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legitimada, como realizadores de um trabalho útil e socialmente necessário para
toda a sociedade. Vejamos algumas falas.
Então foi um meio de achar um trabalho, porque pra mim isso aqui
significa um trabalho, mas aí depois com o tempo eu fui vendo que não
era só um trabalho porque a gente vê muitas coisas acontecerem aqui
dentro, coisas sociais que acontecem aqui dentro que a gente fica
gratificado, vale muito mais do que o trabalho que a gente faz. Aí pra
mim já não significou mais aquele trabalho, tipo do emprego mesmo,
entende. Porque a gente vê, quando eu trabalhava de guarda aqui, vê
aquele monte de crianças entrando no portão e aquilo ali tava te
gratificando, essa parte que tu não via antes, outros trabalhos que a
pessoa pega aí de carteira assinada e tu não vê essa parte social
acontecer, das crianças entrar pra aquele centro ali, vim ali estudar. A
gente se dedica um pouco mais ainda pra manter...pra dar esse suporte
aí...prás crianças que os pais não têm as condições de pagar o cara ali
pra ensinar...o computado, as coisas que têm aqui dentro, as pessoas
aqui não têm como pagar mesmo e se vai pagar lá fora é muito dinheiro.
E aqui dentro é tudo de graça. Isso então começa a gratificar a gente [...]
quando eu entrei aqui, muitas pessoas pensavam como eu até pensei,
que era um trabalho, um coletivo. Mas depois a gente tem que misturar
também um pouco com o trabalho e com o social. São duas coisas que
a gente às vezes ali na frente tem que trabalhar, porque se tu não
produzir, tu não vai ganhar teu dinheiro. Então a pessoa ali, tem que dar
uma, assim, de empresa; tem que fazer, tem que trabalhar, tem que
lutar, entende. Mas dá também um alívio, porque sabe que têm pessoas
que entram aqui que têm vários problemas, família, que às vezes tem
que resolver e tal. [...] Esse trabalho aqui, vamos supor assim, ele é
importante pro nosso meio ambiente, como todo mundo fala às vezes
que nós somos os doutores do planeta, porque daqui a gente tem um, foi
um recurso de uma outra parte pra gente tirar o sustento e ao mesmo
tempo da gente ter esse outro trabalho com a natureza, a gente está
ajudando também. (Ismael, CEA-Vila Pinto);
O catador é um privilegiado para mim. Ele está limpando o meio
ambiente, não está só levando uma renda para casa, está limpando
aquilo que polui o meio ambiente. Aqui mesmo eles podem estar com
seus filhos, aqui dentro participando de aulas, projetos, escolas...tirando
das ruas do mundo das drogas...é isso. (Sirlei, CEA-Vila Pinto).
A resistência vem acompanhada de uma vivificação do laço social
demonstrada através de uma solidariedade democrática
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dispensada ao outro e
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A solidariedade democrática “refere-se a um estilo de ação e mobilização social contemporânea,
fundamentado em princípios, comportamentos e dispositivos institucionais orientados para o bem-
estar coletivo.” (GAIGER, 2005, p.13).