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problematização da liberdade ocorre, de um modo mais direto e produtivo, a
possibilidade para o entendimento das articulações que, por assim dizer, compõem a
filosofia de Heidegger nos primeiros anos da década de 30. Assim posto, o que precisa
ser apontado como condutor da análise, daqui para diante, é a procura, sempre no
interior da liberdade, de posicionamentos que assinalam, mesmo que de forma
insipiente, um redimensionamento central na distribuição dos papeis, e,
consecutivamente, nos objetivos do pensamento de Heidegger.
Ainda que de maneira insatisfatória, o capítulo anterior indicou que a tessitura da
conferência Da Essência da Verdade é, no mínimo, bastante especial. Visando um
melhor esclarecimento, é imprescindível ressaltar que as primeiras quatro secções do
texto de 30 pertencem, sem dúvida, ao âmbito da determinação da transcendentalidade
do Da-sein. Por conta disso, é mais do que adequado enfatizar que estas secções, tal
como apontam os interpretes mais exponenciais, de Richardson
156
à von Herrmann
157
,
estão inscritas no desenvolvimento do problema da transcendência. Em outros termos,
elas são nitidamente transcendentais. Diferentemente disso, é fundamental assinalar que
as outras cinco secções que compõem a conferência não podem ser determinadas da
mesma maneira. Nelas, o que salta aos olhos é, sim, uma modificação, súbita e sutil, do
como da argumentação, do posicionamento dos conceitos mais relevantes, e, o que não
é menos decisivo, do uso dos recursos metodológicos.
156
Na sua obra de 1963, Richardson estabelece a primeira interpretação completa da Conferência de 30.
Segundo ele, as mudanças no texto são bastante visíveis, e decorrem do ingresso no que ele próprio
denomina de Heidegger II, ou seja, do desenvolvimento da relação entre Ser e Pensar.
157
No texto de 2002, Verdade – Liberdade – História, von Herrmann pretende realizar uma interpretação
sistemática da Conferência de 30. Para isso, ele se dedica, exaustivamente, a um exame do texto de 30,
procurando evidenciar, em primeiro lugar, as suas tensões argumentativas e metodológicas.