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UFRRJ
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS
VETERINÁRIAS
TESE
Controle Alternativo e Alterações Fisiológicas em
Biomphalaria glabrata (SAY, 1818), Hospedeiro Intermediário
de Schistosoma mansoni SAMBOM, 1907 Pela Ação do Látex
de Euphorbia splendens var. hislopii N.E.B
(EUPHORBIACEAE)
Clélia Christina Corrêa de Mello Silva
2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DE JANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
CONTROLE ALTERNATIVO E ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS
EM Biomphalaria glabrata (SAY, 1818), HOSPEDEIRO
INTERMEDIÁRIO DE Schistosoma mansoni SAMBOM, 1907 PELA
AÇÃO DO LÁTEX DE Euphorbia splendens var. hislopii N.E.B
(EUPHORBIACEAE)
CLÉLIA CHRISTINA CORRÊA DE MELLO SILVA
Sob a Orientação da Professora
Dr
a
Maria de Lurdes de Azevedo Rodrigues
E Co-orientação dos Professores
Dr. Jairo Pinheiro da Silva
Dr. José Clecildo Barreto Bezerra
Tese submetida como requisito parcial
para obtenção do grau de Doutor em
Ciências Veterinárias, Área de
concentração Parasitologia Veterinária
Seropédica, RJ
Junho de 2005
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UNIVERSIDADE FEDERAL RURAL DO RIO DEJANEIRO
INSTITUTO DE VETERINÁRIA
CURSO DE PÓS-GRADUAÇÃO EM CIÊNCIAS VETERINÁRIAS
CLÉLIA CHRISTINA CORRÊA DE MELLO SILVA
Tese submetida ao Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias, área de
Concentração em Parasitologia Veterinária, como requisito parcial para obtenção do
grau de Doutor, em Ciências Veterinárias.
TESE APROVADA EM 13/06/2005
__________________________________________
Maria de Lurdes de Azevedo Rodrigues (PhD/UFRRJ)
(orientadora)
____________________________________________
José Clecildo Barreto Bezerra (PhD/UFG)
__________________________________________
Maurício de Carvalho Vasconcellos (PhD/IOC/Fiocruz)
____________________________________________
Solange Viana Paschoal Blanco Brandolini (PhD/UFRRJ)
__________________________________________
Hélcio Resende Borba (PhD/UFRRJ)
________________________________________
Débora Henrique da Silva Anjos (PhD/UFRJ)
(Suplente)
_______________________________________
Vânia Rita Elias Pinheiro Bittencourt (PhD/UFRRJ)
(Suplente)
Ao Professor Frederico Simões Barbosa
(in memorian) por ter me ensinado o
gosto pela pesquisa.
Ao meu amado marido Celso
Aos meus queridos Pais Gabriel e Célia
e meus Avós (in memorian)
AGRADECIMENTOS
A Deus pela sua Divina Providência em todos os momentos de realização desta tese.
À professora Dra. Maria de Lurdes Azevedo Rodrigues, minha orientadora, por ter
apostado neste desafio.
Ao Professor Dr. Jairo Pinheiro da Silva, por todos os seus conhecimentos e incentivo.
A sua orientação foi fundamental e imprescindível para a realização desta Tese.
Ao Professor Dr. José Clecildo Barreto Bezerra por sua atenção, carinho e incentivo,
além de sua hospitalidade.
Ao Dr. Maurício Vasconcellos, por permitir a realização de parte do experimento desta
tese em seu laboratório, além das experiências vivenciadas.
A Dra. Mônica Magno Vilar, por sua paciência, amizade, compreensão, pela cessão dos
moluscos para o experimento, pelo espaço físico para a criação dos caramujos e
realização de parte do experimento, além de sua habilidade na infecção dos moluscos.
Ao Professor Carlos Eduardo Grault pelo apoio na realização da tese.
À amiga e futura bióloga Mariana Lima por seu companheirismo e habilidades técnicas
na realização desta tese.
As amigas Raffaela e Elisa, por dividirem minhas angústias, aflições e alegrias.
À amiga Márcia de Senna Nunes Sales e sua família (Eliezer, Mariana e Letícia) por sua
hospitalidade, carinho e atenção, além de me apoiar nas atividades didáticas na
Universidade Iguaçu.
Agradeço também aos professores Gilda Maria Sales Barbosa e Ronald Rodrigues
Guimarães pelo apoio na UNIG.
Ao amigo Marcos Quintela da Silva por suas habilidades técnicas e seu apoio na
realização dos experimentos.
A amiga Marta Júlia Faro dos Santos Costa pela amizade e companheirismo.
A meus pais, irmãos, sobrinhos e afilhados por entenderem a minha ausência e por
fortalecerem meu desejo na busca do conhecimento.
A meus amigos da Pastoral Familiar da Paróquia de Santo Antônio de Água Santa por
suas orações.
Ao meu marido Celso, sustento de minha vida, obrigada por seu amor, compreensão,
carinho e apoio, pois sem estrutura familiar, não conseguimos realizar sonhos
profissionais. Te amo muito.
BIOGRAFIA
CLÉLIA CHRISTINA CORRÊA DE MELLO SILVA, filha de Sebastião
Gabriel da Silva e Célia Corrêa de Mello Silva, natural do Rio de Janeiro/RJ, nasceu no
dia 1
o
de dezembro de 1970.
Iniciou o curso de Ciências Biológicas na Universidade Gama Filho no ano de
1988, graduando-se no ano de 1991.
Estagiou e foi bolsista de Iniciação Científica da Fundação de Amparo à
Pesquisa no Estado do Rio de Janeiro (FAPERJ) no Departamento de
Malacologia/IOC/Fiocruz, no período de 1989 a 1991. Foi aprovada em concurso
interno de seleção para bolsa de aperfeiçoamento profissional no Departamento de
Ciências Biológicas/ ENSP/ Fiocruz, no período de janeiro de 1992 a março de 1993.
Em 1993 ingressou no mestrado do Curso de Pós- Graduação em Biologia
Parasitária no Instituto Oswaldo Cruz/Fiocruz.
Foi contratada em maio de 1995, como professora do Departamento de
Parasitologia da Faculdade de Ciências Biológicas e da Saúde da Universidade Iguaçu,
atuando nos cursos de graduação: Medicina, Farmácia, Fisioterapia, Enfermagem e
Odontologia; e nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu de Parasitologia e Análises
Clínicas.
Atua como professora convidada nos cursos de Pós-Graduação Lato Sensu em
Ciências do Laboratório Clínico, Citologia Clínica e Hematologia Clínica na
Universidade Federal do Rio de Janeiro.
Ingressou no doutorado do Curso de Pós-Graduação em Ciências Veterinárias -
Parasitologia Veterinária (UFRRJ) no ano de 2003.
SUMÁRIO
PÁGINA
1- INTRODUÇÃO GERAL .......................................................................................
01
2- REVISÃO DA LITERATURA ............................................................................ 03
2.1- Biomphalaria glabrata: taxonomia, morfologia, biologia e filogenia ............
03
2.2- A influência dos fatores abióticos na biologia de Biomphalaria glabrata
,
principal hospedeiro intermediário do Schistosoma mansoni no Brasil .........
08
2.3- Fatores bióticos intervindo na biologia de Biomphalaria glabrata ................
10
2.3.1- A relação entre os efeitos de jejum e da infecção pelo Schistosoma
mansoni ...........................................................................................................
10
2.4- A ação de moluscicidas no ciclo de vida de Biomphalaria glabrata ............. 14
3 CAPÍTULO I -
UMA VISÃO DO CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE
BASEAD
A NOS FATORES AMBIENTAIS E
EDUCACIONAIS...........................................................................................
19
RESUMO ..............................................................................................................
20
ABSTRACT ..........................................................................................................
21
3.1- INTRODUÇÃO .............................................................................................
22
3.2- DESENVOLVIMENTO ................................................................................
23
3.2.1- Visão histórica e ecológica do controle da esquistossomose ...................
23
3.2.2- Educação ambiental e o controle de hel
mintoses, principalmente
esquistossomose .............................................................................................
25
3.2.3-
O enfoque educacional para o controle da Esquistossomose: mudança
no ensino da Parasitologia ..............................................................................
26
3.2.3.1- O paradigma do ensino superior e educação médica .........................
26
3.2.3.2- A postura da parasitologia na visão do novo ensino médico ............
27
3.2.4- A transdisciplinaridade e o controle da esquistossomose ........................
28
3.3- CONCLUSÃO ........................................................... 29
4 - CAPÍTULO II - BIOLOGIA REPRODUTIVA DE Biomphalaria gla
brata
EXPOSTA AO LÁTEX DE Euphorbia splendens var. hislopii ....................
30
RESUMO........................................................................................................ 31
ABSTRACT................................................................................................... 32
4.1- INTRODUÇÃO .............................................................................................
33
4.2- MATERIAL E MÉTODOS ...........................................................................
34
4.2.1 - Obtenção do látex de Euphorbia splendens var. hislopii ........................
34
4.2.2 - Criação dos caramujos ............................................................................
34
4.2.3 - Determinação da concentração letal e sub letal ......................................
34
4.2.4 - Análise da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata
submetida
ao tratamento com a dose sub letal (DL
50
) de Euphorbia splendens
var.
hislopii ............................................................................................................
34
4.2.5- Análise estatística.....................................................................................
35
4.3 – RESULTADOS ............................................................................................
36
4.4 - DISCUSSÃO E CONCLUSÃO ................................................................... 41
5 - CAPÍTULO III - ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS EM Biomphalaria glabrata
SAY, 1818 (PULMONATA: PLANORBIDAE) EM FUNÇÃO DA
CONCENTRAÇÃO DO LÁTEX DE Euphorbia splendens var. hislopii
N.E.B (EUPHORBIACEAE) .........................................................................
43
RESUMO ..............................................................................................................
44
ABSTRACT ..........................................................................................................
45
5.1- INTRODUÇÃO .............................................................................................
46
5.2- MATERIAL E MÉTODOS ...........................................................................
47
5.2.1- Obtenção do látex de Euphorbia splendens var. hislopii .........................
47
5.2.2- Criação de Biomphalaria glabrata em laboratório ..................................
47
5.2.3- Determinação das concentrações letal e sub-letal do látex de Eupho
rbia
splendens var. hislopii ....................................................................................
47
5.2.4- Análises bioquímicas ...............................................................................
48
5.2.5- Análise estatística .....................................................................................
49
5.3- RESULTADOS ..............................................................................................
52
5.3.1- Determinação das doses letal e sub-letal ................................................. 52
5.3.2-
Concentrações de glicose na hemolinfa e de glicogênio nos tecidos
(glândula digestiva e massa cefalopodal) de Biomphalaria glabrata
exposta
ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii.................................................
53
5.3.3-
Concentrações de proteínas totais e de produtos nitrogenados na
hemolinfa de Biomphalaria glabrata exposta ao látex de
Euphorbia
splendens var.hislopii......................................................................................
55
5.4- DISCUSSÃO E CONCLUSÃO .................................................................... 58
6- CAPÍTULO IV-
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO COM O LÁTEX DE
Euphorbia splendens var. hislopii
SOBRE OS DEPÓSITOS DE
CARBOIDRATOS E GLICOSE NA HEMOLINFA DE
Biomphalaria
glabrata INFECTADA COM Schistosoma mansoni.....................................
61
RESUMO............................................................................................................. 62
ABSTARCT......................................................................................................... 63
6.1 – INTRODUÇÃO ........................................................................................... 64
6.2 - MATERIAL E MÉTODOS ..........................................................................
66
6.2.1 - Obtenção do látex de Euphorbia splendens var. hislopii ........................
66
6.2.2 - Criação dos caramujos ............................................................................
66
6.2.3 - Infecção de Biomphalaria glabrata pela Linhagem BH do Schistosoma
mansoni ...........................................................................................................
66
6.2.4 - Determinação da concentração letal e sub letal ......................................
66
6.2.5 - Exposição de Biomphalaria glabrata com o látex de
Euphorbia
splendens var. hislopii, experimentalmente infectada com
Schistosoma
mansoni ...........................................................................................................
67
6.2.6 - Análises bioquímicas ..............................................................................
67
6.2.7 -
Extração e dosagem de glicogênio de glândula digestiva e massa
cefalopodal .....................................................................................................
67
6.2.8 - Análises estatísticas ................................................................................ 68
6.3 – RESULTADOS ............................................................................................
70
6.4 - DISCUSSÀO E CONCLUSÃO ................................................................... 74
7-CONCLUSÕES GERAIS .......................................................................................
76
8- REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS ...................................................................
78
LISTA DE FIGURAS
PÁGINA
Figura 1 Relação entre a sobrevivência de Biomphalaria glabrata
submetidos ou não a exposição ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii
por 24 horas em função do tempo de observação em semanas............................
37
Figura 2 -
Relação entre número de massas ovígeras por molusco
Biomphalaria glabrata expostos ou não ao látex de Euphorbia splendens var
.
hislopii, por 24 horas e em função do tempo de observação, em semanas .......
38
Figura 3
Relação entre o número de ovos por massas ovígeras nos grupos de
Biomphalaria glabrata expostos ou não ao látex de Euphorbia splendens var.
hislopii, em função do tempo de observação, em semanas .............................
38
Figura 4 -
Relação do número de ovos por molusco nos grupos de
Biomphalaria glabrata expostos ou não ao látex de Euphorbia splendens
var.
hislopii em função do tempo de observação, em semanas .............................
39
Figura 5 - Relação d
o número de caramujos eclodidos nos grupos de
Biomphalaria glabrata expostos ou não ao látex de Euphorbia splendens
var.
hislopii, em função do tempo de observação ......................................................
40
Figura 6 - Relação entre a co
ncentração de glicogênio (mg/ de glicose/g de
tecido, peso fresco) os tecidos da glândula digestiva (¢
) e massa cefalopodal
(p) de Biomphalaria glabrata
tratadas com soluções de diferentes
concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l) .................
54
Figura 7 -
Relação entre a concentração de glicose (mg/dl) na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata
tratadas com soluções de diferentes concentrações do
látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l) ..............................................
54
Figura 8 -
Relação entre a concentração de proteínas totais (mg/dl) na
hemolinfa de Biomphalaria glabrata
expostas a diferentes concentrações do
látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l) ..............................................
56
Figura 9 - Relação entre a concentração de uréia (mg/dl) na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata nas diferentes concentrações do látex de
Euphorbia
splendens var. hislopii (mg/l) ..............................................................................
56
Figura 10 -
Relação entre a concentração de ácido úrico (mg/dl) na hemolinfa
de Biomphalaria glabrata nas diferentes concentrações do látex de
Euphorbia
splendens var. hislopii (mg/l) ..............................................................................
57
Figura 11 -
Relação entre o conteúdo de glicose (mg/dl) na hemolinfa de
Biomphalaria glabrata infectada com Schistosoma mansoni
em função do
tempo após a exposição, por 24 horas, ao látex de Euphorbia splendens var
.
hislopii ................................................................................................................
72
Figura 12 -
Relação entre a concentração de glicogênio (mg de glicose/g de
tecido, peso fresco) na massa cefalopodal de Biomphalaria glabrata
, infectada
pelo Schistosoma mansoni
em função do tempo após a exposição, por 24
horas, ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii..........................................
73
Figura 13 - Relação entre a concentração de glicogêni
o (mg de glicose/g de
tecido, peso fresco) na glândula digestiva de Biomphalaria glabrata
, infectada
pelo Schistosoma mansoni
, em função do tempo após a exposição, por 24
horas, ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii...........................................
73
LISTA DE TABELAS
PÁGINA
Tabela I- Aspectos da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata
(grupo controle) observados por cinco semanas. N=30 moluscos .................
36
Tabela II - Aspectos da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata
exposta ao látex de Euphorbia splendens var. hislopi
por 24 horas
comparados (CL
50
), observados por cinco semanas. N=30 moluscos...........
36
Tabela III Eclodibilidade de Biomphalaria glabrata
em função do tempo
após exposição, por 24 horas, ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii.
39
Tabela IV - Percentual de sobreviventes de Biomphalaria glabrata,
em
diferentes concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii
, e
comportamento de escape entre 24 e 48h (n=20 para cada concentração).....
52
Tabela V- Concentrações médias de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de
glicogênio nos tecidos (mg de glicose/g de tecido, peso fresco) da glândula
digestiva e massa cefalopodal de Biomphalaria glabrata
tratados com o
látex de Euphorbia splendens var. hislopii......................................................
53
Tabela VI -
Variação na concentração de proteínas totais, uréia e ácido
úrico na hemolinfa (mg/dl) de Biomphalaria glabrata
tratadas com
diferentes concentrações de látex de Euphorbia splendens var. hislopii........
55
Tabela VII -
Concentração de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de glicogênio
nos tecidos da glândula digestiva e massa cefalopodal (mg de glicose/g de
tecido, peso fresco) em Biomphalaria glabrata infectada por Schistosoma
mansoni e não exposta ao látex de Euporbia splendens var. hislopii
. X ±
SD=média ± desvio-
padrão. Moluscos controle = não infectados e não
expostos ao látex..............................................................................................
71
Tabela VIII -
Concentração de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de glicogênio
nos tecidos da glândula digestiva e massa cefalopodal (mg de glicose/g de
tecido, peso fresco) de Biomphalaria glabrata infectada por Schistosoma
mansoni e exposta ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii
por 24
horas. X ± SD=média ± desvio-
padrão. Moluscos controle = não infectados
e não expostos ao látex....................................................................................
72
LISTA DE FLUXOGRAMAS
PÁGINAS
Fluxograma 1-
Metodologia empregada na determinação das concentrações
letais e sub-letais..................................................................................................
50
Fluxograma 2-
Metodologia empregada na determinação das concentrações
letais e sub-letais, após o período de recuperação...............................................
51
Fluxograma 3- Metodologia empregada para exposição ao látex de Euphorbia
splendens var. hislopii de exemplares de Biomphalaria glabrata
infectados
pelo Schistosoma mansoni.................................................................................
69
RESUMO
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa. Controle Alternativo e Alterações
Fisiológicas em Biomphalaria glabrata (Say, 1818), hospedeiro intermediário de
Schistosoma mansoni Sambom, 1907 pela ação do látex de Euphorbia splendens
var. hislopii N.E.B (Euphorbiaceae). Seropédica: UFRRJ, 2005. (Tese, Doutorado em
Ciências Veterinárias, Parasitologia Veterinária).
Este estudo teve por objetivos: relatar as ações utilizadas para o controle da
esquistossomose, baseado nos fatores ambientais e educacionais, questionando o uso de
moluscicidas e apresentar a ação de um produto natural, biodegradável, o látex de
Euphorbia splendens sobre a fisiologia de Biomphalaria glabrata.Os moluscicidas são
utilizados apenas como produtos que possam erradicar os moluscos nos criadouros, sem
levar em consideração a importância do caramujo no ecossistema aquático e a
representação do meio hídrico para o homem. Busca-se a transformação do profissional
da área da saúde, através de pesquisas transdisciplinares, a fim de promover
efetivamente o controle desta doença. A partir do experimento de dose letal, foi avaliada
a ação do látex, nas diferentes concentrações sub letais, até a CL
50
, sobre a fisiologia do
molusco. A CL
90
foi 2,3 mg/l e a CL
50
foi 1,0 mg/l. Alterações na biologia reprodutiva
dos moluscos expostas à CL
50
do látex de E. splendens foi analisada. A partir da 1
a
semana após a exposição a CL
50
por 24 horas, os moluscos diminuíram a produção de
ovos, porém houve um processo compensatório a partir da 4
a
semana, quando a
oviposição tornou-se superior àquela observada nos animais não expostos. Foi
evidenciada uma redução na eclodibilidade dos moluscos expostos a ação do látex.
Quanto a alteração fisiológica observou-se que o látex de E. splendens var. hislopii
reduziu as reservas de glicogênio na glândula digestiva relacionada à regulação da
glicemia e elevação do conteúdo de proteínas totais na hemolinfa de B. glabrata,
provavelmente associada com um aumento da atividade da gliconeogênese. A ação do
látex de E.splendens var. hislopii sobre a fisiologia de B. glabrata infectados pelo
Schistosoma mansoni foi, também, estudada. O látex interferiu nas concentrações de
glicogênio nos tecidos (glândula digestiva e massa cefalopodal) e de glicose na
hemolinfa. Os caramujos infectados e expostos degradaram mais rapidamente as
reservas energéticas, principalmente a partir da 3
a
e 4
a
semana, o que corresponde a
migração de esporocistos secundários e produção de cercárias. Trabalhos com
moluscicidas são restritos a estudos sobre a sua ação na sobrevivência em seu ambiente
natural, sendo utilizados como instrumentos para erradicar a população de moluscos dos
criadouros onde ocorre a transmissão. Neste estudo, a importância do látex de
E.splendens var. hislopii como um produto de ação seletiva, levando a redução da
população de moluscos e, conseqüentemente, a um controle da transmissão da
esquistossomose.
Palavras chave: Molusco, moluscicida natural, esquistossomose
ABSTRACT
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa. Alternative Control and Physiological
alterations in Biomphalaria glabrata (Say, 1818), intermediate host of Schistosoma
mansoni Sambom, 1907 exposed to Euphorbia splendens var. hislopii N.E.B
(Euphorbiaceae) latex. Seropédica: UFRRJ, 2005. (Thesis Doctor at Veterinary
Science, Veterinary Parasitology).
In this study the physiological alterations raised in Biomphalaria glabrata, when it was
exposed to Euphorbia splendens var. hislopii latex. First, it was made an evaluation of
the use of the moluscicides and its importance to the disease control. The lethal dose
(LD
90
) was determined and the physiological response of the snail exposed to different
doses, until the sub lethal dose (LD
50
), were analyzed. A marked reduction on the
glycogen stores in digestive gland was observed and it was, probably, related to the
glicemic regulation. The increasing of the total protein contents in the hemolymph of B.
glabrata, also occurred and may be associated to an increase of the gluconeogenesis
acitivity. The changes on the reproductive biology of B. glabrata exposed to LD
50
of E.
splendens latex were studied. From the first week post exposure onward, the snails
reduced the ovipository activity, but after the fourth week the egg laying increases,
being the values observed higher than those observed to the unexposed snails,
constituting a process of fecundity compensation. The snails hatchability was
significantly reduced when they were exposed to the latex. The E. splendens var.
hislopii latex influence on the physiology of B. glabrata infected with S. mansoni was,
also, studied. The latex altered the glycogen concentrations in the tissues (digestive
gland and cephalopedal mass) and of glucose in the hemolymph. The infected snails and
latex exposed degradate quickly the energetic stores, mainly from the 3
rd
and 4
th
week.
In this time, the daughter sporocysts migration and cercarial production happen. Studies
on moluscicides focused the action of the products on survival of the snails in their
natural environment, as a tool to erradicate the snail population in the aquatic
environments, where the transmission occurs. In this study, the importance of the
E.splendens var. hislopii latex as a product of selective action, leading to a reduction of
a mollusc population and, consequently, the control of schistosomiasis transmission.
Key words: Mollusc, natural molluscicide, schistosomiasis
1- INTRODUÇÃO GERAL
A Esquistossomose mansônica é uma parasitose de distribuição e prevalência
progressiva no mundo. No Brasil, a estimativa da doença tem sido de cinco a seis milhões
de habitantes infectados e trinta milhões sob o risco da mesma. A preva lência anual da
doença e as taxas de mortalidade e morbidade têm decaído em todo o país.
Historicamente, as campanhas de controle da doença centralizavam-se no tratamento
dos doentes com drogas potentes e de efeitos colaterais diversos e no controle de moluscos
hospedeiros através de moluscicidas químicos, destruidores da fauna dulcícola, acometendo
os ecossistemas naturais. Atualmente, o perfil de controle da doença, ainda está pautado no
tratamento do homem, como principal hospedeiro definitivo e na erradicação dos
hospedeiros intermediários da esquistossomose. Sobre esta estratégica, preconiza-se novas
formas para minimizar ecologicamente o impacto das medidas de controle.
Um dos pontos pesquisados tem sido à busca de moluscicidas naturais. Alguns quesitos
são necessários para que estes sejam usados: serem biodegradáveis, de baixo custo,
abundância de cultivo, fácil aplicação, concentração letal menor que 100mg/l, extração
aquosa e de baixa toxicidade a organismos não-alvos (KLOSS; McCULLOUGH,
1982).Apesar de diversos estudos sobre a potencialidade do uso de plantas como
moluscicidas desde 1930, somente nos últimos 20 anos as pesquisas se intensificaram.
Um dos moluscicidas mais promissores e estudados no Brasil é o extrato bruto de
Euphorbia splendens var. hislopii (Sin. Euphorbia milii) da família Euphorbiaceae, que em
condições laboratoriais e de campo, demonstrou ter os quesitos necessários para ser
utilizado como moluscicida natural, tanto em relação ao custo- benefício como pela sua
capacidade bioativa. Observou-se a ausência de efeitos tóxicos, mutagênicos,
carcinogënicos e embrio- fetotóxicos em organismos não alvos (VASCONCELLOS, 2000).
Alterações fisiológicas foram observadas em B. glabrata submetidas a infecção por S.
mansoni, sujeitas a jejum e a estivação. Conforme estas observações, B. glabrata sujeitos à
estresse fisiológico, como por exemplo a infecção pelo S. mansoni, alteram seu
metabolismo, utilizando suas reservas energéticas.
Estudos sobre a influência dos moluscicidas na biologia e fisiologia dos moluscos,
principalmente B. glabrata, são escassos na literatura. Tornam-se importantes para se traçar
estratégias de tratamento para o controle da esquistossomose.
Devido à importância de E. splendens (var. hislopii) como moluscicida natural e a
ausência de trabalhos sobre a ação fisiológica deste produto em Biomphalaria, a presente
tese tem os seguintes objetivos:
1) Apresentar um estudo de revisão sobre as principais medidas para o controle da
esquistossomose, enfatizando os fatores ambientais e educacionais;
2) Identificar a influência do látex de Euphorbia splendens var. hislopii, na biologia
reprodutiva de B. glabrata;
3) Observar as alterações fisiológicas em B. glabrata em função das concentrações
do látex de E. splendens var. hislopii;
4) Verificar os efeitos do látex de E. splendens var. hislopii em B. glabrata
infectada pelo Schistosoma mansoni no metabolismo de carboidratos
Para tanto, os capítulos foram organizados atendendo a proposta dos objetivos,
apresentando a seguinte ordem:
Capítulo I: Uma visão do controle da Esquistossomose baseados nos fatores ambientais
e educacionais;
Capítulo II- Biologia reprodutiva de B. glabrata tratada com látex de E. splendens var
hislopii;
Capítulo III Alterações fisiológicas em B. glabrata em função das concentrações do
látex de E. splendens var hislopii;
Capítulo IV- Influência do tratamento com o látex de E. splendens var. hislopii sobre
os depósitos de carboidratos em B. glabrata infectada pelo S. mansoni.
3
2- REVISÃO DA LITERATURA
2.1- Biomphalaria glabrata: taxonomia, morfologia, biologia e filogenia.
O gênero Biomphalaria está taxonomicamente posicionado no Filo Mollusca,
classe Gastropoda, sub-classe Pulmonata, ordem Basommatophora, família Planorbidae.
O gênero Biomphalaria possui 11 espécies descritas no Brasil, sendo elas: B.
occidentalis Paraense, 1981; B. amazonica Paraense,1966; B. peregrina Orbigny,1835;
B. intermedia Paraense, Deslandes,1962; B. schrammi Crosse,1864; B. oligoza
Paraense,1975; B. kuhniana Clessin, 1883; B. tenagophila guaibensis Paraense,1984; B.
tenagophila Orbigny,1935; B. straminea Dunker,1848 e B. glabrata Say,1818. No
Brasil, apenas as três últimas foram encontradas naturalmente infectadas pelo
Schistosoma mansoni.
O gênero Biomphalaria apresenta concha planispiral como os demais
planorbídeos, variando de 7 mm (B. schrammi) a 40mm (B. glabrata) (Fig. 1),
hemolinfa vermelha rica em hemoglobina e tubo renal em J. São hermafroditas,
podendo se reproduzir por auto-fecundação ou fecundação cruzada (PARAENSE,
1976). Os principais caracteres morfológicos utilizados pela sistemática para diferenciar
as espécies são: 1) características das conchas (tamanho, presença ou não de carena e
tipo de abertura) e 2) morfologia das partes moles como: número de divertículos do
ovoteste (glândula sexual hermafrodita), vesícula seminal e próstata, a presença ou
ausência de crista renal no tubo renal, aspectos da parede vaginal expandida em bolsa
ou não, ausência ou não de enrugamento vaginal, relação do tamanho do pênis com o
prepúcio e entre o diâmetro da bainha do pênis e o canal deferente (PARAENSE, 1975).
A circulação hemolinfática é realizada através do bombeamento do coração,
formada por um átrio e um ventrículo. A hemolinfa oxigenada chega ao coração através
da veia pulmonar e sai pela aorta, que a distribui para todo o corpo. O soro passa pelo
canal renopericárdio, a fim de ser filtrado pelo rim. Depois de absorvidos os elementos
orgânicos necessários, o restante do soro desce para o terço final do manto,
transformando-se em urina, que é eliminada pelo meato do ureter (PARAENSE, 1975).
A respiração dos moluscos pulmonados planorbídeos se realiza através do saco
pulmonar virtual formado pela junção da crista lateral com a crista retal, sendo a troca
gasosa realizada pelo tecido conjuntivo frouxo. A respiração aquática é realizada pela
pseudobrânquia, pregas tegumentares muito vacuolizadas (Fig. 2) (PARAENSE, 1975).
O sistema nervoso é composto por um conjunto de gânglios e conexões nervosas
localizados atrás do saco bucal. Distinguem-se fisiologicamente em três categorias de
centros nervosos: sensoriais, locomotores e viscerais. O sistema nervoso central
(sensoriais) dos moluscos serve como um recurso primário de neurotransmissores como
dopamina e serotonina e sua liberação através da inervação axonal é responsável pela
regulação da atividade ovipositória (SANTHANAGOPALAN; YOSHINO, 2000;
PARAENSE, 2001).
Quanto à reprodução, a preferência pela fecundação cruzada tem significado
evolutivo, uma vez que garante a manutenção da variabilidade genética, através do fluxo
gênico e da recombinação gênica (PARAENSE, 1976). Foram realizados diversos
estudos sobre a fecundidade e fertilidade das espécies de Biomphalaria. Observou-se
que B. glabrata apresenta melhor desempenho em fecundação cruzada do que em
autofecundação em comparação com as demais espécies hospedeiras do S. mansoni
(KAWAZOE, 1977; ROSEMBERG et al., 1992; COSTA et al., 2003).
4
Atingem a maturidade sexual por volta do 40
o
dia. No entanto, fatores bióticos
como a infecção pelo S. mansoni podem alterar este início (GRAULT, 1992).
A atividade ovipositória começa com o amadurecimento dos ovócitos e
espermatócitos no ovoteste. Os ovos formados pela junção destes gametas encaminham-
se pelo ovispermiduto até a encruzilhada genital, onde se localiza a glândula de
albúmen. Esta, fornece o principal recurso nutricional para o desenvolvimento dos ovos:
um homopolímero de galactose, chamado de galactogênio. Em B. glabrata, observou-se
que 36% do galactogênio é composto de L-galactose e 64% de D-galactose. Em
Lymanea stagnalis, a quantidade de galactogênio produzido é proporcional à quantidade
de massa ovígera e ovos formados (WIJSMAN; WIJCK- BATENBURG, 1987).
A glândula de albúmen é composta por numerosos divertículos e materiais
secretórios no lúmen. São formadas de células secretórias e um tipo de célula de
transporte (Fig. 2) (EL-SAADANY; MOHAMED, 1989).
O crescimento dos moluscos individualmente inicia-se de forma lenta, seguido
de um período rápido até a maturidade sexual, retornando ao ritmo lento, mas regular
até a morte. No nível populacional, o potencial de crescimento é conhecido como “taxa
intrínseca de aumento natural”, representado pela letra r. Uma população estável é o
resultado do equilíbrio entre os limites impostos pelo ambiente e o potencial de
crescimento inerente à população (BARBOSA; SIMÕES-BARBOSA, 1994). Fatores
genéticos têm sido atribuídos as variações de crescimento destes moluscos.
O sistema digestório dos planorbídeos é completo, iniciando-se na cavidade
bucal, onde se situa um par de glândulas salivares e a rádula. A rádula é constituída por
uma fileira de dentes quitinosos. No gênero Biomphalaria, esta apresenta a seguinte
distribuição de dentes: dente central bicúspide, dentes laterais tricúspide e dentes
marginais com extremidade livre refletida a um nível abaixo da base de implantação. A
rádula desloca-se para frente e para trás através de um suporte cartilaginoso, similar a
uma língua. Devido a este movimento, os moluscos podem raspar os alimentos e levá-
los ao esôfago. Este se apresenta como um canal condutor do alimento para o estômago,
que possui pequenos grãos de areia que auxiliam no processo de trituração dos
alimentos. O estômago se comunica com a glândula digestiva, principal órgão do
sistema digestório dos moluscos encarregado da absorção e do acúmulo de reservas de
energia, sob a forma de glicogênio. Os resíduos sólidos da digestão são levados para o
intestino e eliminados para o meio externo (Fig. 3) (PARAENSE, 2001).
O glicogênio é um polímero de D-glicose e possui a função de armazenar glicose
nos tecidos, a fim de ser utilizada pelo animal quando necessário. Dependendo das
condições fisiológicas e metabólicas, o glicogênio é degradado em glicose e, esta,
utilizada com a finalidade de suprir as necessidades energéticas do molusco. Este
polissacarídeo é encontrado em células especiais entre os ácinos da glândula digestiva,
na região anterior do manto e na massa cefalopodal (CHIANG,1977; PINHEIRO;
AMATO, 1994). A via de utilização de energia variará com as condições ambientais a
que estão submetidos os moluscos e esta possibilidade de mudança constitui um fator
adaptativo ao meio externo.
A espécie B. glabrata é considerada a de maior importância em saúde pública no
Brasil, devido à sua distribuição geográfica, capacidade de adaptação às diferentes
condições ambientais e susceptibilidade à infecção pelo S. mansoni (SOUZA; LIMA,
1990). Esta espécie se encontra delimitada pelos paralelos 13
o
e 21
o
S e pelos
meridianos 39
o
e 45
o
W, correspondendo a sudeste da Bahia, a metade oriental de Minas
Gerais, o estado do Espírito Santo, grande parte do Sergipe e Alagoas e as faixas
litorâneas de Pernambuco, Paraíba e Rio Grande do Norte. Têm sido registrados
5
criadouros nos Estados do Pará, Maranhão, Bahia, Rio de Janeiro, São Paulo e Paraná
(PARAENSE,1986). Anatomicamente, B. glabrata caracteriza-se por apresentar crista
renal na fase adulta e linha pigmentada ao longo do tubo renal na fase jovem, ovoteste
com mais de 350 divertículos, bolsa vaginal e porção média do pênis aproximadamente
do mesmo diâmetro que a porção mais larga do canal deferente (Figs. 4 e 5)
(PARAENSE, 1975, 2001).
Estudos baseados em técnicas de biologia molecular, principalmente através do
desenvolvimento de metodologias diferenciadas utilizando PCR (Polymerase Chain
Reaction reação em cadeia da polimerase), permitiram analisar diretamente o DNA
das espécies, verificando variabilidades genéticas. Observou-se que a técnica de LS-
PCR foi mais apropriada para a distinção das espécies hospedeiras da esquistossomose,
mas constatou-se diferenças intra-específicas (VIDIGAL et al., 1996).
Através de estudos filogenéticos, observou-se que a espécie B. glabrata
apresenta variações intra-específicas, pois constitui espécie basal para as demais no
Brasil e no continente africano. De Jong et al. (2001) utilizaram seqüências de DNA
mitocondrial de diferentes espécies de planorbídeos, a fim de analisar o grau de
parentesco e explicar a extensa distribuição da doença nos continentes americano e
africano. Observou-se que as espécies africanas são oriundas das espécies americanas,
coincidindo com o encontro do fóssil mais antigo deste gênero no continente americano
(MORGAN et al.,2001). Através dos estudos cladísticos, verificou-se que B. glabrata
forma um grupo monofilético com as espécies africanas.
Verificou-se que B. glabrata continua em processo de especiação, envolvendo
diversos fatores como: diferenciações genéticas (RICHARDS; MERRITT, 1972;
RICHARDS et al, 1992), cruzamentos interespecíficos observados em situações de
exclusão competitiva em campo (BARBOSA et al., 1973) e em condições laboratoriais
(MELLO-SILVA et al., 1998) e fatores ambientais na seleção de espécies mais
adaptadas ao parasitismo.
Fig 1- Morfologia externa de Biomphalaria glabrata
6
Figura 2- Parte mole de Biomphalaria, vista do lado esquerdo, com o mato levantado. an: ânus,
c: cabeça, cl: crista lateral, cm: colar do manto, cp: cavidade pulmonar, ct: crista retal, et: estômago, ga:
glândula de albúmen (seta), gd: glândula digestiva, ia: intestino anterior, im: instino médio, ip: intestino
posterior, mc: músculo columelar, mf: mufla, ms: massa cefalopodal, om: orifício genital masculino, ot:
ovosteste, p: pé, pn: pneumóstoma, os: pseudobrânquia, rt: reto, te: tentáculo, tr: tuborenal, vp: veia
pulmonar, vr: veia renal. Ilustração cedida por Pareaense. Fonte: Souza; Lima (1997).
Figura 3- A: Sistema digestivo de Biomphalaria. cr: crista retal, es: estômago, gd: glândula
digestiva, gs: glândula salivar, ia: instestino anterior, im: instestino médio, ip: intestino posterior, ma:
mandíbula, mc: músculo columelar, mo: moela, pa: papo, pb: pseudobrânquia, pi: piloro, re: reto, sb: saco
bucal, sn: sistema nervoso central; B: fila de dentes da rádula, contida no saco bucal. Fonte: Paraense
(1972) In: Souza; Lima (1997).
7
Figura 4 Manto de Biomphalaria, visto do seu lado ventral. A: apresenta a crista renal
pigmentada (cr) de B. glabrata adulta (seta maior). B: apresenta a linha renal pigmentada (Ir) de B.
glabrata jovem (seta menor). C: apresenta tubo renal liso das outras espécies de Biomphalaria. cl: crista
lateral do manto, cm: colar do manto, co: coração, cr: crista renal, ga: glândula de albúmen, ir: linha renal
pigmentada, um: meato do ureter, pe: pericárdio parcialmente retirado, pn: pneumóstoma, tr: tubo renal,
ur: ureter, vp: veia renal. Ilustração cedida por Paraense (Souza; Lima, 1997).
Figura 5- Aparelho genital de B. glabrata. bo: bolsa do oviduto, bp: bainha do pênis, bv: bolsa
vagianl, cc: canal coletor do ovoteste, cd: canal deferente, ed: espermiduto, eg: encruzilhada genital, es:
espermateca, ga: glândula de albúmen, gn: glândula nidamental, mp: músculo protator, mr: músculo
retrator, od’: segmento proximal do ovispermiduto, od: segmento distal do ovispermiduto, ot: ovoteste,
ov: oviduto, pp: prepúcio, pr: próstata, ut: útero, va: vagina, vs: vesícula seminal. Ilustração cedida por
Paraense. Fonte: Souza; Lima (1997).
8
2.2- A influência dos fatores abióticos na biologia de Biomphalaria glabrata,
principal hospedeiro intermediário da esquistossomose mansônica no Brasil
O ecossistema límnico é o habitat deste molusco e, como tal, apresenta
características ecológicas que permitem a manutenção do mesmo neste habitat. Fatores
como temperatura, velocidade de corrente da água, temporalidade do recurso hídrico,
tipo de substrato, relações ecológicas com os demais seres vivos do ecossistema e a
intervenção do homem neste ambiente, constituem variáveis importantes para o estudo
do ciclo de vida do molusco e da transmissão da esquistossomose (KLOOS et al., 2001).
Biomphalaria glabrata, como as demais espécies hospedeiras do S. mansoni no
Brasil, sobrevivem em diferentes tipos de habitas, preferencialmente em águas rasas,
lênticas e lóticas de baixa correnteza. Observou-se o comportamento desta espécie
submetida a altas pressões e diferentes profundidades em condições laboratoriais,
evidenciando sua sobrevivência (JURBERG et al., 1987). Quanto aos aspectos físico-
químicos da água apresentam altos limites de tolerância, adaptando-se a diferentes
características dos sistemas dulcícolas. As concentrações de cloreto de sódio, cálcio e
magnésio influenciam diretamente a permanência dos moluscos nestes ambientes.
Observa-se que taxas superiores a 6000 ppm de cloreto de sódio inibem o
desenvolvimento dos moluscos. A relação entre cálcio e magnésio deve ser maior que
1,0mg/l.O pH ótimo varia de 8,0 a 5,0, sendo a média 6,9 e a temperatura entre 25
o
C a
28
o
C (BARBOSA, 1995).
Ecologicamente, os planorbídeos são importantes, pois ocupam o segundo nível
trófico alimentar. Servem como fonte de alimento para peixes, aves e roedores, todavia
podem viver como saprófitas, adaptando-se as variações das condições do meio
(BARBOSA; SIMÕES- BARBOSA, 1994). Esch et al. (2001) ressaltaram a relevância
dos moluscos como espécies-chaves de ciclos de parasitos, pois aproximadamente mais
de 25.000 espécies de helmintos digenéticos possuem moluscos como primeiro
hospedeiro, influenciando na evolução e manutenção dos ciclos parasitários.
As populações de Biomphalaria são instáveis, sofrendo flutuações de acordo com a
temperatura, sazonalidade e período de chuvas. Estes fatores climáticos interferem na
dinâmica populacional destas espécies.
A variação da temperatura influencia tanto na postura dos ovos quanto na
eclodibilidade. Pimentel-Souza et al. (1990) observaram que havia alta fertilidade na
faixa de temperatura de 20 a 27
o
C e um significante decréscimo a 17,5
o
C. A taxa de
oviposição e número de ovos por massa ovígera não variou com a temperatura, mas sim,
com a luminosidade. Estes resultados foram também evidenciados por Barbosa et al.
(1987), demonstrando que a iluminação e a temperatura influenciam na taxa de eclosão.
Quanto maior a intensidade de luz, maior é a taxa de oviposição.
O regime de chuvas controla o potencial biótico das populações de Biomphalaria.
Em períodos de poucas chuvas, os criadouros diminuem os seus volumes e concentram
a população de moluscos. De forma contrária, em épocas de muitas chuvas ocorre
transbordamento dos criadouros, levando as populações de caramujos infectados ou não
para próximo das residências. Em condições ambientais adversas, as espécies de
Biomphalaria tendem a apresentar comportamentos diferentes que permitem a sua
sobrevivência no meio, como a estivação, a formação de lamelas em B. glabrata e a
plasticidade reprodutiva, podendo repovoar os criadouros em menos de 6 semanas,
utilizando tanto a auto-fecundação como fecundação cruzada (BARBOSA; SIMÕES-
BARBOSA, 1994).
9
A abundância dos hospedeiros intermediários da esquistossomose no período após
as chuvas ou durante a estação seca associada ao potencial transmissivo tem sido
observados por diversos autores. A espécie B. straminea apresenta características
adaptativas a variações ambientais (FIGUEREDO, 1989, SIMÕES-BARBOSA;
BARBOSA, 1995), principalmente na região nordeste. Observa-se a capacidade de
dispersão, vagilidade, maior resistência a dessecação e a maior capacidade de
sustentação “carrying capacity”. Este caramujo, quando infectado e sujeito à estivação,
para o desenvolvimento embrionário das formas evolutivas do Schistosoma
mansoni,como os demais, todavia após o período das chuvas, acelera o desenvolvimento
do parasito e elimina maior quantidade de cercarias, constituindo um tempo de
reprodução e de transmissão propício.
Criadouros antes habitados por B. glabrata têm sido substituídos por B. straminea
gradativamente, devido às características associadas a esta última espécie citada acima.
No entanto, B. glabrata ainda apresenta a maior distribuição geográfica das três
espécies. Em estudos realizados por Giovanelli et al. (2001) foram observadas as
variações da abundância populacionais de B. glabrata no município de Sumidouro/RJ,
verificando uma correlação negativa entre a pluviosidade e a quantidade de moluscos no
criadouro, diferente do observado para B. straminea na região nordeste. A época de
estiagem em Sumidouro favoreceu a ocorrência da infecção.
A dessecação oriunda da falta de chuvas desenvolve nos moluscos aquáticos um
comportamento chamado de estivação. Estimulado pela seca temporária dos habitats, os
caramujos secretam uma substância mucosa na abertura das conchas. Os animais se
retraem para o interior da concha, desidratam-se e ficam reduzidos a 1/6 a 1/7 do seu
volume normal, diminuindo o seu metabolismo (ROSADO et al., 1983), ocorre o
consumo das reservas de carboidratos dos tecidos. O metabolismo de gastrópodos em
estivação é parcialmente ou totalmente anaeróbico (LIVINGSTONE; ZWAAN, 1983).
Outro fator limitante ao desenvolvimento de B. glabrata no meio límnico, é a baixa
tensão de oxigênio provocada pelos resíduos orgânicos freqüentemente jogados neste
meio e pelo aumento de produtos nitrogenados oriundos de processos de decomposição.
Apesar de B. glabrata ser mais resistente a anoxia que os demais planorbídeos e
limneídeos, apresentam comportamentos característicos quando sujeitas a este estresse
biológico, sendo eles: reotaxia positiva em fluxos lentos de água, movimentação rápida
em águas correntes, migração para a superfície da água à noite, buscando o oxigênio do
ar e tendência a emergir na lama em ambientes secos (PATIENCE et al., 1983). Além
disso, a baixa disponibilidade de oxigênio altera a via metabólica deste organismo, após
24 horas sem oxigênio B. glabrata se torna um organismo anaeróbico facultativo, o que
pode inibir sua capacidade ovipositória (BOYNE; YOSHINO, 2000). Como um ser
anaeróbico facultativo, é capaz de sobreviver por curtos períodos em micro ambientes
com pequena ou nenhuma quantidade de oxigênio, enquanto se alimenta. Podem
sobreviver longos períodos em ambientes com fluxos diferentes de oxigênio (diurnos e
sazonais). Estes podem se beneficiar e beneficiar o meio com os produtos finais do
metabolismo anaeróbico.
As mudanças metabólicas estão associadas às condições ambientais. O metabolismo
de carboidratos é sazonalmente variável. Estas alterações são usualmente em resposta a
mudanças na temperatura do ambiente e na disponibilidade de alimento e são
freqüentemente associadas ao ciclo reprodutivo sazonal. Os níveis de carboidratos são
mais elevados no verão e outono e baixos no inverno (LIVINGSTONE; ZWAAN,
1983).Em busca da sobrevivência e da manutenção de seus descendentes, os moluscos
se adaptam a estas condições, alterando seu metabolismo.
10
2.3- Fatores bióticos intervindo na biologia de Biomphalaria glabrata.
Moluscos hospedeiros do S. mansoni no Brasil associam-se positivamente no meio
aquático a plantas, principalmente nifeáceas, destacando-se os gêneros Commelina e
Cyperus como fonte de proteção a fatores adversos (radiação solar, altas temperaturas e
correntezas). Além disso, constituem substrato propício para a oviposição. Outros
fatores como: indisponibilidade de alimento (jejum), o processo de infecção ao S.
mansoni (Fig. 6) diretamente na sobrevida destes moluscos em seu ambiente natural,
modificando o metabolismo e seu potencial transmissivo (BARBOSA, 1995).
2.3.1- A relação entre os efeitos de jejum e da infecção pelo Schistosoma
mansoni na biologia de Biomphalaria glabrata
A indisponibilidade de alimento gera mudanças fisiológicas a partir de 24 horas.
No entanto, antes deste período, segundo Chiang (1977), o jejum não altera
significativamente a taxa de glicogênio. Os níveis de glicose da hemolinfa são
suficientes para manter inativa a glicogenólise. Stanislawski; Becker (1979) associaram
a dieta a que foram submetidos os espécimes de B. glabrata e as concentrações de
proteínas, carboidratos e uréia na hemolinfa. Moluscos alimentados com dieta rica em
proteínas aumentam os conteúdos de uréia e proteínas totais e diminuem a glicose neste
sítio. Quando em jejum, a diminuição de glicose na hemolinfa se torna ainda mais
expressiva, reduzindo os conteúdos em 50% comparados com os animais alimentados.
Este decréscimo de açúcar na hemolinfa eleva os conteúdos de proteínas e,
conseqüentemente, de uréia na hemolinfa, além de reduzir os conteúdos de proteína na
glândula de albúmem e glândula digestiva.
Os caramujos sujeitos tanto ao jejum quanto à infecção pelo S. mansoni,
promovem o catabolismo de proteína, aumentando a atividade catalítica das enzimas do
ciclo da uréia. Mohamed; Ishak (1982) também observaram mudanças qualitativas nos
níveis de proteínas totais e carboidratos em caramujos sujeitos a jejum e infecção pelo S.
mansoni, evidenciando também a influência direta destes processos na taxa de resposta
mitocondrial e, conseqüentemente, no transporte de elétrons na cadeia respiratória em B.
glabrata e B. alexandrina.
Este fato foi anteriormente citado por Becker (1980), quando analisou em seu
trabalho de revisão, as alterações metabólicas sofridas por B. glabrata quando
submetidas a condições fisiologicamente adversas. Descreveu a relação existente entre
infecção e jejum, verificando que trinta dias de infecção por S. mansoni é equivalente a
seis dias de jejum. Verificou, ainda, a mudança do tipo de excreção de amonotélicos
para uricotélicos, quando os caramujos estão sujeitos a estas condições adversas. No
caso de moluscos infectados, este processo está relacionado com a utilização de arginina
pelas larvas de S. mansoni, produto final do ciclo da uréia. Em trabalho posterior Becker
(1983), relacionou a detoxificação da amônia com a ativação do ciclo desta purina,
verificando maior gasto de energia pelo molusco e excreção de ácido úrico.Tanto a
síntese de purina quanto à de uréia, dependem do ácido aspártico. Quanto ao aumento de
corpos cetônicos evidenciou-se que os mesmos são mais elevados quando os moluscos
não estão alimentados. Thompson et al. (1991) corroboraram este estudo, observando a
redução dos níveis de uréia em moluscos infectados por S. mansoni.
11
A produção de ovos também sofre alterações quando os caramujos estão sob
jejum e/ou infectados pelo S. mansoni. Após um período de 3 dias em jejum a atividade
ovipositória pára totalmente, sendo ocasionada pela diminuição ou interrupção da
produção de galactogênio pela glândula de albúmem (STANISLAWSKI; BECKER,
1979). A castração parasitária é um processo estudado por diferentes autores em
moluscos infectados por S. mansoni.
A castração parasitária segundo Baudoin (1975), pode ser direta e indireta. A
primeira, relacionada a uma lesão morfofuncional da gônada, e a indireta, a alterações
de nutrientes para a produção de ovos e/ou de hormônios, responsáveis por este
processo. Esta classificação recebeu outra denominação no trabalho de Sullivan et
al.(1985), chamou de efeito primário, aquele associado a presença de larvas de
trematódeos digenéticos no ovoteste, provocando lesões e efeito secundário a alterações
funcionais provocadas pelas mesmas. Pinheiro (2003), em seu trabalho de tese,
conceitua castração como:
Qualquer alteração na função reprodutiva do molusco,
decorrente da interferência das larvas em desenvolvimento em
seu interior, podendo levar a interrupção completa da atividade
ovipositória ou causar a sua redução, pode ainda levar a
destruição permanente da gônada ou bloquear
temporariamente o processo de gametogênese” (Pinheiro,2003).
Em resposta a infecção pelo S. mansoni, moluscos do gênero Biomphalaria
podem adiantar o início da maturidade sexual. Caramujos jovens infectados iniciam
rapidamente a postura e aumentam o número de ovos em relação aos não infectados.
Este processo caracteriza-se como uma estratégia de compensação reprodutiva.
Acredita-se que esta possibilidade esteja associada a fatores genéticos. Os moluscos que
apresentam esta característica genotípica, podem se reproduzir antes do processo de
castração parasitária, provocada pela infecção ao S. mansoni (PAN, 1965;
MINCHELLA, 1985).
A fecundidade está diretamente associada à diminuição de nutrientes,
principalmente glicose. Quando os níveis de glicogênio forem baixos, cessa a produção
de galactogênio, diminuindo conseqüentemente a produção de ovos (LOOKER;
ETGES, 1979). Crews; Yoshino (1991) verificaram que os esporocistos-filhos são
mediadores primários da castração do sistema B. glabrata/S. mansoni, principalmente
quando se desenvolvem e produzem cercária. Os efeitos da infecção refletem na
regulação endócrina da reprodução do hospedeiro.
Outro fato importante na regulação da reprodução em moluscos infectados por S.
mansoni é a alteração na produção de calfluxina, peptídeo responsável pelo influxo de
cálcio na mitocôndria das células secretoras da glândula de albúmem, devido à liberação
de uma substância (schistosomina), produzida pelo próprio molusco em resposta à
infecção, levando a redução ou paralização da reprodução (HORDIJK et al., 1992).
Cousin et al. (1995) descreveram mudanças estruturais na glândula de albúmem
de B. glabrata selecionada para a resistência à infecção pelo S. mansoni, evidenciando
variações das características morfológicas e bioquímicas em função da susceptibilidade
dos caramujos. Em caramujos resistentes (linhagem LAC), observaram prejuízos na
função bioquímica, devido a diferenciação celular e a redução de grânulos secretórios,
diminuindo a capacidade ovipositória. Este fato está relacionado à redução da síntese de
proteína contendo cistina em moluscos resistentes comparados com os susceptíveis.
Animais mais resistentes são menos fecundos pois, têm disponíveis, menos
galactogênio.
12
A relação entre a resposta imune do hospedeiro e a produção de schistosomina
foi estudada por De Jong-Brink (1995). Neste trabalho de revisão, o autor concluiu que
schistosomina funciona como uma citocina que interfere nos sistemas reprodutores
feminino e masculino, no crescimento dos moluscos e na inibição da atividade dos
hemócitos, após seis semanas de infecção, possibilitando a emissão de cercárias. Em um
outro trabalho de revisão, Hurd (2001) avalia a possibilidade das células de defesa do
hospedeiro estarem envolvidas com a regulação da fecundidade, acionadas por um
“sinal químico” produzido pelo parasito, iniciando a alocação de recursos. De Jong-
Brink et al. (2001) ressaltam que na relação parasito-hospedeiro é o parasito que se
adapta às condições fisiológicas do seu hospedeiro.
13
Figura 6- Ciclo evolutivo do Schistosoma mansoni. Fase sexuada no hospedeiro definitivo e fase
assexuada no molusco hospedeiro intermediário. Fonte: Souza; Lima (1997).
14
2.4- A ação dos moluscicidas no ciclo de vida de Biomphalaria glabrata
A maioria dos trabalhos com moluscicidas tanto sintéticos como naturais, provindos
de plantas, enfatizam a ação dos mesmos sobre a sobrevivência dos moluscos em seu
habitat natural: o recurso hídrico. A erradicação do molusco do meio aquático resolveria
o problema da esquistossomose em áreas de transmissão da doença, pois o molusco
constitui o elo mais fraco do ciclo. No entanto, se fosse tão simples, a esquistossomose
já teria sido erradicada do mundo. O único país que conseguiu este fato foi o Japão, que
canalizou e tratou todos os recursos hídricos.
Os chineses foram os primeiros a utilizar fertilizantes no combate a caramujos, nas
primeiras décadas do século XX. O primeiro relato da utilização destes produtos em
campo foi feito por Chandler (1920), que utilizou sulfato de cobre para o controle de
moluscos. No entanto, apenas após a segunda guerra mundial, as pesquisas se
intensificaram para a busca de produtos sintéticos que poderiam ser utilizados em
campo no combate aos moluscos transmissores da esquistossomose. Os principais
produtos testados foram: sulfato de cobre, pentaclorofenato de sódio, organo-estanhosos
e niclosamida (DUNCAN, 1987).
O sulfato de cobre provoca nos moluscos dois comportamentos antagônicos: a
retração da parte mole para o interior da concha e a síndrome do “distress”. A retração
foi observada em moluscos submetidos à altas doses (60 mg/l por 12 horas) e denota
envenenamento (NOLAN et al., 1953), apresentando produção excessiva de muco.Em
baixas doses (0,06 mg/l por 60 horas) observa-se a síndrome do “distress”, abrangendo
os seguintes sinais: a extensão da massa cefalopodal, o inchaço dos tentáculos, a
redução do batimento cardíaco e a imobilização do caramujo (HARRY et al., 1957).
Ishak et al. (1970) estudaram os efeitos de cobre na oxidação de certos ácidos
cítricos em B. alexandrina, principalmente succinato oxidase. O efeito do veneno do
cobre na enzima succinato oxidase é provavelmente associado a reação com o grupo
sulfidrila.
Cheng; Sullivan (1973; 1974) estudaram 26 complexos contendo cobre sobre a taxa
cardíaca e respiratória em B. glabrata, verificando a sua redução. Segundo estes
mesmos autores, o cobre altera a permeabilidade da membrana e pode interferir nos
mecanismos regulatórios e nos processos metabólicos. Estes apresentaram a idéia de que
o cobre atua na osmoregulação. A mudança osmótica é causada pela lise de células
pigmentadas nos tecidos conectivos básicos da crista retal, que são responsáveis pela
síntese de hemoglobina (SULLIVAN ; CHENG, 1975, 1976). Outros íons e compostos
orgânicos podem causar esta mesma síndrome como: prata, cádmio, uretano ou sulfato
de nicotina, certos antibióticos, nembutal e menthol. Os dois últimos são usados como
anestésicos, para relaxar os caramujos antes dos estudos anatômicos e histológicos.
Cerca de 7.000 produtos sintéticos também foram pesquisados como candidatos a
moluscicida, Ritchie (1973) destacou o pentaclorofenol (PCP), o pentaclorofenato de
sódio (NaPCP) e o dinitro-o-ciclohexil fenol (DNCHP, Dinex), utilizados ainda hoje na
China, considerados como produtos tóxicos para os seres humanos. Em estudos sobre a
ação do NaPCP em B. alexandrina verificou-se que este produto age no processo de
oxidação de citrato, succinato e glutamato, aumentando em conseqüência a formação de
oxalacetato. Em altas concentrações inibem a via glicolítica (ISHAK et al., 1972,
ISHAK ; MOHAMED, 1975).
Dos produtos organo-estanhosos pesquisados, o óxido tri-n-butiltina (TBTO)
apresenta resultados satisfatórios como moluscicida em laboratório e em campo, no
entanto devido a seus efeitos acumulativos no ambiente e degenerativos em mamíferos,
o seu uso não é recomendável pela WHO (1980) (DUNCAN, 1987). Sua ação em
moluscos demonstrou danos teciduais das células com a invasão de hemolinfa nos
15
tecidos, levando a dilatação dos tecidos em doses letais e subletais (PATNODE;
KANAKKANATT, 1971).
Apesar de todas as pesquisas realizadas com vários produtos sintéticos até o
momento, a niclosamida tem sido o mais eficiente e o mais utilizado em pesquisas para
o controle da esquistossomose. Desde da implantação do Programa Especial para o
Controle da Esquistossomose (PECE), em 1976 pela Fundação Nacional de Saúde, este
produto está sendo utilizado para áreas de baixa endemicidade (AMARAL; PORTO,
1994). A niclosamida é conhecida comercialmente como Bayluscide
, é um sal de
etanolamina de 2’, 5-dicloro 4’-nitrosalicilanilida e pode ser aplicada em campo de
forma diluída no recurso hídrico, obtendo resultados satisfatórios em concentrações
inferiores a de outros produtos sintéticos (McCULLOUGH, 1992). Além disso é
utilizado como anti-helmíntico, no tratamento de cestóides de importância médico-
veterinária. Estudos realizados em B. glabrata demonstram sua eficiência na diminuição
da população destes moluscos em campo. No entanto, estudos sobre o efeito deste
produto na biologia de Biomphalaria são raros na literatura. Um dos primeiros trabalhos
foi realizado por Gonnert (1961), demonstrando que este produto agia na captação de
oxigênio. Recentemente, Pile at al. (2002) observaram que em doses sub letais de
niclosamida (abaixo de CL
50
) já pode danificar os tecidos de B. glabrata, apresentando
focos de necrose nas células de Lime, digestivas, renais e das gônadas.
A aplicação de niclosamida provoca a ação biocida em outros organismos não-alvos
da flora e da fauna (ANDREWS et al., 1983), além de causar genotoxicidade e
apresentar efeito carcinogênico (VEGA et al., 1988). O alto custo (PIERI, 1995), a
possibilidade de recolonização dos criadouros após a aplicação, através de um
mecanismo de escape (SARQUIS et al., 1997, 1998) e a ecotoxicidade deste produto
são limitações para o uso do mesmo como moluscicida oficial em programas
governamentais.
Em paralelo, as pesquisas com produtos químicos, diversos pesquisadores buscaram
em plantas de áreas endêmicas de esquistossomose, um princípio ativo eficiente no
combate aos moluscos hospedeiros. Os chineses constituem um dos maiores grupos
neste campo, tendo sido já testadas 600 espécies de vegetais, porém poucos são
utilizados com freqüência no controle de moluscos como parte de programas do governo
(CHENG, 1971).
Um dos primeiros relatos do uso de moluscicidas naturais se refere à espécie
Balanites aegyptiaca (Balanitaceae) no Sudão, onde seus frutos foram eficientes no
controle de moluscos do gênero Bulinus e Planorbis, mas tóxicos para organismos não-
alvos (ARCHIBALD, 1933; WAGNER, 1936). Em Porto Rico, o extrato de Balanites
maughamii foi testado em B. glabrata, demonstrando ineficácia. Extratos aquosos de
plantas chinesas Rheum palmatum e Rheum dendatus também demonstraram atividade
moluscicida para B. glabrata, relacionando a mesma à presença de antraquinonas (LIU
et al., 1997).
No Brasil, os primeiros estudos são de Pinto; Almeida (1944) utilizando o cipó
Sejania sp sobre caramujos, miracídios e cercárias do S. mansoni. Posteriormente a este
trabalho, destacam-se os estudos de Amorim; Pessoa (1962), Sousa et al. (1970),
Rouquayrol et al. (1972, 1973) e Sousa; Rouquayrol (1974), nos quais pesquisaram
plantas do nordeste brasileiro com atividade moluscicida, demonstrando apenas eficácia
em 5% dos vegetais. Em paralelo, Pereira; Souza (1974) publicaram resultados
promissores quanto a utilização da casca da castanha do caju, Anacardium occidentale
no controle de caramujos na concentração de 2,8 mg/l. No entanto, em estudos
posteriores, Kloss; McCullough (1982) verificaram que os produtos derivados do ácido
16
anarcárdio, quando armazenados, poderiam apresentar efeito explosivo, tornando a
utilização deste produto inviável.
Um dos trabalhos laboratoriais mais abrangentes utilizando diferentes extratos de
plantas brasileiras foi realizado por Mendes et al. (1984). Os autores pesquisaram 68
extratos de 23 plantas com atividade moluscicida, utilizando o modelo B. glabrata e
destacaram as seguintes espécies com atividade em concentrações abaixo de 100mg/l:
Euphorbia pulcherrima, Euphorbia splendens, Caesalpinia peltophoroides e
Stryphnodendron barbatiman. Em estudo posterior, Mendes et al. (1986) avaliaram
outras espécies e verificaram que o extrato etanólico de flores de Delonix regia
apresentou-se mais ativo na concentração de 20ppm. Jurberg et al. (1989) citaram
resultados satisfatórios de pesquisas com 340 espécies de plantas, destacando as famílias
Sapindaceae e Euphorbiaceae.
Sobre esta última família citada, o látex bruto da espécie Euphorbia splendens var
hislopii, conhecida popularmente como “coroa-de-cristo” é o mais promissor (Fig. 7),
pois apresenta os critérios necessários estabelecidos pela Organização Mundial de Saúde
(WHO,1983) para ser utilizado como moluscicida oficial em campanhas para o controle
da esquistossomose. Não apresentam efeito carcinogênio, mutagênico, baixo efeito
embriotóxico, teratogênico e eco-toxicológico (MARSTON; HECKER, 1983, 1984;
SCHALL et al.,1991; SOUZA et al., 1997; OLIVEIRA- FILHO et al. , 1999).
Estudos sobre a ação deste látex em moluscos hospedeiros intermediários do S.
mansoni, Fasciola hepatica e Paragonimus westermani foram realizados, obtendo
resultados interessantes em relação a concentração letal (CL
90
), sendo eles: 0,45 a 4,04
mg/l para as espécies de Biomphalaria, 0,55 mg/l a 1,51 mg/l para Lymnaea columella e
6,22 mg/l para Melanoides tuberculata em testes laboratoriais (VASCONCELLOS;
SCHALL, 1986; GIOVANELLI et al., 1999; VASCONCELLOS; AMORIM, 2003a).
Em situações de campo, o látex foi testado em ambientes lênticos e lóticos em B.
glabrata, respectivamente, em concentrações entre 5 a 12 mg/l (MENDES et al., 1992,
1997; BAPTISTA et al., 1992) e em L. columella na concentração de 5mg/l
(VASCONCELLOS; AMORIM, 2003b).
Quanto a ação do látex de E. splendens em massas ovígeras de B. glabrata e sobre
as formas evolutivas, miracídio e cercária de S. mansoni observou-se uma concentração
letal (CL
90
) muito maior do que a aplicada para moluscos, De Carvalho et al. (1998)
observaram que em concentrações do látex na faixa de 10-100mg/l, não foram obtidos
resultados satisfatórios. Estes autores verificaram que a concentração letal para ovos foi
de 870mg/l.
A avaliação das propriedades moluscicidas de E. splendens em B. glabrata foi
realizada por Zani et al. (1989, 1993) e Mendes et al. (1997), evidenciando que as
miliaminas constituem o princípio ativo relacionado a esta atividade. A miliamina L
testada foi cerca de 100 vezes mais eficiente que a niclosamida.
Alterações causadas pelo látex de E. splendens sobre a biologia de B. glabrata
foram sugeridas por Mendes et al. (1992), relacionando a causa morte com a repentina
interrupção de impulsos nervosos, associada a ação anti-colinesterásica. No entanto,
pouco se sabe sobre as possíveis alterações em demais sistemas dos moluscos.
Outras plantas têm sido testadas como moluscicidas em B. glabrata sendo elas:
Jatropha curcas, Byrsonina intermedia, Annona crassiflora, Millettia thornningii,
Maesa lanceolata, Stryphnodendron polyphylum e S. adstringens. No entanto, nenhuma
conseguiu resultados melhores aos encontrados com E. splendens. Quanto a ação sobre
a biologia dos moluscos, apenas foi observado alterações na osmoregulação associada a
ação de M. thornningii e no metabolismo de carboidrato e protéico observado para as
17
duas últimas (RUG ; RUPPEL, 2000; ALVES et al., 2000; SANTOS ; SANTANA,
2001; LYDDIARD ; WHITFIELD, 2001; APERS et al.,2001; BEZERRA et al.,2002).
Alcanfor (2001) verificou a diminuição dos conteúdos de glicose e proteína na
hemolinfa de B. glabrata submetida ao tratamento com o extrato da folha e da casca de
Stryphnodendron adstringens, S. polyphyllum e nos extratos da folha e da casca de
Caryocar brasiliense, plantas do cerrado brasileiro. Foram observadas alterações
histológicas em B. glabrata exposta a estes extratos, verificando degeneração da
glândula digestiva, mas não o suficiente para aumentar significativamente os níveis de
proteína totais na hemolinfa.
18
Figura 7- Exemplar da planta Euphorbia splendens
19
3- CAPÍTULO I
UMA VISÃO DO CONTROLE DA ESQUISTOSSOMOSE BASEADA NOS
FATORES AMBIENTAIS E EDUCACIONAIS
24
RESUMO
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Uma visão do controle da
esquistossomose baseada nos fatores ambientais e educacionais. Seropédica:
UFRRJ, 2005. 82p. (Tese Doutorado em Ciências Veterinárias, Parasitologia
Veterinária)
Este trabalho teve por objetivo apresentar uma visão para o controle da
esquistossomose, baseada na teoria sistêmica e educação ambiental e para saúde.
Apresentou uma visão histórica-ecológica do controle da esquistossomose, enfocando a
representação do meio ambiente. São relatadas pesquisas que abordam uma postura
diferenciada do sujeito na construção do conhecimento. A visão transdisciplinar da
esquistossomose descreve a importância do conhecimento do ciclo evolutivo do parasito
no hospedeiro como um todo e de suas partes, inserindo em um contexto histórico-
social. Portanto, para entender a relação parasito-hospedeiro, se faz necessário
estabelecer conexões com diferentes áreas de conhecimento: parasitologia, filosofia,
antropologia, epidemiologia e outros, formando uma rede de conhecimentos que
discutirá novas metodologias para o controle da esquistossomose. Pesquisas futuras
baseadas na visão interdisciplinar planejarão novas ações em saúde pública, para
melhorar a qualidade de vida e a promoção da saúde.
Palavras-chave: Educação ambiental, Educação em saúde, Ensino de Parasitologia
21
ABSTRACT
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa de. The view of schistosomiasis control
based on environments and cognitive factors. Seropédica: UFRRJ, 2005. 82p. (Thesis
Doctor at Veterinary Science, Veterinary Parasitology)
The aim of this work was to show a new view of schistosomiais control, based in
systemic theory and environmental and health education. There were showed the
historical and ecological views of schistosomiasis control, emphasizing the environment
representation. Researches that broach a different position the liable to knowledge
construction were discussed. The transdisciplinary view of schistosomiasis described
the global and local knowledge importance the life-history of parasites in the host,
inserting in the social and historical context. However, for the comprehensive relation
host- parasites, we observed is necessary to link the different knowledge: parasitology,
philosophy, anthropology, epidemiology and others, rearing a knowledge web that will
discuss new methodologies of schistosomiasis control. Future trends based on the
transdisciplinary researches, will be plan new actions in the public health, allow us to
get a better life quality and health promotion.
Key Words: Environment education, Health education, Parasitology teaching
22
3.1- INTRODUÇÃO
Uma das helmintoses mais importantes em saúde pública de vínculo aquático é a
esquistossomose. No Brasil, a área endêmica referente a esta doença corresponde a 19
estados, com aproximadamente 26 milhões de habitantes expostos ao risco de infecção,
abrangendo as regiões orientais do Rio Grande do norte até a zona serrana do Espírito
Santo (SILVEIRA, 1989).
Um dos fatores de risco observados para a transmissão da doença é o contato com
água contaminada por diferentes motivos, sejam eles ocupacionais ou por lazer
(COSTA et al., 1998). Um outro fator importante associada ao consumo da água pela
população e a infecção do Schistosoma mansoni, é o precário abastecimento de água em
ambientes não totalmente urbanizados ou ditos em urbanização, aumentando o risco de
contaminação.
A falta de saneamento básico e a utilização de águas contaminadas com cercárias
para o uso doméstico constituem fatores de riscos urbanos para a transmissão da doença,
como verificado em Sumidouro, área de baixa prevalência no Estado do Rio de Janeiro
(SOARES et al., 1995). Além disso, a questão da migração interna de pessoas
infectadas de áreas endêmicas, constituem fator de expansão da doença (XIMENES et
al., 2000).
É notório ressaltar que, as condições sócio-econômicas, representam uma via de
mão dupla, na dispersão e prevalência da esquistossomose. Apesar da relação da
endemicidade com a pobreza e o sub-desenvolvimento (OMS, 1994; KATZ; PEIXOTO,
2000), diversos episódios relativos ao processo de urbanização da doença e a
representação do meio ambiente, mudaram o perfil epidemiológico da mesma.
Questões associadas com contaminações de ambientes turísticos com a conseqüente
infecção de uma parcela da população mais favorecida (BARBOSA et al., 2000),
questões ambientais sazonais como enchentes, levando a contaminação para o peri-
domicílio e domicílio (GRAULT et al., 1998) e a falta de uma “consciência ecológica”
que permita a discussão da contaminação do meio ambiente como princípio básico de
transmissão da doença, são aspectos relevantes e, muita das vezes, secundários nas
ações de controle da doença.
Este trabalho tem como objetivos avaliar as medidas implementadas para o controle
da esquistossomose e apresentar uma visão transdisciplinar para o controle da mesma,
baseada nos princípios da teoria sistêmica e pautada na educação ambiental e educação
para saúde, a fim de buscar personalizar as estratégias e traçar novos rumos para o
planejamento das ações em saúde.
23
3.2- DESENVOLVIMENTO
3.2.1- Visão Histórica e Ecológica do Controle da Esquistossomose
Tanto o meio ambiente natural quanto o meio social, intervém diretamente na
transmissão do Schistosoma mansoni e na manutenção do ciclo deste parasito. Diversos
fatores estão envolvidos, sendo eles: a presença de pessoas infectadas que contaminam
os recursos hídricos com dejetos fecais; a coincidência neste mesmo ambiente dulcícola
do destino das fezes, do molusco transmissor da doença, caramujos do Gênero
Biomphalaria (B. glabrata, B. tenagophila e B. straminea); a utilização freqüente deste
ambiente pelo homem para fins operacionais e de lazer, podendo se contaminar pela
penetração da cercária pela pele, eliminada pelo molusco, após o período pré- patente de
28 dias (NEVES, 2003).
Historicamente, a esquistossomose se expandiu no Brasil com a vinda dos
escravos africanos para trabalhar nas grandes fazendas, em monoculturas que se
estabeleciam no país como regime econômico no Brasil-colônia. Com a tentativa
fracassada de estabelecer um vínculo de trabalho com os indígenas, os escravos
arrancados de suas terras e transportados em navios negreiros foram a melhor
alternativa para os senhores de engenho. O grande número de negros utilizado como
escravos, deixava clara a alta lucratividade do tráfico negreiro, responsável inicialmente
pelo abastecimento da lavoura canavieira em expansão nos séculos XVI e XVII e,
posteriormente, nas áreas de mineração e da lavoura cafeeira nos séculos XVIII e XIX,
respectivamente.
A relação do escravo com o meio ambiente natural foi a de subsistência. O meio
representava sua condição de existência, onde a exploração maciça e a degradação da
natureza eram os meios de garantir sua sobrevivência. Devido as grandes jornadas de
trabalho sob o calor intenso e as riquezas dos cursos hídricos, os escravos utilizavam
este ambiente para suprir suas necessidades básicas de higiene e saúde, como por
exemplo, defecar próximo aos rios. Como os mesmos já vinham contaminados,
eliminavam junto com as fezes, ovos destes parasitos, permitindo a contaminação do
meio e a eclosão dos miracídios em contato com o meio dulcícola.
Com a diversidade e expansão das atividades econômicas do País, os escravos e
depois trabalhadores de diversas etnias se dispersaram, promovendo a disseminação de
diversas doenças, uma delas a esquistossomose. Trabalhos relativos à esquistossomose
mansônica que se difundia no Brasil (SILVEIRA,1989), foram publicados somente no
início do século XX.
A visão predatória da natureza levava a degradação mais intensa do território
brasileiro, poluindo os rios, contaminando os animais, favorecendo a implantação de
ciclos de parasitos silvestres, observando um índice de mortalidade e morbidade altas
que despertaram a curiosidade de pesquisadores. Alguns destes, estudaram achados de
viscerotomia e outros, realizaram inquéritos coproparasitológicos, principalmente entre
escolares, a fim de se traçar o perfil das doenças, incluindo a esquistossomose
(PELLON; TEIXEIRA, 1953).
Com um hiato de aproximadamente vinte anos, o agravamento dos casos da
doença, provocaram mortes prematuras e impossibilidades para o trabalho. No entanto,
mesmo com a perda econômica que a doença acarretava para o meio social, somente
24
depois do aparecimento da droga Oxaminiquine para o tratamento dos doentes, é que se
implantou a nível nacional, um Programa especial para o controle da Esquistossomose
(PECE).
Este Programa tinha como objetivo eliminar a transmissão e, principalmente,
reduzir o número da morbidade. Baseava-se em três fases: preparatória, ataque e
vigilância. Foi implantado em 1976 e perdurou sem modificações estruturais até 1988.
Foram realizados exames de fezes com a técnica de Kato-Katz, tratamento dos doentes,
construção de fossas sépticas, uso de moluscicidas químicos e informação a população
através da denominada educação sanitária (OMS,1994).
A educação sanitária se limitava a esclarecer o ciclo da doença através de
palestras nas escolas, manuais para os guardas sanitários que ensinavam
domiciliarmente a população. Além de proibir a utilização dos cursos hídricos ou
inviabilizá-los com o uso de moluscicidas químicos.
O programa proporcionou um declínio na taxa de mortalidade, correspondendo a
uma queda de 34% em doze anos, diminuindo a prevalência de casos graves da doença.
Isto acarretou em uma mudança estratégica de ação do mesmo, perdendo a característica
de programa especial, restringindo as áreas de atuação e o tempo de operação nas
mesmas.
Com a municipalização dos serviços de saúde previstos pelo SUS (sistema único
de saúde) na década de 90 e o contínuo aumento da prevalência da doença em todo o
país, buscou-se novas estratégias para o controle da esquistossomose. Foi proposto um
modelo alternativo para o controle da mesma, baseado na interdisciplinaridade
(BARBOSA et al., 1993). Trata-se de um estudo de intervenção, envolvendo a
comunidade e integrado ao sistema de saúde local. O enfrentamento da doença é visto
numa perspectiva social, privilegiando o saber acumulado da população sobre o
processo de saúde-doença, visando a construção de um conhecimento coletivo
resultante da discussão do tema pela comunidade. Com a base metodológica da pesquisa
participante, a população pesquisada tem participação efetiva na geração de
conhecimentos, possibilitando a população a co-autoria dos processos de intervenção da
realidade e o senso de responsabilidade ambiental.
Atualmente, existem duas correntes: uma, que determina que o controle da
doença está associado ao desenvolvimento bio-tecnológico, envolvendo a criação da
vacina contra esquistossomose, a aplicação de moluscicidas químicos e/ou naturais, ao
estudo do genoma do Schistosoma e a métodos de diagnóstico cada vez mais
moleculares e precisos. A outra, baseia-se na educação ambiental e educação para a
saúde, onde a relação do homem com a natureza e suas modificações, intervém
diretamente na promoção ou não da saúde e da doença. As questões de responsabilidade
ambiental e social e a visão da complexidade das relações do homem com o meio
ambiente regem as novas condutas dos programas educacionais e de saúde, que visam o
controle da doença.
25
3.2.2- Educação Ambiental e o Controle de helmintoses, principalmente
Esquistossomose.
Os aspectos relacionados a questão ambiental, devem ser compreendidos através
das relações e interpretações que se estabeleceram historicamente entre o homem e a
natureza. Em primeiro momento, os filósofos acreditavam na dominação do homem
sobre a natureza, podendo nos servir dela com autoridade. Estes pontos estão pautados
no pensamento cartesiano, onde a racionalidade e o antropocentrismo eram os aspectos
importantes. Em conseqüência disso, a natureza foi dessacralizada, resultando de um
lado o homem-sujeito e, de outro, a natureza-objeto, possibilitando a utilização dos seus
recursos para o bem comum. O processo de industrialização foi um dos fatores
relevantes para o desenvolvimento da ciência e da tecnologia. No entanto, no século
XIX, apesar da crença progressista, a exploração predatória dos recursos foi sentida e
questionada, possibilitando o surgimento de doenças e mudando a visão de mundo e da
própria natureza (SILVA; SCHRAMM,1997).
A educação ambiental surgiu para procurar estabelecer uma nova aliança entre a
humanidade e a natureza, uma nova opção, não sendo sinônimo de autodestruição e sim
de estímulo para o exercício da ética nas relações econômicas, políticas e sociais. Ela
valoriza o diálogo entre as gerações e culturas em busca da tripla cidadania: local,
continental e planetária e da liberdade na sua mais completa tradução (REIGOTA,
2002).
A educação ambiental está pautada no conhecimento individualizado do meio
ambiente e na representação social do mesmo. Uma lagoa com muitos peixes pode não
significar nada ou pode simbolizar lazer para um executivo. No entanto, é fonte de
subsistência para o pescador. Os significados estabelecem a formação de atitudes e
hábitos perante a utilização da natureza. O olhar de preservação ou destruição deste
meio irá variar com a finalidade do grupo ou da sociedade que usufrui deste mesmo
meio.
“Portanto, a compreensão das diferentes representações, deve
ser a base da busca de negociação e solução dos problemas
ambientais. Não se trata apenas de saber quantitativamente,
mas qualitativamente melhor sobre as questões, para se
intervir de maneira significativa e equilibrada, a fim de
resolver o problema” (REIGOTA, 2002).
Com base nas representações sociais do meio ambiente e do processo saúde-
doença, estudou-se as propriedades, origens e impacto das representações, articulando
com a prática educativa (GRYNSPAN,1999). Observou- se a persistência da utilização
do conceito de saúde como ausência de doença, em contrapartida com o paradigma da
promoção da saúde, explorado como chave no processo de adoecer. O conflito entre a
educação ambiental, pautada na preservação de todas as espécies e a educação em saúde
com o controle de vetores, foi salientado neste trabalho, levando a reconstruir baseado
numa perspectiva mais holística, o conceito de saúde, integrando a educação ambiental
e a educação para a saúde.
Baseados neste novo contexto de saúde, as doenças parasitárias, principalmente
esquistossomose, comum entre escolares de áreas de risco, devem ser trabalhadas nas
escolas, buscando não só informar os bons hábitos para impedir a transmissão das
doenças, mas rever posturas perante a manutenção da vida e da homeostase. Para tanto,
são necessárias ações educativas contínuas com os alunos, principalmente do ensino
26
fundamental e com os professores, sensibilizando-os para esta nova visão. A questão
ambiental relacionada a manutenção dos ciclos biológicos de parasitos, como
contaminação dos recursos hídricos e a postura responsável frente a doença devem ser
ressaltadas (SCHALL,1987,1989,1994,1995,1998; SCHALL; DINIZ, 2001).
Nesta perspectiva, a educação ambiental e o controle da esquistossomose estão
imbricados, pois perpassa pela postura do sujeito (homem infectado ou com potencial
de risco a infecção) perante a transmissão da doença e a preservação do ambiente
externo (recursos hídricos isentos de contaminações fecais) e interno (comportamento
de risco que o impossibilitará de adquirir a doença novamente). Neste aspecto, torna-se
imprescindível o reconhecimento da representação social deste meio ambiente para este
homem.
Com base na busca da representação da doença, do ambiente e do
comportamento da população-alvo perante o problema da esquistossomose,
pesquisadores descreveram uma experiência concreta em área endêmica de Minas
Gerais, de um processo de intervenção realizado com alunos e professores
(GAZINELLI et al.,2002). Observou-se que a doença não era considerada pela
população como uma necessidade em saúde, representava uma enfermidade secundária.
Como para eles a doença não causava a morte, a convivência com ela era tida como
normal, o que dificultava o controle. Com a mudança de postura frente a doença,
ressaltando a saúde do curso hídrico e não a importância da doença, a mesma ganhou
um status mais elevado. Revendo a postura em relação ao rio, fonte de subsistência para
a população, a discussão e o controle se tornaram possível. Os conceitos relacionados à
educação ambiental e à educação para a saúde, possibilitaram a discussão do problema
de uma forma mais complexa, levando à reconstrução de valores.
3.2.3- O enfoque educacional para o Controle da Esquistossomose: Mudança no
Ensino da Parasitologia
3.2.3.1- O paradigma do ensino superior e a educação médica
A educação consiste no processo que oferece ao educando, orientações para
poder realizar-se plenamente como ser humano; tal realização inclui
indispensavelmente, o aspecto profissional sem que, contudo, este possa manter-se
apartado ou ser pensado de maneira autônoma em relação ao conjunto do processo
educacional (GONÇALVES, 1996).
Quanto ao ensino médico, muitas transformações são necessárias. Ainda hoje, a
educação médica em algumas instituições está pautada na manutenção de modelos
pedagógicos tradicionais, sustentados pela retenção de informação, estruturados em
sistemas rígidos, com disciplinas separadas uma das outras e avaliações que priorizam o
exercício memorístico instantâneo, determinando a formação de alunos passivos e
incapazes de dirigir e crescer em sua profissão, aprisionados a normas e condutas pré-
estabelecidas e não criticadas (ANGELI, 2001).
Uma das alternativas propostas para mudar o ensino médico, está alicerçada na
Metodologia da Aprendizagem Baseada em Problemas (ABP), que surgiu na
Universidade de Mc Master, no Canadá, no final da década de 60.
27
Esta metodologia resulta do:
“processo orientado para a compreensão ou resolução de um
problema”, especificamente, “uma abordagem para a
aprendizagem e a instrução na qual os estudantes lidam com
problemas em pequenos grupos sob a supervisão de um tutor”
(MAMEDE et al., 2001).
O problema é o ponto de partida e o fio condutor do processo de aprendizagem
no ABP. O problema é usualmente de caráter interdisciplinar, sendo analisado pelo
estudante que define o que lê e o que precisa aprender, selecionando os meios e
identificando o grau de aprendizado necessário, com o apoio de um tutor (professor) que
o orienta na resolução do problema. A utilização de grupos tutoriais como espaço e
estratégia para a discussão, minimiza a questão da desistência e motiva o processo de
ensino-aprendizagem (MAMEDE et al., 2001).
Este novo modelo pedagógico já tem sido utilizado em muitas escolas médicas
com sucesso, transformando o currículo, tornando-o mais dinâmico e desenvolvendo a
habilidade fundamental de aprender a aprender. O aprender deve ser entendido como a
busca ativa de informações, revisão da própria experiência, aquisição de habilidade,
adaptação às mudanças, descoberta do significado dos seres, dos fatos, dos fenômenos e
acontecimentos, modificando atitudes e comportamentos (DEMO, 2000; ANGELI,
2001).
Apesar das características interdisciplinares dos currículos apresentados, muitos
ainda estão pautados na divisão disciplinar, onde os aspectos médicos são vistos sob a
ótica de diversos especialistas, sem a perspectiva do todo. Na tentativa de visualizar
todos os aspectos de uma vida saudável, tanto em nível das modificações moleculares
até as interações e intervenções políticas dos sistemas de saúde, surge no ensino médico
a transdisciplinaridade. Esta vislumbra a “transformação e/ou construção do saber pela
compreensão profunda da complexidade de uma dada realidade” (MORIN,1990).
3.2.3.2- A postura da parasitologia na visão do novo ensino médico
O ensino médico sofreu mudanças estruturais e filosóficas no século XX,
buscando desenvolver nos discentes e futuros profissionais, a capacidade de pensar
holisticamente, valorizando a liberdade individual e a visão abrangente da relação
homem-natureza. Os avanços referentes a ciência espacial, nos levou a repensar a
condição dominante do homem sobre a Terra. As preocupações de hoje e as futuras,
estão pautadas na proteção e conservação do meio ambiente, a fim de garantir a
sobrevivência da raça humana no planeta. Neste sentido, o ensino profissional nos
obriga a refletir num sentido abrangente, a posição deste novo homem e sua função
neste ecossistema planetário. Deve-se formar a pessoa integral, profissional e cidadã
(CHAVES,1996).
A nova postura da parasitologia no contexto do ensino médico permite a
compreensão do adoecer no contexto ecológico, antropológico, biológico e cultural.
Apresentam as condições necessárias para discutir de maneira integrada, a educação
ambiental e a educação para a saúde. Fatores ambientais e sociais estão intimamente
relacionados à transmissão de parasitoses: falta de saneamento básico, abastecimento de
água, informação para saúde, hábitos alimentares e higiênicos, crescimento
populacional desordenado e falta de vontade política (NEVES, 2003). A discussão
28
destes fatores atrelados a prevalência das parasitoses tornam-se a questão-problema,
motivadora do processo ensino-aprendizagem.
Para o controle da esquistossomose, é necessário mudar a postura dos
profissionais que integram as pesquisas multidisciplinares, para que não só discutam a
importância do seu papel na condução da pesquisa, mas para que estes pratiquem a base
da metodologia transdisciplinar, visando o pensamento complexo, as interligações
sujeito-objeto e, principalmente, a integração dos modelos de conhecimentos para um
fim comum: promover saúde.
3.2.4- A Transdisciplinaridade e o Controle da Esquistossomose
Observando os conhecimentos científicos que embasaram o controle da
esquistossomose no Brasil, verificou-se a mudança de paradigma teórico na conduta das
pesquisas científicas. Em primeiro momento, numa perspectiva cartesiana, o controle
baseia-se na quebra dos elos do ciclo do parasito, valorizando a saúde do homem, mas o
excluindo da responsabilidade de manutenção do ciclo e culpando o caramujo por
habitar aquele ecossistema que serviria de lazer ao homem.
Nesta visão, a conduta terapêutica relacionada à quimioterapia com o uso de
drogas para o tratamento humano e a utilização de moluscicidas químicos que
erradicavam o caramujo do rio, resolveriam o problema.
No entanto, apesar de se observar uma diminuição no número de casos graves da
doença, a prevalência da mesma continuava se expandindo. Para tanto, foram sugeridas
a utilização da educação sanitária e a construção de fossas sépticas, preconizando o
desenvolvimento do saneamento básico.
As estratégias pontuais da educação sanitária, baseadas em palestras esporádicas
e na orientação do guarda sanitário com a veiculação de cartilhas informativas, foi por
muito tempo a única medida educacional para o controle. As escolas, mesmo aquelas de
áreas endêmicas, somente serviam de ponto de encontro para a apresentação das
palestras e não priorizavam em seus conteúdos, o ciclo da doença e sua importância
para a região, seja por falta de conhecimento técnico ou por impedimento político.
Neste contexto, o controle da doença tomava o cunho punitivo. Aquele que mesmo
informado, utilizasse o recurso hídrico, ficaria doente e poderia até morrer.
As medidas de saneamento, no âmbito político, vieram não só se referindo a
esquistossomose, mas a outras enfermidades de contaminação fecal, como um favor
governamental, como um presente, onde poderia retornar a utilização do curso hídrico,
porque o governo instalaria fossas e/ou banheiros, que garantiriam o lazer e o trabalho
na área rural.
Como estas medidas foram implementadas individualmente, ora privilegiando
um aspecto, ora outro, não foi possível controlar a doença. Surgiu, então, outro
problema: a expansão da doença para o ambiente urbano. Agora, outros fatores
ambientais e sociais estariam intervindo no ciclo da doença.
Em nenhum dos itens anteriores, foram feitas as seguintes perguntas: qual a
importância de preservação do meio ambiente, principalmente o dulcícola? Qual a
representação deste meio para a população infectada? Que importância tem o molusco
para o meio aquático? Se houver a erradicação dos moluscos, que tipo de impacto
ambiental acarretaria? Qual a importância da doença? Como ficamos doentes? Como
fazer para não ficarmos doentes? Estas questões são valorizadas em pensamento
dialético, onde se observa um movimento evolutivo das ações do homem. A sua
29
interação com o meio e sua representatividade, se insere em um contexto histórico-
social e as respostas mudam conforme a relação do sujeito com o objeto.
A perspectiva transdisciplinar, pautada nos pilares metodológicos do nível de
realidade, complexidade e a lógica do terceiro incluído, pode e deve ser aplicada no
planejamento das ações em saúde, visando o controle da esquistossomose. Profissionais
interdisciplinares, podem discutir sob a ótica dos diferentes universos de conhecimento,
o impacto do ciclo evolutivo na saúde do homem como um todo e de suas partes ao
mesmo tempo (NICOLESCU,1999).
Neste contexto, cada parte do ciclo tem de ser discutida: a representação do
recurso hídrico para a população; o homem infectado e sua postura em relação ao
recurso hídrico; a presença do caramujo transmissor e sua importância para o meio
ambiente e a utilização histórico-social e política do recurso hídrico pelo homem. Estes
fatores afetam o ciclo como todo e o todo sistematizado influencia as partes do ciclo.
Portanto, para entender o ciclo, não basta dominar os conceitos da parasitologia. É
necessário estabelecer conexões com a filosofia, sociologia, antropologia,
epidemiologia, ciências ambientais, educação em saúde e para a saúde e outros,
formando uma rede de conhecimentos que servirá de discussão em um determinado
nível de realidade, propondo medidas personalizadas para o controle da doença.
3.3- CONCLUSÃO
Conclui-se que para uma efetiva mudança no planejamento das ações de saúde,
para o controle da esquistossomose se faz necessário uma transformação do ensino
superior, principalmente relacionado ao ensino médico, modificando a visão do
profissional e suas atividades. Com a formação de um a nova geração de pensadores,
que se baseiam na teoria sistêmica e adotam a transdisciplinaridade em suas ações,
pode-se imaginar em um futuro próximo pesquisas mais elaboradas e participativas que
visem a melhoria da qualidade de vida e a promoção da saúde.
30
4- CAPÍTULO II
ATIVIDADE REPRODUTIVA DE Biomphalaria glabrata EXPOSTA AO LÁTEX
DE Euphorbia splendens var. hislopii
31
RESUMO
MELLO- SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Atividade reprodutiva de Biomphalaria
glabrata exposta ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii. Seropédica: UFRRJ,
2005. 82p. (Tese Doutorado em Ciências Veterinárias, Parasitologia Veterinárias)
A influência da ação do látex de E. splendens var. hislopii sobre a biologia reprodutiva
de Biomphalaria glabrata foi estudada. Parâmetros relativos à fecundidade e fertilidade
de moluscos expostos ao látex de E. splendens var. hislopii foram observados. Na 1
a
semana após a exposição, os moluscos tratados diminuíram a produção de ovos,
havendo um processo compensatório após a 4
a
semana, com a produção de um maior
número de ovos, do que os animais não expostos ao látex. O látex provocou a redução
do número de caramujos eclodidos. A dose sub-letal foi suficiente para alterar a
atividade reprodutiva do molusco.
Palavras-Chave: moluscicida, fecundidade, fertilidade
32
ABSTRACT
MELLO- SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Reproductive activity of Biomphalaria
glabrata exposure on Euphorbia splendens var. hislopii latex. Seropédica: UFRRJ,
2005. 82p. (Thesis Doctor at Veterinary Science, Veterinary Parasitology)
The influence of the latex from E. splendens exposure on the reproductive activity of B.
glabrata was studied. Parameters related to fecundity and fertility of the snails exposed
to latex of E. splendens var. hislopii were observed. One week after exposure, the eggs
laying was reduced and a compensation process occurred at the fourth week post
exposure, when the eggs production was observed higher to the exposed snails than that
observed to the unexposed molluscs. The E. splendens latex lead to a reduction at the
number the snail hatching. A sub lethal dose of E. splendens latex was sufficient to
cause an alteration on the reproductive biology of B. glabrata.
Keywords: moluscicide fecundity - fertility
33
4.1- INTRODUÇÃO
O potencial reprodutivo de Biomphalaria glabrata, principal hospedeiro
intermediário do Schistosoma mansoni no Brasil, está diretamente relacionado às
condições ambientais (MAGALHÃES ; LUCCA, 1971, KAWAZOE, 1977).
Fatores de estresse fisiológico, como variação da temperatura (PIMENTEL-
SOUZA et al. 1990), luminosidade (BARBOSA et al., 1987), jejum (LIVINGSTONE ;
ZWAAN, 1983) e o parasitismo por larvas de trematódeos (LOOKER ; ETGES, 1979,
SULLIVAN et al., 1985, COOPER et al., 1994, COUSIN et al., 1995) têm sido
registrados como elementos que exercem influência sobre a biologia reprodutiva de
moluscos.
Pesquisas relatando a atividade moluscicida de plantas na capacidade
reprodutiva dos moluscos hospedeiros são escassas na literatura. A ação de Allium
sativum, Allium cepa e Atriplex halimus diminuiu a capacidade reprodutiva de
Biomphalaria alexandrina (MANTAWY, 2001, TANATAWY, 2002).
Diversos moluscicidas têm sido utilizados para o controle da esquistossomose,
sendo um dos mais promissores e estudados no Brasil é o látex bruto de E. splendens
var. hislopii N.E.B. (Sin. Euphorbia milii Des Moulins var. splendens (Hook) Ursch ;
Leandri) (CARTER, 1994). O látex obtido desta espécie vegetal, em condições
laboratoriais e de campo, demonstrou atender aos quesitos necessários para ser utilizado
como moluscicida natural (SCHALL et al., 2001, VASCONCELLOS; AMORIM,
2003a,b). Estudos acerca da sua ação sobre posturas de B. glabrata em laboratório,
demonstraram que para se obter o efeito moluscicida, é preciso uma concentração maior
do látex do que aquela utilizada para os moluscos eclodidos, mas não há registros sobre
a ação do látex sobre a atividade reprodutiva deste molusco.
Este trabalho teve por objetivo verificar a influência da dose sub letal (CL
50
) do
látex de E. splendens var. hislopii sobre parâmetros da atividade reprodutiva de B.
glabrata.
34
4.2- MATERIAL E MÉTODOS
4.2.1- Obtenção do látex de E. splendens var. hislopii
As amostras do látex de E. splendens var. hislopii foram coletadas de exemplares
cultivados em canteiros situados próximos ao Departamento de Biologia, Instituto
Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ, Brasil. As amostras foram coletadas no outono, evitando
possíveis alterações sazonais na composição do látex que interferissem na concentração
da substância ativa. A coleta seguiu o procedimento descrito por Vasconcellos;
Amorim, 2003a. O látex bruto coletado foi utilizado no mesmo dia para a realização do
experimento.
4.2.2- Criação dos caramujos
Exemplares de B. glabrata (linhagem procedente de Belo Horizonte - BH),
mantidas no Departamento de Helmintologia, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ,
Brasil, foram acondicionados em aquários de polietileno de 30 litros de capacidade, com
água desclorada (decantação e evaporação do cloro) e recebiam folhas de alface
(Lactuca sativa L.) diariamente ad libitum (28 + 1
o
C). Três vezes por semana os
aquários foram limpos. Os exemplares de B. glabrata utilizados em todos os
experimentos apresentaram diâmetro da concha, variando entre 8 a 10mm.
4.2.3- Determinação da concentração letal e sub letal
A determinação das concentrações letal (CL
90
)
e sub letal (CL
50
) foi realizada
segundo Vasconcellos; Amorim (2003a), atendendo às recomendações da OMS (WHO,
1983) e Mott (1987), sendo obtidas as CL
50
e CL
90
iguais a 1,0 mg/l e 2,3 mg/l,
respectivamente.
4.2.4- Análise da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata submetida ao
tratamento com a concentração sub letal (CL
50
) de Euphorbia splendens var.
hislopii
Sessenta exemplares de B. glabrata foram submetidas ao tratamento com a CL
50
do látex de E. splendens e 30 moluscos foram utilizados como grupo controle. Os
moluscos foram expostos ao látex por 24 horas e, após este período, foram lavados com
água desclorada. Destes, os 30 moluscos restantes foram acondicionados em três
aquários, com dez indivíduos em cada aquário, como o controle.
Os caramujos foram observados semanalmente, até a 5
a
semana, após a
exposição ao látex. Os parâmetros relativos à atividade reprodutiva analisados em
função do tempo de observação foram: número de moluscos vivos, número de massas
ovígeras postas por moluscos, número de ovos por massa ovígera, número de ovos
postos por molusco e número de caramujos eclodidos por semana.
35
4.2.5- Análise estatística
Os resultados dos grupos foram analisados individual e comparativamente,
utilizando os teste de análise de variância (ANOVA), teste de Tukey-Kramer e teste t
studente (a = 5). O teste de regressão polinomial foi empregado para verificar a
significância da relação entre os parâmetros reprodutivos observados nos grupos
(controle e expostos).
36
4.3- RESULTADOS
A sobrevivência dos moluscos-controle foi significativamente maior do que aquela
observada para os caramujos expostos ao látex de E. splendens var. hislopii (Tabs. I e
II), havendo uma sobrevivência de 60%, sendo que 10 moluscos morreram nas
primeiras 24 horas de exposição, para os animais expostos ao látex, enquanto que para
os moluscos do grupo controle este percentual foi de 93,3%. A sobrevivência observada
tanto para os moluscos expostos ao látex, como para aqueles do grupo controle (não
expostos) apresentou uma relação negativa com o tempo, porém a sobrevivência dos
caramujos expostos ao látex foi sempre inferior àquela dos animais não expostos, sendo
esta relação mais significativa para o primeiro grupo (Fig. 1).
Tabela I- Aspectos da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata (grupo controle) observados por
cinco semanas. N=30 moluscos.
Tempo
Nº de
moluscos
Nº de massas
ovígeras
Nº de massas
ovígeras/ molusco
Nº total
de ovos
Nº de ovos/
caramujo
Nº de ovos/
massa ovígera
Mortalidade
(%)
1
o
dia 30 05 0,16 31 1,0 6,2 0
1
a
semana
29 117 4,0 974 33,5 8,3 3,3
2
a
semana
28 115 4,1 1216 43,4 10,5 6,6
3
a
semana
28 128 4,6 1470 52,8 11,5 6,6
4
a
semana
28 141 5,0 1603 57,3 11,4 6,6
5
a
semana
28 115 4,1 1457 52,0 12,6 6,6
Total 28 621 21,96 6751 240 60,5 6,6
Tabela II - Aspectos da biologia reprodutiva de Biomphalaria glabrata exposta ao látex de Euphorbia
splendens var. hislopi por 24 horas comparados (DL
50
), observados por cinco semanas. N=30 moluscos.
Tempo Nº de
moluscos
Nº de massas
ovígeras
Nº de massas
ovígeras/ molusco
Nº total
de ovos
Nº médio de
ovos/ molusco
Nº de ovos/
massa ovígera
Mortalidade
(%)
1
o
dia 20 - - - - - 33,3
1
a
semana 19 16 0,84 194 10,2 12,1 36,6
2
a
semana 18 65 3,6 541 30,0 8,3 40
3
a
semana 18 66 3,6 695 38,6 10,5 40
4
a
semana 18 77 4,3 1116 62,0 14,5 40
5
a
semana 18 74 4,1 1040 57,7 14,0 40
Total 18 298 16,44 3586 198,5 59,4 40
37
A exposição ao látex provocou uma redução significativa no número total de massas
ovígeras postas por B. glabrata, o que representou uma diminuição igual a 52,01% no
número de massas ovígeras totais postas pelos moluscos. Quando a atividade
reprodutiva é analisada, comparando o número de massas ovígeras/molusco, há também
uma redução de 25,14% desta em relação ao grupo controle (Tabs. I e II). A relação
entre o número massas ovígeras/molusco e o tempo após a exposição foi positiva para
ambos os grupos, sendo fortemente significativa para os moluscos expostos ao látex
(Fig. 2).
O número médio de ovos postos/molusco foi reduzido em 17,3% quando B. glabrata
foi exposta ao látex de E. splendens var. hislopii. Porém, quando os dados foram
analisados semanalmente, é possível verificar que esta redução ocorreu até a terceira
semana após a exposição, daí em diante, o número de ovos postos/molusco foi superior
neste grupo em relação aos moluscos não expostos ao látex. Esta mesma relação é
observada quando é analisado o número de ovos/massa ovígera posta por B. glabrata,
onde é possível constatar um aumento de 13,04% em relação ao grupo controle ao final
do período de observação, não sendo esta diferença significativa. Havendo também uma
redução do número de ovos/massa ovígera até a terceira semana após a exposição e um
aumento a partir da quarta semana. Tanto o número de ovos/massa ovígera como o
número de ovos postos/molusco apresentaram relação positiva com o tempo após a
exposição ao látex (Figs. 3 e 4).
Figura 1 Relação entre a sobrevivência de Biomphalaria glabrata submetidos (grupo tratado) ou não
(grupo controle) ao tratamento com o látex de Euphorbia splendens var. hislopii e o tempo de observação
em semanas.
0 1 2 3 4 5
0
5
10
15
y=9,880 - 0,14x
r
2
=0,92
Moluscos não- tratados
y=7,723 - 0,47.x
r
2
=0,79
Moluscos tratados
Tempo (semana)
Nº de moluscos vivos
38
Figura 2 - Relação entre número de massas ovígeras por molusco Biomphalaria glabrata não tratados
(controle) e tratados com o látex de Euphorbia splendens, em função do tempo de observação (semanas).
Figura 3 Relação entre o número de ovos por massas ovígeras nos grupos de Biomphalaria glabrata não
tratados e tratados com o látex de Euphorbia splendens, em função do tempo de observação, em semanas.
0 1 2 3 4 5
0.0
2.5
5.0
7.5
Moluscos tratados
y=0,30 + 0,92.x
r
2
=0,95
Moluscos não tratados
y= 1,67 + 0,75.x
r
2
=0,66
Tempo (semana)
Nº de massas ovígeras/molusco
0 1 2 3 4 5
0
10
20
30
Moluscos tratados
y=3,16 + 2,67.x
r
2
=0,87
Moluscos não tratados
y=3,17 + 2,2.x
r
2
=0,91
Tempo (semanas)
Nº de ovos/massa ovígera
39
Figura 4 - Relação do número de ovos por molusco nos grupos de Biomphalaria glabrata não tratados e
tratados com o látex de Euphorbia splendens, em função do tempo de observação, em semanas.
O número médio de caramujos eclodidos foi significativamente diferente e
maior no grupo dos moluscos não expostos (controle), em relação ao valor observado
para os animais expostos ao látex (Tab. III). A análise de regressão revelou uma relação
positiva entre estes valores e o tempo de observação para ambos os grupos (Fig. 5),
porém esta relação foi mais forte para os moluscos não expostos ao látex.
Tabela III Eclodibilidade de Biomphalaria glabrata em função do tempo após exposição, por 24 horas,
ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii.
Nº de moluscos eclodidos
Tempo Controle Expostos ao látex
1º dia 6,66 ± 11,55 0
1ª semana 172,33 ± 86,12 33,33 ± 16,42
2ª semana 153,00 ± 38,51 44,33 ± 39,55
3ª semana 136,67 ± 69,59 17,00 ± 22,71
4ª semana 65,00 ± 5,00 55,33 ± 34,06
5ª semana 145,00 ± 34,70 51,66 ± 41,58
Média final 96,95 ± 72,20 28,80 ± 23,40
0 1 2 3 4 5
-25
0
25
50
75
Moluscos tratados
y= -0,20 + 13,08.x
r
2
=0,99
Moluscos não tratados
y=24,6 + 6,4.x
r
2
=0,77
Tempo (semanas)
Nº de ovos/molusco
40
Figura 5 - Relação do número de caramujos eclodidos nos grupos de Biomphalaria glabrata não tratados
e tratados com o látex de Euphorbia splendens var. hislopii, em função do tempo de observação.
0 1 2 3 4 5
0
100
200
300
Moluscos tratados
y=7,86 + 9,5.x
r
2
=0,88
Moluscos não tratados
y=57,49 + 18,25.x
r
2
=0,74
Tempo (semanas)
Nº de moluscos eclodidos
41
4.4- DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
A aplicação do látex de E. splendens var. hislopii na concentração sub letal (CL
50
)
levou a uma mortalidade expressiva de B. glabrata, mas ainda permitiu a sobrevivência
de um percentual considerável destes moluscos. Vasconcellos; Amorim (2003b)
observaram percentuais de mortalidade de 5 e 30% para Lymnaea columella 24 e 48
horas, respectivamente, após a exposição ao látex de E. splendens. Estudos sobre o
tempo de duração do efeito moluscicida de uma solução aquosa do látex de E. splendens
sobre moluscos dulcícolas, demonstraram que em hospedeiros intermediários do S.
mansoni, na concentração de 5mg de látex/l, a solução se manteve ativa por 13 dias,
perdendo totalmente a ação após 30 dias, devido à exposição ao sol (SCHALL et al.
1992), demonstrando que o produto é fotossensível e biodegradável.
Uma importante constatação no presente estudo é que, mesmo após perder a
capacidade moluscicida, a concentração empregada (CL
50
) causou interferência na
função reprodutiva dos moluscos expostos ao látex de E. splendens var. hislopii.
A postura de um menor número de massas ovígeras associada ao fato de haver um
maior número de ovos postos/molusco e número de ovos/massa ovígera, refletem
claramente um processo de compensação da fecundidade, comumente observados em
moluscos submetidos à situações de estresse fisiológico (MINCHELLA, 1985). Os
moluscos passam a apresentar um menor gasto energético no seu processo reprodutivo,
eliminando um maior número de ovos em cada massa ovígera, o que certamente resulta
em maior eficiência do ponto de vista energético a este processo. Fenômeno semelhante
foi observado em moluscos infectados com Schistosoma mansoni (MINCHELLA,
1985), onde os hospedeiros produzem um número maior de ovos nos períodos iniciais
da infecção como uma estratégia para compensar a redução nas primeiras fases do
desenvolvimento do parasito. Outros autores observaram a ocorrência de um decréscimo
na fecundidade associado com as fases intermediárias e finais do ciclo do S. mansoni em
B. glabrata e com a redução de energia, verificando que a produção de ovos começa a
decrescer após 20 dias de infecção (LOOKER ; ETGES, 1979, CREWS ; YOSHINO,
1989, 1991).
Singh; Singh (1995) registraram o efeito deletério do óleo extraído de Azarirachta
indica sobre a fecundidade, eclodibilidade e sobrevivência de Lymnaea acuminata,
observando que este produto exerce uma ação dose-dependente negativa sobre estes
parâmetros. Resultado similar foi associado à ação desta planta sobre insetos. Este fato
pode estar relacionado à inibição do mecanismo de ação de vários hormônios que
regulam a reprodução.
Schall et al. (1998) expuseram, aproximadamente, 150 massas ovígeras distribuídas
em cinco placas de isopor e 40 caramujos recém eclodidos em nove diferentes
concentrações, verificando 100% de mortalidade, a partir da concentração de 1.500 ppm
para os embriões dentro dos ovos, nas massas ovígeras, e 0,2 ppm para os recém
eclodidos. Os autores observaram que para matar os embriões houve a necessidade de
uma dose letal elevada, conforme observado na literatura para outros produtos (SOUZA
et al., 1992). Tal resultado deve estar relacionado ao fato de que a substância deve
atravessar a barreira gelatinosa que compõe a massa ovígera para chegar até o ovo,
devendo ainda atravessar a casca deste para chegar até o embrião, onde deverá exercer o
seu efeito letal.
42
Bacchetta et al. (2002) observaram a atuação do herbicida dicloreto de 1-1’-dimetil-
4,4’bipiridilium (Paraquat) sobre a atividade ovipositória de Physa fontinalis,
verificando degeneração de oócitos, assim como efeitos sobre células sexuais
masculinas e interferência com o sistema endócrino, interferindo com a função
endócrina dos moluscos e com o processo reprodutivo propriamente dito, mas não levou
a uma mortalidade significativa dos mesmos.
Estudos dose-dependentes sobre a ação de plantas moluscicidas demonstram que
quanto maior a concentração dos extratos, menor o potencial reprodutivo (MANTAWY,
2001, TANATAWY, 2002). No presente estudo, pode-se concluir que a ação do látex
em uma única aplicação na concentração sub letal (CL
50
=1,0 mg/l), reduziu a produção
de ovos por B. glabrata, indicando que concentrações menores podem ser empregadas,
visando um controle das populações de moluscos, não ocasionando a morte imediata
destes, mas sim por realizar um controle do tamanho das populações no campo através
da interferência no processo de reprodução.
43
5- CAPÍTULO III
ALTERAÇÕES FISIOLÓGICAS EM Biomphalaria glabrata (SAY, 1818)
(PULMONATA: PLANORBIDAE) EM FUNÇÃO DA CONCENTRAÇÃO DO
LÁTEX DE Euphorbia splendens var. hislopii N.E.B (EUPHORBIACEAE)
44
RESUMO
MELLO- SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Alterações Fisiológicas em
Biomphalaria glabrata (SAY, 1818) em função da concentração do látex de
Euphorbia splendens var. hislopii N.E.B (EUPHORBIACEAE). Seropédica: UFRRJ,
2005. 82p. (Tese Doutorado em Ciências Veterinárias, Parasitologia Veterinárias).
Moluscicidas têm sido empregados como uma das estratégias para o controle da
esquistossomose. Produtos extraídos de plantas com atividade moluscicida têm sido
testados, mas a ação do látex de Euphorbia splendens var. hislopii é considerada a mais
promissora por atender os quesitos recomendados pela Organização Mundial da Saúde
(OMS). O objetivo deste estudo foi determinar a dose letal e identificar os efeitos das
diferentes doses de látex de E. splendens var. hislopii sobre a fisiologia de
Biomphalaria glabrata submetida ao tratamento por 24 horas. As concentrações de
glicose, ácido úrico e proteínas totais na hemolinfa e de glicogênio na glândula digestiva
e na massa cefalopodal foram determinadas. O valor para a CL
50
foi de 1,0mg/l. O
maior índice de escape foi verificada na concentração de 0,6mg/l. Através dos
resultados observou-se que o látex de E. splendens var. hislopii provocou acentuada
redução nas reservas de glicogênio na glândula digestiva e elevação do conteúdo de
proteínas na hemolinfa de B. glabrata.
Palavras-chave: Moluscicida natural, molusco planorbídeo, fisiologia dos invertebrados
45
ABSTRACT
MELLO- SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Phisiology Alterations of Biomphalaria
glabrata (SAY, 1818) due to the concentration of the látex of Euphorbia splendens
var. hislopii N.E.B (EUPHORBIACEAE). Seropédica: UFRRJ, 2005. 82p. (Tese
Doutorado em Ciências Veterinárias, Parasitologia Veterinárias).
Moluscicides has been used as one strategy to the control of schistosomiasis. Among
the natural products extracted from plants with moluscicide activity that are cited in the
literature, the latex of Euphorbia splendens var. hislopii is the most efficient because
follow the parameters suggested by World Health Organization (WHO). The objective
of this study was determine the lethal dose (LD
90
) and identify the effects of different
doses of latex of E. splendens var. hislopii on the physiology of B. glabrata after 24
hours of exposure. The glycogen contents on digestive gland and cephalopodal mass
and glucose, total proteins and uric acid concentrations in the hemolymph of the snail
were determined. The LD
50
was 1.0mg/l. The highest natural escape index was observed
to the dose equal 0.6mg/l. The present results shows that the latex of E. splendens var.
hislopii lead to a significant reduction of the glycogen stores of the digestive gland and
increases the total proteins concentration in the hemolymph.
Keywords: Natural moluscicide, planorbid mollusc, invertebrate of physiology
46
5.1- INTRODUÇÃO
O uso de moluscicida como uma das estratégias para o controle da
esquistossomose começou a ser empregado no Brasil, em 1976, com a criação do
Programa Especial para o Controle da Esquistossomose (PECE) pela Fundação
Nacional de Saúde (MACHADO, 1982). O produto utilizado como moluscicida no
PECE foi a Niclosamida, um sal de etanolamina de 2’,5-dicloro-4’-nitrosalicilanilida,
fabricado com o nome comercial de Bayluscide
, tendo sua eficácia sido anteriormente
comprovada (GONNERT, 1961). A aplicação deste produto provocava a ação biocida
em outros organismos não-alvos da flora e da fauna (ANDREWS et al, 1983), além de
causar genotoxicidade e apresentar efeito carcinogênico (VEGA et al, 1988). O alto
custo (PIERI, 1995), a possibilidade de recolonização dos criadouros (SARQUIS et al,
1997, 1998) e a ecotoxicidade deste produto apresentaram-se como limitações para o
uso do mesmo como moluscicida oficial em programas governamentais de controle da
esquistossomose.
Em paralelo, diversas plantas foram testadas como moluscicidas naturais.
Jurberg et al (1989) levantaram mais de 340 espécies, destacando as famílias
Euphorbiaceae e Sapindaceae como as que apresentaram maior número de espécies com
potencial moluscicida eficaz. Dentre as espécies estudadas estão: Anacardium
occidendale (PEREIRA ; SOUZA, 1974), Euphorbia pulcherrima, Euphorbia
splendens, Caesalpinia peltophoroides e Stryphnodendron barbatiman (MENDES et al,
1984). Destas, E. splendens destacou-se por sua ação moluscicida em doses menores
que 0,5 mg/l, oito vezes menor do que a dose letal para peixes (VASCONCELLOS ;
SCHALL, 1986).
Para a seleção de plantas moluscicidas foram propostos alguns quesitos como;
toxicidade, disponibilidade, apresentar crescimento anual e adaptabilidade em diferentes
condições locais, localização da atividade moluscicida em partes de fácil regeneração na
planta, como folhas. Para a utilização do produto recomenda-se que, deve ser estocável
e manter a sua viabilidade por pelo menos um ano, estabilidade física e química, valor
etnobotânico e extração e aplicação fáceis, utilizando preferencialmente extratos
aquosos (KLOSS ; McCULLOUGH, 1982). Levando em consideração todos estes
critérios, em 1998, a Fundação Instituto Oswaldo Cruz (FIOCRUZ. IOC, RJ) patenteou,
na área de biotecnologia, o método de coleta, forma de extração e aplicação do látex de
E. splendens var. hislopii como moluscicida (VASCONCELLOS, 2000).
Nos trabalhos publicados na literatura com plantas de ação moluscicida e na
padronização das mesmas, preconizada pela OMS, é enfatizada sua utilização de
produtos que, em baixas doses, resultem em alta mortalidade de moluscos. No entanto,
estudos histológicos com moluscos submetidos à ação de moluscicidas químicos ou
naturais demonstraram que em concentrações abaixo da CL
50
podem produzir danos
histológicos nos moluscos, as quais causariam alterações nas suas funções vitais ou até
mesmo, dependendo do órgão afetado, a morte (PILE at al., 2002, ARAÚJO, et al.,
2002, SÃO LUIZ, 2003).
Os objetivos do presente trabalho foram determinar a concentração letal e
identificar os efeitos fisiológicos em função das concentrações sub-letais até CL
50
do
látex de E. splendens var. hislopii em B. glabrata.
47
5.2- MATERIAL E MÉTODOS
5.2.1- Obtenção do látex de Euphorbia splendens var. hislopii.
As amostras do látex de E. splendens var. hislopii foram coletadas de exemplares
cultivados em canteiros situados próximos ao Departamento de Biologia, Instituto
Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ, Brasil, durante o outono. As coletas do látex foram
realizadas seguindo o método descrito por Vasconcellos; Amorim (2003), no mesmo dia
dos testes.
5.2.2- Criação de Biomphalaria glabrata em laboratório
Exemplares de B. glabrata (linhagem procedente de Belo Horizonte - BH),
mantidas no Departamento de Helmintologia, Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ,
Brasil foram utilizadas neste experimento. Os caramujos foram acondicionados em
aquários de polietileno de 30 litros de capacidade, com água desclorada (decantação e
evaporação do cloro). A temperatura média da água foi de 28,5 ± 1
o
C e a umidade
relativa do ar variou de 70 a 78% do início ao término do experimento. Três vezes por
semana os aquários foram limpos e os caramujos alimentados ad libitum com folhas de
alface (Lactuca sativa L.). Os exemplares de B. glabrata utilizados em todos os
experimentos apresentaram diâmetro da concha entre 8 e 10mm.
5.2.3- Determinação das concentrações letal e sub-letal do látex de Euphorbia
splendens var. hislopii
Utilizando o látex recém-colhido foi preparada uma solução-mãe aquosa, na
concentração de 100mg/l, e partir desta, foram preparadas soluções de diferentes
concentrações para utilização nos bioensaios. Este procedimento está de acordo com a
metodologia já descrita e utilizada por Vasconcellos; Amorim (2003) e recomendada
pela OMS (WHO, 1983) e por Mott (1987).
As concentrações testadas foram 0,2; 0,4; 0,6; 0,8; 1,0; 1,5; 2,0; 2,5; 3,0; 4,0; 5,0
e 10,0 mg/l. Para todas as diluições foram utilizados balões volumétricos de 1000ml e o
volume de cada solução foi dividido em dois béqueres de 500ml. Foram utilizados 260
exemplares de B. glabrata (linhagem BH), 20 exemplares para cada solução (dois
grupos de 10) e 20 para o controle. Vinte caramujos foram colocados em dois béqueres
de 500ml, dez em cada, para cada concentração, sendo expostos a esta solução por 24
horas (VASCONCELLOS; AMORIM, 2003). Dois béqueres receberam 500ml de água
destilada, onde foram colocados 10 moluscos, em cada béquer, sem látex e utilizados
como grupo controle. Durante este período todos os moluscos foram mantidos em jejum
(Fluxograma 1).
Após o período de exposição ao látex, os moluscos foram retirados dos frascos e
lavados com água destilada para remoção de resíduos e o número de mortos foi anotado.
48
Os caramujos que saíram das soluções (mecanismos de escape), em cada
concentração, foram separados em copos de vidro contendo 50 ml de água destilada e
não foram utilizados para os testes bioquímicos. Os moluscos que permaneceram nas
soluções, durante a exposição foram mantidos em recipientes contendo 500ml de água
destilada, por 24 horas (período de recuperação). Durante este período, os moluscos
foram alimentados com pedaços de folhas de alface fresca.
Os animais mortos e os sobreviventes foram novamente contados, após 48 horas
do teste. A hemolinfa dos moluscos sobreviventes foi extraída através de punção na
cavidade pericárdica e acondicionada em microtubos do tipo Eppendorf. Em seguida, os
caramujos foram dissecados, sem anestesia, para a separação da glândula digestiva e
massa cefalopodal, para a análise do conteúdo de glicogênio. Todos os materiais
biológicos foram mantidos em banho de gelo durante a coleta e armazenados a -18
o
C,
para posterior processamento e análise (Fluxograma 2).
O cálculo da Concentração Letal (CL
90
e CL
50
) foram realizados através de um
software empregando a Análise dos próbites (FINNEY, 1971). Este programa usa o
teste do Qui- Quadrado (X
2
) para comparar as concentrações testadas.
5.2.4- Análises bioquímicas
Foi determinada a concentração de glicose, ácido úrico, uréia e proteínas totais
na hemolinfa de B. glabrata exposta às diferentes concentrações de látex de E.
splendens var. hislopii e expressas em mg/l. Para a determinação de proteínas totais foi
utilizada a técnica descrita por Lowry et al. (1951). Para as demais determinações foram
utilizados kits de diagnóstico laboratorial Doles, Doles Reagentes.
A extração de glicogênio da glândula digestiva e massa cefalopodal seguiu a
técnica descrita por Pinheiro; Gomes (1994). Os tecidos da glândula digestiva e da
massa cefalopodal e da glândula de albúmem foram homogeneizados em aparelho
Potter- Elvehjen, com pistilo de vidro, contendo ácido tricloroacético 10% na proporção
de 5 ml de solução para cada grama de tecido. O homogenado foi centrifugado em
centrífuga refrigerada Sorvall RC 2B, rotor SS34, a uma velocidade de 1.935g , por
cinco minutos a 4
o
C e o sobrenadante foi filtrado em papel de filtro qualitativo,
previamente saturado com água destilada. O volume de sobrenadante foi medido em
proveta e mantido por cinco minutos por banho- Maria, a 40
o
C e, após este tempo, ao
filtrado foi adicionado etanol gelado na proporção de 2ml de etanol para cada ml de
sobrenadante filtrado, sendo a mistura agitada e mantida em banho de gelo por 15
minutos. A seguir, a mistura foi centrifugada a uma velocidade de 17.300g, por 10min,
a 4
o
C para a precipitação do glicogênio. O sobrenadante foi desprezado e o precipitado
transferido para um frasco plástico, sendo suspenso em 5 ml de água destilada e
mantido a 0
o
C até a sua utilização.
O glicogênio extraído foi submetido a hidrólise ácida à quente. Uma alíquota de
1ml da suspensão, obtida conforme citado acima, foi transferido para um tubo de ensaio
de vidro com tampa de rosca, ao qual foram adicionados 1ml de ácido clorídrico (HCl)
N, sendo o tubo fechado mantido em banho- Maria fervente por 30 minutos. Após este
tempo, o hidrolisado foi neutralizado utilizando 1 ml de hidróxido de sódio (NaOH) N .
Para a dosagem dos polissacarídeos, foi utilizada a reação do ácido 3,5 dinitro
salicílico (DNS) (SUMNER, 1924), onde 1 ml do hidrolisado neutro foi transferido para
um tubo de ensaio de vidro e a este foi adicionado 1 ml do reagente do DNS sendo o
tubo aquecido em banho-maria fervente por 5 min. O volume de cada tubo foi
49
completado a 15 ml com água destilada. As leituras forma feitas em espectrofotômetro
Micronal, em 535 nm, utilizando como branco de reação um tubo onde a amostra foi
substituída por água destilada. As concentrações de glicogênio foram calculadas
segundo a Lei de LambetBeer e expressas em mg/ glicose/ g de tecido, peso fresco.
Todas as leituras espectrofotométricas foram feitas com, pelo menos, três repetições.
5.2.5- Análise estatística
Os resultados obtidos nas determinações bioquímicas foram expressos através de
média ± desvio-padrão e submetidos ao teste de análise de variância (ANOVA) e teste
de Tukey-Kramer e ao teste t de Student para dados não pareados para comparação das
médias (α=5). O teste de regressão polinomial foi empregado para verificar a
significância da relação entre as alterações observadas e a concentração de látex
utilizada.
50
Fluxograma 1- Metodologia empregada na determinação das concentrações letais e sub-letais.
51
Fluxograma 2- Metodologia empregada na determinação das concentrações letais e sub-letais após o
período de recuperação.
52
5.3- RESULTADOS
5.3.1- Determinação das concentrações letal e sub-letal
Na tabela IV, observa-se a atividade moluscicida das soluções aquosas de
diferentes concentrações, a partir do látex in natura de E. splendens, sobre B. glabrata..
A concentração letal (CL
90
) foi de 2,3mg/l e a concentração sub-letal (CL
50
) foi
de 1,0mg/l. A mortalidade de B. glabrata foi diretamente proporcional à concentração
de látex utilizada, aumentando a taxa de mortalidade, conforme o aumento da
concentração das soluções (X
2
=16,03, G.l=13, p> 0,05). No grupo controle, sem látex,
não houve mortalidade.
Tabela IV - Percentual de sobreviventes de Biomphalaria glabrata, em diferentes concentrações do látex
de Euphorbia splendens var. hislopii, e comportamento de escape entre 24 e 48h (n=20 para cada
concentração).
Exposição 24 horas
Não Saíram
Período de
recuperação
Escape
Sobreviventes
pós- 48 hs
Concentração
(mg/l)
Escape
(%)
Vivos
(%)
Mortos
(%)
Vivos
(%)
Mortos
(%)
Vivos
(%)
Mortos
(%)
Total de
sobreviventes
(%)
Controle 20 80 0 20 0 80 0 100
0,2 25 75 0 25 0 75 0 100
0,4 25 75 0 25 0 70 5 95
0,6 30 70 0 30 0 70 0 100
0,8 15 70 15 15 0 70 15 85
1,0 15 50 45 5 0 45 5 50
1,5 10 20 70 10 0 5 85 15
2,0 5 15 80 5 0 0 95 5
2,5 0 5 100 0 0 0 100 0
3,0 0 0 100 0 0 0 100 0
3,5 0 0 100 0 0 0 100 0
4,0 5 0 95 5 0 0 95 5
4,5 0 0 100 0 0 0 100 0
5,0 0 0 100 0 0 0 100 0
10,0 0 0 100 0 0 0 100 0
Nas concentrações abaixo da CL
50
, verificou-se que os caramujos escaparam da
solução, 25% para as taxas de concentrações 0,2 e 0,4mg/l e 30% para 0,6mg/l (Tab.
IV).
53
5.3.2- Concentrações de glicose na hemolinfa e glicogênio nos tecidos (glândula
digestiva e massa cefalopodal) de Biomphalaria glabrata exposta ao látex de
Euphorbia splendens var. hislopii.
Os valores para os níveis de glicogênio nos tecidos e de glicose livre na
hemolinfa B. glabrata em função da concentração do látex de E. splendens var. hislopii
quando comparados com o controle,estão apresentados na tabela V. Não houve
diferença significativa entre os conteúdos de glicogênio nos tecidos de B. glabrata em
função da exposição às diferentes concentrações de látex. Foi observada diferença
significativa para o conteúdo de glicose livre na hemolinfa nos moluscos tratados com
concentração de 0,4mg/l do látex, quando comparados com os demais grupos.
Através da análise de regressão polinomial, a concentração de glicogênio na
glândula digestiva de B. glabrata apresentou uma significativa relação negativa
(r
2
=0,80) com a concentração de látex de E. splendens. Porém, a relação entre o
conteúdo deste polissacarídeo na massa cefalopodal, apresentou fraca relação positiva
(r
2
=0,64) (Fig 6) com as concentrações testadas.
Tabela V- Concentrações médias de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de glicogênio nos tecidos (mg de
glicose/g de tecido, peso fresco) da glândula digestiva e massa cefalopodal de Biomphalaria glabrata
tratados com o látex de Euphorbia splendens var. hislopii.
Concentrações
látex (mg/l) glicose (mg/dl) glicogênio
(mg de glicose/g de tecido, peso fresco)
Hemolinfa Glândula digestiva Massa cefalopodal
X ± SD X ± SD X ± SD
Controle sem látex 39,50 ±
2,94
a
7,00 ± 0,37
a
5,78 ± 1,46
a
0,2 33,24 ± 11,75
a
13,63 ± 1,51
a
1,03 ± 0,63
a
0,4 155,84 ±
14,70
b
13,36 ± 10,90
a
3,22 ± 1,01
a
0,6 46,75 ± 13,22
a
8,80 ± 0,24
a
1,73 ± 1,04
a
0,8 49,87 ± 5,88
a
4,11 ± 0,52
a
9,09 ± 5,20
a
1,0 39,48 ± 8,81
a
1,93 ± 0,12
a
9,09 ± 5,20
a
Dados seguidos por letras distintas apresentam diferença estatística (P>0,05).
54
Figura 6- Relação entre a concentração de glicogênio (mg de glicose/ g de tecido, peso fresco) nos tecidos
da glândula digestiva (¢) e da massa cefalopodal (p) de Biomphalaria glabrata tratadas com diferentes
concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii, expressas em mg/l.
O teste de regressão demonstrou relação negativa fraca entre o conteúdo de
glicose na hemolinfa e as diferentes concentrações de látex de E. splendens (Fig. 7).
Figura 7 - Relação entre a concentração de glicose (mg/dl) na hemolinfa de Biomphalaria glabrata
tratadas com soluções de diferentes concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l).
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0
100
200
y = 65,01 - 8,46.x
r
2
= 0,80
Concentração (mg/l)
Concentração de glicose
(mg/dl)
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0
10
20
30
y = 12,32 - 8,321.x
r
2
= 0,80
Glândula digestiva
y = 2,96 + 2,88.x
r
2
= 0,64
Massa cefalopodal
Concentração de glicogêno
(mg de glicose/g de tecido,
peso fresco)
55
5.3.3- Concentrações de proteínas totais e de produtos nitrogenados na
hemolinfa de Biomphalaria glabrata exposta ao látex de Euphorbia splendens var.
hislopii.
Não foi detectada a presença de proteínas totais na hemolinfa de B. glabrata do
grupo controle. Para os moluscos dos grupos tratados com diferentes concentrações do
látex foram observadas concentrações de proteínas significativas, quando comparados
com o grupo controle (Tab. VI), evidenciando um aumento gradativo no conteúdo
destas na hemolinfa. A análise de regressão revelou uma forte relação positiva entre o
conteúdo de proteínas totais na hemolinfa de B. glabrata em função da concentração de
látex (r
2
= 0,89) (Fig. 8).
A degradação de proteínas provocada pelo látex levou a alterações nas
concentrações dos produtos nitrogenados, uréia e ácido úrico (Figs 9 e 10).
Tabela VI . Variação na concentração de proteínas totais, uréia e ácido úrico na hemolinfa (mg/dl) de
Biomphalaria glabrata tratadas com diferentes concentrações de látex de Euphorbia splendens var.
hislopii.
Concentrações
látex proteínas totais uréia ácido úrico
(mg/l) (mg/dl) (mg/dl) (mg/dl)
X ± SD X ± SD X ± SD
Controle ND ± ND
a
7,16 ± 2,64
a,d
4,96 ± 0,90
a
0,2 1,39 ± 0,05
b
ND ± ND
b,d
3,44 ± 0,34
a
0,4 1,08 ± 0,05
b
ND ± ND
b,d
4,05 ± 0,18
a
0,6 1,51 ± 0,14
b
19,10 ± 1,93
c
ND ± ND
c
0,8 2,18 ± 0,16
c
2,73 ± 0,01
d
0,64 ± 0,22
b
1,0 2,76 ± 0,13
d
ND ± ND
b,d
5,04 ± 0,80
a
Dados nas colunas seguidos por letras distintas apresentam diferença estatística (P>0,05).
ND = não detectada.
56
Figura 8 - Relação entre a concentração de proteínas totais (mg/dl) na hemolinfa de Biomphalaria
glabrata e as diferentes cocncentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l).
Figura 9 - Relação entre a concentração de uréia (mg/dl) na hemolinfa de Biomphalaria glabrata nas
diferentes concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l).
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0
1
2
3
y = 0,40 + 2,23.x
r
2
= 0,89
Concentrações (mg/l).
Concentração de proteínas
totais (mg/dl)
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00 1.25
0
10
20
30
y= 4,831- 0,357x
r
2
= 0,50
Concentrações (mg/l)
Concentração de uréia
(mg/dl)
57
Figura 10 - Relação entre a concentração de ácido úrico (mg/dl) na hemolinfa de Biomphalaria glabrata
nas diferentes concentrações do látex de Euphorbia splendens var. hislopii (mg/l).
0.00 0.25 0.50 0.75 1.00
0.0
2.5
5.0
7.5
y= 4,184 -1,211x
r
2
= 0,54
Concentrações (mg/l)
Concentração de ácido úrico
(mg/dl)
58
5.4- DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
Em função de não terem sido realizados estudos sobre os efeitos fisiológicos da
ação do látex de E. splendens em B. glabrata, principal hospedeiro intermediário do S.
mansoni no Brasil, nas concentrações padronizadas pela OMS (MOTT, 1987), este
estudo torna-se inédito, visando minimizar os efeitos ambientais sobre o ecossistema
límnico.
Devido a pequenas variações na concentração letal do látex ao longo das
diferentes estações do ano sobre Biomphalaria tenagophila registradas por Schall et al.
(1992), todo o presente estudo foi realizado com látex colhido em uma mesma estação
do ano, o outono, visando evitar variações sazonais na composição e,
conseqüentemente, no efeito moluscicida do látex.
O elevado percentual de escape observado nas concentrações de 0,2, 0,4 e
0,6mg/l está de acordo com dados citados na literatura, como aqueles de Pieri; Jurberg
(1981), Jurberg et al (1985) e Sarquis et al. (1997, 1998), onde os autores associam este
movimento às propriedades tóxicas de moluscicidas naturais e sintéticos. Este
comportamento evidencia uma resposta de fuga dos moluscos a um ambiente cujas
condições apresentam-se desfavoráveis à sua sobrevivência. Jurberg (1985) evidenciou
que o comportamento de escape era observado com uma menor freqüência quando os
moluscos eram expostos a concentrações mais próximas às concentrações letal e sub
letal. Tal resposta também foi observada no presente estudo quando os moluscos foram
mantidos em concentrações de látex superiores a 1,0mg/l. Provavelmente, tal resposta
dos moluscos se deve a um grau elevado de intoxicação, prejudicando e reduzindo sua
capacidade de locomoção.
Segundo Thompson; Lee (1986), os moluscos apresentam mecanismos muito
precisos de regulação da glicemia. Assim, a significativa elevação observada no
conteúdo de glicose na hemolinfa de B. glabrata exposta à concentração de 0,4mg/l de
látex de E. splendens, pode evidenciar uma quebra da homeostasia de glicose no
organismo do molusco, a qual não foi observada nas demais concentrações utilizadas.
Alterações semelhantes foram descritas por Livingstone; Zwaan (1983). A existência de
mecanismos glicostáticos também foi apontada por Liebsch; Becker (1990), os quais
observaram uma elevação da glicemia e do volume hemolinfático em moluscos
mantidos em jejum, enquanto que nos moluscos infectados com Schistosoma mansoni,
estes níveis foram reduzidos.
O pico de glicose na hemolinfa coincide com a concentração em que foi obtida a
menor concentração de proteínas totais. Segundo Christie et al. (1974) a grande parte de
glicose da hemolinfa é originada a partir da gliconeogênese, o que vem de encontro aos
resultados obtidos no presente estudo.
Liebsch et al. (1978) observaram que em moluscos anestesiados, o conteúdo de
glicose na hemolinfa é alterado, demonstrando uma relação entre o conteúdo de glicose
na hemolinfa e a atividade muscular de B. glabrata. No presente estudo, a elevação do
conteúdo de glicogênio na massa cefalopodal, pode estar relacionada a menor
capacidade de locomoção demonstrada pelos animais expostos às concentrações mais
altas do látex. Outros processos de estresse fisiológicos, como a intoxicação por metais
pesados, levam à imobilização do molusco, gerando a síndrome “distress” (NOLAN et
al. 1953; HARRY et al. 1957; DUNCAN, 1987), o que vem reforçar as observações
feitas neste estudo.
59
Alterações no metabolismo de carboidratos e protéico foram observados quando
moluscos foram submetidos a extratos de plantas com atividade moluscicida.
Adewunmi et al. (1988) verificaram que tanto o Bayluscide
quanto a planta T.
tetraptera reduziram os conteúdos de carboidratos e proteínas em tecidos da massa
cefalopodal e da glândula digestiva de B. glabrata. Alcanfor (2001) verificou a
diminuição dos conteúdos de glicose na hemolinfa de B. glabrata submetida ao
tratamento com Stryphnodendron adstringens, S. polyphyllum e Caryocar brasiliense,
plantas do cerrado brasileiro. Quanto ao nível de proteínas totais na hemolinfa, a autora,
verificou que os extratos da folha de S. adstringens e C. brasiliense diminuíram o nível
de proteínas em 12 e 24 horas, em comparação com o grupo controle. A autora também
observou as alterações histológicas em B. glabrata submetida a estes extratos, com
processo de degeneração na glândula digestiva, porém sem elevação dos níveis de
proteína totais na hemolinfa.
A diminuição no conteúdo de proteínas totais nos moluscos pode estar
relacionada com a aceleração da via de gliconeogênese, com o progresso do grau de
intoxicação pelo látex de E. splendens. A utilização de látex na concentração sub letal
(1.0mg/l =CL
50
), sugere a ocorrência de lesões em órgãos de B. glabrata. Araújo et al.
(2002) e Pile et al. (2002) demonstraram alterações histológicas, descrevendo
degeneração e necrose tecidual em moluscos submetidos à intoxicação com produtos de
ação moluscicida. BODE et al.(1996), observaram que B. glabrata exposta a extrato de
Tetrapleura tetraptera, houve um aumento do número de células secretoras e redução
do número de células digestivas na glândula digestiva, havendo ainda uma intensa
autólise de estruturas membranosas, como complexo de Golgi, mitocôndria e retículo
endoplasmático. Tais alterações podem levar à lise de células, provocando uma
liberação de grande quantidade de proteínas, principalmente de células da glândula
digestiva. Esta alteração também foi observada por Pinheiro et al. (2001), através de
aumento nos níveis de TGO na hemolinfa de Bradybaena similaris submetidas ao jejum
severo. Estas alterações estão de acordo com os registros sobre a resposta fisiológica de
moluscos a situações de estresse como jejum, estivação e infecção ao Schistosoma
mansoni (BECKER, 1980; 1983).
A degradação de proteínas desencadeada como resposta à intoxicação pelo látex,
no presente estudo, levou a mudança nas concentrações dos produtos nitrogenados de
excreção, uréia e ácido úrico. No início do processo de intoxicação pelo látex, os
moluscos têm o seu padrão ureotélico alterado, havendo um pico deste produto nos
moluscos expostos à dose de 0,6mg/l. Os valores de concentração de ácido úrico,
demonstraram que, no período em que houve um pico de concentração de uréia na
hemolinfa do molusco, provavelmente, os produtos nitrogenados de excreção que
deveriam ser eliminados sob a forma de ácido úrico foram excretados como uréia, um
metabólito menos tóxico, podendo ser armazenado em maior quantidade e que pode ser
eliminado com facilidade pelo organismo, uma vez que este vive em um meio rico em
água. A partir deste valor de concentração, o caramujo passou a apresentar um padrão
de excreção predominantemente uricotélico, em moluscos fisiologicamente estressados
ocorre aceleração do ciclo da uréia, e estes passam a excretar ácido úrico em maior
concentração (BECKER, 1980).
60
Conclui-se que o látex de Euphorbia splendens var. hislopii altera os conteúdos
de glicose, glicogênio e proteínas totais de B. glabrata, levando a uma situação de
estresse fisiológico, que acarreta mudanças na formação de glicose e do padrão de
excreção, a fim de garantir a homeostase.
61
6- CAPÍTULO IV
INFLUÊNCIA DO TRATAMENTO COM O LÁTEX DE Euphorbia splendens
var. hislopii SOBRE OS DEPÓSITOS DE CARBOIDRATOS EM Biomphalaria
glabrata INFECTADA COM Schistosoma mansoni.
62
RESUMO
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Influência do tratamento com o látex de
Euphorbia splendens var. hislopii sobre os depósitos de carboidratos em
Biomphalaria glabrata infectada com Schistosoma mansoni. Seropédica: UFRRJ,
2005. (Tese, Doutorado em Ciências Veterinárias, Parasitologia Veterinária.
O presente trabalho tem por objetivo verificar a alteração do látex de Euphorbia
splendens var. hislopii nas concentrações de glicogênio (glândula digestiva e massa
cefalopodal) nos tecidos e de glicose na hemolinfa de Biomphalaria glabrata (BH)
infectada por Schistosoma mansoni (BH). Os contéudos de glicogênio foram reduzidos
ao longo do tempo de infecção em ambos os grupos de infectados (controle e expostos).
Os níveis de glicose na hemolinfa tenderam a estabilidade nos dois grupos. O látex de
E. splendens var. hislopii interfere nos níveis destes polissacarídeos, degradando mais
rapidamente as reservas energéticas nos moluscos infectados e expostos, principalmente
a partir da 3
a
e 4
a
semana de infecção. Este moluscicida pode ser utilizado como uma
alternativa de redução da população de moluscos, principalmente nos períodos de
transmissão da doença.
Palavras-Chave: Glicogênio, Glicose, Moluscicida
63
ABSTRACT
MELLO-SILVA, Clélia Christina Corrêa de. Treated influence of Euphorbia
splendens var. hislopii latex at carbohydrate deposits of Biomphalaria glabrata
infected with Schistosoma mansoni. Seropédica: UFRRJ, 2005. (Thesis, Doctor at
Veterinary Science, Veterinary Parasitology).
In this study the alterations on the glycogen contents (digestive gland and cephalopedal
mass) in tissues and glucose in the hemolymph of Biomphalaria glabrata BH strain
infected with Schistosoma mansoni, BH strain, exposed to the latex of Euphorbia
splendens var. hislopii were studied. The glycogen deposits were reduced in infected
snails exposed and unexposed to latex. The exposure to latex caused a major depletion
of the glycogen levels in both sites analyzed, mainly from the third week onward. The
utilization of the latex as a moluscicide to control the population of the B. glabrata is
proposed.
Keywords: Glycogen, Glucose, Moluscicide
64
6.1 - INTRODUÇÃO
As principais reservas de carboidratos nos moluscos são glicogênio e
galactogênio. As reservas de glicogênio localizam-se na musculatura, na glândula
digestiva e no manto e as de galactogênio são restritas à glândula de albúmem.
As alterações no metabolismo de carboidratos nos moluscos, principalmente
Biomphalaria glabrata, têm sido estudadas, avaliando a sua relação com diferentes
condições de estresse como: infecção pelo Schistosoma mansoni, jejum e estivação
(SCWARTZ; CARTER, 1982, BECKER, 1983, BEZERRA et al., 1999), as quais
provocam mudanças nas vias metabólicas de aeróbicas para anaeróbicas, a partir de
estímulos diferenciados nas enzimas reguladoras das vias de energia. A utilização das
reservas de glicogênio está associada com o consumo de glicose na hemolinfa,
proporcionando a diminuição dos estoques nos tecidos. Fatores humorais presentes na
hemolinfa de caramujos infectados também podem alterar o metabolismo de
carboidratos (CREWS; YOSHINO, 1991).
Mudanças metabólicas sofridas por B. glabrata quando expostas a moluscicidas
naturais ou químicos também foram observadas, revelando que tanto o Bayluscide
®
quanto a planta Tetrapleura tetraptera, alteram o metabolismo de carboidratos e de
proteínas (ADEWUNMI et al, 1988). Espécimes de Biomphalaria glabrata quando
submetidas a moluscicidas oriundos de plantas do cerrado como Stryphnodendron
adstringens, também modificaram as concentrações de glicose na hemolinfa
(ALCANFOR, 2001).
Um dos moluscicidas mais promissores e estudados no Brasil é o extrato bruto
de Euphorbia splendens (Sin. Euphorbia milii) da família Euphorbiaceae, que em
condições laboratoriais e de campo, atende aos quesitos necessários para ser utilizado
como moluscicida natural (VASCONCELLOS; AMORIM, 2003). Quanto ao custo-
beneficio do uso de E. splendens var. hislopii, Baptista et al. (1994), observaram que a
média de produtividade do látex foi de 1 litro em cada 8 m
2
de área cultivada, o que
daria para tratar um volume de 97.200 litros de água, na concentração de 12mg/l. Além
disso, a planta apresenta frações fitoquímicas 100 vezes mais ativas contra B. glabrata
que o produto sintético niclosamida (ZANI et al, 1993; ZANI et al., 1989).
Em relação aos efeitos toxicológicos do látex de E. splendens var hislopii foram
identificadas substâncias irritantes, mas não carcinogênicas (MARSTON; HECKER,
1983;1984). Schall et al. (1991) observou a ausência de efeitos mutagênicos sobre
Salmonella typhimurium. Efeitos embrio-fetotóxicos foram observados em ratos
expostos a 125mg/kg peso vivo, não sendo observadas malformações fetais
(teratogenicidade) ou genotóxicas.
Em relação à ecotoxicidade, Oliveira-Filho et al. (2000) observaram que o látex
não apresentava ação tóxica para organismos não alvos quando utilizado nas
concentrações eficazes para causar a morte de B. glabrata.
Em atividades no campo, a ação do látex de E. splendens sobre moluscos
aquáticos como Lymnaea columella, Biomphalaria tenagophila e Melanoides
tuberculata foi eficiente, causando mortalidade na faixa de 97,4 a 100%
(VASCONCELLOS; AMORIM, 2003).
65
65
Apesar da importância de E. splendens (var. hislopii) como moluscicida natural
no controle da esquistossomose, não há trabalhos acerca da sua ação sobre processos
fisiológicos do molusco hospedeiro, ou sobre possíveis alterações diferenciais em
moluscos não-infectados e infectados com Schistosoma mansoni. Na busca de melhor
compreender a ação da exposição de espécimes de Biomphalaria glabrata infectados
com Schistosoma mansoni ao látex de E. splendens var. hislopii, e sua importância na
epidemiologia da doença, o presente trabalho tem por objetivos verificar a ação do
látex de E. splendens var. hislopi sobre os depósitos de carboidratos (glicogênio) e na
concentração de glicose na hemolinfa de B. glabrata (linhagem BH) infectados pelo S.
mansoni (BH).
65
6.2- MATERIAL E MÉTODOS
6.2.1- Obtenção do látex de Euphorbia splendens var. hislopii
As amostras do látex de E. splendens var. hislopii foram coletadas de plantas
cultivadas em canteiros situados próximos ao Departamento de Biologia, Instituto
Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ, Brasil no outono, evitando possíveis variações metabólicas
sazonais que interferissem na composição do látex e, conseqüentemente, na
concentração da substância ativa.
O procedimento de coleta e transporte seguiu o descrito por Vasconcellos;
Amorim (2003).
6.2.2- Criação dos caramujos
Exemplares de B. glabrata com diâmetro variando de 8 a 10mm (linhagem
procedente de Belo Horizonte- BH) mantidas no Departamento de Helmintologia,
Instituto Oswaldo Cruz, Fiocruz, RJ, Brasil, foram utilizados. Os caramujos foram
acondicionados em aquários de polietileno de 30 litros de capacidade, com água
desclorada (28 + 1
o
C). Três vezes por semana, os aquários foram limpos e os caramujos
recebiam folhas de alface (Lactuca sativa L.) ad libitum. Após a manutenção, os
moluscos foram submetidos aos diferentes bioensaios com moluscicidas.
6.2.3- Infecção de B. glabrata pela Linhagem BH do Schistosoma mansoni
Os exemplares de B. glabrata (BH) foram expostos individualmente a 5
miracídios de S. mansoni, linhagem BH, por caramujo.
Para manutenção do ciclo de S. mansoni foram utilizados camundongos Swiss
albinos como hospedeiro definitivo. Este procedimento seguiu o descrito por Mello-
Silva (1996).
6.2.4- Determinação da concentração letal e sub letal
Para a determinação das concentrações letal (CL
90
) e sub-letal (CL
50
) foi
preparada uma solução aquosa-mãe do látex de E. splendens var. hislopii na
concentração de 100 ppm. A partir desta, foram determinadas as CL
50
e CL
90
,
segundo
Vasconcellos; Amorim (2003) e em conformidade com recomendações da OMS (WHO,
1983) e Mott (1987). Os valores obtidos foram respectivamente, 1,0 mg/l e 2,3 mg/l,
nesteexperimento.
67
6.2.5- Exposição de Biomphalaria glabrata experimentalmente infectada com
Schistosoma mansoni ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii,
Foram formados cinco grupos de moluscos, com 100 exemplares em cada e
infectados conforme descrito. Ao longo do desenvolvimento do ciclo do S. mansoni em
cada grupo, estes foram separados para o bioensaio com a solução aquosa do látex de E.
splendens na concentração sub-letal. Os grupos testados foram moluscos com: um dia
de infecção, uma semana de infecção, duas semanas de infecção, três semanas de
infecção e quatro semanas de infecção.
Sessenta exemplares de B. glabrata de cada um dos grupos acima, divididos em
grupos de 10 moluscos, foram submetidas ao tratamento com a concentração sub-letal
(CL
50
) do látex de E. splendens. Os moluscos foram expostos por 24 horas e após este
período, foram lavados com água desclorada. Vinte exemplares de cada grupo de
moluscos infectados serviram como controle positivo, submersos em água destilada sem
látex. Os outros vinte exemplares não participaram do bioensaio com moluscicida e
foram mantidos para a observação da eliminação de cercárias. Para cada bioensaio, nos
diferentes grupos, foram utilizados, paralelamente, 20 exemplares de B. glabrata não
infectada e sem tratamento, funcionando como controle negativo.
Após a exposição, foi extraída a hemolinfa através de punção da cavidade
pericárdica e os moluscos foram dissecados, a glândula digestiva e a massa cefalopodal
foram separadas para extração e dosagem de glicogênio. Todos os materiais biológicos
coletados foram mantidos em banho de gelo durante a sua coleta e armazenados a 10ºC
até sua utilização (Fluxograma 3).
6.2.6- Análises bioquímicas
A hemolinfa de cada grupo, dos moluscos tratados e dos moluscos controles, foi
acondicionada em microtubos, tipo Eppendorf, para as análises bioquímicas através de
kits de diagnóstico laboratorial para glicose (Doles
)
A determinação de glicose foi feita a través da reação da glicose oxidase,
utilizando 20ml do reagente de cor (solução-tampão fosfato 0,05M, pH 7,45 ± 0,1,
aminoantipirina 0,03mM e 15mM de p-hidroxibenzoato de sódio, contendo 12kUde
glicose oxidase e 0,8 Ku de peroxidase /l) e 20 µl de hemolinfa de cada grupo a ser
testada. As leituras de absorbâncias foram feitas em espectrofotômetro digital (B442
Micronal), zerado com o branco de reação e os cálculos foram realizados através de Lei
de Lambert-Beer, utilizando solução-padrão aquosa de glicose 100mg/dl (COCKAYNE,
1993; HENRY, 1996; PINHEIRO, 2003).
6.2.7- Extração e dosagem de glicogênio de glândula digestiva e massa cefalopodal
A extração e dosagem de glicogênio de glândula digestiva e massa cefalopodal
dos exemplares de B. glabrata seguiu a técnica de descrita por Pinheiro; Gomes (1994).
Para a dosagem dos carboidratos extraídos, foi utilizada técnica do 3,5 dinitro salicilato
(DNS) (SUMNER,1924), sendo estas expressas em mg de glicose/g de tecido, peso
fresco.
68
6.2.8- Análises estatísticas
Os resultados obtidos nas determinações bioquímicas foram submetidos ao teste
de análise de variância (ANOVA), teste de Tukey-Kramer para comparação das médias
(α=5%) e o teste “t Student” não pareado. Os valores das médias e desvio padrão foram
submetidos ao teste de regressão polinomial de primeira ordem para verificar a
significância da relação entre as alterações surgidas e o tempo de observação (α=5%).
69
Fluxograma 3- Metodologia empregada para a exposição ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii de
exemplares de Biomphalaria glabrata infectados pelo Schistosoma mansoni
70
6.3- RESULTADOS
Quando os valores obtidos para os diferentes grupos de moluscos, infectados e
expostos e infectados não expostos ao látex, foram comparados entre si, houve diferença
significativa apenas entre os resultados observados na primeira semana de análise. O
teste de Tukey revelou não haver diferença significativa entre os valores observados
para o conteúdo de glicose na hemolinfa de B. glabrata controle e os valores observados
para os moluscos infectados com S. mansoni e para os moluscos infectados e expostos
ao látex de E. splendens var. hislopii (Tabs. VII e VIII). Porém, na segunda semana de
infecção, houve uma redução de 40,74% na concentração de glicose na hemolinfa dos
moluscos não expostos ao látex em relação aos moluscos do grupo controle. Na terceira
semana de infecção o nível de glicose na hemolinfa aumentou 85,18% nos moluscos
infectados com S. mansoni (Tab. VII). O teste de regressão revelou não haver uma
relação evidente entre as variações no conteúdo de glicose na hemolinfa de B. glabrata
e o tempo de infecção com S. mansoni (Fig. 11).
Quando a variação na concentração de glicose na hemolinfa de B. glabrata
infectada com S. mansoni e exposta ao látex de E. splendens var. hislopii por 24 horas
foi analisada, as alterações ocorridas nos intervalos de tempo após a exposição estudada,
não se apresentaram significativamente diferentes entre si. Um aumento na
concentração de glicose foi observado a partir da primeira semana após a exposição ao
látex, havendo um pico de 73,77mg/dl na segunda semana de estudo (Tab. VII), sendo
este valor reduzido deste ponto em diante, demonstrando uma tendência a retornar aos
valores normais obtidos para os moluscos do grupo controle. Assim como para os
moluscos não expostos ao látex, a análise de regressão revelou uma relação positiva
entre o conteúdo de glicose e o tempo de estudo, porém esta relação não apresentou
significância estatística (Fig. 11).
O conteúdo de glicogênio na glândula digestiva de B. glabrata dos dois grupos
estudados apresentou diferença significativa na terceira e na quarta semanas de análise
(Tabs. VII e VIII). Na terceira semana após a exposição ao látex, o conteúdo de
glicogênio neste sítio foi 43,24% menor do que nos moluscos não expostos ao látex e na
quarta semana estes depósitos foram completamente exauridos.
Analisando isoladamente, os moluscos infectados e não expostos ao látex,
apresentaram uma redução significativa no conteúdo de glicogênio na glândula
digestiva até a terceira semana de análise, quando comparados aos moluscos do grupo
controle (Tab. VII). Porém, na quarta semana de observação, o conteúdo de glicogênio
sofreu uma pequena elevação, mostrando uma tendência à recuperação nestes animais.
O teste de regressão revelou uma fraca relação negativa entre o conteúdo de glicogênio
na glândula digestiva e o tempo de infecção, uma vez que há uma brusca redução neste,
logo no início do experimento, mantendo-se, aproximadamente, constante daí por diante
(Fig.12).
71
Os moluscos infectados e expostos ao látex, apresentaram um conteúdo de
glicogênio significativamente diferente e menor do que aquele observado para os
moluscos controle (Tab. VIII). O teste de regressão mostrou uma forte relação negativa
entre o conteúdo de glicogênio na glândula digestiva de B. glabrata infectada com S.
mansoni e exposta ao látex de E. splendens var. hislopii e o tempo após a exposição ao
látex (r
2
=0,81).
O conteúdo de glicogênio na massa cefalopodal de B. glabrata infectada com S.
mansoni não exposta e exposta ao látex de E. splendens var. hislopii foi
significativamente diferente e maior no primeiro dia e na primeira semana de análise
(Tabs. VII e VIII), nos demais períodos após a exposição estudados, não houve
diferença entre os valores obtidos para os moluscos infectados expostos e não expostos
ao látex.
Analisados isoladamente podese observar que o conteúdo de glicogênio na
massa cefalopodal nos moluscos infectados não variou significativamente entre os
moluscos controle e aqueles na primeira semana de infecção, os demais valores
observados foram significativamente reduzidos em relação ao grupo controle (Tab. VII).
Nos animais expostos ao látex, os valores obtidos para moluscos a partir da
segunda após a exposição foram significativamente diferentes daqueles observados para
o grupo controle (Tab. VIII). Foi observado um pico no conteúdo de glicogênio nos
animais após a primeira semana de exposição, onde havia 50,91mg de glicose/g de
tecido, peso fresco, valor este 147,38% superior àquele observado para o grupo controle
(Tab. VIII). Porém, observa-se uma tendência gradual à recuperação com a elevação
crescente no conteúdo de glicogênio na massa cefalopodal de B. glabrata a partir da
segunda semana após a exposição, tendendo a aproximar-se dos valores normais
observados para o controle. O teste de regressão revelou uma fraca relação entre o
tempo após a exposição ao látex de E. splendens var. hislopii e o conteúdo de
glicogênio na massa cefalopodal de B. glabrata (Fig. 13).
Tabela VII - Concentração de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de glicogênio nos tecidos da glândula
digestiva e massa cefalopodal (mg de glicose/g de tecido, peso fresco) em Biomphalaria glabrata
infectada por Schistosoma mansoni e não exposta ao látex de Euporbia splendens var. hislopii.. X ±
SD=média ± desvio-padrão. Moluscos controle = não infectados e não expostos ao látex.
Conteúdo de glicose
Conteúdo de glicogênio
(mg de glicose/g de tecido, peso fresco)
Fases de infecção (mg /dl)
X ± SD
Glândula digestiva
X ± SD
Massa cefalopodal
X ± SD
Controle 28.034 ± 17.980
a
75.568 ± 17.074
a
20.576 ± 5.151
a
1 dia de infecção 34.285 ± 1.470
a
20.455 ± 3.409
b
3.788 ± 0.000
b,d
1
a
semana de infecção 16.623 ± 5.877
a
12.500 ± 11.249
b
19.318 ± 4.097
c
2
a
semana de infecção 23.895 ± 10.285
a
11.039 ± 3.936
b
6.061 ± 1.995
c,d
3
a
semana de infecção 51.948 ± 5.877
a
10.511 ± 0.9841
b
4.091 ± 3.857
c,d
4
a
semana de infecção 17.662 ± 4.408
a
25.682 ± 3.755
b
8.712 ± 1.430
c,d
Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de significância.
72
Tabela VIII - Concentração de glicose na hemolinfa (mg/dl) e de glicogênio nos tecidos da glândula
digestiva e massa cefalopodal (mg de glicose/g de tecido, peso fresco) de Biomphalaria glabrata
infectada por Schistosoma mansoni e exposta ao látex de Euphorbia splendens var. hislopii por 24 horas.
X ± SD=média ± desvio-padrão. Moluscos controle = não infectados e não expostos ao látex.
Conteúdo de glicose
Conteúdo de glicogênio
(mg de glicose/g de tecido, peso fresco)
Fases de infecção (mg /dl)
X ± SD
Glândula digestiva
X ± SD
Massa cefalopodal
X ± SD
Controle 28.034 ±
17.980
a
75.568 ± 17.074
a
20.576 ± 5.151
a
1 dia de infecção 20.784 ±
2.931
a
21.818 ± 10.650
b
19.318 ± 2.740
a,c
1
a
semana de infecção 69.610 ± 7.347
a
1.364 ± 0.003
b
50.909 ± 0.787
b
2
a
semana de infecção 73.766 ± 16.163
a
8.279 ± 1.289
b
2.841 ± 1.722
d
3
a
semana de infecção 46.753 ± 30.856
a
5.966 ± 0.738
b
6.060 ± 1.002
d
4
a
semana de infecção 34.285 ± 10.286
a
ND ± ND 10.744 ± 0.3580
c,d
Médias seguidas por letras distintas diferem entre si ao nível de 5% de significância.
Figura 11. Relação entre o conteúdo de glicose, expressa em mg/dl, na hemolinfa de Biomphalaria
glabrata infectada com Schistosoma mansoni em função do tempo após a exposição, por 24 horas, ao
látex de Euphorbia splendens var. hislopii.
0 1 2 3 4 5
0
25
50
75
100
Moluscos infectados com látex
y = 43.95 - 1.726.x
r
2
= 0.5414
Moluscos infectados sem látex
y = 28.09 - 0.3290.x
r
2
= 0.0016
Tempo (semanas)
Concentração de glicose
(mg/dl)
73
Figura 12 - Relação entre a concentração de glicogênio (mg de glicose/ g de tecido, peso fresco) na massa
cefalopodal de Biomphalaria glabrata, infectada pelo Schistosoma mansoni, submetido ou não ao
tratamento com o látex de Euphorbia splendens, em função do tempo, em semanas.
Figura 13 - Relação entre a concentração de glicogênio (mg de glicose/ g de tecido, peso fresco) na
glândula digestiva de Biomphalaria glabrata, infectada pelo Schistosoma mansoni, submetido ou não ao
tratamento com o látex de Euphorbia splendens, em função do tempo, em semanas.
0 1 2 3 4 5
0
20
40
60
Moluscos infectados sem látex
y = 10.79 - 1.194.x
r
2
= 0.72
Moluscos infectados com látex
y = 28.66 - 5.669.x
r
2
= 0.75
Tempo (semanas)
Concentração de glicogênio
(mg de glicose/g de tecido,
peso fresco)
0 1 2 3 4
0
50
100
Moluscos infectados sem látex
y = 37.97 - 7.104.x
r
2
= 0.73
Moluscos infectados com látex
y = 38.78 - 11.81
r
2
= 0.81
Tempo (semanas)
Concentração de glicogênio
(mg de glicose/g de tecido,
peso fresco)
74
6.4- DISCUSSÃO E CONCLUSÃO
As alterações metabólicas no conteúdo de glicose e glicogênio têm sido
evidenciadas em moluscos infectados. Devido ao estresse da infecção, observa-se a
aceleração da via da glicogenólise, devido ao aumento do consumo de glicose pelas
formas larvares na hemolinfa. O decréscimo deste monossacarídeo na hemolinfa está
relacionado com a atividade da glicólise em conexão com a inibição da gliconeogênese
(STANISLAWSKI ; BECKER, 1979; BECKER, 1980; LIEBSCH ; BECKER, 1990).
Durante o seu desenvolvimento larval intramolusco, o S. mansoni causa uma
intensa espoliação no organismo do hospedeiro, havendo uma contínua drenagem de
nutrientes presentes na hemolinfa do molusco, levando a alterações na composição do
meio interno do hospedeiro (BECKER,1980; PINHEIRO ; GOMES,1994). Como
conseqüência desta drenagem, os níveis de glicose na hemolinfa são alterados, levando
a aceleração da atividade catalítica das enzimas da glicogenólise (TIELENS et al.
1992). No presente estudo, os resultados obtidos indicam que o gasto de energia
provocado pela infecção associado à exposição ao látex, causa um aumento no consumo
de adenosina trifosfato (ATP) e aceleram a glicólise. Este fato provavelmente interfere
com a locomoção do molusco, diminuindo o seu ritmo. Quando os esporocistos
primários começam a se transformar em esporocistos secundários já próximos a
glândula digestiva, ocorre a degradação de glicogênio deste órgão. As larvas se instalam
no tecido conectivo inter-folicular e banhados pela hemolinfa, recebem a glicose
originada do processo de glicogenólise e excretam substâncias, como lactato
(BEZERRA et al. 1999), produto final do metabolismo anaeróbico.
Quando comparados os dois grupos por tempo e desenvolvimento do parasito
nos moluscos, na 1
a
semana de infecção, fase em que os miracídios se modificam para
formar os esporocistos primários, ocorre, quando tratados com látex, um decréscimo do
conteúdo de glicose na hemolinfa (hipoglicemia) que provoca uma redução do conteúdo
de glicogênio na massa cefalopodal. Os níveis baixos de glicose na hemolinfa,
diminuem a glicogênese e aceleram a gliconeogênese. O efeito hipoglicêmico em
animais infectados é um sinal de regulação glicostática, observado em Lymnaea
stagnalis e em vertebrados (LIVINGSTONE; ZWAAN, 1983). A estabilidade dos
níveis de glicose na hemolinfa de B.glabrata foi verificada por Thompson; Lee (1986).
A alteração nas concentrações de glicose tecidual e na hemolinfa também foi
evidenciada em moluscos submetidos a tratamento com moluscicidas químicos e
naturais. Adewumni et al. (1988) verificaram que tanto o Bayluscide
®
quanto a planta T.
tetraptera, alteram o metabolismo de carboidratos e proteínas. Alcanfor (2001)
verificou a diminuição dos conteúdos de glicose na hemolinfa de B. glabrata submetida
ao tratamento com o extrato da folha e da casca de Stryphnodendron adstringens na
concentração de 50ppm, com extrato da folha de S. polyphyllum nesta mesma
concentração e nos extratos da folha e da casca de Caryocar brasiliense, plantas do
cerrado brasileiro. O consumo de glicogênio na glândula digestiva também foi
evidenciado por Mello-Silva et al. (2005), utilizando dose sub-letal do extrato bruto de
Solanum malacoxylon. Nos trabalhos acima, a dosagem de glicose foi realizada durante
um tempo de exposição e à concentrações diferentes.
75
Neste trabalho verificou a variação da glicose quando o molusco é submetido ao
extrato da planta por 24 horas na concentração sub letal. Com base nos resultados
obtidos no presente estudo, é possível propor que os moluscos infectados com S.
mansoni apresentam uma maior suscetibilidade à exposição ao látex de E. splendens,
apresentando uma depleção mais severa nos depósitos de carboidratos e uma quebra na
homeostase do conteúdo de glicose na hemolinfa de B. glabrata.
Nenhum registro das alterações bioquímicas que surgem nos moluscos
infectados quando expostos ao látex de E. splendens var. hislopii em sua CL
50
foi
encontrado na literatura até o presente momento. Tal fato torna o presente estudo de
grande importância para subsidiar futuros estudos acerca da aplicação do látex de E.
splendens como moluscicida natural visando o controle da esquistossomose.
76
7- CONCLUSÕES GERAIS
Com base nos resultados apresentados nos capítulos, pode-se concluir que:
1- As medidas utilizadas para o controle da esquistossomose não valorizam a
preservação do meio hídrico e dos moluscos hospedeiros.
2- O planejamento das ações para o controle das doenças, neste caso,
esquistossomose, perpassa pela mudança do ensino médico, valorizando a
transdisciplinaridade.
3- A concentração sub-letal (DC
50
) do látex de E. splendens var.hislopii
aplicada em uma única dose por 24 horas foi capaz de alterar os parâmetros
reprodutivos de B. glabrata, reduzindo principalmente o número de
caramujos eclodidos.
4- Quando expostas ao látex, exemplares de B. glabrata realiza movimentos de
escape, mesmo em concentrações muito baixas (0,2 mg/l), indicando a
toxidez deste produto para o molusco.
5- O látex de E. splendens var. hislopii causa alterações nos conteúdos de
glicose na hemolinfa e glicogênio nos tecidos (glândula digestiva e massa
cefalopodal), degradando as reservas energéticas dos moluscos propiciando a
ativação de gliconeogênese através da via protéica alternativa.
6- A alteração no metabolismo de carboidratos leva a modificações no conteúdo
de proteínas totais na hemolinfa, alterando conseqüentemente a excreção de
produtos nitrogenados, importantes para subsistência de outros organismos
aquáticos do mesmo ecótopo.
7- Os exemplares de B. glabrata infectados pelo S. mansoni e expostos a
concentração sub-letal (DL
50
) do látex de E. splendens var.hislopii reduziram
significativamente os conteúdos de glicogênio dos tecidos, a fim de manter a
homestasia glicêmica.
8- Biomphalaria glabrata infectada pelo S. mansoni, quando exposta a
concentração sub-letal (CL
50
) do látex de E. splendens var.hislopii torna-se
mais sensível e pode morrer mais rapidamente.
77
9- O moluscicida natural E. splendens var.hislopii reduz seletivamente a
população de B. glabrata infectada pelo S. manson, podendo ser utilizado
como uma das alternativas para o controle da transmissão da
esquistossomose, reduzindo a população de moluscos.
10- A planta E. splendens var. hislopii é de fácil cultivo e o látex é um produto
biodegradável, demonstrando apresentar os quesitos necessários para ser
utilizada como um moluscicida natural segundo a OMS. Há necessidade de
se criar programas para o controle da esquistossomose, associando a
educação à saúde ambiental.
78
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