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RESUMO
GALVÁN, G.B. Corpo ferido: Os caminhos do self a partir de uma ruptura na integridade
corporal. 2008. 120f. Dissertação (Mestrado). Instituto de Psicologia, Universidade de São
Paulo, São Paulo, 2008.
Este trabalho surgiu a partir da experiência como psicóloga do Instituto de Ortopedia e
Traumatologia do Hospital das Clínicas da faculdade de Medicina da Universidade de São
Paulo. Mais especificamente ao longo dos anos trabalhando no Grupo de Prótese e Órteses,
com pessoas que sofreram amputação de um ou mais membros. A perda de uma parte do
corpo implica alterações significativas na vida de um indivíduo, sendo que as amputações
decorrentes de acidentes em geral têm a característica de serem súbitas e imprevisíveis,
ocasionando mudanças bruscas para as quais não existe preparo possível. A principal questão
que norteou este trabalho diz respeito às conseqüências psíquicas que uma perda física pode
ocasionar. Procurou-se compreender de que forma, diante de uma ruptura no corpo, há uma
interferência na organização psíquica e na maneira pela qual o indivíduo percebe o mundo e se
percebe nele; isso, durante o período de reabilitação. Buscou-se refletir sobre um momento de
perda da integridade corporal e seus reflexos na unidade psicossomática, a partir de casos
clínicos, tendo como referência a psicanálise winnicottiana. Dessa forma, levou-se em conta o
percurso do desenvolvimento emocional segundo a teoria do amadurecimento pessoal de
D.W.Winnicott para se refletir acerca da possível relação existente entre o estágio alcançado
nas tarefas próprias do desenvolvimento normal pelo indivíduo e as conseqüências em termos
da continuidade ou não do processo de amadurecimento após a amputação. Para esta
investigação utilizou-se o método clínico e o referencial psicanalítico, sendo que para a
análise da questão proposta neste trabalho foram apresentados quatro casos clínicos. A perda
de uma parte do corpo ocasionou mudanças em todos os indivíduos que fizeram parte deste
estudo. Mudou o corpo, a forma de se locomover, o trabalho, o sustento pessoal e familiar, o
contato social. Porém a maneira por meio da qual cada um percebeu, significou e vivenciou
essa perda e essas mudanças não foi equivalente nem determinada pela qualidade da perda.
Assim, concluímos que as conseqüências psíquicas de uma perda física serão aquelas relativas
às condições que cada indivíduo tem de elaborar imaginativamente essa perda e transformá-la
em vivência, experiência, história pessoal e interpessoal. A articulação da teoria com a análise
e discussão do material clínico permitiu perceber que não é possível caracterizar uma clínica
dos amputados. Isso porque o que temos são tantas clínicas quanto nos for possível conhecer
os indivíduos amputados em seu processo de amadurecimento pessoal anteriormente à
amputação. Ou seja, uma amputação não direciona incondicionalmente o modo de um
indivíduo estar no mundo, mas implica alterações significativas em sua existência, o que
remete à necessidade de reformulações em sua identidade para incluir essa nova dimensão de
experiência. A dificuldade em realizar a elaboração imaginativa dessa perda, pode tornar a
amputação um acontecimento não integrado na vida de uma pessoa, com conseqüências
prejudiciais à sua saúde e ao seu desenvolvimento.
Palavras chave: Amputação; reabilitação; psicanálise; Winnicott, Donald Woods;
representação de si