[67]
crescimento ou retração do núcleo agroexportador que a faz subsidiária.
2
Por
outro lado, encontramos autores que procuram evidenciar a necessidade de se
considerar os elementos econômicos internos à colônia como aspectos
também importantes na estrutura socioeconômica do Brasil colônia. Neste
caso, concebe-se um mecanismo expropriador no interior da colônia, dando à
mesma certa autonomia onde
as regras de estrita dependência para com a
metrópole - pacto colonial - estão marcadas também pela manutenção desta
elite mercantil residente. Perpetuar passa a ser o sentido da expropriação feita
2
Manolo Florentino e João Fragoso fazem um breve apanhado da questão percorrendo os
trabalhos clássicos a partir da ruptura de Caio Prado com as teorias dos ciclos e a busca dos
“fundamentos estruturais da história brasileira” onde afirma que a análise do referido autor se
assenta sobre as bases da contínua transferência de excedentes para a metrópole lusitana - o
que se traduz, ao seu ver, em uma economia exportadora de base agrária centrada na grande
propriedade, no mono cultivo e no trabalho escravo - o que implicaria na incapacidade
estrutural de a colônia gerar circuitos internos de acumulação e na dependência; segundo
Manolo, Celso Furtado chega a mesma conclusão a partir da análise da empresa açucareira
como subordinação ao capital mercantil; ainda segundo o autor, 30 anos depois Fernando
Novais reforçava a mesma idéia. A primeira crítica viria com Ciro Flamarion Cardoso para
quem as sociedades coloniais só revelariam seu pleno sentido quando tomadas como
elementos integrantes da economia européia; seguindo os mesmos passos, Jacob Gorender
questionava a excessiva ênfase dada à transferência do excedente colonial aventando a
possibilidade concreta de acumulações no interior da formação colonial - neste caso Manolo
critica em seu modelo a persistência de elementos herdados dos quadros explicativos por ele
criticados. Assumindo as perspectivas de Flamarion e Gorender, Manolo afirma que a assume
o ponto de vista de que “para além das frações dominantes coloniais, a consecução do projeto
colonizador, mais do que criar um sistema monocultor e exportador, visava reproduzir em
continuidade uma hierarquia altamente diferenciada. Por se tratar de estratificação assentada
no escravismo, sua viabilização tinha por pressuposto a própria reprodução das relações de
poder (...)” Cf. João R. Fragoso e Manolo G. Florentino. O arcaísmo como projeto. Rio de
Janeiro. Diadorim, 1993, p. 15-31.
Neste contexto, encontramos a abordagem de Lucila Hermann. Lucila Hermann, descrevendo
a história de Guaratinguetá, divide-a em ciclos econômicos que começam com a economia de
subsistência e continuam com o ciclo dos engenhos, o ciclo do café e o ciclo que a mesma
descreveu como atual à época de sua produção acadêmica - publicada na revista de
administração da Universidade de São Paulo em 1948 - e que chama de economia mista (rural-
urbana). Neste seu trabalho, ao analisar o primeiro ciclo, o que chamou de ciclo da economia
de subsistência, que se estenderia de 1635 a 1775, a autora aponta elementos que se fazem
comuns aos da historia do município de Cunha. Segundo a autora, São Paulo constitui uma
região de passagem, um “nó de comunicações” e articulação entre o continente e o litoral.
Neste sentido, o Vale do Paraíba torna-se um dos principais feixes desse “nó de
comunicações”. Sendo zona de passagem, não consegue a região tornar-se expressão
economicamente significativa. Assim sendo, o Vale do Paraíba se vê forçado, segundo Lucila
Hermann, a desenvolver uma economia de subsistência “num período sem mercado interno e
externo que servisse às necessidades da sua população, estando aquele voltado para as
formas de economia exploradora das outras regiões para suprir as necessidades de
abastecimento das bandeiras preadoras, mineradoras, ou às grandes tropas e boiadas que
vinham do sul” ( HERMANN,1986:13-15).