Segundo o autor, a idéia de que o naturismo significa uma reconciliação com a
natureza é bastante recorrente no discurso dos praticantes, que teriam a figura do indígena
como um modelo ideal de referência. Desse modo, o imaginário romântico do “bom
selvagem” estaria intimamente relacionado com a prática, contrapondo-se à “decadência dos
valores do mundo civilizado” (ROJO, 2005: 59 – grifos do autor). É o que fica evidenciado
nos depoimentos publicados na mesma revista:
“Hoje podemos nos perguntar que civilização os portugueses trouxeram
para estes povos: a propriedade privada no lugar da propriedade coletiva; a
escravidão no lugar do trabalho em mutirão; a concorrência no lugar da
partilha da caça e da pesca; a exploração da natureza no lugar da
reverência à nossa ‘Mãe-Terra’; o sexualismo mercantil no lugar da
sexualidade natural; a vestimenta que disfarça a pessoa no lugar da nudez
transparente e respeito mútuo.” (Revista Naturis, n. 22, 2000: 22)
“Nus, os povos primitivos são, muitas vezes, mais modestos, atenciosos e
respeitosos para com o próprio corpo e o corpo dos outros, do que muitos
de nossa supersexuada, superexcitada e escandalosamente vestida
sociedade ocidental.” (Revista Naturis, n. 24, 1999: 18)
Mais do que uma prática de lazer, portanto, o naturismo insere-se num movimento de
crítica da cultura moderna, investindo na construção de novos valores e percepções sobre os
seres humanos e sobre o mundo. Inspirados num imaginário sobre o indígena como um ser
perfeitamente integrado à natureza e ao convívio social, os naturistas articulam diferentes
elementos na construção de um ideal de vida e plenitude. À indiferença das relações entre as
pessoas, ao hedonismo fútil da sociedade de consumo, à cultura da vergonha e da
culpabilidade exaltam-se valores como o respeito mútuo, a aceitação da diferença, a
fraternidade partilhada e a aceitação do corpo e de si.
“Aqui é bom porque as pessoas se preocupam com você, querem fazer os
outros se sentirem bem. Você pode vir e não precisa se preocupar com nada.
Ninguém se aproveita dos outros... Se suas coisas ficarem na areia, ninguém
vai mexer. Não é como nas outras praias, que as pessoas mexem com você,
roubam...” (Laila, 28 anos, casada)