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seriedade existencial, um exercício estético sem e
thos
, poesia sem anseio de
veracidade (Kuschel, 1999, p. 23). A arte, focada sob este ângulo, não é digna para
representar conteúdos e temas próprios da religião, especialmente os da religião
cristã. Kuschel esclarece essa questão ao explicar o que significa a representação
de Deus pela literatura. A representação de Deus e do homem na literatura é
eticamente recriminável; por estar orientada pelos sentidos, ela corrompe a
juventude, já que desperta e alimenta desejos baixos ((Kuschel, 1999, p. 23). Ao
contrário da máxima que dizia ser Deus um péssimo princípio estético, críticos da
arte vão afirmar que a arte parece ser um mau princípio para a fé (Kuschel, 1999,
p. 23).
Não obstante, a diversidade de opiniões sobre o tema, a posição de Geraldo
Paiva, em seu artigo sobre a experiência religiosa e experiência estética, aponta
para uma direção possível e intermediária desse antagonismo referido
anteriormente. Ressaltamos, todavia, que a esfera de análise de Paiva é em torno
das artes plásticas. Para ele é necessário fazer uma distinção entre religião
substantiva e religião funcional.
Distinguimos primeiramente, com Berger (1974), van der Lans (1986) e
Vergote (1986), entre religião substantiva, denotada pela linguagem comum
e referida ao sobrenatural (energias, espíritos, deuses, Deus), e religião
funcional, entendida como qualquer realidade fundamental que dá sentido à
vida, ao mal e a morte. Distinguimos, em segundo lugar, com Vergote (1974,
1997), entre o religioso, referido ao sobrenatural, e o sagrado, relativo aos
valores essenciais e ideais. A partir dessas distinções, levantamos as
hipóteses de que a experiência estética pode substituir a experiência
religiosa no sentido funcional, mas não no sentido substantivo, e de que a