das mulheres. Há registros, inclusive, de que alguns desses movimentos tinham mulheres
como líderes. As sentenças dos primeiros inquisidores da diocese de Toulouse, na França,
condenaram 152 pessoas, 30% delas eram mulheres. Ainda de acordo com Macedo (2002),
talvez a heresia atraísse tanto as mulheres porque elas encontravam nesses movimentos um
espaço de ação, de pregação, que lhes era negado pela igreja. Fatos como esses indicam que,
embora houvesse uma dominação masculina no poder e nas esferas sociais de modo geral,
existiam movimentos de resistência que podem constituir uma história das mulheres, a
história das ações de resistência; ou seja, a mulher não se submeteu sempre, a imagem de uma
submissão absoluta é construída por uma mentalidade masculina que ecoa nas vozes que
escreveram a história oficial.
As maiores vítimas da inquisição são as mulheres representadas como bruxas. Embora
essa representação não tenha “surgido” nesse momento, uma vez que ela já subsistia no
imaginário popular, visto que desde a antiguidade já existia a crença na magia, nos poderes
mágicos. Entretanto, só entre os séculos XV e XVII é que ocorre o fenômeno da “caça às
bruxas”. As crises políticas, religiosas, morais que marcaram esse período podem ter
influenciado para desencadear o fenômeno, já que trouxeram consigo “uma nova visão de
mundo, de Deus, do Diabo, e dos males praticados em seu nome” (MACEDO, 2002,p.56).
Segundo esse autor, o medo de um “mal” invisível gerou a perseguição a um inimigo visível:
as bruxas, ou antes, a mulher. Mulher fatal, mortífera, causa de perdição, a bruxa advêm das
antigas deusas, da Lilith hebraica, dos ritos demoníacos e dos bacanais.
A figura da feiticeira, as praticantes de atividades mágicas que povoavam o imaginário
popular deram lugar à figura da bruxa, que para a igreja era alguém que adorava o demônio. O
temor maior era ao SABAT, reunião de bruxas; vista como uma orgia satânica, ritual de sexo
e luxúria, como ode a satã. Elas eram consideradas responsáveis por atos sexuais
abomináveis, pela impotência dos homens, por malefícios de toda espécie.
Em Trier, na França, uma feroz epidemia de processos contra as “bruxas” ocorreu entre
1580 a 1599, quando duas grandes colheitas foram dizimadas. Escritas da época registram o
quase inacreditável: na diocese do Como, 1000 execuções em um ano. Em Toulouse, na
França, 400 cremações de bruxas são contadas em um único dia.
Conforme Macedo (2002, p 57), o auge da “caça as bruxas” ocorre entre 1560 e 1630,
quando houve perseguições maciças na Alemanha, Suíça, Bélgica, Inglaterra e França. Para
alguns historiadores o numero total de execuções na Europa chegou a vinte mil, enquanto
outros sugerem já em setenta mil execuções só na Alemanha, e trezentos em todo continente