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UNIVERSIDADE PRESBITERIANA MACKENZIE
EDGARD BELLE
A DISCURSIVIDADE CONTEMPORÂNEA SOBRE A MORTE
São Paulo
2007
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EDGARD BELLE
A DISCURSIVIDADE CONTEMPORÂNEA SOBRE A MORTE
Orientador: Prof. Dr. José João Cury
São Paulo
2007
2
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito
parcial para obtenção do título
de Mestre em Letras.
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EDGARD BELLE
A DISCURSIVIDADE CONTEMPORÂNEA SOBRE A MORTE
Dissertação apresentada à
Universidade Presbiteriana
Mackenzie, como requisito
parcial para a obtenção do
título de mestre em Letras.
Banca Examinadora:
_________________________________________________________
Prof. Dr. José João Cury – Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________
Profa. Dra. Elisa Guimarães – Universidade Presbiteriana Mackenzie
___________________________________________________________
Profa. Dra. Mônica Muniz Souza Simas – Universidade de São Paulo
São Paulo
2007
3
Dedicatória
Hugo Collarile (in memoriam)
Valdomiro Ferreira (in memoriam)
Aura Maria Collarile Lousada
Simone Teruko Nakamura
José João Cury
4
AGRADECIMENTOS:
CATALISADORES POSITIVOS
10 de março, 10106481878, 1019, 106375, 136, 16578298, 1962, 1967, 1969,
1986, 2000, 21 Gramas, 35378, Cia, 4506, 475M, 478P, 55, 708, 7626-0057, 7626-
0087, 7626-0067, andar, 82, 83, Absoluto, AC/DC, Ace Frehley, Ácido Ascórbico,
Aclimação, Adega, Adrian Smith, Agulha 20x8, Álbum de Figurinha Disney, Alcyr,
Alex, Alex Liefeson, Alexandre de Gusmão, Algarve, All Star, Alunos, Amor no tempo
do Cólera, Amoxicilina, Amplictil, Amplictil, Ana Cláudia (Casa da Infância), Ana
Cristina B.C., Anador, Anchieta, Andréa, André Luiz, Anglo, Anos 80, Antônio
Cândido, Antônio Colli Neto, Aquário, Aristóteles, Armando Marçal, Árvore, Aura
Maria Collarile Lousada, Avenida Ana Costa, Avenida da Praia, Avenida Nazaré,
Avenida Paulista, Aviões, Axiologia, Bach, Baiano, Bailinho, Bairro Suísso, Baixa
Pombalina, Banana, Banho quente, Bar da esquina, Barão, Batalhão de Guardas,
Batman, Beatles, Beethoven, Belo Horizonte, Benzetacil, Benzodiazepínicos, Beto-
Garibaldo, Biblioteca, Bill Gates, Blackinho, Blade Runner, Bola dog, Bolsa Mestrado,
Bom Pastor, Bosi, Bossa Nova, Bozo, Brasil, Bread, Bristol, Bruce Kulick, Bud,
Budismo, Cais Sodré, Calhambeque, Caloi10, Camarão, Camões, Canal, Canal 6,
Caneta Tinteiro, Capitão Avelino, Carlinhos, Carlos Drummond de Andrade, Carlos
José Pacheco Thomé, Carmem Célia, Carmim, Carmine Apice, Carpenters, Casa
Bevilaqua, Casa da Esfiha Imigrantes, Casa da Infância do Menino Jesus, Casa da
Química, Cascais, Casio, Cássia Cestari Delboni, Castelo de São Jorge, Castro Álvares,
Catedral, CBN, CCD, CEIX, Celestion, Centro Comercial Gemini, CEPUSP, Chet
Atkins, Chicão, Cibele Emiko Nakamura, Cidade de Santos, Cidade de São Paulo,
Cinema, Circular3, Cláudia (clodiam), Clínica Maia, Clodiam, Cloreto de potássio,
5
Cloridrato de Fluoxetina, Clube de Halteres Modelo, Clube Estrela, CNPq, Comes
Alive, Computador, Congressos, Corda de Nylon, Corinthians, Coronel Pacheco,
Cortes, Covas, Coxinha, Cravo, Cristiano RS, Cristóvão Colombo, Crusp, Dan, Dave
Brubeck, Dave Muray, David Bowie, David Hume, Deep Purple, Def Leppard,
Dentinho, Depakote, Desafio, Detido, Deus, Di Giorgio, Dias-BG, Diazepan,
Diclofenaco de sódio e de potássio, Digitech, Dimarzio, Dire Straits, Direct-tv,
Distortion, DOD, Dona Maria, Dor, Doritinha, Double Live Gongo, Dr Antônio, Duran
Duran, DVD, ECA-USP, EDA, EE Bassani, EE Cardim, EE Maria Luiza, EE Maurício,
EE Wallace, Einstein, Eliane Yokota, Elis Regina, Elizabeth Oliveira Costa Guimarães,
Elói, Elton John, Email, Emílio Ribas, Endovenoso, EPCAR, Eric C., Ernesto Sábatto,
Escalpi, Escola Pública, Escrever, Espiritismo, Espumas Flutuantes, Essência, Estação
Vila Mariana, Estacionamento, Estética, Etapa, Evian, Exército Brasileiro, EZZO,
Fabiano Reategui Pinto, Fábio Oberle, FAI, FAL, FEA-USP, Federação, Feijoada,
Fender, Férias, Fernado-BG, Fernando Oberle, Fernando Pessoa, Fernando skatista, FE-
USP, FFLCH-USP, FHC, Filosofia, FM –USP, FMVZ-USP, Fofucho, FórmulaC,
Fotos, Fuvest, Gabriel Garcia Márquez, Galeria do Rock, Geddy Lee, Gentil de Moura,
Geodon(ziprazidona), George Benson, George Benson, George Lucas, Gianinni,
Gibson, Gilberto, Gillete, Globinho, Globo Repórter, Gnosiologia, Gonzaguinha,
Grande Família, Grupo D`alma, Guitarra Cathedral, Guitar Player, Guitar World,
Guitarra, Guitarra Golden, Guitarra Tonante, Guitarra, GV, Haldol, Heavy Metal,
Heidgger, Helena Nakamura, Hélio A. Carvalho, Henry Purcell, Hermann Hesse,
HGSP, Hitler, Hora do Pato, HP33C, Huet Bacelar, Hugo, Hugo Collarile, IA, Iatismo,
Ibanez, Ibirapuera, IBM, Idealismo, IEA-USP, Igreja do Embaré, Ilha Porchá,
Imigrantes, Impressora, Inglês, Interferon B, Internet, Iogurte, Ione Ishii, Ipiranga,
Irmão X, Iron Maiden, Itumbiara, Jacareí, Jackson, Jaime, Japonesas, Jaqueta de Couro,
6
Jardim, Jazz, Jeans, Ji Lee, Jimi Hendrix, Jimmi Page, Joe Satriani, John Pizzareli,
Jonas, Jonh Steinbeck, Johny dog, Jorge Amado, José João Cury, José Luís, José Luiz
(prof. Mat. Clodiam), Judas Priest, Júnior, Keiko (candy), Kiss, Kit Ravell, Kitch,
Koala, Korega, Lap Top, Lápis nº2, Leite Paulista, Leitura, Leonor, Letras, Les Paul,
Level 42, Lexotan(bromazepam), Lili, Lima-BG, Lineu, Lisboa, Literatura, Livros,
Long Play, Lourival, Luizinho, Lulu Santos, Mackenzie, Madeira, Mãe, Manoel Carlos,
Manuel Bandeira, Maquiavel, Mar, Maracanã, Márcia Úbida, Mário Vicente, Mark
Knofler, Mark III, Marco Aurélio, Marshall, Massaud Moisés, Matemática,
Materialismo, Médico, Merilill, Metafísica, Metrô, Meu Irmão Sérgio, Mickey Rourke,
Midolino, Miguel, Milton, Minha Cama, Minha Casa, Minhas poesias, Missing Persons,
Moacir Gadotti, Moral (ética), More Than Words, Morte, Motel, Motel Paraíso, Mozart,
MSN, Museu do Ipiranga, Música, Música Erudita, Myrthes, Nana Vasconcelos,
Naninho, Nardinho, Navios, Neil Peart, Neozine, Nescafé, Nike, Noivado, Nootropil,
Notebook, Nutrison, O Laranja, Oceano, Odair, OEMAR, Oftalmologia, Orkut, Òpera,
Orquestra de Câmara, Orquestra Sinfonônica, Os trapalhões, OSESP, Oswaldo
Begliomini, Otávio Gomes, Padaria Fevereiro, Padre Arlindo Vieira, Pagannini, Pai,
Palheta, Pancho, Pão, Papel, Paracetemol, Paris, Parque Dom Pedro, Parquinho,
Pasteleira, Patrícia Silvestre, Paul Desmond, Paul Stanley, Paulo e Eunice, Paulo Freire,
Paulo Romeu, Pedagogia, Pedal Sound, Pelé, Percurssão, Perdidos no Espaço, Perícia
Médica, Perrier, Pete Townsend, Peter Criss, Peter Frampton, Piano, Píer de Santos,
Piloto de Avião, Pinguinho dog, Piolim, Pirinha, Pituka, Platão, Platoon, Playcenter,
Poesia, Police, Ponta da Praia, Praça Pinheiro da Cunha, Praia, Praia Grande, Prédio,
Prisão, Prosa, Prostituta, Prozac (cloridrato de fluoxetina), Pucca dog, Punk, QG,
Queijadinha, Queijo Roquefort, Quimioterapia, Quitanda, Rachel, Rachel Mack,
Rachmaninov, Raciocínio, Rádio, Rádio Táxi, Radioterapia, Randy Rhodes, Raul A.,
7
Rei do Mate, Relógio Calculadora Alba, Remo, Retórica, Rick Wakeman, Rio de
Janeiro, Risperidon(risperidona), Robert Plant, Roberto Carlos (antigo), Roberto
Nascimento, Roberto Salmon, Rock in Rio, Rolling Stone, Roque, Rossi-bg. Rua Berna,
Rua da feira, Rua Pedrália 476, Rua Vergueiro, Rush, Salsicha dog, Salvador Simões,
Sandra, São Bernardo do Campo, Sapato bico fino, Saraiva, SBPC, SBT, Seleção
Brasileira, Serginho, Sérgio Quirino Bispo, Série KUNG FU, Seringa, Serra do Mar,
Sesc Fábrica Pompéia, Severino, Shakespeare, Shan-gri-lá, Shopping Ibirapuera,
Shopping Paulista, Silogismo, Simone Teruko Nakamura, Simpósios, Sítio do Pica Pau
Amarelo, SKY TV, Sócrates, Solar do Embaré, Sony, Sopave, Soro, Sound, Sr.
Estevam, Stanley Dog, Stanley Clark, Stela, Steve Vai, Stevie Ray Vaughan, Sting,
Strar Wars, Stratocaster, Stratovarius, Substância, Take Five, Talmud Thorá, Tao,
Teclado, Teka dog, Tegretol (Carbamazepina), Telecaster, Telefone Celular, Televisão,
Tênis, Teodoro Sampaio, Teologia, Terra de Gigantes, Teruo Nakamura, The Cure, The
Police. Thomans Mann, Tia Maria, Tia Palmira, Tio Luiz, Tio Zé, Tiziano, TKR, Tom
Jobim, Toyota, Trace Eliott, Tratorflex, Travesti, Trio MLM, Tubaína, Túnel do Tempo,
Turca, TV Cultura, Tv Globo, TVA, Tylex30mg, U2, UFMG, Ulisses Rocha, Uma
namorada, Universidade de Lisboa, Universidade de São Paulo USP, Up and Down,
Valdomiro Ferreira, Válium (diazepam), Van Halen, Vanderval, Vangelis, Varig,
Velejar, Vendinha da Turca, Via oral, Viagem ao Fundo do
Mar, Vídeo Cassete, Vieira de Almeida, Vila Sésamo, Vinho do Porto, Vinnie Vincent,
Violão, Violino, Visita do Papa, Vitamina Ac, Vivaldi, Vizinhos 55, Antônio,
Guará, Vovó Rachel, Vox, VPS, Walt Disney, Washburn, Werther, Whitesnake,
Wonka, Yakult, Yngwie Malmsteen, Young Guitar, Zé, Zé pé, Zoológico, Zyprexa.
8
CATALISADORES NEGATIVOS
Afetação, Agulha 20x8, AIDS, Alunos de Escola Pública, Amoxicilina,
Amplictil, Andréa-noiva, Assalto na Praia, Atendimento Hospitalar, Auditoria Militar,
Axé, Banco do Brasil, Bargeragem, Benzetacil, Benzodiazepínicos, Big brother-globo,
Borghi, Bozo, Câncer, Capitão Avelino, Carrapatos, Carreira acadêmica, Carreira
militar, Casamento (instituição), Cássia Cestari Delboni, Célia e Irmandina (clodiam),
Chantagem emocional, Chitãozinho e Chororó, Cloreto de potássio, Cocaína, Colégio
Horizontes, Colégio Visconde, Concursos públicos, Daniel (cantor), Diazepan,
Diclofenaco de sódio e de potássio, Dinheiro, Diretores de Escola, Divórcio, DST,
Egoísmo, Eliane Yokota, Emprego, Endovenoso, Escalpi, Escola Pública, Faculdade de
Medicina-USP, Geodon(ziprazidona), Globo Repórter, Governador Quércia, Grande
Família, Grupo Calipso, Haldol, Hemodiálise, Hipocrisia, Ignorantes, Igreja Católica,
Individualismo, Intelectualismo, Intelectualóides, Interferon B, Inveja, Inventário, Ji
Lee, João Gordo, Jogos de sedução, Kelly Ky, Latino, Lexotan(bromazepam), Licença
de Professores, LULA, Maconha, Mãe da Cássia, Márcia Úbida de Campos, Medicina,
Médicos, Medo, Merilill, Modelos mulheres, MTV, Música Sertaneja, Neozine,
Noivado, Oftalmologia, Os trapalhões fase final, Pagode, Pai da cássia, Pai,
Paracetemol, Penélope mtv, Pessoas sem projeto pessoal, Plano Collor, Pobreza, Poder
Judiciário, Polícia Militar do Estado de SP, Política, Professores da Escola Pública,
Prozac(cloridrato de fluoxetina), Psiquiatria, PT, Quimiterapia, Radioterapia, Richard,
Risperidon(risperidona), Roqueiros, Sandra, SBT, Sérgio Belle, Seringa, Solidão, Soro,
Tegretol(Carbamazepina), Tia Maria, Tv Globo, TVA, Tylex30mg, Universidade de
São Paulo-USP, Vaidade acadêmica, Válium(diazepam), Vanessa Camargo, Via oral,
Xuxa.
9
Resumo
Situado dentro de uma perspectiva francesa de análise do discurso, nosso
trabalho traz um estudo da discursiva contemporânea sobre a Morte, tendo base a idéia
interdisciplinar e polifônica de articulação do lingüístico com aspectos sócio-históricos.
O resultado polissêmico dessa formatação lança bases para o estudo das condições de
produção do enunciado e das relações nelas existentes na contemporaneidade.
Destacamos ainda, no decorrer de todo o nosso texto, as possibilidades de quadros
institucionais presentes na produção com seus respectivos espaços e embates históricos,
interpessoais e individuais (conscientes e inconscientes) em que estão cristalizados.
Palavras Chave:
Morte ― Análise do discurso ― Pós-Modernidade
10
Abstract
In a French perspective of the discourse analysis, our work brings a study about
the reason given to contemporaneous discourse shape about death having as base the
interdiscipline idea and the articulation polyphonic of the linguistics with social
historical aspects. The wide consequence of this shape is the basis to the study of the
production circunstances about the enunciation and connection of this perspective in the
present day. We can still distinguish the possibilities of the institutional statement in the
production with their respectives space and historical clashes, interpersonal and
individual ( conscious and unconscious ) in which they are crystallized
Keywords:
Death - Discourse analysis - Postmodernity
11
Sumário
1. Apresentação......................................................................................................13
2. Introdução..........................................................................................................17
3. Morte e Filosofia: uma visão macro…...…………………………....................27
4. A morte e o morrer……………………………………………….....................49
5. Morte e contemporaneidade…………………………………….......................56
6. Considerações Finais……………………………………………......................72
7. Bibliografia……………………………………………………...................…...76
8. Anexo I – Bibliografia Sugerida (Tematizada)…...................................…...….80
9. Anexo II – Bibliografia Sugerida (Idade Média)…………........................….....97
12
Figuras
Fig.01....................................................................................................................................43
Fig.02....................................................................................................................................44
Fig.03....................................................................................................................................45
Fig.04....................................................................................................................................45
Fig.05....................................................................................................................................46
13
APRESENTAÇÃO
Apresentar um trabalho é sempre um ato complexo. No nosso caso, apresentar
ganha uma tônica mais essencial, pois ela tem em seus ombros a tarefa de justificar a
sua própria existência.
Ao iniciar o programa de Mestrado da Universidade Presbiteriana Mackenzie, o
projeto pré-apresentado era um tanto quanto diverso do resultado que aqui se segue. Ele
tinha como objetivo principal a temática da morte dentro de um contexto muito restrito.
Era de nossa idéia traçar, dentro de uma perspectiva da Literatura Comparada, as
diferentes visões de morte apresentadas nos livros: A morte e a morte de Quincas Berro
D`água, de Jorge Amado e A Revoada, de Gabriel García Márquez. O intento nada mais
era que discorrer sobre a diferença de abordagem da morte nessas duas grandes obras,
que se demonstravam completamente opostas. Enquanto a morte de Jorge Amado era
glorificante e transcendente, a de Gabriel García Márquez era degenerativa e
repugnante.
Iniciado o processo de créditos do programa, tomei conta de um universo que até
então não se fazia morada em mim. As leituras e os cursos proferidos trouxeram o
contato com a obra de diversos autores mostrando toda a riqueza e complexidade do
processo discursivo, tanto na sua cristalização como na sua decomposição e re-
significação.
Foi nessa altura, adentrando-se no tema da Morte, que muitas coisas ficaram por
faltar. Para que pudéssemos, de forma honesta e clara, falar sobre a morte nas duas
obras, deveríamos conhecer o fenômeno e seus desdobramentos. Seria de completa
fé, tentar desenvolver um tema onde não se tem uma clara percepção daquilo que o
próprio pesquisador entende por tal.
14
Nesse ponto, fomos trazidos de forma ingênua e apaixonada a simplesmente o
maior de todos os mistérios da vida humana a morte. Com surpresa, observamos que
não havia bases firmes para essa discussão, tanto no plano existencial do pesquisador
quanto no próprio seio do mundo contemporâneo. Nesse exato momento, por essas e
tantas outras, deu-se um enorme vazio.
Em grande parte, o vazio se fez pela ausência de um discurso concreto sobre a
morte na contemporaneidade. uma lacuna gigante na massa crítica temática, e o
pouco que é ofertado nem sempre o é de forma clara e concisa.
Fomentado por meus estudos e leituras no próprio programa, bem como as
diversas disciplinas cursadas, era conhecida de forma clara a percepção que a
ausência de um discurso formal e declarado sobre algum tema não significaria
necessariamente a sua inexistência. De várias formas ele poderia se fazer nas
entrelinhas culturais, subliminarmente. Em outras palavras, um discurso sobre a
morte que permeia toda a nossa sociedade bombardeando-nos a todo instante. E mais,
que esse discurso do não-discurso seria uma sintomática conjuntural de uma
circunstância bem definida. Todo o processo a que faço menção, e que foi trabalhado de
forma muito contundente em disciplinas oferecidas pelo próprio departamento,
deixaram claro que a oclusão do tema é uma das características mais marcantes do
processo denominado Pós-Moderno. Ele está envolvido naquilo que é tido por todos
como um de seus males maior: a desumanização tecnicista. Lança-se assim o pano de
fundo de nossa temática em um contexto contemporâneo.
Desta feita, nosso trabalho situa-se numa perspectiva francesa de Análise do
Discurso, que tem fonte na idéia interdisciplinar e polifônica de articulação do
lingüístico com aspectos sócio-históricos. O resultado polissêmico dessa formatação
15
lanças bases para o estudo das condições de produção do enunciado e as relações
enunciador- enunciatário.
Destacamos ainda, no decorrer de todo o nosso texto, as possibilidades de
quadros institucionais presentes na produção com seus respectivos espaços e embates
históricos, interpessoais e individuais (conscientes e inconscientes) em que são
cristalizados. Desta forma, a linguagem ganha corpo, materializando-se naquilo que
poderíamos chamar de: Análise do Discurso Filosófico da Morte, e onde se compõe
todo um “corpo discursivo”.
Neste tecido textual onde se dão os embates das múltiplas vozes discursivas há o
condensamento de conceitos, que implica necessariamente em instrumentais apurados.
Por isso, no trabalho um ganho incontestável do tônus filosófico, o que não deve ser
confundido como desvio nos objetivos propostos.
Desde que a cultura humana iniciou o processo de desenvolvimento de idéias, no
que é conhecido por nós como Filosofia. Suas idéias, alicerçadas pelo conhecimento
empírico, deram origem às ciências modernas, que ainda hoje fazem parte de um
universo em expansão. A filosofia ou linguagem filosófica por assim dizer pode ser
entendida como uma estruturação racional de idéias. No momento em que estamos por
desenvolver idéias e relações, em quaisquer áreas da atividade humana, estamos de
alguma forma delineando um corpo filosófico específico. Muitas vezes temos que
apresentar questões conceituais, e a partir delas alinhamentos necessários para que esta
jornada não seja solitária, e que nosso leitor passe também pelos meandros de sua
própria concepção sobre o tema. Essa é uma das preocupações do nosso trabalho, e de
certa forma, abordado em diversos momentos no decorrer do texto. Sendo assim, não
ônus algum, nem desvirtuamento de nosso propósito primeiro, que recai na formatação
da discursividade contemporânea sobre a morte.
16
Por fim, uma observação da estrutura faz-se necessária. Logo no início do
processo de escrita notou-se que a cristalização da esquematização poderia gerar
problemas. Assim, o texto em si guarda uma estrutura ensaística, o que o diferencia e
faz guardar certa distinção das dissertações. Um ensaio requer uma propriedade
organizacional de idéias, um amplo espectro informativo, mas, acima de tudo,
preservar-se vivo; manter-se em comunhão com uma liberdade estrutural que o
transforma em um ator de seu próprio destino. Há, em seu interior, um diálogo perpétuo
entre diversas vozes e idéias. Representam nada mais que as diversas correntes de
pensamento sendo trabalhadas. Neste tear, mesmo tendo todos os fios, a ordem da trama
pode e deve nos trazer surpresas, pois uma de suas características é o trato específico
com as emoções.
Notou-se então, que muitas vezes o curso se deslocava rapidamente de um lado
para outro, interconectando partes e idéias. Mesmo tendo um plano de progressão, não
se pode confundir o fato com confusão ou desordem, pois ela tem sua raiz no próprio
fluxo das idéias sobre o corpo da tipologia textual..
17
INTRODUÇÃO
Este tema tem características culturais acentuadas e cada qual se relaciona com a
questão de forma distinta. Esta peculiaridade torna-se ainda mais sensível no plano
subjetivo onde são incontáveis as variáveis.
Pela sua relação subjetiva, a questão está além da obviedade relacional temática.
Lança um espelho sensível na relação com a vida, propiciando um embate dos mais
íntimos e arraigados. Algo profundo, que pode ser retratado como um grande diálogo
interno. Sendo de marcante relação cultural, sempre mereceu as mais atentas
demonstrações, seja na filosofia, história, arte, religião ou, mais modernamente, na
psicologia.
Nossa relação com o tema morte é muito antiga, remontando aos tempos
ancestrais. Antes mesmo que a arte rupestre decorasse o interior das cavernas,
juntamente à noção da própria existência. De alguma forma, a sensação de prazer com o
abate da caça e a quase simultaneidade do pesar pela perda do convívio dos mais
próximos forjaram nossa personalidade. A partir deste dilema, desenvolvemos todo o
corpo de nossa manifestação cultural e conseqüentemente todo o chamado “Universo
Humano”.
Todo o processo pode ser considerado simplista ou unidirecional, mas de fato
ganha forma altamente complexa e dialética, com requintes recursivos quase infinitos.
Ao mesmo tempo em que a noção da morte delineia o ente humano em seu substrato
cultural, também afeta de forma efetiva sua percepção do tema. Aquela que era moldada
passa de forma ativa à formatação, constituindo nossa percepção de mundo.
Mas o que qualifica alguém a falar sobre a morte? Pensar que se está qualificado a
falar sobre morte porque se tenha lido algum livro de cunho religioso, filosófico ou uma
18
cria editorial de auto-ajuda, seria um tanto quanto ingênuo. O fato qualificador é nosso
próprio existir. De alguma maneira somos qualificados, até em excesso, pela simples
aquisição da vida e a conseqüente e clara aquisição, em anexo, da morte.
A problemática é levantada por Heidegger (2000), que coloca de forma
transparente o jogo que fazemos em discutir sempre a morte alheia em detrimento da
nossa própria. Este fato desqualificaria, diz ele, qualquer verdade imputada em nossas
palavras. O discurso da morte de outrem é um discurso morto, isento da real
problemática que o envolve. A morte teria sentido quando seu pensar é reflexivo. Se
eu puder falar na morte como sendo a minha morte talvez um dia eu possa falar na
morte do outro, e com ele talvez falar na “nossa” morte.
De forma contundente, Heidegger (2000) refuta a possibilidade de
interpretarmos a morte de forma correta (clara), destacando contundentemente sobre o
papel da multidão, massa ou opinião pública, que conduz constantemente o indivíduo ao
engano e ao erro. Quando vem a morte, a “multidão” nos convence a pensar somente
como um acontecimento distante. uma indução para que não consideremos a sua
proximidade. A morte começa a ser pensada como uma coisa, algo que aconteceu ao
outro, e que nunca nos acontecerá. Persuadindo a pensar nesta como algo concreto, a
“multidão” retira a possibilidade de contemplá-la como algo individual (HEIDEGGER:
2000).
E se por acaso nos afastamos desta influência, começo a contemplar a morte como
minha própria possibilidade? Uma possibilidade difícil nos dias atuais, onde quase tudo
é produzido em blocos.
Para Heidegger, quando começo a contemplar a morte como minha morte, dou-
me uma abertura a uma compreensão muito mais profunda de mim mesmo, de meu
lugar no mundo, da existência humana e do próprio tempo (HEIDEGGER: 2000).
19
Quando compreendermos que a morte é nossa possibilidade, de que ninguém pode nos
aliviar, ou fugir, começamos a nos compreender muito melhor como seres que vivemos
para determinadas possibilidades com somente um período de tempo finito para suas
realizações. Somente com uma compreensão profunda “de minha própria morte”
empreendemo-nos como projeto, traçando assim um curso junto a determinadas
possibilidades. Este aspecto “de nossa morte” é essencial para podermos até enfrentar as
possibilidades das “massas”. um provérbio hebraico que expressa bem esta verdade:
"Lembre-se de numerar seus dias para que assim possa começar com um coração cheio
de sabedoria”.
Entender a morte como uma seqüência natural seria mais fácil se apenas os mais
velhos fossem por ela acometidos. Entretanto, não é o que acontece. Algumas vezes a
pessoa que morreu era jovem, mais nova que nós mesmos. Nestas horas, a morte parece
nada natural, a licença que possuía sobre o inevitável mostrou-se como algo sem ritmo e
obtuso. O sofrimento das famílias é profundo. uma perda do que seria a suposta
racionalidade do fenômeno e uma impossibilidade, mesmo que momentânea, de
inteligibilidade. O processo natural para o qual sempre nos preparamos caíra por terra.
Nossa preparação interna para a morte, como processo natural foi interrompida
por circunstâncias extremamente trágicas. Nossas vidas foram rachadas em duas: nossas
vidas antes da notícia e após ela. As duas vidas agora possuem um caráter radicalmente
diferente. O tempo próprio era mais longo, contínuo, fluido, e natural. O tempo foi
rompido por um sentido indescritível da dor e da perda.
A dor e o apego para com inúmeras coisas desta vida, mesmo que provisória, são
inebriantes. Junto a este apego é exercida uma incrível pressão externa, que faz o
trabalho intelectual do tema quase sempre obscurecido. Os requisitos necessários para
uma elaboração da morte e do luto ficaram incompatíveis com a nossa própria
20
necessidade. Algo assim pode comprometer não a sanidade do indivíduo como afetar
profundamente as relações sociais. Entendemos, como dito anteriormente, que a
elaboração da idéia se faz eficientemente pelo próprio ser, mas entendemos também,
que a apresentação de aspetos antropo-históricos do tema podem dar início à auto-
reflexão.
A relação com o fenômeno é algo por demais pessoal; contudo, seria ingênuo
esperar que a intensificação de nossa relação se desse de forma espontânea. Quiçá com
a perda de um ente próximo o “start” se dê, mas quase sempre isso acontece quando
ficamos frente-a-frente com a nossa própria morte. Isolados do mundo pela mordaça do
pavor, e sem nenhuma consideração anterior, tornamo-nos catatônicos.
O fato de possuirmos uma elaboração anterior não equaciona a questão, mas
certamente pode apontar direções. A própria psicanálise demonstrou pela sua prática por
quase todo o século XX que o ineditismo de sensações quase sempre nos confunde, e
que o trabalho consciente com tudo aquilo que tememos é essencial. Um passo
primordial para obtermos uma sobrevida saudável e uma harmonia social.
O pensamento de morte é, por definição, filosófico, pois sua própria essência não
material lhe concede uma primazia filosófica, ou seja, possui em fundamento a
liberdade de uma representação sensível e reflexiva.
Esta característica conceitual, porém, não impede representações míticas e
simbólicas. No entanto, por mais que estas sejam complexas, e por que não dizer
profundas, temos que considerar sua pobreza e incompletude diante do fenômeno supra-
sensível da morte. Assim, mais uma vez afirmamos que o pensar na morte é na verdade
um cogito da mortalidade e da ausência dos que por ela adentram.
Para a filosofia resta a não simplória função de assumir a construção deste esboço
simbólico e as demais adjacências. Poderíamos até insinuar que, se observarmos todo o
21
corpo textual filosófico humano, poderíamos nos sentir tentados a traçar uma linha bem
definida que nos apresentaria uma ¨História Filosófica da Morte¨. Infelizmente, por
questões objetivas, não desenvolveremos esta possibilidade, que por justiça fica aqui
registrada.
Outro ponto não menos interessante é o encadeamento de nossa temática e a
própria constituição da filosofia como modus operandi racional. Sua formação
contempla a própria constituição de uma morte concreta a de Sócrates, relatada de
modo tão singular em Fédon, por Platão (1920).
Nesta linha, a própria sistematização da filosofia coincide, como dissemos
anteriormente, com a formatação de um discurso sobre a morte, fazendo colar as duas
de forma significativa até os dias atuais.
Em Platão isso se de forma cabal, pois todo o seu pensamento está dividido
entre nuances desta temática: ¨Aqueles que filosofam, no sentido exato da palavra, se
exercitam para morrer...” (PLATÃO:1920)
Este exercício de apartar-se de si, que é comum no trato filosófico, concede ao
mesmo um contato prévio com o fenômeno. Esta preparação é tida não como
exercício para tal, mas também como acesso à imortalidade.
O filósofo platônico triunfa sobre a morte no sentido em que a olha nos olhos. Sua
filosofia é uma inquietação para com o fenômeno e por decorrência uma inquietação
para com a vida. A “eternidade” nada mais é que o resultado deste trabalho, a
concretização de seu triunfo — a imortalidade. (PATOCKA:1981)
O exercício agora citado abre caminho para uma experiência supra-corpórea, ou
seja, uma possibilidade a mais na concretude da realidade material. também uma
importante conexão simbiótica, e por que não sinonímica, entre a preocupação com a
morte e uma certa inquietação com a alma.
22
Talvez sob esta ótica abra os olhos para uma nova interpretação do Mito da
Caverna platônico e recaia sobre ela uma pequena metáfora entre a dualidade vida e
morte. O romper das correntes poderia ser nada mais que o pensamento filosófico e a
saída da escuridão o abrir de olhos para a imortalidade (BOAVENTURA: 1983).
Algo interessante a ser considerado é a forma que se o retorno do liberto ao
mundo da escuridão. Talvez ele se pela inocência, ou então num ímpeto de
generosidade, quiçá pela impossibilidade do mesmo em ali permanecer.
Mesmo sem sabermos a real verdade do retorno, temos que considerar que, se é
pela consciência dos limites de sua condição que o pensador se abre para o ilimitado e
se então a distinção entre sombras, abre-se um hiato claro onde talvez se então o
mágico olhar para a imortalidade. Assim, neste pular entre os dois pólos da essência
humana, dá-se o grande cativeiro da humanidade e o desafio de toda nossa filosofia: a
racionalidade entre as extremidades do finito e infinito. O Mortal e o Imortal estão
presentes em nós, fazendo seu registro em cada passo ao nosso destino incontestável.
A imortalidade passa a ser uma possibilidade filosófica e como tal uma vertente
passível de trânsito e com a aplicação humana a cada dia mais concreta e viável, pois se
esta linha se constatar verídica ele estará salvo e se por ventura ela se demonstrar em
vão pelo menos não viu seu tempo terreno se esvair em vis lamentações. Este exercício
o prepara e faz com que, se não superada, far-lhe-á morada de uma maneira mais
cômoda e fértil na mente daquele que a trabalha.
Desta feita, após a vinculação do nosso tema à filosofia não foram poucos que a
abraçaram diretamente. Por exemplo, Hegel em seu trabalho Fenomenologia do
Espírito, a coloca nas partes que trata da relação dialética entre senhor e escravo,
baseada fundamentalmente na capacidade (exclusiva do ente humano) de enfrentamento
23
daquilo que ele chama de o “grande senhor” ou “senhor absoluto” a morte
(HEGEL:1992).
Neste enfrentamento, a racionalidade na construção do que se convencionou
chamar de metafísica ou transcendental, pela transposição do mesmo à realidade
material e puramente biológica, é um fato concreto. É claro que junto ao bojo da
discussão está a questão sobre qual é a limitação imposta pela própria natureza, mas
mesmo com toda esta problemática ser-lhe-á creditada, senão a solução, um grande
passo rumo ao domínio do seu próprio eu e, por que não dizer, a reconstituição
significativa de tudo que nos cerca.
Neste mesmo sentido nos presenteia Heidegger com a percepção de que na análise
de conseqüentes e sucessivas “mortes” de consciência nos é dada a própria ressurreição,
que se demonstra sem dúvida nenhuma uma interessante percepção do pensamento
hegeliano. (HEGEL: 1992)
Visto desta maneira, podemos inferir que no trato da questão, ou seja, da
dizimação total por meio da morte, se o encontro da substância mais pura, e por
extensão, o encontro com aquilo que nos define mais essencial. Pensando de forma
hegeliana, poderíamos destacar que a elaboração desta angústia diante deste fenômeno
terminal é a consagração do princípio único da individualização. O trabalho que se
coloca como fundamental, e quase totalmente desconsiderado nos dias atuais, é a
posterior incorporação desta “destituição da vida” (elaboração racional da morte) à vida,
trazendo o que poderíamos chamar de harmonização do antitético (vida e morte) e a
posterior libertação do nosso maior senhor — o medo.
Retomando o que trabalhamos nas últimas páginas constatamos que de forma
polarizada, encontra-se a consciência de si e a do ser imediato, e que, se dado destaque
ou ênfase ao processo de um conhecimento de nossa finitude, podemos acercar-nos de
24
múltiplas inferências positivas e uma ampliada extinção de sensação limitantes e
degenerativas do nosso profundo e verdadeiro eu, gerando uma consciência libertadora
que nos conduz a uma real planificação, tanto externa quanto interna. Sem sombra de
dúvida, uma transfiguração da tragédia em uma estrutura viva e edificante que, em
ganhos mínimos nos traz à tona uma maior proximidade de nossa “real realidade”.
O brilhantismo desta concepção reside na idéia de que quaisquer negações de
ordem natural guardam em si mesmas a negação da consciência em si, e por
conseqüência mais que natural, a oclusão de qualquer verdade. É a impossibilidade de
se aproximar da verdade, ou seja, qualquer raciocínio feito seria considerado uma
falácia genética, a imputação de causa a um fator conseqüente.
Talvez pareça-nos contraditório, mas tendo acesso à absoluta negatividade da
consciência de si, tem uma maior capacidade do encontro de si em sua prática vital, mas
é por esta práxis que se dá a transformação intra e extra-mundo, que em última instância
faz a equalização harmônica do devir, da necessidade — do nosso assenhoreamento.
Manter-nos vivos é uma necessidade, mas acima disto faz-se primária a busca da
lucidez, um misto de essência íntima e da lógica externa das coisas. O recuo frente aos
perigos que a vida nos oferece, bem como ao próprio enfrentamento do que poderíamos
tratar como negatividade abstrata que representa nosso tema, não pode senão ser
compreendido como uma economia da vida. Uma clara economia daquilo que é o
reconhecimento de si, uma negação clara de nossa identidade.
Ao olhar mais simplista esta atitude poderia soar muito cômoda, mas aos olhos
mais abertos ela é compreendida como uma doce e instantânea máscara a plastificar
nossos poros daquilo que nos poderia conduzir ao tônus real. A fuga não passa de um
ato tragicômico, pois substituímos a angústia do trato consciente, única chance de,
mesmo não vencendo, ter-nos a nós mesmos, pela morna sedação de uma ilusão.
25
Hegel também pontua nesta direção alicerçando-nos que a negação “espiritual” da
vida conserva-a enquanto a nega e, como seu próprio texto introdutório da
“Fenomenologia do Espírito” leva-nos à “energia do pensamento do puro eu”, que abre
as portas para uma existência própria e uma liberdade de todo o acidental
(HEGEL:1992).
Convém salientar que todo este processo do encontro de si e a conseqüente aura
re-significativa de nosso Eu e da Idéia dá-se através do Pensamento e da Linguagem,
duas potências basilares na efetivação de todo o construto significativo. O ser pensante
e capacitado lingüisticamente possui as potencialidades para o entendimento do
fenômeno da morte e a conseqüente construção tanto do referido fenômeno como a sua
natural distensão — a vida.
Por meio da indagação sobre a natureza da morte e a sua inteligibilidade
compõe-se o todo inteligível do seu antagônico, não essencializado na covardia dos
passos largos, mas na resistência concreta a passos curtos e seguros. Neste pequeno
bailado vê-se a referida conquista de um bem concreto que se desabrocha nas cores da
vida do espírito, que se faz na pura especulação dos limites do absoluto (HEGEL:
1992).
Aqui encontramos um dos pontos sutis que justificam nossa jornada na referida
área discursiva, pois todo o processo se dá sobre as asas mágicas da dialética discursiva.
Talvez seja onde vemos mais claramente toda a discursividade bakhtiniana. Jaz aqui,
quiçá, o embrião cultural de toda a humanidade, a fonte primária de toda logicidade
cultural humana na busca racional da lógica daquele que se põe como nosso maior
desafio, não só como fenômeno em si, mas também como desafio organizador de todo o
modelo técnico-científico de nossa espécie.
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No binômio morte-vida tem-se a operacionalização de todo “corpus” teórico
cultural. Fluindo entre o concreto e o abstrato, entre o finito e infinito, temos nosso
paradoxo primeiro e dele gerado nossa metáfora matriz. Nesta altura há a transformação
do negativo em um “corpus “ vital positivo e o nada no ser em si (HEGEL:1992).
Aristóteles já se referiu a esta problemática como sendo o exercício mais pleno e
característico da vida e que nele se faz estar o próprio ser imortal e eterno Deus.
(ARISTÓTELES: 2005)
Nestes pequenos e breves momentos dar-se-ia o contato da Humanidade com a
vida superior ganhando como bônus o maior fim, pois o estado contemplativo que não
almeja nada além de si seria o estado de maior felicidade a eudamonia. Assim,
participaria ele não somente de um ¨cogito humano¨, mas de uma vida divina. Seguindo
estes passos aristotélicos deveríamos sempre que possível perder-nos das coisas fatuais
e adentrarmos neste caminho da subjetividade para ganharmos nossa própria
imortalidade. (ARISTÓTELES: 2000)
Mais uma vez vê-se à porta a nave filosófica capaz de nos arremeter ao todo e,
por desdobramento, à imortalidade. Podemos sem receio ousar compreender, por
extensão, a discursividade filosófica como sendo o exercício prático desta busca e o
discurso filosófico (em todo o seu registro concreto) um quase diário de bordo desta
aventura.
Para aqueles que erigiram barreiras não comunicáveis entre o universo platônico
e aristotélico, talvez seja agora o momento de redefinição destes estancamentos. Há,
sem sombra de dúvida, todo o embasamento platônico nas considerações aristotélicas
anteriormente citadas, mas de maneira muito sutil, um rompimento de entre as visões.
No platonismo faz-se uma distinção entre o sensível e as idéias e de forma final eles
simplesmente são, por assim dizer, definidos.
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Aristóteles por sua vez transporta a questão a uma fisis definida. Esta mecânica
dialética de forma muito crítica ao estático platonismo, lhe concede um dinamismo
inexistente. Sem dúvida uma concepção crítica, contudo de uma forma geneticamente
incorporativa.
ainda em Aristóteles a discussão do ser, que é apresentado de forma muito
clara, pois mesmo sendo todas as coisas geradas no pensamento (não ser), como
planificação e finalidade são realizadas em seu fim último no mundo físico e
concreto (ser). Neste processo estão todas as raízes do ser e do devir e as progressivas
conseqüências (ARISTÓTELES: 2005).
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MORTE E FILOSOFIA – UMA VISÃO MACRO
A filosofia abarca o conhecimento de tudo o que foi, o que é e o que será. Uma
proposta de um saber totalmente unificado, um conhecimento tão amplo que envolve
toda a humanidade, desde os tempos remotos, nos aspectos mais profundos da
existência humana, nas relações com seu semelhante e o todo o universo. A filosofia é
fruto da vivência do ser e as suas mais profundas dúvidas, mergulhando no essencial da
consciência humana.
Ela também é o uso dos saberes para a própria comodidade do ser humano. As
reflexões acerca da finalidade da vida humana em seus aspectos mais transcendentes
conduzem-nos, de maneira natural, às valorações contempladas pela Ética. Todos nós
nos encontramos imersos neste aspecto da filosofia, desde o momento que, de maneira
consciente, refletimos sob a significação racional e emotiva de nossos atos na vida e,
por que não dizer, também na morte.
A filosofia em sua etimologia significa amor a sabedoria. Trata-se de um amor
fraterno, universal e transcendente, um amor ao conhecimento, um amor ao mais amplo
dos sentidos e significação que possa conceber as relações humanas. O amor é uma
constante na filosofia e isso fora comentado por Empédocles no século V a.C.,
quando fez alusão aos elementos da natureza: terra, vento, água e fogo e sua união pelo
amor e sua separação pelo ódio. Aristóteles descreve o amor como uma força que
vincula e harmoniza. No século, XIX Feuerbach, ao divinizar o ser humano no passo da
teologia para a antropologia, afirma que o homem nasceu para saber e amar. O amor
assim mesmo é uma constante nos pensamentos filosófico e religioso principalmente na
tradição ocidental.
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A filosofia é uma reflexão atemporal. Existe a história da filosofia assim como a
história do homem e ambas se dão no mesmo tempo. Existe também uma história da
vida privada e ela sucede no tempo. Sem dúvida, a filosofia, em sua atividade reflexiva,
abarca um espaço em que o tempo se detém para recolher os pensamentos constantes e
perenes que têm acompanhado a humanidade por todos os tempos de sua existência. A
reflexão da história ocupa também um espaço no tempo. A vida de cada um de nós, com
nossas próprias histórias, chega a momentos em que, pela natureza e consciência,
transporta-nos a momentos reflexivos que envolvem a significação mais profunda de
nossa própria existência e morte.
A filosofia, como mencionamos desde o início, é um conhecimento que abarca a
totalidade do ser. A vida e a morte fazem parte do ser, assim como a consciência que,
desta idéia, faz nascerem inúmeras outras. Assim chegamos a um ponto de vital
importância para nosso tema: a consciência de vida e de morte que jaz em nós,
humanos. O homem é o único ser da Natureza que possui o conhecimento de que se
encontra vivo e que, um dia, inevitavelmente, irá morrer.
Nossa resposta frente à vida e a morte é em conseqüência muito menos instintiva,
sem deixar de sê-lo, para converter-se em ato de constante emoção, reflexão e intuição.
A este ato único da natureza denominamos consciência. A consciência é o selo
distintivo da humanidade.
Falar de consciência resulta evidentemente de nossa condição humana e tem como
escopo a nossa própria essência, tanto no campo da filosofia como na antropologia.
Nestes termos temos que levar em consideração algumas definições:
Consciência em seu sentido moral: implica em falar da retidão e integridade dos
atos à luz natural do espírito e da consciência de si mesmo. Honestidade, liberdade e
30
responsabilidade, valoração de si e dos demais entes humanos, respeito, honradez e
retidão, são partes das premissas de uma ética perene.
Consciência em seu sentido epistemológico: implica em falar do espírito humano
como epicentro da consciência reflexiva e intelectual e operadora da memória e da
linguagem.
Consciência em seu sentido metafísico: implica no trabalho da natureza do ser e
da consciência; falar sobre a alma e seus desdobramentos.
Consciência em seu sentido psicológico: implica em falar da claridade que existe
entre o consciente e inconsciente; em linhas gerais, sobre o comportamento, seu
desenvolvimento, seus processos mentais e emocionais e suas relações com o entorno.
Em última instância, a palavra consciência nos remete à mesma exploração do
inconsciente humano que foi explorado a partir do século XIX. Não obstante que em
seu sentido epistemológico a palavra psicologia deriva do grego e significa o estudo da
alma. Esta ciência surgiu como tal a partir da fusão da filosofia com a fisiologia, que é o
estudo do funcionamento dos processos vitais dos organismos.
A filosofia encontrou pensamentos e idéias perenes através de sua história.
Contemplando a religião e a própria filosofia com uma lente que abarque de maneira
genérica as respostas encontradas pelo ser humano em seu destino, uma vez que a morte
lhe é inalterada, encontramos respostas fundamentais. Dentre as quais, podemos citar
suas linhas gerais:
Morte física: falar de morte significa que uma vez que o corpo deixa de ter
vida, a consciência chega também a seu fim. Esta visão da vida e morte
corresponde a correntes filosóficas materialista, deterministas, mecanicistas
positivistas e/ou empiristas.
31
Imortalidade: falar de imortalidade implica que a consciência humana é
passível de continuidade uma vez finalizada a vida corporal. O destino do
espírito e/ou da alma se encontra geralmente sancionado por pressupostos
éticos de conformidade ao mérito ou demérito das ações em vida, implicando
em uma consciência superior julgadora. A consciência existe anteriormente e
posteriormente à vida.
Reencarnação: uma resposta que contempla a visão anterior, mas que faz cair
sobre o ente, em vez do ser superior, a responsabilidade ética e espiritual de
uma forma direta na consciência de cada indivíduo. Assim, cada espírito e/ou
alma, uma vez finalizada a vida corporal, determina seu destino. A
consciência deve tomar o corpo uma outra vez até lograr sua perfeição para
ascender a uma transcendência espiritual e participar da constante evolução do
universo.
Claro que estamos supondo de maneira muito sintetizada e em linhas gerais
conceituais, para delimitarmos as linhas gerais, que trazem consigo diferentes vertentes
e significados que, por sua vez, trazem nuances muitas vezes capitais no decorrer de
toda nossa história.
A filosofia ocidental tem seu início com os gregos, que tiveram como embrião os
elementos naturais e sua origem, ou como naquela época se denominou de “arché”, que
significa o governo do todo. Estamos falando do século VI a.C. Estes filósofos foram
denominados de físicos pela inclinação aos princípios universais constitutivos. Dentro
deles podemos citar Tales de Mileto, Anaximandro, Anaxímenes, Jenófanes (primeiro
na crença de um único Deus), Empédocles, que fora mencionado e pode ser
considerado como um exemplo típico, pois tem seus estudos nos elementos naturais
(terra, fogo, ar e água). Esta distinção física serve para diferenciar aqueles chamados de
32
humanistas, entre cujos antecedentes podemos citar Pitágoras que, com uma tendência
nitidamente física e matemática, também falou sobre a integridade ética, a
transmigração das almas e a reencarnação.
Um antecedente mais claro do humanismo é Heráclito de Efeso que, quase cem
anos antes de Sócrates, afirma que a busca da verdade (em si mesmo) suporta as bases
de todo o conhecimento futuro e lança como bases da filosofia a ética, a epistemologia e
a metafísica.
Os sofistas, anteriores a Sócrates, são claramente humanistas; sem dúvida não
sobressai neles a busca da verdade como denominou o grande Sócrates, e
posteriormente seu discípulo Platão e Aristóteles (os três mais importantes da filosofia
grega), que lançaram bases até hoje estruturais em nossa cultura.
Com respeito ao nosso tema, a morte, é significativo mencionar que tanto Sócrates
como Platão afirmaram a imortalidade e a reencarnação. A vida em ambos tinha uma
profunda significação ética que objetivava numa transcendência espiritual e amorosa.
Para ambos o conhecimento consistia em alcançar uma verdade racional, espiritual e
uma virtude com a consciência e o domínio das emoções e paixões humanas.
Sócrates foi um personagem ímpar e sua contribuição se encontra contida nos
textos platônicos. Não são poucos os que confundem suas idéias. Temos que tomar
como mostra de seus conhecimentos palavras contidas no diálogo Fédon. Nesse texto,
Sócrates responde a seus discípulos que o interrogam sobre a proximidade de sua morte
sentenciada, por atentado contra os deuses estabelecidos pelo Estado e por corromper
a juventude.
Anterior ao cristianismo, o judaísmo havia cercado de maneira religiosa a idéia da
imortalidade e não foram poucos filósofos cristãos e judeus que unificaram sua
religiosa e sua filosofia a esta idéia em diversas épocas até os nossos dias. Cabe
33
mencionar também que tanto o judaísmo, através da Cabala e o cristianismo,
principalmente nos primeiros séculos de sua existência, compartilharam com outras
tradições filosóficas e religiosas a idéia da imortalidade e reencarnação.
Para delinearmos um panorama que nos permita apreciar os aspectos filosóficos
relevantes da morte temos que nos transladar até a época do renascimento, por volta dos
séculos XV e XVI. Durante este tempo posterior à conhecida Idade Média, floresce o
humanismo greco-romano e a tendência a universalidade do conhecimento, dos limites
geográficos. Na Europa vive-se a reforma religiosa e a contra-reforma. Um grande
momento para a história da humanidade é a invenção da imprensa e algumas figuras
interessantíssimas como: Da Vinci, Galileo, Kepler, Copérnico, Descartes e um pouco
mais tarde Newton. O renascimento resulta em um poderoso esboço para a modernidade
que ocorre até o século XIX, dá raízes às correntes materialistas positivistas e empiristas
que se identificaram, por questões até de contexto histórico, com a morte física sem
conceber a existência da uma anterioridade ou posterioridade da consciência, ou seja,
antes e depois da vida física. Era, pois, de se esperar que o ânimo da experimentação e
verificação científica do século XIX, junto a um ânimo anti-religioso, tanto no mundo
do conhecimento como nos fatores sociais e políticos, fizeram crescer e predominar
uma tendência da crença da vida como um fenômeno única e exclusivamente físico e
corpóreo. Devemos recordar, também, que é o tempo em que floresce o chamado estado
liberal e que se consolidam as diversas liberdades sociais.
No ânimo de dessa época, se estabelecem diversas crises que a história nos pode
detalhar e que relacionamos como sendo elementos que se infiltraram dentro do
pensamento filosófico, como as grandes guerras, a expansão imperial, a revolução
industrial e movimentos proletários que investiram na ampliação das liberdades sociais,
religiosas e existenciais.
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foi mencionado que a Psicologia nasce precisamente como ciência nesta época,
como uma junção da filosofia e fisiologia. Dentre os pensadores filosóficos que a
influenciaram, notadamente encontra-se Kierkegaard. Medo, angústia e desgosto estão
unidos em uma história de vida contada a coração aberto, resultaram em uma obra
embrionária do pensamento existencialista, que até nossos dias continua vigoroso. Ele
também influenciou o desagregante, polêmico e dionisíaco Nietzsche, e o não menos
voluntarista e metafísico, Schopenhauer. Uma das grandes preocupações do
existencialismo é precisamente a morte. A vida e a morte vivenciadas em cada sujeito
com a emotividade, angústia e o medo da solidão nos períodos de crise.
De muitas maneiras, o existencialismo e também as tendências vitalistas de
Bergson e Ortega y Gasset, vem tomando formas diversas polarizando-se em religiosa e
anti-religiosas. Podemos mencionar de maneira relevante a Unamuno, Jaspers, Sartre,
Camus, Machado e Heidegger. De Unamuno podemos mencionar sua dúvida
angustiante e constante frente a sua religiosidade e a alegação das verdades
fundamentais, a imortalidade, a e a vida. Resumidamente, propõe ele que devemos
nos conduzir como se a imortalidade nos fora legada sem mesmo termos a certeza do
fato e sem que nada lhe coloque a fronte ou desvie. O existencialismo é um dos
panoramas da filosofia do século XIX e XX. É sem sombra de dúvida uma tendência
predominante não somente na história do pensamento, mas também nas reflexões
específicas sobre a morte. Temos assim, alguns pontos de referência para estudarmos
nosso fenômeno; tanto a Psicologia como a Tanatologia trabalham hoje sobre o material
vivencial e profundamente interiorizado que nos tem legado o movimento
existencialista.
O mundo filosófico do Ocidente é muito mais amplo e até nossos dias tem tomado
variados rumos. Os historiadores coincidem em acreditar que a queda do muro de
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Berlim, no princípio dos anos noventa do século XX é o início de uma nova etapa. Há,
entretanto, muitas denominações para tanto: hiper-modernidade, modernidade tardia,
pós-modernidade, etc. Nomenclatura à parte, é claro que se um divisor de águas.
Desde o final da segunda grande guerra e até os nossos dias, se pode observar uma
escalada sem freio e uma tendência cadenciada no pensamento filosófico ocidental, que
tende a reencontrar os vínculos perdidos nos paradigmas orientais e ocidentais e que
vem encontrado terreno fértil principalmente na psicologia transpessoal. Basta
mencionar seus precursores mais conhecidos, como Aldous Huxley com sua A Filosofia
Perene, Albert Hofmann, criador do ácido lisérgico (LSD). Num segundo momento,
Stanislav Grof, Ken Wilber, que nos tem ainda muito a revelar. No que tange a nossa
temática, tem eles uma iniciativa marcadamente reencarnacionista.
Por outro lado, os múltiplos acontecimentos no cenário mundial indicam uma
tendência quase inequívoca na ampliação dos direitos fundamentais da pessoa humana.
Um discurso secular pelo excluído, pelas liberdades laicas, numa visão humanista
universalista. No entanto, destaca-se aqui que a condição acima citada faz parte de um
corpo discursivo, que ainda aguarda sua práxis.
Estamos falando na cultura dos direitos humanos. Será que a partir dela
recuperaremos uma interioridade subjetiva frente ao rolo compressor da máquina
impessoal que domina nossa contemporaneidade? Em uma prática cultural massificada,
o aprimoramento tecnicista mesmo tendo alcançado dimensões importantes, é momento
de refletirmos em torno da morte, muito mais que em questões puramente pontuais
como a eutanásia ou a distanásia. Temas como o uso da tecnologia e suas aplicações em
ciências biológicas transpassam o terreno da história da modernidade até a “pós-
modernidade” dos nossos dias e confrontam um vasto campo de estudo, que se
convencionou chamar bioética.
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No campo da ética filosófica, autores contemporâneos como Apel e Habermas,
frente à obviedade emergencial clamam por uma co-responsabilidade moral planetária
ecológica, numa difusão de diversas ordens e níveis éticos e sociais até chegar a uma
nova universalidade moral comunicativa como também propõe Kolberg. Sobressaltam
também, entre os religiosos que fazem filosofia, Teilhard de Chardin com uma visão
holística, humana e espiritual; Hans Küng, que de maneira incansável discute em torno
de temas éticos da economia política, religião e ecumenismo na procura de novos
paradigmas. Ambos tendem entre a modernidade e a “pós-modernidade”.
A interioridade, a motividade frente à racionalidade filosófica e científica dos
séculos XIX e XX e a ecologia são talvez os temas mais relevantes de nossa atualidade,
sem descartar o esboço de muitas outras questões contempladas dentro de nossa
temática específica — a morte.
A idéia de morte é plurissignificativa, ou seja, está ligada a diversas outras
fontes paradigmáticas. Sempre que pensamos no assunto estamos presos a duas
temáticas básicas, que dão origem às inúmeras vertentes.
duas possibilidades: ou se a morte como um ingresso ao nada, ou seja, a
destruição de tudo que em seu momento anterior a vida, ou vê-se nela uma
transformação ou mudança.
Olhadas assim, num primeiro instante ela não está de um lado problemático, mas
a simplicidade mora bem longe daqui. A primeira escolha é quase final em si mesma.
Caso optemos por ela, com o extermínio da vida também se a ausência de quaisquer
teorias sobre a posteridade do fato em si. Se a morte nos ceifa ¨o todo¨, não motivos
que suportem qualquer especulação. Já, se observamos como sendo um ponto de uma
reta, devemos, por questão geométrica, observar que o tal ponto divide a reta em dois
segmentos, um anterior e outro posterior. O aqui denominado anterior seria nossa
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existência anterior seria nossa existência atual nossa vida. Este fator é tomado aqui
como fato (fenômeno) positivo (real) para que não caiamos no puro abismo filosófico
da contradição primeira sobre a questão do ser. Deixamos isso bem claro e literal, pois
embora sejamos, em todo o corpo discursivo deste trabalho, abertos às especulações,
deixamos sempre uma reserva fenomenológica que acreditamos dar ar a uma maior
amplitude e alcance de nossas palavras e objetivos.
Tendo superado esta cortina de fumaça e adotando o segmento anterior, ou
primeiro, da reta como sendo nossa existência (vida), o seguimento posterior ou
consecutivo ao ponto (morte) poderá ser chamado de “tempo/espaço a posterior” ou,
aristotelicamente, ¨devenir¨ (ARISTÓTELES: 2005).
A questão do devenir pode parecer-nos simples, mas é de profundidade
praticamente inimaginável, pois estamos falando de caracteres que não são, mas sim
serão. Acrescentamos ainda, o caráter subjuntivo de toda a coisa que praticamente
potencializa ao máximo a combinação possível.
Esta pequena noção é utilíssima para corroborar uma hipótese interessante em
que quaisquer acontecimentos que porventura marquem a vida de um indivíduo, a ela
lhe acrescenta e retira algo de forma simultânea.
Quando uma pessoa aprende a guiar um automóvel, ela ao mesmo tempo ganha
um predicado e lhe é retirado outro. A referida pessoa que aprendeu a conduzir o
automóvel ganha a sua capacidade e perde sua ausência. Didaticamente podemos dizer
que a partir do conhecimento de algo perdemos simultaneamente o seu
desconhecimento. Seguindo a estrutura, podemos trazer à luz que o sujeito ganha e
perde predicados, mas mesmo desta maneira o sujeito ainda permanece.
Seria possível ampliarmos esta hipótese para nossa temática? Talvez...
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Se assim o fizermos, poderíamos dizer que a morte seria um predicado ganho e
que para o necessário movimento pendular nos seria retirado a vida. Ficaríamos assim
de posse da morte, mas com o sujeito (possuidor de predicados) inalterado. Isso se daria
na necessidade de um predicado estar sempre ligado a algo (sujeito- ser) que a suporte
ou a possua.
Neste momento em que comprimimos os olhos e balançamos a cabeça com os
lábios retorcidos, talvez os princípios físico-químicos que atestam que tudo é, de
alguma forma, transformado e nunca perdido na natureza nos diminua a sensação de
desconfiança, visto que não nos prendemos à essência ou à substância do ser tocado
pela morte.
É claro que junto ao nosso suspiro vêm inúmeras indagações:
Nesta mudança há preservação da essência humana?
Quanto de nossa essência é padrão para a nossa consciência?
Uma alteração de consciência compromete-nos a identidade?
A questão da identidade é algo que traz muitas polêmicas. No âmbito filosófico é
muito diferente do comum, ou seja, o conceito não é o de similaridade exata de uma
coisa com a outra. Automóveis podem ser considerados idênticos, mas no sentido
filosófico a coisa é um pouco diferente, pois não é utilizado o critério de identidade
qualitativa, mas sim identidade numérica: uma identidade de algo consigo próprio.
Este termo muitas vezes cai em uma teia complexa do conceito de identidade em
lógica, cuja coisa é considerada idêntica a si mesma, se considerada ao mesmo tempo e
sob o mesmo aspecto. O conceito de identidade que nos interessa aqui é o da identidade
numérica de uma coisa no tempo, ou seja, a identidade de uma coisa consigo mesma nos
subseqüentes estágios temporais de sua existência. Assim, quando nos perguntamos o
que faz com que uma pessoa seja ela mesma que quando era criança, estamos
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perguntando por sua identidade pessoal. Trata-se, digamos assim, da questão da
“mesmitude” de uma pessoa no tempo, na independência das transformações
contingentes que ela possa sofrer. O conceito de identidade pessoal, os quais são
elementos que, uma vez encontrados nos permitem identificar algo como sendo uma
pessoa.
É útil introduzirmos uma distinção entre critérios primários ou constitutivos e
critérios secundários ou sintomas. Os primeiros têm papel definitório: contribuem para a
existência da entidade da qual são critérios, garantida para nós, por força de convenção.
os sintomas ou critérios secundários são elementos que, quando encontrados, tornam
a existência da entidade da qual são sintomas apenas mais ou menos provável, podendo
ser hierarquizados nesse aspecto. Ao investigarmos a identidade pessoal, estamos em
busca de critérios primários ou constitutivos (WITTGENSTEIN:1975).
dois grupos opostos sobre teorias de critérios de identidade pessoal: o das
teorias físicas e o das teorias psicológicas. O físico sugere que o critério pela qual
dizemos que uma pessoa é a mesma reside em alguma coisa a ser descrita em termos
físicos, como a continuidade de um mesmo corpo ou de um mesmo cérebro. a
psicológica, sugere que esse critério é algo a ser descrito em termos mentais. Esses dois
grupos de teorias não são necessariamente exclusivos. Os grupos mistos tendem a ser
mais interessantes, pois incluem critérios tanto físicos quanto psicológicos.
Quanto ao primeiro, é verdade que em geral reconhecemos pessoas por meio de
sua aparência física. Entretanto, o que dizer do corpo de alguém que morreu? Não
dizemos de um cadáver que ele é, mas que foi alguém. A continuidade do corpo é um
mero sintoma, que apenas torna provável a identidade pessoal, mas que em nada
contribui para garanti-la. É fácil demonstrar que a permanência do mesmo cérebro tem
prioridade sobre o resto do corpo como critério de identidade pessoal, mas a
40
permanência do mesmo cérebro é um critério constitutivo ou um sintoma? Um simples
critério de continuidade física seria inadequado. Considere o caso de um cérebro
humano preservado. Se entrarmos em contato com ele, não consideramos estar em
contato com uma pessoa e sim com um órgão. No caso de pacientes em coma
vegetativo, é razoável a idéia de estarmos ali em contato com algo e não com a pessoa
que um dia conhecemos. A simples continuidade cerebral não é condição suficiente
para a identidade cerebral. Não obstante, quem sabe deveríamos considerar aqui a
continuidade do cérebro que não está vivo, mas que, além disso, mantém todas as
suas funções superiores preservadas (SEARLE:1998).
Se a possibilidade de teletransporte existisse, todos os processos corporais e
mentais necessariamente deveriam ser destruídos para uma posterior construção no local
de destino. Nesse processo ficaram destituídas todas as suas funções superiores bem
como os sistemas, órgãos, tecidos e células. Não seria o caso de, na re-construção,
ocorrer a criação de uma nova identidade, ou seria assim preservada a antiga? Alguns
filósofos consideram que não seria um novo, mas sim a reconstrução do ser inicial
(PARFIT:1984).
Entretanto aqueles que negam esta possibilidade, dizendo que a materialização
posterior seria uma mera réplica, e que você mesmo (original) não existiria mais. Há,
entretanto, uma certa percepção da falsidade desta última proposição, mesmo admitindo
que o caso, ou melhor, as impressões estejam contaminadas pelo senso comum e por
todas as percepções já utilizadas pelo cinema sobre o tema.
O fato da continuidade física não ser sempre necessária para a confirmação da
identidade pessoal não significa que nenhum critério físico seja necessário. Onde
falta de critérios físicos de continuidade, deve restar ao menos um critério de conexão
41
física causal (um encadear causal suficiente entre as entidades físicas identificadoras do
indivíduo em um momento subseqüente).
Não é fato que podemos, em nossa mente, estabelecer múltiplas experiências para
explorar a identidade pessoal e sua dependência de uma continuidade física ou um tipo
qualquer de conexão física causal. Suponhamos que as moléculas de uma determinada
área viessem a combinar de tal maneira que dessa combinação surgisse uma pessoa
fisicamente idêntica a uma personagem conhecida de nossa história nacional, com todos
os traços psicológicos e memórias. Se nos for garantido que não se trata de nenhum
continuante causal do primeiro, não diremos que se trata da mesma pessoa, mas de
outra, exatamente similar à primeira.
Finalmente, também o critério de conexão física causal pode falhar se deixar de
haver uma relação de um para um entre os diferentes estágios temporais de uma pessoa.
Se o aparelho de tele transporte produzir trinta cópias suas na lua, não será mais
possível dizer que são todas a mesma pessoa que você é, pois a ramificação ou fusão
dos continuantes causais anula os critérios físicos, inclusive o de conexão causal.
Contudo existem algumas formas de escape. Imagine uma pessoa A, que tenha as
funções cerebrais dos dois hemisférios do seu cérebro idênticas e que seu hemisfério
direito seja retirado e transplantado para um segundo corpo B, daí resultando em duas
pessoas psicologicamente não diferenciáveis. Quem é a mesma pessoa que A, a primeira
ou aquele que foi transplantado? Parece que a resposta mais conveniente, mesmo que
logicamente estranha, seria que a pessoa A, pois a continuidade do corpo torna a
ramificação assimétrica, permitindo escolhermos o continuante que melhor satifaça o
maior número de critérios disponíveis. Para fazermos jus a essa espécie de intuição
diremos que a identidade é possível quando a continuidade física substantiva ou causal é
42
unilinear, entendendo com isso uma continuidade não ramificada, ou se ramificada
assimétrica.
Passamos agora à consideração de critérios mentais de identidade pessoal. O mais
famoso é o critério de memória pessoal (biográfica). A identidade de uma pessoa vai até
onde a sua consciência é capaz de se estender quando percorre a longa seqüência de
suas memórias de experiências passadas. Assim, sei que sou a mesma pessoa que foi a
diversos eventos de minha infância, tendo em vista que sou capaz de recordar os
eventos (LOCKE:1978).
Mesmo convincente, é muito fácil demonstrar a falibilidade da condição da
memória pessoal como comprovação de identidade. Imaginemos uma pessoa que sofreu
um acidente e que como conseqüência tenha perdido toda a sua memória, ou seja, suas
experiências individuais. Essa pessoa continuaria sendo a mesma? Bem, se os outros
traços psicológicos continuassem os mesmos, se houvesse a permanência dos mesmos
traços de personalidade, caráter, habilidades, e principalmente a sua memória
proposicional (conhecimentos e crenças) se conservasse, não seria duvidoso que ela
fosse considerada e tratada como a mesma pessoa.
também considerações adicionais sugerindo que a memória pessoal não seja
questão preponderante para a identidade pessoal. Considere o caso de pessoas que
fantasiam falsas experiências. Como seriam então enquadradas em nossa problemática?
E os casos de prisioneiros de guerra ou agentes secretos, que são muitas vezes objetos
de procedimentos de implantes ou retirada de condutas ou atitudes? Em todos esses
casos nos valeremos de outros critérios para neutralizar o de memória pessoal, negando-
nos a reconhecer que se trata da mesma pessoa. Não basta agora dizermos que devemos
nos prender às memórias verdadeiras, pois sabemos que o adjetivo “verdadeiro” se
aplica ao apego e consideração de verdade do detentor das informações ou eventos e
43
não necessariamente àquele que as analisa. Muitas vezes cremos em coisas que podem
nunca ter acontecido e que por critérios os mais vários cravamos em nosso ser e que por
elas estaríamos dispostos a tudo, inclusive de apostarmos a nossa própria vida. Assim
sendo, parece que o critério de memória pessoal não é condição nem necessária e tão
pouco suficiente para termos comprovação da identidade pessoal. Nossa opinião é que
seu valor seja o de uma contrapartida subjetiva do critério corporal. A permanência da
memória pessoal é a maneira mais usual e imediata de nos identificarmos em primeira
pessoa, embora no fundo não passe de uma mera sintomatologia.
Como já vimos, se o aspecto mnemônico pessoal fosse perdido por completo, mas
outros traços psicológicos fossem preservados, a identidade pessoal seria mantida. Mas
o contrário desta disposição seria improvável. Voltamos ao exemplo do tele transporte,
e imaginemos que após o uso um indivíduo perdeu todas suas características
psicológicas, com exceção da memória pessoal. Ele não possui as habilidades nem tão
pouco a personalidade, caráter ou afetos. É capaz apenas de ficar repetindo eventos
autobiográficos. Poderíamos admitir que estamos diante da mesma pessoa de outrora?
Suponhamos então que a memória entre em conflito com outros critérios de julgamento:
em um prazo relativamente curto, ele produziria outras determinantes e com elas todo
um escopo atitudinal. Mesmo assim ela seria a mesma pessoa?
Mesmo com todas as restrições apresentadas, a memória pessoal continua e
continuará por algum tempo sendo indispensável. É que para poder reconhecer a
existência dos critérios de modo a concluir que uma pessoa permanece sendo ela
mesma, precisaremos sempre em algum momento recorrer a alguma memória pessoal
confirmável.
Por fim, chegamos àquele que talvez possa ser o mais confiável. As colocações
feitas até aqui sugerem que para identificar uma pessoa como sendo a mesma, lançamos
44
mão de uma variedade intercambiável de critérios, tanto físicos quanto psicológicos.
Mas, mesmo assim a fragilidade da questão ainda nos é evidentemente clara.
Sem sombra de dúvida, questões como estas, e tantas outras, borbulharão nossos
pensamentos e são pontos importantíssimos. A tentativa de esboço acontece em
inúmeros tratados filosóficos e teológicos. De forma concreta, teremos que optar por
assumir a possibilidade teórica do vir a ser, pois temos necessidade didática da
possibilidade ao nada mortificante. Temos então conosco as duas hipóteses polarizantes
e vemos dentro delas abarcado, sem sermos detalhistas, o conjunto filosófico pertinente
à questão.
Muitas pessoas que possam estar nos acompanhando ficariam intrigadas com a
tônica da questão do não-ser (pós-morte) e da questão, que também é muito similar, a
do não-ser anterior ao nascimento. Podemos de forma muito objetiva aplicar uma
questão de demanda, pois depois que a constituição do ser a morte em seu segundo
estágio do não-ser vinculado à sensação de futuro, ganha primazia. Todo o fato é muito
lógico, pois temos um quase vício de considerar o passado uma questão consumada e
resolvida e o futuro um grande barco luminoso a ser conquistado. Assim, de forma
pouco brilhante o não-ser anterior ao nascimento atropela o não-ser que nos presenteia a
morte. Temos que destacar, a cargo de justiça, que os avanços da genética e as pesquisas
com DNA contribuem para aludir algumas sombras explicativas, que aos olhos
ingênuos podem jazer como teorias explicativas terminais.
Em certa medida, o não-ser com que nos traz a morte não oferece as mesmas
oportunidades da nossa geração e nos olha calada. Mesmo com os rarefeitos dados que
possuímos é muito pouco provável que sintamos confortáveis com a idéia e nos
resignemos com o vazio que nos espera. Mesmo coberto de maravilhas sem vida olhar
para o futuro nos apavora, pois traz junto a si o odor putrefante da extinção.
45
No caminho da colisão direta vem a Filosofia, e toda a sua práxis discursiva,
numa tentativa de inteligibilidade em meio ao caos catatônico. Desdobrada em suas
múltiplas áreas e disciplinas dela nascidas vem como uma luz acalentadora em que
mesmo sem solucionar a questão traz toda uma linha racional sobre nosso futuro.
Mediante todo o processo complexo e repleto de armadilhas que o discurso
filosófico sobre os temas nos guarda, o olhar fenomenológico vem como uma tentativa
de garantir a objetivação e a possibilidade concreta de instrumental direto em nossa
realidade. O pensamento talvez seja melhor expressado se optarmos pelo
direcionamento de nossas idéias ao caminho daquilo que poderíamos conceber como
finitude humana.
Diferente da visão cartesiana, onde o indivíduo não entra em contato diretamente
com as coisas do mundo. Também muito distante da atitude positivista onde a
percepção do indivíduo é passiva e vazia (tábula rasa), nosso ponto de vista e intenções
passam pelo olhar fenomenológico. Dentre os citados diferenciais, que geram toda a
particularidade de nosso trabalho, traz acima de tudo uma eficaz concepção relacional
do indivíduo em seu conjunto externo e interno.
Se tivermos claro em nossas mentes os passos nas Ciências Humanas, veremos
um caminho definitivamente trilhado para o complexo universo das relações e dos
significados. Agora, para aguçarmos um pouco nosso leitor, podemos explicitar alguns
passos deste caminho para depois juntos adentrarmos a uma concepção conjunta da
lógica interna que embasa nossas idéias.
Voltando no tempo podemos imaginar o processo relacional como sendo algo
estanque e pouco dinâmico. Na relação poderíamos ver o pouco grau de participação do
outro em todo o corpo relacional. O Eu reporta-se unidirecionalmente ao OUTRO sem
maiores inferências.
46
Esta concepção totalmente passiva do outro terá unicamente ênfase naquele que
¨emite¨ ou ¨lança¨ idéias. Num segundo momento, uma conexão entre os indivíduos
ficando os dois dependentes um do outro.
EU OUTRO
Fig. 01
EU OUTRO
Fig.02
47
Uma evolução do antigo modelo é a comunicação dos envolvidos ou pelo menos a
consideração para com o outro que começa a ser visto e levado em conta. No terceiro
quadro este envolvimento, se de tal forma que é criado um setor ou parte em
comum. aqui sem dúvida nenhuma uma identificação de partes, que passam a serem
consideradas como um elo de ligação.
Logo após este elo comum um envolvimento deste mesmo modelo relacional
em um contexto, que poderíamos chamar de sócio-histórico.
EU
OUTRO
Fig.03
48
Este modelo é interessante, pois considera a ação dual uma relação a três, onde o
terceiro não é um ente concreto, mas o conjunto de fatores. Como o leitor atento pode
observar, a contribuição de Marx é incontestável. Da mesma forma, Freud e seus
“discípulos”, trabalhando no desenvolvimento do subconsciente, afetaram
consistentemente o modelo posterior.
Uma alteração drástica que aponta, por que não dizer, uma revolução na
concepção do indivíduo e sua relação com o mundo que o circunda.
EU OUTRO
CONTEXTO
49
Fig.04
É certamente neste ponto que entra toda a carga subjetiva na concepção de
mundo e com ela toda uma influência da então formada Psicologia. É com base nestes
dados que a Filosofia tenta então elaborar modelos que sejam suficientemente bons para
sustentar as diferenças interpretativas entre os indivíduos. Tendo como fonte primária o
mesmo objetivo (dado), como justificar as diferentes alusões que ele é capaz de gerar
nas pessoas que a ele são expostas?
A resposta poderia estar no domínio da psique humana, ou seja, uma
participação psíquica na contribuição da constituição destes valores.
Husserl, pai da fenomenologia, destituiu algumas premissas básicas do cânone
filosófico quando trouxe um novo direcionamento para todo o questionamento a
intencionalidade. (HUSSERL:1986)
E o que seria então para ele o fenômeno? Para Husserl, fenômeno é a
representação dos objetos para a consciência, determinando assim como e de que forma
EU OUTRO
CONTEXTO
EU 2
OUTRO2
50
Fig. 05
são recebidas pela consciência. Deste ponto o autor relata o que seria conhecido por
intencionalidade, ou melhor, intencionalidades. Na verdade intencionalidade quando
através de um certo dado, ¨visamos¨ um outro não-dado. De uma forma mais didática,
podemos visualizar a situação e recebemos um dado A e temos em nossa mente uma
ligação com um elemento B (não-dado).
Existem basicamente três tipos de intencionalidade: a de ato, que seria a
percepção do dado em si; a de horizonte externo, onde percepção do mundo externo
que envolve o dado em questão; a de horizonte interno, onde a percepção do dado é
relacionada a outros dados existentes na mente daquele que a percebe.
(HUSSERL:1986)
Esta retenção das impressões, ou “doação”, é tida como uma participação ativa
do indivíduo, que pode fazer inúmeras re-impressões mentais, pois a variabilidade é
indefinida pela variação do ponto de vista do observador. Assim, teríamos o que
poderíamos relatar como infinitos momentos, sendo que o observador sempre possui um
ponto de vista parcial num universo totalmente mutável. Este é o embrião de uma
subjetividade, que guiará a postura fenomenológica de nosso trabalho.
A fenomenologia seria então nada mais que uma descrição reflexiva e neutra da
paisagem de nossa consciência na tentativa de externação de todo o construto teórico
que lhe concede o devido suporte.
Outro fator importante é a concepção do tempo para o homem. No decorrer da
história o tempo vem sendo colocado por instantes portadores de uma descontinuidade.
Na fenomenologia, o tempo ganha outros contornos e passa a ser considerado uma
sucessão de presentes. Não um passado e um futuro estanques, mas sim múltiplas
células de um presente permeado de tons de um passado (retenção ato passivo,
51
automático e não-mneomônico) e delineado por uma hipótese futura (protensão) o
presente vivo. (HUSSERL:1986)
Embora o pensamento fenomenológico possa apresentar uma carga final num
subjetivismo relativista, dentro deste perfil procura encontrar as bases de uma unidade
— a essência humana.
52
A MORTE E O MORRER
Com o fenômeno da morte não se dão negociações. Não existem protelamentos,
desculpas, reajustes, nem tão pouco os famosos precatórios públicos. Não sequer a
possibilidade de assumirmos o ônus da questão daqueles que por ventura mais amamos,
ela é pessoal — intransferível.
No entanto, faz-se hora de traçarmos uma distinção interessante. Dentro de um
processo quase simbiótico, que envolve nosso fenômeno, uma coisa ganha aspectos
sinonímicos, ou seja, a morte e o morrer muitas vezes nos conduzem a um mesmo
campo significativo. Esta equalização se faz por ambas terem a mesma raiz
significativa, porém em amplitudes orbitais distintas. A morte é algo partícipe da vida, e
possui vertentes enraizadas, de forma concreta, em toda a cultura humana. Para clarear o
leitor podemos estar relacionando a morte com múltiplas áreas do conhecimento
científico onde, de uma forma direta ou indireta, são realizados inúmeros estudos sobre
a questão resultando em um montante considerado de dados. É claro que podemos
lançar um pouco de óleo na pista inferindo que o mesmo não pode ser generalizado,
pois o fato se dá sob múltiplas circunstâncias.
Temos tentado entender a morte desde muito tempo, seja com as ritualísticas
primitivas ou com aspectos de uma complexa estruturação metafísica. O desdobramento
se claramente na questão platônica do conhecido “mito da caverna”, bem como na
composição das religiões. Na impossibilidade de vitória pensamos no fenômeno como
sendo algo a ser compartilhado. Como afirma Espinosa (Espinosa Baruch, Ética .
parte prop. XXIII) subsiste em nós algo de eterno. Esta é uma sensação que parece
sempre nos ter feito companhia. Mesmo assim, estamos impossibilitados de evitar a
morte ou de trazer um fato concreto que nos lançasse mão do vazio, do nada, abrindo-
53
nos uma possibilidade de superação, uma concepção atemporal uma antítese
heideggeriana.
Tentar encontrar na própria morte o combustível de sustentação da lógica vital
requer antes de tudo coragem de expor-se ao domínio da dilacerante idéia do fim, numa
atitude produtiva distante da comiseração niilista.
Ao lado de poucas verdades inabaláveis a morte repousa serena a nossa espera.
Representada pela nossa capacidade simbólica, adquire plasticamente contornos
múltiplos, mas possui, independente da sua forma, seus gélidos dedos atados ao nosso
eu.
Semelhante a idéia de Deus, a morte tem seu contorno apenas simbolicamente.
Sua experiência, por ser humanamente terminal, é totalmente inédita e desconhecida.
Não qualquer um de nós, humanos, que nos possa passar a idéia da experiência da
morte. Sua própria condição como ente vivo lhe censura a propriedade. Ficamos assim
com a experiência da morte alheia, ou seja, temos a dor ou o relato da perda daqueles
que nos são próximos — uma suposição premonitória.
Devemos entender deste fato a importância dos aspectos fúnebres que enlaçam o
fenômeno, pois não temos oportunidade de usufruir deste conhecimento senão
indiretamente. Desta feita, a omissão litúrgica do nosso meio desloca consigo também a
oportunidade de se vir a ter, por mais parcial que seja, uma lucidez sobre o nosso
próprio destino. Se entendermos a Cultura como o substrato da atividade humana,
poderíamos assim assinalar que a ausência do que fora por milênios uma “cultura da
morte”, implicaria em uma ausência de algo que fora por milênios parte importante de
nossa construção.
A idéia da formatação de uma antropo-história da morte com que nos descreve
Morin # em seu livro O Homem e a Morte, nada mais é que a idéia da constituição da
54
vida pelo seu antagonista. (MORIN: 1997) Não é um caso de morbidez, é somente a
revelação da importância do papel do devir e daqueles que nos deixaram na constituição
do nosso Eu e de tudo a que chamamos Universo Humano.
O ser humano carece de sentido. uma inerente busca do sentido organizador
em nossa espécie. Uma perseguição incansável à estrutura lógica interna que atribui às
coisas uma sensação harmônica. Um certo sonho de reduzir-se ao fundamental, tal
como os Pré-Socráticos: Tales de Mileto, Anaxímenes e Anaximandro na busca do
princípio básico de constituição e ordenação das coisas. (PADOVANI:1978)
É claro que a sensação não passa muitas vezes de um rudimentar esboço de uma
inferência na questão causa-conseqüência, e é de se imaginar as incontáveis
oportunidades em que esta hipótese vê-se fundamentada pela artificialidade. Neste
ponto sucintamente podemos imputar ao desejo de fuga como fomentador-mor de tal
ato. Mesmo assim, podemos genericamente declarar que temos uma necessidade
primária de controle sobre tudo, e que esta premissa se desdobrada sob a faceta do
conhecimento. O conhecimento que nos sacia e que nos dá o sentido.
Todo este processo se iniciado não em complexas teorias ou processos
científicos, mas simplesmente com uma simples nomeação. A representação simbólica,
seja sonora ou pictórica e principalmente lingüística é uma forma clara de conexão ao
Universo Humano, e, por conseqüência, uma relação de domínio (BLANCHOT:2001).
Talvez, seja nesta lógica que desde as culturas mais ancestrais o homem vem
lidando com o fenômeno da morte. Uma tentativa de transformar o desconhecido em
algo humano e vê-lo ressurgir posteriormente sob nossos pés — controlado.
55
A idéia de se ter o fato em questão como o fim pura e simplesmente é algo que
foge a uma chamada “lógica humana”. O fim, apenas é o Nada. Este, por não ser algo,
possui em si uma quase incapacidade de definição. O nada desta forma se iguala ao
Todo ou Uno. Pensar no Nada guarda maior, ou pelo menos a mesma, dificuldade de
ater-se à idéia de Deus, visto que comumente é concedida a esta idéia a extensão de
todos os superlativos. Uma quase sinonímia universal à idéia de Todo.
Seguindo uma analogia bem simplória, é até muito natural que a humanidade haja
feito uma conexão entre os dois, ou seja, entre o Tudo e o Nada. Se observarmos essa
analogia atentamente, veremos que se o Tudo e o Nada se correlacionam à morte como
experiência limite tem em si uma tônica não terminal, mas sobretudo intermediária.
Assim, faz-se clara a constatação antropológica das múltiplas culturas que estabelecem
morte, o morrer e o luto, como um grande rito de passagem. (ÁRIÈS:1977)
Poderíamos chamar o pensamento da morte como o formador mais legítimo do
conceito de objeto filosófico. Se filosofar possui alguma premissa fundamental, a
imaterialidade objetal pode, sem sombra de dúvida, ser elencada. Muitas das grandes
questões filosóficas acabaram por se concretizar em disciplinas isoladas tendo como
fomentador a concepção e formalização de sua materialidade e conseqüente empiria.
Mesmo que exista a patologia médica e dentro dela uma distensão que a todo dia ganha
ânimo e problematiza ainda mais a atividade clínica, ainda o conceito imaterial e
intraduzível que nunca desagregará sua embalagem filosófica.
Outro fator que liga a morte à filosofia é a sua conexão ao pensamento. Como
dissemos anteriormente, não podemos ter um discurso sobre a morte, mas sim sobre a
mortalidade ou ser-mortal. Desta feita, é óbvio que a morte existe em nossas mentes
como pensamento e não como coisa em si. Mas o que seria então este pensamento?
Pensar é uma atividade mental e desta forma se faz por natureza simbólica, ou seja,
56
constitui-se por uma representação. Nesta representação não necessidade que o
mesmo esteja concretamente em questão, assim sendo, o pensante pode afastar-se
voluntariamente deste mundo (realidade). Sem querer ser platônico, uma distinção
entre o real e o pensado. Isso pode ser corroborado por inúmeras menções, quase
unânimes, que dentro de nós há todo um universo.
Se ampliarmos esta concepção de mundo interno e externo, poderíamos até saltar
para uma analogia interessantíssima. Esta idéia inicia-se com a percepção da
imobilidade do morto, ou sendo mais claro, a morte guarda em si a não interação com o
mundo exterior a imobilidade corpórea, física ou sendo genérico, a não-ação. Desta
forma, se o ato de pensar é algo interno por excelência, um quase antagonismo
pensamento-ação. É claro que nesta altura o leitor inclina sua cabeça aos ombros, pois
de uma forma legítima o pensar tem sua atividade e sua mecânica neural, mas, sendo
objetivos, das atividades conhecidas poderíamos sem nenhuma restrição destacar o
pensamento como a atividade mais passiva que realizamos. Retomando a idéia primeira,
a ligação “filosofia pensamento morte” é algo que necessita ser considerada
delicadamente. Talvez seja deste terreno que partam tantas alusões ao trabalho do
filósofo e a temática da morte. Platão, Sêneca e Montaigne, para citar alguns,
possuíam em seu corpo teórico um cuidado especial à temática (PADOVANI:1978).
Filosofar não é mais que preparar-se para a morte. É por isso que o estudo e a
contemplação transportam de alguma forma nossa alma para fora de nós e a mantêm
ocupada, separada do corpo. É uma espécie de experiência educadora; ou melhor, é fato
que toda a sabedoria e todas as considerações do mundo se resolvem por fim neste
ponto: ensinar-nos a não ter medo de morrer. (MONTAIGNE:1972).
Se o pensar é parecido com a morte, o que se deve dizer do pensar sobre a
morte? Certamente um efeito duplicado, pois a "interrupção das atividades habituais" é
57
dobrada: primeiro, porque qualquer pensamento é interruptivo; segundo, porque o
fenômeno pensado parece estar banalizado não faz parte das atividades habituais da
maioria das pessoas. Esse pensamento de efeito duplicado induz a uma interrupção tão
radical das atividades habituais que pode resultar numa concepção psicopatológica,
onde um bloqueio do mundo externo para realização do “trabalho pensante”. Esta
atitude possui em si uma falácia genética, onde o pensamento precede o externo. Sem
dúvida nenhuma necessitamos todos do universo externo para alimentarmos nosso ser, e
a quebra deste elo certamente acenderá o estopim do autoconsumo e da alienação.
A morte, como vimos anteriormente, está plasmada na Filosofia de uma forma
complexa, seja na própria concretização de suas bases (pensamento) ou em elementos
como a derrocada de Sócrates e a estruturação da concepção platônica. Contudo, existe
muito mais neste enlace do que a princípio poderíamos supor.
Filosofar é também um exercício. Um exercício de separação entre o EU e a idéia,
ou seja, algo análogo a separar o corpo da alma, sendo ela destituída da armadilha
teológica e metafísica. Ela então seria, pura e simplesmente, o representante de seu
antagônico da filosofia clássica grega — fisis.
Este significativo exercício pode ser considerado como a própria porta da
imortalidade. Um processo de trabalho incessante com o tema faz com que seus
desdobramentos sejam imputados em seu antagônico — a vida, e com ela uma crescente
sensação de imortalidade (PATOCKA: 1981).
Como sempre, é destacada em nosso percurso a questão do medo, que provém
além da sensação do Nada, da incapacidade concreta de lidar consigo próprio. Desta
feita, o trabalho de inferência na temática garante a protuberante conquista da uma
sensação de superação e consecutiva imortalidade. Deste aspecto, emerge o que seria
uma nova ótica, uma mescla díspar rumo ao eterno.
58
Esta própria concepção, assumidamente platônica, é a libertação do Eu
degenerativo da imobilidade. Pode-se, quiçá, tentar equilibrar esta possibilidade à
estrutura de fuga que se instaura na mente daquele que a sublima por completo. Por fim,
atendo-se ao produto racional que se faz destas duas concepções a diferença é
visivelmente marcante. Ao encarar a problemática tem-se um substrato intrínseco, e seja
desta ou daquela essência, sua qualidade primeira é a evidência de um maior tônus na
capacidade de reconhecimento de si. De forma muito resumida, temos como resultado a
práxis da máxima filosófica socrática mais pura: “Conhece a ti mesmo”
(PLATÃO:1920).
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MORTE E CONTEMPORANEIDADE
Indubitavelmente todas as observações sobre a sexualidade desenhadas pelo
século XX, são de grande valor para pensar nossa vida social moderna. Elas nos
permitem afirmar que todos os aspectos de nossa condição humana podem emergir
como problemas, como fluxo de preocupações que necessitam ser tratadas e
solucionadas ou pelo menos trabalhadas. Através deste processo, o sexo, algo bem
conhecido para os seres humanos, fora colocado no centro de um dispositivo que o
graduou no que chamamos hoje de sexualidade. Através deste mecanismo, acabou
sendo um ponto denso das relações de poder em nosso meio.
Do mesmo modo, a morte, que certamente nunca foi um fenômeno ignorado ou
pouco central para a humanidade, está sendo alvo de uma devassa impiedosa,
transformando-a em algo estranho e amorfo. Nos meios de comunicação,
principalmente visuais, é introduzida em detalhes. Nem por isso a maioria das pessoas,
detém sobre o fenômeno experiência ou domínio. Colado ao tradicional medo pela
morte, soma-se agora todo o arcabouço da negação, que plasma em algo bizarro
qualquer referência séria a seu respeito. Nas grandes cidades, quase não há mais a morte
domiciliar, este fato apenas acontece em processos súbitos ou acidentes.
Mas onde, então, estão acontecendo os óbitos? Não são poucos os estudos que
chamam a atenção para um “ocultamento” da morte. Cada vez, mais e mais ela se oculta
tornando-se quase invisível tendo-se apenas contato com o que poderíamos chamar de
pacotes mortuários, algo que Ariès (1977) denomina como sendo a desumanização da
morte.
No passado, diferentemente da sociedade Ocidental atual, civilizações tiveram
relações muito próximas com o fenômeno que é conhecido como sendo a ars moriendi.
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A “Arte de morrer” ganhava nestas culturas uma importância hierárquica equivalente ao
que poderíamos por silogismo denominar a “Arte de viver”. inúmeros textos que
mostram até uma maior centralidade na morte, como no caso de O Livro Tibetano dos
Mortos ou O Livro Egípcio dos Mortos. Existem alguns exemplos como estes, também,
entre nós ocidentais. No Renascimento e no início da Modernidade, preservam-se
muitas das características e direcionamentos medievais (EVANS-WENTZ: 1988).
Igrejas embrionárias do Cristianismo (podemos citar a grega, a siríaca, a armênia e a
copta) incorporaram em seus rituais alguns princípios da arte de morrer.
Mas nos dias atuais estes princípios estão diluídos. Na atual sociedade, em que
não são poupados esforços para se ocultar ou eximir de tal conceito, pensar em uma ars
moriendi seria de todo inconcebível. Em qualquer cultura, a existência de uma arte de
morrer, de modo geral, supõe dar um grande valor a esse momento. Certamente, os
tempos atuais apontam em outra direção.
Sobre a questão “morte” claramente hoje um vazio. Algo quase que de uma
total obscuridade delineia aqui nossa sociedade. Talvez devêssemos utilizar no escopo
do tema maior importância que aquela referida à questão sexual. A válvula que o
erotismo criou para tratar o sexo no século passado foi negada à morte, ao morrer e ao
luto. Restou-nos hoje apenas o silêncio. talvez, além do silêncio e desespero, o
tecnicismo dos diagnósticos e prognósticos, as inoportunas e indesejadas conversas
realizadas em baixo tom de voz nos corredores, nos consultórios e nas salas de espera.
Talvez necessitemos hoje de uma coisa nova, pois aqueles que morrem são preparados a
esperar sempre um pouco mais de vida até o derradeiro minuto. A ciência médica não
teria, em termos, nada a dizer sobre o fenômeno da morte, posto que sua meta central é
encontrar a solução para a morte.
61
Para sermos justos com as Ciências Médicas, deixamos aqui uma ressalva. Elas se
fazem necessárias para destacar alguns esforços que a Geriatria vem tentando fazer
dentro da questão “envelhecimento”, bem como de algumas outras áreas como
Fisioterapia, Enfermagem, segmentos da Psicologia, etc. Fato que não se encontra tão
marcante em outras especialidades como Traumatologia, Infectologia, Terapia
Intensiva, etc.
Outra nota, que por justiça não poderíamos esquecer, são as inúmeras correntes
que aqui denominaremos “Área dos cuidados humanos”, e que por questões amplas, que
infelizmente não poderemos abarcar nesta nossa breve oportunidade, são ditas ou
consideradas “Terapias Alternativas”, mas que também tem sua parcela significativa de
contribuição.
Voltando à nossa contenda anterior, podemos comprová-la com uma simples
visita hospitalar. Por mais crítica que seja a condição do paciente, sempre se lhe são
colocadas alternativas de vida e nunca de as de morte. O fator hospitalar é decisivo para
o estudo do fenômeno, que de acordo com Nuland (1995), 80% das mortes norte-
americanas acontecem em suas dependências. Verificará também que nos próprios
documentos legais não espaço para a chamada “morte natural” devendo, no atestado
de óbito, ser minuciosamente especificada a causa da morte. Aparentando assim existir
apenas por insuficiência da Ciência e da Técnica. Esta impressão, ao mesmo tempo
irreal é extremamente cruel para o profissional da saúde, que sente muitas vezes recair
nele a culpa pela incapacidade de solução. Desta feita, a sociedade desuniu o sempre
binômio vida e morte. Este fato não é efeito de alguma visão filosófica ou religiosa, é a
expressão singular da condição humana na sociedade contemporânea. Uma crise que
tem basicamente sua fonte no tecnicismo cego dos dias atuais. Vida e morte sempre
caminharam juntas até que a técnica nos surpreendeu com a ilusão de que a vida pode
62
ser estendida infinitamente, construindo a eternidade no tempo de nossa própria vida
(CASTELLS: 1996).
Segundo Elias (1987), existem basicamente três formas de enfrentar a morte:
Como passagem para outra vida (algo que não necessariamente deve ser
interpretado como uma boa notícia), coisa que em nossa sociedade vem
perdendo cada vez mais força.
A segunda é olharmos os olhos da morte, considerando nossa finitude um
dado essencial da existência humana (o ser humano é um "ser-para-a-morte",
definiu Heidegger (2000), e filosofar significa "aprender a morrer", nas
palavras de Montaigne (1948)). Uma hipótese que angariaria adjetivos como
depressiva e fora de época (como comprovação, podem ser citado os amplos
questionários aplicados pela equipe de Inglehart (1997) em 43 países para
medir mudanças de valores. Eles não relacionam nenhuma pergunta sobre a
morte; ou mesmo os bancos de dados dos departamentos de filosofia das
universidades, nos quais comprovamos o desinteresse pelo tema até para os
filósofos).
A terceira alternativa é simples, efetua-se através da exclusão das anteriores,
ou seja, evitar todo pensamento sobre a morte, ocultando e reprimindo a
presença do fenômeno da morte quanto seja possível. Elias desenvolve esta
hipótese como sendo um inesperado recurso à imortalidade. Algo que
certamente soa irresistível na sociedade contemporânea. Assim, a morte seria
evitada não apenas pela repressão de sua presença, mas também pela crença na
imortalidade pessoal ("outros morrem, mas não eu"). Este contribuição feita
por Elias nos parece de fundamental importância para entender a condição
63
humana na sociedade atual. Talvez uma pergunta óbvia, mas irresistível deva
ser colocada:
Como é possível existir, numa sociedade dita “reflexiva” e ultra-informada, uma
corrente de número significativo de indivíduos que acreditam na imortalidade pessoal?
Não encontramos, nas obras mais destacadas de autores importantes que pensam a
modernidade (citemos o caso de Beck (1992) e Giddens (1991), por exemplo), alguma
análise que possa explicar corretamente a hipótese de Elias. Talvez, entre os autores
contemporâneos, seja Melucci (1996), um dos poucos que tenha percebido este
fenômeno. Outro autor que posteriormente será apresentado para trazer luz a esta
questão é Lipovetsky (2004), que com sua teorização sobre a Hipermodernidade,
trouxe-nos dados e pistas interessantes. Melucci, em seu trabalho anteriormente
citado, diz que nossos corpos passaram de veículos cegos de necessidades biológicas a
cenário de múltiplas possibilidades e escolhas construídas culturalmente. Segundo ele, a
morte não podia escapar do mesmo destino. Poderíamos também acrescentar que as
ditas “escolhas culturais” de Melucci não passam por critérios de lógica nem
exeqüibilidade. Deixando para os centros hospitalares a missão pura e simples de
experimentação técnica para o prolongamento da vida em detrimento da indesejada e
teimosa morte. Uma clara opção de transformar a morte de fato natural em fato
artificial.
Sabemos, pelos teóricos da contemporaneidade, que em nossa sociedade o
aumento das opções tecnológicas resultou na intensificação dos riscos e da insegurança,
pela incapacidade de previsão com relação a muito dos eventos futuros. Dentro deste
perfil, esperar-se-ia uma atenção maior ao fenômeno da morte, mas surpreendentemente
isso não aconteceu. A insegurança e o medo aumentam quase na mesma proporção que
a morte perde importância. E pelo que se projeta desta situação, não há indícios que haja
64
uma regressão, ou seja, que o tema ganhe um salto em sua importância. A representação
da morte alheia ainda tem um destaque preponderante sobre o pensamento e o trabalho
com o que poderíamos chamar da morte do “próprio eu”. Seja pelos meios de
comunicação ou por nossas atividades cotidianas, vivemos incessantes representações
da morte, mas contraditoriamente ainda insistimos na não incorporação. Para a
sociedade contemporânea, a morte é quase sempre uma representação externa ao nosso
eu. Não querendo de forma nenhuma cristalizar generalizações, as sociedades anteriores
tinham um comportamento adverso com a dor. Elas tinham uma tendência à reflexão
sobre a sua interação com o fenômeno. O próprio processo de luto trazia em seu bojo
uma interação social. Os moribundos esperavam no máximo por milagres do além e não
por soluções mirabolantes, fantasiosas ou talvez um novo produto científico.
Quando nossa vida enfrenta ameaças que podem levar-nos à morte, corremos a
pedir auxílio à ciência e à técnica. Semelhante mecanismo se faz quando recorremos a
esse show de representações midiáticas. Enfrentamos a morte, reclinados em poltronas,
tentando enganá-la quando esta ainda não é visível nem sentida. Estes fatores todos
estão relacionados com a crescente falta de contato físico e espiritual entre nós,
humanos. necessidade de uma representação simbólica, a que é preciso dar vazão.
Nascer e morrer foram, em qualquer época anterior aos dias atuais, uma temática muito
mais pública do que privada. Assim como a pornografia tem raiz no trazer ao privado o
que antes era público, o fato midiático da morte segue a mesma lógica da privatização
(seja ele institucional ou não) da morte, do morrer e do luto. Desta forma, o ato da
“morte pornográfica” ganha a cada dia força e adeptos, sejam eles na escandalosa mídia
ou na covarde quietude das instituições hospitalares. Esta concepção do fenômeno
traz consigo a cultura da rejeição, onde evitar o conhecimento ou desdobramento do
65
fato ganhou requintes de uma compaixão educada. Ater-se ao fato soa agora como
insensibilidade, quase que uma violência.
Estamos concordes com Elias. A solidão dos moribundos está intimamente
vinculada à solidão na qual vivem os indivíduos na sociedade atual. E é lógico pensar
que a morte seja uma reprodução do estado de isolamento que se fazia sentir quando
em vida. A necessidade, quase que obsessiva, de sermos únicos atua como um fator de
distanciamento dos nossos semelhantes. O que fora mola propulsora de inúmeras
aquisições em diversas áreas de nossa cultura, faz-nos refém. A libertária máxima de
rua: “cada um cada um”, agora nos soa como um bizarro guincho animal, pois
confundíramos subjetividade com egomania.
Se ampliarmos o alcance de nosso entendimento, não é de todo difícil
compreender a extensão deste conceito. Ele não trata apenas de uma confusão
conceitual relacionada ao fenômeno da morte. Ela metaforiza algo muito maior. Talvez
reflita uma concepção errônea de vida e de mundo, ou até a total ausência de seus
sentidos. E toda a dor seja nada mais nada menos que um preço, ou melhor, a entrada de
uma compra com um carnê bem recheado.
Todas as prospecções de Heidegger nos ajudam a perceber que não é a solidão a
que impede de pensar a morte, mas o contrário (HEIDEGGER:1951). Absorvido pelo
corpo da massa, vivendo uma existência inautêntica, nunca poderemos encarar a morte.
Ninguém morre sem ter uma idéia do que ela significa, mesmo que para isso se tenha o
seu sentido mais vil e denotativo. Tentando uma aproximação entre Heidegger e Elias,
vemos que cada um tem que morrer sua própria morte, mas que isso se num
confronto cultural entre o universo pessoal e a sombra das massas, nada mais nada
menos do que a intermitente e legítima construção do self.
66
Estamos vivendo no jugo de uma sociedade tão individualista quanto
massificada, tecnicista e informatizada, notabilizada, mas ainda ignorante de aspectos
essenciais da condição humana. A morte contemporânea ilumina precisamente o caráter
de uma sociedade que se permite não chamar muito a atenção sobre esses paradoxos
aberrantes. O drama da morte na sociedade contemporânea não chama a atenção porque
vem acompanhado pela prévia degradação do eu espiritual e pela exaltação de eu
biológico.
Em um colóquio de cunho biológico no ano de 1969, Edgar Morin (1997) observa
que era possível ouvir alguém pedir a constituição urgente de um Comitê pela
Abolição da Morte, sem provocar risos ou espanto no público. Fato este, ficcionalmente
concretizado de forma hilária no último livro de José Saramago, As intermitências da
Morte (2005). Bauman (1997) nos ajuda a lembrar, a propósito de um conto de Borges,
o que estamos tentando esquecer: que ser imortal é coisa comum, que todas as criaturas
são imortais, pois ignoram a morte. Na vida humana, tudo conta, porque os seres
humanos são mortais e sabem disso. Toda a cultura humana foi produzida na tensão
trágica dos seres humanos com a morte. O conhecimento da morte supõe também a
possibilidade de rebelar-se contra ela e, em certo modo, a história humana pode ser
pensada como a história dessa rebelião. Bauman registra duas estratégias básicas, que
guiaram as lutas pela imortalidade. Uma primeira, que chama coletiva, na qual os seres
humanos individuais são mortais, não aquelas totalidades humanas das quais fazem
parte (a Igreja, a Nação, a Causa, etc.) e através das quais, eles recebem sua dose de
imortalidade. A segunda estratégia era individual: fisicamente todos os indivíduos
devem morrer, mas alguns, aqueles que tiverem méritos suficientes para isso, podem ser
preservados na memória de seus sucessores.
67
Interessante e curioso é que nenhuma das duas estratégias anteriores
minimizava a experiência da morte, muito pelo contrário. Mas hoje, estamos assistindo
a uma coisa bem diferente, que, tal como verificamos antes, a experiência da morte
está sendo ocultada e evitada sistematicamente. Salvo notáveis exceções, parecerá que,
hoje, todos os seres humanos estamos servindo de cobaias para a implantação de uma
outra estratégia. Em outras palavras, hoje se aceita a indignidade da não-morte no
hospital porque cada vez os seres humanos acreditam menos na imortalidade que se
deriva das entidades coletivas ou da memória coletiva e mais na própria imortalidade
biológica. Minha hipótese é que os seres humanos começaram a acreditar na
imortalidade biológica como possibilidade real. A morte agora é apenas representação,
ela já não é mais "real".
A prerrogativa de eliminação da morte biológica que a atual modernidade
está construindo me parece altamente destrutiva do próprio self. De um modo
imprevisto, descobrimos hoje que a insistência tecnológica da modernidade foi um
poderoso motor de evolução social, que está colocando em risco nossa morte, e, com
ela, a própria dinâmica da evolução humana. Existem vários fatores, obviamente, mas a
hipótese de imortalidade biológica está presente implicitamente quando as potências
ocidentais idealizam guerras sem nenhum morto próprio. A morte não é um evento da
vida (WITTGENSTEIN:2001). Isto não acontece por nenhuma radicalização de cunho
empírico, mas pela quase absoluta des-legitimação da morte como um ato que vale a
pena ser vivido. No final das contas, morrer antes do tempo pode querer significar
perder a chance de ganhar a imortalidade.
É neste ponto que arrisco a pensar na teoria da reflexividade de Giddens e
Beck, e tudo fica assim sem sentido. Ou, pelo contrário, tem sentido pleno. Por trás da
conveniência da reflexividade, na sociedade contemporânea, esconde-se a hipótese da
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imortalidade biológica. A reflexividade funciona como um grande mecanismo
pacificador da sociedade precisamente porque, ao contrário do que imaginou Giddens,
facilita, ao invés de impedir, o seqüestro da experiência. Como opor-se, por exemplo, de
modo reflexivo, à internação dos pacientes nos hospitais e o seqüestro da experiência da
morte derivado, se precisamente a expectativa não é de morte e sim de vida?
Devemos considerar algo mais que um paradoxo da modernidade que seja a
ciência e não a religião quem promete a imortalidade, da forma mais convincente, na
atualidade. Porém, o balanço de perdas e ganhos não parece favorável à ciência, nem à
reflexividade. Pode ser verdade que um mundo reconhecidamente estruturado por riscos
humanamente criados deixa pouco lugar para influências divinas e muito para a
reflexividade. Mas também é verdade que considerar os riscos à existência humana
principalmente como riscos humanos leva necessariamente (e imperceptivelmente) a
transformar nossa condição humana numa condição técnica. Aqui pergunto, pode-se
evitar o seqüestro da experiência da morte nestas condições? Não será que o que
acontece nos hospitais não é algo acidental, mas um dado essencial de nosso tempo?
A morte não é estritamente um problema técnico, nem algo a ser superado, mas,
ainda que isto não seja reconhecido explicitamente pelos teóricos da reflexividade, será
que eles podem considerar coerentemente alguma outra hipótese? Num mundo
secularizado, a morte não pode ser o começo de nada, tal como acreditavam os
primitivos (ELIADE: 1996). Neste caso, a atitude mais "reflexiva" pode ser
seqüestrar a experiência da morte, tirar dela tudo o que impeça ampliar indefinidamente
os confins da vida, engrossar o cordão das salas de terapia intensiva. O verdadeiro
desafio não é hoje tornar mais sustentável ou mais reflexiva a sociedade moderna. A
rigor, isto é secundário em face da necessidade de nutrir o homem contemporâneo com
as vivências que sirvam de trampolim para um construto próprio. Algo com um tempero
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antigo, quando a vida era um campo de amor e morte, sincrético e mutável, entre os
deuses, os homens e a natureza (LEIS: 1999).
Paralelamente ao que seria a idéia de não aceitação e revolta, está a barganha e o
convívio com o fenômeno. Em certos aspectos, inclusive, lidando com a questão com
reverência, como no caso do trabalho artístico feito pelos egípcios. Existem casos
inclusive de barganha. Na mitologia grega, o caso de Admeto, que ao ser chamado pela
morte por não querer separar-se de seu grande amor, procura alguém que o substitua,
acabando por ser atendido pela sua própria amada. Em diversos cultos africanos, esta
barganha pode também ser encontrada em forma de múltiplos rituais. Podemos
facilmente intuir que estas manifestações e tantas outras, derivam do medo do fenômeno
em si. Regado sempre pelo desconhecido, traz consigo a amargura quase sem fim da
perda daquilo que por ventura cultivamos, seja em nós, ou em outrem.
O fator em questão também é responsável por um emaranhado de sistemas
filosóficos e religiosos que remetem a uma busca de sentido e significado da morte e
conseqüentemente para a vida.
Os egípcios mantinham uma relação muito harmônica com todo o processo.
Diferente do que se possa pensar, o interesse direto não era pela morte e sim pela etapa
subjacente (pós-vida). Para eles, ela nada mais era do que a porta de entrada para um
platô superior, onde seriam concedidas inúmeras bênçãos e subjugadas as dores desta
vida. Dentro desta idéia, está a concepção do Livro dos Mortos um guia egípcio amplo
do trato fúnebre e da passagem entre a morte e a posterior ressurreição.
Outra contribuição importante foi a de Buda (séc. IV aC), idealizador dos
conceitos básicos do Budismo, religião que possui hoje centenas de milhões de adeptos
no mundo, desenvolveu todo um escopo filosófico baseado na reflexão íntima. Nele, é
trabalhada a idéia do Nirvana, que em sânscrito significa extinção, um estado onde se dá
70
o desaparecimento do eu. Esta eliminação tem como base uma sublimação de qualquer
manifestação do desejo pela substituição de um estágio criador e perene. Todos estes
ensinamentos, acrescidos das contribuições das experiências e vivências de monges
budistas do Tibet, ficaram registrados no que é conhecido por Livro Tibetano dos
Mortos (Bardo Todol)
Esta obra também a idéia de manual para a “boa morte”. Nele é explicitado
todo um ritual de toques físicos e instruções verbais. Todo o ritual possui três partes: o
“Chicai Bardo” (momento da morte), “Cheni Bardo” (visões cármicas vidas
passadas) e o “Sidpa Bardo” (ensinamentos para a libertação pelo entendimento).
Todo o processo, que durava quarenta e nove dias, tinha como objetivo evitar novas
reencarnações e levar o indivíduo à sua libertação, bem como fazer com que as pessoas
próximas aprendessem a lidar com a questão da ausência (luto).
Junta-se ao conteúdo relacionado também uma profunda visão existencialista,
que tende a fazer através de um conteúdo simbólico, uma sistematização racional.
Este trabalho intelectual descrito no Bardo, a possibilidade de se atingir o que
seria, o verdadeiro eu, ou seja, a imagem do nosso eu ancestral e primeiro livre de
quaisquer deformações ou criações fictícias posteriores. Uma pseudo-proximidade
entre os conceitos aqui relacionados e a prática psicanalítica não é de todo absurdo, pois
muitos processos estão baseados nestas premissas, sendo muitas vezes bem aceitas a
leitura e o estudo destes escritos. No século passado, nossos interesses voltam-se para o
tema da morte. Pelos idos dos anos 60, isto se percebe claramente no universo cultural
ocidental. Basicamente, as mais vigorosas e ricas linhas de estudo que se fizeram são as
do francês Phillipe Ariès e da suíça radicada nos Estados Unidos Elizabeth Kübler-
Ross. Atentos ao problema, o estudioso francês estabelece um vasto material de cunho
histórico-cultural e a médica Kübler-Ross de cunho prático-hospitalar com elevado tom
71
existencial. Destas duas fontes primárias deriva, por inúmeras contribuições, toda a
variação de percepções atuais.
Ariès inicia a sua pesquisa pela manifestação cultural e publica em 1975 a
História da Morte no Ocidente, que seria o ponto embrionário para O Homem diante da
Morte de 1977. O livro em questão partira, descrito pelo próprio autor, de uma premissa
de Edgard Morin pela qual “existia uma relação entre a atitude diante da morte e a
consciência de si mesmo, do seu grau de ser, mais simplesmente de sua
individualidade” (ARIÈS: 1989). Uma idéia interessante, que vislumbrava o
horizonte Oriental pelas idéias budistas pelo menos cinco séculos antes da era cristã.
Ao final de seu trabalho Ariès nos deixa além de uma obra basilar no estudo do
tema em questão, a conclusão interessante de que nosso planeta ordenou-se tendo como
base quatro elementos psicológicos: “a consciência de si mesmo, a defesa da sociedade
contra a natureza selvagem, a crença na sobrevivência e na existência do mal” (ARIÈS:
1989). A morte seria marcada por três momentos básicos e mantidas certas reservas
quase universais: a aceitação, o adeus e o luto. Tinham como objetivo além da função
de demonstrar ao indivíduo sua inserção social revestir o ato de morrer numa perda
coletiva.
Diferentemente, Kübler-Ross, através dos seus trabalhos e estudos em instituições
hospitalares descreve todo o processo da desfiguração do ato de morrer e define o
processo em cinco estágios não necessariamente subseqüentes e até certo ponto
independentes. Estes estágios que são a negação, a raiva, a barganha, a depressão e a
aceitação estão presentes nos processos de morte com uma evidência muito clara em
doenças como o câncer, AIDS ou processos degenerativos severos.
Os estágios são definidos da seguinte maneira:
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Negação Estágio em que ao tomar conhecimento do o fenômeno o indivíduo
desvia o olhar gerando um distanciamento considerável do tema. O evento tem sua
proposição na perspectiva analgésica, que visa jogar a posteriori o trato da questão.
Raiva Não é de hoje que o trato da ira exige do homem uma atenção
específica. Sêneca deliberava especificamente muitos séculos. O estado de ira, se
assim podemos chamar, nos abstrai de patamares racionais rasgando eventuais
processos lógicos. Simultaneamente a isso tudo, desenvolvem-se inúmeras seqüências
de dúvidas e temores traduzidas em indagações existenciais.
Desta forma, acoplado ao processo patológico ou de luto, acresce-se um
emaranhado “insano” de dúvidas. A busca racional da dor é sem dúvida nenhuma a
maior questão. A dor não é uma opção. Ela é acima de tudo uma conseqüência do fato
concreto da vida. Como uma contingência inexorável, senti-la não se faz por opção ou
fraqueza, é antes de tudo, um estado contíguo ao viver.
Independente desta universalidade, nós a apreendemos de forma distinta, dando ao
seu corpo contornos peculiares. Sua representação e posterior desdobramento são
totalmente pessoais, aderindo-se feito digital — intransferível.
Assim, o fato relevante desloca-se de quem é sua vítima para como se o nosso
contato com a dor. Sendo sua existência inevitável, temos apenas que determinar como
travaremos sua dissolução ou nosso convívio. Talvez soe um tanto quanto irônico, mas
a dor é obrigatória, o desespero é opcional. Destacamos aqui a questão do desespero por
acreditarmos que este sentimento é a profunda ausência de perspectiva. Não da
perspectiva de solução, mas de uma planificação de curto, médio e longo prazo. A dor é
algo concreto; o desespero é, antes de tudo, uma ilusão, alimentada por um desatino
momentâneo, e que muitas vezes pode perdurar por toda uma existência. Em hebraico, a
etimologia da palavra desespero deriva do verbo reflexivo “y-a-shi” que significa
73
“desistir de buscar algo perdido”, algo de cunho ativo por parte da pessoa que o
flexiona. Desistir-se, é a mais pura descrição do desespero, algo que de uma forma
ampla caracteriza o ato suicida. Destaca-se ainda que tanto o ato de fé como o desespero
suicida, têm sua origem em um ato de entrega; um a “Deus”, e o outro a si próprio.Uma
abdicação do processo racional, ou seja, renuncia-se a inteligibilidade da contenda.
Sabendo da multiplicidade de variantes circunstanciais em que estamos
envolvidos, podemos afirmar que compreender estas sensações como parte de um
“sistema de avisos”, algo quase imunológico, faz-nos ir além. Da mesma forma que a
noite nos apavora, temos que vê-la como parte do ciclo vital, culminando mais cedo ou
mais tarde no raiar do dia.
Entender a morte como algo que nos é inevitável é tê-la sob o prisma da verdade,
algo que nos isenta do anteriormente citado desespero esmagador. Não se trata aqui de
um otimismo cego da comentada hipótese de ocultamento, nem a consideração de
super-homem nietzschiano, apenas em ater-se aos chamados “fatos da vida”, nada mais
nada menos.
Barganha após a tentativa infrutífera de vencer o processo de revolta e o não
equacionamento das inúmeras dúvidas, é lançada a possibilidade de minimizar o
prejuízo através de um “diálogo” com o “adversário”. Nesta situação, a vinculação
de um “tempo extra” em função de algum evento como formatura, casamentos, compra
de imóvel, reatamento de contato com familiares ou amigos. Todo este processo pode
ser realizado às claras, ou seja, de forma verbalizada junto aos entes mais próximos, ou
somente no interior daquele que transpassa diretamente o problema.
Acrescenta-se ainda que o fato pode dar-se de forma inconsciente ou semi-
consciente. Em muitos casos, este fato passa desapercebido, pois nãouma troca clara
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e explícita, e o fato fica assinalado apenas por seu desejo muito forte de realizações
pontuais.
Depressão A fase depressiva é determinada por um duplo aspecto: mental e
físico. Trazemos em destaque esta duplicidade pelo cunho ressonante físico que o
processo marca em todos aqueles que o enfrentam.
Muitos esperam neste momento algumas marcas clássicas como a falta de
apetite, emagrecimento, desejo de isolamento e uma fixação ou exclusão de temas;
entretanto, o processo depressivo pode alcançar atitudes contrárias. Neste processo, há o
excesso que visa à superação. Uma atitude lógica, óbvia e quase sempre
incompreendida por todos os envolvidos. Pela importância da compreensão da
depressão no trato da morte, estaremos tratando o tema em um momento posterior com
as devidas atenções.
Aceitação Aqui, faz-se dentro das possibilidades, uma absorção do fenômeno.
aqui certa serenidade. Alguns podem tentar acoplar está situação à fraqueza e
debilidade tanto mental quanto física, mas em grande porção deste evento o indivíduo
ainda não fora cometido de um embate mais direto com a própria patologia. Este fato
pode evidenciar uma maior e melhor elaboração mental sobre o fenômeno, mas ainda
não estudos que corroborem esta afirmação. Talvez seja aqui um ponto de partida
para uma construção diferenciada que trouxesse benefícios concretos e imediatos. No
entanto, é percebida certa apatia pela questão, seja pela concentração das atenções nas
temáticas técnicas, ou seja, na ciência médica aplicada diretamente com a cura e
sobrevida do paciente.
Contudo se faz feliz aqui a menção de que o profissional de saúde, não raramente,
possui uma lacuna de perspectiva existencial. Incomuns são aqueles que conseguem
desenvoltura no trato humanístico que a situação exige. Não queremos trazer a
75
obrigatoriedade, para o profissional de saúde, da inexeqüível tarefa de equacionar a
questão, mas sim uma de tentativa de apontar de caminhos palpáveis e não tão
abrasivos. Não é de interesse aqui aventar a possibilidade da ausência destas
informações e capacidades no profissional, fazendo um estereótipo injustificado. Mas
também se faz necessária à constatação da insuficiência das grades curriculares em
diversas áreas importantíssimas das Ciências Humanas, o que por si corroboraria
nossa crítica.
Em paralelo a esta carência, está o fruto de uma concepção tecnicista e elitista que
determina de forma injustificada, que para o exercício pleno da atividade em Ciências
Médicas de se ter um afastamento entre o profissional e o paciente. Este mito,
embora arcaico, ainda permeia não só as Universidades, Faculdades e Escolas de Saúde,
mas também, dentro das próprias unidades hospitalares, clínicas, postos de saúde e
consultórios.
Outro fato de pertinência é a existência, dentro de padrões peculiares, de fatores
correlatos fora dos ambientes anteriormente citados. Mesmo longe de suas atividades, a
cor branca ainda exerce inúmeras outras singularidades. O que anedoticamente
poderíamos chamar de “síndrome dos pés brancos”, traz consigo uma verdade quase
que inabalável. Daqueles pés, que de forma quase mágica, lhes foram concedidos o
controle sobre o “dom da vida e da morte”, também são atribuídos outras premissas
sociais. neles uma invisível notoriedade, uma relação de poder sobre as demais
“criaturas” humanas. Talvez, possam parecer sociológicos em demasia tais aspectos, e
assim sendo, por demais distantes de nossa discussão, mas o ato de ver no outro um
pouco de si, pode não responder o tecnificismo clínico, mas certamente levar-nos-á por
campos menos áridos na luta pela humanização da morte nas unidades hospitalares.
76
O profissional de saúde, por exemplo, quase sempre carece de perspectiva
existencial. Raros são aqueles que conseguem desenvoltura no trato humanístico que a
situação exige. Não queremos trazer a inexeqüível tarefa de equacionar a questão, mas o
apontamento de caminhos palpáveis e não tão abrasivos.
77
CONSIDERAÇÕES FINAIS
O contato freqüente com a morte pode intensificar o prazer da vida, deixando de
ser um fator evasivo e exterior. Torna-se, assim, parte constituinte do mundo vital.
Como o sono tonifica o dia, a idéia de morte tende a fortalecer o processo de vida,
compreendendo que sua presença faz parte de nossa saúde e equilíbrio mental. Quando
este contato é inexistente, entramos também na esfera de quase suicídio, entendendo
aqui a atitude como sendo a possibilidade irreal de um controle radical e absoluto de
nossa existência.
Esta tônica comportamental afasta-nos de qualquer possibilidade de termos uma
vida saudável e nos conduz inevitavelmente ao desespero. Esta hipótese, gradualmente
nos imobiliza, tornando-nos frustrados e avessos à realização de eventuais projetos.
O legítimo pensamento filosófico do tema traz consigo certo inconformismo com
as questões e justificações que nos rodeiam. Esta conduta tanto se faz na não aceitação
da dor que nos é imputada como nas alegrias desfrutadas. Desta forma, faz-se uma
concepção desconfiada e temerosa diante da vida, que sob os olhos da filosofia faz-se
sempre ocultadora de múltiplos níveis de significação. Adorno designa este fenômeno
como sendo o desprezo pelo superficial e por um estado de bases sensíveis. Este “pensar
filosófico” traz à superfície do ser, clara e estruturada, muitas das coisas que nos
careciam de sentido. Daí talvez a reincidente idéia de que o ato de pensar seja causador
das intempéries do presente ou então um grande motivador da desgraça ou
desestruturação da ordem estabelecida.
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Uma mentalidade que dissimule a realidade, fazendo crer numa capacidade
imperturbável de sensações prazerosas e gozo existencial é, seja ela qual for, um
mecanismo de dissimulação do real, algo que por mais aveludado que possa parecer,
tende ao acobertamento ou legitimação de uma miséria reinante. Acobertar ou
neutralizar o fenômeno da morte soa assim como uma violência ao próprio indivíduo,
pois a negativa de sua totalidade (compreensiva) faz-nos órfãos. Não deixo aqui aquela
vertente materialista cínica que tenta reduzir ao nada a existência humana, nem pulo ao
“nada” transcendente, mas a tentativa esperançosa de se conquistar a própria vida.
De fato ela é hoje algo totalmente alheio. Um fato quase sempre incidental e
alheio desprovido de todo o aspecto biológico. Ela é uma grande catástrofe que teimosa
e injusta nos acometeu. Uma ironia racional construída pelo grande distanciamento de
nossa consciência do fenômeno. A maioria de nós é impermeável à idéia que temos
inevitavelmente um encontro com a morte. Nossa mente debilitada é um palco infértil
para lidarmos, mesmo que rudimentarmente, com a questão.
Esta incapacidade crônica não é algo novo. É fruto de uma certa inaptidão de se
lidar com o novo e com o que poderíamos chamar de nada absoluto. Mas o que seria de
nossa própria consciência sem a idéia de morte? Não são poucos os que relacionam todo
o processo de consciência ao terror que se dá à própria idéia de fim, ou se preferirem, de
aniquilamento. A contrapartida desta consciência da morte é a mesma que advém da
idéia de eternidade. Numa mesma moeda estamos petrificados de medo e avançamos
frente às questões mais complexas da cultura humana.
Adorno (1986), em sua Dialética Negativa considerava que quanto mais o
homem se desprende de sua consciência animal, mais ele se obceca contra tudo que o
faça suspeitar de sua eternidade. Pensando assim, podemos inferir com ele que a própria
forma arcaica de propriedade é, na verdade um meio de afugentar a morte, entronando-
79
se na imortalidade através de uma autonomia em bases possessivas. Através de um novo
ritual de posse, esquece-se toda idéia da morte, bem como toda ritualização. Afastando-
se toda a problemática acredita-se que a mesma encontra-se resolvida, o que fatalmente
o levará a uma volta, ou seja, uma recondução ao processo de animalidade de que
partira.
Sem dúvida nenhuma uma necessidade desmedida de autoconservação. O mesmo
arcabouço que nos serviu muito no passado acaba por aprisionarmos. Se por ventura a
morte nos serviu de patamar racional, hoje ela se vê dizimada pelo seu próprio substrato
criativo. Uma possibilidade, que nos é colocada por Adorno (1986), da perda de uma
aparência angustiante e aterrorizante da morte se daria pelo indivíduo se encontrar
morto, ou seja, a indiferença nada mais é que a constatação de um estado símile.
Nesta idéia é importante a concepção do indivíduo como peça ou mercadoria de
troca, onde sua morte nada mais seria do que a constatação de sua nulidade frente ao
absoluto social. Talvez deste fato se justifique a idéia da morte inusitada e repentina.
Aquela que nos remete de forma inesperada e súbita ao conhecido e cotidiano
nada. (NOBRE:1998)
Estendendo esta compreensão, podemos atribuir, além da visão antropológica
mais óbvia, um cunho psicanalítico relevante. A nulidade fenomenológica existiria sim,
como um ponto de fuga diante da percepção da própria nulidade existencial e toda a
opressão que esta idéia nos imputa. Pensar na morte faz ascender toda uma gama de
fatores opressores e vivifica assim a “coisificação” e o vazio das relações de que
tomamos parte. Rejeitar o pensamento de morte, mesmo que seja a alheia, faz-nos sofrer
a dor pela nossa morte presente. O fator absurdo não é o fenômeno e sim a intolerável
idéia de se recobrar a consciência da já mencionada nulidade e a imputação da idéia que
ele mesmomuito se figura como morto. Neste ponto freudianamente podemos até
80
destacar o sentimento de culpa para com os mortos, não só pelo abandono, mas também
pela situação invejável da não-dor.
Na linguagem especificadamente o efeito do interdito da morte também é
evidenciado. Tal fato nos é colocado de forma inequívoca por Maurice Blanchot
notando que todo o discurso, seja qual tipologia, é interligada a uma outra escrita
anterior muito mais necessária e fundamental. Nessa escrita anterior, uma das principais
omissões é a da morte. Essa ausência tem como significado a recusa em se pensar na
temática, fazendo com que haja uma corrupção pelo eterno, mesmo que haja em termos
finais uma discrepância da lógica interna. Dentro destes termos, a linguagem ficaria
assim usurpada, ficando a serviço da instauração de uma pseudo-segurança. Uma vez
onde não mais “a presença mítica para nos acalentar”, temos que nos proteger do
sentimento esmagador do medo que nos acompanha sombriamente. O irônico dessa
questão é que ao mesmo tempo a linguagem se faz capa e é em si a possibilidade
concreta para uma vitória (BLANCHOT:2001).
Como o próprio autor revela, perdemos a morte. E com esta afirmação ele afirma
que da mesma forma que ao omitirmos temos que recobrá-la a partir da re-significação
das idéias, dos sentidos. É pela palavra que temos a possibilidade de perpetuar nossas
sensações mesmo sendo elas traumáticas e nos propiciando dores tão pungentes. Da
mesma forma que o nomear traz consigo um poder e um controle a simples palavra traz
o retorno do homem à sua realidade finita.
Através do re-vivamento da própria palavra é que se a nova criação
conceitual. Assim a linguagem mostra nuances divinos, não pelo seu ato eternizante,
mas pela perversão daquilo que nomeia numa possibilidade de transformação.
Entretanto, essa transformação não se pela mentira, mas sim pela interiorização do
próprio fenômeno numa comutação de sentidos (BLANCHOT: 2001).
81
Mas como fazer dessa interdição a transposição para algo irradiador de poder? A
resposta não é a idealização romântica e adocicada nem a interdição do elemento que
nos é próprio, mas sim na coexistência com a contradição desse enigma estranho com
quem nos brinda a morte. Resta-nos a sua verbalização, no trabalho árduo e quase
sempre ingrato do dia-a-dia em se perceber envolvido na malha anônima e invisível do
seu poder discursivo: a dissolução da idéia (consciente) da morte é a inquestionável
dissolução da individualidade do sujeito autônomo.
82
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