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meus primos Lastidiano e Rústico, ainda que não houvessem freqüentado a escola de nenhum
Grammaticus.
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Para o que planejávamos, julguei o seu bom senso poder nos prestar auxílio. Enfim,
também se encontrava presente o menor de todos pela idade, mas cuja inteligência, e o amor não me
leva a engano promete grandes coisas: Adeodato, meu filho.
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Todos estão atentos ao que Agostinho vai falar:
“Com efeito, estamos lançados neste mundo como em mar tempestuoso e por assim
dizer, ao acaso e à aventura, seja por Deus, seja pela natureza, seja pelo destino, seja ainda
por nossa própria vontade”.
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O mar é o próprio mundo, nossa existência, com suas
tempestades e seus medos. Somos lançados neste mar tempestuoso. O nosso barco quer
retornar à terra firme. O que garante este retorno à pátria tão almejada é o porto, ou seja, a
único do grupo que recusa compreender o que seu irmão mais moço diz (Idem. Ibidem II, 7). Tal a atitude
é estranha, pois pode-se notar como os jovens alunos de Agostinho sentem-se cheios de temor respeitoso
diante de mestre tão brilhante, e seguem imediatamente a sua opinião. Navígio, contudo, não parece
impressionar-se e trata-o com familiaridade fraterna. Não hesita em contrariá-lo. Entretanto, o mais
freqüentemente mantém-se calado (Idem. Ibidem, II, 12). No item 14, encontramos Agostinho a provocá-
lo cordialmente a propósito de seu fígado doente. Nessa ocasião, Navígio replica com humor. Vê-lo-emos
ainda intervir de modo hesitante no cap. II, 19 e 20. Certamente, era ele bem menos dotado do que seu
irmão. O que talvez explique as poucas notícias dadas por Agostinho em suas obras, a seu respeito. Não
devia ter reinado grande intimidade entre eles. Traço algum de particular amizade salienta-se entre ambos.
Conforme nota de rodapé, 36, p. 81. SANTO AGOSTINHO. De Beata Vita.
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Trigésio era um pouco mais velho do que Licencio. Acabara de servir como militar. Possuía espírito
menos vivo, menos espontâneo do que seu colega. Nas discussões, porém, demonstrava mais perseverança
e método. Gostava de História. Idem. Ibidem, 37. p. 81.
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Licêncio era filho de Romaniano, o rico benfeitor de Agostinho, desde a sua juventude, em Tagaste. A
formação do jovem fora confiada pelo pai ao neoprofessor de Retórica. Sentia Agostinho grande amizade
por ele. Era esse jovem cheio de vivacidade. Inteligente e sutil, ataca, provoca, faz polêmicas, anima o
debate, mas por assim dizer, como gozador. Volúvel que era, logo percebe haver dito uma tolice, pretende
não a ter pronunciado (II, 15) manifestava muito gosto pela poesia. Mais tarde, em 395, comporá um
poema dedicado a Agostinho, que fez a análise da obra, na Carta 26, 1-6. Idem. Ibidem, 38. p. 81.
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O ensino básico começava aos sete anos de idade. Qualquer pessoa podia improvisar-se como litterator,
professor das primeiras letras e do alfabeto. O mestre era, freqüentemente, escravo grego liberto. Reunia
em torno de si pequeno grupo de meninos. O segundo ciclo dava-se com o Grammaticus. Era um grau de
ensino mais alto, só reservado para uma elite. Nem todas as cidades possuíam esse ensino de grau
secundário. Agostinho, por exemplo, teve de deixar Tagaste e ir a Madaura a fim de estudar Gramática e
Retórica. O estudo literário prosseguia sob a direção de rector. Esse era o responsável pelo terceiro grau,
de nível universitário. O Rector ocupava na escola social nível claramente superior a seus colegas dos dois
graus anteriores. Idem. Ibidem, 39. p. 82.
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Agostinho demonstrou sempre grande carinho para com Adeodato, “o filho de seu pecado”, nascido
quando o pai contava 18 ou 19 anos, em 372 ou 373, em Cartago. Quando os dois foram batizados, em
387, Agostinho contava com 32 anos e o filho, 15. O diálogo de Magistro, prova a excelente educação
recebida por Adeodato. Quando do Retorno da mãe do menino para a África Agostinho conservou consigo
o filho. Desde cedo, demonstrara ele sinais de extraordinária inteligência. Em Cassicíaco, apesar da pouca
idade, Adeodato participou do colóquio sobre a vida feliz (I, 6). Suas respostas muito agradaram a
Agostinho (II, 12 e II, 18). Adeodato morreu em Tagaste, quando o pai ainda não tinha sido ordenado
sacerdote, de causa e em data desconhecida, pelo ano 389. Idem. Ibidem, 40. p. 82.
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SANTO AGOSTINHO. De Beata Vita, I, 1.