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Estavam bem atrasados em relação aos primeiros. Notei que a
menina só colocou a cadeirinha, mas não prendeu as presilhas.
Chegou para o rapaz das verticais e levantou os braços, para ele
amarrar a cadeirinha. Imaginei que ela estivesse cansada, ou que a
cadeirinha não fosse dela. Ela disse: “não sei colocar a
cadeirinha”. Isto já me chamou a atenção. Desceram primeiro os
dois rapazes. A menina seria a terceira a descer. Quando seus
companheiros de equipe começaram a descer ela disse que estava
nervosa. O outro atleta disse: “se acalma que não dá nada, não fica
nervosa”. Então ela informou para a o pessoal da organização
(responsáveis pelo rapel) que nunca tinha feito rapel, e não
participou da oficina da organização (antes da prova é feita uma
oficina que explica e ensina a fazer as modalidades que serão
exigidas durante a prova. Tem uma parte teórica e outra prática,
mas não é obrigatória a presença). Pude observar que ela estava
muito nervosa e ansiosa. Seu companheiro de equipe tentava
acalmá-la. Quando a prenderam na corda, ela tremia e estava com
a boca roxa, meio esbranquiçada. Ela dizia que estava com muito
medo. Seu colega de equipe dizia que não era para ela se
preocupar que era seguro. Algumas instruções de como fazer o
rapel foram passadas para ela na hora de descer. Quando ela
começou a descer, disse: “eu não vou conseguir! Eu não tenho
coragem! Estou com medo!” Seu colega estava ansioso, e dizia:
“vamos lá, coragem. Não precisa ter medo!” Quando ela desceu
cerca de um metro, disse que “não vai dar, estou com muito
medo”, nisto ela já começou a gritar, e com voz de desespero
disse: “Ai gente, eu acho que vou chorar!”. Seu colega de equipe
dizia: “calma, calma, não olha para baixo”. Então, muito nervoso
pediu para a organização para descer pela corda do lado, junto
com sua companheira (o que não poderia pelas regras da prova). A
organização disse que não. Então ele começou a insistir bastante, e
também gritava com ela para que ela ouvisse, pois estava muito
nervosa. Dizia para ela descer. A menina começou a chorar e disse
que não iria descer. Estava com uma expressão de desespero.
Estávamos todos ficando apreensivos. Então ele disse de novo:
“não olha para baixo, e vai descendo bem de vagarinho”. Ela
respondeu: “não consigo, eu quero sair!” Nisso conversamos por
rádio com o pessoal que estava embaixo no rapel, para que
fizessem a segurança dela. O companheiro de equipe ainda
insistia, e disse que se ela não descesse, eles estariam
desclassificados. Devido à pressão que seu companheiro de equipe
estava exercendo sobre a atleta, e o desespero que ela aparentava,
o pessoal da organização resolveu interceder. Disseram para ela se
acalmar, e disseram para ele parar: “calma cara, não é bem assim.
É melhor ela não descer, isto pode traumatizá-la. Ela pode não
querer fazer nunca mais só por tu forçar”. Então eu disse que eles
não estariam desclassificados, apenas tomariam uma penalização
de meia hora por atleta que não descesse. Aí ele disse: “então tá, te
acalma, que não tem mais problema”.
Nesta passagem, podemos destacar algumas questões. É fácil observarmos
alguns riscos existentes através deste relato, não apenas da modalidade praticada
(rapel), mas dos aspectos fisiológicos (batimento cardíaco, perder a consciência...) e