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Os “Coronéis da Borracha” davam-se ao prazer de ter suas cocottes
(prostitutas de luxo), muitas delas européias, como ‘Panchita’ (espanhola),
‘Raito de Ouro’ (espanhola), ‘Margot’ (francesa), freqüentadoras das
sessões das sextas-feiras do cinema Olympia. Onde exibiam os vestidos
luxuosos que mandavam buscar na Europa e jóias da Casa Krause. Os
‘Coronéis da Borracha’, embora dependentes financeiramente de Londres e
dos Estados Unidos, estavam culturalmente ligados a Paris, uma das
cidades-polos da Belle-Époque, cidade símbolo da fase áurea da
modernidade.
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Como se observa na citação, a elite da borracha, ou como chama a
historiadora “Coronéis da Borracha”, aproveitavam o espaço do cinema Olímpia
como interação social para que suas “cocottes” (não só elas, mas também para as
mulheres de uma forma geral) pudessem mostrar seus luxuosos vestidos vindos da
Europa e as jóias da Casa Krause aos freqüentadores e também a elite que
freqüentava a sala de cinema
32
. Nesse momento, as salas de projeção já estavam
sendo utilizadas como influenciador do público quanto ao vestuário (pois a moda
paraense seguia a tendência européia) e espaço social para exibi-lo.
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Contudo, imaginar o cinema somente como produtor de outra realidade, que
dura nas horas em que as luzes estão apagadas é não perceber a força construída
pela indústria que se formou em torno desse empreendimento, no qual a influência
diante da realidade social foi percebida durante a primeira guerra e ganhou muita
força durante o segundo conflito.
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31
Ver: SARGES, Maria de Nazaré. Belém: riquezas produzindo a Belle-Époque (1870-1912). Belém: Paka-
Tatu, 2002, p. 83.
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Neste caso faz-se referência à elite, pois o cinema Olympia passou a fazer parte de um Triângulo cultural que
ficava localizado na Praça da República e era freqüentado pela elite comercial da borracha no fim do século XIX
e início do XX. Pedro Veriano afirma que “A criação do cinema Olympia transformaria em quadrado o triângulo
de bom tom com vértices no Palace, no Grande Hotel e no Theatro da Paz, alguns passos adiante. Esse trecho de
rua, ou da Praça da República, que o povo ainda chamava de Largo da Pólvora, era justamente o mais
freqüentado pela elite”. Cf. VERIANO, op. cit., p. 17, nota 19.
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Segundo Wanessa Cardoso na década de vinte do século XX as mulheres da capital paraense desfilavam com
suas vestimentas compradas na Rua João Alfredo, centro comercial de Belém no período, nos diversos espaços,
tais como os clubes (Assembléia Paraense, Grêmio Literário Português, Clube do Remo), teatros, festividades
religiosas do Círio de Nazaré, os cinemas com as sessões do Olímpia que “também tiveram sua influência nessa
incorporação de hábitos reelaborados pela mulher paraense. O cinema era a diversão moderna mais requisitada
pelas classes médias e altas, os filmes em sua grande maioria eram produzidos nos Estados Unidos ou França
(que na verdade tem a primazia desta arte), trazendo traços e modos de uma mulher outra, diferenciando-se
muito de modelo feminino cultivado em uma sociedade patriarcal como a brasileira”. CARDOSO, Wanessa
Carla Rodrigues. “A Elegância da alma do século XX”: a mulher e a moda na Belém dos modernistas (1923-
1929). Monografia de Conclusão de Curso. Universidade Federal do Pará, 2001, p. 25.
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“Os filmes produzidos durante a Primeira Guerra Mundial tinham uma propaganda extremamente patriótica.
Através dos filmes eram exaltadas as políticas nacionalistas dos países em guerra, além de direcionar os países
ainda neutros no conflito. Filmes desse cunho foram presentes durante o conflito. As produções francesas e
italianas foram as mais freqüentes nos cinema de Belém. Ao final de 1915 as imagens captadas e produzidas pelo
cinema foram transmitidas na cidade e transformaram-se num dos principais meios de transmissão do conflito”.