26
Apesar de existirem controvérsias sobre o aparecimento humano nas
terras do Pantanal, é indiscutível que desde priscas eras povos pré-
históricos vincularam-se à bacia do Paraguai, atraídos pelas condições
mesológicas favoráveis, deixando a marca indelével de sua passagem
em desenhos nas rochas e nos fósseis humanos que esporadicamente
vêm sendo encontrados. Entretanto, uns e outros ainda não
despertaram a devida atenção dos estudiosos e continuaram a desafiar
a argúcia dos peritos na matéria. (Souza, 1973, p. 89)
Recentes pesquisas feitas por arqueólogos do Instituto Anchietano da
Universidade do Vale do Rio dos Sinos revelaram importantes dados para a incipiente
pré-história da região. Foram mapeados pela expedição, na década de 1990, 50 aterros
e três tipos de sítios arqueológicos. Há evidências de que os aterros foram construídos
com finalidade agrícola, tendo sido neles encontradas obras de cerâmica e de minério
de ferro (muito abundante nas morrarias de Corumbá). Alguns objetos de cerâmica têm
inscrições e desenhos em seus fragmentos, datados de aproximadamente sete mil anos,
idade do fóssil humano encontrado na região, onde também foram achados colares de
conchas, objetos pontiagudos, pedras lascadas, ossos, vários tipos de utensílios,
inclusive grãos de carvão.
Proença (1997) enfatiza o legado das populações nativas, que proporcionaram o
conjunto de valores culturais manifestados na região por meio da música, dança,
culinária, lendas e mitos. Além disso, coube aos nativos a transmissão do saber para a
sobrevivência numa região adversa aos hábitos dos colonizadores e pioneiros:
Sejam quais forem os caminhos percorridos pelos homens pré-
históricos que chegaram ao Pantanal, o certo é que os índios legaram à
terra muitas contribuições, até hoje, manifestadas na dança, música,
culinária e nas demais expressões culturais do folclore pantaneiro. / ...
Foram eles, os índios, introdutores de lendas, costumes que estão
enraizados na cultura mato-grossense, e que, além disso, têm papel
fundamental na formação histórica e territorial da então esquecida
província, abrindo picadas, ensinando caminhos aos ditos civilizados,
com os quais algumas tribos mantiveram contato pacífico, que em troca
os subjugaram como bestas de carga e os submeteram a triste e
vergonhosa escravidão, servindo-se deles como instrumento das
ambições de conquista. / Por toda parte estão presentes os vestígios da
presença indígena. Vestígios nos rios que os Paiaguá cruzavam com
suas canoas. Nos campos em que os Guaicuru galopavam em manobras
guerreiras. Nas cerâmicas dos Bororo e nas zagaias utilizadas pelos
Guató em caçadas de onças. No sangue dos vaqueiros que campeiam a
planície – enfim, em tudo que foram deixando marcas de tal forma que,
até hoje, ainda resta um eco das antigas vozes se levantando. / E dessa
quebra de vínculos com a natureza resultou o enfraquecimento das
tribos que, vítimas do domínio dos colonizadores, perderam suas