Supõe, que tinha então faminta a gola,
E que te quis mamar o pão da esmola.
Não hão mister as putas gentilezas,
Que arto bonitas são, arto belezas:
O que querem somente, é dinheiro,
E se as cavalgas tu, pobre sendeiro,
É, porque dando esmolas, e ofertório,
Quando as pespegas, geme o refectório.
Prezas-te de galã, bonito, e pulcro,
E os fedores da boca é um sepulcro
A cães mortos te fede a dentadura,
E se há puta, que te atura
Tais alentos de boca, ou de traseiro,
É porque tu as incensas com dinheiro.
O hábito levantas no passeio,
E cuidas, que está nisso o galanteio,
Mostras a perna mui lavada, e enxuta,
Sendo manha de puta
Erguer a saia por mostrar as pernas,
Com que és hermafrodita nas cavernas.
Tu és Filho de um sastre de bainhas,
E botas muito mal as tuas linhas,
Pois quando fidalgão te significas,
A ti mesmo te picas,
E dando pontos em grosseiro pano,
Mostras pela entertela, que és magano.
Torna em teu juízo, louco Durandarte,
Se algum dia o tiveste, a quem tornar-te;
Teme a Deus, que em tão louco desatino
De algum celeste signo
Hei medo, que um badalo se despeça,
E te rompa a cabaça, ou a cabeça.
Se és Frade, louva ao Santo Patriarca,
Que te sofre calçar-lhe a sua alparca,
Que juro a tal, se ao século tornaras,
Nem ainda te fartaras
De ser um tapanhuno de carretos,
Por não ser mariola, onde há pretos.
AO MESMO FRADE TORNA A SATYRIZAR O POETA, SEM OUTRA MATERIA NOVA,
SENÃO PRESUMINDO, QUE QUEM O DEMO TOMA HUMA VEZ SEMPRE LHE FICA
HUM GEYTO.
Reverendo Fr. Fodaz,
não tenho matéria nova,
de que vos faça uma trova,
mas de antiga tenho assaz:
que como sois tão capaz