e pede-os, quem os não quer.
Eu chego a pedir-vos zelos,
e não quero, que mos deis,
mas vós mos dais, e os não tendes,
quem zelos há de entender?
Pela razão natural
ninguém dá, o que não tem,
e pela mesma razão
ninguém pede, o que não quer.
E assim enleia o juízo,
que os não tenhais, e mos deis,
que eu, que os peço, os não quisera,
que é pedir, e não querer.
E suposta esta advertência,
vos peço, Teresa, que,
quando zelos vos pedir,
mais que os peça, mos não deis.
Porque eu peço, o que não quero,
e este pedir, é querer,
não que vós mos concedais,
senão sim que mos negueis.
Como amor é entendimento,
e como amar é entender,
vós como amante entendida,
vós, que como amais, sabeis.
Deveis das minhas palavras
tomar discreta, e cortês
não aquilo, que elas dizem,
mas o que querem dizer.
Não entendais, que vos peço
ciúmes, pelos querer,
antes sim pelos deixar
vos peço uma, e outra vez.
Pedir zelos é queixar-me,
e se eu amante, e fiel,
com finezas vos enfado,
com queixas que vos farei?
Teresa eu não peço zelos,
que quem tão mofino é,
que fino vos desagrada,
triste que há de parecer?
A beleza, que se adora,
tão privilegiada é,
que se há de mister licença
para sentir seus desdéns.
ALCANÇOU O POETA OCCASIÃO DE LOGRAR OS FAVORES DE THEREZA, E A
HUM DESMAYO, COM QUE O RECEBEO, FEZ ESTE SONETO.
Desmaiastes, meu bem, quando uma vida
Recuperais no logro da ventura,
Mostrando, que é delito à formosura
Deixar de amor a posse tão valida.