(Greiner 2005: 85). A “virgindade ideal do agora”, para Derrida (2002: 221) é constituída
pelo trabalho da memória. O que “se dá a ver” não são as coisas como elas são, mas
como define Greiner, “a ficção que contamos a nós mesmos tendo em vista a
sobrevivência, o reconhecimento, o estar lá” (idem, ibidem)
No final de seu texto sobre Freud, Derrida diz que é preciso radicalizar o conceito
freudiano de rastro e extraí-lo da metafísica da presença. A nota onde define a sua
interpretação do rastro, também citado por Lepecki em seu ensaio, segue assim: “o rastro
é a desaparição de si, da sua própria presença, é constituído pela ameaça ou a angústia da
sua desaparição irremediável, da desaparição da sua desaparição” (Derrida 2002: 226).
Este desaparecimento é a própria morte, diz Derrida, e é no seu horizonte que se
deve pensar o presente. Se a performance é a arte do presente, é também a arte da morte.
Lepecki aponta os estudos da dança e da performance
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como o espaço possível onde a
desaparição como/na origem do discurso, e a remoção da presença como pré-requisito do
conhecimento, dá lugar a um tipo de escrita que trabalha com o efêmero e não contra ele.
Também para Lepecki, a crítica da presença em Derrida implica em que todo
significado já está habitado por (e referindo-se a) uma série de outras referências, rastros
de outros rastros, num eterno jogo de différance
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.
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Lepecki exemplifica estes estudos não só com as idéias de Phelan, mas também de outros autores como
Mark Franko (Dancing Modernism / Performing Politics, Bloomington: Indiana University Press, 1995) e
Jacques Rivière (“Lê Sacre du Printemps, 1913” in Nijinsky Dancing, ed. Lincoln Kirstein, New York:
Knopf, 1975).
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A idéia da presença como um movimento de desaparecimento constante (como traço/rastro) levou Derrida
a cunhar a palavra “différrance” (deferência), cuja pronúncia em francês é a mesma de “différrence”
(diferença), para significar a dinâmica de significação em linguagem, onde o rastro também é a tônica: o
significado de uma palavra já não mais se refere ao seu objeto imediato, mas à referência à referência, num
jogo provisório de diferenças (espaciais) e deferências (temporais). Sobre este conceito derrideano, Greiner
(2005) comenta: “o espaço, a partir de então, seria o espaço da escritura, não apenas da palavra escrita mas
da escritura dos fenômenos no mundo e no corpo. A tal différance seria uma espécie de ação de
suplementaridade” (86).