No Brasil muitos foram os que se opuseram a tal projeto e entre eles é importante
ressaltar a posição de Alceu Amoroso Lima que, desde o início, se colocou contra esta
proposta, apesar de defender a aliança entre a Igreja e o Estado. Esta questão fica clara na
carta que Alceu Amoroso Lima envia a Mário Casassanta em 1932:
Inquietou-me um pouco o panteísmo goethiano do prefácio, esse primado da
ação sobre o ato, que é um dos pecados mais graves do mobilismo
contemporâneo. Creio que uma orientação fascista, como teve o movimento
legionário em boa hora iniciado pelo Capanema, pelo Campos, por você,
pelos novos mineiros, só pode ser útil a Minas e ao Brasil, se mantiver o
primado da inteligência como Meio de defesa da supremacia da Fé. De outro
modo, através do hegelianismo, do primado da ação, continuaremos apenas
no evolucionismo, no relativismo que provocam o ceticismo e que uma
nacionalidade como a nossa, sem estrutura certa, sem ideais definidos, sem
unidade geográfica e sem critério político, poderá ser o nosso desastre
definitivo. (LIMA apud SCHWARTZMAN, 1984, p. 21).
Esta carta dirigida a Mário Cassassanta
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apresenta de forma clara os termos nos
quais a Igreja enxergava a sua colaboração e o seu apoio ao novo regime, deixando visível a
sua discordância em relação ao projeto político de Francisco Campos
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. Havia,
inegavelmente, identidade de pontos de vista entre eles, principalmente no que diz respeito à
falência do regime liberal ao longo dos primeiros anos da república e também no fato de
concordarem quanto à importância dos valores religiosos, como fundamento ideológico para a
consolidação moral do país. Para Schwartzman:
Havia, também, uma divergência profunda. Apesar de considerar "útil" a
orientação fascista do movimento iniciado por Campos, Alceu deixa clara
sua divergência profunda com um dos princípios básicos do fascismo e do
pensamento político de Francisco Campos, que é a crença na supremacia da
ação e da vontade sobre o uso da razão. (SCHWARTZMAN, 1984, p. 46).
O pensador católico, Alceu Amoroso Lima não abandona a idéia clássica do
tomismo, de que é possível estabelecer uma ordem social de base moral, erigida de acordo
com os princípios de uma filosofia racional. O tomismo como forma de expressão filosófica,
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Mário Cassassanta era escritor e um dos críticos de Francisco Campos em Minas. Na juventude ele foi um dos
componentes dos intelectuais da rua da Bahia, termo criado por Schwartzman para designar o grupo de jovens
intelectuais mineiros formados entre outros por: Abgar Renault, Pedro Nava, Carlos Drummond de Andrade,
Afonso Arinos, Miltom Campos e Gustavo Capanema.
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Carta de Alceu Amoroso Lima a Mario Cassassanta, de 09 de setembro de 1932. Arquivo Getúlio Vargas, G/C
Cassassanta/CPDOC. Citado em Simon Schwartzman. Tempos de Capanema. 2. ed. Rio de Janeiro: FGV; São
Paulo: Paz e Terra, 2000.