AFIRMA QUE A FORTUNA, E O FADO NÃO É OUTRA
COUSA MAIS QUE A PROVIDENCIA DIVINA.
Isto, que ouço chamar por todo o mundo
Fortuna, de uns cruel, d'outros impia,
É no rigor da boa teologia
Providência de Deus alto, e profundo.
Vai-se com temporal a Nau ao fundo
carregada de rica mercancia,
Queixa-se da Fortuna, que a envia,
E eu sei, que a submergiu Deus iracundo.
Mas se faz tudo a alta Providência
De Deus, como reparte justamente
À culpa bens, e males à inocência?
Não sou tão perspicaz, nem tão ciente,
Que explique arcanos d'alta Inteligência,
Só vos lembro, que é Deus o providente.
NO SERMÃO QUE PREGOU NA MADRE DE DEOS D. JOÃO FRANCO
DE OLIVEYRA PONDERA O POETA A FRAGILIDADE HUMANA.
Na oração, que desaterra....................................................aterra
Quer Deus, que, a quem está o cuidado...............................dado
Pregue, que a vida é emprestado.........................................estado
Mistérios mil, que desenterra...............................................enterra.
Quem não cuida de si, que é terra........................................erra
Que o alto Rei por afamado..................................................amado,
E quem lhe assiste ao desvelado .........................................lado
Da morte ao ar não desaferra................................................aferra.
Quem do mundo a mortal loucura..........................................cura,
A vontade de Deus sagrada..................................................agrada,
Firmar-lhe a vida em atadura.................................................dura.
Ó voz zelosa, que dobrada....................................................brada,
Já sei, que a flor da formosura...............................................usura
Será no fim desta jornada......................................................nada.
CONTINUA O POETA COM ESTE ADMIRAVEL A QUARTA FEYRA DE CINZAS.
Que és terra Homem, e em terra hás de tornar-te,
Te lembra hoje Deus por sua Igreja,
De pó te faz espelho, em que se veja
A vil matéria, de que quis formar-te.
Lembra-te Deus, que és pó para humilhar-te,