Introdução
Este trabalho tem como objetivo tomar os shows de rock, mais especificamente
os shows de Metal
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, sob a perspectiva dos rituais a fim de identificar e compreender as
diferentes linguagens que ordenam e expressam as cosmologias (partes que em conjunto
formam um todo dotado de sentidos de acordo com o contexto no qual estão inseridos,
Tambiah, 1985) que configuram os referidos shows em determinados espaços na cidade.
Do ponto de vista conceitual, algumas definições podem ser consideradas a fim de
que compreendamos porquê os shows de Metal podem ser analisados sob a perspectiva
dos rituais. Vejamos: a) é algo ordenado, sistemático, cuja lógica obedece a certos
princípios em sintonia com o universo do Rock e o contexto social; b) o show se
apresenta como um momento de diferenciação das atividades cotidianas e onde se
compartilha assuntos de interesses comuns no que se refere a bandas, músicos,
instrumentos; c) é um momento de encontros, trocas simbólicas e materiais, circulação e
efetivação de espaços; d) e revelam os mecanismos de aceitação e de conflitos inerentes
ao universo no qual os participantes seja organizados como banda ou platéia, estão
inseridos.
Os shows são protagonizados por grupos juvenis e que se denominam
metaleiros/metalheads/headbangers, cujo significado é batedores de cabeça
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. Além
disso, esses eventos configuram-se e realizam-se seguindo os princípios da filosofia
denominada por eles underground,ou seja, orientam-se pela idéia “faça você mesmo”
independente de patrocinadores, apoios institucionais públicos e/ou privados, seguindo
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Observe que me refiro a essa vertente do Rock como Metal, e não, Heavy Metal como é popularmente
conhecida. Esta é apenas uma das possíveis subdivisões dentro do Metal, sendo que, as duas maiores e
mais impactantes subdivisões são o Thrash Metal(cujo significado é batida) e o Death Metal (cujo
significado se refere à morte, falecimento) que se fundiram com outras subdivisões do Rock,
configurando não apenas um estilo de música mas, acima de tudo, um estilo de vida. Tom Leão (1997),
jornalista da crítica especializada em Metal, diz que as primeiras bandas a soarem “heavy metal” antes
que o termo fosse usado foram Kinks, The Who, Cream e Yardbirds; as bandas pioneiras e fundamentais
para o estilo dos anos 1960 para os 1970 foram Led Zeppelin, Steppenwolf, Iron Butterfly); as bandas
dos anos 1970 como Blue Cheer, Vanilla Fudge, Gran Funk Railroad, Black Sabbath, Deep Purple, Kiss,
AC/DC, Motorhead, Van Halen. Após a Nem British Metal e o Punk (anos 1980), vieram o Death Metal,
o Hardcore americano e o Thrash-speed metal nas figuras de Venom, Deicide, Black Flag, Dead
Kennedys, Minutemen, Husker-Du, Slayer, Metallica, Megadeath e Anthrax; há também o crossover e o
funk-o-metal de Faith No More, King ´s X e Primus; o hip-hop metal do Biohazard e Clawfinger; o glam
metal de bandas como Slade, Poison, Faster Pussycat que influenciaram bandas como Guns N´Roses e
Skid Row(Leão, 1997,p.16).
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Os headbangers, que também são chamados de heavys, metaleiros, metalheads, metal,os de camisas
pretas, formam um grupo urbano que estabelecem redes de relações sociais por compartilharem, entre
outros aspectos, os mesmos gostos musicais; ou seja, apreciam um tipo de música rotulada heavy metal.
(Pacheco, s.d.p.01)