85
P: [...] ela mandou pra lá pra quê?
U: Pra fazer uns exames. Ta, daí fui fazer os tais dos exames. [...]
não tá adiantando de nada, se eu não fizer alguma coisa, se eles
não me disserem o que é, se não me encaminharem pra algum
lugar, que eles façam alguma coisa pra aliviar a dor da minha perna
[...] Tem que ter alguma coisa a mais que eu possa fazer. [...] Até
hoje eu estou esperando. [...] a minha filha mora lá embaixo, perto
desse outro posto que é do campo da PUC, lá que eu consegui
fazer alguns exames mais, que a doutora lá se interessou mesmo,
ela disse: “eu vou fazer porque eu estou vendo o teu estado [...] mas
tu não pertence a esse posto aqui, mas como a tua filha mora aqui,
então tu vais fazer essas consultas como se tu estivesses morando
com ela. É essa doutora lá que me encaminhou, que me fez os
exames mais profundos que eu fiz, que me encaminhou pra
especialista [...] então agora ela mandou eu dizer pra essa aqui, pra
ela me encaminhar e fazer outros exames, então agora que eu
estou fazendo [...] dois anos. E sempre na espera.
P: E esse serviço de saúde daqui, resolve seus problemas ou não?
U: Não. Agora que me deram aqui [na UBS] essa última [referência],
que eu fui lá no hospital, que fica ali perto do colégio Rosário. [...]
que agora eu vou conseguir uma consulta, mas porque veio lá de
baixo [do outro serviço] que era pra eles me encaminharem pra um
especialista.
P: Então foi esse posto aqui [UBS] que o encaminhou?
U: Sim, agora foi ele que encaminhou, a pedido deles lá [serviço
perto da PUC]. Que eles mandaram um encaminhamento dizendo
que aqui procurassem alguma coisa pra fazer por mim. Aí foi agora
que eles me encaminharam lá pra esse hospital e hoje de noite, às
nove horas eu tenho uma consulta marcada.
A referência inicial, feita pela UBS em estudo, não obteve resolutividade
para a usuária, pois não foi dado o diagnóstico – e tampouco o tratamento – sobre o
problema em sua perna, de modo que ela continuou sentindo dores intensas. Além
disso, a referência para um serviço tão distante criou-lhe dificuldades, justamente
pelo problema da perna. Foi preciso a paciente ir, por sua conta, em busca de outro
serviço – um terceiro – para conseguir algum encaminhamento mais responsivo ao
seu problema. Marques (2004, p. 113) também evidenciou que o usuário percorre
sozinho, “a seu critério e risco”, os diferentes serviços, na busca da integralidade do
cuidado e da resolutividade.
Esse aspecto da resolutividade do encaminhamento também foi analisado
quantitativamente. Primeiramente, foi perguntado aos participantes se quando a
UBS não resolvia plenamente o problema deles, eles procuravam por sua conta
outro serviço, ou a própria UBS os encaminhava. Em 81,7% dos casos, os usuários
afirmaram que a UBS encaminhava, sendo que para esses usuários foi questionado
também se o serviço referendado resolvia os problemas (TABELA 11).