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Fátima: Não, não em dinheiro, né ,melhorou em convivência, passei a conhecer
muitas pessoa, aprendê algumas coisa... assim, que eu era muita fechada, assim
...melhorô, mudô muita coisa!!
Pesquisador: Quando você diz em convivência que que acontece?
Fátima: Aprendi também se eu tenho pobrema em casa, eu não misturo pobrema da
minha casa com pobrema daqui, eu sei separar as coisa. Às vezes eu deixo, né, que eu
tenho um filho, 2 filhas que tava me dando trabalho, então eu fico muito nervosa em
casa, mas chega aqui eu já brinco ou então fico quieta. Não misturo, que cada
pobrema é um pobrema! Entendeu? Do portão... tem um pobrema de casa, do portão
pra fora. Porque do portão pra dentro é outra coisa.
Pesquisador: Então você disse que a Cooperlírios melhorou e não foi só em dinheiro,
também algumas outras coisas...
Fátima: É... Porque cooperativa é assim, altos e baixos... Agora nóis tá ganhando
mais ou menos... Ninguém sabe, daqui até o mês que vem. Porque pode cair o preço,
pode levantar... então cooperativa é isso... altos e baixos.
Pesquisador: Então, se eu chegá e perguntá: Fátima, o que a Cooperlírios significa
pra você? Qual a importância Cooperlírios na sua vida? O que você me falaria?
Fátima: Ah... é a coisa boa na minha vida... é uma coisa muito boa trabaiá aqui,
apesar das luta, né, é bom!
(...)
Pesquisador: Você colocou aqui que você era mais fechada, mais quieta e que aqui
[Cooperlírios] você começou a falar mais, a participá, essa convivência. Essa nova
Fátima, ela é só aqui dentro ou ela é lá fora também? Mudou seu relacionamento
com as pessoas?
Fátima: Dependendo do lugar, até que eu brinco, mas dependendo do lugar que eu
tô, se eu tô numa responsabilidade assim, que nem eu tô lá naquela responsabilidade,
igual se vem falá da Festa do Peão, né? Eu vô lá trabalhá com a turma, cuidá duma
turma, já dois anos fui eu e esse Baiano que você entrevistô... Então, mesmo que as
outras pessoas brinca, e fica zuando, a gente tem que ter uma responsabilidade. Cê
não pode ficar naquele meio zuando, porque nóis tá lá com uma responsabilidade,
nóis não tá lá pra brincá! Nóis tá lá pra tomá conta das pessoa, faze café, marca as
coisa que sai, que não sai. Então tem isso também!
Pesquisador: Agora diz o seguinte, antes, por exemplo, você foi empregada
doméstica, tinha patroa. Depois você trabalhou na Cooperlírios. Você sente que
mudou o seu modo de pensá ou ver as pessoas à sua volta? Ou não? Você começou a
olhar o mundo de uma maneira diferente? Alguma coisa assim?
Fátima: Pra mim é diferente.
Pesquisador: É? O que mudou da Fátima antes da Fátima depois?
Fátima: É tem mais amizade com as pessoa, porque eu era uma pessoa que qualquer
coisa pegava ódio das pessoa. Mesmo eu briguei com a pessoa, é mais aquele
momento, eu não tenho ódio. Aqui dentro mesmo eu cheguei a ter ódio de uma mulé,
entende? Justo essa mulé não tá mais aqui. Umas treis veiz ela veio me batê, eu
cheguei uma veiz pra fazer uma coleta, eu cheguei batê nela, né, pra não apanhar eu
tive que bater nela. Então hoje... não tenho mais assim de batê... essas coisa assim..
Pesquisador: Você ficô mais calma?
Fátima: Fiquei mais calma.
Pesquisador: E você atribui isso à Cooperlírios?
Fátima: À Cooperlírios e à convivência, e aprendê com as pessoa.
Como corrobora o trecho acima da entrevista de Fátima, o diálogo constante, com a
liberdade de argumentação e debate sobre a organização e trabalho, os cooperados
estabeleceram fortes laços de reciprocidade e amizade que ajudam a transformar o expediente
em atividade prazerosa.