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UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO - PPGE
ÁREA EDUCAÇÃO, CULTURA E SOCIEDADE
LINHA DE PESQUISA: EDUCAÇÃO E MEIO AMBIENTE
GRUPO PESQUISADOR EM EDUCAÇÃO AMBIENTAL - GPEA
CULTURA E NATUREZA
NOS CENTROS E PERIFERIAS DA EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Dissertação apresentada ao Programa de Pós-
Graduação em Educação/IE/UFMT, sob a
orientação da Profª Drª Michèle Sato, como
requisito para obtenção do título de Mestre em
Educação, na área de Educação, Cultura e
Sociedade, Linha de Pesquisa: Educação e Meio
Ambiente.
CUIABÁ-MT, 2006.
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PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM EDUCAÇÃO – PPGE
INSTITUTO DE EDUCAÇÃO
UNIVERSIDADE FEDERAL DE MATO GROSSO - UFMT
___________________________
Professora Drª Michèle Sato
(Orientadora)
___________________________
Prof. Dr. Luiz Augusto Passos
(Banca interna)
___________________________
Prof. Dr. Marcos Sorrentino
(Banca externa)
___________________________
Manoel Francisco de Vasconcelos Motta
(Suplente interno)
DEDICATÓRIA
Às vidas que tirei, por ingenuidade, curiosidade, crueldade ou simplesmente
por passar por el@s, para aquel@s que magoei pela minha sinceridade e forma direta de ser,
para @s que neguei a minha presença, para @S que cansei com a mesma, @s que perturbei
de mais, aquel@s que criei expectativas, mas não correspondi. Para aqueles que não soube
ouvir, por aqueles de qual falei e de alguma forma os feri, por aqueles que me dei demais e
criei dependência e pelos que queriam um pouco e tive medo de me dar. Ao tempo que
perdi em caminhos, em pensamentos que privaram a mim e aos demais de uma construção,
qualquer que seja: um sorriso, uma restauração, um desenho, uma linha ou palavra, por que
esse tempo me faz perceber hoje que mesmo na busca constante do eu, só sou no meio, com
o outro e que existo no agora no meio na dinâmica do processo e aquele que desperdicei
não o tenho, como alguns seres vivos, tempo, espaço e momentos não existem mais e
então não poderei despir-me da frieza que a vida me cobriu para dizer que os amo. Mas,
posso ainda dizê-lo aos que perto ou longe estão comigo ou eu com eles, nos sorrisos, nas
aprendizagens diurnas e noturnas, no meu energizar e festejar ao tomar sol, no brindar e
comemorar qualquer coisa que me tire um sorriso da boca, sob a lua. Dedico a aqueles que
de alguma forma ajudei ou tentei, aos que compartilham comigo nessa forma expressiva,
impulsiva e às vezes até agressiva, a alegria de viver.
Em especial a quem está vindo, Sofia minha afilhada.
AGRADECIMENTO
Agradecer é um ato humilde e presente a aqueles que nos deram algo, este
ato tem mais a ver com o ser do que com o fazer, porque é o ser quem lhe dá forma, sentido,
sentimento, prazer, sabor, tom, som, cheiro... É um ato de qualidade, ordená-lo me parece
sem sentido, se existe uma ordem não é por grandeza, nem por proximidade, é de quem lê,
cria, para mim este é um registro aos que tenho gratidão por me possibilitar esta vivência.
A Professora Doutora Michèle Sato, que foi minha água, essência, maior
parte do meu ser, da terra, do meu mestrado, que aumentou mais ainda a minha sede, a
valoração deste líquido, que é o início e necessidade de seres vivos, vista por mim também
como conhecimento, nas duas formas ultrapassa as fragmentações, as barreiras, pois
constrói seu percurso, transparente mesmo que por vezes vista sob olhar turvo. Enxergada,
com desafio mostrou, criou mais ainda o desejo, a vontade saciar esta sede, de nadar nesta
água de sabores e dissabores, colorida, com texturas diversas (macia, rígida...), sons
(suaves, profundos, arrebatadores...), ruídos (torturantes), barulhos (vozes silenciosas) que
ultrapassam a academia, que ensinam a cidadania, a militância. Como a própria água está
em constante movimento e movimenta o ciclo, os indivíduos, a população que ali se
encontra, tornando-os sujeitos, segue seu caminho ao oceano, à Educação Ambiental.
A amiga Ms. Olinda Brito Leão Torres, que como o sol me re-iluminou o
caminho a vida acadêmica, que me reacendeu a chama pela desta possibilidade de mestrado.
Ao amigo Ms. Samuel, que como o sereno, o orvalho diário me possibilitou
com a umidade da convivência diária, a limpeza, pois molhou minhas folhas tirando as
impurezas dos dias acadêmicos, me deixando respirar, alimentar-me, revitalizar-me para
assim poder atuar nos projetos do dia a dia de uma pretensa Educadora Ambiental,
outrossim, resfriou meus ferventes ânimos alterados nesta etapa, bem como por vezes
aumentou as dificuldades e me fazendo valorizar as conquistas.
A amiga Ms. Dolores Aparecida Garcia, que como uma outra espécie luta
pelo mesmo espaço, cria o conflito ambiental, mas que torna essa relação e a cada uma mais
forte, como o mutualismo, onde mesmo independentes, estipulamos uma relação de apoio,
de interação. Como algumas plantas do Pantanal que estabelecem cooperação entre si
mesmo, mesmo não estando no mesmo espaço ao mesmo tempo, uma na época das chuvas
e a outra na seca, ou no dia e na noite, onde a beleza maior é o meio, é entre um e o outro, é
o amanhecer, é o por do sol ou ainda o eclipse. Como no Pantanal, toda estação tem seu
encanto mas o período intermediário é encantado.
Aos meus pais que Pantaneiros, que souberam respeitar as minhas
ausências, relações, minhas opções, sem muito interferir neste pântano, mas que ao mesmo
tempo preocupados e observadores estavam presentes e fizeram inferências quando tive
sede e não tinha água para beber, quando estava contaminada de restos e de dejetos das
relações com os outros seres humanos, me limparam, proporcionando, compreendendo e
incentivando o meu fluxo, meu ciclo a minha forma de interagir com o mundo, com os seres
humanos, com a educação, com o ambiente, com a Educação Ambiental, que antes mesmos
de conhecê-la como ciência, a construíram-na em mim como existência.
Ao Fabio Deboni, que como os pássaros do Pantanal, me instrumentalizou
com textos, com a simplicidade e beleza de seus vôos, de seus alimentos digeridos, do
entorno, adubou, me deu as condições para fiar, esse registro que se fez para essa terra
Pantaneira.
Ao Programa de Pós-graduação e a sua composição que possibilitou a
conclusão desta pesquisa e do mestrado de forma honrosa. Onde a educação não é o
nosso objeto de pesquisa, mas de autoconstrução e a auto-avaliação faz parte do processo da
construção deste espaço que é de todos e para todos, possibilitando assim o diálogo de
diferentes áreas de conhecimento, de diferentes saberes, que diferentes são os objetos de
pesquisas das áreas e linhas que o compõem, dentre elas as questões dos oprimidos, dos
diferentes espaços e dinâmicas que nós seres humanos construímos, sempre utilizando o
filtro a educação. Processos que pela educação estimulam a democracia, a criticidade, a
criatividade e libertação como o nosso Sociólogo e maior Educador, Paulo Freire, nos
ensinou. Que mesmo ele não podendo participar da minha banca por estar morto e por não
ser um “Doutor em Educação” me faz refletir que são olhares diferentes, percepções,
limitações e lutas que devem ser respeitados, porém refletidos e criticados, pois não
vivemos a perfeição e as divergências nos fazem propor novas possibilidades de melhores
convivências e construções.
A Deus, o meu ar, que sem esse é impossível à existência, a sobrevivência
que na sua inspiração me inspira, que deu tudo isso e as condições para a minha
autoconstrução, que como na respiração tenho de aprender e exercitar todos os dias nos
diferentes momentos, sentimentos para poder conhecer, compreender-me neste contexto tão
diversificado e encantador, que me fez e faz perceber, ter e criar condições de perceber, de
ser, que mesmo na minha maior dor tenho a glória, a fartura de tê-lo e de ser o que sou. Faz-
me reconhecer que o meu ser mesmo nesta, na satisfação de terminar um desafio e no
contexto privilegiado que tenho, não posso me não me acomodo nas facilidades enquanto o
outro, mesmo que por vezes visto ou até declarado meu inimigo, se sofrendo, assim também
o estarei, pois qualquer ser vivo deve ser respeitado e sua debilidade conseqüentemente,
diretamente ou indiretamente faz-me sofrer, mostrando-me que ainda temos muito que fazer
para que todos tenham vida digna.
Ao amigo Ronaldo que foi o mais atencioso e prestativo dos amigos nesta
jornada, como um galho à beira d’água que serve de apoio para descansar de tanto rodar,
servindo-me de exemplo de paciência e calmaria.
Ao colega e amigo Vavá, que tive a honra de estreitar a amizade no termino
deste processo de pesquisa, que foi e é como os cantos dos ssaros, música aos meus
ouvidos, que contagia e envolve com sua melodia, fazendo-me cantarolar, assoviar mesmo
descompassada, deixar-me levar na alegria dessa expressão, esquecer-me das duras cascas
que me protegem e escondem o lado negro, para enxergar luz. Distrai-me dos meus
afazeres e faz-me arriscar no aprendizado de relacionar-me, de conviver com as coisas
simples, boas e alegres da vida do jeito que sou, sem medo de ser feliz. Contagia, marca nos
meus olhos, o reflexo: da esperança, dos seus verdes, e no meu corpo a energia de se dar.
Ao Professor Doutor Passos, que é a lua, que nem sempre se iluminando
o céu à noite, mas deixa registrado, sensivelmente percebível a sua influência nas pequenas
e grandes coisas. Como a lua foi paixão à primeira vista, foi inspiração, curiosidade, foi
fenomenologia injetada nos olhos e olhares.Valores e sentidos aos rabiscos feitos
atrevidamente nos encontros, percepções desveladas e valorizadas como as próprias
relações no Sesc Arsenal na compreensão e interpretação destes espaços e tempos.
Ao colega Ms. João, que foi o aroma das flores e frutos do Pantanal, às
vezes pouco perceptível, às vezes muito presente nas trilhas militantes do exercício de
Educador Ambiental, onde as cores da pedagogia vestem-no, com cores que geralmente são
percebidas como apagada, mas na expressão da sua voz, cheiros, as cores tornam-se
brilhante e o orgulho de ser Pedagogo é essência socializada, justificada e honrosa.
Ao Professor Doutor Marcos Sorrentino, que é a brisa, suave e fresca. Que
com suas idéias, presença ameniza as temperaturas deste sol escaldante, do calor às vezes
torturante das batalhas e lutas de poder que traçamos na efetivação do espaço da Educação
Ambiental no Mato Grosso. Nem sempre presente, a brisa quando chega é alivio, é suspiro,
é esperança de novas forças e formas, suaves, sensíveis, por isso, aguardamos sempre o
retorno nesta terra de poucos ventos.
A minha irmã Ida Beatriz que é terra fértil de amor, carinho,
companheirismo, leituras e ensinamentos.
A Tia Paulininha que como Ipê, é forte, frondoso e cheio de vida.
A Sofia que é o nascer do sol, esperança do/de novo.
“Há muitas maneiras sérias
de não
dizer nada,
mas só a poesia é verdadeira.
(Manoel de Barros)
FIGURA II Agradecendo os horizontes, Machado, 2006
SUMÁRIO
SUMÁRIO ix
LISTA DE FIGURAS x
LISTA DE ABREVIATURAS E SIGLAS xi
RESUMO xiii
ABSTRACT xiv
I NASCENTE 15
II LAGOAS RIOS E BAÍAS 23
III VAZANTES E JUSANTES 37
IV O PERCURSO DAS ÁGUAS 45
V AS MATAS 59
VI AS CORDILHEIRAS 65
VI.I CORDILHEIRA DE MANDUVÍ - SESC PANTANAL 68
VI.II CORDILHEIRA DE IPÊS – SEDUC 73
VI.III CORDILHEIRA DE TARUMÃ - SEMA 78
VI.IV CORDILHEIRA DE BOCAIÚVA – IBAMA 86
VI.V CORDILHEIRA CAMBARÁ - IESCPAN 89
VI.VI CORDILHEIRA DE MANGA - SESC ARSENAL 94
VII AS POPULAÇÕES 99
VIII TRANSMUDAÇÕES INCERTAS 115
BIBLIOGRAFIA 131
LISTA DE DESENHOS - AS PARTES
DESENHO I De Fernanda Machado, Agradecendo os horizontes viii
DESENHO II De Fernanda Machado, Nascente 15
DESENHO III De Fernanda Machado, Água 23
DESENHO IV De Fernanda Machado, Os Movimentos da água, Machado, 2003 37
DESENHO V De Fernanda Machado, Percepção dos CEAs 45
DESENHO VI De Fernanda Machado, Gênesis 59
DESENHO VII De Fernanda Machado, Relações e Construções 65
DESENHO IX De Fernanda Machado, Fragmento dos Movimentos 99
DESENHO X Fragmentos do Movimento - As Transmutações 115
LISTA DE FIGURAS – IMAGENS DAS REPRESENTANDO AS PERCEPÇÕES
COLETANIA I Capa Acervo digital Professora Drª Michèle Sato i
FIGURA I De Jonas Barros, Piraputanga 57
FIGURA II De Rondinelli, Espectro Solar 57
FIGURA III De Secretaria de Turismo de MT 57
FIGURA IV De Vitória Basaia 57
FIGURA V De Ellem Assad, Comitiva 57
FIGURA VI De J. Antonio Silva, Queimada, 57
FIGURA VII De Almira Router, Ponte sobre o rio Cuiabá 57
FIGURA VIII De Gervana de Paula, Mimoso 58
FIGURA IX De Ivete Perón, São Gonçalo 58
FIGURA X De Gervane de Paula, Ano Internacional da Criança 58
FIGURA XI De Vitória Basaia, Senhora do Rio Cuiabá 58
FIGURA XII De Bea, Mulher e Paixão 58
LISTA DE MAPAS
MAPA I Mapa dos Pantanais 30
LISTA DE ABREVEATURAS E SIGLAS
ABNT Associação Brasileira de Normas Técnicas
AME – Mato Grosso Associação Ecologista de Mato Grosso
ADERCO Associação de Defesa do Rio Coxipó
CEA Centro de Educação Ambiental
CEAs Centros de Educação Ambiental
CGEA Coordenação Geral de Educação Ambiental
CGAEC Coordenação Geral das Ações Educativas Complementares
CNUMAD Conferência das Nações Unidas para o Meio Ambiente e
Desenvolvimento
DEA Diretoria de Educação Ambiental
EA Educação Ambiental
FEMA Fundação Estadual do Meio Ambiente
FNMA Fundo Nacional de Meio Ambiente
FUNDEMA Fundo Municipal de Meio Ambiente
GPEA Grupo Pesquisador em Educação Ambiental
IBAMA Instituto Brasileiro do Meio Ambiente
IESCPAN Instituto Eco - Social Cultural do Pantanal
INCRA Instituto Nacional de colonização e Reforma Agrária
MA Meio Ambiente
MMA Ministério do Meio Ambiente
MT Mato Grosso
MES Municípios Educadores Sustentáveis
PELD Programa de Ecologia de Longa Duração.
PNEA Política Nacional de Educação Ambiental
PPP Projeto Político Pedagógico
PREA Projeto de Educação Ambiental
ProFEAP Programa de Formação de Educação Ambiental no Pantanal
PROMEA Programa Mato-grossense de Educação Ambiental
ProNEA Programa Nacional de Educação Ambiental.
ONG Organização Não governamental
REDECEAS Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental
SEDUC Secretaria de Educação e Cultura
SEMA Secretaria do Estado de Meio Ambiente
SESC Serviço Social do Comercio
SIBEA Sistema Brasileiro de Informação sobre Educação Ambiental e
Práticas Sustentáveis
SISNAMA Sistema Nacional do Meio Ambiente
UC Unidade de Conservação
UFSCAR Universidade Federal de São Carlos
RESUMO
Este trabalho foi realizado junto aos componentes da equipe de Educação
Ambiental dos Centros de Educação Ambiental CEAs atuantes no Pantanal Mato-
grossense, Brasil, tendo como método o diagnóstico avaliativo, entendendo o mesmo como
o processo de avaliação que tem por finalidade identificar, perceber e avaliar as realidades
destes CEAs, bem como a percepção dos sujeitos entrevistados. A pesquisa está sendo
realizada através das “unidades” (conceitos) trabalhadas, dos pré-requisitos para a
compreensão, da contextualização epistemo-metodológica sobre o ambiente, o Pantanal, a
cultura, a educação, a educação ambiental e Centros de Educação Ambiental. Os resultados
preliminares apresentam os Centros de Educação Ambiental sendo: Secretaria de Estado do
Meio Ambiente - SEMA, Instituto Brasileiro do Meio Ambiente IBAMA, Secretaria de
Estado de Educação - SEDUC, Serviço Social do Comércio - SESC PANTANAL,
Organização Não Governamental Instituto Eco Social do Pantanal - ONG IESCPAN. Nosso
enfoque, entretanto, consiste em olhar o Sesc Arsenal, desde que apesar de ter atividades
culturais, também promove a Educação Ambiental por meio da valorização e promoção da
dinâmica Pantaneira. Conhecemos a diversidade de assuntos tratados, as estruturas físicas,
públicos, forma de atuação, as percepções, as relações (pessoais, culturais, ser humano -
ambiente...), existentes nestes “espaços” e as políticas públicas promotoras da EA. A
pesquisa considerou a cultura, compreendida como propulsora do conhecimento, que tem
como a base à vivência e que por sua vez é essencial para atingir os objetivos da Educação
Ambiental: participação democrática, justiça ambiental e empoderamento social.
Palavras-Chave: Educação Ambiental, Centros de Educação Ambiental e Centro Cultura.
ABSTRACT
This work was accomplished with the components of the team of
Environmental Education of the Centers of Environmental Education - CEAs active in the
Pantanal Matogrossense, Brazil, using as method the evaluative diagnosis, understanding
the same as the evaluation process that has for purpose to identify, to notice and to evaluate
the realities of these CEAs, as well as the perception of the people who were interviewed.
The research has been accomplished through the "units" (concepts), requisites for the
comprehension, epistemo-methodological contextualizations about the environment,
Pantanal, culture, education, environmental education, epistemological and institutions and
Centers of Environmental Education. The preliminary results present the Centers of
Environmental Education as it follows: Secretaria Estadual do Meio Ambiente - SEMA,
Instituto Brasileiro do Meio Ambiente - IBAMA, Secretaria de Estaduo de Educação -
SEDUC, Serviço Social do Comércio -SESC PANTANAL, Organização Não
Governamental Instituto Eco Social do Pantanal –ONG IECSPAN. Our focus, however, is
on the SESC Arsenal, that in spite of having as main activity the cultural promotion, it also
promotes the Environmental Education through the valorization of the dynamics of the
Pantanal. We know the diversity of treated subjects was diagnosed, as well as the physical
structures, users, form of actuation, the perceptions and personal, cultural and human
relations existent in these "spaces". The research considered the culture was used in the
diagnosis and it was considered the propellent of the knowledge, that is essential to reach
the objectives of the Environmental Education: democratic participation, environmental
justice and social empowerment.
Key words: Enviromental Education, Centers of Enviromental Education and Centers of
Culture.
I - NASCENTE:
“Sou Pantaneiro,
nasci aqui,
só podia viver e escrever mesmo sobre as coisas daqui”.
MANOEL DE BARROS
15
DESENHO III – Nascente, Machado, 2006.
Nada nasce sem referência, sem semente, sem história, por isso este inicia
como uma nascente, que nos mostra apenas o olho d’água, mas que tem o lençol freático
submerso, se nasce, aflora em algum lugar é porque encontrou as condições ali necessárias
para tal. Neta de índia com alemão, com olhos castanhos claros como o da mãe Pantaneira,
que por sua vez nasceu e foi criada em uma fazenda Pantaneira, na qual passei parte da
minha infância. As lembranças deste local são de muitas pessoas reunidas, para atividades
comuns, que iam de festas, de produção de farinha, doces até a ida a escola que ali mesmo
funcionava.
Fui alfabetizada antes mesmo da idade escolar, pois pulava a cerca que
separava a casa da escola e ia com a irmã mais velha aprender não sabia bem o que, mas
queria estar embolada com as demais crianças, aprendendo então por imitação. Na época
ditada como certa, fomos para a cidade grande, Campo Grande, para a escolarização, mas
nas férias, retornávamos à fazenda e continuávamos os aprendizados, com os livros de
literaturas, de histórias, amarelados que herdados de nem se sabe mais quem, de tantos
repasses de tias, primos e irmãos.
A casa cheia e nós sempre ativos, a mãe gostava de receber os primos
próximos que moravam distantes, meu pai dizia e diz que vivendo é que se entende e
cria amor por aquilo, respeito ao ciclo do Pantanal, respeito à natureza e contava enquanto
observávamos silenciosamente a dinâmica do local, por vezes contava as histórias do avô,
pai da minha mãe, quando adquiriu aquelas terras.
Uma das histórias conta que o avô perdeu quase todos os seus bois em uma
enchente e desta época em diante, antes de se propor a fazer alguma, de interagir com o
Pantanal busca-se perceber a sua forma, evitando assim desperdícios. O Pantanal tem seu
tempo, suas expressões, cabe-nos escutá-los, observá-los e o fazíamos e fazemos quando
possível, finalizávamos os dias observando os pássaros retornando aos ninhos, olhando os
registros que os animais fazem por meio de suas ações do que aconteceu dos atuais e os
que virão bem como apreciando os espetáculos que o por do sol neste lugar nos presenteia.
Lugar, local, espaço e território de luta, impregnado de valor e sentimento
dos meus entes queridos de minha pessoa, de identidade pantaneira. Meio ambiente repleto
16
de inter-relações que com nostalgia, sentimento saudoso, suspiro, sinto me orgulhosa,
assumo nesse complexo de contínua construção com o pseudônimo de Bugra Pantaneira. As
raízes, a cultura, os traços, os valores vêm à tona, como a nascente, as paixões que fazem o
coração acelerar, o respeito de quem tem nas entranhas, no trançar da carne com o músculo,
no pulsar do sangue vêm o amor ao Pantanal, instigado e aflorado ao som da Cúmbia
1
.
Lembro-me ainda que muitas de nossas atividades foram feitas em grupo, ou
melhor, todos colaboravam, participavam, minha avó, era uma doceira de mão cheia e nada
se perdia, todas as frutas, manga, caju, goiaba, mamão, viravam doces como rapaduras,
tabletes mais firmes de doce, como também em calda. O leite que azedava também não se
desperdiçava, virava doce denominado Cachorrada, tudo dependendo da época, cheias ou
secas, do que se tinha naquele período.
A bisavó usava óleo de bocaiúva nos cabelos negros, lisos e bem tratados
mesmo com a idade avançada e com o pouco tempo que tinha para tratá-los devido à lida
2
,
aos grandes percursos que percorria, sempre estava com os cabelos bem penteados e
tratados, a aguardávamos com sacos de castanha da bocaiúva, é claro que em meio a tantas
castanhas comíamos também como todas as demais frutas que lidávamos.
Raramente ficávamos doentes, e se acaso um pegava uma caxumba,
sarampo, catapora éramos colocados juntos para que pegássemos logo, o mesmo se dava
com os tratamentos, com os piolhos. Passávamos algumas horas do dia com turbantes e
lenços coloridos na cabeça, bem como se alguém tomava remédios caseiros no intuito de
sarar, algumas vezes dependendo do caso, tomávamos no intuito de prevenir também. As
regras eram simples e sempre respeitadas, tais como não sair descalça, bater a bota antes de
calçá-la, pedir ou avisar um adulto para ir a qualquer lugar, como ir dar leite aos guachos
3
.
Nas idas e vindas deste meu ser que ainda tem parte nômade, encontra
plenitude, calmaria na interação com este espaço, espaço por mim vivenciado e estudado, a
cadeia, ciclo e mudanças feitas nesta área.
A exemplo disso temos a iniciativa de Huberto de Moraes Machado, meu
pai, carioca, mas com identidade pantaneiro, preocupou com os coureiros
4
que ali
1
Cúmbia, música de origem africana tocada com instrumentos indígenas que toca em Cuba e na América
Latina. http://www.agal-gz.org/blogues/index.php?blog=8&m=200508
2
Nome dado as atividades do dia a dia.
3
Bezerros que ainda tem a necessidade de amamentam, que se extraviaram das mães, vacas.
4
Nome dado aos caçadores de animais que retiravam e negociavam suas peles.
17
invadiam e matavam os animais para retirar suas peles, elaborou a proposta de criação
de jacaré. Ação que estendeu aos demais pantaneiros, na busca da coletividade para resolver
os problemas coletivos, que não limita a minimização desta agressão, mas é uma forma dos
pantaneiros valorizarem, respeitarem e utilizarem mais ainda as possibilidades do local, que
se encontram cada dia mais pressionados e achatados com as novas os impostos desta
categoria, bem como, com as tecnologias que desvalorizavam o rebanho criado de forma
extensiva em virtude de uma forma intensiva de pastos plantados que não respeitam o
Pantanal.
Com o crescimento da sensibilidade ambiental, o quadro mudou, hoje temos
a valorização destes espaços de formas praticamente naturais, o que traz o reconhecimento e
valorização de preservá-los, porém pouco se tem efetivamente de incentivo a essas
iniciativas particulares de preservação. O Pantanal é percebido como um produto turístico,
elaborei um plano de implantação do turismo rural na Fazenda Santa do Machadinho,
monografia da especialização de Turismo, Desenvolvimento Local e Regional. Optei pela
classificação e especificação do Turismo Rural, porque era o que possibilitava o respeito o
reconhecimento e a valorização da alma do local, da cultura deste povo.
Como nas demais atividades uma pessoa só, ou estabelecimento não faz as
coisas acontecerem, é necessário que haja mais envolvidos, como consórcios. Outro aspecto
que se faz necessário é a infra-estrutura, complexo básico e essencial a quem faz da
recepção o diferencial do processo turismo seja efetivado, dando suporte a complexidade
exigida pelo mercado, ou para a melhoria da qualidade de vida, a preservação e conservação
o local (cultura, meio ambiente entre outros e cada qual com sua especificidade).
Fazem-se necessárias pesquisas e ações para que os sujeitos desta
experiência conheçam e compensem os impactos turísticos que são proporcionados à
própria cultura local, ao ambiente e aos envolvidos, no caso a mim mesmo. Os valores e
vivências que temos estavam sendo submetidos a um dito, regra do mercado, sem na
verdade conseguir a verdadeira valorização do local, da população entre outros.
Mais uma vez em conflito, como é a nossa, ou melhor, a minha
aprendizagem, curiosa na busca da solução, que não queria o turismo de massa e a
valorização dos que ali estavam não estava acontecendo, propus a estudar mais, pesquisar
para achar respostas aos meus anseios.
18
Instigada em conhecer essa nova área de conhecimento a Educação
Ambiental, fui a uma reunião dos alunos de mestrado junto com os professores,
intencionada a conhecer os docentes responsáveis por esta linha, a Educação e Meio
Ambiente. Ao ver a professora Michèle Sato falar, identifiquei-me com a mesma e embora
previamente eu acalentasse o sonho da implementação do turismo no município que atuava
enquanto militante de uma utopia de transformação abandonei a idéia pela inquietude dada
pela própria EA, constituída com seu próprio campo epistemológico.
Ao mesmo tempo, que a identidade abafada educadora renascia mais forte, a
vivência e a possibilidade da construção participativa seduzia-me novamente, que estava
acostumada aos constantes desafios de aprendizagem que a vida nos proporciona.
Reconheço em Paulo Freire que não aprendemos sozinhos. A aprendizagem
em comunhão nos torna coletivos, transcendentes e dialógicos. Foi neste território que me
refiz, e, portanto doravante esse trabalho será conduzido na primeira pessoa do plural:
“nós”. Subjetivamos a linguagem. Ora, percebida no fundo do silencio individual, da
solidão, porém perspectivada num espaço coletivo de aprendizagem. Por certo, a mediação
pedagógica não é fácil, porém nas curvaturas do rio a água delineia vida. O fluxo se perde
algumas vezes... borbulha outros momentos... aprendemos que a jusante e vazante são
partes deste percurso, que evidencia a Educação Ambiental, como transvaloração de nossos
próprios significados e expressões.
Encontrava o ambiente, as possibilidades para aflorar, para nascer, para
tornar de novo a pesquisa um processo de aprendizagem, uma realidade, onde como Paulo
Freire diz: “eu não aprendo sozinho, aprendo com outro”.
As vagas eram poucas. As possibilidades teriam que ser construídas e assim
o fiz, estudei com o que seria uma adversária para outros, mas que para mim foi e é uma
possibilidade de exercício de construção coletiva, como acreditei foi e é válida. Aqui estão
registrados os passos, a prática da aprendizagem coletiva, como digo à moda Educação
Ambiental, mas, que passos deixar neste Pantanal, o que construir na educação ambiental,
como colaborar com as interações existentes neste espaço? Na reflexão, mas uma vez me
encontrei, e não por acaso, mas por sabedoria o tema me foi sugerido, presenteado e por
várias vezes aprimorados.
Iluminado como o sol que dribla as folhas e alcança a água, lhe dando um
19
novo tom, reflexos, propiciando o jogo de luz que a água à coloração inefável e
encantadora, a transparência multicor, assim foram as nossas seções de orientações, mesmo
quando as águas estavam conturbadas e turvas me iluminaram o caminho. Percebendo a
sede e as possibilidades me re-encaminhou ao Pantanal, onde re-significou-se todo o
complexo e dinâmico ser que somos e das percepções, faz olhar o Pantanal com outros
olhares e matar um pouco das minhas sedes, e construir esta que pode ser uma gota d’água
aos que tem sede de conhecer um pouco de Centros de Educação Ambiental (CEAs) e do
contexto na qual está inserida esta pesquisa.
A educação retoma o lugar na mente, no coração, nos sentimentos e no
sentido, a Educação Ambiental cria o sentido, o sentido meio, o eu, o outro e nós no mundo,
leva a refletir as percepções, as ações e opções das organizações; as construções e leituras
são constantes aprendizados, se dão no contexto das leituras que estimularam as
interpretações e interações.
Neste sentido, tomamos de exemplo a participação no Grupo Pesquisador em
Educação Ambiental - GPEA, e redes na qual a inclusão ocorreu no processo do mestrado,
que mesmo este sendo parte coletiva e parte individual, as interações construídas na
coletividade e na participação enriqueceram e desafiaram mais ainda a finalização desta
pesquisa, que no nosso entendimentoé concluída no sentido de registro e atendimento as
normas do programa, pois as demais aprendizagens e processos continuam.
Enriquecem e desafiam ainda, pois não é fácil cortar com a lâmina da
temporalidade e do espaço o processo, que é o pano de fundo desta pesquisa, da pintura, o
cenário que está sendo construído, ou melhor, registrar esta pesquisa participante diante da
dinâmica complexa de várias mudanças no Brasil, nas manifestações sociais voltadas ao
meio ambiente, na efetivação da Educação Ambiental enquanto área de conhecimento e nas
possibilidades que se abrem nas políticas públicas para as ações neste espaço, o Pantanal, na
qual o GPEA interage.
Cabe ainda registrar que é um desafio muito grande que vale a pena ser
estudado mais profundamente em suas diferentes temporalidades, espaços, relações e
demais possibilidades.
Assumindo a premissa que esta pesquisa é interagida no seio da nossa
própria existência, não poderíamos deixar de utilizar a metáfora do próprio Pantanal para
20
delinear os capítulos desta dissertação. Neste primeiro capítulo, situamos as
identidades pessoais, NASCENTES, no encontro de outras identidades do Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental (GPEA) e também do universo entrevistado. Somam-
se as leituras realizadas na solidão do nosso caminhar, as aulas com tantos professores, as
palestras em eventos, conversas em bastidores. Formamos, assim, os coletivos educadores
que oferecem uma possibilidade de devir. Nossa existência, assim, nunca é pessoal. É
tecida com outras verdades, julgamentos e ideologias. Este mosaico humano transmuda-se
nos territórios pantaneiros, cuja paisagem natural se mistura na cultura e transbordam nas
re-significações da Educação Ambiental (EA).
O capítulo II corresponde as LAGOAS, RIOS E BAÍAS das águas
pantaneiras, fontes teóricas que bebemos sem, contudo, saciar nossa sede. A EA pode ser
uma fonte inesgotável de saber, como demais áreas das ciências. A sistematização das
políticas ambientais, em particular do Pantanal, acompanha a paisagem da EA,
propriamente dita. Abordagens regionais e nacionais se entrelaçam com cenários
internacionais, em seus programas, leis e projetos. A possível teoria ausente neste capítulo
recheia a parte final do trabalho, onde buscamos construir a práxis desta pesquisa,
alicerçando a prática à luz das teorias subjacentes e consagradas no patrimônio
investigativo de uma pesquisa em EA.
A decisão por um objeto de pesquisa é revelada no capítulo III
VAZANTES E JUSANTES que possibilitaram identificar os Centros de Educação
Ambiental (CEA) como foco prioritário das estruturas educadoras que colorem a
aprendizagem coletiva. Buscando ultrapassar a utopia tecida por Thomaz More, Sato &
Passos (2006) recuperam o sentido da utopia coletiva - o local da heterotopia. Aqui
lançamos nossas hipóteses, indagações e perguntas que conduziram nossa pesquisa no
Pantanal, iluminando o palco na personagem central de nosso enredo: o Serviço Nacional
do Comércio - SESC Arsenal (S. Arsenal). Sua história, criação e contexto de
entrelaçamento aos CEA são contextualizados no contexto do Pantanal.
O PERCURSO DAS ÁGUAS corre no capítulo IV, sobre a metodologia
adotada nesta pesquisa. A fenomenologia é associada à pesquisa diagnóstico-avaliativa na
compreensão dos CEA, assumindo que o maravilhamento está presente em função das
próprias identidades construídas no sabor da própria vida. Sem ousar a ruptura da vida
21
pessoal com a acadêmica, três instrumentos de abordagem metodológica estão
presentes nesta seção: a) um amplo questionário que visou o diagnóstico de seis centros de
Mato Grosso, com caracterização das instituições, perfil dos entrevistados e detalhamentos
de Projetos Político Pedagógico (PPP); b) uma entrevista semi-estruturada com as pessoas
que atuam em tais instituições, abarcando o objetivo de interpretar a leitura delas sobre a
EA, centros e cultura; e c) uma entrevista semi-estruturada através das imagens, recurso
utilizado para os freqüentadores e “usuários” do SESC Arsenal (S. Arsenal).
AS MATAS estão presentes no capítulo V, que busca identificar as
estruturas básicas e propostas dos CEAs pesquisados. Descrevendo as dificuldades de
acesso, de informações e realizando a avaliação diagnóstica das respectivas propostas e do
conjunto destas, buscou-se mostrar a beleza do seu complexo, das partes, bem como as
intenções desafios destes CEAs, matas. Onde são na composição de suas características,
populações, que se estabelecem as relações avaliadas e diagnosticadas. Enfatizamos, assim,
o adentrar nas matas, o percurso com obstáculos que por vezes nos fizeram criar desvios e
um constantemente redirecionar aos objetivos e desta pesquisa.
No capítulo VI AS CORDILHEIRAS, interpretamos as respostas nas
lentes das teorias subjacentes ao mosaico complexo formado pela cultura e natureza nos
CEAs. De difícil acesso, não tivemos a intenção de apenas mostrar a beleza do seu
complexo, como se a sua vista externa fosse a única beleza a ser apreciada. Evidenciamos,
assim, a forma do adentrar nas matas, no processo lento, muitas vezes cansativo, que busca
responder, num mar de incertezas, as hipóteses lançadas nesta pesquisa.
No capitulo VII, trazemos as entrevistas dos freqüentadores do SESC
ARSENAL, aqui relacionado e tratado, dentro da metáfora ecológica adotada de Pantanal
como AS POPULAÇÕES. É descrito neste capítulo as percepções e as relações percebidas
dos entrevistados junto com as temáticas apresentadas no decorrer desta pesquisa, ou seja, a
Educação Ambiental, percepção de meio ambiente, cultura e o SESC ARSENAL enquanto
espaço promotor de EA.
Assumindo as tendências pós-modernas, recuperamos as
TRANSMUDAÇÕES INCERTAS dos estados líquido, gasoso e sólido das águas
pantaneiras no capítulo VIII, numa tentativa de descortinar o horizonte sem, porém,
exauri-lo. Reconhecemos que esta pesquisa pode ser apenas o início de novas
22
investigações, com outros olhares e complementações e não temos a pretensão de
oferecer o veredicto final sobre os CEAs, em especial ao S. Arsenal. São considerações que
remetem ao início de um novo ciclo, para além de sua finalização. São transmudações de
um estado ao outro, no eterno existir dos sujeitos da EA que se fortalecem e se fragilizam,
simultaneamente em suas lutas e agravos ambientais. Representam, sobremaneira, nossas
esperanças à construção de um novo devir.
23
II – LAGOAS, RIOS E BAÍAS
“É um lugar edênico.
Eu diria adâmico. Está na origem do mundo.
O Pantanal é um lugar primário,
não terminado,
sem feições definitivas.
É muito inquieto,
muito incorreto,
sem disciplina.
"No Pantanal não se pode passar a régua", eu escrevi.
A régua impõe limites e o Pantanal não tem limites.
Tem uma estrutura aquática que não permite que ele seja
modificado.”
MANOEL DE BARROS
24
DESENHO IV – Água, Machado, 2006.
No Pantanal, temos as cheias e as secas, como ele quando entramos no
mestrado estamos de certa forma secas, pois também não podemos desconsiderar as lagoas,
os conhecimentos, as culturas que trouxemos que são válidas e instigam a conhecermos
melhor as percepções, atuações e relações existentes no Pantanal. Como no processo de
aprendizagem os novos conhecimentos são somados, inter-relacionados com os anteriores,
assim no Pantanal as enchentes interligam as lagoas, fazem os rios transbordarem, assim foi
este percurso.
Os conhecimentos aprendidos e vivenciados foram diversos, como no
Pantanal a diversidade foi bastante grande, porém, limitaremos aos que estão diretamente
ligados a esta pesquisa, aos que decorrem junto com a pesquisa, o processo de
aprendizagem. As aprendizagens e as bases na qual construímos esta pesquisa, que foram
tecidas na construção desta. Às vezes aprendidas, lidas e estudadas anteriormente a esta
construção, porém re-significadas no processo de construção desta.
A preocupação com o ambiente vem crescendo e sendo cada vez mais
sentidas nos diversos espaços existentes, muitas vêem sendo as alternativas que surgem e
são propostas como o próprio Turismo Rural
5
. Ao refletir os resultados, os objetivos e as
formas que estes se aplicam percebe-se que não se está interessado no Desenvolvimento
Sustentável
6
- DS, mas nos preocupamos com as relações dos seres humanos entre si e com
o meio ambiente, o que nos direcionam à EA.
Antes, porém de tratarmos da EA, faz-se necessário abordarmos como
percebemos o DS, como uma tentativa de continuidade do pensamento neoliberal, como
denunciado:
“... o conceito de DS não possui sua consistência teórica, nem capacidade de
promover empoderamento ou transformação social. Ele associa a idéia à
tendência neoliberal, cuja participação está na dependência da reprodução da
realidade e não é esta a lógica que fará a superação da EA” (MEIRA & SATO,
5
Turismo Rural é uma proposta de turismo que possibilita conhecer o local de acordo com as suas
características de produções no meio Rural, onde os aspectos: familiar, artesanal e “rústicos” são valorizados.
6
Entendido como proposta que tem por foco o crescimento econômico. Percebido pela comunidade
ambientalista, pelos estudiosos da EA com origem desenvolvimentista. (Leroy & Acselrad, 1999; Fórum
Brasileiro de ONGs, 1992). Na educação a proposta traz uma nova fundamentação, mas reafirma o paradigma
epistemológico do desenvolvimentismo (Sauvé, 1999).
25
2005).
II.I EDUCAÇÃO AMBIENTAL
Ao iniciarmos as considerações epistemológicas sobre a EA convêm
sublinharmos que os membros do GPEA consideram-na como um campo híbrido do saber,
abordando dimensões ambientais, pedagogia e entrelaçadas com diversas outras
abordagens. Reiteremos com Lima (2005) que a EA é um campo de saber próprio,
contextualizado, revigorado e identidário em suas proposições.
A importância de abordarmos e refletirmos a educação se no contexto da
própria construção desta dissertação para o mestrado de educação que nos leva a pensar o
para, o que, o porquê e o como ensinar, visto que o onde e para quem entendemos ser
direito adquirido de todos, questão que não nos convém aprofundar.
Constatamos que a educação possuiu várias correntes que centralizam sua
atenção em um aspecto da educação, resultado este do próprio meio de produção, da forma
de pensar e atuar no mundo. Estas estão em prática mesmo nos tempos atuais, o que não é
apenas uma questão de “tempo”, mas uma questão de postura ou até mesmo de ignorância,
visto que a educação quando não pensada, compreendida, feita como uma mera tarefa,
atividade sem identidade política, reproduzida sem contextualização e sem crítica nada
mais é do que ação incoerente, prática inconseqüente.
Como Freire (1993, p.43-grifo nosso) nos apresenta a educação tem de ser
uma educação para a decisão, para a responsabilidade social e política”. Em outras
palavras, nenhuma prática pedagógica é neutra, estão apoiados em certo modo de conceber
o processo de aprendizagem, os objetos da aprendizagem, os sujeitos bem como as relações
estabelecidas.
Pensar a educação nos remete então a pensar nas relações que se
estabelecem neste campo, onde existem pólos percepções e essências tais como o educador,
o educando, o objeto ou o conhecimento em questão.
A teoria da aprendizagem nos mostra para que haja uma nova aprendizagem
significativa, tem de se desconstruir, vamos mais além, a aprendizagem como nos traz
Vygotscky
7
é feita no meio, sob influência do mesmo e mais ainda no coletivo, segundo
7
VYGOTSKY. L. S. A formação social da mente. 4ª ed. São Paulo: Martins Fontes, 1991, p. 168.
26
Freire (op. cit.) quando aborda que “ninguém aprende sozinho, eu aprendo com o
outro”.
O pano de fundo deste trabalho é a Educação Ambiental, essência,
compreendendo que seus objetivos como: sensibilização para conservar do meio ambiente,
por meio da construção do conhecimento dos componentes do sistema natural, do
comprometimento e responsabilização enquanto ser humano com capacidade de avaliar e
agir efetivamente na manutenção do planeta e desenvolver a Cidadania Ambiental. A
participação ativa no resgate dos direitos e promoção de uma ética conciliadora da
sociedade e natureza, como forma de proporcionar a possibilidade de conservação da
biodiversidade. (SATO, 2003).
Neste contexto, fundo, estrutura, sistema, dinâmica, o espaço, tempo de
objetividade e subjetividade o que nos interessa é a Educação Ambiental utilizando a
cultura como agente catalisador e propulsor do domínio do conhecimento, que tem como a
base à vivência que por sua vez é essencial para a mudança de comportamento, sensibilizar
para formar a ética, a cidadania ambiental, além do que, ao se possibilitar o conhecimento
estamos possibilitando o empoderamento dos mesmos visto que o conhecimento dá poder.
Ao abordamos o conhecimento devemos considerar que o mesmo é
resultado de um processo, está sempre relacionado à realidade onde o grau do seu poder, da
sua força nas relações dos seres humanos e no meio ambiente é resultante da utilização
prática deste conhecimento. Trabalhamos então com os conhecimentos da EA, voltando aos
recortes estipulados nesta pesquisa com base na realidade, na percepção dos entrevistados,
nos depoimentos, reflexões, re-significações, no movimento de ir e vir da construção feita
nos discursos.
No intuito de direcionarmos nossos passos e entender como se essas as
relações e as percepções de meio ambiente recorremos a Sauvé (1994) quando trata da
autonomia e do pensamento crítico quanto a percepções do meio ambiente onde apresenta
que os processos educativos deveriam considerar uma percepção complementar do
ambiente, de forma cumulativa, por meio de intervenção pedagógica integrada.
O que procuramos aqui é registrar que existem variáveis nas percepções
sobre o ambiente, resultado do processo de desenvolvimento histórico do ser humano, onde
temos percepções fragmentadas. Sauvé é insistente em afirmar que se faz necessária a
27
compreensão deste processo, que as percepções podem ser utilizadas como
intervenções, em uma pedagogia integrada que proponha uma visão global, possibilitando a
compreensão da inter-relação pessoa-sociedade-natureza (que é o que entendemos como
base da EA).
Por sua vez a interação do pessoa-sociedade-natureza, nos remete a
fenomenologia de Merleau- Ponty, que tem como referência as relações eu-outro-mundo,
que será descrita de forma mais detalhada logo a seguir.
Podemos desvelar esta forma fragmentada, na utilização de certas teorias e
práticas relativas à educação para o DS, onde adotam uma visão limitada do ambiente,
como se houvesse como medir e compensar os impactos e explorações que estas promovem
em relação ao lucro na qual se beneficia. A natureza, o meio ambiente é visto como um
recurso, consequentemente as diretrizes internacionais e nacionais incentivam as unidades
de conservação, no intuito de ter reservas futuras.
Incentiva-se a reciclagem de lixo como marketing verde, como meio de
mostrar ações de compensação ao meio ambiente, que este tem volume. Todo o foco do
DS é voltado à questão econômica em detrimento dos demais aspectos que são
considerados na EA.
A economia se impõe na sociedade assim como no ambiente, porém nós
devemos continuar com as análises críticas, bem como criar novas possibilidades e junções
como é o caso da Educação Ambiental, que tem por fim pesquisar a área do conhecimento
que trata da relação dos seres humanos junto ao seu ambiente. Abordamos aqui como
ciência visto que como as demais ciências, a EA construiu o seu campo de estudo
historicamente e o que é mais surpreendente e característico dela, fundamentação e base,
advém pela construção coletiva popular.
Hoje percebemos duas correntes fortes da educação ambiental, uma
percebida, construída e defendida pelos ambientalistas e ecologistas, que se organizam e
expressam em movimentos sociais na busca de defender e mostrar a realidade do meio
ambiente e as relações que ai se estabelece. A outra corrente baseai-se neste movimento e
utiliza-se desta bandeira para realizar o marketing verde e com isso promover e acumular
maior lucro.
28
Segundo Lima (2005), a educação ambiental é um campo de saber
constituído, fortalecido nas últimas décadas do século XX com o intuito de compreender e
responder a complexidade de problemas expressos nas relações da sociedade, da educação
e do meio ambiente. Apresenta a mesma como essência complexa e política das relações
que a esta estabelece entre educação, sociedade e ambiente, onde a análise crítica e
integradora inclui e articula o conjunto de suas relações e dimensões.
Outros aspectos importante e diferencial na Educação Ambiental e por nós
desvelados nesta pesquisa, é que existem formas diferenciadas de se perceber o ambiente.
Quanto a percepção esta vem sendo discutida desde os pré-socráticos, como nos mostra
Chauí (1994), várias são as concepções e reflexões construídas no decorrer dos tempos
sobre a percepção, mas nesta pesquisa nos deteremos e nos baseamos e compreendemos a
percepção:
"Mas, quando contemplo um objeto com a única preocupação de vê-lo existir e
descobrir diante de mim as suas riquezas, então ele deixa de ser uma alusão a
um tipo geral, e eu me apercebo de que cada percepção, e não apenas aquela dos
espetáculos que descubro pela primeira vez, recomeça por sua própria conta o
nascimento da inteligência e tem algo de uma invenção genial: para que eu
reconheça a árvore como árvore, é preciso que, abaixo desta significação
adquirida, o arranjo momentâneo do espetáculo sensível recomece, como no
primeiro dia do mundo vegetal, a desenhar a idéia individual desta árvore".
(MERLEAU-PONTY 1994, p. 64).
A citação em questão nos leva a refletir que cada qual tem o seu olhar,
percepção do objeto que este é visto e construído por cada um de acordo com seu olhar, no
caso da sua complexidade de percepção que mesmo que estejamos, sejamos, façamos e que
por mais tenhamos influência cultural, a nossa percepção é única, no sentido de nós a
percebermos do modo que percebemos e de que mesmo já codificada a mesma não substitui
a própria realidade. Nas palavras de Merleau - Ponty (1994, p. 64) "O verdadeiro Cogito
não substitui o próprio mundo pela significação mundo".
Como em demais áreas do pensamento humano, que são fortes em
determinado período estipulando conseqüentemente toda a cultura e relações existentes,
porém dizer que iniciou e se acabou é limitar-se a uma visão fragmentada, pois em diversas
áreas de conhecimento, nas relações existentes ainda observa-se a ênfase de uma corrente
ou de outra, não cabe aqui descrevê-las de forma a esgotá-las, mas dizer que estas
desencadearam as correntes, ou melhor, as percepções ambientais que apresentaremos.
29
De forma bastante generalizada Hart (1993), apresenta três bases para a
proposta de EA: a positivista que propõe a EA sobre o ambiente, base de referência na
teoria Behaviorista, princípio de estimulo e resposta, proposta pré-determinada, objetiva e
sistematizada, onde o professor possui o conhecimento, que é transmitido por meio das
disciplinas, a relação do aluno e professor é a de poder. A interpretativa que proporciona as
atividades de EA no ambiente, com a tendência liberal progressista com bases
construtivistas, no propor experiências no ambiente de forma semi-estruturada. A outra é a
crítica, promove ações para o ambiente, construído de forma socialmente crítico, com base
re-construtivista e dialética, busca a construção de novos conhecimentos com questões
ambientais, desafiando o poder por meio do conhecimento generativo, emergente,
colaborativo e dialético.
Como nos retrata Bourdieu (1998), cada área de conhecimento tem base na
sua corrente, tem seu sistema de pensamento, conseqüentemente sua metodologia de
pesquisa bem como toda sua estrutura de formulação, de consistência, de conhecimento,
uma teoria, uma cultura da qual a pedagogia se apropria e reescreve para reproduzi-la.
Essas correntes influenciam todas as áreas de conhecimento, bem como as
percepções dos seres humanos. Nos estudos sobre formas de percepções ambientais,
segundo Sauvè (1994) o estudo fenomenológico do discurso e da prática em EA identifica
seis concepções paradigmáticas sobre o ambiente. A influência das diferentes concepções
pode ser observada na abordagem pedagógica e nas estratégias sugeridas pelos diferentes
autores ou educadores.
As percepções mais identificadas são: ambiente como a natureza que é para
ser apreciada, respeitada e preservada. O ambiente como um recurso que é para ser
gerenciado, que o ser humano tem de ordená-lo, organizá-lo e administrado. O ambiente
como um problema que deve ser resolvido; ambiente como um lugar para se viver,
conhecer e aprender sobre; para planejar e para cuidar; ambiente como a biosfera, onde
devemos viver juntos, no futuro e ambiente como projeto comunitário, onde somos
envolvidos, onde podemos refletir, elaborar projetos sociais e realizá-los.
Os ambientes que estaremos retratando aqui são os Centros de Educação
Ambiental que atuam no Pantanal Mato-grossense, é uma referência deste trabalho, cabe-
nos então aqui nos dedicar a descrever esta referência mais ampla que é o Pantanal,
30
facilitando assim a compreensão do contexto desta pesquisa.
O Pantanal aqui é entendido como o local que acontece esta pesquisa, que
por sua vez possui diversos recortes, pode considerar como o mais amplo deles o Pantanal
Mato-grossense que está localizado no Estado do Mato Grosso, Brasil.
Importante aqui destacar que o estado de Mato Grosso possui diversos
ecossistemas e zonas de transições, a riqueza das biodiversidades do mesmo não se limita
ao Pantanal, temos a Amazônia, o Cerrado, a Catinga dentre várias classificações e
especificidades, mas possuem populações e espécies em comum.
Esta pesquisa baseia-se na abordagem de Aziz Ab’Saber (2003), que
apresenta o Pantanal não como um ecossistema, mas como uma área de transição do
cerrado e da Amazônia, onde se estabelece conflito ambiental. Que por sua vez servirá de
referência para desvelar as avaliações e percepções pesquisadas, tentando estabelecer um
paralelo com o Pantanal. Buscamos descrever os conflitos identificados no processo da
pesquisa relacionando-a aos conflitos existentes no Pantanal.
De acordo com Silva e Abdon (1998) o Pantanal é composto de vários
outros pantanais, que apesar de possuírem características específicas como vegetações e
outros, tratamos os mesmos como uma unidade só, entendemo-los como unidade que
mesmo na diversidade e especificações os mesmos possuem características comuns.
MAPA I: Os pantanais
Nos registros que seguem referenciamos ao Pantanal nos baseamos em
Dualibi (2002). O Pantanal é a maior planície alagada da América do Sul, com quase 170
31
mil quilômetros quadrados, no Brasil esta é de 140 mil quilômetros quadrados, todo
este território está cortado por rios, riachos que compõem e interagem com os ciclos das
águas, que por sua vez mantêm a vida de diferentes tipos de populações.
A água é essencial para a qualidade de vida e a sobrevivência, porém os
impactos das decisões políticas e conseqüentemente das atividades humanas estão
interferindo nas águas pantaneiras, visto que está se desmatando a mata ciliar, joga-se o
esgoto das casas e das indústrias sem o devido tratamento e a pesca. Antes a pesca era
atividade de sobrevivência dos índios e ribeirinhos, tornou-se uma atividade comercial,
bem como as visitas turísticas, nestes espaços têm proporcionado a diminuição das riquezas
dos rios pantaneiros que sofrem também a contaminação dos agrotóxicos e adubos da
agricultura e do mercúrio dos garimpos.
A dinâmica das águas às diversidades existentes o que necessitam, de
acordo com as suas especificações. As populações existentes no Pantanal e as que se
movimentam junto com a dinâmica das águas são complementos umas das outras. Em uma
interpretação mais macro, os seres vivos do período das águas, aos seres vivos do
período da seca, componentes à vida destes e o mesmo no sentido inverso, tornado esta
uma dinâmica da vida.
Como referido anteriormente, segundo Dualibi (2002), o Pantanal é um
exemplo vivo de diversos tipos de cultura, resultante de oito mil anos de ocupação, este
vem recebendo homens e mulheres de diferentes lugares, os mesmos diferem entre si pela
sua relação com a natureza, pela sua maneira de ver o mundo, pela sua cultura. Até 200
anos atrás o Pantanal ainda era habitado pelos descendentes dos seus ocupantes iniciais.
Desde que os não índios chegaram ao Pantanal no século XVIII, começou-se
a formar uma nova cultura onde a mescla de índios, brancos, negros e mamelucos deram
origem ao que se chama de pantaneiro, o mesmo tem sua vida ligada ao ciclo das águas, ao
trato com o gado, principal atividade, tem habilidade de artesão de couro desde seu curtume
até a manufatura de laços, peia e outros.
Nos últimos 50 anos começaram a chegar outros forsteiros, comprando
pequenas propriedades, modificando as técnicas de manejo e influenciando nos hábitos e
valores, como a Televisão. Isso contribuiu para criar novas necessidades que não eram
próprias da região, novas tecnologias modificaram as relações.
32
ainda no Pantanal, segundo alguns estudiosos, diferenciados tipos
pantaneiros, os ribeirinhos que são homens e mulheres que têm a sua vida como
prolongamento do rio, fixados nas margens do rio para facilitar a agricultura, porém essa
população também cresceu e houve uma diversificação na produção e nas relações
econômicas. Porém aqueles que permanecem com a mesma relação com a natureza,
relação de observação, de interação e de usufruto, construindo conhecimento, a cultura local
resultante das relações, ou seja, a cultura é construída dentro das condições existentes, por
isso, os tratamos aqui como pantaneiros, indiferentes a classificação feita por alguns
autores.
Esta pesquisa foi delimitada ao Pantanal Mato-grossense, porém sua
extensão é bastante grande, o que nos leva a um olhar mais focado, como uma lente na
busca da melhor imagem que represente esta complexidade, o cenário a ser registrado.
Várias são as alternativas criativas, espaços de debates e práticas de ações
voltadas à Educação Ambiental, alguns destes espaços são considerados como Centros de
Educação Ambiental, nasce então a necessidade de identificar os CEAs atuantes no
Pantanal Mato-Grossense, porém antes de iniciarmos as descrições destes CEAs
apresentaremos nossa compreensão sobre os CEAs, seu histórico e suas perspectivas.
II.II CENTROS DE EDUCAÇÃO AMBIENTAL
As considerações que seguem têm embasamento teórico em Deboni (2004),
as iniciativas são da metade da década de setenta, pelo setor público, porém existem outras
anteriores a essa, mas as mesmas não são direcionadas a Educação Ambiental, visam
proporcionar a interação do ser humano com a natureza.
Foram impulsionadas, sobretudo pela atuação de pequenas propriedades
rurais, Organizações Não Governamentais - ONGs e unidades de conservação, e no final da
década de oitenta, por empresas privadas de grande porte.
A abertura política vivida pelo Brasil em meados da década constituiu fator
importante para essa questão. A articulação da sociedade a partir de 1985 (ano da abertura
política) culminando na Constituição de 1988 é fator relevante para o fomento de CEAs,
33
bem como no fim da década, a expansão da temática “verde” junto ao setor empresarial
constituiu em fomento de iniciativas.
A ECO - 92 como uma referência importante para o fomento de CEAs no
Brasil, já que o I Encontro Nacional de CEAs foi realizado graças aos “Ecos” da ECO - 92,
pois as iniciativas pré 92 estavam isoladas, dispersas e pouco divulgadas.
Resultante do I Encontro Nacional de CEA (7 a 9/12/1992), Foz do Iguaçu
PR, oficializou-se pelo Ministério da Educação e Cultura - MEC em 1993 os Projetos
Pilotos de CEAs. Foram criados seis CEAs: Porto Seguro – BA; Manaus – AM; Rio Grande
RS; Aquidauana MS; Foz do Iguaçu PR; e Fernando de Noronha PE. O MEC
deveria promover e viabilizar projetos, assegurando a sustentação, seu acompanhamento e
sua avaliação. No entanto o que se constata na atualidade é que muito pouco foi feito pelo
setor governamental federal.
A Lei da Política Nacional de Educação Ambiental (No 9.795, de 27 de abril
de 1999) não faz qualquer alusão aos CEAs. Aponta medidas de incentivos às esferas:
federal, estadual e municipal à educação ambiental não-formal.
Adotando como referência autores e trabalhos espanhóis a concepção de
CEA para o Brasil, foi fundamentada em quatro dimensões, que são: Edifício-sede; Infra-
estrutura, Recursos Materiais e Espaços; Equipe Educativa e Projeto Político-Pedagógico.
A origem "oficial" caracterizou os CEAS como: focos irradiadores de
alternativas para desencadear e apoiar processos de Educação Ambiental na educação
escolarizada e não escolarizada. Catalisadores de experiências e das possibilidades de
melhoria de vida da comunidade, além de servirem para experimentos pedagógicos e para a
geração e difusão de novos conhecimentos. Nesses espaços deve-se buscar centralizar a
discussão sobre a questão ambiental como um processo de formação e informação social,
orientada para o desenvolvimento da consciência crítica e reflexiva do ser humano (MEC,
p.1994).
Segundo a Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental
8
, os Centros
de Educação Ambiental representam todas as iniciativas que atendam as especificações
abaixo:
1) espaço físico com equipamentos e entorno;
8
http://www.redeceas.esalq.usp.br/centros.htm
34
2) equipe educativa composta de profissionais para a implementação das
atividades propostas pelo CEA, com caráter multidisciplinar e que busque atuar de forma
interdisciplinar;
3) que possua um Projeto Político Pedagógico e
4) estratégias de sustentabilidade.
Existem hoje em Mato Grosso registrados na Rede Brasileira de Centros de
Educação Ambiental no Mato Grosso, três CEAs, porém, sabemos que as iniciativas são
bem maiores. Identificamos e diagnosticamos esses CEAs cadastrados e pesquisamos os
CEAs atuantes no Pantanal, bem como realizamos avaliação diagnóstica destes CEAs.
O SESC Arsenal não se propõe a ser um CEA. Seu objetivo não é trabalhar
diretamente com a EA, porém apresenta características propulsoras da cultura geral e local,
conseqüentemente promove e sensibiliza para as questões pró-ambiente. Proporciona as
expressões de diferentes formas de linguagens, abre seu espaço para relações multi-
referenciais. Estes aspectos possibilitam o empoderamento social, participação
democrática, o que resultou na inclusão e percepção deste enquanto CEA. Coube aqui
diagnosticarmos esta relação e interpretar de acordo com as fundamentações apresentadas
no discorrer desta pesquisa.
Ainda estamos longe de abordarmos todos os aspectos que envolvem este
projeto e não é a intenção esgotar as possibilidades, mesmo porque seria impossível, mas
perceber, interpretar o processo, avaliar diagnosticamente os mesmos. Entendendo que
enquanto seres humanos somos, como abordado acima, complexo de incertezas, reflexo do
conhecimento, da cultura e da sociedade que estamos:
“o universo é um sistema termodinâmico gigante. Em todos os níveis,
encontramos instabilidades e bifurcações. É nessa perspectiva que nos podemos
perguntar por que durante tanto tempo o ideal da física esteve associado à certeza,
isto é, à denegação do tempo e da criatividade” (Prigogine 1996, p. 194).
II.III SESC ARSENAL, CENTRO CULTURAL
O projeto tem como foco o S. Arsenal que é uma experiência piloto no Brasil
enquanto centro cultural, que é o primeiro que teve esta formatação de centro cultural,
onde tem o objetivo de promover a cultura. Com referência em Santos (2002), o S. Arsenal
35
era um Arsenal de Guerra, fundado como parte das forças armadas em 1832, no intuito
consolidarem e guardar a fronteiras do Brasil, onde existiam salas de oficinas que
ensinavam os jovens os ofícios que serviam para atender a demanda deste Arsenal, como a
confecção de uniformes para os soldados dentre outros.
O processo de transformação deste iniciou com a doação do Ministério do
Exercito à Federação do Comercio de Mato Grosso, onde o tombamento foi realizado pela
divisão do Patrimônio Histórico Artístico da Fundação Cultural do Estado de MT, em 15 de
novembro de 1983, a partir daí deu início aos tramites necessários para a restauração do
mesmo.
A inauguração, a reabertura, foi realizada 15 de agosto de 2001 e a partir
daí se faz o resgate da história e cultura Mato Grosso nesse espaço. Hoje o espaço foi
reorganizado para atender cursos, oficinas e outros. Possui espaços e salas específicas para:
teatro, música, choperia, cinema, biblioteca, recreação dança, galeria de arte, literatura,
bem como espaços para atividades específicas como apresentações de shows, lançamento
de livros, exposição de quadros dentre outros. Localizado em Cuiabá-MT, à Rua 13 de
Junho sem número, Porto.
Considerando que o mesmo promove a cultura, percebida e aqui relacionada
com a EA, como agente sensibilizador para as questões ambientais, esta pesquisa instiga a
busca do perceber e interpretar como este espaço se relaciona e promove a EA, como esta
relação espaço é percebido pelos seus freqüentadores, como a cultura pode ser evidenciada
pela EA, colaborando com a transformação social, no desejo de promover à formação dos
sujeitos por meio dos princípios da equidade social e da justiça ambiental. que
entendendo como Geertz (1989, p. 20) “As formas da Sociedade são substâncias da
Cultura”.
Para tal, faz-se necessário registrarmos como se percebe e compreende este
filtro, a cultura, como se este processo, que segundo Geertz (1989, p. 21) “Olhar as
dimensões da ação social... não é afastar-se dos dilemas existenciais da vida em favor de
algum domínio empírico de formas não emocionais; é mergulhar-se no meio delas... e assim
incluí-las no registro de consultas sobre o que o homem (sic.) falou”.
O mesmo apresenta ainda quanto à questão das pesquisas referentes à
cultura: A análise cultural é intrinsecamente incompleta e, o que é pior, quanto mais
36
profunda menos completa”. (GEERTZ, 1989, p. 20). Por isso ao interpretarmos as
percepções aqui apresentadas não se tem a pretensão de esgotar as possibilidades
percebíveis nem de criar verdades, neste caminho de incertezas, mas de perceber como a
cultura age enquanto sensibilizador e promotor de EA, como instigante à reflexão das
relações estabelecida neste espaço, como corrobora com a EA, criando re-significações,
tornando um agente sensibilizador pró meio ambiente, qual a percepção dos sujeitos
entrevistados quanto a estas questões, como se apresenta a cultura e seu papel, ou seja:
“No estudo da cultura, os significantes não são sintomas ou conjuntos de
sintomas, mas atos simbólicos ou conjunto de atos simbólicos e o objetivo não é a
terapia, mas a análise do discurso social. Mas a maneira pela qual a teoria é usada,
investigar a importância não aparente das coisas” GEERTZ (op cit.).
São com essas bases que construímos esta pesquisa, onde o ser humano não
pode ser compreendido desassociado da cultura, como apresentado anteriormente, mas
também não são determinados apenas por esta, conforme sua época, suas características
temporais e espaciais. Ou seja, é um produto tanto cultural quanto biológico resultado da
interação dos dois, onde um age sobre o outro que por sua vez interage criando novas
interações subseqüentemente. Onde o mesmo é capaz de construir os meios e recursos
através da sua reflexão, compromisso e participação naquilo que conjuntamente acreditam.
Está na sua capacidade de apreender, de perceber seu meio sob nova forma,
novo foco, perspectiva e prioridade. Que é o que entendemos como educação
emancipatória, que por sua vez tem de ser significativa e que hoje tem uma ciência para
perceber este novo olhar, estas novas relações: do eu com o outro e com o meio ambiente
que é EA. E aqui, interpretamos como esta nova “cultura ambiental” pode utilizar este
espaço, contexto, qual o diferencial que o mesmo vem trazendo aos seus freqüentadores que
proporciona a mudança nas percepções e relações estabelecidas.
Ao abordarmos a Educação emancipatória nos referimos a Paulo Freire, que
por sua vez nos convida a refletir quanto a educação e sua complexidade, do para que o
porque e como a mesma vem se efetivando, considerando a necessidade de empoderamento,
do sonho, da utopia.
O intuito desta pesquisa, com base nas entrevistas realizadas é de interpretar
de que forma a cultura e sua essência fazem a sensibilização para as coisas do ambiente,
como é percebida e que construção vem sendo feita, diagnosticando se proporciona e qual o
diferencial. Segundo as interpretações dos discursos dos sujeitos entrevistados. Para tal
37
buscamos utilizar os mesmos signos, meio de comunicação e expressão que estes
utilizam, ou seja, a própria cultura destes entendendo a cultura:
“Como sistema entrelaçados de signos interpretáveis, a cultura não é um poder,
algo ao qual podem ser atribuídos casualmente os acontecimentos sociais, os
comportamentos, as instituições ou processos; ela é um contexto, algo dentro do
qual eles podem ser descritos de forma inteligível–descrito com densidade”.
(GEERTZ, 1989, p. 10)
III VAZANTES E JUSANTES (O CONTEXTO PRÁTICO)
38
Deus disse:
Vou ajeitar a você um dom:
Vou pertencer você
para uma árvore.
E pertenceu-me.
Escuto o perfume dos rios.
Sei que a voz das águas
tem sotaque azul.
Sei botar cílio nos silêncio.
Para encontrar o azul
eu uso pássaros.
Só não desejo cair em sensatez.
Não quero a boa razão das coisas.
Quero o feitiço das palavras.
Manoel de Barros
DESENHO V – Os movimentos da água, Machado, 2003.
No Pantanal temos as vazantes
9
e as jusantes
10
, para os pantaneiros as
palavras se aplicam especificadamente ao movimento das águas pluvial junto às águas dos
rios, onde a vazante é o movimento das águas que transbordam no período da chuva quando
9
MICHAEL (1998, p. 2182) Que vaza.Refluxo ou maré vazia. Período em que uma corrente fluvial apresenta
menor volume de água. Na região de Mato Grosso e Mato Grosso do Sul, campo alagado por águas de
chuvas.
10
MICHAEL (1998, p. 1210) Baixa-mar, refluxo da maré. Lado de um curso de água oposto ao das nascentes.
A jusante: para o lado da foz; para o lado de baixo.
39
as mesmas alagam temporariamente as terras baixas no entorno dos rios da bacia do
Paraguai que compõem o Pantanal, e a jusante é o movimento de absorção destas águas
pelo rio. Poderíamos aqui citar os significados das mesmas de acordo com o dicionário,
porém, os dicionários consultados apresentaram significados de certa forma diferenciados
dos comumente utilizados pelos Pantaneiros, bem como se direciona mais aos movimentos
das marés.
A vazante para os pantaneiros possui duas significações, os espaços por
onde corre a água e o período que o mesmo ocorre, neste momento aqui tratamos desta
última abordagem e entendemos como jusante o período em que ocorre o inverso, ou seja, é
o período que o Pantanal está secando. Esse cotejar se no intuito de buscar identificar as
semelhanças, a diferença onde e quando os CEAs enchem-se, vazam e onde inversamente
estão mais secos e secando.
Existe a necessidade de entender que mesmo a água sendo promotora da
vida no Pantanal a seca faz parte deste ecótono
11
, onde existe toda beleza e encantamento
das relações que neste período estabelece, bem como a luta pela sobrevivência e como a
florada das orquídeas e outras espécies. Assim também se com a referida seca nos
CEAs, pois até mesmo a ausência de certas questões estruturas especificações são
resultantes do processo, das relações, dos olhares, das opções tomadas.
Na terra fértil brota as populações, as pesquisas, como nos campos
encharcados do Pantanal, inundados pelas vazantes, alimentam-se e proporcionam
substratos para as espécies que ali buscam estabelecer, assim é a dinâmica do Grupo
Pesquisador de Educação Ambiental GPEA, que reúnem com costumeira freqüência para
estudos de textos, debates, apresentações dos resultados parciais e finais das pesquisas,
buscando sempre expandir os conhecimentos construídos para os participantes como para a
comunidade em geral que também é convidada a socializar as suas experiências e
conhecimentos.
O GPEA é composto pelos Docentes da linha de pesquisa Educação e Meio
Ambiente do instituto de Educação, da UFMT, sendo Drª Michèle Sato, Drª Suíse Bordest,
Dr. Germano Guarim-Neto e Drª Miramy Macedo, Docentes Colaboradores, Doutorandos
11
As zonas pantanosas situadas entre um alagado e as formações terrestres circundantes, como o Pantanal por
exemplo, são consideradas ecótonos e não ecossistemas, embora haja controvérsias (SATO, 1997 p.175)
40
da Universidade Federal de São Carlos - UFSCAR, mestrandos UFMT, alunos
de Iniciação Científica, colaboradores e interessados. O mesmo possui a página da internet
http://www.ufmt.br/gpea, onde divulga questões pertinentes e afins da área.
A comunicação por estes se de diferentes formas, tanto presencial como
dito anteriormente por meio de uma lista de discussão, o que facilita e promove tanto a
comunicação quanto à integração dos membros. Diversas são as ações do GPEA e algumas
podem ser constatadas e melhor aprofundadas no site já citado.
A forma que o GPEA vem se alimentando e alimentando as comunidades,
por meio de suas pesquisas participantes, do ato de socializar suas pesquisas, ou melhor,
extensão às mesmas, põem em prática e faz a militância das suas idéias e ideais. Bem
como, os locais nas quais as suas raízes vêem se aprofundando são diversos e amplos.
Dentre eles podemos destacar abaixo alguns destes espaços: cordilheiras, lagoas, pântanos,
terrenos arenosos e outros.
O Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico – CNPq
construiu e desenvolve o Programa Integrado de Ecologia PIE, que tem o objetivo
pesquisar as temáticas regionais emergenciais para onde se devem direcionar as pesquisas
da comunidade científica e os recursos financeiros visando desenvolver ações na busca de
solução dos principais problemas ambientais do país, dentro deste tem–se o Programa
Brasileiro de Pesquisas Ecológicas de Longa Duração PELD
12
, que tem o intuito de
proporcionar a colaboração entre cientistas e estudantes que trabalham nas diferentes
regiões do país.
Neste intuito foram realizadas parcerias com instituições, dentre elas a
Universidade Federal de Mato Grosso UFMT, e desenvolvidas diversas pesquisas como
Subprojeto EA Pantanal “Tecendo teias educativas em uma Unidade de Conservação”
que tem como objetivo colaborar com a implementação de um programa de EA na região
da Reserva Particular do Patrimônio Natural RPPN-SESC Pantanal. Considerando que
esta pesquisa possui referências, porém não utiliza deste como alimento para as suas
cordilheiras, não se entende como necessário maior aprofundamento da mesma.
Num contexto mais próximo, no espaço atuante somos integrantes do Grupo
Pesquisador em Educação Ambiental – GPEA, que tem objetivo de desenvolver pesquisas e
12
http://www.icb.ufmg.br/~peld/home.html
41
ações científicas voltadas para o aprimoramento das sociedades sustentáveis, nos
ecossistemas Mato-grossenses. Neste contexto, tem um contingente de ações com o
propósito de sensibilizar para as questões ecológicas e culturais, buscando proporcionar
ações integradas da educação ambiental para a conservação e manejo da biodiversidade
Mato-grossense.
Nas aberturas oportunizadas com as novas atuações e incentivo às pesquisas,
um dos projetos desenvolvidos por este grupo é financiado pelo Fundo de Amparo a
Pesquisa de Mato Grosso FAPEMAT que vem a ser: Reinventando Caminhos
Iconográficos para a Interpretação Ambiental: um filtro Pedagógico para as Comunidades
Pantaneira de Mimoso e São Pedro Joselândia.
O projeto tem por finalidade incorporar a dimensão ambiental dentro da
cultura local, com pequenos projetos de educação ambiental, a conservação da natureza, da
reserva da biosfera pantaneira nas comunidades biorregionais
13
de Mimoso e São Pedro
Joselândia; as investigações e interpretações ocorrem através de leituras iconográficas
14
e
iconológicas
15
à luz do contexto cultural das comunidades, visando construir uma proposta
de educação ambiental que seja capaz de sensibilizar as comunidades pantaneiras para a
formação de consciência política necessária à conservação do Pantanal.
Para maior compreensão da pesquisa aqui se faz necessário detalhar o que se
entende por iconográfico e iconológico, para tal nos referimos a Panofsky (1991), tem
referência a iconografia, entendida como o estudo da arte que trata do tema ou mensagem
das obras de arte em contraposição à sua forma. É a identificação dos significados: factual,
expressional de uma determinada obra e os convencionais expressos pelos elementos de
uma obra.
Entendendo como iconológicas, com referência na iconologia, ciência que
estuda a influências que o autor sofreu, parte da área da história da arte estuda
13
Comunidades humanas e bióticas de uma limitada região geográfica Maiores detalhes em: SATO, Michèle;
PASSOS, Luiz A. Biorregionalismo: identidade histórica e caminhos para a cidadania. In:LOUREIRO,
C.F.B.; LAYARGUES, P. & CASTRO, R.S. (Orgs.) Educação Ambiental: repensando o espaço da cidadania.
São Paulo: Cortez, 2002, p. 221-252.
14
Panofsky (1991), por Iconografia entende-se que o ramo da história da arte que trata do tema ou
mensagem das obras de arte em contraposição à sua forma".
15
Panofsky (1991) Iconológica, análise, estudo do significado intrínseco de uma obra, "apreendido pela
determinação daqueles princípios subjacentes que revelam atitude básica de uma nação, de um período, classe
social, crença religiosa ou filosófica - qualificados por uma personalidade e condensados numa obra".
42
especificadamente o tema ou mensagem das obras de arte, sem considerar a forma,
ousa na interpretação histórica desta contraposição.
Em uma visão mais macro, no Brasil os movimentos ambientais, bem como
as cobranças feitas ao governo sobre as relações existentes com o meio ambiente têm
pressionado para a criação de Políticas Públicas que proponham ações neste segmento, que
por sua vez não estão isoladas das demais iniciativas, ou melhor, vem sofrendo e
interagindo com as ações destes, com isso constroem-se propostas para o mesmo sendo as
mais direcionadas e tocantes a esta pesquisa as que estão comentadas nesta dissertação.
Comentadas para possibilitar uma leitura mais ampliada e contextualizada
desta pesquisa que por sua vez não tem como objeto às mesmas, deixando a obrigatoriedade
de aprofundamento destas.
Tal tem sido a preocupação com a Educação Ambiental que o Art. da Lei
9.795 de abril de 1999, apresenta como: "Processo em que se busca despertar a
preocupação individual e coletiva para a questão ambiental, garantindo o acesso à
informação em linguagem adequada, contribuindo para o desenvolvimento de uma
consciência crítica e estimulando o enfrentamento das questões ambientais e sociais”. Que é
base para as construções e iniciativas voltadas à EA.
A mesma Lei e artigo ainda aborda a questão da complexidade, da cultura
dentre outras questões como podemos evidenciar. “Desenvolve-se num contexto de
complexidade, procurando trabalhar não apenas a mudança cultural, mas também a
transformação social, assumindo a crise ambiental como uma questão ética e política”.
Com base nesta lei temos o Programa Nacional de Educação Ambiental
ProNEA, coordenado pelo órgão gestor da Política Nacional de Educação Ambiental,
baseia-se na marca institucional: "Brasil, um País de todos". Segundo o documento em
Consulta Nacional do ProNEA, Brasil (2003), destina-se a assegurar no âmbito educativo a
integração das múltiplas dimensões da sustentabilidade - ambiental, social, ética, cultural,
econômica, espacial e política, outrossim, do desenvolvimento sócioambiental
16
do país, na
intenção da melhor qualidade de vida da população brasileira, por meio do envolvimento e
participação social, na proteção e conservação ambiental e da manutenção dessas condições
ao longo prazo.
16
Socioambiental – maiores detalhes e informações no MES- Municípios Educadores Sustentáveis
43
Tem como princípio quatro diretrizes do Ministério do Meio Ambiente -
MMA: transversalidade, fortalecimento do Sistema Nacional do Meio Ambiente -
SISNAMA, sustentabilidade, participação e controle social.
O ProNEA representa o exercício de Transversalidade, espaços de
interlocução para internalizar a educação ambiental no conjunto do governo, que colabora
com as políticas setoriais ambientais, educativas, econômicas, sociais e de infra-estrutura,
sob a ótica educacional e da sustentabilidade.
A Política Nacional de Educação Ambiental - PNEA propõe ser realizada
em sinergia com as políticas federais, estaduais e municipais de governo. Nas estruturas
institucionais do MMA e do MEC. O ProNEA , como em outras instancias, compartilha da
descentralização de suas diretrizes para a implementação da PNEA, no sentido de
consolidar a sua ação no SISNAMA.
Tendo como elemento fundamental da gestão ambiental a Educação Ambiental, o ProNEA
procura desempenhar a orientação de agentes públicos e privados a construção de
alternativas que fizessem a Sustentabilidade, com isso propiciar a oportunidade de se
ressaltar as práticas e experiências que obtiveram êxito.
Por sua vez e direcionando a nossa realidade local temos aqui no estado do
Mato Grosso o Projeto de Educação Ambiental - ProMEA que junto com processos
educativos do estado do Mato Grosso objetiva promover a sustentabilidade contemplando a
inclusão social, justiça ambiental e a participação democrática.
Outras possibilidades e programas estão sendo estimulados e inseridos no
estado como é o caso do Programa de Educação de Chico Mendes é de fomento a projetos
de educação ambiental em escolas públicas do ensino básico, sob orientação da
Coordenação Geral de Educação Ambiental CGEA em conjunto com a Coordenação
Geral das Ações Educativas Complementares CGAEC. O programa está inserido no
âmbito da Política Nacional de Educação Ambiental Lei no 9795/99, onde estabelece a
Educação Ambiental nas escolas como prática integrada, contínua e permanente,
transversal a todas as disciplinas, no intuito de difundir conhecimentos sobre ciência,
saberes tradicionais e políticas ambientais usando estratégias de rede, publicações, e
projetos com a sociedade.
44
O objetivo do Programa Educação de Chico Mendes e de apoiar e
promover projetos de pesquisa-ação nos grupos escolares, proporcionar orientação ao
fortalecimento do pensamento socioambiental no contexto escolar, promover a
comunicação interescolar e integração com as comunidades locais, estimular a constituição
de comissões de meio ambiente e Qualidade de Vida nas Escolas Com-vida, na
construção da Agenda 21 na Escola por meio de assistência financeira.
Além do Programa Educação de Chico Mendes existe também o Programa
Municípios Educadores Sustentáveis MES, com o intuito de estimular e apoiar espaços
coletivos nos municípios brasileiros como educadores que proporcionem a formação de
pessoas que participem na construção diária da sustentabilidade, o mesmo foi lançado em
maio de 2005 pelo MMA.
O objetivo do programa é fazer de cada comunidade, município, bacia
hidrográfica e região administrativa, um espaço que incentive os habitantes se educarem
continuamente para a sustentabilidade, por meio de ações que tenham comunicação e
visibilidade, outrossim, promover ações que propiciem constante e continuamente a
educação dos indivíduos para atuarem, se auto-educando e contribuindo para a educação de
outros; estimulando e apoiando os municípios na organização das instituições locais e a
realização de parcerias para projetos de ações educativas e criar indicadores regionais e
sistemas de avaliação que permitam o monitoramento para a obtenção do título Município
Educador Sustentável, fazem parte dos objetivos.
O mesmo busca com isso o fortalecimento do governo local, que exercerá o
papel de mediador, catalisador e coordenador do processo de gestão e colaborará no
estimulo da participação da sociedade na realização de diagnóstico e planejamento. Para tal,
serão realizadas formações de educadores ambientais que terão o compromisso de formar
futuros educadores, com o apoio da Diretoria de EA / MMA para os encontros do Foro
Deliberativo Regional e nas possibilidades diferenciadas de obtenção de crédito para
financiamento de projetos pelo Fundo Nacional de Meio Ambiente - FNMA e outras fontes.
O Programa Municípios Educadores Sustentáveis MES, tem também o
intuito de apoiar a instalação de Salas Verdes como embrião de um Centro de Educação
Ambiental, bem como o acesso ao Sistema Brasileiro de Informação em Educação
45
Ambiental - SIBEA e outras iniciativas que sejam agregadas por parcerias estabelecidas
pelo programa Nacional e Subprogramas Regionais.
O MES tem como metodologia a avaliação permanentemente por meio do
Foro Deliberativo Regional que discutirá e socializará junto aos parceiros, os indicadores
do sistema de avaliação e de monitoramento dos projetos locais, as experiências e os
problemas que serão continuamente construídos a partir do monitoramento e das
avaliações.
Os municípios discutirão o subprograma e o termo de adesão
17
, além de
realizar um diagnóstico participativo do município, a fim de aderir formalmente ao projeto
que deverá construir o seu projeto de Município Educador Sustentável. Quando se refere ao
termo de adesão refere-se a assinatura de um contrato onde os municípios se comprometem
a conduzir o processo de forma participativa e democrática; cumprir as iniciativas mínimas
estabelecidas pelo MMA e pelo seminário regional; implementar as decisões dos Foros e
criar o projeto Município Educador Sustentável.
O programa será realizado em cada município pelo comitê local, podendo
este ser o Conselho Municipal de Meio Ambiente, ou parte deste. A sua composição deve
abranger representantes do Poder Público Municipal (prefeitura e câmara de vereadores),
empresariado (agricultura, indústria, comércio e serviços) e sociedade civil organizada.
Os resultados podem ser avaliados por meio de indicadores de
sustentabilidade, tais como participação (número de pessoas, instituições, projetos e
estruturas de EA, etc); qualidade ambiental (cobertura vegetal, cobertura dos serviços de
saneamento, integralidade, níveis de poluição ambiental, volume e qualidade dos corpos
hídricos e patrimônio histórico-cultural, etc); qualidade de vida (incidência de doenças por
conta da contaminação ambiental, número de postos em Eco-trabalhos, assim como a
existência de ações voltadas para erradicação de trabalho infanto-juvenil, taxa de
alfabetização e de escolarização, etc).
Os indicadores deverão, por exemplo, apontar o quanto o município avançou
em seu processo de educação para a sustentabilidade, avaliando projetos, ações e pessoas /
grupos envolvidos no projeto local, assim como os projetos obtidos por ele.
17
Contrato de Participação e colaboração com as propostas, responsabilidades e direitos do programa.
46
Com prefácio do Professor Dr. Marcos Sorrentino, a DEA/MMA, o
ambientalista e educador Carlos Rodrigues Brandão (2005) lançou o livro "Aqui é onde eu
moro, aqui s vivemos: escritos para conhecer, pensar e praticar o Município Educador
Sustentável". A obra traz 10 capítulos reflexivos sobre meio ambiente, educação ambiental,
cidadania, dentre outros. Traz, ainda, como anexo, o projeto do Programa Município
Educador Sustentável.
IV. O PERCURSO DAS ÁGUAS
Escrever
nem uma coisa
Nem outra
A fim de dizer todas
Ou,
pelo menos,
nenhumas
assim
ao poeta faz bem
Desexplicar
47
Tanto quanto
escurecer acende
os vaga-lumes”.
MANOEL DE BARROS
DESENHO VI Aguçando a Percepção, Machado, 2004.
Tratamos neste capitulo de como foi realizados a interação da pesquisa, da
pesquisadora, com os sujeitos pesquisados, com o espaço e com o contexto do mesmo bem
como os instrumentos e bases para a realização do mesmo.
Volta-se o olhar ao Pantanal no intuito de identificar quem está lá, quem
podemos observar neste espaço, quem faz o movimento da EA? Como se relaciona com
este? Como enxerga e que rastros tem deixado nesta terra? Como lida e com o que lida
diáriamente?
Como na Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental - REDECEAS,
as informações dos CEAs que atuam neste espaço são bastante limitadas ainda, por isso
optou-se por registrar este cenário. Focou-se então a lente nos CEAs atuantes no Pantanal,
seus equipamentos, da percepção que os sujeitos atuantes no mesmo tem deste espaço, da
cultura, da educação ambiental e das relações destes.
Iniciou-se esta pesquisa pala lacuna do conhecimento quanto aos CEAs em
MT que atuam no Pantanal, quais são as estruturas, as propostas, as necessidades, os focos
de atuação dentre várias outras questões pesquisadas. Consideramos que apenas a pesquisa
quantitativa destes aspectos não responde aos anseios qualitativos de diagnosticar o como é
percebido o ambiente, como relacionar esta ao que se propõem a Educação Ambiental. Por
isso elaboramos um roteiro de entrevista no intuito de obter dados, informações que dessem
conta da dinâmica dos CEAs atuantes no Pantanal e dos objetivos desta pesquisa.
Ao observar as formas desta pesquisa percebemos que a mesma se no
meio, ou seja, nas interações sujeito com os sujeitos pesquisados, que as formas
48
encontradas, os contornos, as cores, as percepções e as inter-relações criadas nos
direcionaram a pesquisa qualitativa, pois se buscou o conhecimento intersubjetivo e
compreensível.
Baseado em Sato (1997 e 2001) a corrente qualitativa descreve e interpreta a
coleta de dados de forma a construir, estabelecer o vínculo entre as hipóteses e as
comprovações científicas, por meio do entrelaçamento realizado nos registros dos
pesquisadores, esta pesquisa tem o enfoque participativo.
Abordamos aqui o enfoque participativo no sentido de que esta pesquisa foi
realizada com base nas complexas relações e percepções construídas e re-significadas no
decorrer da mesma, a identificação da pesquisadora e do contexto em que a pesquisa foi
construída possui interação dinâmica nas suas relações que são intrínsecas e inseparáveis,
estabelecidas continuamente com constantes encantamentos.
Na sua realização a pesquisa tomou um cunho etnográfico, a mesma tem
estruturas etnográficas que ao abordar os sujeitos do SESC Arsenal utilizou-se pinturas
de artistas Mato-grossenses como referência para a identificação da percepção de Ambiente
e introdução da entrevista, elaborada junto ao acervo digital da orientadora.
Segundo Almeida (2001, p. 23) “A etnografia é então interação hibridação
politizada, e orientada cognitiva e moralmente para zonas de quase verdade”, ou seja,
assiste à construção de novos corpos singulares e coletivos politicamente orientados como
das identidades étnicas, das definições de paisagens-patrimônio, de corpos com gênero,
corpos com cor e com historicidade.
No caso, aqui utilizamos imagens de pintores Mato-Grossenses, a pintura
como forma de expressão não da sua percepção, mas das suas convicções, das suas
identidades, da sua história, contexto, dos seus sonhos entre outros, como forma de
referências, de vínculo, de representação das percepções do ambiente dos sujeitos
entrevistados no SESC Arsenal.
Possibilitamos com isso a reflexão histórica, a re-significação da vida, da
própria realidade cotidiana, da história, que proporcionamos, instigamos os sujeitos a
revitalizar a sua compreensão de mundo, de si, da interação que tem com o mesmo.
Segundo BERGER, (1986, p. 68), a própria memória é um ato reiterado de interpretação
49
onde à medida que nos lembramos do passado, o reconstruímos de acordo com nossas
idéias atuais sobre o que é e o que não é importante.
Como método de procedimento mais adequado aos objetivos desta pesquisa,
a forma que a mesma possui e se propõe é o método diagnóstico avaliativo entendido como
a metodologia que aplica a avaliação com finalidade detectar a existência ou não de pré-
requisitos necessários para que o processo proposto se efetue, no caso a Educação
Ambiental como nos leva a refletir Sato (2001), Anadon (2003) e Depresbíteris (1999) ao
tecerem referências sobre o processo de avaliação, sua importância na formação, na
aprendizagem, nos processos e na Educação Ambiental.
Partimos das pesquisas das condições existentes nas organizações sociais, na
aplicabilidade da Educação Ambiental na região, das percepções dos sujeitos entrevistados,
das fundamentações teóricas para descrevermos as percepções apreendidas e contribuirmos
com reflexões e construções junto a EA, de forma crítica nos CEAs, utilizamo-los como
instrumento do mesmo, tendo o SESC Arsenal como referência para a interface com a
cultura, essência que se enfatiza nestes espaços e neste trabalho.
A forma de perceber e de utilizar o diagnóstico avaliativo, principalmente na
especificidade da Educação Ambiental, como uma das metodologias de pesquisa desta área
de conhecimento, das ciências
18
: Educação Ambiental se pela compreensão de que esta
vem a ser mais que a avaliação das estruturas existente, da técnica do trabalho, do próprio
processo de avaliação.
O diagnóstico avaliativo é um procedimento que respeita e segue a
necessidade de uma metodologia qualitativa, por sua vez essa construção foi realizada de
forma diversificada, conjugando os roteiros de informações da Rede Brasileira de Educação
Ambiental e da Rede Brasileira de Centros de Educação Ambiental e o roteiro aberto de
entrevista. Este serviu para identificar as percepções dos sujeitos integrantes das equipes
pedagógicas dos CEAs. Entendemos e consideramos como “pedagógicas”, pois são essas as
pessoas que elaboram, refletem e avaliam as propostas e atuações da Educação Ambiental
realizada pelos CEAs e que esta é a ciência que estuda o ensino/aprendizagem.
Vasconcelos (2002) tece a urdidura nas tramas da pesquisa interdisciplinar,
concordamos com Aguilar & Ander Egg, quando apresenta a avaliação como uma forma de
18
Entendo aqui como ciência campo de estudo, de pesquisa de determinada área ou conhecimento ou
relações, utilizado no plural, pois se entende que a mesma envolve várias ciências e especificidades.
50
pesquisa social aplicada, sistemática, planejada e dirigida: destinada a identificar, obter
e proporcionar de maneira válida e confiável, dados e informações relevantes para apoiar
um juízo sobre o mérito e o valor de diferentes componentes de um programa (tanto na fase
de diagnóstico, programação ou execução) ou atividades específicas que se realizam ou
foram realizadas ou realizar-se-ão, com o propósito de produzir efeitos e resultados
concretos, comprovando a extensão e o grau dessas conquistas, que sirva de base ou guia
para a decisão racional e inteligente ou para solucionar problemas e promover o
conhecimento e a compreensão dos fatores associados ao eixo ou ao fracasso de seus
resultados.
O método diagnóstico avaliativo, segundo Sato (2001, p. 24-35) “... é uma
verificação dos processos desenvolvidos com seus resultados, na qual permite novas
orientações das ações para superação dos limites visando à manutenção das
potencialidades”.
O contexto político desta pesquisa exigia uma metodologia diagnóstica
avaliativa, que compreendesse um panorama geral das ações dos Centros de EA em MT.
Entretanto, para além desta compreensão inicial, a pesquisa exigia um arcabouço
interpretativo, além do simples estado da arte. Neste contexto recorremos à fenomenologia
para nos conduzir aos nossos próprios olhares. Reconhecemos, assim, que nossas
percepções não foram neutras, nem despidas de valores políticos. Nossos olhares se cruzam
e foram tecidos com novos olhares dos sujeitos entrevistados.
A fenomenologia possibilitou-nos o trabalho científico (pensado), o mundo
cotidiano (a cultura), chamando o conceito e o concreto para um diagnóstico que considere
questões subjetivas, considerando o que está explícito, registrado, identificado, fotografado,
lido e a leitura do que está camuflado, dimensionado simbolicamente, consideramos a
dimensão intra-subjetiva e a ação complexa da pesquisa participativa.
Entendemos como participativa, nas referências de Freire, como abordado
anteriormente. Como “Bugra Pantaneira” e pesquisadora, de identidades e histórias
relacionadas ao Pantanal, pesquisamos, atuamos neste espaço, onde somos sujeitas no
mesmo, interagimos sem estranhamento e cada vez mais com encantamento, por isso a
primeira pessoa do singular torna-se a primeira do plural.
Este trabalho baseia-se na abordagem fenomenológica de Merleau-Ponty
51
(1994) que aborda ser inconcebível a relação de causalidade entre o sujeito e seu corpo,
seu mundo e sua sociedade. Ao considerar o sujeito no mundo, como corpo no mundo -
corpo que sente, que sabe, que compreende - Merleau Ponty assinala a importância de
voltar-se para a experiência original que é pré-consciente, pré-emocional, pré-categorial.
Afirma que a experiência perceptiva e a síntese perceptiva se dão no saber que é corpo.
Nesse sentido diz-se que as coisas "se pensam" em cada sujeito porque não é saber
intelectual, referenciando ao funcionamento de um sistema, mas sim do pensar a si mesmo
ao perceber o objeto, o contato com o objeto leva-o ao contato cósmico consigo mesmo.
Falarmos da percepção é falar do corpo, pois o corpo é mais que um
instrumento geral da compreensão, pelo menos em relação ao mundo percebido e assinala
que o corpo tem seu mundo e compreende-o sem passar necessariamente por
representações, ou subordinar-se a uma função simbólica ou objetiva.
A percepção surge da relação dinâmica do corpo no mundo e não da
associação que vem dos órgãos dos sentidos. O corpo é uma totalidade, nas estruturas de
relações com o seu redor, como fonte de sentidos, o sujeito da percepção é visto como
corpo, não como consciência
19
. "O movimento não é o pensamento de um movimento, e o
espaço não é um espaço pensado ou representado". (MERLEAU - PONTY 1994, p.192).
Concordamos ainda que "não estou no espaço e no tempo, não penso o espaço e o tempo;
eu sou no espaço e no tempo, meu corpo aplica-se a eles e os abarca" (MERLEAU
PONTY, 1999, p. 195), em vez registrar o corpo está no espaço.
"O corpo é eminentemente um espaço expressivo... não é apenas um espaço
expressivo entre todos os outros... é a origem de todos os outros o próprio
momento de expressão, aquilo que projeta as significações no exterior dando-lhes
um lugar, aquilo que faz que comecem a existir como coisas... o corpo é o nosso
meio geral de ter um mundo" (MERLEAU-PONTY, 1994, p. 202-203).
Consideramos todas as informações apreendidas, bem como consideramos
que esta é realizada por um filtro que é olhar das pesquisadoras, que trazem, e projetam
significações na própria interpretação das projeções, percepções apresentadas pelos sujeitos
que interagem no Pantanal Mato-Grossense por meio dos CEAs com a Educação
Ambiental.
Como apresentamos, esta pesquisa foi delimitada aos CEAs que atuam no
19
Na concepção fenomenológica de Merleau-Ponty vai evoluir até o que se pode diferenciar uma metodologia
do ser selvagem, onde toda a separação na distinção entre mundo-eu-outro pensado e vivido. Esvaece a
dualidade entre representação e vivência. A viagem já é corporal.
52
Pantanal Mato-grossense, no intuito de identificarmos quem está atuando neste espaço
com propostas de EA, como se relaciona com este, como enxerga e que rastros tem deixado
nesta terra.
Para tal levantamos por meio de perguntas diretas quais os Centros, núcleos,
entidades que trabalhavam com a educação ambiental, as várias pessoas envolvidas com a
Educação Ambiental no Estado, do Grupo Pesquisador em Educação Ambiental e aos
entrevistados durante o percurso da construção desta dissertação.
Muitas foram as indicações de empresas como Eletronorte, Bong alimentos,
Centrais Elétricas Mato-Grossenses S.A-CEMAT, água mineral puríssima, ONGs como a
Ecotrópica, grupos como Movimento Sem Terra, diversas universidades como a
Universidade do Estado de Mato Grosso - UNEMAT, Faculdades Unidas de Várzea
Grande - UNIVAG, Universidade de Cuiabá - UNIC dentre outras, porém pode se perceber
conforme aconteciam os contatos, agendamentos para as entrevistas, ou durante a mesma
que o perfil destas não se encaixavam nos recortes que a pesquisa se propunha, tais como o
de atuar no Pantanal, possuir um grupo de pessoas que proponham e realizem a educação
ambiental entre outros.
Os CEAs pesquisados possibilitam por sua vez a percepção do contexto de
forma generalizada, visto que os mesmos atuam no Pantanal em diversas áreas, sendo os
que melhor apresentaram as condições, equipamentos, pré-estipulados, descritas
anteriormente nas especificações necessárias par um CEA e sendo estes os desvelados no
decorrer desta pesquisa.
Foram realizadas entrevistas junto ao GPEA e no lançamento do Programa
de Formação de Educadores Ambientais no estado de Mato Grosso, na sede da Associação
dos Municípios do Mato Grosso (AMM), em Cuiabá-MT, realizada em 18 à 20/06/2005,
onde se realizou uma enquête no intuito de captar a informação de quais eram as
instituições que possuíam iniciativas de trabalhar com a EA no Pantanal. Como resultados
foram essas as instituições citadas.
Existem ainda as exceções de CEAs que apareceram durante a pesquisa,
porém como a mesma estava nas interpretações optou-se em comentá-las, apresentá-las
adiante quando lançamos os olhares com o filtro, lente da fenomenologia.
Fez-se então um levantamento de seus equipamentos, do sujeito atuante na
53
equipe pedagógica destas iniciativas, dos espaços existentes, da percepção de ambiente
e outros aspectos relevantes a esta pesquisa, para posteriormente realizar um paralelo com
as percepções dos freqüentadores do SESC Arsenal.
Na primeira etapa, com um integrante do grupo técnico-pedagógico-
administrativo do que se percebeu como Centros de Educação Ambiental atuantes no
Pantanal, temos:
FEMA
20
,E. C.; IBAMA, A. D.; ONG IESCPAN, C. R. A.; SEDUC, D. E. P.; SESC
ARSENAL, D. B. e SESC PANTANAL, M. L. R. Entendemos e aqui os consideramos
como sujeitos, que dentro da especificidade da área do conhecimento Educação
Ambiental, os mesmo são protagonistas e de acordo com as bases teóricas desta pesquisa,
bem como a sua execução, os entrevistados podem assim ser tratados visto que além dos
dados quantitativos as entrevistas foram realizadas de forma a valorizar e buscar apreender
as percepções destes que são sujeitos na equipe técnica pedagógica administrativa dos
CEAs aqui pesquisados, bem como, assim optou-se por ser.
“O fato de me perceber no mundo com o mundo e com os outros me põe numa
posição em face do mundo que não é de quem nada tem a ver com ele. Afinal
minha presença no mundo não é a de quem a ele se adapta, mas a de quem nele se
insere. È a posição de quem luta para não ser apenas objeto, mas sujeito também da
história”. (FREIRE, 1996, p. 54)
Para tal, no roteiro das entrevistas utilizamos perguntas como:
Pode me dizer o que é Educação Ambiental para você? Exemplifique
uma experiência?
O que é meio ambiente para você? O que significa este espaço (da
empresa, do CEA) para você?
Na sua percepção qual é o forte deste Centro de Educação Ambiental?
pessoas que separam cultura de natureza, outras não. Qual sua
opinião sobre o assunto? Explique.
Cite exemplo de algum hábito cultural na sua vida? Ele possui relação
ambiental?
Com referência ao que tratamos, CEA, cultura, meio ambiente e EA, o
20
Atual SEMA, porém aqui citada como FEMA, pois na época da realização da entrevista a mesma assim era
denominada.
54
que acha que pode mudar?
Quando nos referimos a algum local na promoção da Educação
Ambiental podemos incluir o SESC Arsenal? Justifique?
As perguntas não se limitaram a estas, sempre que a temática ou as
informações se apresentavam interessantes e complementares à pesquisa e houve a
necessidade de aprofundá-las assim foi realizado, tornando a entrevista semi estruturada.
Sempre que se percebeu que uma das perguntas trouxe a resposta de outra, a que foi
respondida antecipadamente era descartada.
A segunda fase desta pesquisa foi realizada junto aos freqüentadores do
SESC Arsenal, para servir de base de comparação na avaliação diagnóstica que aqui
evidenciamos. Buscamos nestes sujeitos o diferencial que a cultura proporciona com
relação à percepção do ambiente e do universo que esta pesquisa estuda os significados do
espaço do SESC Arsenal enquanto CEA dentre outros aspectos relevantes a proposta desta
pesquisa. Os entrevistados serão aqui apresentados com as iniciais de seus nomes, tentando
assim preserva-los: 1- W. A. A.; 2- W. G.; 3- M. B. S. O.; 4- M. G. C.; 5- G. A. e 6- L. B.
Essas pessoas forma escolhidas aleatoriamente, sem um critério específico
de seleção, de acordo com a disponibilidade e colaboração dos mesmos. Nas mesmas bases
anteriormente justificadas pela opção de registrar as iniciais dos nomes dos entrevistados
aqui também o fazemos e aprofundamos nossa fundamentação:
“Educador e educado (liderança e massa), co-intencionados à realidade, se
encontram numa tarefa em que ambos são sujeitos no ato, não de desvelá-la e
assim criticamente conhecê-la, mas também no de recriar este conhecimento
(FREIRE, 1983, p. 61).
São sujeitos também, pois, segundo Freire (1983, p. 60) o caminho tem de
ser humanizado, de relação dialógica e não de tratamento ou “mantendo-os como quase
coisas”, como se refere às lideranças revolucionárias ao tratar com os oprimidos, quando os
mesmo se sobrepõem a estes.
Quando o mesmo nos convida a ter responsabilidade à “liberdade não
para comer, mas liberdade para criar construir, para admirar e aventurar-se. Tal liberdade
requer que o indivíduo seja ativo e responsável, não um escravo nem uma peça bem
alimentada da máquina” (FREIRE, 1983, p. 59).
55
É criar condições, é dar audiência às vozes, é assumir-se enquanto seres
humanos, incertos, imperfeitos e em construção. É arriscar-se na inter-relação com o outro.
É escutar a sua voz no outro e a do outro na sua, e ambas em movimento no meio.
“Assumir como ser social e histórico como ser pensante, comunicante,
transformador, criador, realizador de sonhos, capaz de ter raiva porque capaz de
amar. Assumir-se como sujeito porque capaz de reconhecer-se como objeto. A
assunção de nós mesmos não significa a exclusão dos outros. È a “outredade” do
“não eu”, ou do tu, que me faz assumir a radicalidade de meu eu(FERIRE, 1996,
p. 41).
Se a proposta, a pesquisa que aqui fizemos é com base na Educação
Ambiental e esta entendida como empoderadora, como propositora de participação
democrática, onde nós somos sujeitos desta pesquisa com referências fenomenológicas,
entendemos que a mesma para ser coerente só pode dar voz ao sujeito que tem nome.
Quanto a estas entrevistas, a metodologia como será apresentada foi
diferenciada da realizada com o grupo anterior, porém tem as mesmas abordagens. Nestas,
desvela-se à importância da cultura como terreno fértil para evidenciar que a mesma pode
fazer brotar a EA, alimentar os desejos de transformação social, ser um habitat da utopia de
promover a construção dos sujeitos na sensibilidade para as coisas do meio ambiente, do
meio, das relações, efetivando assim a equidade social e justiça ambiental.
mencionamos que como estratégia de estimular essas percepções,
utilizamos imagens de quadros de pintores Mato-grossenses que para nós remetesse uma
concepção de ambiente. As imagens selecionadas representam para nós pesquisadoras as
percepções de meio ambiente que serão apresentadas de forma mais detalhadas, porém é
importante registrar que não bastou ou se considerou apenas a identificação com a imagem,
mas buscamos por meio da entrevista, do diálogo o que a mesma invocava no sujeito
entrevistado, ou seja, sendo válida a interpretação do mesmo e não o que a imagem pudesse
vir a representar enquanto matriz de re-interação do idêntico para todos.
Compreender os papéis que atuam e representam nesses espaços, bem como
as percepções que os sujeitos entrevistados possuem destes espaços é o que se propôs, na
construção de uma avaliação diagnóstica, que teve por finalidade convidar para uma
reflexão sobre as percepções e conseqüentemente as práticas que estão realizando em nome
da Educação Ambiental.
A metodologia foi aprimorada, modificada, pois o processo assim o foi, a
56
construção da mesma. Como a água nos encanta e desafia na transparência de suas
essências, que com o brilho do sol a magia multicolorida e sacia a sede, assim foi a ação
da pesquisa, da metodologia e da sua execução, junto às orientações.
Como uma nova ferramenta de interação, um novo filtro, que realça a beleza
cênica do cenário registrado, no caso que instiga o aflorar dos sentimentos, dos sujeitos
enquanto tal. Como um descobrir, ou estabelecer um código de acesso, de comunicação
com a essência daqueles que não são mais objeto de estudo, mas quem a letra para a
música, dá as informações que servem de base para os tons, ou melhor, as notas que aqui se
compõem, que no sentido de Merleau-Ponty, é o que dá pigmento à cor.
Como no perceber o Pantanal, interagir com ele, no início se faz com os
olhos, mais aguçados, sensíveis e trabalhados na nossa cultura, mesmo assim carente de
exercícios para poder enxergar nas longas distâncias, no horizonte e os animais entre as
árvores, nos capões (moitas); posteriormente, aos pouco, os demais sentidos são aguçados,
instigados, conquistados, seduzidos a novas percepções. A percepção se reacorda, reeduca,
e se refina.
Sensíveis, escutam e diferenciam os cantos dos pássaros, percebem os
cheiros da chuva, do cervo, das diferentes das plantas, seus diferentes verdes, suas
estruturas e grupos, num despertar de um novo perceber, e comunica com esse novo
código. Assim se deu a utilização das imagens, um valsar ao som da polca, o deslizar e
deixar seduzir-se pelo desvelar-se das possibilidades. O estranhamento existiu, mas o
exercício nos envolveu, fazendo menor este e maior a intensidade da sedução da pesquisa.
As imagens proporcionaram um trabalho mais complexo, no sentido de
transitar nas referências de forma suave, pois possibilitou com que os sujeitos se
mostrassem em seus pensamentos, fizessem seus devaneios, construções, desconstruções e
re-significando-se na reflexão e descrição da sua identidade com aquela imagem.
Confirmamos com isso a citação de BERGER, (1986, p. 68), houve a re-
significação da sua realidade cotidiana, da história quando a relembra, provocando nos
sujeitos o refletir sua compreensão de mundo, de sua atuação, presença e interação com ele,
a reconstrução de acordo com as idéias sobre o que é e o que não é importante.
A parte metodológica de uma pesquisa acadêmica parece ser um dos difíceis
caminhos a serem trilhados. Enquanto “Bugra Pantaneira” poderíamos afirmar que é uma
57
pesquisa de cunho etnográfico, desvelando significados e sentidos cotidianos de uma
vida no Pantanal. Certamente, assim posto, a pesquisa poderia ser participante, que não
retira o próprio olhar de quem está amarrada nas identidades dos sujeitos pesquisados.
Poderiamos tratar apenas como fenomenologia, uma vez que esta resguarda
os olhares aqui apresentados acerca dos CEAs. Neste hibridismo metodológico, optamos
pela pesquisa avaliativa fenomenológica, por aceitar que ela poderia abranger demais
aspectos. Como táticas desta “construção-desconstrução-reconstrução” foram parte
intrínseca desta investigação:
- Memória bibliográfica na identidade pessoal.
- Pesquisa bibliográfica no vasto contexto da EA.
- Diagnóstico avaliativo sobre CEA, com foco no Pantanal.
- Entrevistas com duas populações diferenciadas:
a) Os “tomadores de decisão” ou aqueles responsáveis pelas estruturas
educadoras.
b) Os “usuários” destas estruturas, com único foco no S. Arsenal como
representativo do objeto da pesquisa.
Do ponto de vista da relação pesquisador - pesquisado, a situação de
entrevista consiste exatamente no estabelecimento de uma relação implicada que se torna
condição para a construção do testemunho, de acordo com Augras (1998). Salientamos que,
segundo a perspectiva fenomenológica, buscamos privilegiar a descrição da experiência e
não oferecer uma opinião verdadeira sobre o assunto.
Na interpretação, baseamos em Geertz (1989, p. 27) quando aborda a
necessidade do cuidado com os extremismos ao se trabalhar a noção do ser humano,
tomando cuidado para não vê-lo como dissociado de seus costumes e ao mesmo tempo não
vê-lo como mero resultado do mesmo, pois vê-lo, compreende-lo se faz na sua totalidade.
As figuras 1-12 são imagens apresentadas aos freqüentadores do S. Arsenal,
onde os mesmos foram questionados sobre qual a imagem que melhor representava o meio
ambiente para o mesmo.
Cumpre ressaltarmos que as imagens são nossas representações próprias,
apoiadas pela cartografia identificada por Sauvé (1996) comprovado por Sato (1997). Não
nos dispomos de nossos valores e assumimos nossa tendência pré-oferecida aos nossos
58
entrevistados. Todavia, a entrevista foi semi-estruturada e permitiu que novos olhares
ou representações fossem lançados nas narrativas e percepções de cada sujeito.
A idéia não foi categorizar e absolutamente esteve distante das tradicionais
gavetas empilhadas separadamente no cartesianismo das representações sociais.
Reforçando o significado participativo de quem ousa se aventurar numa pesquisa,
acreditamos que nossos valores também são essenciais no caminhar investigativo.
Portanto, estamos cientes que uma compreensão dialética de todos os
sujeitos envolvidos (entrevistados e entrevistadores) que permite um vôo vertical da saída
labiríntica; abrindo asas na abertura da própria fenomenologia em situar o eu
(pesquisadora) o outro (pesquisado) e nossa relação com o mundo.
O tipo de relato privilegiado durante a realização das entrevistas foi o
depoimento. Refere segundo Queiroz (1988, p. 21), ao “relato de algo que o informante
presenciou, experimentou, ou de alguma forma conheceu, podendo assim certificar”. Nesse
sentido, os depoimentos nos ajudaram a focalizar, durante a realização das entrevistas, a
percepção que o sujeito tem do meio ambiente sua relação com a cultura, com o seu
histórico de vida, das experiências, vividas, bem como sua percepção quanto ao espaço do
SESC Arsenal enquanto promotor de EA.
A pesquisa constituiu-se desta forma, com três bases, questionário,
entrevista com o representante da equipe técnica pedagógica dos CEAs, e com os
freqüentadores do S. ARSENAL, pois assim percebemos o contexto que as pesquisas em
EA e com referências aos equipamentos, CEAs vêem se construindo.
Fig.1- Esta imagem é de Jonas Barros, Piraputanga, aqui
percebida e representada como abordagem naturalista, que
percebe o meio ambiente como natureza, local para ser
apreciado e preservado.
Fig.2- De Rondinelli, Espectro Solar, sugere o meio ambiente
enquanto visão científica, a ciência é a responsável por desvelar
59
o meio ambiente de forma racional, metódica que tem que ser verdadeira e comprovada
por meio de determinada ciência.
Fig.3- Fonte da Secretaria de Turismo de Mato Grosso, de Rozonsales, selecionada como
referencia da percepção da visão sistêmica, forma de perceber o ambiente no
complexo, abordagem de sistema, tudo interligado na cartografia que se auto-
organiza para as necessidades que surgem.
Fig.4- De Vitória Basaia, Tartaruga Mundo, a mesma aqui tem por finalidade representar
a percepção de meio ambiente enquanto uma visão planetária, ou seja, a interpretação do
mesmo, ou leitura enquanto um conjunto de planetas.
Fig.5- De Ellem Assad, Comitiva, representa a percepção de
ambiente enquanto recurso, uma visão utilitária do mesmo, onde
este serve como meio de retirada de matéria prima, sendo visto
como fornecedor de recursos.
Fig.6- De J. Antonio Silva,
Queimada, objetiva representar aqui a percepção de
ambiente enquanto problema, que deve ser resolvido, ou
seja, o ambiente é visto como desafio a ser corrigido.
Fig.7- De Almira Router, Ponte sobre o rio Cuiabá,
relacionada aqui à percepção desenvolvimentista, onde apresenta
o aspecto de desenvolvimento, o progresso, a ponte une o
ambiente e o crescimento econômico que modifica o espaço.
60
Fig. 7 Fig. 9Fig. 10 Fig. 12
Fig.8- De Gervana de Paula, Mimoso, sugere o biorregionalismo, retrata as características
da questão biológica da região, como o ser humano se relaciona com as características deste
local.
Fig.9- De Ivete Perón, São Gonçalo, a imagem invoca aqui o
etnografismo, iconologia dos seus sujeitos para representar uma
realidade de uma comunidade ou um conhecimento através de
seus símbolos.
Fig.10- De Gervane de Paula, Ano Internacional da Criança,
quer representar a visão participativa, o ambiente é feito na
participação com outras pessoas, na interação dos seres humanos
com o meio ambiente e entre os mesmos.
Fig.11- De Vitória Basaia, Senhora do Rio Cuiabá, percepção
espiritualizada, entendimento da origem do meio ambiente de
Deus e da presença Dele na inter-relação com o mesmo, sai do
plano físico perceptível para desvelar-se em ações de Deus.
Fig.12- De Bea, Mulher e Paixão, refere a percepção eco-
feminista, que contrapõe a racionalidade atual do capitalismo e
das relações de poder masculinas, de devastação e exploração,
exigindo novas relações entre as pessoas, considera a intuição nas
mesmas, resgata o princípio do cuidado.
61
V MATAS
No grande futuro,
não sei o que seja,
acho que o homem
vai pedir pelo amor de Deus
para conhecer uma árvore,
um passarinho, um cavalo.
Tenho medo que a ciência
acabe com os cavalos,
com a luz natural,
com as fontes do ser.
Aquela liberdade
que o homem tem
de se sentir livre
para o silêncio das árvores
não vai ter mais.
O idioma não vai servir mais para celebrar.
O ser não vai mais comungar com as coisas.
A imaginação não vai mais desabrochar,
62
Porque os nossos desejos e fantasias serão realizados.
O mundo vai ter outro cheiro.
Salvo não seja.
MANOEL DE BARROS
DESENHO VII – Gênesis, Machado, 2006.
O Pantanal possui em sua composição diversas matas, matas ciliares, matas
arbóreas densa, e assim segue na sua complexidade e composição enquanto ecótono. Onde
cada qual tem as suas especificidades que por sua vez as tornam diferentes e ricas em
diversidades. O adentrar nas matas também tem um ritmo próprio, de acordo com os
obstáculos que as mesmas nos colocam como a própria densidade destas matas, as
populações e relações ali estabelecidas.
Exemplificando melhor, é como tentar passar por uma população de
gravatas
21
, ou de cipós emaranhados, será mais lento e difícil do que percorrer nas trilhas
dos animais em uma floresta alta e menos densa. Assim também foram as entrevistas, os
preenchimentos dos questionários, o trabalhar a tabulação dos dados e interpretá-los.
Seis foram os CEAs escolhidos como referência nesta pesquisa, como
abordado no capitulo IV O PERCURSO DAS ÁGUAS. Apresentamos abaixo as
referências dos CEAs pesquisados segundo a organização do questionário aplicado, e na
seleção de informação que percebemos de importância no contexto desta pesquisa e neste
momento.
A opção por este CEAs se deu por serem os mesmos os mais atuantes no
Pantanal, por serem estes representantes das iniciativas diversas junto à EA. Em especial se
optou como foco deste trabalho o S. Arsenal por perceber o mesmo como propulsor da
cultura Pantaneira. O S. Arsenal, que por sua vez será mais detalhadamente apresentado,
tem o objetivo, proporcionar ao público principal, comerciários, mas não a este, o
21
MICHAELIS (1998, p. 1052) “Nome comum a várias plantas, epífitas ou terrestres, ornamentais de da
família das bromeliáceas, pertencentes a diferentes gêneros, todas encontradas nas zonas tropicais da
América”...
63
envolvimento na área de saúde, esporte, lazer e cultura. Por sua vez a cultura é que tem
suas principais ações.
Proporciona a apresentação de shows, espetáculos de cinema, teatro, dança e
músicas vindas de outros estados brasileiros, como também promove a apresentação de
grupos, artistas locais, por sua vez prioridade a esses que são menos conhecidos e
divulgados na imprensa, mas que trazem nos respectivos trabalhos estudos e representações
da cultura Mato-grossense em específico a cultura Pantaneira.
Percebemos o mesmo como promotor da cultura, como sensibilização para
as questões ambientais, ou promotor da EA, que proporciona o trabalho em conjunto da
população local por meio da divulgação dos seus produtos e expressões no “Bolicho
22
nas
quintas-feiras e demais apresentações de danças, versos, quadros de artistas locais.
Dos seis entrevistados, representantes e integrantes da equipe técnica-
pedagógica-administrativa dos CEAs atuantes no Pantanal pesquisados, três consideram-se
educadores ambientais, dois consideram-se educadores ambientais especialistas e
pesquisadores, entendido aqui como especialistas e pesquisadores as pessoas com titulação
acadêmica em nível de graduação ou pós-graduação e/ou autor(a) de publicações de
trabalhos sobre EA, e um considera-se Pesquisador musical, o que poderia nos levar a
desconsiderar tal posicionamento, porém considerando que são sujeitos e que a música é
cultura e meio de sensibilização, aqui se faz o registro desta especificidade.
Podemos perceber durante as entrevistas que os sujeitos das equipes
técnicas- pedagógico-administrativas expressavam um certo receio ou dificuldade de
responder algumas questões, talvez pela falta de conhecimento destas, o que mostra um
trabalho fragmentado da equipe, ou podemos supor que não se tem a percepção dos
objetivos e essência, foco, missão da instituição quanto a EA, ou pela ausência do Projeto
Político Pedagógico, ou ainda pela forma que a mesma foi elaborada, ou proposta.
22
Nome dado ao estabelecimento que comercializava diferentes produtos, apropriado pelo s. Arcenal ao
espaço aberto para a comercialização dos produtos artesanais de grupos e artesões de Cuiabá- MT.
64
TABELA 1 DADOS DAS INSTITUIÇÔES
NOME Gestão Procedência dos
Recursos Financeiros
Carga horária
semanas
Trabalha nos
fim de semana
Meses que
trabalha no ano
S.Pantanal 3º setor: ONGs/ Associações/
Fundações
Privada, pública Mais de 40 horas Sim Todos
SEDUC Pública: Governo Municipal/
Estadual/ Federal
Pública Mais de 40 Horas Não Todos
SEMA Pública: Governo Municipal/
Estadual/ Federal
Mista(Privada, pública),
Projetos, patrocínios
Mais de 40 Horas Sim Todos
IBAMA Pública: Governo Municipal/
Estadual/ Federal
Pública 21 à 40 horas Não Todos
IESCPAN 3º setor: ONGs/ Associações/
Fundações
Pública Mais de 40 Horas Sim Todos
S. Arsenal Mista: 3º setor: ONGs/
Associações/ Fundações,
Pública, Privada
Pública e privada Mais de 40 horas
semanais
Sim Todos
Quanto ao Caráter da Gestão e da procedência dos Recursos financeiros, notamos que são várias as gestões, mas ao referir-
se a proveniência do recurso todos possuem a colaboração pública, o que nos leva a refletir e constatar a participação pública nas iniciativas
e propostas de EA, onde a mesma é efetivada por meio de programas, projetos e parcerias.
Quanto ao horário de funcionamento apenas um trabalha de vinte e uma a quarenta horas semanais; cinco trabalham mais
de quarenta horas semanais, destes quatro funcionam nos fins de semana e duas não. Todas funcionam em todos os meses do ano. Podendo
assim atender e elaborar propostas para atividades escolares, bem como, para a comunidade nos fins de semana e nos períodos das férias,
possibilitando atendimentos diversificados, outrossim, as diferentes necessidades de horários existentes de acordo com a necessidade local
de atuação deste CEAs. A disponibilidade do horário se também pelas atividades estanques que são propostas por estes CEAs, porém
são iniciativas viáveis e flexíveis.
48
TABELA 2 INFRA-ESTRUTURA E RECURSOS
NOME Edificação Áreas Disponíveis Recursos
S.Pantanal Nova Biblioteca, mirante, loja, trilhas, sala de
exposição, hortas e pomares, borboletário,
insetário, Formigueiro. Horta orgânica. Galpão
para compostagem, restaurante, área para
esporte e home teacher
Vídeo, TV Data show, Maquetes, Ranário,
Computador com acesso a banda Larga,
Aparelho de Som, Coleção de insetos, Jogos
Pedagógicos.
SEDUC Equipe itinerante Biblioteca e Hortas/ Pomares Computador, acesso à Internet: Banda Larga
SEMA Nova,
O edifício da estrada
parque necessita de obras
novas - ampliação
Mirante, Biblioteca Sala para Reuniões,
Viveiro de Mudas Sala de Exposições
Data Show, Vídeo, TV, Computador
Acesso à Internet por Conexão Dial-up, Jogos
Pedagógicos
IBAMA Adaptada sem necessidade
de obras em Cáceres e
adaptada com necessidade
de obras e ampliação em
Poconé
Salas para Reuniões Computador Acesso à Internet: Banda Larga
IESCPAN Não possui sede, é alugada Sala para Reuniões, Refeitório, Quiosques,
Sala de Exposições, Viveiro de Mudas,
Laboratórios parceria
Vídeo, TV, / Binóculos/ Lunetas
S. Arsenal Nova Sala para Oficinas/ Reuniões, Biblioteca,
Anfiteatro, Refeitório, Sala de Exposições,
Loja, Outros: salas de música, cinema, teatro e
sala de dança
Vídeo, TV, Retro-projetor, Aparelho de som,
Projetor de Slides, Data Show, Painéis
Expositivos, Computador, Acesso à Internet:
Conexão Dial-up, Banda Larga, Jogos
Pedagógicos, Maquetes
Quanto ao edifício (sede) dos CEAs, todas as instituições possuem um edifício sede, mesmo um destes CEAs considerando-
se itinerante, possui um lugar de atuação, de reunião, para o desenvolvimento das atividades da equipe, atuando em diferentes locais de
49
acordo com as parcerias estabelecidas, os projetos e processos executados. Porém
mesmo sendo uma iniciativa voltada à EA, onde o novo, a pesquisa deve estar integrada
ao processo, de acordo com as necessidades locais e com base no empoderamento, na
participação democrática e justiça ambiental, as sedes seguem as formas padrões de
construções, sem experiências ou tentativas de novas estruturas mais adequadas ao que
se propõem enquanto EA, outrossim, menos impactante ao meio ambiente.
Percebemos esta iniciativa apenas no S. Pantanal no intuito de atender a
demanda do Turismo Ecológico, limitando-se a este aspecto, sem estender esse
experimento às construções coletivas do entorno ou considerar as dos mesmos.
A estrutura física destes CEAs, ou iniciativas de propostas com Educação
Ambiental são bem estruturadas no sentido da existência de espaços específicos para a
Educação Ambiental. Os mesmos são compostos por recursos de tecnologias atuais o que
nos leva a perceber a preocupação com a diversidade de materiais disponíveis, bem como
nos apresenta a preocupação de estarem “atualizados”. Porem faz-se necessário à
inovação destas tecnologias em prol das comunidades do entorno, onde a pesquisa bem
como os laboratórios e as diversidades, culturais, animais e de iniciativas devem ser
garantidas nestes espaços.
“A transformação do mundo necessita tanto do sonho quanto a indispensável
autenticidade deste depende da lealdade de quem sonha às condições
históricas, materiais, aos níveis de desenvolvimento tecnológico, científico do
contexto do sonhador. Os sonhos são os projetos pelo qual se luta”. (FREIRE,
2000, p. 53)
Retratamos Paulo Freire, pois, entendemos que a EA, as tecnologias e as
iniciativas devem estar voltadas aos sonhos, impregnadas do mesmo. Assim devem ser
propostas e desafiadas as tecnologias. Os sonhos que devem ser bases para a educação, a
tecnologia, a construção da história e não o processo inverso onde a história e tecnologia
se constrói e reproduz na tentativa da permanência da desigualdade. Desigualdade esta
que não respeita a diversidade.
Percebemos também que o S. Pantanal é que possui maior quantidade de
áreas disponíveis, o que é propício já que possui maior área, considerando o mesmo como
RPPN, apesar de tê-la na sua concepção como área a ser preservada. Seguida pelo S.
Arsenal que tem uma área menor, porém maior quantidade de recursos materiais.
50
TABELA 3 ALCANCE
NOME Entorno Materiais produzidos. Intervenções são oferecidas
mais freqüentemente
S.Pantanal Rios/ Córregos, Lagos, Zona Rural, Unidade de
Conservação, Cidade/ Vila, Cerrado/ Savana e Pantanal
Panfletos, vídeos e folders Em mais de um dia
SEDUC UC, Cidade/ Vila,Cerrado/ Savana, Parques, Pantanal Em construção: livros, panfletos,
folders
Em ambos os casos, com
predomínio de mais de um dia
SEMA Cidade/ Vila, Montanha/ Serras, Rios/ Córregos,
Unidade de Conservação, Zona Rural, Parques e
Pantanal
Panfletos, Cartazes, CD-ROM,
Vídeos, jogos, Cartilhas e Folders
Em mais de um dia
IBAMA Pantanal, Cidade/ Vila, Florestas Plantadas, Parques,
Unidade de Conservação e Cerrado
Não Em um único dia
IESCPAN Rios, Córregos, Lagos, Zona Rural, UC
23
, Florestas
Nativas, Cidade, Vila, Cerrado, Parques, Pantanal
Livros, Vídeos e DVD Em um único dia
S. Arsenal Cidade/ Vila, Cerrado/ Savana e Pantanal Panfletos, vídeos, livros, cartazes,
folders, cartilhas, baners e jornais
Em um dia e em mais de um dia,
igualmente distribuído.
Todos consideram o Pantanal como seu entorno, o que mostra que este é considerado nas suas interelações com os
ecossistemas, mesmo diante da grande diversidade de possibilidades existentes. se encontram possui grande diversidade, com diferentes
possibilidades, tais como serrado, florestas e apesar de não nos referirmos ao tamanho deste espaço, da área , todos possuem a percepção da
proximidade do Pantanal, da inter-relação destes espaços, do CEAs pesquisados com o Pantanal.
Podemos observar que: a maioria das instituições entrevistadas encontra-se próxima as Unidades de Conservação, ao
ecossistema cerrado, que estão próximos a comunidades, o que proporciona uma proximidade dos mesmos, facilitando o acesso aos mesmos,
23
UC - Unidades de Conservação
51
além disso, possui outros entornos que facilitam a vivência em ambientes
“preservados” ou junto à natureza, trazendo à tona a corrente que aborda a necessidade de
propor a Educação Ambiental no “espaço natural”
24
, espaço conservado ou preservado,
junto à natureza.
Referindo-nos ao material produzido pelos CEAs, identifica-se que apenas
um, não produz material, podendo ser pela sua ênfase no caráter de fiscalização e não de EA,
que vem sendo construída de forma árdua, lenta e gradativa. Quanto aos demais se percebe
que a maior produção está em panfletos e vídeos, formatação bastante utilizada para a
divulgação das atividades e do próprio CEA, além de atender maior número de públicos e da
diversidade destes, porém não percebemos a diretriz dos CEAs, segundo o MEC (1988, p.9):
“Divulgar as ações de educação ambiental junto aos meios de comunicação”.
Quanto à duração das intervenções são oferecidas mais freqüentemente: é a
de durabilidade de um único dia, apenas dois dos CEAs oferecem essas atividades por mais
de um dia. aquele o que oferece por mais de um dia com continuidade da proposta,
porém sem necessariamente ser com o mesmo público, ou seja, sem a continuidade destes.
Existem atividades que são realizadas com continuidade pos mais de um dia como cursos e
oficinas.
A preocupação e ações estanques, dissociadas com projetos de longa
duração são formas de intervenções, porém não garantem uma continuidade do objetivo
proposto, considerando que as mesmas nem sempre se estendem, acabam, tanto no sentido
de tempo quanto no sentido de espaço e de sensibilização. Ou seja, causam efeitos
temporários nas pessoas, que sensibilizados pelas questões abordadas despendem uma
atenção maior ao assunto por um período, porém logo retornam aos hábitos e percepções
anteriores, considerando também que quando esses retornam aos seus locais de origem ou
de atuação nem sempre encontram as mesmas condições existentes e também por vezes
não se animam em criá-las.
Outra questão que a ausência de continuidade é limitante é quanto ao
processo de avaliação, ou seja, o mesmo não tem uma interpretação dos resultados. Essas
ações fragmentadas, junto com a avaliação nestes moldes limitam a produção de
referências e de conhecimentos, bem como a possibilidade de construção e
desenvolvimentos de propostas mais fecundas.
24
Espaços Naturais: é aqui entendido como espaços que possuem áreas verdes, onde a natureza está presente.
49
TABELA 4 PÚBLICO PARA QUEM O PROJETO E ATIVIDADES DESENVOLVIDADAS
Nome Educação
Escolarizada
Educação não escolarizada Segmentos Linha de Atuação
S.Pantanal Sim Ecoturismo Todos Manejo e conservação de áreas protegidas, Ecoturismo/
Trilhas, Desenvolvimento Sustentável, Recuperação de áreas
degradadas, Trabalho Social e Desenvolvimento Comunitário,
Trabalho Social e Desenvolvimento Comunitário, Arquitetura
ecológica, Energias Sustentáveis, Manifestações culturais
Gestão de resíduos, Saúde
SEDUC Sim Não Todos Acervo de materiais de educação ambiental, Agenda 21/
Diagnóstico local, Agroecologia/ Agricultura
sustentável/hortas,
Consumo e desperdício, Educação Ambiental para a Paz, Ética/
Estética/ Valores Ambientais e Manifestações culturais
SEMA Não Órgão governamental federal,
Órgão governamental estadual,
Órgão governamental
municipal, Ongs, Empresas,
Sindicato, Associação
Comunitária, Povos Indígenas e
populações tradicionais
Todos Desenvolvimento Sustentável, Manejo e conservação de áreas
protegidas, Gestão de resíduos, Manejo e conservação de
recursos hídricos, Produção de materiais didáticos, Políticas
públicas
IBAMA Não Associação Comunitária,
Movimento de Base
Adulto Acervo de materiais de educação ambiental, Consumo e
desperdício, Denúncia Ambiental, Ecoturismo/ Trilhas, Ética/
Estética/ Valores Ambientais, Educação Ambiental em
Espaços Naturais, Educação Ambiental em Espaços Naturais,
Educação Ambiental em Espaços Naturais, Exposições
Ambientais, Manejo e conservação de áreas protegidas,
Pesquisa em Educação Ambiental NEAS, Reflorestamento/
Plantio de árvores
50
IESCPAN Não Órgão governamental federal,
Órgão governamental estadual,
Órgão governamental,
Municipal, Ongs, Consultoria,
Sindicato FEMA, Associação
Comunitária, Povos Indígenas e
populações tradicionais:
Poconé, Barão do Melgaço,
Santo Antonio do Leverger, V
Grande, Cuiabá, Cáceres e
Movimento de Base
Todos Denúncia Ambiental,Ecoturismo/ Trilhas, Educação
Ambiental para a Paz, Ética/ Estética/ Valores Ambientais,
Auditoria Ambiental, Arquitetura ecológica,Agenda 21/
Diagnóstico local, Voluntariado Ambiental, Saneamento e
Políticas públicas
S. Arsenal Não Empresas, Sindicato,
Associação Comunitária,
populações tradicionais e
Movimento de Base
Todos Proteção do Patrimônio Cultural, Manifestações culturais,
ética, estética, valores ambientais
Redes, Políticas públicas e Trabalho Social e Desenvolvimento
Comunitário
Dos seis, cinco direcionam suas atividades para todos os segmentos, apenas um apresenta como público alvo apenas os
adultos, interpretamos como direcionamento, uma especialização, facilitando assim a atuação, a especificidade, o aprimoramento a este
segmento, porém como não existe um estudo mais aprofundado, avaliação voltada a esta especificidade, este diferencial de maior qualidade
para determinado segmento já que sua especialidade é esta não existe.
Na busca de tentar identificar a linhas de atuação destes CEAs foi solicitado, de acordo com a orientação do questionário da
RDECEAS, que os mesmos escolhessem no mínimo dez de quarenta e uma possibilidades. Os mais escolhidos foram: ética, estética
valores ambientais e políticas públicas quatro dos CEAs escolheram essas; com três escolheram manejo e conservação de áreas protegidas,
ecoturismo, manifestações culturais, três trabalhos sociais e desenvolvimento comunitário.
51
Considerando o contexto e as entrevistas realizadas junto ao
representante técnico-administrativo-pedagógico dos CEAs pesquisados, cabe-nos
refletir de que ética e valores ambientais estamos tratando, voltados para que interesses.
Aspectos mais aprofundados no decorrer da apresentação das entrevistas.
Outra questão a ser refletida é com relação à linha de atuação junto a
políticas públicas, ou seja, com que profundidade se discute as temáticas e ações que
promovem as políticas públicas, considerando que as interações e intervenções
propostas por este CEAs são na sua maioria de um dia e o mesmo referindo-se a ética,
estética, valores ambientais, com trabalhos sociais e desenvolvimento comunitário.
As opções por manejo e conservação de áreas protegidas, bem como o
ecoturismo, nos faz perceber que as atuações dos CEAs estão voltadas às questões
ambientais, em função do atendimento da demanda e referencias que são distantes da
realidade da população local, considerando que nem todos têm acesso ou oportunidade
de conhecer e nem de usufruir destes espaços ou atividade.
Podemos aqui observar que existe uma diversidade quanto ao público.
Porém existe uma divergência entre o que se propõem atender e o atendido. Podemos
observar que existe uma preocupação em atender a comunidade de forma geral, mas
apenas dois são voltados para iniciativas escolares. Quanto a esta questão percebemos
também que a SEDUC volta suas atividades para este público, põe no depoimento da
representante desta instituição percebemos a proposta e preocupação em partir
propostas efetivadas nestes espaços alcançar e proporcionar ações que
preferencialmente dêem continuidade na comunidade, como descrito com maior detalhe
nas entrevistas.
52
TABELA 5 PÚBLICOS ATENDIDOS
NOME Os três mais
freqüentadores
Procedência Como ficou sabendo Nº estimado por ano
S.Pantanal Turista, população local e
escolares 1º G.
Da cidade de fora da região,
mas do estado, de fora do
Brasil, de fora do município,
mas da região, de outro
estado, mas do Brasil.
Indicação de pessoas, amigos,
internet e mala direta,
5.001 a 10.000
SEDUC Escolares 1º G. e 2º G. e
professores
Da cidade, do fora do
município mas da região
Participou anteriormente de
atividades, indicação de pessoas,
amigos e internet.
5.001 a 10.000
SEMA População Local Do Estado Visita, jornal, Tv de acordo com
os programas específicos de
piracema e queimada.
20 a 30 mil nas
atividades propostas;
total mais de 30.000.
IBAMA Escolares 1º G e 2º G.,
setores profissionais:
professores, ribeirinhos e
ONG
Da cidade e fora da região
mas do Estado
Participou anteriormente de
outras atividades,
Até 5.000
IESCPAN Escolares de 1o G e 2o G,
universitários, população
local, turistas, grupo de
mulheres e donas de Casa.
Da cidade de fora da região,
mas do estado, de fora do
Brasil, de fora do município,
mas da região, de outro
estado, mas do Brasil
IBAMA e SEMA de 10.001 a 15.000
S. Arsenal Escolares (1º G), população
local e 3a idade.
Da cidade, fora da região,
mas do estado e de outro
estado, mas do Brasil
Através do jornal, da TV, mala
direta, através da rádio, contato
direto do próprio CEA.
Até 5000
53
Quanto à procedência do público comprovamos a diversidade da
procedência de público, que na sua maioria são brasileiros e da própria cidade, fato que
nos leva a perceber como ponto positivo, pois além de se estar divulgando e
promovendo Educação Ambiental junto à comunidade local, está realizando o mesmo
com aqueles que passam, que visitam estes espaços e seus entorno, criando com isso
uma possibilidade de diálogo sobre a importância da EA no contexto e realidade
pantaneira.
Referindo-nos ao número estimado de pessoas atendidas por ano
constatamos um total no mínimo de 60 mil pessoas. Considerado a declaração de que o
Parque Urbano Mãe Bonifácia recebe 4.000 pessoas por fim de semana, podemos
declarar que é um número bastante grande, porém inadequado para ser considerado
como pessoas beneficiárias das ações propostas de EA, que a maioria vai ao Parque
Mãe Bonifácia para outras ações que não são exatamente EA, tais como caminhadas,
atendimento de enfermeiros, mesmo este sendo um sensibilizador para as questões
ambientais, bem como atende a necessidade do seres humanos de estarem junto à
natureza e de promover a qualidade devida.
Percebemos que cada qual tem um número estimado de atendimento o
que mostra mais uma diversificação, já que comportam e exigem estruturas e
equipamentos, planejamentos diferenciados e assim deveriam se proceder quanto à
avaliação, trazendo um número mais próximo da realidade. A quantidade estimada é um
dado aproximado, pois alem deste fato existem alguns CEAs que desconsideraram
algumas atividades realizadas ou disponibilizadas.
Ao compararmos as referências dos três tipos de público mais
freqüentador com os que propõem atividades para a educação escolarizada, percebemos
que os mesmos atendem e consideram estes últimos como os mais freqüentador, porém
suas propostas não são voltadas para os mesmos, o que diagnosticamos como uma
discrepância entre o para quem se objetiva as atividades e o tipo de público atendido.
O que nos remete a questão da forma de divulgação que os CEAs vêm
utilizando, outrossim, a maneira, os meios de comunicações utilizados, a divulgação
não está adequada aos fins que se propõem alguns CEAs, ao público a que este objetiva
atender. Esta questão pode ser mais aprofundada com um sistema de avaliação
diagnóstica voltada especificadamente para esta questão.
54
O que queremos não é direcionar para uma limitação de
atendimento, de público ou de temáticas trabalhadas, mas perceber a coerência, da
intencionalidade das propostas, ações, que propicie a coerência na percepção que se
tem, das construções que se almejam, do sonho, da EA que se baseiam. Onde a prática e
a reflexão crítica destas questões nos levam a uma contínua pesquisa, a busca de
melhorar o eu, o outro e/ no mundo, que consideramos que as formas que
construímos essas relações devem ser refletidas para uma atuação ética, intencional
crítica e coerente, sem nos deixar levar pelas ideologias dominantes:
“A pressa estóica vem ao lado do processo lento de sermos protagonista da
história. É preciso ter paciência para não cair na armadilha do imediatismo
irresponsável” ( SATO, 2006, p. 1).
Ressaltarmos essa percepção e opção de estar e ser no mundo, nas nossas
relações entendendo que estes CEAs são, estruturas, equipamentos construídos no
intuito de atuar na EA, fazer do processo de aprendizagem, da educação uma
efetivação, reflexão e atuação neste campo híbrido que é a EA é considerar que “...
que a educação modela as almas e recria os corações, ela é a alavanca das mudanças
sociais” (FREIRE, 1997, p. 28).
Abordamos que os CEAs têm por fim ao menos propor a EA e atender
aos seus objetivos traçados quando as bases destes foram construídas:
“Adoção de propostas pedagógicas e metodológicas que efetivem o processo
educativo voltado para a promoção da identidade comunidade/ meio e para o
estimulo às interfaces institucionais e multidisciplinares, numa perspectiva de
integração entre o saber formal e o saber não formal” (MEC, 1988, p. 8).
Percebemos que as idéias e referências nas quais os CEAs foram
baseados nos trazem várias questões que nesta avaliação diagnóstica desvelam a
ausência do conhecimento destas, bem como nos desvela a necessidade de um Projeto
Político Pedagógico- PPP, que possibilita o planejamento das ações de forma coerente
com os objetivos, com a proposta de avaliação, com a temática trabalhada.
Entendemos como PPP:
“... um Projeto Político Pedagógico consiste na formulação e enunciação de
uma proposta educacional, de suas bases conceituais e políticas até a sua
operacionalização. Qualquer proposta pedagógica pressupõe um projeto de
sociedade, um projeto de ser humano”(MMA, 2005, p. 11).
55
TABELA 6 ATIVIDADES DESENVOLVIDAS
NOME Intervenções
mais freqüentes
Combinações mais
freqüentes
Temas trabalhados Pagamento das
atividades em Real
PP P
S.Pantanal Visitas orientadas,
Pesquisa, Trilhas e
vídeos
Visita orientadas +
trilhas; Visitas
orientadas + filmes
Meio Ambiente, natureza; água, rios; fogo,
incêndios; ecoturismo, lixo, reciclagem; e energias
alternativas
20 por pessoa por
dia
Não
SEDUC Palestras,
Oficinas, Cursos,
Exposições e
Pesquisa
Palestra + oficinas +
cursos
Meio Ambiente, natureza, água, rios; lixo,
reciclagem; biodiversidade; patrimônio histórico e
cultural; poluição, degradação; artesanato; áreas
degradadas; saneamento básico
Gratuita Não
SEMA Palestras, oficinas
e cursos
Palestra + oficina +
atividades lúdicas
Meio Ambiente e natureza; solo, erosão; água,
rios; fogo, incêndios; árvores; ecoturismo; lixo,
reciclagem; biodiversidade; patrimônio histórico e
cultural; agricultura, recuperação de Áreas
degradadas.
Gratuita Sim
IBAMA Palestras, oficinas
e exposições
Palestra + exposições Unidade de Conservação, Cidade/ Vila, Cerrado/
Savana, Florestas Plantadas, Parques, Pantanal
Gratuita Sim
IESCPAN Visitas orientadas,
palestras e
exposições
Palestra e trilha; visita,
palestra; oficina e
palestra
Meio ambiente, natureza; pecuária; solo, erosão,
água, rios, animais silvestres, fogo, incêndios,
árvores; ecoturismo; consumo; lixo, reciclagem,
biodiversidade; patrimônio histórico cultural,
energias, alternativas, poluição e degradação,
ambiente interpretativo da paisagem, artesanato,
plantas medicinais, áreas degradadas, saneamento
básico e apicultura
Gratuita Não
S. Arsenal Oficinas,
exposições,
Cursos
espetáculos + cursos+
oficinas e
Palestras + exposições
Pantanal, cidade, vila, cerrado e savana Espetáculos 5 à 10;
Cursos 40 a 80;
Oficinas 40 a 80
Sim
56
As atividades desenvolvidas, ou seja, as intervenções mais
freqüentes são os cursos, seguido pelas visitações aos CEAs, as palestras, oficinas e
posteriormente as exposições, pesquisas e trilhas. Ao questionar se existiam outras
atividades propostas com freqüência foram apresentados: os vídeos, teatros, atividades
lúdicas e espetáculos.
As combinações mais freqüentes das intervenções são: palestra + oficina;
seguidas de palestras + exposições + teatro + atividade lúdica, sendo as mesmas
combinações repetidas por dois CEAs. As demais combinações que seguem
apresentaram apenas uma vez: visita + trilhas; visitas + filmes; exposições + cursos +
oficinas; palestra + oficina + cursos; palestra + trilhas e visitas + palestras.
Podemos constatar a tendência para palestras no primeiro bloco e no
segundo visitas, que limita um pouco a diversidade de ações educativas mais
interativas, bem como a utilização da diversidade de equipamentos existentes nestes
CEAs. Outra constatação que temos é que estas formas são ações estanques que têm por
finalidade divulgar de formas diferenciada os próprios CEAs, considerando que são
ações sobre e na natureza, porém sem empoderamento, sem continuidade e na
constatação da ausência do PPP em algumas destas iniciativas nos remetem a
compreender as ações estanques desvinculadas de um planejamento a médio ou longo
prazo:
“Trata-se de uma dimensão que merece ser melhor discutida em virtude de
uma compreensão restrita que se verifica junto aos CEAs de modo Geral no
País. Entendemos por Projeto-Político-Pedagógico (PPP) não somente um
documento que agrupa uma série de planejamentos e de elementos relativos ao
CEA ( seu funcionamento, organização, sua missão), mas como sendo algo
mais profundo que um documento norteador do CEA. Encaramos como um
processo de permanente construção de tais questões que deva envolver todos
os membros da equipe e todos os atores e atrizes sociais com os quais o CEA
dialoga e se relaciona” (DEBONI, 2004, p. 36).
Quando questionados o porque não tinham os PPP, um dos
representantes do CEAs respondeu que era pela limitação de recursos humanos, visto
que o CEA é muito novo, outro abordou que não se faz necessário o projeto e, último
que o mesmo está sendo construído pois anteriormente “não se tinha pensado nisso”:
“A questão chave da dimensão do Projeto Político Pedagógico (PPP) reside no
fato de que muitos CEAs têm sido criados e até mesmo inaugurados sem
qualquer planejamento anterior. Trata-se de um ponto preocupante uma vez
que muitas iniciativas de CEAs no País sendo implementada sem a mínima
discussão de questões básicas...” (DEBONI, 2004, p. 22).
57
Ao abordar os temas trabalhados nos CEAs percebemos que as
temáticas são as que mais estão na moda, são as que mais proporcionam impacto no
trabalho com o mesmo, ou seja as que mais dão visualização como: água, lixo,
reciclagem, meio ambiente e natureza, fogo, incêndios dentre outros.
A forma de pagamento das atividades é em quatro destas instituições
totalmente gratuita, em outras duas é parcialmente gratuito, o que nos leva a perceber
que existe uma preocupação em tornar as atividades e equipamentos acessíveis à
comunidade em geral, nos demais os valores pagos pela visitação aproximam-se em de
R$ 20, 00 por pessoa, dia ou atividade.
Observamos que na maioria das iniciativas de EA, dos CEAs aqui
pesquisados, são subsidiados pelo poder público, o que deveria facilitar o acesso aos
mesmos. A distância, o valor dos transportes, a cobrança das atividades, bem como
diversas outras questões inviabilizam a visitação daqueles mais carentes, como escolas
públicas dentre outros, o que torna isso um fator de exclusão, uma forma de
classificação e seleção.
Mesmo com a necessidade de se gerir, de se subsidiar, existem formas e
planejamentos que possibilitam acesso das diferentes camadas com a mesma qualidade
e com as diferentes finalidades. O que deveria ser garantido já que essas instituições são
iniciativas de EA que possuem subsídios do poder público, ou recebem tratamentos
diferenciados e facilitados como no caso das Unidades de Conservação, outrossim, estas
deveriam elaborar propostas de sistemas de atendimento que visassem e atendessem
essas diferenças: “Implementar ações de educação ambiental enquanto apoio à
educação formal”.
O que nos faz refletir sobre a efetivação das fundamentações e diretrizes
dos CEAs, onde um de seus objetivos é:
“Apoiar iniciativas e experiências locais e regionais, incluindo a produção de
material instrucional sobre a Educação Ambiental, de modo a promove
soluções aos desafios ambientais da comunidade”(MEC, 1988, p. 9).
58
TABELA 7 PLANEJAMENTO
NOME Principais objetivos Formas de
avaliação
Motivos da não
existência
S.Pantanal Despertar e promover o interesse e a sensibilização para a questão
ambiental, reflexão crítica sobre os problemas ambientais atuais e
promover momento de descanso e lazer
Questionário,
Observação Direta
Reuniões da equipe
Está em processo de
elaboração de documentos
formalizadores de práticas
institucional na EA
SEDUC Difundir, transmitir informações, conhecimentos da área ambiental
Elaboração e execução de projetos e programas de E.A.
Formação de recursos humanos no campo da Educação Ambiental
Observação Direta
Reuniões da equipe
Não se pensou nisso
SEMA Difundir, transmitir informações, conhecimentos da área ambiental
Despertar e promover o interesse e a sensibilização para a questão
ambiental, Formação de recursos humanos no campo da Educação
Ambiental
Questionário
Reunião de avaliação
no fim do ano
IBAMA Elaboração e execução de projetos e programas de E.A.
Despertar e promover o interesse e a sensibilização para a questão
ambiental. Contribuir para a construção de sociedades sustentáveis
Reuniões da equipe,
Questionário e
Observação Direta
IESCPAN Difundir, transmitir informações,conhecimentos da área ambiental
Questionar e atuar politicamente, ideologicamente
Fomentar e desenvolver pesquisas no campo da E.A.
Observação Direta
Reuniões da equipe
Reuniões com o
público
imitação de recursos
humanos e CEA muito
novo
S. Arsenal Fomentar a revisão de valores e mudança de atitudes cotidianas
Contribuir para a construção de sociedades sustentáveis
Dinamização e Mobilização local comunitária
Questionar e atuar politicamente, ideologicamente
Desenvolvimento de atividades lúdicas e culturais
Observações diretas,
Questionário
e reuniões da equipe
59
Ao abordar sobre os principais objetivos do CEAs pesquisados são:
transmitir, informações, conhecimentos da área ambiental e despertar e promover o
interesse e a sensibilização para a questão ambiental, leva-nos a refletir na incoerência
das ações com os objetivos, que apenas um divulga suas ações pela Internet, o que
nos remete a um dos objetivos dos CEAs, segundo a estrutura e proposta inicial de
Centros, MEC (1988, p.8): “Divulgação de informações sobre as questões ambientais
através dos meios de comunicação, contribuindo para a formação de uma consciência
Crítica.”
Considerando as entrevistas e o diálogo estabelecido no decorrer do
preenchimento do questionário, percebemos que existem propostas contínuas de
projetos ou programas de EA, ou melhor, existem propostas e projetos, mas a maioria
possui ações estanques e limitadas, atendendo uma obrigatoriedade de calendário de
atividades.
Na seqüência de prioridade, dos objetivos temos: questionar e atuar
politicamente, ideologicamente; formação de recursos humanos no campo da Educação
Ambiental; elaboração e execução de projetos e programas de EA, seguidas de outras
que atendem a proposta do MEC (1988, p. 8), “Reflexão crítica sobre a questão
ambiental, de forma a rever a relação entre o homem (sic.
25
) natureza, considerando
uma reinterpretação global das relações sócio-econômicas, políticas e culturais e seus
impactos ambientais.” Cabe então a efetivação desta, a construção de condições que
proporcionem a efetivação da EA que compreendemos feita na coletividade de forma
crítica.
As formas de avaliação foram divididas em duas partes para melhor
visualizar a sua aplicabilidade uma quanto às atividades desenvolvidas onde as seis
instituições abordaram que realizam reuniões da equipe, cinco destas baseiam na
observação direta para fazer a avaliação, quatro utilizam um questionário, um
Entrevistas, uma usa reuniões com o público e uma faz o livro de registro dos visitantes
para algumas atividades.
Quanto à avaliação da própria instituição, cinco dos representantes dos
CEAs abordaram que fazem reuniões da equipe e reuniões com o público, quatro destes
utilizam também ou/e a observação direta, um utiliza o caderno de campo como
25
Aqui damos a preferência de tratar a espécie humana como seres humanas, fazemos o grifo pois
entendemos esta referencia como sexista.
60
referência de avaliação, questionários, livros de registro. Nenhum utiliza entrevistas
como registro e coleta de dados para a avaliação.
Constatamos de forma generalizada que existe uma carência muito
grande na construção e aplicação de um sistema de avaliação que atenda não a
necessidade de relatórios, prestação de contas ou quantificação de público atendido,
mas, da própria efetivação da EA, a questão qualitativa do que se propõem, bem como
tratar este como processo de construção onde a avaliação é essencial, como referência
para as novas ações, bem como, registro das construções e conquistas realizadas,
servindo de case e experiências para novas propostas.
A importância de um sistema de avaliação que seja condizente com os
objetivos e propostas da EA está em identificar como se da relação do eu, do outro com
o meio ambiente, como identificar os melhores procedimentos que possibilitem maiores
resultados, não como um mero produto ou metodologia a ser aplicada, reproduzida
como solução, cartilhas de EA, mas como subsídio de novas pesquisas, estudos que
direcionem, iluminem a trilha a ser usada, facilitando assim o alcance dos objetivos
propostos e minimizando os impactos neste terreno, que como o pantanal é sensível e
necessita de ser cuidado e não apenas explorados por turistas ou demais segmentos e
iniciativas que buscam apenas a sua exploração e não a integração respeitosa e ética
junto a este espaço e seus ocupantes.
Inconsistência, improvisos, estrangulamentos de ordem operacional,
inadequação entre objetivos, meio e instrumentos constituem um panorama funcional
que necessita reflexão.
61
TABELA 8 PERCEPÇÔES GERAIS
NOME Dificuldades Perspectivas para os próximos 5 anos Outros CEAs que
conhece
S.Pantanal Recursos humanos Qualificação da equipe de trabalho Maior
divulgação do CEA
institucionalização do atendimento as escolas
públicas
Ecotrópica
SEDUC limitação financeira limitação de infra-
estrutura e equipamentos ausência de
programa pedagógico
Elaboração e Implementação de Programa
Pedagógico Auto-suficiência financeira
Desenvolvimento de formas e agentes de
avaliação
AMBEV, reciclagem,
ELETRONORTE
CEMAT, IBAMA,
DETRAN e FAMATO
SEMA limitação financeira
limitação de infra-estrutura e equipamentos
ausência de programa pedagógico
Diversificação dos temas trabalhados
Fomento às parcerias e
intercâmbios
Ecotrópica
IBAMA limitação financeira,
limitação de infra-estrutura e equipamentos
ausência de programa pedagógico
Diversificação do tipo de público atendido
Fomento à parcerias e intercâmbios
Ampliação, qualificação da equipe de trabalho
Maior divulgação do CEA
ECOTRÓPICA e a RPPN
do Sesc
IESCPAN limitação financeira
e limitação de infra-estrutura e
equipamentos
Construção, ampliação da sede e dos espaços e
Elaboração e Implementação de Programa
Pedagógico Auto-suficiência financeira
Aderco - Horto florestal.
S. Arsenal limitação de recursos humanos e carência
de Público
Elaboração e Implementação de Programa
Pedagógico Auto-suficiência financeira
Diversificação do tipo de público atendido
Fomento à parcerias e intercâmbios
Ecotrópica, e Horto
Florestal
62
As principais dificuldades enfrentadas pelos CEAs apontadas pelos
representantes destes foram: limitações financeiras escolhidas por quatro destas,
limitação de recursos humanos por três, limitação de infra-estrutura e equipamentos
ausência de programa pedagógico por dois, programa pedagógico precisa ser revisto, re-
elaborado e um escolheu carência de público.
Quais as duas principais perspectivas para o CEA para os próximos
cinco anos, duas foram construção e ampliação da sede e dos espaços; diversificação
dos temas trabalhados; três optou por diversificação do tipo de público atendido,
fomento a parcerias e intercâmbios; dois escolheram ampliação e qualificação da equipe
de trabalho e maior divulgação do CEA, três selecionaram elaboração e implementação
de Programa Pedagógico e auto-suficiência financeira, um optou por desenvolvimento
de formas e agentes de avaliação e um escolheu outras especificando que necessitava de
institucionalização das visitas das escolas públicas.
Quando indagados sobre o conhecimento de outras instituições que
trabalhavam com a educação Ambiental os nomes citados foram: Ecotrópica, SESC
Pantanal, Fundação Carlos Chagas, Horto Florestal e ADERCO.
Todos consideraram que o questionário aplicado era bastante amplo e
voltado a Educação Ambiental, como dito por um dos entrevistados o questionário é
“bem criativo, com perguntas que abrange a instituições e envolve o meio ambiente”.
De uma forma generalizada podemos constatar que os CEAs estão bem
equipados e intencionados, alguns com suas estruturas e raio de ação bem definidas e
direcionadas, porém ainda muitos aspectos que devem ser construídos,
desenvolvidos e aprimorados para que atenda as especificações de um Centro de
Educação Ambiental, segundo o proposto pela REDECEAS, porém todos podem ser
dinamizados, aproveitados de forma mais intensa pela educação formal, pela
comunidade em geral.
Podem também criar coerência entre o público atendido e ao que se
propõem, ou por meio de ouvir aqueles que ali freqüentam, avaliando e construindo
sobre estas avaliações ou por meio de divulgação projetos e parcerias para atender o
público na qual se quer. Todos possuem condições de aprimorar nas suas
especificidades, porém é bastante interessante que se realize a troca de informações
entre os mesmos, bem como parcerias para atender objetivos afins.
63
Como no Pantanal as cordilheiras e os CEAs também se encontram,
estabelecem contatos entre e por meio das vazantes, interligam em pequenos espaços no
meio dos campos e por meio das águas que as abraçam, assim também os CEAs são
interligados por pequenas questões, projetos, intenções, problemas, por atividades afins,
tendo algumas atividades pontuais em parceria.
No cenário de hoje o que se propõe é que estes espaços cresçam,
dinamizem, e descentralizem suas iniciativas, iniciando, sendo desafiadas e apoiadas
nestes CEAs, mas que posteriormente continuem as suas construções nas comunidades.
Espaços comunitários, invadidos e ocupados por novas relações, ações, intenções,
envolvimentos, comunicações para que os mesmos, bem como os eixos de atuação, os
conceitos de Educação Ambiental, mesmo que ainda divergentes, conquiste e efetive nas
reflexões, o mesmo é o que se espera, busca e luta pelo/para o Pantanal.
64
VI AS CODILHEIRAS
A maior riqueza do homem
é sua incompletude.
Nesse ponto sou abastado.
Palavras que me aceitam como sou – eu não aceito.
Não agüento
ser um sujeito que abre portas,
que puxa válvulas,
que olha o relógio,
que compra pão às 6 horas da tarde,
que vai lá fora,
que aponta lápis,
que vê a uva, etc. etc.
Perdoai.
Mas eu preciso ser outros.
Eu penso renovar o homem usando borboletas.
Manoel de Barros
DESENHO VIII – Relações e Construções, Machado, 2004.
65
Como no Pantanal as cordilheiras se encontram e os CEAs,
estabelecem-se interfaces, vazantes interligam-se em pequenos espaços, assim também
os CEAs são interligados por atividades afins, tendo algumas atividades pontuais em
parceria, principalmente com a implantação do ProFEAP, porém ainda falta muita
comunicação para os mesmos, bem como os eixos de atuação, conceitos de Educação
Ambiental ainda são bastante divergentes.
No Pantanal temos cordilheiras, que são florestas típicas do local, tendo
em si diversas variedades e tipologias de acordo com as suas classificações de
populações, assim também percebemos os CEAs, pois como cada qual tem sua
tipologia, de acordo com sua proposta, estrutura física e outros.
Separados como as cordilheiras que se unem em pequenos pontos, como
os CEAs, estas, as cordilheiras, são também separadas pelas vazantes (campos por onde
correm as águas do Pantanal). No período das águas, na época da vazante (período que
as águas do pantanal descem em direção ao sul) os nutrientes se interagem, são trazidos
e levados pelas águas. Nas dinâmicas das águas estes fazem o seu diferencial,
movimentam a vida deste espaço, interagindo com os mesmos, assim são também os
CEAs mecanismos que dinamizam e interagem nos mesmos espaços, bem como, fazem
as inter-relações deste contexto, espaços promotores de integrações, atuam como
determinantes indiretos, e por vezes diretos da dinâmica complexa existente, tais como
as concepções que aqui propomos observar, identificar e avaliar.
No Pantanal água interliga as cordilheiras, alimenta essas cordilheiras
com componentes diversos, que também são variáveis de acordo com a própria
ocupação do espaço, pelas relações estipuladas no seu entorno, das populações ali
existentes influenciadas pelo ciclo do das águas e secas existentes, da temperatura, da
florada e vários outros aspectos, assim também são aqui percebidos os CEAs,
influenciados pelas percepções, pelas políticas públicas, pela cultura de quem atua no
mesmo, pelas relações que ali se estabelece, pelo próprio espaço de atuação, de
localização.
Sabemos que as iniciativas de empresas e empreendimentos atuantes
com o objetivo de promover, propor Educação Ambiental no Pantanal são maiores do
que as que estão aqui apresentadas, porém estas são as que mais adequadas no que é
considerado pela REDECEAS como CEAs e que efetivamente se mostraram ou foram
66
consideradas atuantes no Pantanal.
Buscamos aqui identificar as bases, as percepções dos sujeitos que atuam
e representam a equipe técnica administrativa pedagógica dos CEAs pesquisados.
Desvelamos, interpretamos, descrevemos a importância destas percepções junto às
ações de EA desenvolvidas no CEAs, bem como as questões culturais afloradas, de
grande significação para as relações existentes, bem como determinadas e
determinantes das mesmas:
“A utopia revela o local verdadeiro da felicidade do sujeito. Clama por uma
mudança para subverter a ordem criminosa social sustentada por poucos
privilegiados. Foucault (1983, p.4) reescreve a utopia, perspectivando-a num
território coletivo, onde a revolução possa ser concretizada e nomeia este
sonho intrigante como “heterotopia”. Foucault (1984) considerava a
possibilidade da existência de várias experiências na civilização humana que
formassem a resistência ao legado dominador. Tais experiências poderiam
habitar territórios absolutamente diferentes, tornando-se espelhos que poderiam
ser visíveis” (SATO & PASSOS, 2006 ).
As entrevistas aparecem divididas em cordilheiras com denominação das
plantas, árvores típicas do Pantanal, no intuito de referendá-lo, porém não existe uma
cordilheira com um tipo apenas de árvore, apesar de que, uma espécie se pode
apresentar em maior número em certo lugar, porém geralmente a mesma tem
intermediações com outras espécies.
Estabelecemos paralelos das percepções que se tem dos CEAs
apresentado nesta pesquisa, com a percepção que se tem de determinadas espécies de
árvores que existem neste ecótono, no intuito de mostrar algumas percepções
generalizadas das relações que se estabelecem. Apresentando o CEA em questão no
contexto do Pantanal, o papel e importância nesse ecossistema, não havendo uma mais
importante que a outra, mas interações, o meio, o complexo de vida.
De certa forma, além de ilustrar, fizemos com essa comparação a
valorização das iniciativas, os CEAs que aqui se apresentam, como as espécies de
árvore no pantanal, sem a pretensão de dissecar os seus papéis específicos no contexto
deste ecótono, do Pantanal, a sua existência e relações com o meio, mas compreender e
interpretar as percepções sentidas.
No decorrer dos registros aqui realizados, no intuito de melhor
visualização, percepção, comunicação e diálogo com leitor, leitora, optamos por
diferenciar as citações dos autores dos relatos das entrevistas realizadas onde estas
últimas iniciarão com a aspa e palavra inicial em negrito e as citações dos autores e
67
autoras seguirão as normas da ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas),
ou seja, seguidas do nome do autor ou autora em letras maiúscula entre parênteses ou
apenas do sobre-nome com as referências entre aspas.
VI.I CORDILHEIRA MANDUVI
26
– SESC PANTANAL
O representante do SESC Pantanal entrevistado foi o Sr. M. L. R., chefe
da assessoria técnica, tendo como horário de atendimento 8 às 12 h. e 14 às 18 h. Sua
origem é de São Paulo, o mesmo atua no CEA 1 ano e 5 meses, na empresa 12 anos
e na Educação Ambiental também, porém não contínuos. Consideramos como educador
ambiental, pois desenvolve ações de EA independentemente da área de formação e / ou
instituição.
O entrevistado abordou que o SESC Pantanal tem um Projeto Político
Pedagógico, mas com outra denominação, com proposta muito clara, sobre o que o
SESC deveria fazer que por sua vez abrange a EA nas eventualidades temáticas e os
valores que orienta o SESC PANTANAL.
A mesma, segundo ele, tem fundamentação nas planilhas do SESC, nas
bases políticas e finalidades objetivas do mesmo. Abordou que: tem indicadores do
ambiente e principal gestão a água e o lixo, na parte do lixo faz a reciclagem nos
detritos sólidos”, o que nos retorna a questão da fragmentação do cuidado com parte do
processo, da reciclagem do lixo, atuando no marketing verde e estimulando o consumo,
já que direcionado ao turista e sob esta lente tudo se torna produto.
O depoimento explicita o marketing verde”. Orientado pelo lucro
transacional que impera no mundo do “Desenvolvimento Sustentável”, empresas de
reciclagem, consumo sustentável e turismo viram “modas ecológicas” sem precedentes.
uma preocupação direta com o nível socioeconômico médio e alto,
não uma proposta mais evidente de inclusão social que abarque classes
26
Manduvi: árvore pantaneira (sterculia striata). Segundo Mauro Savi, o Manduvi é uma árvore alta e
frondosa, de madeira branca e pouco dura o que possibilita “orçamento” pela arara-azul, que faz o seu
ninho, geralmente apenas um ovo vinga. http://www.sema.mt.gov.br:8080/materia.asp?id=1420, acesso
20/002/2006.
68
economicamente desfavorecidas. Tudo parece ser “produto” sem nenhuma
consideração com o processo.
Seria injusto, entretanto, apenas mostrar esta face de mercado. Por trás
destas duvidosas “preocupações ambientais”, Há aqueles que se emaranham junto das
bandeiras levantadas pelos ecologistas. A água, por exemplo, é percebida como
elemento essencial que vida e garante sua sustentabilidade. Várias são as atividades
sobre sua importância, revelados e relevados nas comunidades do entorno, como nos
registram os estudos realizados pelos membros do GPEA onde evidenciam que a
população possui saber biorregional e que a necessidade de diálogos, para além de
repasse de informação.
Existe no SESC Pantanal o acompanhamento dos impactos que o
turismo vem proporcionando ao Pantanal, ou seja, a observação direta daqueles que
trabalham nas trilhas, como dito por ele o pessoal da área do ponto turístico, fica
atento para a presença de animais, o pisoteio nas áreas que são inundadas, isto pra nos é
relevante, até porque se não houver mais animais, se degradar, perde o interesse pelo
qual as pessoas tem ido lá”, o que se percebe é um direcionamento ou justificativa das
atividades voltando-as para a EA, porém a preocupação que leva ou promove as
iniciativas são comerciais, percebidas aqui como induzidas pela própria demanda do
mercado na qual trabalha, desvelando a relação com o meio ambiente com base na
percepção deste como recurso.
Quando questionamos quanto a sua percepção e experiência em
Educação Ambiental, o mesmo respondeu que: educação ambiental seria a iniciação
de conhecimento e práticas para lidar com o ambiente, o ambiente todo, diria que o
ambiente é tudo, porque sem sobrevivência a gente não pode fazer o controle”. Aqui
podemos constatar o antropocentrismo, onde o sujeito entrevistado apresenta o ser
humano como centro do universo e, sendo assim, centro também de todo tipo de relação
que povoa sua vida, o que o leva a justificar todos os abusos e atrocidades que venham
a lhe trazer vantagens imediatas, pensando sobre a ética apenas quando lhe for
conveniente. Registramos com base nesse depoimento a percepção de ambiente
enquanto recurso que deve ter gestão, que necessita ser controlado, o que demonstra
uma inversão de valores de que se tem de ter sobrevivência para que se possa controlar.
“Trabalhei num projeto nacional que tinha kits de ecologia... as escolas iam
ao SESC pra tomar contato com esse conteúdo... então a gente mandava
69
microscópios... fazíamos jogos sobre florestas, rios, reciclagem; o SESC
lá em Poconé já desenvolveu até apoiou a prefeitura do governo, em relação à
reciclagem, coleta seletiva, eu acho que hoje em dia tem muito dessa atitude
de querer participar, de coleta de lata, coleta na beira do rio são esses quesitos
que ficaram basicamente mais viáveis pra gente coletar o que importa é à
vontade”.
Podemos constatar que a EA vem sendo proposta, não aqui, mas em
outras iniciativas, sem se saber bem aonde se quer chegar, qual o objetivo, intuito, o
processo que este acontece, suas bases, referências conceituais, ou seja, a questão
apresentada é fazer algo, o que denuncia uma ausência de pedagogia, de didática, de
ética, que não existe educação sem teoria de conhecimento. Segundo Freire (2000,
p.89) “A educação é sempre certa teoria do conhecimento posta em prática, é
naturalmente política, tem que ver com a pureza, jamais com o puritanismo é em si uma
experiência de boniteza”.
Direcionando a EA, existem hoje várias correntes e estudos sobre a
construção deste campo de saber como podemos citar Lima (2005, p. 161) “Ao longo
do trabalho, vimos como a EA no Brasil cresceu, diversificou e institucionalizou como
um novo campo social de atividade e de saber nos últimos vinte e cinco anos. Esse
crescimento deu-se tanto de forma quantitativa quanto de forma qualitativa”.
O que se busca evidenciar aqui é que existe todo um campo de
conhecimento construído que por sua vez vem sendo desconsiderado, desconhecidos
por aqueles que se propõe atuar na EA. Movidos por motivos diversos como facilidade
de recursos financeiros, marketing verde, selos verdes e outros desconsideram a
importância da educação e no caso da EA como possibilidade de mudança, de
empoderamento de participação democrática e justiça ambiental. anteriormente
percebido e desvelado:
“Têm-se, por um lado, a percepção de que ainda é incipiente no pensamento
das elites dirigentes a consciência sobre a importância da educação para o
desenvolvimento social do país...Nesse sentido, as prioridades sociais são
definidas e medidas por uma visão utilitária que busca resultados
econômicos de curto prazo ou, quando muito, resultados políticos que
possam ser convertidos em lucratividade econômica... Isso é visível nos
projetos de EA patrocinados ou implementados por empresas. Seus objetivos
principais são, em geral, relacionados à obtenção de certificados de gestão
ambiental, como a ISO 14000, ou de outras vantagens mercadológicas
advindas da associação da imagem da empresa com as bandeiras ecológicas”.
LIMA (2005, p. 168).
Quando abordado como percebia o meio ambiente o mesmo respondeu
que:
70
“É o ambiente de forma geral, seria tudo... Como o SESC Pantanal, tem
o ambiente natural que é o Pantanal, a cidade de Poconé e tem o ambiente
social e cultural. A gente pode dizer que tudo é ambiente, que a interação,
os seres humanos é o nosso principal material de trabalho, renunciar essas
pessoas, tornaria o nosso ambiente mais direto” (na vida das pessoas
27
).
O que nos apresenta uma visão fragmentada de meio ambiente onde o
ser humano está fora do mesmo, uma visão interpretativa, como se a realidade existisse
somente em função do esquema que a apreende. Quando abordado sobre o significado
deste espaço para ele o mesmo disse que:
“sempre falta muita coisa, idéias de mais que poderiam ser feitas em relação
ao espaço, eu, por exemplo, entendo que, o nosso público, acontece tudo no
Pantanal, mas, eu acho muito, uma pena não relacionar um pouco com
Várzea Grande e Cuiabá, a gente sempre acha que o vizinho não tem muita
importância, mas o dia a dia é assim a gente tenta corresponder à velocidade
que a gente é obrigado a dar e conforme a demanda exige, então minha
sensação e sentimento é esse. Poderia ser, mas tem mais coisa pra
acontecer”.
Evidenciamos no relato acima, o que abordamos anteriormente, a
necessidade de atender uma demanda de mercado, sem com isso considerar em
contrapartida o meio ambiente e a comunidade do entorno, sua relações e
conhecimentos construídos. Como nos traz Freire (1996, p. 80), “o que quero dizer é o
seguinte: não posso de maneira alguma nas minhas relações político-pedagógicas com
os grupos populares, desconsiderar seu saber de experiência feito. Sua explicação de
mundo de que faz parte a compreensão de sua própria presença no mundo”.
Indagando-o sobre algum ato cultural da sua vida que relacione a questão
ambiental o mesmo considera-se conservacionista, com uma sensibilidade não para a
questão da reciclagem, mas também para a questão do consumo, fator pelo qual, poucos
estão sensíveis. Mostra-nos também a separação que faz de suas ações pessoais e de sua
atuação, participação e propostas junto à empresa onde apesar de utilizar as estruturas
existentes para suas ações pró meio ambiente não apresenta sugestões à empresa ou a
equipe de efetivação desta no coletivo.
“Particularmente eu sou uma pessoa muito conservadora eu não gosto de
jogar fora também não gosto de comprar, pra muitas pessoas eu sou um
pouco pão duro, mas eu vejo toda a embalagem que chega pra gente eu
guardo todas e até o empregador e a pessoa da família tem certas
dificuldades falei assim, a não sei não consigo jogar fora eu tenho vidro,
tenho plástico, tudo lá em casa papel, não papel eu trago pra cá e todo jornal
também, que eu sou assinante de jornal, trago tudo pra e junto aqui na
reciclagem eu economizo água, economizo energia, uns 50% foi o que eu
falei e alguma coisa mais que precisa ser feita agora eu já fico mais tranqüilo,
27
Frase entre parênteses é das pesquisadoras, para ter sentido no contexto deste trabalho.
71
pois, tem coletores de papel, quer dizer se você arrumar direito não
misturar as coisas alguém vai usar. Eu sou um conservacionista”.
Na continuidade do que nos propomos, e no roteiro de entrevista
elaborado questionamos quanto a possibilidade de considerar SESC Arsenal como um
Centro de Educação Ambiental, o mesmo concorda que o SESC Arsenal pode ser
considerado como um CEA, pois, “Propagar a cultura ou propagar o conhecimento
tende a mudar a estética”. Quanto a questão da estética relata que:
“O que tem que mudar é tanto social, quanto ambiental, as descobertas
quanto, a quantidade de pessoas serem verdadeiras, de buscarem mais
pessoal do que institucional. Enfim eu acho que é a sensibilidade de devidos
assuntos, no Arsenal... estética a gente tem várias motivações para agir, uma
dessas possibilidades é religiosa, a moral e algum tempo atrás eu conclui que
o meu impulso é estético. O que é individual, é melhor, porque é melhor pra
sociedade, menos conturbado. Por razões estéticas que é mais bonito
agradável mais legal e se eu pudesse trabalhar com o despertar sensibilidade
para o belo, escutar as crianças, discutir, mudar, fazer teatro, fazer música
discutir o que é melhor pela arte e pela razão”.
Podemos observar na abordagem do sujeito entrevistado a questão
individual, onde o mesmo coloca que a ênfase dada deve ser voltada ao individual e não
ao institucional, o mesmo movimento faz com a arte. Podemos registrar aqui que as
instituições são feitas pelas pessoas, e que a arte faz parte do processo histórico do ser
humano, de construção coletiva. Entrelaçar, desvelar o olhar, focar a lente, descrever, a
questão da cultura, da arte, do SESC Arsenal enquanto CEA, enquanto promotor desses
aspectos que são instrumentos, equipamentos de sensibilização para a questão pró meio
ambiente é o que buscamos, onde a construção por nós é percebida, e incentivada na
coletividade, como podemos nos referendar Sato (2002, p. 25) “No campo da EA,
considerar o indivíduo é evocá-los na sua coletividade”.
Essa entrevista desvelou um conflito entre pessoa e instituição,
percebível durante todo o processo bem como na própria pergunta do sujeito: é como
pessoa ou instituição que é para responder”. Os processos estão fragmentados bem
como enquanto sujeito participante, ator, o mesmo tenta fazer esta classificação,
desconsiderando ou desconhecendo que a EA é ser, interagir com o outro no mundo.
Porém podemos aqui entender que como fundamentado anteriormente, a
coerência não é um quesito de validade, pois as construções são feitas continuamente,
como a aprendizagem, é um ir e vir, uma reflexão complexa onde não existe um padrão,
72
ritmo ou caminho a ser seguido, cada qual constrói-se no mundo de acordo com
suas experiências que são únicas.
As entrevistas e as aplicações dos questionários revelam-nos a
grandiosidade deste CEA, e retratando-nos ao Pantanal percebemos S. Pantanal como a
árvore Manduvi, que também é grande, marcante e frondosa, com o cheiro forte chama
a atenção à distância, como o próprio SESC Pantanal, que atrai visitantes internacionais,
sua coloração é roxa, incomum nas frutas do Pantanal, como é a iniciativa da UC SESC
Pantanal, seus galhos grandes são extensos bem como a sombra, descanso e abrigo
aos que ali se permitem e possuem condições de ficar, porém são poucas as espécies
vegetais que sobrevivem debaixo de sua frondosa copa, apenas os que de alguma forma
lhe dão subsídios, são necessárias ou complemento às suas necessidades, assim também
é o SESC Pantanal, pois as propostas que se têm ainda estão muito direcionadas ao
público pagante e são poucas as estruturas que ali são bem recebidas, se não forem de
alguma forma um retorno para a estrutura existente.
VI.II CORDILHEIRA DE IPÊS - SEDUC
A entrevistada deste estabelecimento foi D. E. P., seu cargo na instituição é
Coordenadora de Educação Ambiental, da Secretaria de Estado de Educação – SEDUC,
site: www.http:// ensino.fundamental/seduc.mt . Atendendo junto a Secretaria de
Educação das 7: 00 às 11:00horas e das 13:00 ás 18:30 horas.
A origem da mesma é do Paraná porém, a mesma se considera cuiabana
que reside aqui 27 anos, atua no CEA há três anos e o mesmo tempo na Secretaria
de educação bem como especialista, pesquisadora e educadora ambiental.
Ao questionarmos sobre como percebe o meio ambiente a mesma nos
relata: “Ambiente é o local onde se vive, onde você tem as suas inter-relações com os
outros seres ou não”, o que evidencia a percepção de meio ambiente enquanto lugar
para se viver onde o ambiente é feito na participação com outras pessoas, na interação
dos seres humanos com o meio ambiente e entre os mesmos.
Questionamos sobre o significado dos CEAs, do espaço que trabalha, do
grupo de educação ambiental, a mesma descreve-o assim:
73
“Isso pra mim significa muita coisa, sou uma educadora ambiental e
entrei pra esse centro, que eu chamo de grupo... é importante que você pode
ajudar muitas pessoas, não pessoas como outros tipos de vida, por que
você vai trabalhar com professores, que é quem trabalha formação nas
escolas, isso é uma coisa muito boa porque se sabe que se consegue, se tem
esperança pelo menos de ir longe, nem sempre se vai conseguir, mas pra
mim sempre se vai conseguir. Para mim, foi muito bom, é um trabalho
maravilhoso que eu não abro mão dele. Por que se você trabalha, formação
ambiental, você vai estar trabalhando com a natureza e ela nos diversos
espaços onde está situada, no seu estado, a natureza não no sentido da
palavra, mas como cultura, espaço para organização política e tudo mais”.
Quando questionamos como relaciona e chega até o Pantanal, como a
Secretaria de Educação do Estado estão atuando com essas questões de Educação
Ambiental no Pantanal? A mesma nos responde:
“Na Secretaria do Estado, vai ser através das escolas, e pretensão é você
chegar nas comunidades fazer esse trabalho com a comunidade, que a gente
sabe quena escola acaba sendo um trabalho de escola mas, a pretensão eu
acho que é pretensão mesmo, que se chegue na comunidade então eu acho
que vai estar inter-relacionado pra você trabalhar com essas comunidades
locais”.
Percebemos ao abordar a pretensão de se chegar à comunidade a
presença do sonho, da utopia que segundo Freire (2000, p. 53) “O que não é, porém,
possível é sequer pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem
projeto”. Revelando que a base da interação do diálogo, da construção dos processos
tem na sua base, nas suas inter-relações o sonho, a utopia, o projeto junto com o devir,
que também constatamos na abordagem acima, quando apresenta a pretensão de
envolver a comunidade.
Quando abordada sobre a questão: qual é o ponto forte deste CEA a
mesma responde: “O forte do nosso grupo eu acho que está nessa questão de querer e
fazer, de algumas pessoas que procuram isso mesmo e acreditam, por que eu acho que a
gente tem e a gente acredita tem bastante briga, mas a gente acredita”.
Porém sua vontade não se limita ao fazer por fazer ao se perceber que a
mesma, bem como o grupo vem buscando construir e atuar em diferentes espaços que
lhe são possíveis de forma a promover ações na área de EA de forma fundamentada e
intencional, como demonstra abaixo:
“A Educação Ambiental, na Secretaria, existe bastante tempo,
mais de oito anos e agora no ano de 2004, se deu uma nova reformulação pra
essa equipe que era constituída com outra equipe, que agora foi constituída
com outro grupo, que perdeu um pouco de espaço, espaço físico, mas ganhou
com outro grupo, por que aumentou as pessoas e os estudos. Uma das
74
dificuldades eu acho problemas é entre as pessoas mesmo, tínhamos
muitos problemas e isso está sendo sanado agora, eu acho que está melhor”.
Percebemos que a questão ambiental é tratada na complexidade do meio,
onde trata do espaço físico, da necessidade de aprimorar o conhecimento e das próprias
relações ali existentes, trata da quantidade e da qualidade das referências abordadas.
Ao indagarmos se existe algum trabalho que se relaciona com
biodiversidade que realizaram ou pretendem fazer a mesma discorre assim sobre esta
questão: “tem o PREA, que ele vai tratar bastante disso, mas ainda não está pronto, quer
dizer está pronto, mas ainda não houve formação e a gente acha que vai acontecer
a formação e vai se dar na escola”.
Contrapondo de certa forma o relato acima apresentado, mas no intuito
de compreender o processo que está se deflagrando faz necessário registrarmos aqui os
avanços e construções que estão sendo realizadas no Estado do Mato Grosso, dentro
deste CEA, com base no depoimento retirado da entrevista da nossa sujeita no site da
Secretaria de Educação do Mato Grosso.
“As orientações para a elaboração dos projetos de educação ambiental,
escolares comunitários se constituem em um material pedagógico composto
por quatro volumes sendo: primeiro volume os referenciais teóricos e
metodológicos que norteiam os primeiros passos para a elaboração dos
projetos escolares comunitários; o segundo volume apresenta textos que
abordam os conceitos fundamentais da educação ambiental; as múltiplas
dimensões abarcadas pela educação ambiental são focalizadas no volume três
e, o quarto volume, busca uma mediação pedagógica entre a escola e seu
entorno para orientações mais específicas à elaboração dos Projetos
Ambientais Escolares e Comunitários -PAEC’s”.
Evidenciamos neste depoimento a construção de materiais e referências
concretas da efetivação da EA no estado, que por sua vez é um material flexível no
sentido de dar possibilidades a várias construções, a diferentes conhecimentos e formas
de organizações de ações comunitárias com base na EA.
No intuito de identificarmos como se registra essas questões, a produção
do conhecimento construídos nessas propostas, programas e projetos executados, bem
como a avaliação dos mesmos, questionamos sobre os indicadores observados nos
trabalhos.
“Geralmente tem eventos, vamos colocar assim, semana do meio ambiente,
tem a formação pra professores e formação pra estudantes, você pode através
de dados quantitativos e qualitativos, no sentido das palestras, do que está
colocado, se isso vai ser interessante nas escolas e tem eventos assim que é
ruim, que se vê que para escola aquela parte não foi muito legal até porque a
escola não faz muito aquilo, nesse sentido é qualitativo”.
75
O processo de avaliação das propostas de EA ainda tem muito a ser
construído, registrado, como quantidade de projetos que as escolas estão desenvolvendo
que trabalham com esta temática, resultados alcançados nos entornos, na melhoria da
qualidade de vida, conquistas, número de participação e propostas decorrentes destas
ações realizadas, mesmo que como dito inicialmente se limite à escola. Mas aos poucos
se expandir à comunidade.
Indagada quanto aos hábitos culturais da sua vida que relaciona com o
meio ambiente, a mesma resgatou todo processo cultural e histórico de sua vida onde se
percebe também a importância que a mesma a questão dos seres humanos
interagindo entre si, de um momento para isso.
“A questão de energia que papai sempre falava, desliga a luz e agora eu fico
preocupada com isso assim que é uma questão de consumo imediato minha,
assim que, agora eu fico me cuidando, uma outra questão que eu acho que é
mais cultural mesmo é de tomar chimarrão ou tomar tereré
28
que é quando a
agente senta, minha família a gente toma aquele chimarrão ali e aquilo acaba
sendo uma coisa pra você conversar, trocar idéia falar do dia-a-dia chega
ridículo falar de chimarrão e tereré, mas para mim é legal eu acho que é um
traço cultural que eu tenho mas eu gosto falando da sua vida da vida dos
outros, mas de uma forma construtiva”.
Perguntamos ainda: tem gente que separa cultura e natureza, tem gente
que os unem, outros colocam um como resultado do outro, como é que você se
posiciona diante disso?
“Eu, prefiro unir acho que tem, por que sua cultura vai depende de onde
você esta e eu vejo esse espaço não só quanta natureza, mas, quanto a espaço
e agora eu fico meio assim de falar porque de repente posso dar conceitos
errados, mas eu acho que tem tudo a ver, eu acho até pelo que a gente tem
visto eu acho que cultura é natureza são únicos. Não, não únicos, acho que
em certos momentos eles se separam, em outros estão juntos, mas acabam
sendo mais unidos do que separados o traço cultural ele vem bem presente no
espaço onde você está”.
Questionamos ainda: O que você acha que você pode e deve mudar, que
precisa mudar, com relação às questões que tratamos nessa entrevista?
“Tudo que pode mudar, é a gente sensibilizar, é mudar mesmo, essa é a
esperança, sonho, isso que move, se não fica ruim, exemplo: não vou fazer
esse projeto porque é um projeto do estado. Tenho que fazer por que trabalho
aqui, mas é você estar ali fazendo mesmo”.
Segundo Freire (2000, p. 53) “A transformação do mundo necessita tanto
do sonho quanto a indispensável autenticidade deste depende da lealdade de quem
28
Bebida feita de folha de mate servida gelada utilizando a Guampa, copo feito do chifre do boi e a bomba.
76
sonha às condições históricas, materiais, aos níveis de desenvolvimento
tecnológico, científico do contexto do sonhador”, questões e princípios identificados na
fala e ações desta que percebemos e atua como sujeito protagonista da EA dentro deste
CEA.
Quando nos referimos a algum local pra uma promoção da educação
ambiental podemos falar de S. Arsenal?
“Podemos, por que é um local onde está bem presente a cultura, eu acho que
é um local assim para Cuiabá, acho que é um dos locais onde é bem legal, até
porque a gente não tinha muito espaço e agora esse espaço começa a
aparecer. Eu acho o S. Arsenal é o espaço ideal pra isso, acho que a gente
não utiliza como deve, poder-se-ia até utilizar melhor, mas acho que é até por
falta de conhecimento das pessoas que tão e falta de vontade nossa
também de fazer e o tempo, a gente não tem muito tempo.
Indagamo-la sobre o que percebe, compreende sobre EA, alguma
experiência nesta área a mesma aborda que:
“Educação Ambiental pra mim é processo, processo de construção de
sensibilização do ser humano não do ser humano, mas dos seres quanto
moradores de uma região, com essa região vou citar uma proposta de
educação ambiental que foi até a minha dissertação, que foi assim que, a
gente tem essa área verde próximo à escola e a gente trabalhou ali com
alunos por dois anos, um processo de sensibilização de educação ambiental e
foi muito interessante assim que você vê nitidamente que algumas pessoas se
envolveram, mas outra, não e então o que você consegue através da educação
o que vai conseguir sensibilizar muitos, mas alguns não, alguns vão
permanecer do mesmo jeito pelo menos é isso que eu achei”.
Utilizamos e aproveitamos das possibilidades da entrevista ser semi-
estruturada, aguçadas com a curiosidade da experiência questionamos sobre o que ela
percebeu que foi o diferencial para sensibilizar um, para não sensibilizar o outro? O que
fez para tocar, o que os tocou, instigou o olhar, o gosto, o que os despertou para este
projeto?
“O que fez que tocou ? Eu acho que isso é uma questão pessoal, por que eu
acho que, até sensibilização, a gente fala muito de conscientização que é uma
tomada pessoal, mas eu acho que até a sensibilização é até por que eu acho
que as pessoas são diferentes, então às vezes a estratégia que eu usei, as
estratégias utilizadas, de repente contemplaram alguns e os outros não se
sentiram sensibilizados. Eu vejo como uma crítica ao meu trabalho, que eu
deveria ter no final de tudo, por isso eu acho importante as diferentes
técnicas para trabalho em sala de aula, trabalho pro meu sucesso pedagógico
mesmo”.
Mostra-nos um trabalho na coletividade na proximidade, na realidade
local, direcionando os olhares para o seu meio, para a participação, envolvendo-os, o
77
que os levou ao comprometimento, a responsabilidade, a participação democrática,
deu-lhes poder, deu-lhes um megafone a suas vozes silenciosas.
“Também eu acho que as pessoas assim que foram mais tocadas, foram às
pessoas que moravam por aqui. Umas e outras que não se sentiram
sensibilizadas pela área tal, as outras achavam que tinham que derrubar
mesmo, eu acho que tem um pouco de cultura e da relação com o seu
lugar, por que é importante pra você, por que ele faz parte da sua vida então,
acho que isso é importante”.
A entrevistada re-significa sua experiência na Educação Ambiental, ao
exemplificar o conceito, ao reconstruir, dá-lhe um novo sentido, enxerga-o com outro
olhar, onde a mesma mostra o respeito com as opções, como o seu papel de sensibilizar,
sem frustração de não ter conseguido envolver a todos, mas com satisfação de realizar
um processo não tão pontual no sentido de pouca duração e limitado a uma ação
estanque.
Apresentamos este CEA como cordilheira de IPÊS ou PIÚVAS como
alguns preferem tratar, pois é a maior árvore do Pantanal, forte, alta, imponente, a
mesma serve para os Tuiuiús fazer seus ninhos, bem como para outros animais. Na
maioria das vezes quando nas vazantes ou no intermediário desta com as cordilheiras,
debaixo de sua copa, junto ao tronco existe um acumulado de vegetação, que por sua
vez cria os capões onde existem várias espécies que ali fixam.
Como o IPÊ com flores coloridas, que embelezam o Pantanal, como
CEA, proporciona a junção de várias outras possibilidades e referências como
profissionais de várias áreas e iniciativas de diversos projetos de EA, na grandiosidade
deste universo, contexto, faltam muitas árvores e CEAs nestes espaços, para ter o seu
respeito pois é uma madeira valiosa para vários fins, como a educação e a EA também
podem ser usadas por várias correntes e ideologias, bem como se faz necessário serem
pulverizadas mais ainda em seus campos.
VI.III CORDILHEIRA DE TARUMÃ - SEMA
A entrevistada deste CEA foi a Sr.ª E. C., seu cargo na instituição era
Assessora de Educação Ambiental
29
. O horário de atendimento é das 8:00 ás 12:00 e das
29
Atualmente seu cargo foi transferido, sendo ocupado por outra pessoa. Num prazo de um ano, 3
pessoas diferentes ocuparam este cargo, o que pode ser um desafio às possibilidades e à sustentailidade
78
14:00 à 18:00 horas. Considera-se educadora ambiental, no questionário utilizado
entendido como a especificidade de quem desenvolve ações de EA independentemente
da área de formação e/ou instituição (Órgão Público, ONG, etc) que atua 10 anos. É
paranaense, e mora em Cuiabá há 11 anos.
Ao abordar a Educação Ambiental a mesma declara que:
“Eu acho importante na Educação Ambiental é passar informação para que
as pessoas possam se sensibilizar e possa mudar sua prática em relação ao
meio ambiente esse é nosso objetivo e é o que a gente espera das pessoas que
elas possam ver o meio ambiente não só com uma fonte de recursos, que elas
possam extrair e que isso não tenha fim, ou seja isso é finito, e que elas
tentem mudar a prática em relação ao meio ambiente, que elas podem utilizar
esses recursos que estão disponível, mas tem que saber como utilizar pra
que elas possam ta fazendo isso”.
Evidenciamos na descrição da percepção e importância da EA, a
percepção de natureza enquanto recurso, onde a ênfase se dá na abordagem da mudança
da relação com esta não para uma outra forma de percepção, mas como este enquanto
um recurso limitado que necessita ser tratado como tal, que a EA tem por fim
sensibilizar que se faz necessário uma sensibilização para a utilização que possa ser
feita nesta perspectiva.
A EA que aqui se propõe é a continuidade das relações existentes com o
cuidado de que não se extinguir os recursos naturais, o que diferencia da EA que
propomos no decorrer deste trabalho, mostrando que não existe apenas uma EA, mas
várias que são utilizadas de acordo com a compreensão que se tem do meio ambiente e
da proposta da mesma.
Esta abordagem nos traz reflexões várias questões como a necessidade
de passar informações, de se socializar informações, pois ela possibilita o
empoderamento, porém devemos ter cuidado, pois as pessoas possuem seus
conhecimentos o que nos leva a refletir em como estamos lidando como mesmos. Na
mesma perspectiva devemos cuidar para que não tornemos EA um repasse de
informações como tanto criticamos a educação bancária, bem como atentar para a
mudança de comportamento visto que não queremos uma educação behaviorista.
Em um contexto mais amplo de interesses, de relações não podemos
aceitar os fatores condicionantes como fatores determinantes, nem de profissionais que
estão a serviço de interesses nem como meros resultantes destes.
da educação Ambiental no interior deste organismo.
79
“Por grande seja a força condicionante da economia sobre o nosso
comportamento individual e social, não posso aceitar a minha total
passividade perante ela. Na medida em que aceitamos que a economia ou a
tecnologia ou a ciência, pouco importa, exerce sobre nós um poder
irrecorrível não temos outro caminho senão renunciar à nossa capacidade de
pensar, de conjectura, de comparar, de escolher, de decidir, de projetar, de
sonhar”. FREIRE (2000, p. 55)
Outra questão que se evidência é a percepção de que estamos falando do
processo de comunicação enquanto processo de informação, de transmissão de
conhecimento, visão por sua vez também nesta área limitada, já que nos estudos atuais a
mesma é percebida e concebida como mais do que esta visão reducionista, como um
processo, um fenômeno, que não nos cabe aqui detalhar, mas evidenciar que a educação
a que nos referimos e tomamos por base é mais do que isso, principalmente ao
tratarmos da Educação Ambiental que é aqui referenciada como uma proposta de
formação, de forma coletiva, que tem base no diálogo, na participação democrática.
Quando questionada de como percebe o meio ambiente a mesma nos
apresenta a as estruturas na qual a seu sistema de pensamento foi construído, de acordo
com Bourdieu (1998), o sistema de pensamento de determinada área de conhecimento,
como já referendado, citado anteriormente:
“Eu sou bióloga vou ficar pensando em ambientes naturais, em cada tipo de
ambiente, vou conceituar de uma forma diferente em termos de vegetações,
termos de fauna, que fauna que da característica praquela área que tipo de
vegetação, ou seja, eu tenho que pensar em que ambiente olha, to
conceituando o cerrado é um ambiente que eu tenho a essas características,
que tem esse tipo de vegetação no nosso caso aqui a gente tem cerrado,
campos sujos, campos limpos”.
Bastante complexo aprofundarmos as questões que envolvem os
sistemas de pensamentos e conflitos existentes nos sistemas de pensamentos e de
linguagens próprias de cada área de conhecimento que não são as referências desta
pesquisa, mas que cabem aqui serem consideradas,que são essas percepções as bases
para a interações e relações dos sujeitos:
“... ou seja, esquemas de pensamentos que organizam o real orientado e
organizando o pensamento do real, fazendo com que aquilo que pensa seja
pensável para ele como tal e na forma particular pela qual é pensado. Como
observa Kurt Lewin: as experiências referentes à memória e à pressão do
grupo sobre o indivíduo mostram que o que existe como realidade para o
indivíduo encontra-se determinado em grande medida, pelo que é
socialmente aceito como realidade... Logo a realidade não é absoluta. Ela
difere de acordo com o grupo a que o indivíduo pertence”(BOURDIEU,
1996, p. 212).
80
Com outras referências entendemos que a cada período histórico, de
acordo como o ser humano se percebe no mundo, como realiza suas produções e suas
relações:
“Bem ao contrário desta visão objetivista - de acordo com a qual interpretar o
meio ambiente seria captá-lo em sua realidade factual, descrever suas leis,
mecanismos e funcionamento, trata-se, segundo uma concepção
interpretativa, de evidenciar os horizontes de sentidos histórico-culturais que
configuram, em um tempo específico, as relações de determinada
comunidade humana com o meio ambiente.”(CARVALHO, 2004, p. 174)
Ajustando nossas lentes ao que esta pesquisa propõe, ou seja, utilizando
os filtros apresentados, onde para nós o Pantanal é um ecótono, área de transição, de
conflito, de domínio de espaço, o mesmo acontece nas relações existentes na EA, bem
como nos CEAs pesquisados. Evidenciamos estes conflitos no depoimento da Srª
Elaine, onde as lutas existentes nas áreas dos conhecimentos, das diferentes ideologias
são transportadas nas ocupações dos espaços, justificadas na fragmentação, no olhar
classificatório das suas abordagens, silenciando assim as bases na qual percebe e atua
junto ao meio ambiente.
Na intenção de evidenciar a percepção de meio ambiente, focar o espaço
do CEA e as percepções desta, refizemos a pergunta com outras palavras, buscando o
significado desta assessoria para a mesma que nos relata:
“Esse pra mim é o espaço de integração de todas as atividades que a FEMA
faz, tem que passar de alguma forma por aqui, nós somos, alem de fazer o
trabalho com a comunidade a gente também divulga SEMA, a gente tem que
divulgar todas as ações que a FEMA faz. E tudo que a FEMA faz nós temos
que saber, saber como isso se entrelaça de que forma isso se entrelaça pra
comunidade conhecer a instituição também e saber qual é a nossa função
quais os serviços que nos oferecemos pra comunidade e como as
comunidades, podem utilizar, existe aqui um setor que pode auxiliar no
trabalho de cada umas das associações e nós estamos aqui pra isso para
trabalhar com a comunidade, por que nos somos servidores públicos ou seja
estamos à disposição do público, pra auxiliar, então esse é um espaço de
integração de trabalho de comunidade esse é o braço da FEMA para
comunidade, em termos de capacitação, em termos de levar informação,
de mudança de comportamento na sociedade essa é a nossa função”.
Desvela no registro acima a tendência positivista da EA, onde se enfatiza
a transmissão do conhecimento, que é propriedade de alguns, desconsiderando o
conhecimento construído pela comunidade, onde a aprendizagem tem como base a
resposta aos estímulos proporcionados, com base Behaviorista, com o intuito de mudar
o comportamento em função a um conhecimento pré-determinado, sistematizado e
objetivo, onde o receptor é passivo deste pretenso reforço das relações de poder
81
estabelecidas. Como nos deixa claro Freire (1996, p. 123): “O desrespeito à leitura
de mundo do educando revela o gosto elitista, portanto antidemocrático, do educador
que, desta forma, não escutando o educando, com ele não fala. Nele deposita seus
comunicados”.
Percebemos a relação desse espaço, assessoria, com a natureza com
bases na concepção interpretativa que desvela a ação na natureza, esta como recurso,
que tem por fim servir ao ser humano, como podemos constatar: “A natureza é o nosso
laboratório é a nossa forma de sensibilizar as pessoas é o espaço ideal, a gente tem de
usar, ou seja, a gente tenta usar isso nas ações que a gente faz por isso usamos os
parques”. Ao relacionar a assessoria com o Pantanal a mesma aborda:
“A gente não tem nenhuma atividade, como eu falei pra você hoje,
específica, com o Pantanal... mas hoje a gente acaba atuando mais em
floresta, por que alguns ambiental do estado estão mais associados às
florestas que dão mais impacto a nível estadual e nacional”.
De acordo com sua fala, que a ação no Pantanal está praticamente
parada, onde existem outras áreas de interesses, visto que existe maior interesse pelas
mesmas. Quando esta entrevista foi realizada, já existiam propostas de ações, projetos a
serem realizados no Pantanal, tais como reuniões do ProFEAP, bem como outras ações
que a entrevistada se refere posteriormente, porém como esta área é bastante rica em
conflitos e atenções dos ecologistas e ainda não dominada pelas articulações dos
interesses dominantes, econômicos,como percebamos no registro de que se prioriza o
que dá impacto a nível estadual e nacional.
“Para estar trabalhando a descentralização das atividades ambientais pra
tentar fortalecer os municípios pra que eles possam assumir determinadas
atribuições na secretaria de meio ambiente, para que eles também não
deixem pro órgão estadual, para o órgão federal, que eles assumam que é
obrigação deles, algumas atividades, de licenciamento por exemplo, que
estão no âmbito do município e que não demandam um licenciamento
limitado por que os impactos não são regionais são locais, e que a gente
possa ta capacitando os municípios, pra isso nos divulgamos um edital da
semana nacional do meio ambiente que era pra fortalecimento das secretarias
pra criação do FUNDEMA
30
, criação de secretarias, capacitação do pessoal
técnico pra eles estarem assumindo essas atribuições depois”.
Apesar de perceber e desvelar ações que estão diretamente ligadas ao
Pantanal, visto que este não se encontra isolado dos municípios, que o município de
Cuiabá especificadamente onde atua considera o Pantanal como seu entorno, de acordo
com o questionário aplicado, e que o rio Cuiabá faz parte da hidrografia Pantaneira,
30 O Fundo Municipal de Meio Ambiente
82
bem como é responsável por parte do lixo que chega ao Pantanal, a entrevistada não
estabeleceu as relações existentes deste CEA com o Pantanal, outrossim que este tem
atuação no Pantanal, desvelado também ao referir que os impactos locais não são
regionais, o que nos mostra um conflito entre as respostas.
Constatamos o querer ensinar quem está no local, com um foco que tem
a finalidade de atender o turista, de vender e não de valorizar quem ali está, que tem a
sua percepção, que quando o mesmo não nasceu no local e ali foi criado, tem algum
motivo para ali estar que não é pelo fator de emprego, entendendo que cada qual
busca de alguma forma fazer o que gosta ou gosta do que faz.
A percepção mais destacada nesta lente cultural é que a forma cultural
dos que ali estão servindo de guia, o seu conhecimento não desperta interesse, que se
faz necessário mudar para atender uma demanda de mercado, sem mesmo compreender
com que cultura, ou quais símbolos estamos tratando, leia-se: é diferente da cultura que
tenho então não serve, se é o outro, minha tendência é dominá-lo.
Na tentativa de compreender mais a fundo a proposta foram realizadas
outras perguntas, como: Onde é que buscaram essas informações? Das demandas?
lugares, locais o que é que tem, como é e o que é falado?
“Não, nós não fizemos essa capacitação ainda, nós identificamos que essa
falha e que esse é o conteúdo da capacitação, que nós ainda vamos fazer ou
seja nos ainda não fizemos. Nós identificamos que nós temos um monte de
publicação que fala sobre isso e isso ta muito disperso. É para nós
produzirmos esse guia do Pantanal e a gente tem todas essas informações, às
vezes estão numa linguagem inadequada, a idéia desse guia é fazer essa
tradução, traduzir pra uma linguagem mais acessível, essa é uma das
atividades do projeto”.
Questionamos: linguagem inadequada pra quem? Traduzir para uma
linguagem mais adequada para quem? Quem fará esta mediação e que linguagem será
utilizada? Estas perguntas foram respondidas na construção da idéia de um guia do
Pantanal, ao desconsiderar as construções anteriores bem como a construção do
conhecimento local pela população da mesma em função de atender a demanda de um
mercado. Retratamo-nos a Freire (1996, p. 100) “E é imoralidade, para mim, que se
sobreponha, como se vem fazendo, aos interesses radicalmente humanos, os do
mercado”. Por assim compreendermos que existem outros valores e princípios na qual a
EA vem se baseando que são mais humanos do que comerciais e que devem ser
considerados.
83
Na tentativa de resgatar as ações relacionadas ou que são
desenvolvidas no Pantanal, questionamos sobre as atividades do programa Pantanal,
demos então a continuidade dos relatos que nos levam a percepção da necessidade da
adequação do local, do espaço, da reorganização das relações ali existente para atender
a demanda do mercado, especificadamente do turismo, com a bandeira de “outra
alternativa”, sem considerar, perguntar, pesquisar para quem vem a ser esta alternativa,
se conhecem ou existem outras opções, se é isso que a comunidade biorreginal local
quer, dentre tantas outras considerações que se fazem essenciais.
Para melhor compreender a que pontos os anseios e sonhos que
construímos com a EA é referência que caminha contrária à demanda do mercado,
anseia a superação dos ditos do mesmo:
“Se mundo aspira a algo diferente como, por exemplo, entregar-se à façanha
de viver uma província da História menos feia, mais plenamente humana, em
que o gosto da vida não seja uma frase feita, não outro caminho, mas a
reinvenção de si mesmo que passa pela necessária superação da economia de
mercado”. (Freire, 2000, p. 130).
Buscando aprofundar mais as relações e atividades questionamos: Qual a
sua concepção sobre o tema biodiversidade e como é trabalhado na assessoria?
“A gente trabalha biodiversidade nas áreas de unidade de conservação a
unidade de conservação foi criada justamente pra conservação da
biodiversidade, ou seja, umas das prioridades delas. A gente tenta trabalhar
esses conceitos dentro desses espaços, por que nós vamos estar mostrando
biodiversidade então a idéia é usar esses espaços trabalhar, dentro desses
espaços que a gente tem várias áreas de conservação. Apesar, que nem
todas elas tem estrutura, infra-estrutura adequada mas a gente tenta trabalhar
dentro daquela que nos temos dentro do que é possível trabalhar mas a idéia
é que a gente tenha dentro de cada uma delas as que são possíveis que
tenham infra-estrutura pra isso”.
Percebe-se aqui a separação de espaços, onde a biodiversidade existe
em espaços “naturais”, da tendência interpretativa e da necessidade de ter infra-
estrutura nas UC para se realizar a EA, como se esta não ocorresse em espaços e
momentos diversificados e diferentes destes e que esta UC fossem assim destinadas
para este fim e do turismo como é percebido na maioria das vezes. Como fazer a EA
nas escolas então? Como dar acesso as diferentes camadas a estes espaços? Ou pode se
criar ouras alternativas e espaços para a EA, ou melhor, será que está não ocorre com
referências diferentes da apresentada.
Ao questionar sobre os objetivos da assessoria a mesma nos apresenta:
84
“Sensibilização da comunidade pra conservação dos recursos naturais
de uma forma ampla divulgar, a educação ambiental e fazer com que os
Mato-grossenses, de uma forma geral, mudem sua prática, esse é o nosso
objetivo essa é nossa meta, nosso sonho”.
No contexto Mato-Grossense em que vivemos, cabe-nos perguntar, será
que somos nós os Mato-Grossenses, ou que assim nos consideramos, que por anos
interagimos neste Estado é que necessitamos ser sensibilizados? Será que divulgar a EA
faz por si o trabalho de mudar a prática? Percebemos que a mudança da prática nos
remete à uma visão pragmática, de resultados, o que reforça novamente a tendência
positivista.
Quando questionada: Quais indicadores observados pela assessoria,
como é que você avalia as ações realizadas? Obtivemos a seguinte resposta:
“Que podem ser mensuráveis, que a gente tentou trabalhar era a redução do
desmatamento e queimadas, que é um trabalho que a gente faz bem forte e a
idéia é que a gente tentasse mensurar esse trabalho em função da prática dos
produtores em relação ao meio ambiente que a gente têm como mensura que
é o desmatamento e as queimadas, esses são dois indicadores do programa de
educação ambiental”.
Podemos aqui perceber que esta instituição possui uma linha bastante
voltada a questão do desenvolvimento sustentável, ainda longe de ter como eixo de
atuação a EA entendida aqui como princípio de justiça ambiental, empoderamento
social e participação democrática, na verdade a maioria das questões propostas e
discutidas pela mesma tem o propósito de trabalhar no intuito de atender ao
desenvolvimento, outrossim a estrutura econômica, em primeiro lugar em detrimento
dos demais aspectos apresentados e não esta, como conseqüência da EA.
A SEMA, segundo a entrevista, possui dois parques urbanos: Mãe
Bonifácia e Massaro Okamura na capital do MT Cuiabá. A estrada transpantaneira, é
considerada por esta instituição, pelo estado como uma Unidade de Conservação UC.
Além destas existem mais 34 UC no estado, que por sua vez possuem 16 projetos, que
atuam nos mesmos, sendo mais desenvolvidos nos parques e na UC descriminada a
cima. Realiza orientações nos municípios antes da época de queimadas e da piracema.
Comparado a cordilheira, ou melhor, à árvore do Tarumã, podemos
relacionar este CEA com a mesma no sentido da sua expansão, da distância que existe
entre uma árvore desta espécie e outra da mesma espécie, o que realmente dificulta a
existência de uma cordilheira da mesma, assim também se com os locais que são de
responsabilidade deste CEA, onde a distância cria determinados obstáculos.
85
Utilizando a criatividade e a simbologia, podemos ainda comparar este
CEA a árvore Tarumã pelo seu cheiro forte, que chama atenção de diversas populações,
assim se com a SEMA, que chama atende a diversos segmentos. A cor do seu fruto
impregna onde faz contato, assim são as iniciativas da SEMA nos espaços que atua. De
estrutura frondosa, de grande porte, com longos galhos, grande copa, tem grande
alcance, espaço, o mesmo se diz da SEMA, que tem grandes espaços e tem de atuar em
um grande espaço, porém a mesma não deixa outras vegetações nem mesmo as árvores
da sua espécie crescer sob a sombra de suas folhas, ou seja as iniciativas encontram
dificuldades de desenvolver parcerias ou competir nos espaços que esta atua.
VI.IV CORDILHEIRA DE BOCAIÚVA - IBAMA
O A. D., seu cargo na instituição é de técnico na área de Educação
Ambiental. A instituição IBAMA tem como atividade principal à fiscalização. Atua no
CEA 1 ½, que o mesmo tempo que se encontra na empresa e atua junto a EA,
considera-se educador ambiental.
Na sua percepção, da educação ambiental:
“Eu acho que o ambiental aí seria até desnecessário porque quando você tem
educação uma pessoa educada em todos os sentidos ela vai se preocupar com
a questão ambiental, vai se preocupar com o social, com o ambiental, vai
evitar desmatar a natureza estragar a natureza, a biodiversidade, vai cuidar
dos recursos naturais, não vai esbanjar, acho que educação, uma pessoa
educada ela teria consciência de tudo isso, tentaria cuidar melhor do seu
ambiente”.
Para melhor compreendermos o diferencial que o Ambiental traz à
Educação Ambiental, podemos nos retratar vários autores, que por sua vez resgatam a
historicidade e o diferencial existente entre a educação e esta área híbrida de
conhecimento que é a EA, transcendendo-a e compreendendo-a como além de apenas
adjetivo ou de substantivo, para uma identidade, opção e postura política de relações:
“O atributo "ambiental", longe de cumprir apenas uma função adjetivante, ao
especificar uma educação em particular, constitui um traço identidário da
EA, marcando sua origem num contexto histórico determinado: os
movimentos sociais ambientais e seu horizonte de crítica contracultural”.
(CARVALHO, 2002, p. 85).
86
Na tentativa de buscar maiores informações sobre a percepção que
tem da Educação e da EA, questionou-se sobre suas diferenças e o mesmo nos responde
de forma a não estipular as diferenças entre estas conforme podemos observar abaixo:
“Não sei se teria diferença, eu acho que o ambiental é um acessório, adjetivo
da educação que tem implícito. Sabe não tem como você falar de uma
pessoa educada ou falar de educação sem remeter a EA a Social ou a este
tipo de coisa, seria uma análise geral de educação que incluiria tudo, não tem
que querer separar”.
Reforçamos também a nossa compreensão da diferença destas áreas de
conhecimento:
“Desde que os conceitos de natureza e meio ambiente abandonaram os
limites da ciência ecológica e passaram a designar uma agenda de lutas
sociais passaram a ser vistos não apenas como mais uma questão a ser
equacionada pela lógica científica mas, sobretudo, como um valor crítico do
modo de vida dominante, entorno da qual tem se organizado um importante
debate acerca de novos valores éticos, políticos e existenciais que deveriam
reorientar a vida individual e coletiva. (CARVALHO, 2002, p. 86).
Na continuidade da entrevista, ao indagar sobre o ambiente, o mesmo
retrata: “O ambiente é tudo o que está ao seu redor. As pessoas pensam que ambiente é
natureza, a mata longe, não, a sua casa é ambiente, a sua rua é ambiente, tua
cidade é ambiente”. E trazendo ao ambiente local, ao CEA, o significado deste para ele
temos:
“O espaço que tem aqui tá muito acabadinho, não é um espaço muito bom, a
gente tenta melhorar esse da melhor forma possível, mas não depende da
gente. Eu tento criar o meu ambiente, o meu espaçozinho, deixar ele o mais
agradável possível, muitas vezes você não consegue, temperatura, falta de
estrutura, não tem ar condicionado, esse tipo de coisa”.
Na oportunidade questionou-se como se efetiva as ações deste CEA
junto aos diferentes espaços, meio ambiente, natureza que o mesmo atua este ênfase
a percepção operacional de atuar em diversos municípios, em diversos espaços.
“A relação deste espaço com a natureza. Essa relação poderia ser mais
implementada, essa relação do IBAMA no espaço, do IBAMA com outros
núcleos, com outros centros, ela poderia ser mais implementada, nem sempre
esses escritórios, tudo fica fora do núcleo central da gerência, ele sofre um
pouco, com pouco de informações, de recursos, disponibilidade de dinheiro,
eles ficam a mercê do que acontece aqui eles trabalham um pouco sozinhos,
mas na EA agente tenta fazer um trabalho conjunto, realiza palestras em
conjunto, oficinas, mas mesmo assim é difícil, mesmo nos para sairmos
daqui e ir lá ou eles virem para cá, eles não conseguem”.
Questionou-se, então qual era o forte deste CEA e o mesmo nos
apresenta a proximidade do Pantanal como um das vantagens, bem como indica a
Transpantaneira como um espaço do CEA, identificado como incomum também a
87
FEMA, sendo o mesmo referência para um trabalho com a comunidade local e com
os turistas, onde a vantagem desses espaços está justamente de estar no local de atuação
o que poderia desenvolver um trabalho, atuação, proposta grande, porém como os
mesmos estão distantes isto acarreta em ações que podem ser melhores estruturadas.
Quando indagado sobre as suas experiências culturais, solicitado um
exemplo de experiência relacionado à educação o mesmo reflete sobre a biodiversidade,
discorrendo sobre a o seu pensar, a sua reflexão e atitude junto aos animais. Traz a tona
também a sua relação com o lixo e com a água que desvela toda a preocupação de certa
forma resultante do marketing verde, que são essas as temáticas mais trabalhadas
pelo mesmo, lixo e água, como se pode constatar a baixo:
“Respeitando os seres vivos, todo esse negócio de ficar matando passarinho,
por exemplo, quando eu era criança eu matava bastante mas agora eu vi que
realmente não... é besteira isso, é respeitar todos os seres vivos . Você
respeitar todos os seres humanos, principalmente, você tem de respeitar os
seres humanos, um hábito que eu tenho bastante que eu trouxe de casa é
nunca jogar lixo na rua, que é uma coisa que eu percebi aqui em Cuiabá é
que as pessoas não jogam lixo no lixo, sempre jogam lixo na rua, tentar
evitar o desperdiço de água, por exemplo quando tá lavando a louça, você em
vez de deixar a água correndo desligar ensaboar, depois enxaguar, banhos
assim não tão demorados, acho que é isso basicamente isso”.
Quando questionando sobre a cultura, o mesmo nos relata que: “Cultura
é o conjunto de todo conhecimento e características de uma pessoa, de uma população
de uma região em si, cultura é isso... não tem como separar”.
Desvela-se nesta fala o reconhecimento da cultura dos pantaneiros, onde
a cultura está associada ao meio ambiente à natureza, onde os seres vivos ali existentes
fazem parte da cultura também, as relações que estabelecem.
Ao ser questionado se podemos entender o SESC Arsenal como um
Centro de EA, o mesmo abordou que podemos: “Eles têm um bom espaço para
trabalho, disponibilidade de recursos, eles são interessados em fazer EA, mostram
interesse, isso é importante”.
Descreva em linhas gerais os principais tópicos e características do
programa proposto pelo IBAMA, é justamente cuidar da biodiversidade.
“O IBAMA tenta cuidar, preservar cultivar a biodiversidade, que é o fator
principal no IBAMA atualmente é esse, tenta cuidar da biodiversidade, a
biodiversidade é ela inclui todos os seres inclusive seres humanos e aqui no
trabalho do IBAMA”.
88
Ao ser questionado sobre o que carece ser mudado referindo-se às
temáticas conversadas, o mesmo nos apresenta a necessidade da sensibilização das
pessoas, entendendo que as mesmas possuem consciência sobre as questões
ambientais, como pode ser constatado abaixo:
“O que precisa mudar é, as pessoas serem um pouco mais sensíveis, a causa
ambiental, porque a gente fala em conscientização, as pessoas estão
conscientes do problema ambiental, mas não se sensibilizaram ainda, não
viram que se elas não mudarem logo, num futuro bem próximo pode não dar
mais tempo”.
Ao abordarmos a questão da consciência, nos remetemos a vários
estudiosos que discutem esta temática, para melhor entendermos a questão do
diferencial entre conscientizar e sensibilizar. Trazemos a reflexão abaixo que nos
enriquece as bases da EA e para as reflexões aqui propostas:
Ela também não se presta a “conscientizar” as pessoas, como costuma a
dizer a maioria, reproduzindo um discurso sem fundamentação crítica sobre a
significação política da palavra, inserida no pensamento de Paulo Freire.
Bourdieu (1996) acredita que se fala demais em “consciência”. O mundo
social não funciona somente em termos de consciência, mas também de
prática”. (SATO, 2002, p. 25).
Este CEA é comparado à cordilheira de Bocaiúva, visto que a mesma são
árvores pequenas, retorcidas, típicas do Cerrado, porém são encontradas no Pantanal,
nas vazantes, campos, e nas próprias cordilheiras. No período das águas a mesma
encontra-se com os frutos maduros que são ricos em vitamina C. A mesma não possui
nem uma beleza exuberante e nem se destaca junto às demais árvores, porém sua
população é bastante grande e são várias as espécies que se alimentam dos seus frutos,
como o IBAMA, que por sua vez encontra-se em diversas áreas de atuação no Pantanal,
atende a várias funções e populações, porém referindo diretamente à EA o mesmo ainda
realiza trabalhos com frágeis que existem técnicos, porém espalhados na
grandiosidade do Pantanal e com as pequenas ações trazem poucos resultados, porém
são essências ao sistema, como as bocaiuveiras.
VI.V CORDILHEIRA DE CAMBARÁ
O responsável pelas informações foi o Sr. C. R. A tendo como cargo ou função
na instituição como Superintendente. Sua origem é Cuiabana, tempo que atua no CEA
89
são dois anos, atuando na Educação Ambiental 7 anos, tendo como horário de
atendimento: 7:30 as 11:30 horas 13:30 – 17:30 horas. Considera-se como especialista e
pesquisadores visto que realiza ações publicações de trabalhos sobre na área de EA.
A instituição tem o nome de Instituto Eco - Social Cultural do Pantanal -
IESCPAN, sem um endereço exato, considerando que está em mudança da mesma no
momento, porém tem sua sede na cidade Barão do Melgaço MT, tendo como
atividade principal a Fiscalização e Educação Ambiental. Quando questionado sobre
EA o mesmo nos relata que:
“... Então com isso ele está fazendo uma educação ambiental que muita
gente na cidade não faz. Pega junta um monte de folha, coloca num saco e
joga fora. Por exemplo: eles estão assumindo a salgadeira... um senhor
passou a lista de materiais que tem que levar pra Chapada. Aí,
primeiramente nisso que ia juntar as folhas pra colocar num saco que eram
muitas folhas, esperai, as folhas não são lixo. O que é lixo é lata, plástico,
isso fazer com que o pessoal aprenda a não jogar mais no chão, jogar no
cesto de lixo. Isso é lixo. Agora folha de árvore, isso não é lixo não. Deixem
juntar essas folhas, não vai jogar mais no lixo juntamente com outro lixo que
a gente guarda, vamos juntar elas, vamos moer elas, e vamos misturar com
terra, com terra grossa por cima, vamos misturar com isso vamos fazer essa
terra ficar fértil. E todo dia vamos jogar isso nessas árvores que tão aqui na
beira do rio e vamos molhar, dai com isso você vai ver o resultado daqui a
um mês, você vai ver o resultado dessas plantas que tão aqui, elas tão assim
porque primeiro: vocês pegam uma folha e jogam fora, não é pra jogar fora,
é pra juntar e jogar no delas com terra, então você vai ver a diferença, no
sentido de adubo”.
Na sua fala, podemos perceber vários exemplos práticos de EA, onde
todos eles envolvem as percepções que se tem das coisas, onde o mesmo atenta para a
necessidade de trabalhar essas percepções. Desvela-nos e valoriza a forma com que o
pantaneiro se relaciona com o Pantanal, sua cultura, sua forma de vida, querendo
divulgar esta relação ao mundo. Outra questão bastante interessante é a sua abordagem
de que as ciências, as áreas de conhecimento possuem formas de perceber de forma
diferenciada, porém todas são ligadas a EA.
Retrata o ambiente como lugar para se viver, trazendo questões bem
próximas para exemplificar esta compreensão, bem como sutilmente traz a questão da
justiça ambiental, do poder, como podemos observar abaixo.
O ambiente é o lar que nós vivemos. Esse é o ambiente. O ambiente, ou
seja, a educação ambiental tem que ser feita em casa, continuada no serviço
ou na escola. Então isso pra nós é o ambiente. Pergunta para o índio o que é
o ambiente? Ele vai falar que o ambiente é aqui onde nós vivemos”.
Ao questionar como é o seu relacionamento com ambiente, o mesmo
90
desvela a preocupação de propriedade do Pantanal, onde o mesmo é de
responsabilidades de todos e não de apenas algumas instituições. Traz na fala a
responsabilidade de cada um nos seus atos e espaços, porém limitados a este na sua
relação com o seu meio ambiente a questão da coletividade da relação à participação
democrática, com o fazer em conjunto o mesmo não aborda, fazendo parecer que a EA
é o seu fazer todo dia nas suas coisas e seus espaços, bastante pragmático e simples,
porém existem questões mais complexas por exemplo, às relações estipuladas neste
contexto de produção capitalista que tem a necessidade de serem abordadas, como o
mesmo trata quando aborda a casa do médico à beira do rio, do seu esgoto no rio, da
forma que o mesmo é tratado por ser médico.
Outra questão que nos leva a refletir é sobre o passar vergonha na frente
de outros, é certo que o constrangimento de alguma forma leva a pessoa a refletir, mas a
referência, a forma de trabalhar, o conceito a essência e a importância da EA vão além
de um sentimento individual, de um constrangimento, porém pode até partir dai para
novas relações e ações.
“Então uma ONG quando ela nasce, ela começa com o presidente, com o
vice, com o secretário e com o conselho fiscal, hoje a IESCPAN está com
isso e um pouco mais ainda. Então a tendência dela é crescer, crescer,
avaliar crescer, avaliar crescer e criar um pouco mais de uma ONG protetora,
porque o Pantanal não é pequeno. E o Pantanal não é da FEMA e do
IBAMA e da Polícia Florestal, o Pantanal é de todos nós que preservamos o
meio ambiente, que gostamos do meio ambiente. Se você arruma sua casa e
vai trabalhar, você é um ambientalista. Se você chega em um local que você
está fazendo pesquisa : Chapada ou Pantanal, e você preserva esse local
limpo e você não degrada ele você é um ambientalista. Para ser ambientalista
ou conservar o meio ambiente não precisa ter muito conhecimento, você tem
de respeitá-lo apenas. A casa que você tem não pode ter sujeira na sala,
tem local apropriado para fazer as coisas”.
Entendemos aqui que a EA vem a proporcionar construção coletiva,
como um projeto comunitário:
“Sujeito ecológico, nesse sentido, é um sujeito ideal que sustenta a utopia
dos que crêem nos valores ecológicos, tendo, por isso valor fundamental para
animar a luta por um projeto de sociedade bem como a difusão desse projeto.
Não se trata portanto de imaginação como ma pessoas ou um grupo de
pessoas completamente ecológicas em todas as esferas de sua vida ou ainda
como um código normativo a ser seguido e praticado em sua totalidade por
todos os que nele inspiram.” (CARVALHO, 2004, p. 67).
Quando questionado sobre a relação cultura e meio ambiente o mesmo
nos relata suas experiências e percepções, bem como deixa clara a importância da
cultura nas relações que estabelecemos com a natureza, com o meio ambiente e que a
91
cultura está diretamente ligada a EA, como pode ser observado abaixo.
“Bom, a cultura ela está ligada diretamente com a educação e a educação
ambiental... A cultura é um termo que sempre vai estar ligada ao meio
ambiente, sempre a educação ambiental. Não pra você desligar uma coisa
da outra, não tem como você desligar uma coisa da outra, elas tão ligadas
diretamente, dos dois lados elas estão ligadas”.
Esta questão tem por objetivo perceber como os sujeitos entrevistados
relacionam a cultura e a natureza, que entendemos que as duas se interagem
continuamente em um processo dinâmico de construção mútua:
“Neste diálogo inscrevemos as condições naturais em que vivemos em nosso
mundo de significados, transformando a natureza em cultura, conhecimento,
fonte de vida material e simbólica, ao mesmo tempo em que reencontramos a
natureza e nós.” (CARVALHO 2004, p. 164)
Quando indagado sobre sua percepção quanto ao SESC ser um CEA o
mesmo relata a necessidade de dinamizar este espaço, apresenta-o como um lugar
público, aberto que suas apresentações, ações de forma geral, podem ser aprimoradas,
melhor aproveitadas se com temáticas voltadas à EA, como podemos perceber na sua
fala.
“... Usar não para apresentação, lógico que essa apresentação teatral é
interessante, mas pra a educação ambiental melhor ainda, aí tem a
preocupação cultural a preocupação teatral e coisas mais, agora se forem usar
para apresentação ambiental ligada ao meio ambiente ou palestra para os
alunos, melhor ainda. É um local que tem muito acesso a muitas instituições,
é um local público”.
Com relação ao que se pode mudar o mesmo, nos revela que sua
percepção quanto à forma de tratar, trabalhar a EA na execução da mesma nas escolas é
de colocá-la enquanto disciplina, ou seja, fragmentá-la em áreas de estudos, em
temáticas, o que nos remete a fragmentação da mesma, ao isolamento destas nas
disciplinas inverso do proposto enquanto tema transversal, de união das demais
disciplina e aplicabilidade das mesmas. Esta questão nos leva a uma discussão mais
profunda, que não é o nosso foco de pesquisa por isso ao será aqui aprofundada. Porém,
cabe registrar que é uma temática importante para a EA, e bastante discutida, ou seja,
como efetivar a EA na escola.
“A qualidade de vida em nosso planeta tem sido rapidamente deteriorado,
com o comprometimento não somente dos aspectos físicos ou biológicos,
mas principalmente dos fatores sociais, econômicos e políticos. Neste
contexto, o ambiente não pode ser considerado um objeto de cada disciplina,
isolado de outros fatores. Ele deve ser abordado como uma dimensão que
sustenta todas as atividades e impulsiona os aspectos físicos, biológicos,
sociais e culturais dos seres humanos”. (SATO, 2004, p. 24).
92
Quando questionado sobre o que percebe ser necessário mudar, o mesmo
nos traz em sua narrativa as relações do nosso modo de produção, evidencia ainda a
questão do lucro e do pagamento, retorno à natureza ao meio ambiente dos impactos
que provoca por meio de ações voltadas a EA para o ser humano, sem considerar ou
restaurar os danos causados pela mesma, mas utilizando sim a estratégia de
compensação como marketing de suas ações de contribuição às questões ambientais,
culturais e assim por diante, chegando a abordar uma carreira em EA, como uma nova
profissão, desconsiderando a essência da EA, de construção coletiva, de
empoderamento, de participação democrática, de justiça ambiental, da reflexão,
pesquisa estudo e ação nas relações do eu, da interação com o outro não meio ambiente.
“O ser humano, a maneira de viver dele de atuar e dos empresários também,
da sociedade em si...não seria empresário, se ele não ganhasse...então o
empresário tem que ter seu lucro, agora numa parte desse lucro tem que ser
revertido para o meio ambiente, seja para incentivar a educação ambiental...
ele tem retorno...todas as ONG’S são de geração por afinidade pública, nessa
parte ele não vai perder ele vai ter retorno a partir do imposto que ele paga
pro governo, então vai ser uma forma dele contribuir também...”
Outra questão que podemos destacar na sua entrevista à questão do
colocar a EA como disciplina curricular:
“dessa disciplina, de preferência também em todos os cursos, inclui histórico
maior naquele curso que é vinculado a educação ambiental.”
O debate sobre a transversalidade da EA ou a criação de uma disciplina
nos sistemas formais de educação é u constante desafio.
Sendo uma área do conhecimento que requer diálogo com os demais, as
opiniões se dividem constantemente.
Panos, a EA é política e envolve a ética da vida de todos nos. Portanto,
ela deveria ser orientada transversalmente, numa abordagem interdisciplinar, num.
Entretanto, sem dar o veredicto final, em situação que existam profissionais desta área,
a abertura de uma disciplina não parece ser tão insensata.
É preciso relativizar este debate principalmente no ensino universitário,
que pode ser carregar proposições interessantes em relação EA, dependendo do
profissionalismo, contexto histórico e competência no campo fértil da EA.
A EA é uma prática que, ao menos na América Latina e no Brasil em
particular, se construiu em sintonia com a crítica social dos movimentos
ecológicos, num contexto de difusão da temática ambiental na sociedade.
Isto tem como conseqüência o pertencimento da EA a um campo social
93
historicamente construído: o campo ambiental. Esta filiação, como
veremos ao longo deste artigo, confere a EA uma tradição de crítica radical
da sociedade o que na esfera propriamente pedagógica se expressa como
crítica a educação formal tradicional e a busca de uma nova forma de
educar”. (CARVALHO,2002, p. 88).
Ao ser questionado como a ISPAM atua em relação com a vida, a
biodiversidade o mesmo nos apresenta ações que são realizadas no Pantanal, percebe-se
a engajamento desta ONG junto a demais instituição, o que é uma iniciativa promissora
de ação conjunta, com demais instituições que possuem o mesmo interesse, porém ao
abordar a atuação em si, a forma que executa e que é feita, percebe-se aí que as mesmas
estão voltadas às ações em trilhas em diversos contextos, ação no meio ambiente. Estas
trabalham as percepções, sensibilizam as pessoas para as questões ambientais, porém as
mesmas não proporcionam nem informações, nem desafios que possam dar
continuidade na vida cotidiana de quem se submeteu a essas trilhas, visto que seu
cotidiano é diferente, bem como dão a idéia de formas diferenciadas de estar e ser meio
ambiente, onde em cada espaço se tem uma atitude, como podemos perceber em sua
narrativa:
“Ah, isso é uma coisa muito complexa. no Pantanal são seis pessoas que
atuam pela ISPAM, e tem o pessoal do IBAMA, o pessoal da FEMA, tem
o pessoal da polícia florestal que trabalha em conjunto com o pessoal da
FEMA, então a palavra complexidade é muito branda, porque eles trabalham
por partes, tem as partes das trilhas, tem o grupo, tem a parte da trilha por
terra, tem a trilha por rio, tem trilha ecológica na terra, tem a trilha ecológica
na árvore, então até por água tem trilha também. Tem o caminho que você
passa que tem um atalho melhor, se for pegar na linha reta é boa, mas se
você pegou o atalho é melhor ainda, porque ali na água ela é 100%, ela não
tem muita onda, ela não tem emendas, como rio normal que a gente vê, então
você tem que saber andar, pra você não acabar ficando na estrada”.
O Cambará é uma árvore considerada Pantaneira, de cor amarelada que traz em
sua florada um espetáculo sem igual para o Pantanal, como este CEA, enquanto ONG,
também nos proporciona um aprendizado diferenciado, que é uma iniciativa de
instituição não governamental, ou seja a organização de pessoas que preocupados com
uma temática tomam a iniciativa de atuar junto à mesma, tendo como base essa
identidade. Apesar de ser considerada Pantaneira a espécie é invasora, bem como as
ONGs, que possuem identidade, mas na verdade não são da região, porém adequadas a
estas fazem suas interações, interagem e tornam-se nativas além do que esta espécie tem
uma tendência a grandes agrupamentos, assim se também com as ONG, que são
iniciativas que na maioria das vezes ocorrem em grupos.
94
VI.VI CORDILHEIRA DE MANGA - SESC ARSENAL
O entrevistado desta instituição foi D. B. seu cargo na instituição é
Técnico Musical, considera-se pesquisador musical, o seu horário de atendimento é
8:00-18:00 horas, participa da Rede integrada de Música no Brasil, de Movimentos de
Base, ONGs do grupo músical “Caleidoscópio” e do projeto sócio cultural “Ciranda”. É
curitibano tem 20 anos, atua no CEA 3 anos e meio e na educação Ambiental,
indiretamente 10 anos. Tendo o SESC Arsenal como atividade principal: “o
desenvolvimento artístico cultural da clientela, comerciário e usuário”.
O SESC em geral, serviço Social do Comércio tem como objetivo,
proporcionar ao público comerciário, que é o público principal, mas não este, o
envolvimento na área de saúde, esporte, lazer e cultura.
De acordo com o entrevistado atendendo a este objetivo o S. Arsenal
trabalha na área cultural, é um Centro Cultural. Trabalha com um diferencial, na partes
culturais, propiciando as pessoas acesso ao que elas não têm, como a cultura popular,
essa cultura que não tem meio de divulgação, que não se na televisão, nem revistas,
CDs ou livraria, pois a cultura popular não atende à indústria comercial, não traz
retorno financeiro, então não investem nisso, não investindo não tem como se divulgar.
O que o S. Arsenal propõe então é trabalhar com a cultura da pesquisa, trabalha com a
divulgação de artista que tem esta pesquisa, trabalho embasado, de formação, de
educador.
Percebe-se no seu testemunho a valorização da cultura, não só local, mas
aqueles que estão marginalizados pelo sistema, mas que de alguma forma possuem a
pesquisa em sua vida, ou seja, valoriza o conhecimento popular, não limitando ao
modismo ou a academia, criando possibilidades à socialização deste conhecimento e
valorizando-o.
Quando questionado sobre como percebe a EA o mesmo faz uma
metáfora interessante, onde compara a EA com um útero que alimenta e alimentado de
alguma forma por aquele que alimenta, uma troca, onde se faz necessário perceber,
entender-se, o funcionamento e a relação existente, como segue: A educação
95
ambiental é, entender onde você está, como é que funciona, como você pode se
relacionar com esse lugar que você vive, como você podendo tirar tudo dela e dando
para ela. Acho como um grande útero”.
Reconhecemos que ao retratar o meio ambiente como “útero” a presença
da percepção eco-feminista, que representa, contrapõem a racionalidade atual do
capitalismo e das relações de poder masculinas, de devastação e exploração, exigindo
novas relações entre as pessoas, considera a intuição nas mesmas, resgata o princípio do
cuidado.
“... você começa a ler as coisas mais máfia assim e não isoladas, então
começa a ver que as coisas não são tão separadas, a gente faz parte de um
todo, quer dizer, o músico trabalha de uma forma, o médico trabalha de outra
mas, o objetivo é um, qualidade de vida, é sensibilizar, de repente um
músico que está tocando ali e o médicoouvindo, ele se sensibiliza e ele se
descobre então, quais as possibilidades do caso que trabalha.”
Podemos constatar na sua abordagem a presença do outro, a preocupação
com o mesmo bem como bases da teoria da complexidade:
“Assim, nesta posição de seres híbridos, ou seja ao mesmo tempo
semelhantes e diferentes de uma natureza estritamente biológica, nascem as
condições para um permanente diálogo caracterizado pela tradução cultural
do mundo natural” (CARVALHO, 2004, p. 164)
A percepção que se tem é que o mesmo tem uma visão complexa do
assunto, onde a interação, ação, reação, interação, o meio onde acontece às coisas é
considerado, outrossim, busca unir as coisas contrapondo a visão fragmentada que
temos e reproduzimos. Onde as ações e as sensibilidades não existem apenas em um
momento e sim em todos, posturas, opções que não são de acordo com o espaço, local
ou outros determinantes, mas no complexo geral tem-se uma postura, um perceber,
optar e atuar, com coerência e conseqüência.
Quando questionado sobre o ambiente, o espaço S. Arsenal o mesmo nos
retrata a familiaridade que tem com o mesmo, o sentir-se bem, no acreditar em fazer,
ser e estar no processo, trazendo a percepção de lugar para se viver, que por sua vez
envolve a construção participativa dos seres humanos junto ao meio ambiente que é
construído na interação, como constata no registro abaixo:
“Acho que este espaço é minha casa, eu acho que vivo mais aqui que na
minha casa, acho não, pois eu vivo mais neste espaço do que em casa, é onde
por enquanto eu me sinto bem, to aqui porque me sinto bem, quando eu,
começar a fazer mal aí eu tenho que sair fora, pois eu vou começar a fazer
mal também, então é onde eu posso fazer as coisas que eu acredito, pois tem
que ter isso também, pois se eu não acreditar também”.
96
Ao questionar sobre como percebe a relação do SESC com o pantanal o
mesmo retrata a dinâmica da vida, das sensibilidades, das percepções, da explosão de
vida que se tem no Pantanal onde o trabalho tem essa finalidade, de vida e sensações.
“No Pantanal eu fui uma vez o Pantanal tem tudo a ver, pois o Pantanal é
uma explosão de vida, eu acho que é para isso que a gente faz,para isso que
eu faço música, acho que é para as sensações que a gente pode ter, pode
captar. O Pantanal está relacionado por pelas sensações novas a cada dia,
se você for ao mesmo dia, no mesmo lugar que você foi hoje, se você for
daqui a um mês está diferente, a música também é a mesma coisa, o que você
toca hoje for tocar amanhã é diferente, o que você ouve hoje vai ouvir
amanhã é diferente”.
A experiência, vivência que traz á tona ao se referir as suas experiências
culturais, traz sua percepção de ser sensibilizado pelo meio onde até o espaço que atua
instiga mais ainda a sua relação com a arte, com a cultura, com diferentes tipos de
expressões, o que nos remete a compreender a cultura como um processo sensibilizador
para as diferenças, que os artistas buscam e trabalham com as diferenças, diferentes
formas de expressar-se, de referências, no intuito não de recriminá-las, mas de
compreendê-las e interpretá-las.
Quando abordado quanto à relação do meio ambiente com a cultura o
mesmo nos traz, desvela na sua percepção a sensibilidade para a dinâmica cultural,
dinâmica da vida, onde a própria EA é vista como uma expressão cultural, o que nos
remete a grandiosidade da construção coletiva enquanto processo de mudança social,
que é capaz de construir uma ciência de suas percepções, de suas construções,
expressada não em movimentos, mas considerada como uma expressão cultural, que
se renove, que seja de acesso a todos, que seja modismo, mas não de poucos mas de
todos.
“Acho que tudo é uma expressão cultural, a cultura se transforma, ela se
transforma a cada dia, não existe essa poesia de catar a cultura, essa poesia
de catar cultura é meio utópico, a cultura não se resgatada, a vida está em
constante mudança, e se a cultura é relacionada à vida, a cultura ta mudando
também, então você pode, não resgatar, mas fazer alusões às culturas
passadas, a cultura ninguém consegue resgatá-la, ela está na frente, ela se
renova ela é viva, ela é viva, não se consegue resgatar ela tá aí”.
Quando questionado sobre o que tem que mudar o mesmo respondeu
que: “Falta pensar um pouco, principalmente agora”. O que nos remete a questão do
refletir para atuar na educação, nas palavras de Freire (1983, p.198) “A primeira
97
condição para que um ser possa assumir um ato comprometido está em ser capaz de
agir e refletir”.
Este CEA é comparado com a cordilheira de manga ou de caju,
considerando que essas espécies não são típicas da vegetação do Pantanal, apesar de
existir em toda sua extensão, de serem plantas tropicais, foram ali introduzidas e fazem
parte da cultura local, considerando que grande quantidade de moradores da região
possui em seus quintais e pomares essas espécies que são consumidas, na sua época em
grande quantidade, bem como são utilizados para fazerem doces.
Quando questionado se conhece outro espaço, iniciativa de CEA, o
mesmo nos desvela a sua compreensão de CEA da seguinte forma:
“O horto é, ainda meio que meia boca, mas é, pois têm gente que pode
explicar as plantas, as sementes disso, semente daquilo, tem um
acompanhamento. Tem que ter atividades não tem apenas um espaço lá, e a
galera entrar, e essa coisa toda, e aqui a mesma coisa eu trabalho no centro
cultural, tem que ter uma produção cultural, não é pq é um teatro e um
cinema e tal que é um centro cultural, um lugar que trabalha a cultura
ambiental não é pq tem um monte de arvore que ele tem um projeto de
desenvolvimento ali dentro, aí sim, mas só o espaço não é”.
Percebe-se na entrevista deste sujeito à importância dada ao ser humano,
interação na ação, com referências na EA, onde não basta ter um espaço para que este
seja considerado CEA, ou um proponente de EA, tem de ter pessoas e informações.
98
VII - AS POPULAÇÕES
A ciência pode classificar e nomear os órgãos de um sabiá
mas não pode medir seus encantos.
A ciência não pode calcular quantos cavalos de força existem
nos encantos de um sabiá.
Quem acumula muita informação perde o condão de adivinhar;
divinare.
Os sabiás divinam.
Manoel de Barros
DESENHO IX - A Interação
99
Na continuidade de buscar o diferencial que a cultura ou o Espaço
SESC Arsenal proporciona aos seus freqüentadores, bem como buscar identificar a
percepção que este tem de meio ambiente e assim desvelar e realizar as interpretações
sobre as mesmas, foram realizadas seis entrevistas com os freqüentadores do SESC
Arsenal.
Percebe-se nas narrativas dos freqüentadores do SESC Arsenal uma
reflexão sobre a questão da EA e da cultura no processo, bem como a participação, a
parte social na formação do ser humano, de certa forma uma sensibilidade maior para as
questões pró meio ambiente, outrossim, as questões das relações que o campo de EA
trabalha, podendo até ser pelo diferencial de se ter trabalhado a imagem como
instigador dos relatos, como pelo próprio local em que ocorreram as entrevistas em
relação às outras, mas o fato é que estas se mostraram mais sensibilizados. Por mais
uma vez, ressaltamos que as imagens por nós selecionadas são vazias e
simultaneamente transbordantes. É transbordante porque as imagens carregam marcas
indeléveis de nossa própria leitura de mundo. Nossa representação buscou imagem
correspondente à cartografia apresentada na tipologia da EA.
Entretanto é também vazia, desde que significa uma porta de entrada a
tanto olhares e caminhos possíveis. Em outras palavras, se a escolha de uma dada
pintura não corresponde aos nossos próprios olhares, as narrativas eram livres e
flexíveis para outras construções, que por sua vez foi o que foi considerado.
De fato a escolha de uma imagem evocaria uma tendência da EA,
entretanto, observamos a tênue linha que segrega estas categorias, muitas vezes tecida
uma a outra, e em outras vezes segue coincidentemente com nossas representações pré-
estabelecidas.
Entrevistado G. é de Poxoréu MT: está em Cuiabá desde quatro anos
considera-se cuiabano e escolheu a figura da artista Vitória Basaia, a Senhora do Rio
Cuiabá, percepção espiritualizada, onde o entendimento da origem do ser humano, do
meio ambiente, das relações que vêm de Deus e da presença Dele na inter-relação com
o mesmo, sai do plano físico perceptível para desvelar-se em ações de Deus. Como
podemos perceber no depoimento abaixo:
“O meu atual meio ambiente são meus amigos, as pessoas que me cercam, e
principalmente minha família, então uma coisa que, minha nova família, eu
tenho a família dos meus pais, mas tenho um filho de dois anos sete meses e
minha esposa, minha micro família, quando eu vi isso aqui eu me lembrei de
100
mim, de meu filho, da minha mulher, dessa família que estou
construindo agora, então foi a imagem que veio diretamente, pela luz dela,
ela é uma coisa iluminada, abençoada e essa minha fase também, mais por
isso”.
Quando abordado sobre o espaço do SESC Arsenal, podemos constatar
que o mesmo é considerado ainda como continuidade das suas relações de sua vida,
onde o mesmo é um ambiente cultural.
“O complemento de tudo isso que falei, é um complemento porque são as
minhas relações, as minhas coisas eu to diretamente relacionado com
ambiente cultural que é o SESC, para ver as coisas nesta estrutura como para
mostrar o meu trabalho, ou aqui, ou no teatro ou no espaço alternativo ali em
cima, em outro lugar no ambiente, as pessoas que freqüentam aqui, que vem
aqui, eu conheço muitas, eu vejo muitas amigas e muitos amigos vêm me
ver, e é isso o SESC é o complemento do que eu acabei de falar”.
Ao ser abordado quanto à relação entre ambiente e natureza temos no
seu relato a percepção da cultura interagindo e estabelecendo interações junto à
natureza.
“Total tem uma relação, as duas coisas para mim andam juntas, elas estão
emboladas, não se define muito bem o que é uma e o que é outra, você olha
no âmbito das duas coisas, para mim tá junto, ta tudo junto, cultura tem a ver
com meio ambiente e meio ambiente tem a ver com cultura o que eu faço
tem a ver com meio ambiente, meio ambiente tem a ver com o que faço, é
uma mistura para mim, é uma grande mistura, eu não separo não”.
Ao indagar sobre alguma experiência que os pais lhe aviam
proporcionado quanto ao meio ambiente, o mesmo discursou sobre sua historicidade
realizando assim todo o processo de repensar sua ação, sua percepção, re-significando
toda a sua historicidade neste ato de reconstrução oral da sua história de vida, na
reflexão e abordagem dos seus valores.
“Eu nasci em uma cidade, em que meu pai, meu pai minha família é uma
família de nordestino, eu nasci em Poxoréu - MT, porque meu pai veio do
Rio Grande do Norte, minha mãe da Bahia, para ir para aquele ambiente,
porque aquele meio ambiente ia sustentar ele, meu pai de princípio à da
lavoura, que na época era muito bom, Rondonópolis, logo depois não deu
certo ele foi para o garimpo, uma coisa não tanto ambiental, não tão ético,
mas dali se tira sustento, dali se tira a vida da sua cria, no caso era eu na, de
uma maneira não tão poética, não tão bela porque ta explorando o meio
ambiente para tirar riquezas mas também no aspecto assim do meu pai, da
luta de sobrevivência eu acho assim que isso é um por menor. A coisa maior
relacionada ao Meio Ambiente, extração, você ta tirando alguma coisa, você
está acabando com as coisas, poluindo. Por enfim é uma coisa mais em
grande escala, e coisa de empresário, meu pai era sozinho, era um garimpeiro
que, ele não teve a sorte nos 10 anos dele de pegar uma boa pedra de
diamante enfim, ele pegava para sobreviver”.
101
No testemunho apresentado o mesmo faz uma diferenciação da
grande escala a pequena escala, onde a primeira é apresentada como mais impactante e
com outro intuito que não o de sobrevivência. Percebe-se também a consciência de que
a atividade extrativista traz impactos negativos ao meio ambiente, já que acaba e polui o
mesmo.
Percebemos ainda nos registros abaixo que o mesmo traz a justificativa
das relações que possui com o meio ambiente, com a natureza de forma não a
explicar a mesma, mas justificar as ações que estabelece, onde o mesmo desvela uma
relação de natureza enquanto recurso de bens e de informação, reafirmando que a opção
por uma imagem não nos limita a limitar o depoimento a percepção, representação que
esta tem, mas nos leva a instigar a reflexão e re-significar as relações e o contexto
histórico.
Outra questão na qual desvela é que existe uma cultura ambiental que
traz a tona a questão da preocupação da necessidade de interação, equilíbrio com o meio
ambiente, com a natureza para que se possa ter a continuidade da espécie humana, da
linhagem. Identificamos na sua abordagem a importância da cultura como um processo
de educação, onde além de estabelecer as relações da cultura com a educação e com
demais aspectos, o mesmo ênfase a responsabilidade da cultura para a sensibilização
pró meio ambiente e natureza, onde a mesma é a sua inspiração cultural, por meio da
interação e observação com o ambiente natural.
Outro entrevistado dos freqüentadores do SESC Arsenal foi W. G.
Paranaense 23 anos em Cuiabá cuiabano e escolheu a Ponte sobre o rio Cuiabá, de
Almira Router, que por sua vez representa a percepção desenvolvimentista, o progresso.
A ponte une o ambiente e o crescimento econômico que modifica o espaço. Nesta
perspectiva o mesmo denuncia as mudanças ambientais como podemos constatar em
sua fala:
“Esta foto mostra o Rio Cuiabá, as margens aqui da cidade e pescadores e
tal, isso aqui mostra uma realidade que eu vivi quando cheguei a 26 nos
atrás, eu pescava pacu, ta certo e hoje infelizmente não se paga nem
Botoado
31
como diria. A degradação do rio Cuiabá foi muito grande em duas
décadas conseguimos acabar com todo o rio Cuiabá, eu atribuo isso ao
progresso desenfreado de Cuiabá, porque se você for a Acurizal que é ali
nas nascentes do rio Cuiabá, é um rio ainda totalmente puro, sem
degradação, então me parece que a degradação se deu realmente aqui, da
entrada aqui em Cuiabá, então se acabou e esse é o retrato que mais
31 Peixe típico da região.
102
chamou atenção por conta disso. O custo do progresso, da expansão
demográfica, sei o que teve aqui em Cuiabá, acabou com um dos maiores
bens naturais que nós tínhamos, que era o rio Cuiabá, no seu aspecto vistoso,
no seu aspecto de lazer, no final de semana nós íamos tomar banho no rio,
tinha uma praia, tinha um clube náutico”.
“... Sto Antonio de Leverger, 20, 30 Kl daqui e as praias de eram
famosíssimas, no festival de praia nos anos 80 chegava julho abria a
temporada e ia até dezembro, janeiro... não existe mais, também realmente
foi sem precedente”.
Na re-significação descrita acima vários elementos são denunciados e
anunciados, mostra-nos os impactos negativos provocados em nome de um progresso e
do desenvolvimento, o que nos remete a percepção do meio ambiente como problema,
por outro lado apresenta a percepção de que existe um diferencial entre locais devido as
formas de atuações que ali se estabelecem:
“Para nós, entretanto, sem reivindicar uma postura de retorno às cavernas,
são discursos de que podem representar armadilhas fatais ao Pantanal. Para
além de santuário ecológico, o Pantanal deve ser cuidado pelos seus
habitantes, pelos seus valores e formação que lhe assegurem valores
éticos na construção de táticas sustentáveis à conservação da vida.” (SATO,
2006 b, p. 6)
Quando questionado sobre o SESC Arsenal ser um espaço que
proporciona, promove a EA, por meio da cultura a relação desta com o meio ambiente,
o mesmo aborda que:
“Não tem como dissociar a cultura do meio ambiente acho que tem uma
relação muito forte da cultura com o meio ambiente... a questão dos índios,
acho assim, se você analisar a convivência dos índios como meio ambiente a
degradação é zero, eu acho, dos índios, aqueles que realmente hoje estão
querendo preservar sua cultura, em contrapartida a cultura no meio urbano,
ela proporciona essa deformação que há no meio ambiente, por conta de uma
cultura arraigada de que precisa progredir, que você tem que avançar, você
não pode ficar parado no tempo, acho que há uma relação muito forte”.
Ao refletir a construção acima registrada, percebermos que o sujeito
entrevistado, além de perceber e estabelecer a relação da cultura com a natureza
denuncia uma cultura voltada ao progresso que proporciona a deformação do meio
ambiente e mostra a existência de outra cultura, que busca a preservação do meio
ambiente, dando como exemplo os índios, porém este pode também estender-se a outras
culturas como nos traz SATO (2006, p.5) na interpretação dos cartazes construídos
pelos jovens na I Conferência Infanto-Juvenil do Pantanal Mato-Grossense “não
negligencia o ser humano na paisagem Pantaneira com marcas evidentes das expressões
sociais, inscritas numa memória cultural que não se segrega da natureza da biorregião.”
103
Percebe-se também em sua fala a denúncia de um diferencial entre a
cultura urbana e a rural, bem como a questão do progresso o que enfatiza um outro lado
da imagem que escolheu, não como um elo entre o progresso e a natureza, mas como
um sobrepondo o outro, onde a cultura do espaço urbano exige velocidade, progresso,
tecnologia contra outra cultura que seria a de que se está parado no tempo.
“Eu lembro que na época de colégio eu plantei uma árvore no segundo ou
terceiro ano, no dia da árvore, no colégio era comum isso, cada aluno pegava
uma arvorezinha em determinada época, né? Plantar uma árvore, isso
também ficou muito marcado, isso é sinônimo de preservação. No entanto,
hoje no que pese na educação na preservação, o esforço é educação junto à
preservação ambiental. A coisa não surgiu tantos frutos porque acho que
muitos que estão envolvidos nesse negócio também plantaram uma árvore no
colégio como eu como você”.
Nesta fala percebemos a busca de tentar identificar de onde veio a
sensibilidade pró meio ambiente nas atitudes e atividades escolares, denuncia que a
mesma não deu o mesmo resultados para todos, visto que se faz necessário um esforço
junto à educação, voltado para a preservação.
O Sr. W. A. C. escolheu a imagem de J. Antonio Silva, Queimada, que
representa aqui a percepção de ambiente enquanto problema, o ambiente é visto como
desafio a ser corrigido. Porém sua fala nos leva a perceber sua reflexão sobre o contesto
que se vive neste momento, de denúncias de desmatamentos e outras voltadas à
exploração. Como podemos constatar:
“A imagem que me impressionou mais foi essa da floresta, essa imagem aqui
tem um fundo muito importante para mim primeiro pela degradação da
floresta, o meio ambiente não significa floresta é verdade, mas agente liga
com a natureza, para nos aqui é a floresta lógico, que não prende a isso, mas
é fato, é que uma floresta devastada para mim significa a degradação do
meio ambiente enquanto sentido de vida mesmo e não vida dentro
embutida no sentido da vida da árvore, da vida natureza como o na
concepção que a gente tem de dizer que ali dentro existia uma árvore que
vida, que a floresta que é vida, não muito mais do que isso se
aprofundarmos nesta concepção de meio ambiente que eu vejo. O segundo
aspecto é diretamente ligada a esta devastação, você vai encontrar um título
né? Que é o progresso, que ta ligado à economia do país, porque você precisa
produzir, você precisa dar lucro para o país, você precisa exportar, então ta
diretamente ligado a um projeto que automaticamente não prevê lucro, ou
seja, capital. Essa é outra vertente que eu vejo nessa foto e aliado a isso tudo
as políticas governamentais, ou seja, é preciso produzir, é preciso crescer, é
preciso devastar, é preciso colocar prédio, construir pontes, estradas, é
preciso transportar grãos, é preciso ter latifúndios, para isso essa é outra
faceta dessas fotos, que eu vejo também claramente, porque você tem da
pessoa humana um projeto de governo, projeto de visitação de vida e que o
lucro proporciona, a sobrevivência, para esse tipo de desmatamento, que aqui
é a sobrevivência da depredação. Tanto da pessoa como do ambiente e a
depredação do meio ambiente tanto faz de tudo que circula ali dentro”.
104
Em sua reflexão podemos observar que a imagem o inspirou a refletir
sobre as relações que temos no contexto Mato-grossense onde existe, o desmatamento e
o trabalho escravo. Remetem-nos a refletir a organização do espaço, da corrente
positivista de progresso, porém não fica apenas neste aspecto, aborda-o de forma crítica
onde apresenta a depredação não do meio, mas também das pessoas, dos seres
humanos em função, ou melhor, por uma ideologia que se baseia no fator econômico e
limitado ao benefício de uns pouco em detrimento aos demais, bem como as ideologias
presentes, porém disfarçadas nos eslogans inspirados nas idéias ecologistas, mas que
visam o aspecto econômico em detrimento dos demais.
“... as políticas de EA assumem a importância da construção de
sociedades sustentáveis, para além do legado economicista encerrado no
desenvolvimento sustentável, e têm como escopo o empoderamento político
para que as comunidades rurais ou urbanas façam suas próprias escolhas”
(SATO, 2006 b, p. 3).
Ao questionarmos se podemos considerar o S. Arsenal como um
promotor de EA o mesmo nos retrata a sua percepção, trazendo a tona não questões
objetivas mas subjetivas também:
“Toda vez que você está num ambiente que funciona essa interação, essa
harmonia, automaticamente proporciona a paz, o ambiente que está aqui é o
ambiente de tranqüilidade para a paz, pelo menos é o que eu sinto aqui nesse
ambiente”.
O que nos remete as bases de abordagem desta pesquisa, a
fenomenológica bem como a compreensão que se tem do mundo na sua complexidade:
“Já dissera Geertz: pedras de um lado sonho do outro: ambos têm em
comum que são coisas deste mundo (Geertz, 1989, p.20)... É na percepção
biológica, sensória, estética que o fenômeno que se comunica ao mundo,
indissocialvelmente como carne e espírito, macomunados.” (PASSOS e
SATO, 2002, p. 132).
Aqui o mesmo apresenta a reflexão de que o SESC Arsenal mesmo
sendo um espaço produzido tem toda uma re-significação, apresentada como harmonia,
que se entende e percebe-se como o equilíbrio entre o que era e o que se propõe.
Desvela que se percebe este espaço como um provocador do refletir, do pensar quando
diz “aguçar um pouco o intelecto”, onde o apresenta junto com o estar disposto, aberto
para a aprendizagem, o respeito à cultura, à natureza, ali representada pela vegetação, à
integração que se faz no meio ambiente.
Desvela a preocupação com a biodiversidade, que quanto mais se têm
essas diferentes espécies em um local, mais se tem conflitos, porém o equilíbrio.
105
Eu vejo que deveria ter o meio ambiente, base de nossa cultura.
uma relação, aliás para mim é o pressuposto da cultura porque você tem
cultura diante de um meio, você tem cultura no meio deveria ocorrer com/ no
meio ambiente que você vive, não deveria ser dissociado,
infelizmente...porque nossa conduta, do nosso nascimento, a nossa terra, no
Brasil ou ao menos em Mato Grosso ela deveria ser respeitada, o meio, que o
homem (sic.) vive para poder aprender, para poder entender sua cultura e
se desenvolver e aprender com ela, isso não é visto.”
Entendemos a sua percepção como resultante do meio, bem interagindo
com a mesma, apresentando a idéia de que além de não dever desassociar deveriam
levar em conta as construções culturais:
“... novamente à dimensão cultural, desde que se situa na ancoragem pessoal
da cultura das diferenças. Todo ser humano representa um movimento de
diferença. E essa diferença se expressa e se visibiliza no campo da cultura.
Num recorte antropológico, Clifford Geertz nos pediria para refletir sobre
meras atitudes triviais perante o mundo. Novamente resgatamos as
singularidades num universo plural e retornamos o círculo que abriu este
pequeno texto. A arte aqui reivindicada tem o caráter de aliar a ordem na
desordem, de aceitar a crise sem temer a metamorfose.” (SATO, 2006 b, p.
6)
A grandiosidade desta abordagem que nos apresenta questões de
conflitos culturais, de interesses, da justiça ambiental, do fazer, explorar, destruir em
nome de um progresso onde a referência não é a qualidade de vida local, nem é se quer
nossa e sim de interesses de outros. Bem como ao tratar questões como respeito,
dignidade, apresentar, exemplificar a degradação, a regressão que se submete e
submetemos os nossos por seguir um sistema de produção de relação que visa o lucro,
eis o porquê chegamos a este campo de conhecimento, a EA, que se propões estudar
essas relações.
Na sua abordagem o mesmo nos descreve, re-significa as relações dos
seus pais com o meio ambiente, diferenciado no contexto rural e urbano,
respectivamente os ensinamentos e orientações eram de conservação, de organização. O
que nos fez perceber o resgate histórico, a sua compreensão e denuncia do período do
estruturalismo, onde a natureza era percebida como desordem, que necessita de
organização desses espaços, principalmente no meio urbano. Onde as influências da
cultura, do progresso, criavam diferenciais de tratamento, que mais impregnadas,
mais acerada no meio urbano,
“É mais uma das coisas que eu aprendi com eles é que eu posso dizer que
teve muito peso, foi com eles também é que a natureza, sempre tem de haver
uma relação de harmonia com a natureza, e mesmo ele tendo esse
ensinamento e passando esse ensinamento para a gente ao mesmo
reproduzindo deles, eles guardavam que, por exemplo, as nossas idas,
106
quando moravam na cidade, idas para o sítio ou para as fazendas de
amigos sempre eles preservavam a admiração de não matar não derrubar, de
não destruir aquela natureza, nem animais peçonhentos eles gostavam que
matassem, então eu vejo assim que mesmo eles, eles tinham um certo
conflito isso ocorria muito pois nesses locais eles queriam que agente
preservasse e quando a gente estava na cidade, eles tinha isso de não, mas é
progresso, tem de desmatar, tem realmente que tirar, tem que asfaltar, por
ensinamento, mas quando nestes locais sempre foi essa de preservar, de
entender eles entendiam que quando iam a fazenda dos amigos ou do sítio
eles entendiam, e ajudavam a gente entender que era assim, sempre foi
assim, tem de respeitar, nem arma nem nada, tem que ser tirado, isso que era
interessante”.
Podemos perceber o conflito existente, onde para cada espaço tem-se
uma atitude como se um espaço não estivesse interligado ao outro, como se estes
determinassem como determinam ainda determinadas atitudes.
O que nos remete a refletir sore a forma que lhe damos com os espaços,
uns devem ser conservados e outros estruturados, como são os casos das Unidades de
Conservação, bem como os corredores ecológicos onde são estimulados as atitudes pró
ambiente, como se o entorno não interferisse nesses espaços, como se os locais, ás área
não sofressem com as alterações ocorridas nas suas divisas. Divisas estipuladas pelo
próprio ser humano, pois são ou eram complexos que interagem.
M. B. S. O., escolheu a imagem de Almira Router, Ponte sobre o rio
Cuiabá, representa a percepção desenvolvimentista, onde o desenvolvimento é
considerado, sendo a ponte símbolo de união do ambiente “natural” e o crescimento
econômico que transfigura o espaço.
“Eu escolhi porque eu moro na rua: Sírio Libanesa, mas eu minha casa, casa
antiga, tem duas frentes, tem a frente para a Sírio libanesa e tem para a
Avenida Oito de abril. Na avenida Oito de abril tem um córrego, chamado
Mané Pinto e esse córrego, a água dele vai todo pro rio Cuiabá, e as pessoas
geralmente não tem consciência do que fazem, então joga lixo, joga sapato
velho, joga tudo que não presta dentro de casa pega e joga dentro daquele
córrego, só que isso é extremamente prejudicial, tanto que acabou, que ali era
um córrego mesmo, que tinha água limpa, tinha até lambari e hoje em dia
não existe nada disso, e realmente está acabando também com o nosso rio,
rio cuiabano.Então eu escolhi este daqui que eu associei a esse córrego”.
Disserta sobre a sua realidade, sobre o seu meio ambiente onde a mesma
retrata os problemas que vem ocorrendo no seu meio ambiente, que é percebido como
lugar para se viver tecido junto com problema e desdobra para o desenvolvimento
sustentável, ou melhor, denuncia os problemas aliados ao “Desenvolvimento
Sustentável”, como podemos conferir nos registros abaixo.
Neste ambiente, fortalecem-se as propostas diplomáticas e conciliatórias das
grandes conferencias e acordos internacionais contra uma tradição ambiental
107
de crítica radical a sociedade. O próprio conceito de DS é um exemplo
disto, trazendo em sua origem o projeto de conciliar a sustentabilidade
ambiental com o crescimento econômico, sem rupturas com a ideologia do
desenvolvimento. Esta noção de sustentabilidade significa o fortalecimento
do modelo de desenvolvimento, na medida em que o moderniza e busca
atenuar sua face predatória tornando-o mais palatável através de uma certa
"ambientalização". Como analisamos em trabalho anterior as tentativas de
corrigir o modelo desenvolvimentista incorporando as externalidades
ambientais, por exemplo, deixa intacto sua lógica central baseada no
imperativo do crescimento econômico, da economia de mercado e de um
estilo de vida orientado para o consumo” (Carvalho, 2002, p. 93).
Quando questionada sobre sua percepção sobre a possibilidade do S.
Arsenal ser uma iniciativa de Centro de Educação Ambiental, a mesma nos relata que
existe esta possibilidade e ainda exemplifica como podemos utilizar esse espaço e
expressões:
“... por exemplo, uma peça de teatro ela pode desmembrar esta parte
romântica de atores conhecidos, como desenvolver a parte do meio ambiente,
trabalhar em cima do meio ambiente. Acho que está associado uma parte
com a outra, tanto a dança também, tanto à parte de artes plásticas como aqui
a pessoa representa o sentimento pelo meio ambiente através da arte”.
Traz-nos de forma rica e clara a associação que estabelece entre a cultura
e a natureza:
“As frutas locais, minha casa antiga, como eu disse a gente sempre
preservou, se vai em casa até hoje ainda tem o cajueiro, tem manga no
quintal, quer dizer então isso é uma forma de preservar o meio ambiente e
também a cultura nossa cuiabana”.
Quando abordada porque a questão do grupo a mesmo nos retrata a
importância da união para se fazer à diferença, onde existem as individualidades, porém
o forte do grupo é o próprio grupo, seus objetivos comuns, onde a identidade e a forma
de expressão, os gostos e as identidades são preservados, mas o grupo é uma forma de
pensar no grupo, onde só existe a fraqueza.
“Tem de ter o grupo porque sem o grupo a gente não caminha, tenho a
minha parte independente, mas a força maior é o grupo, tanto é que eu tratei,
eu participo de uma associação fora daqui e que se você não se unir fica
fraco, então eu sempre penso no grupo, mas eu penso também em mim
porque eu tenho minha forma de expressão, pintei, morei fora daqui,
morei em outro lugar onde a cultura é realmente fortíssima, o pessoal diz que
não gosta de ópera, fui a opera, gosto de balé, toda forma de expressão
mas eu sempre penso no grupo de modo geral”.
Remetendo à EA, resultante do movimento social, de uma
sensibilização, cultura, forma de perceber o ambiente e as relações que ali existem, bem
como os objetivos propostos por esta, podemos dizer que a percepção, a descrição do
108
sentimento do grupo, de ação conjunta, de força é uma essência que se busca e deve
ser fortalecida no exercício desta área de conhecimento, EA,que é sua essência e seu
objeto e objetivo:
“Somos criadores e também diretores de cenários. Inventamos cenografia, da
mesma maneira que nos adaptamos aos contextos. Porque somos diversos,
nossos sonhos são plurais. Inscrevemos nossas singularidades no múltiplo
buscando-nos livrar da solidão, do isolamento e da indiferença...
Ressignificar a EA na cultura é também tentar ultrapassar a frieza dos textos
frios...Ouvindo Miles Davis, os acordes do seu saxofone nos conduzem ao
título deste jazz: “magia” que possibilita que as expressões vazem de nossos
sentidos, tornando-se palatáveis somente quando ressignificamos a EA na
sensível diferença artística que move o mundo.”( SATO, 2006, p. 5)
Quando questionada quanto ao SESC Arsenal ser um CEA a mesma
apresenta todo re-significação do espaço, perceptível no seu discurso, onde resgata os
motivos, a história da restauração do SESC utilizando-o como bem como o resgate
cultural como justificativa e meio de sensibilização para a preservação, onde se refere a
ser humano como parte do meio ambiente e não como coisas isoladas.
Apresenta ainda a questão das reestruturações dos espaços que
ocorreram com a modernidade, onde os moradores mais antigos foram pressionados a
mudar para outros bairros, onde o movimento hoje é inverso, não são os prédios
modernos que estão sendo valorizado, mas os antigos valores, formas de vida e a
própria história local e os que a vivenciaram. Como podemos constatar na junção das
palavras que seguem:
“acho que sim porque ali é um patrimônio histórico que não tinha sido
preservado e ninguém nunca ligou para aquilo ali eles tiveram a idéia
restaurar o prédio voltado para a cultura, turismo e esse é um patrimônio
nosso. Agora eles pensam em resgatar, chamar o pessoal antigo para
conhecer o prédio e contar as histórias. O cuiabano mesmo está
desaparecendo e eles não têm noção de como é esta sede de cultura, tem
muita gente antiga na região do Porto, famílias tradicionais que ainda vivem
ali, muitas mudaram para outros bairros como CPA
32
. Incentivando a
restauração do que resta, preservando o que ainda tem, o porto ainda tem um
ambiente, casas antigas pintadas, aqui onde moro ainda tem isso mas tam
mais prédio, antigamente usava-se depósito, depósito de água, usava como
reservatório de água de tijolo e tomava-se banho no quintal e hoje não pode
mais porque tem vizinhos, tem de colocar biquíni ou maio para tomar
banho”.
M. G. C., mineira, mas se considera também cuiabana, optou pela
imagem de Gervane de Paula, Ano Internacional da Criança, representa a visão
32 Centro Administrativo de Cuiabá
109
participativa, o ambiente é feito na participação com outras pessoas, os seres
humanos interagindo entre os mesmo e com o meio ambiente. Como podemos constar:
“Eu escolhi essa imagem porque eu acredito que essa questão ambiental está
muito ligada à questão humana, eu acho que as pessoas ficam falando vamos
defender o meio ambiente e esquecem da criança do homem (sic.), e
esquecem da mulher, esquecem da qualidade de vida das famílias
conseqüentemente o ambiente vai também porque quando a população não
tem direito acesso à educação, a cultura, ela também não preserva o meio
ambiente, principalmente na sociedade onde se visa mais o lucro”.
Evidencia-se nestas linhas a preocupação com o humano, com a justiça
ambiental
33
, com a própria importância do acesso à educação, à cultura, denunciando o
sistema que visa lucro que separa o meio ambiente do ser humano, onde o meio é visto
como recurso e até mesmo como se fosse apenas resultado das ações do próprio ser
humano.
“A cultura, a educação, você poderá fazer alguma coisa por uma
comunidade se você trabalhar a partir da cultura da comunidade, sem
interferir, mas reconhecendo o valor cultural, porque aquele valor cultural ele
vai passar de pai para filho que você forma o conhecimento pode ser
conhecimento popular, que é importante para a herança cultural...Tudo isso
tem a ver com o meio ambiente, porque se uma pessoa não tem a visão de
onde ela está, ela jamais vai ter noção... Depois disso, quer dizer é muito
saudosismo e ta prendendo pessoas.”
Pode-se perceber a complexidade e a profundidade da sua fala nas
exemplificações que discorre, onde a mesma traz a importância da cultura de um povo,
da construção do conhecimento de acordo com a interação sem, no entanto, limitar-se
ao olhar do outro da cultura do outro, onde o mesmo remete-nos a aprendizagem
significativa, com referências que possuem significados não para o da escola, mas o
que se traz da convivência com os seus familiares com a sua comunidade. A
necessidade de tais considerações, da valorização destes valores até mesmo como forma
de defesa dos valores e influências culturais as quais somos submetidos sem considerar
as nossas realidades locais.
Denuncia ainda as diferenças culturais, diversidades que no convívio não
são respeitadas e nem compreendidas, ao contrario são punidas com cadeias, e que estas
por sua vez não resolvem, não respeitam o próprio ser humano, o próximo, sugerindo
ainda que se deva investir na educação, na cultura, no respeito das pessoas, na busca da
33 “...o mecanismo pelo qual sociedades desiguais, do ponto de vista econômico e social destinam a maior carga dos danos ambientais do desenvolvimento às populações de baixa
renda, aos grupos sociais discriminados, aos povos étnicos tradicionais, aos bairros operários, às populações marginalizadas e vulneráveis”. Declaração de lançamento da Rede
Brasileira de Justiça ambiental e Cidadania. Relume Dumará, Rio de Janeiro, 2004.
110
qualidade de vida para os mesmos. A mesma falta de respeito podemos constatar
em outras instituições:
“... coloca ao professor ou, mais amplamente, à escola, o dever de não
respeitar os saberes com que os educandos, sobretudo os das classes
populares, chegam a ela saberes socialmente construído na prática
comunitária.” (FREIRE, 1996, p. 30)
Quando questionada sobre as suas experiências culturais que se
relacionam ao ambiente a mesma nos retrata sua historicidade de forma a refletir sua
criação, sua educação, frisando a importância e a lembrança do que aprendeu com os
pais em relação ao que aprendeu na escola, retomando a questão da aprendizagem
significativa.
“Eu acho assim tem muita coisa de comportamento, que eu guardo mais o
que meus pais me falavam, por exemplo, do que eu vi na escola entendeu?
Meu pai era uma pessoa que tinha uma relação muito bonita com o meio
ambiente, ele trabalhava a agricultura com pequenos sítios, então quando ele
veio de minas, ele trouxe muitas famílias e eles dividiam várias áreas de
terra, entre eles, plantavam tudo assim mais com aquele cuidado de deixar a
margem do rio, a mata ciliar, ele falava esse negócio de queimar não é legal.
Naquele tempo a gente sentia que aquelas pessoas que não estavam com essa
idéia de monocultura, preservavam muito mais, então eu fiquei com a
lembrança do contato do campo, de valorizar o bicho, o bicho do mato,
agente dentro do mato, tudo isso com a família”.
Constata-se nesta fala que mesmo se referindo aos tempos de seus pais,
das suas lembranças, ainda resgata a questão do ser humano no meio ambiente, da
preocupação das relações ali estabelecidas de respeito, de valores de sobrevivência não
apenas de uma família, mas junto a uma comunidade, onde se respeitava a diversidade
até mesmo nas plantações, que assim era a cultura e não como muitos que pensam e
atuam na monocultura. O que nos remete a BERGER, (1986, p. 68), que nos relata que
o ato de descrever, de relembrar, de usar a própria memória é um ato reiterado, onde
colocamos nossas interpretações de acordo com que relembramos o passado
reconstruímo-lo de acordo com nossas atuais idéias sobre o que é o que não é
importante, ou ainda:
“Sempre podemos repensar, reinterpretar, o que vemos e o que nos afeta à
luz de novas considerações, do diálogo com nossos interlocutores, de novas
percepções e sentimentos e das experiências acumuladas ao longo de nossa
trajetória de vida” (CARVALHO, 2004, p. 169).
Podemos ainda ir adiante interpretando essa monocultura como a cultura
de um que sobressai, impõem, monopoliza as possibilidades da diversidade não apenas
nas plantações, mas culturalmente também.
111
“Eu acredito que é assim, este espaço não é apenas um patrimônio,
espero, ele se converteu em um lugar que interage, vai nas linguagens
culturais, eu penso que o SESC hoje é um presente para a comunidade
Cuiabana, para comunidade Mato–Grossense e até para outros artistas e até
para outro países, nós temos ouvido muito depoimentos das pessoas, é que
elas não imaginavam que aqui no Centro Oeste encontrariam este espaço,
onde fossem convergir várias linguagens da área cultural”.
O espaço do Sesc é percebido como espaço de linguagens culturais,
espaço de interação onde serve de referência não para o local mais
internacionalmente, porém o que percebo e destaco não é a extensão que este espaço
alcança, visto que este é bastante importante para as conquistas estabelecer, divulgar a
comunicação ali existente, mas porque é espaço de valoração da cultura pantaneira,
cuiabana e Mato-Grossense.
O Sr. L. B. escolheu a imagem da artista Vitória Basaia, Tartaruga
Mundo, a mesma aqui tem por finalidade representar a percepção de meio ambiente
enquanto uma visão planetária, ou seja, a interpretação do meio ambiente enquanto
uma complexidade maior do que a proximal, onde o planeta terra é apenas um planeta
no universo cheio de constelações.
“Porque eu acho que a questão Ambiental não passa necessariamente apenas
por uma relação com a natureza, a natureza física, eu acho que a questão
ambiental ela passa por uma certa compreensão cósmica, planetária,
galáctica porque não adianta também você vir com o papo de apenas
preservar a terra pelo fato de que os recursos estão acabando e não perceber
que se o planeta extinguir pode fazer e provocar alterações no sistema solar,
no sistema galáctico. Porque eu sinto que essa obra da Vitória, que é uma
coisa circular e remete a um cosmo, uma coisa de fertilidade, ela aproxima
mais daquilo que eu vejo de meio ambiente”.
Percebemos a coincidência entre o que representa a imagem nesta
pesquisa e a percepção do mesmo quando opta e se inspira na mesma para descrever a
sua percepção de meio ambiente. O mesmo apresenta sua percepção com uma visão
macro de meio ambiente, onde o que é realizado no contexto afeta um complexo mais
amplo. Quando questionado quanto ao espaço do SESC Arsenal o mesmo aborda que:
“SESC Olha para mim eu acho que preenche algumas lacunas que existem
na cidade de Cuiabá, no ponto de vista de espaço, pontos de encontros, de
pessoas, de trocas de informações e de uma forma inteligente, tendo a arte
como mediação, é que aqui a gente não fica sentado na mesa de botequim
falando da vida dos outros como normalmente acontece nestes outros
espaços que não oferecem um produto artístico, uma outra referência para o
nosso olhar para o nosso diálogo, então eu acho que é um espaço bastante
inteligente. Tem que ter mais nos bairros da cidade, em de ter pontos destes
para as pessoas estarem encontrando e se enriquecendo”.
112
Mostra-nos por meio da sua exposição que o mesmo preocupa-se na
socialização, na criação de espaços onde a cultura e a arte possuem o papel de
intermediar as relações, que por sua vez serve de novo filtro, espaço que promove de
certa forma aguça a inteligência. Que aqui é percebida e interpretada não como
inteligência que se entende que todos os seres humanos as têm, mas espaços que
possuem sensibilidades e linguagens diferenciadas, que por sua vez provocam novas
leituras, interações, conhecimento, linguagem e sensibilidades.
Ao ser indagado sobre a relação cultura e maio ambiente o mesmo
apresenta uma percepção bastante interessante visto que apresenta a EA como ciência,
denuncia-a como receita e também que a preocupação com o meio ambiente é um
processo histórico que repercute no Brasil, na qual o mesmo colaborou com sua
implantação ativamente e de forma militante no Mato Grosso:
“Acho que na verdade a grande cisão não aconteceu entre a cultura e o meio
ambiente. Acho que a grande cisão é entre a arte e a ciência, parte-se do
princípio de que a questão ambiental da forma que ela é colocada, ainda mais
hoje que é uma ciência pelo menos no ponto de vista dos conteúdos
acadêmicos é uma receita extremamente nova, mas que se for somente por
essa visão acadêmica, cientificista ela corre o risco de se isolar de não
romper inclusive com esse enfoque acadêmico que isso em um enfoque mais
global, porque a cultura nesse ponto ela tem uma certa vantagem porque com
cultura a gente pensa em primeiro momento o homem (sic.) e a questão
ambiental foi historicamente colocada no Brasil. Eu por exemplo
acompanhei aqui no Mato Grosso o processo de implantação dessa
consciência, que eu tinha muito contato com Arno Sinodovsky, pessoal,
agente ajudou na época a criar a Associação de Recuperação e Preservação
da Chapada dos Guimarães, foi a segunda instituições ambientalista porque a
primeira foi a AME, então através dos movimentos dos artistas, mane
Fonteles, Sergio Guimarães, Mario Friedlander ia vir um vídeo que eu tinha
feito, arca de nós, nós fizemos na em São Paulo na galeria Fumaça um
manifesto chamado Chapada viva, que era pala criação do Parque da
Chapada do Guimarães e o que acontecia era assim que no início as pessoas
pensavam muito na questão ambiental separadas do homem (sic.) e eu acho
que a cultura ela oferece muito para esse meio ambiente acadêmico,
exatamente assim de mostrar que o homem (sic.) não tem mais importância
mas é parte integrante e a gente sente isso muito forte na arte, por isso que a
arte é um elemento de grande transformação social, porque consegue
sensibilizar através de todos os nossos sentidos o conhecimento que
infelizmente acaba privilegiando apenas o sentido da razão, e arte não, na
arte nós temos a visão o olfato, o cheiro então eu acho que é isso.
Desvela-se ainda na sua fala a complexidade que o mesmo percebe a EA,
denuncia a visão fragmentada da forma que se trabalham as ciências, onde se prioriza a
razão e deixam a arte, os demais sentidos e sentimentos de lado. Traz a percepção pós-
estruturalista da complexidade unindo a razão com a emoção;
113
“O pensamento complexo não é uma conceito manipulável, é o de
integrador em si próprio uma visão que busca a multidimensionalidade, a
contextualização. É uma ajuda ao pensamento pessoal, não é um programa,
um método ou um modelo que pode sair da minha bolsinha e ser utilizado. È
uma integração em sua mente de alguns princípios fundamentais”.(PASSOS
e SATO, 2002, p. 130)
Refletir sobre esta questão nos leva ao que esta pesquisa se propõe,
entender de que forma o S. Arsenal, a cultura se relaciona com a EA, ou seja, como
sensibilizadora, como o elo entre as demais coisas percebidas e as ciências.
Considerando que os seres humanos não é apenas razão, ou emoção e nem a EA só uma
ciência que estuda as relações no meio, mas se propõem a estudar e refletir o eu, o
outro, o meio e suas relações, impregnada de utopia e sonhos, de um vir a ser no ser, é
no processo que se faz, considera toda a dinâmica, percepções e relação existentes.
“O único caminho para pensar o futuro parece ser a utopia. E por utopia
entendo a exploração, através da imaginação, de novas possibilidades
humanas e novas formas de vontade, e a oposição da imaginação à
necessidade do que existe, porque existe, em nome de algo radicalmente
melhor por que vale a pena lutar e a que a humanidade tem direito”
(SANTOS, 2000, p. 331).
Quando indagado sobre a relação cultura e meio ambiente, o mesmo trás
em sua fala a sua história re-significando suas relações, suas percepções, onde se
descobre no processo cultural, identifica-se com a cultura, com o cinema na reflexão da
sua história, como resultado, ação, interação da ação e da vontade.
“... da mesma forma que tinha um quarto para a sala de piano, a biblioteca e
o irmão da minha avó ele era um cara muito maluco, ele criou aqui em
Cuiabá, onde é o bairro Jardim Araxá, ali por Santa Marta, ali funcionou o
seminário da construção, ele criou na época ele era padre, ele criou uma
escola de filosofia racional para os povos indígenas, então minha avó assim
detestava abjetos indígenas dentro de casa, mas é com certeza que tem essa
relação família, da forma como você sabe você aprende em casa que lixo tem
que ser jogado no lixo que garrafa pode cortar então deve ter destinação
separada”.
114
VIII TRANSMUDAÇÕES INCERTAS
115
“Para ter mais certezas tenho que me saber de
imperfeições”
MANOEL BARROS.
DESENHO X - Fragmento dos Movimentos: A Transmutações
As imagens e percepções são condutores para uma reflexão, pontos de
partida para a complexidade das relações existentes junto ao ambiente. Para a reflexão
crítica, na busca de responder de que forma nos portamos no mesmo, onde somos
criadores de uma percepção única, ao mesmo tempo resultado da interação com o meio,
que também influencia na percepção, mas não é o determinante desta na dinâmica do
ser, do sentir do agir, interagir e perceber as interações no seu tempo e espaço.
É na reflexão destes aspectos, onde a flexibilidade da criação junto com a
vontade, o sonho, a intenção, a influencia do contexto que se faz cultura, é que as
formas, imagens, as possibilidades se concretizam e tornam esta fotografia um registro
de processo, que por sua vez não prevê o futuro, não engessa o passado, mas reflete e re-
significa um tempo, um espaço, registra as percepções, o que o ser humano disse, o que
sente e quais as referências, os padrões culturais existentes que fazem, constroem,
expressam e são culturas, hoje ciências, como é o exemplo da EA.
Tratamos a EA como campo de conhecimento, entendemos ciências
como campo de conhecimento que estuda, pesquisa determinado fenômeno ou área de
conhecimento, já que seu campo de investigação e sua construção como tal tem percurso
histórico, por sua vez a EA vem sendo cada vez mais estudada e pesquisada:
“...pode-se dizer que o presente trabalho orientou-se pelo objetivo de
interpretar, compreensivamente, a formação e a dinâmica do campo da
educação ambiental que emergiu no Brasil entorno da década de 70 do
século passado. Desenvolveu, nesse sentido, um roteiro que analisou as
condições históricas e culturais de surgimento desse novo campo de saber e
de atividade, deteve-se sobre o seu desenvolvimento multidimensional,
explorando algumas de suas principais nuances e procurou discutir as
possibilidades e os desafios que se colocam na atualidade para a sua
expansão e consolidação”. (LIMA, 2005, p. 189)
É neste meio de interação que a utopia, a ideologia encontra
possibilidade de tomar forma que se faz em mim diante do outro, com influência do
mesmo, re-significa, interage novamente de forma intencional, participativa, coerente
que busca a realização prática no mundo de relações mais respeitosas, intencionais, no
sentido de sensibilizar para esta reflexão, para a coerência entre a teoria e a prática neste
espaço e neste tempo:
116
“... mas, necessariamente, toda estratégia grupal deve verificar as
necessidades e as realidades locais, inseridos em contextos múltiplos que se
circunscrevem em cada ação. Não nos cabe apontar um outro caminho. Os
caminhos serão traçados durante a formação de cada grupo” (PASSOS e
SATO, 2002, p. 1304).
Contexto onde a teoria é pela justiça e a prática é pelo capital, onde o
ambiente é desvinculado do ser humano, onde a cultura é em determinadas
circunstâncias, uma imposição ao ambiente e não uma construção com base neste.
Porém, falar e refletir as percepções, aguçam, lançam, estimulam para este detalhes, de
cores, sentimentos, cheiros, relações e paixões pelo outro, pela vida, pelo meio que se
fazem as coisas nesta dinâmica.
Podemos constatar que ainda muito a se pesquisar sobre os CEAs,
sobre as iniciativas que se propõem a proporcionar a Educação Ambiental, sob vários
olhares e aspectos. Porém cabe aqui registrar que a EA é processo, é cultura, é a arte, a
intenção de conviver respeitosamente comigo, com o outro com o meio e refletir sobre
esse processo de forma crítica para a atuação respeitosa junto às diferenças. Diferenças
que a cultura vem processando muito, ao utilizar várias expressões, signos,
significados, referências, sonhos, meios que exigem respeito pelos seus valores.
Vários são os trabalhos, pesquisas e parcerias junto com as
Universidades, destaca-se entre elas a iniciativa da Universidade Estadual de Mato
Grosso, que no decorrer do processo desta pesquisa e junto com as construções feitas no
ProFEAP, desenvolve um projeto, iniciativa proposta que possibilita adequar às
características de um CEA em uma instituição acadêmica no MT.
Porém, temos de considerar várias outras pesquisas, iniciativas da UFMT
e outras instituições, enquanto Estrutura Educadora da Educação Ambiental, que se
faz menção e entendem-se as iniciativas de EA, como Equipamentos de EA, resultado
do processo das iniciativas de EA, como resultado do próprio perceber, entender,
interpretar e processo de construção dessas iniciativas.
Iniciativas inovadoras, como o Próprio SESC Arsenal e os demais aqui
apresentados, que atuam intencionalmente e coerentemente com a proposta que fazem
são referências à EA. Entendendo que a cultura, a arte proporcionam a expressão
intencional das percepções, sonhos, interpretações, re-significações e registros desta
dinâmica que por sua vez interagem expressivamente junto ao meio.
117
Projetos realizados como os do Grupo Pesquisador em Educação
Ambiental - GPEA, do PREÁ, do MES, REMTEA e outros elos na qual os seus
integrantes encontram-se envolvidos com a EA, atuam nas escolas, nas associações de
bairro, na prática diária de seus afazeres, na coletividade, sociedade em geral em prol a
sensibilidade para as coisas ambientais.
Este recorte, foco, lamina, filtro evidencia o SESC Arsenal como um
Centro de Educação Ambiental, mesmo este não estando dentro dos critérios
estabelecidos como CEAs pela REDECEAS, o mesmo promove a Educação Ambiental
aqui proposta, porém não estabelece as bases e princípios de atuação neste bem como a
maioria dos CEAs pesquisados.
Referências do que se entende de EA, que no encontro de CEAs em
Vitória – ES
34
, mostrou-se sem definição, ou melhor, sem bases, sem a pretensão de uma
imagem exata, mas entendo que a mesma deveria ter neste espaço, fotografia sua
sombra, cor, forma de ser contemplada, ou ao menos sugerida uma reflexão sobre o que
se pretende, entende de EA, servindo de referências para qualquer ponto cardeal que se
pretenda ir.
Muitas realmente são as propostas, porém observa-se tanto a nível nacional
quanto local que estas estão interessadas na EA enquanto produto a ser utilizado, a ser
vendido, comercializado sem, no entanto proporcionar uma reflexão, uma ação
intencional e coerente ao que aqui se entende como EA, enquanto promotor da equidade
social e da proteção ecológica através das relações democráticas.
No imaginário da vasta maioria, a educação ambiental ainda é percebida
por seus enfoques naturais. A própria política do SESC divide tarefas afirmando que o
S. Pantanal é responsável pela EA, e o S. Arsenal é pela cultura. Uma das contribuições
deste trabalho foi tratar de eliminar esta fragmentação, aliando a EA aliando a EA em
suas dimensões polissêmicas. Isto implica considerar que o S. Arsenal também tem sua
grande contribuição à EA
Por conseguinte é importante que este espaço: democrático, rico em
expressão, cultura, sensibilidade, sentimentos, cores, sabores, cheiros, sonhos, formação
e de participação tenha sua divulgação e utilização intensificada, na busca de se
34
II Encontro Nacional de Centros de Educação Ambiental e I Encontro Nacional de Salas Verdes, 18-
20/05/2005 Vitória-ES.
118
possibilitar a efetivação da contínua construção, ampliação e empoderamento
daqueles que ali freqüentam.
O mesmo possui um grupo de trabalho que podemos caracterizar como a
equipe técnica pedagógica administrativa, que como na EA está composta e atua em
diversas áreas do conhecimento, socialmente construído e fragmentado. Reconhece as
experiências diversas e proporciona a sedução da construção do conhecimento de forma
lúdica, criativa, crítica que reflexiva e inovadora. Respeita a diversidades de formas
de expressões, de materiais e experiências diversificadas, sem limitação aos conceitos,
critérios e paradigmas acadêmicos.
Os processos de avaliação neste espaço são realizados de uma forma
muito ampla e quantitativa no sentido de atendimento de metas, o seu diferencial, a
qualidade das atividades propostas, a sensibilização que promove, os incentivos às
diversidades de expressões e as interações, porém necessitam serem melhores
diagnosticadas, ou seja de criarem avaliações qualitativas e processuais nestes CEAs
que nos remetam a construção contínua de acordo com os resultados percebidos e nos
sirvam de exemplo para identificar a dinâmica destes fenômenos que são a EA, a cultura
e o CEAs.
Aspectos encontrados nos depoimentos dos sujeitos freqüentadores do
SESC Arsenal, bem como identificados nas possibilidades criadas neste espaço, tais
como a participação no bolicho, encontros, reuniões, conversas e outras ações
expressivas e criativas que ali acontecem.
A influência da cultura na comunidade freqüentadora deste espaço, como
estas expressões, linguagens podem ser mais dinamizadas, que colaboram com a
valorização da cultura local, dos pantaneiros, ribeirinhos dentre outros. Percebe-se que
este espaço pode ser mais visitado, ter suas atividades mais solicitadas no depoimento
do representante da equipe técnica pedagógica administrativa onde apresenta esta
preocupação, da carência de público.
O S. Arsenal tem imponência, grandiosidade e linguagens próprias dos
artistas. É um local de socialização da arte, da cultura e de construção das mesmas,
que freqüentada por grande parte dos seus representantes Mato-Grossense. Espaço que
com estas características limitam e selecionam de certa forma o seu público, porém que
vem sendo abertas aos poucos na sua proposição de trazer, de socializar estes espaços
119
para a comunidade, associações menos organizadas. Refere-se a menos organizada
quanto às suas estruturas, atendimento às leis de organização empresarial e industrial,
com o intuito de lucro e outras especificidades da ordem da produção capitalista como o
marketing verde.
O que nos leva novamente a refletir os objetivos de nossas ações, a
importância de avaliar o processo, é certo, no entanto, que esta iniciativa, o SESC
Arsenal, promove a cultura, por vez nem um dos dois possuem o objetivo intencional de
direcionar as sensibilizações que promovem e sim sensibilizar, valorizar e divulgar a
cultura local, o que remete a um espaço de cultura popular, que por sua vez não tem
finalidade de formar, de ser reprodutora de uma forma de pensamento de uma ideologia,
mas de expressar, interagir, ser e não de fazer intencionalmente, ou seja, de educar.
O espaço S. Arsenal é essencial à educação que sensibiliza e promove
reflexões, a expressão de sentimentos, de sonho, de percepções respeitando cada qual
nas suas diferenças e promovendo a convivência destas diferenças, na própria
construção da cultura, na interação das formas, cheiros, sabores e na convivência dos
conflitos, de percepções, de idéias, de expressões e interações.
Além das percepções aqui apresentadas podemos considerar que falta
muito para efetivar a EA à moda EA, de forma social, em grupo, no meio com vários
sujeitos de multi-referências, na participação democrática, com ética, com respeito e
convivência das diferenças, como acontece com a cultura, com o espaço e proposta do
SESC Arsenal.
Trata-se com prioridade do S. Arsenal, visto que o mesmo é o foco, a
referência desta pesquisa, porém retratando aos demais CEAs, percebe-se que os
mesmos estão longe de possuírem um sistema de avaliação que tenha a intenção de
tentar diagnosticar os efeitos que suas inferências. Porém as mesmas experiências nos
trazem informações ricas e importantes que podem ser aproveitadas por diversas
iniciativas de EA.
Essas referências servem de ponto de partida para a reflexão das
complexidades das relações existentes junto ao ambiente, hora mais voltado a um
aspecto do que outro. Base para o pensamento crítico da forma que nos portamos, para a
re-significação do espaço, das ações, das próprias percepções e é neste sentido que o
SESC Arsenal contribui para a construção da EA, que possibilita uma construção
120
respeitosa para com o outro, por meio da convivência instigada, curiosa,
desafiadora de interação, de aprendizagem, das percepções, técnicas e formas
diversificadas.
Lembrando que somos criadores da percepção, única, inusitada, porém
influenciada pela interação com o meio. É justamente neste meio, da criação e da
influencia, na reflexão destes aspectos é que o sonho tem possibilidade de tornar-se real,
outrossim, a utopia, a ideologia encontra possibilidade de tomar forma, que se faz em
mim diante do outro, com influência do mesmo, se re-significa e interage novamente de
forma intencional, nem sempre coerente, mas conseqüente, que busca a realização
prática no mundo de relações mais respeitosas, intencionais no sentido de sensibilizar
para esta reflexão, para a coerência entre a teoria e a prática.
Neste contexto onde a abordagem é pela justiça e a prática é pelo capital,
onde o ambiente é desvinculado do ser humano, onde, a cultura do meio de produção
impõe-se ao ambiente e não com base no ambiente, tem-se ainda uma expressão
popular, uma cultura que mesmo sendo explorada pelo meio de produção ou utilizada
por ele com forma massificante, pode sob o olhar, sob a reflexão trazer novas
percepções, possibilitando novas interações e ação.
Na linguagem metafórica adotada neste trabalho, no Pantanal não
existem cordilheiras de apenas uma espécie de árvore. Existem áreas com uma
predominância, porém mesmo ali as mesmas se comunicam, interagem, assim se
propõem à relação entre os CEAs, que atuantes no mesmo espaço, comunidades, por
vezes mais concentradas em um local do que noutro, mas com referência no Pantanal-
MT.
O que se desafia, ou melhor, reflete-se aqui, é que cada qual tem a sua
estrutura, forma, área de atuação, conteúdo, público, o que mostra a grandeza e
diversidade de possibilidades, porém, sem querer engessá-los, se faz necessário alguns
princípios, bases, pilares, pré-requisitos para a atuação na área da EA.
A reflexão é um convite direcionado para as questões objetivas e
subjetivas, como pensar e registrar a proposta de avaliação, a questão do ser e sentir, das
percepções e das interações. Questões do meio, onde acontecem as coisas, como
identidade, relações, conflitos de poder de espaço, de ideologia, questões que levem ao
respeito às diferenças existentes na busca da convivência entre os diferentes.
121
O registro destas relações e processos, suas conquistas e evoluções,
ou seja, a fotografia deste processo, na sua dinâmica, em seus diferentes momentos,
facilita a compreensão das modificações históricas, culturais, da EA e das relações
existentes.
Percebe-se aqui a cultura como terra, solo, que é absorvido e
transformado pelas próprias populações, onde interage, alimenta-as com suas folhas que
a adubam e que se torna a mesma, interage e serve de fonte e condutor de energias para
a vegetação, criando um ciclo dinâmico e cada vez mais complexo.
Conforme a vegetação tem-se um tipo de solo, próprio e resultante da
interação, desta dinâmica complexa, onde uns são mais oxigenados, outros mais
arenosos, argilosos, uns mais tensos, tenros, outros vermelhos e outras terras são pretas,
o que modifica também a própria vegetação, que se torna mais propícia a algumas
populações, espécies em detrimento de outras que ali não encontram condições
adequadas para o seu desenvolvimento ou estabelecimento.
Assim também a cultura faz com os espaços, ela interage e de certa
forma selecionam as populações que ali vão se fixar, onde os conflitos e demarcações
geralmente são estabelecidos de acordo com a própria participação junto a este solo. As
culturas se metamorfoseiam de Pantanal, entendido e apresentado como ecótono, que
percebemos e compreendemos que quanto mais diversificada mais rica e bela são as
mesmas.
Por vezes, interferências e implantação de espécies exóticas os enriquece,
como é o caso da manga do caju, mas na maioria das vezes, acirrado os conflitos e
com pouco espaço Pantaneiro, a invasão de determinada espécie, implantada por ser
resistente, como o fedegoso
35
, por ser de mais fácil cultivo e mais resistente, torna pobre
a terra e limitada aquela espécie.
A diversidade bem como a sua complexidade, composição é alterada,
como no caso também as ditas correções de terra, feitas para atenderem determinadas
monoculturas, que se limita e transforma o espaço, a dinâmica torna-se para
atendimento de uns em detrimento da diversidade, das relações ali existentes. Assim
também se na cultura, onde se prioriza uma expressão, percepção, uma forma
dominante de pensamento em detrimento das relações existentes, outrossim,
35
Planta introduzida no Pantanal de faço manejo e cultura no intuito de substituir o café, alastrou no
mesmo tomando conta, conhecimento popular.
122
desconsideram os conhecimentos construídos secularmente em função de uma
cultura, forma de relação que é imposta.
Exemplificando melhor esta comparação temos as Unidades de
Conservação, que desconsideram e retiram as populações que existiam anteriormente às
sua implantação; o mesmo se com as monoculturas, como a soja que derrubam o
cerrado e “consertam” seu solo para atender a demanda capitalista de um produto e de
produtores que não são os que ali se encontravam, não atendem as necessidades e nem
respeitam a cultura da sociedade local.
Assim com a educação a cultura tem os dois lados o que pode reproduzir,
impor, ser processo de seleção como pode também ser um agente transformador, e são
nestas relações e reflexões que a EA vem sendo construída, como cultura que se faz no
respeito e convívio das diferenças, como empoderamento destas e não mera reprodução
de oportunidades diferenciadas e opressoras.
O pré-conceito existente quanto aos pantaneiros é percebido na forma de
desconsiderar os conhecimentos por eles construídos com base na observação e vivência
no Pantanal. As instituições que ali realizam inferências ao invés de perceber e
comunicar-se com os mesmos por meio da sua cultura, linguagem, aprender com os
eles, construir, interagir como no caso de algumas espécies exóticas, espécies
implantadas como o caju e a manga, que foram incorporadas à cultura local, atuam
como o fedegoso disputando espaços e impõem-se sem demais interações com as
sociedades biorregionais.
Aqui se considera Pantaneiro os viventes no Pantanal, que aprenderam a
se relacionar com o mesmo, que construíram sua cultura com base no ritmo no/do
próprio Pantanal, ou seja de forma lenta, por vezes tímida, mas processual, atemporal e
fatal para os que ali não se dão a perceber os detalhes que esta área apresenta, para os
excessos impostos ao Pantanal que é de certa forma auto-regulador de suas populações,
mas que é frágil, influenciável e modificável como a própria população pantaneira.
Dinâmica e cheia de vida essa área de transição, o Pantanal, formou os
seus moradores de acordo com o seu ambiente, com as limitações impostas, bem como
de acordo com as riquezas oferecidas. Os Pantaneiros estabeleceram relações com os
seres vivos ali existentes, com a própria dinâmica do Pantanal, aprendendo a respeitá-lo,
e conservá-lo em seu convívio.
123
Com a imposição de leis e ideologias desvinculada com a realidade,
com as relações, percepções e ritmos do local, impuseram à reestruturação destes
aspectos neste espaço, determinando e modificando a adequação construída, como ainda
fazem esses CEAs quando desrespeitam essas questões, pressionando-os, expulsando-
os, ou até mesmo extinguindo alguns valores, conhecimentos, percepções e relações.
A vista embaça na busca do horizonte, na tentativa de delimitar onde
inicia e termina o Pantanal, onde inicia e onde termina esta pesquisa, por vezes
estendemos e distendemos o pescoço no intuito de querer enxergar mais, mas mesmo
esses nossos tão conhecidos olhos e olhares nos traem, mostrando como somos
limitados a querer limitar.
Como os nossos sentidos, percepções e até nossas interações são o que
são, partes da complexa conjuntura que não tem limite a um sentido, ou mesmo a um
espaço, por vezes mal conseguimos trabalhar com tempo que temos, que percebemos e
que vivemos.
A imensidão do Pantanal, sua diversidade, sua vida está longe de ser
desvelada na sua dinâmica, complexidade, mesmo nesta tentativa de abordagem
fenomenológica, a estrutura e racionalização na qual nos estabelecemos, com seleções,
classificações, ordenação, metáforas e outras estruturações vêem a tona, como
resultante da cultura construída, sofrida o que registram as nossas limitações diante das
grandiosidades existentes.
No recorte desta pesquisa de CEAs, com o foco no SESC Arsenal,
surgem conflito, entre a forma estruturada, acadêmica que ainda se submete e as nossas
militâncias de educador@ que se apresentam diante dos devaneios que a paixão pelo
Pantanal provoca. Neste conflito amplia sua percepção e escuta o pedido de socorro
deste espaço de vida que grita pela Educação Ambiental, para sobreviver e para
continuar a dar vida com dignidade as diversas populações ali existentes.
Encarar a realidade sem deixar tomar, cegar pela paixão, pela tristeza,
pelo medo, foram as dificuldades iniciais encontradas, já que se buscava o equilíbrio e a
organização desses sentimentos, intermediados à objetividade, porém estes se
desfizeram quando envolvida no processo, ao se deixar levar pela reflexão proposta,
perceber-se e descrever as percepções, desvelar e desvelar-se, envolver, comprometer e
interpretar. Foi então dar voz à paixão, à educadora, à aprendiz, à pesquisadora, à
124
educadora ambiental, à militante, ao ser que se construiu de forma integral, porém,
não perfeita, de contínuo crescimento desordenado, heterogêneo e cheio de conflitos
que fez fluir os registros que aqui se encontram.
Os conflitos internos da pesquisadora continuaram, e aqui se fez
necessário listar, tentar interpretar e registrar, o que para muitos seriam mais algumas
linhas de quem não tivesse mais o que apresentar, mas considerando a opção pela
fenomenologia arrisca-se e se percebe as mesmas como importantes e por isso atreve-se
a registrá-las aqui, tanto os conflitos sociais quanto os individuais.
Iniciamos pela utilização da fenomenologia, onde o conflito se deu em
trabalhar com dados quantitativos e chegar, transbordar as questões subjetivas.
Dificuldade na tentativa de ser científica, estruturada e ao mesmo tempo dar voz ao
sentimento, que é mais fácil longe das linhas de registros científicos ou acadêmicos.
Ou seja, se tem a experiência no dramatizar os sentimentos e
acontecimentos diários, de interpretar e de metamorfoseá-los, porém rasgar o coração e
deixar sangrar no papel branco, refletir sobre este ato, organizar, atuar, colocar em
linhas este sangue, vivências e percepções, e com o lápis do pensamento, que vaga,
delira, sai em devaneio, buscar desenhar as letras para ser compreendida, para
interpretar e desvelar a essência, buscando deflagrar os valores, interpretando as
interações e re-significações realizadas durante a pesquisa, que por sua vez não vem a
ser um exercício de registro muito fácil.
Processo de grandezas apreendidas e construídas, des-construídas, que
faz deste um ensaio de registro longe ainda de ser considerado um original, um
exemplar, uma referência de aprendizagem e registro fenomenológico desta, mas
original foi e é a experiência que cada um vivencia que é única e não pode ser
mensurada, ensinada ou se quer aprendida pelo outro, apenas percebida e relatada.
Experiência em aceitar que possui dificuldade de ouvir e de respeitar o
que o outro tem a dizer, fazendo a inferência de forma dialógica de Paulo Freire, onde a
fala do outro tem tanto saber quanto à de quem faz a pesquisa. Dificuldade em lidar
com mais de um depoimento, pois a metodologia proposta é de um em um e não de se
fazer uma construção coletiva de percepções coletivas, mas ao contrário de identificar
nas percepções individuais como a cultura vem trabalhando na coletividade.
125
Difícil é o recorte, é interpretar, é tentar completar ou argumentar,
justificar comparar o que os sujeitos fizeram tão bem nos seus depoimentos e re-
significações. Onde a emoção daquele momento é inenarrável e deveria ser respeitado
na sua integra, sem recortes do que nos presenteou, pois é ali naquele olhar, naquela
forma de dizer, difícil de transcrever, mas tão fácil de sentir e de produzir o arrepio da
emoção, é que está o valor, a identidade, o respeito, o diálogo, único, pois existiu
naquele momento.
Hoje, quem sabe, mudou a percepção a re-significação que naquele
momento existiu. Até mesmo o desafio do estranhamento, a identidade da pesquisadora
com as novas entrevistas, não possuem as mesmas referências, olhar e o mesmo
filtro, pois no processo dinâmico de se fazer com o outro, no mundo, na interação e
integração modifica-se, a percepção, a história, as referências de cada um e de todos.
Outra dificuldade foi a de recortar o tempo em que as coisas acontecem,
em uma dinâmica participativa e interativa. Dificuldade de registrar o meio, entre o eu e
o outro, no intuito de registrar um movimento, entre a pergunta, a provocação e a re-
significação. De registrar a percepção do outro que me desvelava várias questões a
serem interpretadas, refletidas diante do processo histórico construído, sem no entanto
impor os conhecimentos, teorias e percepções que foram aprendidas e aguçadas no
processo ali em construção e no do mestrado.
Ao perceber esta pesquisa na complexidade do meu ser, pude re-
significar o próprio processo de aprendizagem no campo da Educação Ambiental que
ocorreu, a construção, pesquisa foi feita por mim de maneira só, de forma isolada, mas
ao mesmo tempo em um contexto maior de grupo, do GPEA, de propostas de projetos e
ações com esta temática, bem como instigada.
Encontrou-se dificuldade também no excesso de informações que se
preocupou em investigar e na quantidade de atividades na qual fui me envolvendo no
processo do mestrado. Dentre eles a participação na representatividade acadêmica junto
ao conselho do programa de Pós-graduação, a produção de textos, o estágio, a militância
e a participação nos projetos. Foram de outra forma presentes que me deram, pois
vivenciei e fiz a participação naquilo que me proponho enquanto Educadora Ambiental,
ou seja, o provocar, o instigar a participação e a reflexão.
126
A quantidade de informações, que são disponibilizadas, foram
presente e o desafio de filtrá-las foi o aspecto incômodo e o seletivo da pesquisa, pois as
informações são interligadas à questão da pesquisa, onde quase todas caberiam aqui,
porém questões como o espaço e o tempo para fazer a abordagem da mesma são
inexistentes.
Na tentativa de proporcionar a compreensão de que terreno, e estação
esta pesquisa ocorre muitas vezes se perdeu nos banhos das suaves correntezas das
vazantes, no deixar-se bronzear, no matar a sede com o tereré, na conversa de contos de
causos, deixei-me seduzir pela fertilidade da terra, pelo esplendor da florada dos Ipês, e
ao mesmo tempo senti partir meu coração por não poder fotografá-los no meu mais rico
jardim, o Pantanal na qual fui criada e onde foram cravados sentimentos de amor e
respeito ao mesmo no meu peito. Sentimentos que me trouxeram aqui para dar forma
para que lute pela continuidade de sua existência, mesmo que de forma limitada.
Referindo-me a outras limitações, essas foram várias: de palavras, de
diálogos, de amigos, de família, por vezes me afastei até daquelas que são minhas
companhias diárias, as orquídeas, que não cansaram de mostrar que mesmo na seca no
que se considera mais feio no Pantanal existe uma beleza sem igual, uma força vital que
é capaz de colorir e fazer sorrir, reiniciar a aprender também com essa espécie de vida
na qual mal conheço, mas me atrevo a cuidar e admirar.
É importante registrar que esta pesquisa foi realizada antes de algumas
mudanças que foram efetuadas, como por exemplo: a FEMA ser reestruturada para
SEMA, porém na qual se optou por tratá-la por SEMA, que mais atual e que suas
propostas enquanto CEA, Assessoria de EA não mudaram. No percurso de implantação
e participação de várias propostas, políticas públicas e projetos. De que se este olhar
existiu desta forma, como filtro, fenomenologia e outros, por que foi na participação
dessas ações que se fizeram, bem como nas relações estabelecidas neste processo.
Foram identificadas e descartadas algumas iniciativas de EA, durante a
efetivação da pesquisa, visto que não supriam as necessidades básicas apresentadas na
concepção de CEAs pelo REDECEAS, como já registrado anteriormente.
A sua dificuldade maior é que sofre mudanças contínuas de suas
estruturas hierárquicas, mudanças de responsáveis de prioridades nas ações e outros,
mas nutrem o sentimento e possuem um histórico enquanto proponente de EA no estado
127
do MT. Podemos encontrar e considerar várias outras iniciativas como
Equipamentos de EA, como o próprio GEPEA, que constrói o conhecimento de EA e
socializa-o de diferentes formas junto à comunidade Pantaneira. Porém, os mesmos,
bem como, outras iniciativas não foram pesquisadas, pois se considerou o recorte e foco
dado na construção do projeto de pesquisa, de CEAs.
Percebemos de forma generalizada quanto aos equipamentos dos Centros
de EA são: que os mesmos possuem uma grande estrutura física e espaço de atuação,
pouca socialização de conhecimento e comunicação entre si. Atendem algumas pessoas
da comunidade local, porém preocupam-se em atender os visitantes de outras
localidades, seus programas são de pouca duração e ainda focados em ações pontuais, a
maioria das iniciativas percebe-se como agentes de fiscalização. Existe uma cultura de
transmissão de informações o que configura, desvelam a valorização maior dos demais
saberes em relação ao saber popular, construídos na relação como meio ambiente
Pantaneiro.
Desvela-se nas falas dos entrevistados do SESC Arsenal, diferenciais
importantes para a EA, à consideração e respeito pelo outro, a percepção do ser humano
como parte do maio ambiente, a própria cultura, a participação, a noção de espaços e
tempos culturais e idéias implantadas nestas culturas.
Esta questão remete-nos ao que Sauvé nos apresenta, citada
anteriormente, a idéia de que para a educação deveria existir uma imagem que
remetesse e representasse todas as correntes e percepções. Percebemos aqui que as
imagens e percepções de meio ambiente, indiferente das suas representatividades,
podem levar a refletir as posturas e relações que estabelecemos com o outro, com o
meio ambiente, com toda a complexidade que temos, bem como as influências culturais
nas quais interagimos e assim re-significamos a dinâmica complexa destas interações.
Nestes termos, se observar, referindo-se aos entrevistados que
freqüentam o SESC Arsenal, pode-se perceber que os mesmo iniciam discorrendo sobre
a imagem, porém posteriormente vão para a complexidade do campo da EA, saindo das
suas referências para considerar o outro o meio ambiente e suas relações, bem como o
ser humano como parte deste meio ambiente, exemplificados claramente nas suas re-
significações, nas suas referências diárias e culturais.
O grande desafio ainda está no reinventar a vida em conjunto, onde
128
aceitar os limites dos conflitos são questões de valores, de dar valor a alguns
valores, às especificidades de cada qual. Fazer opções, decisões que proporcionam
realizações, construções de alguns aspectos em detrimento de outros. No propósito de
instigar a reflexão dessas construções, das ações mais direcionadas, que devem ser
avaliadas, possibilitando novos conhecimentos, referência a novos estudos, relatórios e
considerações para novas propostas e parcerias, que por sua vez são mais efetivas
quando estudadas, pensadas, registradas, executadas de forma intencional e
comprometidas.
Temos o fim desta pesquisa, porém não do processo, pois a EA continua
e a participação nos GPEA, na REMTEA e se faz presente junto ao ProFEAP. Fica
registrada esta pesquisa como aprendizagem significativa da prática da pesquisa onde se
fez a necessidade nãode colher os dados, mas do exercício de fazê-lo de forma a ser
compreendida, pelos entrevistados; da carência de ir além dos conceitos e limitações
acadêmicas, que se faz pela comunidade e para tal tem-se de utilizar a linguagem, a
cultura que os mesmos usam para interagir.
A reflexão, o comprometimento, a re-significação, a aprendizagem
significativa é por sua vez a melhor experiência e forma de estabelecer a participação
democrática nas ações pro meio ambiente, que por sua vez como nos ensina Paulo
Freire, ninguém aprende sozinho eu aprendo com o outro. É nesta integração, meio,
com respeito e na tentativa de conviver que se faz a EA.
Outra questão que deve ser considerada nas propostas dos CEAs, nas
suas ações é o equilíbrio entre a educação, a ecologia e a economia, possibilitando
assim a construção da EA, sem privilegiar um ou outro aspecto mas um processo de
construção complexa que considera suas bases, promovendo os conflitos entre estas
porem evitando assim os exageros, a ênfase de um aspecto em detrimento do outro.
Os conflitos que se desvelaram foram tantos individuais quanto sociais, e
referindo-se a estes se buscou durante a construção desta pesquisa descrevê-los,
apresentá-los conforme os percebemos, outrossim as diferenças das ideologias, das
propostas das ações e até mesmo das Educações Ambientais.
Inexistem aqui considerações finais, pois essas não existem em
processos sem fim, podemos apenas fazer menções como estas, com base na
experiência e nas percepções. Refletir o SESC Arsenal como referência de CEA,
129
abordar sobre a cultura como propulsora da EA desvela que a EA está na cultura, na
arte indiferente das temáticas abordadas, das referências iniciais utilizadas, pois a
mesma é uma vivência e preocupação expressa de diferentes formas e locais na nossa
sociedade. Existe então a necessidade de valorizar a diversidade cultural, as formas de
expressões, dinamizar e instigar as sensibilidades, as reflexões e re-significações pois
assim se estará se fazendo mais ainda EA.
130
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