44
Bonaparte dispunha de cerca de 160.000 homens; admitamos que nesse momento ele
tenha acreditado poder atrever-se a enviar um dos seus corpos sobre Moscou, antes
mesmo de iniciar uma grande batalha e que este destacamento fosse composto de
40.000 homens ter-lhe-iam restado 120.000 para enfrentar o exército principal dos
russos. Estes 120.000 homens só teriam sido aproximadamente 90.000 na batalha, por
conseguinte 40.000 a menos que em Borodino. E, conseqüência, os russos teriam tido
uma superioridade de 30.000 homens. Admitindo que Borodino nos serve de padrão, é
provável que esta superioridade lhes tivesse assegurado a vitória. A força relativa teria
sido apesar de tudo mais favorável aos russos do que foi em Borodino. Mas a retirada
russa não era fruto de um plano longamente meditado…
O que provoca ainda menos dúvida é que em 1813 Bonaparte teria podido evitar o
ataque de Paris, se tivesse tomado posição mais a leste, atrás do canal da Borgonha,
por exemplo, deixando só em Paris alguns milhares de homens ao mesmo tempo que
suas numerosas guardas nacionais. Os aliados nunca teriam tido coragem de dirigir
sobre Paris um corpo de 50.000 a 60.000 homens, sabendo que Bonaparte estava em
Auxerre com 100.000 homens. Inversamente, ninguém teria aconselhado um exército
aliado, na situação de Bonaparte, a abandonar o caminho da sua própria capital, se este
exército tivesse tido Bonaparte por adversário. Com uma superioridade semelhante,
ele não teria hesitado um único instante em marchar sobre a capital. Esta é a diferença
de resultado que a diferença moral pode ocasionar, mesmo quando as circunstâncias
são idênticas
30
” (CLAUSEWITZ, 1996: 661-662).
30
Um resumo informativo das guerras napoleônicas se encontra na obra História das guerras, em
artigo escrito por Marco Mondaini, dedicado ao tema. Dos casos citados acima – a invasão da Rússia
pelas tropas de Napoleão, em 1812, e sua defesa na França, em 1813 –, podemos citar a seguinte
passagem: “... a 24 de junho de 1812, um impressionante exército composto de algo em torno de
650.00 homens de 20 nações, falando 12 línguas, dá início à longa marcha sobre a Rússia,
encontrando pelo caminho imensas planícies desertas, totalmente queimadas pelo mujiques
(camponeses pobres) russos. Diante dessa política deliberada de terra arrasada, um esfomeado exército
napoleônico entra em 14 de setembro numa Moscou em chamas, concisa, não disposto a qualquer
espécie de negociação.
Diante disso, e com a sombria perspectiva do rigoroso inverno russo, Napoleão ordena a
retirada dos seus já esgotados exércitos. Esse retorno passaria a ser lembrado como um dos maiores
desastres da história militar mundial. Cercados pelos exércitos russos, com suprimentos de víveres
totalmente inadequados e sob um frio precoce de -20°C, apenas 100.000 conseguiram ultrapassar. Do
total de mortos, apenas 1/5 havia morrido nos campos de batalha. O restante padecera de fome, frio,
doenças, exaustão, além dos desertores e capturados.
Na verdade, o mito de que Napoleão teria sido derrotado pelo ‘General Inverno’ foi, em
grande parte, obra do próprio Napoleão a fim de justificar sua gigantesca derrota. Gigantesca derrota
esta, diretamente proporcional à sua ilimitada ambição. Ademais, nas intermináveis planícies russas, a
revolucionária estratégia da ofensiva veloz era completamente inócua, e tal fato foi muito bem
percebido pelo marechal Kutuzov, comandante das tropas russas. Depois de derrotado no avanço do