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Monteiro, Cícero Roberto Suliano
Corredores exclusivos de transportes coletivos: uma
análise sob a ótica das políticas ambientais, a experiência
Caxangá. – Recife: O Autor, 2006.
225 folhas: il., gráf., fig., tab., mapas.
Dissertação (Mestrado) – Universidade Federal de
Pernambuco. CFCH. Gestão e Políticas Ambientais.
Recife, 2006.
Inclui bibliografia e anexos
1. Política ambiental – Desenvolvimento sustentável.
2. Transporte público – Transporte coletivo. 3.
Planejamento urbano – Espaço de circulação – Sistema
viário do Recife. 4. Impacto ambiental – Poluição sonora.
5. Pernambuco – Região metropolitana – Recife. I. Título.
656
388.4
CDU (2.
ed.)
CDD (22. ed.)
UFPE
BCFCH2007/38
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vii
AGRADECIMENTOS
________________________________________________________________________
A minha orientadora, Professora Christine Rufino Dabat, pela sua sempre importante
sinceridade, presença e cobrança, pela liberdade que me concedeu e pela sua insistência
para que eu fosse até o fim no instante em que já havia “batido em retirada” mergulhado
numa profunda crise “Kafka-camusiana” que estava.
Conta-se que certa vez, um professor de Filosofia dando aula sobre três grandes
filósofos, dirigiu-se ao lado da sala de aula onde ficavam as janelas escondidas por uma
grossa e pesada cortina. Num primeiro momento ele puxou a cortina e a sala foi invadida
pela luz laminar do dia, deixando a amostra duas das seis janelas e disse:
- Isto é Platão!
Puxou mais um pouco e descobriu mais duas janelas e disse:
- Isto é Kant!
Finalmente ele terminou de abrir a cortina e disse:
- Isto é Nietzsche!
Para a idéia deste trabalho sair do impasse em que estava, alguém teve de abrir a
cortina. Hans Jonas e Rubem Alves ajudaram por recomendação de um professor, o
primeiro me fazendo enxergar a questão do medo por outro ângulo, o de que o “medo que
é parte essencial da responsabilidade não é aquele que desaconselha a agir, mas aquele
que convida à ação”, e o segundo me alertando para o fato de que o que diferencia o
senso comum do senso científico é que este último é organizado.
A todos que, direta e indiretamente, contribuíram para a realização deste trabalho, que
não foram poucos.
viii
LISTA DE FIGURAS
________________________________________________________________________
FIG. 1 – Consumo do espaço viário.....................................................................................7
FIG. 2 – Círculos viciosos dos congestionamentos e da expansão urbana.........................8
FIG. 3 – Expansão urbana e insustentabilidade...................................................................9
FIG. 4 – Organização socioespacial...................................................................................20
FIG. 5 – Vias com prioridade para o transporte público coletivo por ônibus / Recife / micro
localização. Avenida Caxangá............................................................................................31
FIG. 6 – Vias com prioridade para o transporte público coletivo por ônibus / Recife / micro
localização. Avenida Dantas Barreto / Rua João Lira........................................................32
FIG. 7 – Vias com prioridade para o transporte público coletivo por ônibus / Recife / micro
localização. Avenida Sul / Rua São Miguel........................................................................33
FIG. 8 – Vias com prioridade para o transporte público coletivo por ônibus / Recife / micro
localização. Avenida Cruz Cabugá / Avenida Herculano Bandeira....................................34
FIG. 9 – Modelo proposto por Taaffe, Morrill e Gould........................................................47
FIG.10 – Plano de Nestor de Figueiredo para remodelação do Recife (1932)...................53
FIG.11 – Sugestão do arquiteto Fernando Almeida à comissão do Plano da Cidade
(1932)..................................................................................................................................54
FIG. 12 – Plano de Atílio Correia Lima para a remodelação do Recife (1934)...................55
FIG. 13 – Sugestão de Ulhôa Cintra para um plano de remodelação do Recife (1942)....56
FIG. 14 – Gravura do Recife, século XIX, Rua do Imperador.............................................62
FIG. 15 – Bonde puxado a burro, Recife século XIX..........................................................63
FIG. 16 – SEI – Sistema Estrutural Integrado.....................................................................83
FIG. 17 – Triplicação da PE – 15, RMR............................................................................107
FIG. 18 – Retenção de veículos na pista Sul da Avenida Caxangá.................................111
FIG. 19 – Recife urbano, século XIX................................................................................112
FIG. 20 – Ford T (1908)................................................................................................... 115
FIG. 21 – Notícias sobre poluição nos jornais do Recife..................................................117
FIG. 22 – Notícias sobre a questão do transporte urbano no Recife, década de 50 do
século XX..........................................................................................................................118
FIG. 23 – Notícias sobre mudança no modal de transporte no Recife, década de 50 do
século XX..........................................................................................................................119
FIG. 24 – Transmilênio – cidade de Bogotá / Colômbia...................................................136
FIG. 25 – Corredores exclusivos para ônibus – estações tubo / Curitiba........................ 136
ix
FIG. 26 – Detalhe de um trecho de calçada da Avenida Caxangá...................................145
FIG. 27 – Exemplo de corredor com prioridade para ônibus coletivo / Rio de Janeiro....146
FIG. 28 – Exemplo de corredor com prioridade para ônibus coletivo / São Paulo...........146
FIG. 29 – Início da Avenida Caxangá...............................................................................152
FIG. 30 – Fim da Avenida Caxangá................................................................................. 152
FIG. 31 – Avenida Caxangá 1940 (Caxangá Golf Club)...................................................164
FIG. 32 – Avenida Caxangá 2006 (Caxangá Golf Club)...................................................164
FIG. 33 – Avenida Caxangá 1939 (Igreja do Cordeiro)....................................................165
FIG. 34 – Avenida Caxangá 2006.....................................................................................165
FIG. 35 – Esboço para pista exclusiva na Avenida Caxangá...........................................168
FIG. 36 – Avenida Caxangá / levantamento aerofotogramétrico / 1974...........................169
FIG. 37 – Diagrama de fluxo de ônibus / 1976 – período entre 06 e 22 horas.................170
FIG. 38 – Placa de inauguração da duplicação da Avenida Caxangá..............................180
FIG. 39 – Ônibus elétrico da CTU na faixa exclusiva.......................................................181
FIG. 40 – Estacionamento irregular na calçada da Avenida Caxangá.............................190
FIG. 41 – Rebaixamento de meio-fio nas calçadas da Avenida Caxangá........................191
FIG. 42 – Secção transversal da Avenida Caxangá.........................................................193
FIG. 43 – Trecho da Avenida Caxangá com dimensões transversais..............................194
FIG. 44 – Baia sem capacidade para ultrapassagem...................................................... 194
FIG. 45 – Baia com capacidade para ultrapassagem.......................................................195
Fig. 46 – Planta de topo de uma estação, mostrando a diferença entre antes e depois da
intervenção de 2002.........................................................................................................195
FIG. 47 – Elevação da plataforma de embarque e desembarque....................................196
FIG. 48 – Canteiro central da Avenida Caxangá, antes e depois de 2002......................197
FIG. 49 – Carros estacionados sobre o canteiro central e os obstáculos colocados para
evitar o abuso...................................................................................................................198
FIG. 50 – Interseção 1 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................200
FIG. 51 – Interseção 2 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................201
FIG. 52 – Interseção 3 (cruzamento) da Aveinda Caxangá.............................................201
FIG. 53 – Interseção 4 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................202
FIG. 54 – Interseção 5 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................202
FIG. 55 – Interseção 6 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................203
FIG. 56 – Interseção 7 (cruzamento) da Avenida Caxangá.............................................203
FIG. 57 – Estação para embarque e desembarque com detalhe do marco....................204
FIG. 58 – Comércio informal próximo dos pólos de atração de viagens.........................208
x
FIG. 59 – Comércio informal próximo dos pólos de atração de viagens..........................208
FIG. 60 – Obras de alargamento do trecho de via compreendido entre a Avenida Caxangá
e a Praça do Derby...........................................................................................................211
xi
LISTA DE TABELAS
________________________________________________________________________
TABELA 1 – Problemas derivados do modelo de gestão urbana no transporte................10
TABELA 2 – Declínio do transporte público no Brasil.........................................................11
TABELA 3 – Características principais das ações relativas a transporte e trânsito...........23
TABELA 4 – Indicadores comparativos entre ônibus, motocicletas e automóveis.............25
TABELA 5 – Espaço consumido e passageiros transportados..........................................25
TABELA 6 – Indicadores da política nacional de transporte urbano..................................26
TABELA 7 – Relação das vias que dispõem de algum tipo de prioridade para o transporte
público coletivo por ônibus / município do Recife...............................................................27
TABELA 8 – Índice de motorização no Brasil / Período 1950 – 1996................................35
TABELA 9 – Índice de motorização no município do Recife..............................................35
TABELA 10 – Regiões metropolitanas no Brasil / 1975.....................................................67
TABELA 11 – Região metropolitana do Recife / 1975........................................................68
TABELA 12 – Transportes coletivos na Região Metropolitana do Recife – 1976...............69
TABELA 13 – Comparação de dados operacionais do Sistema – 1979/1981...................77
TABELA 14 – Dados operacionais do SEI – Terminal PE/15.............................................85
TABELA 15 – Dados operacionais do SEI – Terminal Macaxeira......................................86
TABELA 16 – Dados operacionais do SEI – Terminal do Barro.........................................86
TABELA 17 – Dados operacionais do SEI – Terminal de Timbi.........................................86
TABELA 18 – Dados metropolitanos. Pernambuco, interior do Estado, RMR, 1991/1996.
População residente, projetada, área e densidade populacional.......................................89
TABELA 19 – RMR, evolução dos indicadores demográficos............................................90
TABELA 20 – RMR, taxas de crescimento e participação na população urbana no período
2010/2020...........................................................................................................................91
TABELA 21 – Rede de vias do Recife e suas categorias funcionais................................100
TABELA 22 – Efeitos da poluição do ar na saúde humana..............................................120
TABELA 23 – Pesquisa sobre escolha do modo de deslocamento................................. 125
TABELA 24 – Acidentes de trânsito no Brasil / 1994........................................................128
TABELA 25 – Evolução na queda da demanda de passageiros no STPP/RMR.............129
TABELA 26 – Distribuição dos modos de deslocamento / 1997......................................130
TABELA 27 – Veículos e fração da energia consumida em transporte............................134
xii
TABELA 28 – Desperdícios anuais em dez cidades brasileiras devido ao
congestionamento severo (vias com capacidade esgotada) 1998...................................138
TABELA 29 – Classificação de vias..................................................................................144
TABELA 30 – Divisão Modal / Evolução...........................................................................172
TABELA 31 – Motivos dos deslocamentos na RMR – Evolução................................................173
TABELA 32 – Dados de linhas do STPP/RMR que itineram pela Avenida Caxangá.......210
xiii
LISTA DE GRÁFICOS
________________________________________________________________________
GRAFICO 1 – Estimativa de crescimento da população urbana e da frota de veículos,
1991 – 1910........................................................................................................................37
GRAFICO 2 – Usuários habituais por modo de transporte coletivo e classes sociais –
metrópoles nacionais – 2002..............................................................................................39
GRAFICO 3 – Emissão de CO por pessoa/km.................................................................128
GRAFICO 4 – Numero de veículos no mundo................................................................. 132
GRAFICO 5 – Veículos em circulação em alguns países e regiões.................................133
GRAFICO 6 – Crescimento das emissões do setor de transporte e do resto da economia
1990 / 1997.......................................................................................................................134
GRÁFICO 7 – Modos deslocamentos na RMR................................................................171
xiv
LISTA DE MAPAS
________________________________________________________________________
MAPA 1 – Rede de vias por onde circulam os ônibus que operam o STPP/RMR.............28
MAPA 2 – Vias com algum tipo de prioridade para o transporte coletivo por ônibus.........29
MAPA 3 – Vias com prioridade diferenciada para ônibus coletivo.....................................30
MAPA 4 – Pontos críticos de congestionamento / Recife..................................................36
MAPA 5 – Formação da região do Recife: as primeiras vilas do século XVII....................50
MAPA 6 – Primeira fase do processo de cornubação da RMR..........................................65
MAPA 7 – Segunda fase do processo de cornubação da RMR.........................................66
MAPA 8 – Demarcação dos territórios viários I e II do município do Recife.......................96
MAPA 9 – Detalhe da Estrutura Viária do Recife com corredores físico-troncais
metroviário e rodoviário....................................................................................................102
MAPA 10 – Macrolocalização da Rodovia PE -15............................................................105
MAPA 11 – Macrolocalização da Avenida Caxangá.........................................................109
MAPA 12 – Exemplo de pólo gerador e produtor de tráfego............................................110
MAPA 13 – Locais de protestos e bloqueios na IV Perimetral.........................................141
MAPA 14 – Bloqueio para evento cultural........................................................................142
MAPA 15 – Unidades ambientais com macro localização da Avenida Caxangá.............150
MAPA 16 – RPA 4 com superposição do sistema viário..................................................151
MAPA 17 – Zonas de tráfego e a Avenida Caxangá........................................................154
MAPA 18 – Avenida Norte e Avenida Abdias de Carvalho (trecho).................................155
MAPA 19 – Vestígios do antigo traçado da Avenida Caxangá (1876).............................159
MAPA 20 – Vestígios do antigo traçado da Avenida Caxangá (1890).............................160
MAPA 21 – Vestígios do antigo traçado da Avenida Caxangá (1943).............................161
MAPA 22 – Viagens modo coletivo 1972.........................................................................174
MAPA 23 – Viagens modo coletivo 1997.........................................................................175
MAPA 24 – Viagens modo individual 1972......................................................................176
MAPA 25 – Viagens modo individual 1997......................................................................177
MAPA 26 – Percentual de geração de viagens 1997......................................................178
MAPA 27 – Percentual de geração de viagens / macrozonas / 1997.............................179
MAPA 28 – Sistematização com classificação funcional das vias localizadas dentro das
Unidades Urbanas 17, 18 e 19........................................................................................185
MAPA 29 – Unidades Urbanas 17, 18 e 19 da Zona Preferencial de Urbanização 1.....186
xv
MAPA 30 – Pólos geradores de tráfego ao longo da Avenida Caxangá.........................189
MAPA 31 – Localização dos antigos giros à esquerda e os loopings de quadra depois
implantados.....................................................................................................................199
MAPA 32 – Localização das estações para embarque e desembarque.........................205
MAPA 33 – Uso e ocupação do solo das margens da Avenida Caxangá.......................207
MAPA 34 – Superposição dos itinerários da rede de linhas do STPP/RMR que convergem
para a Avenida Caxangá..................................................................................................212
xvi
RESUMO
________________________________________________________________________
O presente trabalho dissertativo se constitui num exercício acadêmico que tem como
objetivo a pesquisa sobre o Sistema de Transportes Público de Passageiros da Região
Metropolitana do Recife, mais especificamente no que se refere à questão dos
mecanismos de priorização no Sistema Viário do Recife voltados para a circulação do
modal ônibus, cuja análise se dá a partir da perspectiva das Políticas Ambientais. A crise
urbana, deflagrada desde o crescimento desordenado da cidade região do Recife nas
últimas cinco décadas, ensejada por dois principais fenômenos complementares, o da
migração inter-regional e o do crescimento demográfico, o primeiro associado ao êxodo
rural fruto da falta de políticas de fixação do homem no campo e o segundo originado da
ausência de controle de natalidade, acabou por conformar uma configuração territorial
cornurbada, institucionalizada como Metropolitana e hoje representada por um tecido de
pequenas manchas prósperas rodeadas de uma imensa mancha tingida de pobreza e
miséria. O núcleo central desse cenário, o município do Recife, que ainda exerce grande
influência sobre os outros 13 municípios, servindo como pólo gerador de viagens, dispõe
de 344,74 km de vias por onde circula a frota de ônibus do STPP/ RMR, dos quais,
apenas 12,35 km, ou seja, 3,5% têm algum tipo de exclusividade para o referido modal, e
desses destaca-se a Avenida Caxangá com 5,9 km de faixa exclusiva, aqui entendido e
pesquisado como uma experiência pioneira e estratégica em face da sua importância no
contexto da mobilidade dos fluxos entre a Zona Oeste, formada por Bairros da Região
Politico-Administrativa 4 do Recife, os municípios de Camaragibe e São Lourenço e o
Centro Expandido do Recife, principalmente, considerando que por ali trafegam
diariamente 70.000 veículos, dos quais 375 são ônibus, responsáveis pelo transporte de
220.000 passageiros, enquanto àqueles primeiros transportam 105.000. A relação de
consumo do espaço de circulação entre um modal e outro, a queda na demanda do
sistema coletivo e a tendência para o aumento do transporte particular e as consequentes
deseconomias, representadas pela poluição do ar e sonora, pela degradação do espaço
construido, pelos acidentes de trânsito, são considerados aqui como desafios a serem
superados por práticas e ações de gestão urbana através de intervenções no meio físico
viário que visem mitigar impactos ambientais. A adoção de instrumentos de planejamento
que buscam intermediar padrões de equidade, mobilidade e acessibilidade na produção
do espaço urbano passam aqui, a serem avaliados como elementos de uma política
xvii
ambiental na medida em que contribui, entre outros, para criar as condições de um
programa maior de DESENVOLVIMENTO SUSTENTÁVEL.
Palavras chaves: Política ambiental; Desenvolvimento sustentável; Transporte
público; Transporte coletivo; Planejamento urbano; Espaço de circulação; Sistema viário
do Recife; Impacto ambiental; Poluição sonora; Pernambuco; Região Metropolitana do
Recife.
ABSTRACT
________________________________________________________________________
This dissertive paper consists itself in an academic exercise, witich has as its main
objective the research, about the public passangers transportation system in the
metropolitan area of Recife, more especificly in the issue that refers to the mecanisms of
priorization of the roadway system aimed at the circulation of the bus perspective of
enviromental polices. The urban crises, started with Recife’s uncontroled growth in the
past five decades, born as a result of two other complentary phenomenom, the inter-
regional migration and the demographic growth, the first associated to the exodus from the
contryside, which is a consequence of the lack of fixation policies for the countryside man
and the second originated from the absence of
xviii
by actions an policies of urban management though the interventaions in the roadway
system environment that seeks to decrease the environmental impacts. The adoption of
planning projects that intend to balance equality patters, mobility and accessibility in the
production of the urban space, are here evaluated as elements of an environmental policy
that can contribute, among others, to create powerfull conditions for a bigger
SUSTAINABLE DEVELOPMENT program.
Key words: Environmental politics; Sustanable development; Public transport; Urban
planning; Road ways; The Recife road way system; Environmental impact; Sound polution;
Pernambuco; Metropolitan region of Recife.
SUMÁRIO
________________________________________________________________________
AGRADECIMENTOS.............................................................................................................i
LISTA DE FIGURAS.............................................................................................................ii
LISTA DE TABELAS.............................................................................................................v
LISTA DE GRÁFICOS.........................................................................................................vii
LISTA DE MAPAS..............................................................................................................viii
RESUMO..............................................................................................................................x
ABSTRACT..........................................................................................................................xi
SUMÁRIO............................................................................................................................xii
INTRODUÇÃO......................................................................................................................1
PROBLEMATIZAÇÃO E BASES TEÓRICAS............................................................3
DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E POLITICA AMBIENTAL............................11
POLÍTICAS PÚBLICAS E TRANSPORTE URBANO..............................................19
JUSTIFICANDO O TRABALHO..........................................................................................27
OBJETIVOS........................................................................................................................40
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS...........................................................................41
CONTEÚDO DOS CAPÍTULOS.........................................................................................44
xix
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS...................................................................................45
1.1. O STPP/RMR. SEI (Sistema Estrutural Integrado) e o Sistema Complementar...80
1.2. Os Corredores tronco-físicos, metroviário e rodoviário..........................................92
1.3. A Rodovia PE – 15 e a Avenida Caxangá............................................................103
2. O MODELO DE TRANSPORTE É UMA QUESTÃO AMBIENTAL...............................112
2.1. Transporte coletivo versus transporte individual..................................................124
2.2. A eficiência do transporte coletivo como elemento de uma política ambiental....130
2.3. A importância de um bom funcionamento dos corredores...................................139
3. O CORREDOR DA CAXANGÁ. ASPECTOS GERAIS................................................148
3.1. Evolução histórica na ligação Centro – Zona Oeste............................................156
3.2. Vocação e tradição na promoção do transporte em via exclusiva.......................166
4. USO DO SOLO, INFRA-ESTRUTURA DE CIRCULAÇÃO E OPERAÇÃO DE
LINHAS.............................................................................................................................183
5. CONCLUSÕES.............................................................................................................213
6. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS.............................................................................218
20
INTRODUÇÃO
O presente trabalho dissertativo apresentado ao Programa de Pós-Graduação em
Gestão e Políticas Ambientais da Universidade Federal de Pernambuco, resulta de um
exercício acadêmico que visa o conhecimento do Sistema de Transportes Públicos da
Região Metropolitana do Recife – STPP / RMR e suas questões fundamentais com
destaque para o problema da prioridade de circulação para o modal ônibus, sobretudo
a partir das experiências vinculadas à implantação da tecnologia urbanística dos
corredores exclusivos de transportes coletivos, a qual deverá ser analisada aqui sob a
ótica das políticas ambientais urbanas como uma alternativa à mitigação dos impactos
ambientais urbanos.
Uma vez definido o objeto e seu universo para efeitos de pesquisa, estudo e
apresentação de resultados, e reconhecendo antecipadamente tanto a sua extensão
quanto a sua complexidade, fez-se necessário aplicar um recorte dentro do conjunto de
vias que articulam o tecido urbano metropolitano que dispõe de algum privilégio de
exclusividade para o transporte coletivo e que, para o caso aqui a ser estudado em
face da sua experiência pioneira no campo operacional do STPP/RMR (Sistema de
Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do Recife), foi escolhido a
Avenida Caxangá, via histórica e estratégica para articulação e penetração
metropolitana localizada no município do Recife, cuja estrutura atual dispõe da
tecnologia já referida.
O tema desenvolvido não se deu por uma causalidade qualquer, a rigor, ele diz
respeito a umas das partes que envolvem o fenômeno urbano moderno e que vem
deixando inquietos os estudiosos da realidade urbana brasileira se vista,
principalmente, da perspectiva ambiental, seja pela sua dimensão sempre crescente,
seja também pela incessante preocupação daqueles agentes públicos ou privados a
quem cabe a gestão das ações que visam controlar ou reduzir os impactos ambientais
negativos no âmbito das cidades, oriundos dos fluxos das relações socioeconômicas
cada vez mais desiguais estabelecidas no conjunto das altas concentrações humanas
regionais, caracterizadas por profundos desequilíbrios internos que vem consolidando
ao longo das décadas, estados de sobrevivência e carência cuja permanência se
tornaram indefensáveis.
Este cenário que é a atual Região Metropolitana do Recife se impõe como
constituído de grandes desafios para os responsáveis pela gestão urbana em função
21
do ainda veloz processo de metropolização que teve sua origem décadas atrás e que
persiste marcado por permanente depressão socioeconômica. Portanto, os estudos
que envolvem as questões de natureza metropolitana passam a ser fundantes para a
criação de um estrado de conhecimento que estabeleça parâmetros e critérios que
possam viabilizar as populações, harmonia mínima do convívio nos espaços funcionais
da habitação, do lazer, do trabalho, bem como constante e democrático acesso aos
bens e serviços que são determinantes para as suas realizações nas dimensões
materiais e espirituais, entre aqueles o direito a um transporte público coletivo com
tarifa justa, eco eficiente, limpo, rápido, seguro e includente.
É com esse espírito, considerando as experiências no âmbito de algumas
instituições públicas diretamente envolvidas com estudo, execução, fiscalização,
planejamento e gestão de serviço público, em particular a mais recente, ligada ao
transporte público coletivo no espaço que compreende a RMR (Região Metropolitana
do Recife), que foi deflagrada a vontade de investigar as relações entre os vetores
representados pela circulação do transporte público coletivo e a problemática ambiental
urbana.
Para a formação da metrópole regional conhecida como Recife foram necessários
fatores histórico-geográficos, socioeconômicos e político-administrativos cujos reflexos
marcam com significância todo o seu território que passa a ser articulado em função de
determinados pólos que terminam por caracterizar e determinar a rede de fluxos onde,
entre outras coisas, está o de pessoas, seja a pé, de bicicleta, de barco, de moto, de
automóvel, de trem, de ônibus, de helicóptero, para as mais variadas atividades
urbanas; trabalho, lazer, saúde, escola, igreja, compras e outras. Tal formação e suas
matrizes de fluxos se repetem em outras regiões brasileiras, cujas questões urbanas de
maior ou menor magnitude, ainda que se considere as especificidades de cada uma,
estão presentes e já desde muito se apresentam, se avaliados da ótica ambiental,
como problemas. Daí a necessidade de se estabelecer políticas públicas que medeiem
os conflitos e atenuem os efeitos antropogênicos sobre o meio ambiente urbano; neste
caso, o ramo das políticas ambientais urbanas que a nosso ver vai desde o
estabelecimento de uma agenda 21 local, passando pelos processos de participação
popular na definição de orçamentos e intervenções comunitárias que envolvam os
poderes executivos municipais e estaduais, o estímulo à criação de organizações não
governamentais, o estabelecimento de metas e instrumentos mediante legislação
22
federal, estadual e municipal, até as pressões exercidas por setores da sociedade civil
na atuação do Ministério Público no papel de vigilante constitucional que lhe cabe.
PROBLEMATIZAÇÃO E BASES TEÓRICAS
O fenômeno que aqui nos ocupa é, por excelência, fruto do intenso processo de
urbanização experimentado pelas cidades brasileiras, incluindo o Recife, a partir da
segunda metade do século XX e os seus desdobramentos que vão resultar em graves
problemas, entre eles os que implicam em diversos tipos de impactos ambientais, dos
quais, aquele gerado pelos vetores de circulação de veículos tem se mostrado
crescentemente problemático. Daí porque, a produção do espaço viário urbano
continuará sendo objeto de extensos e permanentes estudos.
Segundo Macedo,
“Ao se inaugurar o novo milênio, verifica-se que as maiores
transformações da civilização ocorreram nos últimos 100 anos, sem
dúvida alguma, nas cidades. Embora a tendência nos países
desenvolvidos seja de estabilização dos assentamentos humanos, o
fenômeno da urbanização acelerada nos países em desenvolvimento
assume contornos alarmantes, sobretudo no que diz respeito à
capacidade de suporte do planeta.”
1
Macedo, ainda se referindo aos problemas ambientais urbanos derivados das ações
de fundo antropogênico destaca que
“Um dos problemas que tem recebido maior atenção de especialistas e
governos refere-se ao tráfego e à crescente motorização das populações
urbanizadas.”
2
Salienta também que
“Suas conseqüências sobre a sociedade, a saúde humana e o meio
ambiente ocorrem tanto em escala local, como as deseconomias
(prejuízo devido às externalidades negativas, consideradas aqui da
perspectiva dos economistas, como sendo ações de indivíduos que
acarretam custos para terceiros) resultante dos congestionamentos,
quanto em escala regional, como os conflitos econômicos resultantes das
disputas entre Estados e municípios pelas indústrias automobilísticas
(tais como as guerras fiscais) e em escala global, como as emissões de
poluentes contribuindo para o agravamento das mudanças climáticas do
planeta.”
3
O prêmio Nobel americano Gary S. Becker, ensaiando sobre o quadro dramático
das grandes metrópoles afirma que os
1
Laura Valente MACEDO, Impactos Ambientais Urbanos no Brasil, p. 306.
2
Ibid., p. 306.
3
Ibid., p. 306.
23
“Congestionamentos de tráfego impõe grandes custos camuflados aos
motoristas por aumentarem o tempo e o combustível exigidos para ir de
casa para o trabalho, ou ao aeroporto, visitar amigos, ir a restaurantes e
outros entretenimentos. O tráfego em muitos países aumentou
enormemente durante as últimas décadas, à medida que caíam os
preços da gasolina e os tornavam-se mais econômicos no consumo de
combustíveis e as famílias ficavam mais ricas. Em Nova York, Los
Angeles, Chicago e na maioria das outras cidades norte-americanas,
estradas tornaram-se congestionadas em ambos os sentidos entre os
arredores durante os “horários de pico” que duram a maior parte das
manhãs e das tardes.”
4
A sempre crescente frota de veículos é a principal causa de congestionamentos,
principalmente nas grandes cidades.
“De Nova York a Kuala Lumpur, do Cairo a Moscou, os habitantes das
metrópoles melhoraram o padrão de vida, enriqueceram e passaram a
usar cada vez mais o transporte individual, perdendo cada vez mais
tempo em viagens motorizadas, quase sempre por vias congestionadas.
Ainda assim, esses motoristas parecem dispostos a pagar o preço pelo
mal necessário, a fim de garantir o acesso àquilo que se considera o
almejado estilo de vida cosmopolita, sinônimo de contemporaneidade.”
5
“Não dirigir”, para Jonh Urry, sociólogo da Universidade de Lancaster
“e não ter um automóvel é deixar de participar plenamente da sociedade
ocidental.”
6
E continua
“Sentir o mundo como se mediado por um pára-brisa é o modo
dominante da habitação contemporânea.”
7
No livro “O automóvel, um condenado?”, Jorge J. Okubaro expressa que o veículo
“Para locomoção pessoal ou familiar é, de fato um símbolo de nosso
tempo. Para a maioria dos que têm poder aquisitivo para comprar um
carro novo é ao mesmo tempo indescritível e inesquecível o cheiro que
se sente ao entrar no veículo, ainda na loja. Seu desejo é o de preservar,
para sempre, esse cheiro – e fabricantes de cosméticos desenvolvem
produtos que procuram reproduzir esse odor tão característico e, para
muitas pessoas, encantador. Enquanto persistir, o cheiro de carro novo
lembrará a seu dono o fato de ele ter alcançado um dos objetivos mais
almejados do consumo moderno. Quando acabar, o proprietário quererá
tê-lo de volta. Sentirá desejo de comprar outro carro novo.”
8
Eduardo Alcântara Vasconcellos, defende que o novo estilo de vida para a classe
média decorreu do processo de modernização capitalista pelo qual passou o Brasil nos
4
Gary S. BECKER, Teoria do Engarrafamento, em Gazeta Mercantil, 1/06/98.
5
Laura Valente MACEDO, Impactos Ambientais Urbanos no Brasil, p. 306.
6
Jonh URRY, Valor Econômico, pp. 2, 3, 4/06/2000.
7
Ibidem.
8
Jorge J. OKUBARO, O automóvel, um condenado? p. 17.
24
últimos tempos, motivo pelo qual se escalou acentuadamente o uso do automóvel, cuja
percepção é a de que este último é
“Como um instrumento vital à sua reprodução como classe, em um
contexto no qual as mobilidades física e social constituem objetivos
primordiais”
9
Daí porque
“O carro é um instrumento cujo uso está profundamente ligado a
condicionantes sociais, econômicos e políticos.”
10
E ainda
“Atrás das rodas, ao invés de ‘pessoas’, estão seres políticos com
necessidades e interesses, e com uma visão definida de sociedade,
como ideologia.”
11
Vasconcellos elege várias iniqüidades relativas às condições de transporte e
trânsito nos países em desenvolvimento que
“Podem ser atribuídas a muitos fatores, ligados ao processo de
desenvolvimento social, político e econômico destes países, bem como
às políticas urbanas e de transportes adotadas.”
12
Entre os fatores ele destaca dois:
“A adaptação do espaço para o automóvel e a adoção do enfoque de
mercado para o sistema público.”
13
As iniqüidades que estão por trás do domínio do automóvel são três: a da
segurança; a ambiental e a de velocidade.
“Em primeiro lugar está à iniqüidade de segurança, a mais importante,
uma vez que a maior parte afeta os pedestres. Em segundo lugar, a
iniqüidade ambiental, uma vez que a poluição ambiental e a destruição
do tecido urbano são causadas predominantemente pelo abuso do
automóvel. Em terceiro lugar, a iniqüidade da velocidade – e em
decorrência da confiabilidade -, uma vez que o congestionamento
causado pelos automóveis causa atrasos e falta de regularidade ao
transporte público.”
14
Illich (2004) discutindo energia e eqüidade elege o conceito de circulação como
paradigma para esclarecer que
9
Eduardo Alcântara de VASCONCELLOS, Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e
propostas, p. 123.
10
Ibidem
11
Ibidem
12
Ibid., p. 46.
13
Ibidem
14
Ibidem
25
“ “a crise de energia” é um eufemismo atrás do qual se esconde a ilusão
de que o uso de energia e a eqüidade podem crescer no mesmo ritmo
indefinidamente.”
15
Circulação para Illich (2004) é o mesmo que locomoção e esta é indissociavelmente
ligada ao trânsito de pessoas com os seus respectivos bens pessoais. Ele distingue
duas formas de locomoção: aquela onde a pessoa usa sua própria força para mover-se
de um canto a outro e aquela em que se utiliza um transporte motorizado para o
mesmo fim; assim, para efeitos de classificação em categorias estatísticas ocorrem
dois fenômenos distintos com relação à locomoção: a viagem e o deslocamento. A
primeira pressupõe-se a intenção de pernoitar em outro lugar; o segundo é o que
corresponde à ida e a volta, o que significa que o deslocado estaria de volta para o seu
lugar de origem no mesmo dia. Tanto uma como outro podem ter como destino várias
atividades sociais.
Um conceito que tem sido usado para avaliar eqüidade no deslocamento de
pessoas é o de “consumo do espaço de circulação” (Vasconcellos, 2000). Segundo
Vasconcellos
“O consumo do espaço de circulação depende do tipo de transporte
utilizado e da ocupação média dos veículos. Há dois tipos de consumo, o
estático e o dinâmico. O consumo estático reflete a área ocupada por
uma pessoa que está parada, enquanto o consumo dinâmico considera
também a distância por ela percorrida.”
16
O pedestre representa na escala de consumo estático, o extremo menor, enquanto
o passageiro de automóvel representa o extremo maior. Um olhar atento nas ruas das
principais cidades brasileiras será suficiente para constatar que a diferença entre o
consumo estático pode ser verificada pela comparação entre o número de automóveis
e ônibus em circulação. Será preciso salientar que o ônibus é a principal forma de
transporte público nos países em desenvolvimento.
Considerando que a área de um veículo é de 7 metros quadrados, admitindo uma
ocupação média de 1,5 pessoas por veículo chega-se a uma taxa de consumo estático
de 4,6m2/pessoa. Se considerarmos que um ônibus tem uma área de 30m2 e este
esteja transportando 50 pessoas, dividindo o segundo pelo primeiro acharemos uma
taxa de consumo estático de 0,6m2/pessoa. A relação entre a primeira e a segunda é
de 1:8. Significa dizer que um automóvel levando uma pessoa, consome perto de oito
15
Ivan ILLICH, Energia e Eqüidade, in Apocalipse Motorizado: a tirania do automóvel em um planeta poluído, org.
Ned Ludd, p. 42.
16
Eduardo Alcântara de VASCONCELLOS, Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e
propostas, p. 42.
26
vezes mais o espaço que outra ocupando um assento num ônibus. Tais parâmetros
revelam que o espaço de circulação é consumido de acordo com a condição social e
de renda das pessoas.
As grandes e médias cidades brasileiras como aquelas de outros países em
desenvolvimento demonstram graves problemas de transporte e consequentemente de
qualidade de vida. Mobilidade e acessibilidade caem, degradam-se as condições
ambientais e os engarrafamentos se tornam crônicos. As elevadas taxas de acidentes
de trânsito já se tornaram lugar comum no cenário urbano.
As afirmações acima decorrem de uma situação a que se somam vários fatores,
sociais, políticos e econômicos, mas principalmente de decisões anteriores
relacionadas às políticas urbanas, de transporte e de trânsito. As principais cidades
brasileiras foram preparadas nos últimos decênios para o uso do automóvel (cuja frota
ampliou-se vertiginosamente) por meio da crescente extensão do sistema viário e da
implantação de técnicas de otimização da fluidez. Decorreu daí a formação de uma
cultura do automóvel, que acabou por drenar imensos recursos para viabilizar suas
necessidades. Ao mesmo tempo, os sistemas de transporte público, em que pese
alguns investimentos importantes em lugares específicos, não foram suficientes para
atender a demanda crescente e que vem passando por crises cíclicas derivadas,
principalmente, da incompatibilidade entre custos, tarifas e receitas ou às deficiências
na gestão e na operação, sobretudo pelas dificuldades de obtenção de prioridade
27
efetiva na circulação. Os declínios são evidentes na sua importância, na sua eficiência
e na sua confiabilidade junto aos usuários, ficando como um “mal necessário” para
aqueles que não podem dispor de um automóvel. Daí nasceu uma separação clara
entre os que têm acesso ao automóvel e os que dependem do transporte público,
divisão que, para efeitos práticos, revela as grandes disparidades econômicas e sociais
da sociedade brasileira. Uma minoria goza de melhores condições de transporte
enquanto a maioria fica limitada no que se refere aos direitos de acessibilidade e
deslocamento.
Claude Cohen argumentando sobre a diferença de consumo de energia entre o
modal automóvel e o transporte coletivo sugere que
“A alteração da estrutura de transportes de passageiros deveria ser uma
prioridade da política de transportes e energia nos países, já que a
resposta tradicional a maior motorização da população, de ampliar o
espaço viário, é uma solução mais cara e limitada, pois mostra forte
tendência à saturação.”
17
O aumento do tráfego torna o transporte público um meio de deslocamento menos
rápido e pouco confiável, motivos pelos quais sua demanda e receita ficam
automaticamente reduzidas, implicando em mais veículos para prestar o mesmo
serviço. Quem é cativo fica prejudicado e aqueles que são considerados potenciais
usuários são desestimulados. Estes últimos, quando podem, migram para o transporte
motorizado individual, contribuindo para aumentar os engarrafamentos e ao mesmo
tempo alimentando o circulo vicioso. (FIGURA 2)
17
Claude COHEN, Padrões de consumo e energia: efeitos sobre o meio ambiente e o desenvolvimento: in Economia
do Meio Ambiente: teoria e prática, org. Peter H. May, Maria Cecília Lustosa, Valéria da Vinha, p. 255.
28
A situação se mantém e caminha para o agravamento: o uso do transporte
particular passa a ser estimulado na medida em que a ausência do transporte público
de qualidade é sentida. O uso do transporte individual motorizado leva, a médio tempo,
a dispersão das atividades e à expansão urbana, aumentando o consumo de energia e
determinando que os níveis de acessibilidade sejam diferenciados quanto às variadas
atividades e classes sociais. Sem planejamento e controle que dêm ordem ao uso e
ocupação do solo termina por levar a cidade a um tipo de desenho que resulte
exclusivamente das forças de mercado, forças estas que investem nas áreas
preferenciais de acessibilidade, implicando, com certa freqüência em impactos
ambientais, como também sobre o sistema de circulação local. Áreas verdes e
calçadas são paulatinamente usadas para tráfego ou estacionamento de veículos.
Logradouros onde o trânsito deveria ser apenas local passam a ser artérias que
articulam o sistema viário principal. Praças são transformadas em rotatórias,
cruzamentos semaforizados ou terminais, e áreas adjacentes a corpos d’água passam
a abrigar avenidas.
A FIGURA 3 sistematiza a lógica da expansão urbana que leva a insustentabilidade
a partir das facilidades do uso do automóvel, pois as distâncias aumentam e novas vias
são requeridas, as redes de equipamentos públicos como água, esgoto, iluminação,
telefonia se encarecem, o transporte público aumenta sua extensão e reduz a
rentabilidade. Decorre daí que algumas áreas tornam-se críticas na medida em que o
transporte público passa a ser deficitário.
A TABELA 1 abaixo sintetiza os problemas do transporte no meio urbano derivados
do modelo de desenvolvimento adotado, uma vez que os custos para a sociedade
29
brasileira são socialmente inaceitáveis e passam a ser obstáculos se vistos sob um
ponto de vista estratégico. Neste caso, a manutenção do modelo atual será sempre
incompatível com uma melhor qualidade de vida numa sociedade que tende para o
amadurecimento democrático e vem se preparando para as exigências das enormes
transformações econômicas contemporâneas.
TABELA 1. PROBLEMAS DERIVADOS DOS MODELOS DE GESTÃO URBANA NO
TRANSPORTE.
PROBLEMAS RESULTADO
CONGESTIONAMENTO
ELEVAÇÃO DOS TEMPOS DE VIAGEM E REDUÇÃO DA
PRODUTIVIDADE DAS ATIVIDADES URBANAS.
ESPAÇO VIÁRIO
INADEQUADO
PREJUIZO CRESCENTE NO DESEMPENHO DO TRANSPORTE
PÚBLICO POR ÔNIBUS.
REDUÇÃO DE
INVESTIMENTOS
BAIXA PROCURA NO USO DO TRANSPORTE PÚBLICO POR ÔNIBUS
IMPACTOS AMBIENTAIS
PREJUIZOS GRAVES À SAUDE DA POPULAÇÃO, AO PATRIMÔNIO
HISTÓRICO, ÀS OBRAS E MONUMENTOS.
ACIDENTES DE
TRÂNSITO
ALTOS INDICES DE VÍTIMAS ENTRE FERIDOS E MORTOS
DEMANDA CRESCENTE
DO TRANSPORTE
INDIVIDUAL
INVESTIMENTOS ELEVADOS PARA O CONSUMO DO ESPAÇO
VIÁRIO
ABERTURA DE NOVAS
VIAS
VIOLAÇÃO DAS ÁREAS RESIDENCIAIS E DE USO COLETIVO
TRANSFORMAÇÃO DO
USO DO SOLO E
AUMENTO DE ÁREA
PAVIMENTADA
DIMINUIÇÃO DE ÁREAS VERDES E IMPERMEABILIZAÇÃO DO SOLO
ANTP 1997. (Adaptação do autor)
Para efeitos de registro será necessário relatar que a Região Metropolitana de São
Paulo, por exemplo, apresenta um desperdício em torno de 2,4 milhões de hora/dia nos
deslocamentos se comparados ao que seria o ideal (CMSP, 1993). Tal impacto de
restrição representa problemas graves de acessibilidade e mobilidade das pessoas que
implica em perdas econômicas acentuadas. A redução da velocidade provocada pelo
uso inadequado do espaço viário pelos automóveis particulares traz problemas para o
transporte público como aumentos nos custos da operação, na confiabilidade, na
atratividade do sistema e das tarifas. Nas grandes cidades brasileiras, como é o caso
do Recife, um contingente elevado de indivíduos chega a gastar em média, 2h (duas
horas) por dia nos deslocamentos para suas atividades cotidianas. Ainda por cima tem
o problema do acesso físico aos sistemas, pois a oferta desses espaços é sempre
reduzida, principalmente para àquelas populações periféricas.
Na medida em que se reduzem os investimentos importantes no transporte público,
e que se paralisam obras já iniciadas como determinados sistemas parcialmente
construídos, à queda no nível de serviço, na confiabilidade e no que tem de atrativo é
inevitável. Tais implicações estimulam o uso do transporte individual, principalmente
30
para camadas das classes médias. Já é patente, nas grandes e médias cidades
brasileiras a redução significativa de usuários dos transportes públicos (TABELA 2).
TABELA 2. DECLÍNIO DO TRANSPORTE PÚBLICO POR ÔNIBUS NO BRASIL.
Tipo de
cidade
Pass/ano (milhões)1990 Pass/ano (milhões)1993 Redução (%)
Capitais (1) 5.300 4.857 8,4
Cidades
Médias (2)
962 901 6,3
(1) 15 capitais
(2) 16 cidades médias
Fonte: Anuário Estatístico da ANTP – Associação Naconal dos Transportes
Públicos, 1994.
Graficamente, o espaço urbano pode ser representado no papel ou num plano
qualquer e em escalas diferenciadas, por um complexo de linhas e setas que ligam
manchas mais ou menos densas ou extensas de variados tipos de texturas, as
primeiras significando fluxos de maior ou menor intensidade relacionados à circulação
da produção ou de contingentes populacionais de acordo com suas espessuras e
cores, as segundas simbolizando áreas de ocupação das mais diversas atividades
humanas. Tais representações cartesianas simplificam, em certa medida, os processos
que estão na base das relações sociais e de produção de determinada cidade. Uma
representação deste tipo na verdade trata, entre outras coisas, de
‘’Um sistema complexo de relações que está em permanente mudança.
A forma como o solo é usado e ocupado e as condições
socioeconômicas dos habitantes determinam à quantidade e o tipo de
deslocamentos necessários, que precisam ser atendidos utilizando a
infra-estrutura viária e os veículos disponíveis. A gestão deste complexo
sistema de relações requer a união de esforços entre Estado e sociedade
bem como a organização adequada da administração pública. ”
18
DEGRADAÇÃO SOCIOAMBIENTAL E POLITICA AMBIENTAL
Segundo Hobsbawm, até meados do “breve” século XX, a preocupação com os
problemas ambientais estava restrita a pequenos círculos de entusiastas da vida
silvestre e alguns protetores de raridades humanas e naturais.
19
A partir de 1970,
como já é do conhecimento do mundo acadêmico em geral, generalizou-se a
percepção dos problemas ambientais, quando passam a surgir em âmbito global,
18
Associação Nacional de Transportes Públicos - ANTP, Transporte Humano – cidades com qualidade de vida. p.
28.
19
Eric HOBSBAWM, A era dos extremos. p 257.
31
atitudes ecológicas e questionamentos relacionados aos impactos da ação humana
sobre a natureza e sua relação com os aspectos econômicos e sociais. Essas relações
engendraram o uso e a disseminação de diversos termos para identificar problemas de
ordem prática e teórica como; degradação ambiental; sustentabilidade;
desenvolvimento sustentável; eco desenvolvimento; preservação do meio ambiente;
etc. Tais expressões, usadas cotidianamente nas mais variadas áreas do
conhecimento não traduzem conceitos ou categorias bem definidas e demarcadas, são
sim, princípios e lógicas que balizam a busca de compreensão de um problema que,
ainda que antigos na história das ciências, vem apresentando, nos últimos tempos,
novos contornos que pedem respostas apressadas, principalmente por causa do novo
entendimento sobre as relações entre sociedade e natureza.
Procurou-se adotar aqui para efeitos de uma discussão prévia que a compreensão
em torno da expressão “questão ambiental” demanda da relação sociedade-natureza
uma vez que
“Diz respeito não apenas a problemas intrinsecamente naturais, mas
também às problemáticas decorrentes da ação social.”
20
Não há, portanto, nesta abordagem, separação entre os aspectos naturais e sociais.
Considerando então que toda ação da sociedade transforma, desnaturaliza, “socializa”
esta natureza, importa-nos aqui, para efeitos de introduzir algumas questões
relacionadas às políticas ambientais urbanas, realinhar de forma mais aproximada o
uso da expressão “degradação socioambiental urbana” ao invés de “degradação
ambiental”, esta última frequentemente usada pela biologia, pela engenharia ambiental
e pela legislação que trata do tema. Quando agregamos ao termo “degradação” o
termo “social”, estaremos levando em consideração uma questão fundante na
transformação e constituição do ambiente cultural ou natural, que passa a ser causa e
efeito da degradação. Ao usarmos a expressão “degradação socioambiental” implicará
na compreensão de um ambiente urbano como sendo um
“um habitat socialmente criado, configurado enquanto um meio físico
modificado pela ação humana.”
21
Será importante também, minimamente, com vistas a criar um ambiente propício
para introduzir mais diretamente uma discussão sobre políticas ambientais, especular
sobre o termo “degradação”, sua origem e significado. Quando Clausius (1850),
aproveitando esboço do físico Sadi Carnot, aperfeiçoou e formulou o segundo princípio
20
A. M. RODRIGUES, Produção e consumo do e no espaço: problemática ambiental urbana, p. 13.
21
P. JACOBI, Cidade e meio ambiente: percepções e práticas em São Paulo, p. 14.
32
da termodinâmica, segundo o qual toda energia mecânica transforma-se em calor de
forma irreversível e que apenas uma parte é transformada em trabalho, o mesmo criou
o conceito de “entropia” para referir-se àquela parte da energia que entra em
“degradação”, pois a mesma se perde e não está apta para realizar trabalho.
Durante todo o século XX, os fundamentos da física newtoniana passam por
problematizações na medida em que se desenvolviam a mecânica estatística, a teoria
da relatividade e a física quântica. A expressão “degradação” foi sendo aos poucos
apropriada pelas ciências ambientais, momento em que, genericamente, passou a
equivaler-se a alteração, transformação, destruição permanente, perda física. Daí certa
imprecisão do termo discutido, uma vez que o mesmo é usado indistintamente para
referir-se aos desgastes dos solos agrícolas decorrente do uso de pesticidas e
mecanização intensa do plantio, a falta de saneamento básico, as precárias condições
de habitabilidade, a poluição do ar nas metrópoles, os desmatamentos.
A definição de degradação da qualidade ambiental como alteração adversa das
características do meio ambiente pela Lei nº. 6.938/81 pode, no âmbito da legislação
ambiental brasileira, servir de exemplo. A expressão degradação ambiental qualifica os
processos resultantes dos danos ao meio ambiente como sendo qualquer lesão ao
meio ambiente causada por ação de pessoa, seja ela física ou jurídica, de direito
público ou privado, pelos quais se perdem ou se reduzem algumas de suas
propriedades, tais como a qualidade ou a capacidade produtiva dos recursos
ambientais.
O uso da expressão socioambiental implica assim, na compreensão de que a
concepção ambiente e/ou natureza não pode ser pensada isoladamente, indiferente ou
independentemente da ação humana.
Na medida em que avançam os estudos sobre os fenômenos ambientais no âmbito
das cidades, as perguntas como as que seguem persistem: quais os indicadores para o
espaço urbano de sustentabilidade? Qual a importância dos processos históricos e
socioculturais na problemática da degradação urbana? Em que medida as
especificidades geográficas e históricas configura diferentemente degradação
socioambiental em espaços urbanos? Como será possível determinar para o ambiente
urbano modelo de ocupação do solo, do uso dos recursos hídricos que não causem ou
que controlem degradação? Seriam todas as atividades urbanas geradoras de
degradação socioambiental? O que vem a ser um ambiente urbano degradado? Como
33
diferenciar e fazer uma avaliação das alterações provocadas pelos vetores naturais ou
humanos no meio urbano?
A falta de respostas ou que estas sejam diferenciadas revela que ainda não foi
assimilada a idéia de que o pensamento ecológico acumulado nos últimos anos esteja
provocando uma revolução nos presente paradigma epistemológico que norteie o
entendimento das relações entre homem e natureza, interferindo potencialmente na
construção científica das variadas áreas do conhecimento. Mas, especificamente da
perspectiva das práticas urbanas, há de se reconhecer que o esforço de um novo
pensamento vem trazendo certa transformação na abordagem do ambientalismo no
processo de urbanização, particularmente no que se refere à gestão socioambiental
urbana como sendo um problema público, a partir de uma nova visão de gestão de
cidades, ainda que incluído num contexto de interesses divergentes. Tal pensamento,
estruturado a partir das questões ambientais, está permitindo uma nova postura crítica
em relação à observação empírica da realidade na maioria das metrópoles mundiais e
com maior ênfase, nos grandes aglomerados humanos dos países em
desenvolvimento, uma vez que estes apresentam crônicos problemas de infra-estrutura
e ordem política, social e econômica, servindo de modelos para os estudos
relacionados à degradação ambiental.
Da Constituição de 1988, passando pelas Agendas 21 e pelas legislações
ambientais nas diversas esferas de poder ao Estatuto das Cidades, o novo papel da
participação da sociedade civil na articulação e definição de políticas públicas, na
discussão de projetos de interesse comum e proposição de cronogramas de metas,
passou a ser estratégico para vencer o atraso imposto pelas décadas de “chumbo”,
precedidas de séculos de patrimonialismo, cujas raízes ainda teimam em resistir.
A evolução da política ambiental no mundo passa da disputa em tribunais à política
mista de comando e controle. Os padrões de qualidade passaram a ser fundantes para
definir metas de política, como também a crescente adoção dos instrumentos
econômicos. Política ambiental
“é o conjunto de metas e instrumentos que visam reduzir os impactos
negativos da ação antrópica – aquelas resultantes da ação humana –
sobre o meio ambiente.”
22
Há um consenso de que no Brasil,
22
Maria Cecília Junqueira LUSTOSA, Política ambiental: in Economia do Meio Ambiente: teoria e prática, org.
Peter H. May, Maria Cecília Lustosa, Valéria da Vinha. p.135.
34
“O atraso no estabelecimento de normas ambientais e agências
especializadas no controle da poluição industrial demonstra que, de fato,
a questão ambiental não figurava entre as prioridades de política
pública.”
23
A história da questão ambiental no Brasil tem um marco; a criação da Secretaria
Especial do Meio Ambiente – SEMA em 1973 através do Decreto nº. 73.030,
antecedido pela criação da Comissão Executiva da Defesa da Borracha, instituída pela
Lei nº. 86 de 1967, pela Superintendência do Desenvolvimento da Pesca (SUDEPE) de
1962, e pelo do Código Florestal de 1934 e do Código das Águas também do mesmo
ano. Aquela Secretaria fora uma recomendação da Conferência das Nações Unidas
sobre o Meio Ambiente, que acabara ficando vinculada ao Ministério do Interior. O
modelo adotado foi baseado na experiência norte-americana, cujas características
eram pautadas por um grande nível de descentralização e um destacado viés
regulatório, fundamentados em instrumentos de comando e controle, que favorecia a
regulação direta das empresas o que demandava uma estrutura de recursos humanos
e técnicos para as atividades de controle que no caso brasileiro não estava disponível.
Ainda que na década de 1970 tenham sido criadas leis e normas, só em 1981 é que
com o advento da Lei nº. 6.938 ficam estabelecidos os objetivos, as ações e os
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente que objetivava a preservação,
melhoria e qualidade ambiental e comprometiam-se a assegurar as condições para o
desenvolvimento sócio-econômico, os interesses da segurança nacional e à proteção
da dignidade da vida humana. No artigo 9 da Lei 6.938 são explicitados os
instrumentos da Política Nacional do Meio Ambiente:
I – o estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
II – o zoneamento ambiental;
III – a avaliação de impactos ambientais;
IV – o licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente poluidoras.
O órgão responsável pelo planejamento da Política Nacional do Meio Ambiente é o
Ministério do Meio Ambiente – MMA, ao qual também estão vinculados o CONAMA e o
IBAMA – Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
criado em 1989, tendo assumido este último, por força das Leis 7.732 e 7.335, os
direitos, os créditos, as obrigações e as receitas de outros órgãos reguladores como
SUDEHVEA (Superintendência da Borracha), o IBDF (Instituto Brasileiro de
Desenvolvimento Florestal), a SEMA e a SUDEPE.
23
Ibid., p. 146.
35
Estabelecidos os fundamentos pela Lei promulgada em 1981, foram constituídos o
Sistema Nacional do Meio Ambiente – SISNAMA, e o Conselho Nacional do Meio
Ambiente – CONAMA. Foram estabelecidos em 1996 a Política Nacional de Recursos
Hídricos, o Sistema Nacional de Gerenciamento de Recursos Hídricos e o Conselho
Nacional de Recursos Hídricos. A partir de 1998, as condutas e atividades que fossem
lesivas ao meio ambiente passam a sofrer sanções penais e administrativas propostas
pela Lei nº. 9.605, conhecida como de Crimes Ambientais.
As Leis e órgãos de que tratamos acima é do ambiente institucional federal. Além
do ambiente mencionado existem mais duas esferas de poder, a estadual e a
municipal. Nos âmbitos estadual e municipal o controle e a fiscalização são de
responsabilidade dos órgãos ou entidades estaduais e municipais, não havendo
hierarquia entre as agências desses dois níveis administrativos, como também desses
para o federal, portanto todas são independentes entre si.
São nos instrumentos de comando e controle da gestão ambiental segundo o Artigo
9 da Lei 6.938 de 1981 que observamos com clareza onde se localiza a questão do
padrão de qualidade relacionado também ao meio urbano. Primeiro, nos quatro
grandes grupos de categorias avaliativas:
Padrões ambientais;
Controle e uso do solo e de outros recursos naturais;
Licenciamento;
Penalidades;
Em segundo lugar nos instrumentos derivados daquele agrupamento através do (a)
(e):
Estabelecimento de padrões de qualidade ambiental;
Zoneamento ambiental;
Avaliação de impactos ambientais;
Licenciamento e a revisão de atividades efetiva ou potencialmente
poluidoras;
Incentivos à produção e instalação de equipamentos e a criação ou absorção
de tecnologia, voltadas para a melhoria da qualidade do meio ambiente;
Criação de espaços territoriais especialmente protegidos pelo poder público
Federal, Estadual e Municipal, tais como áreas de proteção ambiental, de
relevante interesse ecológico e reservas extrativas;
Sistema nacional de informações sobre o meio ambiente;
36
Cadastro Técnico Federal de Atividades e instrumentos de defesa ambiental;
Penalidades disciplinares ou compensatórias ao não cumprimento das
medidas necessárias à preservação ou correção da degradação ambiental;
Instituição do Relatório de Qualidade do Meio Ambiente, a ser divulgado
anualmente pelo IBAMA;
Garantia da prestação de informações relativas ao meio ambiente,
obrigando-se o poder público a produzi-las, quando inexistente;
Cadastro Técnico Federal de atividades poluidoras e/ou utilizadoras dos
recursos ambientais.
Segundo o Artigo 2º da citada Lei,
“A Política Nacional do Meio Ambiente tem por objetivo a preservação,
melhoria e recuperação da qualidade ambiental propícia à vida, visando
assegurar, no País, condições ao desenvolvimento sócio-econômico, aos
interesses da segurança nacional e à proteção da dignidade da vida
humana...”
24
Qualquer meio ambiente urbano, seja qual for sua micro ou macro localização,
contextos e processos histórico-econômicos diferenciados, é fruto da ação humana,
dos aglomerados mesopotâmicos, passando pela Polis grega de Aristóteles, à cidade
pós-industrial. Esta antropogenização do meio ambiente natural vem acompanhada,
modernamente falando, de uma racionalização funcional determinada historicamente
pela evolução de sistemas produtivos e técnicos, decorrentes dos fluxos contraditórios
e de interesses de classes na luta pela sobrevivência, pela reprodução biológica, social
e ideológica. As questões culturais, materiais e espirituais dão significado abstrato
àquele conglomerado construído que, em última análise, segundo nosso entendimento,
trata-se de uma segunda “natureza” a serviço de um juízo de valor que predomina
sobre os demais. É nesse sentido que Massimo Quaini chama a atenção para o fato
das críticas feitas a Marx sobre sua despreocupação com relação à ecologia
25
“Marx...denunciou a espoliação da natureza antes do nascimento de uma
moderna consciência ecológica burguesa.”
26
A percepção dos limites da exploração da natureza ensejada exatamente na época
de ouro do desenvolvimento capitalista nos parece paradoxal, mas é aquela mesma
consciência da qual fala Quaini para ir à defesa de Marx, já quase pós-moderna e
“universalmente” estendida, que dá o alerta e sinaliza para os riscos de um colapso
24
Lei Federal n.º 6.938 de 31 de Agosto de 1981.
25
John Mellamy FOSTER, A ecologia de Marx, materialismo e natureza, p. 23.
26
Massimo QUAINI, Marxismo e Geografia, p.136.
37
global caso continuasse o ritmo acelerado de exploração da natureza. Para reforçar
não será demais citar a observação de Goldemberg e Villanueva amparados em
afirmações do geoquímico V. I. Vernadsky segundo a qual
“...existem hoje 6 bilhões de pessoas na face da terra e cada uma
consome em média 8 toneladas de recursos minerais por ano. Há um
século, a população era de 1,5 bilhão e o consumo era menor do que 2
toneladas per capita. O impacto total hoje é 16 vezes maior (48 milhões
de toneladas). O homem se tornou uma força de proporção geológica, já
que as forças naturais (vento, erosão, chuvas, erupções vulcânicas etc.)
movimentam cerca de 50 milhões de toneladas por ano”.
27
Querendo ou não foi a burguesia industrial, financeira e intelectual, dos países
desenvolvidos que deu os primeiros passos para criar o ambiente crítico que culminou
com as atuais condições institucionais que tentam limitar, em nome de um
desenvolvimento sustentável visando o bem estar das futuras gerações, o abuso
perpetrado pelo não menos também necessário crescimento econômico,
principalmente para àquele conjunto de países conhecidos como do terceiro mundo ou
em desenvolvimento, em cujo último grupo se encontra o Brasil.
A Política Nacional do Meio Ambiente no Brasil surge num contexto autoritário, mas
com visíveis sinais de cansaço, daí porque aquela altura se apregoava uma “abertura
lenta gradual e segura”. Talvez tenha sido o reconhecimento do furor destrutivo do
“milagre brasileiro” da década de 70 que só apresentou resultados positivos para os
que já eram privilegiados e as pressões externas, que tenham levado o Estado
brasileiro a adotar posturas condizentes com a nova realidade global. O esfriamento
das tensões entre os dois blocos hegemônicos e o surgimento do movimento
ambientalista a nível mundial favoreceram o ambiente para a formulação de políticas
voltadas para a idéia de sustentabilidade, até porque a questão ambiental não ficava
mais restrita a preservação do que ainda não fora tocado pela mão humana. Neste
sentido, os princípios elencados no Artigo Segundo da Lei supracitada pressupõe os
seguintes objetivos:
A compatibilização do desenvolvimento econômico-social com a preservação
da qualidade do meio ambiente e do equilíbrio ecológico;
A definição de áreas prioritárias de ação governamental, relativa à qualidade
e ao equilíbrio ecológico, atendendo aos interesses da união, dos Estados,
do Distrito Federal, dos Territórios e dos Municípios;
27
José GOLDEMBERG, Luz Dondero VILLANUEVA, Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento, p. 72.
38
Ao estabelecimento de critérios e padrões de qualidade ambiental e de
normas relativas ao uso e manejo dos recursos ambientais;
Ao desenvolvimento de pesquisas e de tecnologias nacionais, orientadas
para o uso racional dos recursos ambientais;
A difusão de tecnologia de manejo do meio ambiente, e à divulgação de
dados e informações ambientais e à formação de uma consciência pública
sobre a necessidade de preservação da qualidade ambiental e do equilíbrio
ecológico;
A preservação e restauração dos recursos ambientais, com vistas à sua
utilização racional e disponibilidade permanente, concorrendo para
manutenção do equilíbrio ecológico propício à vida;
A imposição ao poluidor e ao predador da obrigação de recuperar e/ou
indenizar os danos causados e, ao usuário, da contribuição pela utilização de
recursos ambientais com fins econômicos.
Ora, diante disto e considerando que é nas cidades brasileiras que se concentra
82% (oitenta e dois por cento) da sua população e é naquele ambiente que as pessoas
passam o maior tempo de suas vidas, tudo que acima foi descrito converge, sem
esquecer que sem o meio rural o urbano não existiria, para o fato de que, ainda que
seja a preocupação centrada na preservação do aspecto natural da paisagem e na
manutenção equilibrada dos recursos naturais para o uso racional e coletivo, o fim
último é o conjunto da sociedade. Fica, portanto, rejeitada, neste trabalho, a idéia
“tatcheana” de que o que existe é o indivíduo e não a sociedade. O espírito da rua é o
espírito do coletivo, diferentemente daquele representado pelo espaço da casa, que
significa o privado, o âmbito da família, matriz da sociedade civil de Hegel. O
movimento, o ir e vir são pressupostos de uma liberdade, de um direito, de uma
condição cidadã, mas isto não implica em exceção por aqueles que se julgam
diferenciados socialmente, daquele que por motivos historicamente definidos, ainda
não alcançou sua condição plena de cidadania. A locomoção das pessoas nas ruas
revela uma face do problema e o transporte público coletivo é o “balão” deste ensaio.
POLÍTICAS PÚBLICAS E TRANSPORTE URBANO
A dimensão pública pressupõe imediatamente a figura do Estado. Mas este é o
reflexo do sistema econômico e político sobre o qual se ergue. Do ponto de vista
39
prático podemos destacar três espécies de políticas que estão na base da ação estatal:
uso do solo que envolve as categorias industrial, comercial e residencial; a dos
equipamentos públicos como escolas, hospitais e áreas de lazer, e a infra-estrutura de
circulação que importa no transporte e no tráfego. Tais políticas quando da sua
formulação e implementação poderão sofrer influência do setor privado. Torna-se
relevante destacar que no caso do uso do solo e dos serviços públicos verifica-se a
interferência do capital financeiro, da indústria da construção civil e do setor de renda
imobiliária. Em se tratando da infra-estrutura de circulação surgem como coadjuvantes
a indústria automobilística e aqueles que operam os sistemas de transportes (FIGURA
4).
Como se vê e nos fala Vasconcellos
“A ação do Estado não é isolada, independente. Ela resulta de uma série
de demandas e respostas que se influenciam mutuamente. As políticas
públicas resultam assim, de duas articulações como movimentos
simultâneos e organicamente relacionados: a primeira entre os conflitos
internos ao Estado e a segunda entre os interesses do Estado e da
sociedade”.
28
As políticas de transporte e trânsito são fortemente influenciadas pelas classes
dominantes uma vez que aquelas gerenciam o processo produtivo cujos resultados
interferem diretamente na vida das pessoas. Ainda que o Estado seja o ator central no
28
Eduardo Alcântara VASCONCELLOS, Transporte Urbano, espaço e eqüidade. Análise das políticas públicas, p.
57.
40
que se refere às políticas públicas, que sua autonomia política e social seja
reconhecida, estas são o resultado também da ação de vários agentes. Harvey (1985:
186) salienta que a reprodução social é produto da criação de determinado espaço
social. O controle sobre tal criação implica em manter o poder sobre a forma de
reprodução. Harvey (1989: 226) ainda destaca que algumas normas do jogo social são
fixadas na medida em que existe um gerenciamento coordenado do valor monetário, do
tempo e do espaço. Àqueles setores não dominantes, entretanto, têm, segundo
Vasconcellos
“...ao menos duas formas de poder para proteger seus interesses: a
oposição ao poder dominante – por forma variadas de representação e
ação política – e a interferência direta na produção do espaço, por
brechas ou até formas ilegais de ocupação e uso do solo”.
29
Os ambientes construídos apresentam combinações específicas de produção,
reprodução e circulação, o que implica num determinado tipo de acessibilidade no
espaço, produzindo uma rede de deslocamentos e distâncias que serão percorridas em
função do papel que cada indivíduo desempenha. O espaço e o tempo na lógica da
reprodução capitalista são dimensões mercadológicas, daí porque se usar o termo
consumo para se referir àquelas duas categorias. Ainda que para Schopenhauer
30
o
tempo e o espaço sejam princípios da razão e relacione o primeiro à sucessão e o
segundo a posição, classificando-os como representações e conceitos, produtos de
estágios da intuição no processo de construção da abstração, faz-se necessário
acrescentar que, do ponto de vista filosófico não especulativo àqueles mediam,
concretamente, as relações das pessoas na participação das atividades em sociedade.
São nestas duas dimensões, acrescentando a material que para aquele filósofo está
para a causalidade, que se dá a reprodução social, seja por motivos biológicos, físicos
ou sociais.
“O processo de reprodução requer o desempenho de várias atividades
de consumo, por meio das quais as pessoas obtêm um bem que é
destruído no processo ou um serviço que é utilizado”.
31
São as condições sociais, econômicas, culturais e políticas dos agentes que vão
definir que tipos de atividades estes desempenham. A família, a religião, a escola, a
comunidade, são dimensões complementares à econômica. A reprodução social vem
29
Eduardo Alcântara VASCONCELLOS, Transporte Urbano, espaço e eqüidade. Análise das políticas públicas, p.
46.
30
Artur SCHOPENHAUER, O mundo como vontade e representação.
31
Eduardo Alcântara VASCONCELLOS, Transporte Urbano, espaço e eqüidade. Análise das políticas públicas, p.
36.
41
da manifestação de desejos que são traduzidos nas atividades desempenhadas pelos
indivíduos. Observe-se que toda atividade pressupõe algum tipo de deslocamento e
este não é fixado por fatores biológicos, o que determina a natureza e o nível de
consumo do espaço são os fatores sociais, políticos e econômicos, e tal nível varia em
função da classe social, da região ou do país do indivíduo. As necessidades do
transporte estão diretamente relacionadas a tais condições.
Como já salientamos acima, a mobilidade das famílias de renda baixa é limitada e o
consumo do espaço de circulação é reduzido, o que não é o caso das famílias ricas,
pois o uso do automóvel lhes dá a possibilidade de consumir mais espaço ao ter maior
autonomia financeira para tal. Quando estabelecem os roteiros de deslocamento, as
pessoas comparam suas necessidades às demais condições existentes, levando em
consideração, principalmente, a disponibilidade de recursos econômicos. Daí nascem
as estratégias de deslocamentos de acordo com os respectivos balanços e
conveniências. Um exemplo recentemente verificado no âmbito do STPP/RMR foi a
redução da tarifa aos domingos, motivo pelo qual a procura pelo modal ônibus vem
apresentando um crescimento constante. No Mês de abril de 2006, por exemplo, a
demanda foi de 531.822 passageiros, enquanto
42
TABELA 3. CARACTERÍSTICAS PRINCIPAIS DAS AÇÕES RELATIVAS ÀS POLÍTICAS DE
TRANSPORTE E TRÂNSITO.
Ação Natureza Componentes
Provisão
Organização e fornecimento
da infra-estrutura e dos meios
de circulação.
Legislação geral; vias,
calçadas, terminais, e
veículos (características
físicas e simbólicas).
Regulamentação Definição de regras de uso. Regulamentações e códigos.
Operação
Funcionamento da infra-
estrutura e dos meios de
circulação.
Recursos, logística e regras.
Controle
Acompanhamento da
operação; fiscalização dos
usuários.
Recursos, logística e regras.
Apropriação
Impactos e efetividade
objetiva, subjetiva e
substantiva;
Uso efetivo da infra-estrutura
e dos meios de circulação.
Dados quantitativos.
Comportamento dos usuários.
FONTE: E. A. VASCONCELLOS. Transporte urbano, espaço e eqüidade. Análise das políticas
públicas, p. 51.
Dentre os problemas do transporte público por ônibus, um ganha destaque aqui,
que é o da prioridade. A idéia de priorização do transporte público tem ganhado a
adesão daqueles que pensam as políticas urbanas, mas têm sido tímidas as ações
efetivas e o que se observa e se constata é o contrário, ganha força as ações que
privilegiam o transporte motorizado individual. As políticas que defendem a tese da
prioridade para o modal em tela elegem algumas questões fundamentais tais como: a
destinação preferencial de recursos públicos para aplicação em transporte coletivo; as
restrições ao uso do transporte individual a fim de reduzir seus efeitos negativos sobre
a cidade e o transporte de massa; e já como efeito, o aumento da eficiência na
operação do transporte coletivo na medida em que as integrações operacionais e
tarifárias tornam-se possíveis.
Resumidamente, as medidas de prioridade se referem
“...a tipos especiais de tratamento das vias, da sinalização e de outras
facilidades que visam criar condições privilegiadas para a circulação do
transporte coletivo no sistema viário urbano. É o que se conhece
usualmente como vias e faixas de tráfego de uso exclusivo dos veículos
de transporte coletivo, com dispositivos de sinalização, sobretudo
43
semafórica, que dão preferência de passagem aos fluxos de veículos
coletivos nos cruzamentos”.
32
A promoção do transporte coletivo através de políticas públicas específicas como a
priorização é um caminho para uma política de sustentabilidade das cidades
brasileiras, portanto a adoção de tais medidas não deixa de ser também aspectos de
uma política ambiental na medida em que pode ajudar na redução dos
congestionamentos, das emissões de gases, de ruídos, de acidentes de trânsito, etc.
Cabe destacar ainda que por trás destas questões esteja o modelo atual de mobilidade
urbana, fortemente lastreado no transporte particular, sobretudo e principalmente na
motocicleta e no automóvel. Para se ter uma idéia, o índice de motorização privada nas
cidades brasileiras aumentou de 9 (nove) veículos para cada grupo de 100 (cem)
habitantes em 1980 para cerca de 17 (dezessete) em 2000. A julgar pelo aumento das
vendas de automóveis no período de 1990 a 2001 que foi de 128% (cento e vinte oito
por cento), é de se prever um futuro urbano caótico.
O transporte coletivo ainda responde pela maior parte dos deslocamentos
motorizados nas cidades, em torno de 60% (sessenta por cento) contra 40% (quarenta
por cento) do transporte privado, entretanto, tal relação vem se invertendo ano a ano.
Para se ter uma idéia, em pesquisa recente da NTU (Associação Nacional das
Empresas de Transportes Urbanos) nas principais capitais brasileiras incluindo a
Região Metropolitana do Recife e as Regiões Metropolitanas de Curitiba e Porto Alegre
que tenham sistemas de transporte coletivo reconhecidamente de excelência,
constatou-se que entre 1994 e 2001 ocorreu uma perda de passageiros da ordem de
25%. Caso isto se sustente por muito tempo, às condições ambientais das cidades irão
piorar. Para acumular o problema, os governos locais incentivam o transporte privado
quando privilegiam a indústria automobilística através de benefícios diretos e indiretos,
entre os quais aqueles de natureza fiscal.
Apesar da tendência de declínio, o transporte coletivo ainda responde por 59%
(cinqüenta e nove por cento) das viagens motorizadas nas cidades brasileiras contra
41% (quarenta e um por cento) do transporte privado. A continuar o crescimento da
motorização particular, os congestionamentos, a poluição e os acidentes tendem a
reduzir a eficiência social da cidade, uma vez que o transporte coletivo apresenta
menor consumo de combustível e consequentemente de energia, como também ocupa
32
Mauricio CADAVAL, Carlos Henrique R. CARVALHO, Prioridade para o transporte coletivo urbano. Relatório
Técnico, p. 7.
44
menos espaço viário, além de emitir menos gases e partículas poluentes, como mostra
a tabela abaixo (TABELA 4).
TABELA 4. INDICADORES COMPARATIVOS ENTRE ÔNIBUS, MOTOCICLETAS E
AUTOMÓVEIS.
INDÍCES RELATIVOS POR PASSAGEIRO/KM (1)
MODO
ENERGIA
(2)
POLUIÇÃO
(3)
CUSTO
TOTAL
ÁREA DE
VIA
ONIBUS 1 1 1 1
MOTOCICLETA 4,6 32,3 3,9 4,2
AUTOMÓVEL 12,7 17,0 6,4 6,4
Fonte: ANTP Associação
Nacional de Transportes
Públicos – Desenvolvimento
Urbano, Transporte e Trânsito
no Brasil. Propostas para
debate, p. 11.
(1) Ocupação de 50 pessoas
por ônibus, 1 por moto e 1,3 por
automóvel.
(2) Base calculada em gramas
equivalentes de petróleo (diesel
e gasolina).
(3) Monóxido de Carbono (CO),
hidrocarbonetos (HC), óxidos
de nitrogênio (NOx) e material
particulado (MP).
(4) Custos totais, fixos e
variáveis.
As motocicletas emitem poluentes 32 (tinta e duas) vezes mais e consome 5 (cinco)
vezes mais energia por passageiro do que os ônibus. 17 (dezessete) vezes mais e 13
(treze) vezes mais os automóveis poluem e gastam energia respectivamente do que os
ônibus (Tabela 4).
Diante dos fatos será preciso reforçar a diferença de eficiência entre os automóveis
e os ônibus no que se refere à quantidade de pessoas transportadas e a sua relação
com o consumo do espaço viário. Em pesquisa realizada pela CNT – Confederação
Nacional dos Transportes nas 11 (onze) maiores cidades brasileiras em 2002, revela-
se, como mostra a TABELA 5, o caráter antidemocrático do uso do espaço viário no
meio urbano.
TABELA 5. ESPAÇO CONSUMIDO E PASSAGEIROS TRANSPORTADOS.
MODO
PASSAGEIROS TRANSPORTADOS POR
ESPAÇO DE VIA
ÍNDICE DE
EFICIÊNCIA
AUTOMÓVEL = 1,00
AUTOMÓVEL 1% DE VIA – 0,35% DOS PASSAGEIROS 1,0
VANS E
PERUAS
1% DE VIA – 1,00% DOS PASSAGEIROS 2,8
ÕNIBUS 1% DE VIA – 2,80% DOS PASSAGEIROS 7,9
FONTE: CNT – PESQUISA CNT. PASSAGEIROS NOS CORREDORES DE TRASNPORTE, p. 23.
45
Em 2002, a SEDU (Secretaria Especial de Desenvolvimento Urbano da Presidência
da República) divulgou as propostas para a Política Nacional de Transporte Urbano,
em cujo conteúdo encontra-se em destaque a questão da priorização da circulação
para o transporte coletivo nos sistemas viários principais das cidades brasileiras com
população acima de 100.000 (cem mil) habitantes. Tais propostas correspondem à
preparação das bases do Programa Nacional de Prioridade do Transporte Coletivo
Urbano que deverá ser efetivamente implantado nos próximos dois anos.
A Política Nacional de Transporte Urbano passa a ser assim um imperativo para
cristalização dos objetivos a nível nacional referentes à melhoria da qualidade de vida
nas cidades, o que levará a uma maior eficiência do processo econômico. Tanto mais
complexa fica a realidade urbana no Brasil, mais necessária se torna uma política que
possa estabelecer metas, fixar prazos, disponibilizar recursos, ser descentralizada e
que ao mesmo tempo articule todos os agentes envolvidos na questão relacionada a
transporte e circulação.
A TABELA 6 elege os indicadores que balizam uma política nacional de transporte
urbano, cujas metas apontariam para a qualidade no transporte, no meio ambiente
urbano, na circulação, no gerenciamento, como também na eficiência energética e na
segurança da circulação.
TABELA 6. INDICADORES DA POLÍTICA NACIONAL DE TRANSPORTE URBANO.
ÁREA INDICADOR REPRESENTAÇÃO
Qualidade no Transporte
Público
Acesso físico (rede)
Acesso econômico (tarifa)
Tempo de acesso e espera
Tarifa x Renda
Conforto no Sistema
Informação
Integração
Confiabilidade
Acesso de grupos especiais
Segurança Acidentes Índices de acidentes
Meio ambiente Poluição Níveis de poluição
Urbanismo Uso do solo
Compatibilidade entre
uso/ocupação do solo e
sistema de transporte
Circulação Fluidez Velocidade e retardamentos
Energia Consumo Energia por passageiro
Gestão Eficiência
Coordenação Institucional,
mecanismo de controle
FONTE: ANTP, 2002.
46
JUSTIFICANDO O TRABALHO
A relação entre circulação e transportes é direta, daí porque a necessidade de tratá-
los integradamente. O caso da RMR (Região Metropolitana do Recife) é exemplar, pois
os grandes corredores são definidos como estruturais para o transporte coletivo.
“Tanto na circulação como no sistema de transporte metropolitanos
existem deficiências de diversas naturezas, que redundam numa
limitação da mobilidade e da acessibilidade de seus habitantes e
visitantes. Este problema vem se agravando com os altos índices de
motorização da população e com a baixa capacidade de investimentos
na expansão da infra-estrutura de transportes.”
33
A malha viária do município do Recife por onde circulam os ônibus do STPP-RMR
compreende uma extensão de 344,74 km (MAPA 1), desses, apenas 12,35 km, ou
seja, cerca de 3,5%, são vias que tem algum tipo de prioridade para o transporte
coletivo (MAPA 2). Entretanto, dos 12,35 km, só 9,26 km dispõe de faixa exclusiva e
respectivo equipamento urbano para funcionamento pleno da respectiva tecnologia
(MAPA 3).
A TABELA 7 resume as informações básicas sobre as vias que compõe o conjunto
daquelas que dispõe de alguma característica de exclusividade para a operação
priorizada de linhas do STPP/RMR. As FIGURAS 5, 6, 7 e 8 micro localizam as vias
relacionadas na tabela abaixo.
TABELA 7 - RELAÇÃO DAS VIAS QUE DISPÕE DE ALGUM TIPO DE PRIORIDADE PARA O TRANSPORTE PÚBLICO COLETIVO
POR ÔNIBUS MUNICÍPIO DO RECIFE
EXTENSÃO (m) CARACTERÍSTICAS FÍSICAS
LOGRADOURO
CATEGORIA
FUNCIONAL
TOTAL
TRECHO C/
PRIORIDADE
%
CANTEIRO
CENTRAL
Nº. DE
FAIXAS
TIPO DE
PAVIMENTO
AV. CAXANGÁ
ARTERIAL
PRINCIPAL
5.897,50 5.897,50 100
SIM
06
CBUQ
PL. CONCRETO
AV. CRUZ
CABUGÁ
ARTERIAL
SECUNDÁRIA
2.315,12 1.026,85 45 NÃO 04 CBUQ
AV. H.
BANDEIRA
ARTERIAL
PRINCIPAL
1.501,93 1.280,00 85 NÃO 04 CBUQ
AV. SÃO
MIGUEL
ARTERIAL
PRINCIPAL
2.282,56 318,68 15 NÃO 04 CBUQ
AV. SUL
ARTERIAL
SECUNDÁRIA
2.468,60 2.468,60 100 SIM 02 PL. CONCERTO
AV. DANTAS
BARRETO
ARTERIAL
SECUNDÁRIA
901,67 901,67 100 SIM 04 CBUQ
RUA JOÃO LIRA LOCAL 457,46 457,46 100 NÃO 04 CBUQ
TOTAL 15.824,24 12.350,76 78
MONTAGEM DO AUTOR A PARTIR DE LEVANTAMENTO DE CAMPO
33
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p. 178.
47
48
49
50
51
52
53
54
O índice de motorização da cidade do Recife vem apresentando, como a média
brasileira, picos relativamente preocupantes e isto se revela na cada vez mais
acentuada constatação de pontos nodais com problemas de congestionamentos,
responsáveis diretamente por problemas ambientais (MAPA 4). A frota de automóveis
no Brasil, passou de 430.000 (quatrocentos e trinta mil) em 1950 para 25.000.000
(vinte e cinco milhões) em 1996. Conforme mostra a TABELA 8, o índice de
motorização no país subiu de 122 (cento e vinte e dois) habitantes por veículo, para 6
(seis) no mesmo período.
TABELA 8 – ÍNDICE DE MOTORIZAÇÃO NO BRASIL
PERÍODO 1950/1996
ANO VÉICULOS POPULAÇÃO HAB/VEICULO
1950 426.621 51.931 122
1960 987.613 70.991 72
1970 3.111.890 93.139 30
1980 10.731.695 119.099 11
1990 15.932.848 143.395 9
1996 25.336.260 152.374 6
FONTE: ANTP, 2002. MONTAGEM DO AUTOR.
No mesmo período, a frota veicular do município do Recife cresceu de 3.500 (três
mil e quinhentos) em 1950, para 327.727 (trezentos e vinte sete mil, setecentos e vinte
e sete) veículos em 1996, considerando que em 2006 esta frota conta com 424.555
(quatrocentos e vinte e quatro mil, quinhentos e vinte e cinco) veículos. Na relação com
a população o índice de motorização cai de 149 (cento e quarenta e nove) para 4,10
(quatro vírgula dez) habitantes por veículo no período entre as décadas de 50 e
meados da de 90.
TABELA 9 – ÍNDICE DE MOTORIZAÇÃO NO MUNICÍPIO DO RECIFE
PERÍODO 1950/1996 – 2006
ANO VÉICULOS POPULAÇÃO HAB/VÉICULO
1950 3.500 524.682 149
1960 10.500 788.336 75
1970 43.782 1.060.701 24
1980 115.838 1.203.899 10
1990 203.608 1.285.150 6
1996 327.727 1.346.045 4
2006 404.555 1.531.684 3,78
FONTES: DENTRAN/PE, 2006; ATLAS AMBIENTAL DA CIDADE DO RECIFE, 2000; ANTP,
2002. MONTAGEM DO AUTOR
55
Como se vê, os números revelam uma das faces do processo econômico
brasileiro. Parece contraditório o fato de o Brasil deter uma das piores distribuições de
renda do mundo e, no entanto, apresentar um crescimento da sua frota de veículos
56
dessa magnitude. Mas tem uma explicação, a “estabilidade” econômica a partir de
1995 ensejou uma demanda de bens de consumo variados pelas classes menos
favorecidas que vinham sofrendo com os períodos inflacionários, como também com a
classe média por automóveis, na medida em que a indústria automobilística passou a
oferecer carros compactos a preços mais “reduzidos” com possibilidades de
financiamento a longo prazo. Junto a tudo isto, quando as dificuldades para importação
de veículos foram suspendidas, o estrato da classe mais rica, voltou a consumir com
voracidade os carros fabricados no exterior. Nesse ínterim, caiu abruptamente a busca
pelo uso do transporte público.
Verifica-se uma tendência da expansão da população urbana e consequentemente
da frota de veículos. Estima-se que nos próximos 4 (quatro) anos a população urbana
cresça em média 2,5% e que no mesmo período a frota de veículos tenha um
crescimento de 4%, o que, em termos nominais representa um incremento de 54
(cinqüenta e quatro) milhões de indivíduos e 20 (vinte milhões) de automóveis
(GRÁFICO 1).
Será preciso mencionar, entre outras razões para uma justificativa para o presente
ensaio, que a frota de veículos automotores cadastrados no Estado de Pernambuco
hoje é de, aproximadamente, 1.091.000 (um milhão e noventa e um mil), com um
incremento anual da ordem de 9,0%. Desse total, estima-se que 60% circulem na
57
Região Metropolitana do Recife, o equivalente a 660 mil veículos, com um acréscimo
médio mensal de 1100 (mil e cem) só na cidade do Recife. Segundo a Agência
Estadual de Meio Ambiente e Recursos Hídricos – CPRH
34
, a contribuição percentual
para os valores da estimativa de emissão de poluentes atmosféricos provenientes da
frota mencionada acima baseadas em dados do DETRAN/PE encontra-se assim
distribuída: 16,7% veículos à gasolina; 1,2% a álcool; 8,1% à diesel; 12,3% para os
táxis e 9,8% para motocicletas e similares. Ainda segundo dados do DETRAN/PE, será
necessário, para efeitos de se avaliar a importância dessas fontes móveis de poluição
registrar que, só pelos corredores de tráfego representados pela Avenida Engenheiro
Domingos Ferreira no bairro de Boa Viagem e a Avenida Governador Agamenon
Magalhães, circulam, em dias úteis, próximo de 50.000 (cinqüenta mil) veículos.
Importante salientar também que a contribuição do combustível fóssil diesel tem uma
participação destacada no conjunto daqueles poluentes, sendo este o usado pela frota
de ônibus que compõe o Sistema de Transportes Públicos de Passageiros da Região
Metropolitana do Recife. Da frota de veículos circulantes na RMR, apenas 2.434 (dois
mil, quatrocentos e trinta e quatro) veículos são ônibus que operam o Sistema de
Transporte Público de Passageiro da Região Metropolitana do Recife, representando
0,2% do total do Estado e 0,37% da frota circulante na RMR. De acordo com os dados
do Departamento de Estatísticas do órgão responsável pelo gerenciamento do
transporte coletivo na RMR, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos –
EMTU/Recife, estes 2.434 (dois mil, quatrocentos e trinta e quatro) ônibus transportam
diariamente, 1.433.383 (um milhão quatrocentos e trinta e três mil, trezentos e oitenta e
três) passageiros, com uma performance de 24.257 (vinte e quatro mil, duzentos e
cinqüenta e sete) viagens por dia, percorrendo um total diário de 729.000 (setecentos e
vinte e nove mil) quilômetros.
O problema da mobilidade relacionado à oferta adequada dos serviços públicos de
transporte coletivo não tem sido, como a questão alimentar, do emprego, da habitação,
dos serviços da saúde e da educação, estudado em sua relação com a pobreza.
Entretanto, a busca do emprego, a ida aos locais de moradia e de oferta dos serviços
essenciais depende diretamente das condições de transporte, daí que a questão da
mobilidade deve ser vista como um dos agravantes da exclusão social e da pobreza.
Como já foi salientado, a queda crescente no número de passageiros no transporte
público já é um indicador de que a mobilidade nas grandes cidades brasileiras passou
34
Agência Estadual do Meio Ambiente e dos Recursos Hídricos – CPRH, Qualidade do ar na região metropolitana
do Recife 1998.
58
a ser um problema. O Instituto de Desenvolvimento e Informação em Transporte –
ITRANS realizou uma pesquisa em 2003 em quatro Regiões Metropolitanas do Brasil,
incluindo a do Recife que detectou que a mobilidade tem diminuído, principalmente,
nas camadas das classes D e E (GRÁFICO 2). Tal grupo é o mais vulnerável da
população urbana, pois dispõe de menos alternativas de transporte motorizado, sendo
o mais negativamente afetado na sua condição de vida pelos problemas acima citados.
Entretanto, é exatamente nesse grupo que encontramos um potencial para o
desenvolvimento dos transportes coletivos, não obstante sua renda baixa, pois
segmentos das classes A e B, ou seja, a classe média urbana apresenta forte
tendência para o consumo do espaço viário em meio de locomoção privado, o que leva
a insustentabilidade urbana como já asseveramos, daí porque a necessidade de buscar
priorizar o transporte público coletivo através de medidas como as de implantação de
mecanismos de exclusividade. Se sustentabilidade urbana envolve todos os aspectos
da vida social e econômica, se um meio ambiente urbano equilibrado e justo é
premissa também dessa sustentabilidade, se política ambiental inclui também tais
variáveis, justifica-se incluir num estudo dessa natureza a dimensão que envolve a
movimentação das pessoas em determinado espaço construído.
Todo o esforço de pesquisa e estudo que for direcionado no sentido da inclusão
social através da racionalização do espaço urbano, da busca da equidade no consumo
do espaço viário, na redução dos impactos ambientais e na degradação das condições
do conjunto da paisagem física e social e toda forma de análise que redunde em
contribuição para a reflexão política e transformação social justifica-se por si mesma,
59
daí porque consideramos que as razões expostas acima, ainda que tímidas e sumárias,
considerando os limites impostos pela realidade das condições de pesquisa no Brasil,
são suficientes para justificar a iniciativa proposta pelo trabalho de então.
Reconhecemos desde já que as intervenções que até hoje foram efetivadas no
âmbito do transporte público na RMR não foram em vão, mas o problema é que não
foram suficientes para resolver o impasse que envolve a maioria das pessoas,
particularmente para os que não têm acesso ao transporte privado. Ao problema da
insuficiência oferta de transporte com qualidade, somam-se o problema da
desigualdade no tocante a acessibilidade, dos altos índices de acidentes de trânsito,
dos congestionamentos, da poluição ambiental, da invasão dos espaços habitacionais
e de convívio coletivo por tráfego inadequado.
OBJETIVOS
O objetivo geral do presente estudo é conhecer o Sistema de Transportes Público
de Passageiros da Região Metropolitana do Recife – STPP/RMR, seu processo de
desenvolvimento com as implicações que lhe são inerentes e sua relação com a
questão político e socioambiental decorrente da sua função na articulação do espaço
urbano metropolitano.
Especificamente, o trabalho objetiva:
a) Destacar a questão da prioridade do transporte público coletivo através do
estudo do aspecto da exclusividade no uso do espaço viário urbano do Recife.
b) Identificar a relação entre prioridade e equidade no contexto da circulação viária
urbana do Recife tendo como parâmetro de mobilidade para o transporte
coletivo público por ônibus, o corredor exclusivo.
c) Estudar a experiência da implantação e operação do corredor exclusivo da
Avenida Caxangá e sua importância relativa a funcionalidade do sistema e seus
impactos positivos no que se refere a mitigação dos efeitos danosos provocados
pela circulação crescente de veículos.
d) Analisar, a partir da perspectiva de uma política pública, a adoção de medidas
de prioridade para o transporte público coletivo por ônibus em vias de grande
impacto como elemento de uma política ambiental que democratize o espaço
viário urbano, viabilizando uma política de sustentabilidade em meio urbano.
60
PROCEDIMENTOS METODOLÓGICOS
O grande desafio para o estudo que envolve transporte urbano é superar o mito de
que tal tema é assunto exclusivo da engenharia de transportes. Este dilema é
comentado por Vasconcellos ao tentar explicar as razões das resistências quanto a
uma sociologização do transporte nos seguintes termos:
“Esta tentativa não é nova e vem enfrentando obstáculos de toda
natureza. Conforme salientado por Town (1981), as dificuldades para
ligar engenharia, sociologia e ciência política podem ser atribuídas a
vários fatores e alternam-se entre a falta de interesse de um lado e a
tentativa de “sociologizar” o transporte de outro”.
35
Se o problema é a ausência de um elemento mediador, podemos propor que o
estudo do meio ambiente, reconhecendo nossa condição de humilde principiante, a
ecologia enquanto ciência poderia exercer este papel e transgredir a idéia de que a
oferta de transporte é uma coisa pragmática que parte única e exclusivamente das
técnicas de engenharia que envolve construção e gerenciamento, daí porque se
consolidou a cultura entre os engenheiros, talvez influenciados pelo rígido processo de
formação, de que a questão social e política devam ser tratadas em separado quando
se tratar de transporte, uma vez que esta última é assunto exclusivo da técnica e da
tecnologia, do cálculo, por assim dizer. Salienta Vasconcellos que
“...a sociologia geralmente vê o transporte apenas como um instrumento,
não um fim em si mesmo, com pouco ou nenhum efeito sobre os valores
das pessoas, ao contrário da educação e da religião.”
36
O enfoque vem mudando no entendimento de Vasconcellos, na medida em que
“...as políticas de transporte urbano constituem instrumentos muito
importantes para gerenciar o crescimento das cidades de forma eficiente
e sustentável, mas com uma preocupação social clara: as políticas de
transporte podem ser usadas para “reduzir os graus de desigualdade (...)
(e) para suprimir as tendências de reprodução intergeracional e espacial
da pobreza”.
37
Tudo isto, ainda segundo Vasconcellos não poder ser feito se os parâmetros
continuarem a serem os mesmos, ou seja, àqueles tradicionais. Tais metodologias só
reproduzem as desigualdades que para àquele só servem para
35
Eduardo Alcântara VASCONCELLOS, Transporte Urbano, espaço e eqüidade. Análise das políticas públicas, p.
15.
36
Ibid., p. 15.
37
Eduardo Alcântara de VASCONCELLOS, Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e
propostas, p. 13.
61
“...orientar um crescimento urbano ineficiente em termos ambientais e
excludentes em termo sociais”.
38
Aqui, a questão, para efeitos de construção deste trabalho, foi adotada aquela
metodologia própria do estudo ambiental, ou seja, sua familiaridade com a
interdisciplinaridade para não usar a expressão que ainda vem sofrendo certos
preconceitos, Holismo. Portanto, fazem parte desta investigação todas às disciplinas,
em maior ou menor grau, dos vários ramos das Ciências humanas, auxiliados pelos
das ciências a quem compete à interpretação numérica do fenômeno estudado. Mas
uma advertência se faz necessário: o trabalho aqui empreendido está mais para um
ensaio reflexivo emoldurado por elementos bibliográficos e técnicos do que para um
rigoroso trabalho técnico-científico que apresentasse resultados absolutos sobre a
temática.
Trata-se de um trabalho aberto e não se pretende acabado.
A questão estudada requereu um envolvimento amplo na busca de informações
pelo processo de desenvolvimento urbano da Região Metropolitana do Recife, sua
gênese, sua complexidade, e ao se investigar a questão dos fluxos representados
pelas formas de deslocamento desde o mais remoto uso do palanquim, passando pelos
bondes puxados por burros, até a complexa rede de transportes integrados como o
rodoviário e o metroviário que transportam hoje cerca de um milhão e seiscentos mil
passageiros por dia.
A pesquisa na sua primeira fase consistiu em reunir a bibliografia básica e destacar
aquele material que fosse indispensável, incluindo a parte que trata de uma teoria geral
sobre o fenômeno urbano na sua forma mais genérica. Castells, Munford, Benévolo,
Harvey, Santos, Kovarik, Singer, Weber, entre outros, fundamentam esta fase. Na sua
segunda fase, o mergulho na produção local, tanto histórica e geográfica, econômica e
urbanística cujos nomes de Gilberto Freyre, Manoel Correia de Andrade, Josué de
Castro, Antônio Paulo Rezende, Antônio Gonsalves de Mello, Antônio Bezerra Baltar,
Geraldo Santana, Tânia Barcelar, Jan Bitoun como outros, encabeçam uma lista de
nomes cuja produção acadêmica já os credencia como autoridades reconhecidamente
competentes no estudo das questões urbanas como são os casos também de Edvânia
Torres, Noêmia Zaidan, Everaldo da Rocha Gadêlha, Joel Outtes, Luciano Lacerda
Medina e outros.
38
Eduardo Alcântara de VASCONCELLOS, Transporte urbano nos países em desenvolvimento: reflexões e
propostas, p. 13.
62
Mas não menos importante foi a pesquisa institucional que diz respeito aquela
produção dos órgãos que planejam o espaço urbano, como a Agência Estadual de
Planejamento e Pesquisa de Pernambuco / CONDEPE – FIDEM, a Prefeitura da
Cidade do Recife, a Empresa de Urbanização do Recife – URB, aquelas que
gerenciam outros serviços comuns como a Companhia de Transportes e Trânsito
Urbano, a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos – EMTU/Recife, a Empresa
de Limpeza e Manutenção Urbana – EMLURB, a Agência Estadual do Meio Ambiente e
dos Recursos Hídricos de Pernambuco – CPRH, as Universidades Federais de
Pernambuco.
A terceira fase da pesquisa constou do levantamento de campo através do
conhecimento “in loco” do principal objeto pesquisado, momento em que foram
realizadas as pesquisas de opinião e a documentação fotográfica, como também o
levantamento da ocupação do solo de suas margens, as condições das calçadas, a
sinalização vertical e horizontal de trânsito, a semaforização, as condições físicas e
operacionais e estéticas, as observações relativas ao comportamento do tráfego suas
interações e conflitos, as dimensões, sua extensão e larguras, as coordenadas
geográficas.
A quarta fase resultou da formação da base cartográfica utilizando um software de
GIS – Geografic Information System (SIG – Sistemas de Informações Geográficas)
aplicado a planejamento de transporte, o TRANSCAD, cuja produção dos mapas
utilizou como fonte a restituição aerofotogramétrica por meio digital das Unibases
Unidades das Bases Cadastrais da FIDEM, montadas a partir do uso do AutoCad
versão 2006, às quais se somam as informações cartográficas e estatísticas do Atlas
de Desenvolvimento Humano da Cidade do Recife. A formatação da rede de vias por
onde circulam os ônibus do STPP/RMR foi construída mediante o conceito de arquivo
geográfico de linhas que são unidades gráficas dotadas de “id’s” ao qual se associam
os bancos de dados com as informações relativas às suas especificidades. Uma vez
montada a rede de vias, foi gerada uma rede (network) que propiciou a criação do
arquivo tipo Route System (Sistema de Rotas), responsável pela tematização gráfica
do fluxo de linhas de ônibus coletivo e tráfego da frota particular.
63
CONTEUDO DOS CAPÍTULOS
A esta introdução concluída acima segue o TÓPICO 1, que se destina, inicialmente,
a fazer um balanço histórico da evolução do transporte público de passageiros no
âmbito da cidade do Recife, para tanto, introduz o leitor nas questões relacionadas ao
surgimento das preocupações com o planejamento urbano local, nas questões que diz
respeito ao boom demográfico que vai resultar da cornubação que culmina no
surgimento do complexo tecido metropolitano que reúne hoje uma mancha urbana
correspondente a 14 (quatorze) municípios, motivo pelo qual se tornou necessário fazer
uma descrição sobre a criação e a consolidação do sistema de transportes público de
passageiro capaz de articular as diversas dimensões do processo de desenvolvimento
regional, descrição que envolve os aspectos da cultura técnica, da cultura política e
institucional.
O ITEM 1.1 estuda o conceito de integração na medida em que descreve uma das
concepções que consolidou o STPP / RMR, o Sistema Estrutural Integrado - SEI, cuja
filosofia implica necessariamente na redução dos impactos ambientais provocados
pelas emissões veiculares, pela redução das tarifas, pela elevação do nível de serviço
de forma geral. O ITEM 1.2 explora aquela estrutura que é fundamental para a
articulação de todo sistema de transporte público, ou seja, os corredores conhecidos
como troncais, tanto o metroviário quanto o rodoviário. Dentre os rodoviários, dois se
destacam, a PE-15 e a Avenida Caxangá, sendo que nesse instante esta última só
mais adiante é que é explorada com mais profundidade.
O TÓPICO 2 inicia a discussão sobre o transporte público de passageiros e sua
relação com a questão ambiental, a importância de um modelo que inclua nas suas
premissas básicas, a preocupação com a idéia de um de desenvolvimento sustentável
para o meio urbano. Os itens seguintes discutem a relação entre transporte coletivo
versus o individual, a necessidade imperativa da eficiência do transporte coletivo
mediante a aplicação de princípios adotados pelas políticas ambientais e a relevância
de um corredor de transporte coletivo que opere na sua plenitude.
O TÓPICO 3 abre para o conhecimento mais aprofundado da experiência da
Avenida Caxangá como corredor exclusivo para a operação de transporte coletivo, para
tanto aborda aspectos de sua evolução histórica, destacando, através de observações
que consideramos pertinentes, sua possível vocação decorrente de uma também
tradição herdada do passado. Composto basicamente de informações gráficas
64
acompanhadas dos necessários comentários e explicações a ela vinculadas, o
TÓPICO 4 inclui levantamento de campo quanto ao uso do solo nas margens do eixo
estudado, as relações estabelecidas entre mobilidade e zonas de produção e atração
de deslocamentos, o feixo de linhas do STPP/RMR que itineram por aquela via com os
números em forma de bancos de dados que revelam a dimensão e a importância do
fenômeno, visto aqui como objeto que passa a requerer uma atenção especial no
âmbito das políticas ambientais.
A conclusão vem no TÓPICO 5, mediante a reflexão e algumas considerações de
natureza propositiva para dar início a uma discussão mais ampla sobre a necessidade
de pensar o transporte coletivo urbano como se pensa a saúde, a educação, o
saneamento básico e outros setores do cotidiano urbano. Segue as referências
bibliográficas no TÓPICO 5.
1. ANTECEDENTES HISTÓRICOS
O fenômeno conhecido como cidade, como qualquer outro a ser estudado, para
efeitos de uma caracterização mais justa e precisa requer algumas breves
considerações históricas sobre o que o antecedem, digamos, marcos que se
anteciparão aos teóricos que virão mais adiante, visto que o mesmo deriva da
conjunção de uma série de outros, sem os quais não seria possível explicar o primeiro.
Um desses fenômenos mais abrangentes foi o conjunto de fenômenos que resultou
naquilo que ficou conhecido como cidade moderna. Não que a cidade Antiga ou a
Medieval não contivesse, em germe, os problemas daquela que sucederia a esta
última, mas a moderna livrara-se dos muros, tanto do ponto de vista prático, quanto do
ponto de vista simbólico. A civilização naquela primeira não tinha provocado a
separação entre o homem e a natureza (COULANGES, 2001), e quanto à segunda,
quando Montaigne visita Augsburgo em 1580 fica impressionado com os vários
obstáculos de segurança que tem que transpor para adentrar a cidade (DELUMEAU,
1993).
É consenso, entre os que estudam as formações das aglomerações urbanas ao
longo do desenvolvimento da História humana, que o problema urbano aumentou a sua
magnitude considerando a soma de algumas forças a partir do século XVII, tais como a
do mercado, as de superação e domesticação das dimensões culturais,
regulamentares, morais e religiosas presentes e dominantes no medievo, as dos
65
processos de acumulação e circulação dos capitais, as de intensificação e ampliação
das trocas, tendo sido estas últimas, uma das principais forças responsáveis pela
expansão urbana, cujos principais atores são os comerciantes, os banqueiros e os
proprietários de terras do referido século (MUMFORD, 1998).
Lewis Mumford assinala,
“De fato, as novas forças favoreciam a expansão e a dispersão em todas
as direções, da colonização além dos mares à construção de novas
indústrias, cujos melhoramentos tecnológicos simplesmente cancelavam
todas as restrições medievais.”
39
A invenção do Brasil foi um episódio do desdobramento dessas forças que também
podem ser definidas por um só termo: Capitalismo. A este antecedeu a política de
Estado conhecida como Mercantilismo que não foi outra coisa senão uma fase de
transição onde o monopólio do controle da cidade medieval caiu em mãos da direção
centralizada e protecionista da coroa. Apesar do reconhecimento da conjugação dos
fatores acima mencionados como responsáveis pelo processo histórico conhecido
como colonialismo, a lógica da acumulação e ampliação do Capital no século dos
descobrimentos terá que ser percebida conjuntamente com a sua lógica de circulação,
e esta se configura também pelo seu aspecto técnico-físico-geográfico enquanto meio
através do qual às novas terras foram conquistadas, ou seja, o transporte marítimo.
Assim, a História da ampliação e acumulação do Capital não pode estar dissociada da
História dos fluxos humanos e das mercadorias, daí que o transporte passa a ser uma
variável importante na produção daquele espaço de exploração colonial, afinal aquele
embute um valor que se revela na integração espacial como também na anulação do
espaço pelo tempo. Sendo constituído de Capital imobilizado, aquele transporte tem
suas leis intrínsecas de realização (MARX, 1973). Tais leis têm suas origens no fato de
que a produção e o consumo do transporte ocorrem simultaneamente no momento do
seu uso (HARVEY, 2005).
As condições favoráveis de aportamento foram, sem dúvida, para os colonizadores,
uma das primeiras preocupações a que se deram quando encontraram a costa
brasileira. Um porto seguro e facilmente operável era essencial para os seus fins,
intuitivamente ou não, havia alguma coisa de praticidade na cabeça dos navegadores.
No modelo proposto por Taaffe, Morrill e Gould, que faz um esforço para compreender
o desenrolar das redes de transporte nas economias colonizadas e dependentes
39
Lewis MUNFORD, A cidade na história, p. 445.
66
(GEIPOT, 2001) percebemos, como mostra a FIGURA 9, que o porto é o ponto em
destaque das seis fases por eles propostas.
Figura 9 – Modelo proposto por Taaffe, Morrill e Gould. Fonte: GEIPOT
Na costa brasileira, o trecho que corresponde atualmente ao litoral de Pernambuco
seduziu o colono, particularmente, uma estreita faixa de areia protegida por uma linha
de arrecifes que formava um ancoradouro natural. Nasce daí o sítio que seria o futuro
Recife. Ainda que Itamaracá tenha sido a primeira fixação de Duarte Coelho em 1535,
foi em Olinda, cujas colinas o teriam encantado que o mesmo fixou-se, mas distando
dali alguns quilômetros mais a Sul estava o ancoradouro natural (formado pelo estuário
dos rios Capibaribe, Beberibe e Afogados, circundando mais a Oeste a grande planície
67
encravada entre a colina histórica de Olinda e os montes Guararapes) que,
comparativamente, em relação à enseada de Suape (estuário dos rios Ipojuca,
Massangana e Tatuóca, vizinho do promontório do Cabo de Santo Agostinho) e o
estuário de Itamaracá/Igarassu (rio de Santa Cruz), detinha vantagens relativas aos
outros ancoradouros da costa pernambucana, se consideradas, principalmente, as
condições excelentes para desembarque, armazenagem e embarque de mercadorias,
protegido que era pelos arrecifes de arenito (MAPA 5).
Naquelas alturas, aquele ancoradouro conhecido por Arrecifes dos Navios, Porto
dos Arrecifes, Porto dos Navios ou Ribeira Marinha dos Arrecifes já tinha,
aproximadamente, 200 (duzentos) residentes (soldados, pescadores, homens do mar,
portuários, trabalhadores do mar) abrigados em moradias simples, paisagem também
preenchida por armazéns de açúcar, onde se armazenava o açúcar produzido nos
Engenhos localizados na Várzea do Capibaribe, que descia via rio para ser exportado
para a Europa (ANDRADE, 1998). Era então o porto mais movimentado da Colônia,
embora sendo um apêndice da capital da Nova Luzitânia, era diretamente responsável
pela ampliação da atividade comercial, favorecendo sobremaneira a expansão do que
viria a ser a cidade do Recife. Não há como negar que as margens dos cursos d’água
foram então, as primeiras áreas a serem ocupadas por casebres e engenhos, assim
como os rios foram os caminhos por onde se efetuava o transporte de gente e de
mercadorias, eram as avenidas da época. Estavam decretados os primeiros impactos
ambientais em terras do futuro município do Recife, fosse à planície, fosse aos corpos
d’água, mesmo se considerados desprezíveis em face até mesmo do tipo de resíduo
que se produzia.
Mas, se já havia vestígios de tais impactos ambientais, não seria justo cobrar uma
ética, uma moral do colonizador a uma distância tão grande e num contexto
completamente diferente como era o deles. Aquele, armado de sua fé cristã e
convencido de uma missão transcendente e de sua unicidade não diferia muito daquilo
que pensava Thomáz de Aquino, Bacon, Kant, Descartes com relação à idéia da
transformação da natureza independentemente de qualquer questionamento moral ou
ético (PASSMORE, 1995).
Dos 200 (duzentos) moradores da ocupação peninsular conhecida então como
“Povo do Arrecife” em meados do século XVI, a população evoluiu para 2.700 (dois mil
e setecentos) em meados do século XVII, no mesmo instante em que era transferida a
Câmara de Escabinos de Olinda para a Ilha de Antônio Vaz (MELLO, 1987). Tinha
68
então a referida ilha 10 (dez) hectares, o que dava 270 (duzentos e setenta) habitantes
por hectare, ou seja, imagina-se aí que já havia uma superlotação (MELLO, 1987), para
tanto seria necessário construir um caminho de escape e a saída foi o recurso das
pontes, daí porque o urbanista pernambucano Antônio Bezerra Baltar vai dizer:
“Construída a ponte, por Maurício de Nassau, pela primeira vez
atravessada ainda em obras em 1644, no penúltimo dia de um fevereiro
de ano bissexto, definiu-se desde então a característica urbana ainda
hoje dominante no Recife: uma cidade sobre pontes.”
40
Há certa unanimidade quanto ao fato de que a História do urbanismo no Brasil
começa com a experiência da administração holandesa correspondendo a implantação
– em parte – do plano urbanístico desenhado pelo holandês Pieter Post, que
compreendia o arruamento geométrico, intervenções hidráulicas e de saneamento da já
referida Ilha. Excessos a parte, embora Sérgio Buarque
41
não explore a comparação da
fundação das cidades Portuguesas com as Holandesas nos processos de colonização
e o faça daquelas primeiras com as de origem Espanhola no seu livro “Raízes do
Brasil”, atribuindo grandes vantagens a estas últimas se comparadas as luzitanas, há
de se concordar com Gilberto Freyre quando ele diz:
“...o Recife, simples povoado de pescadores em volta de uma igrejinha, e
com toda a sombra feudal e eclesiástica de Olinda para abafá-lo, se
desenvolvera na melhor cidade do continente. Sobrado de quatro
andares. Palácios de rei. Pontes. Canais. Jardim Botânico. Observatório.
Igrejas de religião de Calvino. Sinagoga. Muito judeu. Estrangeiros das
procedências mais diversas. Prostitutas. Lojas, armazéns, oficinas.
Indústrias urbanas. Todas as condições para uma urbanização
intensamente vertical.”
42
É o mesmo Gilberto Freyre que, estudando as transformações pelas quais passava
o Recife, percebe como dizia Darcy Ribeiro do antropólogo de Apipucos: com o olho de
inglês que
“A partir dos princípios do século XIX, a rua foi deixando de ser o
escoadouro das águas servidas dos sobrados, por onde o pé bem
calçado do burguês tinha de andar com jeito senão se emporcalhava
todo, para ganhar em dignidade e em importância social. De noite, foi
deixando de ser o corredor escuro que os particulares atravessavam com
um escravo na frente, de lanterna na mão, para ir se iluminando a
lampião de azeite de peixe suspenso por correntes de postes altos. Os
princípios de iluminação pública.”
43
40
Antônio Bezerra BALTAR, Diretrizes de um plano regional para o Recife, p. 43.
41
Sérgio Buarque de HOLANDA, Raízes do Brasil.
42
Gilberto FREYRE, Sobrados e mocambos, p. 107.
43
Gilberto FREYRE, Sobrados e mocambos, p. 107.
69
70
Mas, o que vem a ser uma verdadeira e intensa urbanização no Recife já dista
daquele período holandês quase quatro séculos, afinal desde o começo do século XX
que esta cidade já se insinuava como moderna, competindo com cidades como São
Paulo e Rio de Janeiro. Foi no rastro da medicina social, do higienismo, e do
haussmanianismo, que a cidade do Recife sofreu grandes transformações e entre
aquelas que se faziam presentes nos planos urbanísticos, se destacava o sistema
viário. Estudando a evolução da legislação do uso do solo da cidade do Recife Luciano
Lacerda Medina destaca que
“...as grandes transformações começaram a surgir nas cidades
brasileiras a partir do final do século XIX e começo do século XX.
Intervenções no espaço urbano nos moldes daquelas praticadas por
Haussman na Paris antiga. Essas reformas foram precedidas por
práticas de controle higienistas, as quais se aprimoraram à medida que
os requisitos de circulação de mercadorias e pessoas – fruto da
estruturação de uma classe burguesa atuante – começaram a
fundamentar intervenções embelezadoras sobre os centros das
cidades.”
44
“A primeira metade do século XIX, no Recife, foi marcada pela abertura
de novas ruas, sempre conquistada aos mangues. Nesse período, o
comércio da cidade travou relações comerciais com a Inglaterra e a
América do Norte, após a abertura dos portos.”
45
Joel Outtes, em trabalho dissertativo sobre as grandes avenidas do Recife do
século XX ressalta
“Entre os elementos presentes na discussão sobre o planejamento
urbano na primeira metade do século, observa-se a permanência do
discurso higienista. A representação de que a cidade era suja e insalubre
constituiu-se em uma recorrência freqüente. O traçado urbano
remanescente do período colonial, formado por ruas estreitas e
esconsas, becos vielas e sobrados implantados em lotes sem recuos
frontais e laterais, muitas vezes com vários andares, dificultando a
penetração dos raios solares e das correntes de ar, foi constantemente
apontado como um perigo à saúde.”
46
Como se vê, a rua, na medida em que a cidade se expandia, tinha sua importância
duplicada, porque era por ali que se começava a cura da cidade doente. Medina se
referindo as mudanças de parâmetros no que tange as transformações urbanas
sofridas pelo Recife nas primeiras décadas do século XX observa que
44
Luciano Lacerda MEDINA, A legislação de uso e ocupação do solo como instrumento de desenho urbano, p. 37.
45
Ibid., p. 44.
46
Joel OUTTES, O Recife pregado à cruz das grandes avenidas, p. 4.
71
“Perspectivas monumentais foram “montadas” através da reestruturação
viária e redesenho da base fundiária, aliadas a verticalização da massa
construída contínua. Tridimensionalmente, significava uma mudança;
pois planimetricamente, as ruas ou avenidas, eram as referências para o
desenho dos novos planos de massa. Essa verticalização era tanto mais
acentuada quanto mais e monumental fosse o espaço da rua ou da
avenida, já que havia uma relação geométrica de ordem direta entre a
altura dos edifícios e a largura das vias.”
47
O autor ainda salienta que
“Esse parâmetro de desenho urbano, relacionado geometricamente à rua
possuía certa sofisticação, pois estava diretamente ligado aos requisitos
de higiene dos espaços públicos, garantidos pelo tempo de sua
exposição solar. Assim, também a massa construída verticalizada se via
obrigada, por tais parâmetros higiênicos, a reduzir as profundidades de
suas lâminas, “recortando” a área construída ou preservando os antigos
quintais.”
48
A preocupação com o desregramento urbano já estava presente no código
municipal de posturas através da lei nº. 4, de 1893 que, para tanto, legislava sobre
todos os assuntos relativos ao uso do solo, incluindo as vias que teriam que obedecer a
uma hierarquia segundo a qual as vias principais tinham que ter 22m (vinte e dois
metros) de largura, as comerciais teriam que ter 17m dezessete metros) e as demais
13.2m (treze metros e vinte). Ainda preconizava a proibição dos saques ou saliências
das fachadas e estimulava a construção de platibandas para a coleta d’água.
Medina, ainda avaliando as posturas do referido regulamento, cita
“A concepção de um sistema viário denotava também, preocupações
com os requisitos de circulação demandados pela indústria, o comércio,
e crescimento das atividades portuárias, o que mais à frente levou às
reformas urbanas do bairro do Recife.”
49
A partir da segunda década do século XX, a cidade do Recife ensejou prodigalidade
em matéria de planos urbanísticos, mas será importante salientar que tais planos se
restringiam ao centro da cidade, hoje parte dele no esquecimento (FIGURAS 10, 11, 12
e 13). Alguns deles acabaram por se concretizar, em grande ou menor parte. Segundo
Medina
“...esses planos tiveram sobre o desenvolvimento das legislações
urbanísticas locais, neste século, uma profunda influência.”
50
47
Luciano Lacerda MEDINA, A legislação de uso e ocupação do solo como instrumento de desenho urbano, p. 38.
48
Ibid., p. 38.
49
Luciano Lacerda MEDINA, A legislação de uso e ocupação do solo como instrumento de desenho urbano, p. 50.
50
Ibid., p. 51.
72
73
74
75
76
O espraiamento do Recife se completa no início do século XX, através do
lançamento de “caminhos” em direção ao interior da planície que, à medida que se
infiltravam, levavam consigo, nas suas margens, um sem número de habitações até
encontrar os morros a oeste. Esses caminhos
“...que ligavam o centro da cidade ao interior, permitiam o escoamento
das produções agrícolas ao porto, mas à medida que essa produção foi
se tornando mais sofisticada – com a instalação de fábricas nas
periferias – e intensiva, os requisitos de acessibilidade foram crescendo
com a demanda por sistemas de transportes mais modernos.”
51
A forma radio - concêntrica da cidade do Recife já dá seus sinais no começo do
século XX. À medida que o sítio recifense ia se estabelecendo através da conquista
das áreas alagáveis, aquelas vias que partiam da mancha conhecida como centro, iam
sendo ocupados os espaços vazios entre elas.
Outras legislações foram sendo construídas como a Lei municipal nº. 1.051 de 1919
que incorporava uma do mesmo ano, a de n.º 865. Aquela primeira já delineava um
zoneamento complexo, já definia padrões construtivos e criava conceitos ao mesmo
tempo em que se aproximava mais do cidadão comum. Esta Lei só vai ser alterada
com o decreto municipal n.º 374 de 1936 que incrementa novos elementos para
regularização do uso do solo e normatizações gerais sobre construção. O artigo 12
daquele decreto recomendava uma série de regras para o estabelecimento do traçado
viário das zonas central e urbana, determinando as distâncias mínimas e máximas que
as quadras as separariam, como também larguras de acordo com uma determinada
hierarquia, localização e função da via. Se a questão do parcelamento do solo passara
a ser estratégica para a expansão urbana horizontal, ela hierarquizava e estruturava o
sistema viário de forma que contribuía para facilitar a circulação e a velocidade
(MEDINA, 1996). Ora, os dois últimos termos são, hoje, a grandes questões que
ocupam os gestores urbanos na área do transportes como também daqueles que os
vêem como dois indicadores para o controle da qualidade ambiental do meio urbano.
A rua continuava sendo um referencial para a formatação do desenho urbano, por
exemplo, o recuo frontal com relação ao alinhamento da rua no perímetro principal da
cidade era uma proibição que se procurava cumprir com rigor.
Ia assim, se construindo o espaço urbano recifense à moda parisiense, era a
consolidação do que Medina, comentando a expressão “espaço espetacular” que
51
Luciano Lacerda MEDINA, A legislação de uso e ocupação do solo como instrumento de desenho urbano, p. 51.
77
Marshall Berman
52
cunha para se referir ao monumentalismo das transformações
urbanas do século XIX nas grandes cidades européias chama de
“espaço do poder político do Estado-burguês”
53
As transformações dos espaços centrais da cidade do Recife se dava pelo
alargamento das principais artérias, como foram os casos das Avenidas Guararapes,
Conde da Boa Vista e Dantas Barreto, embora esta última só tenha se dado no início
da década de 60 (sessenta). Mas será preciso relacionar tais intervenções físicas ao
contexto político e econômico do que ficou conhecido como Estado Novo na medida
em que, segundo Medina
“Um dos maiores parceiros no plano de reformas do Bairro de Santo
Antônio, foi a União, através das suas grandes corporações institucionais
que passaram a se localizar no novo espaço símbolo, a Avenida
Guararapes.”
54
Se a Rua tem uma História e esta está atrelada ao processo de desenvolvimento do
espaço urbano, o transporte também a tem, e uma coisa não está dissociada da outra.
O surgimento da vida urbana no Brasil data do início da política de centralização do
comércio nos principais núcleos de ocupação do litoral. Foi aí que desembarcaram
levas de comerciantes e funcionários da Coroa que propiciou, entre outras coisas, a
instalação de manufaturas e outras atividades. Entretanto, será necessário destacar
que antes da metade do século XVII, as áreas urbanas no Brasil, ficavam restritas à
Bahia e ao Rio de Janeiro. Nessas, já havia certa preocupação em racionalizar o
traçado viário seguindo diretrizes adotadas na Europa ainda nos fins da Idade Média.
Para o caso daqueles núcleos menores como Olinda e São Paulo, observava-se
acentuada irregularidade no traçado das ruas, uma vez que aquelas procuravam seguir
a topografia mais favorável. Reis Filho
55
destaca que a rua colonial além de mal-
alinhada não apresentava calçada e sua função era exclusivamente de circulação, não
tendo nenhum significado para a permanência.
“Circulavam nas ruas pedestres, cavaleiros, redes ou cadeirinhas
carregadas por escravos e poucos carros carregando carga. Mas o
tráfego era dominado por pedestres e cavaleiros. Esta ausência de
circulação veicular perduraria até o tempo de João VI, provocando o
seguinte comentário de Debret: “Embora pareça estranho que nesse
século de luzes se depare ainda no Rio de Janeiro com o costume de
52
Marshall BERMAN, Tudo que é sólido desmancha no Ar, uma aventura da modernidade.
53
Luciano Lacerda MEDINA, A legislação de uso e ocupação do solo como instrumento de desenho urbano, p. 60.
54
Ibid., p. 71.
55
N. G. Reis FILHO, Evolução urbana no Brasil.
78
transportar enormes fardos à cabeça dos carregadores negros, é
indiscutível que a totalidade da população brasileira da cidade,
acostumada e esse sistema que assegura a remuneração diária dos
escravos empregados nos serviços de rua, se opõe à introdução de
qualquer outro meio de transporte, como seja por exemplo o dos carros
atrelados. Com efeito, a inovação comprometeria dentro de pouco tempo
não somente os interesses dos proprietários de numerosos escravos,
mais ainda a própria existência da maior classe da população, a do
pequeno capitalista e das viúvas indigentes, cujos negros todas as noites
trazem para casa os vinténs necessários muitas vezes à compra das
provisões do dia seguinte. É nesse meio de transporte, geralmente
empregado, que enche as ruas da capital desses enxames de negros
carregadores (...) A arte de fabricar carruagens e carrocerias não se
aperfeiçoou ainda (...).”
56
Boa observação de quem pintou com maestria aspectos da vida colonial brasileira
para servir de apoio a afirmação de que pelo transporte, ainda hoje, é possível
perceber as desigualdades sociais nas ruas brasileiras e não somente a questão da
modernização do transporte. Mas será por causa disto que a equidade entre as
pessoas no que tange a acessibilidade e mobilidade ainda não foi alcançada?
Esta pergunta não pode ficar sem resposta.
Recife desde sua ligação ao circuito do capital comercial passou por significativas
transformações urbanas. Tais transformações eram estimuladas na medida em que se
estimulava o investimento do capital privado em carteiras ou em compra de papéis do
Governo. Os investimentos foram direcionados para a construção de ferrovias,
modernização do porto e para a produção agrícola. A remessa de lucros e o
pagamento dos empréstimos selou de vez a relação do Recife com o capitalismo
mundial, criando então a dependência da qual nunca mais saiu.
A construção da infra-estrutura do Recife recebeu aporte externo por ser este o
centro da região agro exportadora mais expressiva da Região Nordeste, pois aqui a
mão-de-obra era barata, tinha terra em abundância e a preço baixo e matéria prima
também. Recife inseriu-se na divisão internacional do trabalho na medida em que era o
local das trocas do que era produzido no campo pelo capital local, do Sudeste ou de
países centrais, assim se expandia o comércio exportador, a renda financeira e o lucro
mercantil. Essa dinâmica implicava no investimento na infra-estrutura de transportes. O
algodão e o açúcar davam o mote da produção e os dois produtos uma vez inseridos
no comércio internacional, começaram a ter seus volumes de produção em função das
oscilações do mercado internacional. A cidade do Recife foi aos poucos se
especializando e as atividades manufatureiras e industriais foram crescendo
56
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 81.
79
paulatinamente. O comércio e o setor de serviços passa a ocupar cada vez mais lugar
de destaque neste cenário.
“O transporte de carga que sempre foi feito por escravos, nos lombos dos
burros e nos carros de boi, foi entendido como um setor que exigia
modernização. Com esse intuito, a firma de Nascimento Silva e Cia., em
1871, pediu licença a Câmara para fazer este serviço por meio de carris
de ferro.”
57
O transporte de pessoas nesse contexto era realizado por vários tipos de modos;
carros; cavalos; maxambombas; ônibus; bondes; botes; catraias; baleeiras e canoas.
Esta proliferação de modais ensejou o poder Provincial a criar um plano de um plano
geral de viação urbana.
Em 1841 começam a rodar no Recife os primeiros ônibus. Eram diligências movidas
a cavalo, sendo que algumas tinham até dois andares. Atribui-se sua introdução ao
emigrado inglês Thomas Sayl. Localidades como Casa Forte, Monteiro, Apipucos,
Mangabeira, Caxangá, Jaboatão e Olinda eram ligadas ao centro do Recife por esses
ônibus (FIGURA 14).
Houve pelo menos três tentativas de se implantar ferrovias por esta época para
realizar ligações de bairros ao centro da cidade, mas todas terminaram não sendo
concretizadas, apesar de terem sido dadas as concessões. Mas uma quarta tentativa
foi efetivamente implantada, tratava-se da ferrovia que ligava o centro ao Bairro de
Apipucos, implantada e operada com máquina a vapor pela empresa Trilhos Urbanos
do Recife e Apipucos e a tarifa era em função do quilometro percorrido. Eram cinco
viagens por dia, a primeira iniciando às 5:30 e a última às 18:45. Anos depois, em 1871
foi derivado um ramal desta linha para a localidade de Caxangá e mais dois para os
Aflitos e Casa Amarela. Outras derivações a partir de onde hoje é atual Praça do
Entroncamento, iam em direção aos Bairros da Várzea e Dois Irmãos (FIGURA 15).
Foram também construídos ramais ferroviários que ligavam Olinda e Beberibe a
parte mais central do Recife. É importante salientar que a bitola dos trilhos desta
ferrovia era de 1,32m, enquanto aqueles ramais anteriores era de 1,20m. Atribui-se ao
ramal ferroviário que ligava o Recife a Olinda à ocupação de suas margens, que foram
imensamente valorizadas, por habitações lindeiras. É necessário destacar que todas as
ferrovias eram frutos de concessão mediante Lei Provincial e a exploração tinha prazos
para iniciar e terminar. Em 1866 foi aberta concorrência pública através da Lei nº. 979
para a contratação dos serviços de carris naquelas áreas que ainda não cobertas pelas
57
Noemia Maria ZAIDAN, O Recife nos trilhos dos bondes de burro, p. 45.
80
então ferrovias existentes e teriam bitola de 1,10m, considerando que estes veículos
deslizando sobre trilhos eram puxados por burros. Outro detalhe importante era o fato
de que o material rodante, ou seja, os carros e as peças podiam ser importados pelos
operadores com total isenção de impostos. Foi por essa época que é criada no Recife a
Pernambuco Street Raillway que mais tarde passa a ser chamada de Ferro-Carril de
Pernambuco que recebera a concessão por 50 (cinqüenta) anos.
Em 1872 surgem mais três ferrovias, ligando os Bairros de Afogados, Santo Amaro
e Capunga. Não é de se estranhar o fato de que o vale-transporte hoje é tido como
papel moeda para realização de compras e outros tipos de pagamentos, já que por
aquela época, os bilhetes, devido à falta de meio circulante, já eram usados para tal.
As condições de trânsito nas ruas do Recife dessa época eram precárias. O
pavimento era de péssima qualidade ainda que fosse de responsabilidade exclusiva da
Repartição de Obras Públicas, as obras de saneamento sempre ficavam por acabar e
os vendedores ambulantes ocupavam até mesmo àquelas áreas destinadas à
circulação dos bondes, por isto os horários dos serviços dos transportes de pessoas
eram raramente cumpridos se somados ao fato deste disputar também o mesmo
espaço com o transporte de carga, que eram carroças que levavam diversos gêneros
alimentícios.
Não saindo do eixo descritivo do pretérito desenvolvimento urbano no Brasil que
associa os mais diversos tipos de variáveis, entre elas o transporte, será necessário
fazer uma inflexão para o problema da urbanização acelerada pela qual passa a cidade
do Recife a partir da década de 30 do século passado.
O problema urbano na América Latina acentuou-se na medida em que a população
urbana passou de 26,3% na década de quarenta do século passado, para 81,2% em
2000 (MARICATO, 2002). Isto representa a olhos vistos para o bom observador da
época, um intenso processo de movimentação material para a construção de espaços
públicos e privados, que implica numa rede física que compreende desde a casa e os
espaços das praças, logradouros, administrativos, passando pelos centros de
abastecimento em geral, saúde, energia, educação, saneamento, até os espaços de
produção, trabalho e transporte. Antônio Bezerra Baltar elege a palavra “concentração”
como chave para explicar esse fenômeno que se traduz por
“um número crescente de elementos num espaço limitado”
58
58
Antonio Bezerra BALTAR, Diretrizes de um plano regional para o Recife, p. 13.
81
82
83
O Brasil saiu do século XIX com apenas 10% da população habitando nas cidades
(SANTOS, 1993) e hoje dos seus 170 milhões de habitantes, 138 milhões moram em
cidades (MARICATO, 2002). A partir da década de 1940, o Recife apresentou em
algumas áreas de seu domínio territorial, taxas de crescimento demográfico
impressionantes na ordem de 10 e 15% ao ano (CONDEPE/FIDEM, 2005). É atribuído
ao período correspondente a 2ª Guerra Mundial a primeira fase do processo de
cornubação na região do Recife por causa das construções das instalações militares;
porto, aeroporto, quartéis, rodovias, hospitais e vilas militares como as da Marinha no
limite Recife/Olinda, próximo da Tacaruna; da Aeronáutica em Piedade, Boa viagem,
Guararapes, Ibura e do Exército como a localizada no Socorro em Jaboatão. Data
desse tempo os primeiros parcelamentos do solo ao longo do litoral; para o Sul as
praias de Boa Viagem, Piedade, Candeias e para o Norte Bairro Novo, Casa Caiada,
Rio Doce e Janga (MAPA 6).
Os anos sessenta são marcados pelo surgimento dos assentamentos de indústrias
e habitações. Os espontâneos se deram ao longo dos eixos viários que davam acesso
ao Recife e os planejados foram frutos dos trabalhos do urbanista pernambucano
Antônio Bezerra Baltar e do padre francês Luois Joseph Lebret, sendo que os
industriais foram implantados pelo DIPER (Distritos Industriais de Pernambuco),
instituição do governo estadual, incentivados pela SUDENE (Superintendência de
Desenvolvimento do Nordeste), e os habitacionais ficaram a cargo da COHAB/PE
(Companhia Habitacional de Pernambuco) com aporte financeiro do BNH (Banco
Nacional da Habitação). A maioria dos assentamentos ficava localizada nas regiões
mais periféricas (MAPA 7).
Entre as décadas de 40 e 70 do século passado, a taxa média de crescimento
demográfico do Recife foi de 4,45% ao ano. No início de 1970, o município do Recife já
tinha uma população equivalente a 59% daquela região que seria considerada
metropolitana a partir de 1973, destacando-se que daquele percentual, apenas 63% da
população era considerada urbana. Se o nível de urbanização na área metropolitana já
era de 92%, no município pólo, esse percentual subia para 99%. O crescimento
demográfico metropolitano devia-se, principalmente, ao fenômeno da migração, uma
vez que 54% do total lhe eram atribuído (FIDEM, 1976).
Considerando os fluxos e a concentração da prestação dos serviços urbanos,
identifica-se uma crescente dependência da periferia em relação ao centro do Recife.
84
85
86
Manoel Correia de Andrade, no seu livro “Recife: problemática de uma metrópole de
uma região subdesenvolvida” chamava atenção para o fato de que
“Um dos mais graves problemas provocados pela evolução espontânea
dos centros urbanos, resulta da localização dos serviços e dos
equipamentos que tendem, quase sempre, a se concentrar num
determinado local, provocando uma série de fluxos da periferia para o
mesmo, dando origem a problemas de tráfego, em conseqüência do
deslocamento, em massa, de pessoas e de mercadorias, problemas de
exigüidade de espaço útil, de poluição, etc.”
59
Apesar de Região Metropolitana do Recife em 1975 ser constituída de 9 (nove)
municípios em relação à de hoje com 14 (quatorze), a TABELA 10 coloca a RMR na
terceira posição em termos de densidade demográfica, ficando atrás apenas de São
Paulo e Rio de Janeiro, considerando que sua superfície é bem menor do que a de
Fortaleza, Belo Horizonte, Curitiba e Porto Alegre, quase igual à de Salvador, levando
em conta que sua população se apresenta bem maior que esta última. Em certa
medida isto demonstra um adensamento vertiginoso do Recife Metropolitano, pontuado
pela acentuação cada vez maior dos problemas infraestruturais e sociais que mais
tarde vão revelar uma paisagem degradada e de difícil administração.
TABELA 10 - REGIÕES METROPOLITANAS NO BRASIL – 1975
REGIÃO
SUPERFICIE
(Km2)
POPULAÇÃO
(hab.)
DENS. DEMOGRÁFICA
(hab/Km2)
Belém 1.221 800.482 655.60
Fortaleza 3.483 1.317.496 378.27
Recife 2.201 2.153.435 978.39
Salvador 2.183 1.401.228 641.88
Belo horizonte 3.670 2.022.846 551.18
Rio de Janeiro 6.464 8.328.784 1.288.49
São Paulo 7.951 10.041.132 1.262.88
Curitiba 8.763 1.013.279 115.63
Porto Alegre 5.806 1.836.179 316.26
FONTE: FIBGE - Anuário Estatístico do Brasil 1977 (reproduzida a partir de Manoel Correia de
ANDRADE, Problemática de uma metrópole de uma região subdesenvolvida, p. 15)
A área de influência do Recife como metrópole macro regional já nos anos 70 se
estendia por quase todo o território do estado de Pernambuco, grande parte da
59
Manoel Correia de ANDRADE, Problemática de uma metrópole de uma região subdesenvolvida, p. 11.
87
Paraíba, a porção oriental do Rio Grande do Norte, a região do Cariri cearense, o Sul
do Maranhão e do Piauí, Paulo Afonso na Bahia, o estado de Alagoas e algumas
cidades de Sergipe localizadas ao longo da margem do São Francisco. Isto por si nos
dá uma idéia do pólo que era a cidade do Recife e da sedução que a mesma exercia
sobre quem ouvia falar dela, estivesse onde estivesse em qualquer lugar do Nordeste.
A TABELA 11 mostra números que comprovam a gênese do que vai ser mais tarde
o problema metropolitano, na medida em que apresenta um Recife já com 58% da
população da região ocupando uma superfície de 209km2, o que já dava uma
densidade demográfica consideravelmente alta de quase seis mil habitantes por
quilômetro quadrado, acompanhada em termos populacionais de longe por Jaboatão
dos Guararapes e Olinda, com 12 e 11,7%, respectivamente, devendo-se destacar que
esta última tinha uma densidade populacional maior que a da cidade do Recife,
relativamente a sua área que é de apenas vinte e nove quilômetros quadrados,
enquanto o município de São Lourenço da Mata, a quem pertencia ainda os domínios
das terras do que viria a ser o município de Camaragibe, detinha uma superfície de
trezentos e trinta quilômetros quadrados e detinha apenas 5,3% da população, com
uma densidade demográfica de trezentos e quarenta e três habitantes por quilômetro
quadrado.
TABELA 11 - REGIÃO METROPOLITANA DO RECIFE- 1975
MUNICIPIO
SUPERFICIE
(Km2)
POPULAÇÃO
(hab.)
DENS. DEMOGRÁFICA
(hab/Km2)
Cabo 451 90.887 201,00
Igarassu 487 60.352 123,93
Itamaracá 65 7.898 121,51
Jaboatão 234 258.797 1.105,97
Moreno 189 37.333 197,53
Olinda 29 250.704 8.644,97
Paulista 207 84.449 407,97
Recife 209 1.249.821 5.980,01
São L. da Mata 330 113.204 343,04
FONTE: FIBGE - Anuário Estatístico do Brasil 1977 (reproduzida a partir de Manoel Correia de
ANDRADE, Problemática de uma metrópole de uma região subdesenvolvida, p. 17)
“É natural que esta concentração tenha provocado a formação de um
sistema de transportes coletivos intrarregional profundamente
centralizador; numerosas são as linhas de ônibus que ligam o Recife,
88
tanto ao centro dos demais municípios, como às suas vilas e povoados,
sendo os transportes para o Recife, mais freqüentes que os transportes
das vilas e povoações de cada município para a sede dos mesmos.”
60
Manoel Correia de Andrade já identificava em meados da década de 70 (setenta), o
problema ligado a forte atração que o centro do Recife exercia nos mais variados
aglomerados humanos que lhe orbitavam. A julgar pelos números, a TABELA 12 nos
dá uma idéia mais aproximada dos fluxos para o núcleo central do Recife que partiam
de regiões vizinhas, isto sem considerar a movimentação existente dentro do próprio
Recife.
TABELA 12 – TRANSPORTES COLETIVOS NA REGIÃO METROPOLITANA DO
RECIFE – 1976
Ponto de partida Ponto de destino Número de ônibus
Recife Olinda 73
Recife Jaboatão 29
Recife Moreno 20
Recife Itamaracá 15
Recife São Lourenço da Mata 12
Recife Igarassu 10
Recife Cabo 9
Recife Paulista 6
Recife Camaragibe 37
Recife Prazeres 16
Recife Candeias 11
Recife Cruz de Rebouças 10
Recife Maria Farinha 8
Recife Paratibe 8
Recife Abreu e Lima 8
Recife Arassoiaba 7
FONTE: DER/PE – Departamento de Estradas e Rodagens (reproduzida a partir de Manoel Correia de
ANDRADE, Problemática de uma metrópole de uma região subdesenvolvida, p. 55)
O problema do transporte urbano na cidade região do Recife está atrelado a
monumental expansão da mancha urbana que se espraia em todas as direções,
60
Manoel Correia de ANDRADE, Problemática de uma metrópole de uma região subdesenvolvida, p. 54.
89
principalmente porque aquele velho núcleo era justificativa para vários tipos de
atividades daquelas populações no seu deslocamento cotidiano.
O processo de cornubação entre as várias áreas circunvizinhas e o município do
Recife ensejou, junto com outras regiões semelhantes no território nacional, a criação
da Região Metropolitana do Recife. Um dos motivos pelos quais se buscava tratar a
questão de forma metropolitana era a questão dos serviços comuns, mas a este
respeito Edvânia Gomes vai chamar a atenção para o fato importante de que
“A complexidade do fenômeno da metropolização emerge a nível de
políticas de Planejamento Governamental a partir de 1973, já se
delineava, no entanto, como objeto de reflexão institucional desde 1937,
conforme pode ser observado através da leitura do artigo 29 do texto da
constituição de 1937 – “Os municípios da mesma região podem agrupar-
se para a instalação, exploração e administração de serviços públicos
comuns. O agrupamento, assim constituído, será dotado de
personalidade jurídica limitada a seus fins. Parágrafo único: Caberá aos
Estados regular as condições em que tais agrupamentos poderão
constituir-se bem como a forma da sua administração.”
61
O fenômeno da metropolização que envolvia, entre outras coisas, esta visão de
conjunto quanto à prestação de serviços comuns, incluindo o transporte público de
passageiros, levou a institucionalização das Regiões Metropolitanas Brasileiras.
Foi por iniciativa do IAB (Instituto de Arquitetos do Brasil) e do IPASE (Instituto de
Previdência e Assistência dos Servidores do Estado) que foi promovido o I SHRU – I
Seminário sobre Habitação e Reforma Urbana em 1963 no Rio de Janeiro, momento
em que foi debatida e encaminhada uma proposta de alteração da Constituição Federal
de 1946, cujo conteúdo versava sobre o estabelecimento das regiões metropolitanas
(SANTANA, 2005). Mas foi com a emenda nº. 848 que se deflagrou a formalização da
institucionalização e criação dos complexos urbanos metropolitanos na medida em que
originou o texto do artigo 157, parágrafo 10 do que viria a ser o projeto da Constituição
Federal de 1967.
Mas, coincidentemente é no mesmo ano da criação da SEMA que, através da Lei
Federal Complementar nº. 14 são definidas e criadas as 9 (nove) Regiões
Metropolitanas no Brasil, ao mesmo tempo que são estabelecidas suas estruturas
institucionais e administrativas. A Lei, além de relacionar os municípios integrantes de
cada Região Metropolitana (a do Recife nascia com 9 (nove) municípios; Recife, Cabo,
Igarassu, Itamaracá, Jaboatão, Moreno, Olinda, Paulista e São Lourenço da Mata),
determinava a instituição de dois conselhos, um Deliberativo, composto de 5 (cinco)
61
Edvânia Torres Aguiar GOMES, Espaço, planejamento e gestão de serviços comuns metropolitanos – Uma
perspectiva geográfica sobre a Região Metropolitana do Recife, p. 73.
90
membros que, entre outras atribuições, seria responsável pela promoção e elaboração
de um Plano de Desenvolvimento Integrado que envolvesse a programação dos
serviços comuns e outro consultivo, composto de 9 (nove) membros a quem era
atribuída opinião sobre questões de interesse metropolitano quando solicitado pelo
primeiro. No seu artigo 5º a Lei reputa como de interesse metropolitano serviços
comuns aos municípios que integram cada Região: I) Planejamento integrado do
desenvolvimento econômico e social; II) Saneamento básico, notadamente
abastecimento d’água e rede de esgotos e serviço de limpeza pública; III) Uso do solo
metropolitano; IV) Transporte e sistema viário; V) Produção e distribuição de gás
combustível canalizado; VI) Aproveitamento dos recursos hídricos e controle da
poluição ambiental, na forma que dispuser a Lei Federal; VII) Outros serviços incluídos
na área de competência do Conselho Deliberativo por Lei Federal.
Dois anos depois do advento da Lei Federal Complementar nº. 14, é criada, através
da Lei Estadual nº. 6.890 a FIDEM – Fundação de Desenvolvimento da Região
Metropolitana do Recife, órgão que passa a ser responsável pelo sistema de
Planejamento e Gestão da RMR junto ao FUNDERM. Foi no contexto do II PND (Plano
Nacional de Desenvolvimento) que se formulou o I PDI/RMR (1º Plano Integrado de
Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife) que tinha como pressupostos o
fortalecimento da base econômica, a integração social da região, a ocupação racional
do espaço metropolitano, a adequação de oferta de serviços urbanos e a consolidação
do modelo de gestão político-institucional.
Por volta de meados da década de 70 (setenta), a Empresa Brasileira de
Transportes – GEIPOT, através de convênio celebrado entre várias entidades do
Governo Federal e do Estado de Pernambuco e a SUDENE, apresentou o resultado de
um estudo sobre os Transportes Urbanos da Região Metropolitana do Recife –
TRANSCOL, em cujo conteúdo se encontrava um diagnóstico preciso e detalhado da
situação dos transportes urbanos da região mencionada. Além de descrever a situação
encontrada naquela época, o mesmo sugeria uma série de medidas para a atenuação
do problema. Entre as condições encontradas o documento destaca naquelas relativas
ao aspecto organizacional o seguinte:
“O serviço de transporte coletivo é realizado na RMR por 66 empresas,
sendo 65 privadas e uma de economia mista, a CTU, havendo elevado
percentual delas com reduzido número de veículos, certamente inferior
ao tamanho ideal indicado para o tipo de serviço em questão. Assim é
que 18 empresas são formadas de 1 a 2 unidades apenas, 14 de 3 a 5,
12 de 6 a 15, 9 de 16 a 30, 7 de 31 a 50, e somente 5 delas estão
91
constituídas de 51 a 100 ônibus. A CTU, em junho de 1977, tinha 351
unidades.”
62
No aspecto infra-estrutural explica:
“Convergindo para o Centro Expandido – área de 10 km2 que, além de
englobar o Núcleo Central de 2 km2, estende-se, desde a linha do litoral,
definida pelo Cais do Porto, até a Avenida Agamenon Magalhães – as
linhas provocam a superposição de itinerários, gerando excessiva
concentração, que se agrava no Núcleo Central que, em conseqüência,
se torna a área crítica do sistema de ônibus.”
63
Ainda comentando a questão das condições viárias:
“As condições físicas das principais vias utilizadas pelo transporte público
coletivo são, de modo geral, satisfatórias, carentes, contudo, de
sinalização que indique prioridade para os ônibus.”
64
Nos aspectos operacionais destaca que
“...as linhas de ônibus não possuem funções específicas; operam de
forma indiferenciada, seus itinerários se estenderam espontaneamente,
partindo das áreas onde surgia alguma demanda, geralmente nos
subúrbios, e tomando a direção dos principais corredores de transporte,
onde buscavam o Núcleo Central.”
65
Como observou acima Manoel Correia de Andrade, atesta o estudo mencionado
que era para o Centro Expandido em razão da concentração das muitas atividades ali
existentes, que se dirigia cerca de 60% de todos os deslocamentos realizados na RMR
àquela época. Mais adiante, discutindo os números da demanda encontrada num
estudo realizado pela SUDENE em 1972, no qual foram adotadas para efeitos da
pesquisa, 175 (cento e setenta e cinco) zonas de tráfego reunidas num total de 49
(quarenta e nove) distritos, constata que das então 1.209.123 (um milhão, duzentos e
nove mil, cento e vinte três) deslocamentos diários em ônibus coletivo, 70% (setenta
por cento) eram realizados dentro do município do Recife e os restantes 30%
efetuavam-se entre a capital e os outros municípios.
O transporte público de passageiros passou a ser visto numa perspectiva
metropolitana a partir da criação da Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos –
EMTU.
62
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Estudo de Transportes Urbanos da Região
Metropolitana do Recife, p. 6.
63
Ibidem.
64
Ibidem.
65
Ibidem.
92
Como já foi suficientemente explorado, a expansão urbana experimentada pelas
metrópoles brasileiras propiciou um destaque cada vez maior para o papel dos
transportes. Esse aspecto é bem enfatizado por CAVALCANTI (1992) ao afirmar que o
ônibus tem grande importância no transporte urbano nacional, pois
"a população urbana depende diretamente, para sua mobilidade, do
funcionamento adequado deste modo de transporte. E não apenas os
usuários diretos do sistema estão à mercê do desempenho do transporte
público sobre pneus, como também as atividades econômicas em geral,
que dependem do transporte urbano, para movimentar seus mercados
de emprego, produtos e serviços.”
66
Em julho de 1979, através do Ato n.º 1.718 do Governador do Estado, foi instituído
o Grupo Executivo de Transportes Urbanos – GETU, o qual tinha como principal
atribuição elaborar estudos para a reorganização do sistema de transporte e propor
uma estrutura organizacional que permitisse a instalação e a operacionalização da
recém criada EMTU/Recife. Este órgão foi fruto de um intenso processo de negociação
e alguns pontos podem ser relacionados como facilitadores (BRASILEIRO, 1994):
A existência de uma consolidada cultura no meio técnico de planejamento
metropolitano;
O envolvimento de técnicos oriundos dos órgãos locais de transportes que,
motivados e contando com respaldo técnico e político, souberam conceber e
implantar um projeto técnico que dá à EMTU/Recife um respaldo profissional
reconhecido nacionalmente. Paralelamente, também era criado em 1979, em
caráter experimental, o Comitê dos Empresários, que participava das
discussões sobre as diretrizes da EMTU. Mesmo funcionando inicialmente
em caráter experimental, quando o Comitê foi efetivamente criado em março
de 1980, através da Portaria n.º 67, estabelecia não só o prazo de vigência
do mandato de seus membros, como também as normas para o seu
funcionamento.
A celebração de um convênio entre o poder municipal e estadual que
transferia para este último à competência para planejar, conceder, fiscalizar e
operar o Sistema de Transportes da Região Metropolitana do Recife, através
da empresa pública estadual então criada.
A Lei Estadual n.º 8.043, de 19 de novembro de 1979, instituiu o Sistema de
Transportes Públicos de Passageiros da Região Metropolitana do Recife - STPP/RMR
66
César CAVALCANTI, Novas Idéias a respeito de uma Velha tecnologia, transporte no grande Recife:
uma questão de compromisso 1980 a 1998, p. 10.
93
e atribuiu funções à EMTU/Recife. A partir daí começou a ser formada a base
institucional da Empresa.
Um instrumento institucional importante da Empresa foi a aprovação dos seus
Estatutos, em janeiro de 1980, através do Decreto n.º 6.232. Em fevereiro de 1980,
através da Portaria n.º 06, do Secretário de Transportes, Energia e Comunicação, foi
aprovado o Regimento do Conselho de Administração da EMTU/Recife, e tomadas
algumas providências que permitiriam o início do funcionamento da Empresa, a partir
de 1º de março de 1980.
Em 12 de março de 1980, foram nomeados os 9 membros do Conselho da
Administração da EMTU/Recife. Fazia parte desse Conselho a Secretaria de
Transportes, Energia e Comunicações do Estado, a FIDEM, a EMTU/Recife, o Prefeito
da Cidade do Recife, um Prefeito da RMR, em rodízio, o DETRAN/PE, o
SETRANS/PE, a EBTU e o Sindicato dos Motoristas.
A partir do Decreto n.º 6.392, de abril de 1980, foi aprovado o Regulamento dos
Transportes Públicos de Passageiros da RMR - RTPP/RMR, através do qual foram
fixadas a classificação dos serviços, o planejamento, a criação e a extinção dos
mesmos, os deveres das empresas e a fiscalização dos serviços, instrumento legal que
permitiu todas as profundas modificações introduzidas na operação do sistema de
ônibus, incluindo o seu controle, uniformização e disciplinamento.
Através da Resolução n.º 09/80 do Conselho da Administração foram aprovadas as
normas complementares sobre o procedimento administrativo para apuração da
infração do Regulamento dos Transportes Públicos de Passageiros da RMR. Com isto,
deu-se início ao funcionamento da fiscalização sobre o Sistema.
O instrumento que serviu para complementar e detalhar o Regulamento do
STPP/RMR foi o Manual de Operação do Sistema aprovado em setembro de 1980,
através da Resolução n.º 32, do Conselho de Administração. Com a consciência de dar
maior abrangência e representatividade ao Conselho, é feita a primeira alteração dos
representantes do Conselho Administrativo da EMTU/Recife, realizada através da Lei
Estadual n.º 9.639/85, ampliando de 9 para 19 o número de seus representantes. Nele
foram incluídos dois Vereadores de Recife, dois vereadores da RMR, em rodízio,
quatro Deputados Estaduais, além de dois representantes de comunidades indicados
pelo Governo do Estado. Sinais de participação e representatividade nas questões que
interessava à população.
94
Dentro da visão dinâmica de crescimento da Região Metropolitana do Recife, coube
a este órgão, planejar a ampliação da oferta de transporte à população, mantendo a
qualidade e o equilíbrio do sistema, e pensar na constante melhoria dos serviços na
medida em que, as ações de planejamento do sistema visavam cada vez mais garantir
a qualidade do serviço ofertado ao usuário. De lá para cá, o órgão gestor,
administrando crises, vem tentando criar as condições para conciliar as contradições
do sistema, utilizando modelos que tentam compatibilizar o equilíbrio financeiro do
mesmo.
A criação do Sistema, a implantação de um órgão gestor trouxe, a reboque,
algumas importantes medidas de caráter gerencial, técnico, comunitário e organizativo,
que tinham como princípio a racionalidade do serviço a ser prestado, e de quebra a
natureza social da atividade e, talvez, a nosso ver (tal atitude já estaria diretamente
ligada aos resultados de Estocolmo / 1972 e o Habitat I (Vancouver)?), a antecipação
de uma consciência dos problemas ambientais urbanos da concentração humana
conhecida por Região Metropolitana do Recife na medida em que determinava uma
política de intervenções na operação daquele sistema, criando um zoneamento,
compatibilizando procura e oferta, estabelecendo critérios técnicos e administrativos
para o serviço comum dos transportes públicos de passageiros.
Cinco foram segundo alguns especialistas na avaliação do processo de criação dos
mecanismos de planejamento, gerenciamento e operação do sistema em discussão, as
mais importantes iniciativas que puderam criar uma cultura que apresentou resultados
positivos para a consolidação daquele, são elas: a) O criação de um zoneamento; b) A
adoção de anéis tarifários; c) A criação de um sistema de informações gerenciais; d) O
sistema de fiscalização e, e) O sistema de participação das comunidades.
O Zoneamento como medida de Reorganização do Transporte veio através da
Portaria Interna do órgão gestor n.º 240, de outubro de 1980. Tal portaria considerou
extinta, a partir de 31 de dezembro de 1980, todas as permissões concedidas pela CTU
para a exploração das linhas no Município do Recife e organizou as empresas
operadoras para atuarem por áreas, tentando, com isso, evitar concorrências entre elas
e reduzir os custos (Zoneamento - operação por área de atuação, instrumento de
grande importância na época da implantação). Em dezembro de 1980, a concretização
da implantação física do Zoneamento foi marcada pelas assinaturas dos Termos de
Permissão, por um prazo de cinco anos.
95
Um marco importante constituiu-se a busca da reorganização do conjunto das
empresas de ônibus que até então operavam no âmbito da RMR, como também a
racionalização das linhas e terminais. Foi o documento conhecido como “Plano de
Ação da Empresa para 1980”, composto de 16 programas e 52 projetos, entre os quais
estava o programa “Implantação do Sistema de Área de Exploração” (um dos
subprojetos sendo a “Divisão da Região Metropolitana do Recife em Áreas de
Exploração). O documento “Zoneamento da Região Metropolitana do Recife” elaborado
pelo órgão gestor à época afirmava: “A importância desse projeto decorre do fato de
que a sua implantação representará uma mudança radical no atual sistema de ônibus
da RMR, através da sua racionalização, com detalhamento operacional objetivo de
toda a rede dessa modalidade de transporte, o que permitirá à EMTU/Recife exercer o
importante papel que lhe é destinado na Lei 8.043/79 na administração desse sistema”.
A idéia do zoneamento e da criação das áreas de operação vinha sendo pensada
desde os estudos realizados em 1979 pelo Grupo Executivo de Transportes Urbanos -
GETU (que deu origem a EMTU), o qual dividiu inicialmente a Região Metropolitana em
10 áreas em função dos 10 corredores de transportes coletivos, evoluindo para 16
áreas e ficando depois repartida a aglomeração em 17 áreas, cada uma sendo operada
por uma empresa ou consórcio de empresas. Esta divisão hoje não existe mais para
efeitos de planejamento macro.
Considerando o que preconizava o documento, os objetivos da criação das áreas
de operação eram:
Melhorar o nível do serviço prestado ao usuário, tornando as viagens mais
rápidas e, em conseqüência, menor o tempo gasto no deslocamento;
Eliminar a necessidade de transbordo para o deslocamento entre áreas;
Obter melhor nível de serviço por parte das permissionárias;
Criar linhas sociais necessárias à população;
Ainda, a adoção das medidas levariam também, por parte do órgão gestor, a
melhoria no (a):
Controle da operação;
Prestação de assistência técnica às empresas;
Obtenção um cálculo tarifário mais real, tendendo à unificação e redução do
número de tarifas de forma gradativa, beneficiando, particularmente, as
populações de baixa renda;
96
Garantia às empresas para investir no setor. Àquela época, a permissão era
de um ano, e sem segurança para o empresário. Implantado o zoneamento,
seria possível aplicar o art. 16 do Regulamento que prevê a vigência por
cinco anos para as permissões, com direito à renovação sucessiva por igual
período, dependendo do desempenho operacional da empresa;
Eliminação da concorrência danosa entre empresas;
Redução de 32 para 16 o número de empresas ou consórcios em operação;
Redução do consumo de combustíveis derivados do petróleo no transporte
coletivo;
Redução dos custos operacionais pela concentração do equipamento das
empresas.
Outros critérios foram também adotados: conforto do usuário; intervalo em função
da demanda; lotação máxima; criação de linhas transversais; integração e número
mínimo de ônibus por empresa; cada linha e cada empresa foi cuidadosamente
avaliada e agrupada. Avaliaram-se também aspectos ligados à rentabilidade de cada
conjunto de linhas ou área de operação. Administrou-se a absorção das empresas
menores e menos estruturadas ou qualificadas pelas empresas maiores que iriam
permanecer no Sistema. Os operadores poderiam negociar entre si ou através da
interferência do órgão gestor, desde que ficassem agrupadas de forma racional, em
consórcio ou isoladas. Tal processo negocial diante da proposta de zoneamento entre
os diversos agentes resultou o que sintetiza a TABELA 13.
TABELA 13 - COMPARAÇÃO DE DADOS OPERACIONAIS DO SISTEMA – 1979/1981
Item Janeiro/1979 Dezembro/1979 Dezembro/1981
Empresas operadoras 66 37 23
Linhas radiais 157 125 138
Linhas transversais / diametrais - 2 / 2 25 / 2
Linhas integradas / circular - - -
Frota (Quantidade/Idade Útil) 1.281/6,1 1.255/5,0 1.418/3,5
Passageiros por dia útil 1.209.123 1.239.411 1.313.616
Viagens por dia útil - 11.032 12.502
Velocidade média (Km/h) - 19 21
Quilometragem por dia útil - 313.533 314.472
Tarifas - 22 13
Tipos de passe estudantis - 49 9
Usuários que utilizavam tarifa mínima - 62% 74%
FONTE: EMTU/Recife.
97
A tabela acima demonstra a evolução quantitativa e qualitativa dos parâmetros
operacionais do STPP/RMR antes da criação do órgão gestor. Após a sua criação e a
implantação do zoneamento houve uma melhora na qualidade do nível de serviço, com
acréscimo de 10% na frota e 13% no número de viagens, bem como uma redução da
taxa de ocupação.
A oferta passou a ser dimensionada considerando o número de viagens em função
da demanda. Cada linha tinha períodos de pico próprios e distintos e os intervalos eram
estabelecidos em função do número de passageiros de cada faixa horária. Tal
processo de programação foi evoluindo. O passo seguinte foi considerar para cada
viagem a demanda por sentido (subúrbio/cidade e cidade/subúrbio) e não mais a
demanda da viagem completa de ida e volta. Em seguida, foi adotada a técnica de
pesquisa do número de passageiros nos ônibus no trecho mais procurado, nesse caso,
se consideraria as peculiaridades de cada linha, em termos de maior ou menor
renovação de passageiros.
Das cinco medidas já mencionadas, a segunda foi a questão do aspecto social
através da adoção de medidas quanto a cobrança de tarifas fora da realidade
econômica da população o que, vez por outra, em função dos constantes reajustes
tarifários, ensejava reação dos usuários pelo congelamento das mesmas. Foi nesse
contexto que ocorreu o que ficou conhecido como impasse tarifário e para o qual foram
adotadas as seguintes medidas:
O da redução do custo da tarifa para os usuários, que requer a adoção de
subsídios;
O da redução do custo global do sistema, através de investimentos
públicos em infra-estrutura viária, equipamentos e operação do sistema.
Até1980 praticava-se na RMR a tarifa única para o Município de Recife e a tarifa
quilométrica para as linhas intermunicipais, acarretando graves distorções. A
implantação do Zoneamento em 1980 ensejou um planejamento do Sistema com mais
racionalidade, dentro de uma dimensão metropolitana. Com uma política tarifária
baseada em anéis, conseguiu-se reduzir o número da tarifas de 22 para 13. Os cinco
anéis passaram a ter uma tarifa diferenciada, com exceção do 5º (quinto) que
permaneceu com a tarifa por quilometro.
A alocação das linhas nos anéis não se dava por quilometragem e sim pelo estudo
de viabilidade econômica da área. Com esse princípio foi possível estabelecer um
98
critério mais social na fixação das tarifas. Tal adoção de critério equivale ao que hoje
conhecemos por uma medida compensatória ou transferidora de renda na medida em
que, as linhas superavitárias subsidiariam aquelas consideradas deficitárias. Com isto,
foi possível corrigir uma série de distorções tarifárias, que existiam nas linhas
intermunicipais. Às vezes, a linha intermunicipal era mais curta que a municipal, porém
tinha uma tarifa mais elevada.
O órgão gestor, em julho de 1980 deu início a reformulação do sistema de
bilhetagem até então existente, compatibilizando e unificando os procedimentos
adotados pela CTU e pelo DETERPE, o que resultou no estabelecimento de uma nova
sistemática de controle de vendas e de resgate desses bilhetes, apresentando como
principais benefícios à unificação do modelo de passe para toda RMR, o controle na
comercialização e, conseqüentemente, a redução no valor da tarifa.
A terceira medida foi a criação de um banco de informações sobre a operação do
sistema, o SISURB – Sistema de Informações Gerenciais, sistema que permitia a
análise da operação das linhas, considerando os relatórios e cadastros, que foi depois
aperfeiçoado pela EBTU e novamente adotado pelo órgão gestor em 1983 com a
designação de SITURB. Com esses sistemas, o órgão passou a ter um bom controle
operacional, registrando para cada linha o número de veículos efetivamente utilizados,
as viagens realizadas, os passageiros transportados, além de uma série de índices ou
parâmetros caracterizadores da operação.
O sistema de fiscalização foi a quarta medida.
Com o Programa Emergencial de Prioridade e de Intervenção, no Centro do Recife
promovido pela PCR (Prefeitura da Cidade do Recife), que envolveu o órgão do qual
estamos tratando e outros do setor, os terminais do centro foram transformados em
ponto de retorno e foi implantado um anel de circulação para os veículos privados e
definidas faixas exclusivas para ônibus, orientadores de fila e paradas seletivas que, a
partir de então passaram a ser monitorados.
Para atuar no sentido de buscar um efetivo cumprimento das regras operativas em
todas as suas dimensões, foi necessária a criação de uma estrutura de fiscalização
através da implantação de sistema de tecnologia disponível à época; sistema de rádio
comunicação; deslocamento por viaturas; pontos de observação e controle; coleta de
dados diários em locais estratégicos; idas a terminais e pontos de retorno, vistoria nas
condições do equipamento, urbanidade e cumprimento das regras por parte do pessoal
de operação, etc..
99
A última das medidas tomadas como indicamos anteriormente, foi a que chamava
as comunidades atendidas pelo sistema à participação de definições sobre o nível do
serviço ofertado. O órgão gestor procurou estabelecer um canal de comunicação com o
usuário do serviço comum com a criação da Central de Informações / Reclamações,
passando a fornecer ao mesmo os esclarecimentos que se fizessem necessários sobre
a utilização e funcionamento do sistema através de um serviço conhecido hoje como
telemarketing, realizando uma sistemática catalogação, tratamento estatístico e análise
dos dados de reclamações e sugestões dos usuários, as quais, posteriormente
procurava atender. Era uma forma de pesquisar também, entre outros aspectos, as
novas linhas de desejo reclamadas pela população.
Condições também foram criadas, através de instâncias apropriadas no nível do
serviço social, para o recebimento de grupos representantes das mais variadas
comunidades atendidas pelo transporte coletivo.
Finalmente, a questão da padronização dos aspectos técnicos, como a obrigação
da existência do número de ordem dos veículos e o nome fantasia da empresa
operadora pintados na carroceria dos respectivos equipamentos (ônibus), nomes e
códigos das linhas operadas, além de outras informações complementares, tanto no
interior quanto no exterior do veículo, e estéticos, como a cor e a marca que
caracterizava a empresa operadora do sistema.
1.1. O STPP/RMR. SEI (Sistema Estrutural Integrado) / Sistema Complementar
Às vésperas de passar por uma grande mudança institucional, política e técnica e
ter atravessado crises que por pouco não redundou no colapso geral do sistema, como
foi o caso do surgimento no Recife e em todas as grandes capitais brasileiras do
transporte que para a população era “alternativo” e a luz das normas em vigor era ilegal
ou clandestino, o STPP/RMR se encontra estruturado em dois subsistemas, o
Estrutural Integrado e o Complementar.
Mas cabe aqui, antes de entrar em detalhes sobre tal estrutura, comentar,
sucintamente, sobre o momento e sua contextualização no que diz respeito à questão
do transporte público na RMR, considerando alguns aspectos político-institucionais que
ocupou o cenário das discussões que envolviam, de um lado, os que defendiam o
100
tratamento desmetropolitanizado do transporte público coletivo e àqueles que iam a
defesa da visão metropolitana quanto a este tipo de serviço comum.
A Constituição Federal de 1988 preconiza que a partir de sua promulgação, os
municípios deverão assumir, planejando e gerenciando, os sistemas de trânsito e
transporte em suas respectivas jurisdições. O CTB (Código de Trânsito Brasileiro) deu
ênfase também à questão daquele primeiro. Tais dispositivos geraram um problema,
ainda que saibamos que tais serviços sempre foram de outorga direta do poder
municipal e que, por motivos de falta de recursos financeiros e técnicos, muitos destes
municípios, através de convênios, delegavam tal função às máquinas estaduais em
face da sua complexidade e montante de investimentos. Derivou daí a necessidade da
criação de um arranjo institucional para o caso da RMR que vem sendo estudado e
debatido em vários níveis de audiências públicas, que ficou conhecido como CTRM –
Consórcio de Transportes da Região Metropolitana que é, em suma, uma gestão
compartilhada cujo acionista majoritário seria o Estado com 51% das ações, e as
demais prefeituras da RMR, sendo que a PCR ficaria com 30% e o restante seria
distribuído entre os demais municípios. Mas isto ainda não foi efetivamente implantado
e, enquanto isto, ainda que já tenha sido extinto por força de Lei, o atual órgão gestor
continua gerenciando de acordo com o modelo centralizado que, dos primórdios para
cá, mudou em alguns aspectos, seja por arranjos no equilíbrio entre custo e receita,
seja nos aspectos técnicos e tecnológicos ou no formato de fiscalização.
O Sistema de Transporte Público de Passageiros da Região Metropolitana do
Recife - STPP/RMR é composto por dois Sistemas distintos que se complementam:
1. O Sistema Estrutural Integrado-SEI ; e
2. O Sistema Complementar.
O SEI está sendo implementado no STPP/RMR por etapas e ainda não foi
concluído. Ele é voltado para o transporte de massa, permitindo que os usuários,
através de lógica integrada, circulem por todo o Sistema, pagando apenas uma única
tarifa. Sua configuração final é constituída por Eixos e Linhas Radiais, Perimetrais e
Alimentadoras (FIGURA 16).
O Sistema Complementar constitui hoje a maior parte do STPP/RMR e quando da
implantação do SEI em sua plenitude, deverá caracterizar-se pelo transporte de média
e baixa capacidade. Ele é formado por linhas convencionais radiais, transversais,
diametrais e circulares que em sua maioria, permite a ligação de bairros específicos ao
Centro do Recife ou de bairros a outros bairros. A proposta é de que este sistema
101
reduza sua participação para 30% (trinta por cento) na medida da implantação
progressiva do SEI. O sistema complementar deverá continuar sendo operado em
alguns corredores como: as Avenidas D. Ferreira, B. Viagem, Bernardo Vieira de Melo,
Abdias de Carvalho, R. Barbosa, Rosa e Silva, Getúlio Vargas e Carlos de Lima
Cavalcanti, estas duas últimas em Olinda e, na BR-232 e Estrada de Belém.
O STPP/RMR atual é constituído por um conjunto de linhas, das quais 342
(trezentas e quarenta e duas) são linhas de ônibus, 1 (uma) de Metrô e 1 (uma) de
trem.
As linhas de ônibus são operadas por 20 (vinte) empresas privadas, através de
permissões, que obedecem a Ordens de Serviço de Operação, Quadros de Horários e
Itinerários pré-definidos pelo órgão gestor, submetendo-se à sua fiscalização e
controle.
Dessas linhas, 268 (duzentas e sessenta e oito) são Convencionais, 07 (sete)
Especiais, 40 (quarenta) Bacuraus (Noturnas) e 27 (vinte e sete) compõem a parte do
SEI implementada no STPP/RMR.
A frota de ônibus cadastrada para a operação do STPP/RMR, é de 2.643 (dois mil,
seiscentos e quarenta e três) veículos, dos quais 2.300(dois mil e trezentos) são
Convencionais, 268 (duzentos e sessenta e oito) Padrons, 76 (setenta e seis)
Especiais. Existiam, antes de serem tirados de circulação, 49 (quarenta e nove
Trólebus). A referida frota transporta em média 1,4 milhões de passageiros/dia.
Como instrumentos de controle do STPP/RMR existem um Regulamento de
Transporte e um Manual de Operações, este último já comentado anteriormente, mas
que passou por reformulações, aprovados pelo Conselho Metropolitano de Transportes
Urbanos - CMTU, além de normas específicas, como por exemplo a da Câmara de
Compensação Tarifária - CCT e a da Avaliação de Desempenho das Empresas
Operadoras.
Quanto às linhas de Metrô e Trem, atualmente são operadas pela Companhia
Brasileira de Trens Urbanos - Superintendência de Trens Urbanos do Recife-CBTU-
STU/REC, com 18 (dez) e 4 (quatro) trens, transportando 120.000 (cento e vinte mil) e
8.000 (oito mil) passageiros/dia, respectivamente. Atualmente o Metrô participa do SEI,
através de integrações em estações abertas e fechadas, e o trem, do sistema
convencional, com estações abertas e integrações com bilhetes.
102
103
Os antigos Trólebus participavam do STPP/RMR como equipamentos de média
capacidade, compondo as linhas Troncais de alguns Corredores do SEI que eram
responsáveis pelo transporte de 32.000 (trinta e dois mil) passageiros/dia.
Como Serviços Especiais, transportando os usuários apenas sentados, o
STPP/RMR dispõe de 03 (três) linhas opcionais, com ar-condicionado, e 04 (quatro)
denominadas linhas complementares, com veículos mais confortáveis que os
convencionais, transportando juntas 14.000 (quatorze mil) usuários/dia.
Como a maioria das linhas do Sistema ainda convergem para o Centro do Recife,
através dos 11(onze) corredores de transporte, o STPP/RMR apresenta-se com uma
Rede de Linhas rádio-concêntricas, considerando o Centro do Recife como principal
pólo atrativo de demanda de transporte. Com a implementação do SEI, esta
característica está sendo modificada, passando a Rede de Linhas a apresentar uma
configuração mais adaptada ao desenvolvimento e tendências da ocupação urbana da
RMR.
A proposta do Sistema Estrutural Integrado - SEI foi desenvolvida em 1984 e
consistiu em um detalhamento do Plano Diretor de Transportes Urbanos da Região
Metropolitana do Recife-PDTU/RMR. A concepção do SEI objetivou ainda
compatibilizar e harmonizar uma série de fatos e intervenções que, àquela época,
estavam ocorrendo ou na iminência de acontecer no Sistema de Transporte Público de
Passageiros do STPP / RMR.
Os objetivos que se pretendiam alcançar com a implantação do SEI, por meio de
uma nova estrutura física, operacional e tarifária, contemplavam a melhoria da
qualidade do serviço ofertado, a redução da tarifa (especialmente para as populações
mais pobres e que residem em áreas mais distantes), a integração e harmonização da
operação dos novos modos de transporte, a mitigação dos impactos ambientais nas
regiões centrais e a compatibilização da política tarifária. Entretanto, constatou-se que,
pela “insuficiência” de recursos financeiros, muitas das ações e intervenções
originalmente propostas não ocorreram como pensadas, daí que houve uma
reformulação em 1992 das proposições de modo a adequá-las aos “novos tempos”.
A escassez de recursos foi o fator determinante das dificuldades verificadas na
implantação da infra-estrutura física e consequentemente operacional e tarifária do SEI.
A crise econômica que assolou o País na chamada década perdida, associada à
defasagem na liberação de recursos federais e dos empréstimos internacionais (BIRD),
comprometeram os investimentos que deveriam ter sido feitos nos corredores radiais e
104
perimetrais, nos terminais e estações de integração e na aquisição de equipamentos.
Decorreu daí que, apenas uma parte da concepção do SEI foi implantada.
A rádio-concêntricidade da estrutura viária da RMR favoreceu a concepção de um
sistema composto fisicamente, de 6 corredores estruturais radiais, sendo 2 ferroviários,
convergentes ao centro do Recife, oriundos da periferia da RMR, e por 4 corredores
perimetrais que ligam a RMR de norte a sul, sem passar pelo centro. Sendo este
limitado pela linha do oceano.
Nos cruzamentos dos corredores radiais com os perimetrais são previstos pontos
de troca e terminais de integração, estes últimos já existentes, para onde convergem
linhas alimentadoras, radiais e perimetrais. Desta forma, ao entrar no sistema, o
passageiro pode ir para os mais variados destinos, com o pagamento de apenas uma
tarifa.
O SEI se encontra hoje operacionalizado nos seguintes terminais de integração:
PE-015 e Macaxeira através de integrações ônibus/ônibus e nas Estações de Joana
Bezerra, Afogados, Barro e Timbi com integrações ônibus/metrô.
Estão implantadas linhas Troncais, nas modalidades Parador e Expresso,
Alimentadoras e Perimetrais. Não estão implantadas ainda as linhas interterminais. As
TABELAS 14, 15, 16 e 17, fornecem informações sobre a operação nos terminais
acima mencionados.
TABELA 14 – DADOS OPERACIONAIS DO SEI – TERMINAL PE/15
LINHAS FROTA VIAGEM DEMANDA INTERV.
PE-015/ BOA VIAGEM 18 139,5 19553 5
PE-015 (PARADOR) 13 174 14704 5
PE-015 / JOANA BEZERRA 12 123 17156 6
PE-015 / AFOGADOS 10 89 15458 10
PE -15 / (EXPRESSO) 11 160 11077 5
CIDADE TABAJARA / PE-015 2 80 3908 12
JARDIM PAULISTA BAIXO / PE-015 6 81 4842 10
JARDIM PAULISTA ALTO / PE-015 6 87 5468 10
ARTHUR LUNDGREN I / PE-015 7 83 5057 8
PARATIBE / PE – 15 5 76 4217 12
PAULISTA NOBRE / PE-015 3 39 1008 30
ARTHUR LUNDGREN II / PE-015
8 99 4430 7
TOTAL 101 1230 106.878
FONTE: EMTU/Recife. Dados médios de um dia útil. Mar/05 (mont. do autor)
105
TABELA 15 – DADOS OPERACIONAIS DO SEI – TERMINAL MACAXEIRA
LINHAS FROTA VIAGEM DEMANDA INTERV.
SÃO LOURENÇO/MACAXEIRA
7 65 5347 13
ALBERTO MAIA / MACAXEIRA
9 94 7400 7
PQ RES. BOLA NA REDE/ MACAXEIRA
4 93 3691 9
ALTO DO BURITY / MACAXEIRA
3 46 3011 20
AV. NORTE / MACAXEIRA
18 181,5 23303 5
AV. NORTE MACAXEIRA / DIESEL
8 89,5 13974 5
CAETÉS / MACAXEIRA
9 99 6693 8
MIRUEIRA / MACAXEIRA
4 51 3150 16
ABREU E LIMA / MACAXEIRA 5 75 5511 12
TOTAL 67 793 72.080
FONTE: EMTU/Recife. Dados médios de um dia útil. Mar/04 (mont. do autor)
TABELA 16 – DADOS OPERACIONAIS DO SEI – TERMINAL DO BARRO
LINHAS FROTA VIAGEM DEMANDA INTERV.
BARRO / MACAXEIRA (VÁRZEA) 10 110 13477 8
BARRO / MACAXEIRA (BR 101)
12 145 19511 4
ZUMBI DO PACHECO/BARRO (LOT.)
9 105 7435 7
ZUMBI DO PACHECO / BARRO (BR
101)
9 105 8796 7
BARRO / PRAZERES 13 118 16300 6
UR-11 / BARRO
12 90 7633 10
TOTAL 65 568 73.152
FONTE: EMTU/Recife. Dados médios de um dia útil. Mar/04 (mont. do autor)
TABELA 17 – DADOS OPERACIONAIS DO SEI – TERMINAL TIMBI
LINHAS FROTA VIAGEM DEMANDA INTERV.
SÃO LOURENÇO / TIMBI 5 115 3341 15
VÁRZEA FRIA / TIMBI 3 45 1019 10
TIUMA / TIMBI 6 60 2025 15
STA. TEREZINHA / TIMBI 1 38 505 20
SANTANA / TIMBI 2 60 956 18
STA. MÕNICA / TIMBI 2 81 1144 15
ALTO DO CÉU / TIMBI 3 73 1418 15
CAMARAGIBE / DERBY 12 92 7588 18
CAMARAGIBE / MACAXEIRA 12 101 6713 15
CAMARAGIBE / PRINCIPE 15 125 15045 12
CAMARAGIBE / CDE. B. VISTA 18 130 17214 10
TOTAL 79 920 56968
FONTE: EMTU/Recife. Dados médios de um dia útil. Mar/04 (mont. do autor)
106
As estações Integradas de Joana Bezerra e Afogados funcionam como pontos de
passagem.
Ao estudar a gênese formativa da RMR, Everaldo da Rocha Gadêlha, elege como
condição “sine qua non” o fenônemo da interação entre municípios, considerando o
coeficiente de proximidade como elemento chave explicativo para determinar a relação
de fluxos entre os mesmos. Isto corresponde, a “grosso modo” ao que os modelos
matemáticos que planejam transportes denominam de “atração gravitacional”, ou seja,
sucintamente, mas sem prejuízo de um bom entendimento, isto corresponde a dizer
que, em se tratando de espaço urbano considerado a partir de suas relações
funcionais, existe um núcleo que atrai e esta atração ela é menor ou maior de acordo
com sua proximidade com aquele que é atraído. Como são os fluxos e estes são
entendidos aqui como deslocamentos de pessoas que orienta esta reflexão, pode-se
admitir aqui, pedindo emprestado os termos produção e atração, o primeiro oriundo da
indústria e o segundo da física, que aquela área que produz viagens é aquela que
orbita em torno de um núcleo responsável pela a atração de viagens. Considerando
então sua distância, a produção de viagens é diretamente proporcional à sua
proximidade com aquela responsável pela a atração. O coeficiente de interação entre
os diversos municípios da RMR e destes com o seu núcleo central é determinado
também por uma série de fatores aos quais se agregam até àqueles de natureza
subjetiva da população. Gadêlha especula, comentando ainda sobre a problemática da
formação e interações existentes entre os municípios da RMR que
“A esses municípios se somam, por força de Lei Estadual, os municípios
de Ipojuca e Arassoiaba, sendo, portanto, lícito concluir que existem duas
Regiões Metropolitanas do Recife: a) uma geográfica, definida pelos 12
centros urbanos identificados nas duas pesquisas com índices de
interação significativos e b) uma Região Metropolitana do Recife apenas
legalmente constituída por 14 municípios, isto é, os 12 efetivamente
metropolitanos, mais Ipojuca e Arassoiaba.”
67
A pesquisa que o autor acima se refere e que tem com indicador “síntese” “o fluxo
de transportes urbanos por vias terrestres” (GADÊLHA, 1997), revelou índices de
interação que, apesar de serem de oito anos atrás, parecem válidos para uma análise
atual, considerando, provavelmente, algumas alterações decorrentes, por exemplo, das
melhorias na infra-estrutura de transportes, tanto no que se refere as vias quanto nos
equipamentos, como também naquelas áreas onde houve grandes inversões de
capital, como foi o caso do município de Ipojuca, seja pela instalação do Complexo
67
Everaldo da Rocha GADELHA, Região Metropolitana do Recife, o espaço de suas relações funcionais, p. 113.
107
Industrial Portuário de Suape, seja pela procura de Porto de Galinhas como centro de
atração turística. O referido município que até bem pouco tempo não tinha linhas de
ônibus que participassem do STPP/RMR, hoje já participa em virtude da demanda e
das necessárias regulamentações que o serviço requeria.
Cabe agora, levando em conta as considerações acima, apresentar, de forma
resumida, uma apreciação sobre a questão demográfica no âmbito da região estudada,
uma vez que esta dinâmica pode ajudar a revelar possíveis cenários que orientarão as
ações de políticas ligadas a planejamento de transporte urbano.
A distribuição do contingente populacional é bastante irregular no espaço
metropolitano com a concentração de 83,23% da população em apenas cinco
municípios (Recife, Olinda, Jaboatão dos Guararapes, Paulista e Camaragibe) que
formam uma mancha contínua.
Desses cinco municípios, Olinda e Recife constituem o núcleo central, com maior
densidade populacional e concentram mais da metade (54,90%) da população total da
RMR (TABELA 18).
Na RMR observa-se que paralelamente ao crescente processo de urbanização,
acentua-se também o processo de metropolitanização na Região. Assim, 35% da
população pernambucana estava concentrada na RMR em 1970, percentual esse que
se elevou para 39%, 41% e 42% respectivamente em 1980, 1991 e 1996. Analisando o
espaço intrametropolitano, observa-se uma tendência de crescimento rumo à periferia,
isto é, rumo aos municípios que formam a região metropolitana, com exceção do
município central, no caso, Recife.
Os números da TABELA 19 sugerem que, apesar do ritmo decrescente das taxas
de crescimento, haverá um acréscimo no estoque populacional urbano da RMR de
aproximadamente 725,5 mil pessoas entre 1996 e 2020, dos quais 22% deste
incremento estarão concentrados no município do Recife. A TABELA 20 e 18 sugere
algo que merece um comentário. Percebe-se nitidamente um vetor de crescimento na
região de Itamaracá (Itamaracá, Itapissuma, Igarassu e Arassoiaba), cuja taxa média
de crescimento deverá ser de aproximadamente 2,6% a.a., portanto três vezes maior
do que a taxa da RMR. Cabe um destaque aos municípios do Cabo e Ipojuca, que
apresentam potencial de crescimento, dada a proximidade do Complexo Industrial de
Suape. E também os municípios de Camaragibe e São Lourenço da Mata, cujo
crescimento é decorrente da expansão do metrô em direção a oeste.
108
109
110
111
A distribuição da população na RMR deverá ter, em 2020, a mesma configuração
atual, entretanto, os municípios de Recife e Olinda perderão cada vez mais expressão
na participação relativa, ao passo que os outros municípios aumentarão o peso relativo
de suas populações no contexto urbano da RMR (TABELA 18).
Observando a TABELA 19 é possível observar uma tendência de aumento da
pressão populacional sobre o espaço urbano ocupado. Com efeito, esta é uma
tendência esperada, devido a uma série de fatores tais como, falta de uma política
eficiente de assentamento urbano, que considere à ocupação ordenada dos espaços
vazios, a melhoria da infra-estrutura nas áreas ocupadas, sistema de transporte mais
organizado, oferta de serviços, etc.
Vale ressaltar que esta é uma tendência observada não apenas para o município do
Recife, mas também para os municípios que orbitam este último. Para concluir, duas
questões merecem ênfase. Embora a população cresça em ritmo menos intenso, a
concentração em áreas já com densidades altas poderá implicar em uma maior
pressão por infra-estrutura básica, serviços, etc. Finalmente, ainda que sejam
importantes as taxas de fecundidade e de mortalidade na sucessão das mudanças
previstas, a migração continua sendo a variável mais dinâmica, já que ela funciona
como elemento de ajustamento da população, respondendo de imediato às
transformações de natureza econômica e social. Assim, investimentos econômicos ou
sociais direcionados a contextos específicos dentro da RMR, poderão implicar em
alteração do quadro apresentado.
1.2. Os Corredores tronco-físicos, metroviário e rodoviário.
O Recife tem como a maioria das cidades, uma conformação para efeitos de
definição urbanística, conhecida como rádio concêntrica, ou seja, irradia de um núcleo
localizado na costa (litoral) um conjunto de vias que, considerando o sentido dos
ponteiros do relógio, abre-se em forma de leque a partir do Sul, declinando para
Sudeste, Oeste, Nordeste, até a alcançar a direção Norte. Esta irradiação é composta
de graus diferenciados entre as linhas que representam as vias, fruto da expansão
espontânea e das características físico-morfológicas da superfície terciária do terraço
flúvio-marinho (planície central) onde se localiza boa parte da cidade do Recife. Este
112
leque é costurado por uma série de vias que indo do Norte para o Sul ou vice-e-versa,
intercepta várias de suas artérias em ângulos perpendiculares.
A malha viária do Recife é formada por 14 (quatorze) vias radiais, 4 (quatro)
perimetrais e 1 (uma) diametral, cujo conjunto compõe o Sistema Arterial Principal, o
qual se encontra integrado aos Sistemas de Vias Coletoras, ao Arterial Secundário e ao
de vias locais. Isto implica numa estrutura hierarquizada que, segundo a LOU (Lei de
uso e ocupação do solo nº. 16.176/96 de 13 de Abril de 1996) é assim constituído:
Sistema arterial principal
Sistema arterial secundário
Sistema de vias coletoras
Sistema de vias locais
Tais sistemas que formam a estrutura viária da cidade do Recife se encontram
hierarquizados e com suas funções assim definidos:
Arterial principal que desempenha a função de articular as vias de tráfego, no
âmbito interurbano e metropolitano, sendo composto por vias expressas
primárias; expressas secundárias e arteriais principais;
Arterial secundário que desempenha as funções de coletar o tráfego das vias
coletoras e canalizar para as vias arteriais principais;
Vias coletoras, cuja função é a de coletar o tráfego da vias locais e canalizar
para as vias arteriais;
Vias locais, que tem como função a de dar acesso às propriedades
particulares e atender aos deslocamentos viários de âmbito restrito, onde
predomina o tráfego de automóveis;
Por sua vez, a classificação acima ensejou uma outra distinção para efeitos de um
segundo agrupamento que fosse definido em termos de Corredores que passaram a
ser chamados de:
Corredores de transportes metropolitanos que compreende as vias que
integram o sistema arterial principal e funciona atendendo ao tráfego de
âmbito regional e metropolitano;
Corredores de transporte urbano principal que inclui a Avenida Norte e parte
das vias que integram o sistema arterial secundário e funciona como ligação
de áreas ou bairros da cidade;
Corredores de transporte urbano secundário que envolve as demais vias do
sistema arterial secundário e algumas vias coletoras, tendo por função
113
principal, articular duas ou mais vias arteriais ou então coletar o tráfego de
uma determinada área ou quadra, canalizando-o para as vias arteriais
principais ou secundárias.
Para efeitos de uma macro divisão viária, o Recife foi dividido em dois territórios
(MAPA 8):
Território I que envolve dois centros, o expandido e o principal. O centro
expandido corresponde aos Bairros do Recife, Santo Antônio, São José, Boa
Vista, Coelhos, Ilha do leite e Santo Amaro, compreendendo à área que vai
do litoral a I Perimetral (Avenida Governador Agamenon Magalhães). O
centro principal é definido por 3 (três) anéis de circulação: 1) Anel do Bairro
do Recife; 2) Anel do Bairro de Santo Antônio e São José e o Anel do Bairro
da Boa Vista;
As vias por onde se dá a circulação dos Bairros, integram o Sistema Arterial
Principal e têm como função, distribuir o tráfego privado no Centro Principal,
interligando-se com os corredores. Cada anel de circulação corresponde a uma área
onde se encontram algumas vias classificadas de subanéis, que funcionam permitindo
a penetração do tráfego privado no seu interior, retornando a via de origem, sem
transposição. As vias que ficam fora desses subanéis são destinadas ao transporte
coletivo.
Território II que compreende toda aquela malha que fica fora do centro
expandido, ou seja, a macha urbana entre a Avenida Governador Agamenon
Magalhães (I Perimetral) e o limite municipal.
O sistema viário do território II é composto por 14 radiais, 4 perimetrais, 1 semi-
perimetral, 1 semi-radial, todas essas classificadas como Arteriais Principais e Arteriais
Secundárias, além das diversas vias coletoras e demais vias locais.
A área I, acima descrita como Centro Expandido é composta de 12 Corredores
assim distribuídos:
Corredor 1, que faz a ligação do anel da Boa Vista através da Avenida Cruz
Cabugá e Rua da Aurora, até a Avenida Dr. Jaime da Fonte;
Corredor 2, que faz a ligação do anel do Bairro do Recife através do Cais do
Apolo, Avenida Norte até a Avenida Agamenon Magalhães;
Corredor 3, que faz a ligação do anel da Boa Vista através da Avenida Mário
Melo até a Avenida João de Barros;
114
Corredor 4, que liga o anel da Boa Vista, através da Avenida Visconde de
Suassuna até a Rua Monte Castelo;
Corredor 5, que conecta o anel da Boa Vista através da Rua do Príncipe e
Rua do Riachuelo até a Rua Fernandes Vieira;
Corredor 6, eu liga o anel da Boa Vista pelas Avenidas Conde da Boa Vista
e Governador Carlos de Lima Cavalcanti;
Corredor 7, que faz a ligação do Anel da Boa Vista pela Avenida Manoel
Borba e Rua do Paissandu;
Corredor 8, que liga o Anel da Boa Vista através da Rua Visconde Goiana
até a Rua General Joaquim Inácio;
Corredor 9, que liga o anel já mencionado através da Rua dos Coelhos,
Ponte Joaquim Cardoso chegando à Rua Imperial;
Corredor 10, fazendo a ligação dos anéis Santo Antônio / São José e Boa
Vista através da Avenida Beira Rio;
Corredor 11, que liga o anel Santo Antonio / São José através das Avenidas
Dantas Barreto e Sul e o
Corredor 12, que faz a ligação do anel Santo Antônio / São José pela a
Avenida Engenheiro José Estelita.
O território II é composto, como foi assinalado acima, pelas demais vias que estão
fora do centro expandido, classificadas em Radiais, Perimetrais, Coletoras e Locais.
São treze as vias radiais, a saber:
Radial 1 (projetada): Possibilitará a ligação da BR 101 (IV Perimetral, antiga
contorno do Recife) com o centro expandido, através do complexo de
Salgadinho, oferecendo as áreas dos morros de Casa Amarela uma outra
alternativa para os deslocamentos radiais, hoje realizados quase que
exclusivamente pela Avenida Norte;
Radial 2: Compreendida pela Avenida Norte que serve a uma das áreas mais
adensadas do Recife. Existe um projeto que contempla seu alargamento em
3,50 para cada lado da via com a implantação de uma faixa exclusiva para
ônibus nos moldes da Avenida Caxangá;
Radial 3: Compreende um conjunto de Avenidas e outras vias. Avenidas Rui
Barbosa e Rosa e Silva, Avenida 17 de Agosto, Estrada do Encanamento,
Estrada do Arraial, Rua Oliveira Goes.
115
116
Radial 4: Avenida Beira Rio (Projetada). Segundo projeto já existente, esta
via ocupará as duas margens do Rio Capibaribe desde a Ponte Velha até o
encontro com a BR 101 (IV Perimetral) como num sistema binário;
Radial 5: Conhecida também como a antiga semi-radial norte que é formada
pelo conjunto da Avenida Conselheiro Portela, Rua Alberto Paiva, Avenida
Beira Rio; ligação das Ruas Odete Monteiro, 10 de Novembro, Joaquim
Alheiros, Monsenhor Fabrício, Rua do Palanque até alcançar a BR 101 (IV
Perimetral), ou seja, trata-se do conjunto de vias que ficou mais conhecida
como a Paralela da Caxangá;
Radial 6: Avenida Caxangá, complementada pelas Ruas Joaquim Nabuco,
Benfica e Gonçalves de Melo, além das Praças João Alfredo e Euclides da
Cunha.
Radial 7: Formada pelas Ruas do Paissandú, Ponte da Madalena, Avenida
Abdias de Carvalho e BR 232;
Radial 8: Corresponde ao ramal Metroviário Oeste. Funciona como corredor
de transporte de massa. A linha Oeste se birfuca, na altura da estação
Coqueiral em dois ramais, um seguindo para o Terminal Integrado de
Passageiros – TIP no Curado e o outro para o centro de Jaboatão dos
Guararapes.
Radial 9: Compreende as Rua Imperial e a Avenida São Miguel, funcionando
como corredor de tráfego misto;
Radial 10 (projetada): Compreende um anel de carga que corre ao longo das
margens esquerda e direita do Rio Tejipió;
Radial 11: Formada pelas Avenidas Sul e Marechal Mascarenhas de Moraes
e tem como função à circulação de tráfego misto. A Avenida Sul dispõe de
uma via exclusiva para operação de linhas de ônibus do STPP/RMR;
Radial 12: Corresponde ao corredor metroviário Sul. Este ramal metroviário
sai da antiga estação ferroviária central localizada no Bairro de São José e
ruma para o Sul. Paralelo a Avenida Marechal Mascarenhas de Moraes,
Estrada da Batalha e BR 101 segue até Cajueiro Seco, ainda em fase de
testes, atenderá todos os Bairros da Região Sul do Recife, na medida em
que, as estações existentes ao longo da referida linha serão integradas com
o transporte público por ônibus. Corre paralela a linha metroviária, uma linha
117
Ferroviária que tanto atende ao transporte de carga como também ao de
passageiros;
Radial 13 (projetada): Corresponde a Costeira Sul, via que se inicia no
Cabanga margeia a Bacia do Bairro Pina, segue pelo canal do Jordão até
encontrar o Viaduto Tancredo Neves, seguindo então pelo lado da faixa de
domínio da linha férrea Sul até a Rua Armindo Moura, penetrando através do
município de Jaboatão dos Guararapes;
Radial 14: Corresponde ao conjunto dos segmentos das pontes Agamenon
Magalhães, Paulo Guerra, Avenidas Antônio de Góes, Herculano bandeira,
Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, Visconde de Jequitinhonha.
As vias Perimetrais são quatro, sendo que uma delas, a BR 101, alguns anos atrás
estava classificada como Diametral, passando a fazer parte depois do grupo de vias
Perimetrais. São em número de quatro e desempenham funções importantes:
I Perimetral: Mais conhecida como Avenida Governador Agamenon
Magalhães, tem 5,7 Km de extensão. Tem seu início na Ponte sobre o Rio
Capibaribe no complexo viário Joana Bezerra até alcançar o limite com o
município de Olinda junto ao viaduto da Tacruna. Caracteriza-se por
desempenhar as seguintes funções: a) limitar o centro expandido do Recife;
b) articular os corredores radiais metropolitanos; c) ligar as faixas de praias
Norte e Sul; d) Concentrar atividades de Serviço; e) Servir como via de
transporte de massa. Sua importância transcende o âmbito municipal, pois
passa a ser um dos principais corredores metropolitanos. Sendo separada
por um canal, a referida Avenida apresenta uma caixa de considerável
largura com 4 (quatro) faixas de rolamento na pista principal e duas na
secundária, tanto no sentido Olinda / B. Viagem como no sentido B. Viagem /
Olinda. Mas apesar dessa condição oferece um baixo nível de serviço
motivado por uma série de fatores, entre eles o de excesso de cruzamentos.
Este eixo Perimetral se estende ainda a Sul, através das Avenidas Herculano
Bandeira, Domingos Ferreira e Visconde de Jequitinhonha. Ao norte, através
da Avenida Pan Nordestina e Rodovia PE -15. Tem como função precípua,
ligar a estação integrada de Joana Bezerra ao Terminal Integrado da PE -15.
II Perimetral: Operando com pequenas restrições, é composta de uma série
de vias que se ligam entre si e dão sequência a dois eixos que formam um
binário em determinados trechos. Liga a estação integrada de Afogados ao
118
Terminal Integrado da PE-15 em Olinda, com previsão de complementação
até o terminal de Casa Caiada. A Estrada dos Remédios, a Avenida
Visconde de Albuquerque, a Rua Cônego Barata, a Avenida Beberibe e o
segmento de via que tem início na Avenida Presidente Kennedy e se
prolonga até encontrar a PE-15. No sentido inverso parte por este último
eixo, itinera pela a Avenida Beberibe, Estrada Velha de Água Fria, Rua
Cônego Barata, Rua Real da Torre, Rua João Ivo, Rua Cosme Viana até
alcançar a Estação Afogados do Metrô.
III Perimetral: Este eixo ainda não se apresenta totalmente concluído. É
composto por uma série de vias que se articulam entre si numa extensão
aproximada de 16 km. Tem início em Boa Viagem, partindo do binário
formado pelas Ruas Ribeiro de Brito / Ernesto de Paula Santos, transpõe a
Imbiribeira pelo Viaduto Tancredo Neves e segue pela Avenida Recife e
Avenida General San Martin, atravessa as Avenidas Abdias de Carvalho e
Caxangá indo à direção do Rio Capibaribe, atravessando o Bairro de Casa
Forte, através da Rua Dona Olegarina da Cunha e Avenida 17 de Agosto até
atingir a Rua da Harmonia, fazendo binário com a Rua Bela Vista, passando
pelos Córregos do Bartolomeu e do Euclides, chegando até o Terminal
Integrado da PE – 22 ainda a ser construído, localizado no entroncamento
das rodovias do mesmo nome e PE – 15.
IV Perimetral: Eixo representado pela rodovia de Contorno do Recife,
interligando a Estação Cajueiro Seco, passando pela Estação Integrada do
Barro (Metrô) e Terminal Integrado da Macaxeira, indo até o Terminal de
Abreu e Lima.
O território II ainda é composto por algumas semi-radiais como são os casos da
Rua Gomes Taborda (Rua da Lama) que corre paralela a Sul da Caxangá, algumas
Semi-perimetrais como as já citadas Avenida 17 de Agosto, Ruas Monsenhor Fabrício
e Dona Olegarina da Cunha, Antônio Falcão, Félix de Brito, 10 de Julho, Capitão
Zuzinha e a Avenida Barão de Souza Leão. Entre tantas vias coletoras existentes na
ampla e complexa rede de vias do tecido urbano recifense, podemos destacar algumas
como as Avenidas Arquiteto Artur Lima Cavalcanti, Dois Rios, Dom Hélder e as Ruas
da Regeneração Odorico Mendes, Jerônimo Vilela.
Abaixo segue TABELA 21, contendo, segundo a LOU (Lei de Uso e Ocupação do
Solo da Cidade do Recife), a relação das vias e suas respectivas categorias funcionais.
119
TABELA 21 – REDE DE VIAS DO RECIFE E SUAS CATEGORIAS FUNCIONAIS
SEGUNDO A LOU (Lei de Uso e Ocupação do Solo / 16.176 de 13/04/96)
Arterial principal Arterial secundária Coletora Locais
Av. Boa Viagem; Av.
Antônio de Goes; Av. Visc.
de Jequitinhonha; Av. D.
Ferreira; Av. H. Bandeira;
Imbiribeira; R. Arqu. Luiz
Nunes; R. Olívia Menelau;
R. Falcão de Lacerda; Av.
J. Rufino; R. São Miguel;
BR 232; Av. ª de Carvalho;
Av. J. Ribeiro; Av.
Caxangá; R. benfica; R. J.
nabuco; R. J. Osório; I
Perimetral; II Perimetral; III
Periemetral; Anel Norte
(Projetado); Anel Sul
(projetado); Via Costeira
Sul (projetada); Av. Norte.
Av. Rui Barbosa; Av.
Parnamirim; Est. Do
Encanamento; Av. 17 de
Agosto; Av. Apipucos; Av.
R. e Silva; Est. do Arraial;
Av. beberibe; Est. de
Belém; Av. Cruz Cabugá;
Cais do Apolo; Av. Cde.
da B. Vista; Av. Gov. C. de
L. Cavalcanti; Av. Sul; Av.
Eng. J. Estelita; Av.
Alfredo Lisboa; Rua
Amélia; Av. Antônio
Falcão; Av. Armindo
Moura; R. B. de Souza
Leão; R. 20 de Janeiro; R.
10 de Julho; Av. Carlos
Gomes; Pça. Chora
Menino; R. Cde. de Irajá;
Av. Correia de Brito; Rua
D. Bosco; Av. Gal.
MacArtur; R. Gomes
Taborda; R. Jamaica; Av.
Jean E. Favre; Av. João
de Barros; R. J. Inácio; R.
L. Collor; Av. Lins Petit;
Av. M. Melo; R. Dr. M.
Vieira; R. do Paissandu;
R. do Príncipe; R. Prof.
W. Filho; R. Dr. Adelino;
R. 3 de Agosto; Av
Estância; R. B. Sobrinho;
R. Costa Honorato; R.
Arnaldo Lima; As que
compõem a Semi radial
Norte; As que compõem a
Semi perimetral e; a Av.
Beira Rio (projetada
Ruas 21 de Abril; Bom
Pastor; Dos Coelhos;
Cons. Portela; Cons.
Teodoro; Des. G.
Cavalcanti; D. M. da
Costa; Espinheiro; F.
Vieira; F. Alves; do Futuro;
da Hora; Imperial; J.
Maria; L. Barreto; M. G. da
Luz; N. Floresta; N.
Palmeira; O. Mendes; O.
Lima; Pe. Carapuceiro;
Pe. J. Anchieta; Prof.
Arthur de Sá; Prof. L.
Freire; Santos Dumont;
Uriel de Holanda; Paulino
G. de Souza; Quarenta e
Oito; Avenidas Acad. H.
Ramos; A. Olindense;
Cons. Aguiar; Dois Rios;
do Forte; Gal. Polidoro;
Jorn. E. Régis; J. Natário;
Liberdade; M. Borba; M.
Irene; Otacílio Azevedo; S.
Paulo; Visc. de Suassuna;
F. S. Barbosa; Prof. J.
Medeiros. Estradas do
Bongi; do Brejo.
Todas as outras vias que
não se encontram nas
classificações anteriores.
A Biologia, a Fisiologia e a Anatomia emprestam o termo “Tronco” ao urbanismo
para se referir a uma estrutura física que representa uma via que se assemelha a uma
linha medular. Ao longo da medula saem ramificações que se estendem por todas as
partes do corpo e é através da quais que uma rede de impulsos nervosos são
comandados mediante estímulo por uma região central chamada cérebro. É com essa
configuração que se parece um corredor tronco-físico de transporte coletivo de
passageiros. As vias troncais são caracterizadas por uma estrutura que foi preparada
para operar linhas de ônibus que partem de um ponto, geralmente um terminal
integrado, e se dirigem para locais previamente estabelecidos. Esses terminais ou
120
estações de metrô integradas recolhem os passageiros que vêm de áreas adjacentes
através de linhas de ônibus denominadas Alimentadoras e tomam vários destinos de
acordo com as suas necessidades pelas linhas conhecidas como Troncais. Mas, um
corredor de transporte nem sempre tem a função de troncal, por exemplo, aqueles que
na cidade do Recife operam o Sistema Complementar do STPP/RMR, enquanto,
aqueles que integram o SEI são, pelas suas próprias características de integração
entre modais de transporte, Troncais.
Abaixo segue uma relação de Corredores que fazem parte do Sistema Viário da
RMR.
Corredor Metroviário Sul: Estação Joana Bezerra (I Perimetral): Estação de
Afogados (II Perimetral); Estação do Geraldão (III Perimetral); Estação de Boa
Viagem (Rua Barão de Souza Leão); Estação de Prazeres (Av. Barreto de
Menezes); Estação de Cajueiro Seco (IV Perimetral); Estação de Pontezinha;
Estação de Ponte dos Carvalhos; Estação do Cabo.
Corredor Metroviário Centro: Estação Centro; Estação Joana Bezerra (I
Perimetral); Estação Afogados (II Perimetral); Estação Sta. Luzia (III Perimetral);
Estação Barro (IV Perimetral); Estação Cavaleiro; Estação Jaboatão; Estação
TIP; Estação Timbi (Camaragibe); Estação São Lourenço.
Corredor do Anel Norte: Terminal do Complexo de Salgadinho (I Perimetral);
Terminal da II Perimetral; Terminal da Estrada do Caenga (III Perimetral);
Terminal da BR-101 (IV Perimetral); Terminal de Timbi (Camaragibe).
Corredor da PE – 15 / 101 Norte: Terminal do Complexo Salgadinho (I
Perimetral); Terminal da PE-015 (II Perimetral); Terminal da PE-022 (III
Perimetral); Terminal de Paulista; Terminal de Abreu e Lima; Terminal de Cruz
de Rebouças; Terminal de Igarassu.
Corredor da Avenida Caxangá: Terminal de Integração da Av. Caxangá; Estação
de Timbi (Camaragibe).
Corredor da Avenida Norte: Terminal de Integração da Macaxeira.
Além dos Corredores listados acima com suas respectivas estruturas existem os
pontos de troca, que são pontos localizados nas intersecções dos corredores
estruturais com outras vias radiais ou assemelhadas, onde se processa um número
significativo de transbordos sem que, necessariamente, tenha que existir uma estrutura
física como um terminal, estação ou ponto de retorno, entretanto, tais pontos devem
121
receber atenção especial, procurando-se aplicar tratamentos físicos e visuais que
facilitem as operações de troca. Alguns pontos em destaque são relacionados abaixo.
Centro do Recife; Derby; Cruzamento da Avenida Caxangá com a II
Perimetral; Afogados; Boa Viagem; IPSEP (Avenida Recife); Santa Luzia ;
Encruzilhada; Praça de Convenções (Beberibe); Varadouro (Olinda); Centro
de Paulista.
O MAPA 9 mostra um detalhe da Estrutura Viária do Recife, onde aparece um
corredor considerado troncal, tanto rodoviário (I Perimetral) quanto metroviário
(Corredor Troncal Metroviário).
122
1.3. A Rodovia PE – 15 e a Avenida Caxangá.
A rede de vias por onde circulam os ônibus do STPP/RMR faz parte da Estrutura
Viária da Cidade do Recife, tanto do Sistema Arterial Principal, do Arterial Secundário,
do das Vias Coletoras, como em alguns casos do Local. Além dos limites do município,
porém, este Sistema continua, mas agora submetido à classificação relativa à
jurisdição de cada município para onde deriva, entretanto, tal classificação não se
altera para efeitos de hierarquização ou função. Como ocorre em muitos casos, as vias,
no máximo, mudam de nome e de configuração física, como é o caso da Avenida
Marechal Mascarenhas de Moraes (Imbiribeira) que passa a ter o nome de Estrada da
Batalha quando adentra o município do Jaboatão dos Guararapes e fica estreita se
comparada à primeira.
A Avenida Caxangá está incluída no Sistema Arterial Principal da LOU (Recife) e se
encontra nesse nível de hierarquização porque tem uma importância estratégica na
articulação dos fluxos dos mais variados tipos de transporte, portanto, credita-se a esta
Avenida de forma definitiva e quase única em razão das outras alternativas serem
limitadas por diversas razões, o elo de ligação essencial entre toda a Zona Oeste da
RMR formada pelos municípios de Camaragibe e São Lourenço da Mata e parte da
mancha urbana do município do Recife denominada por RPA – 4 (Região Política
Administrativa), formada por 11 (onze) Bairros. Caso ocorresse um bloqueio total por
alguma razão estrutural no cruzamento da BR 101 (IV Perimetral) com a Avenida
Caxangá, precisamente sob a ponte viaduto ali existente, o caos estaria instalado com
repercussões muito pouco favoráveis para todas as áreas num raio consideravelmente
grande de ação. Apesar do tom jocoso e apocalíptico, se formos verificar com a
necessária frieza, constataremos o fato, uma vez que as alternativas que sobram para
quem desejam se dirigir ao centro expandido do Recife são: a Norte, o eixo formado
pelas Avenidas Apipucos, 17 de Agosto, Rui Barbosa ou a Avenida Norte na altura do
Terminal Integrado da Macaxeira; a Sul, ou a Avenida Abdias de Carvalho acessada
através das BR’s 101 e 232, ou então as ruas coletoras ou locais, imediatamente após
a rotatória localizada em frente da Reitoria da UFPE.
Como já demonstramos na justificativa, o percentual de vias que oferece algum tipo
de prioridade para o transporte coletivo por ônibus na cidade do Recife é de 3,5 (três
vírgula cinco por cento), e a Avenida Caxangá, com uma extensão de 5,9 km (cinco
vírgula nove quilômetros) é a única que dispõe de forma mais plena através de uma
123
faixa exclusiva separada por um canteiro central, das condições ideais de circulação
com prioridade para as linhas de ônibus que atendem as áreas já mencionadas. Mas,
ao ultrapassar os limites do município do Recife em direção aos municípios de Olinda,
Paulista, Abreu e Lima e Igarassu, nos deparamos com aquele, ainda que seja
classificado como uma rodovia de jurisdição estadual, que é considerado uma das
maiores experiências brasileiras em matéria de prioridade para o transporte coletivo
urbano por ônibus.
A Rodovia Estadual PE-15 (MAPA 10) começa onde termina a Avenida Pan
Nordestina, na altura do encontro desta com a Avenida Joaquim Nabuco em Olinda, se
prolongando até encontrar a Rodovia Federal BR 101 na altura da divisa entre os
municípios do Paulista e Abreu e Lima. Esta rodovia é histórica, uma vez que foi
construída em cima de trilhas e caminhos existentes bem remotamente, herança do
período colonial. Sua estrutura, até meados dos anos setenta, era simples, dispondo
apenas de duas faixas de rolamento e seus respectivos acostamentos. Na medida em
que a mancha urbana crescia e se adensava mais para Norte e os fluxos em direção
aos municípios cresciam, como também para os Estados da Paraíba, Rio Grande
Norte, a sua capacidade ia ficando cada vez mais esgotada, ou seja, saturada, e os
congestionamentos quilométricos passaram a fazer parte, durante muitos anos, da
rotina diária de quem por ali itinerava, principalmente para aqueles que utilizavam o
transporte coletivo por ônibus, residia em Paulista, Abreu e Lima, Igarassu, Itapissuma
ou Itamaracá e trabalhava, estudava ou tinha alguma outra necessidade no Recife.
O sistema de transportes público por ônibus daquele período sofreu conseqüências
sérias e os índices negativos na sua operação eram dramáticos, pois, os atrasos, os
não cumprimentos de viagens, as quebras, os acidentes e consequentemente o
desgaste físico, tanto do pessoal de operação quanto dos passageiros eram
impossíveis de serem contabilizados, era o que hoje se conhece por deseconomia, isto
é, aqueles efeitos externos que travam o processo econômico.
Como se tratava de uma obra muito custosa atravessou várias administrações para
ser concluída, pois se dava prioridade em função do que cada governo considerava
mais importante na sua pauta política, pois, para uns esta obra era um dos motes
principais de campanha. Era evidente que, na medida em que a crise fiscal do Estado
se agravava e as reformas preconizadas pela nova ordem internacional alcançavam o
núcleo do Estado, os orçamentos iam ficando apertados e daí que os cronogramas de
execução da obra também iam sendo sistematicamente atrasados.
124
125
Mas, depois de quase 30 (trinta) anos, o complexo viário da PE-15 (FIGURA 17) foi
finalmente concluído e hoje opera na sua plenitude.
“A expansão da malha metroviária e a triplicação da PE -15 podem ser
considerados os mais importantes projetos de infra-estrutura de
transportes internos da RMR.”
68
A priorização do transporte coletivo por ônibus através de mecanismos como o que
foi adotado na PE -15 é, inequivocamente, uma ação que tem ligação direta com a
questão ambiental, uma vez que implica na redução significativa das externalidades
representadas pelos congestionamentos, como também viabiliza redução na carga de
emissão dos veículos, reduz o número de acidentes entre veículos e destes com
pedestres, aumenta o nível do serviço através do aumento da velocidade média, do
conforto e da segurança, ao mesmo tempo em que valoriza aquelas regiões que antes
eram vistas como problemas em face da distância do núcleo central e do acesso
precário.
Mas, a triplicação da PE – 15 também ensejou a implantação de um Terminal
Integrado de Passageiros, responsável pela movimentação de 106.000 (cento e seis
mil) passageiros/dia, 101 (cento um) ônibus e 1260 (um mil duzentos e sessenta)
viagens/dia (TABELA 14). Se os ramais metroviários implantados a Oeste e Sul da
RMR vieram para estruturar,
“A triplicação da PE-15 cumpre o mesmo papel estruturador, porém
agora na direção Norte, pois condicionará uma verdadeira revolução
urbanística, envolvendo uma faixa de terra de Olinda, Paulista, Abreu e
Lima, Igarassu, Itapissuma e Ilha de Itamaracá, faixa esta que vinha
sofrendo um processo de degradação e desvalorização, devido as
precárias condições de acesso em que se encontrava há décadas. Essa
rodovia, concluída em março de 2005, passou a permitir um grande
aumento da capacidade de fluxo e a servir aos residentes dos municípios
atravessados a os fluxos de carga com origem ou destino no Porto do
Recife ou no Centro Expandido da RMR, em direção às rodovias
federais, aos estados vizinhos e às áreas de interesse turístico do litoral
norte do estado.”
69
68
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p. 178.
69
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p. 179.
126
Diante do exposto e considerando que a PE-15 faz parte da malha viária que
articula o STPP/RMR, mesmo que esteja fora do município do Recife, aquele
percentual de vias de 3,5% (três vírgula cinco por cento) que tem algum tipo de
prioridade para o ônibus coletivo sobe para 11% (onze por cento) já que, considerando
os 11 km (onze quilômetros) de extensão desde o seu início até encontrar a BR 101
(Norte) e somados os outros 14 km (quatorze quilômetros) desta última até alcançar o
município de Igarassu chega a 25 (vinte e cinco) de via com tratamento específico para
o tráfego de transporte coletivo por ônibus, o que pode ser considerado pouco em face
dos problemas ambientais que se acumulam no meio urbano da RMR e do Recife.
Uma outra observação faz-se necessário em vista de haver uma diferença clara
entre uma rodovia de jurisdição federal e outra estadual uma via essencialmente
urbana. As primeiras, aqui representadas, ou seja, a BR 101 (Norte) e a PE-15,
respectivamente, são rodovias preparadas para tráfego pesado, ainda que estes
trechos dos quais estejamos tratando serem considerados urbanos, têm um tipo de
estrutura diferenciada na sua implantação, com técnicas específicas e a um custo
127
elevado, principalmente porque envolve a construção de obras d’arte, pontes e
elevados, rede de drenagem complexa, dispositivos de segurança, sinalização, etc.
Outro fator que as diferencia é que a operação nestas últimas, por sua própria
natureza, requer normas diferentes quanto a velocidade e quanto aos tipos de
equipamentos e cargas que por ali transitam. A arterial 5, segundo classificação da
LOU 16.176 / 96, da qual iremos tratar, é uma via exclusivamente urbana, que corta
uma região adensada e complexa, com uma rede de vias locais ou coletoras que, ora
lhe atravessam perpendicularmente, ora se conectam como simples ramificações,
todas tributárias dos mais variados tipos de fluxos para a artéria principal. Portanto, ali
o tratamento é diferenciado a começar pelos limites de velocidade, pelas restrições
regulamentares preconizadas em lei de trânsito, sobretudo por causa do grande
número de pedestres, ciclistas, carroceiros, que circula constantemente nas suas
margens ou calçadas.
A Avenida Caxangá (MAPA 11), como podemos constatar é a única via, dentro do
perímetro do município do Recife que é contemplada com um tipo de estrutura que
contribui para atenuar os efeitos negativos provocados pela intensificação da circulação
de veículos, ao mesmo tempo em que democratiza o consumo do espaço de circulação
viária na medida em que prioriza o transporte de massa.
A Avenida em estudo, mais adiante aprofundado, se destaca entre aquelas que
ligam as áreas de atração de viagens às de produção de viagens. Se o Centro
Expandido do Recife é um pólo de geração de tráfego, às áreas a Oeste são
responsáveis por um número significativo de produção de viagens em função daquele
último indicador referenciado (MAPA 12) e dependem daquele corredor, principalmente
àqueles que utilizam o transporte coletivo por ônibus, para a realização das suas
atividades diárias, seja para o trabalho, lazer ou outra.
Por outro lado, se encararmos um eixo de via dessa natureza como um indutor de
problemas ambientais (FIGURA 18), faz-se necessário uma abordagem diferenciada,
uma vez que, a partir de então a Avenida retro não é mais apenas um simples elo de
ligação entre áreas que se articulam por alguma razão econômica, ela é parte de um
complexo sistema, cujas variáveis estão interconectadas e que, para cada evento, por
pequeno que seja nas suas funções e território, corresponde uma série de outros que
se encadeiam e se complementam, respondendo pela ocorrência de fenômenos que
muitas vezes são interpretados como algo isolado, fora de um contexto maior, que
seria, por exemplo, decorrente de outro, como àquela simples alergia respiratória
128
crônica de um ambulante que pratica seu pequeno comércio às margens (calçada) de
uma Avenida como a que está em discussão.
129
130
131
2. O MODELO DE TRANSPORTE É UMA QUESTÃO AMBIENTAL
O transporte urbano nas principais cidades do Brasil Império foi marcado pela
implantação das diligências ou carruagens puxadas a cavalo conhecidas como ônibus,
depois pela chegada dos bondes de tração animal e em seguida pelos bondes movidos
à eletricidade ou as locomotivas a vapor. Rio de Janeiro, Belém, Fortaleza, Recife
(FIGURA 19), Maceió, Salvador, Santos, São Paulo, Curitiba e Porto Alegre seguiram
caminhos semelhantes guardados as diferenças e especificidades.
É necessário observar que o desenvolvimento do transporte no Brasil acompanha o
seu processo de evolução política e econômica.
“A evolução econômica na Primeira República apareceu, à primeira vista,
como uma continuidade do processo no Império, agora sob regime
político republicano. Entretanto, este período foi o que estabeleceu a
ponte entre o Brasil agrário e o industrializado. Tal industrialização, na
verdade, já se tinha iniciado durante o Império, sobretudo se incluindo
neste termo o desenvolvimento de modernas infra-estruturas, como as
ferrovias e o próprio processo de beneficiamento do café, realizado nos
cafezais avançados de São Paulo”.
70
70
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 161.
132
A Primeira República foi marcada ao mesmo tempo por crises e avanços no setor
econômico. Caio Prado Júnior
71
atribui a grande expansão econômica mundial e a
modernização da base produtiva e da infra-estrutura brasileira a superação da crise do
Encilhamento de 1892. Uma vez superada a crise, houve uma retomada do
crescimento, principalmente das indústrias têxtil e alimentar, esta última liderada pelo
café para exportação e a primeira representada pelo algodão. O Estado passara a ser,
desde 1907, o administrador das crises sucessivas pelas quais passaria o setor
cafeeiro e foi neste contexto que se deram os eventos que culminaram com os
resultados de 1930. A borracha e o cacau foram os outros produtos que, por algum
tempo, fizeram parte da agenda de exportação brasileira, a cana-de-açúcar já
declinava em face de sua pouca importância àquelas alturas.
“As cidades começavam a desenvolver atividades industriais e de
serviços. Isto se deu, sobretudo, com o fortalecimento das exportações,
que foram capazes de produzir os saldos necessários para pagar as
dívidas, remunerar os capitais investidos e financiar a expansão da
produção. Foi sobretudo durante a Primeira Guerra, quando o País se viu
privado do abastecimento de diversos bens industrializados importados,
que se pode observar a primeira grande expansão da indústria...”
72
Data desse período o crescimento do Brasil urbano. Os sinais de industrialização,
ainda que tímidos, já eram suficientes para merecer destaque, pois
“...em 1907, o número de indústrias em todo o País era de 3.258
estabelecimentos, que empregavam um total de 151 mil operários. Já em
1920, estes números saltaram para 13.326 fábricas e 275 mil operários.
As cidades passaram a ter um peso cada vez maior na política nacional,
não obstante o País ainda não ter perdido o caráter agrário”.
73
Foi nesse contexto que as principais cidades brasileiras passaram a ter um
“...papel como vitrine do processo de civilização nacional e deveriam
servir de palco para a auto-representação das elites políticas
econômicas”.
74
Decorreu disto que houve uma considerável inversão de capital na melhoria das
infra-estruturas das cidades, particularmente, como já frisamos em parte anterior,
daquele capital estrangeiro. Destaca-se desse período o Rio de Janeiro, com as
construções das grandes Avenidas e melhoramentos portuários, mas sem esquecer
que a questão social ficara a mercê da sorte. O caso da famosa Revolta da Vacina é
71
Caio PRADO Junior, História econômica do Brasil.
72
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 164.
73
Ibid., p. 166.
74
Ibidem.
133
marcante, ocasião em que, um dos alvos prediletos dos manifestantes foram os bondes
cariocas.
Como estamos procurando um caminho para falar de modelo de transporte em sua
relação com a questão ambiental e para isto, a História nos fornece umas pistas que já
demandam um longo tempo, será preciso destacar a opção brasileira pelo rodoviarismo
em detrimento da ferrovia. Esta teve a partir de 1850 um investimento maciço do capital
externo através do estímulo proporcionado pelo Estado. Entre 1870 e 1914 se deu o
auge da construção de ferrovias no Brasil, a maioria financiada pelo capital inglês e
voltada para o transporte da produção agrícola. Mas, apesar dos esforços
“...poder-se-ia afirmar que, embora durante a Primeira República tenha
havido de forma indiscutível uma forte expansão ferroviária, sendo a
estrada de ferro o modo dominante, não se pode dizer que houve uma
política ferroviária coerente, bem definida, seguindo grandes diretrizes.
Planos e projetos eram raros. Observe-se que as ferrovias eram
construídas com bitolas de variados tamanhos, dificultando sobremaneira
as integrações futuras. Elas obedeciam mais a lógica de seguir os
caminhos do açúcar e do café, caminhos tortuosos e pouco propícios à
economia de custos. Na maioria das vezes eram caminhos isolados, sem
nenhuma integração entre si e/ou com outros modais, estando longe de
formarem uma malha integrada a nível nacional”.
75
O Brasil fez uma opção pela rodovia. Os primeiros automóveis chegaram por volta
de 1893, mas só a partir do início do século XX, começaram a ocupar o espaço que a
então nascente poderosa indústria automobilística iria requerer, pois foi nesse instante
que os carros se constituíram
“...em pivôs de um intenso processo de reorientação de políticas públicas
de transportes”.
76
A partir de 1910 estavam instaladas as condições para a expansão e consolidação
do modal rodoviário no Brasil, principalmente pelo incentivo à construção de rodovias
patrocinado pelo Governo Federal através do Decreto nº. 8.324, que
“...previa subvenções a serem pagas pelo governo por quilômetro de
rodovia construída dentro das especificações de projeto...”
77
A fundação do Automóvel Club Paulista e o Automóvel Club do Brasil, ainda que
tivessem conotações recreativas, foi um marco na criação do looby que articulava os
interesses daqueles que defendiam o uso do modal em destaque. Para tanto, exerciam
pressão sobre as mais variadas esferas de governo no sentido de construírem mais e
75
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 174.
76
Ibid., p. 175.
77
Idid., p. 176.
134
mais estradas. A criação de um Departamento Nacional de Estradas de Rodagem
decorreu de um evento promovido por aqueles clubes ainda no Governo Artur
Bernardes. As indústrias de automóveis Ford (FIGURA 20) e General Motors
instalaram-se no Brasil como montadoras em 1919 e 1925, respectivamente.
Foi Washington Luis quem cunhou a frase: “Governar é abrir estradas”.
O transporte urbano como problema no Recife propriamente dito já vem de algum
tempo. Primeiro foram os bondes puxados a burro, depois vieram às locomotivas a
vapor e os bondes elétricos e em seguida os ônibus movidos a combustível fóssil. O
surgimento do ônibus na região do Recife
“...nos remete a 1903, quando já operava uma ligação Recife-Goiana. A
partir daí, como ocorreu em outras grandes cidades, a concorrência dos
ônibus seguiu um crescendo, com evidente vantagem para os ônibus.
Um fato que registra, de forma inequívoca, tal preferência das
autoridades ao novo modal pode-se ver na notícia veiculada pelo Jornal
Estado de São Paulo, em 9 de dezembro de 1927: “O Governador do
Estado, inteirado da situação anormal de tráfego os bondes,
determinando pela atitude da companhia em face ao movimento sempre
crescente de auto-ônibus, determinou ao fiscal do governo junto à
referida companhia que tome providências urgentes, no sentido de não
ser o tráfego de auto-ônibus em linhas de grandes movimentos
135
prejudicado com excesso injustificável de bondes exatamente no mesmo
itinerário percorrido pelos auto-ônibus.”
78
No início da Era Vargas, a Pernambuco Tramways, então concessionária dos
serviços de bonde no Recife foi vendida para a General Eletric Co. por 4 (quatro)
milhões de dólares, mas em que pese a tentativa de resgatar o nível de serviço dos
primórdios
“A situação a que o serviço chegou durante a II Guerra Mundial é
descrita de forma precisa por Mário Sette (1978) “A guerra atual trouxe
para o tráfego de tramway uma tal situação de embaraço, de
superlotação, de irregularidades, que não há mais vagas para comentá-
los. Uma viagem de bonde que era um agradável passeio, hoje é uma
tortura indiscutível . Andam passageiros, sem exageros, até no teto dos
carros. Sai-se de um bonde, amarrotado, pisado, sujo como se estivesse
estado num combate. Conduzir embrulhos, livros, flores, vidros é
arriscar-se a um desastre. Mesmo porque ambas as mãos são
indispensáveis para nos agarrarmos e nos defendermos. Morreu a
polidez...O tempo é de Murici... Imita-se nos bondes o que fazem os
supercivilizados da Europa nos campos de batalha”.
79
Por esta época já se via falar de congestionamento no Recife, causados pelos
ônibus e automóveis. Ainda operava a rede de bondes, quando surgiram as primeiras
experiências de porte com ônibus na cidade do Recife e foi através do Governo Federal
que se outorgou em 1947 uma concessão para operar 16 (dezesseis) linhas que devia
durar dez anos à empresa Pernambuco Autoviária que contava com uma frota de 81
(oitenta e um) veículos importados. A modernidade em matéria de transportes urbanos
teria chegado ao Recife com esta experiência, pois
“Os serviços e os equipamentos adotados pela empresa eram
exemplares, e a modernidade se refletia pelo controle operacional,
mediante o emprego de linhas de rádio e um centro de controle”.
80
As notícias relativas à poluição ambiental na cidade do Recife já estavam se
tornando comuns nos jornais da época e uma grande discussão se estabeleceu por
causa do posicionamento do escape dos ônibus (FIGURA 21). Cabe destacar que as
notícias tratavam em geral de poluição provocada pelos coletivos e já datam da época
em que a frota já estava envelhecendo. O que se observa e se deduz é que este
destaque que se dava ao transporte público por ônibus na questão da poluição estava
relacionado ao fato de haver pouco veículo particular na cidade, uma vez que a classe
média urbana recifense estava ainda em formação.
78
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 198.
79
Empresa Brasileira de Planejamento de Transportes – GEIPOT, Transportes no Brasil: história e reflexões, p. 240.
80
Ibid., p. 291.
136
137
138
O período que compreende a década de cinqüenta do século passado revela,
através também do transporte urbano, o drama de uma cidade que se alastrava sem
controle (FIGURA 22).
Por outro lado, as provas são evidentes no que diz respeito à tentativa de resolver a
questão buscando alternativas que já sinalizavam, ainda que sem o saberem, os
gestores urbanos da época, para a idéia de sustentabilidade urbana na medida em que
pensavam numa forma de transporte – a exemplo das experiências de cidades
européias – que usasse fontes renováveis de energia e que não emitisse gases ou
fizesse ruídos (FIGURA 23).
Os ônibus elétricos ou Trólebus circularam pela cidade do Recife durante 4,5
(quatro vírgula cinco) décadas até serem desativados quando da privatização da CTU –
Companhia de Transportes Urbanos da PCR – Prefeitura da Cidade do Recife. Até hoje
se discute a validade desta desativação e uma das alegações teria sido a crise do setor
energético da década de noventa. Quanto ao transporte fluvial, nada foi efetivamente
posto em prática, apenas entravam como compondo pauta de programa de governo
nos palanques eleitorais.
A TABELA 22 relaciona os efeitos da poluição do ar na saúde humana.
139
TABELA 22 – EFEITOS DA POLUIÇÃO DO AR NA SAUDE HUMANA
POLUENTES PRINCIPAIS FONTES EFEITOS NA SAÚDE
Monóxido de Carbono (CO) Veículos (95, 5% das emissões
do sangue que leva o oxigênio
às veias).
Liga-se à hemoglobina,
substância do sangue que leva o
oxigênio às células, formando a
carboxi-hemoglobina, e diminui a
oxigenação do sangue. Causa
vertigens e tonturas. Causa
alterações no sistema nervoso
central. Pode ser fatal em doses
altas, em ambiente fechado.
Doentes cardíacos, portadores
de angina no peito são
considerados o grupo mais
suscetível aos efeitos da
exposição do CO.
Dióxido de Enxofre Indústrias e veículos a diesel. Provoca coriza e danos
irreversíveis aos pulmões. Em
doses altas pode ser fatal.
Também afeta plantas e
espécies mais sensíveis e
contribui para a destruição do
patrimônio histórico, acidificação
do solo e corpos d’água.
Ozônio(O3) Ação da luz solar sobre os
hidrocarbonetos e óxidos de
nitrogênio, resultantes do
processo de queima de
combustíveis, principalmente por
veículos.
Causa envelhecimento precoce.
Diminui a resistência às
infecções. Provoca irritação nos
olhos, nariz e garganta, e
desconforto respiratório.
Material Particulado (fumaça,
poeira, fuligem).
Veículos movidos a diesel,
indústrias, desgastes dos pneus
e freios de veículo em geral.
Ressuspensão de poeiras
assentadas.
Agrava quadros alérgicos, de
asma e bronquite. Pode ser
carcinogênica. As poeiras mais
grossas ficam retidas no nariz e
na garganta e facilitando a
propagação de infecções gripais.
As poeiras mais finas (partículas
inaláveis) chegam aos pulmões,
agravando casos de doenças
respiratórias ou do coração.
Hidrocarbonetos. Queima incompleta e
evaporação dos combustíveis
(álcool, gasolina e diesel) e
outros produtos voláteis.
Responsável pela incidência de
câncer no pulmão. Provocam
irritação nos olhos, nariz, pele e
aparelho respiratório.
Aldeídos Veículos Irritação nos olhos, nariz e
garganta.
Óxidos de Nitrogênio (NOx) Processo de combustão em
geral. Veículos.
Pode provocar desconforto
respiratório, diminuição da
resistência a infecções e
alterações celulares.
Fonte: SMA / CETESB (1997).
A segunda coluna da tabela acima inclui, em todas as fontes poluentes, os
processos que são responsáveis pela queima de combustíveis e os veículos movidos a
combustíveis fósseis aparece em todos.
140
A cidade de São Paulo tem sido no Brasil, o paradigma que serve para avaliar o
futuro de outras cidades brasileiras. Macedo avaliando o problema da poluição veicular
na Região Metropolitana de São Paulo nos diz que,
“Segundo o departamento de saúde, de 12 mil a 22 mil mortes precoces
por ano são associadas à poluição do ar, sem contar as mortes por
câncer”.
81
Continua expondo que
“A população de RMSP tem sido exposta a altos índices de poluição do
ar, principalmente durante os meses de inverno, conforme demonstram
14 anos de monitoramento automático da CETESB (SMA/CSTESB,
1997a). Neste período o monóxido de carbono e as partículas inaláveis
costumam atingir altas concentrações. Durante episódios agudos, os
mais afetados são as crianças e idosos, além dos portadores ou
suscetíveis a doenças respiratórias e cardiobasculares”.
82
Relata ainda a autora citada, amparada em dados da Secretaria do Meio Ambiente
de São Paulo e a CETESB que, no período do inverno o Hospital das Clínicas registra
um aumento de 30% (trinta por cento) a 40% (quarenta por cento) nas crises de
bronquite, asma e sinusite, e o instituto da Criança, 20% (vinte por cento) a mais de
internações. Para agravar mais ainda a situação vem se somar a poluição do ar à
sonora, pois, segundo a pesquisadora
“São Paulo figura entre as 10 cidades mais barulhentas do mundo,
devido principalmente ao trânsito”.
83
O Fórum Estadual da Agenda 21 do Estado de Pernambuco realizado em 2002
incluiu, entre outras tantas preocupações, a questão do transporte urbano como
elemento para uma discussão sobre sustentabilidade urbana. Identificamos que, dos
seus 6 (seis) eixos temáticos, os dois primeiros, ou seja, Cidades Sustentáveis e Infra-
estrutura contemplam diretamente o transporte urbano como ponto prioritário na
agenda.
Quanto aos objetivos e metas do referido documento, ainda que não sejam
especificamente apontados, verificamos que o transporte urbano passa a ser uma
questão relacionada à sustentabilidade quando as questões vinculadas a fontes de
energias renováveis, a inclusão social através da distribuição de renda e igualdade no
81
Laura Valente MACEDO, Impactos Ambientais Urbanos no Brasil, p. 324.
82
Ibidem.
83
Ibidem.
141
consumo, não só de bens, mas de serviços comuns por parte da população menos
favorecida, estão embutidas nos seus respectivos conteúdos.
O problema da acessibilidade, habitabilidade, da infra-estrutura urbana e do
transporte são tema detalhados na Agenda 21 de Pernambuco, assim
“A viabilidade ambiental do sistema de transportes deve estar presente
em todas as suas fases de desenvolvimento do transporte: do
planejamento à operação, pois todos os empreendimentos nessa área
devem preservar o meio ambiente e reduzir os impactos negativos
referentes à qualidade de vida da população. “A Lei nº 10.233, de 05 de
junho de 2001, prevê que o gerenciamento da infra-estrutura e a
operação dos transportes terrestres e aquaviários devem atentar para a
redução dos níveis de poluição sonora e de contaminação atmosférica do
solo e dos recursos hídricos. Vale salientar que programas de controle de
poluição de veículos e de racionalização do uso de derivados de petróleo
e gás natural representam um destaque para a preservação da qualidade
do ar, na medida em que as variáveis ambientais vão sendo
internalizadas nas políticas de infra-estrutura de transportes””.
84
Mais adiante constata
“O maior problema enfrentado pelas cidades que sofrem com o uso
indiscriminado e a ocupação irregular dos solos é a falta de infra-
estrutura urbana, principalmente os serviços de transportes, segurança e
saneamento ambiental”.
85
No que se refere às estratégias que visam dar sustentabilidade às cidades, no item
relativo à infra-estrutura destacamos a de número 4 (quatro) que preconiza:
“Planejamento Integrado do Setor de Transporte: O setor de
transporte é considerado como uma atividade-meio fundamental na
economia. A sustentabilidade desse setor é um desafio, face às diversas
formas de impacto que o sistema tradicional exerce sobre o meio. Na
busca da sustentabilidade desse segmento, deve-se:
1. Integrar o planejamento do sistema viário e de transporte ao do
uso e da ocupação do solo, buscando melhorar a fluidez de tráfego e o
respeito aos espaços dos pedestres.
2. Coletar, analisar e estabelecer intercâmbio de informações sobre
meio ambiente e transportes, com ênfase especial na observação
sistemática das emissões de agentes insalubres.
3. Realizar monitoramento constante da qualidade do ar nos
corredores que apresentem grande fluxo de veículos.
4. Implantar o abastecimento de gás natural nos postos da região.
5. Incentivar a implantação de oficinas especializadas na conversão
dos motores para gás natural e manutenção das peças convertidas.
6. Promover a regulamentação do licenciamento ambiental de
empreendimentos de transportes.
7. Especificar os fatores ambientais na avaliação econômica dos
projetos.
8. Estabelecer o monitoramento constante das emissões gasosas.
84
Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco. Agenda 21 do Estado de Pernambuco, p. 50.
85
Ibid., p. 114.
142
Melhorar os serviços de transporte e trânsito, ampliando a oferta e
aumentando a qualidade dos serviços prestados:
1. Implantação e otimização, em todo o Estado, de um eficiente
modelo de sistema de transporte público de passageiros.
2. Melhorar a rede de infra-estrutura necessária ao sistema de
transporte de passageiros.
3. Melhorar a gestão do serviço de transporte, aumentando a
fiscalização com relação à qualidade dos serviços prestados.
4. Assegurar a expansão e implantação de sistemas de transporte
público de passageiros urbanos e rurais.
5. Incentivar o uso de transportes fluvial e ferroviário, aproveitando
as potencialidades existentes e, na escala local, criar condições para o
uso de bicicletas e, consideradas as especificidades, o uso de animais
para os deslocamentos necessários.
6. Realizar pesquisa constante sobre a satisfação e as demandas do
usuário.
7. Levar em consideração as demandas dos usuários no
planejamento das ações.
8. Adotar dispositivos nos veículos que realizam transporte coletivo,
visando facilitar o acesso aos passageiros especiais.
9. Controlar e fiscalizar a segurança no transporte público.
Desenvolver e promover incentivos para o transporte coletivo:
1. Realizar programa de controle da poluição sonora.
2. Implantar vias exclusivas para o transporte coletivo.
3. Estabelecer parâmetros para a definição dos veículos de
transporte coletivo.
4. Introduzir modernidades tecnológicas nos transportes, tornando-
os mais confortáveis.
Buscar a sustentabilidade do transporte não-convencional:
1. Estimular a implantação de ciclovias.
2. Realizar estudos para implantação de transporte fluvial de
passageiros na cidade do Recife.
3. Buscar a sustentabilidade do transporte não-convencional.
Fortalecer o transporte ferroviário:
1. Recuperar a malha ferroviária do Estado. Linhas: centro, norte e
sul.
2. Viabilizar a construção da Ferrovia Transnordestina nos
municípios de Salgueiro – Parnamirim – Petrolina e Salgueiro – Missão
Velha (CE).
3. Implantar o ramal do gesso, entre os municípios Parnamirim –
Araripina, para o escoamento da produção.
4. Realizar estudos para analisar a viabilidade de transporte de
passageiros de média e longa distância.
5. Ativar um “Circuito da Cana” (engenhos, casas-grandes, etc.)
turístico, utilizando a malha ferroviária existente.”
86
Como vimos, tais considerações levantadas acima, se somadas aquelas que
demandam da esfera Federal através do Ministério das Cidades no estímulo quanto à
criação dos Planos Diretores das cidades com mais de 20.000 (vinte mil) habitantes, na
observação e cumprimento daquilo que preconiza o Estatuto das Cidades e no
86
Fórum Estadual da Agenda 21 de Pernambuco. Agenda 21 do Estado de Pernambuco, p. 185.
143
desenvolvimento de uma política de mobilidade urbana através da SEMOB (Secretaria
de Mobilidade Urbana) ligada àquele primeiro, a questão do transporte e dos seus
respectivos modelos não se restringe a ela mesma, senão, transcende os seus limites
e entra definitivamente para o âmbito da ecologia urbana, da sustentabilidade, das
questões ambientais mais amplas.
2.1. O transporte coletivo versus o transporte individual.
O transporte individual segue uma tendência de crescimento mundial e sua
aquisição por parte da população está diretamente ligada à condição socioeconômica
do indivíduo. Ainda que a indústria automobilística mundial venha passando por crises
sucessivas e a reestruturação produtiva, através de estratégias globais de alocação de
unidades de produção considerando as condições de cada enclave ou mercado como
também o salto tecnológico tenham sido os motes para superar os sucessivos
impasses relacionados ao decrescimento das taxas de lucro, o automóvel continua
sendo um dos bens industriais que permanece entre os primeiros nas pautas de
exportações dos países industrializados ou em desenvolvimento.
“É surpreendente que, num mundo tão convulsionado pelas baixas
perspectivas de crescimento, o Brasil venha recebendo investimentos tão
vultosos no setor automobilístico. Especialistas calculam que o Brasil
entre no século XXI com uma capacidade de produção 30% superior ao
potencial do mercado. É possível que boa parte do excesso seja
destinada ao mercado externo.”
87
Segundo o mesmo autor do trecho em destaque se
“As cerca de 630 unidades produtoras dos Estados Unidos, do Japão e
da Europa, se operadas a plena carga, provocariam um
congestionamento mundial inimaginável. Somadas às existentes em
outros países, como o Brasil e a Coréia do Sul, elas poderiam jogar no
mercado mundial 74 milhões de unidades por ano. Mas não há
compradores para tudo isso. Faz cinco anos que a produção está
estagnada em torno de 50 milhões de unidades por ano. Na Europa, as
fábricas têm capacidade ociosa de 33% e no Japão, de 50%. O
congestionamento chegou às fábricas.”
88
O curioso é observar que tal ritmo de produção se dá com muito menos
trabalhadores. Na década de 90, segundo Okubaro (2001, 11), as unidades produzidas
87
Jorge J. OKUBARO, O automóvel, um condenado? p. 11.
88
Ibid., p. 10.
144
por trabalhador cresceram de 7,8 para 19,1. Até 1980, à medida que crescia a
produção, crescia o número de operários nas fábricas, hoje é o contrário e desde os
fins dos anos oitenta, o número de emprego retrai, mesmo que a produção venha a se
recuperar.
A indústria automobilística foi a responsável pela guinada que deu o setor industrial
como um todo. O Fordismo e o Toyotismo definiram sistemas industriais modernos e
muitos admitem que a produção desse tipo de bem tenha ensejado o surgimento da
“indústria das indústrias”.
Voltando à São Paulo, Macedo observa que
“A RMSP possuía, em 1997, mais de 5 milhões de automóveis
licenciados... e, em 1995 a relação de propriedade em São Paulo,
conforme dados da CET, era de 2,18 habitantes por veículo, equivalente
a índices de países ricos, como a Bélgica e a Suécia... Em 1997,
estimava-se que o número de ocupantes por automóvel fosse de 1,51, o
que significa em aproveitamento muito baixo. A tendência de
motorização deverá se manter, uma vez que a indústria automobilística
considera o País um mercado consumidor potencial a ser desenvolvido.”
89
Isto atesta que o Brasil faz parte de um mercado global e sua sociedade tem como
uma das sete instituições
90
que a estruturam, o capitalismo, ou seja, é uma sociedade
de mercado, de livre concorrência e de livre escolha.
Para efeitos de demonstração a respeito das expectativas dos usuários de ônibus
que utilizam as linhas que trafegam pela Avenida em destaque sobre seu desejo em
relação à aquisição de um automóvel, é interessante destacar o resultado que se
apresenta na TABELA 23.
TABELA 23 – PESQUISA SOBRE ESCOLHA DE MODO DE DESLOCAMENTO
AVENIDA CAXANGÁ
RESULTADOS
PERGUNTA Nº. DE ENTREVISTADOS
SIM % NÃO %
SE VOCÊ TIVESSE CARRO,
USARIA O ÔNIBUS PARA
SE DESLOCAR?
157 21 14 136 86
PESQUISA REALIZADA PELO AUTOR NOS DIAS 07, 08, 09 E 10 DE OUTUBRO DE 2005.
89
Laura Valente MACEDO, Impactos Ambientais Urbanos no Brasil, p. 318.
90
Bernardo SORJ, A nova sociedade brasileira.
145
Cabe salientar que a pesquisa foi aleatória com relação às linhas de ônibus dos
usuários que desciam dos coletivos no corredor da Avenida Caxangá. Três locais foram
admitidos para a coleta dos dados, dois nas extremidades da via, correspondendo à
última estação no sentido subúrbio / cidade e a primeira estação no sentido contrário, e
um em frente ao Parque de Exposição do Cordeiro, onde fica a Secretaria de Produção
e Reforma Agrária do Governo Estadual e é notoriamente um ponto de destaque
quanto ao embarque e desembarque. O universo pesquisado é pouco significativo se
levarmos em consideração o volume de passageiros que são transportados pelas 25
(vinte e cinco) linhas do STPP/RMR que operam naquele corredor, como também as
mais diversas variáveis que se somam para uma pesquisa desse tipo, como por
exemplo, se tivessem sido estimulados sobre outros modais, como a motocicleta e/ou
sobre o compartilhamento entre uns e outros.
O que se confirma é que um dos sonhos de consumo do usuário do transporte
coletivo é a aquisição de um automóvel e qualquer que seja o questionamento que se
faça levando em consideração seu entendimento ou não da questão ambiental, sua
condição social ou de nível de instrução sugere, a julgar pelos juízos que os
entrevistados demonstravam com relação à abordagem, não importa. Muito pelo
contrário, observa-se que nas camadas de renda baixa, a questão do meio ambiente
fica em segundo plano, pois a auto realização através da compra de um carro é tarefa
insubstituível e prioritária. Outra curiosidade é a de que, a Avenida Caxangá é um dos
logradouros no Nordeste que mais concentra agências revendedoras de veículos e isto
nos parece um tanto paradoxal para uma via que dispõe de uma faixa exclusiva para
transporte coletivo por ônibus.
Um dos dilemas do mundo moderno é conciliar crescimento e a exploração racional
dos recursos naturais e, a questão energética vem a ser um problemas cruciais entre
tantos. Um carro popular, para transportar uma pessoa por 500 km queima 175 kg de
oxigênio e isto corresponde aos mesmos 175 kg que um indivíduo consome em doze
meses.
91
Os críticos e teóricos que questionam o modo de vida das sociedades atuais,
principalmente do ponto de vista da questão automotiva reúne e revela dados
impressionantes sobre os resultados advindos da produção automobilística já que,
inclusive a idéia de fabricação de um veículo movido a formas alternativas e limpas de
energia, deixa um custo negativo na contabilidade ambiental decorrente da (o)
91
Ivan ILLICH, Energia e Eqüidade, in Apocalipse Motorizado: a tirania do automóvel em um planeta poluído, org.
Ned Ludd, p. 35.
146
“- Extração de matérias primas: 26,5 toneladas de dejetos e 922 milhões
de metros cúbicos de ar poluído.
- Transporte de matérias-primas: 12 milhões de litros de petróleo bruto no
oceano e 425 milhões de metros cúbicos de ar poluído.
- Produção do carro: 1,5 toneladas de dejetos e 74 milhões de metros
cúbicos de ar poluído.
- Uso do carro: 18,4 quilos de dejetos abrasivos e 1,016 bilhões de
metros cúbicos de ar poluído.
- Descarte do carro: 102 milhões de metros cúbicos de ar poluído. ”
92
Considerando os números relativos ao processo de urbanização do Brasil
anteriormente discutidos e destacando que as cidades brasileiras concentram hoje
mais de 80% (oitenta por cento) da população e nelas estão à base da produção
industrial e dos serviços do país e que, de sua eficiência depende o resto da economia
nacional, será necessário que se antecipem as providências relativas à solução dos
problemas relacionados aos fluxos de pessoas e mercadorias, dos acidentes de
trânsito e da poluição atmosférica do meio urbano e isto passa necessariamente por
um conjunto de políticas que viabilize a implantação de modelos de transporte de
massa que ofereça condições de atratividade para aqueles que fizeram a opção pelo
transporte individual.
Várias têm sido as posturas dos gestores urbanos que buscam formas para reduzir
os impactos negativos provocados pelo transporte, a exemplo do que ocorre em
cidades da Europa como Londres que
“...acaba de adotar o pedágio para acessar o centro. Amsterdã elimina
3.000 vagas por ano. A tendência será cobrar cada vez mais caro pelo
estacionamento em via pública e, paralelamente, melhorar o transporte
de massas, as ciclovias, a integração intermodal, bem como investir na
redução da demanda por transporte.”
93
No Brasil, especialmente em São Paulo,
“A partir de uma experiência de caráter voluntário durante uma semana
em 1995, a operação rodízio entre 1996 e 1998 consistiu na retirada
diária das ruas de aproximadamente 20% da frota de veículos, em São
Paulo, e em mais nove municípios da RMSP nos meses de inverno
quando há maior dificuldade de dispersão de poluentes na atmosfera. A
estratégia era restringir a circulação do veículo em um dia da semana de
acordo com o final da sua placa, com multa para os infratores. Com a
retirada desses veículos e o conseqüente aumento da fluidez do tráfego,
estima-se que as reduções nas emissões foram da ordem de 1.486,7
t/dia de CO...”
94
92
Ivan ILLICH, Energia e Eqüidade, in Apocalipse Motorizado: a tirania do automóvel em um planeta poluído, org.
Ned Ludd, p. 133.
93
Alfredo SIRKIS, O desafio ecológico das cidades, in Meio Ambiente no Século 21, coord. André Trigueiro, p.
215.
94
Laura Valente MACEDO, Impactos Ambientais Urbanos no Brasil, p. 333.
147
O Recife pode ser considerado pioneiro neste aspecto da restrição do transporte
particular em área central. Desde o início dos anos oitenta do século passado que se
criou o anel viário central do Recife, que restringe a circulação de veículos particulares
em determinadas áreas do centro. Tal medida veio em razão de, já naquela época se
constatar a inviabilidade da convivência no mesmo espaço do transporte individual e do
coletivo. Talvez tenha sido esta, depois da Avenida Caxangá, uma das primeiras
medidas de priorização para o transporte público na cidade do Recife.
Mais dois indicadores que servem para comparar a questão do transporte público
em relação ao aspecto da sustentabilidade ambiental são os relativos às emissões
apresentado no GRAFICO 3 e o problema relacionado aos acidentes de trânsito no
Brasil demonstrado na TABELA 24.
TABELA 24 – ACIDENTES DE TRÃNSITO NO BRASIL / 1994
TIPO NUMERO/ANO
CUSTO UNITÁRIO
(US$)
CUSTO TOTAL
(US$ milhões)
ACIDENTES COM
VÍTIMAS
246.693 800 197
FERIDOS 337.576 3.920 1.323
MORTOS 22.393 80.000 1.791
TOTAL
606.662 84.720 3.391
FONTE: DENATRAN, ACIDENTES DE TRÃNSITO NO BRASIL, 1995.
Uma das questões que vem inquietando os gestores que planejam o transporte
urbano no Brasil é a queda sucessiva de passageiros nos sistemas de transportes de
massa, implicando em duas assertivas (TABELA 25). A primeira é a de que a classe
média tende, cada vez mais, a migrar para o transporte individual e a segunda é a de
148
que as classes pobres deixem de usar o transporte por razões de acesso limitados pela
renda. Isto resulta num impasse que concorre para uma série de decorrências. Uma
delas é a questão do equilíbrio financeiro do Sistema, onde as variáveis custo e receita
têm que manterem um equilíbrio que demonstre ser sustentável e por outro lado a
capacidade do sistema viário que vem alcançando picos de saturação ano a ano e que,
para compensar, os governos municipais têm que realizar inversões maciças na
construção de vias, viadutos, pontes, etc. O exemplo local é o sistema viário da zona
Sul do Recife, com destaque para o Bairro de Boa Viagem, que tem recebido
investimentos pesados no alargamento de vias, implantação de binários, implantação
de lombadas eletrônicas, pavimentação, construção de túneis, novas vias, alças de
viadutos, pontes e outros tipos de acessos.
TABELA 25 – EVOLUÇÃO NA QUEDA DA DEMANDA DE PASSAGEIRSO DO STPP/RMR
Ano
Passageiros
equivalentes
(média
mensal em
milhões)
Quilometragem
Total (média
mensal em
milhões)
Frota
média
diária
Viagens
(média
mensal em
milhares)
IPK
equival.
Passageiro/
veiculo
(média
mensal em
milhares)
Passageiro/viagem
(média mensal em
milhares)
1991
39,295 15,359 2,093 475,000 2,56 18,774 82,73
1992
34,479 16,078 2,211 491,667 2,14 15597 70,13
1993
33,984 16,133 2,195 493,333 2,11 15,482 68,89
1994
31,951 16,428 2,183 480,833 1,94 14,636 66,45
1995
33,566 15,974 2,341 517,500 2,10 14,338 64,86
1996
33,450 17,973 2,533 556,667 1,86 13,206 60,09
1997
30,333 18,300 2,603 592,500 1,66 11,653 51,20
1998
28,036 18,131 2,611 577,500 1,55 10,738 48,55
1999
26,783 18,721 2,566 578,333 1,43 10,437 46,31
2000
25,100 17,871 2,371 594,167 1,40 10,586 42,24
2001
23,098 17,098 2,343 575,833 1,35 9,858 40,11
2002
23,079 16,710 2,330 555,557 1,38 9,905 41,54
2003
23,183 16,684 2,299 566,552 1,39 10,086 40,92
FONTE: ANUÁRIO ESTATÍSTICO DA EMTU/RECIFE / AGOSTO 2003
Como se verifica, entre 1991 e 2003, houve uma significativa queda de passageiros
transportados, cerca de 16 milhões em treze anos, o que dá um percentual em torno de
45% (quarenta e cinco por cento). A questão é que esta demanda se deslocou para
algum lugar. Havia um indício, como de fato foi provado, que a perda teria sido por
causa da entrada na cena urbana de um novo elemento a partir do início da década de
noventa, tão polêmico quanto qualquer outro que faz parte daquilo que inquieta o
gestor urbano, o transporte alternativo, como era conhecido pela população usuária e
que, para o gestor público era um clandestino ou na melhor das hipóteses não passava
de um informal. Tal fenômeno assolou todas as grandes cidades brasileiras e as ruas
se transformaram em praças de guerra.
A cidade do Recife chegou a ter 7.000 (sete mil) veículos de pequeno porte como
Vans, Bestas, Kombis, Micro ônibus e outros tipos de utilitários, inclusive com placas
149
oriundas de todos os lugares do país, e isto implicou num problema ambiental sério
durante pelo menos dois ou três anos e quem se ressentia eram os moradores das
margens de grandes corredores de transporte, como era o caso das Avenidas
Engenheiro Domingos Ferreira, Conselheiro Aguiar, 17 de Agosto, Conselheiro Rosa e
Silva, Rui Barbosa e outros. Aumentaram os congestionamentos, a poluição sonora e
atmosférica, os acidentes e os demais conflitos de trânsito.
Com efeito, houve uma grande migração de passageiros do transporte formal para
o informal e o sistema sentiu as conseqüências. Mas depois de combatido o informal,
verificou-se que a perda se manteve não tão acentuada quanto antes, mas deixando
aberta a questão sobre para onde teria ido esta demanda.
Mas, em que pese toda a perda, verificamos que o transporte coletivo por ônibus no
Recife continua sendo o modal mais usado pela população (TABELA 26).
TABELA 26 – DISTRIBUIÇÃO DOS MODOS DE DESLOCAMENTO NA RMR / 1997
MODO TOTAL DE DESLOCAMENTOS
METRÔ 77.908
TREM 3.059
ÔNIBUS URBANO 1.847.669
ONIBUS EXECUTIVO 6.677
LOTAÇÃO 161.840
ESCOLAR / FRETADO 138.092
TOTAL MODO COLETIVO 2.235.245
AUTOMÓVEL 1.329.842
TÁXI 47.831
MOTOCICLETA 14.732
OUTROS (CAMINHÃO, BARCO, BICICLETA) 84.186
TOTAL MODO INDIVIDUAL 1.476.591
A PÉ 1.155.208
TOTAL GERAL 4.867.044
FONTE: PESQUISA DOMICILIAR / 1997
2.2. A eficiência do transporte coletivo como elemento de uma política ambiental.
Nos países industrializados, o setor de transporte responde por 22% (vinte e dois
por cento) do consumo de energia, destacando-se aí os automóveis como os maiores
consumidores. Segundo Goldemberg e Villanueva (2003), ainda que o setor de
transporte seja o que mais cresça nos países industrializados, os índices de
crescimento do modal referido vêm diminuindo desde a década de 60 (sessenta), e isto
repercute positivamente por duas constatações, a primeira é que o nível de aquisição
150
de veículos vem arrefecendo por causa da oferta de muitas formas de deslocamento e
em segundo lugar porque a eficiência dos veículos, devido aos novos incrementos
tecnológicos, tem aumentado, tanto no que se relaciona ao consumo como na emissão
de poluentes.
“Em 1999, último ano para o qual dados estão disponíveis, o setor de
transporte era a fonte de, aproximadamente, 24% das emissões globais
de gás carbônico relacionadas a fontes de energia (IEA 2001).”
95
Entre 1990 e 2001, aumentou em 1,7 milhões de toneladas o despejo de gás
carbônico na atmosfera advindo da queima de combustíveis fósseis do setor de
transportes, isto representa um incremento em termos percentuais de 2,4% (dois
vírgula quatro por cento) em onze anos.
“Mundialmente, projeta-se que emissões de gás carbônico no setor de
transporte crescerão à taxa de 2,5% a cada ano até 2020.”
96
As taxas de emissões de carbono projetadas para o setor em destaque nos países
industrializados e em desenvolvimento são da ordem de 4% (quatro por cento) e 3,5%
(três vírgula cinco por cento) respectivamente e o que chama a atenção é o que
Goldemberge Villanueva observam
“Em contraste, a taxa de crescimento de emissões de gás e outros dos
principais setores que contribuem com o efeito estufa está projetada para
ser mais baixa.”
97
Mesmo considerando que há políticas voltadas para a racionalização do uso de
veículos no meio urbano, se o ritmo de 16 (dezesseis) milhões de unidades sustentado
desde o início da década de 70 (setenta) se mantiver, em 2025 o planeta contará com
uma frota de veículos de 1 (um) bilhão (GRÁFICO 4), considerando que o crescimento
do consumo de combustíveis acompanha de perto o primeiro. Isto já não é apenas uma
previsão, trata-se de uma constatação, pois para tanto basta lembrar que a China já
começa a produzir veículos em fábricas autenticamente chinesas a partir de 2007, sem
contar com as coreanas, as japonesas, as européias e as americanas que já estão nas
suas zonas de processamento de exportação desde o início da década de 90
(noventa).
Nos países em desenvolvimento o transporte vem representando 14% (quatorze
por cento) do consumo total de energia, isto importa numa relação de 51 (cinqüenta e
95
José GOLDEMBERG, Luz Dondero VILLANUEVA, Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento, p. 114.
96
Ibidem.
97
Ibidem.
151
um) veículos por cada grupo de 1000 (mil) pessoas, enquanto nos países
industrializados essa relação sobe para 513 para cada grupo de 1000 (mil) (GRÁFICO
5) (TABELA 27).
Pode parecer apocalíptico, mas
“Os sistemas de transporte podem afetar desfavoravelmente o meio
ambiente de várias formas, tais como desfigurando a paisagem e
gerando poluição sonora. No entanto, o impacto mais sério é a sua
grande contribuição atmosférica. Como resultado da combustão interna
no motor, os veículos automotores geram durante seu funcionamento
diferentes gases poluentes, sendo os mais representativos CO2, NOx,
CO, HC, Benzeno e Chumbo. Assim podemos atribuir ao transporte:
- Mais de 70% das emissões mundiais de monóxido de carbono
(CO).
- Mais de 40% das emissões mundiais de óxidos de nitrogênio
(Nox).
- Quase 50% dos hidrocarbonetos totais (HCs).
- Em torno de 80% de todas as emissões de benzeno.
- Pelo menos 50% das emissões atmosféricas de chumbo.”
98
Podemos classificar em três os tipos de impactos causados pelas emissões dos
veículos de motores a combustão; os locais; os regionais e os globais. Os locais são
aqueles decorrentes da poluição provocada pela concentração do tráfego em áreas
adensadas, principalmente nas horas de pico de tráfego. Os regionais, representados
98
José GOLDEMBERG, Luz Dondero VILLANUEVA, Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento, p. 117.
152
pelo fenômeno das chuvas ácidas, cujo responsável principal é o Óxido de Nitrogênio
(NOx). São atribuídos aos aviões que descarregam em torno de 3 milhões de toneladas
anualmente e ao contrário das emissões veiculares que se concentram próximo do
solo, ficam em suspensão na atmosfera por longo tempo, contribuindo fortemente para
a destruição da camada de Ozônio. Os globais são decorrentes, principalmente das
emissões da frota veicular e o CO2 é o seu principal elemento, pois as emissões desse
gás passaram de 19,3% (dezenove vírgula três por cento) para 22,7% (vinte e dois
vírgula sete por cento) num período de 10 (dez) anos, com uma previsão de aumento
para estas duas próximas décadas da ordem de 26% (vinte e seis por cento) do total
das emissões (GRÁFICO 6).
A julgar pelo que foi exposto acima, torna-se imperiosa a necessidade de buscar
alternativas de eficiência dos transportes coletivos urbanos na cidade do Recife, e esta
passa necessariamente pela adoção de medidas relativas à priorização e exclusividade
para fluidez dos ônibus que operam o sistema em discussão, uma vez que este modal
continua sendo o responsável pela maioria absoluta dos deslocamentos na RMR. Será
preciso então, além de identificar e aplicar novas tecnologias aos equipamentos que
transportam esse contingente populacional, desenvolver políticas que desestimule o
uso do automóvel nas regiões mais demandadas, caso contrário caminharemos para a
insolubilidade como alerta Goldemberg e Villnueva
“Se a utilização dos automóveis nos países em desenvolvimento
alcançasse os níveis dos países da OECD em todo mundo, os problemas
153
ambientais (poluição urbana do ar, congestionamento e ruído) poderiam
se tornar insolúveis).”
99
TABELA 27 – VEICULOS E FRAÇÃO DA ENERGIA CONSUMIDA EM TRANSPORTE.
PAISES FRAÇÃO DA ENERGIA VEICULOS / 1000 PESSOAS
INDUSTRIALIZADOS 22% 513
EM DESENVOLVIMENTO
14% 51,1
FONTE:José GOLDEMBERG, Luz Dondero VILLANUEVA, Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento, p.
117.
Vem de longe a preocupação com a questão dos fluxos na cidade do Recife. Fluxos
que poderia ser das águas pluviais ou fluviais que empoçavam ou inundavam ruas,
quintais, outras áreas, dos ventos que podiam trazer ou levar doenças, das marés, das
pessoas e de sua produção de dejetos, da circulação delas, fosse a pé ou por outro
meio.
No Capítulo V do livro “O Pântano e o Riacho. A Formação do espaço público no
Recife do século XIX”, Raimundo Arrais dedica uma parte, a qual o mesmo dá o nome
de “Geografia dos Miasmas”, para analisar como se deu o processo de implantação
das medidas higienistas no Recife da metade do século XIX.
“A ênfase na atmosfera explicava-se pela convicção que vigorava na
medicina do século XIX, apoiada nos princípios hipocráticos, segundo a
qual era na circulação dos elementos da atmosfera que estava a
condição necessária à vida humana.”
100
99
José GOLDEMBERG, Luz Dondero VILLANUEVA, Energia, Meio Ambiente & Desenvolvimento, p. 117.
100
Raimundo ARRAIS, O Pântano e o Riacho. A formação do espaço público no Recife do século XIX, p. 364.
154
Toda a comunidade médica da época fundamentava sua posição
“...numa teoria formulada na época das Luzes, a teoria dos miasmas,
segundo a qual as matérias animais e vegetais, ao entrarem em
decomposição, produziam gazes que subiam para a atmosfera, formando
os miasmas. Esses miasmas, impregnando as águas e os alimentos,
sendo absorvidos através da pele e dos pulmões, introduziam-se nos
órgãos internos, provocando febres, infecções e desinterias. Era aos
miasmas que se atribuía o aumento das enfermidades como a bexiga e a
tuberculose, às quais vinham se somar, na década de 1870, uma
variedade de outras moléstias, como as oftalmias, causadas pelo
excesso de reverberação do sol.”
101
Daí em diante, o Recife foi palco de uma intensa campanha liderada, sobretudo por
médicos, de controle dos mais variados tipos de atividade urbana, desde a produção do
pão, passando pelo açougue, até a chegada de navios de outras terras. Sobre a
questão da circulação nas ruas Raimundo destaca:
“Tudo que se movia na cidade, devia faze-lo sem impedimento, por uma
razão de higiene, mas também de conforto e segurança daqueles que
percorriam as ruas e andavam nos passeios. Entretanto, viver na cidade,
locomover-se pelas áreas centrais, significava enfrentar os embaraços
introduzidos por aquele corre-corre incessante de rodas, trilhos e canos
no solo escasso da cidade. Companhias privadas disputavam trechos de
terra, visando ao monopólio de fincar trilhos em certas ruas e estradas,
pretextando estarem sendo prejudicadas em seus direitos contratuais.
Aqui, a disputa dos trilhos pelo chão denunciava a disputa dos capitais
aplicados nos serviços urbanos.”
102
O tráfego nas ruas do Recife do século XIX já era um problema de difícil
administração. Mas a administração da cidade se via num dilema, pois, se partia para a
regulamentação da circulação de animais e veículos, poderia a Câmara impedir que a
economia local se desenvolvesse. Foi considerando esta possibilidade que
“Cláudio Dubeux, que explorava o serviço de carruagens entre o Recife e
os arrabaldes, divisando uma fenda no contrato assinado com a
província, solicitou, em 1856, a reformulação do artigo 16 da postura
adicional de 18 de julho de 1856, que permitia unicamente a carros e
ônibus o trânsito nas estradas com parelhas de dois animais.”
103
Como vemos, já era remota a necessidade de se estabelecer prioridade ao
transporte coletivo.
A questão dos fluxos parece ser uma questão bem antiga, mas os “miasmas” de
hoje parecem ser bem mais perigosos que àqueles do século XIX, e a dar crédito às
elaborações dos especialistas sobre os cenários urbanos futuros, principalmente os
101
Ibid., p. 367.
102
Ibid., p. 406.
103
Ibid., p. 407.
155
que decorrem do abuso das emissões veiculares, devemos então buscar, através da
aplicação de uma racionalidade cuja matriz discursiva seja a da equidade, meios de
ensejar eficiência aos transportes coletivos como resultados de uma política ambiental
urbana mais ampla.
A experiência do Transmilênio na cidade de Bogotá (FIGURA 24) e a de Curitiba
(FIGURA 25) no Paraná, são exemplos de como a eficiência nos meios coletivos de
transporte pode ser interpretada como uma das variáveis das políticas ambientais.
156
O IPEA, juntamente com a ANTP
104
, desenvolveu um estudo sobre o problema
dos transportes urbanos nas grandes cidades brasileiras e concluíram que o modelo de
desenvolvimento que amplia e adapta o espaço de circulação para o transporte
particular têm levado a (o)
“- Produção de situações crônicas de congestionamento, com elevação
dos tempos de viagem e redução da produtividade das atividades
urbanas. No caso das duas maiores cidades brasileiras, estima-se que o
congestionamento severo (quando a capacidade da via é atingida) esteja
causando perdas anuais de 316 milhões de horas (São Paulo) e 113
milhões de horas (Rio de Janeiro). O impacto desta restrição de
mobilidade e acessibilidade sobre a economia é enorme. Nas dez
cidades pesquisadas no estudo IPEA/ANTP (1998), estima-se que as
deseconomias resultantes do congestionamento severo (quando a
capacidade das vias está esgotada) atingem a cifra de R$ 450 milhões
por ano. Caso as demais cidades médias e grandes brasileiras sejam
incluídas, este valor sobe para a casa de vários bilhões de reais por ano,
sem contar as perdas devidas aos acidentes de trânsito (que também se
estima em vários bilhões de reais por ano).
- Prejuízo crescente ao desempenho dos ônibus urbanos, principalmente
na forma de redução da sua velocidade causada pelo uso inadequado do
espaço viário pelos automóveis, com impactos diretos nos custos da
operação, na contabilidade e na atratividade do sistema, e nas tarifas
cobradas dos usuários. Em muitas cidades grandes do país, a velocidade
dos ônibus está muito abaixo de 25 km/h, valor possível de se alcançar
com tratamento adequado.... Em grandes cidades, um número elevado
de pessoas gasta muito tempo nos seus deslocamentos por transporte
coletivo, chegando em muitos casos a mais de 3 horas por dia no caso
extremo de São Paulo...Adicionalmente, o tempo de acesso físico ao
sistema é dificultado pelos problemas de oferta física e espacial,
tornando o transporte público muito mais desvantajoso que o transporte
particular....A necessidade de realizar transferências causa desconforto e
aumento de custos e tempo de viagem....Finalmente, o
congestionamento provocado pelos automóveis aumenta os custos
operacionais dos ônibus, em valores que chegam a 16% no caso da
cidade de São Paulo.”
105
A TABELA 28 reúne alguns dados que revelam o dramático cenário urbano
brasileiro, destacando os aspectos negativos causados pelas externalidades ou
deseconomias, representadas pelos congestionamentos, pela poluição sonora e
atmosférica, pela escalada crescente do consumo de combustíveis e uso inadequado
do espaço viário.
104
IPEA / ANTP, 1998.
105
Ibidem.
157
TABELA 28 – DESPERDÍCIOS ANUAIS EM DEZ CIDADES BRASILEIRAS DEVIDO AO
CONGESTIONAMENTO SEVERO (VIAS COM CAPACIDADE ESGOTADA) 1998.
Quantidade anual Tipo de desperdício/excesso
Autos Ônibus
Tempo de viagem 250 milhões horas 256 milhões horas
Espaço viário
2
8,7 milhões m
2
---------
Ônibus
3
------ 3.342 veículos
Combustível 251 milhões litros 7 milhões litros
Monóxido de carbono 122 mil toneladas 0,7 mil tonelada
Hidrocarbonetos 11 mil toneladas 0,3 mil tonelada
1.Belo Horizonte, Brasília, Campinas, Curitiba, João Pessoa, Juiz de Fora, Porto Alegre, Recife, Rio de
Janeiro, São Paulo. 2. Espaço requerido para circular e estacionar. 3. Ônibus que devem ser colocados
em circulação para compensar a queda de velocidade causada pelo congestionamento, onerando os
custos de operação. FONTE: IPEA / ANTP. 1998.
Mas a questão sobre se a eficiência do transporte coletivo urbano como variável de
uma política ambiental é legítima, passa necessariamente por um conjunto de
avaliações teóricas e práticas que levarão em consideração uma série de pontos, e
estas últimas deverão considerar principalmente, através de análises de sensibilidade
econômica de um determinado empreendimento os aspectos que dizem respeito aos
cálculos dos custos econômicos dos projetos (Investimentos); dos custos de
manutenção; da redução do custo operacional dos modais envolvidos; da redução do
custo horário dos usuários; da evolução do custo operacional ao longo do projeto; da
evolução nos custos do tempo de viagem; cálculo dos indicadores de viabilidade.
Por outro lado, no que tange àqueles elementos do discurso simbólico-justificador
que legitima uma proposta de intervenção numa determinada estrutura urbana,
fazemos nossas as palavras de Acselrad
“As propostas de reprodução adaptativa das estruturas urbanas tendo
por foco o reajustamento das bases de legitimidade das políticas
urbanas, procuram, por sua vez, refundar o projeto urbano segundo o
modelo da eficiência ou da equidade. Em ambos os casos, estará em
jogo a cidade como espaço de construção durável de pactos políticos
capazes de reproduzir no tempo as condições de sua legitimidade. Ao
promover assim uma articulação “ambiental” do urbano, o discurso da
sustentabilidade das cidades atualiza o embate entre tecnificação e
politização do espaço, incorporando, desta feita, ante a consideração da
temporalidade das práticas urbanas, o confronto entre representações
158
tecnicista e politizadoras do tempo, no interior do qual podem, ao mesmo
tempo, conviver projetos voltados à simples reprodução das estruturas
existentes como estratégias que cultivem na cidade o espaço por
excelência da invenção de direitos e inovações sociais.”
106
2.3. A importância de um bom funcionamento dos corredores.
Não existe na Lei um conceito técnico para efeitos de uma definição do que seja
um Corredor. Mas tal termo é usado geralmente para definir uma estrutura viária que
está inclusa num subsistema hierarquizado de vias que por sua vez faz parte de um
sistema maior denominado de Transporte Urbano. Segundo a Lei de Uso e Ocupação
do Solo da Cidade do Recife (LOU) nº. 16.176 de 13 de abril de 1996, a estrutura viária
do Recife está dividida em quatro sistemas: o arterial principal, o arterial secundário, o
das vias coletoras e o das vias locais, mas a classificação acima está incluída no que a
Lei denomina de Corredores de Transporte Rodoviário, que estão subdivididos em
Corredores de Transporte Metropolitano que compreende basicamente as vias que
integram o Sistema Arterial Principal e que tem por função principal atender ao tráfego
de âmbito regional e metropolitano; Corredores de Transporte Urbano Principal que
compreende a Avenida Norte e parte das vias que integram o Sistema Arterial
Secundário e tem por função específica ligar áreas ou bairros da cidade e Corredores
de Transporte Urbano Secundário que compreende as demais vias do Sistema Arterial
Secundário e algumas vias Coletoras do município, e que tem por função principal
articular duas ou mais vias Arteriais Principais ou coletar o tráfego de uma determinada
área ou quadra, canalizando-o para as vias Arteriais Principais ou Secundárias.
Então a expressão Corredor se apresenta genérica neste caso, sendo caracterizada
e diferenciada a partir dos termos que a segue, se Metropolitano, Urbano Principal ou
Urbano Secundário. Mas de forma geral, um Corredor é uma via ou uma seqüência de
vias por onde circulam diversas categorias de veículos, podendo ou não ter tratamento
diferenciado para o transporte coletivo por ônibus.
Como se depreende, a natureza do Corredor vai depender de sua localização
geográfica, das suas características físicas como largura, extensão, declividade, tipo de
pavimento, da sua capacidade de absorção de tráfego e principalmente da função que
lhe é atribuída no conjunto do sistema de fluxos local ou regional do complexo urbano
conhecido como Recife.
106
Henri ACSELRAD, Discursos da sustentabilidade urbana.
159
Mas será importante esclarecer que um Corredor não compreende
necessariamente apenas uma via, na maioria das vezes um Corredor é uma seqüência
de vias, como por exemplo, aquele Corredor 1 definido pela Lei já mencionada como
sendo o que faz a ligação do Anel da Boa Vista com a Zona Norte no limite com o
Centro Expandido através da Rua da Aurora, Avenida Cruz Cabugá e a Avenida Dr.
Jaime da Fonte, ou o Corredor 5, que liga aquele mesmo Anel à passagem para a
Zona Oeste através da Rua do Príncipe, Rua do Riachuelo e Rua Fernandes Vieira.
Um Corredor, sendo ou não composto de uma ou mais vias, como vimos, é o
elemento chave que faz um complexo urbano funcionar, daí porque sua classificação
está sempre na razão direta de sua função. Um Corredor passa então a ser um elo de
ligação fundamental entre as diversas variáveis econômicas, sociais e até culturais de
uma sociedade. Como uma artéria do corpo que quando é obstruída causa problemas
a outras partes desse organismo, um Corredor, aqui representado por uma ou mais
vias, quando interrompido, por exemplo, para algum tipo de obra que exija desvios
longos e custosos ou por um acidente que lhe bloquei toda a faixa de rolamento ou até
mesmo por um protesto realizado por moradores do entorno em razão dos
atropelamentos ali ocorridos com freqüência, causa transtornos variados com reflexos
os mais distantes, desde o trauma da população da área circunvizinha até as outras
áreas adjacentes, que se ressentem na medida em que o desvio realizado para “furar”
o bloqueio, promove a intensificação do tráfego em ruas que, em muitos casos, nem
condições físicas têm para suportá-lo. São muitos os exemplos que com freqüência
ocorre na malha viária da cidade do Recife e, em se tratando da IV Perimetral (BR 101,
antigo contorno do Recife), tanto no seu trecho Norte quanto o Sul, onde o número de
atropelamentos passou a ser preocupantes e vez por outra era comum às
comunidades locais realizarem protestos bloqueando a pista com a queima de pneus, o
que demandava uma operação que envolvia policiais rodoviários, policiais militares e
corpo de bombeiros, além de técnicos de áreas afins para negociar tanto técnica
quanto politicamente o conflito, o que resultou da implantação de barreiras eletrônicas
para limitar a velocidade que, por outro lado, provocava reação daqueles que possuem
veículos e que por ali trafegam com freqüência (MAPA 13).
O esquema que resulta do MAPA 14, ocorrência muito comum na cidade do Recife,
exemplifica o que vem a ser uma situação que resulta numa série de pontos que, se
por um lado podem ser positivos considerando que o beneficiado é o setor turístico, por
160
exemplo, por outro lado, as externalidades decorrentes daquela mudança trazem
transtornos para o Sistema de Circulação em geral.
161
Mas um corredor é também uma rua como outra qualquer, ou seja, tem várias
outras utilizações além da dar vazão à circulação de veículos à combustão ou não,
como o caminho das redes telefônicas e elétricas, das galerias de águas pluviais e do
saneamento, dos pedestres que dependem das calçadas para circularem, sendo que
estas últimas ainda abrigam equipamentos públicos como paradas de ônibus e
telefones públicos.
O que tem por trás de uma rede de fluxos dessa natureza é a parte da gestão
urbana que cuida do planejamento do sistema viário. Considerando que numa grande
cidade como a do Recife, todos os deslocamentos são realizados através do seu
sistema viário e este ocupa em torno de 20% do seu território, na medida em que se dá
à expansão urbana, o crescimento demográfico, a saturação é uma possibilidade, seja
das vias por causa do crescimento da frota, seja das calçadas pela utilização indevida
do seu espaço. Mas é preciso salientar que este sistema não nasce totalmente
planejado, como é o caso do Recife que, por sua ocupação ter se dado de forma
espontânea, a estrutura viária de hoje é composta de ruas antigas, quase sempre com
162
dimensões restritas e, portanto, incapaz de absorver o volume de tráfego demandado
pela cada vez mais complexa elevação de fluxos.
Decorre daí a necessidade de um planejamento que melhore a eficiência do
sistema, a partir de uma classificação considerando as especificidades de cada via,
determinando, através de legislação específica, as atividades e o tráfego numa rede de
vias, incluindo o uso e ocupação do solo lindeiro. Tal atividade diz respeito a:
Classificação funcional das vias;
1. define diretrizes de arruamento e continuidade viária em áreas de
expansão;
2. define regras para alterações em construção de áreas consolidadas de
forma a induzir e criar condições de um novo padrão viário, como
estacionamentos e recuos;
3. aponta tratamentos viários preferenciais para transporte coletivo, vias
para pedestres, rotas para circulação de veículos de carga, ruas que
abrigue estacionamentos, áreas de lazer;
4. orienta e regulamenta ações que gerem transformações urbanas, como
a instalação de pólos geradores de tráfego, verticalização ou
adensamento residencial.
Em geral são 4 (quatro) os tipos de classificação de vias: expressa, arterial, coletora
e local. Tal classificação pode ainda ser subdividida considerando as especificidades
de cada caso. Uma vez definido um sistema viário, faz-se necessário um
acompanhamento sempre atualizado em razão da dinâmica urbana que passa a exigir
na medida de sua complexidade. Portanto, atividades como, o cadastro completo do
sistema viário, a análise dos planos e projetos viários propostos, a discussão sobre a
hierarquização das vias e a conseqüente aprovação mediante lei.
Um bom funcionamento de um Corredor de transporte está associado não só aos
custos da obra, mas aos aspectos relativos à segurança do trânsito, a compatibilidade
com o uso e ocupação do solo e com sua manutenção. Três são as questões que se
destacam:
tipo de pavimento: tem relação com a velocidade e o conforto;
geométrico dentro dos parâmetros das normas de projeto: alinhamento
horizontal e vertical, raios mínimos e máximos para curvas ou giros,
declividades.
163
drenagem superficial: otimização do escoamento das águas pluviais, prever
bacias de retenção para atenuar cheias localizadas.
Uma questão que se destaca no que se refere ao bom funcionamento de um
Corredor, visando aumentar a eficiência do transporte público é a dos cruzamentos ou
interseções. O excesso de cruzamentos em geral diminui a rentabilidade de um
corredor, mas também a ausência em excesso daqueles gera conflitos para as áreas
adjacentes, estimulando movimentos proibidos, portanto, o tipo de interseção está
diretamente relacionado ao volume e composição do tráfego, tanto de veículos como
de pedestres, e para estes últimos, a segurança oferecida pelos sistemas de travessia
é fundamental. A TABELA 29 relaciona os quatros mais comuns tipos de via e suas
características principais.
TABELA 29 – CLASSIFICAÇÃO DE VIAS
TIPO DE VIA
ITEM
EXPRESSA ARTERIAL COLETORA LOCAL
Utilização
Tráfego de
passagem
Fluxo ininterrupto.
Tráfego de
passagem.
Tráfego de
passagem e
lindeiro.
Acesso lindeiro
Tráfego
Automóveis,
cargas, ônibus
expressos.
Automóveis,
cargas, ônibus.
Automóveis,
ônibus.
Automóveis
Acessos
Controle total de
acessos,
interseções em
desnível.
Controle parcial
de acessos,
interseções em
nível.
(espaçadas)
Interseção em
nível.
Interseção em
nível
Dimensões (Mínimas)
Duas faixas de
tráfego por
sentido, largura
da faixa: 3,5m,
prever locais para
acostamento.
Duas faixas de
tráfego por
sentido, largura
da faixa: 3,0m.
Duas faixas de
tráfego por
sentido, largura
da faixa: 3,0m.
Calçada: 2,5m.
Largura da pista:
6,0m, calçada:
2,5.
Canteiro central
Obrigatório
(largura: 2,5m).
Não obrigatório,
mas
recomendável
(largura: 2,5m).
Não obrigatório,
mas
recomendável
(largura: 2,5m).
Desnecessário
Estacionamento Proibido Proibido
Locais
regulamentados.
Permitido
Velocidade (Km/H) 80 60 40 20
FONTE: ANTP, 1998.
Depreende-se de tudo isto que um Corredor não é somente uma linha por onde só
“correm” veículos, este é também responsável por estruturar uma rede de fluxos
aparentes ou não, que responde pelo funcionamento geral de uma cidade, mas dentro
do universo desses fluxos, o movimento de pedestres
“...correspondem à grande parte dos deslocamentos urbanos. Eles são a
maioria nas cidades e mesmo nas metrópoles são responsáveis por
cerca de um terço das viagens. Os pedestres são muito vulneráveis no
164
trânsito e, no caso brasileiro, correspondem a 60% a 80% das mortes
(em grandes cidades). Nos bairros periféricos, os pedestres percorrem
longas distâncias para chegar à rede de transporte coletivo ou aos
equipamentos públicos como escolas, postos de saúde, bancos. Assim,
as calçadas e as travessias de pedestres são elementos essenciais para
o funcionamento das cidades e para garantir a circulação segura e
confortável dos pedestres. Seu dimensionamento, construção e
manutenção adequados devem ser parte integrante de todo o processo
de planejamento de transporte e trânsito.”
107
O pedestre então deve ter tratamento prioritário (FIGURA 26).
A ABNT (Associação Brasileira de Normas Técnicas) recomenda que uma calçada
deva ter largura mínima de 2,00m e que pelo menos 1,60m seja totalmente livre para a
circulação e tal largura deverá ser aumentada em função do aumento do fluxo de
pedestres ou então considerando a existência de comércio ambulante, etc. Ainda
segundo a ABNT, a calçada deverá ter declividade transversal de 2% e no máximo de
15% quando se tratar de longitudinal.
107
Associação dos transportes coletivos, ANTP, Transporte humano, cidades com qualidade de vida, p. 105.
165
166
O índice de eficiência de um Corredor de transportes implica então em resultados
que sejam avaliados tanto do ponto de vista da qualidade quanto da quantidade.
Àquela primeira podemos relacionar diretamente à qualidade de vida tanto das pessoas
que utilizam a via para “passar”, quanto daquelas que residem ou trabalham no seu
entorno. As apurações dos dados quantitativos remetem à certificação dos padrões
ambientais do mesmo e confirmam se existe ou não vestígios de que aquela artéria é
sustentável ou não. Relacionamos abaixo, alguns indicadores que poderão fornecer um
padrão de sustentabilidade para um Corredor:
Acidentes de trânsito;
Níveis de emissão e ruídos;
Congestionamentos;
Velocidade média;
Satisfação e segurança do pedestre;
Calçadas segundo a norma;
Tratamento específico para deficientes em geral;
Rampas e gradis de segurança; pisos ante derrapantes;
Abundância de sinalização gráfica horizontal como inscrições na pista,
faixas de retenção, travessia para pedestres, divisória de pista, redutores de
velocidade;
Abundância de sinalização indicativa, informativa, advertência e
regulamentar;
Áreas específicas para carga e descarga;
Sinalização semafórica plena, eletrônica e sonora;
Elementos de priorização para o transporte coletivo, como faixas ou pistas
exclusivas;
Pontos de parada para embarque e desembarque com abrigos confortáveis
e seguros;
Pavimento sem deformações;
Iluminação pública;
Equipamentos como orelhões, caixas de correio e outros;
Ausência de poluição visual;
Ausência de bloqueios como postes abandonados;
Índices de quebra de veículos;
Regularidade nos intervalos das linhas de ônibus;
167
Prevenção contra a acumulação de águas pluviais e servidas;
Nível de arborização;
3. O CORREDOR DA CAXANGÁ. ASPECTOS GERAIS
Segundo o Atlas Ambiental da Cidade do Recife, este município, para efeitos de
uma classificação eco sistêmica, está dividido em 5 (cinco) grandes Unidades
Ambientais: o Ambiente Litorâneo,
“Situado entre o canal de Setúbal, no Bairro de Boa Viagem, os
manguezais do Pina e o Oceano, o Ambiente Litorâneo do Recife
estende-se sobre mais de 6 km, com uma população de mais de 100 mil
habitantes. O solo de areias é intensamente ocupado nos Bairros de Boa
Viagem, Brasília Teimosa e do Pina. Em Boa Viagem a paisagem por
torres de edifícios, hotéis, centros comerciais e empresariais, contudo em
seu entorno, do Pina e Brasília Teimosa, coexistem essa paisagem e
assentamentos populares com déficit de infra-estrutura básica. Em todo
Ambiente Litorâneo, a densidade das edificações deixou pouco espaço
para as áreas verdes públicas, cujo índice é de apenas 0,1 m2 por
habitante.”
108
O Ambiente da Planície,
“...situada entre os Morros e o Baixo Estuário, estende-se sobre 50 km2
e é local de moradia de mais de 500 mil habitantes. Por ser área de solo
Massapê, até o século XIX, era quase exclusivamente ocupada por
canaviais e os aglomerados que nela existiam eram ligados à agricultura.
Desde essa época, a planície vem sendo urbanizada incorporando à
cidade antigos centros de moradia dos Senhores De Engenho como
Casa Forte, Várzea e Barro. Os pequenos aglomerados comerciais,
como Encruzilhada e Afogados foram crescendo quando o transporte
terrestre substituiu o fluvial e os canaviais deram lugar a loteamentos
como em Jardim São Paulo, Areias, Cordeiro e Engenho do Meio. Nesse
ambiente, cada habitante só dispõe de 3,7m2 de área verde pública.”
109
O do Baixo Estuário,
“Situado entre os ambientes da Planície e o Litorâneo, o ambiente do
Baixo Estuário estende-se por uma área de 30km2 de extensão com uma
população de mais de 200 mil habitantes. Abrangendo todo o centro do
Recife, tem ao Norte o bairro de Peixinhos e parte dos bairros de
Campina do Barreto, Arruda, Campo Grande e Torreão, e ao Sul é
formado pelos bairros do Cabanga, Imbiribeira, parte de Afogados,
Jiquiá, Areias, Caçote, Ipsep, Boa Viagem e Pina. Nesse ambiente há
uma intensa troca entre a água doce dos rios e a água salgada do mar. A
maior parte dos solos resulta de aterros que, ao longo do tempo,
interligaram ilhas, ilhotas e coroas – intervenções iniciadas já no século
108
Prefeitura da Cidade do RECIFE, Atlas Ambiental, p. 12.
109
Ibidem.
168
XVII, no período holandês. Em algumas áreas aterradas, assentaram-se
monumentos edificações sólidas. Em outras, a ocupação foi de bairros
populares com a construção de mocambos. O índice de áreas verdes
públicas apresenta uma média de 1,47m2 por habitante, sendo em
alguns bairros como Coelhos inexistente. O encontro dos rios no centro
histórico da cidade constituiu-se na própria imagem do Recife.”
110
O Aquático, que no plural Aquáticos,
“...compreende as águas superficiais, formadas pelas água salgadas do
Oceano Atlântico e pelas águas doces dos rios, canais, lagoas e açudes.
Desta forma, o Recife conta com mais de 500 km de convivência direta
do homem do homem com a água. Quase todos os bairros da cidade,
sejam eles ricos ou pobres, antigos ou novos, são atravessados por rios,
entre os quais se destacam o Capibaribe e o Beberibe, o Tejipió e o
Jordão; por canais; riachos ou córregos; açudes como o de Apipucos; e
Lagoas como a do Araçá. A presença generalizada desses espaços
aquáticos confere ao Recife o caráter peculiar de “Cidade Anfíbia” ou
“Cidade das Águas”.”
111
O dos Morros que
“...se estendem a Norte, a Oeste e Sudeste da Cidade, sobre mais da
metade da área do município, com uma população de mais de 450 mil
habitantes. A partir do bairro do Cajueiro, passando pelos morros de
Casa Amarela, Macaxeira, Dois Irmãos, Curado, Tejipió, Ibura, até o
Jordão, as colinas, com variação aproximada de 50 a 80 metros de
altura, elevam-se sobre planície e se prolongam nas chãs/tabuleiro dos
bairros de Guabiraba e Pau Ferro, a Noroeste do município, uma área
que apresenta ainda grandes espaços semi-rurais. Nos topos planos, a
ocupação é de granjas e chácaras. As vertentes e os fundos de vale
mantêm a sua cobertura vegetal, necessária a preservação da qualidade
das águas dos numerosos riachos, que lá têm suas nascentes. Os
desmatamentos e a ocupação das colinas mais próximas da cidade,
originalmente periferia das grandes propriedades dos plantadores de
cana-de-açúcar, ocorrem neste século a partir dos anos 40, nos morros
do Norte e a partir dos anos 60 nos morros do Sul.”
112
A Avenida Caxangá se encontra localizada na Unidade Ambiental da Planície
(MAPA 15). Está inscrita dentro da RPA 4 (Região Político-Administrativa do Recife)
(MAPA 16), cortando-a quase ao meio, de Leste para Oeste, tendo seu início no
encontro com o fim da Rua Real da Torre (FIG. 29) e prolongando-se até encontrar a
Ponte Marechal Castelo Branco sobre o Rio Capibaribe (FIG. 30).
110
Prefeitura da Cidade do RECIFE, Atlas Ambiental, p. 12.
111
Ibidem.
112
Ibidem.
169
170
172
Para efeitos de pesquisa voltada para o estudo e planejamento de redes de
transporte coletivo na RMR, desde os anos 70 que foram criadas as zonas de tráfego,
espécies de setores censitários onde são coletadas as amostras junto à população
sobre dados sócio-econômicos e, entre eles, as informações relativas aos
deslocamentos realizados por aquela população, quantidade e de que tipo de modal,
como também as de desejo de deslocamento. O MAPA 17 situa a Avenida Caxangá no
contexto das zonas de tráfego que lhe são adjacentes, como também àquelas que que
ficam a Oeste. Em 1976, quando dos estudos empreendidos pelo Ministério dos
Transportes através do GEIPOT que resultou do trabalho TRANSCOL (Estudo de
Transportes Coletivos do Recife), o número de zonas de tráfego era de 166. Tais dados
continuaram a ser usados para planejar transporte até 1997, ocasião em que as zonas
de tráfego passaram para 249, um acréscimo de 83 (oitenta e três) novas zonas de
tráfego, dado que revela o crescimento vertiginoso da RMR nesse período.
O eixo viário da Avenida Caxangá está classificado, segundo a Lei de Uso e
Ocupação do Solo do Recife como sendo do conjunto daqueles do Sistema Arterial
Principal. Como já foi salientado antes, esta via é a principal ligação entre os
municípios localizados a Oeste do Recife. Se observarmos um mapa da RMR com o
sistema viário principal em destaque, verificaremos que concorrem com a Avenida
Caxangá, do Norte para o Sul, para a articulação da região Oeste da RMR com seu
núcleo central, os corredores das Avenidas Norte e Abdias de Carvalho (MAPA 18). O
primeiro tem início na Ponte do Limoeiro e segue até encontrar a BR 101 Norte e o
segundo nasce no bairro da Ilha do Retiro e termina no encontro com a BR 232,
precisamente no complexo de viadutos da Ceasa. As duas vias podem ser usadas para
acessar a região Oeste da RMR e outros destinos, mas a Caxangá, considerando sua
localização é, medianamente, a que mais rapidamente liga a região mencionada ao
núcleo central.
Para quem demanda de Camaragibe, São Lourenço, Tiuma ou até mesmo de
cidades que estão fora da RMR, como Carpina, Paudalho, o caminho mais curto para
alcançar, por exemplo, os Hospitais Barão de Lucena e Getúlio Vargas, é a Avenida
Caxangá.
Os eixos aos quais nos referimos para compará-los ao da Caxangá também são
estratégicos e já se encontram saturados do ponto de vista do tráfego de veículos.
Nenhum dos dois, apesar de suas extensões, tem alguma espécie de prioridade para o
transporte coletivo por ônibus, se bem que, a Avenida Abdias de Carvalho não teria
173
demanda de linhas de ônibus que justificasse a implantação de, por exemplo, uma
faixa exclusiva de ônibus, pois ali o que predomina é o tráfego de carros particulares e
de carga, sem grandes previsões para o aumento na demanda de linhas de ônibus.
174
175
Quanto a Avenida Norte, existe projeto para repetir a experiência da Avenida
Caxangá em toda a sua extensão, dotando-a de um canteiro central e baias específicas
para pontos de parada, medida que, certamente, aumentaria o rendimento do corredor
e consequentemente do nível de operação das linhas que por ali trafegam.
3.1 Evolução histórica na ligação Centro – Zona Oeste
Nas razões iniciais do documento “Caminhos do desenvolvimento, metrópole 2010”,
da então FIDEM (Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife),
no que tratam do processo histórico de configuração da metrópole, duas questões,
entre outras consideradas importantes, são tidas como essenciais:
“O direcionamento da ocupação urbana do território por meio das antigas
estradas de penetração no território regional a partir do Recife, que
configurou a mancha urbana atual com seus grandes ramos de
urbanização.”
113
E
“A presença de um forte núcleo irradiador – a cidade do Recife.”
114
Na formulação do resgate histórico da formação da RMR (MAPA 5), Geraldo
Santana considera que
“Esse grande e rico território estruturava-se a partir dessa rede
embrionária de lugares (9 vilas e povoações e 95 engenhos), orientados
e convergindo para a capital e cidade-porto, e se conectando pela rede
hidrográfica da planície central, ao longo e pelas travessias dos rios
Beberibe, Capibaribe e dos Afogados, e por uma incipiente malha de
estradas e caminhos de terra, que foram se consolidando, muitos deles
coincidindo com os grandes eixos viários da metrópole atual.”
115
É possível, sem muito esforço de abstração e considerando o veio do resenhista,
imaginar a dinâmica pela qual passava, nos idos do século XVII, as áreas que mais
tarde seriam chamadas metropolitanas:
“Também na planície, nos seus melhores e mais elevados recantos, nas
áreas de contato entre planície e colina, junto aos varadouros, nas
proximidades e no encontro das águas, a salgada e a doce – lugares de
integração entre o navio, o barco, a cano e o carro de bois -,
simultaneamente implantaram-se outros equipamentos e atividades.
113
Fundação de Desenvolvimento da Região Metropolitana do Recife – FIDEM, Caminhos do Desenvolvimento,
Metrópole 2010, p. 15.
114
Ibidem.
115
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p. 25.
176
Tudo se interligando por primitivos caminhos e cursos navegáveis, que
iam se organizando e estruturando segundo espontâneos e racionais
traçados, adaptando-se e modelando o novo relevo e a nova paisagem.
Novas trilhas, desmatamentos, demarcações, clareiras, escavações:
obras de terra (e de pedra e cal), dragagens, trincheiras; extração e
fabricação de materiais de construção, captação de água...”a ação do
tráfego definindo as ruas”, como dizia Joaquim Cardozo, pelas forças da
natureza e do novo homem – colonizador -, trilhando caminhos e
ocupando sítios antes usados e escolhidos pelos nativos.”
116
Santana (2005) identifica duas formas pelas quais se deu a urbanização da grande
planície (Unidade Ambiental da Planície, MAPA 15), encravada entre os semicírculos
de colinas que vai de Olinda a Jaboatão dos Guararapes, primeiro pela
“...expansão nuclear das primitivas povoações dos engenhos e dos sítios
deles desmembrados, que se transformaram em bairros (alguns deles
mantendo hoje os nomes dos sítios e engenhos que lhes deram origem);
e pela expansão linear ao longos dos eixos viários, e das antigas
estradas, encruzilhadas, entroncamentos e varadouros (que igualmente
deram origem ao nome de lugares e a alguns eixos da malha
metropolitana), tendo como ponto focal o porto.”
117
Estes caminhos que não passavam de trilhas, como vemos, são condutores e
fazedores de história. As estradas, para Gilberto Freyre (2003, 148), eram elementos
chaves para ampliar a solidariedade entre os colonos, ainda mais, os descuidos por
parte dos Senhores de Engenho com aquelas, explicaria o vagaroso desenvolvimento
das comunicações no Brasil. Comentando a rasa solidariedade existente entre os
patriarcas do Brasil Colonial, Freyre ensaia que
“O patriarcalismo mesmo, criando economias autônomas, ou quase
autônomas, aguçando o individualismo dos proprietários e o privatismo
das famílias, enfraqueceu na gente das casas-grandes o desejo de
solidariedade – ainda hoje tão fraco no brasileiro de origem rural, quase
que sensível apenas ao parentesco próximo e à identidade da religião.
Quando em 1822 – no Diário do Rio de Janeiro de 6 de março daquele
ano – os moradores da Maruí rogavam aos “Sehores herdeiros da
chácara do Murundu” que derribassem o mato e limpassem a parte da
estrada que estava nas suas terras, “afim de que haja livre tranzito a
todos os moradores daquelle lugar pois que acha intranzitavel não só
pelas crescidas e copadas arvores e espinhos como ainda pelas
emboscadas que amplamente offerece aos malfazejos dezertores e
escravos fugidos.”
118
O Plano de Desenvolvimento Integrado da RMR elaborado pela FIDEM (1976, 109),
discutindo a expansão metropolitana enfatizava que
116
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p. 25.
117
Ibid., p. 27.
118
Gilberto FREYRE, Sobrados e mocambos, p. 148.
177
“Uma expansão continuada, que ultrapassou os limites do município do
Recife, constitui hoje a sua Região Metropolitana. No seu
comportamento, essa expansão urbana procurou seguir as linhas de
menos resistência ao relevo, assim como os vales entre as colinas que
circundavam a cidade. Dessa forma, foram estabelecidas as ligações
com o interior, através das radiais que representam, atualmente, as
rodovias que ligam o Recife à região circundante ao resto do País. Ao
longo dessas estradas, surgiram, progressivamente, concentrações
humanas, com o loteamento das terras, originalmente exploradas pela
cultura da cana e valorizadas pela crescente urbanização, dando origem,
assim, ao processo de cornubação, hoje em escala elevada, entre os
diversos municípios da Região Metropolitana.”
119
Os mapas mais antigos (MAPA 19, MAPA 20, MAPA 21) confirmam aquilo que
se concluiu antes. No caso da Avenida Caxangá, verificamos que, uma vez que a
mesma rasga a Unidade Ambiental da Planície (MAPA 15), cujas características
morfológicas eram favoráveis em razão da não existência de grandes obstáculos, a não
ser por algumas áreas alagáveis que poderiam ser aterradas facilmente, a configuração
retilínea da mesma já é identificada.
No MAPA 20, alguns elementos toponômicos nos ajudam a identificar uma série de
localidades que estão diretamente ligadas aos dias de hoje, como por exemplo, os
nomes dos Engenhos que designam as paradas para embarque e desembarque dos
ônibus que operam a faixa exclusiva, como são os casos dos Engenhos da Torre, do
Cordeiro, Dois Irmãos, do Brum, Cosme e Damião, engenhos que deram os nomes aos
bairros que são cortados pela a Avenida Caxangá. É de se notar também que àquele
caminho levava o nome de “Estrada do Páo do Alho”, entretanto cabe salientar que a
grafia da toponímia está localizada no referido mapa depois da ponte sobre o Rio
Capibaribe, podendo sugerir a existência de outra designação para o trecho anterior ao
rio aludido. O que se conclui ao observar com atenção o mapa, é que, ao Sul do Rio
Capibaribe, não existe outra alternativa para alcançar a região Oeste que não seja pela
Estrada do Páo de Alho. Observa-se que existe uma rede de pequenas trilhas nas
áreas que lhe são adjacentes, mas sem muito significado, até se considerarmos a
diferenciação do traço duplo dado no mapa pelo desenhista para destacar o caminho a
que nos referimos em relação àquelas trilhas.
O mapa comentado registra com precisão, a existência da localidade conhecida por
Caxangá que, mais tarde vai legar o nome ao Bairro e a própria Avenida.
119
Plano de Desenvolvimento Integrado, FIDEM, p. 109.
178
179
180
181
Vamireh Chacon (1959, 37), no livro “O Capibaribe e o Recife” destaca que
“O açúcar conservou-se absoluto do século XVII ao XIX. Pelo rio
trafegavam barcaças conduzindo o produto, rio abaixo, levando
mercadorias rio acima. Nieuhof refere-se ao intenso tráfego, no tempo
dos flamengos, entre os engenhos do braço sul do Capibaribe.”
120
Por essa época é de se notar que a ligação entre o porto e a zona Oeste,
principalmente para o transporte da produção do açucar era feita pelo rio Capibaribe
que, a partir da melhoria das condições de circulação ensejadas pelas vias ou
ferrovias, deixou de ser concorrente.
“O Recife se expandia, os arrabaldes ganhavam novos moradores. A
Madalena, o Poço da Panela, Caxangá, Afogados, Várzea, Beberibe
juntam-se ao núcleo básico da cidade. O aumento da população e da
rede territorial da cidade levou, segundo Manoel Correia de Andrade, à
necessidade de se instalar serviços de transporte coletivo que
substituíssem os existentes, que eram muito precários. Em 1867, foi
inaugurada pelo Brazilian Street Railway Ltda., a estrada de ferro que
ligava o Recife às povoações da Várzea, de Dois Irmãos de Boa
Viagem, com estações espalhadas por numerosos arrabaldes, como a
que ainda hoje existe em Ponte d’Uchoa.”
121
A propósito do nome Caxangá, nos Anais Pernambucanos de Pereira da Costa,
está registrado que
“A povoação do Caxangá, que constitui um dos mais belos e aprazíveis
arrabaldes do Recife, de cuja cidade fica a uns onze quilômetros, ao
Sudoeste, situada às margens do rio Capibaribe, e pertencente à
paróquia da Várzea, vem dos últimos anos do século XVIII aos primeiros
do imediato; mas as suas terras eram já cultivadas desde meados do
século XVII, quando se levantou um engenho que ali houve, denominado
do Brum, encravado junto ao perímetro da povoação, e cujas terras
pertenciam àquela extinta propriedade agrícola, fundada por Miguel
Bezerra Monteiro, alentado colono, e de importante e tradicional família
pernambucana. Foi assim que, obtendo o cônego Francisco Pereira
Lopes, naquela época, a propriedade do sítio de terras denominado
Caxangá, que pertencia às do engenho Brum, e situado à margem direita
do rio Capibaribe, construiu uma boa casa para a sua residência na
estação calmosa, e depois erigiu uma capela dedicada a S. Francisco de
Paula, nas suas imediações, para a qual fez o seu competente
patrimônio canônico, e concorrentemente levantou outros prédios, vindo
depois a construção de mais outros por novos moradores, e bem assim a
situação de várias propriedades de cultura e sítios de vivenda, nas suas
circunvizinhanças, e o estabelecimento de uma grande olaria. Temos
assim as origens da povoação. Arruinando-se depois a capela, foi
convenientemente reparada pelos moradores da localidade, que
instituíram uma irmandade sob a invocação do seu próprio padroeiro, a
120
Vamireh CHACON, O Capibaribe e o Recife, História social e sentimental de um rio, p. 37.
121
Antônio Paulo REZENDE, O Recife, Histórias de uma cidade, p.88.
182
qual já estava incorporada em 1852, quando o seu compromisso foi
aprovado, na parte religiosa, pelo bispo diocesano D. João da Purificação
Marques Perdigão, por provisão de 3 de fevereiro, vindo depois a civil,
pela Lei Provincial n. 407, de 6 de abril de 1857.Reconhecida por todos
como uma situação amena e salubre, banhada por um rio de águas
límpidas, puras e correntes, gozando de um clima agradável e da
abundância das produções do solo, de uma grande fertilidade, foi assim
o nascente povoado progressivamente desenvolvendo-se, de sorte que,
dentro de poucos anos, já apresentava um belo aspecto,e oferecia pelos
seus recursos próprios, uma vida animada e cômoda. O cônego
Francisco Pereira Lopes, pela sua propriedade do Caxangá, predileção
que tinha pela sua bela e pitoresca habitação, e o grande interesse que
ligava ao desenvolvimento da localidade, quase que perdeu os seus
apelidos de família, tornando-se geralmente conhecido pelo nome de
Cônego Caxangá, que lhe deu a consagração popular.”
122
Os arrabaldes passara a levar vantagem sobre o centro da cidade, mas para tanto
contribuíram fortemente os meios de locomoção e
“O vínculo entre cidade e arrabaldes foi se estreitando segundo um ritmo
dado pela melhoria da circulação, à medida que novos meios de
transporte coletivo vieram suplantar os tradicionais, como as canoas.
Isso foi fruto não só da introdução de novas técnicas na vida material da
cidade, mas da disposição do Estado de conceder a exploração dos
transportes a companhias particulares, que trouxeram para o Recife os
serviços das carruagens, dos bondes sobre os trilhos e dos trens que
corriam para os subúrbios. Os novos meios de transporte foram
estreitando as relações entre cidade e os arrabaldes, reduzindo as
distâncias. Nos anúncios de venda e aluguel de moradias de arrabalde, o
que os vendedores nunca deixavam de acentuar era a proximidade das
propriedades em relação à cidade.”
123
Mas se a discussão aqui empreendida tem como objeto a qualidade de vida dos
moradores da cidade de hoje, considerando os aspectos relacionados aos impactos
causados pelo transporte urbano, no século XIX, o paradigma era o higienista, e por
causa disto
“...havia-se elevado a critério de valorização dos arrabaldes. Caxangá,
por exemplo, adquirira notoriedade como estação de cura de
enfermidades, em virtude de suas águas e seu ar puro. O reclame do
Hotel Caxangá, por exemplo, aludia aos “ares milagrosos” do lugar.”
124
122
Pereira da COSTA, Anais Pernambucanos, p. 508 Vol. 9.
123
Raimundo ARRAIS, O Pântano e o Riacho. A formação do espaço público no Recife do século XIX, p. 451.
124
Ibidem.
183
184
185
3.2 Vocação e tradição na promoção do transporte em via exclusiva
Jaime Lerner ainda não pensava em ser prefeito de Curitiba quando, como
arquiteto, participou de um estudo no Recife, juntamente com uma equipe de
arquitetos, engenheiros, economistas e estatísticos, que resultou do documento
“Estrutura Urbana do Recife”, responsável por um, se bem que sucinto, mas amplo
diagnóstico da situação da infra-estrutura urbana do Recife de meados da década de
70, para a qual, amparado nas diretrizes estabelecidas pela FIDEM, recomendava uma
série de ações, e entre elas se destacava a implantação de pistas exclusivas para
ônibus para viabilizar maior funcionalidade ao seu tecido que ficava cada vez mais
complexo.
É importante salientar que numa das partes do documento fica, de novo, claro,
como a rede viária era um elemento estruturador na medida em que
“A estrutura básica da cidade do Recife seria definida pelos eixos de
habitação e seus serviços – caracterizado pelas vias litorâneas de Boa
Viagem, pela Avenida Agamenon Magalhães (trecho da 1ª Perimetral),
estendo-se ao longo da Avenida Norte – e pelo eixo de empregos (onde
se localizariam as indústrias de serviços a ela vinculadas), constituído
pela Estrada da Imbiribeira, Estrada dos Remédios, prolongando-se pela
Avenida Caxangá.”
125
Mais adiante, o documento, após sumariar as diversas formas de uso e ocupação
do solo, admite
“O transporte por ônibus em pista exclusiva nos eixos de Boa Viagem,
Avenida Caxangá e Avenida Norte, atingiria o centro definindo um grande
terminal ao longo da Avenida Dantas Barreto.”
126
Como podemos constatar, hoje apenas a Avenida Caxangá tem o equipamento
referido e a Avenida Dantas Barreto deu lugar a uma série de pontos de retorno das
linhas de ônibus do STPP/RMR que atendem as regiões das UR’s e bairros localizados
entre a Imbiribeira, Avenida Recife e Avenida José Rufino. No local ainda funciona uma
área destinada ao comércio informal. Uma das questões centrais daquela época já era
o cada vez mais intenso fluxo de veículos que se dirigia para o núcleo central, motivo
pelo qual o documento preconizava:
“A utilização das Avenidas Caxangá e Norte com pista exclusiva para
ônibus, implica, necessariamente, na abertura de vias paralelas
destinadas ao tráfego do transporte individual.”
127
125
Prefeitura da Cidade do RECIFE, Estrutura urbana do Recife, p. 5.
126
Ibidem.
127
Ibidem.
186
E ainda atribuía a configuração radio - concêntrica da cidade a insuficiência para
dar vazão ao tráfego de veículos, daí porque
“...a abertura de novas vias representa opção já consolidada, devendo
ser compatibilizada em função da estrutura urbana proposta.”
128
A idéia quanto à exclusividade de circulação para os ônibus já estava expressa num
esboço que acompanhava o documento (FIGURA 35).
Em levantamento aerofotogramétrico (FIGURA 36) de 1974 observa-se que os
ônibus operavam disputando o mesmo espaço do transporte individual, com pontos de
parada na calçada, motivo pelo qual, era uma operação “truncada” e levava quase
sempre a conflitos como acidentes, quebras constantes de ônibus e atraso na
operação. Mas a Avenida já dispunha de canteiro central já com a mesma largura da
de hoje, afinal desde a década de sessenta que a referida via já tinha sido alargada. O
que se constata, após a leitura da FIGURA 35 é que, a proposta que trazia o esboço já
mencionado previa uma pista central exclusiva para circulação de ônibus com duas
faixas centrais, uma no sentido subúrbio/cidade e outro no inverso, com dois canteiros
segregando as pistas para transporte individual.
O Estudo de Transportes Coletivos do Recife – TRANSCOL, concluído em 1977 e
ao qual nos referimos anteriormente, já propunha também intervenções que fizesse o
transporte coletivo ter maior eficiência, principalmente nos corredores, sem, entretanto
apontar especificamente onde intervir. Porém, a julgar pelos diagramas de fluxo da
época (FIGURA 37), verificaremos que, comparativamente, a Avenida Caxangá parecia
estar predestinada para a experiência que iria se dá a partir do início da década de
oitenta.
Duas pesquisas foram realizadas visando subsidiar o planejamento de rede para o
transporte coletivo na RMR. A primeira, como já salientamos, foi realizada pela então
SUDENE em 1972 que, até 1997 serviu de base para os estudos que culminaram com
a criação do STPP/RMR. Em 1997 saiu o resultado da pesquisa domiciliar
empreendida pelo então órgão gestor do sistema com recursos oriundos da FINEP.
128
Prefeitura da Cidade do RECIFE, Estrutura urbana do Recife, p. 5.
187
188
189
190
Àquela época foram pesquisados 10.980 domicílios de um universo de
aproximadamente 700.000 (setecentos mil). Segundo se avalia, esta amostra garantiria
um erro de no máximo 10% (dez por cento) e 95% (noventa e cinco por cento) de
aproximação para os casos das estimativas de viagens, do número de habitantes e da
renda familiar. Como já nos referimos, para efeitos da primeira pesquisa domiciliar
realizada em 1972 a RMR foi dividida em 166 (cento e sessenta e seis) zonas de
tráfego, correspondendo a 49 (quarenta e nove) distritos. A segunda, realizada 25
(vinte e cinco) anos depois, em 1997, como o território metropolitano havia se ampliado
significativamente, as zonas de tráfego foram ampliadas para 249 (duzentas e quarenta
e nove) e o que era considerado distrito na primeira, passou a ser conhecido como
macro zona, ou seja, várias zonas de tráfego agrupadas numa única zona, resultando
então de 51 (cinqüenta e uma) macro zonas que por sua vez foram agrupadas em 4
(quatro) grandes conjuntos de macro zonas, divididos assim:
1. Macro zona Sul: Municípios do Cabo de Santo Agostinho e Ipojuca;
2. Macro zona Oeste: Municípios do Moreno, São Lourenço da Mata,
Camaragibe, Jaboatão dos Guararapes;
3. Macro zona Centro: Recife e Olinda;
4. Macro zona Oeste: Abreu e Lima, Araçoiaba, Igarassu, Paulista, Itapissuma,
Itamaracá.
A pesquisa de 1997 contemplou dados gerais, como indicadores demográficos,
sociais, econômicos. Mas aqui, para efeitos de uma pequena avaliação da vocação da
Avenida Caxangá como eixo de prioridade para o fluxo de transporte coletivo,
levaremos em conta aspectos pontuais de dados relativos a áreas específicas que,
teoricamente estão vinculadas a esta Avenida. O GRÁFICO 7 ilustra o que a TABELA
26 já revelava em termos de modos de deslocamentos usados na RMR.
GRÁFICO 7
MODOS DESLOCAMENTOS
NA RMR (%)
METRO = 2.64 %
TREM = 0.11%
ONIBUS URBANO = 39,37%
ONIBUS EXECUTIVO = 0.14%
ONIBUS FRETADO = 0.26%
LOTAÇÃO = 3.49%
ESCOLAR = 2.43%
AUTOMOVEL = 25.85%
TAXI = 0.92%
MOTOCICLETA = 0.29%
CAMINHÃO = 0.02%
BICICLETA = 1.22%
A PÉ = 22.87%
BARCO = 0.02%
OUTROS = 0.36%
191
TABELA 30 – DIVISÃO MODAL (EVOLUÇÃO)
1972 1997
MODOS
VIAGENS DIÁRIAS % VIAGENS DIÁRIAS %
METRO - - 77.908 1,6
TREM - - 3.059 0,06
ONIBUS URBANO - - 1.847..669 37,96
ONIBUS EXECUTIVO - - 6.667 0,14
LOTAÇÃO - - 161.840 3,33
ESCOLAR/FRETADO - - 138.092 2,84
TOTAL MODO COLETIVO
897.176 45,52 2.235.245 45,93
AUTOMÓVEL - - 1.329.842 27,32
TAXI - - 47.831 0,98
MOTOCICLETA - - 14.732 0,30
OUTROS - - 84.186 1,73
TOTAL MODO INDIVIDUAL
598.118 32,35 1.476.591 30,33
A PÉ 353.804 19,13 1.155.208 23,74
TOTAL GERAL
1.849.098 100,00 4.867.044 100,00
FONTE: EMTU RECIFE / PESQUISA DOMICILIAR
A predominância dos modos automóveis, ônibus e a pé é uma constatação imediata
(TABELA 30). Daí concluirmos que, considerando a relação entre os modais a partir da
sua significância e relação com o meio ambiente urbano, na medida em que são
responsáveis pelo deslocamento de contingentes maiores de pessoas, os dois últimos
teria, na lógica da equidade, prioridade de tratamento em razão das alegações já
mencionadas.
A TABELA 31 expõe os motivos das viagens relacionadas aos deslocamentos
realizados na RMR.
TABELA 31 – MOTIVOS DOS DESLOCAMENTOS RMR – EVOLUÇÃO
TOTAL DE VIAGENS TOTAL DE VIAGENS % %
MOTIVO
1972 % 1997
C/ DOMIC S/DOMIC
TRABALHO 437.580 38,84 921.005 18,92 38,42
ESTUDO 398.607 35,38 842.571 17,31 35,14
ASSUNTOS PESSOAIS/NEG. 88.341 7,84 263.589 5,42 10,99
LEVAR/TRAZER P/ EST/TRAB - - 63.821 1,31 2,66
SAUDE 27.225 2,42 90.622 1,86 3,78
COMPRAS 33.924 3,01 86.241 1,77 3,60
LAZER
27.522 2,44 57.229 1,18 2,39
VISITAS 29.766 2,64 - - -
ALMOÇO 67.023 5,95 - - -
OUTROS 16.731 1,48 72.414 1,49 3,02
TOTAL S/ DOMICILIO 1.126.719 100 2.397.490 - 100
DOMICILIO
- - 2.469.5544 50,74 -
TOTAL C/ DOMICILIO - - 4.867.044 100 -
FONTE: EMTU RECIFE / PESQUISA DOMICILIAR
192
Os MAPAS 22, 23, 24, 25 e 26, oferecem um panorama da evolução dos modos de
deslocamentos entre o período de 1972 e 1997 na RMR. Tal evolução tem como base
os números revelados na matriz de Origem e Destino das pesquisas realizadas nos
respectivos anos citados. O que se observa, considerando aquelas áreas mais
próximas da Avenida Caxangá que, teoricamente se conectam através dela as outras
áreas, principalmente ao centro do Recife, é que no período considerado houve um
razoável incremento de deslocamentos nas macro zonas que correspondem ou que
estão incluídas dentro da RPA 4, região onde está inscrito o eixo viário em destaque.
No MAPA 22, por exemplo, as macro zonas 19, 28, 30 e 31 apresentam, ainda que
diferenciados, elevação no número de deslocamentos. As macro zonas 28, 30 e 31,
que no MAPA 22 se apresenta dentro do intervalo entre 18 e 36 mil viagens/dia,
quando avaliadas no MAPA 23, as de número 28 e 30 passam a se enquadrar no
intervalo entre 36 e 72 mil viagens/dia, enquanto a macro zona 31 vai para até 36 mil
viagens/dia. Tais comparações dizem respeito ao modo coletivo, ou seja,
provavelmente derivadas de deslocamentos por ônibus do sistema e utilizando, na sua
maioria a Avenida Caxangá.
Quanto ao modo individual, ocorre fenômeno semelhante. No MAPA 24, as macro
zonas 28, 31 se encontram na classe até 18 mil viagens/dia, mas no MAPA 25, ou seja,
resultado da matriz de 1997, as mesmas passam para a faixa entre 18 e 36 mil
viagens/dia. Também se observa que a macro zona 34 que até então no MAPA 24 está
enquadrada na categoria até 18 mil viagens/dia, sobe para a faixa entre 18 e 36 mil
viagens/dia. Fenômeno idêntico ocorre com a macro zona 29 que, ainda que não tenha
muito a haver com a questão estudada, vale para confirmar a validade das matrizes
utilizadas para aferir os deslocamentos. Esta macro zona corresponde ao que é o
núcleo central do município de Ipojuca. Na pesquisa de 1972 ela produz até 18 mil
viagens/dia e na de 1997 ela já responde com a classe seguinte, isto é, até 36 mil
viagens/dia. Hoje sabemos que este incremento está relacionado diretamente ao fator
Suape.
Os MAPAS 26 e 27 delimitam as macro zonas e mostra os percentuais de viagens
produzidas por cada macro zona. A macro zona 19, por exemplo, área que abriga perto
de 80% (oitenta por cento) do eixo da Avenida Caxangá tem um percentual de
produção de viagens de 5% (cinco por cento), muito alto se comparado às que lhe são
adjacentes.
193
194
195
196
197
198
Sobre a pesquisa realizada em 1997 precisa ser aplicado um fator de correção para
que sejam atualizados os dados e uma melhor aproximação seja possível. Mas é
evidente que a dinâmica do fluxo seja sempre para maior, mesmo que se atinja um
percentual estável, a exemplo do que ocorre com o crescimento demográfico.
199
Mas para concluir e justificar o que o título do tópico sugere em matéria mais de
vocação do que de tradição, é preciso destacar que o referido eixo viário passou por
um grande agenciamento urbanístico recentemente, representado, principalmente, pela
readequação geométrica do seu eixo central, compreendendo a recuperação de todo
piso do seu canteiro central e tratamento das baias, com alargamento destas, e das
estações de embarque e desembarque, como também da supressão dos giros à
esquerda e a conseqüente criação dos “loopings” de quadra, que possibilitaram maior
fluidez ao tráfego local.
Mas ainda quanto à tradição, as FIGURAS 31 e 33, representadas por fotos da
década de 40 (quarenta), mostram uma Avenida Caxangá sem canteiro central e com
apenas uma via, o que equivaleria a pista Sul de hoje. Foi na década de 60, na gestão
do prefeito biônico Augusto Lucena, àquele mesmo da Avenida Dantas Barreto, que se
deu a duplicação da referida Avenida, cercada de muita polêmica na época por causa,
principalmente, de um conjunto de “majestosas” palmeiras imperiais existentes na
altura da Igreja do Cordeiro, que teriam que ser removidas, provocando intensos
protestos pelos moradores da área. A inauguração da duplicação ocorreu em fevereiro
de 1966 (FIGURA 38) com a presença do primeiro Presidente General, havia dois anos
do golpe de Estado que resultou mais tarde no AI – 5.
200
Em 1976 o GEIPOT já constatava a saturação da via, e considerando o estudo já
mencionado (TRANSCOL), em 1980, através de convênio celebrado entre a EBTU
Empresa Brasileira dos Transportes Urbanos, BIRD – Banco Interamericano de
Desenvolvimento e a Prefeitura da Cidade do Recife, começou a ser implantado, sob a
coordenação da então Secretaria de Transportes Urbanos e da Empresa de Obras
Públicas da Cidade do Recife, por intermédio da empreiteira F. A. Teixeira e
Companhia Limitada, o projeto de autoria da CONTÉCNICA LTDA. – Consultoria e
Planejamento denominado de Corredor de Transportes Urbanos, que compreendia
entre outros, o da Avenida Caxangá, que é formado pelas Ruas Benfica, Real da Torre,
Joaquim Nabuco, José Osório, Dr. Severino Pinheiro e pela própria Avenida Caxangá.
Tal projeto continha estudos topográficos, geotécnicos, hidrológicos e de geometria, de
terraplenagem, drenagem, pavimentação e sinalização. Mas o destaque entre todos
era o de geometria, uma vez que importava na criação da primeira faixa exclusiva para
tráfego de ônibus coletivo na RMR.
Inaugurado em meados de 1980, a faixa exclusiva passou a ser operada pelos
ônibus do sistema de transportes coletivos da cidade do Recife, com destaque para os
Trolebus da CTU que já funcionava como linhas troncais, saindo do TI da Caxangá em
direção ao Centro do Recife (FIGURA 39).
201
Mas a vocação se confirma a partir do ano 2000. Em minuta, de cuja elaboração fez
parte o Professor Jan Bitoun, com fins de carta consulta para captação de recursos
junto ao BNDES para obras de infra-estrutura visando melhorias na rede de
acessibilidade e habiltabilidade de algumas regiões do Recife, são diagnosticados
alguns problemas que justificaria nova intervenção na Avenida Caxangá. O documento,
prévia e sucintamente faz uma descrição das condições de crescimento habitacional
em áreas que estão vinculadas à citada via e destaca a dinâmica sócio-econômica que
viceja às suas margens. Por isto, destaca que, em função dessa tendência, a via já
apresenta problemas derivados da alta concentração de tráfego, como também
relaciona algumas questões que dificultam a operação da faixa exclusiva de ônibus ali
existente:
A impossibilidade dos ônibus ultrapassarem outros na baia onde ficam as
paradas, causando retenção e contribuindo para alterar a regularidade da
operação;
Os giros à esquerda, que obrigam a existência de tempos semafóricos mais
longos e manobras mais complicadas;
O aumento do volume de veículos.
O referido documento ainda apontava ações e objetivos para que os problemas
fossem minorados.
Outra fonte que pode subsidiar os argumentos aqui no sentido de demonstrar a
vocação alegada da Avenida são os resultados das entrevistas estruturadas do Plano
Diretor de Circulação da Cidade do Recife – PDC/REC de 1998, onde, por exemplo, a
Avenida Caxangá consta como sendo uma das vias mais citadas nas entrevistas que
foram realizadas com 22 (vinte e duas) importantes autoridades da área de trânsito e
transporte, e é interessante destacar que, nos aspecto relativo aos problemas de
circulação, muitos dos entrevistados consideraram que a grande causa dos problemas
de trânsito da cidade do Recife deve-se ao fato de não haver um bom serviço de
transporte coletivo, obrigando as pessoas a usarem o transporte individual.
O resultado da pesquisa, no aspecto específico da circulação do transporte coletivo
deixou muito claro certa unanimidade relativa ao fato de que as prioridades para os
ônibus são muito poucas e que levam ao sistema a ter um desempenho medíocre, daí
que seria necessário intervenções que aumentasse o rendimento do sistema. Observa
que não é possível que os automóveis particulares invadam e transitem nas faixas
202
exclusivas para os ônibus, daí porque a necessidade de garantir a segregação física
através da implantação de obstáculos.
4. USO DO SOLO, INFRA-ESTRUTURA DE CIRCULAÇÃO E OPERAÇÃO DE
LINHAS
Se Política Ambiental é
“é o conjunto de metas e instrumentos que visam reduzir os impactos
negativos da ação antrópica – aquelas resultantes da ação humana –
sobre o meio ambiente.”
129
o Plano Diretor e a Legislação de Uso e Ocupação do Solo de uma cidade vêm a ser
dois poderosos instrumentos de Políticas Ambientais, juntamente com as legislações
estadual e federal. O Plano Diretor é um instrumento de planejamento urbano que
passou a ser obrigatório a partir da Constituição de 1988 para as cidades que tivessem
mais de 20.000 (vinte mil) habitantes, cujos objetivos principais são, o desenvolvimento
ordenado da cidade e o bem-estar para todos que vivem nela. Trata-se de uma Lei
municipal que deve ser construída com a ampla participação da sociedade civil que,
uma vez regulamentada pelo Estatuto da Cidade, passa a orientar as prioridades de
investimentos da cidade, coordenando as ações dos setores público e privado,
compatibilizando os interesses coletivos e distribuindo de forma mais eqüitativa e justa
os benefícios e os ônus do processo de urbanização através da consolidação de
alguns princípios como:
Reforma Urbana;
Direito à cidade e a cidadania;
Gestão democrática da cidade;
E função social da cidade e da propriedade.
Um Plano Diretor incorpora o conceito de Sustentabilidade na medida em que
preconiza um desenvolvimento e um crescimento local em bases sustentáveis,
garantindo aos indivíduos presentes e às futuras gerações qualidade de vida e justiça
social, através da potencialização da regularização fundiária, da reitengração dos
sistemas ambientais e do reconhecimento da diversidade cultural.
A Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife no seu artigo 1º preconiza:
129
Maria Cecília Junqueira LUSTOSA, Política ambiental: in Economia do Meio Ambiente: teoria e prática, org.
Peter H. May, Maria Cecília Lustosa, Valéria da Vinha. p.135.
203
“Art. 1º- A produção e organização do espaço urbano do Município do
Recife, tendo como princípio fundamental a função social da propriedade
urbana, obedecerão às diretrizes estabelecidas na Lei Orgânica do
Município do Recife - LOMR, no Plano Diretor de Desenvolvimento da
Cidade do Recife - PDCR, no Plano Setorial de Uso e Ocupação do Solo
- PSUOS e às normas contidas nesta Lei.”
130
Para efeitos de zoneamento, o Território municipal do Recife compreende, segundo
o Artigo 7 da Lei supramencionada as seguintes zonas
“I - Zonas de Urbanização Preferencial - ZUP; II - Zonas de Urbanização
de Morros ZUM;III - Zona de Urbanização Restrita - ZUR; IV - Zonas de
Diretrizes Específicas - ZDE.”
131
As Zonas de Urbanização Preferencial – ZUP são divididas em duas e assim são
classificadas segundo o seu uso:
“Art. 10 - As zonas referidas no artigo anterior são divididas em: I - Zona
de Urbanização Preferencial 1 - ZUP1, que possibilita alto potencial
construtivo; e II - Zona de Urbanização Preferencial 2 - ZUP2, que
possibilita médio potencial construtivo.”
132
Mais adiante, nos parágrafos 1º e 2º do Artigo 10 da referida Lei, as Zonas de
Urbanização Preferencial se encontram assim divididas:
“§ 1º - Compõem a ZUP1 as Unidades Urbanas 01, 02, 03, 04, 05, 06,
07, 10, 11, 16, 17, 20, 22, 23 e parte das Unidades Urbanas 08,
12,13,15,18, 19, 21, 24 e 27. § 2º - A ZUP 2 compreende parte das
Unidades Urbanas 18, 19, 21, 25 , 30 e 33.”
133
Na Seção que trata Das Vias Urbanas menciona o Artigo 33:
“Para efeito da regulação urbanística de que trata esta Lei, o sistema
viário do Município é composto de Corredores de Transporte Rodoviário
e Demais Vias Urbanas.”
134
Quanto a sua classificação
“Art. 34 - Os Corredores de Transporte Rodoviário a que se refere o
artigo anterior classificam-se em 3 (três) categorias, a saber: I -
Corredores de Transporte Metropolitano, que compreendem basicamente
as vias que integram o Sistema Arterial Principal do Município, e têm por
função principal atender ao tráfego de âmbito regional e metropolitano; II
- Corredores de Transporte Urbano Principal, que compreendem a Av.
Norte e parte das vias que integram o Sistema Arterial Secundário do
Município, e têm por função específica ligar áreas ou bairros da cidade;
III - Corredores de Transporte Urbano Secundário, que compreendem as
demais vias do Sistema Arterial Secundário e algumas Vias Coletoras do
130
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife – LUOS, Prefeitura da Cidade do Recife, PCR, p. 1.
131
Ibid., p. 1.
132
Ibid., p. 2.
133
Ibid., p. 3.
134
Ibid., p. 8.
204
Município, e têm como função principal articular duas ou mais vias
Arteriais Principais ou coletar o tráfego de uma determinada área ou
quadra, canalizando-o para as vias Arteriais Principais ou
Secundárias.”
135
O MAPA 28 sistematiza, dentro das Unidades Urbanas 17, 18 e 19 as vias com as
suas respectivas classificações funcionais.
A LOUS, para efeitos de formalização da nomenclatura técnica define que:
ESTRUTURA VIÁRIA URBANA consiste na Rede Viária da cidade,
organizada hierarquicamente de acordo com a otimização do desempenho
da circulação urbana.
LOGRADOURO PÚBLICO é o espaço livre, de uso público inalienável,
reconhecido pela Municipalidade e designado por nome próprio destinado ao
tráfego de veículo e ao trânsito de pedestres. Pode ser: avenida, rua, galeria,
praça, jardim e outros.
MORFOLOGIA URBANA refere-se à forma caracterizada pela disposição
num território, dos elementos que compõem a estrutura física
de um assentamento urbano.
OCUPAÇÃO DO SOLO é a ação de assentar sobre o solo uma estrutura
urbana.
PROTEÇÃO AMBIENTAL Ato de conservar e manter as características
físicas fundamentais do meio ambiente, impedindo a sua
deterioração.
UNIDADES DE CONSERVAÇÃO são áreas do território federal, estadual ou
municipal, incluindo as águas jurisdicionais, com características
naturais relevantes, de domínio público ou privado,
legalmente instituídas pelo poder público, com objetivos
e limites definidos, sob regimes especiais de
administração, às quais se aplicam garantias adequadas de proteção.
A Avenida Caxangá faz parte daquelas vias classificadas no item I do Artigo 34 e
fica localizada na Zona de Urbanização Preferencial I, precisamente dentro das
Unidades Urbanas 17, 18 e 19 (MAPA 29), que compreende a RPA 4, que por sua vez
está inclusa na Unidade Ambiental da Planície. Cabe considerar que dentro dessas 3
(três) Zonas Urbanas localizadas na ZUP 1 existem ainda Zonas Especiais de
Interesse Social – ZEIS.
135
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife – LUOS, Prefeitura da Cidade do Recife, PCR, p. 31.
205
206
207
Zona Urbana 17: Prado; Sítio do Berardo e; Sítio do Cardoso;
Zona Urbana 18: Vila Redenção;
Zona Urbana 19: Campo do Banco; Sítio Wanderley; Rosa Selvagem; Vila
Arraes e; Brasilit.
Ainda dentro dessas Unidades Urbanas estão localizadas as seguintes ZEPH’s
(Zonas Especiais de Preservação do Patrimônio Histórico Cultural):
Zona Urbana 17: Benfica;
Zona Urbana 18: Casa Grande do Engenho Barbalho;
Zona Urbana 19: Várzea e Casa de Brenand.
Dentro da Unidade Urbana 19 fica localizada a Zona Especial de Proteção
Ambiental (ZEPA – Unidades de Conservação) correspondente a Reserva Ecológica de
São João da Várzea, submetida à jurisdição Estadual. Quanto à existência de
Unidades de Conservação Municipal, identificamos na Unidade Urbana 18 a existência
de 4 (quatro) ZEPA’s: Iputinga; Apipucos; Sítio dos Pintos e Caxangá. Na Unidade
Urbana 19 ficam localizadas as ZEPA’s do Jardim Botânico do Curado, as Matas da
Várzea e do Curado.
Encontra-se às margens da Avenida Caxangá, mais precisamente na Unidade
Urbana 19 no Bairro do Caxangá e na Unidade Urbana 18 na Iputinga, o que a Lei
denomina de IPAV (Imóvel de Proteção de Área Verde) que são, respectivamente aos
Bairros, o Caxangá Golf Club e o Hospital Barão de Lucena.
O PDC/REC (Plano Diretor de Circulação da Cidade do Recife) de 1998 localiza no
ao longo da Avenida Caxangá alguns importantes pólos Geradores de Tráfego (MAPA
30). Tais pólos exercem grande influência sobre a circulação em toda a extensão da
via, principalmente àqueles que estão ligados à prestação de serviços, como é o caso
dos voltados para a sáude pública como os Hospitais Barão de Lucena e Getúlio
Vargas e o de serviços institucionais, como o Expresso Cidadão, localizado no Parque
de Exposição do Cordeiro.
A LOUS ainda indica, no seu Artigo 38, algumas normas relativas aos Usos
Geradores de Interferência de Tráfego nos aspectos de Estacionamentos e Acessos.
Particularmente, a Avenida Caxangá está inserida nos três itens considerados usos
geradores de interferência de tráfego.
208
209
O referido Artigo conceitua:
“...Para os fins desta Lei, são considerados usos geradores de
interferência no tráfego: I - os usos com hora de pico do tráfego
coincidente com o pico de tráfego geral; II - os usos que utilizam veículos
de grande porte com lentidão de manobra; III - os usos que atraem
grande circulação de automóveis.”
136
Como se constata, é comum no eixo viário estudado a observação diária dos três
tipos de fenômenos, ou seja, veículos em operação de carga e descarga na hora do
pico geral, veículos de grande porte trafegando e manobrando em links de grande
densidade de tráfego e, como assinalamos acima, os usos que atraem grande
quantidade de veículos, que são os pólos geradores de tráfego. Mas será preciso
assinalar que, o fato da Avenida ser um “eixo quente” da economia local, até por sua
natureza comercial em razão da predominância de um tipo de comércio que envolve
diretamente a venda de veículos, esta Avenida é, como um todo, um “pólo elástico” de
atração de circulação.
Ora, boa parte da Avenida de hoje, contraria frontalmente a Legislação, quanto aos
Acessos e quanto aos Estacionamentos. Um exemplo bem patente quanto a este
último, é que as calçadas da referida Avenida são usadas frequentemente para, ou
exposição de veículos ou estacionamento irregular (FIGURA 40).
136
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife – LUOS, Prefeitura da Cidade do Recife, PCR, p. 32.
210
Ainda que o exemplo assinalado não diga respeito diretamente a LOUS em razão
de ser uma infração prevista no Código de Trânsito Brasileiro, no Artigo 40 da referida
Lei são exigidas condições mínimas para Estacionamento em empreendimentos
localizados num Corredor de Transporte Metropolitano ou Urbano Principal. Outra
questão que chama aos olhos e que se liga aos acessos é a grande quantidade de
rebaixamento de meio-fio ao longo das calçadas da Avenida, neste aspecto, a LOUS,
no seu Artigo 42 destaca:
“Para o acesso às áreas de estacionamento de veículos, será permitido o
rebaixamento do meio-fio, desde que: I - o número de vagas seja inferior
ou igual a 10 (dez); II - a extensão do meio-fio rebaixado não ultrapasse
15 m (quinze metros) para cada lote ou empreendimento; III - a
continuidade do passeio público seja assegurada, sendo proibido o
rebaixamento da largura total da calçada, permitindo-se o rebaixamento
equivalente a 1/3( um terço) , com o máximo de 1m(um metro) no sentido
da largura dos passeios. Parágrafo Único - Quando o terreno ou a
exigência de vagas do empreendimento não se enquadrarem nas
hipóteses previstas nos incisos I e II do caput deste artigo, somente será
permitido o rebaixamento do meio-fio em um único ponto, observada a
extensão máxima de 7m (sete metros) ou em pontos distintos com
extensão máxima de 4m (quatro metros), para a entrada e saída de
veículos.”
137
A FIGURA 41 deixa claro o problema.
137
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife – LUOS, Prefeitura da Cidade do Recife, PCR, p. 35.
190
211
Uma questão que nos chama a atenção, salvo engano, é que a LOUS no seu Artigo
44, assim descrito:
São considerados potencialmente geradores de incômodo à vizinhança:
I - usos potencialmente geradores de sons e ruídos; II - usos
potencialmente geradores de poluição atmosférica; III - usos que
envolvem riscos de segurança; IV - usos potencialmente geradores de
resíduos com exigências sanitárias.”
138
não considera o uso viário para efeitos de incômodo à vizinhança, tanto é que, no seu
Axexo 9A naquilo que diz respeito à coluna que relaciona as Atividades, não existe
referência ao uso da via em relação a natureza da incomodidade, entretanto, por
exemplo, está incluída as concessionárias de revenda de veículos com oficinas e
similares, que por sua vez está classificada quanta a natureza da incomodidade nas
colunas de ruído e poluição atmosférica.
A Avenida Caxangá, considerando toda a sua extensão (5,87km) (cinco vírgula
oitenta e sete quilômetros), multiplicada pela sua largura (faixas de rolamento e
canteiro central) que é constante (27,50m) (vinte e sete vírgula cinqüenta metros),
ocupa uma área de 1,58 km2 (um vírgula cinqüenta e oito quilômetros quadrados), o
que corresponde a 3% (três por cento) da área total da Unidade Ambiental da Planície.
Seu canteiro central, responsável pela separação das faixas de rolamento, tem uma
área de 0,29 km2 (zero vírgula vinte e nove quilômetro quadrado) que, uma vez
considerada área verde pública, apresenta significância se considerarmos que em toda
Unidade Ambiental da Planície, cada habitante só dispõe de 3,7m2 (três vírgula sete
metros quadrados) de área Verde.
A secção transversal da Avenida Caxangá (FIGURA 42) apresenta a configuração
demonstrada na FIGURA 43, onde se identificam as pistas de rolamento para tráfego
misto e as faixas exclusivas para ônibus coletivo e o canteiro central separando-as,
com a projeção dos abrigos localizados nas paradas para embarque e desembarque.
Antes da readequação do corredor, não era possível a ultrapassagem de um ônibus
pelo outro na baia onde ficam localizadas as paradas para embarque e desembarque
(FIGURA 44). Depois das intervenções realizadas a partir de 2002 foi possível a
ultrapassagem (FIGURA 45).
138
Lei de Uso e Ocupação do Solo da Cidade do Recife – LUOS, Prefeitura da Cidade do Recife, PCR, p. 37.
212
213
214
215
A FIGURA 46 é uma projeção de topo da área correspondente à baia para
operação de embarque e desembarque que mostra as alterações efetivadas pela
última intervenção realizada no corredor.
O que se observa é que houve um nítido aumento das plataformas de embarque e
desembarque e consequentemente uma ampliação da área de abrigos, como também
e principalmente, o alargamento da pista (faixa de rolamento) exclusiva, permitindo que
a ultrapassagem seja realizada, mesmo que um coletivo esteja estacionado. Observa-
se também a criação de uma ilha para travessia entre uma plataforma e outra,
proporcionando segurança para o usuário com ou sem deficiência. Tais intervenções
trouxeram uma melhoria significativa na operação dos veículos do sistema, imprimindo
fluidez, reduzindo os riscos de acidentes, aumentando a eficiência na regularidade das
linhas.
Outra melhoria importante foi a elevação em 15 cm (quinze centímetros) das atuais
plataformas em relação às anteriores (FIGURA 47), pois tanto o embarque quanto o
desembarque passaram a ser mais seguros e menos dificultoso, principalmente para
os mais idosos ou àqueles com problema de locomoção.
216
A altura média do primeiro degrau do ônibus urbano que opera o STPP/RMR em
relação ao pavimento da rua, tanto para embarque quanto para desembarque chega a
ultrapassar os 50 cm (cinqüenta centímetros). Considerando que as calçadas têm 15
cm (quinze centímetros), o usuário tem diante de si um degrau de 35 cm (trinta e cinco
centímetros) quando, somente quando este acessa o ônibus a partir da calçada, o que
é um caso raro, pois muitas vezes ele tem que fazê-lo do pavimento. Daí que a
elevação da plataforma e a consequentemente inevitabilidade de se entrar no ônibus
somente através da plataforma reduz as dificuldades para os passageiros.
Uma das principais estruturas da Avenida Caxangá é, sem dúvida, o seu canteiro
central. Não existe na rede viária do Recife um logradouro com um canteiro tão largo e
com características tão peculiares e são estes elementos que conferem a mesma uma
paisagem amena em face da intensa movimentação de veículos que ali ocorre. É
possível, fazer uma travessia em toda a extensão da via pelo seu canteiro em
condições melhores para o pedestre do que as calçadas. Como se trata então de uma
área longa, sua manutenção é sempre custosa e a escassez de recursos limita a ação
do órgão responsável. Entretanto, quando da reforma do corredor em 2002, aquele
canteiro passou por uma repaginação completa, tanto na sua forma geométrica com os
cortes dados em função das estações, quanto na vegetação e no piso (FIGURA 48).
217
“A capacidade de transporte é, basicamente, função da capacidade de
movimento nos cruzamentos das vias urbanas. No levantamento feito
pelo Plano Diretor de Circulação (PDC/Recife) na sua área de estudo
Recife, Olinda e Jaboatão dos Guararapes –, foi detectada a existência
de 499 semáforos, a maioria deles implantada no Recife. Uma análise de
321 intereserções mostrou que 24,6% delas apresentavam um grau de
saturação superior a 90%. Quanto às condições de operação, 98 dessas
interseções classificavam-se nos níveis de serviço D (29) e E (69),
encontrando-se 75 delas em corredores principais. A RMR dispõe de 748
equipamentos semafóricos (março de 2005), dos quais 76,6% estão em
funcionamento no Recife, sendo 67% eletrônicos – que permitem
armazenar vários planos semafóricos para diferentes períodos do dia – e
os restantes eletromecânicos.”
139
Quando dos estudos da reestruturação do eixo viário em destaque, verificou-se que
um dos problemas que fazia retardar a fluidez de circulação era a questão dos giros à
esquerda existentes no sentido subúrbio / cidade, motivos pelos quais existia um
conjunto de tempos semafóricos que contribuía negativamente para a operação,
principalmente, dos ônibus que utilizavam à faixa exclusiva. Daí porque foram
propostos loopings de quadra em substituição à conversão já mencionada (MAPA 31),
que viabilizaram um aumento de velocidade média na via como também na redução de
acidentes.
139
Agência Estadual de Planejamento e Pesquisas de Pernambuco CONDEPE/FIDEM – PROMETROPOLE, p.
131.
218
219
E em se tratando de acidentes na Avenida Caxangá, em levantamento realizado por
ocasião do PDC/Recife de 1998, foram registradas 58 (cinqüenta e oito) UPS
(Unidades Padrão de Severidade) justamente onde existia um dos giros à esquerda no
sentido subúrbio / cidade (Giro 03 do MAPA 31 – Avenida Caxangá/ Rua do Bom
Pastor), considerado no referido levantamento como um dos pontos críticos da cidade
do Recife. O ano base dos dados levantados foi 1997 que ainda registra:
“Os acidentes em frente a semáforos de pedestre também aparece com
grande participação, no período foram registrados 47 (quarenta e sete)
correspondendo a 15% das pessoas acidentadas. Vias com maior
incidência: Viaduto Joana Bezerra – 43; Av. Norte – 37; Av. Agamenon
Magalhães – 20; Av. Domingos Ferreira – 17; Cais de Santa Rita – 13;
Av. Caxangá e Boa Viagem – 12 cada; Av. Conselheiro Aguiar – 9; e Av.
Mascarenhas de Moraes, Rua José Bonifácio e Túnel Augusto Lucena 7
cada.”
140
A Avenida Caxangá tem, ao longo da sua extensão total, 7 (sete) interseções de
fundamental importância para a articulação do sistema viário do Recife. Tais
cruzamentos, alguns deles antes da supressão dos giros à esquerda com até três
tempos, eram responsáveis pelo retardamento e retenção na circulação do tráfego da
Avenida Caxangá. As FIGURAS 50, 51, 52, 53, 54, 55 e 56, registram,
esquematicamente, os fluxos de circulação local hoje existente com os
correspondentes registros fotográficos.
140
Plano Diretor de Circulação da Cidade do Recife – PDC/Recife, levantamento de acidentes, p. 13.
220
221
222
223
A sinalização semafórica da Avenida Caxangá é operada por equipamentos
eletrônicos que podem ser sincronizados mediante programações estabelecidas pelo
órgão gestor de trânsito do Recife. Além da semaforização dos cruzamentos e de
algumas conexões transversais importantes, existem semáforos para pedestres nas
estações da faixa exclusiva.
O MAPA 32 localiza as estações para embarque e desembarque dos usuários que
utilizam os ônibus que operam pela faixa exclusiva. Estas plataformas que compõem o
conjunto da estrutura da faixa exclusiva passaram por um tratamento que incluiu, além
da elevação do piso da plataforma em relação à pista de rolamento (FIGURA 47) como
também sua extensão e quantidades de abrigo (FIGURA 46), uma identificação através
da implantação de um marco (Estela) que corresponde ao local onde antigamente
foram terras de um engenho (FIGURA 57). Uma estação compreende duas
plataformas excêntricas articuladas entre si por uma ilha (FIGURA 46).
224
225
Quatro, das quatorze estações da Avenida Caxangá chamam atenção por estarem
vinculadas a pólos geradores de tráfego (MAPA 32). As estações dos Engenhos Casa
Forte e do Meio correspondem aos pólos médicos dos Hospitais do SUS Getúlio
Vargas e Barão de Lucena e uma observação que nos parece pertinente a título de
destaque, é que estas duas paradas aos domingos, dia de visita aos pacientes
internados nestas unidades hospitalares apresentam uma movimentação idêntica ou
maior que os dias úteis, principalmente de usuários de linhas oriundas dos municípios
de São Lourenço da Mata e Camaragibe. Na estação Engenho Cordeiro, pólo gerador
de viagens relacionado ao setor de serviço ocorre à mesma concentração, só que nos
dias úteis, apenas em razão de ali existir uma unidade do Expresso Cidadão. A parada
do Engenho Santo Antônio, localizada logo após o viaduto da BR 101 no sentido
Cidade/Subúrbio se caracteriza pela sua densidade de usuários que realiza transbordo.
Sendo a Avenida Caxangá um eixo comercial e de serviços, suas margens
compreendidas pela testada Norte ou Sul, reúne uma imensa variedade de atividades
econômicas, todas ligadas ao setor terciário, que vai desde a simples lanchonete,
passando por um clube de hipismo, até a sofisticada revenda de veículos, sendo que
este último é o setor de comércio que predomina ao longo de todo o seu eixo.
Comércio e serviços funerários, borracharias e oficinas diversas, lojas de autopeças e
material de construção, lojas de eletrodomésticos em geral, brechós, casas de produtos
veterinários e agropecuários, postos de combustíveis, supermercados, clínicas e
consultórios, hospitais, bancos, escolas, farmácias, bares, padarias, restaurantes,
igrejas ou salões de culto, casas de jogos de bicho e eletrônicos, cartório, escritórios,
galerias e centros empresariais. Para efeitos de uma configuração de uso e ocupação
do solo, suas margens pouco têm de uso residencial, a não ser por umas poucas
residências remanescentes e uns pequenos e antigos prédios, uns sobre pilotis, mas
não indo além de cinco andares ou tipo caixão, muitos destes últimos em estado
precário de conservação. Entretanto, localiza-se já próximo do fim da Avenida, um
grande conjunto residencial construído nos fins dos anos oitenta que abriga uma
população de aproximadamente 3 mil habitantes. (MAPA 33).
226
227
Como tantos outros logradouros do Recife, em vários pontos da Avenida Caxangá
se constatam o fenômeno da informalidade através do pequeno comércio,
principalmente naqueles trechos correspondentes aos maiores pólos de atração de
viagem, como é o caso das calçadas do Hospital Barão de Lucena e do Parque de
Exposição do Cordeiro (FIGURAS 58 e 59).
228
Pela faixa exclusiva do corredor da Caxangá consideramos aqui 29 (vinte e nove)
linhas do STPP/RMR, sendo que 3 (três) fazem parte do Sistema Estrutural Integrado –
SEI e apresentam configuração radial, e as demais são do Sistema Complementar, das
quais 2(duas) são diametrais, 3 (três) transversais, e o restante radial (MAPA 34).
Juntas, apenas estas linhas são responsáveis pelo transporte, em média, de 100.000
(cem mil) passageiros dia, considerando que, no intervalo entre 06:00 e 08:00, são
transportados entre 65.000 (sessenta e cinco mil) e 70.000 (setenta mil) passageiros,
numa frota de 255 (duzentos e cinqüenta e cinco) ônibus. A média diária transportada
acima corresponde a 7% (sete por cento) da demanda total do Sistema e o percentual
da frota em relação a total é de 10,5% (dez vírgula cinco por cento). Foram
desconsideradas as linhas bacuraus e algumas linhas cujo percurso na Caxangá são
insignificantes. A TABELA 32 contém os dados básicos relativos à operação das
linhas, com demonstração de suas extensões e os respectivos percentuais utilizados
correspondentes ao uso da faixa exclusiva da Avenida Caxangá, considerando que
estes percentuais correspondem ao uso da via nos dois sentidos. Os dados dizem
respeito à média dos dias úteis do mês de setembro de 2005.
A partir de 2002, uma vez inaugurado o Ramal Metroviário Oeste que complementa
a ligação entre o TIP (Terminal Integrado de Passageiros) e o município de
Camaragibe, cerca de 300 (trezentos) ônibus deixaram de trafegar pela Avenida
Caxangá e acessar o centro do Recife diariamente, o que representa uma redução
aproximada de 700 (setecentas) toneladas ano de emissão de gases na RMR. O
referido ramal interliga a Estação Timbi do Metrô ao Sistema Estrutural Integrado, ou
seja, foi possível a partir de então o sistema operar com dois troncos, um metroviário e
um rodoviário, todos alimentados por linhas que orbitam em torno da área (TABELA
17), linhas estas que deixaram de se dirigir para o centro do Recife usando a Avenida
Caxangá, racionalizando o fluxo de ônibus na medida em que toda a demanda é
transportada por linhas que tem equipamento de grande capacidade.
229
230
Além da Avenida Caxangá, o corredor de transporte metropolitano que leva este
nome é integrado, de Leste para Oeste, pelas vias: Conde da Boa Vista, Dom Bosco,
Governador Carlos de Lima Cavalcanti, Joaquim Nabuco, José Osório, Joaquim
Ribeiro, Benfica e Praça do Derby. As 6 (seis) últimas se localizam fora do Centro
Expandido do Recife que tem a Avenida Agamenon Magalhães como limite a Oeste,
enquanto as duas primeiras estão incluídas dentro daquele centro.
Já vem de longe a idéia de estender o nível de prioridade para o transporte coletivo
existente na Avenida Caxangá para as demais vias que formam o corredor, daí porque
foi submetido à URB /Recife, para apreciação e parecer, em agosto de 2004, um
anteprojeto contendo o detalhamento das intervenções propostas ao longo daquelas
mencionadas vias, cujo resultado foi positivo, consideradas as adequações a serem
feitas, principalmente na Avenida Conde da Boa Vista e no entorno do complexo viário
que envolve o corredor em destaque. A FIGURA 60 mostra as primeiras obras de
alargamento do trecho compreendido entre a Avenida Caxangá e a Praça do Derby.
231
232
5. CONCLUSÕES
A intenção deste trabalho, antes de tudo reconhecendo suas limitações, foi tentar
demonstrar que existe um vínculo importante entre transporte urbano e os problemas
ambientais urbanos e que tal relação pode e deve ser avaliada a partir das práticas
políticas que reflitam e possam operacionalizar alternativas mitigadoras de impactos
ambientais decorrentes dos processos de circulação dos fluxos de transportes urbanos.
Nesse sentido, a nosso ver, todo e qualquer ramo das políticas urbanas que estejam
ligados ao uso e ocupação do solo, são considerados parte de um conjunto maior
designado por políticas ambientais.
Na medida do desenvolvimento deste trabalho vai crescendo a convicção de que as
questões ambientais estão muito fortemente marcadas pelas condicionantes políticas, e
estas, considerando suas especificidades relacionadas a cada sociedade e lugar, são
frutos dos processos produtivos nos mais variados contextos e épocas. De certo modo
então são determinadas historicamente pelas condições herdadas de um passado que já
foi presente, mas que se limitava a ser apenas ele próprio, no máximo, especulando sobre
um futuro idílico. O presente que vivenciamos, ainda que esteja em crise permanente, é
filho da Razão Moderna, que por sua vez nasceu de um parto doloroso e que custou a
vida de muito dos nossos pares que estavam repletos de boas intenções. Seria um
presente diferente daquele presente do passado? Neste caso, não podemos negar as
conquistas da técnica e das ciências e da certeza de certas certezas, mas também seria
prudente concordar que o tal imperativo da racionalidade sistêmica pode levar a
resultados surpreendentes como os que já foram testemunhados recentemente, e se
julgados à luz de princípios filosóficos rigorosos e não “alinhados” o que, reconheçamos,
não é fácil, o conflito da culpa estaria perigosamente instalado.
Pode parecer paradoxal, mas a origem das políticas ambientais consideradas num
nível mais global coincide exatamente com um dos períodos mais importantes da Guerra
Fria e patrocinadas por uma elite intelectual e financeira, principalmente de países ricos.
Daí porque as desconfianças daqueles que estavam tentando “crescer”. E o apelo não se
dava por via sentimental, a ciência sempre esteve a embasar os prognósticos. Passados
36 (trinta e seis) anos desde Estocolmo não há muito que comemorar, mas também não
há porque desistir.
Este trabalho partiu de algumas constatações básicas: há uma crise urbana no Recife;
a cidade, por sua própria natureza não pode parar; o transporte, assim como a água, a
luz, o telefone, é uma estrutura indispensável ao funcionamento da mesma; o transporte
233
público coletivo está permanentemente num impasse, que pode ser o tarifário ligado à
relação entre custo e receita ou o operacional decorrente das condições de
trafegabilidade; o transporte é uma das fontes responsáveis pela degradação da
qualidade de vida na cidade do Recife; assim como na habitação, na saúde e na
educação, há uma nítida desigualdade de consumo do espaço viário nas ruas do Recife,
uma maioria que utiliza o transporte de massa paga o preço caro da falta de prioridade
para o modal ônibus; o nível de motorização da cidade é preocupante; os mecanismos de
priorização para o transporte coletivo por ônibus na cidade do Recife são baixíssimos em
face da extensão da sua rede viária; toda e qualquer política pública urbana tem o seu
lado ambiental; as intervenções que visam reduzir os efeitos negativos provocados pelas
fontes móveis de poluição, tanto atmosférica, quanto sonora, são parte de uma política
ambiental, assim como a adoção de instrumentos específicos de exclusividade para o
transporte coletivo; a Avenida Caxangá é uma experiência comprovadamente importante
que deve ser preservada e ampliada; outros corredores de transporte coletivo precisam
receber tratamento semelhante.
Um termo que nos parece importante para servir como marco conclusivo é
planejamento e este, aplicado à dimensão política, tem o Estado, seja qual for sua matriz
ideológica, como âncora. A este termo se contrapõe a expressão espontaneidade quando
a questão é a cidade. O Recife teve mais deste último do que do primeiro, não obstante
os reconhecidos esforços que foram feitos para se antecipar à tragédia urbana que hoje
vivemos. Mas, é como bem lembrou Francisco de Oliveira, parafraseando um outro autor:
“Não é o planejamento que planeja o capitalismo, é o capitalismo que planeja o
planejamento”
141
.
No Recife, o planejamento urbano começou quando não era mais possível reverter à
ocupação desordenada que ocorrera antes e os planos que se seguiram encontraram as
dificuldades que eram inerentes às condições econômicas, políticas e institucionais do
município. O transporte de hoje no Recife está no passado. Esta metáfora não pode ser
entendida como algo que ficou para trás ou não é moderno, a rigor isto quer dizer que a
polarização em torno de um núcleo deixou marcas tão fortes que ainda hoje induzem os
gestores urbanos, seja no âmbito do Executivo, seja no Legislativo, a considerarem, para
efeitos de qualquer estudo ou intervenção, esta configuração. Não será exagero afirmar
que a Praça do Derby é, sem dúvida nenhuma, um dos maiores pontos de transbordos de
passageiros a céu aberto do Nordeste. Teria o Porto se transferido para lá? Não, até
porque sabemos que o Porto do Recife hoje já não é mais aquele de tempos atrás. Mas
141
Francisco de OLIVEIRA, Elegia para uma re(li)gião, p. 68.
234
isto só vem reforçar o argumento anterior quando lembramos que o pólo a que nos
referimos compreende o que os urbanistas chamam de Centro Expandido do Recife que
inclui tudo aquilo que está a Leste da Avenida Agamenon Magalhães. São muitas as
comunidades periféricas da RMR que pressionam os gestores do transporte público para
que suas linhas de ônibus dêem um jeito de “tocar” o Derby
Mas reforçando a lembrança do planejamento como marco conclusivo, como
discutimos nos antecedentes históricos, é o advento da metropolitanização daquela região
que Baltar chama de Cidade Região do Recife que marca definitivamente, ainda que em
tempos de triste memória, o surgimento de uma concepção conjunta e articulada de
aglomeração urbana que possibilitou a formação de uma cultura técnica que tem sido
responsável pelo sistemático tratamento das questões de uma forma integrada. Então,
transporte coletivo passou a ser, desde a década de 70 (setenta) tão estratégico quanto
era a habitação ou a saúde vinte anos antes. Os documentos técnicos produzidos pelo
então órgão de planejamento da RMR são extraordinariamente ricos em proposições
relativas a tudo que diz respeito à gestão de cidade e a questão ambiental já era um tema
perseguido, muito embora ainda não fosse, pelo menos na expressão, entendido como
política ambiental, mas será justo dizer que aquele referido material é o que se pode
chamar de amplo programa de gestão ambiental e a idéia de sustentabilidade não está
longe de ser ali encontrada.
Se os planos não foram executados na sua plenitude, foram razões ligadas aos mais
variados fatores, todos externos à vontade maior dos planejadores ou da inviabilidade de
suas idéias. É aqui, nesse instante que se pode falar em Estado ausente.
A organização do transporte público no Recife numa ótica metropolitana data desta
época. Constatada a fragilidade do poder municipal e tendo o Estado como suporte
regional do centro autoritário e os vários conflitos de competência se sucedendo entre as
áreas cornubadas, o poder central interviu na medida em que delegava aos órgãos do
planejamento federal responsabilidades para com a questão do transporte coletivo na
metrópole recifense. Assim, a EBTU, o GEIPOT e outros órgãos sistematizaram uma
estratégia que culminou com o que aqui chamamos de intervenção. Não há como negar,
em vista do que ocorria, os resultados a partir de então foram satisfatórios.
Observando agora à distância, as questões relacionadas à implantação de projetos na
área de transporte, ainda que se alegasse a neutralidade da técnica, ocorriam no âmbito
da arena política na medida em que as entidades municipais componentes da RMR
delegaram suas competências, através de convênio, para o Estado e este, a partir do
começo da década de 80 (oitenta), coordenou, geriu, planejou, fiscalizou o transporte
235
coletivo, imprimindo um ritmo, marcado por avanços e recuos que, se não correspondeu
na plenitude, serviu até de modelo para outras capitais brasileiras.
As décadas de 80 (oitenta) e 90 (noventa) são consideradas décadas perdidas do
ponto de vista do crescimento econômico, mas ao longo desses anos, a questão
ambiental no Brasil, pareceu evoluir na medida mesmo das conquistas da sociedade
brasileira relacionadas ao processo de participação democrática. Então, a Constituição
Federal de 1988 coroa este processo com o seu Artigo 225, uma vez que o mesmo
236
O século XXI, com todos os obstáculos ainda não removidos, já pariu o Ministério das
Cidades, suas Secretarias e o Estatuto das Cidades. Foi a partir daí que se deu o
reconhecimento da profunda e calamitosa crise que vive as grandes e médias cidades
brasileiras, como é o caso do Recife e a certeza de que alguma coisa tem que ser feita.
Novas preocupações como a mobilidade urbana ganhou destaque como elemento
constitutivo de uma política urbana e ambiental na medida em que os baixos índices de
mobilidade da população mais pobre por um lado e por outro os altos índices de
degradação ambiental provocados pelo cada vez mais intenso fluxo de veículos
particulares, se revelaram como sinais para que alguma coisa seja feita. O Programa de
Controle da Poluição do Ar por Veículos Automotores – PROCONVE e o PROMOT –
Programa de Controle da Poluição do Ar por Motocicletas são dois poderosos
instrumentos de política ambiental na medida em que regulamenta os padrões de
emissão veicular, seja através de medidas preventivas como a obrigação dos fabricantes
de dotar os veículos de equipamentos redutores de poluição, como na inspeção durante a
operação. O CTB – Código de Trânsito Brasileiro se constitui também como um
importante aliado, não só quanto às rígidas regras relacionadas ao trânsito propriamente
dito, mas também na definição de parâmetros de emissões veiculares.
Como foi mostrado, a produção do transporte público coletivo na RMR ao longo
desses vinte anos têm dado frutos, mesmo que limitados, em razão da complexa
dinâmica metropolitana. Como já salientamos, nos procedimentos metodológicos, o
transporte sempre foi visto como algo que permanece ligado exclusivamente a dois
imperativos, o do custo e o da receita, se esta relação não vai equilibrada é sinal de que
as coisas não vão bem, então, tudo que decorria dessa relação era secundário. Ora, mas
foi justamente o processo de racionalização dessa relação em busca do equilíbrio que
ensejou, indiretamente, uma nova visão que acabou por incorporar a dimensão ambiental.
O SEI, aqui destacado foi e continuará sendo uma alternativa para desimpactar o meio
ambiente urbano do Recife dos efeitos danosos das emissões na medida em que,
mantendo o nível do serviço e oferecendo uma tarifa acessível, reduz a quantidade de
ônibus em circulação. A idéia da integração intermodal é benéfica tanto paro o meio
ambiente, quanto para o usuário e o sistema. Por outro lado, na medida do seu
aperfeiçoamento, pode atrair, inclusive, parcela da população usuária do veículo particular
e consequentemente contribuindo para mitigar os efeitos das emissões.
O que se conclui, ainda tomando como base o nosso marco, é que o planejamento
para todas as áreas, incluindo a de transportes urbanos, agora tendo poderosos
instrumentos a seu favor com o advento das mais sofisticadas ferramentas tecnológicas,
237
possa ser um agente refletido da política ambiental metropolitana e que o termo
prioridade, para efeitos de transporte de massa, possa ser o partido do início de cada
projeto. A exclusividade para os transportes coletivos em corredores de tráfego é um
elemento constitutivo de política ambiental.
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95. VASCONCELLOS, E. (2001). Transporte urbano, espaço e equidade. Análise das
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96. VERGARA, R. O. P. (1995). A politização do meio ambiente: sinal verde?: a
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Recife dos anos 70 aos anos 90. Dissertação de Mestrado para o programa de
Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da UFPE. Recife: UFPE.
97. ZAIDAN, N. (1991). O Recife nos trilhos dos bondes de burro. Dissertação de
Mestrado para o programa de Pós-graduação em Desenvolvimento Urbano da
UFPE. Recife: UFPE.
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