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terrenos são alvo fácil da especulação imobiliária e os primeiros a serem vítimas de
grilagem”. Após receberem pressão para deixar de utilizar áreas para agricultura e
não construírem outras casas, a comunidade foi tendo consciência da extensão do
problema. Como estratégia de defesa da terra, em 1991, fundaram a Associação
Comunitária dos Moradores de Tatajuba – ACOMOTA. Uma das primeiras
intervenções, em 1994, foi o pedido para criação da APA de Tatajuba. Sobre a
criação da ACOMOTA e a chegada dos representantes da empresa na comunidade,
os moradores contam ( PESQUISA ..., 2004) que:
No final do ano de 1991, foi fundada a ACOMOTA, onde se discutia, com
algumas pessoas mais inteligentes, que era importante que a gente lutasse,
se organizasse e que a gente se desenvolvesse. Buscasse parceiros e
pudesse nós mesmos desenvolver a comunidade e não um estrangeiro vir e
desenvolver. Era esse o objetivo principal. Só que a partir do ano 2000,
mudou a história com a chegada de um senhor chamado “Júlio Koerner”,
que era representante da empresa Vitória Régia. Chegou no ano de 1997
ou 1998, já com conversas bonitas, promessas e conseguiu conquistar
algumas lideranças fundadoras da ACOMOTA. Por causa disso é que eles
se tornaram mais fortes. Aqueles que defendiam que nas terras da
comunidade, quem deveria desenvolver era os próprios moradores, quem
defendia de princípio, se tornou aliado da empresa e por isso dificultou tudo.
Mas, mesmo assim, eu ainda acho interessante a própria comunidade se
desenvolver (Agricultor, 38 anos, morador de Vila Nova).
Neste decurso de organização local, a equipe do PRO-RENDA que
atuava na comunidade, percebendo a problemática, apresentou os componentes da
ACOMOTA à ONG – Instituto Terramar de Pesquisa e Assessoria a Pesca
Artesanal, em 2001. Desde então, esta ONG auxilia a comunidade na luta judicial
contra o conflito fundiário, por meio de seminários, encontros e reuniões, além da
contratação de apoio jurídico
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. Solicitaram o cadastro das terras da comunidade ao
IDACE - Instituto de Desenvolvimento Agrário do Ceará. O órgão fez a identificação
das posses, em 2001. A ONG
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Instituto Terramar iniciou suas intervenções nas
comunidades do litoral a partir de assessoria à pesca, posteriormente ampliou suas
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Representante jurídico da comunidade o advogado Francisco Silvino da Silva.
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As ONG´s “originárias no movimento social dos anos 1970-80, as denominadas organizações não-
governamentais (ONG´s) são organizações civis sem fins lucrativos, que se estabelecem e se
consolidam em função de suas relações com as bases – os setores populares, e com a cúpula -, as
agências de financiamentos, instituições governamentais e iniciativa privada, formando um campo de
instituições que se dependem mutuamente, constituindo o chamado Terceiro Setor”. (LIMA S., 2003,
p.18).