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plano. Descobre-se o valor do individual, cujos direitos começam a ser reconhecidos tanto na
ciência, como na economia e na política.
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O expoente dessa revisão crítica é o franciscano Guilherme de Ockham, o
Venerabilis Inceptor
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. Trata-se do pensador que iniciou o movimento filosófico
denominado nominalismo
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, que consiste em uma teoria do conhecimento crítica
fundada sobre a delimitação da realidade ontológica ao individual, ao singular. Porém,
ao mesmo tempo em que o nominalismo ockhamiano inaugura a era da realidade
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BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne. História da Filosofia Cristã: Desde as
origens até Nicolau de Cusa. Tradução e nota introdutória de Raimundo Vier O. F. M. Petrópolis:
Vozes, 1970. p.533. Ver no mesmo sentido: REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. História da
filosofia. 4.ed. São Paulo: Paulus, 1990. v.1: Antigüidade e Idade Média. p.611-613. (Coleção
filosofia). Uma síntese elegante e abrangente da transição do pensamento europeu ocorrida entre os
séculos XIII a XVI pode ser encontrada em COPLESTON, Frederick. Historia de la filosofia.
Tradución de Juan Carlos García Borrón. 5.ed. Barcelona: Ariel, 2004. v.III: de Ockham a Suarez.
p.13-32.
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Guilherme de Ockham nasceu na vila de Ockham, condado de Surrey, localidade próxima
a Londres, aproximadamente entre 1280 e 1290. Teve curta carreira universitária, pois o chanceler de
Oxford, que tinha formação tomista, questionou algumas posições de Ockham, evitando a promoção
deste. Por isso, Ockham jamais passou do grau de bacharel, ou, conforme se denominava à época
inceptor. Por isso, a posteridade atribuiu-lhe o epíteto de Venerabilis Inceptor. Os seus Comentários às
Sentenças, a pedido de Luterell, foram julgados por uma comissão papal que, em 1328, considerou
diversos pontos dos escritos como heréticos e outros como falsos e temerários. Em 26 de maio de
1328, Ockham, juntamente com outros franciscanos, busca asilo junto a Luís da Baviera, que já
acolhia Marsílio de Pádua e que estava em conflito com o papa de Avinhão. A partir daí, as obras de
Ockham concentram-se em temas político-eclesiásticos pertinentes à pobreza da Igreja, ao poder do
Papa e à relação entre Igreja e Império. Não é sabido se Ockham se reconciliou com a Igreja, tendo
falecido em 9 de abril de 1349 ou de 1350, provavelmente em razão da peste negra. Cf. OCKHAM,
Guilherme. Brevilóquio sobre o principado tirânico. Introdução de José Antônio de C. R. de Souza
e Luis A. De Boni. Tradução de Luis A. De Boni. Petrópolis: Vozes, 1988. p.11-13.; BOEHNER,
Philotheus; GILSON, Etienne. op. cit., p.534-535.; COPLESTON, Frederick. op. cit., p.52-53;
REALE, Giovanni; ANTISERI, Dario. op. cit., p.613-615.
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Boehner e Gilson consideram que o termo mais adequado para representar o pensamento
de Ockham seria o de conceptualismo realista, pois os conceitos, apesar de não se fundamentarem em
coisas universais, não são arbitrários, uma vez que derivam da compreensão da realidade individual.
Vale dizer, os conceitos, embora não se refiram a qualquer substância universal, não são puros nomes,
porque se baseiam na realidade individual. Cf. BOEHNER, Philotheus; GILSON, Etienne., op. cit.,
p.538-540. Embora não conteste o uso do rótulo “nominalismo”, Copleston adverte que este termo
deve ser compreendido no sentido de que Ockham se preocupava com a natureza dos conceitos, na
origem destes, e não com os seus nomes convencionais. Cf. COPLESTON, Frederick. op. cit., p.62.
Por ser de uso mais comum, nessa dissertação, para se referir ao pensamento de Ockham, será
utilizado o termo “nominalismo”.