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Além de apresentarem essa variabilidade de força quantificacional, pode “ligar”
variáveis que estão além de seu escopo
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. No exemplo, (48) ‘ele’ é co-referente de ‘um burro’.
De acordo com o exposto pela autora, essa “ligação” não pode ser explicada por c-comando,
pois não há tal relação entre ambos. Esse fenômeno de ligar variáveis ocorre com ‘qualquer’,
em contraste com ‘todo’, que é tomado como quantificador universal, essa ligação não é
possível. Pires de Oliveira ilustra, através do contraste entre (48), (49) e (50), que‘qualquer’ é
um indefinido que marca a presença de uma variável.
48) Todo fazendeiro que tem um burro
1
bate nele
1
. (Pires de Oliveira, 2005).
49) Todo fazendeiro que tem um burro qualquer bate nele. (Pires de Oliveira, 2005).
50) ?Todo fazendeiro que tem qualquer burro bate nele. (Pires de Oliveira, 2005).
51) *Todo fazendeiro que tem todo burro bate nele. (Pires de Oliveira, 2005).
Seguindo Heim (1982), Pires de Oliveira defende o pronome ‘ele’ na sentença (48) é
familiar porque sua interpretação depende de haver um referente discursivo já presente no
fundo conversacional, já ‘um burro’ não é familiar, pois introduz um referente novo.
Como dito, de acordo com a autora, ‘qualquer’ pode aparecer em duas configurações
‘qualquer N’ e ‘um qualquer N’, porém, apesar de certa similaridade entre essas formas, o uso
de cada uma delas apresenta particularidades e a substituição dessas formas não é possível. Na
posição de argumento externo, sujeito, ‘qualquer N’ apresenta variabilidade de interpretação
em sentenças genéricas, podendo ter leitura genérica caracterizadora (não-cardinal), exemplo
(44). Em sentenças episódicas, ‘qualquer N’, se aceito, é interpretado como universal, embora
a sentença esteja no pretérito, como ilustrado em (52), que é interpretado como fazendo
referência a cada umas das alternativas de um grupo de alunos determinado contextualmente,
ou seja, não importa qual aluno seja escolhido, ele resolveu o problema.
52) ? Qualquer aluno resolveu o problema. (Pires de Oliveira, 2005).
‘Um N qualquer’, por sua vez, na posição de sujeito, é segundo Pires de Oliveira,
sempre interpretado como existencial. A sentença (45), por exemplo, pode ser lida com duas
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A autora destaca, que na verdade não se trata de escopo, pois enquanto variável não é quantificador e não tem
escopo.