Se ele morresse, o que seria d’ela?
Dadá cuidava às vezes tristemente -
Se essa criança era como a estrela
Que guiava os Reis Magos no Oriente?
E entre esperanças e temores francos,
Lauro crescia cada vez mais lindo;
Quando falava, os seus dentinhos brancos
Lembravam à gente um bogari abrindo.
Um dia, ao acordar, Lauro queixou-se
De que o corpinho todo lhe doía.
A mãe cercou-o de um carinho doce:
O seu filhinho de que sofreria?
E ele chorava que fazia pena
Naquela alegre e límpida manhã,
Pálida a face como uma açucena,
E o róseo lábio a murmurar: “mamã”!
Dadá beijava aquela mão querida
E os pés e o rosto e o peito nu e a boca:
Queria ver se lhe incutia a vida
Naqueles beijos que lhe dava, louca!
O triste pobrezinho soluçava
Entre as carícias do materno afago;
E, em seus olhos, a morte esvoaçava
Bem como um corvo à tona azul de um lago.
Antes do sol pender sobre o horizonte
O querubim cessava de existir;
E alguém ainda lhe beijava a fronte:
Era Dadá a soluçar e a rir.
Estava louca. D’ora em diante, a vida,
Quem lhe traria ao ninho seu deserto?
Lauro morrera... Branca flor pendida
Caíra murcha num esquife aberto!
Ela bem vira quando carregavam
O meigo arcanjo dentro de um caixão...
Almas cruéis! Do seio lh’o arrancaram
E com ele também seu coração!
Há muitos anos que isto sucedeu,
Mas, entretanto, o que da morte a salva
É que Dadá, quando contempla o céu,
Diz que seu filho está na estrela d’Alva.