RESUMO
Introdução: O Brasil possui um sistema específico de atenção à saúde para pacientes
portadores de VIH/SIDA. A introdução da terapia anti-retroviral altamente eficaz
proporcionou aumento da sobrevida desses pacientes, tornando a imunodeficiência entidade
de convivência crônica. Este trabalho objetiva a análise prospectiva das causas que levam os
pacientes com VIH/SIDA a procurarem atendimento clínico de urgência em Pronto
Atendimento referencial da região metropolitana de Belo Horizonte.
Métodos: Foram estudados no período compreendido entre 01/06/2006 até 31/05/2007, todos
os pacientes adultos infectados pelo VIH, admitidos consecutivamente no Pronto
Atendimento do Hospital das Clínicas da UFMG.
Resultados: Foram estudados 99 pacientes que perfizeram 118 internações. A idade foi em
média 39,4 anos (DP= ± 9,1). A relação entre homem e mulher foi de 1,35:1. Em relação à cor
e estado civil, 27,3% eram negros, e 50% eram solteiros. A forma de transmissão mais
freqüente foi a heterossexual (18,2%). O tempo transcorrido desde o diagnóstico e a admissão
mais comum situou-se entre 0-5 anos em 40,4% dos casos. A maioria dos pacientes foi
internada uma única vez. Em 55,1% dos casos estavam sob seguimento clínico em algum
centro de referência de atendimento ao paciente portador do VIH/SIDA. A terapêutica anti-
retroviral e a quimioprofilaxia era adequada em 56,8% e 29,7% dos pacientes,
respectivamente, à admissão no Pronto Atendimento. A contagem de linfócitos T CD4 foi
inferior a 200 células/mm
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em 45,7% dos pacientes. Não foi encontrada diferença
estatisticamente significativa, quanto ao valor da contagem de linfócitos T CD4 e o uso de
quimioprofilaxia para infecções oportunistas em função do desfecho óbito (p=0,2 e p=1,
respectivamente). As queixas mais freqüentes foram aumento da temperatura corpórea
(46,6%), diarréia (30,5%), tosse (28,8%), dispnéia (21,2%), cefaléia (10,6%), náuseas
(10,6%), e vômitos (10,6%). O aparelho respiratório foi o mais acometido, seguido pelo
gastrintestinal e neurológico. Não houve diferença estatisticamente significativa entre o
sistema acometido e o desfecho óbito. As doenças oportunistas mais freqüentemente
diagnosticadas foram: pneumocistose (17,8%), pneumonia comunitária (16,9%), síndrome
diarréica (16,1%), e candidiase oral (10,2%). A demanda de internações representou 2,8% das
admissões, com tempo médio de 4,6 dias de permanência no Pronto Atendimento.
Conclusões: Os pacientes que procuram atendimento clínico de urgência possuíam, em sua
maioria, contagem de linfócitos TCD4 baixa, quase a metade não usava a HAART. Houve
tendência a feminização da VIH/SIDA. As doenças relacionadas à SIDA continuam sendo as
mais freqüentes no nosso meio, apesar do Brasil possuir serviço médico específico para os
pacientes com VIH/SIDA de alta qualidade.
Palavras chaves: VIH, SIDA, urgências, emergências, doenças oportunistas.