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pela e na educação, porque ele é esquecido, negado, aprisionado e mecanizado.
Esquecido em seu movimento e expressão; aprisionado em um uniforme (real ou
imaginário); mecanizado em sua estrutura e em sua forma.
O método e as estratégias pedagógicas de avaliação, disciplina, regulação e
constrangimento foram, de certa forma, o modo mais fácil de tornar os sujeitos
educados. O corpo foi durante séculos entendido como algo a se esconder e de que se
envergonhar, e foi isso que a escola prioritariamente nos ensinou. Se o corpo estiver
adestrado, exposto e comportado, ele não representa perigo ou ameaça. O corpo dos
estudantes é dividido, assim como as matérias, as classes, os espaços, os tempos. O
conhecimento se dá desincorporado-o de seu sabor e de sua experiência, neutralizando-o
em sua capacidade e pertencimento singulares.
Segundo Santos, o corpo dos professores e das professoras estaria igualmente
submetido a um “regime de esquecimento”, que implica “uma negação, um ocultamento
do corpo docente, um processo de descorporificação e desencarnamento” (Santos, 1999,
p.196). O autor indica que o corpo dos professores(as) se faz desprovido ou proibido de
sua materialidade, por exemplo, em sua qualidade de sentir, rir, ser espontâneo e suave.
Ao contrário, as tecnologias de condicionamento e disciplinamento dos corpos vão-se
dando como formas de anestesia e correção do outro, que sucedem desde o olhar até a
aplicação de castigos diversos. Entre elas, está a definição dos sujeitos pela avaliação,
reforma, recuperação, aprovação, reforço e comportamento. O outro está aí para ser
formado ou anulado em sua singularidade.
A respeito dessa operação, de acordo com os apontamentos de Louro, a história
da educação mostra que a preocupação com o corpo sempre foi central no
engendramento dos processos, das estratégias e das práticas pedagógicas.
O disciplinamento dos corpos acompanhou o disciplinamento das mentes.
Todos os processos de escolarização sempre estiveram, e ainda estão,
preocupados em vigiar, controlar, modelar, corrigir os corpos de meninos e
meninas, de jovens homens e mulheres (Louro, 2000, p. 60).
O discurso escolar produz inúmeras “verdades” sobre o corpo. Segundo Santos,
isso se dá porque não cabe ao currículo “incorporar outras representações culturais
como importantes para o estudo do corpo: as de beleza, de corpo malhado, de moda, de
saúde estética, de sentir-se bem consigo mesmo/a, entre outras” (Santos, 1999, p. 207).
A escola, segundo o autor, poderia discutir representações acerca do que é ser atraente,
feio/a, gordo/a, magro/a, doente, “gostoso/a”, entre outras. Foi esta, justamente, a