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AIRTON LORENZONI ALMEIDA
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McLuhan e a Educomunica•‹o na Aldeia Global
Dissertao de Mestrado, apresentada ˆ Banca
de Defesa Final, do Programa de Ps-Graduao
em Educao nas Cincias, Mestrado, da
Universidade Regional do Noroeste do Estado
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parcial para a obteno do ttulo de Mestre em
Educao nas Ci•ncias: Comunicao Social.
Orientador: Prof. Dr. Claudio Boeira Garcia
Iju
2006
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que os simples fatos do v™o, como ir da costa ˆ comida e voltar.
Para essa maioria, o importante n‹o Ž voar, mas comer... Mas h‡
gaivotas que pensam que o mais importante no Ž comer, mas
;%5#<"('#?*-(#-%@*'!(!*#*#?*-"#@()!"AB#C('(#5%)D(#%'5>#Maris
Lorenzoni Almeida, grande incentivadora desta pesquisa, e a
mais t’pica exemplar do personagem Ferno Capelo Gaivota
entre n—s, minha gratid‹o, carinho e reconhecimento. Este t’tulo
de mestre tambŽm Ž seu!
A Robinson Narbal de Cssio que, como um Fern‹o Capelo
Gaivota contempor‰neo, encontrou nos multimeios, nas
tecnologias de informa•‹o e de comunica•‹o ferramentas para
al•ar longos e velozes v™os e neles expressar seus sentimentos,
construir e reconstruir seus imagin‡rios infantis, descobrir e
prospectar novos mundos E reais ou imaginados E que o
ajudaram a crescer como um brilhante estudante, atŽ ser calado
por um mal que, mesmo com todos os avan•os cient’ficos, ainda
n‹o tem resposta nem cura... A SŽrgio Narbal de C‡ssio, que
empregou as tecnologias de informa•‹o e de comunica•‹o com
o verdadeiro propsito defendido por McLuhan E o da
autonomia e emancipa•‹o do homem E, em busca de um melhor
entendimento sobre a doena que afetou seu filho... Ambos,
cada qual ao seu modo, conforme as necessidades que lhes
foram impostas em seus v™os, tornaram-se exemplos de
autnticos mestres da vida. A eles dedico esta pesquisa e o t’tulo
acad•mico que ela me propiciou.
AGRADECIMENTOS
Aos meus pais M urillo Cardoso de Almeida (in memoriam) e Helena Lorenzoni Almeida que, cada um a sua
maneira, sempre deixaram claro nos seus atos o verdadeiro sentido da pedagogia.
A Claudio Boeira Garcia, meu orientador, que acolheu este projeto de estudos e, com sua sapincia, dedicao,
generosidade e competncia me permitiram, com a mxima liberdade, no s chegar a este texto final, como
tambŽm cimentar um caminho de respeito, admirao e de amizade que iro perdurar por toda a vida, no
importando em que espao-tempo estivermos voando.
A Helena Copetti Callai e Paulo Afonso Zarth, que no s enriqueceram minha jornada dentro do programa
com seus cursos, como ainda nas inœmeras interlocues que mantivemos desde a qualificao do projeto atŽ a
defesa final deste trabalho. Ao longo deste tempo ambos se constitu’ram, mais do que em professores, em
amigos.
F# ?'"G*;;"'(# Zeneida Alves de Assumpo pela leitura criteriosa deste texto, por sua avaliao e honrosas
consideraes durante a banca de defesa final.
Aos professores Elza M aria Fonseca Falkembach, Otvio Alosio Maldaner e W alter Frantz pelo que
aprendi em seus cursos. Mais do que isso, pelo exemplo que me propiciaram de como deve ser a postura de um
verdadeiro professor/pesquisador.
Aos amigos-colaboradores Adinei Trevisan Schneider, AndrŽ de Oliveira Gagliardi, Gustavo Brun, M aria
Luiza Barreto Dornelles e Neide M aria Arruda, que me ajudaram a garimpar Brasil afora as esgotadas e raras
edies de inœmeras obras de McLuhan.
A M aria Cristina Gobbi e Damiana Rosa de Oliveira, amigas que surgiram no decorrer desta pesquisa e que,
ao franquearem o acervo bibliogrfico da Ctedra Unesco de Comunicao, da UMESP, prestaram uma rica
contribuio a este estudo.
F;# 4"-*7(;# Adriana Kemp M aas e Sylvia M esser, com quem partilhei, na convivncia dos cursos que
realizamos juntos, grandes interlocues e profcuos debates, os quais de uma forma ou de outra aparecem
atravessados neste texto.
A ƒdson Queirs e JocenŽia Dapper, pela forma prestimosa com que sempre atenderam minhas pesquisas na
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Aos amigos Ercilia Ana Casarin, Ingo e Jussara Christman e Paulo Denisar Fraga, pela amizade fiel e pelo
apoio nos momentos mais diversos da vida e desta empreitada acadmica.
A Anderson Salomo da Silva, Paulo Luchese e Pedro M oreira (a todos in memoriam), que sempre
incentivaram meus projetos e acompanharam os meus vos, amigos-irmos com quem, infelizmente, no pude
compartilhar esta jornada, a no ser na memria e nas boas e saudosas lembranas que guardo de vocs.
A Paulo Rudi Schneider, sempre generoso na hora em que precisei de socorro para as tradues do grego e do
alemo.
Ao Beb que, mesmo silencioso no seu jeito de ser, foi um companheiro fiel e onipresente nesta minha trajetria,
neste meu vo, nesta jornada muitas vezes solitria em que se constitui uma pesquisa acadmica. Sua presena
quebrou rotinas prŽ-estabelecidas e me permitiu sorrir, especialmente nos momentos mais sisudos...
³Tomorrow is our permanent address´
Herbert Marshall McLuhan
RESUMO
A educa•‹o, a escola contempor‰nea, o advento dos mass media, as evolu•›es
tecnol—gicas de informa•‹o/comunica•‹o e as transforma•›es que elas t•m implicado,
especialmente ap—s o p—s-guerra, dentro deste macro contexto que Herbert Marshall McLuhan
designou metaforicamente como aldeia global s‹o os temas centrais desta pesquisa, cujo
prop—sito Ž buscar um entendimento sobre a quest‹o do uso dos multimeios como aporte e
suporte pedag—gico. Ao lado da escola, desde os tempos modernos, considerada como
institui•‹o central para a transmiss‹o e legitima•‹o dos saberes, somaram-se novos
acontecimentos e fen™menos s—cio-culturais de estatutos distintos, os quais afetam
significativamente as concep•›es e pr‡ticas das institui•›es escolares, entre eles, a atividade
social de organiza•›es e sindicatos de trabalhadores, ou mesmo partidos pol’ticos os quais
criam institui•›es de educa•‹o n‹o formal, ou a prolifera•‹o das fontes de informa•‹o e dos
meios de comunica•‹o, cada vez mais acelerados pelas novas tecnologias e descobertas
cient’ficas a partir do sŽculo XX. O presente estudo ocupa-se, em especial, com os efeitos e as
quest›es suscitadas por essas tecnologias no ‰mbito das atuais formas das institui•›es
escolares. Explora, nesse contexto, novas provoca•›es, outras prospec•›es a respeito das
possibilidades de os educadores, nessa sociedade do espet‡culo, da instantaneidade do tudo-
agora, reconhecerem que os espa•os de educa•‹o tambŽm s‹o espa•os de comunica•‹o, nos
quais agem, interagem e reagem sujeitos em diferentes rela•›es sociais, interpessoais, grupais
e institucionais. E este reconhecimento, ao que tudo indica, demanda o entendimento que
estes espa•os s‹o constru’dos e reconstru’dos por indiv’duos que sabem algo sobre algo, ou
seja, que t•m uma bagagem de saberes distintos para permutar. As reflex›es oriundas dos
di‡logos travados com McLuhan e outros te—ricos aju’zam que, no sŽculo XXI, a escola, em
suas concep•›es e pr‡ticas pedag—gicas est‡ sendo convocada a um alargamento do seu agir e
fazer no mundo, de forma que se mantenha aberta e atenta para mediar, de maneira
consistente, esses saberes, esses mundos pessoais de imagin‡rios multifacetados, de forma a
dar um suporte, naquele espa•o que lhe cabe aos aspectos e elementos novos e antigos da
sociabilidade humana. O foco de debate desta pesquisa diz respeito ˆ import‰ncia que os
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e benef’cios, advindos dessa era podem ser apropriados, nos espa•os das institui•›es
escolares, para a constru•‹o e elabora•‹o do conhecimento. A obra de McLuhan nos permite
retomar sob esse foco, quest›es centrais que relacionam os temas da educa•‹o e da
comunica•‹o; da rela•‹o entre escola e m’dia e como (nas atividades nela empreendidas) ela Ž
afetada, reage e interage. No primeiro cap’tulo, Aforismos e Met‡foras em McLuhan, abordo
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9"# 5*%"# R# (# 5*);(7*5B.# 9*;4"-(# 4-(,;='"BS# %)=*'?'*="-os para esclarecer como essas
enuncia•›es se inscrevem de forma subliminar no ‰mbito da educa•‹o e como elas podem se
constituir num aporte significativo para compreender a institui•‹o escolar assim como para
elucidar os desafios e mudan•as necess‡rias ˆs escolas inscritas na sociedade da informa•‹o.
AlŽm disso, exp›e cr’ticas que McLuhan faz ˆ escola contempor‰nea, a qual, segundo ele,
formata sujeitos para atender a demandas de mercados, e n‹o promove a emancipa•‹o do
homem. O final do cap’tulo retoma sondagens de McLuhan e aponta para possibilidades de
uma escola-mundo, sem fronteiras, sem barreiras. O segundo cap’tulo, McLuhan e a
Educomunica•‹o na Aldeia Global, destaca que McLuhan, embora n‹o tenha teorizado
explicitamente sobre o emergente campo da educomunica•‹o, proclamou uma institui•‹o
escolar capaz de voltar seus olhos ˆs mudan•as sociais, pol’ticas e culturais introduzidas pelos
meios de comunica•‹o que, ao invŽs de demoniz‡-los, fosse capaz de coloc-los a servi•o de
uma escola comprometida em formar sujeitos originais, insubstitu’veis, pesquisadores,
cr’ticos, solid‡rios e respeitosos para com as diferen•as individuais e culturais. Nesse aspecto
argumento que McLuhan ilumina, mesmo que de forma n‹o sistematizada, duas vertentes em
que se constituem os pilares da educomunica•‹o: o ensinar com os meios e o ensinar pelos
meios de comunica•‹o. Ao afirmar que as respostas aos problemas encontram-se sempre
dentro deles, nunca fora, o autor me leva a prospectar que, na atual configura•‹o da
sociedade, a escola precisa derrubar seus muros e tabus com rela•‹o aos meios de
comunica•‹o e ˆs tecnologias de informa•‹o/comunica•‹o e acolh•-los em sala de aula, n‹o
como um fetiche, mas como suporte de partilha de poder e de saber e, acima de tudo, como
possibilidade de promover com e pelos meios, uma leitura cr’tica do mundo; de estabelecer
di‡logos com as diversidades culturais; de apropri‡-los para mudan•as pol’ticas, Žticas e
culturais urgentes e necess‡rias, as quais est‹o inscritas entre as demandas e apostas b‡sicas
deste campo de interven•‹o social hoje denominado educomunica•‹o.
Palavras chave
Comunica•‹o Social; Educomunica•‹o; M’dia; Forma•‹o Escolar; McLuhan.
ABSTRACT
The education, the contemporary school, the phenomenon of the mass media, the
technological evolution in the information/communication and the transformations they have
caused, specially after the post-war period, inside this macro context that Herbert Marshall
McLuhan metaphorically named as global village are the main themes of this research, whose
purpose is to seek for an understanding about the issue of using multimedia as a pedagogical
support. Together with the school, since the modern times considered as a central institution
to the transmission and legitimation of knowledge, new events and socio-cultural phenomena
of distinct statute, which significantly affect the conceptions and practice of the educational
institutions, among them, the social activities of organizations and syndicates, or even
political parties that create non-formal educational institutions, or the proliferation of sources
information and the mass media, more and more accelerated by new technologies and
scientific discoveries from the 20
th
century. The present investigation focuses specially on the
effects and the issues arose by these new technologies in the scope the current forms of the
educational institutes. It explores, inside this context, new questions, other viewpoints about
the possibilities of the educators, in this spectacle society, of instantaneity of the altogether-
now, recognize that the spaces of the education are also spaces of communication in which
subjects act, interact and react in different social, interpersonal, group and institutional
relationships. And this recognition, according to the evidences, demands the understanding
that these spaces are constructed and reconstructed by individuals who know something about
something, that is, who have different background knowledge to share. The reflections
derived from dialogues between McLuhan and other authors form the opinion that, in the 21
st
century, the school and its conceptions and pedagogical practice is being called to broaden its
way of acting and doing in the world, in a way that it keeps itself open and alert to mediate, in
a consistent manner, this knowledge, these personal worlds of multifaceted imaginary, in a
manner to give support in that space where it is responsible regarding aspects and new and old
elements of the human sociability. The focus of debate of this research is about the
importance that multimedia and the technology take in the electronic age, as well as the way
(;#=D*#;",'4*;#()!#@*)*G%=;#4"5*#,?")#G'"5#=D%;#9*'(B#4(#@*#(??'"?'%(=*#in the spaces of the
educational institutions to the construction and elaboration of knowledge. The work of
McLuhan allows us to retake, under this focus, central issues related to the themes of
education and communication, of the relationship between school and media and how (in the
activities carried out inside the school) it is affected, reacts and interacts. In the first chapter,
Aphorisms and Metaphors in McLuhan, I discuss issues and linguistic concepts to understand
pieces of language such as global village, the media is the message, cloister school. I interpret
them to understand how these enunciations appear in a subliminal way in the educational
ambit and how they can constitute a significant source to understand the educational
9
institution as well as to elucidate the challenges and necessary changes in the schools in this
information society. Besides this, it presents critics that McLuhan did about the contemporary
school, which according to him, shapes subjects only to fulfill market demands, and does not
promote the emancipation of the men. The end of the chapter recovers some thoughts of
McLuhan and points out to the possibilities of a school-world, without frontiers, without
barriers. The second chapter, McLuhan and the educommunication in the global village,
D%7D-%7D=;#=D(=#I4T,D().#(-=D",7D#D(<*)U=#*6?-%4%=-V#=D*"'%W*!#(@",=#=D*#*5*'7*)=#('*(#"G#=D*#
educommunication, proclaimed an educational institution able to turn its view to the social,
political and cultural changes introduced by the media#=D(=.#%);=*(!#"G#G(4%)7#=D*5#(;#9!*<%-;B.#
was able to make them contribute to for a school committed to form original subjects,
irreplaceable, researchers, critical, solidary and respectful towards the individual and cultural
differences. In this aspect, I discuss that McLuhan observes, even in a not so systematized
way, two sources in which the bases of educommunication are constituted: the teaching with
the media, and the teaching through them. In affirming that the answers for the problems are
always found inside them, never outside, the author makes me think that, in the current
configuration of the society, the school needs to overthrow its walls and taboos in relation to
the media and to the technologies of information/communication and welcome them inside
the classroom, not as a fetish, but as a support to share power and knowledge and, above all,
as a possibility to improve with and through the media, a critical view of the world, to
establish dialogues with de cultural diversities, to appropriate them to the political, ethical and
cultural changes, urgent and necessary, which are among the demands of this area of social
intervention today denominated educommunication.
Key words
Social Communication; Media Literacy; Mass Media; School Education; McLuhan
680È5,2
,1752'8d42 ............................................................................................................
11
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20
1.1 Alde›es Eletr™nicos e Planet‡rios ........................................................................
23
1.2 Meios, Mensagens e Massagens na Aldeia Global ..............................................
31
1.3 Dos Claustros ao Mundo sem Muros ...................................................................
41
!#0&/8+$1#(#$#('8&2081,&$d42#1$#$/'(,$#*/2%$/#.....................
52
2.1 Educa•‹o e Multimeios: Aulas sem Paredes .......................................................
57
2.2 Educomunica•‹o: Campo de A•‹o Educacional e Pol’tico .................................
67
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84
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89
OBRAS CONSULTADAS...........................................................................................
96
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!"#$%&'
- Que fais-tu sur la terre, ˆ jouer arr•te? Pourquoi
vis-tu?
/()*+#,
- Je vis par curiositŽ! Mais vous, -!"!#$%&!'%(!)&)*+,-
(Victor Hugo)
Tomo para mim a fala do bobo da corte franc•s porque a curiosidade existencial que
interpela esse personagem de Victor Hugo, na pe•a Marion De Lorme, parece-me decisiva
para aqueles que empreendem investiga•›es, sejam elas acad•micas ou, como em per’odo
significativo de minha vida ˆs dedicadas ao exerc’cio da profiss‹o de jornalista.
Essa curiosidade, que tambŽm pode ser designada vontade de saber, serviu de
alimento motriz dos estudos que empreendi e que resulta neste texto originado de um di‡logo
com as palavras e com o pensamento de Herbert Marshall McLuhan e de outros autores.
Como sei, agora, este conjunto de idŽias reunidas num complexo quebra-cabea escapa ˆ
privacidade de quem o escreveu, para tornar-se, na esfera do pœblico, objeto de leitura e, por
extens‹o, de interpreta•‹o e de cr’tica.
A disserta•‹o Ž fruto das inquieta•›es de um jornalista a respeito do estatuto de outro
saber, a educa•‹o. Atividade que, ao longo das nossas vidas deixa suas marcas indelŽveis. O
texto Ž instigado, sobretudo, por minha experi•ncia profissional nas reda•›es de jornais,
r‡dios e revistas onde n‹o s— exerci meu of’cio, mas tambŽm procurei me aperfei•oar em um
campo pedag—gico n‹o formal de aprendizagem e de entendimento do papel fundamental da
12
atividade dos meios de comunica•‹o para a forma•‹o dos valores Žticos da conduta humana.
Papel que, cada vez mais em nossos dias, pode ser denominado, com toda a propriedade e na
amplitude dos seus significados, de educa•‹o. Ao entender, pois, que estes dois dom’nios
est‹o umbilicalmente entrela•ados entre si, pelo fato de que educar Ž comunicar, o que me
inquieta Ž saber por que E mesmo emaranhados E os referidos campos de conhecimento
mant•m-se cada um em seu front, como se ambos fossem inimigos declarados em uma guerra
velada, ao invŽs de formarem uma alian•a na busca do esclarecimento e da emancipa•‹o dos
homens, objetivando, desta maneira, conceb-los mais cr’ticos, mais participativos,
cooperativos e solid‡rios entre si.
Minha inquietude, que creio ser natural a todos os sujeitos comprometidos com as
quest›es do seu tempo, por certo, n‹o oferece possibilidades de resultar em um manual de
prescri•›es. AtŽ porque entendo que este singular espa•o onde me inscrevi como acad•mico,
como investigador e como prospector, se constitui num lugar de permuta permanente entre os
seus pares, de constante debate e de interroga›es, com vistas ˆ troca de experi•ncias e de
informa•›es, de maneira a construir e reconstruir conhecimentos. Por isso, em lugar de
respostas prontas, minha escrita lan•a novas inquieta•›es e desafios de pesquisa ˆs gera•›es
que est‹o por vir, presumivelmente, imbu’das deste mesmo prop—sito.
Para levar adiante o estudo aqui proposto foi necess‡rio, num primeiro momento, n‹o
s recuperar, mas procurar entender algo a respeito da configura•‹o da sociedade
contempor‰nea, que tem sido denominada, entre outros termos, de globaliza•‹o,
mundializa•‹o ou universaliza•‹o, e as discuss›es ou explica•›es te—ricas que incidem sobre
esse modus vivendi e modus operandi instaurados entre n—s. AtŽ porque, Ž tambŽm nessa cena
que a educa‹o atua, ora como personagem, ora como autora do espet‡culo.
A busca desse entendimento me levou a retomar conceitos e autores, entre os quais
Herbert Marshall McLuhan E te—rico canadense, apontado como um dos protagonistas dos
estudos n‹o s— dos meios de comunica•‹o como, principalmente, dos efeitos que eles
provocam na sociabilidade humana. Lido e citado, vorazmente, por uma gera‹o de
soci—logos, antrop—logos e comunic—logos entre os anos 1960 e 1980, no Brasil, o autor de
aforismos e met‡foras como aldeia global, o meio Ž a mensagem, retribaliza•‹o da
humanidade entre tantos outros jinscritos no cotidiano de nossa linguagem, aos poucos foi
sendo silenciado, mesmo antes de morrer em Toronto, em 31 de dezembro de 1980. De todos
13
os seus livros E mais de 25 entre os de ensaios liter‡rios e os de estudos sobre os efeitos e
impactos dos meios de comunica•‹o na vida humana E poucos, Ž verdade, mereceram
tradu•‹o no Brasil, porŽm n‹o resistiram por muito tempo em cat‡logo.
O estudo que empreendi, mais do que expor esse velamento do autor, desvelou que t‹o
dif’cil quanto se deparar com as obras mcluhanianas Ž encontrar o te—rico citado como
fil—sofo, cr’tico que foi, em estudos acad•micos que se prop›em a pensar, refletir sobre a
educa•‹o. Educa•‹o, McLuhan pensa a educa•‹o? Esta pergunta que tenho ouvido dos meus
interlocutores tornou-se assim companheira mais onipresente nas minhas inquietudes, pois
toda vez que submeti ao debate e ˆ cr’tica este meu corpus de pesquisa, mesmo nos col—quios
e encontros sobre ensino, escola e/ou comunica•‹o, a pergunta, sempre acompanhada por um
certo espanto, era inevit‡vel. Nenhum assombro quanto a ela, porque das produ•›es de
McLuhan sobre este tema E muitas delas esparsas e mescladas a outros assuntos, como Ž
comum ˆ escrita mosaico do autor E, poucas chegaram ao pa’s t‹o esquecidas quanto se
tornaram as outras.
Hque se esclarecer um fato: a produ•‹o intelectual mcluhaniana nasce num per’odo
hist—rico de transforma•›es pol’tico-sociais no mundo, marcado pelo fim de alguns
totalitarismos e nacionalismos e pelo surgimento de outros. Pensemos nos desdobramentos do
p—s-guerra. Pensemos na guerra fria, na revolu•‹o dos costumes, no amadurecimento de
determinados movimentos sociais, polticos, religiosos, culturais e de g•nero, na luta contra a
hegemonia de determinados Estados-Na•‹o impondo, ora por for•a das armas, ora por for•a
do capital, um modus vivendi uniformizado. Exatamente neste cen‡rio de lutas E muitas delas
silenciosas E emergem McLuhan e seu pensamento, que foge aos rigores do academicismo,
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fragmentada e repleta de figuras de linguagem, segundo alguns que o interpretaram, seriam
mais adequadas a um vidente do que a um homem de academia, a um cientista. McLuhan
escreveu sobre tudo: de drogas e movimento hippie a rock-and-roll. De literatura vitoriana aos
efeitos dos tambores tribais da modernidade, no caso o r‡dio e a televis‹o. ƒ necess‡rio
considerar, ainda, neste quadro, que o autor E sempre atento aos acontecimentos do mundo E
n‹o trancafiou suas prospec•›es e sondagens nos restritos muros do academicismo formal. Ao
contr‡rio, publicizou suas pesquisas em formato de artigos para revistas e jornais, nem todos
classificados como cient’ficos; em entrevistas e programas de r‡dio e de televis‹o; em
confer•ncias abertas ao pœblico leigo e atŽ mesmo em produ•›es cinematogr‡ficas de
14
Hollywood
. McLuhan, por assim dizer, fez dos meios aos quais dedicou-se a estudar, canais
para divulgar sua mensagem, tomada aqui com o sentido de conteœdo.
Funcionalista, determinista tecnol—gico, exibicionista, filisteu acad•mico, foram
algumas das (des) qualifica•›es que recebeu E e ainda recebe E, especialmente dos que o
leram e o interpretaram ˆ luz do que era pautado pelas teses do denominado Paradigma do
Imperialismo Cultural, como lembra Moragas Sp(1997, p. 28), em seu artigo Las ciencias
de la comunicaci—n en la sociedad de la informaci—nY#9J#?'*G*'*)4%(-#%)=*'*;;*#?*-";#(;?*4=";#
ideol—gicos dos discursos sociais impediu muitos analistas de compreender a validade das
principais intui•›es de McLuhan a respeito das mudan•as nos usos dos meios, a respeito das
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O que Moragas Sp enfatiza criticamente, reivindicando no seu enunciado uma
releitura do autor, vem ao encontro do que Palmer (1986) procura explicitar em suas teses
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este torne expl’cito o significado que uma obra tem nos nossos dias; (...) obriga-nos a
construir uma ponte que una a dist‰ncia hist—rica entre o nosso horizonte e o horizonte do
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platŽias dos col—quios sobre educa•‹o, quando por fim apresento as idŽias do autor: McLuhan
estt‹o atual ou talvez mais, do que ˆ Žpoca em que escreveu seus artigos. Parece que sim,
porque seus escritos, como s‹o todas as obras liter‡rias, s‹o vivos, e est‹o a’ para serem lidos
e interpretados, nunca se perdendo de vista a proposi•‹o de Gadamer lembrada por Palmer, de
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A pesquisa, que ora resulta nesta disserta•‹o, procura enfatizar esse fato, pois, ao que
parece, as idŽias de McLuhan, na contemporaneidade, tornam-se mais pertinentes e
renovadoras do que quando foram expostas ao debate, nas tumultuadas dŽcadas de 1960 a
1980. Todas as supervias da informa•‹o e hyper-texto, formando teias de fluxos, e os desafios
eletr™nicos advindos das novas tecnologias de informa•‹o/comunica•‹o, postos ao nosso
1
Estou me referindo ao filme Annie Hall (traduzido no Brasil como Noivo Nervoso, Noiva Neurtica), realizado
por Woody Allen em 1977, e no qual McLuhan interpreta a si mesmo numa cena onde, na fila de um cinema,
*6?-%4(#;,(#=*"'%(#9"#5*%"#R#(#5*);(7*5BM#I4T,D()#=(5@R5#(?('*4*#)"#!"4,5*)=f'%"#5,;%4(-#John & Yoko's:
Year of Peace, produzido por Paul McGrath, em 2000. Neste filme Marshall McLuhan realiza uma entrevista
com John Lennon e Yoko Ono, filmada em Ontrio, Canad, no dia 19 de dezembro de 1969, na qual o terico
discute com os artistas assuntos como a Guerra do Vietn, a luta pela paz empreendida pelo casal, a liberdade
sexual, entre outros temas, procurando relacion-los aos seus estudos dos meios de comunicao social.
15
alcance, ao que tudo indica, fazem eco ˆ met‡fora da aldeia global concebida pelo autor e que,
ao que leva a crer, tornou-se uma met‡fora materializada entre n—s de forma not‡vel. Assim, e
por esse motivo, com o respaldo te—rico de Palmer (1986, p. 250), que me propicia o
*)=*)!%5*)="#!*#L,*#9-*'#,5(#"@'(#[MMMc#R#,5(#e*6?*'%8)4%(U.#,5(#',?=,'(#*#,5#(-('7(5*)="#
do nosso antigo modo de ver as coisas. [Na medida em que] n‹o foi o intŽrprete que
manipulou a obra, pois esta se mantŽm fixa; foi antes a obra que o marcou, mudando-o de tal
5"!"#L,*#*-*#),)4(#5(%;#?"!*#'*4,?*'('#(#%)"48)4%(#L,*#?*'!*,#4"5#(#*6?*'%8)4%(B.#='(7"#("#
debate, neste estudo, o pensamento mcluhaniano como um constitutivo convite ˆ reflex‹o
sobre estes dois campos, por natureza entrela•ados: a educa•‹o e a comunica•‹o.
A interpreta•‹o sempre une o passado com o presente por meio da historicidade e
nenhuma interpreta•‹o Ž, para sempre, certa, verdadeira e œnica; Ž sim uma experi•ncia vivida
no lugar onde nos encontramos. E foi nessa perspectiva de experimentar di‡logos e
interpreta•›es entre McLuhan e autores contempor‰neos E outros nem tanto, mas nem por
isso menos importantes ˆ reflex‹o aqui proposta E, que procurei tecer este texto, num tear que
urde uma trama de muitos fios e n—s, formados por pensamentos materializados pelas
palavras; afinando leituras e pensamentos, ora d’spares, ora pr—ximos, procuro trazer ˆ luz um
exame sobre a institui•‹o escolar frente aos desafios que lhe s‹o impostos pelos avan•os das
tecnologias de informa•‹o e de comunica•‹o. N‹o s— isso, mas tambŽm pelas mudan•as
pol’tico-sociais-culturais que estas tecnologias provocam na sociabilidade humana e que, por
esse motivo, atravessam os muros da escola, da mesma maneira e com a mesma velocidade
como atravessam os demais espa•os onde atuamos e que tambŽm se constituem naturalmente
pedag—gicos.
O que se observa Ž que, se a hegemonia da escola como a œnica, a soberana
transmissora de cultura j era contestada por movimentos organizados na sociedade civil,
atravŽs de institui•›es de educa•‹o n‹o formal como sindicatos de trabalhadores e partidos
pol’ticos desde o sŽculo XIX, diante da prolifera•‹o das fontes de informa•‹o e dos meios de
comunica•‹o, cada vez mais acelerados pelas novas tecnologias e descobertas cient’ficas a
partir do sŽculo XX, rompeu-se em definitivo a supremacia da escola como o œnico lugar de
legitima•‹o do saber, como explicita McLuhan em Cinco dedos soberanos dificultam a
respira•‹oY#9g,(-L,*'#@"=*L,%5#h#@*%'(#!(#*;='(!(.#4"5#;*,#(?('*-D"#!*#=*-*<%;>".#X"')(-#*#
revista, Ž t‹o cosmopolita quanto Nova York ou Paris. (...) A metr—pole, hoje em dia, Ž uma
;(-(# !*#(,-(B#[IiT/j:0.#]^k](.# ?M#ab`cM#d*#G(="#<%<*5";# ),5(#;"4%*!(!*# 4('(4=*'%Wada
16
pela espantosa velocidade com que se produzem e se consomem dados, se constr—i e se
renova o conhecimento. Velocidade, rapidez, urg•ncia! Estas parecem ser as palavras-chave
!(# 9*'(# *-*='N)%4(B.# !*;=(# ;"4%*!(!*# !"# *;?*=f4,-"# *# !*# *;?(Z"# *# =*5?"# 4(!(# <*z mais
comprimidos, que amplia a fragmenta•‹o da realidade e impede o reconhecimento do todo,
nos obrigando a re-elaborar o conhecimento, de forma socializada, coletiva e cooperativa,
cada qual falando e agindo do seu lugar.
ƒ nesse eixo que as discuss›es desta disserta•‹o gravitam. O problema que levanto
como foco de debate diz respeito a qual Ž a import‰ncia que os multimeios e a tecnologia
(;;,5*5# )(# 9*'(# *-*='N)%4(B.# @*5# 4"5"# !*# L,*# G"'5(# "4"''*# (# 5*!%(Z>"# *)='*# *;4"-(# *#
multimeios, n‹o s— na busca de uma parceria entre os campos da educa•‹o e da comunica•‹o,
mas, primordialmente, como m’dia e educa•‹o podem se complementar numa poss’vel
simbiose inter e transdisciplinar, de forma a construir coletivamente o conhecimento.
Este texto procura clarificar, ainda, que saber, forma•‹o e sociabilidade n‹o s‹o
produtos descart‡veis e, portanto, n‹o devem estar subordinados, escravizados ˆ r‡pida
evolu•‹o tecnol—gica, na medida em que esta velocidade acaba por tornar obsoleto o
conhecimento direcionado apenas aos aspectos tŽcnico-operativos, ou seja, aquele do tipo
?('(# "# L,(-# (# )"<%!(!*# !"# 9D"X*B.# (5()D># ;*'f# <*-D(M# :"# 4")='f'%".# saber, forma•‹o e
sociabilidade, por estarem fixados na ordem do pol’tico, t•m de ser tratados como tal. Por
outro lado, este estudo busca explicitar que, nesta nova cartografia que repaginou, que
redefiniu a sociedade, jn‹o Ž mais poss’vel ignorar os meios, as tecnologias e as mudan•as
que elas implicam E para o bem ou para o mal E em qualquer esfera, inclusive, e em especial,
na institui•‹o escolar.
Diante do exposto, reitero que a proposta deste estudo, essencialmente, procura trazer
ao debate, da obra de McLuhan, temas que se encontram muito presentes hoje nesta aldeia
global, entre eles o da sociedade da informa•‹o e o partilhamento do saber e do poder atravŽs
da institui•‹o escolar e dos meios de informa•‹o/comunica•‹o. A discuss‹o desses assuntos
na disserta•‹o privilegia quest›es como o que Ž educa•‹o e o que Ž comunica•‹o; qual a
rela•‹o entre escola e m’dia; como a institui•‹o escolar em geral (e as atividades nela
empreendidas) Ž afetada e como ela reage/interage diante da inevit‡vel invas‹o dos
multimeios dentro dos muros da escola.
17
A metodologia empregada neste estudo se constitui em uma revis‹o bibliogr‡fica dos
principais escritos de McLuhan, de textos dos seus comentadores mais representativos, bem
como de alguns autores que procuram desvelar quest›es pertinentes ˆ educa•‹o e ˆ escola,
enquanto institui•‹o historicamente constru’da e arquitetada como a ju’za que partilha poder e
saber na sociedade. Essa metodologia foi sendo estruturada a partir da leitura dos textos
cl‡ssicos de McLuhan, bem como de outros te—ricos que foram chegando e se agregando ao
trabalho, de forma a criar um conjunto de pensadores que, com seus aportes filos—fico-
te—ricos, permitiram compreender de maneira mais l’mpida a inter e a transdisciplinaridade
que parece ser inevit‡vel entre a educa•‹o e a comunica•‹o.
l'*;?(;;(!"# ?"'# (-7,5(;# -*%=,'(;# !*# I%4D*-# m",4(,-=.# ?'"4,'*%# 9G(W*'# G(-('B# (-7,);#
documentos oficiais no que tange ˆ restrita quest‹o da escola e ao uso dos meios e tecnologias
no cotidiano da aprendizagem. Os documentos a que me refiro s‹o a Lei de Diretrizes e Bases
(LDB) e os Par‰metros Curriculares Nacionais (PCNs). Alguns relat—rios mais espec’ficos do
MEC e seus —rg‹os consultivos, sobre a performance do fazer e do saber pedag—gico no pa’s,
contribu’ram, sobremaneira, para articular a discuss‹o em que se constitui o micro-recorte
deste trabalho: a educa•‹o contempor‰nea e a apropria•‹o dos meios e tecnologias de
informa•‹o/comunica•‹o, como aporte e suporte da aprendizagem, nas formas como
McLuhan defende.
Desta metodologia, constru’da e reconstru’da cotidianamente, considero importante
destacar dois aspectos: o primeiro foi usar as tecnologias de informa•‹o/comunica•‹o E
essencialmente a internet E para localizar e acessar textos arquivados nas bibliotecas virtuais,
e, o segundo, ter exposto o corpus desta pesquisa atravŽs de artigos e papers, durante eventos
cient’ficos. As valiosas interlocu•›es propiciadas nesses encontros foram fundamentais para
enriquecer a abordagem de alguns aspectos que esta disserta•‹o contempla, dentre eles, que
este campo ainda novo do conhecimento e interven•‹o social, e que atende pelo nome
educomunica•‹o
2
, pela caracter’stica h’brida e mesti•a que tem assumido por meio do
2
O termo educomunicao Ž um neologismo criado e empregado na dŽcada de 1960 pelo pesquisador uruguaio
Mrio Kaplœn para designar a inter-relao entre os campos da educao e da comunicao. Em 1979, de acordo
com pesquisadores do Aire Comunicacin, a UNESCO assume a te'5%)"-"7%(#*#4")4-,%#L,*#9(#*!,4"5,)%4(Z>"#
(educao em maria de comunicao) inclui todas as formas de estudar, aprender e ensinar, em todos os nveis
e em todas as circunstncias, a histria, a criao, a utilizao e a evoluo dos meios de comunicao como
artes praticas e tŽcnicas, assim como o lugar que ocupam os meios de comunicao na sociedade, sua
'*?*'4,;;>"#;"4%(-.#(;#4");*LP8)4%(;#!(#4"5,)%4(Z>"#5%!%f=%4(.#(#?('=%4%?(Z>".#(#5"!%G%4(Z>"#L,*#?'"!,W*5#*5#
forma de perceber, o papel do trabalho cr%(!"'# *# "# (4*;;"# (";# 5*%";# !*# 4"5,)%4(Z>"BM# In: QuŽ es la
educomunicacin. Dispon’vel em: < http://www.airecomun.com/educo.htm>. Acesso em: 20 jun. 2006.
18
discurso de alguns te—ricos, merece (e carece de) muitas reflex›es, teoriza•›es e
sistematiza•›es, seja na universidade, seja nas escolas e/ou nos organismos encarregados de
promover/desenvolver as diretrizes e pol’ticas educacionais.
O resultado parcial destes estudos, mais do que saciar uma curiosidade pessoal E
portanto desejo instalado no campo do privado, pois a pesquisa tambŽm denota uma
atualiza•‹o profissional E, igualmente tem o carter pœblico acad•mico, ˆ medida que
socializa as reflex›es e interpreta•›es aqui expostas. Para dar conta desta empresa, desenvolvi
dois cap’tulos. No primeiro, Aforismos e Met‡foras em McLuhan, recupero n‹o s— quest›es e
4")4*%=";#-%)7PQ;=%4";#?('(#*)=*)!*'#='"?";#!*#-%)7,(7*5#4"5"#9(-!*%(#7-"@(-B.#9"#5*%"#R#(#
5*);(7*5B.#9*;4"-(#4-(,;='"B.#*)='*#=()=";#",='";#?'*;*)=*;#)"#!%;4,';"#54-,D()%()".#4"5"#
tambŽm os interpreto com vistas a encontrar um melhor entendimento de como essas
enuncia•›es se inscrevem E na maioria das vezes de forma subliminar sem que possamos nos
dar conta delas E no ‰mbito da educa•‹o. Estas figuras discursivas presentes na obra de
Marshall McLuhan quando desveladas podem se constituir num aporte significativo para
compreender a institui•‹o escolar e, a partir delas, enfrentar os desafios e mudan•as
necess‡rias ˆ escola que se pretende inscrita na sociedade da informa•‹o. AlŽm disso, esta
primeira parte do texto aborda as cr’ticas que McLuhan faz ˆ escola contempor‰nea, a qual,
segundo ele, formata sujeitos para atender a demandas de mercados, e n‹o promove a
emancipa•‹o do homem. O final do cap’tulo Ž iluminado com algumas sondagens de
McLuhan, apontando possibilidades para a escola deixar de ser um claustro e se tornar
efetivamente uma escola-mundo, sem fronteiras, sem barreiras.
O segundo cap’tulo, McLuhan e a Educomunica•‹o na Aldeia Global, procura
enfatizar que McLuhan, embora n‹o tenha teorizado explicitamente sobre o emergente campo
da educomunica•‹o, teria sido um dos protagonistas em reclamar uma institui•‹o escolar
capaz de voltar seus olhos ˆs mudan•as sociais, pol’ticas e culturais introduzidas pelos meios
de comunica•‹o e, ao invŽs de demoniz‡-los, criar com eles uma alian•a que resulte n‹o numa
formata•‹o de sujeitos, mas que, deste pacto, a escola consiga gerar indiv’duos
comprometidos com a sociedade em que atuam. Diante da hip—tese levantada, procuro
!*5");='('.#*)=>".#L,*#I4T,D().#("#*;4'*<*'#L,*#9(;#*;4"-(;#n?'"X*=(!(;o#4"5"#e()=%-5*%";U#
com o fito de desenvolver a percep•‹o e o discernimento da palavra impressa, [n‹o est‹o
munidas] de nenhuma forma de ensino a fim de desenvolver uma percep•‹o e um
!%;4*')%5*)="# ;%5%-('*;# !*# L,(%;L,*'# !";# )"<";# (5@%*)=*;# 4'%(!";# ?*-"# 4%'4,%="# *-R='%4"B#
19
(MCLUHAN, 1975, p. 248), ilumina, mesmo que de forma n‹o sistematizada, duas vertentes
em que se constituem os pilares da educomunica•‹o: o ensinar com os meios e o ensinar pelos
meios de comunica•‹o. O segundo cap’tulo, em sua œltima se•‹o, afina leituras de outros
autores, com o objetivo de, ancorado em teorias sobre o uso da mdia na escola, conceituar
educomunica•‹o e, do di‡logo travado com estes pensadores, apontar para possibilidades de a
institui•‹o escolar, ao invŽs de manter marginalizados os multimeios, empreg‡-los para
educar com, para e pelos meios o cidad‹o planet‡rio, efetivando desta maneira a forma•‹o de
sujeitos originais, insubstitu’veis, pesquisadores, cr’ticos, solid‡rios e respeitosos para com as
diferen•as individuais e culturais. Este homem que McLuhan identifica como retribalizado,
isto Ž, efetivamente comprometido e envolvido com os demais pares que habitam a
plural’ssima aldeia global.
!#$)25,6026#(#0(7È)25$6#(0#0&/8+$1
³./! 0+//%1/! 2$341/! 35+6! 3+(416+(4+! 0%*#$+! 0*%)16! 1/!
dimens›es e os sabores completos das palavras e frases. Se
esfor•am para captar a totalidade e n‹o a linearidade; s‹o
conscientes de que as palavras sobre as folhas t•m que ser
decantadas com extrema habilidade. Se enganam aqueles que
L617&(16!#$+!35+6!/%6+(4+!0+3%!82%(4+9:%;-<!
(Herbert Marshall McLuhan)
Sondar, prospectar. Estes dois verbos, transportados semanticamente para a forma dos
substantivos sondagem e prospec•‹o, s‹o recorrentes na obra de Marshall McLuhan, e
revelam a forma como ele desenvolveu seus estudos acerca das rela•›es e impactos dos meios
de comunica•‹o na sociedade contempor‰nea. O autor faz quest‹o de afirmar que suas
pesquisas, seus escritos, suas investiga•›es, seu pensamento baseiam-se em sondas de
prospec•‹o, como as enviadas ao espa•o sideral, ressalvando sempre que seu trabalho n‹o tem
necessariamente um compromisso com conclus›es e/ou provas cient’ficas. Diz ele que a
maioria dos seus estudos tem uma similaridade com o arrombamento de uma caixa forte, de
,5#4"G'*M#90"#%)Q4%"#)>"#;*%#"#L,*#*6%;=*#!*)='"M#+%5?lesmente me coloco frente ao problema
e come•o a trabalhar. Tateio, sondo, escuto, provo, atŽ que os cadeados cedam e eu possa
*)='('B#[IiT/j:0#apud GORDON, 1997, p. 46).
Este cap’tulo tambŽm assume a caracter’stica de uma sondagem, de uma prospec•‹o
na obra de McLuhan; isto Ž, tatear nos escritos mcluhanianos seus principais temas sobre a
escola e a educa•‹o, de maneira interpolada com a comunica•‹o. Entender McLuhan e seus
escritos pressup›e, no meu ponto de vista, n‹o desloc‡-lo do lugar de onde ele fala, de onde
ele enuncia: o de professor de literatura e admirador dos artistas e de suas multifacetadas
formas de express‹o e de linguagens. Assim, ao extrair das/nas palavras princ’pios ativos para
iluminar seu pensamento, ao que parece, McLuhan adota uma estratŽgia n‹o s para
comunicar suas percep•›es do mundo, mas, principalmente, como recurso vital para expressar
suas reflex›es, e nos convidar de forma desafiadora a compreend•-las, uma vez que ele
entende que:
21
As palavras s‹o uma espŽcie de recupera•‹o da informa•‹o que pode
abranger, a alta velocidade, a totalidade do ambiente e da experi•ncia. (...)
s‹o sistemas complexos de met‡foras e s’mbolos que traduzem a experi•ncia
para os nossos sentidos manifestos ou exteriorizados. Elas constituem uma
tecnologia da explicita‹o. AtravŽs da tradu•‹o da experi•ncia sens—ria
imediata em smbolos vocais, a totalidade do mundo pode ser evocada e
recuperada, a qualquer momento (MCLUHAN, 2003, p. 77).
Compreender este autor, a partir da sua historicidade, Ž realizar um mergulho, uma
%)<(;>"#)"#95*%"B#-%<'"#*.#4"5"#,5#4(Z(!"'.#,5#!*=*=%<*.#,5#*6?-"'(!"'#!%()=*#!";#4(!*(!";#
arrombados, tentar decifrar os enigmas de seus enunciados metaf—ricos e afor’sticos
apresentados em uma peculiar forma de escrita mosaico, sem linearidade, sem
;*LP*)4%(-%!(!*.#?"'R5#?-*)(#!*#%!R%(;#*#%);=%7()=*;#?'"<"4(ZO*;M#i"5?'**)!*'#I4T,D()#5*#
leva a recuperar, no mnimo, algumas conceitua•›es de aforismo e de met‡fora para, ent‹o,
precisar como, ao longo deste trabalho, essas duas no•›es s‹o entendidas.
Da PoŽtica de Arist—teles (1979), retiro a defini•‹o de met‡fora#4"5"#(#9='();G*'8)4%(#
de uma palavra que pertence a outra coisa, ou do g•nero para a espŽcie ou da espŽcie para o
78)*'"#",# !*# ,5(# *;?R4%*#?('(# ",='(#?"'#()(-"7%(B#[]^k^.# ?M#a`pcM O fil—sofo tambŽm nos
ensina, e adverte (p. 267) que, quando um voc‡bulo parece ter sentidos contradit—rios faz-se
necess‡rio examinar quantos e, se poss’vel, todos os sentidos que ele pode carregar na sua
enuncia•‹o. De Eco (1991, p. 191), trago a no•‹o mais alargada desta pondera•‹o aristotŽlica,
",# ;*X(.# L,*# (# 5*=fG"'(# '*;,-=(# 9!"# G"'5(="# ;"4%"4,-=,'(-# !(# *)4%4-"?R!%(# !";# ;,X*%=";#
%)=*'?'*=()=*;B.#%;="#R.#L,*#9(#5*=fG"'(#)>"# R#;K#,5#%);=',5*)="#!*#!*-*%=*.#5(;#=(5@R5#*.#
sobretudo, instrumento do conheci5*)="B#[?M#]`]c.#)(#5*!%!(#*5#L,*#9="!(#(#?(-(<'(#(@'*-se
;*5?'*#?('(#,5#;*)=%!"#;*7,)!"#?"'L,*#4"5?"'=(#),5*'";(;#4")"=(ZO*;B#[?M#ap^cM#d%="#!*#
",='(#G"'5(.#(#?('=%'#!*#l'(;q#[appb.#?M#]^]c#*#@(;*(!"#)(#-%)7PQ;=%4(#4"7)%=%<(.#9(;#5*=fG"'(;#
condicionam um amplo leque de express›es e parecem estar relacionadas ˆ maneira como
?*'4*@*5";#"#5,)!"BM#J,#;*X(.#*;=*;#='"?";#!*#-%)7,(7*5#4"''"@"'(5#(#4"5?'**);>"#!*#L,*#
a l’ngua Ž viva, uma conven•‹o constru’da e constantemente reconstru’da pelos homens a
partir de suas experiencia›es socioculturais.
C"'#G%5.#(?'**)!"#!"# ?'K?'%"#I4T,D()# (#!*G%)%Z>"# !*#5*=fG"'(#4"5"#9,5(#=R4)%4(#
para apresentar uma situa•‹o em termos de outra situa•‹o. Ou seja, uma tŽcnica de
4")D*4%5*)=".#!*#?*'4*?Z>"#[MMMc#*#)>"#!*#4")4*%=";B#[IiT/HAN, 1996, p. 43)
3
.
3
Traduo livre do autor desta dissertao, assim como todas as demais que aparecem ao longo deste texto e que
foram extra’das de obras no traduzidas para o portugus.
22
O termo aforismo, da forma como o emprego, adota "#4('f=*'#!*#9?'"?";%Z>"#L,*.#!*#
5()*%'(# ;,4%)=(.# *6?'%5*# ,5(# [MMMc# '*7'(# ",# ,5(# 5f6%5(# 4")4*')*)=*# h# <%!(# ?'f=%4(B#
(ABBAGNANO, 2003, p. 21), ou seja, como um recurso de figura discursiva com fortes
liga•›es ˆs formas de se perceber o mundo e, tambŽm, como contribui•‹o ˆ expressividade da
5*);(7*5M# i")G"'5*# i*%(# [apprc.# ,5# (G"'%;5".# (-R5# !*# 4(''*7('# ,5# 9;*)=%!"# G%7,'(!"#*#
grande expressividade estil’stica (...), propicia uma grande condensa•‹o de potencialidades
significativas, apresentando assim um c—digo de prescri•›es sociais para a interpreta•‹o da
'*(-%!(!*BM
ConvŽm lembrar que tanto poetas quanto fil—sofos lan•am m‹o desse estilo de
linguagem, como que para realizar um jogo entre o enunciador e o interpretante, com vistas a
n‹o transformar este embate num processo de f‡cil deciframento, mas, principalmente, como
um mecanismo de possibilidades de interpreta•›es poss’veis do discurso, do texto. Assim
como McLuhan, Nietzsche Ž conhecido como um refinado aforista e, dele, tambŽm tomo
4"5"#'*G*'*)4%(-#"#5"!"#!*#='(@(-D('#*#*)=*)!*'#"#(G"'%;5"#)*;=*#4(?Q=,-"Y#9/5#(G"'%;5"#;*#
[MMMc#@*5#4,)D(!"#*#G,)!%!".#)>"#G%4(#-"7"#e!*4%G'(!"U#?*-"#G(="#!*#;*'#-%!"S#("#4")='f'%".#*)=>"#
Ž quando deve come•ar sua interpreta•‹o e, para realiz-la necessita-se uma arte da
%)=*'?'*=(Z>"MMMB#[01\ls+ij\.#appb.#?M#]bcM
No pref‡cio de McLuhan, escritos esenciales, Eric McLuhan (1998, p. 16) escreve que
seu pai aprecia os aforismos de Francis Bacon e com ele compar=%-D(# (# %!R%(# !*# L,*# 9"#
4")D*4%5*)="# *5# (G"'%;5";# *# "@;*'<(ZO*;# [?*'4*?ZO*;tcMMM# R# 4'*;4%5*)="BM# d%="# *5#",='";#
=*'5";Y#I4T,D()#*)=*)!*#L,*#9(#!*G%)%Z>"#!(!(#5*!%()=*#4")4*%=";#5%)%5%W(#(#="=(-%!(!*#!"#
conhecimento (...) e que na totalidade de percep•›es pode-se explicar a modifica•‹o
?*'5()*)=*#*#(#'*4,;(#(";#4")4*%=";#n!(!";#4"5"#<*'!(!*;#4%*)=QG%4(;oBM
2,-7"# %5?"'=()=*# '*4,?*'('# *;=*;# 4")4*%=";# -%)7PQ;=%4";# ?('(.# (# ?('=%'# !*-*;.# *# )*-*;#
respaldado, adentrar no mosaico narrativo em que se constitui a obra mcluhaniana, dela
*6='(%)!"# 5%)D(;# ?*'4*?ZO*;.# 5%)D(;# %)=*'?'*=(ZO*;# ;"@'*# 9(-!*%(# 7-"@(-B.# 9"# 5*%"# R# (#
5*);(7*5B.#95*%";#L,*)=*;#*#5*%";#G'%";B.#9=R='(!(;#5%!%f=%4(;B.#9*;4"-(#4-(,;='"B.#9*;4"-(#
?-()*=(B.# *)='*# =()=(;# ",='(;# 5*=fG"'(;# *# (G"'%;5";# L,*# ;* tornaram parceiros desta minha
escrita, desta minha sondagem e prospec•‹o. Creio que ao provar as dimens›es e numerosos
sabores das palavras e das frases lan•adas por McLuhan sobre as folhas, foi poss’vel exercitar
23
a interpreta•‹o, como uma arte de muitos vieses, acerca do pensamento comunicacional e
educacional em Herbert Marshall McLuhan. Aos leitores, tambŽm apresento como proposta
este mesmo exerc’cio: sondar, prospectar, degustar, interpretar...
!;<#$/'(®(6#(/(75Ð1,&26#(#3/$1(7È5,26
A popular met‡f"'(#9:-!*%(#&-"@(-B.#4,)D(!(#)(#!R4(!(#!*#]^`p#?"'#I4T,D().#="5(#
4"5"#()(-"7%(#(;#*;=',=,'(;#;"4%"?"-Q=%4(;#!*#4"5,)%4(Z>"#*#*!,4(Z>"#='%@(%;#!(#:)=%7P%!(!*.#
quando o homem vivia no espa•o acœstico da oralidade e n‹o no euclidiano
4
da linearidade
proporcionado pela escrita, pelo alfabeto fonŽtico. Estes grupamentos inscreviam o indiv’duo
em espa•os e fronteiras geogr‡ficas determinadas, constituindo-o enquanto identidade em
uma l’ngua, cultura e religi‹o comuns, cabendo ˆs antigas gera•›es a tarefa de transmitir
(educar) aos mais jovens toda uma tradi•‹o de forma oral ou por observa•‹o e imita•‹o. Ao
alargar a no•‹o deste tribalismo, no qual aldeia global pode ser lida e entendida como a
reconfigura•‹o das sociedades modernas a partir da intensa utiliza•‹o e apropria•‹o pelos
sujeitos das novas tecnologias informacionais e comunicacionais, McLuhan (1969a) defende
que os meios de comunica•‹o, especialmente os mass-media, retribalizam os indiv’duos,
encurtando dist‰ncias geogr‡ficas e culturais, de forma que o espa•o-tempo cronol—gico
5
7()D(#,5(#)"<(#-*%=,'(#*#!%5*);>"M#9J#)";;"#5,)!"#R#)"<".#"#!"#=,!"-agora. Vivemos (...)
),5#(4")=*4*'#;%5,-=u)*"B
6
(1969a, p. 91).
4
O espao euclidiano a que McLuhan se refere tem por base os postulados do gemetra Euclides, e se constitui
num espao imutvel, simŽtrico e geomŽtrico. A idŽia de espao acœstico Ž explicitada no artigo O Efeito do
Livro Impresso na Linguagem do SŽculo XVI (In: Revoluo na Comunicao, p. 154), no qual McLuhan faz
,5(#()(-"7%(#4"5#"#*;?(Z"#<%;,(-M#d%W#*-*#L,*#9"#*;?(Z"#<%;,(-#?"'#;%#;K, seria plano; mas o espao acœstico Ž
sempre esfŽrico, um campo no visualizvel de relaes simultneas. Contudo, s Ž uma esfera em sua dinmica
<%<(.#?"%;#)>"#*;=f#4")=%!"#*5#4"%;(#(-7,5(#*#)(!(#4")=R5M#0>"#?";;,%#D"'%W")=*;BM#0"#-%<'"#La Aldea Global,
?M#]r.#"#(,="'#4-('%G%4(#;*,#?*);(5*)="#("#(G%'5('#L,*#9"#*;?(Z"#(4v;=%4"#*;=f#@(;*(!"#)(#%!R%(#!*#L,*#)>"#Df#,5#
4*)='"#4('!%)(-.#5(;#<f'%";#4*)='";#G-,=,()!"#*5#,5#;%;=*5(#4K;5%4"#L,*#;K#*6(-=(#(#!%<*';%!(!*BM
5
A concepo de espao-tempo expressa por McLuhan tem o sentido de fragmentao, separao. Sua origem
=*'%(.# 4"5"# %);?%'(Z>".# (# ?'*);(# !*# =%?";# 5K<*%;Y# 9:# ,)%G"'5%!(!*# *# '*?*=%@%-%!(!*# !( imprensa introduziu no
Renascimento a idŽia de um tempo e de um espao entendidos como quantidades cont’nuas mensurveis. O
efeito imediato desta idŽia foi o de dessacralizar o mundo da natureza e o mundo do poder. A nova tŽcnica de
controle dos processos fsicos mediante a fragmentao e a segmentao separou Deus da Natureza, o Homem
da Natureza e o Homem do Hom*5BM#[IiT/j:0.#appw.#?M#ap]cM
6
Este tudo-agora, esta simultaneidade de que McLuhan fala, altera a noo de espao geogrfico e,
principalmente, do tempo cronolgico, criando um tempo virtual. Neste sentido, Castells ajuda no s— a entender
o que McLuhan aG%'5(.# 5(;.# ?'%)4%?(-5*)=*.# !*# 4"5"# ;*# !f# (# )"<(# 4")G%7,'(Z>"# !(# ;"4%*!(!*Y# 9\!,4(Z>"#
escolar, entretenimento na mdia, notici‡rios especiais ou publicidade organizam a temporalidade do melhor
modo, para que o efeito geral seja um tempo no-;*LP*)4%(-# !";# produtos culturais disponveis em todo o
dom’nio da experi•ncia humana. Se as enciclopŽdias organizaram o conhecimento humano por ordem alfabŽtica,
a m’dia eletrnica fornece acesso ˆ informao, expresso e percepo de acordo com os impulsos do
consumidor ou decises do produtor. (...) toda a organizao dos eventos significativos perde seu ritmo
24
Diz ele que o crescimento, a sofistica•‹o e a velocidade desses novos meios de
comunica•‹o levam o homem a viver/conviver numa aldeia agora planet‡ria, na qual nos
obrigamos a acelerar a substitui•‹o de um conhecimento por outro mais recente, uma vez que
9="!";# ";# G(="'*;# (5@%*)=(%;# *# !*# *6?*'%8)4%(# 4"*6%;=*5# ),5# *;=(!"# !*# (=%<(# %)=*'(Z>"BM#
(MCLUHAN, 1969a, p.91).
Os meios eletr™nicos de comunica•‹o do homem p—s-letrado contraem
o mundo, reduzindo-o ˆs propor•›es de uma aldeia ou tribo onde tudo
acontece a toda gente ao mesmo tempo: todos est‹o a par de E e, portanto,
participam em E tudo o que est‡ acontecendo, no minuto em que acontece. A
televis‹o [internet e outros multimeios] d essa qualidade de simultaneidade
aos eventos na aldeia global (MCLUHAN, 1971a, p. 16). [Interpola•›es
minhas]
Assim, pelo que estou entendendo, McLuhan desloca os papŽis sociais anteriormente
desempenhados pelo chefe primitivo, a quem cabia a media•‹o do conhecimento com seus
pares, sendo substitu’do por uma teia de fios e fluxos formada pela imprensa, pelo r‡dio, pela
televis‹o, pelos satŽlites, pela internet, pela telefonia, todos ligados/atravessados em grandes e
velozes redes. Desta forma, a esses meios e aparatos tecnol—gicos de comunica•‹o Ž legado,
na modernidade, o papel de mediar, informar, formar e formatar, n‹o mais exclusivamente
pela oralidade, mas pela escrita, pelas imagens, pelas mensagens subliminares, de modo que
as barreiras existentes no passado tribal ca’ssem uma a uma, originando um homem
planet‡rio, sem fronteiras, sem barreiras, sem pertencimentos definitivos.
Nesta era eletr™nica
7
, segundo a tese de McLuhan (1969a; 1971a; 2005), as cidades e
os Estados deixam de ser um aglomerado de bens imobili‡rios, de redes de transportes e de
4'")"-K7%4"# %)=*')"# *# G%4(# "'7()%W(!(# *5# ;*LP8)4%(;# =*5?"'(%;# 4")!%4%")(!(;# ("# 4")=*6="# ;"4%(-# !*# ;,(#
,=%-%W(Z>"B#[i:+l\TT+.#]^^^.#?M#b_kcM
7
McLuhan dividiu a histria da humanidade em trs galxias ou eras: a tribal ou a do homem prŽ-letrado; a de
Gutenberg que tem in’cio com o descobrimento do alfabeto fonŽtico, o qual propicia a inveno da imprensa e,
na sua esteira, a predominncia do sentido visual sobre os demais sentidos humanos, originando assim uma
linearidade, fragmentao e isolamento dos indiv’duos; e a era etrica/eletrnica que possibilitaria, atravŽs do
surgimento dos meios de comunicao, uma reunificao dos homens numa espŽcie de aldeia universal. Essa
G"'5,-(Z>"#!*#D%;=K'%(#'*4*@*#;*<*'(;#4'Q=%4(;.# *)='*#(;#L,(%;#!*;=(4(5";#(#!*#I"'%)#[]^ka.#?M#b]cY#9+"@#<f'%";#
aspectos, o pensamento de McLuhan aparece como uma ideologia euforizante, inclusive como um pensamento
selvagem que visa integrar o fenmeno dos meios de comunicao de massa ao homem sobre a base de um jogo
de oposies mais ou menos pertinentes (impresso-circuito elŽtrico) e de uma sistemtica reduo ao par
sensorial-tecnolgico. Essa antropo-histria do homem, inicialmente tribal-oral, depois gutenberguiana e, em
;*7,%!(#*-*='N)%4(.#*;4(5"=*%(#=()="#(#*4")"5%(#L,()="#(#;"4%"-"7%(#*#(#?;%L,*BM#C('(#m%)q*-;=*%)#[]^`^.#?M#wwc.#
(?")=(!"# 4"5"# ,5# !";# 5(%;# G"'=*;# 4'Q=%4";# h;# 4")4*?ZO*;# 54-,D()%()(;.# 9(# D%;=K'%(# !*# I4T,D()# %);%;=*# L,*#
todas as mudanas histrico-sociais ocorreram atravŽs da magia, da atuao da comunicao alterando o meio. A
25
servi•os, para se consolidar como uma mega-p—lis de informa•‹o, capaz de unir povos e
culturas em uma aut•ntica vila œnica, planet‡ria, permitindo assim ao homem tornar-se
ecum•nico, no sentido grego oikoumenik—s
8
.
A velocidade elŽtrica, aglutinando todas as fun•›es sociais e pol’ticas
numa sœbita implos‹o, elevou a consci•ncia humana de responsabilidade a
um grau dos mais intensos. ƒ este fator implosivo que altera a posi•‹o do
negro, do adolescente e de outros grupos. Eles j‡ n‹o podem ser contidos, no
sentido pol’tico de associa•‹o limitada. Eles agora s‹o envolvidos em nossas
vidas, como n—s na deles E graas aos meios elŽtricos (MCLUHAN, 2003, p.
19). [Grifos do autor].
Ao tematizar sobre as profundas altera•›es e impactos que esta aldeia global traz aos
D"5*);.#I4T,D()#(-*'=(#L,*#9?'*4%;(5";#*;=('#?'*?('(!";#?('(#<*'#"#G%5#!*#="!";#";#)";;";#
velhos conceitos da pessoa p'%<(!(#*5#'*-(Z>"#("#\;=(!"#*#h#;"4%*!(!*B#[IiT/j:0.#appr.#
p. 49) uma vez que a sociedade contempor‰nea, sobrecarregada de informa•›es instant‰neas e
cont’nuas, ao dar conta das preocupa•›es dos outros seres humanos e, por isso, exigindo uma
participa•‹o d*# ="!";# )(# 4");4%8)4%(# 4"-*=%<(# '*4");=%=,%,# 9"# !%f-"7"# *5# *;4(-(# 7-"@(-# [MMMc#
dando fim ao paroquialismo ps’quico, social, econ™mico e pol’tico. Os antigos grupamentos
c’vicos, estatais e nacionais tornaram-;*# %5?'(=%4f<*%;B.# *;4'*<*# I4T,D()# []^`^(.# ?M# bb).
Outro impacto, e aqui o autor trabalha numa perspectiva contr‡ria ˆ interpreta•‹o que se possa
ter desta aldeia como a Shangri-L descrita por James Hilton na sua novela "Horizontes
C*'!%!";B.# E ou seja, um para’so situado nas montanhas do Himalaia onde h panoramas
maravilhosos e onde o tempo parece deter-se em um ambiente de paz e de plena felicidade E
mas sim como um lugar que n‹o est‡ despido de conflitos entre as pessoas. McLuhan (2005,
p. 314) explicita a sua met‡fora no sentido strictu de um mundo#='%@(-#;*-<(7*5Y#9g,()!"#(;#
pessoas se juntam, tornam-se cada vez mais selvagens, (...) impacientes umas com as outras.
(...) A toler‰ncia dos homens Ž duramente testada nessas circunst‰ncias limitadas. (...) A
aldeia global Ž um ponto de contatos muito ‡'!,";.#!*#;%=,(ZO*;#5,%="#(@'(;%<(;BM
histria mcluhanista faz da tŽcnica a fora decisiva na mudana, com uma unilateralidade que de longe excede o
determinismo econmico exposto pelos piore;#<,-7('%W(!"'*;#!*#I('6BM
8
O termo oikoumeniks, aqui est empregado no sentido de universal, de toda a terra habitada e onde os homens
manifestam disposio ˆ convivncia e ao di‡logo com seus demais pares. Ecumnico deriva do verbo grego
oikew, que tem# (;# ;*7,%)=*;# ;%7)%G%4(ZO*;Y# 9=*'# (# ;,(# 5"'(!(S# ;*'# D(@%=()=*S# (7'*7('-se; administrar a morada;
*;=('# @*5# 4");%7"BM# C"!*# ;*'# *5?'*7(!".# =(5@R5.# 4"5"# 9=*''(# 4,-=%<(!(# )"# ;*)=%!"# !*# 4%<%-%W(Z>"# *# 4,-=,'(S#
assim como terra habitada por muitas pessoas; o glob"#=*''*;='*BM#nl'(!,Z>"#-%<'*#!*#C(,-"#$,!%#+4D)*%!*'.#4"5#
base no verbete da p. 481 do dicionrio Grosswšrterbuch, Altgriechisch-'+$4/2=>! ?(4+*! @+*A2B/&2=4&7$(7! :+*!
Etymologie, 28.ed., Berlim, 1994]
26
Em outro fragmento, McLuhan (1996) desvela que, para efetivamente se concretizar
sua utopia-ret—rica de homens planet‡rios, aut™nomos, diversificados e solid‡rios, exige-se
uma transforma•‹o total dos sujeitos, implicando, desta forma, mudan•as sœbitas de cultura,
!*# <(-"'*;#*# !*# (=%=,!*;Y# 9g,()!".# ?"'#*6*5?-".#)>"#;*#*;=(@*-*4*#)*)D,5(#4")!%Z>"#?('(#
dois pontos de vista totalmente diferentes, o resultado Ž a viol•ncia. Uma ou outra pessoa
?*'!*#(#;,(#%!*)=%!(!*B#[IiT/HAN, 1996, p. 15).
Pelos argumentos expostos, e conforme McLuhan nos leva a entender, essa vida
planet‡ria, instant‰nea, inclusiva e socializada em profundidade, demanda dos indiv’duos uma
constante media•‹o, uma vez que:
a aldeia global garante m‡ximo desacordo em todos os pontos. [maior
descontinuidade, divis‹o e diversidade]. Nunca me ocorreu pensar que os
(='%@,=";#!(#(-!*%(#7-"@(-#G";;*5#(#,)%G"'5%!(!*#*#(#='()LP%-%!(!*M#:#(-!*%(#
global tribal Ž uma fonte de conflitos e divis›es muito maior que qualquer
nacionalismo. A aldeia Ž fiss‹o e n‹o fus‹o, em profundidade. A aldeia n‹o Ž
o lugar onde haver paz e harmonia ideal. ƒ exatamente o oposto.
(MCLUHAN apud GORDON, 1998, p. 123). [Grifos e interpola›es
minhas].
A reflex‹o que o autor propicia parece ser paradoxal: na medida em que o advento da
aldeia global, com suas tecnologias e meios de comunica•‹o, possibilita ao homem uma
viv•ncia planet‡ria, sem fronteiras, isto Ž, permite voltar ao est‡gio do espa•o acœstico tribal,
agora com a troca de informa•›es pela oralidade instant‰nea e coletiva, em contrapartida, leva
o sujeito, nesta experi•ncia do tudo-agora, da dilui•‹o das fronteiras geogr‡ficas, a uma perda
de sua identidade
9
, colocando-o em uma situa•‹o de confronto; ao invŽs de tornar-se de fato
um cidad‹o do mundo e de usufruir desta cidadania planet‡ria para a sua emancipa•‹o, o
projeta para um estado de barb‡rie.
9
Embora o termo identidade#(?('*Z(#4"5#G'*LP8)4%(#)";#*;4'%=";#!*#I4T,D().#4"5"#)*;=*#G'(75*)=".#9,5(#!(;#
dificuldades peculiares do nosso tempo [era eletrnica] Ž que as pessoas, exatamente por se envolverem
profundamente umas com as outras e ao mesmo tempo numa corrente de acontecimentos simultneos, comeam
a perder seu senso de identidade privada, seu conceito pessoal, porque a identidade costumava estar ligada ˆ
;%5?-*;# 4-(;;%G%4(Z>".# h# G'(75*)=(Z>"# *# ("# )>"# *)<"-<%5*)="B# [IiT/j:0.# appr.# ?M# ]]`c.# "# (,="'# ),)4(# "#
explicitou claramente. Para um melhor entend%5*)=".# *# ?'*;;,?")!"# L,*# I4T,D()# ("# *),)4%('# 9%!*)=%!(!*#
?'%<(!(B# *;=f# ;*# '*G*'%)!"# (# ,5(# %!*)=%!(!*# %)!%<%!,(-.# v)%4(.# *;=",# ="5()!"# )*;=(# !%;;*'=(Z>"# "# 4")4*%="# !*#
identidade nos moldes como Serres o formula, qual seja: 9,5#;%;=*5(#!*# %!*)=%!(!*#R#%)<('iante por variaes.
Ele Ž flutuante: globalmente est‡vel, mas localmente varivel. Ele Ž invarivel por variao. (...) No me agrada
L,*#(;#?*;;"(;#G(-*5#*5#e%!*)=%!(!*#)(4%")(-U.#e%!*)=%!(!*#4,-=,'(-U.#*=4M#C"'#L,8t#C"'L,*#4")G,)!*5#%!*)=%!(!*#
com perte)4%5*)="M#[MMMc#1!*)=%!(!*#R#9:B#%!8)=%4"#(#9:BM#[MMMc#/5(#4"%;(#RY#:x:Y#",='(#4"%;(#RY#9:B#?*'=*)4*#("#
4")X,)="#9:BM#[MMMc#i")G,)!%'#?*'=*)4%5*)="#4"5#%!*)=%!(!*#R#(#?'K?'%(#!*G%)%Z>"#!*#'(4%;5"M#[MMMc#I(;#?"!*5";#
ir mais longe e dizer que [uma] identidade Ž a interseco de todos os [poss’veis] pertencimentos de um
%)!%<Q!,".#n",#;*X(o#L,()="#5(%;#?*'=*)4%5*)=";.#5(%;#(#%!*)=%!(!*#R#*)'%L,*4%!(B#[+\$$\+.#appp.#?M#]w^-140).
[com alteraes e interpolaes minhas].
27
Dito de outro modo: ao mesmo tempo em que o sujeito Ž inclu’do no processo de
globaliza•‹o
10
, verifica-se uma forma de exclus‹o que n‹o s— a econ™mica, mas,
principalmente, a exclus‹o identit‡ria e de pertencimentos. Com a globaliza•‹o, o fim dos
Estados-na•‹o, a queda das fronteiras, a dilui•‹o das identifica•›es culturais, pol’ticas,
sociais, surge no bojo destas transforma•›es, um novo fen™meno, que McLuhan procura
explicar em mais um de seus tropos enunciativos: o do olhar pelo espelho retrovisor, isto Ž, as
tentativas e lutas constantes que os sujeitos realizam de resgate do seu passado, de sua
D%;=K'%(.#!(#;,(#='(!%Z>"Y#9[MMMc#@"(#parte da perda de identidade Ž nostalgia. Por isso h‡ tanto
revival por a’, no vestu‡rio, na dan•a, na mœsica, nos espet‡culos, em tudo. Vivemos de
revivalsM# \-*;# )";# !%W*5# "# L,*# ;"5";# ",# G"5";B#[IiT/j:0.# appr.# ?M# w]_cM
11
[Grifos do
autor]
Tomando de Ortega y Gasset a no•‹o de homem massa, McLuhan, em uma entrevista
concedida a JofrŽ Berrios (2005), comenta, de maneira peculiar, como e por que ocorre esta
perda de identidade. Segundo McLuhan, ao vivermos neste mundo da simultaneidade,
promovida pelos e atravŽs dos meios, nos envolvemos totalmente com os demais cidad‹os de
10
Trabalho o termo globalizao, no exclusivamente como o processo que segundo alguns tericos teria
iniciado na segunda metade do sŽc. XX e que tem conduzido ˆ crescente integrao das economias e das
sociedades de vrios pases, em especial no que toca ˆ produo de mercadorias e servios, aos mercados
financeiros, e ˆ difuso de informaes. Utilizo essa terminologia como um conceito ampliado, ou seja, como os
processos baseados essencialmente nas redes e fluxos de informao, presentes na sociedade contempor‰nea,
com vistas no s a produzir capital/consumo, mas a moldar culturas e promover excluses sociais e pol’ticas.
Para isso lano mo da idŽia formulada por Armand Mattelart, em palestra proferida dia 29 de janeiro de 2002
durante o Frum Social Mundial realizado em Porto Alegre, onde ele (G%'5(#L,*#9(#7-"@(-%W(Z>"#4"5*Z",#4"5#(#
conquista das AmŽricas. Foi nesse momento que surgiu o processo de integrao mundial (...) quando a idŽia de
liberdade de troca, liberdade de comunicao, liberdade de comŽrcio, j se encontra inscrita na doutrina de
-*7%=%5(Z>"#!(#4")L,%;=(BM#0*;;*#;*)=%!"#<*X(.#(%)!(.#C(,-"#s('=D.#*5#('=%7"#?,@-%4(!"#)(#'*<%;=(#È7%*1 (p. 71),
no qual o autor trabalha conceitualmente as terminologias globalizao, mundializao e internacionalizao:
9I,)!%(-%W(Z>"# ;*'%(# ,5# ?'"4*;;o ligado ˆs descobertas geogrficas, resultante das grandes navegaes do
sŽculo XV e XVI. A internacionalizao seria um processo posterior, que trata das relaes entre as naes, da
criao de organismos supranacionais e supe a abertura das fronteiras nacionais, sem neg-las. A globalizao,
por sua vez, seria um resultado dos fenmenos anteriores e estaria ligada ˆ construo de uma identidade
planetria, negando as fronteiras nacionais e o velho nacionalismo. Mas, mesmo considerando a importncia dos
conceitos de mundializao e internacionalizao, est‡ claro que a globalizao Ž resultado de um fenmeno que
teve in’cio pelo menos desde o sŽculo XV, quando os europeus passaram a ocupar terras e estabelecer relaes
comerciais e culturais em todos os cantos do planeta, (...) passaram a conduzir a poltica econmica e
%)='"!,W%'(5#(#G*''"#*#(#G"7"#;,(#?'K?'%(#4,-=,'(Y#"#4'%;=%()%;5".#(;#-Q)7,(;#*,'"?R%(;.#;,(#4")4*?Z>"#!*#5,)!"BM#
11
A partir deste enunciado, chego a uma clarividncia maior que McLuhan trabalha a questo da identidade na
mesma perspectiva de Serres. Quando o autor afirma que vivemos de revivals, quero crer que ele est afirmando
que esta necessidade de buscar constantemente nos moldes do passado os nossos muitos pertencimentos que
deixamos# ;*# *;<(%'# )(# 'f?%!(# *# 4")=Q),(# ?('=%4%?(Z>"# !"# 9=,!"-(7"'(# !(# <%!(# ?-()*=f'%(B.# )"# *)<"-<%5*)="#
profundo dos homens e seus problemas, propiciado pelos meios e tecnologias de informao/comunicao da
sociedade moderna, os revivals nada mais seriam que um resgate de pertencimentos como parcelas que
complementam a identidade, na frmula enunciada por Serres: A=A + pertencimentos Ž igual a identidade do
sujeito, cf. apresento na nota 6.
28
G"'5(#%5*!%(=(.#9)";#G,)!%5";#,);#4"5#";#",='";#*#(#%!*)=%!(!*#?'%<(!(#!*;(?('*4*M#g,()!"#
)";#%)='"!,W*5#),5#@()4"#!*#!(!";.#)>"#;"5";#5(%;#)(!(.#(?*)(;#,5#)v5*'"BM#jf.#(%)!(.#
outros reflexos mais graves de acordo com o autor: na aldeia global, a privacidade Ž
*-%5%)(!(.#)>"#*6%;=*#*;?(Z"#?('(#(#%)!%<%!,(-%!(!*.#9?"'L,*#";#%)!%<Q!,";#;(@*5#!*5(%;#,);#
dos outros, deixando de existir assim um lugar onde se esconder. Por isso, hoje em dia o
negcio mais importante do mundo Ž a espionagem, pois, por raz›es de sobreviv•ncia, uma
?*;;"(#=*5#L,*#;(@*'#=,!"#;"@'*#(;#",='(;B#[IiT/j:0.#appbcM
Diante desta quest‹o, uma pergunta: estamos n—s, humanos, trilhando um caminho
rumo ˆ barb‡rie total? ƒ poss’vel que sim, se n‹o houver uma retomada da racionalidade com
vistas ˆ toler‰ncia e ao respeito ˆs diversidades. N‹o como um discurso ret—rico, mas como
uma pr‡tica social efetiva, desde que esta pr‡tica n‹o recorra aos nacionalismos totalit‡rios e
totalizant*;M#C('(#I4T,D().#9;*#*)=*)!*5";#(;#='();G"'5(ZO*;#'*<"-,4%")f'%(;#4(,;(!(;#?*-";#
novos meios poderemos antecip-las e control-las; porŽm se continuarmos em nosso transe
subliminal auto-%)!,W%!".#;*'*5";#;*,;#*;4'(<";MMMB#[IiT/j:0.#]^^_.#?M#a_`cM
Na confer•ncia intitulada CibernŽtica e cultura humana, McLuhan (2005) baliza os
efeitos da era eletr™nica e as formas como eles precisam ser entendidos. E destaco:
A cibernetiza•‹o, com efeito, significa um novo mundo de autonomia
e descentraliza•‹o nos neg—cios humanos. (...) esses novos padres parecem
amea•ar a pr—pria estrutura da identidade pessoal. Durante sŽculos definimos
a natureza do eu por separatividade e n‹o-participa•‹o, por exclusividade
em vez de inclusividade. (...) a era eletr™nica, ao criar o envolvimento
urgente de cada um de n—s com todas as pessoas, come•ou a repadronizar a
pr—pria natureza da identidade (MCLUHAN, 2005, p. 85-86). [Grifos meus].
Em 1973, na palestra Aldeia global e cultura impressa: as teses de McLuhan,
proferida a livreiros em Porto Alegre (RS), Marques de Melo (1998, p. 232) questiona as
efetivas condi•›es de a aldeia global se concretizar nos moldes sugeridos por McLuhan. Para
Marques de Melo, parece ser dif’cil falar em uma humanidade retribalizada pelos meios de
comunica•‹o quando se sabe que algumas regi›es do planeta nem sequer sa’ram de seu estado
tribal ou ainda se encontram limitadas a formas semitribais de produ•‹o e organiza•‹o. Ao
comparar o expansionismo da Igreja cat—lica em busca de um poder universal atravŽs do
internacionalismo do latim com a reunifica•‹o tribal por intermŽdio dos meios de
comunica•‹o e as m’dias eletr™nicas em especial, o te—rico v• na tese de McLuhan tentativas
29
!*#?(Q;*;#!*;*)<"-<%!";#*5#9;,@5*=*'#";#?"<";#D%;="'%4(5*)=*#(='(;(!";B#(#,5(#unifica•‹o e
homogeneiza•‹o cultural, destruindo assim as culturas nacionais e espec’ficas de cada povo
e/ou grupo Žtnico.
Entretanto, no livro Teoria da comunica•‹o: paradigmas latino-americanos (1998),
em que Marques de Melo reœne uma parte da sua reflex‹o acad•mica e de onde destaco para
esta discuss‹o o texto aqui citado, ele adverte que alguns ensaios certamente os reescreveria
sem lhes tirar a ess•ncia. Ao mant•-los como originalmente foram publicados, oferece um
panorama n‹o s— das suas teoriza•›es.#5(;.#?'%)4%?(-5*)=*.#!(;#9*<*)=,(%;#4")='(!%ZO*;#",#";#
4")='(;=*;# *)='*# ?")=";# *;?*4QG%4";B.# '*;,-=(!"# )>"# ;K# !(;# 95,!()Z(;y(=,(-%W(ZO*;#
?('(!%75f=%4(;B#(#L,*#G"'(5#;,@5*=%!";#";#*;=,!";#!*#4"5,)%4(Z>"#)(;#v-=%5(;#!R4(!(;#*.#
tambŽm, como um reflexo da pr—pria Escola Latino-americana de Comunica•‹o, da qual a
95(='%W#D*7*5N)%4(#=*5#;%!"#"#D%@'%!%;5"#*#4,X"#?*'G%-#4,-=,'(-#<*5#;*)!"#!*=*'5%)(!"#?*-(#
5*;=%Z(7*5B# [I:$g/\+# d\# I\TJ.# ]^^_.# ?M# ]bcM# C"!*-se depreender essa mudan•a de
eixo cr’tico do cap’tulo que encerra a obra e no qual s‹o apontados n‹o s— o fen™meno da
globaliza•‹o multicultural na forma de uma mescla de cultura popular com cultura de massa,
mas, principalmente, com a altera•‹o de posi•‹o do continente latino-americano neste
4*)f'%"Y#9()=*;#%5?"'tador de bens de consumo e estilos de vida (...) passa tambŽm a exportar
informa•‹o e lazer, [superando] sua hist—rica depend•ncia cultural (...) e atuando numa nova
"'!*5# 5,)!%(-# !(# 4"5,)%4(Z>"# 5*)";# ,)%!%'*4%")(-# *# 5(%;# *L,%-%@'(!(B#[I:$g/\+# d\#
MELO, 1998, p. 388).
Como observa Marques de Melo (2006)
12
.#9(?*;('#!(#)(=,'*W(#?"-85%4(.#(;#=*;*;#!*#
McLuhan permanecem vigentes. A met‡fora da aldeia global converteu-se em realidade
palp‡vel, depois da dissemina•‹o dos satŽlites e a expans‹o da rede mundial de
c"5?,=(!"'*;BM#J#?*);(!"'#@'(;%-*%'"#(;;*7,'(#(%)!(#L,*#9(#(-!*%(#7-"@(-#4"''*#"#?*'%7"#!*#
;*'#5"-!(!(#h#%5(7*5#*#;*5*-D()Z(#!(;#?"=8)4%(;#D*7*5N)%4(;B.#*;?*4%(-5*)=*#)"#L,*#!%W#
respeito ˆ —tica capitalista de fabricar consumidores uniformizados. Marques de Melo,
entretanto, lembra que a aldeia global apresenta seus paradoxos, ou seja, ela tambŽm traz em
;%#9(#?";;%@%-%!(!*# L,*#;,(;# *)7'*)(7*);#=*4)"-K7%4(;#"G*'*4*5#?('(#(#?'"X*Z>"#!*#4,-=,'(;#
marginais ou de comunidades desgarradas da civiliza•‹o contempor‰)*(BM#
12
Em entrevista concedida ao autor desta dissertao em 26 de julho de 2006.
30
Esta afirma•‹o de Marques de Melo vem fortalecer as novas leituras que te—ricos e
pesquisadores mundiais fazem acerca das teses mcluhanianas. A met‡fora da aldeia global
usada como meta-5*=fG"'(#?('(#,5#5"!*-"#!*#9%);=%=,%Z>"B#L,*#;*#?'"?O*#,)%G"'5izadora,
totalizante e homogeneizadora, de cultura œnica, ao que tudo indica, se apresenta como uma
utopia narrativa ou como discurso neoliberal, com suas bases na quest‹o econ™mica de
produ•‹o de capital e de consumo. Mesmo fazendo uso das mais diversas formas de press‹o,
elas n‹o se concretizam de maneira universal como Ž desejo dos grupos hegem™nicos, como Ž
o pressuposto da l—gica capitalista. Parece razo‡vel asseverar isso a partir do que McLuhan
(2005) enuncia quando afirma que a conviv•ncia na aldei(#7-"@(-#"4"''*#?"'#94")=(=";#f'!,";#
*#;%=,(ZO*;#(@'(;%<(;B.#",#;*X(.#L,*#*-(#*6?O*#";#%)!%<Q!,";#(#,5#4");=()=*#'*?*);('#!*#;,(;#
identidades e pertencimentos, a um xeque nas promessas de melhorias sociais. Nesse sentido,
aos meios de comunica•‹o hoje se pode delegar um importante papel no que se refere ˆ
exposi•‹o das desigualdades entre os homens
13
, mesmo sendo esses meios produtos de uma
indœstria cultural massiva, mas cujo poder, tambŽm, ao que tudo indica, n‹o tem se mostrado
t‹o absoluto, isto Ž, nos moldes em que Bordenave (1982, p. 59) explicita como meios com
9G,)ZO*;#%);=',5*)=(%;#4");,5(=K'%(;B#E ou seja, usados instrumentalmente para a obten•‹o
de efeitos œteis com mensagens pol’tico-ideol—gicas doutrin‡rias.
Para Marques de Melo (2006), os meios de comunica•‹o de massa t•m como
4('(4=*'Q;=%4(;#?'K?'%(;#*#?"=*)4%(%;#9"G*'*4*'#"?"'=,)%!(!*;#?('(#"#@*5#*#?('(#"#5(-M#l,!"#
!*?*)!*#!"#;*,#,;"#?*-";#4%!(!>";BM#C('(#*-*.#)*;=*#4(;".#"#L,*#;*#!*<*#-*<('#*5#4");%!*'(Z>"#
R#L,*#9L,()="#5(%;#@*5#*!,4(!";#*-*s forem, mais elevados sero os padr›es de codifica•‹o
de mensagens. O grande problema dos pa’ses perifŽricos Ž justamente o dŽficit cognitivo e a
%)(?*=8)4%(#!";#4%!(!>";#4"5,);#?('(#!*5()!('#L,(-%!(!*#)";#?'"!,=";#5%!%f=%4";BM
Candau (2002), embora reconhe•a que algumas mudan•as foram registradas em
diferentes regi›es do mundo, assegura que estudos emp’ricos t•m mostrado que as previs›es
de uma uniformiza•‹o cultural planet‡ria, de consumidores forjados para um gosto e um
13
Sobre esta questo Ž oportuna uma leitura de Brasil@povo.com: a luta contra a desigualdade na sociedade da
informao.#!*#H*')('!"#+"'X.#!*#")!*#(?'**)!"#"#G'(75*)="Y#9(#7-"@(-%W(Z>"#n4"5"#!*5"4'(=%W(Z>"#!"#5,)!"o#
no significa (...) a igualdade efetiva das condies de vida no interior de cada sociedade ou entre os povos. Mas
ela Ž a precondio para se pensar as desigualdades sociais em escala global, pois a conscincia e as expectativas
de igualdade precedem a luta contra a desigualdade. S pode haver hoje uma luta global contra a desigualdade
por que os valores de igualdade e solidariedade implodiram as fronteiras nacionais [graas ˆ velocidade da
produo e disseminao da informao], e Ž o conflito entre expectativas igualitrias e a realidade de brutais
diferenas sociais no interior das sociedades e entre os pases que alimenta a frustrao, o ressentimento, a
'*<"-=(#*#(#<%"-8)4%(#;"4%(-B#[+J$2.#appw.#?M#]acM
31
comportamento comuns, como temiam cr’ticos de McLuhan na dŽcada de 1970, tambŽm n‹o
?(;;(5#!*#)(''(=%<(;M#+"@'*#%;;".#*;4'*<*Y#9)>"#;*#?"!*#*;L,*4*'#!";#!*;%7,(%;#?'"4*;;";#!*#
viv•ncia da globaliza•‹o, das diferentes apropria•›es das mensagens e das possibilidades de
resist•ncia de indivQ!,";# *# 7',?";B# [i:0d:/.# appa.# ?M# ]_cM# \.# 4%=()!"# &%-@*'="# z*-D".#
-*5@'(#L,*#9";#%)!%<Q!,";#)>"#;>"#G"-D(;#!*#?(?*-#*5#@'()4"B.#%;="#R.#L,*#",='(;#%);=%=,%ZO*;#
como fam’lia, escola, igreja entre tantas outras, colaboram na forma•‹o identit‡ria dos
sujeitos, na cria•‹o de mecanismos de resist•ncia ˆs imposi•›es vindas de fora da coletividade
e, atŽ mesmo, na re-elabora•‹o dos conteœdos atravŽs da recep•‹o e re-interpreta•‹o das
mensagens culturais, levando-se em conta que nunca zeramos nossas experi•ncias passadas;
ao contr‡rio, podemos recri‡-las, traduzi-las e transform-las.
1.2 MEIOS, MENSAGENS E MASSAGENS NA ALDEIA GLOBAL
Um dos mais emblem‡ticos, discutidos e, por que n‹o dizer, pol•micos enunciados
54-,D()%()";# R# "# (G"'%;5"# 5*=(GK'%4"# 9"# 5*%"# R# (# 5*);(7*5BM# :"# ?'"!,W%-lo, McLuhan
desloca, reconfigura, estende semanticamente o sentido denotativo das palavras meio e
mensagem, alŽm da compreens‹o habitual e dicionarizada, obrigando-nos a recorrer ˆ
enciclopŽdia constru’da socialmente a que Eco (1991) se refere. H que se considerar que
McLuhan (1998, p. 325) toma o significado de meio como pœblico, em contraponto com
privadoM#0(;#;,(;#?(-(<'(;Y#9MŽdium#G"%#"#=*'5"#*5#-(=%5#,;(!"#?('(#!*;%7)('#e?v@-%4"UM#0>"#
existindo nenhum pœblico leitor antes da imprensa, os homens possivelmente pensaram que os
leitores, em geral, eram uma classe de moeda corrente - um medium#)*;;*#;*)=%!"B#n7'%G"#!"#
autor]. Faz-se necess‡rio esclarecer, tambŽm, que para McLuhan (1988, p. 21-45) os meios,
sejam eles de comunica•‹o ou os mass-media, s‹o extens›es tecnol—gicas, ps’quicas ou
GQ;%4(;.# !(;# G(4,-!(!*;# D,5()(;.# ",# ;*X(.# 9L,*# (# '"!(# R# ,5(# *6=*);>"# !"# ?RS# (# '",?(# ,5(#
*6=*);>"#!(#?*-*S#";#4%'4,%=";#*-R='%4";#,5(#*6=*);>"#!"#;%;=*5(#)*'<";"#4*)='(-BM
14
.
O que McLuhan nos aponta E *#?('(#%;;"#5()=*)D"#*5#;,;?*);"#";#X"7";#-%)7PQ;=%4";#
propostos em seus enunciados
15
E Ž que ao definir a mensagem como um mero conteœdo ou
14
Indica-se a leitura de Os Meios de Comunicao como Extenses do Homem (Understanding Media) para um
maior detalhamento desta proposio de McLuhan.
15
A ttulo de ilustrao, McLuhan lanou o livro The Medium is the Massage: on inventory of effects em 1967;
entretanto, um ano antes, em 7 de maio de 1966, proferiu uma conferncia em Nova {"'q#%)=%=,-(!(#9J#5*%"#R#(#
5(;;(7*5B.# -*5@'()!"# L,*# *'(# ,5# ='"4(!%-D"# ("# ;*,# (G"'%;5"# 9"# 5*%"# R# (# 5*);(7*5BM# 0(# 4")G*'8)4%(.#
I4T,D()# !%W# L,*Y# 9"# 5*%"# R# (# 5(;;(7*5.# )>"# (# 5*);(7*5S# L,*# *-*# n"# 5*%"o# '*(-5*)=*# ='(@(-D(# ;"@'*# )K;.#
realmente se apodera da popu-(Z>"# *# (# 5(;;(7*%(#!*# 5()*%'(# ;*-<(7*5B# [IiT/j:0.# appr.# ?M# ]]w-135). Em
32
uma informa•‹o, deixamos de lado uma das caracter’sticas mais importantes dos meios: a de
modificar o curso e o funcionamento das rela•›es e das atividades humanas. Assim, a
mensagem de um meio, na concep•‹o mcluhaniana, se caracteriza como toda a mudan•a, toda
a altera•‹o de escala, de ritmo que esse meio provoca na configura•‹o das sociedades e das
culturas, ou seja, )(# 4'%(Z>"#!*#,5(#*4"-"7%(#D,5()(M#0";#;*,;#=*'5";.#9"#5*%"#R#*5# ;%#(#
mensagem, n‹o o conteœdo; que [o meio] literalmente trabalha, satura, molda e transforma
="!(;#(;#'*-(ZO*;#!";#;*)=%!";MMMB#[IiT/j:0.#]^^_.#?M#a_rcM#\6?-%4%=(!"#!*#",='(#5()*%'(.#
durante a confer•ncia Viver ˆ velocidade da luzY# 9o meio Ž a mensagem significa um
ambiente
16
de servi•os criado por uma inova•‹o, e o ambiente de servi•os Ž o que muda as
?*;;"(;#[MMMc#*#)>"#(#=*4)"-"7%(B#[IiT/j:0.#appr.#?M#a`kcM#n&'%G";#!"#(,="'oM
Para elucidar sua tese, o autor toma por base a cria•‹o da ferrovia e os seus
impactos/transforma•›es na vida da sociedade, e ilustra n‹o apenas a sua equa•‹o MEIO =
MENSAGEM, mas, tambŽm, que um novo meio nada mais Ž do que a reapropria•‹o de um
anterior, tornando assim o efeito de um meio mais forte e intenso porque o seu conteœdo j‡ se
encontrava presente em seu predecessor
17
:
1969, Ivan Pedro de Martins, ao traduzir para o portugus The Medium is the Massage, procura decifrar o jogo
!*#?(-(<'(;#?'"!,W%!"#?"'#I4T,D()M#I('=%);#="5(#4"5"#?'*5%;;(#9L,*#I4T,D() considera que o meio conduz
a mensagem, portanto, sendo ele, o meio, a prpria mensagem, a mensagem quando dirigida ˆs massas
?'"!,W%'%(# ,5# *G*%="# !*# 5(;;(7*5# 4")!%4%")(!"'(BM# J# ='(!,="'# '*4")D*4*# (# !%G%4,-!(!*# !*# <*'=*'# ";#
desdobramentos do jogo aforstico mcluhaniano e opta em decompor o vocbulo ingls massage em mass
(massa) e age# [%!(!*c.# *# "# %)=*'?'*=(# 4")4-,%)!"# L,*# 9I4T,D()# ?"'# ,5(# X,;=(?";%Z>"# !";# =*'5";.# =(5@R5# ;*#
'*G*'%(# (";# 5*%";# 4"5"# !*G%)%!"'*;# !*# e,5(# %!(!*# !(;# 5(;;(;UBM# 2,-7"# %)=*'*;;()=*# 4onferir as palavras do
='(!,="'.#)(;#L,(%;#;*#?*'4*@*.#=(5@R5.#,5#X,QW"#!*#<(-"'Y#9?'*G*'%#4"5"#=Q=,-"#e"#5*%"#;>"#(;#5(;;(-7*);U.#?"%;#
gens Ž povo ou massa, donde nessa peculiar palavra haver a massagem, correspondente ao esprito original do
autor a tambŽm o de massa, ou povo massificado. Isso explica a aparente exdruxulosidade do ttulo, que s assim
?"!*#;*'#I4T,D()BM#
16
Neste caso, o autor emprega o vocbulo ambiente no sentido grego perivello#L,*#;%7)%G%4(#97"-?*('#?"'#="!";#
";#-(!";#("#5*;5"#=*5?"B#[MCLUHAN, 1998, p. 329).
17
Em fragmento da conferncia Viver ˆ velocidade da luz, proferida em 1974, Ž possvel identificar como
I4T,D()# *6?-%4%=(# (;# !,(;# 4")4*?ZO*;# =*K'%4(;# ;"@'*# ";# 5*%";Y# 9:# @%4%4-*=(# ?'*?('",# "# 4(5%)D"# ?('(# "#
automvel com seus pneus, suas correntes e seus rolamentos de esferas. Todos os problemas de fabricao foram
resolvidos pela bicicleta antes que (...) se pensasse no automvel. As estradas e os servios vieram primeiro. O
automvel veio por œltimo. Atualmente o automvel est em baixa no [pela] escassez do petrleo, mas [porque
o carro] como ve’culo tinha uma grande funo a cumprir na vida americana. Ele forneceu a œltima forma de
privacidade e constituiu o meio de sair de casa para estar sozinho. Os americanos so as œnicas pessoas do
mundo que saem de casa para estar sozinhas e ficam em casa para conviver com as pessoas. (...) Por que os
americanos tem esse estranho padro invertido? (...) Os americanos vieram para este continente com o fim de
subjugar a natureza implacvel e furiosa. Eles a domaram. Subjugaram-na. Esmagaram-na. Transformaram-na
no inimigo. (...) Assim, os americanos vem naturalmente o exterior como o inimigo, e o interior como o amigo.
ƒ por isso que, para estudar, ele precisa sair de casa. ƒ um padro estranho [mas muito] importante compreend-
lo porque ele no terminou. O automvel fornecia esse meio superior de sair de casa para ficar sozinho e,
incidentalmente, com ele veio a grande averso pelo trnsito na AmŽrica, por que o trnsito Ž onde voc tem de
estar com as pessoas, o que Ž muito desagradvel. O automvel como forma suprema de privacidade foi
ameaado ou mesmo desbancado pela televiso [que] traz o exterior para o interior [da casa americana]. Isso no
significa que [o carro] vai desaparecer (...) o que isso significa Ž que os [seus] efeitos est‹o desaparecendo, e os
33
A mensagem de qualquer meio ou tecnologia Ž a mudan•a de escala,
ritmo ou padr›es que introduz nos assuntos humanos. O trem n‹o introduziu
na sociedade humana o movimento, nem o transporte, nem a roda, nem as
estradas, mas sim acelerou e ampliou a escala das fun•›es humanas, criando
tipos de cidades, trabalho e lazer totalmente novos. (...) Tanto faz se o trem
circula numa regi‹o tropical ou subtropical e Ž fato totalmente independente
da mercadoria ou conteœdo do meio ferrovi‡rio. Por outro lado, o avi‹o, ao
acelerar a velocidade do transporte, tende a dissolver a forma ferrovi‡ria das
cidades, da poltica e das associa•›es, independentemente do uso a que se
destine o avi‹o (MCLUHAN, 1998, p. 187).
Essa equa•‹o afor’stica meio=mensagem custou a McLuhan numerosas e
contundentes cr’ticas, entre elas a de ser, mais do que um otimista em rela•‹o aos novos
artefatos tecnol—gicos, um determinista que coloca a racionalidade tŽcnica a servi•o do poder
de quem a detŽm; em outras palavras, a fetichiza•‹o das tecnologias em detrimento da
emancipa•‹o do homem. ƒ razo‡vel pensar que parte desses detratores E quase todos
profundamente envolvidos nos debates pol’tico-ideol—gicos dos anos 1970/1980 contra o
avan•o imperialista norte-americano E, n‹o tenham visto explicitadas, ou mesmo teorizadas
nos escritos mcluhanianos, preocupa•›es sociol—gicas, antropol—gicas e/ou ideol—gicas sobre
a quest‹o do poder hegem™nico de quem detŽm a tŽcnica sobre o indiv’duo que n‹o a detŽm,
apenas consome, nos melhores moldes cr’ticos de alguns teoremas desenvolvidos por Adorno
*#j"'qD*%5*'#(4*'4(#!(#%)!v;='%(#4,-=,'(-M#+*7,)!"#I('L,*;#!*#I*-"#[app`c.#9%)G*-%W5*)=*#"#
pessimismo frankfurtiano [que balizou muitos estudos e leituras acerca do pensamento de
McLuhan n‹o s— no Brasil, mas em quase toda a AmŽrica Latina e pa’ses europeus como
Fran•a, Inglaterra e It‡lia] ainda contamina nossa intelectualidade, que se recusa a ver com
os prK?'%";# "-D";# *# ;*# !*%6(# 7,%('# ?*-";# ('(,=";# !"# (?"4(-%?;*BM
18
[Interpola•›es minhas].
ambientes de privacidade e servio so parte dos efeitos. Quando digo que o meio Ž a mensagem, estou dizendo
que o automvel no Ž um meio. O meio Ž a estrada, so as f‡bricas, as empresas petrolferas. Isso Ž o meio.
Noutras palavras, o meio do carro Ž constitudo pelos efeitos do carro. Quando se eliminam os efeitos, o
significado do carro desaparece. (...) O carro no opera como o meio, mas sim como um dos efeitos maiores do
meio. Assim,#9"#5*%"#R# (# 5*);(7*5B#)>"# R# ,5(#;%5?-*;#"@;*'<(Z>".# *# ;*5?'*# D*;%=*%# *5#*6?-%4f-la. Significa
realmente um ambiente oculto de servios criados por uma inovao, e o ambiente oculto de servios Ž o que
muda as pessoas. O que muda as pessoas Ž o ambiente, no a tecnologia (MCLUHAN, 2005, p. 282-284).
18
Sobre essa questo, sugiro uma leitura do artigo Indœstria Cultural e Comunicao de Massa, de Anamaria
Fadul, no qual a autora aponta, entre outras questes, os perigos que correm aqueles que, ao adotarem de forma
acritica e deslocados da historicidade os conceitos de industria cultural e cultura de massa formulados por
Horkheimer, Adorno e Marcuse, conduzirem analises completamente equivocadas. Nessa mesma perspectiva,
durante o encerramento do IV Simpsio Nacional de Cincias da Comunicao, no dia 10 de dezembro de 2005,
no auditrio da Faculdade de Artes, Arquitetura e Comunicao da Universidade Estadual Paulista, em Bauru
(SP), Fadul voltou a criticar as interpretaes equivocadas do pensamento da Escola de Frankfurt. Segundo ela,
9R# ?'*4%;"# ;,?*'('# "# 4"5?"'=(5*)="# !*# 5*)";?'*W"# (4(!85%4"# ?*-(;# %)!v;='%(;# 5%!%f=%4(;.# 5,%=(;# <*W*;#
(7'(<(!"#?*-(#D";=%-%!(!*#%!*"-K7%4(BM#:%)!(#!*#(4"'!"#4"5#(#?*;L,%;(!"'(.#9*;;*#?*;;%5%;5"#5%-%=()=*#?"!*#;*'#
(='%@,Q!"#h#eD*'()Z(#5(-!%=(U#4,-=%<(!(#?*-(#7*'(Z>"#L,*.#*5#)";;"#?(Q;.#%)=*'?'*=(#*L,%<"4(!(5*)=*#(#4'Q=%4(#!*#
Adorno ˆ indœstria cultural, na medida em que deixa de correlacionar e contextualizar as reflexes do filsofo
34
Assim, estes cr’ticos n‹o viram em McLuhan um te—rico engajado, porque, e isso ele procurou
deixar sempre claro, seu trabalho como pesquisador n‹o se prop›e a estudos nesta esfera.
Baudrillard (1969), em resenha cr’tica por ocasi‹o do lan•amento de Understanding
Media, na Fran•a, compartilhando com a tend•ncia cr’tica do novo marxismo ˆ Žpoca E que
procurava escancarar atravŽs dos intelectuais a necessidade de um denuncismo contra o anti-
imperialismo E.#(G%'5(#*5#;*,#*);(%"#L,*#"#(G"'%;5"#9"#5*%"#R#(#5*);(7*5B#)>"#?(;;(#!*#
uma f—rmula reducionista, inveross’mil, com o objetivo claro de disfar•ar e restringir a
discuss‹o ideol—gica sobre o conteœdo/mensagem transmitido pelos meios, traduzindo-se
simplesmente em uma f—rmula de aliena•‹o na sociedade tŽcnica. Baudrillard, no mesmo
texto, engrossa o coro dos que v•em em McLuhan um reducionista e um determinista
tecnol—gico, ao entender que, quando o enunciado Ž sistematizado, McLuhan encontra nele
uma excelente sa’da para esvaziar a sociologia e a hist—ria, transformando a cultura humana
*5#,5#9travellingB#5%="-K7%4"M
Se a opini‹o de McLuhan Ž otimista Ž por que sua forma•‹o repousa
em um idealismo tecnol—gico que lhe faz ignorar como anacr™nica, detr‡s
das revolu•›es infraestruturais dos meios, todas as convuls›es hist—ricas, as
ideologias, a persist•ncia (e inclusive o recrudescimento) not‡vel dos
imperialismos pol’ticos, dos nacionalismos, os feudalismos burocr‡ticos, em
uma era de comunica‹o e de participa•‹o acelerada. Se os meios modernos
s‹o a prolonga•‹o do sistema nervoso central, os indiv’duos e os grupos
encontram a maneira de colocar neles, ao mesmo tempo que suas ilimitadas
possibilidades de informa•‹o, suas estruturas de poder e suas ilus›es de
regress‹o, retrocesso (BAUDRILLARD, 1969, p. 35).
19
H autores que assumem, despudoradamente, suas cr’ticas a McLuhan como
provoca•›es; outros que, entrincheirados na etiqueta acad•mica, dissimulam nelas suas
filia•›es ideol—gicas. Entre os primeiros encontra-se Jonathan Miller. Ainda que reconhe•a ter
alemo nas dŽcadas de 1940 (condenao ao nazi-fascismo instaurado por Hitler e Mussolini) e de 1960 (recusa
do neo-fascismo evidente nas rebelies estudantis de maio-`_cBM#l'(=(-;*.#)(#()f-%;*#!*#m(!,-.#9!*#%!R%(;#G"'(#!"#
-,7('#*#!*G(;(!(;#)"#=*5?"BM
19
Conforme Susana Gastal, no seu artigo McLuhan: desdobramentos polmicos de uma teoria (ainda) pol•mica,
publicado na edio 22 da Revista FAMECOS, dez. 2003, a crtica de Baudrillard a McLuhan hoje tem lhe
4,;=(!"#,5(#G,W%-('%(#!*#4'Q=%4(;M#+*7,)!"#(#(,="'(.#4%=()!"#:)!'R(;#j,V;;*).#*;=*#9<8#*5#I4T,D()#"#'eferente
"4,-="# )(# =*"'%(# !*# H(,!'%--('!.# 5*;5"# L,*# "# 4()(!*);*# ;*X(# 5,%="# 4%=(!"# ?*-"#G'()48;Y# 9+*'f# L,*# (# =*"'%(# !(#
simulao Ž uma reciclagem de McLuhan para o presente em que seus escritos esto em grande parte esquecidos
e seu nome no mximo faz lembr('# ,);# ?",4";# ;-"7();# [MMMc# ",# (# GK'5,-(# "=%5%;=(# !(# (-!*%(# 7-"@(-Bt# *# (%)!(#
4%=()!"#j,V;;*).#&(;=(-#-*5@'(#L,*#9(#4'Q=%4(#!*#H(,!'%--('!#)>"#R#(?*)(;#,5(#4'Q=%4(#!"#%!*(-%;5"#!*#I4T,D()#
quanto ˆ mdia sob o ponto de vista do marxismo (...) como deixa pistas sobre a fascinao posterior de
H(,!'%--('!# 4"5# (;# ?";%ZO*;# 4*)='(%;# !*# I4T,D()BM# 0"# 5*;5"# ?'%;5(# ='(@(-D(# d",7-(;# |*--)*'.# )"# ('=%7"#
Baudrillard: a new McLuhan?M# \)='*# ",='";# =*5(;# (@"'!(!";.# |*--)*'# (;;*7,'(# *5# ;*,# ('=%7"# L,*# 94"5"#
McLuhan, Baudrillard tambŽm globaliza os efeitos dos meios, os quais fazem alteraes de um novo tipo de
;"4%*!(!*#*#!*#,5#)"<"#=%?"#!*#*6?*'%8)4%(BM#z*'#5(%;#*5<http://www.uta.edu/huma/illuminations/kell26.htm>.
35
tirado do autor li•›es que o fizeram ver na palavra impressa, no telefone, no r‡dio, na
=*-*<%;>"#9"@X*=";#?*4,-%('*;#L,*#*6%;=%(5#?"'#!%'*%="#?'K?'%"B.#4"5#;,(;#7'(5f=%4(;.#;%)taxes
*;?*4%(%;# *# 4"5# ?'"?'%*!(!*;# *;?*4QG%4(;# 9="')()!"-nos conscientes da maneira como
adquirimos uma t‹o grande por•‹o de nossos conhecimentos [com e por esses meios] sobre o
5,)!"B#[I1TT\$.#]^kw.#?M#]]kc.#)>"#!*%6(#!*#(!5%=%'#L,*#;*,#-%<'"#As IdŽias de McLuhan
9(!"=",#!*-%@*'(!(5*)=*#,5# ="5#D";=%-.#*5# ?('=*#?"'L,*# E devo admitir E estou em quase
total discord‰ncia com o conjunto principal das idŽias de McLuhan, mas, em parte, ainda para
emprestar certo vigor ret—rico ˆ discuss‹o. Meu meio Ž parte da minD(#5*);(7*5B#[I1TT\$.#
1973, p. 15). No segundo grupo de cr’ticos, parece razo‡vel elencar Gabriel Cohn, que, no
artigo McLuhan y el ecumenismo controlado, afirma ser o autor um determinista tecnol—gico
que perdeu a grande oportunidade de produzir uma excelente obra quando abandonou o
estudo do conteœdo das mensagens veiculadas pelos meios, limitando-se a estudar os impactos
psico-;"4%(%;# !";# 5*%";# ;"@'*# ";# ;,X*%=";M# 9:='f;# !(# "@;4,'(# 4");=',Z>"# !*# ;,(;# "@'(;.#
I4T,D()#4"5?O*#,5(#e,="?%(#=*4)"-K7%4(U#L,*#'*="ma e articula os temas mais ’ntimos da
mentalidade de uma na•‹o [EUA] cuja grandeza tende a se confundir com o dom’nio da
=R4)%4(.#*#L,*#*5#;*,#!*;=%)"#<8#"#!*#="!"#5,)!"B#[iJj\0.#]^`^.#?M#^pcM
Bordenave (1983, p. 58), ao contr‡rio de Cohen, entende que a grande contribui•‹o de
McLuhan no campo da comunica•‹o humana E e tambŽm das rela•›es s—cio-pol’tico-culturais
do homem para e com o mundo E encontra-;*# *5@,=%!(# )*;=*# (G"'%;5"# 9"# 5*%"# R# (#
5*);(7*5BM#C('(#*-*.#(-R5#!*#'*<"-,4%")f'%(#(#?'"?";=(#!*#?*);('#"s meios de comunica•‹o
de massa pelos impactos que eles causam
20
e n‹o pelos conteœdos que veiculam no discurso,
s‹o as poss’veis mudan•as que os meios causam na sociedade o que mais chama a aten•‹o na
tese mcluhaniana. E sugere que os estudos acerca dos meios de comunica•‹o se voltem para
*;=(#<*'=*)=*.#)(#5*!%!(#*5#L,*#I4T,D()#!*;<*-(#)"#;*,#(G"'%;5"#L,*#9";#5*%";#;>"#,5(#
)"<(#-%)7,(7*5B.#",#;*X(.#-%)7,(7*);#L,*#='(!,W*5#*5#;%7)";#)"<";#4K!%7";#4,-=,'(%;M
ƒ certo que a obra de McLuhan n‹o tem um car‡ter de estandarte, no que tange aos
poss’veis efeitos do conteœdo dos meios sobre a sociedade. E Ž nesse sentido que os seus
20
Ciro Marcondes Filho no livro O Espelho e a Mscara: o enigma da comunicao no caminho do meio (2002,
p. 169), afirma que a concepo de meio como mensagem Ž do filsofo judeu-(-*5>"#&P)=D*'#:)!*';M#d%W#*-*Y#
9J# 5*%"#R# (#5*);(7*5# G"%# ?'"G*'%!(# ?"'# IcLuhan em 1964. Em 1956 (...) Anders j falava sobre a televiso,
L,*# e"# L,*# )";# 5('4(# *# !*;5('4(.# "# L,*# )";# G"'5(# *# !*G"'5(# )>"# ;>"# (?*)(;# ";# "@X*=";# ='();5%=%!";# ?*-";#
e5*%";U.#5(;#";#?'K?'%";#5*%";.#";#?'K?'%";#(?('*-D";S#L,*#)>"#;>"#(?*)(;#"@X*=";#!*#?ossveis usos, mas eles j‡
fixam, por sua estrutura e funo firmemente determinadas, seu uso e com isso o estilo de nossa ocupao e
)";;(;#<%!(;.#*5#'*;,5".#!*#)K;UBM#
36
cr’ticos apontam a artilharia, acusando-o de determinista tecnol—gico e de reacion‡rio. H‡ que
se considerar, entretanto, que em The mechanical bride: the folklore of industrial man e em
Culture is or business
21
, McLuhan faz um invent‡rio sobre a publicidade americana e aponta,
nos anœncios, um poder de conteœdo mimŽtico e, portanto, capaz de influenciar de forma
negativa a quem se submete ˆ sua exposi•‹o. ConvŽm ressaltar, no entanto, que para o autor o
conteœdo do meio n‹o deve ser estudado isoladamente; ao contr‡rio, o conteœdo s— existe
?"'L,*#*6%;=*#,5#5*%"#L,*#"#='();?"'=(Y#9:#5*);(7*5#*)4"!%G%4(!(#)>"#?"!*#;*'#4");%!*'(!(#
como uma simples c‡psula ou p’lula produzida de um lado e consumida do outro. A
4"5,)%4(Z>"#R#4"5,)%4(Z>"#*5#="!(#(#-%)D(B#[IiT/j:0.#]^_a.#?M#]rwcM
Em texto distinto, McLuhan (1971a) retoma a discuss‹o do conteœdo mimŽtico das
mensagens dirigidas ao pœblico, numa outra perspectiva, a de que s‹o os mais variados tipos
de canais que codificam em suas linguagens espec’ficas a realidade em modos diferentes e
!*;=(#5()*%'(#%)G-,*)4%(5.#9),5#7'(,#;,'?'**)!*)=*.#"#4")=*v!"#!(#5*);(7*5#4"5,)%4(!(M#
Um meio n‹o Ž simplesmente um envelope que transporta qualquer carta; ele pr—prio constitui
,5(#?('=*#%5?"'=()=*#!*;;(#5*);(7*5B#[IiT/j:0.#]^k](.#?M#a]wcM
Acredito ser poss’vel sustentar, com base nos fragmentos destacados, bem como nas
leituras que este trabalho exigiu, que o olhar de McLuhan Ž um olhar atento ao mundo
contempor‰neo, n‹o s— no que se refere aos meios de comunica•‹o e ˆs mudan•as culturais
por eles empreendidos, mas, tambŽm, sobre a maneira como esses meios s‹o ou podem ser
apropriados no sentido de utilitarismo inst',5*)=(-Y# 9!(5";# G"'5(# h;#)";;(;#G*''(5*)=(;# *#
!*?"%;# !%;;".# )";;(;# G*''(5*)=(;# R# L,*# )";# !>"# G"'5(B# [IiT/j:0.# apprcM# \# ,5# @"5#
exemplo para ilustrar este aforismo, bem como o argumento aqui exposto, parece repousar na
entrevista concedida por McLuhan ˆ revista Playboy em 1969, na qual analisa as
transforma•›es pol’ticas e sociais de Cuba atravŽs do meio televis‹o:
[Fidel] Castro Ž um bom exemplo do novo chefe tribal que rege seu
pa’s por um di‡logo televisivo de participa•‹o de massas; governa seu pa’s
com uma c‰mera, dando aos cubanos a impress‹o deles estarem implicados
direta e intimamente no processo de tomada de decis‹o coletiva. A
habilidosa mistura que Castro faz de educa‹o pol’tica, propaganda e
condu•‹o moral Ž padr‹o para outros chefes tribais de outros pases. O novo
21
McLuhan sugere que o ttulo de seu livro tambŽm seja lido de trs para a frente, ou seja, invertendo o seu
;*)=%!"M# :;;%5.# *5# <*W# !*# 9:# i,-=,'(# R# "# )";;"# )*7K4%"B# "# *),)4%(!"# G%4('%(# 9J;# 0*7K4%";# ;>"# (# 0";;(#
i,-=,'(BM# g,*5# '*<*-(# *;=(# ?'"?";%Z>"# !"# (,="'# R# "# ;*,# @%K7'(G"# }M# l*'*)4*# &"'!").# *5# McLuhan para
principiantes (p. 119-120).
37
homem-espetculo pol’tico tem que colocar, literal e figurativamente, sua
audi•ncia como coloca uma roupa e converter-se em uma imagem tribal
corporativa, como fez Mussolini, Hitler e Roosevelt nos tempos do r‡dio e
Kennedy na era da televis‹o (MCLUHAN, 1998, p. 296).
Outro exemplo que parece esclarecedor quanto ao olhar que McLuhan lan•a sobre a
apropria•‹o utilitarista dos meios E e que seus detratores, ao que tudo indica, fazem quest‹o
de n‹o desvelar E se refere ˆ voracidade com que a ci•ncia e a tecnologia procuram subjugar o
homem na contemporaneidade:
O que temos de defender hoje n‹o s‹o os valores desenvolvidos em
qualquer cultura especial ou por qualquer modo de comunica‹o. A
tecnologia moderna pretende tentar uma transforma•‹o total do homem e do
seu meio, o que por seu turno exige a inspe‹o e defesa de todos os valores
humanos. E pelo que respeita ao mero auxlio humano, a cidadela desta
defesa deve estar localizada na consci•ncia anal’tica da natureza do processo
criador envolvido no conhecimento humano. Pois Ž nessa cidadela que a
ci•ncia e a tecnologia j se estabeleceram, quanto ˆ sua manipula•‹o dos
novos meios (MCLUHAN, 1982, p. 154).
Islas Carmona (2004), no artigo La era McLuhan, afirma que todas as leituras cr’ticas
da obra de McLuhan, que tiveram viŽs ideol—gico focalizando as interpreta•›es mais voltadas
ˆs rela•›es culturais estabelecidas entre os meios e os receptores atravŽs do conteœdo,
acabaram impedindo uma compreens‹o do pensador canadense, em especial no que tange ˆs
mudan•as que os meios promovem na sociedade. Islas Carmona ressalta que, na atualidade,
libertos das teorias cr’tico-ideol—gicas, os estudiosos da comunica•‹o t•m reconhecido o valor
do pensamento mcluhaniano como importante aporte para a compreens‹o n‹o s— dos meios
como extens›es ps’quicas nossas, como prega McLuhan, mas do pr—prio mundo em que nos
inscrevemos e no qual as tecnologias de informa•‹o e comunica•‹o t•m introduzido, de forma
sucessiva, novas configura•›es de ambientes culturais. Nesse artigo a que me refiro, o autor
!*%6(#4-('"#L,*Y#94(!(#)"<"#5*%"#!*#4"5,)%4(Z>"#='();G"'5(#(#G"'5(#4"5"#4'%(5";#*#)";#
comunicamos, modificando tambŽm o sistema de meios de comunica•‹o que operam no
ambiente cultural vigente. A internet Ž a perfeita %)=*'5*!%(Z>"#!";#5*%";#()=*'%"'*;B#[1+T:+#
CARMONA, 2004, p. 51).
Esta intermedia•‹o da Internet com os meios anteriores a que Islas Carmona se refere
Ž um dos pontos de destaque das teses de McLuhan, qual seja, que mais importante do que
procurar nos discursos conteudistas veiculados por qualquer meio, especialmente nos mass
media, se faz necess‡rio compreender que um meio contŽm outro, e este contŽm mais outro, e,
38
assim, sucessivamente. A proposi•‹o de McLuhan funciona, em termos de ilustra•‹o, mais ou
menos neste sentido: o telŽgrafo contŽm palavras impressas, que por sua vez contŽm escrita,
que contŽm discurso, o qual contŽm pensamento. E Ž no pensamento, de acordo com
McLuhan, que acaba a cadeia dos meios, uma vez que o ato de pensar Ž um ato n‹o verbal, Ž
um processo puro.
22
:#4-('%G%4(Z>"#!(#=*;*#!*#I4T,D().#!*#9L,*#4(!(#5*%"#4")=R5#",='"B#*#!*#L,*#*;=(#
metamorfose pode ocorrer de forma simult‰nea entre um meio e outro, encontra-se no livro
Laws of media: the new science
23
.# %;="# R.# (;# 9-*%;# !";# 5*%";B# tambŽm conhecidas como
9=R='(!(;B.# (;# L,(%;# ;*# 4");=%=,*5# *5# ,5# "?*'(!"'# G"'5(!"# ?*-(# X,;=%G%4(Z>"# !*# L,(='"#
vetores. Estas leis, segundo os autores, podem ser aplicadas a qualquer empreendimento
humano, n‹o s— aos meios e tecnologias de comunica•‹o, e mostram que as altera•›es de um
meio em outro n‹o apresentam apenas os efeitos positivos de uma inova•‹o, mas, sobretudo,
elas tambŽm carregam efeitos negativos. As tŽtradas dos McLuhan surgem na forma de quatro
perguntas: O que estende? O que se torna obsoleto (arcaico)? O que recupera? Em que se
reverte?
Dessa maneira, na formula•‹o da primeira lei, pode-se utilizar, no lugar de estende, as
?(-(<'(;# 9(,5*)=(B.# 9'*G"'Z(B.# 9%)=*);%G%4(BM# J# ('4(Q;5"# "4"''*# *5# 4");*LP8)4%(# !(#
extens‹o, ou seja, quando um meio cumpre sua fun•‹o como extens‹o do corpo ou substitui
outro meio, parte do que foi estendido se torna obsoleto. A terceira lei, ou pergunta, diz
respeito ˆ recupera•‹o, que pode ser sinteticamente definida como o retorno de estruturas
antigas, ou antigas formas de a•‹o, organiza•‹o humana e pensamento atravŽs da introdu•‹o
de um novo meio. Por fim, a revers‹o Ž quando uma tecnologia Ž levada ao limite, ou quando
os meios se tornam sobrecarregados e acabam tomando outra fun•‹o com caracter’sticas
opostas ˆs originais, isto Ž, assumem uma fun•‹o absolutamente contr‡ria ˆ pretendida.
A t’tulo de ilustra•‹o e elucida•‹o do funcionamento destas leis, tomamos do pr—prio
autor dois exemplos: o primeiro analisa a fotocopiadora (xerox) e, o segundo, o r‡dio. No
22
Com o objetivo de iluminar o enunciado, recupero em Hannah Arendt (2002, p. 76-77) o conceito de
?*);(5*)="# 4"5"# 9(;# (=%<%!(!*;# 5*)=(%;.# %)<%;Q<*%;# *# "4,?(!(;# 4"5# "# %)<%;Q<*-.# L,*# ;*# ="')(5# 5()%G*;=(;#
somente atravŽs da palavra. (...) os pensamentos, para acontecer, no precisam ser comunicados; mas no podem
ocorrer sem ser falados E#;%-*)4%";(#",#;")"'(5*)=*.#*5#!%f-"7".#4")G"'5*#"#4(;"BM
23
O livro foi escrito por Herbert Marshall McLuhan em parceria com seu filho Eric McLuhan e lanado em
1988, oito anos aps a morte de McLuhan. A referida obra, como a maioria dos ttulos publicados por McLuhan,
no recebeu traduo portuguesa a o presente momento. Para esta dissertao trabalho com o extrato do livro,
publicado na obra McLuhan, escritos esenciales.
39
caso da fotoc—pia, o que ela estende Ž a capacidade da caneta; o processo de duplica•‹o; a
comunica•‹o escrita; a auto-publica•‹o; a liberdade de express‹o. O que torna obsoleto ou
arcaico, Ž o papel carbono; a c—pia manuscrita; o controle editorial. O que a fotoc—pia
recupera? Recupera, entre outras coisas, as fun•›es e o alcance da imprensa underground e
independente e, por fim, a revers‹o que este meio apresenta Ž que um xerox possibilita o
pl‡gio; o n‹o pagamento dos direitos autorais; a propaga•‹o e distribui•‹o de material
question‡vel. Para o meio r‡dio, as leis, segundo McLuhan, funcionam da seguinte maneira:
Estende a capacidade da comunica•‹o oral atravŽs da dist‰ncia; torna obsoleto o jornal di‡rio;
recupera as fun•›es da comunica•‹o oral ao modo da an=%7P%!(!*#='%@(-#*.#?"'#G%5.#;*#reverte
na irradia•‹o de sons e imagens (TV).
Se huma coisa que n‹o se pode negar Ž que o pensamento de McLuhan Ž instigante e
provocador. Bom exemplo para isso encontra-se na sua caracteriza•‹o dos meios de
comunica•‹o, classificados por ele como quentes e frios, isto Ž, mais uma met‡fora constru’da
por McLuhan a partir de termos de g’ria empregados ˆ Žpoca pela juventude americana. Nada
surpreendente, se n‹o deslocarmos McLuhan da sua historicidade, do lugar de onde ele fala,
isto Ž, o de professor de literatura. A utiliza•‹o de g’ria na enuncia•‹o me faz recorrer a
Michel BrŽal, a fim de compreender com mais clarivid•ncia. Escreve BrŽal (1992, p. 97) que
a lei empregada para as met‡foras aplica-se a qualquer signo, uma vez que a met‡fora, quando
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metaforicamente, e assim por diante. (...) o que se chama g’ria ou slang se comp›e em grande
parte de met‡foras muito distantes de sua origem. Entretanto, Ž uma l’ngua que se aprende t‹o
!*?'*;;(#L,()="#(;#",='(;B#n&'%G"#!"#(,="'oM
Para classificar meio quente e meio frio, McLuhan desloca o sentido sem‰ntico dos
termos
24
E do mesmo modo que fez com as palavras meio e mensagem, como jcomentei.
24
McLuhan descreve e explicita a teoria dos meios quentes e frios, que invertem o senso comum, em entrevista a
Frank Kermode, transcrita no livro McLuhan por McLuhanM#d%W#*-*Y#9J#eL,*)=*#*#"#G'%"U#=*5#(#<*'#4"5#(#7Q'%(M#
O modo como Ž usada na gria inverte o se)=%!"# !*# G'%"M# em'%"U.# )(# 7Q'%(.# <*%"# (# ;%7)%G%4('# *)<"-<%!".#
profundamente participativo, profundamente engajado. Tudo o que antes chamvamos de argumento quente
(7"'(# R# 4D(5(!"# !*# eG'%"U# )(# 7Q'%(M# :# %!R%(# !*# L,*# G'%"# 5,!",# !*# ;%7)%G%4(!"# =*5# 4*'=(# @(;*# )o fato de nossa
cultura ter passado a colocar grande parte de sua nfase numa exigncia de estarmos mais comprometidos, mais
*)<"-<%!";#*5#;%=,(ZO*;#)(;#L,(%;#4";=,5(5";#='(@(-D('B#[IiT/j:0.#appr.#?M#]pbcM#d"#5*;5"#-%<'".#?"'R5#
no texto O Meio Ž a Massagem.#*6='(Q5";# ",='(#*6?-%4(Z>"#h#;,(#5*=fG"'(Y#9m'%"#;%7)%G%4(#%!*)=%G%4(Z>"#4"5#"#
processo criativo. Quando uma pessoa est ao mesmo tempo envolvida e alheada, ela precisa identificar-se com
"#?'"4*;;"#4'%(=%<"B#[IiT/j:0.#appr.#?M#]]rcM#C('(#,5#(?'"G,)!(5*)to da questo, sugere-se ainda a leitura
de Os Meios de Comunicao como Extenses do Homem.#*5#*;?*4%(-#";#=K?%4";#91)='"!,Z>"#h#l*'4*%'(#\!%Z>"#
*5#1)7-8;B#[?M#^-]pc#*#"#4(?Q=,-"#9I*%";#g,*)=*;#*#I*%";#m'%";B#[?M#w_-50).
40
Assim, trabalha na perspectiva de um sentido especial aos voc‡bulos defini•‹o e informa•‹o
relacionando-os aos nossos sentidos f’sicos. A partir destes enunciados, afirma que os meios
s‹o de alta defini•‹o (existe muita informa•‹o e pouco a se complementar) e meios de baixa
defini•‹o, ou seja, pouca informa•‹o, o que obriga o usu‡rio a trabalhar e completar o que
falta. Faz-se necess‡rio esclarecer que McLuhan pensa informa•‹o que um meio transmite,
n‹o como dados de conhecimento, mas sim como o modo como nossos sentidos f’sicos
respondem a um meio, a forma como participamos dele. Dessa maneira, um meio de alta
defini•‹o Ž QUENTE (como, por exemplo, as letras do alfabeto, os mapas, o r‡dio, a
imprensa, as fotografias) por que requerem uma participa•‹o baixa, e um meio de baixa
defini•‹o Ž FRIO (o telefone, a televis‹o) por exigir uma participa•‹o alta do sujeito. O termo
participa•‹o#R#*5?'*7(!"#?"'#I4T,D()#)"#;*)=%!"#!"#95"!"#4"5"#,5#5*%"#*)<"-<*#)";;";#
;*)=%!";#GQ;%4";B#*#)>"#)"#9!*#,5#4"5?'"5%;;"#%)=*-*4=,(-#4"5"#!*G%)%Z>"#*#%)G"'5(Z>"BM
Pombo (2005), no artigo O Meio Ž a mensagem, ao transpor a teoriza•‹o de McLuhan
?('(# 4"5?'**)!*'# "# *;?(Z"# *;4"-('# *# "# G(W*'# !"4*)=*.# -*5@'(# L,*# !*# (-7,5(# 5()*%'(# 9"#
?'"G*;;"'# R# =(5@R5# ,5# 5*%"# !*# 4"5,)%4(Z>"BM# $*4")D*4*# L,*.# 5esmo n‹o conseguindo
competir com a velocidade propiciada pelos meios tecnol—gicos de informa•‹o e comunica•‹o
*-*='N)%4";.# "# !%;4,';"# !"# ?'"G*;;"'# ;*# 4");=%=,%# *5# 9,5# 5*%"# )"# L,(-# ;*# 4',W(.# !*# G"'5(#
complexa, rica, profusa e fecunda, tanto a oralidade fundadora de todos os ensinos, como a
!%;4%?-%)(#!(#?'"!,Z>"#!%;4,';%<(#'(4%")(-.#(#?"-%5"'G%(#*#(#%);=()=()*%!(!*BM#:%)!(#!*#(4"'!"#
4"5#(#(,="'(.#*;;(#5,-=%G"'5%!(!*#!(#-%)7,(7*5#*5?'*7(!(#?*-";#?'"G*;;"'*;.#(;;"4%(!(#9(#
temperatura do olhar, a postura corporal, os gestos, a entoa•‹o, o ritmo da fala, fazem dele o
5*%"# ?'%<%-*7%(!"# *# %);,@;=%=,Q<*-.# !*# L,(-L,*'# *);%)"BM# J,# ;*X(.# ?('(# C"5@".# )(!(#?"!*'f#
substituir o mestre, por maiores que sejam os progressos da futura tecnologia elŽtrica da
comunica•‹o, pois 9"#?'"G*;;"'.#*)L,()="#5*%"#%);,;?*%=(!"#!*#4"5,)%4(Z>".#*;=f#4")!*)(!"#
a oferecer aos seus alunos tanto a oralidade envolvente, como a discursividade linear, tanto a
segmenta•‹o das suas compet•ncias especializadas, como a globalidade integradora da sua
f%)%=,!*#4")4'*=(BM
ƒ razo‡vel admitir que Pombo tem raz‹o quando afirma que, por mais avan•adas que
sejam as tecnologias informacionais e comunicacionais na aldeia global, nada substituiro
professor como mediador na constru•‹o coletiva de conhecimentos, seja nos espa•os
pedag—gicos formais, seja nos n‹o formais. O pr—prio McLuhan, em algumas passagens de
seus escritos, defende que os meios de comunica•‹o n‹o podem ser vistos como substitutos
41
dos professores. H‡, contudo, que se ressaltar E e isso Pombo n‹o explicita no seu texto E que
(# GK'5,-(# *5# L,*# ;*# *;=',=,'(# (# *;4"-(# )(# 4")=*5?"'()*%!(!*.# ?"'# 95*-D"'# 5*%"# !*#
4"5,)%4(Z>"B#L,*#;*X(#"#?'"G*;;"'.#4"5"#?'"4,'(#;,;=*)=('#(#(,="'(.#Xf#)>"#4")=*5?-(#5(%;#(;#
necessidades dos educandos, como ocorria no passado, quando as rela•›es do poder-saber
estavam sob o restrito dom’nio e dire•‹o da escola.
J# (G"'%;5"# !*# I4T,D()# 9"# 5*%"# R# (# 5*);(7*5B.# L,()!"# 4"-"4(!"# *5# 6*L,*# )(#
perspectiva de buscar um entendimento sobre a institui•‹o educacional atual, desvela na sua
esteira uma pergunta: Qual a mensagem da sala de aula?
A defini•‹o mcluhaniana de que um meio Ž quente porque ele exige uma baixa
participa•‹o dos sujeitos, ou seja, porque ele n‹o demanda um envolvimento constante, nem
uma identifica•‹o com o processo criativo, conforme procurei explicitar neste cap’tulo, indica
uma hip—tese como resposta ˆ quest‹o referida: qual seja, a de que a efetiva configura•‹o da
escola, com seus curr’culos fragmentados e dissociados da realidade expressa fora dos muros
da institui•‹o escolar, nada mais Ž do que um meio quente, isto Ž, por n‹o promover a inter e a
transdisciplinaridade
25
que o mundo moderno exige, a escola, nos moldes atuais, acaba por
n‹o estabelecer mais aquele envolvimento do educando no curso da aprendizagem, como bem
-*5@'(# I4T,D()# [app`cY# 9\;?*'('# L,*# ,5(# 4'%()Z(# 4'*;4%!(# )(# *'(# *-R='%4(# '*;?")!(# h;#
G"'5(;#!*#*!,4(Z>"#()=%7(.#R#"#5*;5"#L,*#*;?*'('#L,*#,5(#f7,%(#)(!*BM
1.3 DOS CLAUSTROS AO MUNDO SEM MUROS
N‹o menos incitantes e perturbadoras s‹o as met‡foras empregadas por McLuhan
quando reflete, em escritos espec’ficos ou em coment‡rios espor‡dicos, sobre as quest›es da
educa•‹o na era eletr™nica. Nesses estudos, procura fazer um alerta: que a comunica•‹o E e
entendemos que educar Ž comunicar E, atravessa os sujeitos onde eles estiverem e que o
25
Estes dois conceitos, oriundos das teorias piagetianas, so trabalhados a partir de Abud (2006), para quem o
complexo conhecimento humano foi fatiado em partes, sendo o resultado desta fragmentao apresentado em
pequenas pores nos conteœdos disciplinares que compem um curr’culo. Assim, a interdisciplinaridade pode
ser definida como o estabelecimento de uma relao estreita de interatividade entre duas ou mais disciplinas.
+*7,)!"#(#?'"G*;;"'(#!*#C'f=%4(#!*#\);%)"#!*#j%;=K'%(.#!(#m(4,-!(!*#!*#\!,4(Z>"#!(#/+C.#9"#*);%)"#@(;*(!"#)(#
interdisciplinaridade proporciona uma aprendizagem muito mais estruturada e rica, pois os conceitos esto
organizados em torno de unidades mais globais, de estruturas conceituais e metodolgicas compartilhadas por
<f'%(;#!%;4%?-%)(;BM#C"'#='();!%;4%?-%)('%!(!*. ainda de acordo com a autora, pode-se entender como a cooperao
'%4(# *# G('=(# *)='*# (;# <f'%(;# !%;4%?-%)(;.# (# ?")="# L,*# 9)>"# !f# 5(%;# ?('(# ;*?('f-las: acaba surgindo uma nova
e5(4'"!%;4%?-%)(U#[MMMc#n,5o#*;=f7%"#!*#4""?*'(Z>"#*)='*#(;#!%;4%?-%)(;.#!%GQ4%-#!e ser aplicado na escola, pois h
sempre a possibilidade de uma disciplina"imperialista" sobrepor-;*#h;#",='(;BM
42
5,)!".#'*='%@(-%W(!"#?*-";#(?('(=";#=*4)"-K7%4";#!*#%)G"'5(Z>".#)";#(?")=(#L,*#9"#-,7('#!";#
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tornar-;*#e*;4"-(-(@*'=,'(U#",.#5*-D"'#(%)!(.#e*;4"-(-?-()*=(UB#[IiT/j:0.#]^`^@.#?M#rkcM
A analogia religiosa dos claustros, com as salas de aula
26
[escola], no meu
entendimento, mostra muito mais um McLuhan preocupado com os rumos da educa•‹o, do
que um cat—lico convicto e praticante. Embora seja poss’vel perceber em trechos dos escritos
mcluhanianos, cr’ticas ao modelo escol‡stico como matriz pedag—gica ainda vigente na
institui•‹o escolar, por escola claustro e/ou escola masmorra o que o autor nos sugere Ž que
necessitamos compreender as mudanas de ordem social, pol’tica e econ™mica
contempor‰neas e as formas como elas afetaram as rela•›es humanas de uma maneira que
hoje as escolas n‹o s‹o mais o œnico referencial pedag—gico, muito menos o exclusivo espa•o
de aprendizagem dispon’vel aos sujeito;M# 9:;# 4%!(!*;# ;>"# ,5(# ;(-(# !*# (,-(# [MMMc# ")!*# ";#
anœncios s‹o os mestres; as salas de aula [tradicionais] tornaram-se obsoleta casa de reclus‹o,
,5(#5(;5"''(#G*,!(-B#[IiT/j:0.#]^k](.#?M#ab`cM
Na sua cr’tica ˆs institui•›es escolares, McLuhan traz ˆ discuss‹o, e ˆ nossa reflex‹o, a
necessidade e a import‰ncia de a escola renovar-se em seu sentido de estrutura pedag—gica,
uma vez que as crian•as que nasceram ou est‹o por vir nesta aldeia global eletr™nica, da
sociedade da informa•‹o/comunica•‹o, encontram-se profundamente marcadas pelos novos
s’mbolos do tudo-agora, da instantaneidade, do consumo e, ao encontrarem uma escola
enclausurada, se deparam com sŽrias dificuldades em se adaptar ao modelo de ensino baseado
na repeti•‹o de fatos fragmentados, lineares.#;*LP*)4%(%;M#J#L,*#"#(,="'#4D(5(#(#(=*)Z>"#R#
que as institui•›es escolares precisam manter-;*#(-*'=(;#?('(#"#G(="#!*#L,*#9D"X*#"#*;=,!()=*#
cresce num mundo eletricamente estruturado. N‹o Ž um mundo de rodas, mas de circuitos,
n‹o Ž um mundo de fragmentos, mas de configura•›es e estruturas. O estudante, hoje, vive
5%=%4(5*)=*#*#*5#?'"G,)!%!(!*B#[IiT/j:0.#appw.#?M#]]c#*#L,*#(#*;4"-(#(%)!(#;*#5()=R5#
presa aos padr›es impostos pela linearidade, como nos tempos medievais com seus claustros e
sujeitos isolados no e do mundo.
No meu entendimento, o que o pensamento do autor procura iluminar, por meio da
met‡fora da escola claustro.#R#L,*#!%()=*#!"#5,)!"#(=,(-#L,*#)";#R#(?'*;*)=(!".#(#9;(-(#!*#
26
#J#(,="'#G'*LP*)=*5*)=*#,=%-%W(#"#=*'5"#9;(-(#!*#(,-(;B#!*#G"'5(#5*=(GK'%4(.#)>"#4"5"#,5#*;?(Z"#7*"7'fG%4"#
e/ou fsico dentro de um estabelecimento escolar, mas sim como sinnimo de escola enquanto uma institui•o
scio-poltica-cultural.
43
(,-(;#*)G'*)=(# D"X*#,5(# -,=(#<%=(-#?*-(# ;"@'*<%<8)4%(#4"5# "#5,)!"#e*6=*'%"'U#%5*);(5*)=*#
?*';,(;%<"# 4'%(!"# ?*-";# )"<";# 5*%";# !*# %)G"'5(Z>"B# [IiT/j:0.# ]^`^(.# ?M# ]a_cM# C('(#
McLuhan, a escola precisa substituir a instru•‹o, a imposi•‹o de estere—tipos, e tornar-se uma
institui•‹o que priorize a descoberta, a sondagem e a explora•‹o.
Em fragmentos dos seus escritos, McLuhan sugere a compreens‹o de que a escola,
enquanto institui•‹o social e pol’tica, precisa manter clara em seu projeto educacional os
ideais da aretŽ e da paidŽia
27
plat™nica. Indica, ainda, que na sua forma mais alargada, o
conceito de paidŽia n‹o pode ser entendido apenas como uma tŽcnica pr—pria de prepara•‹o
da crian•a para a vida adulta, de forma a desenvolver um conjunto de qualidades f’sicas,
espirituais e morais, com vistas a formar apenas sujeitos educados. Ele tambŽm designa o
resultado do processo educativo permeado pela cultura da sociedade e pela cria•‹o individual
de outra cultura, numa rela•‹o dialŽtica, e que se prolonga muito alŽm dos bancos escolares:
por toda a vida, visando a tornar os indiv’duos cidad‹os c™nscios de seus direitos e deveres
sociais e cr’ticos do mundo em que se inscrevem. McLuhan, quando faz suas cr’ticas ˆ
institui•‹o escolar, nos d‡ conta que houve uma amplia•‹o conceitual de paidŽia e a sua
adapta•‹o ˆs tecnologias e conquistas sociais do homem contempor‰neo provocou uma
metamorfose nos enunciados plat™nicos. Desta mesma opini‹o comunga Amaral (2001),
quando afirma que:
(...) enquanto natureza pr‡tica/emp’rica a pedagogia referia-se ao
primeiro e mais elementar adestramento da criana para a vida privada e
pœblica (...) [mas hoje] num viŽs pr‡tico/pragm‡tico a pedagogia [se tornou]
mais adestramento utilitarista, (...) mero adestramento para o fazer ou para o
ter, [anulando assim] a forma•‹o virtuosa do educando, [seja ele] adulto ou
crian•a (AMARAL, 2001). [Interpola•›es minhas].
Sobre esta quest‹o do adestramento utilit‡rio, em texto instigante e perturbador
intitulado /;1)+(&*! :+! 3;+:$214&%(>! 31! 7C(C*14&%(! :+! DEFE, McLuhan (1969b) tece cr’ticas
quanto ˆ estandardiza•‹o do ensino, ou seja, a modelagem dos indiv’duos sem respeitar suas
!%<*';%!(!*;.#;*,;#=*5?";#*#*;?(Z";.#("#%5?"'#,5(#*!,4(Z>"#-%)*('#*#;*LP*)4%(-#@(;*(!(#*5#
27
Tomo neste texto os sentidos de AretŽ e de PaidŽia#4"5"#G"'(5#G"'5,-(!";#?"'#I('%-*)(#iD(,QM#9:'*=R#%)!%4(#
um conjunto de valores (fsicos, ps’quicos, morais, Žticos, polticos) que forma um ideal de excelncia e de valor
humano para os membros da sociedade, orientando o modo como devem ser educados e as instituies sociais
)(;# L,(%;# *;;*;# <(-"'*;# ;*# '*(-%W(5B# [ij:/3.# appa.# ?M# b^rcM# 0"# -(=%5.# *# ?"'# *6=*);>"# )o portugus, seria
traduzido como Virtude. PaidŽia, definida como educao ou cultivo das crianas; instruo; cultura, deriva do
verbo paideœo.#4,X"#;%7)%G%4(!"#R#9*!,4('.#*);%)('#";# <(-"'*;.#";#"GQ4%";.#(;#=R4)%4(;.#='();5%=%'#%!R%(;#*#<(-"'*;#
para forma'#"#*;?Q'%="#*#"#4('f=*'.#G"'5('#?('(#,5#78)*'"#!*#<%!(B#[1!M.#1@%!M.#?M#rpkcM##
44
li•›es, livros, hor‡rios r’gidos, calend‡rios de atividades, salas estrategicamente separadas,
curr’culos e conteœdos que n‹o suscitam no estudante o engajamento, a descoberta do novo,
mas apenas a repeti•‹o de velhas f—rmulas, baseadas numa disciplinariza•‹o de corpos,
=(5@R5# *),)4%(!(# ?"'# m",4(,-=# [appb.# ?M# a`# *# ?M]]_cY# 9~# !K4%-# ,5# 4"'?"# L,*# ?"!*# ;*'#
submetido (...) ser utilizado, (...) ser transformado e aperfei•oado. (...) O corpo s— se torna
G"'Z(#v-=%-#;*#R.#("#5*;5"#=*5?".#4"'?"#?'"!,=%<"#*#4"'?"#;,@5%;;"BM#
O que Foucault (2004) e McLuhan (1969) afirmam, na minha interpreta•‹o, Ž que este
tipo de escola que nos tem sido apresentada fugiu completamente aos conceitos gregos de
aretŽ e paidŽia e mostra-se apenas preocupada em atender as necessidades e demandas da
m‡quina social, ou seja, de recrutar e formatar indiv’duos, transformando-os em oper‡rios
padr‹o especializados . Segundo McLuhan, nesta —tica, ˆ escola e ao professor cabe a tarefa
de moldar o homem, especializando-o numa ‡rea, parcializando-o, criando um ser amorfo e
acr’tico ˆ sociedade que o cerca; isto Ž, construindo um sujeito competidor altamente treinado
*# L,(-%G%4(!"M# :;# 4");*LP8)4%(;# !*;=*# ?'"X*="# *!,4(4%")(-.# (-*'=(# "# =*K'%4"# 4()(!*);*.# =*5#
sido mimetizar o indiv’duo e suscitar a competi•‹o. O resultado deste modelo, conforme
ressalta McLuhan, nada mais Ž do que criar sujeitos capazes de se distinguir entre si, n‹o pela
originalidade nem pela criatividade, mas sim pela repeti•‹o dos movimentos produtivos, s—
que de forma mais r‡pida e eficiente.
Essas observa•›es do autor coincidem com o que Nietzsche (2004, p. 107) classifica
4"5"#9*;=(@*-*4%5*)=";#?('(#(;#)*4*;;%!(!*;#!(#<%!(B.#",#;*X(.#%);=%=,%ZO*;#*;4"-('*;#")!*#(#
cultura nos termos cl‡ssicos como ele entende
28
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4";=,5(#4D(5('#h;#<*W*;#=(5@R5#!*#e4,-=,'(U.#5(;#L,*#R#;"5*)=*#(# 4'%(!(#*#(#4");*-D*%ra
%)=*-*4=,(-#!(;#4('8)4%(;#!(#<%!(.#!"#7()D".#!(#5%;R'%(B#[?M#]pbcM#0";#;*,;#=*'5";.#*;=*#=%?"#!*#
*!,4(Z>"#,=%-%=f'%(.#9L,*#!*%6(#<%;-,5@'('#)"#G%5#!*#;,(#='(X*=K'%(#,5#?";="#!*#G,)4%")f'%"#",#
um ganho material n‹o Ž uma educa•‹o para a cultura (...), mas simplesmente uma indica•‹o
do caminho que podem percorrer para o indiv’duo se salvar e se proteger na luta pela
*6%;=8)4%(B#[?M#]pbcM#J,#;*X(.#*!,4('-se como especialista, mas n‹o como um sujeito pleno,
cr’tico, solid‡rio, cooperativo.
28
Para uma melhor compreenso do que Nietzsche escreveu sobre a cultura como o mais importante legado que
a humanidade herdou dos gregos e dos romanos, bem como das cr’ticas do autor ˆ educao alem ˆ Žpoca, mas
absolutamente contemporneas, sugiro a leitura das cinco confer•ncias proferidas pelo filsofo na BasilŽia, entre
X()*%'"# *# 5('Z"# !*# ]_ka.# '*,)%!(;# ;"@# "# =Q=,-"# 9+"@'*# "# m,=,'"# !";# 0";;";# \;=(@*-*4%5*)=";# !*# \);%)"B.# *
publicadas no livro Escritos sobre educao.
45
A exemplo de Ortega y Gasset (2002 p. 146), que tambŽm tece severas cr’ticas ˆ
4'%(Z>".# ?'"-%G*'(Z>"# *# 5(;;%G%4(Z>"# !";# *;?*4%(-%;=(;.# ?('(# L,*5# *-*;# 9)>"# ?(;;(5# !*# ";#
)"<";#@f'@('";#!(#4")=*5?"'()*%!(!*B.#I4T,D()#[appr.#?M#wbrc#(4'*!%=(#L,*#*;=*;#;,X*%=";#
formatados e altamente especializados em compet•ncias espec’ficas, produtos da atual
?*!(7"7%(#,=%-%=('%;=(.#)>"#?(;;(5#!*#4*7";#!%()=*#!"# 5,)!"Y#9g,()!"#,5(# -()=*')(#@'%-D(#
diante de nosso rosto, n‹o conseguimos ver nada. Ora, o especialista faz isso o tempo todo; a
lanterna de sua especialidade ofusca-".#"@;4,'*4*)!"#(#'*;?";=(#("#?'"@-*5(BM
Esse estatuto profissionalizante e formatador em que as institui•›es escolares se
inscreveram, ou seja, de n‹o promover/encorajar as multiplicidades humanas e, assim, n‹o
dando chances ao indivduo de descobrir em si suas potencialidades e capacidades, deixa em
suspenso a busca do belo e do justo (em outras palavras, de um ethos
29
), prŽ-fabrica, robotiza
o sujeito, igualando-o e nivelando-o por baixo. Enquanto institui•‹o, a escola tem se afastado
cada vez mais do objetivo de ser um centro aberto de debates, sem muros, sem cercas, para
tornar-se uma produtora e reprodutora de m‹o-de-obra especializada.
Chomsky (2004), em entrevista concedida a Donaldo Macedo na revista Curr’culo
sem Fronteiras, tambŽm trabalha nesta mesma —tica mcluhaniana e foucaultiana, de que a
escola contempor‰nea tem o car‡ter apenas de formatar cidad‹os, atravŽs de discursos
doutrin‡rios e subliminares. Diz ele:
A doutrina•‹o Ž necess‡ria porque as escolas s‹o, de um modo geral,
concebidas para apoiar os interesses do segmento dominante da sociedade,
das pessoas detentoras da riqueza e do poder. Numa fase inicial da educa‹o,
as pessoas so socializadas de modo a compreenderem a necessidade de
apoiar a estrutura do poder, com as corpora•›es em primeiro plano E a classe
empresarial. A li•‹o aprendida na socializa•‹o atravŽs da educa•‹o Ž que, se
n‹o se apoiar os interesses dos detentores da riqueza e do poder, n‹o se
sobrevive por muito tempo. ƒ-se exclu’do do sistema ou marginalizado
(CHOMSKY, 2004, p. 7).
Essas observa•›es me levam a entender, de maneira mais evidente, que a escola
formatadora, cujo amparo se estabelece na disciplinariza•‹o e dociliza•‹o dos corpos, no
treinamento, na vigil‰ncia, na puni•‹o e na corre•‹o, tem por objetivo impor poder e com ele
29
Neste texto, o vocbulo aparece no sentido de carter, maneira de ser de uma pessoa, ndole e temperamento.
d*)"=(.#=(5@R5.#!%;?";%Z>"#)(=,'(-#!*#,5(#?*;;"(#;*7,)!"#;*,#4"'?"#*#;,(#(-5(#[ij:/3.#"?M#4%=M#?M#rp1).
46
construir discursos para modelar os indiv’duos. Este padr‹o de escola cria sujeitos voltados
apenas ˆ competi•‹o e n‹o ao seu esclarecimento e emancipa•‹o, tendo como via o respeito ˆs
diversidades e pluralidades. McLuhan (1969b; 1971a; 1998) afirma que o atual modelo de
institui•‹o tem mais o car‡ter de dar ao aluno um ensino (adestramento) do que
verdadeiramente uma aprendizagem (emancipa•‹o). Nesse sentido, segundo o autor, a escola
antes de estar preocupada em ser uma institui•‹o normatizadora, deve ter como seu
?'*;;,?";="#L,*#9*!,4('#)>"#R#;%)N)%5"#!*#G"'5('#*#5()=*'#D"5*);#(#5*%"#4(5%)D"#!*#;,(;#
possibilidades de desabrochamento, mas, ao contr‡rio, abrir-se ˆ ess•ncia e ˆ plenitude da sua
*6%;=8)4%(B#[MCLUHAN, 1969b, p. 57-58).
Sob este aspecto, o te—rico insiste em nos fazer refletir sobre a quest‹o ainda t‹o
presente da profissionaliza•‹o, da qualifica•‹o (especializa•‹o/produ•‹o) fragmentada do ser
humano. Esta especializa•‹o ou, como McLuhan classifica, estandardiza•‹o, que atende
apenas ˆs pol’ticas e aos interesses dos sistemas produtivos E sejam privados ou estatais E,
n‹o valoriza o homem no seu todo; ao contr‡rio, traz no seu cerne os efeitos de, ao formatar o
indiv’duo igualando-o, torn-lo uma pe•a de f‡cil substitui•‹o na engrenagem da m‡quina
produtiva de bens e de consumo. O que se depreende desta cr’tica Ž que essa escola
modeladora n‹o se caracteriza como um espa•o de afloramento das diversidades. Nela, os
alunos precisam despir-se de seus corpos no port‹o de entrada, uma vez que, dentro da
institui•‹o, n‹o existe lugar para a subjetividade, a criatividade, o sonho e a utopia, mas sim
para a massifica•‹o ou, em outras palavras, a estandardiza•‹o, cujo sucesso se deve ˆ
utiliza•‹o de instrumentos de vigil‰ncia com base na hierarquia, na san•‹o e no exame.
O juzo cr’tico de McLuhan tem como endere•o o padr‹o, cada vez mais
profissionalizante e formatador, em que as escolas se inseriram, ao ordenar em mŽtodos a
passagem do estatuto da criana para o do adulto que o adestra. De acordo com o autor, um
dos grandes problemas da educa•‹o massificada - portanto, formatadora, unificadora e
utilitarista - diz respeito ˆs aulas expositivas, as quais propiciam um engajamento
30
m’nimo
por parte dos educa)!";M#9\;=*#;%;=*5(.#*5@"'(#,5#!";#5*)";#*G%4(W*;#L,*#"#D"5*5#X(5(%;#
30
# I4T,D()# ='(@(-D(# *)7(X(5*)="# )";# ;*7,%)=*;# =*'5";Y# 9\)7(X(5*)="# ;%7)%G%4(# 5"@%-%W(Z>"# !*# ="!(;# (;#
faculdades [fsicas e ps’quicas do homem] numa dada situao e exige um intercmbio constante do indivduo
com o que o rodeia. E para que ele deseje manter a continuidade desse intercmbio, deve ter o sentimento de um
fim a atingir. Em outros termos, o aluno e a identidade docente (que pode ser, pouco importa, uma pessoa, um
grupo de pessoas, um livro, um curso programado ou uma mquina eletrnica) devem ser mantidos numa relao
de intercmbio atraente e motivador. Se reunidas estas condi•es, o aluno no sentir desejo de abandonar a
*6?*'%8)4%(BM#[IiT/j:0.#]^`^@.#?M#brcM
47
pode imaginar, bastava num tempo em que sera solicitada uma pequena parte das faculdades
de cada ser humano. Todavia, nenhuma garantia era dada quanto ˆ qualidade dos produtos
humanos d(#*!,4(Z>"B.#*;4'*<*#I4T,D()#[]^`^@.#?M#bacM#\;;(#*;?*4%(-%W(Z>"#*5#5(;;(.#L,*#
a escola tem produzido, segundo o autor, ao atender apenas ˆs pol’ticas e aos interesses dos
sistemas produtivos E que faz nascer com a mesma rapidez e voracidade com que fazem
morrer profiss›es, terminologias, vocabul‡rios E n‹o valoriza o homem no seu conjunto; ao
contr‡rio, traz no seu bojo os efeitos de, ao modelar o indiv’duo em sŽrie, o tornar em alguŽm
que compete pela sua rapidez produtiva e n‹o pela sua atividade criativa, numa pe•a de f‡cil
substitui•‹o na engrenagem de produ•‹o.
O que o autor, ao ressaltar criticamente o car‡ter estandardizado da escola procura
fazer ver Ž que a educa•‹o massificada, como a que nos Ž dada, Ž o fruto da era da
mecanicidade, oriunda de uma civiliza•‹o que racionalizou de forma exagerada o ser humano,
='(=()!"# !*#!%;;*4('#94(!(#?'"4*;;"#v=%-#*5# 4"5?")*)=*;#G,)4%")(%;.#!*#5()*%'(#L,*#?";;(#
reproduzi--";#*5#=()=";#*6*5?-('*;#L,()=";#!*;*X('B#[IiT/j:0.#]^`^@.#?M#w^c#*#L,*#*;=(#
especializa•‹o, honrosamente coroada, premiada, com t’tulos, distin•›es e diplomas, se
constitui como o passaporte para a sociabilidade e para o sucesso. Como bem salienta Lima,
ao interpretar as muta•›es na institui•‹o escolar a partir das pondera•›es mcluhanianas, a
e;4"-(# (%)!(# <%<*# (# *'(# !";# @(4D('R%;.# 9*;?R4%*# !*# 4(;=(# L,*# !"5%)",# !,'()=*# ;R4,-";# (#
administra•‹o pœblica das na•›es. (...) e esta escola s— se justifica pelas regalias que traz aos
?"'=(!"'*;#!*# ;*,;#!%?-"5(;.#,5(#*;?R4%*#!*#e4('=(#'R7%(U#L,*#4")4*!*#?'ivilŽgios aos seus
?"'=(!"'*;B#[T1I:.#]^_p.#?M#]kcM
Sobre esse sentido de mundos constru’dos, verdades discursivas dadas como conceitos
imut‡veis, Garcia (2005) procura iluminar o debate quanto ao importante e decisivo papel da
pol’tica, para entender a fun•‹o da escola na vida e na sociabilidade dos cidad‹os planet‡rios.
Ele escreve:
ƒ desej‡vel, mas n‹o Ž sensato, por exemplo, acreditar que o ideal da
inser•‹o e da prepara•‹o plenas das novas gera•›es nas escolas garanta por
si mesmo ocupa•›es dignas para todos os que habitam o planeta. Ilus‹o
produzida tanto por mentiras deliberadas quanto pela boa-fŽ expandida
cotidianamente pelos discursos e institui•›es que lan•am, para um futuro
indefinido, expectativas que favorecem a generosa cren•a de que com a
repeti‹o e a expans‹o das pr‡ticas e concep•›es do presente esse futuro
logo chegar (GARCIA, 2005, p. 136).
48
Garcia admite que nesta configura•‹o social globalizada, os Estados mais
desenvolvidos, tŽcnica e economicamente, geram mecanismos para receber e administrar suas
novas gera•›es atravŽs da qualifica•‹o profissional, dando-lhes uma forma•‹o para o mercado
de trabalho. Para o autor, no entanto, o perigo estna l—gica ut—pica que se cria, qual seja, de
que a escola tudo pode e tudo salva. A quest‹o e)G(=%W(!(#?"'#&('4%(#[appr.#?M#]w`c#9R#L,*.#
quando uma Žpoca estreita a compreens‹o pol’tica de suas quest›es gerais, esses termos
[profissionaliza•‹o, especializa•‹o] passam a soar como nomes m‡gicos que conduzir‹o
alguns pa’ses ou indiv’duos ao sucesso e#",='";#h;#!*;7'(Z(;#%)*<%=f<*%;BM##\;;(#('7,5*)=(Z>"#
do autor se torna ainda mais veross’mil, clara e contundente, principalmente quando se pensa
que na ordena•‹o mundial como est‡ configurada a aldeia global, por mais especialistas que
sejam formados, n"# *6%;=*5# 4")!%ZO*;# ;,;=*)=f<*%;# 9?('(# ,5(# (4"-D%!(# h;# 7*'(ZO*;# L,*#
aparecem sem cessar; [e atŽ] mesmo [para] aquelas preparadas pelas formas tradicionais, [os]
espa•os [tornaram-;*o# !*;?'"?"'4%")(%;# *)='*# "# L,*# R# !*5()!(!"# *# "# L,*# R# "G*'*4%!"BM#
(GARCIA, 2005, p. 136) [interpola•›es minhas].
McLuhan n‹o economiza met‡foras e aforismos no seu julgamento ˆ escola
G"'5(=(Z>"Y# 94"5"# ?*!(Z";# !*# 5*=(-# 5"-!(!";# ;*# ="')(5# (;# ?('=*;# L,*# 4"5?O*5# ,5(#
locomotiva, os especialistas humanos tornar-se-iam os componentes da grande m‡quina
;"4%(-B# [IiT/j:0.# ]^`^.# ?M# bpcM##+,(;#G"'5,-(ZO*;.# *5@"'(# (;;,5(5# ,5# 4*'="#7'(,# !*#
gravidade e de negativismo, pelo menos da forma como as entendo, servem de alerta aos
educadores como mote de reflex‹o quanto a esse papel que a escola tem assumido, ou seja, se
tornado uma produtora e repositora de m‹o-de-obra especializada, como se a ela coubesse o
papel de recrutar oper‡rios para os setores de produ•‹o, seja na iniciativa privada ou no
(?('*-D"#*;=(=(-M#9:#*!,4(Z>"#=*5#L,*#;*#!*;<%('#!(#%)stru•‹o, da imposi•‹o de estere—tipos,
para buscar a descoberta E indo ˆ sondagem e explora•‹o bem como ao reconhecimento da
-%)7,(7*5#!(;#G"'5(;B#[IiT/j:0.#]^`^(.#?M#]a_cM
Diante dessas observa•›es, evidencia-se que em Foucault (2004) encontra-se um juzo
semelhante ao de McLuhan sobre a escola formatadora, quando ele explica que,
a disciplina aumenta as for•as do corpo (em termos econ™micos de utilidade)
e diminui essas mesmas for•as (em termos pol’ticos de obedi•ncia). Em uma
palavra: ela dissocia o ?"!*'#!"#4"'?"S#G(W#!*-*#?"'#,5#-(!"#,5(#9(?=%!>"B.#
,5(# 94(?(4%!(!*B# L,*# *-(# ?'"4,'(# (,5*)=('S# *# %)<*'=*# ?"'# ",='"# -(!"# (#
energia, a pot•ncia que poderia resultar disso, e faz dela uma rela•‹o de
sujei‹o estrita (FOUCAULT, 2004, p. 119).
49
Parece ser evidente que uma escola cujo sustent‡culo tem por base a disciplinariza•‹o
e exercita•‹o dos corpos, o treinamento, a vigil‰ncia, a puni•‹o e a corre•‹o, com vistas a
impor poder e com ele construir discursos, na concep•‹o foucaultiana, constr—i um modelo de
suX*%Z>".# !*# !%;4%?-%)('%!(!*# )"# 5"!"# (,="'%W(!"# !*# ,5# !%;4,';"# 4"5"# 94")D*4%5*)="#
<*'!(!*%'"B#",.#5*-D"'#!%=".#94%*)=QG%4"BM#:;;%5.#";#(?"'=*;#?'"?%4%(!";#?*-";#(,="'*;#(=R#(L,%#
discutidos me propiciam entender que esta institui•‹o escolar s— pode criar sujeitos voltados ˆ
competi•‹o e n‹o ao seu esclarecimento e a sua emancipa•‹o, tendo como via o respeito ˆs
diversidades e pluralidades humanas.
Em termos da competi•‹o estimulada pelo atual estatuto da educa•‹o que forma
homens (ou oper‡rios) aptos ao emprego e ao sucesso profissional, Adorno (1995) nos oferece
,5(# "@;*'<(Z>"# %5?"'=()=*Y# 9:# 4"5?*=%Z>"# R# ,5# ?'%)4Q?%"# )"# G,)!"# 4")='f'%"# (# ,5(#
educa•‹o humana. (...) um ensino que se realiza em formas humanas, de maneira alguma
ultima o fortalecimento do insti)="#!*#4"5?*=%Z>"B#[:dJ$0J.#]^^r.#?M#]`]cM
A escola sem muros, verdadeiramente globalizada, pressup›e sem sombra de dœvidas
a necessidade de devolver o lœdico ˆ educa•‹o. Por lœdico, aqui se entende tudo aquilo que
propicia um engajamento do sujeito no mundo, que permite ao homem o aspecto vivencial, as
mais variadas formas de experimenta•›es. Na concep•‹o de McLuhan (1969b; 1971a), Ž
ilus—rio supor que existam diferen•as entre entretenimento e educa•‹o. Para ele, sempre foi
fato ver’dico que tudo o que agrada ensina de forma mais eficaz. A quest‹o exposta pelo
te—rico quanto ao atual modelo de educa•‹o diz respeito ao entendimento de que a escola hoje
tem mais o car‡ter de dar ao educando um ensino do que verdadeiramente uma aprendizagem.
McLuhan assegura:#9J;#4%!(!>";#!"#G,=,'"#=*'>"#5,%="#5*)";#)*4*;;%!(!*;#L,*#D"X*.#!*#=*'#
forma•‹o e pontos de vista semelhantes. Pelo contr‡rio, ser‹o recompensados pela sua
!%<*';%!(!*#*#"'%7%)(-%!(!*B#[]^`^@.#?M#bbcM
Para dar sustenta•‹o ˆ sua tese, McLuhan (1969b, p. 46) cita como exemplo uma
crian•a que vive no estrangeiro e que, pela conviv•ncia livre com as demais crian•as, atravŽs
!*# @'%)4(!*%'(;# (# L,(-L,*'# D"'(.# ;*5# 4");='()7%5*)=";# *# ;*5# G'*LP*)=('# )*)D,5# 4,';".#
aprende melhor e mais r‡pido a nova l’ngua do que se estivesse numa sala de aula. Ao se
colocar esta mesma crian•a num curso, onde tenha que aprender dentro dos rigores de um
mŽtodo que inclui exerc’cios de pronœncia, de escrita e de corre•›es dos erros, submetendo-a
50
a deveres de casa, a chamadas orais de controle e incutindo-lhe a idŽia de que este
aprendizado Ž um trabalho e n‹o um entretenimento, os resultados s‹o absolutamente
diferentes: a crian•a aprende o idioma em quest‹o com tanta repugn‰ncia e dificuldade quanto
um adolescente ou adulto que japrendeu as li•›es da escola tradicional, ou seja, inibi•›es,
constrangimentos, classifica•‹o, perda de flexibilidade e, o que Ž pior, a no•‹o de que
(?'*)!*'# (-7"# R# ,5(# =('*G(# -")7(# *# ?*)";(M# 9:# *!,4(Z>"# *;4"-('# ='(!%4%")(-# !%;?O*# !*# ,5#
impressionante acervo de meios pr—prios para suscitar em n—s o desgosto por qualquer
(=%<%!(!*#D,5()(.#?"'#5(%;#(='(*)=*#L,*#;*X(#)"#%)Q4%"MMMB.#*;4'*<*#I4T,D()#[]^`^@.#?M#b`cM
Diante desse enunciado mcluhaniano, parece razo‡vel exercitarmos constantemente
uma reflex‹o e um debate quanto a essa modelagem dos indiv’duos, que n‹o permite sua
emancipa•‹o e autonomia, mas sim os transforma em competidores natos e desenfreados.
Uma reflex‹o que n‹o Ž nova; h‡ muito permeia estudos de v‡rios autores, entre os quais
Adorno (1995), qu*#*5#(-7,);#!*#;*,;#=*6=";#;"@'*#*!,4(Z>"#*;4'*<*Y#90>"#=*5";#"#!%'*%="#!*#
modelar pessoas a partir do seu exterior; [muito menos por meio] da mera transmiss‹o de
conhecimentos com a caracter’stica de coisa morta (...), mas [atravŽs] da produ•‹o de uma
con;4%8)4%(#<*'!(!*%'(B#[:dJ$0J.# ]^^r.#?M#]b]cM#:# 4'Q=%4(# G*%=(# ?"'#:!"')"#R# !*# L,*# )(#
escola h‡ uma excessiva racionaliza•‹o de tudo:
Este conceito [de racionalidade ou de consci•ncia] Ž apreendido de um
modo excessivamente estreito, como capacidade formal de pensar. Mas esta
constitui uma limita•‹o da intelig•ncia (...) Aquilo que caracteriza
propriamente a consci•ncia Ž o pensar em rela•‹o ˆ realidade, ao conteœdo E
a rela‹o entre as formas e estruturas de pensamento do sujeito e aquilo que
este n‹o Ž. Este sentido mais profundo de conscincia ou faculdade de pensar
n‹o Ž apenas o desenvolvimento l—gico formal, mas corresponde literalmente
ˆ capacidade de fazer experi•ncias. (...) Pensar Ž o mesmo que fazer
experi•ncias intelectuais. Nesta medida (...) a educa‹o para a experi•ncia Ž
id•ntica ˆ educa•‹o para a emancipa•‹o (ADORNO, 1995, p. 151).
Rever a quest‹o modular hierarquizada, esquadrinhada, em que se encontra a escola,
ao que tudo indica, parece ser o maior desafio dessa educa•‹o da era eletr™nica: os
?'"G*;;"'*;# !*%6(5# !*# ;*'# 5*'";# '*?'"!,="'*;# !*# ,5# 9;(@*'B# *;?*4QG%4".# 4"5"# *'(5# ";#
leitores de pergaminhos em tempos medievais, e assumem a cena como construtores de
saberes mœltiplos, promovendo o di‡logo entre as culturas e as diversas vis›es do mundo que
chegam ˆ sala de aula por meio dos educandos com suas tradi•›es, viv•ncias, experi•ncias
(historicidade), e tambŽm atravŽs dos muitos imagin‡rios criados pelos meios de
comunica•‹o. Em tempos de aldeia global, o professor-informante e o aluno-ouvinte est‹o
51
fadados a personagens de uma narrativa do passado. Neste horizonte Ž que s‹o instauradas as
rela•›es de media•‹o entre as tecnologias, os meios, os estudantes e os educadores. Ao
professor, ao aluno, e tambŽm ao que advŽm atravŽs dos meios, cabe o papel de promover as
discuss›es cr’ticas das mensagens e construir, a partir delas, novos conhecimentos. Na
dimens‹o propiciada pela rela•‹o adequada das novas tecnologias de comunica•‹o e daquilo
que atravŽs delas nos sucede, somos chamados a pensar sobre as implica•›es e os significados
novos que a escola planeta carrega: o fim do esquema da memoriza•‹o, do condicionamento,
das respostas prontas, desde que se evite uma passividade diante da m’dia e das suas
multifacetadas constru•›es discursivas. 9:#G,)Z>o do estabelecimento de ensino Ž [exercitar a
percep•‹o] do ambiente exterior em vez de meramente reproduzir informa•›es e introduzi-la
)";#4'u)%";#!";#(-,)";B#[IiT/j:0.#appr.#?M#]akcM
O que McLuhan procura enfatizar no fragmento destacado Ž que, apesar de vivermos
numa aldeia global profundamente marcada por novas e constantes informa•›es, na qual o
conhecimento se transforma e se reconstr—i em velocidade surpreendente, a institui•‹o escolar
ainda procura manter suas matrizes pedag—gicas enraizadas na concep•‹o medieval do ensino,
")!*#9*5#<*W#!(#()%5(!(#!%;4,;;>".#%5?N;-se a aula, a li•‹o E o œnico leitor (professor) lendo
)"=(;#*;4'%=(;#(#",<%)=*;#;%-*)4%";";.# L,*#7(;=(<(5#"# '*;="#!"#=*5?"# *5#-*%=,'(#;%-*)4%";(B#
(MCLUHAN, 1971a, p. 158). ƒ uma cr’tica contunde, sem dœvida, mas que procura chamar a
aten•‹o para o fato de que Ž chegada a hora de a escola romper seus muros, uma vez que
9="!"# "# (5@%*)=*# ,'@()"# ="')",-se agressivamente pedag—gico. Todos e tudo t•m uma
5*);(7*5#(#!*4-('('.#,5#G%"#L,*#-%7('B#[IiLUHAN, 1982, 147). Ou seja, urge transformar a
escola-claustro em escola-planeta.
Existem mais informa•›es e dados fora das escolas do que dentro
delas. A not‡vel quantidade de n’veis de informa•‹o que existe fora da sala
de aula, no ambiente, excede de longe o montante de dados e informa•›es
existentes dentro dela. (...) Qual seria, pois, o futuro da educa‹o num
mundo em que as propor•›es de informa•‹o se inverteram? (MCLUHAN,
2005, p. 127).
Como todas as provoca•›es e sondagens do autor, a pergunta parece muito pertinente,
e imp›e muitos e novos desafios ˆ reflex‹o...
!#0&/8+$1#(#$#('8&2081,&$d42#1$#$/'(,$#*/2%$/
³G$&4%/! +:$21:%*+/! 0+(/16! #$+! %! 0*%'3+61! :1! +:$21HI%!
consiste, unicamente, em passar a informa•‹o, deix‡-la
transpor a barreira, vencer a resist•ncia dos jovens, s— para
mov-la e mant-la em movimento. N‹o tenho muito interesse
nessa teoria. Minha teoria ou preocupa‹o Ž com o que esses
meios de comunica•‹o fazem ˆs pessoas que os usam. O que a
escrita fez ˆs pessoas que a inventaram e a usaram? O que os
outros meios de comunica‹o de nosso tempo fazem ˆs pessoas
que os usam? Minha teoria Ž uma teoria da transforma•‹o, da
maneira pela qual as pessoas s‹o mudadas pelos instrumentos
T$+!+60*+716-<!
(Herbert Marshall McLuhan)
Transformar, modificar, dar nova forma a alguma coisa j posta ou vista. As
prospec•›es e sondagens de McLuhan, bem como este segundo cap’tulo em sua primeira
parte, procuram isto: entender o que algo, que aqui faculta tambŽm ser denominado como
meio, pode se reverter quando criado e empregado pelo homem, inclusive dentro dos muros
da escola. Ao longo da sua produ•‹o acad•mica Ž poss’vel perceber a preocupa•‹o do autor
sobre o tema, mesmo quando, de forma muitas vezes enigm‡tica, nos prop›e jogos de
interpreta•‹o com"# *;=*Y# 9";# )"<";# 5*%";# )>"# ;>"# G"'5(;# !*# )";# '*-(4%")('# 4"5# "# <*-D"#
5,)!"#e'*(-US#*-*;#;>"#"#5,)!"#'*(-#*#<"-=(5#(#!('#G"'5(.#4"5#-%@*'!(!*.#(#=,!"#"#L,*#;"@'(#
!"#<*-D"#5,)!"B#[IiT/j:0.#]^__.#?M#warcM
Referido em outros termos: qualquer artefato, mesmo que remanipulado, Ž uma
representa‹o do mundo, dos imagin‡rios humanos, em outras perspectivas, linguagens,
gram‡ticas e sintaxes, que devem ser vistos e entendidos, n‹o pelo conteœdo que trazem
embutidos em si, mas na forma como transformam nossas rela•›es no e para com o mundo;
L,*'#!%W*'.#94"5*Z(5";#(#)";#!('#4")=(#!*#L,*#";#)"<";#5*%";#)>"#;>"#;"5*)=*#4D(5('%W*;#
mec‰nicos para a cria•‹o de mundos de ilus‹o, mas novas linguagens com poderes de
*6?'*;;>"#)"<";#*#v)%4";B#[IiT/j:0.#]^__.#?M#wa`cM
53
Espirituoso em alguns momentos de sua escrita, enigm‡tico em outras passagens que
ˆs vezes podem tomar uma conota•‹o apocal’ptica, o pensamento te—rico de McLuhan, de
fato, parece querer p™r a todos em sobressalto.
Enigmas e provoca•›es ˆ parte, o que releva aqui Ž decifr‡-lo ˆ luz da
4")=*5?"'()*%!(!*.#"#L,*#*-*#)";#-*7(#L,()!"#(G%'5(.#?"'#*6*5?-".#L,*#9="!(#(#=*4)"-"7%(#
humana come•a como um servi•o ou ajuda imediata a alguma fun•‹o existente, e esta ajuda
rapidamente desenvolve seu pr—prio campo de servi•os e atividades associadas que, por sua
<*W.#4'%(5#)"<";#;*'<%Z";#*#;(=%;G(ZO*;B#[IiT/j:0.#]^__.#?M#wwpcM
Em A Gal‡xia de Gutenberg, um dos seus primeiros estudos, o autor exp›e o jogo
antag™nico das experi•ncias entre o homem prŽ-letrado e o letrado. McLuhan (1972) indica a
a inven•‹o do alfabeto fonŽtico, portanto da escrita, como a respons‡vel por tirar o indiv’duo
do seu estado m’tico e o enclausurar em gavetas fragmentadas de conhecimento e de
comportamento. A escrita, na sua opini‹o, destribalizou o sujeito, ou seja, o homem
=%?"7'fG%4"# !f# ("# =*5?"# *# ("# *;?(Z"# ,5# ;*)=%!"# ;*LP*)4%(-.# G'(75*)=(!".# ,)%G"'5*# E
permitindo desta forma que os sujeitos se individualizem. O di‡logo e a transmiss‹o da
cultura, dos valores e das experi•ncias vivenciadas no espa•o acœstico oral deixam de existir,
pelo menos na escala em que se davam entre o homem prŽ-letrado tribal. Mas esta n‹o foi a
œnica mudan•a social registrada pelo autor com refer•ncia ˆ descoberta do alfabeto fonŽtico e,
na sua esteira, da imprensa.
Para McLuh().#(#=%?"7'(G%(#?"'#5*%"#!"#=*6="#%5?'*;;"#9=*<*#"#*G*%="#!*#?,'%G%4('#"#
latim atŽ o ponto de suprimir-lhe a exist•ncia; estendeu seu pr—prio car‡ter ˆ regulariza•‹o e
fixa•‹o das l’nguas; alterou n‹o s— a ortografia e a gram‡tica como tambŽm a acentua•‹o e
G-*6>"#)(;#-Q)7,(;.#="')()!"#?";;Q<*-#n%)4-,;%<*o#(#5f#7'(5f=%4(B#[]^ka.#?M#wpk-312). O fato
mais grave, na opini‹o do autor, ocorre com o aparecimento da prensa de tipos m—veis
31
, que
permitiu uma fragmenta•‹o ainda maior do homem, uma vez que este desenvolveu as
m‡quinas de produ•‹o de bens, criou os sistemas fragment‡rios das linhas de montagem e se
4-")",#(#*-(;M#9:#*;4"-(#*#(#(,-(.#=(-#4"5"#(;#4")D*4*5";#(7"'(.#G"'(5#(;#*6=*);O*;#!%'*=(;#
31
Estima-se que Johannes Gutenberg tenha criado a primeira pensa de tipos mveis entre 1436 e 1450, segundo
alguns historiadores. Entretanto o primeiro livro impresso por Gutenberg, conhecido como A Bblia de
Gutenberg, Ž datado de 1455.
54
da tecnologia do livro impresso. E [este] foi a primeira m‡quina de educar, enquanto que o
5(),;4'%="#D(<%(#;%!"#5*'(5*)=*#,5(#G*''(5*)=(#?('(#*!,4('B#[IiT/j:0.#]^__.#?M#wbbcM
:;;%5.# !*# (4"'!"# 4"5# "# =*K'%4".# 9;*# ,5(# -%)7,(7*5# %)<*)=(!(# *# ,;(!(# ?"'# 5,%=(;#
pessoas Ž um meio de massa, qualquer dos nossos novos meios s‹o, em um certo sentido, uma
nova linguagem, uma nova codifica•‹o de experi•ncia coletivamente obtida mediante novos
Df@%=";#!*#='(@(-D"#*#4");4%8)4%(#4"-*=%<(#%)4-,;%<(B#E escreve McLuhan (1988, p. 326), nas
suas especula•›es acerca das formas como as ferramentas criadas pelos indiv’duos alteram as
rela•›es do homem para com o homem, do homem para com a natureza, do homem para com
a grande aldeia em que se inscreve.
As teorias emp’rico-intuitivas de McLuhan t•m um car‡ter subjacente de provocar
uma compreens‹o sobre as mudan•as de comportamento do homem na sociedade, mas
deixam espa•o para a interpreta•‹o sobre os desdobramentos destas altera•›es provocadas
pelos meios, no campo pol’tico e social, e sobre o qual novos estudos podem ser suscitados
atravŽs de novas prospec•›es e releituras do autor. Conforme observa Esteinou Madrid
(2006), Ž preciso esclarecer que a explos‹o dos novos aparatos tecnol—gicos desnuda o
aspecto de que a aldeia global se converteu numa aldeia de promo•‹o e realiza•‹o do capital
por meio de um forte marketing criando uma no•‹o e uma tend•ncia de homogeneiza•‹o de
aspira•›es, valores, linguagens e cosmovis‹o do planeta. Para Esteinou Madrid, as teorias
mcluhanianas permitem compreender a amplia•‹o dos sentidos humanos atravŽs dos meios de
comunica•‹o, n‹o apenas originando um prolongamento da sensibilidade humana, mas,
sobretudo, de um prolongamento das institui•›es sociais e do poder que produz o Estado
ampliado de forma estratŽgica. Desse modo, segundo o autor, a partir das teoriza•›es de
I4T,D()#;"@'*#(;#5,!()Z(;#L,*#";#5*%";#?'"<"4(5.#R#?";;Q<*-#*)=*)!*'#L,*#(=R#5*;5"#9(;#
guerras jn‹o se ganham no campo de batalha tradicional, mas que agora [a vit—ria] se obtŽm
nos meios de comunica•‹o. (...) Espa•os simb—licos que contr—em os canais de comunica•‹o e
;,(;#(5?-%(ZO*;.#")!*#;*#'*4");='K%#*#;*#!*;='K%#";#?'"4*;;";#!(#<%!(#4"=%!%()(B#[\+l\10J/#
MADRID, 2006).
Sobre essa quest‹o Ž interessante recorrer ao pr—prio McLuhan, em Guerra e paz na
aldeia global, para quem a guerra na verdade Ž muito mais ic™nica, semi—tica, do que feita por
meio de armas. E que a guerra como educa•‹o e a educa•‹o como guerra possuem diferen•as
muito t•nues entre si.
55
Na idade da informa•‹o Ž obviamente poss’vel dizimar popula•›es
pela dissemina•‹o de informa•‹o e de artif’cios [referindo-se ˆs campanhas
americanas subsidiadas pela Funda•‹o Ford, atravŽs do envio de
mission‡rios mŽdicos para implementar campanhas de controle da natalidade
)(# 3)!%(oM# 0>"# ;*# ='(=(# !*# !%;4,=%'# <(-"'*;M# ~# (?*)(;# "# ,;"# ;%5?-*;# !(#
tecnologia da informa•‹o por uma comunidade para remodelar outra. Esse Ž
o tipo de agress‹o que exercemos contra nossos jovens sob o nome de
e*!,4(Z>"UM# J# L,*# G(W*5";# R# ;"5*)=*# %5?"'# (# *-*;# ";# ?(!'O*;# L,*#
consideramos convenientes a ns mesmos e consistentes com as tecnologias
dispon’veis. Tais costumes e usos, por certo, s‹o sempre orientados pelo
passado e as novas tecnologias s‹o necessariamente exclu’das da institui•‹o
educacional atŽ que os mais velhos tenham perdido o poder (MCLUHAN,
1971b, p. 149). [Interpola•›es minhas].
A escrita pict—rica como a que McLuhan emprega para justificar as raz›es de a
m‡quina de escrever ter-se tornado um objeto de extrema import‰ncia nas corpora•›es Ž
esclarecedora no que diz respeito n‹o s— ao complemento que uma tecnologia faz ˆ outra. Seu
subtexto procura levar a uma reflex‹o ampliada, qual seja o quanto a racionaliza•‹o do
emprego destes aparatos tecnol—gicos, muitas vezes de forma fetichizada, pode tornar o
D"5*5#*;4'(<"#!*#;,(;#?'K?'%(;#%)<*)ZO*;Y#9m"%#"#=*-*G")*.#?('adoxalmente, quem acelerou a
(!"Z>"#4"5*'4%(-#!(#5fL,%)(#!*#*;4'*<*'M#:#G'(;*#e5()!*-5*#,5#5*5"'()!"#;"@'*#%;;"AU.#
repetidamente em milh›es de telefonemas diariamente, ajudou a criar a grande expans‹o da
G,)Z>"# !(# 5fL,%)(# !*# *;4'*<*'B# [IiT/j:0.# ]^__.# ?M# ww4). Pensemos, por exemplo, e a
?('=%'#!"#G'(75*)="#!*;=(4(!".#;"@'*#(#(4*-*'(!(#!%G,;>"#!(#%)=*')*=M#9Mande-me isso por e-
mail!BS#9Qual Ž o seu e-P1&3,-J#9Voctem msn? Me adicione e podemos falar e nos ver por
l‡...BM# g,*5#Xf#)>"#;*# D(@%=,",# (# ",<%'# *;=(; perguntas cotidianamente? Pensemos em que
mudan•as sociais, psicol—gicas, comportamentais e de ambiente elas est‹o, silenciosamente,
provocando entre n—s sem nos darmos conta delas? Pensemos na maneira subliminar que estas
mudan•as provocam nas institui•›es, entre elas a escola, mesmo quando esta procura erguer
muros para evitar, em v‹o, que elas aconte•am.
H‡, de qualquer maneira, escondida em cada met‡fora, aforismo, ou mesmo nas
enigm‡ticas frases dos estudos de McLuhan, uma preocupa•‹o robusta de nos empurrar para a
reflex‹o, junto a ele, sobre os impactos sociais, pol’ticos e culturais que os meios de
comunica•‹o de nosso tempo E extens›es nossas, de nosso corpo, de nossos sentidos -
provocam na aldeia global e no seio de suas institui•›es. Compreender estas altera•›es que os
meios provocam na sociedade, ao que parece, nesta nova configura•‹o do mundo, torna-se
fundamental para que se pense a educa•‹o contempor‰nea e qual deve ser o papel da escola
56
diante dos desafios advindos desta evolu•‹o tecnol—gica, que resulta num constante
reconstruir conhecimentos. ƒ sobre essa quest‹o que McLuhan, com suas cr’ticas ˆ institui•‹o
escolar, instiga os educadores do futuro a pensar:
Atualmente (...) em nosso mundo do trabalho, os empregos esto
dando lugar ao desempenho de papŽis, porque a uma velocidade elŽtrica Ž
imposs’vel especializar-se. Esse Ž um dos problemas da educa•‹o. As
disciplinas est‹o se tornando muito dœbias como forma de saber. A
interdisciplinaridade vai assumindo importncia cada vez maior. O estudo
dos meios de comunica•‹o Ž um estudo interdisciplinar. Assim, as
disciplinas isoladas do currculo tornaram-se quase uma amea•a ˆ educa•‹o.
Da mesma forma, o trabalho especializado tornou-se imposs’vel numa
grande f‡brica ou numa grande empresa. ƒ cada vez mais necessrio
conhecer o padr‹o global da opera•‹o (MCLUHAN, 2005, p. 277).
O que o fragmento do texto possibilita entender Ž que o foco de discuss‹o, no que
tange ˆ quest‹o da especializa•‹o dos sujeitos promovida pela escola, descortina uma quest‹o
mais abrangente, cuja dire•‹o vai ao encontro dos novos imagin‡rios que os meios t•m criado
no homem e como a institui•‹o escolar necessita estar preparada para dialogar, intermediar e
mediar a quest‹o destas novas demandas de imagin‡rios. Sobre isso McLuhan escreve:
Os filhos do homem tecnol—gico respondem com um prazer
espont‰neo ˆ poesia dos trens, dos navios, avi›es, e ˆ beleza dos produtos
das m‡quinas. Na sala da escola, o oficialismo suprime toda a sua
experi•ncia natural; as crian•as s‹o divorciadas de sua cultura. No lhes Ž
consentido abordarem a heran•a tradicional da humanidade atravŽs da porta
da consci•ncia e compreens‹o tecnol—gicas; essa porta, a œnica que lhes Ž
poss’vel, foi-lhes fechada na cara. A outra porta que lhes resta Ž a do
intelectualismo. Poucos a encontram e ainda menos encontram o seu
caminho de retorno ˆ cultura popular (MCLUHAN, 1971a, p. 219).
Ao estudar a maneira pela qual as pessoas s‹o mudadas, afetadas, pelos instrumentos
que empregam, McLuhan centra seu foco na educa•‹o, uma vez que entende que estas
mudan•as s‹o e devem ser vistas como pedag—gicas; portanto, que a institui•‹o escolar pelo
papel constru’do historicamente e que lhe foi atribu’do, se constitui no locus privilegiado para
realizar as media•›es, as neg"7%(ZO*;# L,*# <%;*5# ,5(# 5*-D"'# 4"5?'**);>"# !"# 5,)!"M# F#
Žpoca das suas sondagens e prospec•›es, o meio em voga era a televis‹o. E sobre ela
McLuhan dedicou boa parte de suas reflex›es.
57
!;<#$#('8&$d42#(#26#08/7,0(,26>#AULA SEM PAREDES
32
Nos anos 1960, McLuhan jalertava que a televis‹o estava formando uma gera•‹o de
novos sujeitos, profundamente marcados pela mensagem desse meio de comunica•‹o social.
Isto Ž, que a era eletr™nica havia produzido um novo instrumento capaz de estender o sens—rio
humano, plug-lo com mais rapidez ao mundo e aos demais co-habitantes da aldeia global e,
na sua esteira, trazer mudan•as significativas no modus vivendi# ?-()*=f'%"M# 9:# %5(7*5#
mosaico da tela da televis‹o gera um agora profundamente envolvente e uma simultaneidade
na <%!(#!(;#4'%()Z(;B.#*;4'*<*#I4T,D()#[]^^_.#?M#wp]cM
H‡, contudo, que se reconhecer que nessa sociedade globalizada, com e pelas suas
redes midi‡ticas, o desenvolvimento acelerado e o uso dos Meios de Comunica•‹o de Massa
(MCM)
33
, e n‹o s— a televis‹o, afetaram significativamente todos os espa•os da vida social,
inclusive o da forma•‹o escolar. Essa aldeia global tem entre suas caracter’sticas principais o
atravessamento universal pelos efeitos e as possibilidades da comunica•‹o-informa•‹o. A
crescente expans‹o dos multimeios apresenta novas quest›es e desafios para o ‰mbito das
atividades educacionais. Cumpre, pois, reconhecer o lugar central que eles ocupam na
constitui•‹o do mundo e de suas institui•›es, entre elas a escola. Explicitado de outra
maneira: urge pensar a respeito de qual Ž o espa•o da escola, do professor e dos MCM neste
novo cen‡rio social no qual m’dia, tecnologia e educa•‹o, ainda que digam respeito a
elementos de estatutos distintos, possam ser afinados de tal forma que sejam postos a servi•o
da forma•‹o de indiv’duos originais, cr’ticos, solid‡rios, cooperativos e respeitosos para com
as diferen•as individuais e culturais.
McLuhan, no artigo Aula sem paredes, aborda a quest‹o das perdas substanciais que a
escola tem ao tentar expurgar dos seus dom’nios e do seu debate interno a indelŽvel presen•a
da m’dia na sociedade, deixando de ver e de ter nos meios e tecnologias de
informa•‹o/comunica•‹o aliados importantes na constru•‹o de saberes. O te—rico canadense
assegura que os MCM, especialm*)=*#(#lz.#(X,!('(5#"#D"5*5#9(#'*4,?*'('#(#4"5?'**);>"#
%)=*);(# !(# -%)7,(7*5# G(4%(-# *# !"# 7*;="# 4"'?"'(-B# [IiT/j:0.# ]^k](.# ?M# ]^c.# ?*'!%!";#
32
A expresso Aula sem paredes refere-se ao ttulo de um artigo de McLuhan, originalmente publicado na
revista Explorations, editada por McLuhan e Edmund Carpenter na Universidade de Toronto, Canad, e que foi
publicado no Brasil em coletnea de artigos de McLuhan e outros autores no livro Revoluo na Comunicao
cujo ttulo original Ž Explorations in communication. A mesma expresso (El aula sin muros) serviu de ttulo
para a edio espanhola do referido livro.
33
Meios de Comunicao de Massa so identificados ao longo deste trabalho pela abreviatura MCM.
58
durante sŽculos com a cultura linear, mec‰nica e est‡tica da linguagem tipogr‡fica. Segundo
ele, os MCM n‹o t•m nada d*#*''(!"#*5#;,(#)(=,'*W(#*#)>"#;*'<%'(5#9?('(#*)G'(L,*4*'#",#
4"''"5?*'# )Q<*%;# ()=*'%"'5*)=*# (-4()Z(!";# !*# 4,-=,'(# <*'@(-# *# ?%4=K'%4(B.# 5(;# G"'(5#
!*='(=(!";# 9?"'# )>"# =*'5";# 4");*7,%!"# !"5%)f-los como novas linguagens a tempo de os
assimilar ˆ nossa heran•a 4,-=,'(-#="=(-B#[IiT/j:0.#]^k](.#?M#]^cM#
Ainda nesse mesmo texto, McLuhan reitera que o r‡dio, o cinema, os jornais, as
revistas, os discos e a TV
34
tornam-se amea•as na escola porque eles n‹o t•m como papel
principal o de refor•ar os mŽtodos tradicionais e obsoletos da sala de aula. Pelo contr‡rio, ao
94"''"5?*'*5B# *;;*;# 5R="!";.# ="')(5-se, sim, alvo de temores quanto a possveis efeitos
infelizes na constitui•‹o do educando porque alguns educadores, n‹o raro, preferem a
detra•‹o a mudar seus h‡bitos diante da m’dia.
McLuhan, lado a lado, com suas cr’ticas corrosivas aos preconceitos e aos temores dos
efeitos sociais e morais, presumidos como negativos, advindos das novas tecnologias
dispon’veis, n‹o hesita em apresentar considera•›es afirmativas quanto aos benef’cios e
possibilidades de estabelecer rela•›es fecundas entre a m’dia, a tarefa educativa e a cidadania.
Nos seus termos:
As boas e m‡s caracter’sticas em forma e conteœdo, [dos multimeios]
quando colocadas cuidadosamente, podiam ter-se convertido numa
importante e vantajosa aquisi‹o para o professor. (...) A tarefa educativa
n‹o Ž fornecer, unicamente, os instrumentos b‡sicos da percep•‹o, mas
tambŽm desenvolver a capacidade de julgamento e discrimina•‹o atravŽs da
experi•ncia social corrente. (...) Ser articulado e perspicaz a respeito das
quest›es e informa•›es correntes Ž a marca que distingue um homem
educado (MCLUHAN, 1971a, p. 19). [grifos meus].
Por sua vez, Baccega (2000), ao discorrer sobre a constitui•‹o da escola numa base de
linguagem escrita em detrimento das novas linguagens produzidas nos meios eletr™nicos de
informa•‹o, faz ecoar McLuhan e refor•a a sua tese de que a escola, ao negar o papel desses
meios como coadjuvantes na constru•‹o de saberes, criando uma resist•ncia ˆ entrada dessas
novas linguagens no seu ‰mbito, s— tem se distanciado das oportunidades e possibilidades de
34
McLuhan no inclui nesta sua prospeco textual a internet porque ela no havia sido criada. A propsito, os
principais textos deste autor quando se referem ao mundo cibernŽtico baseavam-se em intuies sobre as
possibilidades de, no futuro (que j chegou), os computadores se tornarem aparelhos to compactos e populares
quanto eram o rdio e a TV ˆ Žpoca. McLuhan, atŽ ento, conhecia a potencialidade dos computadores e suas
mœltiplas funes, com base nos equipamentos que eram empregados pelo exŽrcito e pelo servio de inteligncia
dos Estados Unidos.
59
gerar novos conhecimentos. Ao afirmar que a institui•‹o escolar vive um desajuste, um
descompasso temporal com a realidade posta, negando-;*#(#9,5#'*?*);('#%nc™modo, porŽm
)*4*;;f'%"B.# (# (,="'(# G(W# ,5(# ;*<*'(# 4'Q=%4(# ("# ='(=(5*)="# 4-()!*;=%)"# L,*# (# *!,4(Z>"# =*5#
dado aos MCM:
(...) Enquanto a escola continua com sua retrica pedag—gica
conservadora, ocupando todo o tempo de sala de aula com esse discurso, o
discurso dos meios de comunica•‹o est‡ presente no ‰mbito da escola, de
maneira clandestina. N‹o adentram as salas de aula, mas est‹o nos
corredores, nos intervalos, nas conversas informais, tanto de professores
quanto de alunos. ƒ urgente que esses discursos outros saiam da
clandestinidade e passem a constituir parte dos di‡logos que deveriam
ocorrer em sala de aula. (BACCEGA, 2000, p. 61).
Na mesma perspectiva de McLuhan (1969b, 1971a, 1998, 2005) e de Baccega (2000),
Jacquinot-Dellaunay, em cita•‹o de Tor'*7'";(# [appw.# ?M# awc.# ?*'7,)=(Y# 94"5"# )>"# G(W*'#
entrar a televis‹o na escola, se ela j‡ est‡ dentro, queira-se ou n‹o, pela influ•ncia que exerce
sobre os saberes, as atitudes e os comportamentos dos alunos? A televis‹o sempre Ž
educativa, ainda que o sej(#!*#,5(#5()*%'(#L,*#*;4(?*#h#?*!(7"7%(BM##
FerrŽs Prats (1994) tambŽm critica a postura da escola que se op›e a ver nos MCM um
importante aliado educativo, mesmo que esses meios tragam em si um estilo pedag—gico
diferenciado do escolar formal. O autor, em suas considera•›es motivadas por estudos a
respeito dos atuais n’veis de exposi•‹o a que adultos e, em especial, as crian•as encontram-se
frente a televis‹o
35
#4"5"#<*Q4,-"#!*#%)G"'5(Z>"#*#*)='*=*)%5*)=".#(;;*7,'(#L,*#9(#*;4"-(#=*5#
a obriga•‹o de ajudar as#)"<(;#7*'(ZO*;#!*#(-,)";#(#%)=*'?'*=('#";#;Q5@"-";#!*#;,(#4,-=,'(B#
(FERRƒS PRATS, 1994, p. 15), ao invŽs de se preocupar apenas em reproduzir um tipo de
saber oficial, de transmitir e perpetuar uma cultura que j‡ n‹o encontra um link com a
sociedade em desenvolvimento e em constante mudan•a. Ele tambŽm retoma as perguntas
formuladas por McLuhan na dŽcada de 1960: para que mundo a escola est‡ educando? Que
35
Os estudos a que FerrŽs Prats (1994) se refere foram produzidos nos Estados Unidos e na Europa, na dŽcada
de 1990 e esto sinteticamente expostos no livro Televisin y Educaci—n (p. 14-15). A ttulo de complementao,
apresento, de forma resumida, estudos realizados entre 2004/5 em nove pases (Brasil, Estados Unidos,
1)!")R;%(.# 1=f-%(.# G'%4(# !"# +,-.# \;?()D(.# $*%)"# /)%!".# m'()Z(# *# :-*5()D(c# ?*-(# \,'"!(=(# lz# }"'-!%!*.# *#
divulgado em 17 de outubro de 2005 durante o MIPCOM, ocorrido na Frana. Segundo este levantamento, a
televiso continua sendo uma fonte essencial de entretenimento e de informao para as crianas, embora o
tempo que o pœblico infantil passa em frente ˆ tela de TV varia muito de um pas para o outro. Os brasileiros
lideram a pesquisa com o ndice de 3 horas e 31 minutos por dia diante da televiso enquanto que uma criana
americana fica 3 horas e 16 minutos. Os alemes so os œltimos do ranking, com uma exposio di‡ria de uma
hora e meia em frente ao televisor, mesmo que 95% das residncias da Alemanha tenham acesso ˆ TV a cabo e a
uma ampla oferta de canais gratuitos.
60
s’mbolos ela ajuda a interpretar? Os de que cultura? FerrŽs Prats (1994, p. 15), sobre isso,
%)!(7(Y# 9se educar exige preparar os cidad‹os para integrar-se de uma maneira reflexiva e
cr’tica ˆ sociedade, como se integram os cidad‹os que n‹o est‹o preparados para realizar de
5()*%'(#4'Q=%4(#(L,*-(#(=%<%!(!*#(#L,*#5(%;#D"'(;#;*#!*!%4(5#nh#=<.#)"#4(;"otBM#
Marques de Melo (1994), no artigo 4$+6! 4+6! 6+:%! :%/! K61//! 6+:&1,! L+&4$*1M!
educa•‹o e cidadania, analisa os MCM no Brasil e entende que eles assumiram um papel
relevante e decisivo na forma•‹o cultural da popula•‹o, especialmente das classes econ™micas
menos favorecidas economicamente. Para o autor, fundamentalmente os meios r‡dio e
televis‹o, alŽm de democratizar a informa•‹o, otimizaram fun•›es culturais como o real e o
imagin‡rio em produtos sincrŽticos e acess’veis. Bens simb—licos que antes estavam
dispon’veis apenas a castas privilegiadas pelo poder econ™mico e pela educa•‹o, na forma de
-%<'";#*#X"')(%;M#9J#%5?(4="#!";#<*Q4,-";#(,!%"<%;,(%;#n(!L,%'%,#%5?"'=u)4%(o#)(;#;"4%*!(!*;#
perifŽricas [em fun•‹o dos] elevados ’ndices de analfabetismo e de escolariza•‹o incompleta,
[pois funcionam] como alavancas para reduzir a dist‰ncia entre as massas urbanas e o
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Conforme afirma em seu texto, os MCM assumiram o papel socializador da cultura na medida
*5#L,*#9(=,(5#<*'!(!*%'(5*)=*#4"5"#*!,4(!"'*;#4"-*=%<";B#[]^^b.#?M#]_wcM#J#(,="'#'*;;(-=(.#
contudo, que por maior tempo que os indiv’duos se exponham e se dediquem ao consumo
midi‡tico, este tempo Ž inferior ao que a escola oferece. Ele destaca que a escola n‹o precisa
temer os mass-media.#(#5*)";#L,*#9;*#G"'#!*G%4%*)=*#(#L,(-%!(!*#!"#*);%)"#?'"?"'4%")(!"#h;#
)"<(;# 7*'(ZO*;.# (# 4,-=,'(# !*# 5(;;(# =*5# 4D()4*;# ;,?*'%"'*;# !*# *6*'4*'# (='(Z>"# ;"@'*# *-(;B#
(MARQUES DE MELO, 1994, p. 183).
O pensamento do te—rico brasileiro, ao que tudo indica, mantŽm um ponto de
diverg•ncia com a sondagem realizada por McLuhan, quando este procura formular e
responder as quest›es referentes ao mundo a que a escola tem dedicado sua aten•‹o. Se para
Marques de Melo o consumo midi‡tico Ž menor, em termos de horas, ao dos produtos que a
escola pode oferecer, para McLuhan (1998, p. 298-302) o que importa n‹o Ž o n’vel de
exposi•‹o a que as crian•as se permitem ficar diante da TV, mas sim que as crian•as que
nasceram ou est‹o por vir nesta era eletr™nica, da sociedade da informa•‹o/comunica•‹o,
encontram-se profundamente marcadas pelos novos s’mbolos do tudo-agora, da
instantaneidade, do consumo; por isso, se deparam com sŽrias dificuldades em se adaptar ao
modelo de ensino#@(;*(!"#)(#'*?*=%Z>"#!*#G(=";#G'(75*)=(!";.#-%)*('*;.#;*LP*)4%(%;M#9\;=(#R#
61
uma Žpoca de sobrecarga de informa•‹o. A œnica maneira de fazer das escolas outra coisa que
n‹o seja pris›es sem grades Ž come•ar rever os valores arcaicos e partir do zero, com novas
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,5#97*;=(-=#!"#;*);"'%,5B.#?"%;#";#X"<*);.#("#4"5?'"5*=*'*5#";#;*,;#;*)=%!";#4"5#";#5*%";#
elŽtricos, procuram na escola o mesmo que encontram fora dela, ou seja, um envolvimento
profundo e n‹o um sistema fundado em dados fragmentados, classificados e inadequados ˆs
necessidades desta gera‹o eletr™nica. ƒ preciso, enuncia, romper com a dist‰ncia entre o
4")=*v!"# !(;# (,-(;# *# (# <%!(M# 9\;=(5";# ,;()!"# (# *!,4(Z>"# 4"5"# um mero instrumento de
agresso cultural, impondo sobre jovens retribalizados os valores visuais obsoletos da
5"'%@,)!(#%!(!*#(-G(@R=%4(B#[IiT/j:0.#]^^_.#?M#a^^cM#
Para dar base ˆ sua tese de que existe uma falta de sintonia muito grande entre a
gera‹o formada pela linearidade tipogr‡fica e a gera•‹o formada pelos circuitos elŽtricos,
McLuhan observava o comportamento dos seus filhos. Ficava assombrado, segundo narra seu
amigo Tom Wolfe, no pref‡cio de McLuhan por McLuhan
36
, quando via os seus seis filhos
estudarem, assistirem televis‹o, ouvirem r‡dio, falarem ao telefone, tudo de forma simult‰nea.
Isto Ž, viviam o gelstalt do sensorium. Aquelas crian•as e jovens dos anos 50 n‹o diferem em
quase nada das crian•as da atual gera•‹o que est‹o diante de n—s, nas escolas, colocando em
xeque o modelo/formato de ensino cujo fundamento se d‡ por meio da linearidade e da
fragmenta•‹o dos conteœdos e da penaliza•‹o para aqueles que n‹o conseguem ver nas aulas
expositivas algo que os ligue ao seu imagin‡rio, que n‹o encontram neste tipo de aula a poesia
dos trens, navios e avi›es que McLuhan apontou.
Os herdeiros da era eletr™nica n‹o vislumbram, no tŽdio de ficar ouvindo um professor
falar ˆ sua frente por horas, ˆs vezes lan•ando m‹o de um recurso audiovisual mais como
ilustra•‹o conteudista do que como um desafio para estabelecer novos aprendizados e
di‡logos, algo alŽm do que a dist‰ncia abismal que se interp›e entre o conteœdo de um
curr’culo e a sua utilidade para a vida pr‡tica constru’da sobre os pilares de imagin‡rios
muitas vezes advindos dos meios de comunica•‹o. Esse fato tambŽm revela por que os
recursos tecnol—gicos, n‹o raro, t•m sido considerados pela nova gera•‹o como sendo capazes
de substituir o papel do professor na sua forma‹o, pelo menos daqueles educadores cujas
36
Traduo brasileira do livro Understanding me; lectures and interviews, lanado em outubro de 2005 pela
Ediouro. Saliente-se que a verso portuguesa deste livro suprim%,# (-7,);# =*6=";# !"# "'%7%)(-# 9?"'# ='(=('*5# !*#
=K?%4";#*;?*4QG%4";#!(#'*(-%!(!*#!";#\/:B.#;*7,)!"#)"=(#*6?-%4(=%<(#!";#*!%="'*;M
62
pr‡ticas e concep•›es aferram-se aos recursos e mŽtodos que desconsideram os elementos
)"<";.#4")G%7,'(!"'*;#!(#(=,(-#9;"4%*!(!*#!(#%)G"'5(Z>"BM
As passagens aqui comentadas manifestam a urg•ncia de que as institui•›es de ensino
fa•am uso apropriado dos meios de comunica•‹o, com vistas a transpor os muros que separam
a escola n‹o s— daquelas quest›es mais restritas ao uso adequado dos multimeios, mas
tambŽm daqueles debates estabelecidos pela sociedade a respeito de um imagin‡rio da
condi•‹o humana correspondente ˆs demandas Žticas e pol’ticas da sociabilidade atual. Isso
implica, hoje sabemos bem, reconhecer assuntos relevantes que atravessam o cotidiano das
institui•›es escolares e dos estudantes entre os quais os das diferen•as Žtnicas, sexuais,
religiosas e pol’ticas, assim como as graves quest›es das desigualdades sociais, da viol•ncia e
dos desequil’brios s—cio-ambientais planet‡rios. Com certeza, McLuhan tem presente, em
seus escritos, esse conjunto de reconhecimentos e de desafios planet‡rios quando aponta,
como medida primordial, para que os educand‡rios contempor‰neos fa•am uso intensivo dos
MCM, de forma a promover um di‡logo com a vida cotidiana.
Imposs’vel, pois, enquadrar McLuhan como um mero tecnicista afastado das quest›es
e urg•ncias de seu tempo, ou alguŽm disposto a destruir de vez com a institui•‹o escolar. Ao
contr‡rio, defende que as escolas continuem com suas portas abertas, para a pr‡tica n‹o do
9*);%)"B.#5(;#;%5#!(#9(?'*)!%W(7*5BM#J#(,="'#!%;=%)7,*#4"5"#*);%)"#9"#(="#de empanturrar a
cabe•a dos alunos com conhecimentos que nada tem a ver com o mundo atual da
4%@*')*=%W(Z>"B# [IiT/j:0.# ]^`^@.# ?M# bkc.# %;="# R.# *);%)"# *)L,()="# ='();5%;;>"# !*#
informa•›es. Por aprendizagem, McLuhan entende tudo aquilo que permite, ao professor e ao
educando, a experimenta•‹o, a busca do novo, a prospec•‹o e o engajamento com vistas a
resolver problemas e, a partir deste conjunto de atividades mediadas, rearticular
conhecimentos, ou seja, a constru•‹o e a reconstru•‹o de conhecimentos de forma que este
assuma um sentido para a vida. Nesta perspectiva, o autor defende uma educa•‹o que valorize
n‹o a tŽcnica, mas a solidariedade, o afetivo, a rela•‹o, o envolvimento, de forma a combater
a hegemonia e a universaliza•‹o de uma vis‹o do mundo, mesmo quando os imagin‡rios
criados pela m’dia possam vir a ser adotados como valores-verdade pelos indiv’duos.
No artigo O fim da Žtica no trabalho, McLuhan (2005), comentando Illich, escreve:
63
O tema de Illich Ž simplesmente que, como hoje em dia existe mais
informa•‹o fora das escolas do que dentro delas, devemos fechar as escolas e
deixar os jovens obter sua educa•‹o no ambiente geral outra vez. O que
Illich n‹o consegue ver Ž que, quando as respostas est‹o fora, Ž hora de fazer
as perguntas dentro da escola, em vez de dar respostas. Em outras palavras,
agora Ž poss’vel fazer das escolas n‹o um lugar para a informa•‹o
empacotada, mas um lugar para o dilogo e a descoberta. (...) O que cumpre
fazer Ž p™r as quest›es dentro da sala de aula e entabular ali um verdadeiro
di‡logo (MCLUHAN, 2005, p.241; 284)
37
.
Albert Einstein, citado por Zuffo (2003), parece parafrasear McLuhan ao salientar que
ao se privilegiar a capacidade do sujeito de pensar por si, a partir do dom’nio que possui sobre
seu campo de estudo/atua•‹o, Ž mais f‡cil que ele se adapte ao progresso e ˆs mudan•as
r‡pidas da sociedade do que aqueles que foram formatados, treinados e especializados numa
determinada ‡rea. Isso me leva a acreditar que o desenvolvimento da capacidade de pensar a
realidade s Ž poss’vel atravŽs do conhecimento voltado ˆ pluralidade. A m’dia e as novas
linguagens dos MCM, devidamente desveladas, s‹o, portanto, um caminho poss’vel para a
cria•‹o de uma sociedade cr’tica do seu entorno, atravŽs da forma•‹o de sujeitos
participativos e conscientes de sua cidadania, capazes de responder ˆs demandas que se fazem
necess‡rias e priorit‡rias.
Frente ˆs circunst‰ncias e aos desafios apresentados a considera•‹o, Ž razo‡vel apostar
que os estudantes possam viver em estado de investiga•‹o cont’nua e ter sempre em suas
descobertas novas perspectivas de estudo. McLuhan (1969b) enfatiza que o conhecimento
precisa assumir o car‡ter prospectivo e o estudante se constituir num pesquisador inscrito em
um imenso universo de informa•›es. Aqui reside um dos maiores n—s a serem desamarrados
pela institui•‹o escolar inserida na grande aldeia global: a acelerada multiplica•‹o das fontes
de informa•‹o, das tecnologias e dos meios de comunica•‹o desafia os professores a
ultrapassar o lugar de meros repro!,="'*;#!*#,5#9;(@*'B#*;?*4QG%4".#?('(#(;;,5%'#(#4*)(#4"5"#
negociadores, como mediadores de di‡logos entre mœltiplos saberes, culturas e vis›es do
mundo.
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lœdico e do estŽtico na educa‹o. Entendido aqui por lœdico e estŽtico aquilo que permite um
37
McLuhan est se referindo aqui ˆs teses defendidas por Ivan Illich, no livro Descholling Society, publicado
nos EUA em 1970. Illich, especialmente no primeiro captulo da sua obra prope que os Estados dem um fim
nas escolas como instituio social. Sobre isso veja na edio brasileira as p. 21-55.
64
pertencimento
38
a algo; que permite ao homem o vivenciar as possibilidades da sociabilidade.
As necessidades do homem contempor‰neo, a crescente e veloz mudan•a social e as novas
demandas da subjetividade n‹o podem ser atendidas por estabelecimentos de ensino para os
quais o palco Ž a sala de aula; o professor, o ator œnico com seu mon—logo j‡ corro’do pela
compress‹o espacial e temporal com que se produz informa•‹o; e um estudante E platŽia-
ouvinte E#?'%<(!"#!(L,*-(#4"5,)%4(Z>"#L,*#9="')(#4"5,5B#(#*6?*'%8)4%(.#*#L,*#L,()="#5(%;#
diferentes forem os indiv’duos, mais possibilidades ter‹o de transmitir uns aos outros suas
experimenta•›es, viv•ncias e olhares. Esta nova e necess‡ria escola adequada aos
pressupostos caracter’sticos da aldeia global do tudo-agora deixa, ent‹o, de correr o risco de
ser um n‹o lugar, isto Ž, um espa•o sem hist—rias, sem conteœdo, neutro e desprovido de
identidade, aos estudantes da era eletr™nica.
McLuhan (1969b) Ž categ—rico ao identificar alguma coisa de errado na escola
enquanto institui•‹o, pois considera que mesmo que ela tenha obtido avan•os nos œltimos
tempos no campo da arquitetura e da pedagogia. Segundo ele, as escolas gastam cada vez
mais tempo e despendem cada vez mais energias diversas para formar alunos para um mundo
que j n‹o existe mais. Ao negar o papel e a contribui•‹o que a m’dia pode aportar na
educa•‹o de forma a convergir para o desenvolvimento da capacidade do indiv’duo pensar
sobre a sua realidade e de nela interagir, a institui•‹o escolar passa a exercer um poder
pastoral
39
sobre os sujeitos, impondo-lhes o que Ž bom ou n‹o para o seu aperfei•oamento
como indiv’duo. Essa rela•‹o de poder-saber exercido unilateralmente de alguma forma
provoca a insubordina•‹o, resist•ncia (insubmiss‹o) dos mesmos.
Penso que essa insubmiss‹o, como resist•ncia ao poder pastoral aqui descrito, pode ser
interpretada como um dos motivos pelos quais, apesar de todas as novidades agregadas ao
campo da educa•‹o e da pedagogia, a escola enquanto estrutura medievalizada de claustro, e
formatadora de homens, deixa de ser atraente aos estudantes desta era eletr™nica. Estes
38
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modo, pode-;*# =*'# ?*'=*)4%5*)="# R=)%4".# '*-%7%";".# ;*6,(-.# ?"-Q=%4".# -%)7PQ;=%4".# 4,-=,'(-.# *)='*# ",='";.# ;*5# L,*#
uma possibilidade de pertencer a um grupo exclua outras possibilidades, isto Ž, que os pertencimentos so
variados e variveis, pois eles podem se constituir como provisrios, portanto mutveis.
39
O poder pastoral a que me refiro Ž o conceito mais alargado deste poder criado pela Igreja, no no sentido
eclesistico da salvao do homem pela fŽ, mas o que foi enunciado por Foucault (1995), que Ž o tutelamento
!(;# %);=%=,%ZO*;.# )"# 4(;"# (L,%.# (# %);=%=,%Z>"# *;4"-('# 4"5"# *6=*);>"# !"# \;=(!"M# +"@'*# %;;"# <*'# 9J5)*;# *=#
+%)7,-(=%5BY# ,5(# 4'Q=%4(#!(# '(W>"# ?"-Q=%4(.#1)Y# mJ/i:/Tl.# I%4D*-Y#Ditos e Escritos, p. 355-385, Ed. Forense
Universitria e O sujeito e o poder. In: RABINOW, Paul; DREYFUS, Hubert. Michel Foucault, uma trajetria
filosfica: para alŽm do estruturalismo e da hermenutica. Ed. Forense Universitria, 1995, em especial ˆs
pginas 236-239.
65
respondem ao poder que os assujeita com insubordina•‹o, e uma destas formas de subleva•‹o
possibilita ser entendida como a evas‹o escolar, a repet•ncia e o abandono escolar, cujos
n’veis percentuais mostram-se inaceit‡veis
40
, porque a escola n‹o est‡ falando a mesma l’ngua
!";# ;*,;# *!,4()!";M# 9J# (@()!")"# !"# 4,';"# '*?'*;*)=(# (# '*X*%Z>"# !(# =*4)"-"7%(# !"# sŽculo
!*W*)"<*# 4"5"# ;*# (?'*;*)=(# *5# )";;";# *;=(@*-*4%5*)=";# !*# *);%)"B.# (;;*7,'(# I4T,D()#
(1969a, p. 129). Sobre isso, n‹o cabe nenhum reducionismo, j‡ que outros fatores pol’tico-
sociais e culturais contribuem para estes ’ndices, mas o fato Ž que a escola parece precisar de
uma reciclagem para responder, de modo agudo e adequado, ˆs circunst‰ncias em que est‡
inscrita nesta aldeia global em constante e veloz mudan•a.
Quanto a esse tema da insubmiss‹o e seus efeitos, tambŽm parece decisivo destacar
considera•›es de Adorno (1995), nas quais alerta que a quest‹o da insubmiss‹o n‹o pode ser
lida ou entendida como uma barb‡rie, mas sim como um esclarecimento contra a barb‡rie que
a escola est‡ a promover. Segundo ele, n‹o se pode, de maneira nenhuma, converter#9="!";#";#
homens em seres inofensivos e passivos. Ao contr‡rio: esta passividade inofensiva constitui,
ela pr—pria, (...) uma forma da barb‡rie, na medida em que est‡ pronta para contemplar o
D"''"'#*#;*#"5%=%'#)"#5"5*)="#!*4%;%<"B#[:dJ$0J.#]^^r.#?M#]`bcM
O exposto atŽ aqui permite ressaltar que a intensa movimenta•‹o de informa•›es que
4%'4,-(5#?('(#(-R5#!(#;(-(#!*#(,-(.#4"5"#"@;*'<(#I4T,D().#9*64*!*#!*#-")7*#"#5")=()=*#!*#
!(!";#*#%)G"'5(ZO*;#!*)='"#!*-(B#[appr.#?M#]akcM#C*'5%=*#=(5@R5#*)=*)!*'#L,*#";#*studantes
da era eletr™nica n‹o reduzem aquilo que os instrui unicamente ˆ institui•‹o escolar, uma vez
que eles tambŽm encontram sua forma•‹o na vida cotidiana, nas cidades, nas ruas, nos MCM.
Permite-me, por isso mesmo, compreender que a escola (atividade dos educadores) deve
exercer o papel de media•‹o entre as informa•›es dispon’veis e a atividade de forma•‹o dos
sujeitos e de apropria•‹o dessas informa•›es no mundo-real-cotidiano em que eles est‹o
%);4'%=";M# 9:# ;(-(# !*# (,-(# *# "# 4,''Q4,-"# !"# G,=,'"# !*<*r‹o ter esse padr‹o de descoberta
embutido a fim de atender ao potencial do movimento de informa•‹o melhorada. O mundo da
cibernetiza•‹o oferece a possibilidade imediata de programar toda a educa•‹o para a
descoberta e no para a instru•‹o e a absor•‹o de !(!";B#[IiT/j:0.#appr.#?M#_rcM
40
De acordo com o relatrio produzido pelo MEC/INEP, os maiores ndices de reprovao e abandono
encontram-se na primeira, segunda e quinta sŽries do Ensino Fundamental, embora o ndice de abandono
tambŽm se revele significativo na oitava sŽrie, com um percentual de 11,5%. Em relao ˆ repet•ncia, as duas
maiores taxas so de 36,2% na primeira sŽrie e de 24,8%, na quinta sŽrie. A evas‹o escolar tem seus maiores
ndices na sexta sŽrie, com 8,5% e 10,1% na oitava sŽrie. No Ensino MŽdio, os ndices de abandono, repetncia e
evaso tm nœmeros bastante elevados: 16,7%, 18,6% e 8%, respectivamente.
66
McLuhan Ž importante destacar, foi um educador marcado por quest›es atinentes ˆs
institui•›es escolares situadas em um mundo de radicais transforma•›es pol’ticas e culturais,
marcado, tambŽm, por aqueles desafios e possibilidades advindas da expans‹o dos MCM. Em
seu lugar de educador, esteve atento ˆs rela•›es aluno/mestre e ensino/aprendizagem; por
%;;".#!*#G"'5(#4");*LP*)=*.#)>"#!*;4,%!",# !*#4");%!*'('#*# '*-(4%")('#(;#L,*;=O*;#7*'(%;#!*#
sua Žpoca ˆs possibilidades positivas#!(#=*4)"-"7%(#*5#,5(#9)"<(#*;4"-(#?-()*=(B.#",#;*X(.#!*#
incorporar os signos alfabŽtico-visuais da escola de postura linear aos signos da cultura
*-R='%4(.#%)4-,;%<(Y#9l(-#;Q)=*;*#[MMMc#?"!*#?'"!,W%'#,5(#5%;=,'(#4'%(=%<(#!(;#!,(;#4,-=,'(;.#;*#"#
sistema ed,4(=%<"#G"'#4");4%*)=*#!*#L,*#Df#,5(#4,-=,'(#*-R='%4(B#[IiT/j:0.#]^^_.#?M#a^_cM
Esses aportes de McLuhan ainda nos parecem atuais, ˆ medida que continuamos
desafiados a pensar uma escola e uma educa•‹o da (e na) aldeia global que valorize a
atividade mediadora dos educadores em rela•‹o ao conhecimento dispon’vel, que aposte na
solidariedade, no afetivo e nas rela•›es intersubjetivas como forma de combater a hegemonia
e a universaliza•‹o de uma vis‹o do mundo tecnocr‡tica ou manique’sta a respeito da
tecnologia. Parece ser razo‡vel pensar que a escola contempor‰nea necessita tomar para si,
como pressuposto b‡sico, a autonomia
41
, isto Ž, partilhar os benef’cios e as responsabilidades
para com a vida planet‡ria.
Os MCM e as suas tecnologias podem ser aliados importantes para a elabora•‹o e
apropria•‹o comum dos saberes, e para a emancipa•‹o do homem; contudo, o uso dessas
tecnologias, por si mesmo, n‹o pode ser concebido pela institui•‹o escolar como apan‡gio de
todas as urg•ncias e quest›es de nosso tempo. Muitas vezes, elas, quando mal utilizadas,
servem apenas como um verniz para encobrir graves problemas da educa•‹o, transformando-
se em estandarte mercantilista de institui•›es de ensino. Sobre isso Castells (2005, p. 6) Ž
incisivo ao nos lembrar que a pior exclus‹o na hist—ria do homem, da educa•‹o e da cultura
)>"#R#*;=('#G"'(#!(#'*!*#5(;#;%5#L,*#9(#5(%;#%5?"'=()=*#G"'5(#!*#;*'#*64-,Q!".#*#(#L,*#5*)";#
se fala, Ž estar conectado ˆ rede e n‹o saber qual acesso usar, qual informa•‹o buscar, como
combinar uma informa‹o com a outra e como utiliz‡--(# ?('(# (# <%!(BM# 1;="# R.# ="5(-se a
41
Por autonomia entendo no uma atitude isolada, individual, mas como uma ao de dupla possibilidade de
relao: a individual e a com o outro, baseada em relaes de poderes no autoritrios, isto Ž, uma autonomia
que s pode ter existncia na esfera pœblica. Ver ainda, sobre este tema e esta noo de autonomia o artigo
$*;?";=(#h#C*'7,)=(Y#"#L,*#R#9*;4-('*4%5*)="tB.#1)Y#|:0l.#155(),*-M#Textos Seletos, p. 100-117, Ed. Vozes.
67
tecnologia como um fetiche. Adorno (1995), tambŽm propicia uma reflex‹o importante
quanto a essa verdadeira fetichiza•‹o da tŽcnica:
(...) Os homens inclinam-se a considerar a tŽcnica como sendo algo
em si mesma, um fim em si mesmo, uma fora pr—pria, esquecendo que ela Ž
extens‹o do bra•o dos homens. Os meios E e a tŽcnica Ž um conceito de
meios dirigidos a autoconserva•‹o da espŽcie humana E so fetichizados, por
que os fins E uma vida humana digna E encontram-se encobertos e
desconectados da consci•ncia das pessoas (ADORNO, 1995, p. 132-133).
Em outros termos, o fil—sofo nos aponta que o homem deve conceber na tecnologia
possibilidades para a sua emancipa•‹o, para o exerc’cio da solidariedade, do cooperativismo,
da sociabilidade, n‹o formas de ganhar a vida e sim de pensar sobre a vida. Ou seja, n‹o
reduzir sua racionalidade a um valor de troca, de mensura•‹o econ™mica e/ou material.
I4T,D()# *;4'*<*,Y# 9";# *!,4(!"'*;# !"# G,=,'"# )>"# =emer‹o as tentativas novas e as
;"-,ZO*;#%)R!%=(;.#5(;#(;#<(-"'%W('>"B#[]^`^@.#?M#r]cM#\#;(@*5";#L,*#,5#!";#!*;(G%";#?('(#";#
*!,4(!"'*;.# ";# ?*;L,%;(!"'*;# *# ";# '*;?");f<*%;# ?"'# ?"-Q=%4(;# ?v@-%4(;# !*# *!,4(Z>"# R# 9;*#
dirigirem ao futuro com os olhos fixos nele#*#)>"#),5#?(;;(!"#<%;="#?*-"#'*='"<%;"'B.#4"5"#
profere McLuhan (1969b, p. 50-51).
!;?#('8&2081,&$d42>#&$032#'(#,17(59(1d42#62&,$/#(#32/Ë7,&$
Os textos e fragmentos de McLuhan sobre a educa•‹o e a comunica•‹o permitem
interrogar o que os verbos educar e comunicar trazem em comum? Ambos s‹o da primeira
conjuga•‹o, indicam em seus processos sem‰nticos uma a•‹o, classificam-se como verbos
transitivos diretos e, ainda, t•m suas origens no latim. Educar, que vem de educare, denota
9='();5%=%'#4")D*4%5*)=";#(S#%);=',%'BM#C"'#;,(#<*W.#4"5,)%4('#=*5#;,(#5(='%W#-%)7PQ;=%4(#*5#
comunicare.# *# R# *5?'*7(!"# )"# ;*)=%!"# !*# 9G(W*'# ;(@*'S# ="')('# 4"5,5S# ?('=%4%?('Y# ?N'# *5#
4")=(="# ",# '*-(Z>"S# *;=(@*-*4*'# 4"5,)%4(Z>"# *)='*S# -%7('.# ,)%'BM# I(%;# !"# L,*# *;=(;#
aproxima•›es dicionarizadas, educar e comunicar fundem-se em seus processos ativos no
substantivo educa•‹o, na medida em que entendo que parece ser imposs’vel educar sem haver
comunica•‹o, seja ela nas formas verbal ou n‹o verbal, uma vez que tambŽm no fazer
?*!(7K7%4"#9)K;#G(lamos de [e em] comunica‹o social, [cuja qualidade Ž] especificamente
humana. A comunica•‹o n‹o existe por si mesma, como algo separado da vida, da sociedade.
68
nC"'=()="o#)>"#?"!*'%(#*6%;=%'#4"5,)%4(Z>"#;*5#;"4%*!(!*.#)*5#;"4%*!(!*#;*5#4"5,)%4(Z>"B#
[&:$i3:, 2006, p. 14).
O que Garc’a aponta vem ao encontro da tese defendida por Dewey (1959), para quem
uma sociedade existe n‹o apenas pela transmiss‹o, pela comunica•‹o, mas por que uma
;"4%*!(!*#9R#='();5%;;>"#*#R#4"5,)%4(Z>"M#jf#5(%;#!"#L,*#,5#)*6"#<*'@(-#*ntre os termos
comum, comunidade e comunica•‹o. Os homens vivem em comunidade em virtude das coisas
L,*# =85#*5#4"5,5S# *#(#4"5,)%4(Z>"#R# "#5*%"#?"'# L,*#4D*7(5#(# ?";;,%'#4"%;(;#4"5,);B#
(DEWEY, 1959, p. 4). Por defender esta postura sobre a import‰ncia da comunica•‹o na
forma•‹o social dos indiv’duos, inclusive e principalmente a partir da relev‰ncia que a
comunica•‹o assume no ‰mbito escolar, McLuhan creditou ao pedagogo Dewey um lugar de
destaque na ruptura do modelo de educa•‹o escolasticista, uma vez que e;=*#9='(@(-D",#?('(#
restituir ˆ educa•‹o ˆ sua fase primitiva e prŽ-tipogr‡fica. Quis tirar o estudante da fun•‹o
passiva de consumidor de conhecimentos feitos e uniformemente acondicionados. (...) Ao
'*(7%'#4")='(#(#4,-=,'(#=%?"7'fG%4(#?(;;%<(.#nd*€*Vo#e;,'G",U
42
#;"@'*#(#)"<(#")!(#*-*='N)%4(B#
(MCLUHAN, 1972, p. 201-202).
Isto posto, parece ser razo‡vel que haja tambŽm uma aproxima•‹o desses dois campos
do conhecimento humano: a educa•‹o e a comunica•‹o, descortinando desta maneira um
novo ‰mbito de estudos e de teoriza•›es, qual seja o da educomunica•‹o, conceitualmente
definido como campo de interven•‹o social onde se considera a informa•‹o como um fator
fundamental para a educa•‹o.
Como procurei mostrar neste cap’tulo E ao estudar as influ•ncias dos meios e ao
perceber que estes alteram inclusive as rela•›es dentro dos estabelecimentos de ensino,
alertando que a comunica•‹o atinge a todos n—s, indistintamente, quer onde nos encontremos,
e que a escola n‹o deve se fechar a este entrela•amento escola/multimeios E, McLuhan pode
ser provavelmente apontado como um dos pensadores protagonistas deste campo de
interven•‹o social, em que se constitui a educomunica•‹o. A aldeia global e suas velozes
redes de informa•‹o/comunica•‹o produziram um novo cen‡rio social, onde todos est‹o
*)<"-<%!";#*5#=,!".#*#)"#L,(-#=(5@R5#4(!(#,5#!*#)K;#=*5#(-7"#(#G(W*'#",#!%W*'Y#9C(;;(5";#
hoje da produ•‹o de mercadorias empacotadas para o empacotamento da informa•‹o.
42
No original o termo empregado pelo autor Ž surf-boarding.
69
Anteriormente, invad’amos os mercados estrangeiros com utilidades. Hoje invadimos culturas
%)=*%'(;#4"5#%)G"'5(Z>"#(4")!%4%")(!(.#!%<*';>"#*#%!R%(;B#[IiT/j:0.#]^_a.#?M#]bkcM
ƒ certo, contudo, que as sondagens e prospec•›es mcluhanianas n‹o apontam com a
mesma express‹o as teoriza•›es e sistematiza•›es para essa inter-rela•‹o
educa•‹o/comunica•‹o, mas percebe-se o quanto elas t•m servido de suporte para os demais
pesquisadores pensarem sobre o importante e decisivo papel delegado ˆ escola, no sentido de
que esta, pelas suas caracter’sticas de mediadora, se constitua em cena privilegiada na
constru•‹o de um debate e de um entendimento entre a educa•‹o e a comunica•‹o social, de
forma a produzir um di‡logo entre o conhecimento e o volume de informa•›es
disponibilizadas cotidianamente atravŽs dos meios de comunica•‹o.
Jacquinot-Dellaunay (2003) reconhece que, paradoxalmente, h de fato na educa•‹o
uma grande oposi•‹o e tambŽm uma aproxima•‹o entre os papŽis desempenhados pela escola
e pela m’dia na transmiss‹o da cultura e na forma•‹o dos indiv’duos. Segundo ela, as
oposi•›es se d‹o nos seguintes termos: A escola arvora-se a guardie transmissora de um
patrim™nio cultural, enquanto os MCM s— se interessam pela atualidade, efemeridade e
espetaculariza•‹o da informa•‹o; na escola repousa a l—gica da raz‹o, j‡ na m’dia o que
interessa Ž a surpresa, o impacto e o emocional; a escola procura pautar-se na constitui•‹o de
cidad‹os, enquanto que a m’dia se pauta pela forma•‹o de consumidores, na medida em que
esta funciona sob a l—gica econ™mica, enquanto as institui•›es escolares, a priori, a ignoram
ou ignoravam atŽ algum tempo, como salienta a autora no seu artigo O que Ž um
educomunicador? Papel da comunica•‹o na forma•‹o dos professores. Quanto aos pontos de
convergncia entre educa•‹o e comunica•‹o, eles se localizam, ainda de acordo com a
?*);(!"'(.# )(;# 5,!()Z(;# ?('(!%75f=%4(;# '*7%;='(!(;# 9)(;# =*"'%(;# !(# 4"5,)%4(Z>"# n*# )(;o#
teorias da aprendizagem [que] atualmente convergem para substituir o paradigma da
e='();5%;;>"U# !*# 4")D*4%5*)=";.# 4"5"# <(-"'*;.# ?*-"# !(# e5*!%(Z>"U# 4"5?'**)!%!(# 4"mo
5"!*-"# %)=*'?'*=(=%<"# *# '*-(4%")(-# !*# (?'"?'%(Z>"# !*# 4")D*4%5*)=";B# [2:ig/10Jl-
DELLAUNAY, 2003, p. 7).
Ao indicar os pontos de atrito e de fissura entre a escola e os MCM, Jacquinot
d*--(,)(V# 4"''"@"'(# (# %!R%(# !*# I4T,D()# ;"@'*# 9(# ?'*G*'8)4%(#!*# (-7,);#educadores [antes
em] detratar os meios do que entend--";B.#Xf#!*;=(4(!(.#*#'*(-Z(#L,*#(#7'()!*#L,*;=>"#'*;%!*#
no fato de a institui•‹o escolar, de uma maneira geral, n‹o ter percebido que as novas
70
tecnologias de informa•‹o e comunica•‹o romperam com a hegemonia da transmiss‹o do
saber-cultura que, Ž bom esclarecer, na sociedade contempor‰nea n‹o denota mais o sentido
do enciclopedismo. Para ela,
nos meios escritos e audiovisuais (...) o saber-informa•‹o Ž fracionado,
!*;4")=Q),".#*5#95";(%4"BM#J#L,*#R#?'%<%-*7%(!"#R#"#9(L,%-(7"'(B#[MMMc#5(%;#
do que o conteœdo; o sensacional e o emocional mais do que o racional e o
abstrato. (...) os meios tratam de todos os assuntos, e n‹o h‡ nenhum controle
de aquisi‹o. Os meios constituem um mundo aberto a todas as influ•ncias
exteriores, falam de tudo da mesma maneira e abordam todos os registros da
cultura. ƒ por isso que eles conv•m a todos, mesmo que todos n‹o pensem
da mesma forma (JACQUINOT-DELLAUNAY, 2003, p. 3).
Decorre desta fragmenta‹o e falta de controle de aquisi•‹o dos conhecimentos-
informa•‹o uma das cr’ticas mais contundentes que a escola faz aos meios. Jacquinot-
Dellaunay lembra, porŽm, que estes argumentos precisam ser relativizados. Para isso, invoca
a quest‹o de que tambŽm o saber escolar Ž fragmenta!"#)(#G"'5(#!*#4,''Q4,-";Y# 9n(#*;4"-(#
'*(-%W(# 4"5# "# *!,4()!"o# ,5# e='(@(-D"# *5# 5%7(-D(;U.# '*?('=%!"# *5# ?*'Q"!";.# D"'f'%";# *#
disciplinas [os recortes de conhecimento a que se prop›e socializar] e a integra•‹o deste
conhecimento fragmentado em um saber de conjunto, integrado, Ž sem dœvida alguma uma
!(;# 4"%;(;# 5(%;# !%GQ4*%;# *# 5(%;# '('(5*)=*# G*%=(;# )(# *;4"-(B# [2:ig/10Jl-DELLAUNAY,
2003, p. 6). [Interpola•›es minhas].
Nesse sentido, o que a autora critica Ž que a institui•‹o escolar foi constru’da dentro de
uma no•‹o de espa•o e de tempo que, na contemporaneidade, j‡ n‹o consegue mais dar conta
das mudan•as impostas pela veloz altera•‹o do ambiente (sistema) social em que a escola
tambŽm se insere. Como bem lembra Helena Callai, em entrevista ao autor desta
disserta•‹o
43
.# 9L,(-L,*'# 5,!()Z(# R# <%;=(# ?*-(# *;4"-(# 4"5"# ,5(# *6?*'%8)4%(# *# )>"# 4"5"#
possibilidade de supera•‹o de uma institui•‹o amarrada a posturas antigas. E enquanto n‹o se
superar a dimens‹o absoluta dos conceitos de espa•o e de tempo, n‹o se conseguir‡ dar conta
!(#!%5*);>"#'*-(4%")(-.#L,*#R#"#G,)!(5*)="#!*#,5(#)"<(#?";=,'(BM
Jacquinot-Dellaunay e Callai me propiciam entender que estas amarras em que se
encontra aprisionada a escola acaba por n‹o promover a inter e a transdisciplinaridade
necess‡rias aos sujeitos interagirem de forma socializada e que, ao que tudo indica, os MCM
E mesmo que de forma embaralhada e n‹o did‡tica E t•m feito ˆ sua maneira. McLuhan, neste
43
Entrevista concedida em 19 de setembro de 2006.
71
(;?*4=".#Xf#D(<%(#(-*'=(!"Y#9J#*;=,!"#!";#5*%";#!*#4"5,)%4(Z>"#R#,5#*;=,!"#%)=*'!%;4%?-%)('B#
(MCLUHAN, 2005, p. 277). E, ao escrever sobre o computador alterando o meio social,
especialmente dentro da escola, observa:
O que o computador significa em educa•‹o Ž [um retorno ao di‡logo]:
ˆ medida que o movimento da informa•‹o se acelera, os n’veis de
informa•‹o se elevam em todas as ‡reas da mente e da sociedade, e o
resultado Ž que qualquer matŽria de estudo se torna substitu’vel por qualquer
outra matŽria. Isto quer dizer que qualquer curr’culo Ž obsoleto se forem
julgados os seus conteœdos. Tudo o que Ž preciso estudar-se s‹o os meios em
si, como formas, como modos que sempre criam novas suposi•›es e delas
novo objetivo (MCLUHAN, 1998, p. 230).
McLuhan ressalta que professores e educandos, depois de entenderem as rela•›es dos
meios e as interven•›es que estes produzem no ambiente e no sujeito, realizem opera•›es de
%)<*;=%7(Z>"# !";# ?'"@-*5(;# *5# ?(,=(# *# *5# *;=,!"M# \-*# %);%;=*# L,*# ;*# ,;*# 9(# =R4)%4(# !*#
!*;4"@'%'#()=*;#"#*G*%="#*#)>"#(#4(,;(BM#\5#",='(;#?(-(<'(;Y#!*;4"@'%'#(#=R4)%4(#!*#!*;4"@'%'#
algo. O resultado dessas descobertas, seja nos espa•os formais ou n‹o formais de educa•‹o,
<(%#'*?'*;*)=('#?('(#";#*!,4()!";#9"#G%5#!"#(4*;;"#("#4")D*4%5*)="#*5#,5#;K#;*)=%!"M#\-*;#
<%<*5#*5#,5#e4(5?"U#!*#4")D*4%5*)="#4'%(!"#?*-";#)"<";#5*%";#L,*.#(%)!(#L,*#diferentes
em classe, s‹o muito mais ricos e mais completos que nenhum [dos que s‹o] ensinados via
4,''Q4,-"#='(!%4%")(-B#[IiT/j:0.#]^^_.#?M#awpcM
Os moldes conceituais com os quais Jacquinot-Dellaunay nos nossos dias define um
educomunicador permitem tambŽm lembrar textos de McLuhan antes percorridos:
Um educomunicador n‹o Ž um professor especializado encarregado
do curso de educa•‹o para os meios. ƒ um professor (...) que integra os
diferentes meios nas suas prticas pedag—gicas. ƒ consciente que uma
educa•‹o "de massa" e "multicultural", se situa alŽm da simples aquisi•‹o de
conhecimentos escolares; Procura n‹o desvalorizar a cultura medi‡tica, (...)
em sua especificidade cultural, mas apia-se nela nos cursos de educa•‹o
para os meios como em outros cursos; Vnos meios uma riqueza pelos seus
conteœdos informativos certos, mas tambŽm pela maneira em que eles
fornecem uma representa‹o do mundo [o que possibilita a necessidade de
analisar, comparar e retificar estas representa•›es]; Est‡ convencido que
uma emisso n‹o Ž um ato "passivo", mas mobiliza uma quantidade de
"micro-saberes" acumulados que o professor pode ajudar o aluno a colocar
em rela•‹o, para construir seu conhecimento e lhe dar sentido; Sabe que,
quando ele introduz os meios como objeto de estudo, n‹o Ž para fazer do
aluno um pseudo-jornalista ou aprendiz-apresentador, mas para ensin-lo a
analisar do triplo ponto de vista do "poder" econ™mico e Žtico (pol’tico) que
os produz, das "montagens do discurso e da cena" que constr—i as mensagens
72
e da audi•ncia que lhes d‡ "sentido"; Aceita que entrem na escola outros
universos e outras modalidades de apropria•‹o da realidade: em particular,
ele pode, a partir das emo•›es provocadas pela televis‹o, trabalhar sobre
diversas "abordagens do real" e construir progressivamente um pensamento
rigoroso. Numa palavra, o educomunicador reconhece que n‹o h‡ mais
monop—lio da transmiss‹o de conhecimento, e que n‹o Ž s— o professor que
tem o direito da palavra (JACQUINOT-DELLAUNAY, 2003, p. 10-12).
[Grifos meus].
Soares
44
, da mesma forma que Jacquinot-Dellaunay, inclui-se entre aqueles que est‹o
preocupados com a quest‹o do emprego dos meios de comunica•‹o na (e pela) escola. No
entanto, se observa que ambos apresentam em suas teoriza•›es vieses diferenciados no que
toca ao fazer da educomunica•‹o (Quem faz? Como faz? Onde faz?). Soares entende que a
educomunica•‹o refere-;*# 9(# ,5# 4(5?"# !"# ?-()*X(5*)="# *# *6*4,Z>"# !*# ?"-Q=%4(;# !*#
comunica•‹o educativa tendo por objetivo a cria•‹o e desenvolvimento de ecossistemas
co5,)%4(=%<";#5*!%(!";#?*-";# ?'"4*;;";#!*# 4"5,)%4(Z>"#*#?"'#;,(;#=*4)"-"7%(;B#[appp.#?M#
63). Por sua vez, Jacquinot-d*--(,)(V# !*G*)!*# L,*# 9(# *!,4(Z>"# ?('(# ";# 5*%";# ",# ?('(# (;#
novas tecnologias, longe de ser uma disciplina suplementar e necessitar um corpo docente
especial deve tornar-se um componente de toda educa•‹o e forma•‹o e concerne a todos os
!"4*)=*;BM#+"('*;#?-*%=*%(#(#G"'5(Z>"#!%'%7%!(#(#?'"G%;;%")(%;#4"5#8)G(;*#)(#*;?*4%G%4%!(!*#!*#
gestores, capazes de assessorar n‹o apenas espa•os educacionais formais e n‹o formais, bem
como espa•os de educa•‹o presencial e de educa•‹o ˆ dist‰ncia ou e-learning, alŽm de
empresas (pœblicas ou privadas) produtoras de materiais educativos nos mais variados
formatos de multimeios. Nos seus termos, o educomunicador Ž:
O profissional que, atuando numa das ‡reas do novo campo,
demonstra capacidade para elaborar diagn—sticos no campo da inter-rela•‹o
Educa•‹o/Comunica•‹o; coordenar a•›es e gest›es de processos, traduzidos
em pol’ticas pœblicas; assessorar os educadores no adequado uso dos
recursos da comunica•‹o ou promover, ele pr—prio, quando lhe cabe a tarefa,
o emprego cada vez mais intenso das tecnologias, como instrumentos de
expresso dos cidad‹os envolvidos no processo educativo; implementar
programas de "educa•‹o pelo e para os meios" e refletir sobre o novo campo,
sistematizando informa•›es que permitam um maior esclarecimento sobre as
demandas da sociedade em tudo o que diga respeito ˆ inter-rela•‹o
Comunica•‹o/Educa•‹o (SOARES, 2005).
44
No Brasil, percebe-se uma certa tendncia de filiao aos pressupostos tericos de Soares. Afirmo isso com
base na anlise das recomendaes do Frum Mdia & Educao: Perspectivas para a Qualidade da Informao
onde se pode constatar que as referidas recomendaes, publicadas pelo MEC, se apiam nas principais teses
defendidas por Soares ao longo de toda a sua produo terica sobre educomunicao.
73
Jacquinot-Dellaunay e Soares, em seus pontos te—rico-metodol—gicos, diferenciados
em alguns aspectos, mostram que as significa•›es e as interpreta•›es acerca deste campo de
interven•‹o social s‹o muitas e diversificadas. Na AmŽrica Latina, por exemplo, n‹o faltam
estudiosos que transferem do campo de a•‹o pol’tico da educomunica•‹o para o plano
ideol—gico
45
. Outros passaram a entender a educomunica•‹o como o mero emprego ou
apropria•‹o dos meios de comunica•‹o e dos instrumentos tecnol—gicos de
informa•‹o/comunica•‹o como facilitadores de transmiss‹o de conteœdos em sala de aula,
mantendo dessa forma a matriz de repasse de conhecimentos para a memoriza•‹o. H‡, ainda,
os que hibridizaram os conceitos, conforme Kaplœn (1997) constata em seu artigo De mŽdio y
fines en comunicaci—n. Segundo o autor, muitos educadores cr’ticos dos poss’veis efeitos dos
MCM e seus conteœdos sobre os sujeitos, porŽm pressionados em aderir ˆ modernidade de
empregar tecnologias e multimeios em sala de aula, acabam adotando uma postura pastoral
sobre os educandos, indicando-lhes o que devem ou n‹o assistir, o que Ž bom e o que Ž ruim
)(#=*-*<%;>"M#9\;;(;#?'*;4'%ZO*;#;,@;=%=,*5#,5(#%5?";%Z>"#?"'#",='(#%5?";%Z>"#[MMMc#*#!*;;*#
modelo [de aula com e pelos meios de comunica•‹o] n‹o se pode esperar um uso cr’tico e
cri(=%<"# !";# 5*%";B.# *;4'*<*# |(?-v).# ?('(# L,*5# "# ?'"@-*5(# )>"# *;=f# )(# %)G'(*;=',=,'(#
tecnol—gica posta ˆ disposi•‹o dos educadores, mas, sim, na falta de um projeto pedag—gico
que conceba a educomunica•‹o como dial—gica e que favore•a o exerc’cio pœblico do ju’zo
cr’tico por parte dos cidad‹os. Para Kaplœn, educomunicar Ž propiciar participa•‹o e
interlocu•‹o e n‹o mon—logo; Ž permitir aos alunos que falem, que expressem suas vis›es de
mundo, trabalhem coletivamente seus imagin‡rios e se tornem novos emissores e n‹o meros
receptores.
Formar cidad‹os cr’ticos e n‹o homogeneizados sob a —tica da educomunica•‹o sugere
lembrar o aporte que McLuhan oferece, ao estudar a publicidade americana e seus discursos,
no livro The Mechanical Bride: the folklore of industrial man
46
. Conforme aponta no pref‡cio
da obra, o objetivo das milion‡rias campanhas publicit‡rias e programas de entretenimento Ž
manter os indiv’duos em estado vulner‡vel para o consumo. Por isso seu livro teria a
finalidade de desnudar esta manipula•‹o, de forma pedag—gica. McLuhan (1998, p. 35-36)
afirma que n‹o s— o investimento econ™mico nas campanhas, como tambŽm o dos discursos
atraentes desenvolvidos pelos executivos das ag•ncias publicit‡rias, excede aos recursos na
45
Sobre isso, ver Hacia uma genealogia de comunicacin/educaci—n: rastreo de algunos anclajes poltico-
culturales, de Jorge Alberto Huergo, editado em 2005 pela Universidad Nacional de La Plata.
46
Para esta dissertao estou tomando como referncia La Novia Mecnica, um extrato do texto original
publicado por Eric McLuhan na obra McLuhan Escritos Esenciales.
74
educa•‹o formal e que o desvelamento disso pode se dar dentro do pr—prio processo de forma
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fato? Por que n‹o ajudar o pœblico a observar conscientemente o drama que se planeja operar
inconscientemente#;"@'*#*-*tB.#%)!(7(#I4T,D()M
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para a comunica•‹o significa garantir tambŽm o direito de receber informa•‹o verdadeira, que
n‹o seja manipulada por conveni•ncia de um determinado Estado, governo, institui•‹o ou
7',?"# !*# ?"!*'# *4")N5%4".# '*-%7%";".# ?"-Q=%4"BM# :%)!(# "@;*'<(# L,*# (# *!,4(Z>"# ?('(# (#
comunica•‹o se constitui em um territ—rio que transcende a mera busca de pontes entre os
dois campos de conhecimento, na medida em que educomunicar deve ter como pressuposto
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4"5,)%4(=%<"#*#?('(#"#!*;*)<"-<%5*)="#!*#;,(#-%@*'!(!*BM#
Baccega (2006) se inscreve na discuss‹o ao lembrar que, diante do car‡ter complexo
da realidade contempor‰nea, j‡ n‹o Ž mais poss’vel existir os sujeitos-enciclopedistas, plenos
de saberes que d‹o conta do que acontece no seu dia-a-dia. O que a autora estafirmando Ž
que, nesta configura‹o de aldeia global, o conhecimento deve ser constru’do e socializado de
G"'5(#4"-*=%<(#*#4'Q=%4(.#%5?")!"#(#="!";#"#!*;(G%"#!*#!*;<*-('#*#!*#%)=*'?'*=('#9,5#5,)!"#
constru’do pelos meios de comunica•‹o, que selecionam o que devemos conhecer, os temas a
serem pautados para discuss‹o e, mais que isso, o ponto de vista a partir do qual vamos
4"5?'**)!*'#*;;*;#=*5(;B#[H:ii\&:.#app`cM#J#('7,5*)="#!(#(,="'(#<*5#("#*)4")='"#!"#
que Santos (2004) tambŽm escreve em seu livro Por uma outra globaliza•‹o: do pensamento
œnico ˆ consci•ncia universal:
A informa•‹o sobre o que acontece n‹o vem da intera•‹o entre as
pessoas, mas do que Ž veiculado pela m’dia, uma interpreta•‹o interessada,
seno interesseira, dos fatos. (...) o essencial do que no mundo se l• (...) Ž
produzido a partir de meia dœzia de empresas que, na realidade, no
transmitem novidades, mas as reescrevem de maneira espec’fica. Apesar de
as condi•›es tŽcnicas da informa•‹o permitirem que toda a humanidade
conhe•a tudo o que o mundo Ž, acabamos na realidade por n‹o sab•-lo, por
causa dessa intermedia‹o deformante (SANTOS, 2004, p. 66).
47
47
Trago a este estudo dados do relatrio M’dia e Mercado ± o investimento do capital estrangeiro no Brasil,
produzido pelo IBOPE Inteligncia em 2005, como um aporte tŽcnico que permita uma melhor compreenso do
que Santos aponta em seu livro. De acordo com o documento aqui referenciado, 90% dos domic’lios brasileiros
possuem aparelho de TV e de rdio. O relat—rio d conta que existem no pa’s mais de trs mil emissoras de
radiodifuso, das quais 70% esto nas mos de pol’ticos dos mais diversos partidos e que, em relao ˆs
75
ƒ razo‡vel pensar que n‹o existem exageros nos argumentos que esses autores
utilizam para expor as formas como o mundo Ž editado. TambŽm n‹o se pode negar que hoje
os meios e as tecnologias de informa•‹o/comunica•‹o assumem um papel relevante na
configura•‹o da aldeia global em que nos inscrevemos, tomando para si um lugar de
socializador de saberes, para o bem ou para o mal. Baccega (2003, p. 9) reconhece esta
?";%Z>"# 9?*!(7K7%4(B# !(# 5Q!%(.# *)='*=()="# G(W# 4"ro ˆqueles que concebem a institui•‹o
*;4"-('.#5*;5"#4"5#="!(;#(;#;,(;#!*G%4%8)4%(;.#4"5"#,5#9-,7('#?'%<%-*7%(!"#!(#;"4%(-%W(Z>".#
!";#*)4")='";#5('4(!";#?('(#'*G-*6>".#?('(#4");=',Z>"#!*#4%!(!()%(BM#~#?('(#*;=*#*;?(Z"#!*#
debate e de di‡logo chamado escola L,*#(#(,="'(#!*-*7(#"#?(?*-#!*#9*);%)('#(#-*'#";#5*%";.#
possibilitar conhecimento para que a sele•‹o seja adequada aos interesses coletivos [de forma
que se instaure um campo de for•a apontado como] o poder da sociedade nas suas rela•›es
4"5#(#5Q!%(BM
A leitura dos meios, referida por Baccega e os demais autores aqui lembrados, Ž
alargada conceitualmente por Marques de Melo (1994, p. 183), para quem ler os meios requer
9,5(# 4")"=(Z>"# 5(%;# (@'()7*)=*# n!(L,*-(# L,*# %5?-%4(# (?*)(;# (# (-G(@R=%4"-fonŽtica],
press,?")!"#4"5?'**);>"#!"#5,)!"B.#(#L,(-#)";#;*,;#=*'5";#!*5()!(#,5(#5*!%(Z>"#L,*#;*#
d‡ via escola:
(...) a leitura dos signos disseminados pela tecnologia da reprodu‹o
cultural alicera-se na leitura do mundo proporcionada pela educa•‹o. Tanto
maior o dom’nio dos c—digos quando mais oportunidades tem o cidad‹o para
entender o mundo em que vive. Naturalmente a pr—pria vida enseja
mecanismos de apreenso do significado da cultura que nos rodeia. Mas Ž
ineg‡vel que a sistematiza•‹o do conhecimento proporcionado pela escola
amplia as chances de participa•‹o na sociedade e de usufruto dos benef’cios
dispon’veis. Quanto mais escolariza•‹o mais op•›es de interven•‹o no
cotidiano. E melhores expectativas de bem-estar (MARQUES DE MELO,
1994, p. 184).
Este aporte de Marques de Melo vem ao encontro do que o Center for Media Literacy
48
sugere no seu guia de orienta•‹o destinado (e empregado) por professores e
emissoras de TV, um quarto, ou seja, 24% delas, pertencem a polticos. Conforme o documento, 57% da
populao brasileira encontra na televiso sua principal fonte de informao e de entretenimento. Este relat—rio
mostra, ainda, que 61% das emissoras de rdio AM e 65% das emissoras em FM esto localizadas nas regies
sul e sudeste do pas e 54 % das emissoras de TV tambŽm se encontram instaladas nesta regio, o que me leva a
compreender que essa concentrao pode ser lida como um fator de homogeneizao da cultura/informao.
48
O Center for Media Literacy (CML), que pode ser traduzido como Centro para Alfabetizao nos Meios, Ž
uma instituio americana criada em 1989, sem fins lucrativos e formada por pesquisadores e tericos na rea de
76
educomunicadores em v‡rios pa’ses, denominado Conjunto de Herramientas para
Alfabetismo em MŽdios: un marco de referencia para aprender y ense–ar en la era medi‡tica
[appwcM# i")G"'5*# "# !"4,5*)=".# )*;=(# ;"4%*!(!*# !(# %)G"'5(Z>"# *# !(# *;?*=(4,-('%W(Z>"# 9"#
conceito de texto foi alargado e j n‹o inclui somente textos escritos, mas todo tipo de
mensagens (verbais, auditivas, visuais ou a uni‹o de todos eles) que s‹o utilizados para criar,
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Assim, diante deste fen™meno, o Center for Media Literacy sugere que os estudantes
precisam nos dias atuais aprender a encontrar o que necessitam saber quando o necessitam
saber e desenvolver compet•ncias intelectuais para analisar e avaliar se a informa•‹o que
encontraram Ž œtil para o que querem saber. Mais do que isso, como cidad‹os comprometidos
com uma sociedade justa e democr‡tica, devem desenvolver um pensamento cr’tico e possuir
uma capacidade de expressar-se, cabendo neste caso a educa•‹o para os meios o papel de
ajudar tanto aos docentes quanto aos estudantes entender de onde provŽm a informa•‹o, a
servi•o de que interesse pode estar e como Ž poss’vel encontrar pontos de vista alternativos
aos apresentados pelos meios e tecnologias de comunica•‹o. O documento aqui referido ainda
aponta como inquestion‡vel que, na sociedade global e informacional contempor‰nea, as
experi•ncias midi‡ticas exercem um impacto significativo sobre a maneira como entendemos,
interpretamos e atuamos no mundo, destacando, porŽm, que a educa•‹o para os meios permite
limitar a depend•ncia a essa leitura homogeneizada se for exercitada a cr’tica aos conteœdos e
aos imagin‡rios que nos s‹o vendidos de forma espetacularizada, numa sedutora embalagem
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MEDIA LITERACY, 2003, p. 12).
Moran (1994), que tem se dedicado a sistematizar te—rica e metodologicamente a
educomunica•‹o no Brasil, pelo que seus escritos sugerem, amplia as perspectivas de
Baccega e Marques de Melo, no que diz respeito ˆ educa•‹o para a leitura dos meios.
Segundo ele, essa educa•‹o n‹o se restringe somente ˆ institui•‹o escolar, mas deve ter suas
@(;*;#*5#,5(#9articula•‹o de v‡rios espa•os educativos, mais ou menos formais: educa•‹o
ao n’vel familiar, trabalhando a rela•‹o pais-filhos-comunica•‹o (...); rela•‹o comunica•‹o-
educomunicao. Entre as muitas atividades que desenvolve, o CML produz cursos de aperfei•oamento para
educomunicadores bem como material didtico para o emprego em cursos de leituras crticas dos meios, muitos
deles dispon’veis, sem nenhum custo, pelo site oficial do organismo: <http://www.medialit.org>.
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escola, (...) dif’cil e problem‡tica, mas absolutamente necess‡ria para o enriquecimento de
ambas (...); e comunica•‹o na comunidade, analisando os meios a partir da situa•‹o de uma
determinada# 4"5,)%!(!*B# [IJ$:0.# ]^^b.# ?M# ]b-15). [Grifos do autor]. Esse conjunto de
rela•›es abrangentes se entrela•a, na opini‹o de Moran (1994, p. 15), no mŽtodo da leitura
4'Q=%4(# !";# 5*%";# !*# 4"5,)%4(Z>".# "# L,(-# )*4*;;%=(# *;=('# %);*'%!"# 9*5# ,5# ?'"X*="# ?"-Q=%4"#
definido, com estratŽgias adequadas e organiza•‹o eficiente visando a uma consecu•‹o de
"@X*=%<";#(#-")7".#5R!%"#*#4,'="#?'(W";BM#
Ler os meios e suas mensagens, ao que parece, Ž tarefa a ser empreendida pelos
envolvidos no processo de educomunicar, na medida em que a inter-rela•‹o escola-sociedade-
m’dia se mostra uma complexa trama em que se velam e se desvelam conflituosas rela•›es de
poder, cada qual com seus interesses espec’ficos. No meu entendimento, ler os meios [aqui no
sentido dos conteœdos que transmitem] n‹o Ž impor a exist•ncia de uma interpreta•‹o œnica,
D"5"78)*(.# !(!(# 4"5"# <*'!(!*# ?*-";# L,*# ;*# (?";;(5# !"# 9;(@*'--*7Q=%5"BM# \;;(# -*%=,'(#
significa dar voz ˆs v‡rias interpreta•›es poss’veis das mensagens. AtravŽs da polifonia de
vozes e da multiplicidade de leituras e interpreta•›es subjetivas e intersubjetivas, com a
media•‹o e a negocia•‹o entre os grupos envolvidos no processo, ser‡ poss’vel re-elaborar o
conhecimento humano com vistas ao respeito das multiculturas existentes nesta aldeia global.
~# )*;;(# K=%4(# L,*# (# *!,4"5,)%4(Z>"# ?"!*# ;*'# *)=*)!%!(# 4"5"# ,5(# 9*!,4(Z>"# ?('(# )"<(;#
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4")='f'%".#(7%'#4"5"#";#*;?*4%(-%;=(;#94*7";#?*-(#;,(#-()=*')(#!"#;(@*'B.#!";#L,(%;#McLuhan
fala, ou cegos pelas ideologias doutrin‡rias, Ž contribuir para que surjam novas exclus›es.
Os subs’dios te—rico-metodol—gicos, bem como os argumentos apresentados pelos
autores destacados sobre este campo de interven•‹o social que se tem denominado
educomunica•‹o, permitem, retrospectivamente, entender a fecundidade do pensamento de
McLuhan sobre assuntos que hoje podem, sem hesita•‹o, serem colocados entre as reflex›es
mais significativas nos te—ricos educomunicacionais. Ao afirmar, em 1969, que# 9(# ;(-(# !*#
(,-(;#*)G'*)=(# D"X*#,5(# -,=(#<%=(-#?*-(# ;"@'*<%<8)4%(#4"5# "#5,)!"#e*6=*'%"'U#%5*);(5*)=*#
?*';,(;%<"#4'%(!"# ?*-";#)"<";# 5*%";# !*#%)G"'5(Z>"B#[]^`^.#?M# ]a_c.#I4T,D()# ="')(-se t‹o
contempor‰neo quanto Jacquinot-Dellaunay e Soares, como pensadores desta inter-rela•‹o
*!,4(Z>"y4"5,)%4(Z>"M# # J;# G'(75*)=";# 9(# *!,4(Z>"# =*5# L,*# !*;<%('-se da instru•‹o, da
imposi•‹o de estere—tipos, para buscar a descoberta E indo ˆ sondagem e explora•‹o bem
4"5"#("#'*4")D*4%5*)="#!(#-%)7,(7*5#!(;#G"'5(;B#[IiT/j:0.#]^`^(.#?M#]a_c#*#9!"=('#(;#
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escolas com TVs [ou outras tecnologias reproduzindo o ambiente da escola atual] n‹o mudar‡
em nada seus valores e mŽtodos arcaicos (...) pois o resultado seria um h’brido que n‹o Ž
nenhum dos dois. Devemos nos perguntar que pode fazer a televis‹o no ensino das disciplinas
L,*#(#;(-(#!*#(,-(#)>"#?"!*#G(W*'#=(-#*#4"5"#*;=f#4");=%=,Q!(#(7"'(tB#[IiT/j:0.#]^^`.#?M#
301) me permitem especular que o autor pensava num professor com um perfil que, sob
muitos aspectos, se identifica com aqueles que hoje soam postulados pelos te—ricos
contempor‰neos deste campo de interven•‹o social que est‡ a sugerir um novo profissional
chamado educomunicador.
Embora Chomsky n‹o possa ser enquadrado nesta comunidade argumentativa dos
designados educomunicadores, parece razo‡vel afinar essa sua passagem com os discursos
mcluhanianos:
Os professores n‹o devem ver os estudantes como uma mera
audi•ncia, mas como fazendo parte de uma comunidade de interesse
partilhado. (...) N‹o devemos falar para, mas com. (...) Um bom professor
sabe que a melhor maneira de ajudar os alunos a aprender Ž deix‡-los
descobrir a verdade por eles prprios. Os estudantes n‹o aprendem por mera
transfer•ncia de conhecimento atravŽs da memoriza•‹o mec‰nica e posterior
regurgita•‹o. (...) Isso nunca conduz ao desenvolvimento do pensamento
cr’tico e independente (CHOMSKY, 2004, p. 10). [Grifos do autor].
Parece haver um certo consenso entre os te—ricos quanto ao emprego das tecnologias
como aporte e suporte ao ensino, bem como a necessidade de os professores abandonarem
seus claustros e seus temores em rela•‹o ˆs inova•›es propiciadas pelo mundo moderno.
Conforme salienta Marques de Melo (1990, p. 2), a efic‡cia da educa•‹o poder‡ estar na
absor•‹o das tecnologias informacionais e comunicacionais no que concerne ˆ transmiss‹o de
9)"<";#4")D*4%5*)=";#*#?('(#!*5");='('#)"<(;#G"'5(;#!*#(?-%4(Z>"#!"#;(@*'#(4,5,-(!"M#I(;#
ela s produzir‡ efeitos se contar com o empenho de professores autoconfiantes, melhor
='*%)(!";#?('(#(;#=('*G(;#!(#;(-(#!*#(,-(BM
Especificamente no caso brasileiro, a Lei de Diretrizes e Bases E LDB (1996) indica,
em seu artigo 14, normas de gest‹o democr‡tica do ensino pœblico, dando autonomia para que
as institui•›es escolares, seus profissionais, bem como a comunidade em que a institui•‹o se
insere, tome para si a elabora•‹o do seu projeto pedag—gico. Exige que seja respeitado o que Ž
79
estabelecido como base nacional curricular
49
, mas, ao mesmo tempo, abre um leque de
possibilidades a uma parte diversificada, isto Ž, que atenda as d*5()!(;# *# 94('(4=*'Q;=%4(;#
'*7%")(%;#*#-"4(%;#!(#;"4%*!(!*.#!(#4,-=,'(.#!(#*4")"5%(#*#!(#4-%*)=*-(BM#J,#;*X(.#L,*#(-R5#!"#
curr’culo b‡sico padr‹o, o projeto pedag—gico deve incluir disciplinas que ajudem o educando
(#=*'#94"5?'**);>"#!"#(5@%*)=*#)(=,'(-#*#social, do sistema pol’tico, da tecnologia, das artes e
!";#<(-"'*;#*5#L,*#;*#G,)!(5*)=(#(#;"4%*!(!*B.#@*5#4"5"#(?'%5"'('#"#*;=,!()=*#?"'#5*%"#!*#
uma forma•‹o Žtica para que este desenvolva uma autonomia intelectual e um pensamento
cr’tico (artigos 32 e 35). Explicita que a institui•‹o escolar e o professor, enquanto
mediadores dos saberes, n‹o est‹o proibidos de efetuar uma aproxima•‹o da escola com os
meios de comunica•‹o, nos moldes em que se teorizam e se sistematizam alguns princ’pios da
educomunica•‹o.
Em complemento ˆ LDB, os Par‰metros Curriculares Nacionais (PCNs), criados pelo
MEC para o ensino fundamental e mŽdio no pa’s, vem corroborar esta idŽia da apropria•‹o
dos meios de comunica•‹o como suporte dos projetos pedag—gicos das escolas. De acordo
com esse conjunto de sugest›es complementares ao que a LDB contempla, os PCNs indicam
que os educadores n‹o devem entender o conteœdo de cada disciplina como fim em si mesmo
*# ;%5# 94"5"# 5*%"# ?('(# L,*# ";# (-,)";# !*;*)<"-<(5# (;# 4(?(4%!(!*;# L,*# -D*;# ?*'5%=(5
?'"!,W%'#*#,;,G',%'#!";#@*);#4,-=,'(%;.#;"4%(%;#*#*4")N5%4";B#[I\i.#]^^k.#?M#r]cM#\#R#)*;;*#
sentido que a proposta do documento esclarece, entre outras quest›es, que o ensino capacite
";# (-,)";# ?('(# 9,=%-%W('# (;# !%G*'*)=*;# -%)7,(7*);# 4"5"# 5*%"# ?('(# ?'"!,Wir, expressar e
comunicar suas idŽias, interpretar e usufruir das produ•›es culturais, em contextos pœblicos e
?'%<(!";.#(=*)!*)!"#(#!%G*'*)=*;#%)=*)ZO*;#*#;%=,(Z>"#!*#4"5,)%4(Z>"B
50
(MEC, 1997, p. 69),
49
So disciplinas obrigatrias do ensino fundamental: l’ngua portuguesa, matemtica, histria, geografia,
4%8)4%(;#)(=,'(%;.#('=*#*#*!,4(Z>"#GQ;%4(M#:#?('=%'#!(#r#;R'%*.#,5(#-Q)7,(#*;='()7*%'(M#0"#*);%)"#5R!%"#?'*<8-se a
educao tecnol—gica bsica, a inclus‹o de uma segunda lngua estrangeira optativa, bem como o ensino de
filosofia e sociologia. Os temas transversais a serem trabalhados nos currculos devem incluir questes de Žtica,
de pluralidade cultural, de orientao sexual, do meio ambiente e da saœde. ƒ importante salientar que estes
temas transversais esto contidos nas sugestes e orientaes da UNESCO para serem adotados pelas escolas,
em especial nas dos pases em desenvolvimento e dos pases considerados periricos ou subdesenvolvidos.
i")G%'(#*5#9:#/0\+iJ#*#(#\!,4(Z>"BM
50
Nesse sentido os PCNs sugerem a transversalidade como prtica pedaggica. A noo de transversalidade aqui
R#*)=*)!%!(#)";#5"-!*;#'*G*'%!";#)";#!"4,5*)=";#!"#I\i#[]^^k.#?M#w]c#4"5"#9(#?";;%@%-%!(!*#!*#;*#*;=(@*-*4*'.#
na prtica educativa, uma relao entre aprender na realidade e da realidade de conhecimentos teoricamente
;%;=*5(=%W(!";#[(?'*)!*'#;"@'*#(#'*(-%!(!*c#*#(;#L,*;=O*;#!(#<%!(#'*(-#[(?'*)!*'#)(#'*(-%!(!*#*#!(#'*(-%!(!*cB#",#
seja, permitindo que as subjetividades e a intersubjetividade seja aflorada e explorada de forma didtico-
pedaggica.# :%)!(# !*# (4"'!"# 4"5# ";# Ci0;.# (# 9='();<*';(-%!(!*#(@'*# *;?(Z"# ?('(# (# %)4-,;>"# !*# ;(@*'*;# *6='(-
curriculares [inclusive e principalmente os advindos dos meios de comunicao], possibilitando a referncia a
sistemas de significados construdos na realidade d";#(-,)";BM#J,#;*X(Y#"#(4"-D%5*)="#!(;#;,@X*=%<%!(!*;#?-,'(%;#
e multifacetadas dos sujeitos.
80
lan•ando m‹o neste caso de diferentes fontes de informa•‹o e recursos tecnol—gicos para
adquirir e construir conhecimentos
51
.
A idŽia de a escola usar os meios e as tecnologias de informa•‹o-comunica•‹o na
verdade n‹o Ž nova. Em 1932, intelectuais reconhecidos, como Cec’lia Meirelles, An’sio
Teixeira, Roquete Pinto, Paschoal Leme, entre outros, subscrevem O manifesto dos pioneiros
da educa•‹o nova. A reconstru•‹o educacional no Brasil ± ao povo e ao governo, no qual
reivindicam, alŽm de uma institui•‹o escolar aut™noma capaz de agregar em seu interior n‹o
s#*!,4(!"'*;#*#*!,4()!";.#5(;#!*#G"'5(#*;?*4%(-#(#;"4%*!(!*#4%<%-#4"5"#,5#="!".#L,*#9(#
escola deve utilizar, em seu proveito, com a maior amplitude poss’vel, todos os recursos
formid‡veis, como a imprensa, o disco, o cinema e o r‡dio, com que a ci•ncia, multiplicando-
lhe a efic‡cia, acudiu a obra de educa•‹o e cultura e que assumem, em face das condi•›es
7*"7'fG%4(;#*#!(#*6=*);>"#=*''%="'%(-#!"#?(Q;.#,5(#%5?"'=u)4%(#4(?%=(-B#[&j1$:$d\TT1#2$M.#
1990, p. 75). Essa no•‹o dos meios aportarem nas salas de aula formas diferenciadas de
informa•‹o que n‹o apenas as advindas dos curr’culos enciclopŽdicos da forma como s‹o
elaborados, e com elas permitir a constru•‹o do conhecimento j‡ havia sido proposta em 1924
pelo pedagogo francs Freinet
52
, por meio do jornal escolar e que, ao que tudo indica, serviu
51
Experincias em diversas escolas tem demonstrado que para aplicar os princ’pios da inter e da
transdisciplinaridade sugerida pelos PCNs, no que diz respeito ˆs prticas educomunicativas no demandam
grandes investimentos tecnolgicos. Parece, sim, ser necessrio, fazer uso da criatividade por parte dos
*!,4(!"'*;#4"5"#!*5");='(#(#*6?*'%8)4%(#!*;*)<"-<%!(#)(#\;4"-(#i-(;;*#)#]r.#*5#l(7,(=%)7(.#4%!(!*-satŽlite
do Distrito Federal, por meio do projeto De Olho Na Tela, criado pela professora Nadir Oliveira e que recebeu o
Prmio Incentivo ˆ Educao Fundamental, do MinistŽrio da Educao/Fundao Bunge em 2003. Ali crianas
profundamente marcadas pelo meio televiso passaram a ter aulas a partir de temas colocados/pautados pela
m’dia e levados para a escola pelos prprios educandos, com um melhor aproveitamento dos conteœdos quando
comparados ˆ maneira formal como eram apresentados anteriormente. Segundo relato de Nadir ˆ revista
Professor, os filmes vistos em sala de aula assim como os programas de televiso a que as crianas assistem em
casa motivam discusses e atividades de classe sobre vrios temas, como violncia, famlia, preconceito, entre
muitos outros. Na repo'=(7*5.#0(!%'#4%=(#4"5"#*6*5?-"#"#4(;"#C*!'%)D".#(#D%;=K'%(#!*#,5#7('"="#;*LP*;='(!"#)(#
maternidade em Goinia e que devido a repercusso na mdia, suscitou uma sŽrie de trabalhos envolvendo
disciplinas como matemtica, geografia, portugus. Por conta do i)=*'*;;*#)(#D%;=K'%(#!"#7('"="#;*LP*;='(!".#";#
alunos tambŽm passaram a ler jornais e revistas e, com isso, treinaram ortografia e portugus com vistas a
escrever redaes e cartas de solidariedade ˆ verdadeira me do garoto. Veja mais detalhes na reportagem
Plugados na Telinha, p. 32-33.
52
Em Os Imperativos da Modernizao Escolar, introduo assinada por CŽlestin Freinet no seu livro O Jornal
Escolar (1974), o autor, a exemplo do que McLuhan tambŽm fez na dŽcada de 1960, tece crticas severas ˆ
escola formatadora e disciplinadora de corpos e advoga que as tecnologias de comunicao devem ser aliadas
!";# ?'"G*;;"'*;# )(# 4");=',Z>"# !*# 4")D*4%5*)=";# *# )(# G"'5(Z>"# !*# X"<*);# 4%!(!>";M# m'*%)*=# (;;*7,'(# L,*# 9(#
tŽcnica dos manuais, dos deveres e das lies est ultrapassada, como o foi a tŽcnica do manuscrito e da pena de
?(="B# [?M# ]]cM# +*7,)!"# "# ?*!(7"7"# G'()48;.# 9";# <*-D";# Df@%=";.# %);4'%=";# )"# 5"!"# !*# <%!(# *# )(# ='(!%Z>".#
obstinam-se em sobreviver, como persistem, apesar do aperfeioamento da mecanizao, o arado e a foice. Em
educao, a revoluo Ž ainda mais lenta e laboriosa do que nas outras tŽcnicas de trabalho; as pessoas tm
tendncia em impor ˆs geraes que se lhes seguem os mesmos mŽtodos que as formaram ou deformaram. A
cultura tradicional continua obstinadamente baseada num passado caduco e trava as foras inovadoras que
!%)(5%W(5#"#(<()Z"B#[?M#]]-12). Para romper com esse sistema de educao, Freinet desenvolveu como mŽtodo
de ensino/aprendizagem o uso da tipografia na escola. Com ela, os alunos desenvolvem livremente um
81
de inspira•‹o n‹o s— a McLuhan, como tambŽm aos atuais te—ricos da educomunica•‹o, para
desenvolverem seus estudos sobre os meios de comunica•‹o como contribuintes ao
desenvolvimento de um educando crtico da sociedade.
Uma quest‹o que parece merecedora de •nfase neste debate n‹o est‡ vinculada ˆ falta,
nem de teorias, nem de legisla•‹o sobre a import‰ncia do uso das novas tecnologias
midi‡ticas e seus aportes poss’veis na re-elabora•‹o do conhecimento via escola.
Fundamenta-se, isto sim, na pr—pria forma•‹o dos educadores do futuro E pelo menos no
Brasil E e a vontade pol’tica da maioria destes, em mudarem seus discursos, rasos, sobre os
malef’cios dos multimeios. O pr—prio Conselho Nacional de Educa•‹o, em seu parecer CNE
)‚# ^yapp].# ;"@'*# (;# !%'*='%W*;# 4,''%4,-('*;# )(4%")(%;# ?('(# (# G"'5(Z>"# !*# ?'"G*;;"'*;# !(#
educa•‹o b‡sica, em n’vel superior, curso de licenciatura, de gradua•‹o plena, reconhece isso:
Se o uso de novas tecnologias (...) est‡ sendo colocado como um
importante recurso para a educa•‹o b‡sica (...) o mesmo deve valer para a
forma‹o de professores. No entanto, ainda s‹o raras as iniciativas no
sentido de garantir que o futuro professor aprenda a usar, no exerc’cio da
docncia, [os multimeios] e a lidar com programas e softwares educativos.
Mais raras, ainda, s‹o as possibilidades de desenvolver, no cotidiano do
curso, os conteœdos curriculares das diferentes ‡reas e disciplinas, por meio
das diferentes tecnologias. De um modo geral, os cursos de forma‹o
eximem-se de discutir padres Žticos decorrentes da dissemina•‹o da
tecnologia e reforam atitudes de resist•ncia, que muitas vezes, disfar•am a
insegurana que sentem os formadores e seus alunos-professores em
forma‹o, para imprimir sentido educativo ao conteœdo das m’dias, por meio
da an‡lise, da cr’tica e da contextualiza•‹o, que transformam a informa•‹o
veiculada, massivamente, em conhecimento. Com abordagens que v‹o na
contram‹o do desenvolvimento tecnol—gico da sociedade contempor‰nea, os
cursos raramente preparam os professores para atuarem como fonte e
refer•ncia dos significados que seus alunos precisam imprimir ao conteœdo
da m’dia. Presos ˆs formas tradicionais de intera•‹o face a face, na sala de
aula real, os cursos de forma‹o ainda n‹o sabem como preparar professores
que v‹o exercer o magistŽrio nas pr—ximas duas dŽcadas, quando a media•‹o
jornalzinho em sala de aula, com uma aproximao ˆ famlia, ˆ comunidade. O pedagogo entendia que esta
experincia, de ir tateando as coisas no mundo e se engajando a ele, atravŽs de descobertas e da produo de
textos livres, contribuem para uma formao Žtica e poltica do educando. Para uma compreens‹o mais alargada
sobre as teses de Freinet, que foram adotadas no s por escolas, mas tambŽm por sindicatos e institui•es
polticas em muitos pa’ses, sugere-se a leitura de O jornal escolar (1974) e, tambŽm, do livro A leitura pela
imprensa na escola (1977). Marques de Melo (p. 75-77) Ž favorvel ao uso do jornal escolar como atividade
?*!(7K7%4(Y#9C*);(5";#"#X"')(-#*;4"-('#?'%)4%?(-5*)=*#4"5"#,5#?'"X*="#%)=*'!%;4%?-%)('.#4*)='(!"#)(;#5(=Žrias
de comunicao e expresso, mas reforado pelo nœcleo didtico que envolve a compreenso dos fenmenos
sociais (...) a dupla significao que deve ter um jornal escolar E de um lado, a aprendizagem das estruturas da
l’ngua, no sentido de possibilitar ao educando a comunicao de fatos, idŽias e opini›es; de outro lado, a
percepo da realidade que o cerca, estimulando-"# (# )*-(# %)=*'<%'# ?('(# (# ;,(# ='();G"'5(Z>"BM# J# (,="'# '*;;(-=(.#
contudo, que a funo docente deve limitar-se ao apoio, ˆ orientao operacional e ˆ animao cultural em torno
do jornal, e nunca no exerccio do poder pastoral. Sobre isso ver Comunicao & Libertao, Ed. Vozes.
82
da tecnologia vai ampliar e diversificar as formas de interagir e compartilhar,
em tempos e espa•os nunca antes imaginados (CNE, 2001).
As cr’ticas contidas no parecer, cujo fragmento destaquei, ao que tudo indica serviram
apenas para criar um certo mal-estar em alguns segmentos da sociedade e, em especial, entre
alguns educadores e te—ricos da educa•‹o no que diz respeito ao descompasso entre a
institui•‹o escolar brasileira e a realidade do mundo e de todos os desafios que nos s‹o postos,
advindos das mudan•as pol’tico-sociais-culturais impostos pelas novas tecnologias de
informa•‹o-4"5,)%4(Z>"M# :"# L,*# ?('*4*.# (;# 4'Q=%4(;# *;@"Z(!(;# )"# ?('*4*'# i0\# )‚# ^yapp]#
caram no vazio e n‹o avan•aram no sentido de se consolidar como uma proposi•‹o de
reciclagem da forma•‹o dos futuros docentes. Afirmo isso com base na an‡lise da Resolu•‹o
!"# i");*-D"# 0(4%")(-# !*# \!,4(Z>"yi");*-D"# C-*)"# )‚# ]yapp`
53
que institui as Diretrizes
Curriculares Nacionais para o Curso de Gradua•‹o em Pedagogia, licenciatura.
\;=*#)"<"#!"4,5*)=".#*5@"'(#'*4")D*Z(#)"#;*,#('=%7"#r‚.#%=*5#z11.#L,*#";#*7'*;;";#!"#
4,';"#!*#C*!(7"7%(#!*<*'>"#*;=('#(?=";#(#9'*-(4%")('#(;#-%)7,(7*);#!";#5*%";#!*#4"5,)%4(Z>"#
ˆ educa•‹o, nos processos did‡tico-pedag—gicos, demonstrando dom’nio das tecnologias de
%)G"'5(Z>"# *# 4"5,)%4(Z>"# (!*L,(!(;# ("# !*;*)<"-<%5*)="# !*# (?'*)!%W(7*);#;%7)%G%4(=%<(;B#
(CNE/CP, 2006), bem como que os futuros professores devem desenvolver trabalho em
equipe, estabelecendo di‡logo entre a ‡rea educacional e as demais ‡reas do conhecimento,
portanto, com as da comunica•‹o inclusive, ao definir a estrutura do curso de forma•‹o de
professores em nœcleo de estudos b‡sicos; nœcleo de aprofundamento e diversifica•‹o de
estudos e nœcleo de estudos integradores, deixa de contemplar de forma explicita estudos
relacionados a influ•ncia dos meios e tecnologias de comunica•‹o e informa•‹o no ‰mbito
escolar. Perde, assim, a possibilidade de romper com o trin™mio: escola do sŽculo XIX,
professores do sŽculo XX e alunos do sŽculo XXI.
H que se considerar, tambŽm, que se por um lado as institui•›es de ensino
encarregadas de formar e preparar os docentes do futuro com uma vis‹o do mundo
reconfigurado pela velocidade e simultaneidade da informa•‹o n‹o est‹o dando conta deste
aspecto em seus curr’culos, tambŽm os cursos destinados ˆ forma•‹o dos comunicadores n‹o
contemplam a quest‹o da educomunica•‹o, considerando-;*#L,*#D"X*#9"#4"5,)%4(!"'#!*%6(#
de ser um mero formador d*#"?%)%>"# ?('(#;*'#,5#G"'5(!"'#!*#4");4%8)4%(;B.#?"'=()=".# ,5#
53
Resoluo aprovada em 15 de maio de 2006 e publicada no Di‡rio Oficial da Unio, Braslia, em 16 de maio
de 2006, na seo 1, p. 11.
83
profissional que conhece n‹o s— as tŽcnicas espec’ficas da comunica•‹o mas, nos moldes
como tem advogado Soares (2000; 2006), transforma-se em um gestor de processos
educomunicativos que necessita assim conhecimentos e pr‡ticas da ‡rea educacional de forma
inter-relacionada, interpolada entre os campos da educa•‹o e da comunica•‹o. Tema este
proposto no relat—rio final do F—rum M’dia e Educa•‹o: perspectivas para a qualidade da
informa•‹o
54
, e apoiado pelo MEC.
Os documentos aqui comentados v•m corroborar ao que McLuhan pensou sobre as
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percep•‹o e o discernimento da palavra impressa, contudo n‹o nos munimos de nenhuma
forma de ensino a fim de desenvolver uma percep•‹o e um discernimento similares de
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Esta constata•‹o de McLuhan sugere a relev‰ncia de abandonar a vis‹o manique’sta sobre os
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cen‡rio cultural plural, no qual as fun•›es educativas n‹o nos pertencem mais com
exclusividade e no qual as fontes de aprendizagem e os educadores espont‰neos [os
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Nisto tudo, h‡ que pensar que os multimeios, assim como as institui•›es escolares, s‹o
cria•›es humanas e, enquanto tal, express›es de sua engenhosidade nos seus percursos
hist—ricos. Sobretudo, h‡ que se apostar que as inven•›es e cria•›es humanas sejam postas a
servi•o daqueles princ’pios mais razo‡veis do ethos da sociabilidade atual, entre os quais
podem ser inclu’dos: a pluralidade das formas de vida planet‡ria; o enfrentamento de todas as
formas de opress‹o e de domina•‹o de uns sobre os outros e que persistem nesta aldeia
global; a amplia•‹o e manifesta•‹o dos espa•os da esfera pœblica, nos quais tanto interesses
subjetivos e intersubjetivos possam ser livremente expostos e acordados.
54
Confira as recomendaes sobre a questo da formao dos profissionais educomunicadores, nas p. 31-32 do
referido relatrio.
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³N=+! 1(/O+*/! 1*+! 13O1P/! &(/&:+! 4=+! 0*%'3+6M! (%4!
R$4/&:+Q-
(Herbert Marshall McLuhan)
Pensar a educa•‹o, a escola contempor‰nea, o advento dos mass media, as evolu•›es
tecnol—gicas de informa•‹o/comunica•‹o e as transforma•›es que elas t•m implicado,
especialmente ap—s o p—s-guerra, dentro deste macro contexto que se chama aldeia global, foi
o mote que direcionou esta pesquisa. As leituras demandadas e convocadas por esta
disserta•‹o, mais do que apresentar conclus›es apontam para novas provoca•›es, outras
prospec•›es, de forma que os educadores, na sociedade do espet‡culo, da instantaneidade do
tudo-agora, procurem em suas reflex›es reconhecer, antes de tudo, que os espa•os de
educa•‹o tambŽm s‹o espa•os de comunica•‹o, nos quais agem, interagem e reagem sujeitos
em diferentes rela•›es sociais, interpessoais, grupais e institucionais. E este reconhecimento,
ao que tudo indica, demanda o entendimento que estes espa•os s‹o constru’dos e
reconstru’dos por indiv’duos que sabem algo sobre algo, ou seja, que t•m uma bagagem de
saberes distintos para permutar.
As reflex›es oriundas dos di‡logos travados com McLuhan e outros te—ricos aduzem
para o fato, para a quest‹o e para o reconhecimento que, no sŽculo XXI, de onde falamos, a
escola parece jn‹o poder manter E se Ž que algum dia isso ocorreu em termos radicais E a
85
matriz escol‡stica de mera retransmiss‹o de conhecimento. Ou seja, a institui•‹o escolar, em
suas concep•›es e pr‡ticas pedag—gicas est‡ sendo chamada a um alargamento do seu agir e
fazer no mundo, de forma que se mantenha aberta e atenta para mediar, de maneira
consistente, esses saberes, esses mundos pessoais de imagin‡rios multifacetados, de forma a
dar um suporte, naquele espa•o que lhe cabe aos aspectos e elementos novos e antigos da
sociabilidade humana. Urge, em sua atividade e responsabilidade social aparar arestas
provocadas pela incompreens‹o de supostas contradi•›es entre a cultura real e aquela
imaginada como real, o que provoca desentendimentos a respeito da relev‰ncia dos
multimeios nas pr‡ticas escolares. Desentendimentos ˆs vezes procedentes, mas n‹o raro,
originados em preconceitos e discursos rasos e manique’stas para os quais a m’dia se tornou
um c‰ncer social. Nesse sentido, h‡ que se pensar naqueles aspectos da sociabilidade atual em
que os multimeios se oferecem como possibilidades efetivas de alargar os espa•os de
educa•‹o; em que, para o bem ou para o mal, tambŽm socializam a cultura antes restrita a
castas privilegiadas econ™mica e culturalmente. E aqui lembro, ainda, Walter Benjamim, para
quem a reprodutividade da obra de arte tem, antes de tudo, um car‡ter pedag—gico e
emancipador.
McLuhan jpensava na —tica de que o educador que pretenda ser eficaz naquilo que
constitui a educa•‹o tem de ser capaz de repensar n‹o s— o seu fazer pedag—gico, mas, acima
de tudo, entender que a cultura n‹o Ž algo fixo, est‡tico ou morto, mas sim que constru’do
cotidianamente de forma socializada. Pensar a educa•‹o e a escola contempor‰neas,
atravessadas pela m’dia com suas redes, tecnologias e linguagens espec’ficas pressup›e,
tambŽm, uma leitura sob a perspectiva cr’tica dos produtos culturais e tecnol—gicos que nos
s‹o disponibilizados e sua implica•‹o social e pol’tica. N‹o pelo aspecto negativo de seu
poder, caminho utilizado por alguns te—ricos que deslocaram historicamente,
descontextualizando as teorias de Adorno e Horkheimer, sobre a Indœstria Cultural e a
Comunica•‹o de Massa, mas despido destes preconceitos, apreender que a sociedade Ž plural
e que esta pluralidade demanda um aprendizado de coexist•ncia com as diferen•as, com as
fus›es e fissuras que qualquer tipo de rela•‹o acarreta e, acima de tudo, onde os verbos
mediar e negociar exigem uma constante conjuga•‹o; conjuga•‹o esta que n‹o se restringe
apenas a primeira pessoa do singular.
A tecedura dos aportes te—ricos de McLuhan e dos demais autores, que resultou neste
estudo, indicam tambŽm que, da mesma forma que n‹o se pode acusar os multimeios como
86
respons‡veis pelos problemas do mundo, tambŽm n‹o se deve delegar ˆ institui•‹o escolar a
responsabilidade total das solu•›es das quest›es que implicam na sociabilidade planet‡ria. ƒ
preciso esclarecer que ambos, cada qual nos seus estatutos espec’ficos, est‹o na ordem do
pol’tico e Ž, neste campo, que precisam ser examinados, vistos e discutidos.
Ao afirmar que as respostas aos problemas encontram-se sempre dentro deles, nunca
fora, McLuhan me leva a prospectar, ent‹o, que na atual configura•‹o da sociedade, a escola
precisa derrubar seus muros e tabus com rela•‹o aos meios de comunica•‹o e ˆs tecnologias
de informa•‹o/comunica•‹o e acolh•-los em sala de aula, n‹o como um fetiche, mas como
suporte de partilhamento de poder e saber e, acima de tudo, como possibilidade de promover
com e pelos meios, uma leitura cr’tica do mundo, bem como estabelecer um di‡logo e
socializa•‹o com as diversidades culturais, de modo a utilizar os pr—prios meios como um
canal para as mudan•as pol’tico-sociais-culturais t‹o necess‡rias E um dos pressupostos
b‡sicos em que se constitui este campo de interven•‹o social denominado educomunica•‹o.
Hque se pensar sob o prisma que educar com e para os multimeios significa recorrer
ˆs tecnologias de comunica•‹o e informa•‹o para exercer a leitura do mundo, de forma cr’tica
e emancipat—ria dos homens, na medida em que os conteœdos midi‡ticos, quando
confrontados, desvelam a forma como o mundo nos Ž editado em minœsculos fragmentos e
que Ž nesta descoberta e confronto dessas edi•›es dispares e poliss•micas que podemos
descobrir possibilidades de levar o local para o global, e vice-versa, numa via de inumer‡veis
sendas, promovendo o di‡logo de culturas, respeitando identidades diversas e transformando
informa•›es em conhecimento, e socializando-os. Nessa perspectiva, a institui•‹o escolar E
leia-se educadores e educandos E precisa ter claro para si que os multimeios t•m entre uma de
suas caracter’sticas historicamente estabelecidas o prop—sito de entretenimento e de lazer. Que
*-*;.# )*;;*# (;?*4="# *;?*4QG%4".# ;>"# 9?*!(7K7%4";B# h# ;,(# maneira e de acordo com seus
prop—sitos e meios. Isso n‹o implica, de forma alguma, entender que esse car‡ter de divers‹o
que, ali‡s, n‹o Ž œnico que constitui o conjunto dos usos e abusos dos multimeios, dispense a
escola da finalidade que lhe foi atribuda, qual seja, transmitir e promover o conhecimento de
forma critica e relacionada ao espa•o onde ela atua.
Esta pesquisa ainda aponta como possibilidades para novos debates, que educar pelos
multimeios n‹o Ž dotar as escolas com aparatos tecnol—gicos, transformar as salas de aulas em
estœdios de tv, de r‡dio, de cinema, muito menos em lan-houses ou cyber-houses, e empreg-
87
-";#?('(#(?*)(;#'*?'"!,W%'#!*#9G"'5(#5"!*')%W(!(B#"#*;=%-"#('4(%4"#!(#5*'(#'*='();5%;;>"#!*#
saberes empacotados. Educar pelos multimeios n‹o pressup›e idolatrar a tecnologia nem us‡-
las para encobrir as falhas dos projetos pedag—gicos inadequados ˆ sociedade contempor‰nea,
mas empreg-los para as novas descobertas, para articular saberes, para emancipar-se, uma
vez que entendo que educar pelos multimeios se constitui em um processo dial—gico, de
constante permuta e que os multimeios, quando entregues a si mesmos, ou melhor, quando
considerados sobre o modo da exposi•‹o de suas formas e conteœdos para o receptor, tem a
caracterstica do mon—logo; mais ainda, que mesmo quando se fala em tele-aula,
teleconfer•ncia, educa•‹o ˆ dist‰ncia com emprego de chats, blogs, entre outras ferramentas
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institui•‹o escolar, n‹o o monitor, possibilita, pois ela ainda Ž o palco privilegiado para as
rela•›es imediatas de sociabilidade e de trocas permanentes entre os pares.
Nesse aspecto parece ser for•osa uma reflex‹o sobre o emprego dos meios e das
tecnologias no sentido de#!%;;*5%)('#9*!,4(Z>"BM#:;#%);=%=,%ZO*;#*;4"-('*;#*#";#'*;?");f<*%;#
pelas polticas pœblicas de educa•‹o est‹o, de fato, propagando educa•‹o na acep•‹o que o
termo educar imp›e ou apenas cumprindo metas e estat’sticas para atender a interesses de
outra ordem, no caso de inst‰ncias superiores? H‡ que se lembrar as inger•ncias externas de
—rg‹os e institui•›es que financiam projetos com vistas n‹o a criar homens s‡bios e
aut™nomos, mas aptos a atender a outras demandas, entre elas as do capital. E aqui, me parece
oportuno recorrer a um dos desconcertantes aforismos de McLuhan sobre essa educa•‹o
massificada que se tem imposto na aldeia global. Trata-se, sem sombra de dœvida, de uma
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55
.
As prospec•›es possibilitadas pelas interlocu•›es com os autores aqui estudados e,
tambŽm, nos inœmeros debates onde o corpus desta pesquisa foi submetido ˆ cr’tica, me
levam a pensar que a educomunica•‹o, naquilo que respeita ˆs pol’ticas pœblicas e ˆs formas
de distribui•‹o das oportunidades do acesso aos meios de comunica•‹o parece n‹o priorizar
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concess›es dos meios de comunica•‹o/informa•‹o, pelo menos os audiovisuais, s‹o de
55
# l'(!,Z>"# -%<'*# ?('(# 9The trouble with a cheap, specialized education is that you never stop paying for itBM#
Dispon’vel no site de aforismos mcluhanianos <http://www.nfb.ca/webextension/mcluhanswake/resource.html>.
88
compet•ncia do Estado e que este n‹o pode vergar-se aos interesses privados, mas sim aos
coletivos. Este debate, no meu entendimento, tambŽm deve passar pelo espa•o das institui•›es
escolares, formais e n‹o formais, pois embora n‹o lhe caiba a total responsabilidade de formar
cidad‹os, ela n‹o pode se desfazer daquelas tarefas e prop—sitos que a sociedade lhe atribuiu.
Por fim Ž razo‡vel afirmar que a educomunica•‹o, enquanto a•‹o educativa e de
interven•‹o social, se estrutura sobre um projeto dialŽtico entre o eu, o outro e as mœltiplas
produ•›es socio-culturais. Esse processo interativo, permeado pelo di‡logo, pela media•‹o,
pela negocia•‹o, pode possibilitar a reconstru•‹o dos conhecimentos, e transformar a
institui•‹o escolar no palco singular E n‹o para legitimar saberes espec’ficos e desconectados
com a realidade dos sujeitos E mas para realizar a s’ntese entre a cultura formal e as
subjetividades plurais que chegam ˆ sala de aula. McLuhan tambŽm neste sentido nos leva a
refletir sobre os muitos desafios jcolocados para se efetivar a escola planeta e as barreiras a
serem transpostas para de fato consolidar esta escola planet‡ria, global, porŽm n‹o unificada.
A maior delas talvez seja a de romper com o modelo da escola claustro E ritualista,
burocr‡tica, formatadora E e se dirigir efetivamente para o futuro n‹o com os olhos presos ao
espelho retrovisor, mas apostando, sempre, que a institui•‹o escolar n‹o se constitui num
lugar para transmitir informa•‹o empacotada, mas sim num espa•o para travar di‡logos,
lan•ar perguntas, provoca•›es e promover descobertas...
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