Mais significativa do que a referência a uma possível aproximação
entre Bráulio e Damaso, porém, é a indicação das articulações a que Bráulio
se dedicava no plano estadual. Evidentemente, Álvaro Silveira não soube
avaliar o significado dessa atividade do coronel. Como decorrência da sua
concepção de poder, Silveira via o coronel como um inimigo político
isolado - naquele momento, inclusive, destituído de poder -, cuja ação era
restrita aos limites do município de Santo Ângelo. Não compreendia que
Bráulio Oliveira era, na verdade, integrante de um grupo maior de
republicanos, inserido num sistema de relações políticas que o ligavam a
alguns dos mais importantes chefes políticos do estado. O enfrentamento
com Bráulio, Álvaro Silveira o entendia como uma medição de forças entre
dois chefes locais, em caráter praticamente pessoal, e sentia-se, então, em
condição privilegiada, pois tinha o apoio do Presidente do Estado e Chefe
Supremo do PRR, Borges de Medeiros.
No entanto, o que ocorria em Santo Ângelo - como certamente em
outros municípios - era o confronto entre dois sistemas de alianças,
confronto esse que tivera seu auge na crise gerada pela indicação e eleição
senatorial de Hermes da Fonseca. A adoção, por Borges de Medeiros, da
política de fomento de dissidências, como estratégia para burlar a legislação
que garantia o direito de representação da minoria e que permitia, também,
que o chefe estadual do PRR jogasse para segundo plano, sempre que
possível, antigos e incômodos chefes políticos do interior - como era,
justamente, o caso de Bráulio Oliveira -, desencadeou um período de grande
turbulência interna nas hostes sempre ditas coesas e harmoniosas do PRR.
De um lado, um grupo de tradicionais republicanos, como Firmino
de Paula e João Francisco, que cultuavam fielmente a memória de Júlio de
Castilhos, reconhecendo-o como o instaurador da República no Rio Grande
do Sul e considerando-o tão elevado moral e intelectualmente quanto
Augusto Comte; Borges de Medeiros, para esse grupo, era um sucessor que
ficava muito aquém do Patriarca. Desse modo, admitiam o castilhismo, mas
não reconheciam Borges de Medeiros como co-elaborador do que
consideravam a doutrina do PRR. Para eles, o único mérito de Borges era o
de ter sido escolhido por Castilhos para sucedê-lo. Reconheciam Borges de
Medeiros como Chefe Supremo do partido. Entendiam, no entanto, que, a
partir da morte de Júlio de Castilhos, o exercício do poder no estado deveria
obedecer a uma espécie de pacto oligárquico, estabelecido entre iguais. Não
elevavam Borges a um patamar de merecimento acima daquele em que eles
próprios se colocavam - Castilhos sim, mesmo quando vivo, era tido como
alguém superior. O grande referencial de mérito, para estes republicanos
tradicionais, era, além da fidelidade incondicional a Castilhos, com o qual
haviam convivido intensamente, a participação e o desempenho de cada um