simples (percentagem), que permitiram estabelecer quadros de
resultados e figuras que condensam as informações. Para interpretação dos resultados
utilizamos o método de análise qualitativa de conteúdo, segundo a técnica explicitada pelo
mesmo autor. Desta forma, foi feita a análise de conteúdo de cada entrevista.
4 RESULTADOS E DISCUSSÃO DOS RESULTADOS
4.1 Dados Sociodemográficos
As tabelas nº 1, 2, 3, 4, 5 , 6 , 7 e 8 apresentam os dados sociodemográficos
dos moradores do programa De Volta para Casa, do município de Santo André.
Verificamos as características segundo: vínculo familiar, gênero, estado civil, faixa etária,
documentação pessoal, beneficio, grau de escolaridade.
Tabela 1. Dados sobre a vinculação familiar.
Nº %
SIM 17 58%
NÃO 08 32%
Total 25 100%
A tabela 1 Os dados da tabela 1 mostram que 32% dos egressos de hospitais psiquiátricos
não apresentam vinculação familiar. Registramos que consideramos a não vinculação o
caso daqueles moradores que não apresentam nenhuma informação ou contato sabe onde
estão seus familiares e 58% apresenta algum tipo de contacto, mesmo os que recebem
visitas esporádicas ou que a família recusa o contato. Esta condição foi considerada como
fragilidade do vínculo familiar.
Tabela 2 Distribuição dos moradores por gênero
ANO 2003 2006
Nº % Nº %
Feminino 13 52% 12 48%
Masculino
12 48%
13 52%
Total 25 100% 25 100%
Os dados da tabela 2 mostram que praticamente existe a mesma demanda, pois existem
52% (13) de indivíduos do gênero masculino e 48% (12) do feminino.
Tabela 3. Distribuição dos moradores por estado civil
Nº %
Solteiro 15 60%
Casado 02 8%
Viúvo 02 8%
Separado 03 12%
Não sabem 03 12%
Total 25 100%
Os dados da tabela 3 mostram que 60% dos egressos de hospitais psiquiátricos não
tiveram a experiência da convivência conjugal. Sendo que 8% são de viúvos e 8% são
casados sendo que 12 % não sabem informar e os outros 12% são separados.
Tabela 4 . Distribuição dos moradores por faixa etária
Idade Nº %
< 40 01 4%
41-50 05 20%
51-60 05 20%
61-70 05 20%
> 71 03 12%
Não sabem 06 24%
Total 25 100%
Os dados da tabela 4 apresentam que 4% dos moradores com menos de 40 anos: 60% se
dividem nas faixas de 41 a 70 anos, sendo que 12% têm mais de 70 anos e 24% não
sabem informar a idade.
Tabela 5 Quanto a ter documentação de ordem pessoal
SIM NÃO
Nº % Nº %
Certidão de
nascimento.
17 68% 08 32%
Registro
Geral
17 68% 08 32%
CPF 14 56% 11 44%
Cartão SUS 25 100% 00 0%
Não tem
documentos
17 68% 08 32%
Os dados da tabela 5 Caracterizam que o número de moradores que possuem
documentos pessoais um total de 68%, e os documentos que cada um possui. Sendo que
32% dos moradores não possuem nenhum tipo de documento de identificação
Tabela 6 Distribuição de benefícios
TIPO Nº %
LOAS 02 8%
DE VOLTA P. CASA 03 12%
AUX. DOENÇA 06 24%
NÃO RECEBEM 14 56%
TOTAL 25 100%
Os dados da tabela 6 Demonstram que 8% dos moradores recebem o LOAS (lei
orgânica da assistência social), 12% recebem o beneficio De volta para casa (vide página
), 24% recebem auxilio doença, e 56% não recebem nenhum beneficio.
Tabela 7 Distribuição dos moradores quanto ao grau de escolaridade
2003 2006
Nº % Nº %
1º grau incompleto 05 20% 04 16%
1º grau completo 00 00%
01 4%
2º grau incompleto 03 12% 03 12%
2º grau completo 02 8%
02 8%
Não alfabetizado 07 28% 05 20%
Freqüenta o MOVA 08 32% 10 40%
Total 25 100% 25 100%
Os dados da tabela 8 mostram que o número de moradores que freqüentam o MOVA
passou de 32% para 40% em 3 anos e o número de não alfabetizados diminuiu de 28%
para 20%. O número de moradores com segundo grau completo é de 8% e incompleto é
de 12 %. No caso do primeiro grau completo é de 4% e incompleto 16%.
Na categoria Dados de identificação, verificam que o Programa De Volta
para Casa possibilitou que (68%) conseguissem tirar seus documentos pessoais desta
forma (54%) puderam ser cadastrados para receber algum tipo de beneficio Poderíamos
ter um maior número de moradores recebendo o De volta para casa, conforme já foi
mencionado é um dos eixos do Programa De Volta para Casa. Trata-se da liberação de
uma verba no valor de R$ 240,00 mensais para todos os egressos de hospitais
psiquiátricos, visando auxiliar na sua reinserção na família e na comunidade. Quando o
paciente que passou mais de um ano internado em hospital psiquiátrico fechado, ele tem
direito de receber este beneficio e o local onde ele esta sendo atendido passa a fiscalizar
e acompanhar se este dinheiro tem sido utilizado em prol da saúde do paciente, caso ele
seja internado o beneficio é suspenso. Constatamos que apenas 03 moradores o
recebem o que corresponde a (12%) dos moradores.
Em nosso estudo notamos que há uma dificuldade na burocracia quanto a
documentação destes moradores, pois para ser cadastrado e receber o beneficio é
necessário possuir todos os documentos e abrir uma conta na Caixa Econômica Federal,
os moradores com menor nível de autonomia se recusam a ir ao banco, esperar, falar,
apresentam dificuldades de locomoção, e acabam ficando sem conseguir ter acesso ao
beneficio. Nestes casos observamos que não há nenhuma regulamentação ou projeto
sobre o gerenciamento desta verba para os moradores da residência.
Outro dado que nos chama a atenção é o número de moradores que
permanecem sem documentos (32%). Sabemos que é possível o Ministério Público
fornecer um documento provisório nos casos de pessoas sem documentação, no entanto,
estes pacientes que ficaram anos internados sem identificação ainda permanecem depois
de 6 (seis) anos nas residências terapêuticas sem documentação e sem acesso ao que
lhes é de direito um deles é o beneficio De volta para casa. a verba mensal que tem por
finalidade propiciar maior autonomia ao morador. No nosso entendimento este fato é um
agravante do programa, pois no caso do falecimento de um destes moradores há o risco
de ser sepultado como indigente por não possuir documentos nem identificação, mesmo
tendo sido objeto de cuidados durante anos pelo hospital e hoje pela residência.
Os dados sócios demográficos nos ajudam na construção do perfil dos
moradores das residências e demonstram também que não diferenças quanto ao
gênero (52 %) são do sexo masculino e (48%) do sexo feminino. Quanto ao estado civil
percebemos que há um número significativo de moradores que não tiveram a experiência
da convivência conjugal (60%). Podemos relacionar este dado com o fato de que
conforme mostra os dados deste estudo na maioria dos casos a primeira crise aconteceu
por volta dos 20-30 anos. Período de maturidade em que as pessoas tomam decisões
quanto a profissão e relacionamento mais estáveis. No caso destes moradores a doença
afeta diretamente a possibilidade de um relacionamento amoroso que faça com que
assumam esta convivência.
Na nossa investigação encontramos um equilíbrio entre a faixa etária
sendo que menos que 40 anos encontramos apenas um morador, portanto é possível
afirmar que a população institucionalizada que saem hoje do hospital não é uma
população jovem porque (72%) apresentam mais de 41 anos. Lembrando que 24% dos
pesquisados não sabem a idade e não possuem documentos.
Os moradores quanto ao grau de escolaridade verificamos que é
significativo o fato de 40% dos moradores freqüentarem o MOVA Movimento de
Alfabetização, porque desta forma sabemos que praticamente a metade dos moradores
está inserida numa atividade extra hospitalar na convivência com pessoas da
comunidade. Acreditamos que o número de moradores não alfabetizados se deve ao fato
de não conseguem sair de casa, por seqüelas físicas na sua maioria problemas clínicos.
As demais mantem uma certa proporcionalidade. Temos um morador que concluiu o
primeiro grau. (4%).
4.2 Livro de anotações diárias
data registro Equipe Comentários
28/12/99 Morador 5 morador agressivo, após a
medicação acalmou-se, aceitou a dieta
oferecida, negou-se a tomar banho
Morador 6 morador oscilando entre
momentos de agitação e calma, aceitou
a medicação e dieta.
AI e AII
GI
A linguagem é bem parecida com a hospitalar,
embora o morador tenha conseguido ficar sem
tomar banho.
28/12/99 Plantões sem intercorrências todos
dormiram
AIII e AIV
GII
O livro não registra o cotidiano como a importância do
registro de uma história a ser construída.
29/12/99 Morador 1 morador apresentou-se
calmo, aceitou a dieta e medicação,
esteve dormindo a maior parte da tarde,
tomou banho no período da manhã.
Morador 7 morador calmo, aceitou
toda a medicação, ofereceu-se para
lavar a louça do café da tarde, tomou
banho no período da tarde.
Morador 5 morador calmo, aceitou a
medicação, aceitou a dieta oferecida,
tomou banho pela manhã, recusou-se a
ser examinado pelo clínico geral Dr. E.
Morador 6 Morador agitado no período
quebrando tudo o que via pela frente só
se acalmou com a chegada da ETI e
aceitou a medicação com ela, segue em
observação
Morador 8
apresenta oscilação de
comportamento momentos calmos
outros agitados.
AV e AVI
AL I
Os horários de banho levam em conta o desejo do
morador, mostra flexibilidade nas rotinas e regras, O
médico visita a casa porque o morador é deficiente visual
e apresenta déficit motor nos MMII em conseqüência de
um AVC, e se recusa a ser examinado devido idéias
deliroides de cunho persecutório.
Há vários moradores com alteração de humor o que
deve dificultar a vinculação e trazer insegurança aos
trabalhadores no manejo com estes moradores.
31/12/99 Morador 6 No inicio da noite AVII e É a primeira festa de ano novo num espaço aberto uma
apresentou-se animado, conversando,
mas depois mudou o humor, não
querendo conversar olhando várias
vezes com braveza para o AVII e o
guarda, ofendendo com palavras de
baixo calão subiu para o quarto, antes
da ceia e dormiu um pouco.Ás 22:30 foi
chamá-lo para a ceia e veio prontamente
estava feliz por ter frango e
macarronada. Por volta das 23:30 ficou
novamente mal humorado pedindo para
o morador 1 me dar um recado que não
era mais para eu conversar com, pois
senão iria me bater, perguntei a ele o
porque e ele me respondeu que eu
estava conversando com todo mundo e
fazendo putaria com todos os homens
menos com ele. Expliquei a ele que não
era verdade e que se acalmasse (não
adiantou é claro) Ás 00:00 hs chamei-o
para ver os fogos e ele disse que queria
estar lá que não poderia fugir hoje,
porque estava chovendo. Ás 1:30 a AE
telefonou para desejar feliz ano novo,
morador 8 ,9, 10, e 6 , falaram com ela
por telefone, o morador 6 só aceitou
tomar a medicação depois que a AE
prometeu para ele um sapato Ás 2:30
pegou o cobertor e foi dormir na sala.
Morador 1 Lembro-se da mãe falecida
chorou muito dizendo que sentia muita
saudade dela e perguntou se aquele
AVIII
GM não
consta o
nome só
a
referênci
a.
casa verificamos que emergem lembranças e dores,
desconfiança um morador dormiu na sala..
O telefonema da auxiliar demonstra uma reinserção
social capacidade para falar ao telefone e poder trocar
presente pela medicação um poder5 de
negociação.
choro era de angustia. Falou do irmão
falecido e de sua irmã.
01/01/00 Morador 7 apresentando coceira em
MMSS como estamos com outros
moradores com escabiose foi passado
acarsan.
Morador 8 apresentou episódios de
agressividade comunicado o médico que
orientou adiantar a medicação da noite
conforme prescrição.Não melhorou teve
uma crise convulsiva foi encaminhada
ao hospital municipal retornando á noite.
Morador 6 - ficou agitado falando em
suicídio, fuga.. isso depois do incidente
em que a casa ficou toda no escuro
devido a uma forte chuva e problemas
na rede elétrica foi preciso a presença
do Corpo de Bombeiros.
AI, AII e
AIX
GIII
As péssimas condições em que os moradores chegaram
com piolhos e escabiose.
09/01/00 Morador 1 apresenta-se calmo, ajudou
nas atividades domésticas, foi á padaria
com o guarda comprar pão. Dormiu todo
o período.
Morador 9 morador aceitou a
medicação, aceitou o jantar, aprendeu a
ligar e desligar a televisão.
Morador 6 Apresenta-se irritado,
ansioso, nervosismo, pulou o portão
para sair foi conversado retornou,
aceitou a medica
ção e jantar,
apresentou-se assediando sexualmente
o morador Valdemar a enfermagem
conversou com o mesmo diz que quer ir
embora ficar com sua fam
ília que esta
AIII e AX
GIV
Verificamos a capacidade dos moradores de circularem
no bairro e o uso dos aparelhos elétricos. Vejam ir a
padaria com o guarda municipal que fica na sua casa.
Será que isto deve ser comum qual a representatividade
social que esta ação pode ter.
preso na casa.
10/01/00 Morador 6 Agitado, nervoso, tomou
banho, aceitou a medicação, foi feito
uma ampola de haldol as 16:10 ás 16;10
ele jogou todos os discos no chão
chutou as cadeiras diz que esta muito
nervoso.
AXI e
AXII
GV e
GVI
A medicação injetável de urgência é feita na casa como
rotina. È comum nos Serviços de Saúde o médico
prescrever um se necessário no caso de agitação ou
alteração de comportamento por parte do paciente. Mas,
numa casa termos injeção se necessária parece fora do
contexto do que é ser uma casa.
18/01/00 Morador 6 morador um pouco agitado
procurando o óculos, dormiu á tarde,
aceitou a dieta e medicação no leite.
Morador 5 morador agitado brigando
com o morador 9 tomou a medicação no
café com leite.
AXIII e,
AXIV e
AVIII
GVII
O fato da medicação ser escondida no leite ou pão é um
destaque frente a recusa do morador.
19/01/00 Há uma anotação para a equipe:
Fica terminantemente proibida a entrada
de pessoas estranhas nas dependências
do SRT. Exceto autoridades
devidamente identificadas.
ETI Demonstra o clima de estabilidade por não termos uma
legislação que determine e regulamente as res. Ter.
20/01/00 Após o almoço a ETI colocou algumas
cadeiras na calçada e alguns moradores
e auxiliares e o segurança ficamos
conversando e observando o
movimento, o morador 9 quis dar uma
volta o guarda e uma auxiliar foram com
ele depois foi comprado pão e servido
lanche para todos. A ETI fez uma
reunião e combinamos que todas as
roupas devam ser identificadas.
AEX e II
ASI
GMV e I
ETIG
Há uma nova convivência descoberta por moradores,
trabalhadores e direção.
20/01/00 ETI e seu filho estavam aqui e ficaram
até ás 21:30, uma criança aqui anima
bastante a todos, o morador 9 brincou
AEI e
AEII
GM V
Os funcionários se tranqüilizam com a presença de
pessoas que julgam mais capazes e a presença de
crianças que torna o clima mais familiar e os moradores
bastante com o menino. ETI conversou
um pouco com a AEI e a AEIII depois
ficamos na calçado e conversamos
como começou a esfriar entramos mas
foi uma boa experiência eles ficarem
aqui com a gente.
também se mostram mais tranqüilos neste período.
21/01/00 Os moradores foram passear no
quarteirão com a ASI gostarão muito e
depois receberam a visita da Drª e
funcionária do NAPS II pediram para os
moradores irem ao CAPS II.
AEI e IV
GMIII
ASI
Receber visitas também passa a ser uma novidade para
os moradores.
23/01/00 Morador 10 morador acorda irritado,
impaciente, briga com o Morador 1
recebe visita de sua mãe fica mais
calmo A auxiliar sai com o morador 1
para dar umas voltas, á tarde os dois
voltam a discutir por causa do som o
morador 6 se mete na discussão.
AE IV e
V,
GMIII e X
As constantes brigas mesmo por motivos banais.
24/01/00 Por volta das 20 hs a vizinha da frente
pediu para que os moradores sentados
na calçada entrassem porque estavam
bem enfrente a casa dela.
AEIII e
VII
GMI e XI
Há uma rejeição a ser trabalhada com a vizinhança.
31/01/00 Houve no período da tarde a visita da
senhora * dizendo que queria fazer uma
vistoria no lar como não apresentava
nenhuma identificação foi impedida
pela
auxiliar ficou fazendo ameaças dizendo
que iria procurar a promotoria, diante
desta situação foi comunicado o Dr. e a
ETI, que logo compareceu a casa mas a
mesma j
á havia ido embora.
AE.III e
VI
GMIII e II
O que demonstra uma certa inquietação e falta de
segurança legal para manutenção da casa, o que deveria
de alguma forma ser percebida pelos moradores.
03/02/00 Ao chegar as 7:00 hs encontrei o AE XI e
Os auxiliares aprendem a valorizar o dialogo ao invés da
Morador 9 varrendo o quintal estava
calmo e tranqüilo quando a servente
chegou e foi limpar a casa este tentou
agredi-la dizendo que já estava tudo
limpo que ele havia limpado foi preciso
muito dialogo para ele se acalmar.
XIII
GM IV
ALI -
da medicação
21/02/00 Gostaria de ter melhores informações
sobre o uso do telefone. Todos eles
podem usar quando quiserem e quanto
tempo quiserem, a qualquer hora, não
sabemos.
AE.VII e
I
GM VIII
Falta de informação sobre rotinas básicas da casa tudo
era novidade para todos havia uma abertura para uma
construção coletiva.
data Registro Equipe Comentário
28/12/02 Recebo o plantão as 7 hs com todos os
moradores dormindo com exceção do
Morador 7 e 11 que estão
desaparecidos desde ontem. Demos
uma volta nas redondezas ligamos para
o municipal e para aguarda municipal e
não tivemos nenhum retorno. A casa fica
muito vazia e triste sem estes dois
moradores. O morador 5 diz estar
chateado com a falta do morador 7 que
é seu companheiro de quarto. O
morador 6 diz que qualquer dia quem vai
fugir é ele devemos ficar atentos.
Arrumei a rouparia joguei fora roupas
velhas e deixei algumas para arrumar. O
morador 6 ganhou asas de frango da
avícola ficou todo contente.
Feito rol de roupa suja para lavar na
lavanderia.
AE XV Verificamos que há o registro do desaparecimento de
dois moradores que foram dar uma volta no bairro e não
retornaram. A funcionária registra a tristeza de todos
inclusive de dois moradores que brigavam e neste
momento o outro relata sua falta. O Firmino quer sumir
também. Vejam que as roupas são na rouparia, o
Firmino tem acesso a vizinhança e ganha asas de
frango, a roupa é lavada na lavanderia do hospital não
há máquina de lavar.
30/12/02 Ligaram do Hospital Municipal avisando AE XVI Um dos moradores retorna há todo um cuidado clínico
que encontraram o morador 11 que se
perdeu do morador 11 porque este
arranjou uma mulher.
Morador 11 continua sumido estamos
preocupados espero que volte logo feliz
ano no e que no próximo ano possamos
estar todos juntos novamente com
saúde paz, e muita coragem para
continuar a luta do dia a dia.
e XIII com o mesmo. E verificamos que não mais
seguranças na casa, nem auxiliar de limpeza.
01/01/03 Morador 1 orientado, eupneico,
acianótico, contactuando bem, bem
humorado, aceitou a dieta e medicação.
AE XI
O funcionário mantem uma anotação hospitalar e clínica
todos os funcionários são auxiliares de enfermagem.
02/01/03 Liguei novamente para o DEMEO para
conserto de válvula hidra, e chuveiro.
AEXV A manutenção de qualquer equipamento da casa é feita
pela prefeitura, por isto muitas vezes há uma demora na
resolução de algumas questões.
05/01/03 Está faltando açúcar, leite, papel toalha
e sabonete.
CI A falta de materiais de consumo são constantes.
09/01/03 A ambulância levou os moradores para
o CAPS II
AEXIII Os moradores eram transportados e dependiam do
transporte para freqüentarem o CAPS, o que muitas
vezes no registro verificamos atrasos e faltas de
condução. Esta ambulância estava desativada.
19/01/03 Plantão bastante tranqüilo AEXI Os plantões na maioria das vezes transcorre sem
anormalidades. Os moradores dormem.
20/01/03 A lavanderia pede para economizar nas
trocas de roupas porque esta em falta o
sabão em pó.
AEXII Recebemos orientações da Prefeitura quanto as faltas de
material.
24/01/03
Retorno do morador 9 que foi
encontrado e estava no Albergue.
AEXII Todos os setores da Prefeitura estavam procurando e
buscando o morador desta forma ele foi encontrado,
mesmo não tendo muitas condições de dar informações.
data registro
equipe
comentários
28/12/05 Á tarde foi dada a medicação e servido
café com leite e bolo de fubá todos
CII As anotações registram um cotidiano rotineiro e tranqüilo
do ponto de vista psiquiátrico
estavam tranqüilos alguns dormiram
após o almoço e outros ficaram
assistindo televisão.
29/12/05 O morador 11 não quis jantar. E o
morador 8 foi dormir as 1:00 hora da
manhã assistindo filme na tv.
CIII As questões que exigem maior atenção são os cuidados
clínicos
31/12/05 Todos dormiram foi um bom plantão feliz
ano novo
CIV Noite de Festa mas com tranqüilidade
01/01/06 Foi servido macarrão e pernil todos
adoraram. Os moradores dormiram até
ás 8:30 foram acordando aos poucos.
CII Um dia com almoço diferente, todos gostam de comer
bem
04/01/05 O engenheiro da Prefeitura veio fazer o
orçamento para troca de carpete e
pintura.
CV A casa passa por reforma porque para ser cadastrada a
VISA exige modificações mesmo sem termos uma
portaria específica.
21/01/06 Feita reunião com os moradores para
discutir a reforma da casa.
CI Os moradores são comunicados e participam de todos
os encaminhamentos.
COMENTÁRIOS
Este material auxilia a entender o processo de construção deste novo
equipamento de promoção á saúde que são os SRT. Os registros diários nos conduzem
aos detalhes diários desta caminhada. Para iniciar esta descrição optei por comparar
alguns dados que demonstram o percurso de construção deste serviço:
1. Recursos Humanos: as anotações diárias demonstram que no inicio os profissionais
escalados para os plantões, eram auxiliares de enfermagem. Diariamente havia dois
(02) auxiliares, 01 (um) ou 02 (dois) Guardas Municipais, a Encarregada Técnica, uma
Assistente Social e um (01) auxiliar de limpeza (não em todos os plantões).
Verificamos que a montagem do serviço neste período tem uma lógica semelhante ao
hospital. A linguagem no livro de anotações é uma linguagem hospitalar como:
Plantão sem intercorrências. Plantão calmo.Sendo uma casa o livro de registro diário
deveria ser um instrumento de registro do cotidiano, das vivências um documento para
elaborar e evidenciar indicadores de qualidade a partir destes dados. Mas na realidade o
que ocorre é uma preocupação dos auxiliares de enfermagem com os cuidados de AVD
(atividade de vida diária) como no hospital: banho, higienização, alimentação, mesmo
porque os moradores apresentavam péssimas condições de higiene no sentido de terem
escabiose e piolhos. O que é compreensível porque no Hospital Geral estas tarefas são
de responsabilidade da enfermagem. Estes profissionais não receberam nenhum tipo de
treinamento ou capacitação. Não entendiam a diferença e o significado de sintoma ou
sinal de doença e o porque do aparecimento destes fenômenos. Havia dificuldade no
manejo de um morador caso ele se recusasse a tomar banho, (sintomas negativos eram
confundidos com ruindade), o tomar a medicação, a aceitar a alimentação. Por isso
encontramos registros de medicações administradas escondidas para o morador dentro
do suco, da banana, da comida...
Outro dado que observamos é que: Sabemos que é legal e comum o médico
deixar prescrito uma medicação se necessária para um paciente, mas como pode ser isto
numa casa. Percebemos que as ações de uma casa e de uma clínica se misturavam.
Verificamos que os funcionários foram aprendendo a lidar de forma que os manejos
verbais passaram a funcionar. Um exemplo é quando uma funcionária chega e encontra
um morador varrendo o quintal quando ela foi varrer ele ficou furioso, porque ele já havia
varrido, e depois de conversar ele se acalmou.
Hoje não administramos nenhuma medicação injetável na casa a não ser
que venha um funcionário da rede de saúde trazendo material adequado para fazer o
procedimento. (medicação injetável, ou curativos ou qualquer procedimento clínico).
Em rela
ção a recursos humanos o fato de existir Guardas Municipais dentro
de um equipamento de promoção á saúde, é um fato a ser questionado. Encontramos no
livro de anotações que um guarda foi a padaria com um morador. Pode ser uma ação
humanitária interessante, mas, por outro lado; quem tem guarda dentro de casa? Por que
uma pessoa precisa sair acompanhada de um guarda? Que significado tem isto no
imaginário popular? E para a vizinhança será que esta atitude dificulta ou não a inclusão
destes moradores. No mesmo período encontramos um registro em que uma vizinha pede
para os moradores saírem da calçada, quando um dia ao entardecer, os mesmos se
colocaram na calçada para ver o movimento da rua, as vizinhas morava na casa da
frente.
Encontramos nos registros várias intercorrências de natureza agressiva
por parte dos moradores, a lei dentro do hospital não é a do diálogo, e sim da força física,
no entanto muitas vezes percebemos que a chegada de um funcionário mais hábil
controlava a situação. Por isso acreditamos que alguns aspectos da própria organização
da casa dificultavam sua sustentação.
A presença de crianças na casa trazia tranqüilidade aos moradores, nas
anotações quando os funcionários levavam seus filhos para passar a tarde ou algumas
horas na residência eles se mostravam mais adequados e afetuosos. Acredito que
fortalecia o clima de casa.
Os Serviços residenciais terapêuticos hoje contam diariamente com os
Cuidadores, conforme indicas a portaria, e auxiliares de limpeza, não guardas
municipais.
Não havia uma escala fixa de pessoal todos os dias um funcionário diferente
trabalhava na casa. Este dado pode nos levar a refletir o quanto de insegurança e
incertezas isto causava aos moradores que acabavam tendo ainda uma dificuldade de
vinculação maior por não saber quem estará dentro da casa dele com ele todos os dias.
2.Recursos Matérias: Em várias anotações encontramos o registro de materiais básicos
como alimentação (falta de café, açúcar, chá, bolachas...), matérias de limpeza (sabão em
pó, detergente...) medicações (acarsan,...). Uma unidade que se propõe a melhorar a
qualidade de vida das pessoas deve manter um estoque que atenda as necessidades de
quem atende. O que demonstra a real importância da criação e da legalização deste
equipamento.
Neste período os SRT não eram regulamentados, desta forma não eram
credenciados e não recebiam verbas para sua manutenção. Atualmente os SRT têm
autonomia para fazer suas compras via OS. Não encontramos deste então nenhuma
anotação de falta de material seja ele de alimentação, enfermagem, limpeza...
3.A máquina administrativa: A maioria dos moradores fumava, mas compra de cigarros é
proibida pelo poder público, como a secretaria de saúde justificaria a compra de cigarros.
Havia uma campanha entre funcionários para manter este tipo de necessidade. Os
moradores solicitavam cigarros e café constantemente, alguns moradores apresentavam
um certo grau de voracidade. Por isto hoje a parceria com a Organização Social, é
importante dentro do plano de trabalho a compra de cigarros é permitida.
Outro dado que observamos é que os moradores iam para o NAPSII de
ambulância, porque transportar diariamente os moradores desta forma se não estavam
passando mal. Com a mudança da casa para a região próxima ao NAPS eles puderam ir
a pé, sozinhos e quando querem vir para casa depois do almoço para dormir têm total
liberdade e possibilidade de acesso. Não havia guarda roupas e sim uma rouparia vide
anotação da funcionária que diz: Fiz uma limpeza na rouparia. Hoje cada morador tem
seu guarda roupa e suas roupas de maneira individualizada.
4.Comportamentos: Encontramos anota
ções que o morador 6 apresentou alterações de
humor, ficando alterado e agressivo, pelas descrições em alguns momentos se mostrava
afetuoso em outros alterava a voz e agredia ou fisicamente os objetos ou verbalmente as
pessoas, no primeiro ano final de ano que estava na residência participou da ceia, se
desentendeu com a auxiliar de enfermagem e dormiu na sala, o interessante é que uma
auxiliar ligou para desejar feliz ano novo e ele pediu um sapato, ficou feliz porque ela
disse que iria dar, mesmo assim dormiu na sala. Neste último ano o mesmo morador
dorme a noite toda na noite de ano novo e no dia seguinte participa do almoço de natal
sem nenhuma alteração de comportamento. Estas datas parecem ser significativas para
os moradores no primeiro ano novo um outro morador também não dorme e relata que
esta pensando na sua mãe.
As novas regras deixam os funcionários com dúvidas constantes, vejam
que um deles registra: O que devo fazer quanto ao uso do telefone? Todos podem usar?
A qualquer hora? O tempo que quiser? A definição destes contratos com os moradores e
funcionários são estabelecidos não por um poder superior, eles foram definidos
coletivamente por isso as definições foram gradativas.
4.3 Apresentação dos dados de prontuários e das entrevistas
A seguir, apresentaremos a análise de conteúdo de cada uma das
entrevistas realizadas, e o levantamento dos prontuários de conformidade com as
categorias apresentadas no cap. 3 Método.
Participante 1 (morador 01)
O morador veio para a residência tendo saído da Clínica Psiquiátrica do Borda do Campo
com o seguinte relatório: Paciente internado desde 15.10.97 por determinação judicial
encaminhado pelo Manicômio Judiciário onde ficou mais de cinco anos. O paciente tem o
diagnóstico de esquizofrenia paranóide. No momento não apresenta sintomas positivos.
Participa das atividades de laborterapia, é afetivo com toda equipe e demais paciente. O
relatório do setor de psicologia diz: que o paciente chegou esquivo, mantinha-se a maior
parte do tempo isolado, obedecia a ordens simples, apragmático, conseguia mostrar-se
mais a vontade com os funcionários antigos que conhecia de internações anteriores. Foi
realizado um trabalho de adaptação, aos poucos foi se soltando, participava das
atividades de grupo mas não gostava das festividades, apresenta episódios de ansiedade
e depressão, percebe sua patologia tem critica de seu estado. Na TO (Terapia
Ocupacional) recusa-se a falar sobre sua internação prolongada. Comenta apenas que
aconteceu algo muito ruim. Tem dificuldades nas atividades de TO devido a deficiência
visual corrigida com óculos com grau elevado. Às vezes se mostra agressivo, apresenta
alucinações visuais. Era atendido com 04 sessões semanais.
Segundo relato da enfermagem o paciente não apresentou durante a internação episódios
de agressividade, mas períodos de delírio, com autonomia para os cuidados pessoais, e
saia de licença uma vez por mês para receber seu beneficio que foi conseguido pelo
serviço social do hospital. O Hospital tentou aproximá-lo da irmã, mas sem sucesso, apenas
um tio vinha buscá-lo para receber o beneficio. Teve 05 internações na CPBC antes do
Manicômio Judiciário, a mãe morreu por problemas cardíacos em 04/07/88 e o pai em
27/04/92 por ser esfaqueado pelo paciente.. A assistente Social do Hospital tenta diversos
locais para encaminhar o paciente para moradia e atendimento psiquiátrico os serviços do
município diziam não ter local adequado uma vez que o mesmo esteve no Manicômio
Judiciário. A Coordenação de Saúde Mental da DIR II sugere que ele continue no Hospital,
desta forma é tido como caso social. Na residência foi registrada a seguinte história:
Morador com diversas internações no decorrer da vida, sua mãe o acompanhava ao
tratamento, com a morte da mãe o pai assumiu este lugar, mas os dois tinham um
relacionamento muito difícil, brigavam muito, o pai era alcoólatra, segundo o morador, o pai
vivia dizendo que ele tinha um jeito afeminado. Em 1992 o morador em crise e o pai não
percebe, é morto pelo filho. O mesmo é preso, porém sua condenação é cancelada e ele é
considerado inimputável ficando internado no Manicômio. Neste período, portanto ele perde
a mãe, o pai e a irmã, ou seja, sua família, a casa que era própria e ele também, tinha
direito. A irmã disse ter pavor do irmão.
Em dezembro de 1999 veio morar na residência. Falava que carregava muita
culpa e não sabia que já estava livre do que fez, não tinha coragem de ir até a calçada, foi
preciso fazer um trabalho de readaptação. Ás vezes falava que tinha medo de morrer
porque no dia do juízo final ele encontraria seu pai, e não sabia o que poderia acontecer.
Dizia ter muitas vozes na cabeça, mostrava-se muito ansioso. Referia sempre
pensamentos e desejos de se matar ou matar as pessoas, afirmava que nunca poderia ficar
sem tomar remédios porque é doente física e mentalmente e também o pode trabalhar.
Mantem forte obstinação para que as portas fiquem fechadas e as janelas também. Mostra-
se obsessivo em relação alguns hábitos como horários de café, almoço, medicação
sendo rigoroso e reclamando por qualquer atraso. Eventualmente assume atitude agressiva
verbalmente, demonstrando que está apresentando alucinações auditivas.Atualmente
freqüenta a informática, sai para receber, ir ao CAPS, á Oficina de Informática, faz
atividades diárias, freqüenta as festas de aniversário nas outras residências, nega
alucinações e delírios, ás vezes poliqueixoso. Ao sair do Hospital foram feitos vários
exames laboratoriais todos normais, com a identificação de uma gastrite com
recomendação de dieta e medicação.
Entrevista 1 (morador 01)
1. Dados de identificação: Sexo masculino, 47 anos, solteiro, primeiro grau completo,
recebe o LOAS e o De Volta para Casa, tem todos os documentos pessoais: certidão de
nascimento, RG, CPF, Titulo de Eleitor, carteira SUS. É o filho mais velho de uma prole
de dois filhos, os pais morreram, não tem contato com a irmã, eventualmente tem contato
com um tio e primo que moram numa cidade de MG, se falam por telefone , e uma ou
duas vezes no ano o tio vem á Santo André visita-lo na residência, este é o único contato
familiar que se manteve.
2 .Reconhecimento sobre sua história e o aparecimento do transtorno mental: Eu ficava
agressivo. Minha mãe queria que eu ficasse fora de casa, eu falava sozinho, e falava alto.
Eu olhava as nuvens no céu parecia que elas iam fazer alguma coisa contra mim. Não
lembro de vozes na minha cabeça, mas quando olhava as nuvens via 3 (três) cabeças me
olhando, olhando para mim. (risos) é eu me sentia ameaçado pelas nuvens parecia que
elas iam fazer alguma coisa contra mim. Meu pai bebia muito e brigava dentro de casa ele
judiava muito da gente. A minha mãe que me levava para o tratamento quando a minha
mãe morreu piorou porque o meu pai queria que eu cuidasse da casa, mas ele brigava
se a comida ficava salgada, ele se alterava.
3. Lembranças e desenvolvimento infantil: Morei com meu pai e minha irmã não tirava
notas muito boas, fiz a quinta serie duas vezes, na sétima série eu tive de escolher entre
inglês e francês mas o diretor falou que meus papeis estavam errados e a minha tia falou
que se eu quisesse ser engenheiro ela compraria todo o material e me dava todo apoio.
Em 74 morreu meu irmão ele nasceu morto com seis meses, nasceu, viveu e morreu no
hospital quando nos soubemos que ele tinha morrido nos planejamos o enterro aí nos
fomos para lá que era de um dia para o outro então nos ficamos a noite todo
olhando ele pequeno coitadinho, daquele jeito enrolado num pano, cada um fazia um
carinho nele, e quando chegou de dia ele foi enterrado. O problema dele era grave se ele
tivesse nascido de oito ou nove meses talvez tivesse se salvado. E a minha mãe morreu
de ataque cardíaco e a minha avó também morreu. Foram muitas perdas na minha
infância.
4. Internações: Eu tive várias internações, na Clínica de Repouso Borda do Campo, no
Hospital André Teixeira Lima, eu fiquei 05 (cinco) anos. A vida no hospital era cheia de
problemas, de doenças também, doenças que eu não podia eliminar, doenças do
estomago,do cérebro. Eu vivia no hospital, mas lá era ruim, porque ás seis e meia ou sete
horas acordava todo mundo e tomava o remédio, ai depois de tomar o remédio abria a
porta para a gente ir tomar café com leite e pão. E nesse espaço a gente entrava e
tomava um bom banho, mas só que acontecia o seguinte dez e meia, entre o café e o
banho, dez e meia, podia tomar banho quente depois do banho essa hora, só podia tomar
banho frio. Era muito castigo, muito castigo pra gente agüentar.O Borda fechou o Teixeira
Lima também fechou, eu acho é bom porque havia gente que judiavam muito da gente
e a gente sentia muita saudade da família.
5. Conhecimento sobre seu quadro psiquiátrico: A doença é a doença do rebro, era
assim a gente, nós não sabia a data do mês, que dia que era, quantos anos tinha,
doenças mesmo, que a gente não sabia sabia pelas terapeutas a que fazia as
atividades, que trabalhavam junto com a gente né, e davam uma força pra gente (pausa)
por exemplo jogar dominó, jogar dominó, quebra-cabeça. E tinha alguns que eram
maior de idade eram tratados ficavam na salinha e depois iam para casa e nós ficávamos
lá (risos).
6. Vivência na Residência: A residência significa um novo lar, eu tinha meu pai minha mãe
e usava o sapato do meu primo, uma camisa do outro, quase igual, mas tem um detalhe a
gente é como um lar às vezes saí uma discussão lá, mas é todo mundo tranqüilo eu
convivo melhor com a doença. Eu tenho certeza que aquelas visões das nuvens pararam
por causa do sofrimento todo da vida , a idade, espero que a residência não feche. Ás
vezes a gente tem que conviver com as diferenças tem um abacaxi na geladeira que eu
não posso comer porque tenho gastrite, preferia que não tivesse nenhum abacaxi mas os
outros podem comer. (pausa) Acho que os vizinhos pensam que família estranha um é
negro, outro é branco, outro é pardo, um novo, outro velho. Eu vou para o NAPS porque
me sinto no meio de pessoas como eu.
7. Projeto de vida: Ás vezes eu Sonho que estou indo para Minas Gerais mas eu não
posso ir. Lá tem muito trabalho pesado lá, eu tenho 47 anos é uma idade avançada
para viajar. Eu penso em ter uma namorada beijar e abraçar, ter ralações o, eu não
quero sair da residência, e se não der certo.
8. Benef
ícios e Documentos: Acompanho os gastos de meu beneficio feito por uma
cuidadora, mas quero que ela administre e guarde meu dinheiro. Com o dinheiro cuidou
dos meus dentes, comprei uma dentadura, e compro cigarros e doces. Solicitei a uma
cuidadora que guarde o dinheiro para ele, gasta com objetos pessoais, roupas, perfumes,
alimentação, cigarros, diversão, móveis para o seu quarto, calçados, porque se fica
comigo eu gasto tudo e tenho medo que me roubem.
Comentários
Em nosso estudo, concluímos que o trabalho desenvolvido por meio dos
serviços residenciais terapêuticos reafirma: a não negação da doença, e não diminuem a
importância dos atendimentos clínicos de cada morador, tanto que efetivamente são
acompanhados por um serviço de saúde mental que funciona 24 horas e disponível para
atendê-los cotidianamente. O fato é que o morador passa a ter um poder contratual maior
e a sua capacidade de troca e participação muda. Com isso o seu estado e a forma de se
relacionar com os outros e de significar a sua própria existência também. Observamos
que na entrevista 01 o morador reafirma: A residência significa um novo lar ... o mesmo
morador em outro momento diz: Eu vivia no Hospital, mas era ruim, porque as seis e
meia a gente acordava tomava o remédio, tomava o café mas até dez e meia tinha que
tomar banho porque depois só banho frio.
Como vimos o desejo, a manifestação do paciente era deixada de lado em
nome da disciplina, o que é natural nas instituições fechadas, desta forma podemos notar
que este morador chegou á residência vindo da Clinica Psiquiátrica do Borda do Campo
com o relatório de ter chegado do Manicômio Judiciário, onde ficou 05 anos, por ter
assassinado o pai a facadas, numa crise. Os relatórios descrevem que durante toda
internação era arredio, apragmático, desconfiado, não participava das festas dentro do
hospital. Ao chegar á residência não saia na calçada, mantinha portas e janelas fechadas
e adquiriu um comportamento obsessivo compulsivo irritando-se com pequenas
modificações de horário como atraso das refeições, mesmo que por alguns minutos,
medicações e situações semelhantes. Hoje ele afirma na entrevista: Eu tenho certeza
que aquelas visões que eu tinha pararam por causa do sofrimento todo da vida e da
idade, espero que a residência não feche. A preocupação hoje é com a sua segurança,
com o amanhã, somente o homem que pensa é capaz de projetar seu futuro, de pensar
em perspectivas para sua existência e a noção de segurança e abrigo são preocupações
reais, de todo o ser humano, longe do rapaz que se sentia ameaçado e queria ficar
trancado dentro de casa. Na seqüência uma afirmação também significativa: As vezes a
gente tem que conviver com as diferenças tem um abacaxi na geladeira que eu não posso
comer porque tenho gastrite, preferia que o tivesse nenhum abacaxi mas os outros
podem comer. Para alguém com dificuldades de confiar e convive, vemos que este
morador apreendeu que é preciso reconhecer o outro e dividir, e respeitar.
Quando Kinoshita afirma que o doente mental passa a ter positividade
apenas na sua dimensão de doente, de suporte da doença anula-se qualquer valor da
pessoa que o assegure como sujeito social. (de trocas). Neste caso o paciente diz:: sou
doente física e mentalmente, nunca vou poder deixar de tomar remédio e voltar a
trabalhar, tenho pensamentos de me matar ou matar as pessoas. Hoje temos um
morador participativo, concluiu o primeiro grau, faz o curso de informática, ajuda nas
atividades da casa, gosta de participar das festas de aniversário, não tinha dentes colocou
dentadura, vai ao NAPS para fazer HD e coloca: A vizinhança deve haver que somos
uma família muito engraçada porque um é preto, outro é branco, outro é novo, outro é
velho (risos) no NAPS somos todos iguais. A uma percepção e preocupação com os
outros, o que acham de mim, mas também uma apropriação do seu lugar, tanto que os
sintomas positivos diminuem e as medicações usadas pelo paciente são as mesmas de
quando saiu do hospital. Há mudança esta na relação contratual, de apropriação de seus
desejos e necessidades, que podem ser supridas ou compartilhadas com outros. O
importante é que há a criação de um corpo social capaz de defende-lo e legitimá-lo.
Participante 2 (morador 02)
O paciente veio para a residência tendo saído do Hospital Vera Cruz com o seguinte
relatório: paciente internado desde Jan/02 proveniente do Hospital Psiquiátrico de Mococa
que foi desativado. Ao chegar apresentava um quadro misto parcialmente controlado com
neuroleptico e estabilizador de humor. Foi admitida com sintomas positivos, exaltação de
humor, delírios de grandeza, desorganização de pensamento, insônia, acatisia apesar da
medicação evolui com sintomas de transtorno de humor, o que leva a hipótese de
transtorno esquizoafetivo. Melhorou com a introdução de carbamazepina e lítio. Sai de alta
com hipótese diagnóstica do médico do hospital de F.25.0 Recebe dois benefícios, participa
das atividades diárias no CAPS onde permanece em HD (com liberdade de permanecer
para as atividades que gosta de fazer) não tendo apresentado nenhuma crise psiquiátrica
desde que chegou a residência. Faz contato com os familiares apenas por telefone.
Entrevista 2 (morador 02)
1.Dados de identificação: sexo masculino, 62 anos, solteiro, segundo grau incompleto,
recebe auxílio doença, tem todos os documentos, certidão de nascimento, RG, CPF,
carteira de trabalho, carteira do SUS, cartão do banco, recebe também o De Volta para
Casa, recebe sozinho e gasta o seu dinheiro do jeito que deseja comprando roupas,
cigarro, comida que gosta, trabalhou como escriturário na GM em São Bernardo, tem 3
(três) irmãs e um irmão, os pais morreram, esteve internado por 5 anos no Hospital de
Mococa, e depois foi para o Hospital Santa Cruz.O contato com os irmãos ocorre apenas
por telefone, nunca recebeu visitas de familiares, teve namoradas mas não chegou a
casar.
2. Reconhecimento sobre sua história e o aparecimento do transtorno mental: Eu tinha 22
anos quando tive a primeira crise, fui internado na Clínica de Repouso Borda do Campo.
3. Lembranças e desenvolvimento infantil: Eu morava com meus pais e meus irmãos até o
primeiro colegial depois o meu pai faleceu e eu tive que parar os estudos porque não
tinha dinheiro para continuar e tive que ajudar em casa. Depois veio as crises tive várias
internações e com a morte de minha mãe todos se separaram. Eu tenho um médio
apartamento em SBC (São Bernardo do Campo) que dei para minha irmã morar ela
alugou. Eu telefono para minha família de vez em quando, raramente, não querendo
incomodá-los, porque eles têm que trabalhar, coitadinho eles sobrevivem do dinheiro do
trabalho e tem contas para pagar...Tenho uma irmã em Pindamonhangaba, um irmão em
Paulínia e uma irmã em SBC. Eu sinto falta do contato com a minha família, mas quando
eu puder vou fazer uma visita.
4. Internações: A primeira internação foi na Clínica de Repouso Borda do Campo, mas
onde eu fiquei mais tempo foi em Mococa 16 anos desde 85 a 2003, eu tinha 35 anos
quando fui para lá. Eu sofri muito internado em Mococa já havia outras internações
anteriormente, mas Mococa eu fiquei 16 anos internado, saindo para ir a cidade passear e
fazer compras, saindo á vontade, depois fechou o hospital e eu vim para São Paulo no
Hospital Vera Cruz fiquei 02 anos e cinco meses, sofrendo no meio dos malucos dos
doidos, mas eu saia para passear na cidade, também saia para ir ao banco, depois o
hospital me enviou para a residência terapêutica em Santo André, aqui em Santo André
na minha cidade aonde eu me encontro atualmente e me encontro bem graças a
Deus.Quando minha mãe morreu eu estava internado em Mococa eu não vi minha mãe
quando morreu. Tem hospital que a gente é maltratado o Centro Psiquiátrico de São
Bernardo é um inferno.
5. Conhecimento sobre seu quadro psiquiátrico: Eu tenho alucinação, eu não tive mais
alucinação depois que eu tomei uma serie de piportil injetável em Mococa, um dico
esperto me mandou aplicar o piportil e eu sarei da alucinação nunca mais tive. Eu não tive
mais alucinações desde Mococa às vezes a gente se irrita, fica um pouco nervoso quando
as pessoas irritam a gente, mas é passageiro passo rápido, eu sou uma pessoa calma eu
fico irritado com as pessoas que vêm me irritar. Pessoas que querem cigarro ou querem
que eu pague café isso no hospital.
6. Vivência na Residência: A residência é uma casa, parece a família da gente morando
lá, é como se estivéssemos em casa. È outra casa, mas não importa, não é o hospital,
hospital é ruim tem banheiro sujo, tem pulga, tem barata, tem comida ruim, pessoal que
maltrata a gente e na casa não tem o cuidador que cuida. Todos os cuidadores são
educados, não tenho queixa, durmo descanso na hora que eu quero, como as refeições
só que ultimamente a comida vem do CRAISA esta um pouco a desejar, a comida não ta
boa. Mal tempero, muita carne moída. Mas eu compro no mercadinho o que eu quero. As
vezes eu divido com os outros, eu compro uma coisinha e dou pra eles.
7. Projeto de Vida: Eu to no fim da vida com 55 anos, eu não dou mais nada eu to velho,
eu não posso pensar em casamento porque o dinheiro é pouco, o apto não posso manter
o apto, não posso morar então para onde eu vou, eu vou ficar aqui na residência. Até
quando eu puder, eu não posso pensar em me casar porque pensei em me casar mas a
minha namorada ficou doente, eu fiquei doente também ai nos separamos.
8. Benefícios e documentos: Recebe dois benefícios é totalmente independente para seu
uso.
COMENTÁRIOS
Acreditamos conforme Ceccarelli (2003) que diz: O respeito a singularidade
deve oferecer um tratamento personalizado, considerando as subjetivações, e isto implica
a criação de espaços de convivência que acolhe, cuida e enfatiza um projeto de invenção
social. Verificamos que o morador se coloca de maneira clara sobre seus sentimentos,
desejos e criticas: Todos os cuidadores são educados, não tenho queixa, durmo na hora
que quero, faço as refeições, descanso, só que as vezes a comida se repete muitas vezes
vem carne moída...o tempero também não é bom, eu vou no mercadinho e compro uma
comida diferente, ás vezes dou um pedacinho para cada um. Reconhece o tratamento na
casa as relações de convivência que o favoráveis, e tem liberdade para criticar o que
lhe convêm.
O acompanhamento no NAPS considera o estado do morador deixando
que fique em Hospitalidade dia para as atividades de seu interesse, desta forma garante a
autonomia e respeita o desejo e capacidade do paciente. Por isso afirma: durmo quando
quero, acordo quando quero,...
Neste caso reforça a idéia de que: a substituição do modelo de dano para
o modelo de desafio altera o processo de elaboração do prognostico, pois isto implica
numa mudança cultural de todos os atores sociais. ( Pitta, ª p 51).
O entrevistado: A residência é uma casa parece a família da gente, a
gente morando lá, é como se estivesse em casa. É outra casa mas não importa, não é o
hospital. Percebemos que o morador define como sendo uma casa, se sente bem, mas
não perde a noção de que não é a sua família de origem. E continua: No hospital é ruim
tem pulga, cheira mal, o banheiro é sujo, tem pessoal que maltrata a gente, e na casa não
o cuidador cuida, tem hospital psiquiátrico que é um inferno.
Para esse morador a sua doença é: Fui internado a primeira vez porque
tinha alucinações, eu tinha visões e imaginava coisas, melhorei depois que um médico
esperto me deu uma série de piportil, aí não tive mais alucinações
Quanto aos planos e perspectivas de futuro o morador é claro: estou no
fim da vida, tenho pouco dinheiro para me manter, prefiro ficar aqui na residência, tive
namorada mas ela ficou doente, não quero namorar porque tenho problemas de saúde,
herpes na boca e não quero passar pra ninguém.Constatamos uma resistência do
morador em pensar em sair da residência e embora as justificativas sejam frágeis, há uma
razão a considerar que a dificuldade em se manter sozinho principalmente pelas
questões financeiras, e neste caso uma questão real, sem mecanismos psicóticos
pelo contrário respostas neuróticas. (medos, inseguranças, incertezas...).
Participante 3 (morador 03)
O paciente veio para a residência encaminhado pela equipe do NAPS 1 em
Out/04 segundo o relatório o paciente foi criado no Rio de Janeiro por uma família que o
adotou porque a mãe não tinha condições de cria-lo, a mãe adotiva ficou doente (mal de
ashameir) e os irmãos conseguiram localizar o endereço do pai biológico em São Bernardo
e o devolveram ao pai, que estava casado com outra família e encontrou uma Clínica para
drogados ligada a uma igreja evangélica em que o Pastor aceitou ficar com o paciente, por
isso ele ficava em HD no NAPS e á noite e finais de semana era acompanhado pelo Pastor
na Instituição. Mas geralmente na segunda feira o paciente retornava ao NAPS agitado e
inquieto e dizia que ficava sem medicação por conta de ter que fazer jejum na instituição.
Em virtude das diversas conversas com o Pastor e a situação continuar solicitaram que o
morador fosse para a residência. Com os cuidados na residência adaptou-se, passou a
freqüentar o núcleo de projetos especiais, o curso de informática, o pai passou a ele a
responsabilidade de receber seu beneficio e mantem contacto permanente pelo menos uma
vez por mês com o pai e semanalmente conversam por telefone. O pai se dispôs a ensiná-
lo a ir até São Bernardo para conhecer sua família. Apresenta como diagnóstico F.20.0 e no
relatório psiquiátrico refere que o paciente apresenta delírios, alucinações, episódios de
agitação psicomotora, embotamento afetivo, retraído, fala pouco sobre seus sentimentos.
Nos primeiros dias na residência referia estar preocupada porque um pensamento
obsessivo de que iria furar os olhos das pessoas persistia e isso o deixava inquieto, sem
sono, não quero ferir ninguém repetia. Nesta época a dica do paciente do paciente foi
comunicada introduziu amplictil 100 mg / 1 comprimido á noite e pediu para conversarmos
mais com o paciente poderia ser uma certa insegurança pela adaptação na casa. Em
poucos dias estes sintomas desapareceram. Recebe dois benefícios, participa das
atividades diárias no CAPS onde permanece em HD não tendo apresentado nenhuma crise
psiquiátrica desde que chegou a residência.
Entrevista 3 (morador 03)
1. Dados de identificação: Sexo masculino, 44 anos, tem todos os documentos, CPF, RG,
recebe o beneficio do LOAS e o De Volta Para Casa esta sendo providenciado, Tem o
cartão do SUS. Recebo visitas na Residência do meu pai biológico.
2. Reconhecimento sobre sua história e o aparecimento do transtorno mental: Na
adolescência eu era muito revoltado brigava com todo mundo, e eu mexia com as moças
e arrumava confusão eu fiz muita besteira. Não quero nem comentar sobre as besteiras
que fiz Eu tive a primeira internação aos 20 anos no Rio de Janeiro
3. Lembranças e desenvolvimento infantil: Na minha infância eu tive uma infância normal,
ia para a escola morava com meus pais adotivos, eles me disseram que eu era dotado, os
meus irmãos me tratavam bem. Fui adotado porque minha mãe biológica não tinha
condições financeiras de me criar, eu tinha alguns meses quando aconteceu, a família
que me adotou tinha outros filhos, mas eu ia para a escola estudei até o segundo ano do
segundo grau, não lembro como eram minhas notas.(durante a entrevista faz muitas
pausas, para pensar e repete a frase duas ou três vezes.) o conheci minha mãe
biológica mas tenho lembranças de ter sido amamentado no peito por uma vizinha.
4.Internações: Fui internado no Rio de Janeiro no Hospital Santa Edvirgens e tinha que
pedir licença para sair, para poder sair de licença. Tive outras internações no Rio de
Janeiro, no Hospital Engenho de Dentro.
5.Conhecimento sobre seu quadro psiquiátrico: Meu sobrinho me disse quando eu fui
internado que eu tenho esquizofrenia, e uma vez no Hospital Psiquiátrico aqui em Santo
André a médica falou que eu tenho que tomar haldol porque eu sou esquizofrênico e eu
tomo haldol. Eu não sei o que é esquizofrenia ninguém me explicou.
6.Vivência na Residência: Eu vim para a Residência porque a minha família adotiva me
devolveu para o meu pai biológico, porque a minha mãe adotiva começou com mal de
altzheimer e eles não tinham como cuidar de mim, aí o meu pai biológico morava em SBC
e me colocou na Casa do Pastor Jesus, era uma casa de recuperação de drogados
mesmo assim ele me aceitou aí eu fiquei gostando de uma missionária da Assembléia de
Deus, mas ela não queria nada comigo , ai eu fiquei meio descontrolado, eu vim para a
residência e aqui eu estou mais sereno sabe, to tomando os remédios todos os dias, é o
que eu tenho feito para ver se melhora esta esquizofrenia, conheci várias pessoas
novas...eu estou me sentido mais sereno sabe? Pausa...mas ainda é um passo para eu ir
bem mais longe, e eu tenho vontade disso ir mais longe, lá no Pastor Jesus eu não podia
gravar um CD, mesmo que aparecesse a oportunidade ele não deixava, e eu tenho
vontade de gravar um CD, eu tenho estado mais sereno e me esforço no meu tratamento.
Eu hoje tenho várias atividades no NAPS, faço marcenaria no Núcleo de Projetos
Especiais que mais... faço jardinagem, toco violão, canto, faço aulas de informática penso
em voltar a estudar
7..Projeto de Vida: Gravar um CD, voltar a estudar continuar as minhas atividades penso
em ter uma namorada, firmar num trabalho, já tenho muitos amigos e amigas que são
bacanas á bessa, aprender a visitar o meu pai em SBC ele ficou de me ensinar o caminho
para que eu possa visitá-lo quando eu quiser, meu pai é um cara muito alegre, esta
sempre rindo sinto que ele gosta de mim. Os meus irmão e sobrinhos adotivos eu sempre
falo com eles por telefone, eu acho que melhorei na residência por causa do uso certo
dos remédios, pelas terapias e pelas atividades no cleo lá eu ganho um dinheirinho é
pouco é humilde, mas eu consegui lutando é pouco, mas me deixa feliz.
8. Benefícios e documentos: Tenho uma cuidadora que me ajuda a cuidar do dinheiro.
COMENTÁRIOS
Neste caso a percepção que o morador tem de sua história de vida: Eu fui
criado pela minha mãe adotiva e ela me disse que minha mãe biológica me deu porque
não tinha condições de me criar, naquele tempo antes da residência eu era uma pessoa
muita revoltada. Não quero falar das coisas que eu fazia quando era revoltado O
morador reconhece seu estado, tem critica de sua condição anterior, prefere não se
expor, o que neste momento parece um ato natural.
Há uma preocupação com lembranças do passado: Eu vim me lembrar de
uns tempos para cá que eu mamei na minha vizinha. Na entrevista a afirmação do
morador parece fora do contexto, mas em nossa investigação encontramos um dado que
consideramos relevante expor, para Silveira, .(2006), a distância vivida que liga o
individuo ás coisas significativas para ele, porque o que garante o homem sadio contra o
delírio ou a alucinação não é a sua crítica, é a estruturação de seu espaço.
A minha vida com minha família adotiva era: Eu ia à escola, tinha um irmão
e uma irmã, não me lembro das minhas notas, eu acho que eram ruins, mas não lembro
estudei até o segundo ano do segundo grau..
Em relação ao estado de doença: Eu sei que tenho esquizofrenia, o meu
sobrinho me disse e um dia no Pronto Socorro uma médica falou que eu tinha que tomar
haldol para esquizofrenia, e eu tomo...
E quanto a morar na residência: Eu vim para a residência e estou me
sentindo mais sereno, tomo o remédio pra ver se melhoro desta esquizofrenia, eu não sei
o que é, sei que é uma doença mental, eu estou mais sereno e desejo dar um passo
mais longe, tenho vontade de gravar um CD, de namorar, de voltar a estudar.Se eu
ficasse no Pastor Jesus não poderia gravar o CD Entendemos que o morador consegue
vislumbrar possibilidades para a vida, há uma aliança com a esperança. Segundo
Valentini&Vicente (2001): O olhar pessimista fixado e reduzido nos problemas é
substituído por um olhar que inclui universo de possibilidades, a diversidade de
necessidades e de modos de resolução.Neste contexto o morador relata sua história, fala
de seu estado enfocando suas pretensões futuras, sem o aprisionamento de sua história
de vida.
Quanto aos sonhos futuros: Hoje eu faço várias atividades marcenaria,
participo do Núcleo de Projetos Especiais, faço jardinagem, toco violão, vou ao grupo de
psicoterapia e tomo os remédios, estou na informática e quero voltar a estudar quando
tiver minha vida mais estruturada quero arranjar uma namorada.
E em relação a sua melhora: Acredito que melhorei devido a terapia,
remédios e por estar ganhando um dinheirinho, é um dinheirinho humilde mas é um
dinheiro que eu consegui lutando, sempre tomando remédio direitinho, e fazendo terapia
no núcleo isto me deixa feliz. O morador reafirma seus planos e a valorização de estar
conseguindo se manter construindo possibilidades, e lutando contra a esquizofrenia, que
ele não sabe bem o que é.
Participante 4 (morador 04)
O paciente veio para a residência encaminhado pela equipe do NAPS 1 em
Nov/04 segundo o relatório o paciente é deficiente visual mora num local de difícil acesso
na periferia de Santo André, foi encaminhado por ter sido atropelado e apresenta uma lesão
no membro inferior direito, aguarda discussão sobre o caso, nos primeiro dias o morador
apresentava-se com humor alterado, manipulava a equipe colando um cuidador contra o
outro, a ponto de alguns cuidadores dizerem que não queriam cuidar do morador porque
ele não tinha nada tumultuava o ambiente. Hoje, mostra-se adequado apresentou
períodos de depressão que foram controladas, é afetivo e questionador, poliqueixoso, faz
acompanhamento no NAPS II
É ansioso faz exigências em relação às rotinas da casa, recusa-se a ficar em
HD no NAPS indo apenas para as consultas, veio da Bahia e fez uso abusivo de bebidas
alcoólicas, por ser deficiente visual foi criado em uma instituição para cegos na Bahia, mas
por estar sempre rompendo as regras foi expulso da instituição pouco antes de concluir o
segundo grau. Por um período pediu esmolas e se utilizava desde limite para ter benefícios,
refere que sempre foi uma pessoa muito difícil, mas ninguém sabia cuidar dele porque na
Bahia não havia recursos e não achavam que era doença, agora ele sabe porque era
daquele jeito. Não tem usado mais bebida alcoólica e se mantem fora de crise há pelo
menos dois anos. Tem duas irmãs e sobrinhos que moram em Santo André com os quais
faz contato por telefone eventualmente, e raramente recebe visitas destes familiares, refere
se sentir deprimido porque há família o despreza.
Entrevista 4 (morador 04)
1 .Dados de identificação: Sexo masculino, 44 anos, tem todos os documentos, CPF, RG,
recebe o beneficio do LOAS, é deficiente visual desde os 2 anos e meio quando foi
acometido por sarampo. Tem o cartão do SUS. Raramente uma ou duas vezes no ano
recebe visitas de suas irmãs ou sobrinhos, conversa com eles mais por telefone, a maioria
mora em Santo André. Antes de morar na residência conta que costumava pedir esmolas
era seu emprego.
2. Reconhecimento sobre sua história e o aparecimento do transtorno mental: Minha mãe
e minha família moravam na Bahia, minha mãe também tinha transtorno afetivo, mas
ninguém sabia ela ia muito na macumba, não se tratava, não tinha tratamento para
essas coisas. Eu comecei a tomar medicação psicotropica com 16 anos e eu misturava
com álcool porque não acreditava no tratamento e nem na doença..
3.Lembranças e desenvolvimento infantil: Minha infância foi muito triste porque aos dois
anos e meio eu fui acometido por sarampo e fiquei deficiente visual aí começou, depois
aos 4 ou 5 anos é que eu fui andar assim a minha mãe me disse. E falar com 5 (cinco)
anos de idade que eu fui falar também, foi muito atrapalhada a minha infância com 6 anos
me conduziram a escola eu não queria ir eu acredito que devido a esta
doença que eu tinha, eu não queria nem estudar. Com 7 (sete) anos me levaram para o
internato foi onde eu fiquei até os dezessete anos e meio. Eu perdi o diploma porque eu
fui teimoso e bebi cachaça, chegando amarelo e vomitando pelas escadas foi a conta dela
mandar uma carta eu fui expulso do instituto tudo por causa da minha doença mas eu não
sabia, e aí a minha vida virou uma desgraça.
4. Internações: Tive inúmeras internações em hospitais fechados desde o Borda do
Campo, o Centro Psiquiátrico, ficava 03 meses saia um mês depois voltava. Em São
Paulo estive internado em vários hospitais.
5.Conhecimento sobre seu quadro psiquiátrico: Eu sei que eu tenho transtorno afetivo
bipolar, não sei explicar cientificamente não sei explicar. Eu sou assim quando eu gosto
de uma pessoa que me trata bem a recíproca é verdadeira, eu gosto, quando aquela
pessoa faz eu desgostar dela eu me sinto chateado, revoltado até comigo mesmo. E essa
doença começou quando eu nasci porque eu acho que é genético.
6.Vivência na Residência: Eu nem sei como eu cheguei na residência mas eu era muito
bagunceiro não sei se tinham medo que eu viesse para a residência, sei que eu fui
acidentado do pé, ai a assistente social viu que eu não tinha condições de andar sozinho,
você foi na minha casa viu as condições do barraco que eu morava e me deixaram ficar
na residência. Na residência eu estou rindo atoa, eu gosto muito dos meus colegas, com
meus cuidadores, aonde eu estou não quero sair da mista, se eu perder a residência não
gosto nem de falar porque eu começo a me emocionar.
7. Projeto de Vida: Meu sonho é ter uma companheira, mas que possa morar dentro da
residência porque eu quero uma mulher que seja segura, porque eu sou muito
temperamental. Ser temperamental é ser nervoso quero tudo na hora ou me dá ou nada
feito. Eu penso em dar aula de braile, ganhar dinheiro. Eu sei que tem estados em que
tem casais que moram dentro da residência. E eu acho certo desde que o percam o
respeito. Eu acho que melhorei por causa das terapias, não é por causa do remédio,
eu tenho aprendido muito.
8.Benefícios e documentos: Recebo meu beneficio sozinho peço sempre a uma cuidadora
que me acompanhe porque eu sou cego e podem me enganar, mas eu fico com o meu
cartão e a senha.Gasto com cigarros, com CD, pago a minha televisão e o som que eu
comprei nas Casas Bahia.
COMENTÁRIOS
Neste caso podemos notar que o morador reconhece o desenvolvimento
de sua vida e diz: Minha vida desde a infância foi muito triste porque aos 2 anos e meio
tive sarampo e fiquei deficiente visual. Tinha uma personalidade difícil ninguém sabia
como lidar comigo por isso aos 5 anos fui para o Instituto dos cegos e vivi até os 17 anos
quando fui expulso
Reconhecimento da sua doença: eu tenho transtorno afetivo bipolar é
assim quando alguém gosta de mim é recíproca, mas se o gosta eu fico chateado
comigo mesmo e fico revoltado. Acredito que seja genético não tem cura.
E a vida na residência: Acho que eu não vim antes para a residência
porque eu era muito bagunceiro, eu vim porque fui atropelado e machuquei o viram
que eu morava num barraco muito difícil o acesso e me deram a chance de ficar aqui.
...Eu não quero sair da residência mista, não gosto nem de falar que começo a m,e
emocionar.
E quanto aos sonhos e perspectivas futuras: Espero encontrar uma
mulher me casar e continuar morando na residência porque eu quero uma mulher seguro,
eu sou muito temperamental, gosto das coisas na hora, sou difícil....
5. ANÁLISE DOS RESULTADOS
Entendemos que neste estudo algumas categorias aparecem na
apresentação e análise dos quatro casos estudados. Consideramos como categoria:
1. O hospital como local de impossibilidades: Evidenciamos que para os
moradores o hospital era o local da regra. É muito ruim, se não tomar banho no horário
banho frio, tem hospital que parece um inferno, no hospital a gente está preso. A vivência
da hospitalização é percebida como estar no lugar da impossibilidade. Mesmo para os
usuários que saiam do hospital para receber. Eu saia às vezes, eu ia receber.
Procuramos registrar o sentido desta internação para o morador, que nos quatro casos
ficaram no hospital por questões sociais. É como cita Silveira N. (2006) ao descrever o
relato de um paciente: O muro é muito bonito para quem passa do lado de fora. È bem
feito, bem arrumado. Mas para quem esta aqui dentro é horrível.
2 .A residência como uma nova chance: Os moradores com suas maneiras
diferentes de falar colocam que: A residência é uma casa, é um novo lar, é como se fosse
a família da gente, mas não é, a gente se sente bem, serenidade. Não a negação
da residência como um local idealizado porque há a afirmação é como se fosse a casa da
gente, o que demonstra a noção de que cada morador tem de que adquiriu um outro
lugar, e que sua família não é aquela. Este dado estabelece a noção de ganho, de estar,
do sentido de sua história, de como se percebe.
3. A convivência em grupo: Aparecem nas entrevistas falas do tipo: Eu não
posso comer o abacaxi, é uma tentação, mas os outros podem. Eu compro algumas
coisas e divido com eles. Eu gosto dos meus colegas, dos meus cuidadores, aqui estou
rindo a toa. No entanto verificamos que no hospital a participação nas atividades em
grupo eram participativas num contexto que não havia interferência na vida dos
moradores vejam que os relatos são: Não participava das festividades, só falava com os.
funcionários antigos, embotamento afetivo, saia sozinho e continuava como se estivesse
aprisionado, com perdas das relações afetivas, me irritavam quando pediam, café e
cigarros Neste tópico verificamos como expõe Valentini&Vicente (2001)... Quando o
homem em condição de pobreza e exclusão passa á condição de sujeito de direitos, os
sentimentos humanitários passam a se expressar pela solidariedade. O modo de perceber
o outro se transforma. O grupo integra, define as regras estabelece as relações de poder.
Esta convivência, o reconhecimento do outro, do lugar do outro demonstra uma estrutura
importante do trabalho que é o contexto grupal. Referindo-se aos aspectos sociais como
somos visto quanto grupo: Os vizinhos devem achar que família é esta um é gordo, outro
é magro, um é negro o outro é branco, um novo e o outro é velho, quando vamos para o
NAPS estamos num mesmo grupo. Há uma necessidade de se reconhecer, de
reconhecer o outro e de se reconhecer dentro de um contexto definindo espaços e
diferenças, mas o lugar da doença não é o que define este lugar.
4. Crítica quanto á doença: Os moradores dizem : Esquizofrenia mas não
sei o que é. - Tenho alucinações. Ou Tenho transtorno afetivo bipolar, me apego a
alguém e se não sou correspondido sofro muito, acho que é genético.
5.A força da reabilitação: No hospital o contexto exigia que assumisse
comportamentos que definiam e justificassem aquela internação. Na residência os
moradores assumem outros comportamentos independentes do seu transtorno. Vejam
que: Eu sou doente nunca poderei fazer nada, tenho que tomar remédios o resto da vida.
Acho que sempre tirei notas ruins. Eu sempre fui bagunceiro, agitado. Eu quero que as
portas e janelas fiquem fechadas. Valentini&Vicente (2001) quando as pessoas acreditam
que elas são impotentes para controlar o que acontece com elas torna-se passivas e
restritas em suas habilidades de enfrentamento. È o conceito do paradigma da
desesperança. Na residência: Eu consegui estudar, ajudar na limpeza. Eu faço
psicoterapia, vou ao NAPS, vou ao Núcleo de Projetos Especiais, faço jardinagem,
marcenaria, informática, toco violão, ganho um dinheirinho que é pouquinho, mas é
meu .eu ganhei com muita luta.. Acho que estou melhor não é pelos remédios mas
também a psicoterapia, espero casar e continuar na residência porque sou uma pessoa
muito difícil. Eu estou acabado já tenho 55 anos, tenho um apto mas não poderia
manter. Quando os indivíduos acreditam que os eventos e resultados são controláveis, o
aprendizado da desesperança é evitado, e, ao invés disso, tentativas ativas para vencer
situações adversas são realizadas.
6. CONSIDERAÇÕES FINAIS
Este estudo caracterizou o perfil dos egressos de hospitais psiquiátricos,
60% solteiros, 58% apresentam vinculação familiar, 60% têm acima de 41 anos, 68%
apresentam documentação pessoal, 44% recebem algum tipo de beneficio, 40%
freqüentam as aulas de alfabetização, o percentual de gênero é praticamente igual,
Verificamos que há uma melhora em relação as questões de alfabetização, há uma
porcentagem de moradores que apresentam vínculo familiar mesmo que de maneira frágil
sem que façam contacto com os moradores. Os moradores que têm documentos e
recebem benefícios demonstram melhorar seus interesse por adquirir e poder trocar
coisa, princípio da autonomia poder de troca. Encontramos ainda um percentual de
usuários que não recebem o beneficio De volta para casa provavelmente por não terem a
documentação necessária, é necessário investir neste índice que tanto interfere na
qualidade de vida do morador.
Os Servi
ços Residenciais Terapêuticos quanto estratégia para a reforma
psiquiátrica, demonstra sua efetiva importância, desde que os gestores e técnicos
envolvidos percebam a finalidade de construção deste equipamento que inevitavelmente
não acontece por decreto. Exige um processo de construção diária. Verificamos a
implantação deste processo desde a primeira residência e as anotações do dia-a-dia que
vão demonstrando o quanto levou para se construírem instrumentos, manejos, técnicas
de intervenção próprias para uma casa serviço de promoção á saúde com vistas a
desinstitucionalização. Acredito que hoje as residências e Santo André apresentam dados
de como este equipamento é rico em possibilidades para os moradores e para quem
cuida porque é um desafio diário não ser dominado pelas normas, ou não sucumbir as
ameaças de uma instituição ainda tão composta de incertezas, sem respostas prontas e
mantendo sempre um constante processo de reflexão. No entanto verificamos que a
formação de um contexto grupal forte diminui as chances da dominação das normas e
regras cristalizadas, porque um ou outro que sucumba a esta tentação será questionado e
interpelado pelo grupo e pelo contexto geral. Mesmo aquele morador que não fala, ele
fala através do seu grupo social.
Nise da Silveira em 1956 considerava que apesar da introdução dos
neurólepticos o retorno de 60-70% dos egressos de hospitais psiquiátricos continuava
alto. Ela acreditava que algo precisava ser feito entre a alta hospitalar e o retorno do
paciente á vida em sociedade. Seguindo este ideal de ambiente acolhedor ela e um grupo
de amigos funda a Casa das Palmeiras, com o objetivo de servir de ponte entre o hospital
e a sociedade. A idéia das residências ou serviços que acolhessem os pacientes
egressos de hospitais psiquiátricos não é nova, mas a sua efetiva consolidação enquanto
política pública é inovadora.
Durante as entrevistas os moradores descrevem a participação em grupo
social como aulas de informática, violão, grupos de terapia, espaços sociais, convivência
com a vizinhança, saídas, circulação nas ruas, ida ao mercado, padaria, ao NAPS, sem
negarem a doença informam sobre a doença, mas são incapacitantes aprenderam a
como diz Kinoshita se tornaram dependentes de várias relações, coisas, espaços ...Há
uma autonomia individual, grupal, uma interdependência, um respeito, onde o ser
esquizofrênico, o ser bipolar, o ser paranóico, não o impedem de uma convivência
compartilhada dentro de suas singularidades grupais e individuais. Percebemos que uma
residência não é como a outra. Eu não quero sair da minha residência
mista.Percebemos que não uma preocupação com a casa em si, com o espaço, mas
com as pessoas, com as relações com o grupo é este contexto que possibilita a troca
entre aqueles que apresentam maior poder de contratualidade e autonomia, aquele que
têm uma autonomia possível é mantida pelo contexto grupal e sua capacidade de
organização e mobilidade de trocas. Verificamos que os atendimentos clínicos com o
médico psiquiatra, que o atendimento psicológico, que o atendimento de terapia
ocupacional, atendimento de enfermagem, assistência a medicação, são realizados fora
da casa de responsabilidade do NAPS. Os atendimentos de reabilitação para o trabalho
como as oficinas de jardinagem e de marcenaria que geram renda, são em outra unidade
de saúde. E as aulas de informática e do MOVA em outro espaço físico, com grupos de
atendimento diferenciados. Entendemos dentro desta realidade percebemos um
enriquecimento dos contatos de reinserção social.
O estudo demonstra que há um processo de crescimento nas relações
interpessoais e institucionais, não é um processo linear e simples, culturalmente estamos
acostumados e somos formados para fazer procedimentos. Neste trabalha exigi-se a
competência para articular vários saberes, não de maneira teórica, mas prática que age
diretamente no cotidiano de cada sujeito envolvido. Há desinstitucionalização não
acontece por decreto, é mais que um desejo ideológico, é uma trilha complexa.
A reabilitação é uma atitude estratégica, uma vontade política, uma
modalidade compreensiva, complexa e delicada de cuidados para pessoas vulneráveis
aos modos de sociabilidade habituais que necessitam cuidados igualmente complexos e
delicados. (Pitta, 2001).
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regulamentação dos Serviços Residenciais Terapêuticos, Revista atualizada
Legislação em Saúde Mental, Brasília, 1990-2002.
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PITTA, A M.F. (Org) Reabilitação Psicossocial no Brasil. São Paulo: Hucitec, 1996.
ANEXOS
Anexo A Lei nº 10.216
Anexo B Portaria 106/2000
Anexo C Lei das Organizações Sociais
Anexo D - Gráficos
Anexo E - Análise dos gráficos (retratando um momento)
Anexo F Termo de Livre Consentimento
ANÁLISE DOS GRÁFICOS Retrato de um momento
1.BANHO
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 5
com estímulo 2
com auxílio 5
Total 12
JANEIRO DE 2003 (Primeiro mês na casa)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 6
com estímulo 4
com auxílio 3
Total 13
JUNHO/2003 (6 primeiros meses)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 9
com estímulo 1
com auxílio 3
Total 13
2. USO DO BANHEIRO
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 6
acompanhada 2
usa fraldas 4
Total 12
1.2.2. JANEIRO DE 2003 (Primeiro mês na casa)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 8
com estímulo 2
com auxílio 3
Total 13
1.2.3. JUNHO/2003 (6 primeiros meses)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 11
com estímulo 0
com auxílio 2
Total 13
3. ORGANIZÃO DE ROUPAS E OBJETOS PESSOAIS
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 4
com auxílio 0
não organiza 8
Total 12
JANEIRO DE 2003 (Primeiro mês na casa)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 6
com auxílio 0
não organiza 7
Total 13
JUNHO/2003 (6 primeiros meses)
Grau de No. de
autonomia moradoras
independente 4
com auxílio 1
não organiza 8
Total 13
4. CAPACIDADE DE TROCA (COMPRAS)
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Faz
No. de
compras moradoras
sozinha 0
acompanhada 1
não faz compras 12
Total 12
JANEIRO DE 2003 (Primeiro mês na casa)
Faz
No. de
compras moradoras
sozinha 0
acompanhada 2
não faz compras 11
Total 13
JUNHO/2003 (6 primeiros meses)
Faz
No. de
compras moradoras
sozinha 2
acompanhada 0
não faz compras 11
Total 13
5. CIRCULA PELAS RUAS
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Circula No. de
pelas ruas moradoras
sozinha 0
acompanhada 0
não circula 12
Total 12
JANEIRO DE 2003 (Primeiro mês na casa)
Circula No. de
pelas ruas moradoras
sozinha 1
acompanhada 11
não circula 1
Total 13
JUNHO/2003 (6 primeiros meses)
Circula No. de
pelas ruas moradoras
sozinha 2
acompanhada 8
não circula 3
Total 13
6. ALFABETIZAÇÃO
DEZEMBRO DE 2002 (Momento de saída do hospital)
Alfabetização No. de
moradoras
alfabetizada 4
não alfabetizada 7
não sabemos 1
Total 12
FREQUÊNCIA AO MOVA
Frequência ao MOVA em Fevereiro de 2003
Frequência No. de
ao MOVA moradoras
Já concluiu o Ens.
Fund. 1
Vai sozinha p/ aula 1
Vai acompanhada 7
Não frequenta 4
Total 13
Frequência ao MOVA em Junho de 2003
Frequência No. de
ao MOVA moradoras
Já concluiu o Ens.
Fund. 1
Vai sozinha p/ aula 2
Vai acompanhada 5
Não frequenta 6
Total 13
Análise dos gráficos (retratando um momento)
Na pesquisa aos documentos dos Serviços Residenciais encontramos o
levantamento do instrumento em anexo 07 com o qual se construiu os gráficos que
buscam descrever os indicadores de autotomia individual.
Observando o que foi coletado verificamos que em relação:
Gráfico (1,2,3) Banho - no momento em que saíram do hospital 41% mostravam-se
independentes para a atividade do banho. Sendo que 17% necessitavam de estímulo e
incentivo para o banho. E 42% necessitavam de auxilio para o banho no sentido de não
conseguirem tomar banho sozinhas e se vestirem escolhendo suas roupas e toda
atividade que requer este cuidado.
O que nos chama atenção é termos um nível de quase 50% de
pessoas dependentes para esta tarefa diária.
Após um mês o índice vai apontando um crescimento no nível de
autonomia para esta tarefa temos: 46% das moradoras que tomam banho com
independência, 31% com estimulo e 23% com auxilio uma amostra significativa no
comportamento destas moradoras.
As mesmas moradoras 06 (seis) meses depois apresentam o seguinte
índice: 69% tomam banho com independência, 0% com estimulo e 15% com auxilio. O
que aponta que neste caso o banho com auxilio esta relacionado possivelmente há
limitações físicas do paciente.
Gráfico (4,5,6) - Uso do banheiro - Neste item foi investigado a capacidade de saber
usar o vaso sanitário, limpar-se sozinha, lavar as mãos após usar o banheiro, fechar a
porta do banheiro para usa-lo, dar a descarga do vaso sanitário após o uso. Constatamos
que ao sai do hospital 50% se mostravam independentes, 17% necessitavam de auxilio e
33% usavam fraldas descartáveis.
Um mês depois 62% se mostravam independente 15% necessitavam
de estimulo e 23% de auxilio não havendo mais o registro e o relato do uso de fraldas.
Com seis meses de desospitalização temos 86% independentes e 15%
com auxilio Notamos neste dado também uma evolução quanto ao auto cuidado e a
capacidade de aprendizado.
Gráfico (7,8,9) -Organização de roupas e objetos pessoais - os dados apontam que ao
saírem do hospital 46% se mostravam independentes, 54% não organizavam nenhum dos
seus objetos pessoais, quase não havia diferenciação.
Um mês fora do hospital 33% se mantinham mais independentes e
67% não se organizavam. Sendo que aos seis meses 31% são independentes 8% com
auxilio e 61% não se organiza. necessidade de uma melhor elaboração do espaço e
da escolha das roupas e dos cuidados.
Verificamos que neste item há uma preocupação em escolher suas
roupas, e saber que é sua, mas a disposição de lavar, passar, guardar, manter a
organização havia uma acomodação, e mesmo a facilidade em -las a mão fazia com
que as moradoras trocassem de roupas várias vezes ao dia.
Gráfico (10,11,12) - Capacidade de troca Ao chegarem na casa vimos que 0% sai
sozinha para fazer compras (ir a padaria, feira, lojas, supermercado...) 8% acompanhadas
e 92% não saem mesmo que acompanhadas.
Um mês depois 0% saí sozinha, 15% saí acompanhada e 85 não
querem sair. Verificamos que há um aumento do índice daquelas que aceitam sair
acompanhadas .
Com seis meses de desospitalização 15% saem sozinha e 85%
aceitam sair acompanhadas.
Gráfico (13,14) - Circular pelas ruas , Ao sair do hospital 0% sai pelas ruas, 0% circula
pelas ruas, os registros mostram a curiosidade de olhar a rua no quintal ao poucos
aceitam ficar na calçada.
Um mês após 8% circula pelas ruas acompanhadas, 8% saem sozinha
e 84% não sai.
E seis meses depois temos o seguinte quadro 15% saem sozinhas e
23% saem acompanhadas e 62 que não sai.
Gráfico (15, 16,17) alfabetizações e participação no MOVA Ao chegarem na casa
foi verificado que 33% das pacientes eram alfabetizadas e 59% não alfabetizadas, e 8%
que não sabiam informar. Após seis meses temos: 7% que concluíram o ensino
fundamental, 14% que freqüentam as aulas do MOVAS e vão sozinhas para as aulas, e
36% que freqüentam mas vão acompanhadas e 43% que não participam das aulas de
alfabetização.
.
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