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inicialmente nada há escrito. Em suas conclusões, Locke postula que se o homem
adulto possui conhecimento, ele é fruto das idéias
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geradas a partir da
experiência sensível e da reflexão (LOCKE, 1991, p.XII). De certa forma, Locke
aponta uma dicotomia na construção do conhecimento. Por um lado somos
sujeitos passivos, já que nascemos ignorantes e recebemos tudo de nossas
experiências sensíveis, ao mesmo tempo somos sujeitos ativos que refletem
sobre essas experiências elaborando as idéia simples que constroem o intelecto.
Locke postula que o pensamento tem origem nas idéias, dando ao primeiro o
caráter de fenômeno
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. Para ele o pensamento não cria idéias, e sim combina as
idéias percebidas pelos sentidos, ou seja, idéias resultantes da experiência, sua
única fonte. Para Locke “dá no mesmo dizer ter idéias ou ter percepção” (IBID., p.
29). No entanto, a experiência pode ser externa ou interna. A primeira realiza-se
através da sensação e nos proporciona a representação dos objetos externos:
cores, sons, odores, sabores, extensão, forma, movimento, etc. A segunda
realiza-se através da reflexão, que nos proporciona a representação das próprias
operações exercidas pelo espírito sobre os objetos da sensação, como: conhecer,
crer, lembrar, duvidar, querer, etc (IBID., pp. 27-31).
Em 7 de julho de 1688, William Molyneaux (1656 -1698) enviou uma carta a
John Locke propondo um problema que despertou o interesse de vários filósofos
iluministas e até os dias de hoje diversos pesquisadores discutem tal questão.
Para Locke o problema tornou-se fundamental e permeia todo seu trabalho nos
Ensaios Sobre o Entendimento Humano. O problema de Molyneaux indagava se
um homem que nasceu cego e que aprendeu a distinguir entre uma esfera e um
cubo através do tato seria capaz de distingui-los e nomeá-los usando somente a
visão caso fosse possível torná-lo capaz de ver (RISKIN, 2002, p.19). Locke
responde negativamente (IBID., p.23): “sendo a percepção o primeiro passo na
direção do conhecimento [...] implica que se uma pessoa [...] estiver provida de
menos sentidos, são poucas e embaraçadas as impressões que deixam suas
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Locke dá o nome de idéias à expressão que adquire o sentido de todo e qualquer conteúdo do processo
cognitivo. Idéia é, para Locke, o objeto do entendimento, quando pensamos, a expressão pensar no sentido
mais amplo, englobando todas as possíveis atividades cognitivas (Locke, 1991, pp. 13-17).
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Na Filosofia, objeto de experimentação, fato, o que se manifesta a consciência, tudo que é objeto de
experiência possível, isto é, que se pode manifestar no tempo e no espaço segundo as leis do entendimento
(Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, p. 769). O fenômeno é tudo aquilo (material ou ideal) de que
podemos ter consciência, de qualquer modo que seja.
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