2 – COTA
Por nome Maria Viegas, fallava fresco e corria
por conta do Capm. Bento Rabello
Manuel Pereira Rabelo, licenciado
Meus recados à Velhinha,
outros tantos à Mulata
à Negrinha da corrente
e às vossas Damas pintadas
A HUMA DAMA POR NOME MARIA VIEGAS, QUE FALLAVA FRESCO, E CORRIA
POR CONTA DO CAPITÃO BENTO RABELLO SEU AMIGO.
Senhora Cota Vieira,
Deus me não salve a minha alma,
se vós não me pareceis
uma linda, e gentil dama.
Tão risonha como a Aurora,
tão alegre como a Páscoa,
mais belicosa, que o fogo,
e mais corrente, que a água.
Picará como nascida
na picardia da França,
e assim francesa nas obras,
Portuguesa nas palavras.
Tudo chamais por seu nome
tão propriamente, tão clara,
que ao cono lhe chamais cono,
chamais caralho à caralha.
Malditas da maldição
de Deus sejam as tavascas,
que de surradas nas obras
põem de bioco as palavras.
Há cousa como chamar,
o que uma cousa se chama,
porque sirva de sustento
à luxúria, que desmaia.
Há cousa como falar,
como o Pai Adão falava,
pão por pão, vinho por vinho,
e caralho por caralha.
Quem pôs o nome de crica
à crica, que se esparralha,
senão nosso Pai Adão
quando com Eva brincava?
Pois se pôs o nome às cousas
o Pai da nossa prosápia,
porque Deus lho permitiu,
nós por que hemos de emendá-las?