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UNIVERSIDADE FEDERAL DO RIO GRANDE DO NORTE
CENTRO DE CIÊNCIAS DA SÁUDE
PROGRAMA DE PÓS-GRADUAÇÃO EM ODONTOLOGIA
ÁREA DE CONCENTRAÇÃO EM ODONTOLOGIA PREVENTIVA E SOCIAL
A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA:
ATUAÇÃO DOS CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE
NATAL-RN
Maria Juliêta Medeiros Fernandes
NATAL -RN
2007
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MARIA JULIÊTA MEDEIROS FERNANDES
A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS
CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN
Orientadora: Profª Dra. Iris do Céu Clara Costa
NATAL -RN
2007
Dissertação apresentada ao
Programa de Pós-Graduação em
Odontologia da UFRN como requisito
parcial para obtenção do grau de
mestre em Odontologia, área de
concentração em Odontologia
Preventiva e Social.
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MARIA JULIÊTA MEDEIROS FERNANDES
A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS
CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN
COMISSÃO EXAMINADORA:
PROFESSORA DRA. IRIS DO CÉU CLARA COSTA (ORIENTADORA)
PROFESSORA DRA. LIS CARDOSO MARINHO MEDEIROS (MEMBRO TITULAR – UFPI)
PROFESSOR DR. ANTÔNIO DE MEDEIROS JÚNIOR ( MEMBRO TITULAR – UFRN)
NATAL – RN
2007
Dedico
A painho, Helder (in memorian), que
não pôde esperar pela concretização
do sonho, mas se faz presente em
minha vida, todos os dias, com sua
imagem de entusiasmo, incentivo e
alegria.
A mainha, Socorro, minha fortaleza,
pelo seu amor, exemplo de fé e por sua
contribuição em todos os momentos.
A titia, Luzia Cecília, a grande
incentivadora para que eu realizasse
este mestrado, apoio constante ao
longo da vida e em especial nestes
últimos dois anos de batalha.
AGRADECIMENTOS ESPECIAIS
À minha Orientadora, Professora Dra. Iris do Céu Clara Costa, pela permanente
disponibilidade revelada ao longo destes dois anos, pelas críticas e sugestões relevantes
feitas durante a orientação e pela confiança e amizade.
À minha tia, Luzia Cecília, pela disponibilidade e apoio, desde a execução do projeto de
pesquisa, me permitindo trazer um manancial de informações que em muito contribuiu para
a execução desta dissertação.
À amiga de mestrado, Gilmara Celli, por compartilhar comigo as angústias e alegrias nos
momentos da coleta de dados.
Ao amigo de mestrado, Dyego Leandro, pela troca de informações e conhecimentos na
análise dos dados.
Aos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, pela disponibilidade para a realização das
entrevistas, sem as quais não teria sido possível a realização desta pesquisa.
AGRADECIMENTOS
A Deus, por ser a grande luz a me guiar todos os dias.
À minha mãe, Socorro Medeiros, pelo estímulo e apoio incondicional desde a primeira hora;
pela paciência, grande amizade e sensatez com que sempre me ajudou.
Ao meu noivo, Damião Júnior, pelos sonhos tão almejados e realizados e pelos que estão
por vir.
À Coordenação do Curso de Pós-Graduação em Odontologia, na pessoa do Professor
Angelo Giuseppe Roncalli.
À Professora Maria Ângela F. Fernandes, pelas considerações realizadas a este trabalho
em metodologia da pesquisa, nos seminários de pesquisa e na qualificação.
Ao professor Antônio Medeiros Júnior, pela disponibilidade em contribuir na avaliação
deste trabalho durante o processo de qualificação e defesa.
A professora Lis Cardoso Marinho Medeiros, por ter aceitado o nosso convite para
participar da avaliação deste trabalho no momento da defesa e pelas contribuições
estabelecidas.
A todos os professores do Curso de Mestrado, pela competência, pelo nível de qualidade do
curso e por todo conhecimento propiciado. E em especial, ao professor Kênio Costa Lima,
pelo profissionalismo e dedicação.
Ao amigo de mestrado Ricardo Castro, pela sua amizade e bondade na indicação do meu
nome para o PSF de Santa Cruz, onde pude ter a experiência deste serviço de assistência à
saúde e entender melhor as dificuldades relatadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de
Natal.
A todos os amigos de turma do mestrado em Odontologia, das áreas de concentração
Odontologia Preventiva e Social e Periodontia, pela troca de conhecimento, experiências e
amizade ao longo dos dois anos de curso. Em especial a Allan Patrício, Bianca Torres e
Irlane Alves, pelo apoio em todos os momentos e companheirismo ao longo do mestrado.
Aos amigos de mestrado Candice Freitas e Lailson Lima, pelas noites de estudo durante a
realização deste mestrado.
À secretária do Programa de pós-graduação em Odontologia, Sandra Abrantes, por estar
sempre presente nos momentos que precisávamos.
À Biblioteca Setorial do curso de Odontologia, em especial à bibliotecária Cecília Santos,
pelas relevantes contribuições ao longo do mestrado.
Á professora Maria do Pérpetuo Socorro de Menezes, pela ajuda inestimável na revisão
desta dissertação.
À cirurgiã-dentista Maíra Fanha, pela valorosa colaboração na tradução do resumo dessa
dissertação.
À grande amiga, Rejane Lima, pelo incentivo constante na realização deste mestrado e pela
amizade de longa data.
À grande amiga, Angélica Freitas, pelas ajudas na área de informática, elaboração da capa
e incentivo constante.
A Dr. Belmiro Nobre e “Tia” Cleomar Ramalho, pela grande amizade e disponibilidade
para que eu exercesse as atividades odontológicas entre os períodos vagos de aulas do
mestrado.
À Secretaria de Saúde do município de Santa Cruz, na pessoa do Sr. Jalmir Simões, pela
oportunidade que me concedeu de colocar em prática, atividades do PSF, na referida
cidade.
Aos amigos que sempre me incentivaram, em especial, Ane Cele Nóbrega, Marisa
Fernandes e Marina Fernandes.
Aos meus amigos de Santa Cruz, pelo convívio e apoio diário, ao longo destes últimos 7
meses, Régia Amaral, Thiago Raulino, Carolina Câmara, Maria Gracimani, Álvaro Freitas
e Régis Gadelha.
A minha família, pelo carinho e confiança no meu sucesso.
“O homem não pode participar ativamente na história, na sociedade, na
transformação da realidade se não for ajudado a tomar consciência da
realidade e da sua própria capacidade para a transformar. (...) Ninguém luta
contra forças que não entende, cuja importância não meça, cujas formas e
contornos não discirna; (...) Isto é verdade se, se refere às forças da
natureza (...) isto também é assim nas forças sociais.(...) A realidade não
pode ser modificada senão quando o homem descobre que é modificável e
que ele o pode fazer”.
(Paulo Freire, 2000)
RESUMO
A EDUCAÇÃO EM SAÚDE NA PRÁTICA COTIDIANA: ATUAÇÃO DOS
CIRURGIÕES-DENTISTAS DO PSF DE NATAL-RN
Considerando a educação como suporte para a promoção da saúde, integralidade da
assistência e formação da cidadania, o objetivo desta pesquisa foi analisar a percepção dos
cirurgiões-dentistas do Programa Saúde da Família (PSF) de Natal-RN sobre a educação em
saúde, bem como a sua atuação como educador, a partir das atividades realizadas por eles no
referido Programa. Foi realizado um estudo qualitativo, utilizando como instrumentos de
coleta de dados uma entrevista semi-estruturada e um Teste de Associação Livre de Palavras
com 80 cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, que foram analisados respectivamente
através de análise de conteúdo e da Teoria do Núcleo Central de Vergès. Os resultados
mostram que uma falta de planejamento nas ações de saúde, de forma que não existe uma
padronização das práticas educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas, que em sua maior
parte, são voltadas para escolares. A partir das percepções dos entrevistados a respeito da
temática educação em saúde, vimos que um consenso entre o grupo, ligado a história
coletiva do mesmo em relacionar educação como tendo a função de apenas repassar à
população noções de prevenção. A maioria das unidades de contexto analisada, a partir do
discurso dos profissionais, demonstra o entendimento da educação em saúde apenas como um
instrumento de mudança de comportamento inadequado dos indivíduos. Um ponto
interessante foi a citação por parte de alguns profissionais de temas atuais como: cidadania,
motivação e qualidade de vida, dentro do discurso da educação em saúde. Para os
entrevistados, as maiores dificuldades no desenvolvimento das ações educativas se deve a
falta de incentivo por parte da Secretaria Municipal de Saúde e ao desinteresse e falta de
valorização das atividades por parte da população. Os cirurgiões-dentistas se vêem como co-
responsáveis pela formação de uma população capaz de reivindicar por sua saúde e relataram
ter conhecimentos da necessidade da participação comunitária no planejamento das ações do
PSF. Finalmente, percebe-se a necessidade de mais incentivos para que os cirurgiões-dentistas
possam se capacitar e tenham interesse em utilizar a educação em saúde na perspectiva do
novo paradigma em saúde, para uma vez capacitados e estimulados possam despertar na
população a importância da educação como o grande instrumento de transformação das
pessoas em busca de uma sociedade justa, igualitária e cidadã.
PALAVRAS-CHAVE: Programa saúde da família; Educação em saúde; Promoção da saúde.
ABSTRACT
EDUCATION IN HEALTH ON THE DAILY PRACTICE: THE PERFORMANCE OF
THEORAL SURGEONS FROM THE FAMILY HEALTH PROGRAM OF NATAL-RN
Considering education a support to health promotion, care integration and citizenship
formation,the purpose of this research was to analyze the perception of the oral surgeons from
the Family Health Program of Natal-RN over education in health as well as their performance
as educators based on their activities on the program. A qualitative study was accomplished
by a semi-structured interview and a Free Association of Words Test with 80 oral surgeons
from the Family Health Program of Natal-RN. The instruments were analyzed through the
meaning analysis and the Central Nucleus of Vergès Theory. The results showed a lack of
planning in health actions so there is no standardization on the educative practices done by the
oral surgeons which mostly are focused on scholars. There was an agreement among the
group according to the oral surgeons´ perception about education in health that education is
related to its function of recall prevention ideas to the population. Most part of the context
units analyzed by the professionals´ speech show the knowledge of education in health as an
inadequate behavior change instrument of the individuals. An interesting point was a
quotation cited by some professionals that included actual themes such as citizenship,
motivation and life quality, put inside the speech of education in health. To the oral surgeons
the biggest difficulties on the development of the educative actions are due to the lack of
incentive by the Municipal Health Bureau and to the detachment and lack of valorization of
the themes by the population. The oral surgeons consider themselves co-responsible for the
formation of a population which is able to request its health. They also mention the
knowledge about the need of the community participation on the planning of the Family
Health Program actions. Finally, it is notable the need for more encouragement so the oral
surgeons can be more capable and have more interest in applying education in health on the
perspective of a new model in health, because once capable and stimulated they can awake
the population to education importance as a great transformation instrument for people
searching for a fair, equalitarian and citizeness society.
KEYWORDS: Family Health Program; Health Education; Health Promotion.
LISTA DE FIGURAS
Figura 1 Distribuição segundo a faixa etária dos cirurgiões-dentistas do
PSF de Natal-RN. Natal/ RN, 2006.________________________ 51
Figura 2 Distribuição segundo o gênero dos cirurgiões-dentistas do PSF de
Natal-RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 51
Figura 3 Distribuição segundo o tempo de formados dos cirurgiões-
dentistas do PSF de Natal- RN. Natal/RN, 2006.______________ 52
Figura 4 Distribuição segundo o tempo de atuação dos cirurgiões-dentistas
no serviço público. Natal/RN, 2006.________________________ 52
Figura 5 Distribuição segundo o tempo de inserção dos cirurgiões-dentistas
no PSF de Natal-RN. Natal/RN, 2006.______________________ 53
Figura 6 Distribuição segundo a formação profissional dos cirurgiões-
dentistas do PSF de Natal-RN na área de educação em saúde.
Natal/RN, 2006.________________________________________ 59
Figura 7 Identificação dos possíveis elementos do núcleo central sobre
educação em saúde por cirurgiões-dentistas atuantes no PSF de
Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 60
Figura 8 Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades
educativas ,segundo a visão dos cirurgiões-dentistas do PSF de
Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________________________ 63
Figura 9 Apoios institucionais que os cirurgiões-dentistas dispuseram para
o desenvolvimento de atividades educativas. Natal/RN, 2006.___ 73
Figura 10 Categorização e subcategorização das dificuldades apresentadas
pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN para
desenvolverem atividades educativas. Natal/RN, 2006._________ 74
Figura 11 Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades
educativas que estão sendo alcançados, segundo os cirurgiões-
dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006._______________ 80
Figura 12 Categorização e subcategorização das razões pelas quais os
cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN percebem que os
objetivos das atividades educativas não estão sendo alcançados.
Natal/RN, 2006.________________________________________
82
Figura 13 Categorização e subcategorização da importância da participação
da população nos serviços demonstrada pelos cirurgiões-dentistas
do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.______________________ 84
Figura 14 Categorização e subcategorização da forma que os cirurgiões-
dentistas podem orientar a população para a participação popular
no SUS. Natal/RN,2006._________________________________ 87
LISTA DE QUADROS
Quadro 1 Categorização e subcategorização dos temas que os cirurgiões-
dentistas gostariam de ter em cursos introdutórios no PSF de
Natal/RN. Natal/RN, 2006.____________________________ 55
Quadro 2 Categorização e subcategorização das atividades educativas
realizadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/ RN. Natal/
RN, 2006.____________________________________________ 71
LISTA DE ABREVIATURAS
ATF- Aplicação Tópica de Flúor
CAPs – Caixas de Aposentadorias e Pensões
CD- Crescimento e Desenvolvimento
CEP- Comitê de Ética e Pesquisa
DNSP- Departamento Nacional de Saúde Pública
IAPs- Institutos de Aposentadorias e Pensões
INPS – Instituto Nacional de Previdência Social
OMS – Organização Mundial de Saúde
PSF – Programa Saúde da Família
RN- Rio Grande do Norte
SESP – Serviço Especial de Saúde Pública
SMS – Secretaria Municipal de Saúde
SUS – Sistema Único de Saúde
TALP – Teste de Associação Livre de Palavras
TCLE- Termo de Consentimento Livre e Esclarecido
UFRN – Universidade Federal do Rio Grande do Norte
SUMÁRIO
RESUMO
ABSTRACT
LISTA DE FIGURAS
LISTA DE QUADROS
LISTA DE ABREVIATURAS
CAPÍTULO I ............................................................................................................................ 16
INTRODUÇÃO ........................................................................................................................ 16
O ESTADO DA ARTE ............................................................................................................. 18
1 As práticas de Educação em Saúde no contexto das Políticas Públicas de Saúde ................. 19
1.1 A Educação em Saúde nos Séculos XVIII, XIX e início do século XX. ................................................ 19
1.2 As práticas de Educação em Saúde, no Brasil do século XX, a partir do entendimento do contexto das
Políticas Públicas de Saúde. .......................................................................................................................... 22
1.3 Criação do Programa Saúde da Família no Brasil ................................................................................... 28
1.4 A inclusão do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família ............................................................ 30
2 Novas perspectivas no campo da Educação em Saúde ............................................................ 31
2.1 Educação em Saúde: a reflexão sobre as condições de vida levará a mudança da realidade .................. 31
2.2 A Educação em Saúde formando uma população participativa .............................................................. 36
2.3 Profissionais de saúde preparados para o novo perfil de práticas ........................................................... 38
PROPOSIÇÃO ......................................................................................................................... 40
CAPÍTULO II .......................................................................................................................... 42
O PERCURSO METODOLÓGICO ........................................................................................ 42
1 Natureza da pesquisa .................................................................................................................. 42
2 Considerações éticas .................................................................................................................... 43
3 Pré-teste ....................................................................................................................................... 43
4 O Cenário da pesquisa ............................................................................................................... 43
4.1 Campo de pesquisa ................................................................................................................................ 43
4.2 Atores Sociais .......................................................................................................................................... 44
5 Instrumentos para a coleta de informações .............................................................................. 44
5.1 Entrevista inicial para caracterização dos sujeitos ................................................................................... 45
5.2 O Teste de Associação Livre de Palavras (TALP) ................................................................................. 45
5.3 A entrevista semi-estruturada ................................................................................................................ 46
6 A análise dos dados .................................................................................................................... 46
6.1 A análise da entrevista inicial para caracterização dos cirurgiões-dentistas ........................................... 46
6.2 Análise do TALP ..................................................................................................................................... 46
6.3 Análise das Entrevistas ............................................................................................................................ 47
CAPÍTULO III ......................................................................................................................... 50
RESULTADOS E DISCUSSÃO ............................................................................................. 50
1 Os sujeitos ................................................................................................................................... 51
1.1 Características sócio-demográficas dos cirurgiões-dentistas ................................................................... 51
1.2 Atividades realizadas no Programa Saúde da Família ............................................................................ 55
1.3 Temas que deveriam ser abordados em cursos introdutórios para os dentistas do PSF .......................... 55
1.4 Formação profissional no campo da educação em saúde ........................................................................ 60
2. Concepções com relação à educação em saúde ......................................................................... 61
2.1 Percepções dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em saúde .................................................. 61
2.2 Os objetivos das atividades educativas no contexto do Programa Saúde da Família .............................. 63
3 A respeito do que foi posto em prática no campo da educação em saúde .............................. 71
3.1 Atividades educativas realizadas ............................................................................................................. 71
3.2 Apoios institucionais para a realização das ações educativas ................................................................. 74
3.3 Dificuldades encontradas no desenvolvimento de atividades educativas ............................................... 74
3.4 Objetivos alcançados e objetivos não alcançados .................................................................................. 80
4. A educação sendo instrumento para a participação popular .................................................. 85
4.1 A importância da participação popular nos serviços ............................................................................... 85
4.2 O cirurgião-dentista orientando a população através da educação para a participação popular ............. 88
CONSIDERAÇÕES FINAIS .................................................................................................. 91
REFERÊNCIAS ...................................................................................................................... 93
ANEXOS .................................................................................................................................. 99
ANEXO 1 ................................................................................................................................ 100
ANEXO 2 ................................................................................................................................ 105
ANEXO 3 ................................................................................................................................ 107
CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO .................................................................................................... 108
PERGUNTAS .............................................................................................................................................. 109
COMPROMISSO DO INVESTIGADOR ................................................................................................... 109
ANEXO 4 ................................................................................................................................ 110
ANEXO 5 ................................................................................................................................ 112
CAPÍTULO I
“Nas condições de verdadeira aprendizagem os
educandos vão se transformando em reais sujeitos da
construção e da reconstrução do saber ensinado, ao lado
do educador, igualmente sujeito do processo”.
Freire, 2006.
INTRODUÇÃO
O modelo tradicional de ciência e de assistência construído ao longo da história
já não responde às demandas da sociedade e, por esta razão, novos conceitos devem reorientar
as práticas de saúde. O PSF surgiu no início da década de 90, apresentando uma proposta que
tem novas bases e critérios conceituais, que rompem com a idéia da assistência limitada à cura
de doenças, para um novo modelo cuja atenção deverá ter como centro a família, entendida e
percebida a partir de seu ambiente físico e social.
Um dos desafios do PSF é transformar o modelo de atenção, estimulando a
promoção e prevenção, oferecendo atenção integral e fortalecendo a autonomia dos usuários
na promoção da sua saúde nos planos individual e coletivo.
O Programa Saúde da Família (PSF) visa a reestruturação da prática assistencial
em saúde, centrada no modelo hospitalocêntrico que tem como objetivo a cura individual,
herança da fragmentação do conhecimento e de determinantes sócio-políticos e econômicos
relacionados com o desenvolvimento das ciências e, em particular, das ciências médicas, na
sociedade capitalista.
Tomando como referência a Carta de Otawa
67
podemos dizer que a promoção da
saúde é um processo que confere às populações os meios para melhorar sua saúde e exercer
um maior controle sobre a mesma. Para alcançar um estado adequado de bem estar físico,
mental e social um indivíduo/grupo deve ser capaz de identificar e realizar suas aspirações, de
satisfazer suas necessidades e de modificar ou adaptar-se ao meio ambiente
67
.
Dessa forma a educação em saúde, entendida como um processo capaz de
desenvolver nas pessoas a consciência crítica das causas reais dos seus problemas e, ao
mesmo tempo criar uma prontidão para atuar no sentido da mudança
48
, é uma ferramenta
indispensável para garantir a integralidade da assistência
1
1
e conseqüentemente a promoção da
saúde, meta do PSF.
A educação em saúde para ser eficaz deverá ser crítica, reflexiva e capaz de levar
a independência do usuário, pois assim ela será capaz de promover a saúde através da
formação da cidadania. Uma formação capaz de promover a cidadania deve romper velhos
paradigmas e ser problematizadora no sentido freiriano. Segundo as teorias de Paulo Freire,
1
conjunto articulado e contínuo das ações e serviços preventivos e curativos, individuais e coletivos, exigidos
para cada caso e em todos os níveis de complexidade do sistema
uma educação realmente transformadora é aquela onde o educando tem a visão de sua
consciência ingênua e o educador o ajuda a transformá-la em uma consciência crítica, capaz
de reconhecer a realidade em que vive e de sua capacidade de agir como verdadeiro ator no
processo de mudança
29
.
O meu interesse pessoal por essa temática surgiu quando recém-graduada e
cursando a disciplina de Metodologia do Ensino Superior, dentro da grade curricular de uma
especialização em Endodontia, apropriei-me do pensamento de Paulo Freire, através de
leituras textuais e pude compreender que uma formação na área da saúde pautada no modelo
biomédico não atende mais as necessidades da população na sociedade atual. Assim, surgiu a
inquietação de conhecer a vivência dos cirurgiões-dentistas como educadores, o que redundou
nos seguintes questionamentos: Como os cirurgiões-dentistas do PSF realizam educação em
saúde? Até que ponto os cirurgiões-dentistas que atendem no PSF de Natal-RN estão
preparados para realizar educação em saúde como suporte para promoção da cidadania e
garantia da integralidade da assistência?
Para responder a essas perguntas, surgiu esta pesquisa, cuja estruturação foi
delineada da seguinte forma: O capítulo I é composto de Introdução, Estado da Arte e
Proposição. A Introdução nos uma fotografia do que foi a pesquisa, por sua vez, o Estado
da Arte nos permitiu conhecer a partir da literatura, a estrutura do conhecimento organizado
sobre o assunto, percorrendo um trajeto das políticas públicas e das práticas de educação em
saúde, até as novas perspectivas no campo da educação em saúde. O Percurso Metodológico
incluindo fases que vão da natureza da pesquisa à análise dos dados, compõe o capítulo II. No
seguimento, o capítulo III é composto pela apresentação dos resultados e a conseqüente
discussão dos mesmos, confrontando os trabalhos convergentes e/ou divergentes aos nossos
achados.
Por fim, “as Considerações Finais” foram assim denominadas por entendermos
que em educação nada é concluso, ou seja, como processo, cada análise encerra uma leitura
momentânea de uma situação que poderá ser modificada a curto, médio e longo prazo.
Não poderia ser diferente com esse nosso trabalho. Ele levantou dados que
esperamos, possam servir de suporte para o planejamento e avaliação de ações de um
programa que veio com o propósito de reorientar as práticas de saúde, as quais deverão neste
novo modelo estar pautadas na promoção da saúde, na integralidade e no controle social.
O ESTADO DA ARTE
A educação em saúde é um processo situado em dois campos: o da saúde e o da
educação. Por sua vez, os profissionais da saúde que atuam com esta proposta, deverão estar
atentos às diferentes posições políticas, filosóficas e pedagógicas que regem o homem e a
sociedade, para poderem atuar de forma global neste campo aparentemente tão simples, mas
na verdade uma área fundamental na vida de qualquer um, considerando a educação o grande
instrumento de transformação da sociedade.
Por esta razão, para o entendimento de todo este processo, indispensável se faz saber
que o conceito de saúde e o entendimento do processo de educação em saúde estão sujeitos à
influência do contexto sócio, histórico, político e econômico. As formas como se interpretam
e se explicam as doenças, influenciam as maneiras de serem estruturadas as intervenções no
âmbito da educação em saúde.
A partir desta revisão histórica, faremos um paralelo, em diferentes momentos, entre
os saberes e as práticas de educação em saúde e os discursos sanitários subjacentes a estas,
pois, estes discursos vão determinar tais práticas.
O modelo hegemônico com discurso higienista e intervenções normalizadoras tem
marcado o campo da educação em saúde. Este modelo será discutido e posto em confronto
com as mudanças dos discursos das políticas de saúde, a partir da década de 80, onde um
novo modelo de práticas de educação em saúde, pouco conhecido pelos profissionais, mas
existente em situações esporádicas no Brasil, denominado de modelo dialógico, vem
despontando como fundamental para se conseguir a promoção de saúde tão almejada nos
discursos atuais.
Então, no primeiro momento desta revisão de literatura, o leitor terá uma explanação
do histórico das políticas públicas de saúde no mundo, com uma abordagem sobre estes
fundamentos no continente Europeu, uma vez que estes exerceram fortes influências no
Brasil. Analisaremos a partir de então, o momento em que surgem no Brasil as primeiras
políticas voltadas para a saúde, no fim do século XIX. Esta abordagem se faz necessária para
o entendimento da concepção de educação em saúde em cada tempo da história, explanando
os pensamentos existentes em todo o percurso até as mudanças políticas nos anos 80, com o
surgimento do Sistema Único de Saúde (SUS) e em tempos atuais com a estratégia do saúde
da família, como modelo de reorientação da saúde.
No segundo momento, uma análise mais específica será feita em torno do tema
educação em saúde, abordando os referenciais teóricos que estão sendo revistos por diversos
autores no país, relacionados à educação popular em saúde, visto que estes referenciais são
adequados aos propostos pela estratégia de saúde da família e poderiam ser conhecidos e
postos em prática, por todos os profissionais da saúde. Abordaremos dentro deste contexto a
educação em saúde como formadora de uma população cidadã e terminaremos concluindo
com uma discussão da necessidade de mudanças na formação dos cirurgiões-dentistas, bem
como das capacitações para os que já se encontram em plena atividade nos serviços.
1 As práticas de Educação em Saúde no contexto das Políticas
Públicas de Saúde
Os movimentos políticos, sociais e econômicos em cada época histórica, exercem
influência direta sobre as formas como a política pública de saúde é estabelecida no país, e
esta sempre se organiza de acordo com as necessidades e contextos da época.
1.1 A Educação em Saúde nos Séculos XVIII, XIX e início do século XX.
A Educação em Saúde surge na Europa, no século XVIII e o discurso desenvolvido
em torno da questão saúde foi essencialmente normalizador e regulador, onde o objetivo
principal era o controle social sobre as classes subalternas. Segundo Singer
53
foi graças à
necessidade de criar as condições mínimas para que a reprodução da força de trabalho
pudesse se dar de modo sistemático e para que a capacidade de trabalho dos operários fosse
preservada, que o Estado passou a assumir o cuidado e o controle dos que necessitavam de
assistência médica e social. A fim de assegurar o desenvolvimento das forças produtivas, o
Estado exercia sua função de civilizar e moralizar a grande massa da população, com um
discurso higienista e moralista.
Chiesa e Veríssimo
17
destacam que a prática educativa em saúde não é uma proposição
recente, pois era presente na Europa do século XVIII, onde os cuidados de higiene a serem
praticados por gestantes, os cuidados com as crianças e medidas de controle de epidemias
eram difundidos em almanaques populares. Existiam também ações educativas para a
população em geral, onde esta recebia informações sobre as principais doenças, enfatizando
inúmeras recomendações sobre comportamentos “certos” e “errados” relacionados à vivência
das doenças e a sua prevenção.
Segundo Engels
27
, a situação da classe operária na Inglaterra do século XVIII era de
penúria e miséria onde os problemas de saúde alastravam-se. Grandes epidemias ameaçaram o
proletariado e as classes dominantes nos grandes centros industriais como Manchester, a
segunda cidade da Inglaterra e a mais importante cidade fabril do mundo, na época. E para
conter os problemas relacionados com a Saúde Pública, as principais cidades inglesas foram
dotadas de um sistema de planificação urbana que formava um verdadeiro cordão sanitário
entre ricos e pobres.
Portanto, questões de ordem política e econômica, desencadearam na Inglaterra do
século XVIII, uma campanha geral de Saúde Pública, com reforma nas prisões, reforma nos
hospitais militares, modificações na legislação sanitária e, ainda a Reforma Lord Shaftesbury,
visando a melhoria das condições de trabalho nas fábricas
27
.
Por causa da industrialização, o cenário existente na segunda metade do século XIX,
na Europa, era o de crescimento urbano, onde havia a degradação das condições de trabalho,
moradia e nutrição da população. Isto preocupava as classes dominantes, pois, poderiam
surgir rebeliões dos populares, que se aglomeravam nos bairros e também havia o risco de
epidemias que acometiam as classes populares e poderiam chegar à burguesia. Assim, se
intensificavam as ações de disciplinamento das classes populares onde se difundiam regras de
higiene e de condutas morais
19
.
No Brasil colônia e no império, o Estado não tinha uma sistematização para o setor
saúde, a população era vítima e sofria de diversas doenças infecciosas. Em casos esporádicos,
havia uma ação pontual em situações epidêmicas
45
.
No Brasil, na segunda metade do século XIX até meados do século XX, o discurso
sanitário segue as tendências européias, concentrando-se nas cidades e desenvolvendo-se em
torno da moralidade e disciplinarização higiênica
3
.
Com a Proclamação da República, tem-se um começo da sistematização das práticas
sanitárias, a saúde pública no país vai se configurando como uma política nacional de saúde e
é nesse mesmo contexto sócio-político que emerge o capitalismo brasileiro
44
.
Este período foi marcado pelas grandes imigrações e início das exportações de café,
sendo necessária, uma atenção especial aos portos, que eram locais propícios à proliferação de
doenças. Então, nesta época, se estruturaram as primeiras intervenções ampliadas do Estado,
com a criação do Departamento Nacional de Saúde Pública DNSP, no início da década de
20, do século passado. A política estatal estava voltada para a saúde das classes populares,
que foram as grandes campanhas de vacinação em massa da população e de condutas de
higiene. Neste período, a polícia sanitária liderada por Osvaldo Cruz empregava recursos
como a vacinação compulsória e vigilância sobre atitudes e moralidade dos pobres com a
finalidade de controlar a disseminação de doenças
3
.
Havia a necessidade de domínio sobre epidemias de varíola, peste, febre amarela,
tuberculose, entre outras, nos grandes centros urbanos, visto que estas doenças acarretavam
transtornos para a economia agro-exportadora e o mercado externo exigia do governo
brasileiro o controle destas doenças sob a ameaça de não mais aportarem seus navios nos
portos nacionais. Como discute Oliveira e Souza
45
, desde o início da ação governamental na
saúde no Brasil, as ações de caráter coletivo, como imunização, controle de epidemias e
saneamento vão se desenhando no campo da saúde pública, vinculadas com a conjuntura
econômica vigente.
Em meio a este contexto, vão se delineando as primeiras práticas sistemáticas de
educação em saúde que eram breves e marginais, voltadas principalmente para as classes
subalternas, consideradas incapazes de maiores entendimentos neste setor. Esta prática
educativa era caracterizada pelo autoritarismo, com imposição de normas e medidas de
vacinação e saneamento. Os técnicos tinham um saber científico que devia ser incorporado e
aplicado pela população ignorante
3,63
.
O discurso que se propagava era de que a não observância das normas de higiene pelos
indivíduos geravam os problemas de saúde e que se conseguiria a resolutividade destes,
com a mudança de atitudes e comportamentos individuais. O processo saúde-doença era
assim, reduzido à dimensão individual e as práticas de educação em saúde eram orientadas
por um discurso biologicista. Os determinantes sociais desses problemas, contudo, não eram
levados em consideração.
Este discurso predominou no campo da educação em saúde durante as décadas
seguintes, podendo ser encontrado ainda hoje como orientador de práticas educativas
3
.
1.2 As práticas de Educação em Saúde, no Brasil do século XX, a partir
do entendimento do contexto das Políticas Públicas de Saúde.
No início do século passado, houve o desenvolvimento industrial e o modelo agro-
exportador não era mais hegemônico. A necessidade de sanear os espaços de circulação de
mercadorias deixa de ser o alvo das políticas públicas de saúde, sendo agora a meta, a
preservação da saúde do trabalhador, que era a força, da qual dependia o crescimento
industrial
45
.
Em 1923, a partir da Lei Eloy Chaves, são criadas as Caixas de Aposentadorias e
pensões (CAPs), cujos benefícios, são: aposentadorias e pensões a seus filiados e
dependentes dos trabalhadores de grandes indústrias. As CAPs eram criadas pelas empresas,
mantidas e geridas por patrões e empregados. Na década de 30, as CAPs foram substituídas
pelos Institutos de Aposentadorias e Pensões (IAPs), que passaram a ter participação direta do
Estado.
A partir de 1930, uma nova dinâmica de acumulação, sob a dominação do capital
industrial, começou a produzir mudanças na estrutura social, e estas mudanças refletiram-se
nas políticas sociais e, particularmente, nas políticas de saúde adotadas pelo Estado. Para
articular o processo de transposição de uma economia agro-exportadora para uma economia
industrial urbana, com base no processo de substituição de importações, o Estado rompeu
com as características peculiares ao Estado oligárquico liberal, predominante na Velha
República, e adquiriu características típicas de Estado burguês intervencionista. O período de
30 a 45 constitui a fase de implantação do capitalismo industrial e isso se tornou possível
porque o Estado criou aparelhos regulatórios e peculiaridades intervencionistas que
estabeleceram um suporte ativo ao avanço da acumulação industrial
26
.
A partir de 1932, com a criação do Ministério da Educação e Saúde emergiu e tomou
forma uma política nacional de saúde. Para Braga e Paula
8
, são as alterações de caráter
político e as transformações da natureza do Estado que criam as condições iniciais para que as
questões sociais em geral - e as de saúde em particular - postas no período anterior
pudessem ser enfrentadas através de um bloco orgânico e sistemático de políticas.
Neste momento, a assistência a saúde, era direito somente dos participantes dos IAPs e
de seus familiares. O restante da população dependia da assistência particular ou de hospitais
filantrópicos. As políticas de saúde vão então se consolidando de caráter assistencialista e não
universalizante, que desde já começa a marcar o contexto da saúde no Brasil.
Vasconcelos
63
comenta que a partir da década de 30, a ação do Estado na saúde era
voltada para a implantação deste sistema previdenciário, onde somente participavam os
trabalhadores que estivessem em categorias organizadas. As atividades educativas
continuavam voltadas para o combate de doenças infecciosas e parasitárias e eram
direcionadas às populações que estavam fora deste “jogo político central”.
Valença
59
complementa esta idéia dizendo que nas décadas de 20, 30 e 40, a educação
em saúde esteve relacionada principalmente e tão somente à necessidade de divulgar e
propagar, por todos os meios, as normas de puericultura, de higiene pessoal e do ambiente.
Ainda segundo Vasconcelos
63
, em alguns momentos os programas e serviços de saúde
se expandem e se voltam para algumas regiões, dependendo da situação econômica e
exportadora do Brasil. O autor cita que durante a Segunda Guerra, houve a necessidade dos
países aliados, incentivarem a extração de borracha e manganês na região amazônica e na área
da abrangência da companhia da Vale do Rio Doce. Assim, novos incentivos para a área da
saúde foram dirigidos ao país e questões de ordem estratégica condicionaram a criação do
Serviço Especial de Saúde Pública (SESP) e o sub-setor de Saúde pública expandiu suas
ações ampliando, significativamente, a ação médico-sanitário nestas áreas de importantes
interesses econômicos, onde os trabalhadores estavam sendo dizimados pela malária e febre
amarela. Mas, mesmo assim, a área da Educação em Saúde não teve desenvolvimento, pois a
população continuava a ser vista como incapaz de iniciativas próprias e passiva.
Ainda em meio a este discurso higienista que existia, houve o surgimento nos Estados
Unidos da América, da Medicina Comunitária, no início da década de 1970, quando no campo
da educação em saúde, verifica-se um apelo à participação e união da comunidade para a
resolução dos problemas de saúde por eles vivenciados. Valença
59
afirma que é o papel da
educação nesta época, tentar a união de toda a sociedade em prol de um objetivo comum,
juntando todos de forma solidária e homogênea.
Mas, por trás deste apelo de participação comunitária, parece camuflar-se o mesmo
discurso da culpabilidade dos sujeitos, que era difundido anteriormente, com o diferencial de
que a culpabilização passava da individualidade para a coletividade. As práticas comunitárias
de educação em saúde partiam, então, do pressuposto de que as comunidades seriam as
responsáveis pela resolução de seus problemas de saúde devendo, para isto, serem
conscientizadas, embora as repercussões das políticas sociais e das condições de vida e de
trabalho na saúde das pessoas ainda não eram vistas
3
.
Continuando na história política do Brasil, a partir do golpe militar de 1964, os
trabalhadores e demais segmentos da sociedade perdem representação e a unificação dos
institutos IAPs, com a criação do Instituto Nacional da Previdência Social INPS
18,45
. Fica
assim estabelecido o modelo brasileiro de seguro social e prestação de serviços médicos.
Somente trabalhadores que tivessem carteira assinada e contribuíssem para a previdência
teriam direito aos benefícios
45
.
Durante todo o regime militar, eram limitados os espaços institucionais para a
expressão da educação em saúde, a política de saúde visava à expansão de serviços médicos
privados, onde as ações educativas não tinham espaço significativo
64
. Smeke e Oliveira
54
admitem que durante esse período a educação em saúde correspondeu ao controle sobre os
sujeitos.
Mas, Vasconcelos
63
lembra que a ditadura imposta pelo regime militar cria espaços
para a emergência de experiências de educação em saúde que rompem com aquelas existentes
até o momento no Brasil, pois, o regime cortou os incentivos para as políticas sociais, levando
a população a reivindicar por mudanças políticas. Neste contexto, tem-se destaque o método
da educação popular de Paulo Freire, que unia os intelectuais e a população, ávidos por
mudanças. Na área da saúde, alguns profissionais insatisfeitos com as práticas médicas
existentes, engajaram-se no processo e adentraram por cidades brasileiras, onde havia o total
descaso com a comunidade e buscaram soluções em várias áreas, entre elas a da saúde, com
base no diálogo entre o saber popular e o saber acadêmico.
O Brasil foi o primeiro país a constituir e utilizar o método da educação popular, na
redefinição de práticas sociais nos mais variados campos do saber. A partir dos anos 70, a
participação de alguns profissionais da saúde nas experiências de educação popular levou para
o setor saúde, apesar de pontual, uma nova cultura de relação com as classes populares que
representou uma ruptura com a tradição autoritária e normatizadora da educação em saúde.
Pelo método da educação popular, se toma como base o saber anterior do educando, para
então se construir uma nova realidade. Seria a construção compartilhada de conhecimento
onde a sociedade seja fundamentada na solidariedade, justiça e participação de todos
63,64
.
Mas, esse tipo de ação era escassa no Brasil, o que predominava mesmo no setor saúde
era o modelo médico-assistencial que dicotomizava assistência e prevenção e era
marcadamente reducionista, biologicista, individualista, centrado na doença e orientado para a
cura. Com o fim dos anos 70, pairava na população e em muitos profissionais um sentimento
de revolta das condições em que o país se encontrava, era então, chegada a hora de mudar a
configuração do setor saúde brasileiro.
O quadro de doenças existentes no país era condicionado pelo tipo de
desenvolvimento social e econômico em que se encontrava a população e o sistema de saúde
vigente na época, centrado no modelo hospitalocêntrico, não conseguia enfrentar com decisão
esses problemas
15
. Esta prática médica denominada flexneriana, baseada nos aspectos
curativo-reabilitadores, centrada no atendimento médico, com uma visão apenas biológica do
processo saúde-doença, apresentava fortes inadequações à realidade sanitária nacional, não
sendo capaz de alterar os perfis de morbi-mortalidade, além de provocar uma crescente
insatisfação de usuários
40
.
Esta prática repercute numa educação em saúde voltada para o repasse de
conhecimentos sobre as doenças, modos de prevenção, restabelecimento da saúde e
modificação das características ou práticas individuais consideradas inadequadas pelos
profissionais, isto é, a atuação em saúde fica restrita à prescrição de tratamento e a conselhos
de mudança de comportamento. Era necessária a construção de um novo modelo assistencial
que fosse integral, humanizado e compromissado com o atendimento de necessidades e com a
garantia do direito a saúde da população, onde, os profissionais e os pacientes deveriam
entender o processo saúde-doença e sua relação com os fatores sociais, econômicos e
políticos. A prevenção dos agravos à saúde, não deveria ser tratada isoladamente, mas sim
como uma meta a ser atingida com o desenvolvimento sustentável, a melhoria da qualidade de
vida e justiça social, em que a educação em saúde fosse voltada para a formação do sujeito,
capaz de entender seus problemas e agir sobre os determinantes destes, isto é, educação para
formação da cidadania.
Neste sentido, a atenção primária integral à saúde que tem como objetivo principal o
apoio aos indivíduos e aos grupos sociais, para que estes assumissem cada vez mais o controle
de suas vidas e sua saúde, começou a ser divulgada em 1978 na Conferência Internacional de
Alma-Ata
16
. Esta conferência também dava ênfase a Educação em Saúde e as novas formas de
abordar os problemas de saúde, a fim de se superar a tradição positivista e mecanicista da
medicina.
Assim, as discussões internacionais e os problemas pelos quais passavam a saúde no
Brasil, levaram a surgir no fim da década de 70, um movimento denominado Reforma
Sanitária, liderado por profissionais de saúde e intelectuais da área de saúde coletiva que junto
à população, almejavam políticas mais universalistas em contraponto ao modelo sempre
existente no Brasil e agravado pelo regime militar que concentrava renda, não distribuía
benefícios sociais e conseqüentemente adoecia a população.
Em 1986, novamente em âmbito internacional tem destaque a I Conferência
Internacional em Promoção de Saúde, em Ottawa no Canadá, que foi um marco fundamental
na história da saúde pública, e reconhecia como pré-requisitos fundamentais para a saúde: a
paz, a educação, a habitação, o poder aquisitivo, um ecossistema estável, a conservação dos
recursos naturais e a equidade
67
.
Como resultado das propostas discutidas nesta conferência tem-se a carta de Ottawa
que significou a ampliação da concepção de promoção de saúde, incorporando a importância
e o impacto das dimensões sócio-econômicas, políticas e culturais sobre as condições de
saúde. Houve um reconhecimento de que a promoção de saúde não concerne exclusivamente
ao setor de saúde, mas ao contrário, ela se constitui numa atividade essencialmente
intersetorial
28
. As estratégias de ação propostas pela Carta de Ottawa foram: 1)
estabelecimento de políticas públicas saudáveis; 2) criação de ambientes favoráveis à saúde;
3) reforço da ação comunitária; 4) desenvolvimento de habilidades pessoais; 5) reorientação
dos serviços de saúde
67
.
Ainda sobre o que ficou estabelecido pela carta de Ottawa, Costa
21
analisa que, o
avanço da Promoção da Saúde, se daria através do fortalecimento da ação comunitária de
forma correta e efetiva. Esse fortalecimento deveria passar pela participação comunitária nos
processos de decisão, planejamento de estratégias e implantação de ações, sobre as quais a
própria comunidade pudesse ter domínio e controle.
Pode-se dizer que a Carta de Ottawa foi o principal marco de referência da promoção
de saúde em todo o mundo e também incorporada como estratégia a ser seguida pelo
movimento de municipalização da saúde no Brasil
15
.
Então, a partir das novas propostas internacionais e do diagnóstico da total
inadequação do sistema de saúde brasileiro foi realizada, em 1986, no Brasil, a VIII
Conferência Nacional de Saúde. Ela contou com ampla participação popular e teve em seu
relatório final, consolidadas as propostas do movimento pela reforma sanitária. Estas
propostas embasariam um novo modelo de organização em saúde no Brasil, dando origem a
uma seção especial para a saúde na constituição brasileira de 1988
9
.
Esta seção sobre saúde trata de três aspectos principais: Em primeiro lugar, incorpora
o conceito mais abrangente de saúde, que tem como fatores determinantes e condicionantes o
meio físico (condições geográficas, água, alimentação, habitação, etc.); o meio sócio-
econômico e cultural (ocupação, renda, educação, etc.); os fatores biológicos (idade, sexo,
herança genética, etc.); e a oportunidade de acesso aos serviços que visem a promoção,
proteção e recuperação da saúde. Em segundo lugar, a Constituição também legitima o direito
de todos, sem qualquer discriminação, às ações de saúde em todos os níveis, assim como,
explicita que o dever de prover pleno gozo desse direito é responsabilidade do governo, isto é,
do poder público. Por último, a Constituição estabelece o Sistema Único de Saúde SUS, de
caráter público, formado por uma rede de serviços regionalizada, hierarquizada e
descentralizada, com direção única em cada esfera de governo, e sob controle dos seus
usuários
9
.
Então, diante da Constituição de 1988, necessário se fazia por em prática estas
propostas e o conceito abrangente de saúde deveria nortear a mudança progressiva do
paradigma de atenção à saúde no Brasil, passando de um modelo assistencial com ênfase na
prestação de serviços médicos individuais, de enfoque curativo, centrado na doença e baseado
no atendimento a quem procura, para um modelo de atenção integral à saúde, onde houvesse a
incorporação progressiva de ações de promoção e de proteção, ao lado daquelas propriamente
ditas de recuperação.
No Brasil, em 1988 foi implantado então, o SUS e a cada dia se caminha em prol da
sua melhoria, tentando-se superar as dificuldades apresentadas devido à mudança do sistema.
Estas dificuldades se devem, principalmente, a atuação por parte de alguns profissionais,
ainda voltada para o paradigma tradicional de práticas. Por isto, são almejadas diversas
transformações objetivando um novo perfil de atuação, com recursos humanos adequados.
Os modelos assistenciais em saúde geral e de saúde bucal em particular, de
abrangência municipal, passaram a ter uma importância maior a partir da criação do SUS com
o crescente incremento da municipalização das ações de saúde. As diretrizes do SUS puseram
em cheque os modelos vigentes e imputaram um desafio muito grande aos municípios que se
propuseram a reorganizar os seus modelos assistenciais
46
.
1.3 Criação do Programa Saúde da Família no Brasil
Na conjuntura da política de saúde existente no Brasil, surge o PSF, em 1994. Este tem
desempenhado papel estratégico para a construção e consolidação do SUS, afirmando e
incorporando os seus princípios básicos como: universalização, descentralização,
integralidade e controle social; enfatizando a promoção de saúde, visando a qualidade de vida
das pessoas e privilegiando ações voltadas para comunidades específicas, abrangendo
indivíduos e famílias, do recém-nascido ao idoso, sadios ou doentes de forma integral e
contínua
11
.
Um dos objetivos do PSF é inserir a equipe de saúde na área geográfica em que atua,
para que esta conheça melhor a realidade local, convivendo com a dinâmica do processo de
adoecimento e de cura. Isto ajuda os profissionais a entenderem de forma ampliada o processo
saúde-doença e a necessidade de intervenções que vão além das práticas curativas
12
. Além
disto, eles podem buscar uma aproximação com a população para compreender melhor o seu
saber, participar dos movimentos sociais locais e por fim, quebrar a visão centralizadora que a
população tem dos profissionais de saúde (a questão da dominação profissional-paciente).
Os profissionais, que estão buscando reorientar suas práticas de atuação, enfrentam
problemas, dos mais diversos, como a dificuldade de atuação interdisciplinar devido a
carência de outros profissionais engajados nas questões sociais, carência de recursos físicos e
materiais, repressão dos políticos locais, exigência de produtivismo numérico do sistema de
saúde, vazio teórico e falta de sistematização de experiências realizadas, entre outros;
problemas comuns devido a mudança recente e que com o tempo devem ser superados com o
engajamento de todos os profissionais da saúde, grupos locais, políticos e população.
Para conseguir esta reorientação nas práticas, é necessário em primeiro lugar, o
conhecimento por parte dos profissionais da área da saúde, de seu papel na sociedade, na
mudança do sistema e isto é possível se estes se empenharem em conhecer a realidade da
população. Em segundo lugar, que a população se sensibilize dos problemas em que está
envolvida e possa atuar reivindicando em favor da solução dos mesmos.
A estratégia do PSF traz no centro de sua proposta a expectativa relativa à reorientação
do modelo assistencial a partir da atenção básica
11
. Neste sentido, Vasconcelos
60
destaca
dentre os diversos espaços dos serviços de saúde, os da atenção básica como em um contexto
privilegiado para o desenvolvimento de práticas de educação em saúde, devido a aproximação
que entre profissionais e população e o privilégio das atividades preventivas e
promocionais.
Vasconcelos
63
complementa dizendo que a educação em saúde na atenção básica tem
que deixar de ser uma atividade realizada a mais, para ser algo que atinja e reoriente a
diversidade de práticas realizadas.
Segundo Garcia
34
o trabalho cotidiano no PSF possui um amplo potencial pedagógico,
por integrar o individual, o grupal, a instituição com a sociedade, o cognitivo, afetivo e
psicomotor.
No âmbito do PSF, a educação em saúde se configura como uma prática prevista e
atribuída a todos os profissionais que compõem a equipe de saúde da família. Espera-se que
esta seja capacitada para assistência integral e contínua às famílias da área adscrita,
identificando situações de risco à saúde na comunidade assistida, enfrentando em parceria
com a comunidade os determinantes do processo saúde-doença, desenvolvendo processos
educativos para a saúde, voltados à melhoria do auto-cuidado dos indivíduos
11
.
O reconhecimento da crise do modelo assistencial predominante no Brasil, no âmbito
da saúde coletiva, vem suscitando a emergência de propostas que visam a transformação do
sistema de atenção em saúde, de suas práticas e, em articulação com essas, do processo de
trabalho em saúde, entre estes do processo de educação em saúde. Deve ser elaborado um
modelo educativo capaz de responder às novas bases conceituais e aos objetivos da atenção.
Novos referenciais teóricos e metodológicos devem ser discutidos de forma aprofundada para
a estruturação da educação em saúde no modelo assistencial atual e sua contraposição com o
antigo.
1.4 A inclusão do cirurgião-dentista no Programa Saúde da Família
Em dezembro do ano 2000, por intermédio da Portaria n. 1.444 do Ministério da
Saúde (Diário Oficial da União 2000; 29 dez), houve um incentivo para a reorganização da
atenção à saúde bucal prestada à população brasileira, frente aos alarmantes resultados obtidos
pela pesquisa nacional de amostras por domicílio, que relatava a existência de 29 milhões de
brasileiros que nunca foram ao dentista
36
. Isto chocou as autoridades sanitárias do país, que de
imediato autorizaram a inclusão da odontologia no PSF, visando então a ampliação do acesso
coletivo às ações de promoção, prevenção e recuperação da saúde bucal e a conseqüente
melhoria de seus indicadores epidemiológicos
5
.
Segundo Oliveira
46
, a assistência com base no domicílio introduz uma nova lógica
assistencial que rompe com a prática histórica da odontologia essencialmente centrada no
alívio da dor e no trabalho dentro das quatro paredes do consultório. É importante, que as
experiências de introdução da saúde bucal no PSF, não apenas transfiram linearmente o
espaço de trabalho do cirurgião-dentista, mas que produzam um ganho no sentido do re-
ordenamento da prática odontológica, de uma mudança qualitativa na abordagem das doenças
bucais.
Sobre os modelos assistenciais em saúde bucal predominantes no Brasil, Weyne
66
através de estudos epidemiológicos disponíveis e da penosa experiência profissional de muitas
gerações, pôde afirmar que a forma de atenção odontológica baseada exclusivamente em
procedimentos operatórios, não se mostrou capaz de controlar as doenças bucais, não
reduzindo a incontrolável demanda por serviços cirúrgico-restauradores e nem mesmo evitou
que muitas pessoas, assim tratadas, perdessem todos ou quase todos os dentes na meia-idade.
Com o novo sistema de saúde, ocorre uma relevante evolução na filosofia de educação e
treinamento dos recursos humanos, refletindo-se na clínica sob a forma de uma sensível
mudança no paradigma da prática da odontologia. A forma tradicional de tratamento centrada
na doença e até então hegemônica, está gradualmente cedendo espaço para um outro tipo de
atenção profissional, cuja ideologia é a prevenção das doenças e a promoção da saúde. Com a
nova filosofia de atendimento, os países desenvolvidos conseguiram, em menos de três
décadas, mudar o perfil epidemiológico de suas populações, elevando substancialmente seus
níveis de saúde bucal, pela prevenção e controle das doenças cárie e periodontal.
Ainda segundo Weyne
66
, o novo paradigma de assistência à saúde sinaliza a
necessidade de uma atuação interdisciplinar, ou seja, de um dentista com o perfil de
generalista (clínico geral). Isso se choca com uma situação que se converteu em algo
incrivelmente hegemônico e monopolítico no Brasil, que foi a divisão da odontologia em
especialidades, que praticamente não se intercomunicam, fazendo com que o paciente tenha
sua boca tratada em parcelas e nunca como um todo, dentro de um outro todo que é o
organismo, o que, com certeza, configura uma distorção.
2 Novas perspectivas no campo da Educação em Saúde
De acordo com as descrições anteriores, a educação em saúde é um campo amplo de
práticas, havendo a necessidade de que o profissional entenda as duas principais dimensões
deste processo, que segundo Schall e Struchiner
52
umas destas tendências envolve a
aprendizagem sobre as doenças, seus efeitos sobre a saúde, os modos de prevení-las e como
restabelecer a vida saudável. A outra dimensão é a caracterizada como promoção da saúde
pela Organização Mundial da Saúde (OMS) e inclui os fatores sociais que afetam a saúde,
abordando os caminhos pelos quais diferentes estados de saúde e bem estar são construídos
socialmente.
Segundo o Comitê de especialistas em planejamento e avaliação dos serviços de saúde
da OMS, os objetivos da educação em saúde são encorajar as pessoas a adotar e manter
padrões de vida sadios, usar de forma judiciosa e cuidadosa os serviços de saúde colocados à
sua disposição e tomar suas próprias decisões, tanto individual como coletivamente, visando
melhorar suas condições de saúde e as condições do meio ambiente
10
.
2.1 Educação em Saúde: a reflexão sobre as condições de vida levará a
mudança da realidade
Chiesa & Veríssimo
17
relatam que com o paradigma da promoção de saúde, onde
entendemos a relação dos componentes biopsicossociais, a educação em saúde é utilizada não
apenas para mudar hábitos considerados inadequados e que levem ao desenvolvimento de
doenças, mas também para permitir que as pessoas façam uma reflexão sobre as suas reais
condições de vida.
Apesar deste conceito ampliado que permeia o paradigma da promoção de saúde, onde
as dimensões biológicas, sociais e culturais estão entrelaçadas em cada agravo, as práticas de
saúde ainda estão baseadas no velho paradigma, o flexneriano. Isto requer um
questionamento, pois trabalhar com uma educação em saúde tradicional, que trata a educação
unicamente como um recurso para consertar comportamentos inadequados, não levará a
mudanças no campo da saúde
54
.
Sabemos, então, que o fundamental para a reversão do paradigma tradicional é
entender a visão ampliada da saúde e utilizar a educação em saúde como um instrumento de
mediação e crescimento entre os sujeitos, onde o profissional tenha por objetivo ser um
facilitador, ajudando a população a analisar criticamente a sua condição de vida, para poder
transformar a realidade existente
21
.
Um método revolucionário que alfabetizava em 40 horas, sem cartilha ou material
didático, foi criado por Paulo Freire. Sob a liderança de Moacir de Góis, em Natal (RN), no
ano de 1962, surgia a campanha De no Chão Também se Aprende a Ler. Paulo Freire
achava que o problema central do homem não era o simples alfabetizar mas fazer com que o
homem assumisse sua dignidade enquanto homem. Ele concebe educação como reflexão
sobre a realidade existencial e deve articular com essa realidade as causas mais profundas dos
acontecimentos vividos, procurando inserir sempre os fatos particulares na globalidade das
ocorrências da situação. Para Paulo Freire o diálogo é o elemento chave onde o professor e
aluno sejam sujeitos atuantes, educação é sinônimo de conscientização. É reflexão rigorosa e
conjunta sobre a realidade em que se vive, de onde surgirá o projeto de ação. E, desta forma, o
surgimento de um homem detentor de uma cultura própria, capaz de fazer história. Com o
golpe militar de 1964, a experiência de Paulo Freire, já espalhada por todo o país, foi abortada
sob alegações inconsistentes como subversiva, propagadora da desordem e do comunismo. As
campanhas de alfabetização que tinham objetivos mais abrangentes do que a própria
alfabetização chegava ao seu fim, em 1964. Alguns trabalhos dispersos continuaram a ser
levados a efeito, mas a proposta de renovação humana estava prejudicada.
A educação em saúde deve ser capaz de formar o ser humano participante como
sujeito do seu processo histórico, como um ator social atuante na transformação de sua
realidade, relacionado a esse conceito citamos Freire
33
,
“Quer dizer, mais do que um ser do mundo, o ser humano se tornou
uma presença no mundo e com os outros. Presença que, reconhecendo
a outra presença como um “não-eu” se reconhece como “si própria”.
Presença que pensa a si mesma, que se sabe presença, que intervém,
que transforma, que fala do que faz mas também do que sonha, que
constata, compara, avalia, valora, que decide, que rompe”.
Stainback e Stainback
55
complementam dizendo que a educação é a maneira de
tornarmo-nos mais humanos. Ela afasta as pessoas da rotina, dirigindo-as a superar desafios e
a extrair as lições da experiência humana, no enfrentamento da realidade da vida. A educação
acontece no contato com os outros e as potencialidades e inabilidades das pessoas moldam a
extensão e a textura do crescimento de cada um.
O trabalho da educação deve ser dirigido para atuar sobre o conhecimento das pessoas,
para que elas desenvolvam juízo crítico e capacidade de intervenção sobre suas vidas e sobre
o ambiente com o qual interagem, e, assim, criarem condições para se apropriarem de sua
própria existência
14
.
Valença
59
, corrobora com estas afirmações e respalda que a tarefa da educação em
saúde não é dizer aos homens o que é importante, mas facilitar as condições para que eles
mesmos vejam a importância das coisas.
A educação em saúde deve ser um processo que envolva toda a população no contexto
da vida cotidiana e não apenas daquelas pessoas sob o risco de adoecer, pois, necessário se
faz, que todos possam fazer uma reflexão crítica sobre as causas reais dos seus problemas, e
assumam a solução destes como co-responsáveis, no sentido de mudar a realidade da
sociedade
20,48
. Isto se baseia no conceito ampliado de saúde, sendo, a educação em saúde uma
ferramenta indispensável para garantir a integralidade da assistência e conseqüentemente a
promoção da saúde, meta do PSF.
Os profissionais devem passar para a população que o processo saúde-doença tem
extrema relação com os fatores sociais, econômicos e políticos. A educação em saúde entra
neste contexto, como formadora de uma sociedade, capaz de entender seus problemas e agir
sobre os determinantes destes. É importante que todos os profissionais que atuam no PSF,
tenham em mente que um dos principais objetivos da educação em saúde, é levar o homem à
conscientização, para que este conheça e julgue sua própria realidade, se descubra ingênuo e
comece a se tornar crítico.
Freire
31
considera libertadora esta prática educativa que leva o homem a ser capaz de
entender a sua inserção no processo histórico, como um ser crítico, capaz de a princípio
reconhecer-se ingênuo diante de sua realidade e com o tempo tornar-se consciente da sua
situação existencial, concreta, de injustiça e, a partir disto querer lutar em prol das
transformações do seu meio, buscando a sua afirmação.
Os profissionais e os usuários devem sentir-se o tempo todo sujeitos deste processo
educativo. E como sujeito, entende-se uma pessoa em busca de autonomia, disposta a correr
riscos, a abrir-se ao novo, ao desconhecido, capaz de perceber seu papel diante dos desafios
colocados a cada momento. Com a educação em saúde, pretende-se contribuir para o
desenvolvimento de sujeitos autônomos que constroem essa autonomia com base na
imaginação de um outro futuro, um outro porvir, diferente, qualitativamente melhor, do
contexto em que vivem atualmente. Mas, para a construção deste futuro é preciso desejá-lo e
as pessoas não desejam outro futuro porque não sabem que ele pode existir
39
.
Para que os educadores em saúde atuem junto à população, fazendo com que esta
reflita sobre sua situação de vida, é necessário que estes profissionais conheçam a realidade
destes sujeitos, fazendo uso do diálogo para entender o mundo e as perspectivas do outro,
para assim, poder agir em prol da mudança.
Para Freire
30
, a educação não é um método, ou uma tática, ou uma didática. É um
diálogo entre pessoas. Ele era contra qualquer método no sentido tecnicista. Assim, todo ato
educativo é, antes de tudo, um diálogo entre sujeitos, que são agentes que m sua história,
trajetória, cultura e valores
4
. O mesmo autor complementa criticando que na nossa cultura
política e social, o povo nunca foi reconhecido como sujeito, mas, como objeto de
intervenções educativas.
Desta forma, as práticas educativas devem estar permeadas de espaços onde haja um
processo de interação e debate entre ambas as partes. Os problemas concretos e prioritários
irão surgir ao longo dos encontros e soluções vão ser construídas com base no saber popular e
no saber científico. Manifestações em forma de teatro, música, dança, entre outros são
previstas neste meio
62
. E, de acordo com Chiesa e Veríssimo
17
, nos dias atuais o mais
próximo destas ações, são atividades ditas participativas, onde a formação de grupos, com
aulas ou palestras e o onde o surgimento de dúvidas pontuais que são respondidas pelos
profissionais, não havendo espaço para outro tipo de manifestação. Além disto, estas palestras
abordam principalmente a noção de que a doença se deve à falta de cuidado e ao descaso da
população com a saúde, isto é, uma visão de determinação individual da doença, onde as
pessoas são culpadas pelo problema que apresentam.
Vasconcelos
63
enaltece a importância da educação em saúde e da necessidade dos
profissionais usá-la como instrumento de promoção de saúde na reordenação das práticas,
dinamizando e fortalecendo a relação com a população, através da criação de vínculos entre a
ação nos serviços de saúde e o pensar e fazer cotidiano da população. Vasconcelos
64
complementa dizendo que se deve superar a distância que há entre a instituição e a população,
em que um lado não compreende a lógica e as atitudes do outro. O importante é reconhecer os
interesses políticos das classes populares, sua diversidade e heterogeneidade.
A esse respeito Vasconcelos
63
afirma que uma vez que a ação dos serviços de saúde,
sozinha, não consegue ultrapassar a barreira do curativismo, necessário se faz que haja o
envolvimento da população na busca de novas estratégias e do reforço às posturas de luta e
enfrentamento apropriados às condições materiais e sociais em que vivem. Isto é, a partir da
integração entre o agir médico e o agir popular, haja a criação de novas abordagens sobre o
processo saúde-doença, de modo que se caminhe para uma mudança significativa na
globalidade das práticas de enfrentamento das doenças.
Chiesa e Veríssimo
17
, também abordam a questão educativa individual que deve haver
nas consultas nos serviços de saúde. Atualmente, se nota que faltam informações à população
atendida, acerca da sua doença, dos medicamentos, das perspectivas quanto ao seu estado
atual, levando a população a uma total insatisfação com o serviço, uso incorreto das
medicações, abandono do tratamento. Acrescenta-se ainda a procura excessiva de serviços.
Considerando um exemplo do campo da odontologia, observa-se que a população
convive com um intenso ir e vir aos postos de saúde à procura de atendimento odontológico
para a resolução dos seus problemas bucais. Ela segue em busca da saúde bucal, mas o que é
oferecido a esta, é atendimento curativo às suas lesões de cárie ou extrações dentárias que
levam ao mutilamento. No entender desta população, a odontologia se restringe somente ao
tratamento de dentes acometidos pelas doenças. Os profissionais não procuram saber como
a população está entendendo a presente situação. Os saberes desta são menosprezados nas
práticas de saúde. Necessário se faz entender o que esta população acha sobre esses
problemas, para a partir desses, o profissional passar para a mesma, a realidade do setor
saúde, da odontologia, explicar para a população, a questão da determinação social dos
problemas bucais, as dificuldades pelas quais passam as unidades de saúde, o que pode ser
feito pelo profissional se houver a união de todos, levando essa comunidade à conscientização
de seus problemas e da necessidade do envolvimento desta para a transformação da
sociedade, de forma que conjuntamente, cirurgião-dentista e população possam unir os seus
saberes e transformar a realidade.
A inserção dos profissionais de saúde no Programa Saúde da Família, levando-os ao
contato direto com a população, facilita a aproximação do profissional com os pacientes.
Assim, a inserção dos serviços e do profissional na dinâmica social local é facilitada. Mas,
embora esse processo de aproximação esteja iniciado, necessário se faz ainda, superar o
distanciamento que muitos profissionais tem com a população.
2.2 A Educação em Saúde formando uma população participativa
A Educação em saúde, hoje, é vista como um instrumento de transformação social
onde os profissionais auxiliam a população a fazer uma reflexão da sua realidade de vida,
proporcionando a formação de pessoas críticas, criativas, reflexivas, capazes de assumir no
conjunto das lutas sociais, a condição de agentes de mudanças ativos na transformação da
sociedade e de si próprio, na conquista de direitos e justiça social e na adoção de novas
práticas de interlocução, participação e articulação de ações para além de espaços
institucionais
13
.
Sendo a participação popular uma das diretrizes do SUS e tendo a educação em saúde
esse papel de formação de sujeitos que tenham esta nova cultura de participação e discussão
política, ela também deve ajudar na conscientização das pessoas para que as mesmas exerçam
a cidadania, tendo em vista a melhoria nos padrões de saúde em nosso país. Aliado a tudo
isto, as práticas de educação em saúde, devem conscientizar a população de que a saúde é um
direito de todos e dever do Estado e que todos devem reivindicá-la para a melhoria da
qualidade de vida.
Segundo L’Abbate
39
, estas práticas podem ser consideradas democráticas com o
objetivo de desenvolver a cidadania se houver a participação de ambos os sujeitos, se existir a
relação entre os atores sociais, o que ocorrerá no momento em que as práticas educativas
passarem a ser permeadas de espaços onde haja a conversação e o diálogo entre os
participantes.
Dentro deste contexto, é discutida pela educação popular em saúde a ruptura da
tradição autoritária e normatizadora da educação em saúde, além da abertura de espaços,
valorização da autonomia e criatividade dos sujeitos, pois assim sendo, a educação será
instrumento para se construir e ampliar os espaços de participação popular nos serviços de
saúde, dentro do Programa Saúde da Família, na reorientação das políticas públicas de
saúde
61,64
.
Ainda citando Vasconcelos
64
, todos defendem o princípio do controle social; mas, tal
princípio se opera sempre mediante os espaços formais de sua implementação, como: os
conselhos e as conferências de saúde. No entanto, essas instâncias, por estarem presas às
questões gerenciais do sistema, não dão conta de implementar a participação dos usuários na
redefinição da maioria das ações de saúde executadas no dia-a-dia dos serviços. E, é no
cotidiano das práticas de saúde que o cidadão é desconsiderado, pelo autoritarismo e pela
prepotência do modelo biomédico tradicional. Sem a participação ativa dos usuários e seus
movimentos na discussão de cada conduta ali implementada, os novos serviços expandidos
não conseguirão se tornar um espaço de redefinição da vida social e individual em direção a
uma saúde integral.
Toda a população tem que ter o conhecimento de que pode e deve atuar em favor da
melhoria do meio onde está inserida e, também, tem que ser capaz de reivindicar essa
melhoria, enfim, que todos despertem para a cidadania e saibam como buscá-la. Os
profissionais de saúde através das práticas educativas têm o papel de fornecer os subsídios
para que as pessoas possam ampliar o controle sobre suas vidas, visando a modificação das
realidades sociais e políticas. Isto é, devem levar a população o seu papel como cidadãos e os
caminhos que devem seguir para reivindicar os seus direitos. É interessante enfatizar que o
desenvolvimento da comunidade, elemento importante e necessário na Promoção de Saúde,
perpassa os recursos humanos e materiais existentes. A participação popular deve ser uma
conquista do dia-a-dia da população e se deve ao processo de construção permanente do
cotidiano, em um ambiente democrático.
Por isto, a educação deve ser crítica e libertadora, como cita Freire
31
, libertadora
porque, implicando no enraizamento que os homens fazem na opção que fizeram, os engaja
cada vez mais no esforço de transformação da realidade concreta objetiva. Diversos
problemas são enfrentados na construção desta prática educativa, pois uns acreditam que esta
questão da libertação do homem é utópica, enquanto outros não querem formar um homem
crítico, capaz de denunciar a situação opressora em que vive, pois isto poderia abalar a
estrutura política de algumas regiões. Porém, o profissional comprometido com a libertação
do homem, não fica aprisionado a esses fatos que na verdade aprisionam a realidade da
população.
Ainda citando Freire
31
, o profissional não deve temer enfrentar, não deve temer ouvir,
não deve temer o desvelamento do mundo. Não deve temer o encontro com o povo, não deve
temer o diálogo com ele, de que resulta o crescente saber de ambos.
Assim, como enfatiza, Orso
47
esta perspectiva construtivista social da prática em
saúde, tendo em seus pressupostos a construção de sentidos sobre o mundo, na linguagem,
através da relação entre as pessoas, aponta para a possibilidade de co-construção de um
modelo de atenção em saúde entre profissionais e comunidade. E, ainda, aponta como
possibilidade para transformação da crise da Saúde Pública, uma prática em saúde baseada na
aproximação, conversação e negociação constante, não somente entre equipe de profissionais
e comunidade, mas em todas as dimensões, desde os formuladores das políticas de saúde, até
os executores e usufruidores.
2.3 Profissionais de saúde preparados para o novo perfil de práticas
A política de saúde brasileira tem sido marcada por profundas mudanças, porém é
necessária uma redefinição urgente das práticas, por parte dos profissionais, principalmente na
área da prevenção e promoção de saúde, a fim de que os objetivos dos serviços de saúde
sejam alcançados.
Hoje, a formação acadêmica dos cirurgiões-dentistas se encontra mais atenta à visão
ampliada da saúde, principalmente a questão de se ver a saúde bucal como parte integrante e
inseparável da saúde geral e dependente das condições de alimentação, moradia, meio
ambiente, renda, trabalho, transporte, lazer, acesso a serviços de saúde e informação
21
. Para
que se implemente o novo paradigma da saúde, com o seu rol de práticas voltadas para a
integralidade no serviço, deverá de fato haver a formação de profissionais preparados para o
enfrentamento desta realidade.
Nos locais onde as formações essencialmente biológicas estiverem presentes, onde se
ensina principalmente a tratar as conseqüências das doenças e não suas causas e prevenção, há
necessidade de novas adequações, sejam elas no contexto da Universidade ou nos estágios
extra-muros pelos quais passam os estudantes. Todas as Universidades precisam adaptar os
seus currículos para essa mudança e os profissionais que atuam no serviço público,
necessitam de capacitações para o enfrentamento desta nova situação, de forma que todos os
cirurgiões dentistas que ingressem ou que estejam nos serviços de saúde sejam mais
voltados para a saúde do que para a doença, mais para o todo, do que para as partes.
Costa
21
discute a necessidade de uma reformulação curricular, centrada na formação de
profissionais mais conscientes, preparados para o enfrentamento de uma população mais
politizada e conhecedora de seus direitos. Esta reforma está sendo realizada em grande
parte das faculdades de Odontologia, mas as mudanças serão lentas devido à dificuldade de
alguns professores e profissionais absorverem inovações.
Pinto
49
também discute esta situação de mudança do perfil de práticas e afirma que se
devem ampliar os horizontes de interesse e de atuação dos que trabalham na área
odontológica, levando-os a se transformarem em agentes catalisadores de mudanças sociais e
econômicas que favoreçam a melhora dos níveis de saúde bucal da população sobre seus
cuidados. Cada trabalhador do setor odontológico deve se constituir num ator com ativa
participação neste processo de transformação que se faz necessário implantar no âmbito da
profissão e, para a execução de um novo tipo de prática clínica e preventiva mais eficaz que
os tradicionais métodos de tratamento da população.
É importante que todos os profissionais de saúde se atualizem e tenham a visão de “o
que ensinar” atendendo aos anseios de “a quem ensinar”, num conjunto sincronizado e
eficiente, voltado para a formação deste cidadão crítico e participativo na sociedade, que seja
capaz de entender o mundo que o cerca, para que, ao invés de simplesmente se acomodar
diante das dificuldades e injustiças, ele tenha condições psicológicas, cognitivas e espirituais
de transformar o que for necessário em nossa sociedade, para uma evolução auto-sustentável e
menos desigual
68
.
Além disto, Vasconcelos
64
enaltece a importância de profissionais que levem em
consideração as práticas locais de enfrentamento dos problemas de saúde com participação
ativa da população. Além das atividades pedagógicas serem voltadas para o sentir, pensar e
agir de todos envolvidos na problemática da saúde, de forma que assim, poderá ser construída
coletivamente as novas soluções sanitárias necessárias para as mudanças.
PROPOSIÇÃO
Esta pesquisa tem como proposta analisar a percepção dos cirurgiões-dentistas do PSF
de Natal-RN a respeito do tema “educação em saúde” e a sua atuação como educador em
saúde, a partir dos seguintes pontos:
Conhecimentos a respeito da educação em saúde;
Atividades gerais realizadas por estes profissionais no PSF, detalhando as ações
educativas individuais e em grupos;
Objetivos estabelecidos ao desenvolverem atividades educativas e se alguns resultados
já podem ser observados;
Dificuldades encontradas por eles no PSF e em especial, no desenvolvimento de
atividades educativas;
Suas percepções no que diz respeito à importância da participação popular nos
serviços e a capacidade que o profissional de saúde tem, como educador, em orientar a
população para tal participação.
CAPÍTULO II
" É preciso, porém, que tenhamos na resistência que nos
preserva vivos, na compreensão do futuro como problema
e na vocação para o ser mais como expressão da natureza
humana de estar sendo, fundamentos para a nossa
rebeldia e não para a nossa resignação em face das ofensas
que nos destroem o ser. Não é na resignação mas na
rebeldia em face das injustiças que nos afirmamos."
Freire, 2006
Paulo Freire
O PERCURSO METODOLÓGICO
1 Natureza da pesquisa
Este é um estudo exploratório na área de saúde bucal e busca enfatizar a educação em
saúde no Programa Saúde da Família de Natal-RN, a partir da perspectiva do cirurgião-
dentista, que é um dos atores sociais deste processo. Como referencial, realizamos a nossa
pesquisa baseada nas teorias da educação de Paulo Freire, conhecida como educação
problematizadora ou dialógica.
Para a realização deste estudo foi escolhida a abordagem qualitativa, considerada a
mais adequada para estudar a dimensão da percepção social de problemas
42
, na qual foi
fundamentada a análise dos dados.
No trabalho de campo, para a coleta de informações foram aplicados entre os
cirurgiões-dentistas que trabalham em equipes de PSF de Natal/RN: uma entrevista semi-
estruturada, cujo roteiro encontra-se no anexo 1, com informações gerais dos participantes e
com questões relacionadas ao tema educação em saúde e um Teste de Associação Livre de
Palavras (TALP). O recrutamento dos participantes foi realizado através da visita à unidade
básica do Programa Saúde da Família, com o objetivo de entrevistar todos os cirurgiões-
dentistas.
2 Considerações éticas
Antes de iniciar o estudo, o projeto de pesquisa foi encaminhado ao Comitê de Ética
em Pesquisa da UFRN para a devida apreciação, sendo aprovado de acordo com a resolução
196/96, sob o número do protocolo 32/06 CEP-UFRN (Anexo 2).
Selecionados os participantes e suas respectivas unidades de saúde, no momento que
antecedia a aplicação dos instrumentos de coleta de dados, eram explicados os motivos da
realização da pesquisa e sua finalidade, ressaltando sua relevância para a Odontologia, bem
como reforçado o caráter confidencial dos dados a serem coletados e o seu completo
anonimato, com uso exclusivo para a produção científica, conforme recomenda o Conselho
Nacional de Saúde através de resolução específica (196/96).
Após os devidos esclarecimentos, um termo de consentimento livre e esclarecido
(TCLE) (Anexo 3) foi apresentado a cada sujeito amostral, que realizou a sua leitura e
autorização por meio de assinatura.
3 Pré-teste
Para a avaliação dos instrumentos de coleta de dados, foi realizado um pré-teste com
os mesmos, sendo utilizados cirurgiões-dentistas que não participariam da entrevista
definitiva. Por este motivo, foram escolhidos cinco profissionais inseridos no Programa Saúde
da Família em cidades do Rio Grande do Norte (2 em Macaíba, 2 em Ceará Mirim e 1 em
Nova Cruz). Este foi realizado no mês de Março de 2006.
Durante este pré-teste, foram observadas a clareza e objetividade das perguntas, cujas
adaptações foram efetuadas, buscando aprimorar os instrumentos de coleta.
4 O Cenário da pesquisa
4.1 Campo de pesquisa
A pesquisa foi realizada nas Unidades Básicas de Saúde do Programa Saúde da
Família de Natal-RN.
Foi solicitada à Coordenação de saúde bucal do município de Natal uma autorização
para a realização desse estudo e esta, se manifestou inteiramente favorável (Anexo 4).
O Programa Saúde da Família no município de Natal teve sua implantação no ano de
1998, mas, as equipes de saúde bucal foram implantadas no ano de 2002 e hoje, contamos
com 91 equipes de saúde bucal distribuídas nos distritos Norte (58), Leste (8) e Oeste (25),
conforme dados apresentados pela Secretaria Municipal de Saúde no mês de Março de 2006.
4.2 Atores Sociais
A seleção destes profissionais deu-se através de consulta à Coordenação de Saúde
Bucal do município de Natal-RN, que forneceu lista contendo todas as equipes de Saúde
Bucal (n= 91) cadastradas e implantadas no município até o mês de março de 2006, e que
distribuía os dentistas de acordo com os Distritos Sanitários existentes no município. Essa
distribuição dos profissionais por distrito e por unidades básicas de saúde pode ser vista no
anexo 5. Foram entrevistados 80 cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN
A coleta dos dados ocorreu entre os meses de Julho a Setembro de 2006. Como
critério de inclusão, tivemos: cirurgiões-dentistas que se dispusessem a participar da pesquisa,
após fazerem a leitura do termo de consentimento livre e esclarecido. Como critérios de
exclusão tivemos: cirurgiões-dentistas que se apresentavam menos de 6 meses no
Programa Saúde da Família ou que se encontrassem de férias ou licença. Sendo, portanto
excluídos apenas 11 profissionais, o que correspondeu a uma perda muito pequena do
universo (aproximadamente 12%), visto que foi entrevistado cerca de 88% do total de
sujeitos.
5 Instrumentos para a coleta de informações
Os instrumentos utilizados nesta pesquisa foram: uma entrevista inicial, contendo
perguntas para caracterizarmos os sujeitos, um teste de associação livre de palavras (TALP) e
uma entrevista semi-estruturada relacionada ao nosso tema de estudo (Anexo 1). Estes foram
aplicados por duas examinadoras, sendo uma destas a responsável pela pesquisa e a outra
entrevistadora também mestranda do mesmo Programa de Pós-graduação. Durante a
realização das entrevistas, as falas foram anotadas pelos entrevistadores.
5.1 Entrevista inicial para caracterização dos sujeitos
Com a finalidade de se conhecer os cirurgiões-dentistas participantes da pesquisa,
foram realizadas perguntas para se conhecer a idade, ano de formatura, realização de pós-
graduação, tempo de serviço público e tempo no Programa Saúde da Família.
5.2 O Teste de Associação Livre de Palavras (TALP)
A realização do teste de associação livre de palavras se deu pela possibilidade de
apreender projeções mentais de maneira descontraída e espontânea, que revelassem conteúdos
implícitos ou latentes e que pudessem ser mascarados ou suplantados em técnicas de
entrevistas discursivas.
Segundo Bardin
6
, o teste de associação livre de palavras objetiva localizar as zonas de
bloqueamento e de recalcamento de um indivíduo, que seria a exclusão do campo da
consciência, de idéias, sentimentos e desejos, que o indivíduo não quer admitir, e que, no
entanto, continuam fazendo parte da sua vida psíquica.
A técnica de coleta nesta pesquisa consistiu em primeiramente explicitar para o
indivíduo entrevistado como a técnica seria desenvolvida, realizando-se um treinamento
prévio utilizando termos indutores que não estavam relacionados com o objeto da pesquisa.
Dando seqüência, e utilizando o objeto a ser investigado, solicitou-se ao indivíduo que
emitisse três palavras que pudessem ser lembradas quando em que o entrevistador falasse o
estímulo indutor, que seria a expressão “Educação em Saúde”, seguindo-se da hierarquização
dos termos evocados, do mais para o menos importante.
O resultado das evocações foi anotado em formulário impresso, contendo os espaços
para as palavras e hierarquização das mesmas. O TALP foi aplicado a 80 sujeitos resultando
no total de 240 evocações.
Posteriormente a aplicação do TALP, seguiu-se à entrevista semi-estruturada.
5.3 A entrevista semi-estruturada
A entrevista semi-estruturada apresenta-se como uma técnica composta de perguntas
abertas, dispostas em ordem preestabelecidas e feitas oralmente, onde ao entrevistador é
permitido o esclarecimento das questões propostas
38
.
Triviños
56
reforça esta opinião, quando cita que a entrevista semi-estruturada valoriza a
presença do investigador, oferece todas as perspectivas possíveis para que o informante
alcance a liberdade e a espontaneidade necessárias, enriquecendo a investigação.
A entrevista foi realizada com 80 profissionais, a partir de questões preestabelecidas,
levando-os a refletirem sobre as suas percepções sobre a educação em saúde no Programa
Saúde da Família.
6 A análise dos dados
6.1 A análise da entrevista inicial para caracterização dos cirurgiões-
dentistas
As características dos sujeitos envolvidos, como faixa etária, sexo, ano de formatura,
tempo no serviço público e tempo de trabalho no Programa Saúde da Família foram dispostas
em figuras comparativas criadas pelo programa Microsoft Excell, versão 2000.
6.2 Análise do TALP
Para a análise do TALP, utilizamos a Teoria do Núcleo Central de Vergès, apresentada
por
51
. Este tratamento dos dados é feito considerando como critérios de importância à
freqüência e a ordem de aparição dos termos evocados, partindo do pressuposto que os termos
que atendam, ao mesmo tempo, aos critérios de freqüência e ordem prioritária de evocação
teriam uma maior importância no esquema cognitivo do sujeito e, provavelmente,
pertenceriam ao núcleo central
1,51
.
Para Tura
57
,
o núcleo central tem como características o consenso, que define a
homogeneidade do grupo, a ligação a memória coletiva e a história do grupo e a pouca
sensibilidade ao contexto imediato.
Em torno do núcleo central organizam-se os elementos periféricos. E Abric
2
descreve
o sistema periférico, tendo como determinação mais individualizada e contextualizada que o
núcleo central e sendo mais associado às características individuais e ao contexto imediato e
contingente, nos quais os indivíduos estão inseridos.
Para a obtenção do núcleo central e sistema periférico, inicialmente as palavras
coletadas foram organizadas através de um processo de agrupamento por classificação,
reunindo as palavras próximas em nível semântico (palavras idênticas ou sinônimas) e em
seguida, foram submetidas a uma classificação por aproximação de sentido com o objetivo de
estabelecer as categorias de análise, conforme preconiza Bardin
6
. O material foi então
submetido a uma análise quantitativa executada com o auxílio de um software denominado
EVOC 2000 - Essemble de programmes permettant l’analyses des evocations . A partir, dos
critérios explicitados (freqüência média de ocorrência das palavras e a média das ordens
médias de evocação das palavras), os termos são distribuídos em um “quadro de quatro
casas”. A partir da distribuição, procede-se à interpretação dos dados, para a identificação de
cada estrutura. As palavras que se situam no quadrante superior esquerdo são, muito
provavelmente, elementos do núcleo central, aquelas situadas nos quadrantes inferior
esquerdo e superior direito são do sistema intermediário e o do quadrante inferior direito são
considerados do sistema periférico
1,51
.
6.3 Análise das Entrevistas
6.3.1 Análise de conteúdo
Os dados das entrevistas foram submetidos à análise de conteúdo do tipo temática
categorial
6
que é realizada de modo sistemático, através de técnicas pré-estabelecidas por
estudiosos e que tem a capacidade de inferir vários aspectos das mensagens para o contexto.
Procurou-se explorar o conteúdo das mesmas, através da presença ou freqüência dos temas e
da importância e sentidos a eles atribuídos pelos dentistas.
Segundo Berelson
7
, a análise de conteúdo é uma técnica de investigação que permite a
descrição objetiva, sistemática e quantitativa do conteúdo manifesto da comunicação,
limitando a técnica a transformar o material estudado em categorias analíticas, a partir das
quais é possível produzir distribuições de freqüência e estudos de correlações.
Bardin
6
complementa a idéia de Berelson
7
, dizendo que além de analisar o conteúdo
manifesto, a análise de conteúdo também se propõe a analisar o conteúdo latente da
mensagem, podendo o analista fazer inferências quanto ao conteúdo da mesma.
“A análise de conteúdo é um conjunto de técnicas de
análises das comunicações visando obter, por
procedimentos sistemáticos e objetivos de descrição do
conteúdo das mensagens, indicadores (quantitativos ou
não) que permitam a inferência de conhecimentos
relativos às condições de produção/ recepção (variáveis
inferidas) destas mensagens”.
A análise qualitativa interpreta o material com a ajuda das categorias analíticas
comparando as semelhanças e as diferenças quantitativas existentes entre essas categorias,
ressaltando e descrevendo as suas particularidades específicas.
Krippendorff
37
corrobora com a idéia de Bardin
6
, e diz que a análise de conteúdo
também se propõe a fazer inferências, válidas e reproduzíveis, dos dados para o seu contexto.
Valla
58
resume todas as proposições e declara como sendo o objetivo da análise de
conteúdo realizar inferências, com base numa lógica clara, sobre as mensagens cujas
características foram inventariadas e sistematizadas e a partir disto, descrever fenômenos,
descobrir associação entre fenômenos, descobrir relações de causa-efeito entre fenômenos.
Enquanto técnica, a análise de conteúdo, exige maior explicitação de todos os
procedimentos realizados, por isso vejamos a seqüência de organização da análise temática
categorial que foi utilizada:
1- Constituição do corpus correspondendo ao quantitativo das 80 entrevistas realizadas
neste estudo, seguindo-se de uma leitura flutuante e análise de todas as entrevistas.
2- Definição das unidades de análise (recortes) a seleção das unidades de análise foi
realizada após a leitura flutuante das entrevistas. As unidades de contexto escolhidas para a
análise foram as frases citadas durante as entrevistas.
3- Definição de categorias e subcategorias (a posteriori) - Com uma grelha de análise aberta
em que não existem categorias analíticas pré-estabelecidas; as categorias e subcategorias
emergiram a partir dos textos analisados.
4- Codificação: Cada categoria recebeu um código e este serviu para classificar cada unidade
de contexto dentro da grelha de categorias estabelecida, de acordo com sua significação e
característica comum ou aproximada.
5- Tratamento e apresentação dos resultados: Os dados serão apresentados em temas,
interpretados descritivamente e destacados em quadros.
CAPÍTULO III
”Ensinar não é transferir conhecimento, mas
criar possibilidades para a sua própria
produção ou a sua construção”.
Freire, 2006
RESULTADOS E DISCUSSÃO
Este capítulo foi subdividido em quatro partes. Inicia-se com a caracterização dos
sujeitos participantes da pesquisa, os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN, sendo
apresentados os dados sócio-demográficos dos mesmos, a distribuição segundo faixa etária,
sexo, tempo de conclusão do curso de odontologia, tempo de inserção no serviço público e no
referido programa. Ainda, nesta primeira parte, serão descritas as atividades realizadas por
estes profissionais no PSF, os temas que eles gostariam que fossem abordados em cursos, para
os dentistas que ingressam no programa e como se encontra a formação destes profissionais
entrevistados no campo da educação em saúde.
Numa segunda parte deste capítulo será apresentado o entendimento das concepções
dos cirurgiões-dentistas com relação à educação em saúde, sendo analisada a percepção destes
sujeitos em torno da educação em saúde e os objetivos almejados com a realização deste tipo
de atividade.
Na terceira parte, buscamos apresentar o que foi posto em prática pelos cirurgiões-
dentistas no campo da educação em saúde no seu trabalho, no PSF. Relatamos as atividades
educativas realizadas, os apoios institucionais que eles puderam contar para a realização deste
tipo de atividade, bem como, as dificuldades encontradas na realização das mesmas. Além
disto, analisaremos dentro dos objetivos alcançados e dos não alcançados pelas atividades
educativas, as razões pelas quais os profissionais percebem que os mesmos estão sendo ou
não estão sendo alcançados.
Na quarta parte deste capítulo, abordamos o tema da educação em saúde como
instrumento para a participação popular. Tentamos mostrar a importância da participação da
população dada pelos cirurgiões-dentistas e o papel destes profissionais, orientando a
população através da educação em saúde para esta participação.
1 Os sujeitos
1.1 Características sócio-demográficas dos cirurgiões-dentistas
Os profissionais participantes deste estudo apresentam uma distribuição de idade
conforme mostrado na figura 1. Sendo a idade média encontrada de 48,2 anos, com idade
mínima de 36 anos e máxima de 65 anos, demonstrando um perfil de profissionais com
maturidade cronológica e profissional. Destes, 58 eram do sexo feminino e 22 eram do sexo
masculino, conforme pode ser observado na figura 2, demonstrando a predominância de
mulheres na odontologia nos últimos tempos, o que é um fato bastante comum atualmente,
haja vista o aumento da participação feminina no mercado de trabalho como um todo.
33%
13%
34-45 anos
46-55 anos
56-65 anos
Figura 1 - Distribuição segundo a faixa etária dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN.
Natal/ RN, 2006.
Figura 2 Distribuição segundo o gênero dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN.
Natal/RN, 2006.
72%
28%
Feminino
Masculino
Quanto ao tempo que estes profissionais concluíram o curso de odontologia,
encontrou-se uma média de 23,6 anos de formado entre os entrevistados, onde o maior tempo
foi de 39 anos e o menor foi 10 anos. Essa característica nos idéia de profissionais com
ampla experiência nas práticas odontológicas e pode ser vista na figura 3.
Figura 3 Distribuição segundo o tempo de formados dos cirurgiões-dentistas do PSF de
Natal- RN. Natal/RN, 2006.
O tempo de atuação no serviço público é situado numa média de 20,3 anos, sendo o
profissional de menor tempo, um cirurgião-dentista com 10 anos de serviço e o de maior
tempo um com 39 anos. Esses dados estão expressos na figura 4.
45%
51%
4%
10-19 anos
20-29 anos
30-39 anos
Figura 4 – Distribuição segundo tempo de atuação dos cirurgiões-dentistas no serviço público.
Natal/RN, 2006.
26%
60%
14%
10-19 anos
20-29 anos
30-39 anos
O tempo de inserção nas equipes de saúde bucal gira em torno de 2 anos e 1 mês, com
o maior tempo de 4 anos e 10 meses e o menor tempo de 6 meses.
16%
54%
30%
Menos de 1 ano
1 a 2 anos
Mais de 2 anos
Figura 5- Distribuição segundo o tempo de inserção dos cirurgiões-dentistas no PSF de Natal-
RN. Natal/RN, 2006.
Quanto à realização de pós-graduação pelos profissionais, dos 80, observamos que 20,
não possuem pós-graduação, 11 dentistas possuem pós-graduação a nível máximo de
aperfeiçoamento, 43 dentistas possuem pós-graduação ao nível de especialização, sendo que
31 têm apenas uma especialização e 12 têm duas especializações. Destas 55 especializações
realizadas pelos dentistas, 25 são em áreas clínicas e 30 são em área de saúde coletiva, isto é,
37,5% dos dentistas entrevistados, possuem especialização em saúde coletiva. Ainda, 4
dentistas possuem pós graduação a nível de mestrado, sendo estes em físico-química,
dentística, odontopediatria e odontologia preventiva e social e 2 dentistas possuem pós-
graduação a nível de doutorado, sendo um na área de dentística e o outro concluiu seu
doutorado no Programa de Pós-graduação em Ciências da Saúde, sendo que ambos os
doutores possuem também mestrado em Odontologia Preventiva e Social.
A distribuição destes dentistas no município de Natal pode ser vista no anexo 5, onde
podemos perceber a localização por bairros de cada unidade básica, com sua respectiva
quantidade de equipes de saúde bucal e a quantidade de dentistas entrevistados.
Para melhor compreensão desta distribuição cabe a explicação que a cidade de Natal
está dividida do ponto de vista da saúde, a partir da municipalização, em quatro Distritos
Sanitários, o Norte, o Leste, o Oeste e o Sul. Os dentistas entrevistados estão inseridos nas
Unidades Básicas de Saúde do Programa Saúde da Família de Natal- RN, nos distritos Norte,
Leste e Oeste, pois somente nestes haviam sido implantadas equipes de saúde bucal. O
distrito Sul ainda não contava com essa estratégia. O critério para a localização do PSF nestas
localidades se deve à baixa condição sócio-econômica da população adscrita, que por isto são
mais expostas ao adoecimento e tem um acesso restrito aos serviços de saúde. A inserção
destes cirurgiões-dentistas nas equipes de saúde bucal deu-se mediante concurso interno
realizado com profissionais que já faziam parte do quadro funcional do Estado do Rio Grande
do Norte ou do município de Natal, não sendo, portanto, aberto a profissionais externos, que
não pertencessem ao quadro.
As atividades de saúde bucal tiveram seu início no mês de agosto de 2001 e o distrito
Norte foi o primeiro a ter a inserção destas equipes.
1.2 Atividades realizadas no Programa Saúde da Família
Objetivando conhecer as atividades realizadas pelos cirurgiões-dentistas no PSF, os
mesmos foram questionados sobre quais atividades ele desempenha na sua equipe de PSF.
Conforme fosse respondido, as respostas eram enquadradas em: atendimento curativo
individual, atendimento preventivo-educativo-individual, reuniões educativas, palestras,
atividades em grupos organizados (podendo ser um destes grupos ou todos: gestantes,
diabéticos, hipertensos, idosos), visitas domiciliares, reuniões/planejamento com a equipe do
PSF. A totalidade dos cirurgiões-dentistas entrevistados (80) relatou realizar todas essas
atividades em suas equipes de PSF.
1.3 Temas que deveriam ser abordados em cursos introdutórios para os
dentistas do PSF
Objetivando conhecer as dificuldades apresentadas pelos profissionais da odontologia
no desenvolvimento das atividades no PSF de Natal-RN, os mesmos foram questionados se
viam a necessidade de cursos introdutórios para os cirurgiões-dentistas que ingressaram no
PSF e quais temas seriam mais necessários. Como resultados apresentamos o quadro 1, onde
encontramos as categorias e subcategorias simbólicas geradas a partir da análise de conteúdo
das entrevistas realizadas, as quais representam os temas que eles gostariam de ter em cursos
ministrados por área temática, aqui representado por saúde coletiva, PSF e clínica. As
unidades de contexto encontram-se no anexo 6.
Quadro 1 – Categorização e subcategorização dos temas que os cirurgiões-dentistas gostariam
de ter em cursos introdutórios no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.
Categorias n % Subcategorias n %
1. Saúde coletiva 87 54 Preventiva 23 14,2
Educação em saúde 23 14,2
Acolhimento/humanização 17 10,6
Saúde coletiva 11 6,8
Epidemiologia 7 4,4
Áreas correlatas 4 2,5
Políticas Públicas de Saúde 2 1,2
2. PSF 39 24,2 Propostas do programa 24 15
Protocolo de trabalho 10 6,2
Trabalho em equipe 3 1,8
Sistema de informação do PSF 2 1,2
3. Clínica 35 21,8 Odontopediatria 8 5
Patologia 8 5
Farmacologia 7 4,3
Pacientes especiais 5 3,1
Periodontia 3 1,8
Urgências 2 1,3
Outros 2 1,3
Total 161 100 Total 161 100
Segundo Costa
23
, a área do conhecimento que mais apresenta relações com o serviço
público de saúde é a saúde coletiva e esta agrupa os mais diversos saberes. Pelos resultados,
apresentados em nossa pesquisa, os profissionais do PSF de Natal-RN sentem dificuldades
nesta área e isto se deve ao tipo de formação universitária que tiveram, voltada para a clínica
privada. Apesar de 37,5% dos profissionais terem relatado a realização de especialização em
saúde coletiva, 54% das unidades de contexto analisadas relataram dificuldades dos
profissionais neste campo, 24,2% relataram serem as dificuldades na área de PSF, que
também se encontra estritamente relacionada com a saúde coletiva e apenas 21,8% das
unidades de contexto relatam serem as dificuldades na área clínica, confirmando a formação
acadêmica e o trabalho ao longo do tempo excessivamente clínico e tecnicista, que levaram os
profissionais a terem maior habilidade nesta área de atuação. A dificuldade na área de saúde
coletiva pode ser vista no discurso dos profissionais, a seguir, que têm dúvidas de:
“Como desenvolver trabalhos junto à comunidade”.
“Como trabalhar a educação em saúde, pois fiz ambulatório a vida
toda”.
A categoria saúde coletiva foi, em nossa pesquisa, subdividida nas áreas específicas
onde os profissionais apresentam dificuldades, gerando as seguintes subcategorias: preventiva
(14,2%), educação em saúde (14,2%), acolhimento e humanização (10,6%), saúde coletiva
(6,8%), epidemiologia (4,4%), áreas correlatas, como antropologia, sociologia, filosofia, ética
(2,5%) e políticas públicas de saúde (1,2%).
Das mais citadas, entre as subcategorias, “preventiva” aparece como uma área que os
dentistas julgam importante, demonstrando a supremacia do modelo preventivista que
começou na década de 80, afirmando-se enquanto saber e prática
35
. Mas, interessante perceber
dentro deste contexto uma noção de prevenção tecnicista, a amplitude deste processo reduzido
a atos mecânicos, como pode ser visto quando os cirurgiões dentistas relatam dificuldades nas
áreas de escovação supervisionada e aplicação tópica de flúor (ATF).
Também, entre as subcategorias mais citadas na área de saúde coletiva, encontra-se a
“educação em saúde” e uma investigação mais aprofundada neste tema poderá ser vista
posteriormente.
A terceira subcategoria abordada como sendo dificuldades encontradas pelos
cirurgiões-dentistas foi a questão da humanização e do acolhimento no atendimento.
Algumas unidades de contexto abordam o tema da saúde coletiva de forma geral, por
isto determinamos uma subcategoria com esta denominação. Outras dificuldades apresentadas
foram no desenvolvimento de levantamentos epidemiológicos, assim como no conhecimento
dos índices usados na odontologia e também no conhecimento das políticas públicas de saúde.
Alguns discursos relatam a preocupação dos cirurgiões-dentistas quanto à necessidade
de terem um conhecimento nas áreas de antropologia, filosofia, sociologia e ética. Essas áreas
estão inseridas no currículo de Odontologia, mas os alunos no momento acadêmico, onde são
ministrados, não valorizam, ainda, tais temas. Uma avaliação da forma como estes estão
sendo abordados na universidade é necessária, para que se encontre o real motivo desta não
valorização dos temas acima citados e da desmotivação em desenvolvê-los no seu dia-a-dia
profissional.
E, o relato a seguir demonstra a valorização pelo cirurgião-dentista de ações que
despertem em quem as faz, a alegria, o sonho, o rigor, mesmo diante de coisas simples:
“Filosofia, ética, responsabilidade profissional, busca pelo belo
(diferente de estética) se sentir responsável pelas ações e elas serem a
sua cara”.
Como já foi abordado, a categoria “PSF” apresentou 24,2% das unidades de contexto e
foi subdividida em subcategorias: propostas do programa (15%), protocolo de trabalho
(6,2%), sistema de informação do PSF (1,2%) e trabalho em equipe (1,8%).
Apesar de estarem inseridos no PSF, os profissionais não apresentam conhecimentos
sobre as propostas do programa e isto foi percebido nos discursos. Eles desconhecem o que
seja o PSF, suas diretrizes e funcionamento, alguns relatam dificuldades em se integrarem ao
programa e se remetem novamente à formação tecnicista, como pode ser visto nos discursos
que seguem:
“Conhecer o PSF, sua estrutura e funcionamento”.
“São necessários cursos sobre o PSF, pois somos acostumados ao
consultório privado”.
Mas, as dificuldades apresentadas, vão além do conhecimento das propostas do
programa. Os profissionais percebem que faltam normatizações e protocolos de atendimentos
para que as ações desenvolvidas em uma determinada área sejam padronizadas com as das
outras áreas e isto pode ser visto no que dizem os cirurgiões-dentistas:
“Falta uma normatização de atividades a serem desenvolvidas, pois
cada um faz do jeito que quer”.
Interessante perceber, que para se chegarem à sistematização de atendimento é
necessário o planejamento das ações, que deve ser realizado em termos locais, pois em cada
Estado e até mesmo dentro de cada município a realidade apresentada é diferente e requer um
planejamento local com os profissionais atuantes. No caso do município de Natal, que
possuía, no momento da nossa pesquisa, 29 Unidades Básicas de Saúde com PSF espalhadas
em 3 distritos, podemos notar que cada distrito ou bairro, ou mesmo em cada equipe existem
as suas peculiaridades. Um planejamento geral anual, com todos os cirurgiões-dentistas seria
necessário para se traçar um plano baseado nas normas e diretrizes do PSF, de forma que as
peculiaridades de Natal fossem observadas. A partir da discussão com os profissionais e as
realidades vivenciadas poderia se traçar um protocolo de atividades para o município, além de
reuniões semestrais entre as equipes de um mesmo bairro visando adequar o protocolo de
forma mais específica para cada situação, trabalhando os problemas gerais do município e os
específicos de cada bairro.
Baseada no método Altadir de planificação popular, Costa
22
cita que no planejamento
devem ser desenvolvidas oficinas de trabalho com as pessoas diretamente relacionadas com o
serviço, com a finalidade de promover a construção coletiva, partindo da compreensão de
conceitos e vivências dos participantes. Este método tem como fundamento a participação
popular e o respaldo do Sistema Único de Saúde.
De acordo com o que foi relatado, nota-se a necessidade de um trabalho realizado em
equipe, tanto pelos profissionais da Odontologia, como entre toda a equipe de PSF (médico,
enfermeiro, dentista, auxiliares, técnicos e agentes comunitários de saúde), até com a
participação da comunidade, em prol da resolutividade dos problemas.
Mas, interessante perceber, que apenas três unidades de contexto, abordaram o aspecto
“trabalho em equipe” como sendo uma dificuldade dos profissionais. E isto demonstra
claramente, que os profissionais ainda não percebem a necessidade desta interação e
continuam trabalhando sozinhos, entre as quatro paredes do consultório odontológico. O
relato que segue, demonstra a dificuldade de:
“Como trabalhar de mãos dadas com outros profissionais”.
O trabalho em equipe é um entrave na saúde pública, alguns profissionais até tentam
reorientar suas práticas, conduzindo seu trabalho de acordo com o novo paradigma de
práticas, mas se esbarram nos demais profissionais que não se interessam em fazer tal
reorientação. Um profissional não consegue sozinho conduzir o processo, precisa do trabalho
conjunto, que termina por não existir.
Ainda como dificuldade encontrada, no campo do PSF, os profissionais mostram que a
sua inserção na equipe ocorreu sem nenhuma orientação sobre o sistema de informações e
preenchimento das planilhas do programa.
A categoria “clínica” apresentou 21,8 % de unidades de contexto e estas relatam as
dificuldades dos profissionais neste campo, principalmente em áreas como: odontopediatria,
patologia, farmacologia, pacientes especiais, periodontia e urgências.
1.4 Formação profissional no campo da educação em saúde
Visando verificar a formação profissional dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN
dentro do campo da educação em saúde, foi feito um questionamento aos sujeitos
pesquisados: Como foi sua formação no que diz respeito à atuação do cirurgião-dentista como
educador em saúde? Respostas pré-estabelecidas foram apresentadas e os sujeitos analisavam
em qual alternativa melhor se enquadravam. A figura 6 ilustra o resumo das categorias
apresentadas.
1%
27%
16%
15%
41%
Após a graduação/ têm dificuldades
Graduação/ têm dificuldades
Graduação/ não têm dificuldades
Não teve formação/ se atualizam
Após a graduação/o têm dificuldades
Figura 6 - Distribuição segundo a formação profissional dos cirurgiões-dentistas do PSF de
Natal-RN na área de educação em saúde. Natal/RN, 2006.
Os resultados são os seguintes:
Nenhum cirurgião-dentista relatou não ter tido formação com relação ao tema e não
desenvolver essas atividades no trabalho.
1 cirurgião-dentista (1%) teve contato com a temática em cursos de formação ou pós
graduação e não se sente capaz de realizar uma educação em saúde de acordo com os
princípios e diretrizes do SUS.
12 cirurgiões-dentistas (15%) não tiveram formação com relação ao tema na
graduação ou pós-graduação, mas tentam estudar e pesquisar a respeito para
desenvolver em seus trabalhos.
13 cirurgiões-dentistas (16%) tiveram aulas, apenas na graduação, sobre o tema e se
sentem capazes de realizar uma educação em saúde de acordo com os princípios e
diretrizes do SUS
22 cirurgiões-dentistas (27%) tiveram aulas apenas na graduação sobre o tema, mas
hoje sentem dificuldades em realizar as atividades educativas
32 cirurgiões-dentistas (41%) tiveram contato com a temática em cursos de formação
ou cursos de s-graduação e se sentem capazes de realizar uma educação em saúde
de acordo com os princípios e diretrizes do SUS.
2. Concepções com relação à educação em saúde
2.1 Percepções dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em
saúde
Na Figura 7, estão apresentados os resultados da estrutura das evocações dos
cirurgiões-dentistas após o estímulo indutor “educação em saúde” e analisados no EVOC
2000. A análise é baseada na Teoria do Núcleo Central
2
. As duas palavras (educação e
prevenção) que aparecem no quadrante superior esquerdo são elementos do provável núcleo
central da educação em saúde, seguido de cidadania, qualidade de vida e motivação como
sistema periférico, além de co-responsabilidade, mudanças de comportamento e orientação no
sistema intermediário. Observamos que as médias das ordens médias das evocações (MOME)
foi igual a 2,00 e a freqüência intermediária (FI) foi igual a 30.
OME <2,00 e F≥30 OME >2,00 e F30
Educação (40) 1,97
Prevenção (41) 1,60 Orientação (49) 2,30
OME <2,00 e F<30 OME >2,00 e F<30
Co-responsabilidade (22) 1,90 Cidadania (16) 2,37
Mudança de comportamento (15) 1,60 Motivação(28) 2,10
Qualidade de vida(29) 2,10
Figura 7 - Identificação dos possíveis elementos do núcleo central sobre educação em saúde
por cirurgiões-dentistas atuantes no PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.
O núcleo central expressa o consenso e a homogeneidade do grupo, uma ligação à
memória coletiva e à história dos cirurgiões-dentistas. Como vimos no perfil dos profissionais
entrevistados, todos se formaram em média 23,6 anos, nos anos de 1983-1984, época em
que ainda engatinhavam as discussões em torno do novo paradigma da saúde. A presença de
termos como prevenção e educação demonstra a incorporação destes no discurso coletivo dos
profissionais, pois a educação era vista como tendo a função de apenas transmitir à população
noções de prevenção.
A educação que deve ser trabalhada no PSF é aquela baseada no método de Paulo
Freire, onde haja a intermediação entre o saber popular e o científico através do diálogo. Esta
será abordada ao longo desta discussão.
A orientação presente no sistema intermediário mostra os fundamentos da educação
em saúde, que seria a orientação dada pelos profissionais para que as pessoas se
conscientizassem para a prevenção de doenças. Essa orientação não deve se limitar a dar
informações de prevenção, mas, também, se preocupar em estimular o paciente a aprender a
valorizar o seu corpo, capacitando-o no futuro, a tomar decisões e fazer escolhas relacionadas
à sua saúde. Além de orientar o paciente da estreita relação dos problemas de saúde com a
realidade em que vive.
A co-responsabilidade aparece como um elemento positivo dentro dos termos citados
como possível sistema intermediário, pois demonstra a incorporação da população como ator,
participante das práticas educativas. A questão da co-responsabilidade pode ser bem
percebida pelos cirurgiões-dentistas em suas práticas cotidianas, devido a necessidade dos
pacientes se envolverem no processo, pois sem este envolvimento não se conseguem êxito nos
trabalhos curativos e preventivos desenvolvidos. É necessário que os profissionais da saúde
dialoguem com a população para conhecer a sua verdadeira situação de vida e poder traçar
planos de acordo com a sua necessidade.
A presença do termo mudança de comportamento, pode ser vista como um elemento
negativo, se a educação em saúde for utilizada apenas com o objetivo de corrigir
comportamentos considerados inadequados dos indivíduos. A educação em saúde deve ser
usada para transformar atitudes, mas, também para permitir uma reflexão sobre as condições
reais de vida das pessoas
17,54
.
A presença dos elementos: cidadania, motivação e qualidade de vida entre os
elementos do sistema periférico refletem o contexto imediato nos quais os indivíduos estão
inseridos. Os temas demonstram uma apreensão nas percepções de alguns cirurgiões-dentistas
a respeito dos novos discursos e referenciais que estão embasando a educação em saúde na
atualidade. Estes devem ter sido lembrados, principalmente, pelos profissionais que estão se
atualizando.
A educação e a saúde estão intimamente relacionadas ao exercício da cidadania, aos
direitos e deveres dos cidadãos, na luta por melhores condições de vida. O controle social é
essencial nos dias atuais para que ela conheça a realidade dos serviços de saúde e para que os
profissionais conheçam a realidade da mesma. Este tema será melhor abordado em outro
tópico.
Com relação ao termo “motivação”, encontrado entre os temas pertencentes ao sistema
periférico, Mielle
41
diz que a motivação do paciente, associada ao processo de esclarecimento,
provavelmente são os fatores primordiais para transformar a saúde bucal. Dentro do processo
educativo, a utilização de forças motivadoras desempenha um papel importantíssimo.
Com relação à presença do termo “qualidade de vida” entre os do possível sistema
periférico, notamos a percepção dos cirurgiões-dentistas numa visão ampla da educação em
saúde, não apenas restringindo-a à saúde bucal ou geral, mas englobando-a dentro do contexto
social da qualidade de vida das pessoas.
2.2 Os objetivos das atividades educativas no contexto do Programa
Saúde da Família
A fim de compreender os objetivos das atividades educativas no contexto do PSF, na
concepção dos cirurgiões-dentistas, duas perguntas foram dirigidas aos mesmos: Por que a
educação em saúde deve estar incluída como uma das atividades realizadas pelo cirurgião-
dentista no PSF? e quais os objetivos esperados ao serem desenvolvidas atividades
educativas?
Da análise de conteúdo dos questionamentos realizados na entrevista, tem-se como
resultado as categorias e subcategorias simbólicas apresentadas na figura 8, as quais resumem
as unidades de contexto das entrevistas contidas no anexo 7.
Figura 8 – Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas, segundo
a visão dos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN, 2006.
De acordo com as categorias simbólicas apreendidas a partir das entrevistas com os
cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN, constatamos que a educação em saúde tem como
objetivo no PSF: formar sujeitos (46,8%), ser base para alcançar metas (35,8%), se conseguir
a integralidade dos serviços (14%) e formar vínculos entre os profissionais e os pacientes
(3,4%).
Os profissionais destacam como principal função da educação em saúde no PSF, a
formação de sujeitos, e retomando o exposto em nosso estado da arte e o que diz
L’Abbate
39
por sujeito entende-se uma pessoa em busca de autonomia, disposta a abrir-se ao
novo, ao desconhecido, e na perspectiva ser alguém capaz de perceber seu papel diante dos
desafios colocados a cada momento.
OBJETIVOS
DA
EDUCAÇÃO
EM
SAÚDE
Alcançar metas (35,8%)
Melhorar a saúde bucal (15,7%)
Melhorar a saúde geral (13%)
Melhorar a qualidade de vida (3,7%)
Prevenção e promoção (3,4%)
Formação de sujeitos (46,8%)
Modificar hábitos e comportamentos (12,6%)
Co-responsáveis por sua saúde (10,6%)
Conhecer saúde-doença (9,3%)
Conceito ampliado de saúde (8,3%)
Conscientes com a questão saúde (3,3%)
Agentes multiplicadores (2,7%)
Formação de vínculos (3,4%)
Melhorar a relação profissional-paciente
(3,4%)
Fundamental para a integralidade (14%)
Assistência e prevenção (11%)
Visão do todo (3%)
Freire
33
aborda o ser humano como um ser inconcluso, que se encontra num
permanente movimento de procura. Por isso, cabe à educação o papel de levar discussões para
a população analisar e concluir por si a realidade em que se encontra e o que está por vir
nas suas vidas. Formar esses sujeitos é muito mais do que treiná-los no desempenho de
destrezas. Vamos então analisar como está essa formação de sujeitos apresentada nos
discursos dos cirurgiões-dentistas pesquisados.
Dentro da categoria formação de sujeitos, destacam-se a formação de uma população
que seja capaz de modificar hábitos e comportamentos (12,6%), que seja co-responsável por
sua saúde (10,6%), conheça o processo saúde-doença (9,3%), entenda o conceito ampliado de
saúde (8,3%), que seja consciente com relação à questão saúde (3,3%) e aja como agentes
multiplicadores (2,7%).
A temática da educação em saúde tendo como objetivo a formação de sujeitos que
modifiquem hábitos e comportamentos, aparece neste momento da entrevista, mas foi
relatado quando analisamos a percepção dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em
saúde. Dentro desta discussão é necessário lembrar que se olharmos somente por este ângulo,
da educação em saúde servindo apenas como modificadora de hábitos e comportamentos,
como podemos ver nos discursos abaixo, temos uma educação em saúde ultrapassada,
flexneriana, onde o cirurgião-dentista apenas deposita informações de mudança de
comportamento e hábitos e, a partir deste repasse, espera-se a melhora da saúde bucal da
população. Seria uma estratégia educativa que inclui somente informações verticalizadas que
ditam comportamentos a serem adotados para a manutenção da saúde
3
.
Segundo Vasconcelos
64
, o que se tem visto nos serviços de saúde são ações educativas
extremamente normatizadoras e centradas apenas na incorporação de hábitos individuais
considerados saudáveis pelos indivíduos. Esse trabalho nada tem a ver com processo de
transformação social através do diálogo de saberes e da reflexão crítica da realidade de vida e
saúde das populações.
Esse discurso normatizador pode ser visto nas falas dos cirurgiões-dentistas
pesquisados:
“Porque é através dela que a gente torna o hábito de escovação,
higiene e dieta”.
“Porque ela vai modificar os hábitos e comportamentos inadequados
da população”.
A educação em saúde tendo como objetivo a formação de sujeitos que sejam co-
responsáveis por sua saúde, apareceu também em nossa pesquisa quando analisamos a
percepção dos cirurgiões-dentistas a respeito da educação em saúde. Vimos que a população
deve agir como ator participante no processo educativo e não apenas como um mero
expectador. Para isto, é importante manter um diálogo com as pessoas, onde estas sejam
estimuladas a pensar sobre as suas situações de vida, e a partir dos conceitos atuais de saúde,
essa população aja como sujeito co-responsável por sua saúde. Então, é necessário mudar as
atividades educativas, que somente repassam informações. Com relação a isto, Moyses e
Watt
43
dizem que o processo de educação limita-se muitas vezes a ditar aos pacientes o que
eles deveriam fazer, mas ele deve dar condições para que a população tome suas próprias
decisões.
Esta questão da responsabilidade ser transferida para a população tem a ver com a
autonomia que ela deve ter em busca da sua saúde. Freire
33
relata que o educador progressista
deve basear sua ação educativa crítica, na ética, no respeito à dignidade e na própria
autonomia do educando, provocando-os a se assumirem como sujeitos sócio-histórico-
culturais do ato de conhecer.
Então, vemos que muitos profissionais apreendem, como essencial, a co-
participação da população, para a resolutividade dos problemas. Podemos ver esse tema da
co-responsabilidade nos discursos que seguem:
“Porque a meta é se conseguir o auto-cuidado das pessoas em
saúde e sem educação em saúde não se consegue”.
“Que elas também possam ter responsabilidade com a sua saúde,
pois deve existir uma parceria entre o profissional e o usuário para
serem conseguidos os objetivos”.
Outro objetivo determinado pelos cirurgiões-dentistas foi a educação em saúde ser
formadora de sujeitos que conheçam o processo saúde-doença. Segundo o que foi colocado
no estado da arte, o PSF, inserindo a equipe de saúde na área geográfica em que atua,
proporciona à mesma, o conhecimento da realidade local, pois o profissional irá conviver com
a dinâmica do adoecimento e cura. Isto ajuda no entendimento, de forma ampliada, do
processo saúde-doença daquela determinada população. Assim, o profissional pode buscar
formas de intermediar as informações de acordo com a realidade daquele local, gerando
intervenções que vão além de práticas curativas
12
.
Freire e Guimarães
32
abordam a perspectiva de se manter uma intimidade entre o
saber, experiências e realidades dos indivíduos e os saberes fundamentais sobre saúde que
devem ser repassados à população.
Nas nossas entrevistas, segundo as citações abaixo, percebemos a importância dada
pelo cirurgião-dentista ao repasse à população de informações sobre o processo saúde-doença,
necessário saber se estão de acordo com a realidade local de cada comunidade.
“Porque se você educa, as pessoas ficam esclarecidas quanto ao
processo saúde-doença”.
“Porque você vê as pessoas, sem noção do assunto saúde, quando
elas começam a entender, vivenciar, elas passam a se preocupar”.
Mais um dos objetivos da educação em saúde, segundo os cirurgiões-dentistas, seria a
formação de sujeitos que entendam o conceito ampliado de saúde. Devemos ver a saúde como
resultado dos modos de organização social da produção, como efeito da composição de
múltiplos fatores, entre eles, alimentação, moradia, saneamento básico, meio ambiente,
trabalho, renda, educação, transporte, lazer e acesso aos bens e serviços essenciais que
integram a política de saúde às demais políticas sociais e econômicas a fim de garantir a sua
efetivação
9
. Este conceito ampliado de saúde deve ser percebido pela população e o
profissional da saúde como o responsável por levar a população a entender essas informações
durante o processo educativo.
Mas, pelo discurso dos profissionais apreendidos nas entrevistas, apenas relatos da
saúde bucal como parte integrante e inseparável da saúde, compreendendo somente a
dimensão biológica. A compreensão ampla da saúde enquanto dependente da condição social
e influenciando diretamente na qualidade de vida, não foi repassada pelos cirurgiões-dentistas,
que demonstram uma visão limitada do conceito ampliado de saúde, conforme podemos
perceber:
“A população deixa a boca de fora, mas tem que entender que faz
parte da saúde como um todo”.
“É importante fazer grupos, para envolver a comunidade, tirá-los da
ociosidade, participação em caminhadas, brincadeiras, mulheres em
atividades manuais, para com tudo isso eles entenderem a visão do
corpo como um todo”.
Interessante lembrar, que quando analisamos a percepção dos cirurgiões-dentistas a
respeito da educação em saúde, a qualidade de vida foi um tema lembrado por 29
profissionais. Mas, como vimos na subcategoria anterior, o conceito de saúde é restrito na
visão dos profissionais entrevistados.
Os profissionais também percebem como objetivo da educação em saúde a população
se conscientizar com relação à questão saúde, e de acordo com Rocha
50
, a educação deve
desenvolver a consciência crítica das pessoas a respeito das causas reais dos seus problemas e
estimulá-las na busca de soluções coletivas para resolvê-los. E observamos essa preocupação
no discurso dos profissionais:
“Porque é pela educação em saúde que iremos promover saúde,
prevenir doenças, através da conscientização da população”.
Ainda neste tópico, da educação em saúde formando sujeitos, vemos a questão
multiplicadora onde, haja a formação de agentes multiplicadores, seja entre a família (pais-
filhos), ou na escola (professores-alunos) ou de forma mais ampla com vizinhos, amigos.
“Acho importante o trabalho com os pais e professores, pois eles
passam para as crianças”.
A segunda categoria mais citada pelos odontólogos como sendo objetivo da educação,
foi alcançar metas de melhora da saúde bucal (15,7%), da saúde geral (13%), da qualidade de
vida (3,7%) e da prevenção e promoção em saúde (3,4%).
Cruz e Costa
25
definem a educação como a base de qualquer atividade, cuja finalidade
seja a transformação para serem alcançadas metas. E isto, pode ser bem visto no discurso dos
profissionais estudados em nossa pesquisa:
“É a base de tudo, se educar e reeducar, para conseguir saúde”.
“Pois é fundamental, sem educação em saúde não se leva a nada, não
pode caminhar”.
A educação em saúde deve então ser vista como a base para se alcançarem os
objetivos, embora alguns profissionais apostem na educação em saúde como uma atividade
redutora e salvadora da saúde; uma visão um tanto ilusória, pois nem tudo pode ser resolvido
pela educação. Existe todo um contexto onde a população está inserida, como aspectos
econômicos, sociais, culturais, que não será a educação em saúde que irá mudar. Ela é
importante, fundamental, mas, não pode ser vista com este caráter de salvação da
humanidade. A frustração por não se mudar tudo com a educação, pode levar a desmotivação,
por não se atingirem todos os objetivos ilusórios que se espera e terminar havendo um total
abandono desta atividade.
Os discursos apreendem bem isto:
“Se a pessoa tem boa educação, não tem doença”.
“Porque educação e saúde são coisas relacionadas, só educando
haverá saúde”.
“Devemos investir em educação em saúde, para um futuro próximo
saudável”.
Dentro da subcategoria “saúde bucal”, muitos especificam a educação como base para
melhorar apenas a saúde bucal. Notamos que o princípio da integralidade, não foi apreendido
nestas unidades de contexto, como pode ser visto nas citações que seguem:
“Com a educação em saúde tornamos as doenças bucais evitáveis”.
“Porque só educando a gente vai conseguir diminuir os índices bucais”.
“Imprescindível para a manutenção da saúde bucal”.
Na subcategoria “melhorar a saúde geral”, notamos uma visão mais ampla do conceito
de saúde, não se restringindo apenas a saúde bucal, mas, ainda um discurso estritamente
biologicista, conforme pode ser visto no discurso que segue:
“Prevenção de doenças, evitar que o grupo tenha determinadas
doenças e que eles aprendam a se cuidar e saber quando está
doente”.
Foram apreendidas poucas unidades de contexto, com relação à subcategoria
“conseguir qualidade de vida”, demonstrando novamente a visão restrita que os profissionais
têm da dimensão da saúde, como expressa a fala seguinte:
Porque é primordial, é a base de tudo para se alcançar
qualidade de vida”.
Notamos na subcategoria “alcançar a prevenção e promoção de saúde”, um discurso
pré-estabelecido, baseado no que os profissionais têm apreendido com relação aos objetivos
do PSF:
“Prevenção é o carro chefe do PSF”.
“Porque vejo como meta, como objetivo do PSF a promoção e
prevenção”.
Dentro dos objetivos almejados com a educação em saúde no PSF, segundo os
cirurgiões-dentistas, a questão de se atingir a integralidade, que é um dos princípios do SUS,
aparece como a terceira categoria mais citada. Dentro desta categoria simbólica,
apresentamos subcategorias como a necessidade de se aliar assistência e prevenção (11%) e a
necessidade de se ter a visão do todo (3%).
Com relação à necessidade de se aliar assistência e prevenção abordada pelos
profissionais, Guterman
35
destaca que na Odontologia, ainda um caráter de atenção
centrada no indivíduo e em atividades curativas. Mas, o conhecimento por parte de todos
com relação à necessidade da inclusão das atividades educativas no cotidiano do serviço. Isto
pode ser visto nas citações dos profissionais pesquisados:
“Se não tiver educação associada ao tratamento curativo, o impacto
será pequeno, o cirurgião-dentista vai passar a vida toda fazendo
tratamento clínico e com pouco tempo as pessoas retornando para
novos tratamentos”.
“Tem que educar para as pessoas saberem que a parte curativa não
resolve tudo sozinha, tem que haver a preventiva”.
“Não basta só tratamento curativo, é necessário mudar a
mentalidade da população porque só querem extração e acham
bonito o uso de prótese”.
Três aspectos podem ser analisados nas citações acima, na primeira, a necessidade da
associação do tratamento curativo com a educação em saúde, para se atingir um controle no
tratamento clínico, isto é, na saúde bucal das pessoas, e evitar o ciclo restaura-recidiva-
restaura, chegando à extração dentária. Na segunda citação, podemos destacar a visão deste
profissional em educar as pessoas, não apenas transmitindo instruções de prevenção
mecânica, mas, o caráter educativo conscientizador da população, mostrando a mesma que a
parte curativa tem que estar aliada à preventiva. E na terceira citação, novamente o
profissional, educando a população para um assunto que vai além de informações mecânicas,
à conscientização da importância dos elementos dentários neste contexto.
Ainda, com relação ao tema da educação em saúde ser fundamental para se atingir a
integralidade, damos destaque à segunda subcategoria citada pelos profissionais, a visão do
todo. Começo destacando que a fragmentação do homem ocorre devido às especializações
notoriamente, em sua maioria, de cunho curativo. A educação em saúde também absorve esta
fragmentação do conhecimento e podemos bem exemplificar que a odontologia criou para si a
educação em saúde bucal. Assim, podemos notar a isenção do cirurgião-dentista em outras
áreas da educação que não seja a que discuta temas de saúde bucal. O odontólogo confinado
em uma parte do corpo, a boca, não age como verdadeiro promotor de saúde. Com isto, vimos
que não há a assimilação do princípio da integralidade e se pode questionar os limites do PSF
em reorientar o modelo assistencial.
Pelas unidades de contexto apresentadas dentro do tema “visão do todo”, percebemos
novamente que os profissionais não conseguem sair da dimensão da boca inserida num corpo
para uma dimensão mais ampla que conforme Costa
21
, deveria contemplar a saúde bucal como
parte integrante e inseparável da saúde geral e dependente das condições de alimentação,
moradia, meio ambiente, renda, trabalho, lazer, acesso a serviços de saúde e informação.
Segundo Vasconcelos
64
, a presença da integralidade nas práticas de saúde se baseia
fundamentalmente no crescimento da capacidade de doentes, famílias, movimentos sociais e
outros setores da sociedade civil em articular, usufruir e reorientar os mais diversos serviços e
saberes disponíveis, de acordo com a realidade e sua necessidade.
Mas, os cirurgiões-dentistas apreendem apenas a dimensão boca-corpo, conforme
expresso nas seguintes falas:
“O cirurgião-dentista com essa nova perspectiva de modelo boca
integrada ao corpo”.
“Porque hoje a gente tem que ter uma visão holística do paciente,
olhar a pessoa como um todo, a gente não pode ver só a boca e os
dentes”.
A quarta categoria citou como objetivo da educação em saúde formar vínculos entre o
profissional e o paciente, melhorando a relação entre ambos, com apenas 3,4% das unidades
de contexto. Este tema é muito discutido pela educação popular em saúde e deve ser visto
como um dos principais aspectos dentro do contexto do PSF. O profissional é colocado para
atuar em uma determinada área e pode assim apreender a realidade da população, conhecer o
seu saber e traçar planos para atuar nesta perspectiva. Para conseguir isto, o profissional
precisa se aproximar da comunidade, participar de movimentos locais e, por fim, quebrar a
visão centralizadora que a população tem dos profissionais da saúde, podendo ser apreendido
como objetivo da educação em saúde:
“Ajudar a acabar com o distanciamento dentista-população”.
“Criar o vínculo paciente-dentista”.
3 A respeito do que foi posto em prática no campo da educação
em saúde
3.1 Atividades educativas realizadas
Visando conhecer as atividades educativas individuais e em grupos realizadas pelos
cirurgiões-dentistas, foi questionado, aos mesmos, qual a clientela envolvida e atividades
educativas desenvolvidas no programa.
As respostas geraram categorias e subcategorias apresentadas no quadro 2, as quais
resumem as unidades de contexto das entrevistas, contidas no anexo 8.
Quadro 2 Categorização e subcategorização das atividades educativas realizadas pelos
cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/ RN. Natal/ RN, 2006.
Categorias n % Subcategorias n %
1. Escolares, pais de escolares e
professores
132 24,4 1.1 Atividades coletivas com
escolares
119 22
1.2 Atividades coletivas com
pais e professores
13 2,4
2. Pessoas que não pertencem a
nenhum dos grupos
104 19,3 2.1 Atividades coletivas 8 1,5
2.2 Visitas domiciliares 20 3,8
2.3 Orientações individuais no
consultório
76 14
3. Idosos 101 18,7 3.1Atividades coletivas 50 9,3
3.2 Visita domiciliar 13 2,4
3.3 Orientações individuais 38 7
4. Crescimento e desenvolvimento
(crianças de 0 a 14 anos e mães)
94 17,4 4.1 Atividades coletivas 27 5
4.2 Visitas as puerperais e bebês 26 4,8
4.3 Orientações individuais 41 7,6
5. Gestantes 74 13,7 5.1Atividades coletivas 47 8,7
5.2 Orientações individuais no
consultório
27 5
6. Pessoas com dificuldade de
locomoção
25 4,6 6.1 Visita domiciliar 25 4,6
6. Outros grupos 10 1,9 7.1 Atividades coletivas 10 1,9
Total 540 100 540 100
Na realização destes trabalhos por grupos, os profissionais da saúde bucal, devem
saber que as atividades educativas não podem ocorrer fora do contexto do trabalho
multidisciplinar da equipe de saúde. Assim, os grupos trabalhados pelos cirurgiões-dentistas,
devem ser aqueles formados por outros profissionais, de forma que se evitem a criação de
grupo específico para saúde bucal por faixa etária, para evitar que ocorram de forma vertical e
isolada da área médica e de enfermagem
14
.
As atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentistas se dão a nível coletivo
reunindo esses determinados grupos ou mesmo através de informações individualizadas no
consultório odontológico. Têm-se, também, relatos de atividades educativas nas visitas
domiciliares, onde são realizadas orientações para um determinado indivíduo ou para toda a
família.
As atividades educativas mais citadas pelos profissionais foram com o grupo de
escolares e, isto se deve à herança que existe da odontologia voltada para escolares e também
à facilidade encontrada por abordar um grupo que se encontra formado e dentro de um
espaço propício para uma abordagem educativa. As atividades se baseiam em palestras,
escovação supervisionada, apresentação de filmes educativos, teatro ou fantoches, música,
roda de conversa, entre outras. Ainda dentro deste contexto escolar, foram abordadas palestras
com os professores e os pais dos alunos.
A segunda categoria citada foi das atividades educativas com pessoas que não
pertencem a nenhum dos grupos, por eles citados. São exemplos de atividades educativas
desta categoria, as orientações de saúde bucal individuais realizadas nos consultórios, além de
palestras nos corredores para pessoas que estão esperando por atendimento na unidade básica
de saúde e, também, as visitas domiciliares feitas de porta-em-porta a toda comunidade e
rodas de conversas em vilas ou ruas.
A terceira categoria citada foi a do grupo dos idosos, que normalmente é existente na
Unidade Básica de Saúde e conhecida como “Hiperdia”, por participarem deste, pessoas com
hipertensão e/ou diabetes. As ações educativas realizadas com este grupo são atividades
coletivas de palestras, rodas de conversa, teatro, filmes, caminhadas, passeios, entre outras.
Também, o relato das atividades educativas nas visitas domiciliares, onde se orienta sobre
saúde bucal, inclusive sobre o câncer de boca e relatos de orientações individuais no
consultório odontológico.
A quarta categoria citada foi a do grupo de Crescimento e Desenvolvimento,
conhecido na unidade de saúde como “CD”, ao qual pertencem crianças de 0 a 14 anos e suas
respectivas mães ou cuidadores. São realizadas atividades coletivas com as mães, como roda
de conversas e palestras e com as crianças são realizados teatros e brincadeiras.
A quinta categoria citada foi a do grupo das gestantes, também formado na unidade
básica de saúde, ao qual o cirurgião-dentista se integra, orientando individualmente cada
futura mãe no consultório odontológico ou coletivamente em palestras, rodas de conversa ou
terapia comunitária.
A sexta categoria citada foi a visita domiciliar, às pessoas com dificuldades de
locomoção, onde são realizadas orientações de saúde bucal.
A sétima categoria citada foi a de atividades coletivas a outros grupos que existam em
cada área específica, como: jovens, detentas, grupo de teatro, entre outros.
Pela análise das unidades de contexto percebemos que não uma padronização das
atividades educativas realizadas pelos cirurgiões-dentista, fruto da falta de planejamento das
ações, já abordadas em outros itens.
3.2 Apoios institucionais para a realização das ações educativas
Os cirurgiões-dentistas foram questionados quanto ao apoio de alguma instituição para
o desenvolvimento das atividades educativas, sendo que 44 cirurgiões-dentistas afirmaram
nunca terem tido este tipo de apoio, enquanto que 36 afirmaram terem tido apoio das
seguintes instituições: ONGs (2), Urbana (empresa de limpeza urbana de Natal) (2), igrejas
(3), instituições filantrópicas (2), colégios particulares (1), drogarias (1), Universidades (13),
conselho comunitário (3), empresa de produtos odontológicos (2), empresa de ônibus (1) ,
clínica privada (1) e escolas estaduais (5), conforme figura 9.
55%
45%
o tiveram apoio
institucional
Tiveram apoio
institucional
Figura 9 Apoios institucionais que os cirurgiões-dentistas dispuseram para o
desenvolvimento de atividades educativas. Natal/RN, 2006.
3.3 Dificuldades encontradas no desenvolvimento de atividades
educativas
Com o objetivo de determinar as dificuldades apresentadas pelos cirurgiões-dentistas
no desenvolvimento de atividades educativas, os sujeitos foram questionados sobre o assunto
e as categorias e subcategorias são demonstradas na figura 10, as quais resumem as unidades
de contexto das entrevistas contidas no anexo 9.
Figura 10– Categorização e subcategorização das dificuldades apresentadas pelos cirurgiões-
dentistas do PSF de Natal/RN para desenvolverem atividades educativas. Natal/RN, 2006.
Ao analisarmos as dificuldades relatadas pelos cirurgiões-dentistas para o
desenvolvimento de atividades educativas, encontramos as seguintes categorias: falta de apoio
institucional (51,4%), problemas com a população (32,6%), lacunas na formação do
cirurgião- dentista (10,3%), alta demanda (3,4%) e processo educativo longo (2,3%).
Em recente estudo com os profissionais atuantes no serviço público de saúde do RN,
Costa
24
questionou, os mesmos, quanto as maiores dificuldades encontradas na área de saúde
coletiva e o resultado definiu o mesmo padrão de respostas da nossa pesquisa, onde a falta de
compromisso dos gestores foi a mais citada, sendo em seguida o despreparo/desinteresse dos
profissionais e a valorização do tratamento curativo pelos usuários e gestores.
Segundo L’Abbate
39
, a educação em saúde deve ser pensada como um campo de
práticas que se ao nível das relações sociais normalmente estabelecidas pelos profissionais
de saúde, entre si, com a instituição e, sobretudo com os usuários, no desenvolvimento
cotidiano de suas atividades. Por isso, essa análise das dificuldades no campo da educação
deve ser pensada em torno dos sujeitos participantes, instituição, serviço e mesmo em torno
do próprio processo educativo, onde fundamentamos nossas categorias.
A categoria “falta de apoio institucional” apresentou como subcategorias: falta de
material (28,6%), falta de espaço físico (14,8%), falta de normatização (4%), falta de
incentivos (2,3%) e falta de escovódromo (1,7%).
Problemas com
a população
(32,6%)
Lacunas na
formação
(10,3%)
Alta demanda
(3,4%)
Falta material (28,6%)
Falta espaço físico (14,8%)
Falta normatização (4%)
Falta incentivo (2,3%)
Falta escovódromo (1,7%)
Resistência da população (14,9%)
Desinteresse na participação (12%)
Condições precárias dos pacientes (5,7%)
Formação inadequada dos cirurgiões-dentistas
(10,3%)
Alta demanda (3,4%)
Falta de apoio
institucional
(51,4%)
Processo longo
(2,3%)
Processo demorado (2,3%)
Neste aspecto, vê-se a necessidade de sensibilizar os gestores para que compreendam a
importância da educação como o grande agente de transformação social e da prevenção como
instrumento que deve ser trabalhado paralelamente ao tratamento curativo
24
, de modo a
reduzir demandas futuras e os custos das atividades desenvolvidas, vendo a educação como
um processo contínuo, conforme podemos perceber nas falas seguintes:
“Falta de incentivo do próprio governo, pois ele acha que é melhor
dá material para o consultório, mas não investe em escovas e
materiais educativos, só em época de campanha”.
Os gestores inseridos neste processo também têm que investir mais em material e
espaço físico para as atividades educativas e diminuir a cobrança por produtivismo numérico
na parte clínica. Essa cobrança estimula os profissionais a deixarem de lado as atividades
preventivas-educativas e só ficarem atuando na parte curativa.
A categoria “problemas com a população” apresentou como subcategorias: resistência
da população (14,9%), desinteresse na participação (12%) e condições precárias dos pacientes
(5,7%).
Com relação à resistência da população, os odontólogos relatam a dificuldade em
conduzirem um serviço de saúde mais voltado para o novo paradigma, pois a população cobra
tratamento curativo, o que pode impedir o profissional de fazer as atividades educativas e
preventivas, conforme expresso nos relatos:
“As pessoas ainda não dão importância às atividades educativas, só
querem curativas”.
“Querem fazer o tratamento, mas não querem criar
responsabilidade”.
“Agentes de saúde prezam pela quantidade de procedimentos, pois a
população cobra ficha para a extração”.
No primeiro discurso, o cirurgião-dentista entende que o problema é com a
população, que não importância às atividades educativas, mas isso se deve a inserção
recente deste tipo de atividade, de forma contínua, no serviço. O importante é não utilizar a
educação em saúde apenas para repassar normas de higiene e desenvolvimento de atividades
preventivas, mas, usá-la como um instrumento que leve a população a entender o novo
paradigma e a necessidade deste tipo de atividade na transformação da sociedade.
Complementando com o segundo discurso, uma educação que leve as pessoas a serem co-
responsáveis por sua saúde, atores do processo e não apenas sujeitos passivos de um
tratamento odontológico.
No terceiro discurso, vê-se um problema relacionado à falta de trabalho em equipe. Os
agentes de saúde devem ser formados dentro deste processo, pois eles são o principal elo da
equipe de saúde com a comunidade. Se os agentes de saúde têm essa resistência em aceitar
atividades educativas-preventivas, o que poderemos dizer da população da área onde eles
atuam?
Ainda relacionado aos problemas com a população, na subcategoria “desinteresse da
população”, os profissionais vêem que este problema também se deve ao processo de
educação ter ocorrido pouco tempo e a comunidade não estar ainda inserida no contexto.
Mas, alguns profissionais tentam incentivar a participação desta população dando algo em
troca, como lanches e brindes. Também, relatos da utilização de brincadeiras e jogos para
estimular a participação, conforme podemos ver nos discursos:
“Tem que haver um incentivo para que as pessoas participem”.
“Tem que estimular muito, utilizar muita brincadeira para não
desviar o foco”.
O importante é o profissional ter a disposição de criar, procurar apoios institucionais,
conforme já foi relatado em tópico anterior, procurar dentro da própria comunidade incentivos
para a participação da população, até mesmo inserir as atividades educativas em eventos da
comunidade e nos grupos locais. Para isso, o profissional tem que se inserir no meio da
população conhecendo a sua realidade e utilizar a criatividade em sua tarefa diária. Mas,
muitos profissionais relatam ter dificuldades em desenvolver as atividades educativas devido
ao problema das condições precárias dos pacientes, relacionando-as com a saúde bucal, saúde
geral e qualidade de vida, conforme podemos observar:
“Condições sociais das pessoas que não têm escovas, nem pasta que
seria o básico para a prevenção em saúde bucal”.
“A população daqui é pobre, que nem banho toma, nem limpa a casa,
a higiene geral não existe”.
“Condições precárias de vida”.
L’Abbate
39
relacionou a própria situação do usuário, em estado de piora constante
quanto às suas condições de vida, como uma das maiores dificuldades a serem enfrentadas
pelos profissionais no desenvolvimento de atividades com a população.
A categoria “lacunas na formação” apresentou como subcategoria a formação
inadequada dos cirurgiões-dentistas (10,3%). Os profissionais da área da saúde e em especial
os da Odontologia são despreparados para esse trabalho interativo, de comunicação com a
população. Estratégias e conteúdos pedagógicos têm que ser enfatizados durante o período da
graduação. Os profissionais vêem a necessidade de aprender a trabalhar em grupo e a
melhorar o seu contato com o usuário nos atendimentos mais individualizados. Alguns
discursos demonstram essa lacuna sentida na área pedagógica e a falta de criatividade dos
cirurgiões-dentistas para inovar:
“Não dominar a área psico-pedagógica, os instrumentos
pedagógicos, teríamos que ter uma noção de pedagogia para
trabalharmos melhor nessa área”.
“Tem que sair de palestras e fazer rodas de conversa, mas o
cirurgião-dentista não está preparado para isto”.
É necessário que os profissionais entendam alguns pressupostos a respeito do processo
ensino-aprendizagem, considerando que grande parte do trabalho do profissional de saúde
envolve transmissão de conhecimentos e orientações
39
. Além disto, deve incorporar também o
modelo dialógico da educação em saúde em suas atividades, pois este, segundo Alves
3
, está
em coerência com a integralidade da assistência.
Como foi relatado, os profissionais que estão inseridos no PSF de Natal, têm em
média 23,6 anos de formados. O SUS foi implantado em 1988, 19 anos e o PSF 13
anos. Então, os cirurgiões dentistas por nós pesquisados, inseridos no PSF de Natal, não
apresentaram uma formação universitária na área de saúde coletiva, pois esta começou a ser
mais difundida após o surgimento do SUS. Esta situação tem que ser analisada pelos gestores
locais, pois para que os profissionais possam enfrentar estas novas perspectivas do SUS e do
PSF, há necessidade de cursos de formação/atualização neste campo de conhecimento.
E, esta dificuldade é sentida pelos profissionais em seus discursos, quando relatam a
sua formação inadequada:
“Estou decepcionado com a instituição que não capacita os
profissionais envolvidos”.
“A gente não tinha essa formação na Universidade”.
“A maior parte dos dentistas foi formada para consultório particular,
sentindo dificuldades em fazer a parte de educação em saúde”.
Hoje, a atribuição de formar para o PSF é dada à Universidade, pois os estudantes ao
saírem desta e chegando aos serviços devem estar capacitados para desenvolverem as diversas
funções entre elas a de educador.
Mas, enquanto houver cirurgiões-dentistas formados em tempos anteriores a inserção
do PSF, haverá necessidade de serem oferecidos cursos pela Instituição em que o profissional
trabalha ou mesmo que este profissional seja incentivado a realizar tais cursos em escolas
profissionalizantes.
O que vemos hoje é uma total falta de incentivo por parte das Prefeituras que
empregam os cirurgiões-dentistas no PSF, os profissionais são muito cobrados nos serviços e
não existe tempo para a sua formação continuada dentro do contexto atual. Assim, ficam no
mercado de trabalho, profissionais desatualizados que não respondem às atuais exigências.
Entre estas, segundo Costa
23
, o profissional deverá diagnosticar, solucionar problemas,
ser capaz de tomar decisões, de intervir no processo de trabalho e trabalhar em equipe, tarefas
que fazem parte das competências e habilidades que o profissional de saúde deverá ter
segundo as diretrizes curriculares dos cursos da área da saúde, aprovadas pela SESU
(Ministério da educação, 2002).
L’Abbate
39
ainda acrescenta as dificuldades pelas quais os profissionais passam, além
da carência de recursos técnicos e materiais, a grave crise em relação à sua situação de
trabalho, aí ele incluiu a questão da carreira profissional aqui discutida e também a questão do
nível salarial, que não foi levantada pelos cirurgiões-dentistas nesta entrevista, mas funciona
como um incentivo para a melhora do trabalho.
A quarta categoria relacionada às dificuldades encontradas pelos profissionais no
desenvolvimento de atividades educativas foi a “alta demanda por atendimento curativo”,
onde foi relatada a dificuldade de pôr em prática as atividades educativas. Esta alta demanda
se deve a recente ampliação do acesso da população aos serviços odontológicos. Assim, o não
entendimento do novo paradigma de promoção da saúde gera a grande cobrança, por parte da
população, dos procedimentos clínicos. Até mesmo, os profissionais tentam encontrar
soluções para não parar o atendimento clínico, delegando as atividades educativas ao auxiliar,
conforme podemos ver nos discursos:
“O próprio deslocamento da gente do atendimento clínico para as
atividades coletivas, devido à alta demanda”.
“Mas, não deve fazer isso (educação em saúde), porque a carência
maior ainda é o curativo, podemos delegar essa função ao auxiliar”.
L´Abbate
39
apreende esta dificuldade de se colocar em prática as ações de saúde
coletiva e diz que até agora não se saiu do papel o que foi colocado na constituição de 1988,
então, espera-se algo mais do que a melhor adequação do arcabouço jurídico-político-
institucional da organização dos serviços de saúde na construção do SUS.
Como quinta categoria, os profissionais reconhecem que uma das dificuldades
encontradas no desenvolvimento de atividades educativas se deve ao processo ser demorado,
sendo os resultados vistos a longo prazo. Por este estar no início e os profissionais não
terem logo esses resultados, eles podem se desestimularem em realizar tais atividades. Nesse
sentido, Freire
33
relata que é próprio do pensar certo a disponibilidade ao risco, a aceitação do
novo que não pode ser negado ou acolhido só porque é novo.
O discurso que segue aborda a consciência do cirurgião-dentista em saber que o
resultado do processo não é imediato:
“Só a longo prazo que a gente vai ter êxito, não é de imediato”.
3.4 Objetivos alcançados e objetivos não alcançados
Segundo Freire
33
, é tarefa constante do educador, a reflexão crítica em torno de sua
prática. É pensando criticamente a prática de hoje ou de ontem que se pode melhorar a
próxima prática. Por isso, levamos os cirurgiões-dentistas a pensarem se os objetivos
esperados ao serem desenvolvidas as atividades educativas, estão sendo alcançados. Eles
respondiam sim ou não e o porquê.
Dentro das respostas apresentadas, 34% dos odontólogos, responderam que os
objetivos podem ser vistos, isto é, estão sendo alcançados. Enquanto que 66 % disseram
que os objetivos ainda não foram alcançados.
A partir do questionamento, foram relacionadas na figura 11, a categorização e
subcategorização dos objetivos das atividades educativas que estão sendo alcançados, cujas
unidades de contexto podem ser vistas no anexo 10.
Figura 11– Categorização e subcategorização dos objetivos das atividades educativas que
estão sendo alcançados, segundo os cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.
Com relação ao tema dos objetivos das atividades educativas que estão sendo
alcançados, temos como categorias os objetivos relacionados: à população (76,4%), à melhora
da saúde (18%) e aos profissionais (5,6%).
Os profissionais, a partir de uma análise dos objetivos que já foram alcançados, devem
passar a valorizá-los, pois os mesmos, às vezes, parecem pequenos, mas, constituem
importantes avanços no sentido de não se perder o conseguido e servir de estímulo em prol
de mais conquistas.
Dentro da categoria simbólica dos objetivos relacionados à população, temos que a
população está mais consciente da prevenção (41,6%), está mais co-responsável por sua saúde
(30,5%) e agindo como agente multiplicador (4,2%).
A subcategoria mais citada e apreendida nos discursos dos profissionais foi que a
população está mais consciente da prevenção, como pode ser visto a seguir:
“As pessoas também mudaram a consciência com relação à perda
dentária, que está deixando de ser uma coisa natural para elas,
passando a ter maior preocupação, elas não querem extração,
querem salvar os dentes”.
“Estou notando uma maior conscientização da população da
necessidade de prevenção”.
No primeiro discurso, se a abordagem dos profissionais notarem que a população
acordou para a questão de prevenir contra a perda dentária e no segundo, o profissional
aborda a prevenção de forma geral.
Melhora na saúde bucal (12,4%)
Melhora na saúde geral (5,6%)
Mais consciente da prevenção (41,6%)
Co-responsável por sua saúde (30,5%)
Agente multiplicador (4,2%)
A Saúde
(18%)
Os profissionais
(5,6%)
Atuam em equipe (2,8%)
Mais humanizados (2,8%)
A população
(76,4%)
Melhora na saúde bucal (12,4%)
Melhora na saúde geral (5,6%)
Mais consciente da prevenção (41,6%)
Co-responsável por sua saúde (30,5%)
Agente multiplicador (4,2%)
A Saúde
(18%)
Os profissionais
(5,6%)
Atuam em equipe (2,8%)
Mais humanizados (2,8%)
A população
(76,4%)
Como segunda subcategoria mais citada, temos que os pacientes estão mais co-
responsáveis com sua saúde e entendendo a necessidade de sua participação nas atividades
educativas, conforme pode ser visto nos discursos:
“Uma mudança na consciência com relação as atividades educativas,
as pessoas já aceitam com melhor facilidade”.
“A responsabilidade é dividida, sendo as pessoas co-responsáveis”.
Com relação à segunda categoria, os profissionais vêem uma melhora na saúde bucal
da população (12,4%) e na saúde geral (5,6%), conforme os discursos:
“Nota nos escolares os índices de placa e cárie diminuindo”.
“Idosos tem melhorado a auto-estima”.
Na figura 12, podemos observar a categorização e subcategorização das razões pelas
quais os cirurgiões-dentistas percebem que os objetivos das atividades educativas não estão
sendo alcançados, estando demonstradas as unidades de contexto no anexo11.
Segundo Freire
31
, a análise das falhas contribui para o crescimento e para a construção
de algo melhor. Por isso, é de fundamental importância que os cirurgiões-dentistas façam
sempre essa tarefa de análise das razões pelas quais os objetivos que eles almejam não estão
sendo alcançados.
Figura 12– Categorização e subcategorização das razões pelas quais os cirurgiões-dentistas do
PSF de Natal/RN percebem que os objetivos das atividades educativas não estão sendo
alcançados. Natal/RN,2006.
Como razões pelas quais os cirurgiões-dentistas dizem que os objetivos das atividades
educativas não estão sendo alcançados, temos como a categoria mais citada a culpa da
população com 56,5%, depois ao processo ser a longo prazo com 37%, posteriormente, a
culpa da instituição com 16,2% e por último, a culpa dos profissionais com 6,5%.
Essas razões pelas quais os cirurgiões-dentistas percebem que os objetivos das
atividades educativas não estão sendo alcançados, apresentam o mesmo contexto das
dificuldades apresentadas pelos profissionais na realização das atividades educativas, cujo
conteúdo já foi analisado em tópico anterior.
Alguns profissionais, por não conseguirem alcançar os objetivos almejados, desistem
da luta em prol do ideal, mas, Freire
33
critica este fatalismo imobilizante, que existe onde, às
vezes pensamos que nada podemos contra a realidade social que, de histórica e cultural, passa
a ser quase natural. Então, diante das dificuldades que foram vistas nesta pesquisa, devem-
se procurar outros caminhos para conseguir vencê-las. No caso questionado agora, razões
pelas quais os objetivos não conseguem ser alcançados, devemos procurar as causas, tentando
desvendá-las e não ficar parado, convencido de que nada se pode fazer em busca do ideal.
Culpa dos profissionais
(6,5%)
Formação inadequada (6,5%)
Culpa da população
(56,5%)
Culpa da Instituição
(16,2%)
Falta incentivo (6,5%)
Falta material (6,5%)
Espaço físico inadequado (3,2%)
Resultados demorados (8%)
Atividades recentes (8%)
Dificuldade de avaliação (4,8%)
Característica arredia (14,5%)
Dificuldade de se conscientizar (14,5%)
Alta demanda (11,4%)
Condições precárias (6,5%)
Dificuldade de mudar hábitos (4,8%)
Não assume co-responsabilidade (4,8%)
Processo longo
(37%)
Na categoria “culpa da população” temos as subcategorias: característica arredia
(14,5%), dificuldade de conscientizar a população (14,5%), alta demanda (11,4%), população
com condições precárias (6,5%), dificuldade de mudar hábitos (4,8%) e não assumir co-
responsabilidade (4,8%).
Uma análise pode ser feita quando os cirurgiões-dentistas culpabilizam a população
pelas atividades educativas não alcançarem os objetivos almejados, mas, na verdade devem
ser analisadas criticamente a qualidade destas atividades, se são realmente transformadoras ou
se apenas repassam informações. Devem ser analisados vários fatores, entre estes, o tipo de
linguagem que está sendo usada nestas atividades, se a mesma está sendo compreendida pelos
usuários, ou se está havendo barreira devido a mesma ou devido a distância cultural,ou
preconceito, isto é, deve-se procurar o problema que está afastando a população da captação
da mensagem.
Vasconcelos
62
diz que poucos estudos têm sido feitos para se saber como as
mensagens e saberes transmitidos pelos profissionais são entendidos pela população. E,
Guterman
35
cita que desde que houve a inserção dos profissionais da saúde trabalhando com o
coletivo em palestras de educação em saúde, nota-se que os usuários não conseguem
compreender as mensagens sobre saúde bucal. E isto, era percebido tanto pela fisionomia
incrédula dos usuários diante das palestras, como pelos resultados negativos durante o
tratamento odontológico.
Na segunda categoria mais citada “processo longo” temos como razões para as
atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: os resultados serem
demorados (8%), as atividades serem recentes (8%) e haver dificuldade na avaliação destas
atividades (4,8%).
Como foi discutido, é importante o profissional ter em mente que o processo tem
resultado a longo prazo, e não desistir de realizar a educação em saúde, por não ver os
resultados logo no início.
Na terceira categoria encontrada “culpa da instituição” temos como razões para as
atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: a falta de incentivos (6,5%),
a falta de material (6,5%) e o espaço físico inadequado (3,2%).
Os gestores têm que se inserirem no contexto da saúde, entendendo a importância da
educação em saúde para assim investir e incentivar estas atividades.
Na quarta categoria encontrada “culpa dos profissionais temos como razão para as
atividades educativas ainda não terem seus objetivos alcançados: a formação inadequada dos
profissionais (6,5%).
Os profissionais que estão no serviço precisam se conscientizar da necessidade de
atualização dentro do campo da educação em saúde para poder atuar como verdadeiro agente
de mudanças.
4. A educação sendo instrumento para a participação popular
4.1 A importância da participação popular nos serviços
Os cirurgiões-dentistas foram questionados, se achavam importante a participação da
população nos serviços. Dois profissionais disseram que não acham importante e que não
deve haver esse espaço, um respondeu que a população não está preparada para isto e o outro
respondeu que tem medo desta participação, pois a participação deles querendo
atendimento curativo.
Os demais, 78 cirurgiões-dentistas, responderam que acham importante a participação
e de acordo com suas respostas foram obtidas as categorias e subcategorias conforme
apresentadas na figura 13, cujas unidades de contexto estão explicitadas no anexo 12.
Figura 13 Categorização e subcategorização da importância da participação da população
nos serviços demonstrada pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal/RN. Natal/RN,2006.
Profissionais
(26,6%)
Parceira dos profissionais (35,5%)
Reivindique seus direitos (17,7%)
Entenda a realidade do sistema (12%)
Sujeito da ação (5,5%)
Entrosamento com os profissionais (2,7%)
População
(73,4%)
Entendam os anseios da população (26,6%)
Profissionais
(26,6%)
Parceira dos profissionais (35,5%)
Reivindique seus direitos (17,7%)
Entenda a realidade do sistema (12%)
Sujeito da ação (5,5%)
Entrosamento com os profissionais (2,7%)
População
(73,4%)
Profissionais
(26,6%)
Parceira dos profissionais (35,5%)
Reivindique seus direitos (17,7%)
Entenda a realidade do sistema (12%)
Sujeito da ação (5,5%)
Entrosamento com os profissionais (2,7%)
População
(73,4%)
Entendam os anseios da população (26,6%)
Segundo os cirurgiões-dentistas do PSF, a participação popular nos serviços é
importante para que a população: seja parceira dos profissionais (35,5%), reivindique seus
direitos (17,7%), entenda a realidade do sistema (12%), seja sujeito da ação (5,5%), se entrose
com os profissionais (2,7%) e, também, para que os profissionais entendam os anseios da
população (26,6%).
Os profissionais da saúde devem levar a população a se reconhecer como sujeito
participante do processo educativo, do sistema de saúde de forma geral, atuante, reivindicante,
conhecedora do setor saúde e dos seus direitos como cidadã. Muito ligada a essa noção de
sujeito, está a noção de cidadania e segundo L’Abbate
39
, os dois conceitos (sujeito e
cidadania) são faces de uma mesma moeda. A cidadania depende das práticas sociais que
ocorrem entre os sujeitos, entre atores sociais em relação. No nosso caso, entre os
profissionais e a população. Se não houver esse relacionamento, haverá apenas uma relação
burocrática entre os profissionais e a clientela, como infelizmente, ocorre em grande parte dos
serviços de saúde.
A população pode ajudar os profissionais, dentro das suas possibilidades, sendo
parceira destes, dando condições para a execução de atividades em saúde:
“Formando uma parceria e uma troca de conhecimentos e prestação
de serviços, muitas vezes, para que tudo funcione, sem tanta
dependência da secretaria de saúde que é muito lenta na resolução
dos problemas”.
“Fizemos parcerias com a população, compraram rifas e
conseguimos comprar as cadeiras para as nossas reuniões”.
“O local de nossa reunião é uma casa de um dos membros da
comunidade”.
também necessidade da população pressionar o sistema, reivindicando melhores
condições para a execução das ações, como pode ser visto nos discursos que seguem:
“A população apóia e pressiona junto aos conselhos”.
“Juntar forças e capacidade para exigir mais da secretaria, do PSF,
para haver resolutividade das ações”.
É de fundamental importância a participação da população nos serviços para que ela
conheça a realidade do sistema de saúde:
“Se estamos trabalhando para eles, é importante que entendam a
realidade do serviço”.
E também, para que saibam que muitas vezes a culpa do sistema de saúde não está
funcionando, não é dos profissionais:
“Eles denunciam muito, mas não conhecem as condições do
profissional”.
“Quem coloca a culpa no dentista, tem que ver a realidade das
coisas”.
E por ser sujeito da ação, ela tem que participar ativamente do serviço de saúde:
“Para mudar a realidade existem vários atores e a população é o
principal, se ela participa”.
Além de tudo isto, é importante também a participação da população nos serviços,
para haver uma maior aproximação entre ela e os profissionais de saúde, um melhor
entrosamento, que leva até os serviços a fluírem de forma mais harmônica e com mais
resolutividade, segundo o discurso:
“Com isso tira o pedestal de doutor dos profissionais de saúde”.
Mas, também, para se conseguir reorientar esta prática, o profissional precisa entender
a realidade da população, conscientizá-la dos problemas em que está envolvida e estimulá-la a
reivindicar em favor dos mesmos. O processo educativo vai muito além da parte pedagógica
de repasse das informações, como se faz ainda hoje.
A busca pela saúde e a superação do adoecer, depende justamente da participação da
população, se envolvendo nas estratégias de enfrentamento que sejam de acordo com sua
realidade, mas, que estejam comprovadas cientificamente. São necessárias novas formas de
abordagem para haver a troca de saberes entre os profissionais da área da saúde e a população,
a fim de que sejam detectados os problemas e se consigam sua resolução
62
.
Os discursos dos profissionais abordam este aspecto:
“Porque ao ouvir a comunidade, você detecta mais facilmente suas
necessidades”.
“Você às vezes acha que está dando algo de importante para a
população, mas pode não ser o que ela quer”.
“É importante, para que os cirurgiões-dentistas e demais
profissionais da saúde conheçam melhor a realidade de cada área”.
“Para se conhecer as dificuldades da população e saber então como
trabalhar com a mesma diante da sua realidade”.
.
4.2 O cirurgião-dentista orientando a população através da educação
para a participação popular
Os cirurgiões-dentistas que responderam positivamente ao questionamento: Você acha
importante a participação da população nos serviços? (n=78), foram perguntados se achavam
que através da educação em saúde se pode orientar a população para tal participação. Todos
os dentistas responderam positivamente e foram então questionados de como seria a
orientação a ser dada. As respostas dos sujeitos entrevistados geraram categorias e
subcategorias que se encontram na figura 14 e as unidades de contexto das entrevistas
encontram-se no anexo 13.
Figura 14 Categorização e subcategorização da forma que os cirurgiões-dentistas podem
orientar a população para a participação popular no SUS. Natal/RN,2006.
Segundo os cirurgiões-dentistas do PSF, a população pode através da educação em
saúde ser orientada pelos profissionais de saúde para a participação popular, mas, para isso
eles precisam despertar na população a necessidade da sua co-participação (22,2%), da busca
por seus direitos (9,9%) e da participação no conselho comunitário (3,8%). Além de também,
criar espaços para que a população exponha as suas necessidades (5,4%) e conheça os
serviços de saúde (3,8%). Os dentistas abordam que podem fazer isso utilizando ações
coletivas (38,1%) ou ações individuais (16,8%).
Criando espaços para a
população (9,2%)
Expor as suas necessidades (5,4%)
Conhecer o serviço de saúde (3,8%)
Ações coletivas (38,1%)
Ações individuais (16,8%)
Usando como
abordagem (54,9%)
A co-participação (22,2%)
A busca por seus direitos (9,9%)
Participação no conselho comunitário (3,8%)
Despertando na
população (35,9%)
Freire
33
relata que através das atividades educativas, fazemos uma leitura crítica das
verdadeiras causas da degradação humana e apresenta a compreensão da educação enquanto
dimensão social da formação humana e não com potencial apenas pedagógico.
Dentro da necessidade de mudança no sistema de saúde brasileiro, devemos fazer da
educação um instrumento formador de sujeitos conscientes e responsáveis socialmente. E
segundo Brasil
13
, a educação em saúde deve tornar-se um dos instrumentos de formação para
uma nova cultura política de participação popular e de exercício da cidadania, visando superar
as desigualdades econômicas e sociais existentes que restringem a melhoria dos padrões de
saúde em nosso país. Então, deve-se lutar pela qualificação dos processos educativos como
meios de fortalecimento do controle social do SUS.
Segundo Vasconcelos
64
, muitos locais, que se voltam para o movimento da educação
popular e para a luta dos movimentos sociais visando mudar a atenção à saúde, rompem com
as relações distantes entre profissionais e usuários, havendo uma população mais
participativa, quebrando aquela tradição autoritária e dominante do pessoal da saúde.
Os cirurgiões-dentistas abordam alguns destes aspectos não englobando o contexto
geral da educação em saúde formadora de uma população cidadã. Vamos entender o que foi
relatado pelos profissionais.
A necessidade da co-participação da população foi um aspecto abordado pelos
profissionais ao longo da entrevista e discutido em outros momentos do nosso trabalho.
Eles determinaram que um dos objetivos da educação em saúde seria conscientizar a
população para a co-responsabilidade, alguns consideram como um dos objetivos alcançados
a questão de notarem que a população está mais participante e neste momento eles fecham o
tema da participação popular, dizendo novamente que os profissionais podem, através da
educação em saúde, despertar na população a necessidade da sua co-participação:
“Ser um ator social influente”
“Conscientizar que ele é importante e faz parte do programa”
A educação em saúde sendo um suporte para que os profissionais incentivem e
despertem a população para a reivindicação dos seus direitos, pode ser vista nos discursos que
seguem:
“Despertar os direitos e a questão da cidadania”.
“Os cirurgiões-dentistas podem orientar a população, pois essa não
sabe muitas vezes os seus direitos e por onde seguir para consegui-
los”.
“Conscientizando da importância do cuidado com a saúde, dos
direitos de reivindicar melhorias sanitárias, de moradia e educação”.
Além disto os cirurgiões-dentistas viram que através da educação em saúde se pode
despertar na população a sua participação em conselhos comunitários:
“Orientando para que a população faça parte do conselho
comunitário”.
Segundo os profissionais, além de despertar na população essa questão reivindicatória,
é necessário que se criem espaços para que a população exponha as suas necessidades e
também para que ela conheça o serviço de saúde:
“Criando um espaço para reuniões e para a comunidade expor seus
problemas”.
“Pedindo opiniões aos pacientes de como deve ser o serviço
prestado”.
“Explicando nosso atendimento, dificuldades e empecilhos”.
Fechando esse aspecto, os profissionais relatam que podem ser utilizadas abordagens
individuais ou coletivas com a comunidade.
CONSIDERAÇÕES FINAIS
As atividades realizadas pelos cirurgiões-dentistas do PSF de Natal-RN são agrupadas
em atendimento curativo e preventivo/educativo individual, reuniões educativas/palestras em
grupos organizados, visitas domiciliares e reuniões/planejamento com a equipe do PSF.
Quando analisamos especificamente as atividades educativas realizadas, percebemos que
uma falta de planejamento entre os profissionais da área odontológica de forma a se
padronizar estas ações.
Apesar de 37,5% dos profissionais relatarem ter especialização em Saúde Coletiva, as
maiores dificuldades abordadas pelos odontólogos no desenvolvimento de suas atividades,
foram nesta área, especificamente na área de preventiva e educação em saúde e também na
área de PSF, onde eles abordam que apesar de estarem inseridos no programa, não apresentam
conhecimentos sobre a filosofia do mesmo. Especificamente na área de Educação em Saúde,
por razões decorrentes de sua formação profissional, 28% dos profissionais relatam ter
dificuldades nesta área.
Mas, os profissionais relatam que as maiores dificuldades no desenvolver da educação
em saúde se devem à falta de apoio da Secretaria Municipal de Saúde e a problemas com a
população, como a sua resistência e desinteresse em participar destas ações. Os profissionais
podem superar as dificuldades da falta de apoio da SMS, buscando parcerias com outras
instituições, mas, menos da metade dos dentistas (45%) procuraram este tipo de colaboração.
A partir das percepções dos entrevistados a respeito da temática educação em saúde,
vimos que um consenso entre o grupo, ligado a história coletiva do mesmo em relacionar
educação como tendo a função de apenas repassar à população noções de prevenção. Um
outro ponto interessante foi a percepção por parte de alguns profissionais de temas atuais
como cidadania, motivação e qualidade de vida, dentro do discurso da educação em saúde.
Quando analisamos os objetivos almejados pelos profissionais percebemos a visão
limitada dos mesmos no campo da educação em saúde. A principal função da educação em
saúde apreendida no discurso dos profissionais foi a modificação de hábitos e
comportamentos considerados inadequados, onde os profissionais demonstram uma visão
flexneriana, pois não se apreende além deste processo. Também, percebemos que com a
educação em saúde, eles têm o objetivo de alcançar a integralidade e esta não é vista em seu
aspecto amplo. A visão da integralidade apreendida pelos profissionais é restrita ao olhar
sobre a cavidade bucal inserida em um organismo.
Apesar das dificuldades encontradas, existem relatos de objetivos alcançados, como
a melhora na saúde da população e isto se deve a população estar mais consciente da
necessidade da prevenção e da sua co-responsabilidade neste sentido, além dos profissionais
estarem atuando mais em equipe e mais humanizados.
A maioria dos profissionais entrevistados (97,5%) acha importante a participação da
população nos serviços de saúde, pois esta deve estabelecer parceria com os profissionais, se
entrosando melhor com os mesmos e com a realidade dos serviços para poder reivindicar seus
direitos, pois ela é o principal ator deste processo. Com a participação da população, o
profissional poderá entender melhor a sua realidade e atuar de forma mais adequada em seus
problemas.
Os cirurgiões-dentistas relataram que podem através da educação em saúde orientar a
população para a participação popular, despertando nela a necessidade da sua co-participação
e da necessidade desta buscar os seus direitos. Isto poderá ser feito através da criação de
espaços para que a população conheça os serviços de saúde e exponha as suas necessidades.
É necessário que a Secretaria Municipal de Saúde, enquanto gestora, estimule a
capacitação desses profissionais na área de educação, com cursos de atualização e educação
continuada para implementar ações realmente ligadas à promoção de saúde.
Enfim, o profissional educador em saúde tem que atuar como um facilitador, formando
uma população participante e capaz de analisar criticamente a sua condição de vida para
assim, poder transformar a realidade existente. Além disto, ele deve ajudar a conscientizar
esses sujeitos para que os mesmos exerçam a cidadania, pois através das práticas educativas, o
profissional pode orientar a população sobre os seus direitos e sua condição de reivindicá-los
para a melhoria da qualidade de vida.
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ANEXOS
ANEXO 1
Atuação dos Cirurgiões-dentistas como educadores em saúde no
Programa Saúde da Família de Natal – RN
Unidade de saúde:________________ Distrito:__________________________
Data de nascimento:___________ Ano de formatura: ___________________
Possui pós-graduação: SIM ( ) NÃO ( ). Área__________________________
quanto tempo trabalha no serviço público? __________________________
quanto tempo é dentista do PSF?__________________________________
TESTE DE ASSOCIAÇÃO LIVRE DE PALAVRAS:
Diga 3 palavras que vêm a sua cabeça quando eu falo a expressão:
EDUCAÇÃO EM SAÚDE
______________________________
______________________________
______________________________
Marcar com um sinal (+) a palavra que achar mais importante e com um sinal (-) a
palavra que achar menos importante.
ENTREVISTA:
1 – Quais atividades você desempenha na sua equipe de PSF?
( ) Atendimento curativo individual
( ) Atendimento preventivo-educativo individual
( ) Reuniões educativas, Palestras.
( ) Atividades em grupos organizados (gestantes, diaticos, hipertensos, idosos )
( ) Visitas domiciliares
( ) Reuniões/ Planejamento com a equipe do PSF
( ) Outras (especificar): _______________________________________________
2- Você vê a necessidade de cursos introdutórios para cirurgiões-dentistas que
ingressaram no PSF? Quais temas seriam os mais necessários?
( ) Sim
( ) Não
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
3- Por que a Educação em Saúde deve estar incluída como uma das atividades
realizadas pelo cirurgião-dentista no PSF?
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
__________________________________________________________________
4- Como foi sua formação no que diz respeito a atuação do cirurgião dentista
como educador de saúde?
A - ( ) Não tive nenhuma formação com relação ao tema e o desenvolvo essas
atividades em meu trabalho.
B- ( ) Não tive nenhuma formação com relação ao tema na graduação, mas tento
estudar e pesquisar a respeito para desenvolver em meu trabalho.
C- ( ) Tive aulas apenas na graduação sobre o tema, mas hoje sinto dificuldades
em realizar atividades educativas.
D- ( ) Tive aulas apenas na graduação sobre o tema e hoje me sinto capaz de
realizar uma educação em saúde de acordo com os princípios e diretrizes do SUS.
E- ( ) Tive contato com a temática em cursos de formação ou cursos de pós
graduação e não me sinto capaz de realizar uma educação em saúde de acordo
com os princípios e diretrizes do SUS.
F- ( ) Tive contato com a temática em cursos de formação ou cursos de pós
graduação e me sinto capaz de realizar uma educação em saúde de acordo com
os princípios e diretrizes do SUS.
G- ( ) Outra:
______________________________________________________
5-Já desenvolveu alguma atividade educativa para a população de sua área de
atuação?
( ) Sim. Se sim, responder questões 6, 7,8,9,10.
( ) Não. Se não, porque nunca desenvolveu?
___________________________________________________________________
6- Qual a clientela envolvida e atividades educativas desenvolvidas:
Clientela Atividades educativas
7 – Quais os objetivos esperados ao serem desenvolvidas as atividades educativas?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
8- Você acha que os objetivos estão sendo alcançados?
( ) Sim ( ) Não Por que?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
___
9- Quais as dificuldades mais encontradas no desenvolvimento de atividades
educativas?
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
___________________________________________________________________
________________________
10- Já contou com a parceria de alguma instituição?
( ) Sim Qual (is)?______________________ ( ) Não.
11- Você acha importante a participação da população nos serviços?
( ) Sim ( ) Não Por que? ( Se sim, responder também a questão 12)
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
___________________________________________________________________
12- Você acha que o cirurgião-dentista pode através da educação em saúde orientar
a população para esta participação? ( ) Sim ( ) Não. Se sim, como seria essa
orientação?
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
____________________________________________________________________
_______________ ____________________________________________________
ANEXO 2
ANEXO 3
Universidade Federal do Rio Grande do Norte
Centro de Ciências da Saúde
Programa de Pós-Graduação em Odontologia
TERMO DE CONSENTIMENTO LIVRE E ESCLARECIDO
“Atuação dos Cirurgiões-dentistas como Educadores em Saúde no Programa Saúde da
Família de Natal- RN”
OBJETIVO
Obrigado (a) pela sua participação como voluntário(a) em nossa pesquisa. O nosso
objetivo é estudar como trabalha o Cirurgião-dentista do Programa Saúde da Família nas
áreas de educação e prevenção em saúde bucal, assim como avaliar o grau de importância
dado pelo Cirurgião-dentista do PSF à educação em saúde bucal. Com isto serão obtidas
informações para poder se produzir novos conhecimentos e o desenvolvimento de novas
práticas que ajudem na construção e consolidação do PSF como estratégia de reorganização
da atenção básica do Sistema Único de Saúde.
PROCEDIMENTOS
Procedimentos a serem realizados para aqueles que concordarem em participar do
projeto:
Entrevistas sobre informações gerais dos cirurgiões-dentistas, questões relacionadas ao tema
educação em saúde e um teste de associação livre de palavras (TALP).
CONFIDENCIALIDADE DO ESTUDO
O registro da participação neste estudo será mantido em sigilo. Nós guardaremos os registros
de cada indivíduo e somente os pesquisadores trabalhando na equipe terão acesso a estas
informações. Se qualquer relatório ou publicação resultar deste trabalho, a identificação do
cirurgião-dentista não será revelada.
DANO ADVINDO DA PESQUISA
Não se espera que você tenha problema algum em conseqüência da realização das atividades
de pesquisa, porque estes não oferecem risco ou desconforto considerando-se que os dados
serão obtidos através de uma entrevista e nenhum exame clínico será realizado.
PARTICIPAÇÃO VOLUNTÁRIA
Toda participação é espontânea e voluntária. Você não receberá nenhum pagamento por isto,
mas, poderá ser ressarcido de alguma despesa oriunda dessa pesquisa. Entretanto, não
penalidade para alguém que decida não participar deste estudo. Ninguém também será
penalizado se decidir desistir de participar do estudo em qualquer momento da pesquisa,
mesmo já tendo assinado este termo.
PERGUNTAS
Qualquer dúvida ou esclarecimento poderão contactar a Mestranda Maria Juliêta Medeiros
Fernandes no telefone: (84) 88285826 ou ainda no e-mail:
[email protected], a orientadora Dra. Íris do Céu Clara Costa no telefone:
(84) 3215-4133 no Departamento de Odontologia da UFRN e o Comitê de Ética em Pesquisa
da UFRN no telefone (84) 3215-3135.
CONSENTIMENTO PARA PARTICIPAÇÃO
Declaro que após ter lido e entendido o conteúdo deste termo de Consentimento Livre e
Esclarecido, estou de acordo com a participação no estudo descrito acima.
Autorizo também a publicação do referido trabalho, de forma escrita, podendo utilizar
depoimentos. Concedo também o direito de retenção e uso para quaisquer fins de ensino e
divulgação em jornais e/ou revistas científicas do país e do estrangeiro, desde que mantido o
sigilo sobre minha identidade. Estou ciente que nada tenho a exigir a título de ressarcimento
ou indenização pela minha participação na pesquisa.
Foram garantidos esclarecimentos que venhamos a solicitar durante o curso da pesquisa e o
direito de desistir da participação em qualquer momento, sem que nossa desistência implique
em qualquer prejuízo a minha pessoa.
A nossa participação na pesquisa não implicará em custos ou prejuízos adicionais, sejam esses
custos ou prejuízos de caráter econômico, social, psicológico ou moral, sendo garantido o
anonimato e o sigilo dos dados referentes a nossa identificação.
Nome do indivíduo (letra de forma):
_________________________________________________________________
_____________________________________________________
Assinatura
COMPROMISSO DO INVESTIGADOR
Eu discuti as questões acima apresentadas com os indivíduos participantes no estudo ou com o
seu representante legalmente autorizado. É minha opinião que o indivíduo entende os riscos,
benefícios e obrigações relacionadas a este projeto.
_____________________________________________________________
Assinatura do Pesquisador Data: ___/__/____
ANEXO 4
ANEXO 5
Distribuição das equipes de saúde bucal existentes no município de Natal por
unidades básicas de saúde e doscirurgiões dentistas entrevistados. Natal, RN/ 2006
Distrito
sanitario
UBS Número de equipes
de saúde bucal
Número de cirurgiões
dentistas entrevistados
Norte África 2 2
Norte Cidade Praia 2 2
Norte Gramoré 4 3
Norte Igapó 3 3
Norte José Sarney 2 2
Norte Nordelândia 2 2
Norte Nova Natal 6 6
Norte Panatis 4 3
Norte Parque das Dunas 3 1
Norte Parque dos Coqueiros 4 4
Norte Pompéia 2 2
Norte Planície das
Mangueiras
3 3
Norte Potengi 4 4
Norte Redinha 2 2
Norte Santa Catarina 4 2
Norte Santarém 4 4
Norte Soledade 4 3
Norte Vista Verde 4 4
Leste Guarita 2 2
Leste Passo da Pátria 2 1
Leste Rocas 4 4
Oeste Felipe Camarão 8 8
Oeste Cidade Nova 2 2
Oeste Nova Cidade 2 2
Oeste Bairro Nordeste 2 2
Oeste Bom Pastor 2 0
Oeste Monte Líbano 3 2
Oeste Guarapes 2 2
Oeste Km 06 3 3
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