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LILIANE EVANGELISTA VISÔTTO
CONTRIBUIÇÃO DA MICROBIOTA BACTERIANA PARA O PROCESSO
DIGESTIVO E DESENVOLVIMENTO DA LAGARTA DA SOJA (Anticarsia
gemmatalis) E CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS PROTEOLÍTICAS
ASSOCIADAS AO SEU TRATO INTESTINAL
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Bioquímica Agrícola,
para obtenção do título de Doctor
Scientiae
VIÇOSA
MINAS GERAIS – BRASIL
2007
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ii
LILIANE EVANGELISTA VISÔTTO
CONTRIBUIÇÃO DA MICROBIOTA BACTERIANA PARA O PROCESSO
DIGESTIVO E DESENVOLVIMENTO DA LAGARTA DA SOJA (Anticarsia
gemmatalis) E CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS PROTEOLÍTICAS
ASSOCIADAS AO SEU TRATO INTESTINAL
Tese apresentada à Universidade
Federal de Viçosa, como parte das
exigências do Programa de Pós-
Graduação em Bioquímica Agrícola, para
obtenção do título de Doctor Scientiae.
APROVADA: 15 de agosto de 2007
_______________________________ ____________________________
Prof. Milton H. Guerra Andrade Thiago Rennó dos Mares-Guia
_______________________________ ____________________________
Prof. Wellington Garcia Campos Profª Andréa de O. B. Ribon
(Coorientadora)
________________________________
Profª Maria Goreti Almeida de Oliveira
(Orientadora)
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iii
OFEREÇO
Aos meus pais Maria Donizetti E. Visôtto e Antônio Claret Visôtto
DEDICO
Ao meu amor Pedro e ao meu querido Théo (In Memorian)
iv
AGRADECIMENTOS
A Deus, pela sua bondade e grandiosidade infinita. Pela sua proteção,
auxílio e conforto nos momentos mais difíceis. Pela oportunidade que me
oferece de ver a beleza em cada manhã.
À minha família que mesmo distante me apoiou, incentivando meus
desejos e sonhos. Pelo amor e carinho dedicado dos meus pais. Pelo sorriso
contagiante do Juninho, pelo abraço afável do Leandro e pela doçura que
acalenta da Tatiane.
Ao meu esposo Pedro Ivo, pelo amor, compreensão e carinho
indispensáveis, que tornaram a minha vida mais cheia de luz.
À Universidade Federal de Viçosa e ao Departamento de Bioquímica e
Biologia Molecular, pela oportunidade de realização desse trabalho.
À Coordenação de Aperfeiçoamento Pessoal de Nível Superior (CAPES)
e ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico (CNPq)
pela concessão da bolsa de estudos.
À minha Orientadora Professora Maria Goreti de Almeida Oliveira, pela
orientação, compreensão e acima de tudo pela amizade, respeito e confiança
demonstrados no correr desses anos.
À Professora Andréa de Oliveira Barros Ribon, pelas sugestões e idéias
imprescindíveis no projeto e nas análises microbiológicas, que foram de grande
importância na realização deste trabalho.
Ao Professor Raul Narciso de Carvalho Guedes, pela receptividade
sempre presente, pela paciência, pela colaboração nas análises estatísticas e
principalmente pelo incentivo na execução deste trabalho.
Aos demais Professores do Departamento de Bioquímica e Biologia
Molecular, pela convivência e pelos conhecimentos transmitidos.
Ao Professor Hilário Cuqueto Mantovani, pela colaboração e pelo
empréstimo da câmara de anaerobiose.
À Professora Elza Fernandes de Araújo, à Professora Maria Cristina
Dantas Vanetti e ao Professor Everaldo Gonçalves de Barros, pela concessão
de alguns reagentes.
Aos estagiários Fabrício, Fernanda e Thiago, pela dedicação e valiosa
contribuição aos trabalhos desenvolvidos.
v
A todos os funcionários do Departamento de Bioquímica e Biologia
Molecular, que contribuíram na execução deste trabalho, especialmente ao
Eduardo, Aloízio, Denilson e Fausto.
Aos funcionários da casa de apoio, José Carlos e Marcos (In Memorian)
pela ajuda na condução dos experimentos.
Aos funcionários do Departamento de Microbiologia, Antônio, Paulo e
Pablo, pelos inúmeros favores prestados.
Aos amigos do Laboratório de enzimologia: Lílian, Eduardo, Fabrícia,
Angélica, Anderson Pilon, Franciny, Camilla, Ana Paula, Jeanne, Sandra,
Fabrício, Fernanda, Thiago, Rita, Denise, Ronnie Vond, Anderson Fazolo e
Matheus, pela convivência sempre agradável e pela descontração no trabalho.
Aos amigos do Laboratório de Virologia: Danielle, Evando e Glória pelas
ajudas indispensáveis e pelos ótimos jantares realizados por vocês.
Às amigas do Laboratório de Análises de Seqüência de DNA: Beatriz,
Cassiana, Polyane, Márcia e Gisele pela ajuda nos experimentos e pelas dicas
de beleza.
Aos meus amigos que a muito não vejo e aqueles com quem falo
diariamente, obrigada pelo apoio, companheirismo, alegrias e bons momentos
de gostosas risadas.
E, finalmente, a todos desejo:
“...que a vida não seja apenas pintada de novo, remendada às
carreiras, mas seja nova nas sementinhas do vir-a-ser, nova
até no coração das coisas menos percebidas (a começar pelo
seu interior), nova espontânea, que de tão perfeita nem se
nota, mas com ela se come, se passeia, se ama, se
compreende, se trabalha...”
Carlos Drumond de Andrade
Que Deus proteja todos vocês!!!
vi
BIOGRAFIA
LILIANE EVANGELISTA VISÔTTO, filha de Antônio Claret Visôtto e
Maria Donizetti Evangelista Visôtto, nasceu em Itajubá, no Estado de Minas
Gerais, no dia 6 de julho de 1976.
Em agosto de 1995, iniciou o curso de Farmácia e Bioquímica na
Universidade Federal de Juiz de Fora, MG, graduando-se em agosto de 2000.
Em abril de 2003, concluiu o Mestrado em Microbiologia Agrícola no
Departamento de Microbiologia, na Universidade Federal de Viçosa, Minas
Gerais.
Em 01 de agosto de 2003 iniciou o curso de Doutorado em Bioquímica
Agrícola no Departamento de Bioquímica e Biologia Molecular da Universidade
federal de Viçosa, em Viçosa, Minas Gerais, defendendo tese em 15 de agosto
de 2007.
vii
SUMÁRIO
LISTA DE FIGURAS E TABELAS............................................................ ix
LISTA DE ABREVIATURAS .................................................................... xi
RESUMO.................................................................................................. xiii
ABSTRACT............................................................................................... xv
1. REVISÃO DE LITERATURA................................................................. 1
1.1.Anticarsia gemmatalis (Hübner) (Insecta: Lepidoptera:
Noctuidae)..............................................................................................
2
1.2. Enzimas digestivas de insetos........................................................ 6
1.2.1. Lipases................................................................................... 8
1.2.2. Carboidrases........................................................................... 10
1.2.2.1. Amilases...................................................................... 10
1.2.2.2. Celulases..................................................................... 11
1.2.2.3. Xilanases..................................................................... 12
1.2.2.4. Pectinases................................................................... 13
1.2.2.5. Glicosidases................................................................ 13
1.2.4. Proteases................................................................................ 14
1.3. Proteases de insetos....................................................................... 15
1.4. Inibidores de proteases................................................................... 18
1.5. Microbiota bacteriana de insetos..................................................... 20
1.6. Fatores que influenciam a colonização microbiana do trato
intestinal de insetos................................................................................
23
1.7.Importância da Microbiota Bacteriana.............................................. 24
1.7.1. Função nutricional da microbiota............................................ 24
1.7.2. Resistência à colonização...................................................... 25
1.7.3. Interações multitróficas........................................................... 26
1.7.4. Transferência gênica bacteriana dentro do intestino.............. 26
1.7.5. Bactérias intestinais transgênicas no biocontrole................... 27
2. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 28
viii
CAPÍTULO I - Contribuição da microbiota bacteriana para o processo
digestivo e desenvolvimento de Anticarsia gemmatalis
(Lepidóptera).............................................................................................
47
RESUMO.................................................................................................. 48
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 49
2. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................... 52
2.1. Dieta artificial................................................................................... 52
2.2.Teste in vitro dos antibióticos sobre a microbiota
intestinal.................................................................................................
52
2.3. Tratamento dos insetos................................................................... 53
2.4. Detecção de microrganismos.......................................................... 53
2.5. Análises microscópicas................................................................... 54
2.6. Obtenção do extrato enzimático...................................................... 55
2.7. Ensaios enzimáticos e de proteína................................................. 55
2.8. Análise da performance do inseto................................................... 56
2.9. Análises estatísticas........................................................................ 56
3. RESULTADOS...................................................................................... 57
3.1. Antibiograma................................................................................... 57
3.2. Efeitos dos antibióticos sobre a microbiota intestinal...................... 57
3.3. Avaliação da presença de bactérias no trato intestinal através de
microscopia............................................................................................
60
3.4. Efeito dos antibióticos nas atividades enzimáticas......................... 62
3.5. Efeito dos antibióticos na performance do inseto........................... 68
4. DISCUSSÃO......................................................................................... 71
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 75
CAPÍTULO II - Caracterização de bactérias proteolíticas associadas ao
trato intestinal de Anticarsia gemmatalis (Lepidóptera)............................
81
RESUMO.................................................................................................. 82
1. INTRODUÇÃO...................................................................................... 83
2. MATERIAL E MÉTODOS..................................................................... 85
2.1. Criação de Anticarsia gemmatalis................................................... 85
ix
2.2. Isolamento de bactérias proteolíticas.............................................. 85
2.3. Extração de DNA genômico............................................................ 86
2.4. Amplificação do gene 16S rRNA bacteriano e análise por RFLP... 86
2.5. Sequenciamento do gene 16S rRNA e análises de dados............. 87
2.6. Testes bioquímicos......................................................................... 87
2.7. Teste de susceptibilidade a antimicrobianos................................... 87
2.8. Ensaios enzimáticos........................................................................ 87
2.9. Determinação da concentração de proteínas................................. 87
3. RESULTADOS...................................................................................... 89
3.1. Contagem microbiológica e isolamento de bactérias proteolíticas. 89
3.2. PCR-RFLP...................................................................................... 91
3.3. Caracterização fenotípica e identificação molecular dos isolados.. 92
3.4. Análise do perfil de resistência dos isolados aos antimicrobianos. 96
3.5. Análise dos ensaios enzimáticos.................................................... 96
4. DISCUSSÃO......................................................................................... 99
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS..................................................... 102
3. CONCLUSÕES..................................................................................... 108
4. PERSPECTIVAS.................................................................................. 109
5. AGRADECIMENTOS............................................................................ 110
x
LISTA DE FIGURAS E TABELAS
FIGURA 1: Lagarta da soja (Larva), Anticarsia gemmatalis (Hübner)... 4
FIGURA 2: Lagarta da soja (adulta) Anticarsia gemmatalis.(Hübner)... 5
FIGURA 3: Representação esquemática dos compartimentos do
intestino dos insetos...............................................................................
7
FIGURA 4: Número de UFC total e proteolítica encontrado no trato
intestinal de Anticarsia gemmatalis........................................................
59
FIGURA 5: Micrografias eletrônicas de varredura e de luz do intestino
de larvas de Anticarsia gemmatalis.......................................................
61
FIGURA 6: Inibição da atividade amidásica em função da
concentração de tetraciclina..................................................................
65
FIGURA 7: Inibição da atividade lipásica em função da concentração
de tetraciclina.........................................................................................
65
FIGURA 8: Perfil da atividade proteolítica do extrato intestinal de
Anticarsia gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval...................
66
FIGURA 9: Perfil da atividade amidásica do extrato intestinal de
Anticarsia gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval...................
67
FIGURA 10: Perfil da atividade lipásica do extrato intestinal de
Anticarsia gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval...................
67
FIGURA 11: Variação no tempo de duração do ciclo larval de
Anticarsia gemmatalis em função das concentrações de tetraciclina....
69
FIGURA 12: Variação na transformação em pupa de Anticarsia
gemmatalis em função das concentrações de tetraciclina.....................
69
FIGURA 13: Análise por RFLP do perfil de restrição do gene 16S
rRNA de bactérias isoladas do intestino de Anticarsia gemmatalis
obtidas pela digestão com Hae III (A) e Rsa I........................................
91
FIGURA 14: Dendrograma obtido pelo método do vizinho mais
próximo com base nos perfis de restrição dos doze isolados
proteolíticos, utilizando Hae III e Rsa I...................................................
92
TABELA 1: volume de antibiótico usado nos três tratamentos
testados..................................................................................................
53
TABELA 2: Efeito dos antibióticos no crescimento de bactérias
cultiváveis presentes no intestino de Anticarsia gemmatalis.................
58
xi
TABELA 3: Inibição das atividades enzimáticas do intestino de
Anticarsia gemmatalis criadas com dieta adicionadas de cloranfenicol
e de uma combinação de antibióticos....................................................
63
TABELA 4: Inibição das atividades enzimáticas do intestino de
Anticarsia gemmatalis criadas com dieta adicionadas de tetraciclina...
64
TABELA 5: Parâmetros biológicos medidos ao longo dos dias do ciclo
de vida de Anticarsia gemmatalis alimentada com diferentes
concentrações de tetraciclina.................................................................
70
TABELA 6: Número de bactérias totais e proteolíticas presentes no
trato intestinal de Anticarsia gemmatalis criadas com dieta artificial e
folhas de soja.........................................................................................
90
TABELA 7: Identificação dos isolados com base no gene 16S rRNA... 97
TABELA 8: Análises morfológicas e bioquímicas das bactérias
proteolíticas isoladas..............................................................................
95
TABELA 9: Efeito dos antimicrobianos sobre as bactérias
proteolíticas isoladas do intestino de Anticarsia gemmatalis.................
97
TABELA 10: Atividade de proteases detectada nos sobrenadantes
das culturas das bactérias isoladas do intestino de Anticarsia
gemmatalis.............................................................................................
98
xii
LISTA DE ABREVIATURAS
BHI: infusão cérebro coração
CI
50
: concentração capaz de inibir 50% da atividade
CMC: carboximetilcelulose
DGGE: gel de eletroforese em gradiente desnaturante
DMF: dimetilformamida
DNA: ácido desoxirribonucléico
dNTP: desoxirribonucleotídeo
EDTA: ácido etilenodiaminotetraacético
HMDS: hexamethyldisilazane
KDa: Kilodaltons
K
M app
: constante de Michaelis-Menten aparente
LB: Luria-Bertaini
L-BApNA: N-benzoil-L-argininil p-nitroanilida
L-TAME: Nα-tosil-L-arginil metil éster
MAG: monoacilgliceróis
MM: massa molecular
mRNA: ácido ribonucléico mensageiro
Nipagin: metilparabeno
NPβGal: paranitrofenol-β-galactosídio
NPβGlu: paranitrofenol-β-glicosídio
PCR: reação em cadeia da polimerase
pI: ponto isoelétrico
PMSF: fluoreto de fenilmetilsulfonil
RAPD: DNA polimórfico amplificado ao acaso
RFLP: reação de polimorfismo de fragmentos de restrição
rRNA: ácido ribonucléico ribossomal
SBTI : inibidor de tripsina da soja
SDS: dodecil sulfato de sódio
SDS-PAGE: eletroforese em gel de poliacrilamida contendo SDS
xiii
TAG: triacilgliceróis
Tampão TBE: Tris-Borato-EDTA
Tampão TE: Tris-EDTA
Tampão SET: salina-EDTA-Tris
TLCK: 1-cloro-3-tosilamido-7-amino-2-heptanona
T-RFLP: reação de polimorfismo de fragmentos de restrição terminal
Tris: Tris (hidroximetil) amino metano
UFC: unidade formadora de colônia
xiv
RESUMO
VISÔTTO, Liliane Evangelista, D. Sc., Universidade Federal de Viçosa, agosto
de 2007. Contribuição da microbiota bacteriana para o processo
digestivo e desenvolvimento da lagarta da soja (Anticarsia
gemmatalis) e caracterização de bactérias proteolíticas associadas ao
seu trato intestinal. Orientadora: Maria Goreti de Almeida Oliveira. Co-
orientadores: Andréa de Oliveira Barros Ribon, Raul Narciso Carvalho
Guedes e Joel Antônio de Oliveira.
Interações entre bactérias intestinais e insetos têm sido extensivamente
estudadas em alguns sistemas, como cupins e afídeos. Entretanto, pouco é
conhecido sobre a associação entre bactéria e Lepidoptera, uma das ordens
que compreende os principais insetos fitófagos, responsáveis por grandes
perdas na agricultura. Alguns autores acreditam que devido à ausência de
estruturas especializadas e ao trânsito alimentar rápido no trato intestinal de
Lepidopteras, os microrganismos contribuam pouco com a nutrição e digestão
desses insetos. Enquanto outros sugerem que a microbiota fornece nutrientes
e contribui com o metabolismo desses insetos. Essas divergências fazem com
que estudos da funcionalidade da microbiota associada às Lepidopteras
tenham um interesse particular. Portanto, a lagarta da soja, Anticarsia
gemmatalis Hübner (Lepidóptera: Noctuidae) torna-se um modelo interessante
para estudos dos processos fisiológicos envolvidos nessa associação. Neste
contexto, esse trabalho buscou compreender melhor se a microbiota afeta as
atividades das enzimas hidrolíticas do intestino de A. gemmatalis, bem como
os seus parâmetros biológicos de desenvolvimento. Tetraciclina, cloranfenicol
e uma combinação desses dois antibióticos mais ampicilina foram
incorporadas à dieta artificial em cinco doses específicas (0; 30; 40; 50; 60 e
70 µg/mL). Larvas foram alimentadas durante seu ciclo até o instar pupal. O
antibiótico mais eficiente na supressão do crescimento bacteriano foi a
tetraciclina, que alcançou uma inibição substancial nas doses testadas.
Análises microscópicas mostraram que o intestino de A. gemmatalis criadas
com dieta controle, possui uma abundante microbiota, porém com pouca
diversidade. Poucas bactérias foram visualizadas no lúmen de larvas
alimentadas com tetraciclina 70 µg/ mL, confirmando o resultado encontrado
xv
pelo método convencional de plaqueamento. Atividades enzimáticas do
extrato intestinal de larvas criadas com tetraciclina, sobre quatorze substratos
mostraram que a redução da microbiota afetou significativamente a hidrólise de
L-BApNA e tributirato ditiopropanol. A concentração que apresentou maior
efeito inibitório da atividade foi tetraciclina 70 µg/ mL. Também foi realizada a
análise do perfil enzimático ao longo do desenvolvimento pós-embrionário de
larvas criadas com dieta controle e dieta com tetraciclina 70 µg/ mL. Observou-
se um pico máximo de atividade proteásica, amidásica e lipásica entre os 4º e
6º instars em larvas com a microbiota intacta, enquanto um perfil constante foi
verificado em larvas tratadas com tetraciclina. Tais resultados podem estar
correlacionados a pupação prematura, a baixa emergência e o aumento da
mortalidade em larvas com microbiota reduzida. Esses dados sugerem que a
presença da microbiota exerce influência sobre o processo digestivo e
desenvolvimento de A. gemmatalis, contribuindo possivelmente com a
produção de proteases e lipases. Como houve influência na digestão protéica,
bactérias cultiváveis com capacidade proteolítica presentes no trato intestinal
foram isoladas, identificadas e caracterizadas. Todos os isolados foram Gram
positivos e identificados como Bacillus subtilis, Bacillus sp., Enterococcus sp. e
Staphylococcus sp.. Análises das proteases de origem dos isolados foram
realizadas utilizando diferentes substratos. Todas as bactérias foram capazes
de degradar os substratos testados com eficiência, exceto Staphylococcus sp..
Os resultados advindos desse estudo, além de contribuir o conhecimento
científico a respeito da interação Lepidoptera-microrganismo, servem como
complemento para pesquisas futuras sobre implementação de novos métodos
direcionados ao controle de pragas.
xvi
ABSTRACT
VISÔTTO, Liliane Evangelista, D. Sc., Universidade Federal de Viçosa, August,
2007. Contribution of the bacterial microbiota to the digestive process
and development of velvetbean caterpillar (Anticarsia gemmatalis) and
characterization of proteolytic bacteria associated with intestinal tract.
Adviser: Maria Goreti de Almeida Oliveira. Co-Advisers: Andréa de Oliveira
Barros Ribon, Raul Narciso Carvalho Guedes and Joel Antônio de Oliveira.
Interactions between intestinal bacteria and insects have been
extensively studied in systems such as termites and aphids. However, little is
known about the association between bacteria and the order Lepidoptera, which
comprises major phytophagous insects that cause heavy agricultural losses. A
number of authors believe that the lack of specialized structures and the rapid
food transit in the intestinal tract of Lepidopteras may cause the little
contribution of microorganisms to nutrition and digestion of these insects,
whereas other authors suggest that the microbiota provides nutrients and
contributes to insect metabolism. This difference raises particular interest in
studies on functionality of microbiota associated with Lepidopteras. The
velvetbean caterpillar, Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae),
becomes therefore a suitable model for studies on physiological processes
involved in the association. This work sought to examine whether the microbiota
may affect hydrolytic enzyme activity in A. gemmatalis intestine, as well as
developmental biological parameters. Tetracycline, chloramphenicol and a
combination of these two antibiotics along with ampicillin were added to the
artificial diet at five specific dose levels (0; 30; 40; 50; 60 and 70 µg/mL). Larvae
were fed until reach pupal stage. Tetracycline was found to be the most efficient
antibiotic for suppression of bacterial growth, with substantial inhibition at the
tested doses. Microscopic analyses showed that the intestine of A. gemmatalis
fed on control diet harbors abundant but not diverse microbiota. Few bacteria
were found in the lumen of larvae fed on 70 µg / mL tetracycline, confirming the
result found by the conventional plating method. Enzymatic activities of the
intestinal extract from larvae fed on tetracycline, on fourteen substrates, showed
that the reduction in microbiota significantly affected the hydrolysis of L-BApNA
and dithiopropanol tributyrate. Tetracycline at the dose of 70 µg / mL produced
xvii
the largest inhibitory effect. Analysis of enzymatic profile was also carried out
over the post-embryonic development of larvae fed on control diet and diet with
70 µg / mL tetracycline. Maximum proteolytic, amidolytic and lipase activities
were found between the 4th and 6th instars in larvae presenting intact
microbiota, whereas a constant profile was found in larvae fed on tetracycline.
These results can be correlated with premature pupation, low emergence and
increased mortality in larvae with reduced microbiota. The results suggest that
the presence of microbiota exerts influence on the digestive process and
development of A. gemmatalis, possibly contributing to protease and lipase
production. Because protein digestion was affected, culturable bacteria showing
proteolytic capacity were isolated from the intestinal tract, identified and
characterized. All the isolates were Gram-positive and identified as Bacillus
subtilis, Bacillus sp., Enterococcus sp. and Staphylococcus sp.. Analyses of
origin proteases from the isolates were carried out with different substrates. All
bacteria were efficiently capable of degrading the tested substrates, except
Staphylococcus sp.. These results, besides contributing to the scientific
knowledge on the insect-microorganism interaction, serve as a complement to
future research on new methods of pest control.
1
REVISÃO DE LITERATURA
2
1.1. Anticarsia gemmatalis (Hübner 1818) (Lepidoptera: Noctuidae)
A. gemmatalis, vulgarmente conhecida por lagarta da soja, é um inseto
cosmopolita, nativo das áreas tropicais e subtropicais do hemisfério ocidental
sendo permanentemente encontrado nas Américas, desde o Canadá até a
Argentina (FORD et al., 1975). No Brasil, o inseto ocorre desde o sul de Goiás
e Mato Grosso até o Rio Grande do Sul (PANIZZI et al., 1977). A larva desta
espécie é vulgarmente denominada nos EUA de “velvetbean caterpillar” devido
aos vários desfolhamentos causados a Stilozobium deeriugianum Bort,
conhecida como “velvetbean” (feijão veludo). No México ela é conhecida por
“gusano tercio pelo”, no Brasil é chamada de “lagarta-da-soja” e na Argentina é
denominada “oruga das leguminosas” (FORD et al., 1975).
Embora a soja esteja no topo da hierarquia de preferência alimentar de
A. gemmatalis, a fase imatura do inseto é generalista e pode se alimentar de
outras espécies de vegetais incluindo amendoim, kudzu (Pueraria
thunbergiana), feijão de cavalo (Cannavalia sp), algodão (HINDS &
OSTERBERGE, 1931), ervilha, erva daninha do café, folhas de trevo, arroz,
(TARRAGÓ et al., 1977) e pastagens (WILLE, 1943) dentre outras (WATERS &
BARFIELD, 1989).
A lagarta da soja é um inseto desfolhador que começa a se alimentar da
epiderme inferior e do mesófilo da folha. A partir do segundo ínstar, a lagarta já
consegue se alimentar da folha inteira, chegando a promover a completa
desfolhação da planta. O ciclo de vida da lagarta da soja se completa em cerca
de quatro semanas durante o verão, tendo sua duração aumentada no outono.
Os ovos são brancos, ligeiramente ovais, achatados na superfície inferior, com
tamanho variando entre 1 e 2 mm de diâmetro. Os ovos apresentam suportes
proeminentes para fixação ao substrato e são de cor branca no intervalo de
tempo que precede a eclosão, quando se tornam rosados (WATSON, 1916).
Pouco antes da eclosão podem apresentar coloração marrom-avermelhada
(ELISOR, 1942). Os ovos colocados nos meses de temperaturas mais altas
eclodem em cerca de três dias (ELISOR, 1942). WATSON (1916) relata que os
ovos colocados no mês de novembro (época mais fria no Hemisfério Norte) têm
um período de incubação de uma semana ou mais, o que pode torná-los
3
inviáveis. REID (1975) observou que os ovos que foram mantidos a 24 ± 2
0
C
eclodem em dois ou três dias. MOSCARDI et al. (1981) verificou o efeito da
temperatura sobre a oviposição, eclosão de lagartas e a longevidade de A.
gemmatalis. A fecundidade média variou de 310 ovos por fêmea a 32,2
0
C a
842,16 ovos por fêmea a 26,7
0
C. Em temperaturas extremas, a fecundidade
foi reduzida, sendo que as fêmeas mantidas a 21,1
0
C apresentaram uma
maior capacidade de postura do que as de 32,2
0
C . A porcentagem média de
eclosão variou de 68,6% a 21,1
0
C para 85,71% em temperaturas não
controladas. Os valores obtidos a 21,1
0
C foram significativamente baixos em
relação às outras temperaturas. WATSON (1916) observou que A. gemmatalis
faz postura isolada no lado abaxial das folhas de feijão veludo, sendo menos
freqüente nas hastes e nos pecíolos, exceto quando a densidade de ovos é
alta. GRENNE et al. (1973) verificaram que a postura é realizada durante a
noite, sendo que o pico de oviposição ocorre entre 21 e 23 horas e que a
postura é maior com o decréscimo da temperatura e o aumento da umidade,
diminuindo à medida que o orvalho acumula-se na planta. Após a eclosão, as
larvas recém-eclodidas se alimentam da casca dos ovos das quais eclodem
(WATSON, 1916).
Em geral, o estágio larval de A. gemmatalis consiste de seis instares
podendo variar de cinco a oito conforme a temperatura, idade da folha e
hospedeiro nas quais o inseto se desenvolve (WATSON, 1916; REID, 1975;
NICKLE, 1977). As lagartas criadas em temperaturas acima de 18,3
0
C
apresentaram de cinco a seis ínstares enquanto as que foram criadas em
temperaturas inferiores apresentaram de seis a sete instares (REID, 1975).
As lagartas se diferem não só pelo seu tamanho como também por
grandes diferenças morfológicas. As larvas de A. gemmatalis apresentam
variado padrão de manchas e coloração durante todo o ciclo de
desenvolvimento. A maioria das lagartas possui uma linha negra longitudinal e
um grande número de linhas estreitas brancas, amarelas ou róseas (Figura 1).
O primeiro instar tem duração de dois dias e a larva cresce de 2,5 mm a 6 ou 7
mm antes da muda. A cabeça é marrom clara, arredondada e bilobada. O
corpo da lagarta é verde claro sem nenhuma mancha e faixa longitudinal e os
prolegos do segmento abdominal 3 e 4 são menores do que os dos segmentos
5 e 6. No segundo instar, surge uma linha negra lateral e o primeiro e o
4
segundo par de prolegos abdominais estão cerca de 25 e 50% maiores que o
terceiro par, respectivamente. A duração do segundo ínstar varia de 3 a 4 dias
e a larva pode alcançar 9 mm de comprimento. O terceiro instar tem duração
de dois dias e a lagarta pode ter 16 mm de comprimento. O quarto e o quinto
instares duram entre 3 ou 4 dias e as lagartas alcançam 25 mm de
comprimento. No sexto instar a lagarta chega a quase duplicar de tamanho,
podendo medir 48 mm. O sexto instar dura cinco dias, completando 25 dias de
ciclo larval. No estágio pré-pupal a larva tem seu tamanho reduzido para 25
mm de comprimento, apresentando coloração marrom com poucas linhas
longitudinais, com duração de um dia (WATSON, 1916; GUYTON, 1940).
FIGURA 1- Lagarta da soja (Larva), Anticarsia gemmatalis (Hübner).
Fonte - http://www.biotecnologia.com.br/bio/12_h.htm.
No primeiro dia, a pupa da A. gemmatalis apresenta coloração verde
clara tornando-se marrom brilhante num período de 24 horas. A pupa é
obtecta, apresenta textura lisa e mede de 18 a 20 mm de comprimento e de 4 a
6 mm de largura. No campo, as lagartas de A. gemmatalis empupam em uma
profundidade de cerca de 2 cm da superfície do solo. A duração da fase de
pupa varia de sete a 10 dias dependendo da estação do ano (WATSON, 1916).
A mariposa adulta apresenta envergadura de 30 a 38 mm e possui asas com
distribuição de cores variando de em padrões de cinza, marrom amarelado
claro a marrom avermelhado escuro (Figura 2). Uma linha escura estende-se
nas duas asas dianteiras e ficam evidentes quando as asas são estendidas. As
5
pontas das asas têm coloração marrom clara com uma linha de pontos claros
próxima às margens (WATSON, 1916).
FIGURA 2 - Lagarta da soja (adulta) Anticarsia gemmatalis.(Hübner)
Fonte - http://www.gaipm.org/top50/velvetbean.html
As diferenças morfológicas entre os sexos foram descritas por
GREENE (1973) baseando-se no comprimento e na forma das escamas das
pernas do macho e da fêmea. GREENE et al. (1973) estudaram o
acasalamento em condições de campo, comprovando a liberação do feromônio
sexual pela fêmea como precursor da cópula. O pico de acasalamento ocorreu
duas horas após o pôr-do-sol, diminuindo gradativamente dentro de 12 horas.
LEPPLA (1976) estudou o acasalamento de A. gemmatalis em condições de
laboratório (27 ± 2
0
C), observando que o pico de acasalamento ocorreu
durante as primeiras 48 horas após emergências dos adultos, continuando em
nível reduzido até o sexto dia. A postura iniciou-se no terceiro dia, com o pico
de oviposição ocorrendo no quinto dia.
6
1.2. Enzimas digestivas de Insetos
Insetos são excelentes modelos para o estudo da função intestinal
principalmente porque existem espécies adaptadas a quase todos os tipos de
habitat e de hábitos alimentares. Além disso, o intestino é a maior interface
entre o inseto e o ambiente. Portanto, é essencial o entendimento do processo
digestivo para o desenvolvimento de métodos de controle biológico, como é o
caso do uso de plantas transgênicas no controle de insetos fitófagos. A
ocorrência de diferentes enzimas digestivas no canal digestivo de insetos é
principalmente devida à composição química da dieta ingerida por eles. É
possível que todos os insetos tenham enzimas digestivas complementares
àquelas utilizadas primariamente, em quantidades relativas que mudam em
resposta à composição da dieta (TERRA & FERREIRA, 1994).
Cerca de dois terços de todas as espécies de animais do mundo são da
classe Insecta. Este fenômeno tem sido explicado pela habilidade que os
insetos possuem em utilizar uma gama extensa de materiais orgânicos na sua
nutrição (madeira, húmus, cera, sangue, seiva, tecidos animais e vegetais, etc).
Além de digerirem materiais refratários (ex. madeira e cera), eles exploram
recursos tóxicos não acessíveis a outros animais, como os inibidores de
proteases. Essa capacidade digestiva depende das enzimas presentes e
compartimentalizadas no intestino do inseto. Por possuírem estas habilidades,
alguns podem ser classificados como pragas em culturas agrícolas, em
estocagem de alimentos e grãos, das indústrias e da saúde humana (TERRA et
al., 1996).
A organização do processo digestivo depende da compartimentalização
das enzimas digestivas e do fluxo do intestino médio que são responsáveis
pela translocação das enzimas e produtos da digestão. Segundo TERRA et al.
(1996), a digestão de polímeros dos alimentos (proteínas, amido, celulose e
hemicelulose) no intestino dos insetos acontece em três fases:
- Fase Inicial – nesta fase ocorre diminuição da massa molecular dos
polímeros através da ação de hidrolases, como tripsina, α-amilase, celulase e
hemicelulase;
7
- Fase Intermediária – os oligômeros resultantes da primeira fase são
hidrolisados em dímeros ou em dipeptídeos por hidrolases, tais como a α-
amilase e aminopeptidase;
- Fase Final – ocorre na digestão final dos dímeros que são transformados
em monômeros por hidrolases, tais como dipepetidases, maltase e celobiase.
Estes mesmos autores propuseram que a digestão inicial ocorre no
espaço endoperitrófico, a digestão intermediária e a final ocorrem no espaço
ectoperitrófico e nas células do intestino médio, respectivamente (Figura 3).
FIGURA 3- Representação esquemática dos compartimentos do intestino dos
insetos. (TERRA et al, 2000).
Os mecanismos fisiológicos da digestão extra oral e o seu
significado na organização dos processos digestivos de percevejos
predadores foram avaliados com determinações de pH, temperatura,
efeito de substratos, inibidores e parâmetros cinético-enzimáticos
(OLIVEIRA et al., 2006). Isto permitiu concluir que as glândulas salivares
de P. nigrispinus possuem enzimas hidrolíticas como amilase, lipase e
tripsina-like com pronunciada atividade catalítica as quais estão,
certamente, envolvidas no processo de predação zoofágica desse
inimigo natural.
8
O intestino médio de Lepidopteras é alvo de vários estudos relacionados
ao processo de digestão, mecanismo secretor de enzimas, caracterização de
proteases digestivas, absorção e movimento de íons, pois várias espécies
desta ordem são insetos de grande interesse econômico, pois atacam
variedades de culturas comerciais, como cereais, algodão, leguminosas, dentre
outros (TERRA et al., 1994).
SANTOS et al. (1986) demonstraram que não existe digestão no intestino
anterior em larvas de Erinnyis ello (Lepidoptera: Sphingidae). A digestão inicial
ocorre no espaço endoperitrófico do intestino médio, a digestão intermediária e
a final são realizadas por enzimas associadas ao glicocálice das células ou
ligadas a membrana microvilar. Em Spodoptera frugiperda (Lepidoptera:
Noctuidae) foram encontrados resultados similares.
Dados obtidos com larvas de Manduca sexta (Sphingidae) mostraram que
a atividade da tripsina é recuperada no lúmen do intestino médio anterior,
sendo que a maioria do mRNA para tripsina é encontrada na porção mediana
do intestino médio. Estes resultados levaram à proposição de que esta enzima
é secretada por células da porção mediana do intestino médio e carreada pelo
espaço ectoperitrófico para a porção anterior do intestino médio. Esta
organização espacial do processo digestivo é provavelmente comum para a
maioria das larvas, parecendo também ser similar em Lepidoptera adulta
(TERRA et al., 1996).
Os principais grupos de enzimas digestivas de insetos são constituídos
pelas lipases, carboidrases e proteases, sendo este último o grupo melhor
caracterizado.
1.2.1. Lipases
Lipídeos são importantes para insetos herbívoros como nutrientes e
surfactantes intestinais, os quais facilitam a absorção dos nutrientes. Os
glicero-fosfolipídeos e os fosfolipídeos das folhas (galactosil diglicerídeo,
fosfatidilcolina, fosfatidiletanolamina e os fosfatidilgliceróis) são
enzimaticamente hidrolisados no lúmen intestinal das larvas, sendo liberados
resíduos de açúcar, glicerol, ácido fosfatídico, colina e etanolamina. Pouco é
conhecido sobre as enzimas responsáveis. Esses componentes lipídicos
liberados são absorvidos pelo epitélio do intestino médio para que ocorra a
9
nova síntese de di- e triglicerídeos, e liberação como diacilgliceróis para as
lipoforinas, proteínas de transporte presentes na hemolinfa (CAMPBELL,
1990). Surfactantes presentes no lúmen intestinal solubilizam compostos
lipofílicos através da redução da tensão superficial dos fluidos intestinais.
Surfactantes produzidos por microrganismos têm sido isolados de intestino
médio de alguns insetos, embora suas contribuições in vivo não tenham sido
demonstradas (CAMPBELL, 1990).
Larvas se alimentam constantemente e esse comportamento somente é
interrompido durante a metamorfose (ZIEGLER, 1985). Como resultado, o
conteúdo dos corpos gordurosos aumenta de poucos miligramas para mais de
300 mg no final do estágio larval (FERNANDO-WARNAKULASURIYA et al.,
1988). Durante o período pupal, esses estoques de lipídeos são usados para
ajudar na metamorfose e a mariposa adulta utiliza esses estoques na demanda
de energia imposta na reprodução e vôo (ZIEGLER, 1991). Assim, a larva
acumula reservas enquanto o adulto a consome. Durante o desenvolvimento,
os corpos gordurosos mudam de tecido de reserva de lipídeos para um tecido
de mobilização de lipídeos (TSUCHIDA & WELLS, 1988); entretanto, no
presente não se tem informação sobre como essa profunda transição em
condições metabólicas dos corpos gordurosos é regulada.
De acordo com ARRESE et al. (2001), são conhecidos poucos detalhes
sobre o processo no qual ácidos graxos da dieta são digeridos e absorvidos
dentro do intestino médio e então transportados para os corpos gordurosos
para estocagem. Igualmente escasso é o conhecimento sobre como os ácidos
graxos são mobilizados dos corpos gordurosos e transportados para os tecidos
para utilização.
Uma das maiores funções do intestino médio é digerir lipídeos
provenientes da dieta, e absorver e processar os produtos da digestão para
exportar para a hemolinfa. O triacilglicerol é o mais abundante componente
lipídico da dieta e dos estoques de ácidos graxos (TURUNEN & CRAILSHEIM,
1996).
Sabe-se que a lipase atua hidrolisando os ésteres de glicerol de ácidos
graxos de cadeias longas (triacilgliceróis) em diglicerídeos, monoglicerídeos e
ácidos graxos livres. O processo digestivo tem sido caracterizado para sugerir
10
dois modelos de lipólise no lúmen do intestino médio, a completa hidrólise de
triacilgliceróis (TAG) a ácidos graxos e glicerol (WEINTRAB & TIETZ, 1973,
WEINTRAB & TIETZ, 1978; TSUCHIDA & WELLS, 1988) e a formação de
ácidos graxos e monoacilglicerol (MAG) (HOFFMAN & DOWNER, 1979; MALE
& STOREY, 1981). A lipase de triacilglicerol tem sido estudada somente em
preparações brutas de algumas poucas espécies de insetos. A enzima libera
ácidos graxos das posições 1 e 3 e mostra a preferência por ácidos graxos
insaturados (WEINTRAB & TIETZ, 1973).
1.2.2. Carboidrases
Enzimas que são capazes de realizar a completa hidrólise dos
carboidratos até monossacarídeos são denominadas carboidrases. Elas são
classificadas de acordo com a especificidade do substrato. Duas amplas
categorias distintas de carboidrases são conhecidas. Uma inclui as
despolimerases, enzimas que clivam ligações internas nos polissacarídeos e
usualmente possuem o nome do seu substrato especifico, por exemplo,
amilase, celulase e pectinase. Na segunda categoria estão incluídas as
glicosidases, que são enzimas que hidrolisam oligossacarídeos e
dissacarídeos.
1.2.2.1.Amilases
Três enzimas são conhecidas por hidrolisar preferencialmente ao longo
de cadeias glicosídicas com ligações α-1,4 que ocorrem, por exemplo, no
amido e no glicogênio. A α-amilase (EC 3.2.1.1) catalisa a endo-hidrólise das
ligações de maneira aleatória, β-amilase remove unidades de maltose
sucessivamente e glicoamilase remove sucessivas unidades de glicose a partir
da extremidade não redutora da cadeia (TERRA & FERREIRA, 1994).
Muitos insetos dependentes de amido utilizam α-amilases para o
metabolismo de carboidratos, liberando misturas de oligossacarídeos para
produção de energia. Pela sua importância, diferentes formas de α-amilases
podem ser encontradas em uma única espécie de inseto, para garantir um
eficiente processo digestivo (BAKER, 1983). Além disso, como esses insetos
são totalmente dependentes de α-amilases para sobreviverem, essas enzimas
11
são boas candidatas a alvo para biopesticidas usando inibidores de α-amilases
(FRANCO et al., 2002, SVENSSON et al., 2003).
Inibidores de α-amilase são extensivamente encontrados em muitas
sementes de plantas e em tubérculos, sendo particularmente abundantes em
cereais e legumes (FRANCO et al., 2002). Essas moléculas desempenham um
papel fundamental contra pragas e patógenos, os quais causam grandes
danos a plantações e grãos estocados. Ultimamente, inibidores de proteases e
de α-amilases estão disponíveis como fonte genética para produção de
culturas transgênicas resistentes a insetos (GATEHOUSE & GATEHOUSE,
1998).
1.2.2.2. Celulases
A digestão de celulose é realizada por uma mistura de enzimas com
diferentes especificidades. O sistema mais conhecido consiste em três classes
de enzimas: (1) exo-β-1,4-glicanases (atividade β-1,4-glicanocelobiohidrolase
EC 3.2.1.91), as quais clivam unidades de celobiose nas cadeias finais não
redutoras presentes na celulose cristalina; (2) endo-β-1,4-glicanases (EC
3.2.1.4), que clivam aleatoriamente ligações β-1,4-glicosídicas presentes nas
cadeias de celulose e (3) β-1,4-glicosidases (celobiases, EC 3.2.1.21),
responsáveis pela hidrólise de celobiose e pequenas oligocelodextrinas a
glicose (TERRA & FERREIRA, 1994).
A digestão de celulose em insetos é rara, porque o fator da dieta que
limita o crescimento dos herbívoros é a qualidade da proteína e não o tipo de
carboidrato presente. Assim, a digestão de celulose é improvável por ser
desvantajosa para o inseto que pode encontrar requerimentos nutricionais
mais fáceis de serem digeridos. Entretanto, a digestão de celulose ocorre em
vários insetos que se alimentam de dietas nutricionalmente pobres
(CAMPBELL, 1990).
Acreditava-se que insetos eram dependentes de simbiontes para a
digestão de celulose (MARTIN, 1983 e 1991), porém existem evidências de
que insetos secretam enzimas capazes de hidrolisar celulose cristalina
(SLAYTOR, 1992). Várias celulases de insetos têm sido purificadas e
caracterizadas. O sistema de celulase de larvas de Ergates faber (Coleóptera:
12
Cerambycidae) foi demonstrado em três enzimas homogêneas. A enzima 1
(MM
25 KDa; pH ótimo 4,5) é uma típica exo-β-1,4-glicanase, enquanto que as
enzimas 2 (MM 57 KDa; pH ótimo 5,2), a enzima 3 (MM 70 KDa; pH ótimo 5,2)
são ativas contra celobiose, carboximetilcelulose e celulose cristalina
(CHACARAS et al., 1983). O papel dos simbiontes de insetos que digerem
celulose está se tornando controverso, embora acredita-se que organismos
simbiontes fixadores de nitrogênio estão certamente envolvidos com o
aumento do valor nutritivo da dieta de muitos insetos.
1.2.2.3. Xilanases
Xilana é o segundo principal constituinte da fração hemicelulose presente
na parede celular de plantas, depois da celulose. A xilana é constituída por
uma cadeia principal de resíduos β-1,4-xilopiranose, que é frequentemente
substituída por unidades α-arabinofuranose e ácido metilglicurônico. Quando
ingerido pelo inseto, esse complexo polissacarídico deve ser hidrolisado à
monômeros de açúcar para a realização do metabolismo. A degradação da
biomassa hemicelulolítica e a recaptura de carbono na natureza é resultado da
ação de uma série de enzimas hidrolíticas que sequencialmente reduz o
polímero de açúcar à pequenas unidades metabolizáveis. A principal enzima
envolvida na clivagem da xilana é a endo-1, 4 β-xilanase (EC 3.2.1.8) que é
responsável pela clivagem aleatória das ligações glicosídicas internas ou em
posições específicas. Essa especificidade posicional, análoga à das proteases,
leva à hidrólise padrão de polímeros específicos até pequenos oligômeros
(BRECCIA et al., 1998).
Recentes estudos permitiram a construção de bibliotecas genômicas de
DNA microbiano isolado de tratos intestinais de insetos das ordens Isoptera
(termitas) e Lepidóptera (BRENNAN et al., 2004). Essas bibliotecas foram
avaliadas para genes que codificam proteínas com atividade de xilanase.
Várias novas xilanases com seqüências primárias e novos domínios com
funcionalidade desconhecida foram descobertos. A análise filogenética
demonstrou uma distância considerável entre a seqüência dessas enzimas e
outras xilanases conhecidas.
13
1.2.2.4. Pectinases
A pectina é um polissacarídeo ramificado constituído principalmente de
polímeros de ácido galacturônico, ramnose, arabinose e galactose. É um dos
principais componentes da parede celular das plantas, o principal componente
da lamela média e age como um cimento para agregar as células vegetais. As
enzimas pécticas são enzimas capazes de hidrolisar a pectina e são
produzidas por bactérias, fungos, leveduras, insetos, nematóides e
protozoários. Essas enzimas são classificadas de acordo com sua atividade
(SEARLE-VAN LEEUWEN et al., 1992). Não existem relatos da presença de
outras enzimas pécticas em insetos, somente de pectinases. As pectinases
(Poligalacturonases, EC 3.2.1.15) ocorrem em Orthoptera, Hemiptera,
Coleoptera, Diptera e Trichoptera (TERRA & FERREIRA, 1994).
Existem estudos relacionados a simbiontes de insetos capazes de
degradar pectina e outros carboidratos presentes nas plantas, contribuindo,
dessa forma, para a nutrição do inseto. Como é o caso das formigas
cortadoras de folhas dos gêneros Atta e Acromyrmex, que não são capazes de
se alimentar da planta bruta, mas utilizam os nutrientes líquidos que saem das
folhas que cortam como também dos fungos, Leucoagaricus gongylophorus,
que elas cultivam. Esses fungos são capazes de degradar celulose, amido,
xilana e pectina. A degradação da pectina separa as células da planta
permitindo a invasão do tecido por esses fungos. Assim, as altas
concentrações de pectinase e pectina degradada são, primariamente,
utilizadas pelo fungo para degradar os tecidos das folhas e posteriormente
liberar os nutrientes necessários para as formigas (SIQUEIRA et al., 1998).
1.2.2.5. Glicosidases
As α-glicosidases (EC 3.2.1.20) catalisam a hidrólise de resíduos não-
redutores α-1,4- glicose de aril-glicosídicos, dissacarídeos ou oligossacarídeos.
A denominação das glicosidases se baseia no monossacarídeo que doa o
grupo redutor para a ligação glicosídica e a configuração (α ou β) dessa
ligação (TERRA & FERREIRA, 1994).
As α-glicosidases já foram purificadas de várias ordens de insetos, como
Hemiptera, Coleoptera, Hymenoptera, Díptera e Lepidoptera. Várias
propriedades das α-glicosidases são similares entre as diferentes ordens,
14
como inibição pelo Tris, valores de MM que variam de 60 KDa – 80 KDa ou
são múltiplos desses valores, sugerindo a presença de enzimas oligoméricas
(ERTHAL et al., 2004; TERRA & FERREIRA, 1994).
As β-glicosidases catalisam a hidrólise de resíduos não-redutores β-1,4-
monossacarídeos de um determinado glicosídeo. Dependendo do
monossacarídeo que será removido, a β-glicosidase é denominada de β-
glicosidase, β-galactosidase, β-xilosidase e etc. Frequentemente, a mesma β-
glicosidase é capaz de hidrolisar diferentes monossacarídeos presentes nos
glicosídeos. Nesse caso, o nome β-glicosidase é usado para todas as enzimas
que removem a glicose com eficiência. As β-glicosidases de insetos são
divididas dentro de três classes, baseadas na especificidade de seus
substratos. A classe 1 inclui enzimas com atividade glicosil β-glicosidase e aril
β-glicosidase, que são ativas sobre celobiose, NPβGlu, NPβGal e lactose. A
classe 2 inclui enzimas que possuem somente atividade glicosil β-glicosidase,
por exemplo, aquelas que apenas hidrolisam celobiose e lactose com
eficiência. Finalmente, a classe 3 que é composta por enzimas com atividade
aril β-glicosidase, que atuam somente sobre NPβGlu e substratos similares
(ERTHAL et al.,2004; TERRA & FERREIRA, 1994).
1.2.3. Proteases
As proteases são responsáveis pela hidrólise de proteínas, agindo em
ligações peptídicas. São classificadas dentro do grupo 3 (hidrolases), subgrupo
4. Elas também são classificadas com base em três critérios: (1) tipo de
reação catalizada, (2) natureza química do sítio catalítico e (3) relação
evolucionária de acordo com a estrutura (BARETT, 1994).
As proteases são subdivididas em dois principais grupos, exopeptidases e
endopeptidase, dependendo do seu sítio de ação. As exopeptidases clivam as
ligações peptídicas próximas do grupamento amino ou carboxi terminal no
substrato, enquanto as endopeptidases clivam ligações peptídicas distantes do
grupo terminal do substrato. Baseado no grupo funcional presente no sítio
ativo, as proteases são classificadas dentro de quatro grupos, serino
proteases, aspartil proteases, cisteíno proteases e metalo proteases (RAO et
al., 1998).
15
1.3. Proteases de insetos
As proteases digestivas de insetos catalisam a produção de peptídeos e
aminoácidos de uma dieta protéica e são encontradas na região do intestino
médio do trato digestivo dos insetos. As serino proteases são as enzimas mais
estudadas, sendo seus representantes mais conhecidos a tripsina e a
quimiotripsina e participam de uma grande diversidade de processos
fisiológicos que incluem, além da digestão, ativação de proteínas específicas,
como nas cascatas de coagulação, no sistema imune de insetos e plantas
(WILSON et al., 1997), desenvolvimento e produção de peptídeos
biologicamente ativos (GILL et al., 1996).
Dentro das serino proteases, tripsinas e quimiotripsinas são as enzimas
mais encontradas. As tripsinas clivam, preferencialmente, as cadeias protéicas
no lado carboxila dos aminoácidos básicos, como arginina e lisina. Essa
enzima é inibida por TLCK, que promove a alquilação da histidina. O valor da
massa molecular de tripsinas varia entre 20 e 35 KDa e seus valores de pI
estão entre 4 - 5. Seu pH ótimo é alcalino, entre 8 e 9 (MARES-GUIA & SHAW,
1965). Contudo, as tripsinas isoladas de Lepidopteras possuem um pH ótimo
maior do que os valores de pH encontrados nos intestinos médios de outros
insetos (LEMOS et al., 1992).
As atividades de enzimas tripsina-like são amplamente estudadas em
várias espécies de Lepidoptera e diversas ordens como Coleoptera,
Auchenorrhyncha, Blattodea e Diptera (MUHARSINI et al., 2001; FOISSAC et
al., 2002; WAGNER et al., 2002; LOPES & TERRA, 2003, OLIVEIRA et al.,
2005; XAVIER et al., 2005). Algumas de suas propriedades assemelham-se às
tripsinas de vertebrados. No entanto, determinadas características da tripsina
de insetos contrastam com as tripsinas de vertebrados, como pH ótimo, peso
molecular, sensibilidade a íon, ponto isoelétrico e sensibilidade aos inibidores
de proteases da planta. Foi verificado que os íons cálcio não causaram
aumento da atividade ou da estabilidade nas tripsinas de insetos e que elas
são instáveis em pH ácido (SAKAL et al., 1988). O efeito de íons cálcio foi
avaliado na atividade de protease presente no intestino médio de A.
gemmatalis, onde foi observado um aumento de atividade na presença de 10 -
16
30 mM de CaCl
2
(OLIVEIRA et al., 2005).
Em vertebrados o íon cálcio impede
a agregação de moléculas da enzima, protegendo-a da autólise e
desnaturação por calor, induzindo uma mudança conformacional em sua
estrutura para uma forma mais compacta, a qual é necessária para a atividade
catalítica (SIPOS & MERKEL, 1970).
Estudos realizados em larvas de Spodoptera littoralis (Lepidoptera:
Noctuidae) e em Melolontha melolontha (Coleoptera: Scarabaeidae) sobre o
efeito de íons cálcio na atividade de tripsina em presença de EGTA e/ou
EDTA, quelantes de cálcio, demonstraram que esta enzima sofreu pequena
queda em sua atividade (5%) (LEE et al., 1995; WAGNER et al., 2002). Esse
resultado sugere que o cálcio talvez possa ter uma função na enzima desses
insetos, provavelmente, como co-fator.
OLIVEIRA et al. (2005) purificaram parcialmente a enzima tripsina-like de
A. gemmatalis. A fração parcialmente purificada mostrou três bandas com
atividade proteolítica e massas moleculares de 66 KDa, 71 KDa e 91KDa em
gel SDS-PAGE. Ensaios de especificidade enzimática, usando sete peptídeos
sintéticos contendo 13 resíduos de aminoácidos com diferença somente no 5º
resíduo foram realizados, tendo tripsina e quimiotripsina como controle.
Somente os peptídeos contendo os aminoácidos lisina e arginina (específicos
para tripsina) foram clivados por ambas, tripsina e enzima parcialmente
purificada. Esses resultados demonstraram que o intestino médio de larvas de
A. gemmatalis possui uma serino protease tripsina-like.
XAVIER et al. (2005) identificaram e caracterizaram proteases ligadas à
membrana, presentes no intestino médio de A. gemmatalis. Seus resultados
demonstraram que o extrato enzimático insolúvel foi capaz de hidrolisar a
caseína e os substratos sintéticos L-BApNA e L-TAME. Usando L-BApNA como
substrato, a atividade foi investigada na presença de vários inibidores de
proteases. Assim, EDTA, PMSF, TLCK, benzamidina e aprotinina, foram todos
capazes de inibir a atividade, com maior efeito de inibição observado com o
uso de TLCK e benzamidina. De acordo com estes resultados, concluiu-se que
o intestino médio de larvas de A. gemmatalis possui tripsina-like ligada à
membrana. Com o propósito de caracterizar melhor a atividade tripsina-like, foi
determinada a atividade ótima para o extrato insolúvel. O pH ótimo usando L-
17
BApNA e L-TAME foi 8,5 e 8,0, respectivamente, e a temperatura ótima foi de
50
o
C para ambos substratos. O efeito de cálcio na atividade foi investigado
usando L-BApNA como substrato. A atividade máxima foi obtida na
concentração de 20 mM de cálcio. Valores de K
Mapp
para L-BApNA e L-TAME
foram de 0,23 mM e 95,4 μM, respectivamente.
Múltiplas isoenzimas de tripsinas têm sido reconhecidas e o
seqüenciamento da multifamília de genes codificadores de tripsinas de insetos
tem recebido recente atenção (MAZUMDAR-LEIGTON et al., 2000;
MAZUMDAR-LEIGTON et al., 2001; DE LEO et al., 2001). As proteases
induzidas explicam o desenvolvimento da resistência do inseto aos inibidores
de proteases presentes em plantas nativas ou transgênicas (JOGSMA et al.,
1995; BROADWAY, 1995, 1996; BROWN et al., 1997; BRITO et al., 2001).
As quimiotripsinas são serino proteases, tripsina-like, que clivam
proteínas nos grupos carboxilas presentes nos aminoácidos aromáticos. A
quimiotripsina é inibida por TPCK, o qual reage na histidina. A atividade da
quimiotripsina é baixa no intestino médio de Lepidoptera. A massa molecular
varia de 20 a 30 KDa e seu pH ótimo varia entre 8-9 (TERRA et al., 1994).
A quimiotripsina de Lepidoptera possui uma atividade baixa, o que explica
o fato dela ter sido caracterizada com detalhes somente em Pieris brassicae. A
quimiotripsina dessa Lepidoptera possui um pH ótimo maior, pH 10, sua massa
molecular é de 32 KDa e foi inibida eficientemente por DFP e SBTI (LECADET
& DEDONDER, 1966). A seqüência da quimiotripsina-like de Vespa orientalis
foi determinada e mostrou semelhança com a de quimiotripsina de vertebrados
(JANY et al., 1983). Ela também age sobre o glucagon e insulina, de maneira
similar à quimiotripsina de vertebrados (BAUMANN, 1990). Entretanto possui
algumas propriedades diferentes, como sua instabilidade a pH ácido e sua
forte inibição por SBTI (SAKAL et al., 1988).
Cisteíno-proteases são enzimas proteolíticas que agem via ataque
nucleofílico do ânion sulfeto, no sítio ativo, à ligação peptídica (KUNAKBAEVA
et al., 2003). O sítio ativo de uma cisteíno protease é composto por um resíduo
de cisteína, um de asparagina e um de histidina na tríade catalítica. O ataque
nucleofílico do grupo tiol da cisteína ao carbono da carbonila do substrato,
resulta num intermediário tetraédrico. Uma ligação covalente acil-enzima é
18
formada após a clivagem da ligação peptídica. A hidrólise do acil-enzima leva à
regeneração da enzima livre (BAIRD et al., 2006).
1.4. Inibidores de Proteases
É postulado que os inibidores de proteases atuam no mecanismo de
defesa de plantas contra ataque de insetos e patógenos. Foi demonstrado em
plantas de tomate que quando ocorrem ferimentos em folhas, ocorre
rapidamente síntese de inibidores de proteases no local do ferimento (resposta
local), como também em folhas mais distantes (resposta sistêmica) (FARMER
& RYAN, 1992). Isto também já foi observado por VIEIRA et al., (2001); SILVA
et al., (2002) e FORTUNATO et al., (2004 e 2007) utilizando plantas de soja.
Diversos compostos identificados em plantas que podem regular a
expressão dos genes que codificam os inibidores de proteases são induzidos
por ferimentos; dentre eles estão oligouronídeos, ácido abscísico, metil
jasmonatos, ácido jasmônico e a sistemina. Os inibidores de proteases
representam cerca de 6% das proteínas presentes no grão de soja (BRANDON
et al., 1987)
Os inibidores de proteases exercem uma importante função de defesa
das plantas (RYAN, 1990). Os inibidores têm efeito de proteger as plantas
contra danos causados por vários tipos de pragas agrícolas, inibindo
significativamente atividades proteolíticas no intestino dos insetos (HILDER et
al., 1987). Danos causados em folhas de tomateiro por insetos mastigadores
ou por outros meios mecânicos resultam numa rápida ativação transcripcional
de inibidores de proteases. O modelo proposto por FARMER & RYAN (1992)
para genes que codificam inibidores de proteases em tomateiro mostra que um
sinal sistêmico é aparentemente necessário para a indução desses genes de
defesa.
Foi demonstrado o aumento de inibidores de proteases nas folhas ao
provocar estresse biótico e abiótico na soja, tais como, ferimento mecânico
(VIEIRA et al., 2001), infecção pelo agente causador do cancro da haste
(SILVA, et al., 2001), pulverização com ácidos graxos (BATISTA et al., 2002 a
e b), ataque por A. gemmatalis (SILVA et al., 2002; FORTUNATO et al., 2004 e
19
2007), pulverização com ácido jasmônico (OLIVEIRA et al., 2002), ataque por
mosca-branca (SILVA, et al., 2004), retirada de primórdios florais (FERREIRA
et al., 2004, 2005).
Existem quatro famílias de inibidores de proteases que atuam sobre
serino, cisteíno, metalo ou aspartil proteases (XAVIER-FILHO & CAMPOS,
1989). As mais estudadas são aquelas capazes de inibir as serino proteases,
tripsina e quimiotripsina, enzimas encontradas majoritariamente em insetos da
ordem Lepidoptera (TERRA & FERREIRA, 1994) e aqueles que inibem
cisteíno proteases comumente encontrados em insetos da ordem Coleoptera
(TERRA & FERREIRA, 1994; MATSUMOTO et al., 1997; KOIWA et al., 2000).
Geralmente os inibidores se associam fortemente com as enzimas que
eles inibem, com constante de associação da ordem de 10
7
a 10
14
M
-1
. Esta
relação é do tipo competitiva, abolindo todas as atividades da enzima cognata
(LASKOVSKI & KATO, 1980).
Tem sido sugerido que a ingestão de inibidores enzimáticos não elimina
a digestão proteolítica no intestino médio dos insetos, mas em vez disto resulta
na hiperprodução de enzimas proteolíticas. O efeito adverso ocorre de acordo
com a ingestão crônica de inibidores, o que resulta na hiperprodução
perniciosa de proteases alimentares, levando à limitação de aminoácidos
essenciais para a síntese protéica, e conseqüentemente, redução do
crescimento e do desenvolvimento do inseto (BROADWAY & DUFFEY, 1986;
BROADWAY, 1995).
PILON et al., (2006) estudaram a determinação da digestibilidade e dos
efeitos no crescimento e desenvolvimento de larvas de A. gemmatalis, assim
como a avaliaram a atividade das proteases digestivas presentes no intestino
médio da lagarta, quando alimentadas com o inibidor de tripsina benzamidina
nas concentrações 0; 0,25; 0,50 e 0,75 (% p/p de dieta artificial). Foi verificado
que a adição de benzamidina alterou significativamente a digestibilidade do
alimento protéico. Tal alteração está correlacionada com impactos negativos
ocasionados na fase larval desse inseto, tais como aumento do ciclo larval,
diminuição de ganho de peso e aumento da mortalidade. Foi verificado
também, que tanto a atividade proteolítica quanto a atividade amidásica
apresentaram maiores índices em lagartas de 5º instar. A presença do inibidor
20
alterou os perfis de atividades, sugerindo que os insetos, após a ingestão de
altas doses de inibidores de proteases, podem apresentar respostas de defesa
através da hiperprodução de proteases sensíveis à benzamidina e/ou síntese
de proteases insensíveis ao inibidor. Portanto, estes dados sugerem que
estudos aprofundados do conjunto de proteases presentes na lagarta são
necessários, para que a utilização de inibidores de protease possa ser uma
estratégia promissora no controle de A. gemmatalis.
A transferência de genes pode ser considerada como um passo crucial
no desenvolvimento de plantas resistentes a insetos, juntamente com vários
resultados positivos em plantas transgênicas resistentes a pragas via
expressão de genes de inibidores de proteases (HILDER et al., 1987; DUAN et
al., 1996; GATEHOUSE et al., 1998).
A utilização de genes que codificam inibidores de enzimas digestivas
para a obtenção de plantas resistentes contra o ataque de insetos é uma
estratégia promissora. Entretanto, para que isto ocorra é necessário que
selecione estes inibidores levando-se em consideração a fisiologia do inseto e
a bioquímica de sua digestão (FRANCO et al., 2002). Neste sentido, os
inibidores de proteases apresentam grande potencial por reduzirem ou
impedirem a atividade das enzimas digestivas dos insetos, causando-lhes
desnutrição e redução do desenvolvimento, podendo chegar até à morte.
1.5. Microbiota bacteriana de insetos
Para melhor compreensão sobre a bioquímica e fisiologia de insetos, é
necessário também que eles sejam estudados dentro de um contexto
ecológico juntamente com os microrganismos, sendo estes importantes
componentes do sistema (STEINHAUS, 1960). A microbiota intestinal
representa todo aspecto da relação microbiana, tanto de patógenos como de
mutualismo obrigatório. Os primeiros estudos realizados sobre simbiose inseto-
bactéria consideraram apenas a relação entre inseto e microrganismo
patogênico e a conseqüente produção de inseticidas microbianos. Recentes
21
pesquisas no campo da endosimbiose têm enfatizado a relação de como os
microrganismos interagem com os insetos (DILLON & DILLON, 2004).
Os insetos apresentam uma grande variação em espécies, habitat, dieta
e características estruturais de seus sistemas digestivos, fatores que afetarão
a composição de suas microbiotas gastrintestinais (STEVENS & HUME, 1998).
Microrganismos desempenham um importante papel no crescimento e
desenvolvimento de muitas espécies de insetos. Simbiontes contribuem para
reprodução, digestão, nutrição e produção de feromônio (CAMPBELL, 1990;
DASCH et al., 1984). Relações simbióticas entre insetos e suas bactérias
intestinais têm sido estudados extensivamente em muitos sistemas,
particularmente em termites e afídeos, os quais se alimentam da madeira e do
floema, respectivamente (BREZNAK & BRUNE, 1994). Entretanto, pouco é
conhecido sobre a microbiota em outros grupos de insetos, principalmente
aqueles que se alimentam de folhagens.
A quantidade de microrganismos que habitam o intestino humano (10
14
)
excede o das células somáticas e germinativas do organismo (10
13
) e essa
microbiota realiza uma atividade metabólica equivalente ao fígado humano
(BERG, 1996). Muitas espécies de insetos também são habitadas por uma
grande comunidade de microrganismos. Embora haja uma enorme variação no
número de microrganismos colonizadores de insetos, é provável que a maioria
dessas espécies abrigue uma microbiota que excede o número de suas
próprias células (DASCH et al., 1984).
Existem poucos estudos sobre o papel funcional da microbiota digestiva
dos insetos. Assim, a função da microbiota normal dos insetos, comparada à
dos seus patógenos obrigatórios, é pouco explorada. O que explica em parte,
uma das dificuldades no reconhecimento dos benefícios dessa relação
(DILLON & DILLON, 2004).
Relações descritas entre insetos e sua microbiota associada têm sido
um desafio porque muitos dos microrganismos associados não são
prontamente cultiváveis. A utilização de métodos independentes de cultura,
como 16S rRNA – DGGE (HUI, et al., 2006; REESON et al., 2003;
SCHABEREITER-GURTNER et al., 2003), RAPD (DE VRIES et al., 2001),
PCR-RFLP (LI et al., 2005), T-RFLP (MINKLEY, et al., 2006, EGERT, et al.,
22
2005) hibridização in situ (BERCHTOLD et al., 1999; DOMINGO et al., 1998) e
outros, fornecem uma oportunidade de detectar e classificar microrganismos
que não podem ser cultivados pelos métodos existentes.
Em Apis mellifera, os ovos, pupas e abelhas operárias ao emergirem
como adultos são usualmente livres de bactérias (GILLIAM, 1997). Os adultos
adquirem uma microbiota bacteriana intestinal pelo intercâmbio de alimento
com outros indivíduos na colônia e através do consumo de pólen. Os
microrganismos da microbiota de insetos - notadamente espécies de Bacillus -
são importantes para a conversão do pólen estocado em alimento para as
abelhas operárias, bem como para complementação e preservação do
alimento, sintetizando aminoácidos, vitaminas, ácidos graxos, enzimas e
substâncias antimicrobianas, além de protegerem a saúde da colônia pela
produção de antibióticos (GILLIAM, 1997).
Devido aos hábitos alimentares de dípteros adultos na natureza, a
ingestão de bactérias é inevitável. Dependendo das relações que esses
insetos possam ter desenvolvido com seus microrganismos, as bactérias
poderão ou não serem transmitidas às larvas, seja via contaminação dos ovos
ou do seu substrato alimentar no ato da oviposição. Ainda que as larvas
tenham herdado bactérias intestinais de suas progenitoras e que estas tenham
se estabelecido em seu trato alimentar, a microbiota intestinal será
continuamente renovada com a alimentação do inseto adulto na natureza
(GILLIAM, 1997).
A microbiota que tem sido alvo de estudos é a do trato digestivo de
Lutzomyia longipalpis (Díptero), do grupo dos flebotomíneos é associada à
transmissão de Leishmania spp que são agentes etiológicos de diversas
formas de leishmaniose (OLIVEIRA, et al., 2000). Os flebotomíneos, tanto os
machos como as fêmeas, alimentam-se de açúcares, provenientes de várias
fontes, como folhas, frutos e secreções de afídeos, possibilitando a ingestão de
microrganismos. As fêmeas de algumas espécies procuram proteínas
adicionais, como o sangue de vertebrados ou fluidos do corpo de outros
insetos (OLIVEIRA, et al., 2001).
A importância prática do estudo da composição da microbiota
bacteriana de L. longipalpis, assim como de outros insetos hematófagos,
23
reside no fato destes poderem ser importantes fontes de infecções tanto para
animais quanto para humanos. A presença de bactérias potencialmente
patogênicas em seus tratos digestivos representaria um risco de contaminação
no momento da alimentação (OLIVEIRA, et al., 2001).
Muitos dos microrganismos ainda não detectados devido a limitações
técnicas podem ser membros de associações importantes no trato digestivo de
cupins. Em cupins, a espécie em que a microbiota intestinal é a mais bem
estudada é a Reticulitermes flavipes. Estudos desenvolvidos com essa
espécie, empregando técnicas de biologia molecular para detecção de
microrganismos, mostram que a comunidade microbiana de seu trato intestinal
apresenta uma alta diversidade de nichos. Isto corresponde a uma grande
diversidade de espécies de microrganismos ocupando o ecossistema intestinal
de R. flavipes. Os principais grupos bacterianos já detectados, havendo
considerável diversidade de microrganismos, são bactérias pertencentes aos
grupos dos Enterococcus e Lactococcus, incluindo espécies de Desulfovibrio.
Contudo, faltam ainda maiores informações quanto à identificação de espécies
potencialmente importantes do ponto de vista nutricional e funcional para
esses insetos (BRUNE et al.,1995; THOLEN et al., 1997; HONGOH et al.,
2003).
1.6. Fatores que influenciam a colonização microbiana do trato intestinal
de insetos
A diversidade da microbiota está relacionada em parte com estruturas
especializadas presentes no intestino e com o efeito de pH, condições redox,
enzimas digestivas presentes e tipo de alimento ingerido pelo inseto (DILLON
& DILLON, 2004). Algumas considerações foram feitas a respeito da estrutura
e compartimentalização do trato digestivo de insetos. Observou-se que insetos
que apresentavam estruturas mais complexas tinham uma ampla variedade
microbiana, quando comparados com insetos cuja estrutura intestinal era mais
simples (TANADA & KAYA, 1993).
O pH e o potencial redox são importantes fatores selecionadores para
algumas espécies bacterinas. A maioria das bactérias tem um pH ótimo para o
crescimento na faixa de 6 – 7, porém existem numerosas exceções, incluindo
24
bactérias láticas que podem crescer em pH ácido (SHANNON et al., 2001).
Microrganismos aeróbios estritos crescem somente em ambientes com
potencial redox positivo e anaeróbios em potencial redox negativo. Múltiplas
adaptações têm surgido no intestino dos insetos para capacitá-los a digerir
eficientemente suas dietas e importantes variações no pH e potencial redox
fazem parte dessa adaptação (DILLON & DILLON, 2004). Algumas bactérias
ácido-tolerantes criam seu próprio ambiente com pH baixo, através da
produção de ácidos, tais como ácido lático produzido por Enterococcus no
intestino de Lymantria dispar (BRODERICK et al., 2004).
Compostos secundários de plantas têm propriedades antimicrobianas e
juntamente com o pH do intestino alteram a composição da microbiota e
particularmente favorecem espécies que são capazes de destoxificar esses
compostos tóxicos. De fato, é através dos taninos derivados da dieta que
ocorre a alteração da composição bacteriana intestinal em larvas de Acentria
ephemerella, um herbívoro aquático (WALENCIAK et al., 2002).
1.7. Importância da microbiota bacteriana de insetos
Uma das características mais comuns do sistema digestivo de uma
ampla gama de espécies de animais vertebrados e invertebrados é a presença
de microrganismos simbiontes. Os microrganismos intestinais contribuem na
digestão dos alimentos, na produção de vitaminas essenciais para o
hospedeiro e na defesa contra a patogênese bacteriana, por meio de
competição com organismos que compartilham nutrientes e sítios de anexação
(DILLON & DILLON, 2004).
1.7.1. Função nutricional da microbiota
As contribuições nutricionais da microbiota intestinal podem ocorrer de
várias formas, como a melhoria da habilidade de viver em condições de dietas
subótimas, o aumento da eficiência da digestão, a aquisição de enzimas
digestivas e o abastecimento de vitaminas. Contribuições nutricionais estão
bem estabelecidas entre o endosimbionte Buchnera sp. e afídeos (ADAMS &
DOUGLAS, 1997; DOUGLAS et al., 2001). A bactéria simbionte Buchnera sp.
fornece aos afídeos aminoácidos essenciais e nutrientes que são ausentes em
25
sua dieta. Vários trabalhos realizados com cupins reportaram que
microrganismos associados ao trato digestivo de diversas espécies desses
insetos são essenciais para sua sobrevivência, por serem fontes potenciais de
enzimas que degradam celulose e lignina, fornecendo aos seus hospedeiros
glicose e ácidos graxos que serão utilizados como fonte de energia (EUTICK et
al., 1978; SCHULTZ & BREZNAK, 1978; BRUNE & FRIEDRICH, 2000;
TANADA et al., 2006). As espiroquetas fornecem carbono, nitrogênio e a
energia necessária para a nutrição de cupins via acetogenese e fixação de
nitrogênio (OHKUMA et al., 1999; BRAUMAN et al., 2001; BREZNAK et al.,
2002). Além disso, os próprios microrganismos podem servir como fonte de
alimento para seus hospedeiros (BREZNAK et al., 1994; SLAYTOR et al.,
1997; MINKLEY et al., 2006).
Além do mais, microrganismos possuem propriedades metabólicas que
estão ausentes nos insetos e devido a isso eles agem como “microrganismos
corretores”, capacitando insetos fitófagos a superar suas barreiras bioquímicas
(DOUGLAS, 1998). Alguns microrganismos destoxificam aleloquímicos
presentes nas plantas, tais como flavonóides, taninos e alcalóides (BHAT et
al., 1998). Degradação microbiana de compostos aromáticos da planta pode
ocorrer no trato intestinal de cupins e pode contribuir com requerimento de
carbono e energia para o hospedeiro (BRUNE et al., 1995). Enzimas digestivas
de alguns insetos podem ser derivadas da microbiota, porém existem poucos
estudos que mostram contribuição da produção de hidrolases pelos
microrganismos (DILLON & DILLON, 2004).
1.7.2. Resistência à colonização
A principal função benéfica da microbiota intestinal residente em
humanos e animais domésticos é sua habilidade de resistir a colonização do
intestino por espécies não residentes, incluindo patógenos e,
conseqüentemente, prevenir infecções entéricas (BERG, 1996).
Microrganismos residentes em alguns insetos têm sido suprimidos por agentes
antimicrobianos e comparados com outros insetos que contêm uma microbiota
intacta. Larvas de Lepidoptera Homona magnanima criadas assepticamente,
mantiveram um crescimento 20 vezes maior de Bacillus thuringiensis do que
larvas criadas em ambientes não assépticos, o que sugere que as bactérias
26
intestinais influenciam o crescimento de microrganismos patogênicos nas
larvas (TAKATSUKA et al., 2000). Schistocerca gregaria germ-free foram
alimentados com dieta adicionada de Serratia marcescens, uma bactéria
patogênica de insetos (DILLON et al., 2005). Os resultados mostraram que a
densidade de S. marcescens encontrada em insetos germ-free foi cinco vezes
maior do que em insetos controle, sugerindo que a microbiota intestinal de S.
gregaria fornece proteção contra o estabelecimento de patógenos no intestino
do hospedeiro.
1.7.3. Interações Multitróficas
Alguns insetos seqüestram componentes da planta para serem usados
diretamente como componentes de feromônios ou produzirem modificações
nos precursores da sua dieta (TILLMAN, et al., 1999).
Existem evidências que compostos metabólicos produzidos por algumas
bactérias intestinais de lepidópteras estão envolvidos na síntese de produtos
importantes nas interações multitróficas. Insetos que se alimentam de plantas
são conhecidos por desencadearem várias respostas sistêmicas na planta.
Uma dessas respostas é a emissão de compostos voláteis que atraem
predadores contra seus herbívoros (ARIMURA et al., 2000). N-acilaminoácidos
são amplamente encontrados nas secreções orais de insetos, conhecidos por
serem indutores da biossíntese de compostos voláteis em plantas. Alguns
trabalhos consideram que bactérias presentes no trato digestivo de larvas de
Spodoptera littoralis estão envolvidas na síntese de N-acilaminoácidos,
sugerindo assim que essas bactérias poderiam ser incluídas em outro nível
trófico nos estudos das interações entre insetos, suas plantas hospedeiras e
predadores (SPITELLER, et al., 2000).
1.7.4. Transferência Gênica Bacteriana dentro do Intestino
As comunidades microbianas se adaptam através de várias
transferências de genes e pela transconjugação entre cepas bacterianas
presentes nos intestinos dos insetos, sendo essa adaptação importante tanto
para os microrganismos quanto para o inseto hospedeiro (WATANABE et al.,
1998). O bacilo Yersinia pestis é encontrado na flora intestinal de pulgas.
Estudos realizados com E. coli contendo plasmídeo de resistência a antibiótico,
27
mostraram que a transferência do gene para Y. pestis ocorreu no intestino
médio da pulga após 3 dias de coinfecção, e 95% das pulgas coinfectadas
continham Y. pestis transconjugantes resistentes a antibiótico após 4 semanas
(HINNEBUSCH et al., 2002).
1.7.5. Bactérias Intestinais Transgênicas no Biocontrole
Bactérias intestinais transgênicas são uma alternativa na estratégia de
controle de insetos-praga e doenças, porém um estudo mais detalhado sobre a
colonização, persistência e mecanismos de transmissão dessas bactérias é
necessário antes da implementação dessa estratégia. Bactérias simbiontes de
Rhagoletis completa foram modificadas via transformação para expressar
proteínas transgênicas no intestino de moscas (PELOQUIN et al., 2002).
Bactérias residentes no intestino de Cydia pomonella L. (Lepidoptera:
Tortricidae) foram isoladas e testadas quanto a capacidade inseticida contra
esse inseto (ERTÜRK & DEMIRBAG, 2006).
Esta Tese segue as normas da Associação Brasileira de Normas
Técnicas (ABNT) com os seguintes capítulos:
1 Contribuição da microbiota bacteriana para o processo digestivo e
desenvolvimento de Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae).
2 Caracterização de bactérias proteolíticas associadas ao trato
intestinal de Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae).
28
2.0. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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47
CAPÍTULO I
CONTRIBUIÇÃO DA MICROBIOTA BACTERIANA PARA
O PROCESSO DIGESTIVO E DESENVOLVIMENTO DE
Anticarsia gemmatalis (LEPIDOPTERA)
48
CONTRIBUIÇÃO DA MICROBIOTA BACTERIANA PARA O PROCESSO
DIGESTIVO E DESENVOLVIMENTO DE Anticarsia gemmatalis
(LEPIDOPTERA)
RESUMO- Muitos estudos têm sido realizados a respeito da caracterização da
diversidade da microbiota intestinal de insetos. Entretanto, pouco se conhece
sobre o papel funcional desses microrganismos, principalmente em
Lepidopteras, um grupo que compreende insetos fitófagos, sendo muitos deles
pragas agrícolas. Neste contexto, esse trabalho buscou compreender melhor
se a presença da microbiota afeta as atividades das enzimas hidrolíticas do
intestino de Anticarsia gemmatalis (Hübner) (Lepidóptera: Noctidae), bem como
os seus parâmetros biológicos de desenvolvimento. Tetraciclina, cloranfenicol e
uma combinação desses dois antibióticos mais ampicilina foram incorporadas à
dieta artificial em cinco doses específicas. Larvas foram alimentadas durante
seu ciclo até o instar pupal. A inibição das atividades enzimáticas foi
determinada utilizando-se extrato intestinal de larvas do 5º instar. A influência
da microbiota sobre o perfil enzimático durante o período larval foi avaliada em
todos os instars, na presença de quatorze diferentes substratos. O efeito dos
antibióticos sobre a microbiota foi avaliado através de métodos microbiológicos
de cultivo convencionais e microscopia. Os resultados mostraram que o
tratamento com tetraciclina foi eficiente na inibição da atividade amidásica e
lipásica, o que foi reforçado pela análise do perfil dessas enzimas durante o
desenvolvimento do inseto. O tratamento com tetraciclina também apresentou
um melhor efeito inibitório sobre bactérias cultiváveis totais e proteolíticas.
Verificou-se que o ganho de peso larval foi mais rápido nas concentrações
acima de 50 µg x mL
-1
de tetraciclina. Como conseqüência observou-se uma
pupação prematura e uma diferença significativa na viabilidade pupal entre
larvas controle e larvas criadas com tetraciclina. A mortalidade foi maior entre
os insetos alimentados com tetraciclina do que nos insetos controle. Deste
modo, conclui-se que bactérias presentes no trato intestinal de A. gemmatalis
possuem um papel importante na digestão de proteínas, lipídios e no
desenvolvimento desse inseto.
PALAVRAS-CHAVE: contribuição da microbiota intestinal, digestão de insetos,
serino-protease, lipase, desenvolvimento, Anticarsia gemmatalis
49
1. INTRODUÇÃO
O trato intestinal de insetos abriga uma ampla variedade de
microrganismos devido a sua contínua exposição ao ambiente externo. Uma
vez no intestino, os microrganismos podem crescer, ser lisados por enzimas ou
excretados (WALKER et al., 1999). Algumas espécies permanecem no
intestino e exercem papéis importantes na nutrição, desenvolvimento,
resistência a patógenos e reprodução do inseto hospedeiro.
Interações simbióticas nutricionais entre inseto-microrganismo têm sido
amplamente pesquisadas nas últimas décadas em vários sistemas (SCHULTZ
& BREZNAK, 1978; CRUDEN & MARKOVETZ, 1987; BREZNAK & BRUNE,
1994; DOUGLAS et al., 2001; GENTA et al., 2006). Sabe-se que a contribuição
nutricional da microbiota intestinal pode ocorrer de várias formas como a maior
habilidade de sobrevivência em condições de dietas subótimas, o aumento da
eficiência da digestão, a aquisição de enzimas digestivas e o abastecimento de
vitaminas (DILLON & DILLON, 2004). Por exemplo, os microrganismos
associados ao trato digestivo das diversas espécies de cupins são essenciais
para a sobrevivência desses insetos por serem fontes potenciais de enzimas
que degradam celulose e lignina, fornecendo aos seus hospedeiros glicose e
ácidos graxos que serão utilizados como fonte de energia. Espiroquetas
fornecem carbono, nitrogênio e energia necessários para a nutrição de cupins
via acetogênese e fixação de nitrogênio (BREZNAK, 2002). A eliminação de
bactérias presentes em Periplaneta americana resultou na diminuição da
capacidade reprodutiva e na incapacidade de biosíntese da metionina e
cisteína (CRUDEN & MARKOVETZ, 1987).
Novas xilanases com seqüências primárias não usuais e novos domínios
de funcionalidade desconhecida foram descobertas numa análise realizada
com métodos independentes de cultivo em tratos intestinais de insetos das
ordens Isoptera e Lepidoptera (BRENNAN et al., 2004). A análise filogenética
demonstrou uma diversidade considerável entre a seqüência dessas enzimas e
outras xilanases conhecidas, sugerindo que são de origem microbiana.
Sabe-se também que a eliminação de simbiontes intracelulares
(Buchnera) em afídeos afeta diretamente a nutrição e fisiologia do inseto,
causando redução no seu desenvolvimento e falência reprodutiva
50
(WILKINSON, 1998; DOUGLAS et al., 2001). Além do mais, os microrganismos
possuem propriedades metabólicas que estão ausentes nos insetos e devido a
isso eles agem como “microrganismos corretores”, capacitando insetos
fitófagos a superar barreiras bioquímicas (DOUGLAS, 1998).
Vários estudos investigaram a diversidade microbiana, utilizando
técnicas de cultivo tradicionais e métodos independentes de cultivo, presente
no intestino de Lepidopteras, uma ordem que compreende mais de 150.000
espécies de insetos (SHANNON et al., 2001; SITTENFELD et al., 2001;
BRODERICK et al., 2004; ERTÜRK & DEMIRBAG, 2006). Entretanto, pouco
se conhece sobre o papel funcional dos microrganismos associados à
Lepidopteras. Alguns autores acreditam que devido à ausência de estruturas
especializadas e ao trânsito alimentar rápido no trato intestinal de
Lepidopteras, microrganismos contribuam pouco com a sua nutrição e digestão
(APPEL, 1994; BIGNELL & EGGLETON, 1995). Enquanto outros sugerem que
a microbiota fornece nutrientes e contribui com o metabolismo desses insetos
(CAMPBELL, 1990; BRODERICK et al., 2004). Essas divergências fazem com
que estudos da funcionalidade da microbiota associada às Lepidopteras
tenham um interesse particular.
Como estudo preliminar do papel das bactérias intestinais em
Lepidopteras, foi utilizado como modelo Anticarsia gemmatalis, que é
considerada praga da cultura da soja, sendo economicamente importante em
função das grandes perdas que ocasiona a esta lavoura (GALLO et al., 2002).
Esse trabalho investigou a possibilidade da microbiota intestinal de A.
gemmatalis aumentar a eficiência da digestão através do fornecimento de
enzimas digestivas, tais como carboidrases, lipase, proteases e
consequentemente melhorar o desenvolvimento desse hospedeiro. Embora,
estudos de caracterização das proteases digestivas deste inseto tenham sido
realizados (OLIVEIRA et al., 2005; XAVIER, et al., 2005; PILON, et al., 2006),
nenhum levou em consideração se essas enzimas são de origem bacteriana.
Espera-se, com o presente trabalho averiguar se as enzimas digestivas
de A. gemmatalis são oriundas do próprio inseto ou se os microrganismos
participam dessa produção, ao ponto de afetar a atividade dessas enzimas e
os parâmetros biológicos desse inseto. Essa hipótese foi testada utilizando
51
larvas de A. gemmatalis criadas com dieta artificial controle (sem antibiótico) e
adicionada de antibiótico. Foi avaliada a percentagem de inibição da atividade
enzimática no trato intestinal desses insetos usando diversos substratos
protéicos, polissacarídeos e lipídicos. Os parâmetros de desenvolvimento
larval pós-embrionário e a influência na fisiologia do inseto também foram
considerados.
52
2. MATERIAL E MÉTODOS
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Enzimologia,
Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do Instituto de Biotecnologia - BIOAGRO
da Universidade Federal de Viçosa.
2.1. Dieta artificial
A dieta artificial utilizada para a criação dos insetos foi desenvolvida por
HOFFMAN-CAMPO et al. (1985), autoclavada e estocada a 4°C. Todos os
reagentes foram adquiridos da Sigma – Aldrich Química Brasil (São Paulo, SP,
Brasil), exceto o ácido ascórbico e o nipagin, os quais foram obtidos da Synth-
LabSynth (São Paulo, SP, Brasil). O feijão, o germe de trigo, a proteína de soja,
o levedo de cerveja e a solução vitamínica foram obtidos no mercado local.
2.2. Teste in vitro dos antibióticos sobre a microbiota intestinal
Antibióticos foram testados para avaliar a sensibilidade da microbiota
intestinal e determinar quais seriam os mais efetivos na eliminação dos
microrganismos. Foi utilizada a técnica de disco de difusão em meio sólido,
também chamada de antibiograma, onde 100 µL de extrato intestinal de A.
gemmatalis no 5° instar foram inoculados em meio Luria-Bertaini (LB) e discos
contendo antibióticos com concentrações conhecidas foram aplicados de
acordo com as recomendações do fabricante (Oxoid Unipath Limited,
Basingstoke, Hamphire, United Kingdom), em câmara de fluxo lâminar. Os
antibióticos testados foram: espiramicina (100µg), espectomicina (10µg),
norfloxacina (2µg), nitrofurantoína (50µg), furazolidona (15µg), sulfato de
colistina (10µg), neomicina (10µg), cefalotina (30µg), cefotaxima (30µg),
vancomicina (30µg), cefoxitina (30µg), penicilina G (10µg), estreptomicina
(10µg), tetraciclina (30µg), ácido nalidíxico (30µg), cloranfenicol (30µg),
imipenema (10µg), gentamicina (10µg), perfloxacina (5µg), oxacilina (1µg),
ampicilina (10µg), eritromicina (15µg). As placas foram incubadas em duplicata
por 24h a 30°C. Os halos de inibição formados ao redor dos discos de
antibióticos foram medidos em milímetros, analisados quanto ao grau de
sensibilidade ou resistência utilizando a tabela de interpretação do diâmetro de
53
halo de diferentes antibióticos (MADIGAN et al., 2000) e representados por R
(Resistente), I (Intermediário) e S (Sensível).
2.3. Tratamento dos insetos
O experimento foi realizado com três tratamentos diferentes, utilizando
os antibióticos que foram mais eficazes no teste in vitro. Os antibióticos foram
adicionados à dieta artificial durante seu preparo: tetraciclina solução estoque
10 mg/ mL (tratamento 1), cloranfenicol solução estoque 5 mg/ mL (tratamento
2) e uma mistura de tetraciclina, cloranfenicol e ampicilina solução estoque 5
mg/ mL (tratamento 3). Os tratamentos eram constituídos de seis
concentrações finais diferentes de cada antibiótico (0, 30, 40, 50, 60 e 70 µg/
mL). Após a eclosão dos ovos, 100 lagartas foram coletadas para cada uma
das concentrações de cada tratamento e criadas individualmente dentro de
potes plásticos, em câmaras climatizadas a 25 °C, com umidade relativa de 60
± 10% e fotoperíodo de 14 horas. Toda manipulação da dieta e lagartas foram
realizadas em câmaras de fluxo laminar.
TABELA 1-
Volume dos antibióticos utilizados nos três tratamentos testados
Volume de antibiótico (mL)
Concentração final (µg/ mL) de
antibiótico em 500 mL de dieta
Tetraciclina
Cloranfenicol Ampicilina
0 0 0 0
30 1,5 3 3
40 2,0 4 4
50 2,5 5 5
60 3,0 6 6
70 3,5 7 7
2.4. Detecção de microrganismos
Cinco lagartas de cada tratamento foram selecionadas no 5º instar,
colocadas a -20 °C para a diminuição de suas atividades vitais e,
posteriormente, processadas em câmara de fluxo laminar, onde foram
submetidas à desinfecção superficial em etanol 70 % (v/v) seguida por duas
lavagens em água destilada estéril. As lagartas foram dissecadas e os tratos
digestivos obtidos foram mergulhados em solução salina 0,85% estéril, onde
foram homogenatos. Para a contagem das unidades formadoras de colônia
54
(UFCs), diluições seriadas foram realizadas, em 900 μL de solução salina 0,85
% estéril e 100 μL destas diluições foram plaqueadas no meio Luria-Bertaini
(LB), composto por 10 g de triptona bacteriológica, 5 g de extrato de levedura,
10 g de cloreto de sódio e 15 g de ágar em 1000 mL de água destilada e no
meio ágar caseinato de cálcio segundo Frazier e Rupp modificado (Merck) para
detecção de bactérias proteolíticas. O meio caseinato de cálcio é indicador de
proteólise, ou seja, bactérias que produzem proteases extracelulares formam
um halo de clarificação ao redor de suas colônias, indicando que houve
degradação do caseinato. As placas foram incubadas em triplicata a 30 °C, por
24 horas.
2.5. Análises microscópicas
As imagens de estereomicroscopia foram obtidas dos tratos intestinais
de lagartas no 5º instar criadas com dieta sem a adição de antibiótico e com
dieta adicionada de tetraciclina 70 µg/ mL. Os intestinos foram dissecados em
solução fisiológica 0,85% em estereomicroscópio e tiveram seus intestinos
transferidos para solução fixadora de paraformaldeido a 4% em tampão fosfato
0,1 M pH 7,2 e deixados “overnight”. A seguir, os intestinos foram desidratados
em uma série crescente de álcool (70%, 80%, 90%, 95%), sendo deixados por
10 minutos em cada solução. Para a realização da microscopia eletrônica de
varredura, os intestinos foram transferidos para HMDS (hexamethyldisilazane)
por 5 min, secados ao ar livre, recobertas com uma camada de 20 nm de ouro
e analisados em microscópio de varredura JEOL. Para a microscopia de luz,
após a desidratação em etanol 95% as amostras foram transferidas para
embebição em resina metacrilato e deixados “overnight”. Foi feita a substituição
de resina de embebição pela resina de inclusão. Os intestinos foram então
transferidos para suportes para endurecimento por 24 h. Os blocos foram
colocados em suportes e cortados em micrótomo. A espessura dos cortes foi
de 5 µm. Os cortes foram pescados em lâminas, deixados secar ao ar por
cerca de 12 h. Após esse período as lâminas foram coradas com Hematoxilina
e Eosina por 7 e 2 minutos, respectivamente.
55
2.6. Obtenção do extrato enzimático
Para análise do efeito dos antibióticos, intestinos de lagartas no 5° instar
de todos os tratamentos foram extraídos após dissecação em presença de HCl
10
-3
M a 4 ºC. Para avaliação do perfil de atividade enzimática ao longo do
desenvolvimento, tratos intestinais foram extraídos de larvas de 1°, 2°, 3°, 4°,
5°, 6° instar e pré-pupa em presença de HCl 10
-3
M a 4°C. Os extratos
enzimáticos foram obtidos através do rompimento celular resultante de nove
ciclos de congelamento em nitrogênio líquido e descongelamento em banho-
maria a 37 ºC, conforme metodologia utilizada por OLIVEIRA et al., (2005).
Após os ciclos, frações de 1 mL dos extratos foram centrifugadas em tubos
plásticos de 2 mL com tampas a 10.000 g por 30 min a 4 ºC. Os sobrenadantes
contendo o material solúvel foram retirados e mantidos a -18ºC para análises
posteriores.
2.7. Ensaios enzimáticos e de proteína
A concentração de proteína foi determinada segundo a metodologia de
BRADFORD (1976), usando soluções de albumina sérica bovina (BSA) de 0 a
0,2 mg/ mL como padrão.
A atividade proteolítica foi determinada usando azocaseína como
substrato na concentração final de 2 % (p/v). O tempo de incubação foi de 30
min, o qual foi interrompido por adição de ácido tricloroacético 10 % (p/v). Após
a interrupção, as amostras foram centrifugadas a 8.000 g por 5 min para
remover a proteína precipitada e NaOH 1 M foi adicionado ao sobrenadante e a
atividade, então, foi determinada a 440 nm de acordo com KUNITZ, (1947)
modificado por OLIVEIRA et al. (1993). A atividade amidásica foi determinada
como descrito por ERLANGER et al. (1961), utilizando N-α-benzoil-L-Arg-p-
nitroanilida (L-BApNA) como substrato na concentração final de 0,5 mM em
tampão Tris-HCl 0,1 M (pH 8,2 a 25 °C) contendo 20 mM CaCl
2
e 1 % de
dimetilformamida (DMF, v/v). A atividade de cisteíno protease foi determinada
como citado para a atividade amidásica com adição de inibidor de tripsina-like,
benzamidina na concentração de 1,0 mM. A atividade esterásica foi
determinada utilizando N-α-p-tosyl-L-Arg metil ester (L-TAME; 0,10 mM) como
substrato em tampão Tris-HCl 0,1 M (pH 8,2) (HUMMEL, 1959).
56
Os ensaios de atividade de carboidrases sobre os açúcares redutores,
melibiose, lactose, manose e maltose (todos na concentração 40 mM) foram
realizados por meio da medida de formação de glicose, pelo método da glicose
oxidase (STENBERG et al., 1970), utilizando um kit comercial (BIOCLIN).
Ensaios para a atividade de carboidrases foram realizados com os açúcares
não redutores rafinose (40 mM), xilana (1 %), carboximetilcelulose (CMC) (1 %)
e pectina (1 %) com o uso do reagente dinitrossalicilato (DNS) (MILLER, 1956).
A atividade de amilase foi determinada utilizando-se o kit enzimático (BIOCLIN)
baseado na metodologia de CARAWAY (1959) modificada.
A atividade de lipase foi determinada com o kit enzimático (BIOCLIN),
utilizando tributirato ditiopropanol como substrato, segundo a metodologia de
CHERRY & CRANDALL (1932) modificada. Todos os ensaios enzimáticos
foram realizados numa série de três repetições.
2.8. Análise da performance do inseto
O experimento foi montado em delineamento de blocos ao acaso, sendo
que cada concentração de antibiótico foi testado através de cinco repetições,
cada uma constituindo-se de grupos de 10 lagartas individualizadas. Dietas
com e sem antibióticos foram oferecidas aos insetos de acordo com cada
tratamento estabelecido. O estágio pós-embrionário e os parâmetros
fisiológicos de cada lagarta foram acompanhados até a fase adulta (PILON et
al., 2006). As lagartas foram mantidas em condições de temperatura a 25°C e
a pesagem das lagartas foi feita diariamente em balança analítica.
2.9. Análises estatísticas
A relação entre efeito inibitório da atividade e concentração-resposta foi
submetida à análise de regressão, por intermédio do procedimento PROC
PROBIT (SAS Institute, 1989. As análises do perfil enzimático e da
performance do inseto foram realizadas utilizando regressão do programa
SIGMA PLOt (versão 10.0).
57
3. RESULTADOS
3.1. Antibiograma
A eficiência dos antibióticos em reduzir o crescimento bacteriano do
extrato intestinal de A. gemmatalis foi avaliada in vitro e os resultados estão
apresentados na tabela 2. Dos 22 antibióticos testados, 10 foram capazes de
inibir o crescimento bacteriano. Três mais efetivos foram selecionados,
tetraciclina, cloranfenicol e ampicilina, devido à ação bactericida e a facilidade
de compra. Depois foram administrados às larvas de A. gemmatalis através de
três tratamentos diferentes: tetraciclina, cloranfenicol e uma combinação de
antibióticos (tetraciclina + cloranfenicol + ampicilina) nas concentrações de 0,
30, 40, 50, 60, 70 µg/ mL. Os antibióticos foram adicionados à dieta artificial e
seus efeitos no número de bactérias totais, proteolíticas e no desenvolvimento
do inseto foram avaliados.
3.2. Efeitos dos antibióticos sobre a microbiota intestinal
O resultado do efeito dos antibióticos sobre a microbiota total aeróbica
cultivável, determinado pela contagem do número de unidades formadoras de
colônia por mg de intestino, está representado na figura 1A. Dos três
tratamentos avaliados, o tratamento com tetraciclina foi o que obteve melhor
desempenho na redução do número de bactérias viáveis, quando comparado
aos tratamentos com cloranfenicol e a combinação de tetraciclina +
cloranfenicol + ampicilina. A contagem de bactérias totais variou entre 0,704 x
10
4
a 0,536 UFC x mg
-1
de intestino no tratamento com cloranfenicol, entre
1,144 x 10
4
a 0,376 UFC x mg
-1
de intestino no tratamento com a combinação
de antibióticos e entre 0,692 x 10
4
a 0,204 UFC x mg
-1
de intestino no
tratamento com tetraciclina. Nos três tratamentos nota-se um grande número
de bactérias presentes no trato intestinal de A. gemmatalis quando exposta a
dieta sem antibiótico. Porém essa população diminui com o aumento da
concentração do antimicrobiano, principalmente nas concentrações superiores
a 50 µg/ mL. No tratamento com tetraciclina as concentrações que
apresentaram melhor efeito inibitório foram a partir de 30 µg/ mL, alcançando
uma redução significativa, quando comparada ao tratamento sem antibiótico.
58
TABELA 2
Efeito dos antibióticos no crescimento de bactérias cultiváveis presentes no
intestino de Anticarsia gemmatalis
Antibióticos Concentração por disco
(µg)
Inibição do crescimento
bacteriano
Ácido nalidíxico 30 R
Ampicilina 10 S
Cefalotina 30 R
Cefotaxima 30 R
Cefoxitina 30 R
Cloranfenicol 30 S
Eritromicina 15 S
Espectomicina 10 R
Espiramicina 100 S
Estreptomicina 10 R
Furazolidona 15 I
Gentamicina 10 R
Imipemena 10 S
Neomicina 10 R
Nitrofurantoína 50 S
Norfloxacina 2 R
Oxacilina 1 R
Penicilina G 10 I
Perfloxacina 5 R
Sulfato de
colistina
10 R
Tetraciclina 30 S
Vancomicina 30 S
R= resistente
S= sensível
I= intermediário
59
Concentração de antibióticos (mg x mL
-1
)
0 20406080
UFC Proteolítica x mg
-1
intestino (Escala Log)
0.001
0.01
0.1
1
10
100
1000
10000
FIGURA 1- Número médio de bactérias totais (A) e proteolíticas (B)
encontradas no trato intestinal de larvas de Anticarsia gemmatalis criadas com
diferentes concentrações de tetraciclina (), cloranfenicol () e tetraciclina,
cloranfenicol e ampicilina ().
Concentração de antibióticos (μg x mL
-1
)
0 20406080
UFC Total x mg
-1
intestino (Escala Log)
0.01
0.1
1
10
100
1000
10000
A
B
60
Também foi avaliada a eficiência dos antibióticos na diminuição do
número de bactérias produtoras de proteases em meio indicador agar
caseinato de cálcio. A figura 1B compara o número de bactérias proteolíticas
encontradas nos três tratamentos. A contagem de bactérias proteolíticas variou
entre 400 a 0,12 UFC x mg
-1
de intestino utilizando cloranfenicol, entre 520 a
0,16 UFC x mg
-1
de intestino utilizando a combinação de antibióticos e 280 a
0,004 UFC x mg
-1
de intestino utilizando tetraciclina. Deste modo verificou-se
que todos os antibióticos administrados foram eficientes na inibição do
crescimento de bactérias proteolíticas. Porém a tetraciclina obteve melhor
resposta independente da concentração testada.
3.3. Avaliação da presença de bactérias no trato intestinal através de
microscopia
A análise microscópica das amostras obtidas do intestino de A.
gemmatalis mostrou a presença de um abundante número de bactérias, porém
com tipos morfológicos limitados. O tipo bacteriano predominante foram cocos,
os quais estavam arranjados isolados, aos pares e em cadeias curtas. Os
bacilos também estavam presentes em menor número. Não foi visualizada a
presença de espiroquetas, fungos e protozoários.
A microscopia eletrônica de varredura mostrou a presença de cocos
aderidos ao epitélio intestinal assim como no lúmen do intestino (Figura 2). Nos
dois tratamentos estudados percebe-se a presença de microbiota associada ao
intestino da A. gemmatalis, com uma abundância maior verificada na parte
posterior do intestino médio. Poucas bactérias foram observadas no intestino
de lagartas criadas com dieta acrescentada de tetraciclina. O resultado obtido
através da microscopia de luz reforça tanto a microscopia eletrônica de
varredura como a contagem de UFC. Nota-se a presença de um número
variável de bactérias no lúmen intestinal, sendo esse número reduzido em
lagartas criadas com dieta com tetraciclina.
61
FIGURA 2. Micrografias eletrônicas de varredura e de luz do intestino de larvas
de Anticarsia gemmatalis. (A) Epitélio do intestino de lagartas criadas em dieta
artificial na ausência de antibiótico, barra = 30 µm; (B) lúmen intestinal de
lagartas criadas em dieta artificial na ausência de antibiótico, barra = 20 µm;
(C) e (D) lúmen intestinal de lagartas criadas em dieta artificial com 70 µg/ mL
de tetraciclina, barra = 10 µm e 20 µm, respectivamente; (E) lúmen intestinal de
lagartas criadas em dieta artificial na ausência de antibiótico (400x), (F) lúmen
e parte do epitélio intestinal de lagartas criadas em dieta artificial com 70µg/ mL
de tetraciclina (100x), barra = 20 µm. As setas mostram a presença de
bactérias.
A
D
C
E F
B
62
3.4. Efeito dos antibióticos nas atividades enzimáticas
O efeito dos antibióticos sobre as enzimas digestivas de A. gemmatalis
foi avaliado nos três tratamentos realizados e expresso em porcentagem de
inibição. Foram utilizados 14 diferentes substratos para averiguar a
porcentagem de inibição das atividades de proteases, lipases e carboidrases
provenientes de lagartas no 5º instar tratadas com diferentes concentrações
dos antimicrobianos. No tratamento com cloranfenicol e com a combinação de
antibióticos todos os substratos sofreram hidrólise, porém em todos os casos a
análise de regressão mostrou que não houve diferença significativa (P > 0,05)
entre as porcentagens de inibição nos diferentes níveis de concentração do
antibiótico, indicando desse modo que esses tratamentos não afetaram as
atividades das enzimas digestivas de A. gemmatalis (Tabela 3).
Na presença de tetraciclina, não houve diferença significativa (P > 0,05)
entre as concentrações de antibiótico e a porcentagem de inibição da atividade
sobre os substratos amido, melibiose, rafinose, carboximetilcelulose, pectina, L-
TAME e L-BApNA com benzamidina (Tabela 4). Já a inibição das atividades
sobre lactose, maltose, manose e xilana foi significativa (P < 0,01), porém
esses resultados foram altamente variáveis, não havendo uma relação
proporcional entre a inibição e o aumento da dose de tetraciclina (Tabela 4). A
atividade proteolítica total apresentou uma inibição crescente com o aumento
da concentração de tetraciclina, conforme ocorreu com as atividades amidásica
e lipásica, porém os resultados das análises estatísticas não foram
significativos (χ
2
= 44,09; g.l. erro= 3; P < 0,0001).
Constatou-se uma inibição significativa para a atividade amidásica (χ
2
=
7,32; g.l. erro= 3; P = 0,06) e atividade lipásica (χ
2
= 5,92; g.l. erro= 3 ; P = 0,11)
no tratamento com tetraciclina (Figura 3 e 4). Indicando uma relação dose
dependente, uma vez que o aumento da concentração de tetraciclina aumenta
o efeito inibitório da atividade. Os resultados de inibição da atividade
enzimática em função da concentração-resposta foram utilizados para estimar
as CL
50
do antibiótico em questão através da análise de logística do Probit. A
CL
50
encontrada para as atividades proteásica, amidásica e lipásica foi de
56,18, 43,95 e 52,18 µg/ mL respectivamente. Das concentrações de
63
tetraciclina avaliadas a que obteve maior efeito inibitório foi a concentração de
70 µg/ mL.
TABELA 3
Porcentagem de inibição das atividades enzimáticas detectadas no trato
intestinal de larvas de Anticarsia gemmatalis de 5º instar criadas com dieta
adicionadas de antibiótico
Concentração de cloranfenicol (µg x mL
-1
)
Substratos 0 30 40 50 60 70
Azocaseína 51,3 70,7 21,3 76,4 66,7 54,9
L-BApNA 65,9 48,6 9,1 73,6 25,3 7,3
L-TAME 56,5 64,0 46,4 49,6 53,0 7,52
L-BApNA +
Benzamidina
50,7 87,5 48,6 74,6 91,6 44,1
Tributirato
ditiopropanol
96,7 33,8 54,2 90,4 21,0 29,6
Amido 53,6 71,9 34,0 32,4 62,4 16,5
Lactose 70,9 68,4 21,6 81,7 63,7 56,8
Maltose 41,3 45,5 27,4 45,7 12,5 16,8
Manose 76,1 44,2 10,5 49,2 46,9 17,5
Melibiose 77,5 70,8 23,0 81,4 60,8 54,3
Pectina 53,8 35,0 48,3 59,3 49,4 38,0
Rafinose 40,6 33,4 18,4 45,1 26,0 20,8
Xilana 88,6 65,6 41,1 53,4 67,1 40,0
CMC 83,8 60,8 55,2 77,8 77,3 15,8
Concentração de T+C+A (µg x mL
-1
)
Substratos 0 30 40 50 60 70
Azocaseína 27,0 80,6 30,1 88,1 14,7 73,3
L-BApNA 23,0 75,5 82,2 77,5 10,2 48,5
L-TAME 47,5 92,5 88,0 82,0 29,5 78,9
L-BApNA +
Benzamidina
37,5 77,4 85,8 89,5 32,3 65,2
Tributirato
ditiopropanol
47,7 90,7 80,5 98,4 64,2 76,3
Amido 30,4 87,4 81,7 85,0 24,2 71,7
Lactose 51,4 85,5 87,2 96,8 55,6 82,3
Maltose 47,7 82,9 85,9 92,2 34,5 71,5
Manose 46,3 82,3 88,1 93,7 51,3 69,0
Melibiose 41,6 88,0 89,3 96,8 55,6 80,8
Pectina 26,1 77,5 78,3 86,5 28,6 65,9
Rafinose 36,1 73,5 79,2 80,6 18,0 59,8
Xilana 39,5 76,8 78,8 88,4 13,6 62,8
CMC 36,5 62,6 84,5 74,8 19,8 64,5
T= tetraciclina
C= cloranfenicol
A= ampicilina
CMC= carboximetilcelulose
64
TABELA 4
Porcentagem de inibição das atividades enzimáticas detectadas no trato
intestinal de larvas de Anticarsia gemmatalis de 5º instar criadas com dieta
artificial adicionada de tetraciclina
Concentração de tetraciclina (µg x mL
-1
)
Substratos 0 30 40 50 60 70
Azocaseína 9,5 21,6 38,8 64,3 60,6 75,6
L-TAME 67,9 33,2 27,6 42,0 64,4 64,3
L-BApNA +
Benzamidina
62,0 63,0 37,9 74,5 69,6 63,4
Amido 56,9 33,8 46,3 57,0 78,5 71,3
Lactose 42,9 17,9 51,0 59,6 70,2 80,9
Maltose 89,0 42,5 24,9 46,6 72,1 72,4
Manose 80,8 26,8 53,2 54,0 73,5 63,5
Melibiose 81,3 50,9 48,9 62,5 78,6 86,7
Pectina 75,5 27,8 70,9 42,0 88,5 77,5
Rafinose 62,1 41,4 30,2 42,4 73,1 78,8
Xilana 74,3 24,0 67,2 61,1 82,9 76,6
CMC 71,9 53,0 61,3 58,0 73,2 78,3
CMC= carboximetilcelulose
65
FIGURA 3- Inibição da atividade amidásica em função da concentração de
tetraciclina. Cada ponto representa a média de três repetições contendo 5
larvas de 5º instar cada (n = 3; χ
2
= 7,32; g.l. erro= 3; P = 0,06).
FIGURA 4- Inibição da atividade lipásica em função da concentração de
tetraciclina. Cada símbolo representa a média de três repetições contendo 5
larvas de 5º instar cada (n= 3; χ
2
= 5,92; g.l. erro= 3 ; P = 0,11).
Concentração de tetraciclina (μg/ mL)
20 30 40 50 60 70 80
Inibição da atividade amidásica (%)
40
50
60
70
80
90
Concentra
ç
ão de tetraciclina
(
μ
g
/ mL
)
20 30 40 50 60 70 80
Inibição da atividade lipásica (%)
20
30
40
50
60
70
80
90
R
2
= 0,98; F= 22,5; P= 0,15
R
2
= 0,99; F= 75,5; P< 0,001
66
Os perfis das atividades enzimáticas foram avaliadas durante todo o
ciclo larval até a fase pré-pupa em lagartas criadas com dieta controle e dieta
adicionada de tetraciclina 70 µg/ mL. Os instars foram representados como dias
de desenvolvimento, sendo que os períodos entre os dias 0 e 2; 2 e 5; 5 e 9; 9
e 12; 12 e 15; 15 e 18; 18 e 21 correspondem respectivamente aos 1º; 2º; 3º;
4º; 5º; 6º instares e pré-pupa. O efeito da tetraciclina foi significativamente
refletido na produção de enzimas que hidrolisam azocaseína, L-BApNA, e
tributirato ditiopropanol (Figuras 5, 6, 7). As atividades foram afetadas
principalmente nos últimos instares de desenvolvimento (4º, 5º e 6º instar).
Verificou-se que os picos máximos das atividades ocorreram entre o 12º e 18º
dia de desenvolvimento, para larvas criadas com dieta controle. Entretanto,
para larvas alimentadas com tetraciclina não foi observado um pico
máximo de atividade, ou seja, o perfil enzimático manteve-se constante
ao longo do desenvolvimento do inseto.
FIGURA 5- Perfil da atividade proteolítica do extrato intestinal de Anticarsia
gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval, utilizando azocaseína como
substrato. Os insetos foram criados com dieta sem antibiótico () e dieta
adicionada de tetraciclina 70 µg/ mL (). Cada símbolo representa a média de
três repetições contendo 5 lagartas de 5º instar cada (n= 3).
Dias após a eclosão
0 5 10 15 20 25
Absorvância (440nm)/mg proteína
0.00
0.02
0.04
0.06
0.08
0.10
0.12
R
2
= 0,83 F= 10,29; P< 0,05
R
2
= 0,10 F= 0,58; P= 0,47
67
FIGURA 6- Perfil da atividade amidásica do extrato intestinal de Anticarsia
gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval, utilizando L-BApNA como
substrato. Os insetos foram criados com dieta sem antibiótico () e dieta
adicionada de tetraciclina 70 µg/ mL (). Cada símbolo representa a média de
três repetições contendo 5 lagartas de 5º instar cada (n= 3).
FIGURA 7- Perfil da atividade lipásica do extrato intestinal de Anticarsia
gemmatalis ao longo do desenvolvimento larval, utilizando tributirato
ditiopropanol como substrato. Os insetos foram criados com dieta sem
antibiótico () e dieta adicionada de tetraciclina 70 µg/ mL (). Cada símbolo
representa a média de três repetições contendo 5 lagartas de 5º instar cada (n=
3).
Dias após a eclosão
0 5 10 15 20 25
V, nM.s
-1
/ mg proteína
0
20
40
60
80
Dias após a eclosão
0 5 10 15 20 25
UI/ mg proteína
0
20
40
60
80
100
120
R
2
= 0,85; F= 11,78; P<0,05
R
2
= 0,29; F= 2,14; P= 0,20
R
2
= 0,97; F= 33,86; P< 0,01
R
2
= 0,17; F= 1,02; P= 0,35
68
3.5. Efeito dos antibióticos na performance do inseto
A redução da microbiota de A. gemmatalis não afetou significativamente
os seguintes parâmetros fisiológicos analisados, duração da fase larval (12,89
± 1,09: F= 2,21; g.l.= 2; P= 0,32) (Figura 8), transformação em pupa (39,5 ±
5,8: F= 8,38; g.l.= 2; P= 0,10) (Figura 9). Verificou-se que o ganho de peso
larval foi mais rápido nas concentrações acima de 50 µg x mL
-1
de tetraciclina
(Tabela 5). Como conseqüência ocorreu uma pupação prematura de
aproximadamente 70% das larvas criadas com tetraciclina no 15º dia (Tabela
5). A pupação prematura afetou a sua emergência, dessa forma observou-se
diferença significativa na viabilidade pupal entre larvas controle e larvas criadas
com antibiótico (Tabela5). Observou-se um número maior de mortalidade entre
os insetos alimentados com tetraciclina do que nos insetos controle (Tabela 5).
Verificou-se uma diferença significativa na análise de variância entre o controle
e as diferentes concentrações de tetraciclina avaliadas (F= 50,32; g.l.= 12; P <
0,0001). Realizou-se, em seguida, o teste de Scheffé para avaliação do
contraste entre dois grupos, o controle (sem tetraciclina) e a média das
diferentes concentrações de tetraciclina utilizadas. A mortalidade observada
com a utilização de tetraciclina (19 ± 5,7) foi significativamente maior que a
observada no controle sem tetraciclina (4 ± 0,5).
69
Concentração de tetraciclina (μg x mL
-1
)
0 20406080
Duração do ciclo larval (dias)
10.5
11.0
11.5
12.0
12.5
13.0
13.5
14.0
FIGURA 8- Variação no tempo de duração do ciclo larval em função da
concentração de tetraciclina administrada as larvas de Anticarsia gemmatalis
após a eclosão dos ovos.
Concentração de tetraciclina (μg x mL
-1
)
0 20406080
Transformação em pupa (%)
0
10
20
30
40
50
FIGURA 9- Variação na transformação em pupa em função da concentração de
tetraciclina administrada as larvas de Anticarsia gemmatalis após a eclosão dos
ovos.
R
2
= 0,76; F=2,21; P= 0,32
R
2
= 0,92; F= 8,38; P= 0,10
70
TABELA 5
Parâmetros biológicos medidos ao longo dos dias do ciclo de vida de Anticarsia gemmatalis alimentada com dieta
artificial adicionada de diferentes concentrações de tetraciclina.
n= número de larvas (50),
a,b,c
= indicam a diferença entre o peso das larvas e da viabilidade das pupas de A. gemmatalis criadas com diferentes
concentrações de tetraciclina durante o ciclo larval, teste Tukey
5% (P<0,05)
Tetraciclina
(µg x mL
-1
)
Peso larval (g) Número de pupas Emergência
(%)
Mortalidade
5 dias 10 dias 15 dias 7 dias 15 dias 5 dias 10 dias 15 dias 20 dias
0 0,013
bc
0,112
bc
0,119
ab
0 15 80
a
6 8 8 8
30 0,004
c
0,054
c
0,106
ab
0 13 40
b
19 22 23 28
40 0,007
bc
0,138
ab
0,140
a
0 18 62
ab
4 7 9 17
50 0,010
bc
0,193
a
0,064
b
0 30 66
ab
2 2 3 13
60 0,018
b
0,128
b
0,076
b
3 37 60
ab
7 8 11 25
70 0,032
a
0,149
ab
0,062
b
6 40 68
ab
4 5 6 16
71
4. DISCUSSÃO
Enzimas que contribuem para a hidrólise de polissacarídeos são vistas
como elementos-chave para a nutrição de insetos que se alimentam de
material vegetal (ERTHAL et al., 2004). Assim, muitos trabalhos são realizados
sobre a composição da microbiota intestinal e seu papel na degradação de
carboidratos. Porém, pouco se conhece sobre a contribuição dessas bactérias
para o metabolismo digestivo de proteínas, lipídeos e no desenvolvimento e
fisiologia do inseto. A. gemmatalis é um inseto polífago, considerada uma
importante praga desfolhadora da cultura da soja (GALLO et al.,2002). As
folhas de soja são ricas em carboidratos, proteínas e lipídeos, além de conter
microrganismos do ambiente. O nosso trabalho avaliou o papel potencial da
microbiota intestinal quanto à produção de enzimas hidrolíticas no processo
digestivo e no desenvolvimento de A. gemmatalis, utilizando administração oral
de antibióticos para a supressão do crescimento de microrganismos. Vale
ressaltar que esse trabalho é um dos poucos que investigou a função da
microbiota em um inseto-praga.
O uso de antibióticos para a eliminação de microrganismos intestinais de
insetos tem sido frequentemente utilizado devido à conveniência e o baixo
custo desse método. Além disto, a esterilização via administração oral de
antimicrobianos facilita estudos fisiológicos e das relações nutricionais entre a
microbiota e seu hospedeiro. Entretanto, a composição da microbiota intestinal
é extremamente variável e a eficácia dos antibióticos na eliminação das
bactérias varia consideravelmente entre as espécies (JOHNSON et al., 2004).
Desta forma, torna-se necessário um estudo preliminar do efeito que
determinados antimicrobianos irão exercer sobre o conjunto de microrganismos
presentes no trato intestinal do hospedeiro e a dosagem correta a fim de
minimizar efeitos deletérios. Nesse estudo foi realizada uma triagem afim de
verificar qual o antimicrobiano atuaria melhor na eliminação da microbiota
intestinal de A. gemmatalis. Nossos resultados demonstraram que, tetraciclina,
cloranfenicol e ampicilina foram os antibióticos mais efetivos. Dentre os
testados, todos reduziram significativamente o número de bactérias totais e
proteolíticas, porém a tetraciclina obteve um melhor desempenho sendo capaz
de inibir substancialmente bactérias proteolíticas cultiváveis sendo portanto, o
72
antibiótico de escolha. Vários trabalhos utilizaram tetraciclina para a eliminação
da microbiota (KELLEN et al., 1981; KAMBHAMPATI et al., 1993; NOGGE &
GERRESHEIM, 1992; GIRIN & BOULETREAUN, 1995; WILKINSON, 1998;
HOERAUF et al., 1999). A escolha da tetraciclina deve-se à sua atuação na
síntese protéica, o que propicia esse antibiótico ter um amplo espectro de ação.
Além disso, a tetraciclina é muito utilizada em experimentos nos quais se
deseja eliminar microorganismos intracelulares, devido à sua capacidade de
penetrar estruturas como bacteriócitos, onde se localizam simbiontes
intracelulares.
A presença de uma diversidade limitada de microrganismos no intestino
de A. gemmatalis, observada pela microscopia, pode ser explicada pela
estrutura do seu trato digestivo. A relação entre estrutura e colonização
microbiana considera que insetos que possuem um trato digestivo linear e
simples provavelmente possuem uma menor diversidade microbiana do que
aqueles que possuem compartimentos mais complexos, como é o caso dos
cupins (TANADA & KAYA, 1993). Foram observadas células bacterianas
aderidas à membrana peritrófica e muitas no lúmen intestinal. Outros trabalhos
de microscopia, com insetos que não possuem bacteriócitos, reportaram a
presença de bactérias aderidas a cutículas do intestino posterior (HUNT &
CHARNLEY, 1981), incorporadas dentro da matriz peritrófica (MEAD et al.,
1988) ocupando o lúmen intestinal e colonizando o epitélio do intestino
posterior (MURPHY et al., 1994).
Sabe-se que não existem estruturas especializadas, usualmente
associadas a microrganismos, no intestino de larvas de Lepidopteras e em
muitos desses herbívoros o fluxo alimentar é rápido dificultando a permanência
de uma microbiota estável. Consequentemente, acredita-se que
microrganismos intestinais têm pouca participação na nutrição e digestão
desses insetos (DILLON & DILLON, 2004). Porém, no presente trabalho foi
observado que, na ausência da microbiota, a atividade de serino protease e de
lipase foram significativamente inibidas. A avaliação do perfil dessas atividades
ao longo do desenvolvimento da lagarta da soja reforça a influência de
bactérias sobre a síntese dessas enzimas. Embora alguns estudos a respeito
das enzimas digestivas da lagarta da soja tenham sugerido que esse inseto
sintetize suas próprias proteases (OLIVEIRA et al., 2005; XAVIER et al., 2005),
73
nenhum desses estudos considerou a possibilidade de que a atividade
proteásica possa ser de origem bacteriana. O presente estudo é o primeiro que
enfoca essa possibilidade. Esses resultados sugerem que bactérias presentes
no trato intestinal da lagarta da soja influenciem a produção de proteases e
lipases extracelulares contribuindo, dessa forma, com o processo digestivo
desse inseto. Diferente resultado foi obtido por WALKER et al. (1999) que não
verificaram uma redução significativa na atividade proteolítica do sistema
digestivo de Deroceras reticulatum, quando comparados indivíduos
alimentados com dieta artificial adicionada e livre de antibióticos. Uma das
hipóteses sugeridas pelos autores, é que tenha ocorrido um aumento na
síntese de proteases pelo próprio D. reticulatum, mascarando a diminuição de
atividade proteásica causada pela ausência da microbiota. Outra hipótese seria
o aumento da atividade proteolítica intracelular, ocasionado pela elevação da
taxa de endocitose após a morte das células bacterianas.
Bactérias capazes de degradar celulose, pectina, xilana e amido foram
isoladas do trato intestinal de A. gemmatalis, criadas com dieta artificial e folhas
de soja, durante um estudo preliminar. Porém as atividades enzimáticas sobre
esses substratos não foram afetadas significativamente quando larvas desse
inseto foram criadas com dieta artificial controle e com dieta adicionada com
antibióticos. Esses resultados sugerem várias possibilidades: a primeira é que
embora bactérias que produzam enzimas que degradam carboidratos estejam
presentes, elas têm pouca importância no processo digestivo de A. gemmatalis,
já que a digestão de celulose em insetos é rara, porque o fator da dieta que
limita o crescimento dos herbívoros é a qualidade protéica e não o tipo de
carboidrato presente. Assim, a digestão de celulose é improvável por ser
desvantajosa para o inseto, que pode encontrar requerimentos nutricionais
mais fáceis de serem digeridos (MELLO & SILVA-FILHO, 2002). A segunda
hipótese relaciona-se à composição da dieta artificial oferecida ao inseto, que é
composta principalmente por proteínas e vitaminas, o que pode ter inibido a
expressão de carboidrases e estimulado um mecanismo compensatório de
proteases e lipases devido ao substrato ingerido. E uma outra resposta estaria
relacionada a ação do antibiótico testado, ou seja, a tetraciclina pode não ser
efetiva contra bactérias produtoras de carboidrases.
74
A eliminação da microbiota cultivável do trato intestinal de A. gemmatalis
não afetou os parâmetros biológicos como duração da fase larval e
transformação em pupa. Entretanto, foram observados um aumento rápido no
peso larval, pupação prematura, inviabilidade pupal e uma mortalidade maior
entre os insetos tratados com tetraciclina do que entre os insetos controle. A
inibição da atividade proteolítica e amidásica pode ter contribuído para uma
deficiência na absorção de aminoácidos essenciais, acarretando em um
aumento da mortalidade. GENTA et al. (2006), trabalhando com larvas de
Tenebrio molitor, mostraram que a ausência da microbiota resultou em perda
de massa larval e pupação prematura. DOUGLAS et al. (2001) verificaram que
a mortalidade de afídeos aposimbiontes foi elevada, sugerindo que a ausência
de aminoácidos derivados de bactérias e a baixa taxa de assimilação destes
aminoácidos contribuem para o pobre crescimento desses insetos. Resultados
obtidos por ZUREK & KEDDIE (1996) mostram que, ao reduzirem a população
bacteriana no intestino de Periplaneta americana através de dieta artificial
adicionada de metronidazol, houve uma diminuição significativa na
concentração de ácidos graxos voláteis, a redução no ganho de peso do inseto
e o aumento do tempo de duração no ciclo de vida.
O conjunto desses dados mostram que, a atividade de serino protease,
lipase e alguns parâmetros biológicos da lagarta da soja foram afetadas pela
redução da microbiota. Isso sugere que bactérias intestinais fornecem enzimas
importantes para a digestão de proteínas e de lipídeos, contribuindo com o
processo digestivo e com o desenvolvimento de A. gemmatalis. Além do mais,
a inibição da atividade proteolítica verificada nesse trabalho mostra a
necessidade de isolamento, caracterização de bactérias proteolíticas e um
estudo bioquímico-cinético mais detalhado sobre as proteases por elas
produzidas, visando à complementação de pesquisas que buscam novas
técnicas de controle dessa praga.
75
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
APPEL, H.M. The chewing herbivore gut lumen: physicochemical conditions
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81
CAPÍTULO II
CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS PROTEOLÍTICAS
ASSOCIADAS AO TRATO INTESTINAL DE Anticarsia
gemmatalis (LEPIDOPTERA)
82
CARACTERIZAÇÃO DE BACTÉRIAS PROTEOLÍTICAS
ASSOCIADAS AO TRATO INTESTINAL DE Anticarsia gemmatalis
(LEPIDOPTERA)
RESUMO- A presença de bactérias intestinais têm sido reportada em várias
espécies de insetos. Muitos desses microrganimos contribuem com o processo
digestivo e nutricional do inseto, através do fornecimento de enzimas
digestivas, aminoácidos e vitaminas essenciais. Sabe-se que no intestino de
Anticarsia gemmatalis existe a presença de proteases e que provavelmente
esta seje a principal enzima envolvida na sua digestão. Com o objetivo de
conhecer se proteases também são oriundas da microbiota, espécies
bacterianas cultiváveis presentes no intestino da lagarta da soja que são
capazes de produzir proteases foram isoladas, identificadas e caracterizadas.
Doze bactérias proteolíticas foram isoladas de lagartas de quinto instar em
meio agar caseinato de cálcio em condições aeróbias e anaeróbias. A análise
por PCR-RFLP reuniu os 12 isolados em cinco grupos. Um isolado de cada
grupo foi selecionado para caracterizações posteriores. As seqüências do gene
16S rRNA e testes bioquímicos identificaram as bactérias como Bacillus
subtilis, Bacillus sp., Staphylococcus sp. e duas espécies de Enterococcus sp..
As atividades proteolíticas foram determinadas para todas as cinco espécies.
Quando se comparou a produção enzimática entre os isolados, verificou-se
uma diferença significativa (P < 0,01) na atividade, sobre todos os substratos.
Os isolados foram capazes de hidrolisar todos os substratos testados, exceto
Staphylococcus sp., que não degradou
L-BApNA e L-TAME, substratos
específicos de tripsina-like. O Enterococcus sp. mostrou maior atividade
proteolítica, porém Bacillus sp. e B. subtillis apresentaram melhor atividade
específica de serino e cisteíno protease. Esse trabalho fornece base para a
caracterização bioquímico-cinética de proteases de origem microbiana,
importantes para a complementação de estudos relacionados ao uso de
inibidores de proteases como método alternativo de controle dessa praga.
PALAVRAS-CHAVE: bactérias proteolíticas, proteases, caracterização
bioquímica, 16S rRNA, Anticarsia gemmatalis
83
1. INTRODUÇÃO
A ordem Lepidoptera é um grupo primariamente fitófago que engloba
mais de 150.000 espécies de insetos. Ela inclui algumas das mais danosas
pragas agrícolas e florestais do mundo, compreendendo espécies que superam
as medidas de controle existentes, como inseticidas sintéticos, inseticidas
microbianos e plantas hospedeiras geneticamente resistentes (SCOBLE, 1992).
Das enzimas envolvidas com o processo de digestão em Lepidopteras, o
grupo mais importante é o das proteases, que são classificadas em quatro
grupos, baseado no grupo funcional presente no sítio ativo: serino proteases,
aspártil proteases, cisteíno proteases e metalo proteases (TERRA & FERREIRA,
1994). Inibidores potentes contra quase todas as classes de proteases têm sido
descritos (POMPERMAYER et al., 2001; TIFFIN et al., 2001; FRANCO et al.,
2002). Alguns deles são naturalmente produzidos pelas plantas e estão
intimamente relacionados ao mecanismo de defesa contra a herbivoria. Porém,
os insetos utilizam diferentes modos para contornar os efeitos negativos dos
inibidores (JONGSMA & BOLTER, 1997), através do uso de proteases que não
são facilmente inibidas (PAULILLO et al., 2000), da degradação proteolítica dos
inibidores (GIRARD et al., 1998) e da aquisição de proteases insensíveis aos
inibidores (BRITO et al., 2001).
A utilização de genes que codificam inibidores de proteases para a
obtenção de plantas resistentes ao ataque de insetos é uma estratégia
promissora (JONGSMA & BOLTER, 1997). Porém, para que isso ocorra é
importante que a planta expresse uma combinação de inibidores que cubra o
espectro total de proteases intestinais. Por esse motivo, é fundamental o
conhecimento do conjunto de proteases digestivas presentes no intestino do
inseto (OLIVEIRA et al., 2005).
A Anticarsia gemmatalis Hübner (Lepidoptera: Noctuidae), conhecida
como lagarta da soja, é um inseto polífago que tem por principal hospedeiro a
soja (Glycine max). Ela é considerada uma das pragas-chave da sojicultura,
sendo economicamente importante em função das grandes perdas que
ocasionam (GALLO et al., 2002). Estudos têm demonstrado que serino
84
proteases são as principais proteases expressas no trato intestinal da lagarta da
soja (OLIVEIRA et al., 2005, XAVIER et al., 2005; PEREIRA et al., 2005).
Proteases solúveis e ligadas à membrana foram extraídas do intestino médio de
A. gemmatalis purificadas e caracterizadas bioquímica e cineticamente
(OLIVEIRA et al., 2005, XAVIER et al., 2005). Os resultados demonstraram que
as enzimas parcialmente purificadas apresentam o mesmo padrão hidrolítico e
parâmetros cinéticos observados para a tripsina bovina.
Sabe-se que relações simbióticas estabelecidas com microrganismos
ajudam a definir o perfil metabólico do inseto, contribuindo, entre outras, para
uma eficiente transformação de macromoléculas a nutrientes essenciais
(BRENNAN et al., 2004). No entanto, antes de avaliar o impacto da comunidade
bacteriana na fisiologia do inseto, faz-se necessária uma caracterização da
microbiota intestinal. Em Lymantria díspar (Lepidoptera) a diversidade
bacteriana existente no intestino médio de larvas no 3° instar, usando técnicas
independentes de cultivo, é composta por 23 filotipos (BRODERICK et al., 2004).
Muitos dos genes 16S rRNA amplificados consistiam de seqüências ainda não
descritas na literatura. Mas, o mais surpreendente desse estudo foi que
numerosas espécies de bactérias cultiváveis divergiam totalmente de espécies e
gêneros conhecidos. Estudos utilizando larvas de Automeris zugana alimentada
com diferentes dietas mostraram a presença de 22 espécies de bactérias
cultiváveis dentro de 12 gêneros (SITTENFELD et al., 2002). Enterobacter,
presente em 81,8% das amostras, foi o gênero mais encontrado. Bacillus
thuringiensis foi isolado de 30,3% das larvas dissecadas, mas estava presente
somente em larvas alimentadas com determinadas plantas testadas.
Com o objetivo de conhecer as principais espécies bacterianas cultiváveis
que são capazes de produzir proteases em A. gemmatalis, bactérias
proteolíticas presentes no intestino da lagarta da soja foram isoladas,
identificadas e caracterizadas.
85
2. MATERIAL E METÓDOS
Os experimentos foram realizados no Laboratório de Enzimologia,
Bioquímica de Proteínas e Peptídeos do Instituto de Biotecnologia - BIOAGRO
da Universidade Federal de Viçosa.
2.1. Criação de Anticarsia gemmatalis
Aos insetos foram fornecidas dieta artificial (HOFFMAN-CAMPO, 1985) e
folhas de soja “ad libitum”. A criação foi mantida sobre condições controladas de
25°C ± 5°C, 70 ± 10% de umidade relativa e fotoperíodo de 14 horas.
2.2. Isolamento de bactérias proteolíticas
Lagartas de A. gemmatalis de quinto ínstar foram colocadas à -18ºC por
aproximadamente 3 min, para diminuição das atividades vitais e submetidas à
desinfecção superficial com etanol 70% (v/v), seguida de lavagens em água
destilada estéril. Para o isolamento de bactérias anaeróbias, cinco lagartas
foram dissecadas em câmara de anaerobiose (COY Laboratory Products Inc.,
Grass Lake, MI, USA), sendo os intestinos transferidos para cadinho contendo 1
mL de solução salina estéril (NaCl 0,85% p/v) e resazurina (agente indicador de
oxi-redução). Após a maceração, 100 µL de diluições seriadas (10
-1
a 10
-6
)
foram plaqueados em ágar caseinato de cálcio (MERCK), que é um meio
indicador de proteólise. As bactérias que crescem e produzem proteases
extracelulares degradam o caseinato presente no meio e formam halos
clarificados ao redor da colônia, sendo assim, consideradas bactérias
proteolíticas. As placas de Petri foram mantidas sob atmosfera de CO
2
:H
2
(95:5%), a 30°C. Para o isolamento de bactérias aeróbias, o mesmo
procedimento foi feito, porém em câmara de fluxo laminar. Todas as diluições
foram plaqueadas em triplicata. Após 48 h, as colônias formadoras de halos que
apresentaram características morfológicas diferentes foram selecionadas e
estriadas em ágar Luria Bertaini (LB), composto por 10 g de triptona, 5 g de
extrato de levedura, 5 g de NaCl, 20 g de ágar, até a obtenção de colônias
puras.
86
2.3. Extração de DNA genômico
As bactérias proteolíticas foram inoculadas em 3 mL de BHI líquido a
37°C por 16 h e 200 rpm de rotação. As culturas foram centrifugadas a 3000 g
por 5 min. O sedimento foi ressuspendido em 400 µL de tampão SET (75 mM
NaCl, 25 mM EDTA e 20 mM Tris-HCl, pH 7,5). Em seguida, 10 µL de lisozima
(50 mg/ mL) foram adicionados e a reação foi incubada à 37°C por 1h, com
inversões espaçadas. Foram acrescentados 1/10 do volume de SDS 10 % e 10
µL de proteinase K (20 mg/ mL) e novamente, a mistura foi incubada a 60°C por
1 h. Após esse tempo foram adicionados 1/3 do volume de NaCl 5 M e seguido
de desproteinização com 1 volume de fenol-clorofórmio (1:1) e clorofórmio. Os
ácidos nucléicos foram precipitados com isopropanol, lavados com etanol 70%.
Finalmente, o “pellet” seco foi ressuspendido em 30 µL de tampão TE (100 mM
Tris-HCl e 10 mM EDTA, pH, 7,5).
2.4. Amplificação do gene 16S rRNA bacteriano e análise por RFLP
Para análise por PCR-RFLP, o DNA total foi amplificado com
oligonucleotídeos específicos para o gene 16S rRNA, a saber: 5’-
AGAGTTTGATCMTGG-3’ (16SF) e 5’-TACCTTGTTACGACTT-3’ (16SR). As
reações de amplificação foram efetuadas em um volume total de 25 µL
contendo: 2,5 mM de MgCl
2
; tampão da Taq polimerase 1X; 200 µM de
desoxirribonucleotídeo (dNTP); 0,4 µM de cada “primer”; uma unidade da
enzima Taq polimerase e finalmente 50 ng/µL de DNA. O programa de
amplificação consistiu de uma desnaturação inicial a 94°C por 2 min, seguido
por 35 ciclos a 94°C por 1 min, 50°C por 1 min, 72°C por 2 min e finalizando com
uma etapa de extensão final a 72° por 5 min. Uma alíquota de 5 µL foi analisada
em gel de agarose 0,8%, sendo o restante incubado separadamente, com 5U
das enzimas de restrição Hae III e Rsa I (PROMEGA). Após a incubação por 5h,
as amostras foram submetidas à eletroforese em gel de agarose 2 % em tampão
TBE 1X, a voltagem constante de 100 V. Com base no perfil de restrição,
diferentes isolados foram selecionados para identificação bioquímica, molecular
e avaliação das atividades proteolíticas.
87
2.5. Sequenciamento do gene 16S rRNA e análises de dados
Para identificação molecular, os produtos de PCR foram purificados do
gel de agarose usando-se o QIAquick Gel Extraction Kit (Qiagen Inc, Valencia
CA, USA) de acordo com as instruções do fabricante. Os amplicons foram
submetidos ao seqüenciamento em aparelho MegaBACE 500. As seqüências
obtidas foram comparadas às disponíveis no banco de seqüências de DNA
GenBank, usando o programa BLASTn. As análises filogenéticas foram
realizadas com o programa Genes e o método do vizinho mais próximo foi usado
para construir a árvore filogenética.
2.6. Testes bioquímicos
Os isolados foram caracterizados pela coloração de Gram e por meio de
20 testes bioquímicos. O procedimento de identificação das bactérias isoladas
foi realizado de acordo com o “Bergey’s Manual of Systematic Bacteriology” e
“Color Atlas and Textbook of Diagnostic Microbiology” (SNEATH et al., 1986;
KONEMAN, 1992).
2.7. Teste de susceptibilidade a antimicrobianos
Placas contendo BHI foram inoculadas com 100 µL de cultura bacteriana
e discos contendo antibióticos foram aplicados de acordo com as
recomendações do fabricante (Oxoid Unipath Limited, Basingstoke, Hamphire,
United Kingdom). Os antibióticos testados foram estreptomicina (10 µg),
cloranfenicol (30 µg), penicilina (10 µg), tetraciclina (30 µg), gentamicina (10 µg),
eritromicina (15 µg), neomicina (10 µg), ampicilina (10 µg) e ácido nalidíxico (30
µg). O experimento foi realizado em duplicata e incubado a 30°C por 24h. Após
o período de incubação, zonas de inibição ao redor dos discos foram medidas e
a susceptibilidade ou resistência ao antibiótico foi inferida com base no descrito
na literatura (MADIGAN et al., 2000).
2.8. Ensaios Enzimáticos
As bactérias proteolíticas isoladas foram cultivadas em 50 mL de BHI a
37°C por 48 h e 200 rpm de rotação. Depois do tempo de incubação, as culturas
foram centrifugadas a 10.000 g por 10 min à 4°C. O sobrenadante foi coletado e
usado para os ensaios enzimáticos.
88
A atividade proteolítica foi determinada utilizando-se azocaseína como
substrato numa concentração de 2 %. O tempo de incubação foi de 30 min, o
qual foi interrompido por adição de ácido tricloroacético 10 % (p/v). Após a
interrupção, as amostras foram centrifugadas para remover a proteína
precipitada, NaOH 1M foi adicionado ao sobrenadante e a atividade, então, foi
determinada a 440 nm de acordo com o método descrito por KUNITZ (1947),
adaptado por OLIVEIRA et al. (1993). A atividade amidásica foi realizada pelo
método descrito por ERLANGER et al. (1961), utilizando-se o substrato
cromogênico N-benzoil-L-arginil p-nitroanilida (L-BapNA, substrato para enzimas
tripsina-like) na concentração final de 0,5 mM, a 25°C em tampão Tris-HCl 0,1
M, pH 8,2 contendo 20 mM de CaCl
2
e 1 % (v/v) de dimetilformamida (DMF). A
atividade esterásica foi realizada pelo método descrito por HUMMEL et al.
(1959), utilizando o substrato L-TAME na concentração final de 0,10 mM, a 25 °C
em tampão Tris-HCl 0,1 M, pH 8,2 contendo 20 mM de CaCl
2
. As velocidades
iniciais foram determinadas pela medida da absorvância a 247 nm em função do
tempo (2,5 min), utilizando-se para os cálculos o coeficiente de extinção molar
de 540 M
-1
x cm
-1
para o produto. A atividade de cisteíno protease foi
determinada como citado para a atividade amidásica com adição de inibidor de
tripsina-like, benzamidina na concentração de 1,0 mM. Todos os experimentos
foram realizados em uma série de três repetições.
2.9. Determinação da concentração de proteína
A determinação da concentração da proteína foi obtida de acordo com o
método descrito por BRADFORD (1976), utilizando como padrões soluções de 0
a 0,2 mg/ mL de albumina sérica bovina (BSA).
89
3. RESULTADOS
3.1. Contagem microbiológica e isolamento de bactérias proteolíticas
O número de unidades formadoras de colônias (UFC) totais e
proteolíticas, obtido de intestinos de lagartas criadas em dieta artificial e folhas
de soja, em condições aeróbias e anaeróbias, está apresentado na tabela 1.
Verificou-se que, em lagartas criadas em dieta a contagem de UFC foi maior
em ambas as atmosferas de incubação quando comparada a lagartas criadas
com folhas. Notou-se também que o número de UFC encontrado em condições
aeróbias foi de aproximadamente dez vezes maior do que em anaerobiose. As
condições de incubação avaliadas afetaram significativamente a contagem (P
< 0,05). Já a diferença entre o número de UFC encontrado em lagartas criadas
com dieta e folhas em condições aeróbias não foi significativa. O número de
bactérias proteolíticas encontrado foi significativamente (P < 0,05) maior em
lagartas criadas com dieta artificial. Em condições anaeróbicas nenhuma
bactéria capaz de produzir protease foi detectada. Um total de doze bactérias
proteolíticas, morfologicamente distintas foi isolado, sendo que sete foram
obtidas do intestino de lagartas criadas com dieta artificial e cinco de lagartas
criadas com folhas de soja.
90
TABELA 1
Número de bactérias totais e proteolíticas presentes no trato intestinal de Anticarsia gemmatalis criadas com dieta artificial e
folhas de soja
x
a
=média de três repetições;
b
DP = desvio padrão
Dieta
Atmosfera de
incubação
Bactérias Totais (UFC x mg
-1
de
intestino)
x
a
DP
b
Bactérias proteolíticas (UFC x
mg
-1
de intestino)
x
a
DP
b
Dieta artificial aerobiose 4,520 x 10
4
± 0,393 17,333 x 10
2
± 6,110
Dieta artificial anaerobiose 5,186 x 10
3
± 0,560 0
Folhas de soja aerobiose 3,677 x 10
4
± 0,433 5,533 x 10
2
± 3,868
Folhas de soja anaerobiose 2,999 x 10
3
± 0,404 0
91
3.2. PCR - RFLP
A figura 1 mostra os resultados da análise por RFLP dos produtos
amplificados. As amostras de DNA nas posições 1 a 7 e 8 a 12 correspondem
aos DNAs amplificados de bactérias isoladas do intestino de lagartas criadas
com dieta artificial e folhas de soja, respectivamente. O DNA total das doze
bactérias isoladas foi clivada com HaeIII (Figura 1A). As amostras que
apresentaram o mesmo perfil de restrição foram clivadas posteriormente com
RsaI para a avaliação se elas pertenciam ao mesmo grupo de microrganismos
(Figura 1B).
FIGURA 1- Análise por PCR-RFLP do perfil de restrição do gene que codifica
16S rRNA de bactérias isoladas do intestino de Anticarsia gemmatalis obtidas
pela digestão com HaeIII (A) e RsaI (B) . MM é marcador molecular e os
números 1-12 são os isolados proteolíticos.
MM 1 2 3 4 5 6 7 8 9 10 11 12
A
MM 1 2 5 7 3 8 11 4 6 9 10 12
B
92
Na figura 2, observa-se o dendrograma obtido do agrupamento dos
doze isolados proteolíticos dado pelo método do vizinho mais próximo, com
base nas distâncias obtidas pelo índice de diversidade multicategórico-binário.
O dendrograma foi construído a partir das informações contidas na figura 1,
usando 1 para presença e 0 para ausência de bandas em cada posição no gel.
Foram consideradas duas categorias, cada qual correspondendo às duas
enzimas de restrição utilizadas. Foram obtidos cinco grupos baseados nas
diferenças apresentadas pelos padrões de restrição: grupo 1 (isolado 1), grupo
2 (isolados 2, 5 e 7), grupo 3 (isolados 3, 8 e 11), grupo 4 (isolados 4 e 6) e
grupo 5 (isolados 9, 10 e 12). Com base nos resultados, um isolado de cada
grupo foi selecionado para as caracterizações posteriores.
FIGURA 2- Dendrograma obtido pelo método do vizinho mais próximo com
base nos perfis de restrição dos doze isolados proteolíticos, utilizando Hae III e
Rsa I.
3.3. Caracterização fenotípica e identificação molecular dos isolados
A seqüência do gene 16S rRNA foi obtida para um representante de
cada grupo e usada para confirmar a identidade dos isolados. Os produtos de
PCR foram seqüenciados com “primers” específicos, gerando uma seqüência
contínua de aproximadamente 1400 pares de bases. A análise molecular
permitiu a identificação dos isolados ao nível de gênero (Tabela 2).
0 10 20 30 40 50 60 70 80 90 100
Grupo 5- 9, 10, 12
Grupo 1- 1
Grupo 2- 2, 5, 7
Grupo 3- 3, 8, 11
Grupo 4- 4, 6
93
TABELA 2
Identificação dos isolados com base no gene 16S rRNA
GRUPOS
ANÁLISES
MOLECULARES
1 2 3 4 5
Nº de bases
sequenciadas
1419 329 1337 1408 1397
Espécies
relacionadas
B. subitilis
Bacillus sp.
B. cereus
Bacillus sp.
E. mundtii
E. durans
Enterococcus sp.
E. casseliflavus
E. gallinarum
Enterococcus sp.
Staphylococcus sp.
S. saprophyticus
S. xylosus
S. cohnii
Similaridade (%) 97% 91% 99% 99% 99%
Nº de acesso no
GenBank
IDENTIFICAÇÃO
Bacillus subtilis Bacillus sp. Enterococcus sp. Enterococcus sp. Staphylococcus sp.
94
Com base nas características morfológicas e bioquímicas descritas na
tabela 3, o gênero de todos os isolados foi identificado. Os isolados 1 e 2 foram
identificados como Bacillus sp., pois tinham forma de bastonetes, eram
aeróbios, produtores de catalase, móveis. Os isolados 3 e 4 foram identificados
como estreptococos do grupo D (Enterococcus), apresentando forma de
diplococos Gram positivos. As características que o diferenciaram dos
Streptococcus, além do arranjo, foram sua capacidade de hidrolisar esculina
na presença de 40 % de bile e o crescimento em NaCl 6,5 %. E finalmente, o
isolado 5 apresentou características de estafilococos, devido a sua forma e
arranjo serem de cocos agrupados irregularmente, catalase positiva, oxidase
negativa e resistentes a bacitracina. Duas características importantes
apresentada por esse isolado, classificaram-no dentro do grupo dos
Staphylococcus sp., coagulase negativa, resistente a novobiocina.
95
TABELA 3
Análise morfológica e bioquímica das bactérias proteolíticas isoladas
ND – não determinado
S – sensível
R – resistente
ISOLADOS
CARACTERÍSTICAS 1 2 3 4 5
MORFOLOGIA
Forma Bacilo Bacilo Cocos Cocos Cocos
Arranjo Isolado Isolado Diplococo Diplococo Grumos
Coloração de Gram + + + + +
TESTES
BIOQUÍMICOS
Motilidade + + ND ND ND
Prova da Oxidase - - - - -
Prova da Catalase + + - - +
Prova da coagulase - - - + -
Prova da Hemólise β β α α α
Prova Camp Test ND ND - - -
Tolerância a NaCl
6,5%
+ + + + +
Hidrólise da Esculina + - + + -
Hidrólise do Manitol + - - + +
Crescimento em
MacConkey
+ - - - -
Resistência a
Optoquina
ND ND R R R
Resistência a
Bacitracina
ND ND R R R
Resistência a
Novobiocina
ND ND ND ND R
Resistência a
Vancomicina
ND ND S S S
Fermentação
Sacarose
+ + - + +
Fermentação Xilose - - + - +
Fermentação
Rafinose
+ + - + -
Fermentação
Manose
- - - - -
Fermentação
Lactose
- - - - -
Fermentação
Maltose
- + - + +
IDENTIFICAÇÃO
Bacillus
sp.
Bacillus
sp.
Enterococcus
sp.
Enterococcus
sp.
Staphylococcus
sp.
96
3.4. Análise do perfil de resistência dos isolados aos antimicrobianos
Na análise de resistência aos antimicrobianos, a determinação do grau
de sensibilidade ou de resistência da bactéria está relacionada com o diâmetro
das zonas de inibição (mm) formadas em torno dos discos impregnados com
antibióticos. Desse modo, os halos foram medidos e as bactérias classificadas
como sensíveis (S), intermediárias (I) e resistentes (R). Os isolados mostraram
grau de resistência variável como mostra a tabela 4. Todas bactérias foram
resistentes ao ácido nalidíxico. Os antimicrobianos que apresentaram melhor
eficácia foram tetraciclina, cloranfenicol e eritromicina.
3.5. Análise dos ensaios enzimáticos
Para averiguar que tipo de proteases as bactérias proteolíticas isoladas
são capazes de sintetizar, ensaios enzimáticos para detecção de proteases
totais, serino protease e cisteíno protease foram realizados. A atividade
proteolítica foi detectada com o substrato azocazeína, enquanto a atividade de
cisteíno protease foi detectada utilizando o substrato L-BApNA na presença de
inibidor de tripsina-like, a benzamidina. Para a análise da atividade de tripsina-
like foram utilizados o substrato amidolítico L-BApNA e o substrato esterolítico
L-TAME. Os isolados foram avaliados com base na sua capacidade de
produzir protease não específica, serino protease e cisteíno protease. Os
valores das atividades proteolíticas produzidas pelos isolados foram
determinados como atividades específicas e estão apresentados na tabela 5.
Quando se comparou a produção enzimática entre os isolados, verificou-se
uma diferença significativa na atividade (P < 0,01), sobre todos os substratos
testados. Observou-se também, que os isolados foram capazes de hidrolisar
todos os substratos testados, exceto o Staphylococcus sp., que não degradou
L-BApNA e L-TAME, substratos específicos de tripsina-like. O grupo que
mostrou maior atividade proteolítica foi o grupo dos Enterococcus sp., já o
grupo dos Bacillus cereus apresentaram melhor atividade específica de serino
e cisteíno protease.
97
TABELA 4
Efeito dos antimicrobianos sobre as bactérias proteolíticas isoladas do intestino de Anticarsia gemmatalis
ANTIBIÓTICOS
ISOLADOS Est C Pen Tet Gen E N Amp Nal
Bacillus subtilis
R I R S R I I R R
Bacillus sp.
S I R I R I I R R
Enterococcus sp.
R S I S R I R S R
Enterococcus sp.
I I I S R I R S R
Staphylococcus sp.
S S R I S S S R R
Est – estreptomicina, C – cloranfenicol, Pen – penicilina, Tet – tetraciclina, Gen – gentamicina, E – eritromicina, N – neomicina,
Amp – ampicilina, Nal – ácido nalidíxico
98
TABELA 5
Atividade de proteases detectada nos sobrenadantes das culturas das bactérias isoladas do intestino de Anticarsia
gemmatalis
SUBSTRATOS
ISOLADOS Azocaseína(Abs
440
/mg proteína) L-BApNA (nM/s/mg) L-BApNA com benzamidina
(nM/s/mg)
L-TAME
(nM/s/mg)
Bacillus subtilis
0.225 ± 0.05
ab
0,263 ± 0,06
c
1,197 ± 0,63
c
46,98 ± 6,5
b
Bacillus sp.
0,132 ± 0,01
bc
2,416 ± 0,63
a
4,149 ± 0,39
a
68,75 ± 9,0
a
Enterococcus sp.
0.318 ± 0.14
a
0,178 ± 0,03
cd
3,412 ± 1,76
ab
0,49 ± 0,04
cd
Enterococcus sp.
0.046 ± 0.006
c
0,902 ± 0,2
b
2,164 ± 0,09
bc
8,75 ± 0,05
c
Staphylococcus sp.
0.0632 ± 0.001
c
0
d
1,378 ± 0,21
c
0
d
Os resultados foram submetidos a análise de variância (ANOVA) e as atividades para cada substrato foram
comparadas usando teste de Duncan, com nível de significância de 0,01. Cada atividade refere-se à média de três
repetições (n=3).
99
4. DISCUSSÃO
Esse estudo comprova, pela primeira vez, a existência de comunidade
bacteriana no intestino da lagarta da soja. Por métodos dependentes de cultivo
foi detectada uma influência significativa da atmosfera de incubação na
enumeração de microrganismos, obtendo-se os maiores valores de UFC sob
condições de aerobiose. Os baixos níveis de O
2
no intestino permitem a
sobrevivência de bactérias anaeróbias facultativas. A compartimentalização do
trato intestinal de A. gemmatalis é relativamente simples, então sugere-se que
seus microambientes não sejam totalmente anóxicos devido ao maior fluxo de
O
2,
o que propiciaria o desenvolvimento de bactérias aeróbias e anaeróbias
facultativas. Gradientes de O
2
e H
2
obtidos com o uso de microsensores no trato
intestinal de cupins revelaram que, devido à estrutura complexa todos os
compartimentos centrais, exceto o intestino médio e as regiões menos dilatadas
do intestino posterior, são anóxicos, favorecendo o desenvolvimento de
anaeróbios (BERCHTOLD et al., 1999; BRUNE & FRIEDRICH, 2000). É possível
que o meio utilizado para a contagem microbiológica tenha sido nutricionalmente
incapaz de promover o crescimento de bactérias intestinais anaeróbias, o que
justifica as baixas contagens obtidas. É estimado que 99% dos microrganismos
presentes no trato intestinal de insetos não sejam cultiváveis (DILLON &
DILLON, 2004). Porém, foi registrada a contagem na ordem de 1 x 10
9
a 3 x 10
9
UFC por intestino de Acheta domesticus (SANTO DOMINGO et al., 1998).
O tipo de dieta fornecida não teve influência significativa na enumeração
de bactérias totais, semelhante resultado foi encontrado por SANTO DOMINGO
et al. (1998). Entretanto, o número de bactérias proteolíticas encontrado em
larvas criadas com dieta artificial foi superior ao encontrado em larvas criadas
com folhas de soja. Isso pode ser explicado pelo maior teor protéico encontrado
na dieta, o que favorece o aumento na população de microrganismos capazes
de degradar proteínas.
Embora a escolha dos isolados tenha inicialmente sido baseada em
diferenças morfológicas, o PCR-RFLP mostrou a existência de apenas cinco
bactérias proteolíticas diferentes. Por sequenciamento do gene 16S rRNA
identificaram-se três gêneros distintos, Bacillus, Enterococcus e Staphylococcus.
Um dos Bacillus foi classificado ao nível de espécie, Bacillus subtilis e o outro ao
100
nível de gênero, Bacillus sp., provavelmente devido o sequenciamento de
apenas 329 pb de gene 16S rRNA. Os isolados dos grupos 3 e 4 foram
identificados como sendo Enterococcus sp., porém pertencentes a espécies
distintas. O PCR-RFLP mostrou um padrão de restrição diferente, quando os
Enterococcus desses dois grupos foram clivados com HaeIII sendo confirmada
pela análise de similaridade, obtida pelo índice de diversidade multicategórico-
binária . Além disso, não houve semelhança entre as espécies dos dois grupos,
quando as seqüências do gene 16S rRNA foram comparadas as depositadas no
Genbank. Isso tudo reforça a possibilidade deles pertencerem a espécies
diferentes. O grupo 5 apresentou alta similaridade (99%) com três espécies do
grupo dos estafilococos coagulase negativo, resistente a novobiocina,
Staphylococcus saprophyticus, Staphylococcus xylosus e Staphylococcus cohnii.
Estudos sobre relações filogenéticas foram realizados com 38 espécies do
gênero Staphylococcus baseado na análise da seqüência do gene 16S rRNA
(KLOOS & WOLFSHOHL, 1982; TAKAHASHI, et al., 1999). Seus resultados
demonstram que há uma forte homologia entre essas três espécies e que elas
estão intimamente relacionadas, o que dificulta a identificação ao nível de
espécie.
A presença de Bacillus, Staphylococcus e Enterococcus já foi relatada no
trato intestinal de outros insetos, como abelhas (GILLIAM, 1997), formigas (LI et
al., 2005) e flebotomíneos (OLIVEIRA et al., 2001). Nenhuma bactéria Gram-
negativa proteolítica foi encontrada em A. gemmatalis. Resultado diferente foi
reportado por ERTÜRK & DEMIRBAG (2006), quando investigaram a microbiota
presente no trato digestivo de Cydia pomonella L. (Lepidoptera: Tortricidae).
Através de testes morfológicos e bioquímicos foram identificadas oito bactérias,
a maioria Gram-negativa, três Gram-positivos, sendo uma identificada como
Bacillus laterosporus. Em outra lepidóptera, Pecnophora gossypiella, também foi
observada a presença de muitas bactérias Gram-negativas e Enterococcus sp.
(KUZINA et al., 2002). Porém, microrganismos identificados como
numericamente dominantes não são necessariamente aqueles que têm
relevância biológica (DILLON & DILLON, 2004). Deve-se considerar sempre o
meio de cultura utilizado no isolamento além de fatores ambientais como pH e
disponibilidade de nutrientes no intestino do inseto.
101
A resistência aos antimicrobianos variou entre os grupos isolados, mas
não dentro do mesmo gênero. Os Bacillus apresentaram resistência aos β-
lactâmicos e gentamicina. De acordo com o Manual de Bergey`s, B. cereus
geralmente tem alta resistência a ampicilina, colistina e polimixina, poucas cepas
mostraram-se resistentes a bacitracina, kanamicina e tetraciclina. Bacillus
subtilis são resistentes principalmente a estreptomicina. Os Enterococcus sp.
apresentaram resistência aos aminoglicosídeos, gentamicina e neomicina.
Segundo LECLERCQ et al. (1992) o alto grau de resistência aos
aminoglicosídeos é decorrente da produção de enzimas modificadoras desses
antimicrobianos, tais como 6`-acetil transferase e 2`-fosfotransferase. Essas
enzimas geralmente são expressas por genes localizados em plasmídeos. A
resistência aos β-lactâmicos, apresentada pelo Staphylococcus coagulase
negativo isolado, é tradicionalmente associada à produção de β-lactamases.
O presente estudo verificou que todas as bactérias proteolíticas isoladas
do trato intestinal de A. gemmatalis foram capazes de hidrolisar azocaseína,
substrato para proteases não específicas e L-BApNA na presença benzamidina,
substrato específico para cisteíno-proteases. Os substratos para a verificação da
produção de tripsina-like, pelas bactérias isoladas, foram L-BApNA e L-TAME .
Todos isolados proteolíticos apresentaram atividade de tripsina-like, exceto o
Staphylococcus sp. , que mostrou apenas produção de cisteíno protease. O
Bacillus sp. foi o que melhor hidrolisou a maioria dos substratos protéicos.
Relata-se que a maioria das serino proteases comerciais são produzidas por
organismos que pertencem ao gênero Bacillus (MANACHINI et al., 1988; RAO et
al., 1998; OLAJUYIGBE & AJELE, 2005). Os resultados obtidos sugerem que
além das proteases produzidas pelo próprio inseto há também a produção por
parte da microbiota local.
102
5. REFERÊNCIAS BIBLIOGRÁFICAS
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108
3. CONCLUSÕES
Com base nos objetivos e nos resultados obtidos, conclui-se que a
redução substancial do número de UFC total e proteolítica foi alcançada com
tetraciclina através do tratamento das larvas recém eclodidas.
As carboidrases não foram afetadas pela redução da microbiota,
sugerindo então, que a digestão desse inseto seja primariamente protéica, ou
que a tetraciclina não tenha sido eficiente na inibição do crescimento de
bactérias produtoras dessas enzimas. Já as lipases e proteases foram inibidas
com o aumento da concentração de tetraciclina e conseqüente aumento na
redução do número de bactériass. O efeito da redução da microbiota utilizando-
se tetraciclina foi também significativamente refletido na atividade de enzimas
que hidrolisam azocaseína, L-BApNA, e tributirato ditiopropanol ao longo da
fase larval. As atividades foram afetadas principalmente nos últimos instares de
desenvolvimento (4º, 5º e 6º instar). Esses resultados sugerem que proteases e
lipases, enzimas importantes para o processo digestivo de A. gemmatalis são
oriundas tanto do inseto como da microbiota residente em seu trato intestinal.
Os resultados das análises da performance de A. gemmatalis indicaram
que a redução da microbiota interferiu em alguns parâmetros biológicos do
inseto, sugerindo dessa forma, que bactérias intestinais também influenciam o
desenvolvimento do inseto.
Bactérias cultiváveis foram isoladas do trato intestinal da lagarta da soja
e sua capacidade proteolítica foi testada. Os isolados degradaram todos os
substratos protéicos com eficiência, confirmando a hipótese de que as
proteases presentes no intestino da lagarta não são exclusivamente
secretadas pelas células do próprio inseto, sendo as bactérias responsáveis
por parte dessa produção.
109
4. PERSPECTIVAS
Esse trabalho é o primeiro relacionado a contribuição da microbiota
intestinal na produção de enzimas hidrolíticas, principalmente proteases
envolvidas no processo digestivo de Lepidoptera. Como os resultados
demonstraram a influência da microbiota na atividade de proteases tornam-se
necessários estudos de digestibilidade do inseto e estudos bioquímico-
cinéticos que detalhem as proteases oriundas das bactérias, visando à
complementação de pesquisas que buscam técnicas alternativas de controle
de Lepidópteras.
Investigações futuras também, poderão ser realizadas para uma melhor
caracterização da comunidade microbiana presente em A. gemmatalis.
Métodos moleculares qualitativos e quantitativos, que são mais sensíveis e
seletivos do que os métodos tradicionais poderão ser empregados. Assim,
informações a respeito da diversidade e distribuição das bactérias no trato
intestinal, incluindo as não cultiváveis, poderão ser obtidas e o seu
envolvimento na associação planta-inseto-microrganismo esclarecido.
110
5. AGRADECIMENTOS
A Coordenação de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível Superior
(CAPES), ao Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico e Tecnológico
(CNPq) e a Fundação de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(FAPEMIG).
“O cientista não estuda a natureza somente por ela ser útil; estuda-a
porque ela lhe apraz, e ela lhe apraz por ser bela. Se a natureza não fosse
bela, não mereceria ser conhecida, e se não merecesse ser conhecida, não
valeria a pena viver”
Henri Poincaré
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